ALL EM REVISTA 10.3.1 - SUPLEMENTO ESPECIAL GONÇALVES DIAS

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EM REVISTA

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536 ANO DE GONÇALVES DIAS NÚMERO 10, VOLUME
– EDIÇÃO ESPECIAL AGOSTO 2023 SÃO LUÍS DO MARANHÃO
3.1

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

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Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536

vazleopoldo@hotmail.com

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei

65020-060 – São Luis – Maranhão

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Revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras

Gestão 2022/2023

COMISSÃO EDITORIAL

EDITORIAL

Ao completar dez anos de fundação da Academia Ludovicense de Letras, ao mesmo tempo em que se comemora o duo centenário de nascimento de Gonçalves Dias, devido ao grande número de eventos comemorativos, decidiu-se pela publicação de um número especial, apenas para destacar esse evento.

Na ALL em Revista 10.3 – julho-setembro de 2023 damos destaque aos acontecimentos do trimestre; na edição especial, os registros das comemorações do tricentenário de nascimento do nosso poeta maior. Explica-se: os acontecimentos deste trimestre foram muitos, ultrapassando o número de páginas permitidos, pela ferramenta da nuvem, de publicação; assim, decidiu-se pela divisão, em dois números, destacando-se o bicentenário gonçalvino.

Expediente

Diretoria

Editorial

Sumário

14 - OSMAR GOMES DOS SANTOS - (Fundador)

15 DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante

26 - JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO - 1º. Ocupante

34 - CERES COSTA FERNANDES - 1ª. Ocupante

O POETA DE TODOS

GONÇALVES DIAS E O IMPERADOR

PELEJA MORTAL

DO AMOR CORTÊS E DAS MUSAS ( no bicentenário de Gonçalves Dias)

O NAUFRÁGIO DO POETAGONÇALVESDIASNOATINSDE GUIMARÃES -A TRAGÉDIA COM O POETA GONÇALVES DIAS EDWILSONARAÚJO

Maranhense Antônio Gonçalves Dias

GONÇALVES DIAS, O RUGIDO DO LEÃO NA SELVA DO CORAÇÃO

MINHA TERRA TEM GONÇALVES DIAS PRESENTE!

A ETERNA MUSA DE GONÇALVES DIAS, DEPOIS DA SEPARAÇÃO.

"TODOS OS ADJETIVOS PARA GONÇALVES DIAS",

O GIGANTE DO LARGO DOS AMORES

GONÇALVES DIAS - Quando o Pássaro pousa na pausa da existência

LUIS AUGUSTO CASSAS

ÍRIS MENDES

SANTIAGO CABRAL

LINDA BARROS

Ana Luiza Almeida Ferro

Alberico Carneiro PREITO A GONÇALVES DIAS

SUMÁRIO

RESULTADO DO CONCURSO LITERARIO GONÇALVES DIAS

1. Lugar

Título: Ecos de Gonçalves Dias: Versos que encantam

Autora: Lídia Marcelly Ferreira Ribeiro – 15 anos

Pseudônimo: Poeta de Atenas

Escola: Centro Educa Mais Salustiano Trindade (Cohatrac)

Orientadora: Maria Pinho

Prêmio: R$ 1,000,00

2. Título: Minha Terra

Autora: Lisieux Roberta Costa Cruz - 12 anos

Pseudônimo: Anjinho

Escola: UEB Justo Jansen (Candido Ribeiro - Centro)

Orientadora:

Prêmio: 600,00

3. Título: A Vida de Gonçalves Dias

Autora: Daphynne Katherinny Gomes da Silva – 12 anos

Pseudônimo: Zoe

Escola:UEB Justo Jansen (Candido Ribeiro – Centro)

Orientadora: Valéria Cristina Soares Pereira

Premio: 400,00

4. Título: Solidão

Autora: Barbara Ananda Santos Matos – 16 anos

Pseudônimo: Amanda Alves

Escola: CEM – Salustiano Trindade

Orientadora:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

5. Título: Terra de Gonçalves Dias

Autora: Lorena Vitótria Amorim dos Santos – 14 anos

Pseudônimo: Malinha

Escola: UEB Justo Jansen (centro)

Orientadora:

Prêmio: Menção Honrosa

6. Título: Influencia contínua

Autora: Paolla Cristina Silva Reis – 15 anos

Pseudônimo: Ananda

Escola: Colégio Militar Tiradentes

Orientador:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

7. Título: Um homem

Autora: Emily Taysa Diniz Santos – 15 anos

Pseudônimo: Taysa Santos

Escola: Centro Educa Mais Salustiano Trindade

Orientador:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

8. Título: Os poemas

Autor: Breno Ian Milhomem Sousa – 12 anos

Pseudônimo: Akira

Escola: UEB Justo Jansen

Orientadora:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

9. Título: Salve, Salve bom Gonçalves

Autor: Pedro Fhelipe da Silva Lisboa – 12 anos

Pseudônimo: Poetinha

Escola: V. I, Vila Embratel

Orientador:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

10. Título: Ao amigo que partiu

Autor: Caio Gabriel Reis Santos - 15 anos

Pseudônimo: CG Artes

Escola: CEM Salustiano Trindade

Orientador:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa.

CURURUPU - MARANHÃO

1.Título: Poesia do Poeta

Autora: Rebeca Costa Diniz Soares – 16 anos

Pseudônimo: Violeta Dumont

Escola: Instituto Estadual de Educação (Cururupu )

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

2. Título: Dias, o poeta

Autora: Nanda Carolyne Reis Diniz - 15 anos

Pseudônimo: Karolin Reis

Escola: Instituto Estadual de Educação (Cururupu)

Orientador:

Prêmio: Certificado de Menção Honrosa

PROGRAMAÇÃO (10/08)

9h - Apresentação do 24° Batalhão de Infantaria de Selva - 24° BIS.

9h30min – Início da cerimônia no auditório do Palácio Cristo Rei: composição da mesa de honra; hinos.

10h – Palestra com o Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste com o tema: A vida e obras de Gonçalves Dias; Entrega do Diploma de Sócio Correspondente do IHGM ao Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste.

11h – Entrega do quadro de Gonçalves Dias para o IHGM.

11h10min – Apresentação do grupo “Conexão História”.

11h40min – Encerramento do evento no auditório e início das visitas ao Memorial Gonçalves Dias.

ARTIGOS, CRÔNICAS, Contos, & poesias

WILSONPIRESFERRO(Fundador)

07 - ANTÔNIO
GONÇALVES DIAS
CLEONES CARVALHO CUNHA 2º Ocupante.

TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO

OSMAR GOMES DOS SANTOS - (Fundador)

O POETA DE TODOS

*Por Osmar Gomes dos Santos

Tomamos a semana para falar de Antônio Gonçalves Dias. Resolvi então escrever esta singela crônica e prometi que não começaria ou usaria a expressão: “se estivesse vivo completaria 200 anos”, pois percebi que há um sentido duplo. Ora, por óbvio, ninguém vive 200 anos. Portanto, não seria adequado do ponto de vista da própria natureza humana, utilizar tal expressão, a não ser por mera retórica para referenciar um espaço de tempo decorrido.

Noutra perspectiva, caberia tal expressão a Gonçalves Dias pela sua importância, como alguém que transcende essa tal razão.?

Se for essa uma afirmação, diria ser falha; se uma pergunta, a resposta seria não!

Vejo que estaria demasiadamente equivocado o emprego da expressão para referir ao notório poeta romântico. Mesmo com todos os seus feitos, o emprego do verbo no futuro do pretérito “completaria” demonstra total descompasso com sua grandeza.

Isso porque estaria insistindo em tratar este poeta como alguém que foi, que não está mais aqui, que já não é. Essa definição não cabe, definitivamente, a Gonçalves Dias e a nenhum outro poeta.

E não falo isso, pelo fato de ser patrono da Academia Brasileira de Letras - ABL em cuja cadeira de nº 15, fora eternizado. Sua imortalidade enquanto poeta transcende àquela literária e atravessa gerações como uma eternidade de fato.

Como poeta, professor, jornalista, advogado, etnógrafo e teatrólogo, concebeu, fundou, criou e aprimorou o Romantismo com traços notadamente nacionais. Trouxe lirismo peculiar ao índio, criando laços de identidade nacional na sua obra.

Tamanha destreza e habilidade literárias, contrastadas com a própria infância conturbada, como filho de um comerciante português e uma mestiça. Filho de Caxias - MA, cidade cantada por João do Vale no trem que viajou de Teresina para São Luís, terra natal que deixou, com tantos outros valores que se exilaram noutros países por circunstâncias das mais diversas, especialmente políticas.

14 -
ALUÍSIO

O exílio, que é sinônimo de solidão, Gonçalves Dias teceu e fez canção, escrita em 1.843, que neste 2023 completa 180 anos. Dos índios extraiu a essência, a pureza, a ingenuidade. Mas também a força de um legítimo representante da identidade de um povo.

Vivendo na pele um personagem de contos românticos, sofreu as agruras do amor não consentido; tamanha discriminação de uma sociedade racista, tão somente, devido à cor de sua pele. Restando a ele dizer: "Ainda Uma Vez Adeus!".

Aos 39 anos, ao regressar da Europa em tratamento de saúde, tropeçou no trágico destino com o naufrágio do navio Ville de Boulogne, no qual viajava. No Farol de Itacolomi, região da costa maranhense, o poeta deu seu último suspiro.

Ironicamente próximo a um farol, o que Gonçalves Dias segue a ser para cada um de nós ainda hoje. Daí porque não devemos falar em futuro do pretérito, tampouco em passado, para alguém que atravessa gerações, tão vivo e tão intenso quanto um farol a nos guiar.

Foi o que deveríamos ser: crítico e consciente de seu dever enquanto cidadão e intelectual, nos mais diversos papeis que exerceu. Seus temas seguem vivos: amor, identidade nacional, patriotismo, indigenismo e natureza.

Em semana de Cúpula da Amazônia e de dia Internacional de Povos Indígenas, sua luta deveria servir a nos inspirar e igualmente lutar pela proteção de nossa identidade, dos povos originários, de nossa riqueza e cultura peculiar.

Que não seja um canto de morte, mas que seja tal I-Juca Pirama um brado estridente, do filho das selvas, bravo e forte. De um grito que vença as barreiras do exílio e que nos traga de volta a adorar nossa terra, onde tem palmeiras e onde ainda canta o sabiá.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante

GONÇALVES DIAS E O IMPERADOR

Daniel Blume, Cadeira n. 15 da Academia Maranhense de Letras

Em um primeiro passar de olhos, o texto pode parecer estranho. Afinal, por que falar da relação entre Antônio Gonçalves Dias e Dom Pedro II? O que tem a ver um poeta romântico com um monarca sulamericano? Convém misturar governo imperial com literatura brasileira? São várias as premissas da mera visão do título como posto. Contudo, outros estranhamentos talvez eclodam no decorrer dos fatos curiosos aqui expostos e algumas de suas possíveis interpretações.

Será que, realmente, algum dia, o poeta privou com o imperador? Não seria este um encontro improvável, haja vista a estratificação social existente no país, especialmente há dois séculos, num ambiente escravocrata? Havia, então, meritocracia no Brasil? Como um poeta mestiço da província teria acesso a palácio? E, se positiva a premissa, haveria interesse de parte a parte? O que poderia oferecer Gonçalves Dias ao império? Por sua vez, o que poderia oferecer Pedro II à poesia gonçalvina?

Antes de um regresso ao infinito de porquês, voltemos ao vertente artigo, um texto que não tem pretensões científicas ou academicistas, um texto que pretende mais perguntar do que responder. Eis um artigo que pretende, singela e puramente, acender um fósforo na gruta das relações pouco exploradas pelos biógrafos entre o poeta Gonçalves Dias e o imperador Pedro II. Da mesma forma que se pesquisa, por exemplo, acerca da amizade curiosa entre os gênios Albert Einstein e Charlie Chaplin, em cuja casa, em Vevey na Suíça, funciona um museu, no qual há um banheiro de espelhos dedicado à amizade entre artista e cientista.

Ao fim e ao cabo, este texto faz as vezes de um cômodo nos castelos biográficos do poeta e do imperador. Com mais perguntas do que respostas, almeja que os próprios leitores, no corrente Século XXI, concluam algumas daquelas questões que puxam dúvidas acerca destas duas personalidades históricas da mesma geração. E que venham os fatos.

O primeiro poema de Antônio Gonçalves Dias tornado público restou por ele declamado em Portugal nas comemorações da aclamação de Dom Pedro II como imperador constitucional brasileiro. Respectivamente, tinham 17 e 15 anos de idade. Então, nenhuma destas duas personalidades da história imaginava que se tornariam amigos.

A festividade aconteceu em 3 de maio de 1841, no período em que o poeta maranhense estudava, com dificuldades financeiras, na Universidade de Coimbra. De lá, exclamou o brasileiro “Peito que, há pouco frio, agora pulsa/Fogoso, e se dilata, qual o incêndio”.

15 - RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA

Tais versos estão publicados no folhetim coimbrense “O Dia”. Não foram incluídos nos livros do poeta, porém marcam dois lançamentos: o do alvo e comprido Dom Pedro II como imperador, o mais longevo governante do Brasil; e o do moreno e baixinho Gonçalves Dias como poeta, o autor de clássicos como “Canção do Exílio”, “Ainda uma vez – Adeus”, “Seus Olhos”, “I-Juca-Pirama” e “Os Timbiras”.

Apesar das disparidades de berço e compleição física, tinham claras afinidades. Foram precoces. Eram intelectuais brasileiros, perfeccionistas. Estudiosos de línguas, literatura, história e geografia. Conheciam bem o tupi. Eram dedicados ao trabalho e apaixonados por seu país. Em destaque, a curiosidade pela etnografia dos povos pré-cabralianos.

Em 2 de setembro de 1847, por proposta de Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias foi admitido como integrante do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o que o aproximou de Pedro II, o qual chegava a distribuir trabalhos de pesquisa aos membros do sodalício. Dias era um dos mais assíduos e ativos membros do instituto.

Uma das missões acadêmicas dadas pelo ainda jovem imperador ao poeta foi pesquisar o estado físico, intelectual e moral dos indígenas do Brasil, comparativamente, antes e depois da chegada dos europeus. Daí nascia o primeiro trabalho da etnografia nacional.

Em outra oportunidade, Gonçalves Dias investigou e escreveu, por proposta de Dom Pedro II, acerca de uma lenda antiga da Amazônia: a existência de amazonas no Brasil. Haveria lá uma antiga tribo composta exclusivamente por altas guerreiras brancas. Interessante. Porém a pesquisa, lida no Instituto na presença de Sua Majestade, concluiu negando veracidade à versão.

Em 1851, o escritor foi nomeado oficial da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça e dos Negócios Interiores, cargo que também lhe permitiu manter contato com Pedro II e outros membros do governo imperial.

No tempo em que havia uma proximidade entre os poetas e a população, que lia e recitava versos em público, como hoje se canta uma música, Gonçalves Dias caiu na graça do imperador, pois trazia, em suas atividades literárias e científicas, as origens e as originalidades brasileiras, tanto que recebe a alcunha de Poeta da Raça.

O autor de Canção do Tamoio, depois de concluir seus estudos em ciências jurídicas na cidade de Coimbra e após uma breve estada na província do Maranhão, partiu em um vapor chamado Imperador para a Capital, onde passou também a trabalhar como um dos redatores da Revista Guanabara. O lançamento da revista calhou com o aniversário de Pedro II, oportunidade em que os seus redatores foram levados à Quinta de São Cristóvão.

Era 2 de dezembro de 1849. O monarca já conhecia o trabalho de Gonçalves Dias como jornalista e escritor aplaudido pela crítica. Ao se deparar com o maranhense da cidade de Caxias, o imperador percebeu que era o único a não ostentar no peito qualquer condecoração, um costume da época. Logo em seguida, espontaneamente, concedeu ao poeta o título de cavaleiro da Ordem da Rosa.

Há outras nuances na relação entre o poeta e o imperador. No Rio de Janeiro, Antônio Gonçalves Dias lecionava latim e história no Imperial Colégio D. Pedro II. Outra curiosidade é que o sogro de Dias, Dr. Cláudio Luís da Costa, era o médico da imperatriz Maria Leopoldina da Áustria. Foi diretor do Imperial Instituto de Meninos Cegos até o seu falecimento em 1869, aos 71 anos de idade. O escritor de Sextilhas de Frei Antão tinha uma excelente relação com o pai de Olímpia, com quem manteve um casamento infeliz. Era rude e possessiva. O romântico não a amava.

Em 1854, o Poeta Nacional foi o portador de correspondências de Dom Pedro II a Portugal. Levou para Lisboa carta destinada à Imperatriz Dona Amélia de Leuchtenberg, a segunda esposa de Pedro I. Levou também carta e livro ao Rei Regente Dom Fernando, pai do futuro Rei Pedro V. Entregou-os pessoalmente em audiência, do que deu conta ao monarca brasileiro, em carta datada de 2 de agosto daquele ano.

Em 10 de outubro de 1856, Dom Pedro II criou, com entusiasmo, a Comissão Científica de Exploração, a fim de estudar os recursos das províncias do Norte. Gonçalves Dias foi nomeado como chefe da Seção de Etnografia e de Narrativa da Viagem. Foi também incumbido de escolher e adquirir, na Europa, os instrumentos necessários para as expedições, como material fotográfico, pólvora, dinamômetros, fuzis e remédios.

A Ilíada americana, Os Timbiras, uma das produções mais importantes de Gonçalves Dias, não por acaso, em outubro de 1857, foi dedicada ao monarca, nos seguintes termos: "À Majestade/ do muito alto e muito poderoso/ Príncipe e Senhor/ D. Pedro II/ Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo/ do Brasil”. Não era bajulação: havia reciprocidade.

Pedro II realmente prezava o vate maranhense, a quem mandava livros de presente, como A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Os dois inclusive se comunicavam por cartas com certa frequência. Em uma delas, datada de 2 de março de 1958, Dias divide com o monarca um de seus projetos literários, no caso, a tradução do alemão para o português de poemas de Schiller e Reineke. Em outra carta, de 4 de fevereiro de 1857, lamentou que, por indisponibilidade de tempo, não incluiria o francês no seu Dicionário da Língua Tupi, resignando-se a publicá-lo em português e no idioma geral dos indígenas brasileiros. Na Biblioteca Nacional, há registro de 25 cartas escritas pelo poeta ao imperador. Pouco se comenta, atualmente, que o soberano perdeu seu filho Pedro Afonso de Bragança. Era o primeiro na linha de sucessão ao trono brasileiro. O príncipe teve uma febre altíssima e morreu, prematuramente, com um ano de idade. Obviamente, o monarca, que já havia perdido um outro filho mais velho, ficou dilacerado. Gonçalves Dias logo escreveu e dedicou ao amigo Nênia à morte sentidíssima do sereníssimo Príncipe Imperial e Senhor Dom Pedro. O poema assim conclui: “Um povo inteiro em torno de um sepulcro,/ Um vácuo berço de seu pranto enchendo!/ À sorte pois te curva, e à lei daquele/ (envolta em seus recônditos desígnios)/ A quem aprouve nivelar, cortando/ Com o mesmo golpe as esperanças de ambos, / A dor de um pai e as aflições de um povo!”

Sabedor dos crescentes problemas de saúde de Gonçalves Dias, um preocupado Pedro II, após visitá-lo, recomendou a um amigo comum que o metesse em um transporte e o levasse para tratamento médico fora do Rio de Janeiro. Para cuidados de saúde, consta que Dom Pedro II chegou a enviar dinheiro do próprio bolso ao poeta. Dias sofria então de sífilis e de tuberculose, além do mal que hoje se denomina de depressão. Isto se depreende das correspondências trocadas com o melhor amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal.

O autor de Primeiros e Segundos Cantos, no período em que suas obras mais famosas eram vendidas no Brasil e no exterior sim, Gonçalves Dias, tornou-se um escritor internacional ainda em vida viajou para a Europa na busca de um tratamento salvático ou de uma despedida do velho mundo. Conseguiu o segundo intento.

Pouco tempo se passa da partida quando chega ao Brasil a impactante notícia da morte do seu indianista, na Europa. Comoção nacional. Missas fúnebres, artigos e declamações de despedida. Quando soube da notícia, Pedro II estava presidindo uma sessão do Instituto Histórico e Geográfico. Os trabalhos foram imediatamente suspensos, em demonstração de saudade e pesar. Era 24 de junho de 1862.

Em 3 de agosto, vem a contrainformação. Era fake news. O poeta estava vivo e rindo de suas exéquias. Outra pessoa, um marinheiro, havia morrido no mesmo navio que levou Gonçalves Dias à Europa. Como o escritor partira enfermo do Rio, ligaram tal falecimento ao poeta brasileiro. De Paris, bem humorado, exclamou em carta a Teófilo: “o fato é que entre as singularidades de minha vida terei de mais a mais o prazer singular e esquisito de ler as minhas necrologias”.

Da mesma forma que Pedro II depois da proclamação da república e do seu exílio na França, Gonçalves Dias não voltaria a pisar em solo brasileiro. Os tratamentos de saúde europeus não surtiram o efeito desejado. Desenganado, retornou para morrer em seu chão. Entretanto, o navio que trazia o escritor naufragou na costa maranhense. Fisicamente debilitado, em 3 de novembro de 1864, o escritor morreu afogado, aos 41 anos de idade. Seu corpo jamais foi encontrado.

Apesar de uma aparência octogenária, Pedro II faleceu com 66 anos, em 5 de dezembro de 1891. Foi enterrado na França junto a uma almofada com areia do Brasil.

Pois bem! Os apontamentos históricos dispostos ao longo do texto, de forma quase coloquial e cronológica, têm o propósito de descomplicar o emaranhado de questões exordiais, ensejando as respectivas respostas, mesmo que em elipse.

Percebe-se que Gonçalves Dias foi devidamente acomodado em funções no governo que lhe permitiriam mesmo doente ter alguma tranquilidade para produzir, bem assim pesquisar sobre os povos originários do país, temática recorrente em seus escritos científicos e poéticos.

Se o imperador concedeu ao poeta posição e funções públicas, Gonçalves Dias deu ao império identidade cultural para além de suas fronteiras, num período em que o Brasil precisava se consolidar como nação. Porém, a relação entre Gonçalves Dias e Pedro II não se resumia a um pragmatismo político que aproximava o governo da literatura. Os fatos revelam mútuo respeito, preocupação e acolhimento, o que ratifica ter existido uma amizade concreta, no caso, decorrente de um encontro improvável entre um poeta e um rei. É assim, nesse emaranhado de perguntas sobre a amizade entre o poeta e o imperador, que o fato se torna um acontecimento interpretado segundo um contexto cultural, emoldurado no espaço deste artigo. É assim que chega 10 de agosto de 2023, data em que o Brasil se mobiliza para homenagear o amigo de Pedro II, o maior escritor indianista brasileiro e um dos maiores poetas românticos de língua portuguesa: o maranhense Antônio Gonçalves Dias.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BANDEIRA, Manuel. Poesia e Vida de Gonçalves Dias. São Paulo: Editora das Américas, 1962.

DIAS, Antônio Gonçalves. Poesia Completa e Prosa Escolhida, Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1959.

MONTELLO, Josué. Gonçalves Dias: ensaio biobibliográfico. São Luís: Edições AML, 2019.

MORAES, Jomar. Gonçalves Dias: vida e obra. São Luís: Alumar, 1998.

PEREIRA, Lúcia Miguel. A vida de Gonçalves Dias. Brasilia: Senado Federal, 2017.

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - (Fundadora

ApromotoraeacadêmicaAnaLuizaAlmeidaFerronoestúdiodaRádioTimbirafalandodasériede homenagenspromovidapelaAcademiaMaranhensedeLetrasaoBicentenáriodoNascimentodo PoetaGonçalvesDias.Nestaquarta-feiraédiadeCortejonocentrodacidade,comconcentraçãoàs 16h30naAML.

31 - MÁRIO MARTINS MEIRELES

ALDY MELLO DE ARAÚJO - Fundador

32 - JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO

CERES COSTA FERNANDES - 1ª. Ocupante

34 - LUCY DE JESUS TEIXEIRA

DO AMOR CORTÊS E DAS MUSAS

( no bicentenário de Gonçalves Dias)

Ceres Costa Fernandes

Não há poetas sem musas, ponto. Condição sine qua non para a existência de poemas de amor. Quem fala em Dante, lembra Beatriz; em Petarca, lembra Laura; em Abelardo, lembra Heloísa; em Gonçalves Dias, lembra Ana Amélia. Apenas para ficarmos entre os casais mais votados.

O exercício literário de adoração à mulher é criação do amor cortês, na Idade Média. Ao sagrar-se cavaleiro, o jovem prometia defender seu Deus, sua honra e sua dama. Por um simples sorriso da “dona”, ele ia às justas ou partia para a guerra, levando como prenda um lenço, um cinto, um objeto qualquer dado por ela, a defender suas cores até a morte.

De origem controvertida, o amor cortês, que partiu da Provença para toda Europa, pode ter nascido da necessidade dos menestréis e jograis agradarem às ricas senhoras do sul da França: únicas em todo o continente a poder herdar bens e dispor deles – uma espécie de feministas da época. Por se postarem os mancebos em adoração às suas damas, alguns historiadores da literatura universal quiseram ver a pretensa origem do preito amoroso no culto a Nossa Senhora. Essa afirmação, defendida pelos românticos, carece de base histórica, pois as manifestações do amor cortês precedem às dos poetas mariológicos, não havendo notícia de adoração à Virgem na primitiva Idade Média.

De qualquer forma, desenvolveu-se um grande número de poetas mariológicos, que poetavam paralelamente aos trovadores provençais, fazendo como que um “intercâmbio” de influências: enquanto os trovadores adoravam a mulher, colocando-a como deusa, com um amor prenhe de delicadeza espiritual; os poetas cantores de Maria introduziam tons em erotismo místico em suas composições.

O traço distintivo maior destas musas era a inacessibilidade. Para ser musa tinha que ser inatingível. As “atingíveis” desciam ladeira a baixo, da categoria de musa para de amante; ou quiçá para a de esposa (esta última categoria, mais rapidamente destituída das prerrogativas poéticas enaltecedoras que a anterior).

Petrarca, adepto do neoplatonismo, persegue a perfeição da “ideia” e defende que o amor não necessita da consumação amorosa, pois o amante encerra em si o ser amado, estando assim completo. Vide Camões, seguidor do neoplatonismo (somente na poesia, pois teve movimentada vida amorosa na realidade – que ninguém é de ferro), nos seus sonetos: “Transforma-se o Amador na Cousa Amada” e “Alma Minha Gentil, que te Partiste.”

O Romantismo, herdeiro do ideário medieval, mormente na lírica amorosa, vai cultuar, do mesmo modo, a mulher idealizada - se bem que menos deusa e mais mulher – mas igualmente proibida. A escola é idealista, execra o cotidiano, o prosaico. Nos romances românticos, o clímax é a união dos amantes via casamento, após o que, a ação decai e o autor faz só ligeiras referências aos fatos posteriores ao himeneu e remata com o famoso “foram felizes para sempre.”

As grandes musas da literatura universal, algumas já referidas, jamais casaram com seus cantores. Se chegaram a casar, tiveram a felicidade de morrer em seguida, escapando, por esta via, da indiferença do amado e do esquecimento da posteridade. A paixão, inspiradora dos grandes poemas, que resiste a sofrimentos, guerras, perseguições e quejandos; não resiste ao cotidiano. Note-se: dizemos paixão, que é um estado patológico do ser humano, compatível com a loucura, difícil de ser vivida as 24 horas do dia; não amor, sentimento menos exaltado, mais duradouro.

Diríamos, sem querer fazer “blague”, em boa hora morreram Romeu e Julieta. Já pensaram o que seria do famoso par, após alguns anos de convivência consentida pelas famílias? Capuletos e Montecchios, em santa paz, a cuidar dos netos? Podemos imaginar Julieta, irritada: “Não dá para tirar essa toalha molhada de cima da cama”? E Romeu: “Ah é? E o meu barbeador que você usou de novo”?

Sábia D. Lourença que, recusando a mão da filha a Antônio Gonçalves dias, gênio poético, sim, mas D. Juan, volúvel e mulherengo, livrou-a a condição de esposa e deu-lhe a interdição requerida à categoria de musa. Musa é distante, musa é inatingível, Igual sorte não teve a mulher de Gonçalves Dias. Quem, fora os pesquisadores, sabe seu nome? Todos nós sabemos o nome de Ana Amélia, a inspiradora do amor imorredouro. Musa à altura de Beatriz e Madona Laura. Todos nos emocionamos com o amor que não foi consumado jamais; chama que não se apagou.

Por isso neste bicentenário de nosso poeta maior, não lamentemos a crueldade do fado que separou Gonçalves Dias de Ana Amélia, e sim louvemos a sabedoria do Destino que, tirando-lhes a oportunidade de serem felizes, deu ao cantor e à sua Musa a imortalidade e nos legou, a nós, seus cultores, os mais belos poemas inspirados nesse amor impossível, “Ainda uma Vez - Adeus”, “Leviana”, “ Teus Olhos”, “És Tu?”, “Se se Morre de Amor” . “Retratação” e outros tantos poemas que embalam nossas emoções.

E, se “o poeta é um fingidor?” Ainda assim, não importa o real, e sim a sua versão: a que ficou nos poemas. Gonçalves Dias e Ana Amélia vivem e embalam o imaginário amoroso dos casais apaixonados, sobretudo o coração dos ludovicenses e caxienses.

OUTROS ESCRITOS...

O NAUFRÁGIO DO POETA GONÇALVES DIAS NO ATINS DE GUIMARÃES

A TRAGÉDIA COM O POETA GONÇALVES DIAS EDWILSONARAÚJO

O naufrágio do poeta Gonçalves Dias no Atins de Guimarães - Ed Wilson Araújo (edwilsonaraujo.com)

Já o Atins de Guimarães está posicionado no litoral ocidental, na região denominada Floresta dos Guarás, um vasto território que compreende praias, ilhas, manguezais, dunas, lagoas, campos e lagos nos municípios de Guimarães, Cururupu, Porto Rico, Bequimão, Mirinzal, Apicum-Açu, Central do Maranhão e outros como Bacuri e Serrano.

Guará é o nome de um pássaro de plumagem vermelha muito comum na região.

O Atins de Guimarães fica localizado na baía de Cumã. Além do belo visual, a praia é lembrada como referência do naufrágio que levou à morte o poeta Gonçalves Dias, na segunda metade do século 19.

O ponto vermelho indica a baía de Cumã, onde o navio naufragou

Em 1862, o poeta maranhense viajou à Europa para um tratamento de saúde, mas não obteve melhoras e decidiu voltar ao Maranhão, já debilitado. Em 9 de julho de 1864 Gonçalves Dias embarcou na França, no vapor Ville de Boulogne, com destino à sua terra natal.

Praça Luis Domingues, na Cidade de Guimarães, no Litoral do Maranhão, década de 1940 (provável) Autor: desconhecido

Vista das barreiras na praia de Atins, em cujas águas morreu Gonçalves Dias. Provavelmente, foi uma das últimas visões do poeta antes de falecer

Na noite de 3 de novembro o navio naufragou nos baixos dos Atins, perto da vila de Guimarães. Constam nos relatos que apenas o poeta faleceu, em condições de saúde muito precárias. Seu corpo nunca foi encontrado. Todos os tripulantes (marinheiros) sobreviveram.

Há controvérsias

As fontes pesquisadas para a produção desse texto dão conta da fragilidade física do poeta, acometido de enfermidades, além do longo tempo da viagem de mais de 50 dias. Segundo os pesquisadores e biógrafos, Gonçalves Dias não tinha sequer condições físicas para nadar quando o Ville de Boulogne bateu em um banco de areia e naufragou nas proximidades da praia de Atins, em Guimarães.

No entanto, apesar de todos os registros biográficos sobre a morte do poeta e dos mapas que demonstram a proximidade entre as baías de Cumã e São Marcos, um jornalista e pesquisador de História contesta o caminho do vapor onde viajava Gonçalves Dias. Segundo o historiador, que preferiu não ser identificado, Guimarães “não é a rota” das embarcações que fazem o deslocamento da Europa para São Luís.

Segundo esse raciocínio, é pouco provável que o navio tenha naufragado nas águas da baía de Cumã. “Acho estranho que o navio em que Gonçalves Dias vinha tenha naufragado em Guimarães, uma área fora da rota Europa-São Luís. Teria acontecido um desvio? Outro fato estranho é que somente o poeta morreu no naufrágio”, ponderou.

Memórias literárias

A tragédia é lembrada na obra do escritor vimarense (nome gentílico para os nascidos em Guimarães) Paulo Oliveira, intitulada “Gonçalves Dias e o mistério de sua morte nos Atins”.

As memórias sobre o desaparecimento do escritor estão presentes também nos versos da escritora vimarense Ananda Campos, no poema Crepúsculo em Ponta dos Atins:

Prestes a beijar o horizonte

O sol desce lentamente, O arrebol tinge o céu com esplendor Nuvens são desfeitas calmamente.

Sobre a nívea areia, Pedras como ouro cintilam. Vejo as belas palmeiras

Que os olhos do poeta viram. Atins te sobrevoam, oh mar

E com ondas calmas a orla beijas

Em teu seio, guardas Gonçalves Dias, Em tua dor, saudades gotejas.

Seria presságio?

O desaparecimento do poeta na costa de Guimarães gera algumas especulações, como a de que ele teria tido uma espécie de presságio no poema “Adeus aos meus amigos do Maranhão”, escrito em 1845, antes de viajar para o Rio de Janeiro. Os últimos versos dizem:

Tal parte o desterrado: um dia as vagas Hão de os seus restos rejeitar na praia, Donde tão novo se partira, e onde Procura a cinza fria achar jazigo.

No hino do município de Guimarães constam versos emblemáticos sobre o simbolismo do desaparecimento do poeta nas águas vimarenses, no trecho:

“O vate dos timbiras, voltando à terra irmã, Beijou, morrendo, a pátria, nas águas de Cumã. De Guimarães foi dádiva o abraço do Brasil.”

Texto integral do Hino de Guimarães

Hino tem alusão ao poeta Gonçalves Dias

Letra: Padre Pedro Tidei

Melodia: Pedro Gronwell

Ao verde brilho infindo do virgem palmeiral Desposa-se profundo o azul bravio do mar. Ao flutuar das ondas, do vento o sibilar.

Oh! terra amada, ó Pátria, Duas vezes secular Vivo farol de glória, Estremecido lar.

Zarpam teus barcos leves que destemidos vão Levar teu nome às praias de todo Maranhão. E de tua gente intrépida leva-se o canto ao mar.

Oh! terra amada, ó Pátria, Duas vezes secular Vivo farol de glória, Estremecido lar.

O vate dos timbiras, voltando à terra irmã, Beijou, morrendo, a pátria, nas águas de Cumã. De Guimarães foi dádiva o abraço do Brasil.

Oh! terra amada, ó Pátria, Duas vezes secular Vivo farol de glória, Estremecido lar.

Pelo Brasil, imenso, raios de claro sol Brilharam já teus filhos, qual fúlgido arrebol Sotero, Urbano Santos, fizeste deslumbrar.

Oh! terra amada, ó Pátria, Duas vezes secular Vivo farol de glória, Estremecido lar.

Gonçalves Dias morreu em naufrágio no baixo de Atins da

Folha de S.Paulo, no Maranhão

Folha Online - Turismo - Gonçalves Dias morreu em naufrágio no baixo de Atins - 15/03/2004 (uol.com.br)

Dizem os locais que na época da seca é possível ver no baixo de Atins, na região da baía de Cumã, a carcaça do Ville de Boulogne, navio que afundou em 1864 matando Gonçalves Dias, o mais ilustre poeta maranhense.

No dia 3 de novembro daquele ano, a embarcação se chocou com um banco de areia, impossível de ser visto durante a noite.

Toda a tripulação conseguiu escapar do desastre a nado, mas o poeta dormia em seu camarote no porão do navio e não acordou para perceber a tragédia da qual seria o único morto.

Atualmente, a região tem um farol erguido pela Marinha em 1940, em Mandacau, de onde se pode avistar, após subir 160 degraus, o encontro do rio com o mar. Ao fundo da cidade, também pode ser vista parte do parque nacional dos Lençóis.

Para visitar o farol é preciso pagar uma taxa de R$ 1,50.

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DOENTE E ESQUECIDO EM UM NAUFRÁGIO: A TRÁGICA MORTE DO POETA GONÇALVES DIAS

Dado como morto dois anos antes, o autor da 'Canção do Exílio' agonizou em seus dias finais WALLACY FERRARI PUBLICADO EM 10/05/2020, ÀS 11H00 Retrato ... - Leia mais em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/doente-e-esquecido-em-um-naufragio-atragica-morte-do-poeta-goncalvesdias.phtml?utm_source=site&utm_medium=txt&utm_campaign=copypaste

O Maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras, foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Um dos fundadores do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como "indianismo"

É famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio" de 1843, que viriam a dar-lhe o título de poeta nacional do Brasil.

O Poema foi escrito quando o autor se encontrava em Coimbra e ressalta o patriotismo e o saudosismo em relação à sua terra natal, é um dos mais emblemáticos poemas da fase inicial do romantismo.

Em 1909, dois trechos do poema de Dias inspiraram a letra do Hino Nacional Brasileiro, escrita por Joaquim Osório Duque-Estrada.

No poema de 1843:

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

(Gonçalves Dias)

Observe que no Hino Nacional, os versos:

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores:

“Nossos bosques têm mais vida”

“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores.” remetem, de modo flagrante, ao poema de Gonçalves Dias.

A inclusão do poema Canção do Exílio no nosso Hino vem comprovar o quanto foi receptiva e popular a obra do poeta Gonçalves Dias que também foi autor do curto poema épico I-Juca-Pirama e muitos outros poemas nacionalistas e patrióticos.

Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História do Colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara, com Macedo e Porto-Alegre. Em 1851, publicou os Últimos cantos, encerrando a fase mais importante de sua poesia.

A obra indianista está contida nas “Poesias americanas” dos Primeiros cantos, nos Segundos cantos e Últimos cantos, sobretudo nos poemas “Marabá”, “Leito de folhas verdes”, “Canto do piaga”, “Canto do tamoio”, “Canto do guerreiro” e “I-juca-pirama”, este talvez o ponto mais alto de sua obra e de toda a poesia indianista

Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e pesquisa. Em 1856, viajou para a Alemanha e, na passagem por Leipzig, em 1857, o livreiro-editor Brockhaus editou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras, compostos dez anos antes, e o Dicionário da língua Tupi. Voltou ao Brasil e, em 1861 e 1862, viajou pelo Norte, pelos rios Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de Exploração. Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo logo para a Europa, em tratamento de saúde, bastante abalada, e buscando estações de cura em várias cidades européias. Em 25 de outubro de 1863, embarcou em Bordéus para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações de cura em Aix-lesBains, Allevard e Ems. Em 10 de setembro de 1864, embarcou para o Brasil no Havre no navio Ville de Boulogne, que naufragou, no Baixio de Atins, nas costas do Maranhão, tendo o poeta, que já se encontrava agonizante, perecido no camarote, sendo a única vítima do desastre, aos 41 anos de idade

CDL REALIZA EXPOSIÇÃO INÉDITA NO BICENTENÁRIO DE GONÇALVES DIAS

Pela primeira vez serão mostrados livros lidos pelo Poeta na infância em Caxias e juventude em Portugal Palestra e livros sobre Caxias, Gonçalves Dias e outros gênios caxienses

Fotos: A sede da CDL, na Rua 1ºde Agosto, no centro de Caxias, e os livros que serão lançados.

Uma exposição inédita vai marcar o evento “CDL 35 Anos / Gonçalves Dias 200 Anos”, a ser realizado dia 26 de julho, quarta-feira, na sede da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Caxias, na Rua 1º de Agosto, 789, na região central caxiense.

A Exposição terá dois momentos: no período da manhã, às 9h, a CDL abrirá a Exposição para estudantes; e, às 16h, a solenidade oficial, para empresários e convidados, com abertura solene, recepção da cápsula do tempo, palestra “Gonçalves Dias: Gênio Caxiense”, Exposição de livros e lançamento de quatro obras do jornalista, escritor, administrador e consultor caxiense Edmilson Sanches sobre Gonçalves Dias, Caxias e o Maranhão.

Na primeira parte do evento da CDL, de manhã, os estudantes terão exposição e visita guiada sobre os livros de Gonçalves Dias, inclusive obras raras, dos anos 1787 para cá, nas quais o menino Antônio faria suas primeiras leituras. Em seguida, os estudantes serão conduzidos para o Auditório da CDL, onde ouvirão palestra de Edmilson Sanches, com momento de perguntas e respostas.

À tarde, ás 16h a presidente da CDL, Maria dos Remédios Evangelista de Sousa, abrirá oficialmente a Exposição. A presença de associados da Câmara de Dirigentes Lojistas e outros empresários refletirá o compromisso da classe empresarial caxiense com a Responsabilidade Social e Histórico-Cultural nas comemorações dos 200 anos do maior poeta do Brasil. Segundo a presidente Maria dos Remédios, a CDL, com esse evento, marca de forma inédita o Bicentenário de Gonçalves Dias, além das muitas informações que serão reveladas na palestra e nos livros que serão lançados pelo nosso conterrâneo e grande pesquisador caxiense Edmilson Sanches”.

Dois dos livros a serem lançados dizem muito de Gonçalves Dias e de Caxias: o livro “Do Incontido Orgulho de Ser Caxiense” e “A Canção do Brasil”, um estudo igualmente inédito sobre o impacto e influência da “Canção do Exílio” na Literatura Brasileira. Os outros livros a serem lançados por Edmilson Sanches são: “Maranhão Não É Mentira”, onde trata também das origens do nome do Estado, e “Teixeira Mendes – Esse

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Nome é Uma Bandeira”, sobre o caxiense que é o autor da Bandeira do Brasil. O evento será encerrado com momento musical, com Naum Esteves e jantar servido aos presentes.

A EXPOSIÇÃO - Livros de pelo menos quatro séculos, dos anos 1700 para cá, serão mostrados pela primeira vez em Exposição sobre o Bicentenário de Gonçalves Dias. São, sobretudo, livros da literatura da Europa, que, por influência de seu pai, professor e amigos, Gonçalves Dias leu na casa em que morava, na Rua Benedito Leite (antiga Rua do Cisco), no centro de Caxias, ou em Portugal, para onde foi estudar em 1838, com 14 anos. Em um trabalho paciente e difícil, o administrador e escritor Edmilson Sanches localizou alguns desses livros e conseguiu trazê-los para Caxias, onde integram sua biblioteca pessoal. Agora, pela primeira vez, será mostrado em Exposição livros escritos por e sobre Gonçalves Dias e livros lidos e inspirados por ele.

O QUE: CDL 35 Anos / Exposição Bicentenário de Gonçalves Dias / Palestra: “Gonçalves Dias: Gênio Caxiense”

ONDE: Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) – Rua 1º de Agosto, 789, Centro, Caxias – MA

QUANDO: Quarta-feira, 26 de julho de 2023, às 16h.

CONTATO: Tel.: (99) 3521-2622 - WhatsApp: (99) 98821- 4297

E-mail: admcdlcaxiasma@gmail.com

Site: cdlcaxias.org.br

GONÇALVES DIAS, O RUGIDO DO LEÃO NA SELVA DO CORAÇÃO

( 2023 celebra o bicentenário de nascimento de Gonçalves Dias, glória da poesia maranhense e brasileira)

1) O grande poeta maranhense de ressonância universal, e fundador da poesia brasileira, Antonio Gonçalves Dia, emplaca neste 10 de agosto, o bicentenário de sua jovem eternidade.

Quem o admira pelo seu notável e retumbante estro, sempre sucumbiu à força inventiva com que vestiu os seus poemas, nutridos de potente inspiração, rico sentimento autobiográfico e da terra natal, fecundado pela capacidade de formulação da defesa de nossos raízes, onde avulta a paisagem e a defesa dos índios e do amor e da paixão , no qual sorveu o licor do encontro mas também da perda. Em tudo, foi fiel ao itinerário existencial dos grandes românticos, como no romance frustrado com Ana Amélia Vale.

2) Nós , maranhenses, vivemos sob o panteão lírico da sua poesia e presença, imortalizada de maneira indelével na memória e nos logradouros batizados em seu nome, notadamente a Praça Gonçaves Dias, onde avulta sua estátua de garbosa envergadura olhando o mar em direção a Atins, onde naufragou e sucumbiu, solitário e doente, no naufrágio do Ville de Boulogne. É nesse espaço urbanístico, inaugurado em 1873, moldado por palmeiras e cantos de pássaros, incluindo sabiás, que o romantismo existencial através da presença constante de casais de enamorados sob o olhar do poeta, colhem a emanação e fragrância do perfume amoroso.

O poético, o sublime, a densidade narrativa, a explosão imagística, de obra lírica e épica de Gonçalves Dias buscou modelo, em nossa natureza, na figura do índio, recorrendo aos seus mitos, lendas, dramas e conflitos, sobrepujando por força, beleza e inventividade , o tema que outros poetas já tinham utilizados em suas obras. Mas coube a Gonçalves Dias dar perenidade literária e significância patriótica ao rico valor do conteúdo simbólico, elevando o Indianismo à legítima expressão fundadora da literatura nacional, modulada por seus poemas de ritmo variado, leitura do sentimento heróico e guerreiro de nossos primeiros habitantes. O grande bardo maranhense perfila ao lado do romancista José de Alencar, a dupla que conferiu caráter nacional à literatura brasileira.

3 O ÍNDIO E O AMOR A DEVOÇÃO AOS VALORES DA TERRA MARANHENSE

O Indio e o Amor foram as duas vertentes fundamentais da lírica gonçalvina. A obra indianista está contida nas “Poesias

Americanas”, dos Primeiros Cantos, Segundos Cantos e Últimos Cantos, sobretudo nos poemas Canto do Piaga, Canto do Tamoio, Canto do Guerreiro e I-Juca Pirama, este certamente o ponto mais alto de sua obra e toda a literatura indigenista. É considerado uma das obra-primas da poesia brasileira e universal. A Maldição do Guerreiro Tupi, trecho exemplar do I Juca Pirama, é um dos mais ricos mananciais desta poesia esculpida na dimensão do valor e da sabedoria da tradição:

A MALDIÇÃO DO GUERREIRO TUPI

(Excerto do I JUCA PIRAMA)

Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis Aimorés.

Possas tu, isolado na terra, Sem arrimo e sem pátria vagando, Rejeitado da morte na guerra, Rejeitado dos homens na paz, Ser das gentes o espectro execrado

Não encontres amor nas mulheres, Teus amigos, se amigos tiveres, Tenham alma inconstante e falaz!

Não encontres doçura no dia, Nem as cores da aurora te ameiguem, E entre as larvas da noite sombria

Nunca possas descanso gozar: Não encontres um tronco, uma pedra, Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos, Padecendo os maiores tormentos, Onde possas a fronte pousar. Que a teus passos a relva se torre; Murchem prados, a flor desfaleça, E o regato que límpido corre, Mais te acenda o vesano furor; Suas águas depressa se tornem, Ao contacto dos lábios sedentos, Lago impuro de vermes nojentos, Donde fujas com asco e terror!

Sempre o céu, como um teto incendido, Creste e punja teus membros malditos

E o oceano de pó denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento, Manitôs lhe não falem nos sonhos, E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si. Um amigo não tenhas piedoso

Que o teu corpo na terra embalsame, Pondo em vaso d’argila cuidoso

Arco e frecha e tacape a teus pés!

Sê maldito, e sozinho na terra; Pois que a tanta vileza chegaste, Que em presença da morte choraste, Tu, cobarde, meu filho não és. 4)

A PRESENÇA DE ANA AMÉLIA EM SUA VIDA E POESIA

Mas é na figura de Ana Amélia Vale, que fica centrada a explosão amorosa de sua conversão ao eros totalizador do fogo do coração, que subjugou-lhe o poder do íntimo, fazendo-o viver o desdobramento o ônus trágico desse encontro e desencontro.

Segundo Onestaldo de Pennafort,em depoimento a Manuel Bandeira, “ Gonçalves Dias viu-a pela primeira vez em 1846 no Maranhão. Era uma menina quase, e o poeta,fascinado por sua beleza e graça juvenil, escreveu para ela as poesias “ Seus Olhos” e “ Leviana”.

“Retornando em 1851,mais tarde, a São Luis, viu-a de novo e já então a menina e moça se fizera mulher,no pleno esplendor de sua beleza desabrochada. O encantamento de outrora se transformou em paixão ardente, e correspondido com a mesma intensidade de sentimento, o poeta, vencendo a timidez, pediu-a em casamento à família.”

Mas a família, apesar de o ter em grande estima e consideração, sobreveio-lhe preconceito de raça e casta. E foi em nome desse preconceito que a a família recusou o consentimento.

Ana Amélia aceitaria, segundo historiadores, abandonar a casa paterna e fugir com ele mas o poeta, movido por excessivo escrúpulo e honradez, partiu para Portugal. Esta, o exprobou em carta, por não ter tido a coragem de passar por cima de tudo e romper com todos para desposá-la.

Posteriormente,em Portugal, o poeta sofrera outro rude golpe. Recebeu a notícia de que Ana Amélia, casarase com rico comerciante também de cor e condições inferiores de nascimento. E ainda em Lisboa, culminou o encontro, num jardim público, que se defrontaram o poeta e a amada. Ambos abatidos pela dor e desilusão em suas vidas. Este é o mote e enredo de Ainda uma Vez,Adeus”, um dos mais belos poemas românticos da língua portuguesa. E revela a partitura dolorosa

daquilo que, em outro propósito, outro grande poeta brasileiro afirmaria: “ A vida inteira que poderia ter sido e que não foi.”

5)

AINDA UMA VEZ – ADEUS

Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado

A não lembrar-me de ti!

II

Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz!

III

Louco, aflito, a saciar-me D’agravar minha ferida, Tomou-me tédio da vida, Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esperança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi!

IV

Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido, E este pranto dolorido Deixar correr a teus pés.

V

Mas que tens? Não me conheces? De mim afastas teu rosto?

Pois tanto pôde o desgosto Transformar o rosto meu?

Sei a aflição quanto pode, Sei quanto ela desfigura, E eu não vivi na ventura... Olha-me bem, que sou eu!

I

VI

Nenhuma voz me diriges!...

Julgas-te acaso ofendida?

Deste-me amor, e a vida Que me darias - bem sei; Mas lembrem-te aqueles feros Corações, que se meteram Entre nós; e se venceram, Mal sabes quanto lutei!

VII

Oh! se lutei!... mas devera Expor-te em pública praça, Como um alvo à populaça, Um alvo aos ditérios seus!

Devera, podia acaso Tal sacrifício aceitar-te Para no cabo pagar-te, Meus dias unindo aos teus?

VIII

Devera, sim; mas pensava, Que de mim t’esquecerias, Que, sem mim, alegres dias T’esperavam; e em favor De minhas preces, contava Que o bom Deus me aceitaria O meu quinhão de alegria

Pelo teu, quinhão de dor!

IX

Que me enganei, ora o vejo; Nadam-te os olhos em pranto, Arfa-te o peito, e no entanto Nem me podes encarar; Erro foi, mas não foi crime, Não te esqueci, eu to juro: Sacrifiquei meu futuro, Vida e glória por te amar!

X

Tudo, tudo; e na miséria Dum martírio prolongado, Lento, cruel, disfarçado, Que eu nem a ti confiei; “Ela é feliz (me dizia) Seu descanso é obra minha.” Negou-me a sorte mesquinha...

Perdoa, que me enganei!

XI

Tantos encantos me tinham, Tanta ilusão me afagava De noite, quando acordava, De dia em sonhos talvez!

Tudo isso agora onde para?

Onde a ilusão dos meus sonhos?

Tantos projetos risonhos, Tudo esse engano desfez!

XII

Enganei-me!... - Horrendo caos

Nessas palavras se encerra, Quando do engano, quem erra. Não pode voltar atrás!

Amarga irrisão! reflete: Quando eu gozar-te pudera, Mártir quis ser, cuidei qu’era...

E um louco fui, nada mais!

XIII

Louco, julguei adornar-me Com palmas d’alta virtude! Que tinha eu bronco e rude C’o que se chama ideal?

O meu eras tu, não outro; ’Stava em deixar minha vida Correr por ti conduzida, Pura, na ausência do mal.

XIV

Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera... E eu! eu fui que a não quis!

XV

És doutro agora, e pr’a sempre! Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro, Quase descrendo dos céus!

Dói-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto, Que a expressão deste desgosto Será um crime ante Deus!

XVI

Dói-te de mim, que t’imploro Perdão, a teus pés curvado; Perdão!... de não ter ousado Viver contente e feliz!

Perdão da minha miséria, Da dor que me rala o peito, E se do mal que te hei feito, Também do mal que me fiz!

XVII

Adeus qu’eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!

XVIII

Lerás porém algum dia

Meus versos d’alma arrancados, D’amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão. (texto integral de Ainda Uma Vez Adeus.)

6)

Para José de Alencar e grande parte da reflexão crítico-histórica, que o acompanha, Gonçalves Dias “ é o poeta nacional por excelência: ninguém lhe disputa na opulência da imaginação, no fino lavor do verso, no conhecimento da natureza brasileira e dos seus costumes selvagens”. Nosso maior romancista Machado de Assis, ao saber da notícia da morte de Gonçalves Dias, declarou:” A poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele de mais louçania a cobriu. Morreu no mar, túmulo imenso para seu talento. Só me resta espaço para aplaudir a ideia que se vai realizar na capital do ilustre poeta. Não é um monumento para o Maranhão, é um monumento para o Brasil,” concluiu Machado de Assis.

LANÇAMENTOS

cademia Maranhense de Letras

Boas novas surgem na comemoração do Bicentenário de Nascimento do Poeta Gonçalves Dias e devem interessar especialmente pesquisadores e estudiosos da vida e da obra do escritor maranhense. Foram encontrados no arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão documentos que realçam a atuação de Gonçalves Dias como advogado e Curador dos Ausentes em inventários datados de março e agosto de 1845.

Os inventários pertenciam a Joaquim Marques da Costa Fortuna e a Francisco Manoel Pereira Bastos, que faleceu no Reino de Portugal, deixando viúva e filhos em Caxias.

Antônio Gonçalves Dias foi nomeado curador dos órfãos Eloya Pereira Bastos, D. Victoria Pereira Bastos e D. Cleia Pereira Bastos.

A Academia Maranhense de Letras organiza uma série de eventos em homenagem ao Bicentenário e nesta quarta-feira, dia 12, tem na pauta o Cortejo que celebra Gonçalves Dias em versos e ladainhas pelas ruas do centro de São Luís.

Com concentração na sede da AML (rua da Paz, 84, Centro), às 16h30, o cortejo segue para a praça João Lisboa, avenida Magalhães de Almeida e rua de Santana, com performances poéticas e musicais do grupo Tramando Teatro.

O cortejo fará uma parada especial na rua de Santana, na casa onde viveu a musa do poeta, Ana Amélia. Em seguida, haverá um recital poético e musical na praça Gonçalves Dias.

HTTPS://YOUTU.BE/OUQ83CVCZJ8

TRILHA SONORA DEDICADA À EXPOSIÇÃO DO MESMO NOME COMEMORATIVA AOS 200 ANOS DO NASCIMENTO DE GONÇALVES DIAS. PINTURAS E MELODIAS DE BETTO PEREIRA COM LETRAS DE JOSIAS SOBRINHO. DE 18 DE JULHO A 18 AGOSTO NO CONVERTO DAS MERCÊS.

Edição 02 (precisope.com)

A CÂMARA DOS DEPUTADOS REALIZOU UMA SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM A GONÇALVES

DIAS NO SEU BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO, NESTA SEGUNDA-FEIRA (14), NO PLENÁRIO ULYSSES GUIMARÃES, EM BRASÍLIA. A INICIATIVA FOI DO DEPUTADO FEDERAL MÁRCIO JERRY E DA DEPUTADA FEDERAL ROSEANA SARNEY, QUE PRESIDIU A SESSÃO.

A SESSÃO DA CÂMARA LEGISLATIVA BRASILEIRA DESTACOU A VASTA PROGRAMAÇÃO REALIZADA PELA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS NO DECORRER DO ANO. DURANTE A SESSÃO, A DEPUTADA ROSEANA SARNEY FALOU SOBRE A IMPORTÂNCIA DA VIDA E DA OBRA DE GONÇALVES DIAS PARA A LITERATURA NO MARANHÃO E NO BRASIL.

O EVENTO CONTOU COM A PRESENÇA DE AUTORIDADES E ESTUDANTES DA REDE PÚBLICA DO DF. ENTRE OS CONVIDADOS ESTAVAM O MINISTRO DO STJ REYNALDO FONSECA, O EX-MINISTRO DO STJ CAXIENSE EDSON VIDIGAL, O JUIZ FEDERAL CLODOMIR REIS, A PRESIDENTE DA CASA DO MARANHÃO, GILZA SOUZA, O EX- GOVERNADOR DO PIAUÍ, HUGO NAPOLEÃO, O PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS, LOURIVAL SEREJO, O JORNALISTA E ACADÊMICO, FELIX ALBERTO LIMA, A REPRESENTANTE DO GOVERNADOR DO MARANHÃO CARLOS BRANDÃO, CLEMÊNCIA ALMADA LIMA, JUÍZA FEDERAL.

A ACADEMIA MARANHENSE DE TROVAS E A DELEGACIA DA UBT DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO, EM PARCERIA COM O MEMORIAL GONÇALVES DIAS E O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (IHGM), PROMOVERAM MAIS UMA ATIVIDADE CULTURAL EM HOMENAGEM AO BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE GONÇALVES DIAS. O EVENTO OCORREU NA MANHÃ DESTA QUARTA-FEIRA (16), NO AUDITÓRIO DO PALÁCIO CRISTO REI.

O PROFESSOR DOUTOR WEBERSON FERNANDES GRIZOSTE DISCORREU SOBRE "GONÇALVES DIAS, O POETA E O IMPÉRIO" E A PRESIDENTE DO IHGM, PROFESSORA DOUTORA DILERCY ADLER, FALOU SOBRE "REVERBERAÇÕES DAS OBRAS GONCALVINAS: NÃO MORREREI DE TODO". A MESA-REDONDA FOI MEDIADA PELA PRESIDENTE DA AMT E DELEGADA DA UBT DE SÃO LUÍS, WANDA CUNHA.

DENTRE OS PRESENTES, DESTACARAM-SE OS TROVADORES CARLOS SANCHES, MÁRCIA REIS, CLORES HOLANDA, FRANCI MONTELES E GORETH PEREIRA, ALÉM DAS PROFESSORAS GRAÇA NINA, TEREZA CRISTINA, LÍGIA SIQUEIRA (LICEU MARANHENSE) E MARIANA FONSECA.

O AUDITÓRIO ESTAVA LOTADO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO LICEU MARANHENSE QUE PARTICIPARAM ATIVAMENTE DO EVENTO, COM APLAUSOS, PERGUNTA E DECLAMAÇÃO DE UM POEMA DE GONÇALVES DIAS.

FOI, SEM DÚVIDA, UMA MANHÃ MEMORÁVEL.

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/P/CWBOR3APUTD/?IGSHID=MTC4MMM1YMI2NG==

AMT participa de Café da Manhã na OAB-MA no Dia da Advocacia

A trovadora e advogada Márcia Regina Reis Luz representou a Academia Maranhense de Trovas (AMT) no café desta manhã (11/08), promovido pela OAB-MA (Ordem dos Advogados do Brasil, Secçao no Maranhão) pela passagem do Dia da Advocacia e do Bicentenário do poeta, advogado, etnólogo, jornalista e professor Gonçalves Dias.

Na oportunidade, a OAB/MA reconheceu o caxiense Gonçalves Dias como advogado militante pela Seccional Maranhense da OAB/MA.

O presidente Kaio Saraiva observou que para a advocacia, Gonçalves Dias é uma inspiração como pessoa e como profissional, pelas causas defendidas; e que ele, de maneira sensível e poética soube conduzir os desafios que teve que enfrentar.

O evento ocorreu no plenário da OAB/MA e contou com a presença de várias autoridades dos meios jurídico e literário.

A solenidade integra mais uma ação da Seccional maranhense, em comemoração ao Dia do Advogado ao longo deste mês de gosto.

A trovadora - inspirada na solenidade de que participou, Márcia Reis enviou-nos pra publicação a trova abaixo que ela fez em homenagem a Gonçalves Dias:

O grande Gonçalves Dias, nosso poeta imortal, nasceu na bela Caxias, a minha terra natal.(Márcia Reis)

Hoje,pelamanhã,foirealizadonoMemorialGD,emparceriacomoInstitutoHistóricoeGeográficodo Maranhão(IHGM),aMesa-redondacomoProfessordoutorWebersonFernandesGrizostequefalou sobre"GonçalvesDias,opoetaeoimpério”.TambémparticipouaProfessoradoutoraDilercyAragão Adlercomotema:Reverberaçõesdasobrasliteráriasgonçalvinas:"nãomorrereidetodo".Amesafoi mediadapelaescritoraWandaCunha,presidentedaAMT(AcademiaMaranhensedeTrovas). UmmomentoMemorável.

https://www.facetubes.com.br/noticia/4261/comeca-hoje-em-sao-luis-ma-a-xii-semana-montelliana

A Casa de Cultura Josué Montello (CCJM) será o palco deste evento imperdível, com um cronograma repleto de atividades interessantes. O pontapé inicial adotado hoje, dia 18/08/2023, às 17h, com a abertura da Exposição "Apontamentos de Josué Montello e de outros escritores sobre Gonçalves Dias". Uma oportunidade única de mergulhar na visão desses criadores sobre o poeta brasileiro.

Logo em seguida, às 17h30, terá início uma palestra intitulada "As Contradições de Gonçalves Dias", proferida por Weberson Fernandes Grizoste, Professor Associado da Universidade do Estado do Amazonas e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Um momento de reflexão sobre as complexidades que permeiam a obra e a vida desse autor icônico.

A programação do primeiro dia encerrará com chave de ouro, às 18h30, com a performance cultural "O Pedido", uma peça baseada no texto de José Neres e interpretada brilhantemente por Linda Barros. Um espetáculo emocionante que promete cativar a todos os presentes.

Ontem, dia 18, na Casa de Culturas Josué Montello, na última palestra Gonçalvina proferida pelo Prof. Dr. Graziele, convidado do IHGM, para este ciclo de palestras em homenagem ao vate matanhense, neste mês de agosto...

Mas, as homenagens vão continuar...

E nossa gratidão ao querido Confrade do IHGM e ALL, Prof. Grizoste, e a todas as instituições parceiras que o receberam nesta temporada de louvor a Gonçalves Dias!

Um agradecimento especial à UEMA, no pessoa do seu Magnífico Reitor, Walter Canales e ao confrade Prof. Dr. Roberto Brandão por viabilizarem a vinda do Prof. Grizoste ao Maranhão.

Um agradecimento, também especial, à AML, pelo reconhecimento ao Prof Grizoste, traduzido em Medalha e busto de Gonçalves Dias, que muito o sensibilizou.

[07:17, 19/08/2023] Dilerci: Linda Barros brindou o público presente com uma airosa Ana Amélia!

O IHGM agradece a brilhante presença e participação do Dr. Grizoste nas comemorações do Bicentenário de nascimento do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias e por sua generosa disponibilidade

em estender esse louvor a várias instituições culturais parceiras do nosso Estado, a saber:

Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães,

Instituto Histórico e Geográfico de Caxias,

Academia Caxiense de Letras,

Academia Ludovicense de Letras,

Memorial Gonçalves Dias,

Academia Maranhense de Trovas,

Casa de Cultura Josué Montello e,

Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão.

Ministrei palestra sobre Gonçalves Dias no Colégio Militar Tiradentes, na Raposa, a convite do SESC.

HTTPS://YOUTU.BE/OUQ83CVCZJ8

CELEBRANDO O BICENTENÁRIO DE GONÇALVES DIAS:

Uma Jornada Cultural e Intelectual promovida no mês de agosto, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, Casa de Antônio Lopes e suas Parcerias de Destaque

Durante os cativantes dias que se estenderam do 07 ao 18 de agosto, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), em conjunto com prestigiosas instituições parceiras, orquestrou uma série de eventos que culminaram em uma celebração imponente do bicentenário de nascimento de Antônio Gonçalves Dias, o ícone da literatura brasileira do século XIX. A singularidade desta comemoração residia na diversidade dos aspectos abordados e na profundidade das análises conduzidas pelo convidado de honra, Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste, um destacado estudioso da vida e obra de Gonçalves Dias.

07 de agosto - Guimarães: Tradições e Raízes Literárias

Inaugurando a jornada do bicentenário, a cidade de Guimarães reverenciou seu filho mais ilustre, Gonçalves Dias, com uma palestra excepcional no CE Nossa Senhora da Assunção. Sob a orientação do Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste, as mentes curiosas foram guiadas através dos corredores da história e literatura maranhense, descobrindo os laços profundos entre a cidade e o poeta que a enalteceu.

10 de agosto - São Luís: Uma Viagem Pelo Legado Literário

O majestoso Palácio Cristo Rei, em São Luís, viu-se iluminado por uma série de palestras inspiradoras. Organizado em colaboração com a Academia Ludovicense de Letras e o Memorial Gonçalves Dias, o evento destacou a vida e obra do homenageado. O Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste entrelaçou análises meticulosas com paixão literária, guiando a audiência por um passeio envolvente pelos intrincados versos e pelo turbilhão de emoções presentes na escrita de Gonçalves Dias.

12 de agosto - Caxias: Um Legado Além das Fronteiras

A cidade de Caxias celebrou Gonçalves Dias com orgulho e ação conjunta da Academia Caxiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. O auditório da ACL testemunhou um mergulho nas complexidades da relação entre Gonçalves Dias e sua terra natal. O Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste ressaltou como o poeta transcendeu fronteiras geográficas, emergindo como uma voz que ecoou para além das delimitações territoriais.

15 de agosto - São Luís: Explorando Contradições e Verdades

No Palácio Cristo Rei, a Academia Ludovicense de Letras mais uma vez deu boas-vindas ao Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste, que desafiou as audiências a examinarem as contradições presentes na vida e pensamento de Gonçalves Dias. A dualidade do poeta, capturada em suas obras, foi explorada com perspicácia e profundidade, conduzindo a uma análise abrangente do homem por trás da poesia.

16 de agosto - São Luís: Gonçalves Dias e o Cenário Imperial

A relação entre Gonçalves Dias e o Império Brasileiro foi minuciosamente examinada pela Academia Maranhense de Trovas no Palácio Cristo Rei. O Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste desvelou como o poeta navegou pelo panorama político e social do Brasil Imperial, imprimindo sua marca única nas letras e na história.

17 de agosto - São Luís: Gonçalves Dias no Panorama Nacional

A Academia Maranhense de Letras enalteceu a contribuição de Gonçalves Dias para o cenário literário nacional. O Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste mergulhou nas profundezas da influência do poeta na formação da identidade brasileira, revelando como suas palavras reverberaram através das décadas, tornando-se parte essencial do tecido cultural do país.

18 de agosto - São Luís: Análise Aprofundada e Reflexões e XII Semana Montelliana

No dia 18 de agosto, na cidade de São Luís, uma série de eventos marcantes aconteceu, culminando em um encerramento significativo e dando início a outro evento de grande importância.

A celebração do bicentenário de Gonçalves Dias, um ícone da literatura brasileira, alcançou seu ápice nesse dia. As homenagens ocorreram no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, onde o Prof. Dr. Weberson Fernandes Grizoste desempenhou um papel fundamental. Nesse contexto, o professor realizou uma análise minuciosa do poema "I-Juca Pirama", uma obra de profundo significado na literatura brasileira. Sua palestra mergulhou nas complexidades e na riqueza da escrita de Gonçalves Dias, proporcionando aos participantes uma compreensão mais profunda e apreciativa da obra e do autor. Essa palestra não apenas ampliou o entendimento sobre a complexa narrativa e simbolismo contidos em "I-Juca Pirama", mas também destacou a relevância de Gonçalves Dias como uma figura literária essencial na história do Brasil.

As homenagens ao bicentenário de Gonçalves Dias culminaram de maneira grandiosa. Para marcar o encerramento dessas celebrações, o Dr. Weberson Grizoste proferiu uma palestra na Casa de Cultura Josué Montello. O tema dessa palestra foi “As contradições de Gonçalves Dias”, abordando possivelmente aspectos menos conhecidos ou ambivalentes da vida e obra do autor. Essa palestra proporcionou um olhar mais completo e matizado sobre a personalidade e as obras de Gonçalves Dias, reconhecendo que mesmo figuras notáveis como ele não estão isentas de complexidades e contradições.

No entanto, o encerramento das homenagens ao bicentenário também marcou o início de outra jornada literária importante. Esse dia marcou o início da XII Semana Montelliana, um evento dedicado a promover o estudo e a apreciação da obra de Josué Montello, outro renomado autor brasileiro. Com essa transição fluida entre as celebrações do bicentenário de Gonçalves Dias e a XII Semana Montelliana, a cidade de São Luís mergulhou ainda mais profundamente na riqueza da literatura brasileira, continuando a honrar seus proeminentes autores e explorando suas contribuições significativas.

Esta edição terá como temática “Celebrar os 106 anos de nascimento do escritor Josué Montello e o bicentenário do poeta Gonçalves Dias”, com exposições sobre os dois escritores homenageados, ciclo de Debates Montellianos, Palestras e visita guiada.

A Semana Montelliana é um evento realizado para homenagear o escritor Josué Montello no mês de seu aniversário de nascimento, sendo considerado um dos principais eventos realizados pela CCJM. Está em sua 12ª edição, promovendo debates, exposições, lançamento de livros e ciclos de palestras, fomentando a pesquisa em torno da vida e obra do escritor maranhense.

Assim, o dia 18 de agosto em São Luís não apenas marcou o encerramento das homenagens da Casa de Antônio Lopes a Gonçalves Dias no mês de agosto, mas também estabeleceu um elo entre passado e presente, entre autor e público, através das análises críticas e das celebrações literárias que permearam o evento.

DE 1864

Ville de Boulogne, Ville de Boulogne! O que de mim escondes?

Quem trazes em teus braços?

Eu trago, já enfermo, o cantor destas Terras e Matas que agora já vês.

Chegou ao céu, dos versos tantas vezes declamados, o desejo de ter como túmulo o amado berço. Deus permitiu que ele deixasse o exílio e voltasse para cá.

Ao poeta, deve-se ao menos esse ledo.

Não me retardes.

De não cumprir minha missão eu tenho medo. Mas, enquanto Mar, tantas vezes pelos poetas decantado, nenhuma honra há de se me dar?

Bem sabes que entre mim e eles há o elo da palavra sublimada: a poesia!

Eu sou a musa milenar.

E não sabes?! Há o belo na sinestesia:

“é doce morrer no mar!”

Ó cria(dor), que a Terra não seja mesquinha!

Já foi berço.

Que agora o descanso eterno nos meus leitos seja honraria minha!

Finca-te aqui, Ville de Boulogne, onde os nativos possam te olhar!

E por Dias e Dias imortais serás poesia.

E a Terra ainda terá o seu quinhão.

Finca-te aqui, Ville de Boulogne, onde sou Mar e Maranhão!

Íris Mendes

Caxias (MA), 28.04.2019

AO POETA DO EXÍLIO

O poeta afunda em silêncio, no exílio em que a dor o reinventa.

A dor transborda, transforma-se e cura.

A dor é lira e converte-se em musa.

No silêncio, teu avesso grita!

Que versos nos trazes deste mar em que te agitas?

Mesmo que naufragues, deixar-nos-á tua vida dita, na imortal asa lírica.

Íris Mendes

Caxias (MA)

CANÇÃO DO EXÍLIO

Gonçalves Dias foi o primeiro grande poeta nacional, o maior poeta indianista das Américas e o mais significativo do Romantismo, tendo desenvolvido plenamente o projeto romântico apenas iniciado por Gonçalves de Magalhães. Nunca foi superado pelas gerações e poetas que o sucederam. Os seus versos,

03 DE NOVEMBRO
MINHA TERRA TEM GONÇALVES DIAS PRESENTE! ÍRIS MENDES

ainda em sua época, viralizaram e cantam na alma do povo brasileiro, a partir mesmo de suas marcas no Hino da nação.

A sua CANÇÃO DO EXÍLIO é um poema simples quanto ao vocabulário e à forma, mas não simplório ou pobre. O autor demonstra grande habilidade no manuseio dos recursos formais. O poema possui versos brancos, rimas ricas e pobres, rimas toantes em alguns versos, rimas perfeitas nos versos pares e foi escrito em redondilha maior, verso de sete sílabas poéticas, métrica que imprime maior musicalidade ao texto. As repetições também reforçam a musicalidade da composição, sendo própria do gênero. Confessionalista, a Canção do Exílio traduz a saudade e expressa a solidão do poeta; idealiza a pátria e exalta a natureza que a distingue. Através dos advérbios de lugar (lá e cá) utilizados no texto e do conhecimento sobre elementos alheios ao poema, como informações sobre o local em que o poeta se encontrava, e toda a situacionalidade da produção, inferimos os sentidos que norteiam o texto. O exílio (Portugal) comparado à Pátria (Brasil) enseja a manifestação do sentimento nacionalista que orienta o contexto de produção e recepção da arte romântica, no século XIX.

Desde sua composição em contexto nacionalista, onde a nação recém-independente buscava a valorização de sua cultura, paisagem e identidade, a Canção do Exílio fez-se nossa canção. O eu lírico inicia com o pronome possessivo na primeira pessoa do singular (“Minha Terra tem palmeiras”) e em seguida utiliza o pronome possessivo na primeira pessoa do plural (“Nosso céu tem mais estrelas”). Assim, o poema evolui do ponto de vista individual para o coletivo e transforma-se na canção do povo, a nossa canção. É o poema mais parodiado e parafraseado da literatura brasileira. Essa intertextualidade tem acento na obra de Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Casimiro de Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque e Mário Quintana. São inúmeras as paródias no meio acadêmico. É comum o uso do poema como mote ou texto motivador nas tarefas de produção textual, nas escolas em todo o Brasil, nos livros didáticos, nos concursos, vestibulares e nos cursinhos. O texto é utilizado para fins didáticos, mesmo no campo das ciências exatas: “Minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá/ Seno A cosseno B; seno B cosseno A”.

E até o ouvido divino foi sensível ao poema. Deus ouviu o poeta em seu exílio. Chegou ao céu, dos versos tantas vezes declamado, o desejo de ter como túmulo o amado berço (“Não permita Deus que eu morra, / sem que eu volte para lá”). A prece poética foi atendida, no leito naufragado do Ville de Boulogne. Por Dias e Dias imortais, Antônio Gonçalves, serás poesia onde o mar é Maranhão.

E hoje, do poeta que canta a saudade, encantado nas nossas águas, temos não apenas a saudade, mas a permanência, a memória guardada, não calada, mas cantada sempiternamente. Minha terra tem Gonçalves Dias presente!

Íris Mendes

A

MUSA DE GONÇALVES DIAS, DEPOIS DA SEPARAÇÃO.

Santiago Cabral

Ana Amélia, que ficara muito desiludida com a falta de coragem do poeta para vencer os preconceitos de cor, raça e casta da sua família, mais tarde, já maior de idade, vencendo a resistência preconceituosa da família, casou-se com outro homem, também mestiço e de humilde origem social.

Chamava-se Domingos Porto o novo escolhido de Ana Amélia e para muitos biógrafos de Gonçalves Dias, ela teria casado com ele por vingança aos pais e ao poeta. De qualquer modo, ficou bem evidente neste episódio que o racismo e o orgulho de casta da família Vale eram quase irracionais, pois embora Domingos Porto fosse mestiço e de humilde origem social, ele, na época em que pediu a mão de Ana Amélia, estava no auge, bem sucedido, rico e de boa circulação nos meios da sociedade ludovicense, sendo amigo íntimo do governador Eduardo Olímpio Machado. Contudo, nada disso valeu, pois recebeu a mesma resposta que fora dada a Gonçalves Dias: “Nossa filha não se casa com um mestiço”

Domigos Porto era um prático homem do mundo e em vez de lamentar a sua desdita em versos, como fizera Gonçalves Dias, insistiu, tirou Ana Amélia de casa e casou-se com ela. E conheceu a queda vertiginosa.

A família Vale tinha forte influência nos meios sociais, comerciais e políticos de São Luís, o que nos autoriza a crer que a sociedade local deve ter ficado condizente com Dona Lourença e seu esposo, e reprovado a audácia de Domingos Porto, - um mestiço, neto de escravos - em unir-se, pelos laços do matrimônio, a uma aristocrática e tradicional família ludovicence. O fato é que os negócios de Domingos Porto começaram a ruir. Acabou sendo acusado de fraude comercial, sendo obrigado a decretar falência e a mudar-se para Lisboa. Domingos da Silva Porto veio a falecer aos 51 anos de idade por problemas cardíacos, deixando Ana Amélia viúva aos 33 anos de idade.

Em 1904, numa das homenagens alusivas aos 40 anos de falecimento de Gonçalves Dias, o teatro estava cheio, ocupado por populares, admiradores, autoridades e o governador do Estado. Na oportunidade, houve recital de poesias, apresentações e tudo que lembrasse a vida e obra de Gonçalves Dias. Subiu ao palco o intelectual Antônio Lobo, que recitou, com apaixonada eloquência, o poema “Ainda uma vez – Adeus!”.

Em meio ao silêncio, ouve-se um choro. Era um choro contido, mas comovente, de alguém que não suportou a leitura daqueles versos que um dia copiara com o seu sangue e que guardara para sempre no fundo do seu coração... Era Ana Amélia com seus 73 anos de idade!

O seu antigo amor, 40 anos depois, era agora uma figura a que toda a alta sociedade se curvava e exaltava festivamente. Mas fora essa mesma sociedade hipócrita e preconceituosa que, encabeçada por seus pais, despedaçara o seu sonho de amor!

“Lerás porém algum dia Meus versos d’alma arrancados, D’amargo pranto banhados, Com sangue escritos; e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, de compaixão”

(Gonçalves Dias, sstrofe final do poema ‘Ainda Uma Vez

Adeus!”)

De que chorava a anciã Ana Amélia, a eterna musa de Gonçalves Dias? De saudade, de amor ou de compaixão?

ETERNA

Poeta Edson Gallo é agraciado com Outorga de Mérito Literário por sua notável contribuição ao Prêmio Gonçalves Dias: Onde Canta o Sabiá em São Luis do Maranhão

A cerimônia de entrega e lançamento da coletânea, aconteceu em São Luis do Maranhão, reunindo escritores, críticos literários, acadêmicos e entusiastas da literatura.

O renomado poeta Edson Gallo foi homenageado com a prestigiosa Outorga de Mérito Literário em reconhecimento à sua contribuição excepcional ao Prêmio Gonçalves Dias: Onde Canta o Sabiá. Sua poesia, intitulada "Canção do Além-Mar", garantiu a 5ª colocação neste concurso literário significativo, realizado em homenagem ao bicentenário do ilustre escritor maranhense Gonçalves Dias.

Leia mais no Correio do Bico

https://www.correiodobico.com.br/.../poeta-edson-gallo-e...

"TODOS

OS ADJETIVOS PARA GONÇALVES DIAS", LINDA BARROS, DA ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA

Hoje, na AMEI, em S.Luís-Ma, a atriz, poeta e escritora Linda Barros reapresenta o monólogo "O Pedido", do escritor José Neres.

“Minha terra tem palmeiras”, minha terra é minha pátria, nela posso tudo: posso até voar nas asas dos pássaros sem medo de cair. Quando se tem amor, se tem orgulho do chão que pisamos, sem medo e sem vergonha de sermos nós mesmos, tudo fica pleno. Em nossos ombros carregamos todos os fardos, as lamúrias, as tristezas, as alegrias, mas principalmente nossa história. Nosso céu tem mais estrelas/Nossas várzeas têm mais flores/Nossos bosques têm mais vida/Nossa vida mais amores. Esses versos pertencem à “Canção do Exílio”, que decerto é nosso maior patrimônio cultural, nossa própria identidade e o quão é mais importante para um povo do que falar de sua história, de sua cultura e de sua literatura?

O orgulho de nossas riquezas culturais talvez seja a coisa mais sublime que temos, talvez seja nossa maior herança. Aqui pelas bandas “das palmeiras onde canta o sabiá” temos muito o que contar. Podemos encher o peito de orgulho e gritar aos quatro ventos: temos o maior poeta da literatura brasileira, aquele cuja donzela não lhe deram a mão para que a desposasse, temos o maior nome de poeta, escritor, jornalista, tradutor, etnógrafo, aquele melhor representou o seu país, quando esteve fora dele.

Antônio Gonçalves Dias, homem de todas as letras, homem que ainda na adolescência resolveu ir atrás dos seus sonhos, para que talvez um dia pudesse ser ao menos conhecido de nome. E eis que deu certo. Gonçalves Dias, “o poema maior de nosso Maranhão”, autor que, melhor do que qualquer outro, mostrou seu país ao mundo através de seus versos, falando de amor, da natureza e das mazelas da vida, temas tão corriqueiros, mas que, com ele, ficaram na história da humanidade.

Autor do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias soube em cada verso, em cada palavra, deixar sua marca, como em “Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros/ de vivo luzir/Estrelas incertas/que as águas dormentes /do mar vão ferir. Foi Gonçalves Dias quem mostrou em seus textos todas riquezas que temos na natureza. O grande tradutor e dramaturgo estreou na literatura com seu livro “Primeiros Cantos”, que foi dividido em três partes: Poesias Diversas, Poesias Americanas e os Hinos.

Aparentemente sem muitas ambições nem financeiras, nem políticas, teve seu de casamento com Ana Amélia Ferreira do Vale negado, talvez como consequência por sua parca vida. No entanto, tal recusa talvez o fez se tornar o maior de todos poetas brasileiros. Com estudos concluídos em Portugal, Gonçalves

Linda Barros & Gonçalves Dias

Dias regressa ao Maranhão, onde conhece sua musa e amada Ana Amélia. Para ela, deixou os belos poemas de nossa literatura: Ainda uma vez – Adeus!; Se se Morre de Amor e Seus Olhos.

Gonçalves Dias foi e continua sendo estudado por gerações inteiras e outras que virão. A primeira fase do Romantismo foi inaugurada por Gonçalves de Magalhães, com o livro Suspiros Poéticos e Saudades. Mas é com Gonçalves Dias, com o livro Primeiros Cantos, que é considerado o melhor dessa época. Afundado em suas tristezas e com saudades de sua terra, escreveu um dos poemas importantes da Literatura brasileira, Canção do Exílio, texto clássico, considerado como um hino à sua terra, às suas riquezas e saudades, quem nunca declamou Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/As aves, que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá.

Todas as reverências para o grande poeta são merecidas e necessárias e não devemos economizar nos adjetivos para descrever quão tão rica são seus escritos, passando por diferentes gêneros textuais, Beatriz Cenci e Patkull no teatro, como jornalista contribuiu com diversos como Jornal do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia, publicando crônicas, folhetins teatrais e crítica literária.

E no mais profundo admirar, o poeta caxiense que nasceu no 10 de agosto de 1823 chega aos duzentos anos mais vivo do que nunca, e que certamente o vento balançará seus versos nas mais longínquas das palmeiras.

GONÇALVES DIAS E O IMPERADOR

Antonio Ailton 05/08/2023

DanielBlume

Cadeiran.15daAcademiaMaranhensedeLetras

Em um primeiro passar de olhos, o textopode parecer estranho. Afinal, por que falar da relação entre Antônio Gonçalves Dias e Dom Pedro II? O que tem a ver um poeta romântico com um monarca sulamericano? Convém misturar governo imperial com literatura brasileira? São várias as premissas da mera visão do título como posto.Contudo, outros estranhamentos talvez eclodam no decorrer dos fatos curiosos aqui expostos e algumas de suas possíveis interpretações.

Será que, realmente, algum dia, o poeta privou com o imperador? Não seria este um encontro improvável, haja vista a estratificação social existente no país, especialmente há dois séculos, num ambiente escravocrata? Havia, então, meritocracia no Brasil? Como um poeta mestiço da província teria acesso a palácio? E, se positiva a premissa, haveria interesse de parte a parte? O que poderia oferecer Gonçalves Dias ao império? Por sua vez, o que poderia oferecer Pedro II à poesia gonçalvina?

Antes de um regresso ao infinito de porquês, voltemos ao vertente artigo, um texto que não tem pretensões científicas ou academicistas, um texto que pretende mais perguntar do que responder. Eis um artigo que pretende, singela e puramente, acender um fósforo na gruta das relações pouco exploradas pelos biógrafos entre o poeta Gonçalves Dias e o imperador Pedro II. Da mesma forma que se pesquisa, por exemplo, acerca da amizade curiosa entre os gênios Albert Einstein e Charlie Chaplin, em cuja casa, em Vevey na Suíça, funciona um museu, no qual há um banheiro de espelhos dedicado à amizade entre artista e cientista.

Ao fim e ao cabo, este texto faz as vezes de um cômodo nos castelos biográficos do poeta e do imperador. Com mais perguntas do que respostas, almeja que os próprios leitores, no corrente Século XXI, concluam algumas daquelas questões que puxam dúvidas acerca destas duas personalidades históricas da mesma geração.E que venham os fatos.

O primeiro poema de Antônio Gonçalves Dias tornado público restou por ele declamado em Portugal nas comemorações da aclamação de Dom Pedro II como imperador constitucional brasileiro. Respectivamente, tinham 17 e 15 anos de idade. Então, nenhuma destas duas personalidades da história imaginava que se tornariam amigos.

A festividade aconteceu em 3 de maio de 1841, no período em que o poeta maranhense estudava, com dificuldades financeiras, na Universidade de Coimbra. De lá, exclamou o brasileiro “Peito que, há pouco frio, agora pulsa/Fogoso, e se dilata, qual o incêndio”.

Tais versos estão publicados no folhetim coimbrense“O Dia”. Não foram incluídos nos livros do poeta, porém marcam dois lançamentos: o do alvo e comprido Dom Pedro II como imperador, o mais longevo governante do Brasil; e o do moreno e baixinho Gonçalves Dias como poeta, o autor de clássicos como “Canção do Exílio”, “Ainda uma vez – Adeus”, “Seus Olhos”, “I-Juca-Pirama” e “Os Timbiras”.

Apesar das disparidades de berço e compleição física, tinham claras afinidades. Foram precoces.Eram intelectuais brasileiros, perfeccionistas. Estudiosos de línguas, literatura, história e geografia. Conheciam bem o tupi. Eram dedicados ao trabalho e apaixonados por seu país. Em destaque, a curiosidade pela etnografia dos povos pré-cabralianos.

Em 2 de setembro de 1847, por proposta de Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias foi admitido como integrante do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o que o aproximou de Pedro II, o qual chegava a distribuir trabalhos de pesquisa aos membros dosodalício. Dias era um dos mais assíduos e ativos membros do instituto.

Uma das missões acadêmicas dadas pelo ainda jovem imperador ao poeta foi pesquisar o estado físico, intelectual e moral dos indígenas do Brasil, comparativamente, antes e depois da chegada dos europeus. Daí nascia o primeiro trabalho da etnografia nacional.

Em outra oportunidade, Gonçalves Dias investigou e escreveu, por proposta de Dom Pedro II, acerca de uma lenda antiga da Amazônia: a existência de amazonas no Brasil. Haveria lá uma antiga tribo composta exclusivamente por altas guerreiras brancas. Interessante. Porém a pesquisa, lida no Instituto na presença de Sua Majestade, concluiu negando veracidade à versão.

Em 1851, o escritor foi nomeado oficial da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça e dos Negócios Interiores, cargo que também lhe permitiu manter contato com Pedro II e outros membros do governo imperial.

No tempo em que havia uma proximidade entre os poetas e a população, que lia e recitava versos em público, como hoje se canta uma música, Gonçalves Dias caiu na graça do imperador, pois trazia, em suas atividades literárias e científicas, as origens e as originalidades brasileiras, tanto que recebe a alcunha de Poeta da Raça.

O autor de Canção do Tamoio, depois de concluir seus estudos em ciências jurídicas na cidade de Coimbra e após uma breve estada na província do Maranhão, partiu em um vapor chamado Imperador para a Capital, onde passou também a trabalhar como um dos redatores da Revista Guanabara.O lançamento da revista calhou com o aniversário de Pedro II, oportunidade em que os seus redatores foram levados à Quinta de São Cristóvão.

Era 2 de dezembro de 1849. O monarca já conhecia o trabalho de Gonçalves Dias como jornalista e escritor aplaudido pela crítica. Ao se deparar com o maranhense da cidade de Caxias, o imperador percebeu que era o único a não ostentar no peito qualquer condecoração, um costume da época. Logo em seguida, espontaneamente, concedeu ao poeta o título de cavaleiro da Ordem da Rosa.

Há outras nuances na relação entre o poeta e o imperador. No Rio de Janeiro, Antônio Gonçalves Dias lecionava latim e história no Imperial Colégio D. Pedro II. Outra curiosidade é que o sogro de Dias, Dr. Cláudio Luís da Costa, era o médico da imperatriz Maria Leopoldina da Áustria. Foi diretor do Imperial Instituto de Meninos Cegos até o seu falecimento em 1869, aos 71 anos de idade. O escritor de Sextilhas de Frei Antão tinha uma excelente relação com o pai de Olímpia, com quem manteve um casamento infeliz. Era rude e possessiva. O romântico não a amava.

Em 1854, o Poeta Nacional foi o portador de correspondências de Dom Pedro II a Portugal. Levou para Lisboa carta destinada à Imperatriz Dona Amélia de Leuchtenberg, a segunda esposa de Pedro I. Levou também carta e livro ao Rei Regente Dom Fernando, pai do futuro Rei Pedro V. Entregou-os pessoalmente em audiência, do que deu conta ao monarca brasileiro, em carta datada de 2 de agosto daquele ano.

Em 10 de outubro de 1856, Dom Pedro II criou, com entusiasmo, a Comissão Científica de Exploração, a fim de estudar os recursos das províncias do Norte. Gonçalves Dias foi nomeado como chefe da Seção de Etnografia e de Narrativa da Viagem. Foi também incumbido de escolher e adquirir, na Europa, os instrumentos necessários para as expedições, como material fotográfico, pólvora, dinamômetros, fuzis e remédios.

A Ilíada americana, Os Timbiras, uma das produções mais importantes de Gonçalves Dias, não por acaso, em outubro de 1857, foi dedicada ao monarca, nos seguintes termos: “À Majestade/ do muito alto e muito poderoso/ Príncipe e Senhor/ D. Pedro II/ Imperador Constitucional e DefensorPerpétuo/ do Brasil”. Não era bajulação:havia reciprocidade.

Pedro II realmente prezava o vate maranhense, a quem mandava livros de presente, como A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Os dois inclusive se comunicavam por cartas com certa frequência. Em uma delas, datada de 2 de março de 1958, Dias divide com o monarca um de seus projetos literários, no caso, a tradução do alemão para o português de poemas de Schiller e Reineke. Em outra carta, de 4 de fevereiro de 1857, lamentou que, por indisponibilidade de tempo, não incluiria o francês no seu Dicionário da Língua Tupi, resignando-se a publicá-lo em português e no idioma geral dos indígenas brasileiros. Na Biblioteca Nacional, há registro de 25 cartas escritas pelo poeta ao imperador.

Pouco se comenta, atualmente, que o soberano perdeu seu filho Pedro Afonso de Bragança.Era o primeiro na linha de sucessão ao trono brasileiro. O príncipe teve uma febre altíssima e morreu, prematuramente, com um ano de idade. Obviamente, o monarca, que já havia perdido um outro filho mais velho, ficou dilacerado. Gonçalves Dias logo escreveu e dedicou ao amigo Nênia à morte sentidíssima do sereníssimo Príncipe Imperial e Senhor Dom Pedro. O poema assim conclui: “Um povo inteiro em torno de um sepulcro,/ Um vácuo berço de seu pranto enchendo!/ À sorte pois te curva, e à lei daquele/ (envolta em seus recônditos desígnios)/ A quem aprouve nivelar, cortando/ Como mesmo golpe as esperanças de ambos, / A dor de um pai e as aflições de um povo!”

Sabedor dos crescentes problemas de saúde de Gonçalves Dias, um preocupado Pedro II, após visitá-lo, recomendou a um amigo comum que o metesse em um transporte e o levasse para tratamento médico fora do Rio de Janeiro. Para cuidados de saúde, consta que Dom Pedro II chegou a enviar dinheiro do próprio bolso ao poeta. Dias sofria então de sífilis e de tuberculose, além do mal que hoje se denomina de depressão. Isto se depreende das correspondências trocadas com o melhor amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal.

O autor de Primeiros e Segundos Cantos, no período em que suas obras mais famosas eram vendidas no Brasil e no exterior sim, Gonçalves Dias, tornou-se um escritor internacional ainda em vida viajou para a Europa na busca de um tratamento salvático ou de uma despedida do velho mundo. Conseguiu o segundo intento.

Pouco tempo se passa da partida quando chega ao Brasil a impactante notícia da morte do seu indianista, na Europa. Comoção nacional. Missas fúnebres, artigos e declamações de despedida. Quando soube da notícia, Pedro II estava presidindouma sessão do Instituto Histórico e Geográfico. Os trabalhos foram imediatamente suspensos, em demonstração de saudade e pesar. Era 24 de junho de 1862.

Em 3 de agosto, vem a contrainformação. Era fake news. O poeta estava vivo e rindo de suas exéquias. Outra pessoa, um marinheiro, havia morrido no mesmo navio que levou Gonçalves Dias à Europa. Como o escritor partira enfermo do Rio, ligaram tal falecimento ao poeta brasileiro. De Paris, bem humorado, exclamou em carta a Teófilo: “o fato é que entre as singularidades de minha vida terei de mais a mais o prazer singular e esquisito de ler as minhas necrologias”.

Dom Pedro II

Da mesma forma que Pedro II depois da proclamação da república e do seu exílio na França, Gonçalves Dias não voltaria a pisar em solo brasileiro. Os tratamentos de saúde europeus não surtiram o efeito desejado. Desenganado, retornou para morrer em seu chão. Entretanto, o navio que trazia o escritor naufragou na costa maranhense. Fisicamente debilitado, em 3 de novembro de 1864, o escritor morreu afogado, aos 41 anos de idade. Seu corpo jamais foi encontrado.

Apesar de uma aparência octogenária, Pedro II faleceu com 66 anos, em 5 de dezembro de 1891. Foi enterrado na França junto a uma almofada com areia do Brasil.

Pois bem! Os apontamentos históricos dispostos ao longo do texto, de forma quase coloquial e cronológica, têm o propósito de descomplicar o emaranhado de questões exordiais, ensejando as respectivas respostas, mesmo que em elipse.

Percebe-se que Gonçalves Dias foi devidamente acomodado em funções no governo que lhe permitiriam mesmo doente ter alguma tranquilidade para produzir, bem assim pesquisar sobre os povos originários do país, temática recorrente em seus escritos científicos e poéticos.

Se o imperador concedeu ao poeta posição e funções públicas, Gonçalves Dias deu ao império identidade cultural para além de suas fronteiras, num período em que o Brasil precisava se consolidar como nação.

Porém, a relação entre Gonçalves Dias e Pedro II não se resumia a um pragmatismo político que aproximava o governo da literatura. Os fatos revelam mútuo respeito, preocupação e acolhimento, o que ratifica ter existido uma amizade concreta, no caso, decorrente de um encontro improvável entre um poeta e um rei. É assim, nesse emaranhado de perguntassobre a amizade entre o poeta e o imperador,que o fato se torna um acontecimentointerpretado segundo um contexto cultural, emoldurado no espaço deste artigo. É assim que chega 10 de agosto de 2023, data em que o Brasil se mobiliza para homenagear o amigo de Pedro II, o maior escritor indianista brasileiro e um dos maiores poetas românticos de língua portuguesa: o maranhense Antônio Gonçalves Dias.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BANDEIRA, Manuel. Poesia e Vida de Gonçalves Dias. São Paulo: Editora das Américas, 1962.

DIAS, Antônio Gonçalves. Poesia Completa e Prosa Escolhida, Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1959.

MONTELLO, Josué. Gonçalves Dias: ensaio biobibliográfico. São Luís: Edições AML, 2019.

MORAES, Jomar. Gonçalves Dias: vida e obra. São Luís: Alumar, 1998.

PEREIRA, Lúcia Miguel. A vida de Gonçalves Dias. Brasilia: Senado Federal, 2017.

Fonte: Gravura do acervo da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional O GIGANTE DO LARGO DOS AMORES[1]

Ana Luiza Almeida Ferro

O que contemplas, ó vate divino? o que procuras em cada sol poente? nosso céu mais uma estrela ganhou nossa vida, mais beleza, nossa prosa, mais poesia o coreto mais cobiçado ficou a baía já se rende a teus pés mas a tarde não traz refrigério a noite sua mudez revelou os sinos ainda dobram por ti a marabá mais sozinha está e o mar penitente se agitou ao naufrágio de certo navio nos baixios dos Atins.

O que divisas, ó mestre divino? o que persegues em meio às alturas? não viste as nuvens pesadas o rosto do astro ocultar? acaso não ouves o canto do guerreiro, os sons da trompa, as vozes em toadas, o canto do índio, a canção do tamoio? acaso olvidaste o canto do Piaga, o rugir das tempestades carregadas? não guardaste a lembrança do moço tupi na taba timbira? não sofreste cruas ânsias fundadas? não ensinaste que a vida é combate que os fortes apenas pode elevar?

O que cismas, ó artífice divino? o que inspira a tua mão?

as visões do valente Tabira? os maracás e os manitôs? és agora o gigante de pedra arrebatado de contida ira quem há que te iguale? quem há que te exceda? quem há que te fira? descansas em eterna vigília não podes dizer derradeiro adeus mil arcos se retesam em mira mil setas se cruzam em tributo mil poemas se doam em memória.

O que especulas, ó arauto divino? o que buscas no incerto horizonte? és mais alto que as altivas palmeiras onde cantava o magistral sabiá mais alto que a bela mangueira onde se aconchegam as frutas useiras mais alto que o Morro do Alecrim onde muito bravo pereceu estás bem diante das beiras no centro da praça encantada a cortejar Maria Aragão tão longe das capoeiras tão dentro do Olimpo tão perto de Tupã.

O que eleges, ó favorito da Musa? o que esperas da brisa inconstante? afasta a tentação da mãe d’água liberta-te do cruel Anhangá desce do alto da palmeira deixa para trás tua frágua e vem cá desfrutar os primores que não encontraste por lá volta à era do corpete, da anágua quando se morria de amor vem desposar Ana Amélia há cura para toda mágoa no Largo dos Remédios no Largo dos Amores.

Ó Gigante do Largo dos Amores de pés imponentes sobre o mar ouve meu canto, meu lamento retoma a pena, fecunda o papel põe a máscara, dedilha a lira volve teus olhos sem tento e desce para tornar a encher com teus últimos cantos meio paz, meio tormento no leito de folhas verdes nossa vida de mais beleza ao sabor de cada momento

nossa prosa de mais poesia nossos dias de mais Gonçalves.

BIOGRAFIA RESUMIDA

Ana Luiza Almeida Ferro é Promotora de Justiça, professora, escritora, historiógrafa, poeta, conferencista internacional, declamadora e desenhista. Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, membro da European Society of International Law, do PEN Clube do Brasil, da Academia Brasileira de Direito, da Academia Brasileira de Filosofia, da Academia Maranhense de Letras, da Academia Ludovicense de Letras e de várias outras instituições culturais. Doutora e Mestra em Ciências Penais (UFMG). Pós-Doutora em Derechos Humanos (Universidad de Salamanca, Espanha). Graduada em Letras e Direito. Detentora de certificados de proficiência em língua inglesa pela University of Cambridge, Inglaterra, e de diplomas pela Université de Nancy II, França, como o Diplôme supérieur d’études françaises. Autora de numerosos artigos e livros, sobretudo de Direito Penal, História e poesia, dentre os quais O Tribunal de Nuremberg, Quando, Crime organizado e organizações criminosas mundiais, O náufrago e a linha do horizonte e 1612 (edições brasileira e europeia). Recebeu o Prêmio “Poesia, Prosa e Arti figurative” (Itália, 2014 e 2019), a Menção Honrosa do prestigioso Prêmio Pedro Calmon 2014 (IHGB), o tradicional Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2015 e o Prêmio Vianna Moog (UBE-RJ, 2017). E-mail: alaferro@uol.com.br.

[1] Originalmente publicado em: FERRO, Ana Luiza Almeida. 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís. Curitiba: Juruá, 2014, p. 757-759.

DIAS

AlbericoCarneiro

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Por que o Sabiá vive, após 200 anos?

A obra literária do escritor maranhense, poeta Gonçalves Dias, se funda, por antecipação temporal, fora do contexto de seus contemporâneos, nos pressupostos da modernidade e pós-modernidade do poema e da poesia. Nele, portanto, a arquitetura do poema e o que nele possa haver de desvio de significados comuns, em expressão, para sentidos especiais, excepcionais ou extraordinários, se homologam numa simbiose de forma e conteúdo, no exercício do texto e seus interditos, conforme se pode conferir a partir do poema e da poesia da Canção do Exílio e ampliar para o campo da releitura de um ponto de vista da recriação pósmoderna no poema e na poesia de I-Juca-Pirama, contemplando o engenhoso estatuto da paródia e do minimalismo, bem como algumas pitadas do contraditório e da ironia.

Os textos de maior expressão do poeta Gonçalves Dias se destacam por subversão dos cânones oficiais e/ou tradicionais, tanto do ponto de vista da não regularidade estrófica, quanto na escolha dos motivos de sua inspiração, cujas bases são mitos brasileiros e as fontes são pinçadas da realidade de seres humanos mortais, cuja releitura, por um ponto de vista irônico e contraditório, não tem o viés dos mitos pagãos imortais gregos. Daí a genialidade do poeta Gonçalves Dias na escolha e transformação dos arquétipos e estratégias gregos no uso do aspecto paródico.

Um poeta para além de orgulho & preconceito

Monumento ao poeta Gonçalves Dias - Praça Gonçalves Dias/São Luís - MA - Foto: Antonio AíltonGONÇALVES
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Vista de São Luís do Maranhão, séc. XVII-XVIII. Gravura publicada no Atlas of Mutual Heritage, de Johannes Vingboons, c. 1665. Domínio público, Arquivo Nacional da Holanda.

É sabido que, por certidão de batismo, Antônio Gonçalves Dias nasceu no estado do Maranhão, no município de Caxias, em 10 de agosto de 1823 e morreu, não se sabe onde, quando e como, com precisão, embora haja conjectura sobre uma possível morte, durante o naufrágio de um navio, vindo da França, o Ville de Boulogne, que se rebentou na Croa dos Ovos, na praia dos Atins, em Cumã, no município de Guimarães, cujas circunstâncias da morte do cidadão são, histórica e de ponto de vista de verossimilhança, radicalmente contraditórias. O ser humano morre, mas há apenas notícia da bagagem, com uma mala de escritos, que foi, segundo Henriques Leal, possivelmente roubada e encontrada já em Alcântara, devassada por alguém que se apossa dos poemas e passa a publicá-los como se de sua autoria, desmascarado com ser medíocre. Como aquela mala fez o percurso de Guimarães a Alcântara? Também não há corpo, cadáver para o atestado de óbito, o que dá pista de uma certeza sob a máscara da suspeição. Conclusão, Gonçalves Dias, até hoje, não pôde merecer as honras de um túmulo, sequer como réplica das tumbas dos soldados desconhecidos. O mar da moral, também, é móvel.

Gonçalves Dias, o homem, o cidadão, era mestiço, mulato, filho bastardo de um português e de uma mestiça de índio e negro e, embora o poeta que habitava nele e, agora, habita e se hospeda entre nós, na obra literária que produziu, não tenha cor, raça, tamanho físico e não ocupe lugar no espaço, não era benquisto, naquela época, 1823-1864, por causa da discriminação e preconceito social da época, em Caxias, muito mais em São Luís, pela hereditariedade que carregava no sangue e na cor.

Em verdade, em verdade vos digo, em São Luís, Antônio Gonçalves Dias era, em razão do preconceito e discriminação de cor, raça, hereditariedade, um nome que quiseram à distância dos Livros de Linhagens e Nobiliários. Decorridos 200 anos do nascimento de Antônio Gonçalves Dias, já é tempo de resgatar a verídica história de sua vida, pondo a hipocrisia, as mentiras e os eufemismos de lado, já que seus poemas e sua poesia são, infinitamente, maiores que a transitoriedade e fugacidade das elites.

Hoje, o poeta e o homem Gonçalves Dias são, por jus a que já não se pode apor peneiras, reconhecidos; aqueles, detentores dos privilégios, jazem, por acreditarem nas aparências, na insignificância que os túmulos, em silêncio, descrevem.

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O Sabiá

Gonçalves Dias foi o primeiro escritor nacionalista brasileiro de expressão, aqui, e além fronteira, embora não tenha sido devidamente reconhecido cá, na época em que viveu, principalmente pelos seus contemporâneos, do Maranhão, jornalistas e escritores medíocres de carteirinha. Claro que houve exceções, mas raras, entre elas a do amigo e biógrafo Antônio Henriques Leal, além de seus contemporâneos de trabalho cultural e literário, na Europa, João Lisboa, Odorico Mendes etc. Sim, nacionalista, mas não no sentido oblíquo e dissimulado da conceituação que a classe política, a burguesia e a aristocracia deu a esse verbete, no contexto da escravidão do negro e do índio, com pressupostos que reproduziam claramente o ideário fascista e genocida.

O nacionalismo de Gonçalves Dias está justamente naquela parte que a dita nobreza rejeitava, já que esta não reconhecia o nacionalismo, senão como sinônimo de defesa da propriedade privada das elites, incluídos aí, como bens, escravos negros e índios, como privilégio comum ao topo da pirâmide social, excluindo o que consideravam a ralé, moeda de troca, das casas grandes e senzalas, em defesa irrestrita de seus Nobiliários e Livros de Linhagens. Ou vamos alegorizar a vexatória verdade com eufemismos? Portanto o nacionalismo de Gonçalves Dias apontava para rejeição ao maquiavélico, à discriminação estrutural, que não reconhecia o negro, nem o índio, senão como moeda de troca.

Gonçalves Dias não é, em sua obra literária, um escritor que brinda com a classe política ou com a burguesia e a aristocracia, muito pelo contrário, ele é um nacionalista convicto contra o nacionalismo hipócrita da falsa defesa da pátria, tradição, família e símbolos nacionais, cujos mentores legitimaram a exclusão e as exceções, sendo esse nacionalismo usado para fins escusos.

O que torna possível a sobrevivência da memória intelectual, poética e da própria biografia de Gonçalves Dias, após 200 anos da data de seu nascimento, do seu registro cartorial, é ele ter sido um subversivo em relação à relativização dos valores dos discursos oficiais e acadêmicos da sociedade de seu tempo, eivada de preconceitos, hoje em vias de desmascaramento, porque os critérios sobre valores da época do Império estão caducos, embora restem alguns resquícios da Monarquia, preservados no contexto da República, como privilégios, mordomias e alguns costumes próprios da vida palaciana, como oligarquias, perpetuidade ou cargos vitalícios e imortalidade etc.

A memória intelectual e poética de Gonçalves Dias é reconhecida e o impõe vivo, após 200 anos de seu nascimento, porque ele, em vida via obra literária, foi um contestador, alguém que desafinava em relação ao contexto da patriotada fascista de seu tempo, doutorada em sofismas, em maquiavelismo. Ele, pelo contrário, foi um escritor inovador, antecipador, contestador, contra manipulações. Desse ponto de vista,

Gonçalves Dias foi um escritor marginal, solitário, fora dos conchavos de panelinhas e igrejinhas, já que surgiu após as academias dos Seletos, dos Felizes, dos Renascidos, da Ulissiponense e dos Esquecidos e jamais as referendou. Livrou-se de ser contemporâneo desse mal epidêmico da primeira metade do século XIX, em Portugal e no Brasil.

À distância das associações e agremiações pseudoliterárias, manifestou-se em defesa de causas que os ditos nacionalistas de seu tempo rejeitavam, como a inclusão do índio como protagonista e personagem de obras literárias. Em alguns de seus poemas os silvícolas assumem os papéis principais, de destaque, como nos épicos I-Juca-Pirama e Os Timbiras, onde não há a presença do dito civilizado, cognominado de homem branco, nem como coadjuvante ou figurante, já que os protagonistas, personagens, os atores estão a serviço de quem escreve, alguém que é simultaneamente índio e negro, justamente o que a sociedade burguesa e aristocrática de seu tempo, preconceituosa, rejeita. Assim, Gonçalves Dias usa outros códigos de nacionalismo, que apontam seus ancestrais como as bases dos mitos da Literatura Nacional. Ele já propugnava por uma sociedade inclusiva, baseada na acessibilidade ao habitante autóctone do Brasil.

Em seus poemas indianistas e em sua obra etnológica, Brasil e Oceania, deu visibilidade ao índio, como ser humano talentoso, habilidoso, senhor de sua própria cultura e identidade, capaz de representar-se não como moeda de troca, mas como alguém que é detentor de um conhecimento natural de matemática, de linguagem, de artesanato, de arquitetura, de pintura, de ciência.

Gonçalves Dias foi, portanto, um nacionalista às avessas, quer dizer, contra os ditos nacionalistas, únicos que se consideravam dignos de fazer parte da civilização, com exclusão do índio e do negro, sufocados pela invisibilidade da escravidão.

A obra literária de Gonçalves Dias o impõe, no tempo em que viveu e hoje, como um escritor diferente de seus contemporâneos, portanto um antecipador, cuja obra, premonitória e profética, o mantém vivo, após 200 anos de seu nascimento, em exílio.

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Canção do exílio

O enfoque da Canção do Exílio vem aqui à tona, porque se impõe ainda hoje como o primeiro poema do Simbolismo no Brasil, embora, talvez, este aspecto não tenha sido abordado devidamente e, ainda que escrito aos 20 anos de idade do homem Gonçalves Dias, o poema é, também, por várias razões, o primeiro de linguagem modernista, no Brasil. Sobre o assunto, fiz um resgate no Anuário JP Guesa Errante 5, 2007, pp. 10-13, bem como do poema I-Juca-Pirama, pp 18-23.

O poema, revolucionário para sua época, tem um olhar estranho, desfamiliarizado e desenraizado, dizendo adeus para alguns códigos e cânones poéticos tradicionais e olhando para frente ao mesmo tempo, com aquele olhar enviesado de um poeta que tem plena consciência do riscado, ou seja, de que texto literário não existe sem o simulacro. E essa disposição deliberada para transgredir, violar, apostando maciçamente na mímesis, através da sugestão, da fruição e das aliterações, não soou como novidade e estranhamento, em 1843, no Maranhão, Brasil, mas teve eco em Portugal, cuja repercussão mereceu elogios do escritor português Alexandre Herculano que, na época, saudou o poeta de Primeiros Cantos, colocando-o na categoria de uma nova voz no contexto da Literatura Brasileira e um exemplo para a Literatura Portuguesa que, então, passava por uma fase de apatia criativa ou decadência.

Qual foi a intencionalidade do poeta ao grafar Sabiá com maiúscula? Aí está o viés ou desvio do significado ou, mais precisamente, a significação conotativa por contiguidade, similaridade ou analogia: sabiá, um pássaro de canto diferenciado, especial, belíssimo, como o canto de um grande poeta: o Sabiá, com maiúscula do poema de Gonçalves Dias.

Por exemplo, os referenciais que dão maior expressividade poética ao texto não são substantivos ou verbos, como mais comumente acontece, mas advérbios e pronomes. Ou melhor, aqui, são os advérbios e os pronomes a razão da poesia, quer dizer, sem os advérbios onde, aqui, lá, cá, mais, sozinho; os possessivos minha e nosso e o demonstrativo tal não haveria poesia nenhuma. São eles que fazem com que as outras palavras funcionem de maneira especial.

É, através de repetições e reiterações, que o poeta obtém o máximo de resultados emotivos, inclusive, sem uso de adjetivo. Ingressando numa estrutura encadeada de sugestão e musicalidade, discrição e aliterações, procura expressar a nostalgia, a atmosfera de exílio e a saudade, de uma maneira discreta.

O poema de Gonçalves Dias não tem o derramamento saudosista e choroso de, por exemplo, um Casemiro de Abreu, um Álvares de Azevedo ou de um Fagundes Varela.

Ele não diz de maneira direta que tem saudade do Maranhão, Caxias ou São Luís. Usa de sugestões, símbolos, para serem decifrados e usufruídos:

Imagem: Google Street View – https://www.ipatrimonio.org/

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeio como lá.

Há, também, nas entrelinhas, uma sutil ironia, um tom satírico, sarcástico, o que é permitido a quem sabe exercer engenho e arte poética.

No poema em questão, ele nos convida a perceber que um substantivo comum pode passar à categoria de próprio. Sabiá, por exemplo. Por outro lado, que substantivos próprios podem ser representados por palavras acessórias ou de categorias secundárias, mas como essenciais. Por exemplo, Portugal está representado por aqui e cá e Maranhão ou Caxias ou Jatobá ou Laranjeiras, por lá. Por esse viés, Gonçalves Dias impregna palavras comuns, acessórias, de um potencial especial, extraordinário.

As palavras que funcionam no poema e que criam a carga poética para as outras palavras não são substantivos, pronomes pessoais ou verbos, palavras consideradas essenciais e integrantes, mas os advérbios de lugar e de intensidade; pronomes não do caso reto ou oblíquo, mas possessivos, demonstrativos.

Se os advérbios e pronomes em questão fossem abolidos do poema, na Canção do Exílio não haveria poesia, pois o simulacro (simulação de significado) não se operaria. São eles, os advérbios e pronomes que, paradoxalmente, criam a emoção poética, nesse texto, o mais expressivo insignt e epifania do PósModernismo brasileiro, antecipado secularmente.

Ora, substantivos e pronomes são palavras que, por excelência, nomeiam, designam seres e coisas. Verbo exprime ação, estado e fenômeno. Advérbio é palavra acessória que modifica adjetivo, verbo ou outro advérbio.

Aqui, no entanto, em poesia, no poema, são os advérbios e pronomes que dão as cartas:

Nosso céu tem mais estrelas

Nossos bosques têm mais flores

Nossas flores têm mais vida

Nossas vidas, mais amores.

O que está interdito nesses “Nosso/Nossos/Nossas”? Com os possessivos, as palavras “céu/bosques/flores e estrelas” assumem conotações subjetivas, cujos sentidos, no entanto, ficam implícitos e a declaração anímica não se derrama, se sutiliza.

Agora, tiremos os pronomes possessivos e os advérbios:

Céu tem estrelas bosques têm flores flores têm vida vidas, amores.

Tudo se reduz ao sentido denotativo ou ao óbvio. Sem o possessivo nosso (os, as), céu, bosques, flores e vida voltam ao sentido real, denotativo; assim como as palavras, estrelas, flores, vida e amores, sem o advérbio de intensidade mais, perdem o sentido poético. Quando Gonçalves Dias diz “Nosso céu tem mais estrelas”, o mais, dentro do encadeamento semântico, cria, no todo, ressonância de transcendência pela carga de voltagem semântica que o possessivo lhe impõe. Em outras palavras, o poeta quer dizer que só o céu, que se ama, é o nosso céu, que se torna nossa coisa pertença pelo amor e, por isso, tem a generosidade das estrelas que quisermos. Nesse campo sem fronteiras semânticas céu e estrelas passam a representar, por imperativos do possessivo e do advérbio de intensidade, o universo infinito de tudo que amamos, por força das raízes telúricas do que em nós faz aflorar a emotividade.

Em Canção do Exílio, o poeta tentou expressar os sentimentos mais profundos de percepção de beleza e de abandono, solidão e exílio, sem usar um adjetivo explícito, para não se banalizar e para não banalizar o tema.

4 I-Juca-Pirama, uma Odisseia Nacional

Considerado por Otto Maria Carpeaux, como “o primeiro poeta verdadeiramente nacional”

e por José Veríssimo, como “o maior e mais completo poeta do Brasil”, creio que essas afirmações tenham a ver com o fato de Gonçalves Dias ser um poeta que fez a releitura dos principais arquétipos homéricos, ao recriar os mitos do Ulisses e do Telêmaco, transpostos da Odisseia, para o plano das tribos de índios brasileiros, criando os mitos literários dos nossos ancestrais mais remotos.

Apresentamos o poema I Juca-Pirama como reinvenção da Odisseia, de Homero, no plano do índio nordestino e amazônico do Brasil. É no poema em questão que o poeta é mais revolucionário no campo da criação literária, quer do ponto de vista da estética, quer do ponto de vista da narrativa, principalmente do que tem a ver com a história da semântica e da linguagem do discurso poético brasileiro.

O grande lance de Gonçalves Dias está justamente aí, romper com a tradição e instaurar cânones e códigos completamente diferentes na concepção do poema. Sem dúvida, ele consegue criar mitos nacionais adaptando-os a partir de grandes arquétipos universais.

Conforme o próprio poeta Gonçalves Dias declara em carta, datada de 5 de julho de 1847 (Cf. Pantheon Maranhense, Tomo II, p. 46, Antônio Henriques Leal), referindo-se a um de seus projetos literários mais ambiciosos, a concepção que ele tinha sobre criação e obra literária já postulava e pontuava uma visão além de seu tempo, sugerindo releitura do ponto de vista paródico. Por exemplo, ele concebe o poema épico Os Timbiras como uma Ilíada brasileira: “Imaginei um poema… como nunca ouviste falar de outro: magotes de tigres, de quatis, de cascavéis; imaginei mangueiras e jabuticabeiras copadas, jequitibás e ipês arrogantes, sapucaeiras e jambeiros, de palmeiras não falemos: guerreiros diabólicos, mulheres feiticeiras, sapos e jacarés sem conta, enfim, um gênesis americano, uma Ilíada Brasileira, uma criação recriada. Passa-se a ação no Maranhão e vai terminar no Amazonas com a dispersão dos Timbiras; guerra entre eles e depois com os portugueses”. […]

Uma espécie de Ilíada tropicalista brasileira, brasilindianista com todas as tintas de um colorido tipicamente carnavalizado. Uma releitura que tem um propósito narrativo ou romanesco épico, antecipadora da pósmodernidade. É imprescindível ressaltar que Gonçalves Dias foi mais além, quando no poema I-JucaPirama ousou enfrentar o desafio e correr os riscos de fazer a paródia de uma das obras literárias mais bem concebidas da história do romance-poema, a Odisseia, de Homero. Mais que Os Timbiras, em relação à Ilíada, o poema I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, representa um marco no panorama da obra poética épica brasileira. A Odisseia, de Homero, passada ao plano de epopeia brasileira, minimalista, assume uma outra fisionomia, quando as falas da história constroem um discurso poético em que as pessoas saem da tutela dos deuses e ficam à mercê da dura e cruel realidade das selvas. Aí Gonçalves Dias apresenta ao mundo um outro tipo de Ulisses e um outro tipo de Telêmaco, que saem das peles de índios da tribo Tupi, em confronto com índios da tribo dos Timbiras, povos bárbaros, ferozes, guerreiros, canibais, porém marcados por qualidades, como honra, destemor, coragem, audácia, poder de dissimulação e inteligência invulgar. Sobre a pós-modernidade, publiquei estudos, no Anuário JP Guesa Errante, No. 3, 2005, pp. 55-57; 61-66; 69-86.

É instigante conferir, comparativamente, os graus de parentesco entre a obra fonte ou arquétipo, Odisseia, de Homero e a obra engendrada daquela, I-Juca-Pirama, onde o mar é outro, a Floresta.

Gonçalves Dias, portanto, transpõe para o Brasil o grande mito grego do herói dissimulado, astuto, habilidoso, inteligente, comedido, do ponto de vista não do espírito do arquétipo grego, senão da alma e do poder de percepção do índio brasileiro.

O Ulisses e o Telêmaco brasileiros, sob a pele do velho e do jovem índios são simples mortais, cujas vidas estão marcadas pelos estigmas das guerras tribais e pelo genocídio dos colonizadores. Eles assumem, então, marcas selváticas. Aqui, Ulisses/Odisseus é, minimalisticamente, um homem da selva, diferente do grego, apresentado como um deus, o que, no índio, é compensado por atributos como coragem, honra, solidariedade, compaixão e, acima de tudo, heroísmo.

O que há de comum em ambos é o pretexto usado antes da luta. Ambos têm que se manter fora dos próprios domínios, ou seja, tornam-se errantes, por força das circunstâncias; ambos fingem acovardar-se; ambos escondem, mascaram as origens; ambos usam o pretexto da dissimulação.

O jovem índio, tendo a sua tribo dizimada, vaga errante como guia do pai cego. Na Odisseia, há a presença do cão Argos, o cachorro de Ulisses, que o guia, quando este é transformado pela deusa Atena, filha de Zeus, no disfarce de um velho alquebrado e cego.

Busto do poeta grego Homero – autor das epopeias Ilíada e Odisseia

Há indícios relevantes de identificação e identidade entre os elementos narrativos da Odisseia, de Homero e o poema I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias. Observa-se, por exemplo, que, nas duas narrativas, há a presença do elemento trágico. As duas narrativas discutem os dramas humanos da busca e da espera, do amor recíproco, filial e paterno, da paixão pela terra/tribo de que os heróis foram desterrados, o retorno, o disfarce, a luta e a vitória.

Todos esses elementos estão contidos nas duas epopeias. Também os dois poemas dialogam sobre a busca de identidade entre pai e filho, a forte ligação que os une pelos mesmos elos, a separação forçada, a vontade de se defenderem um ao outro e a profunda admiração, respeito, amizade, o maior exemplo de amor paternal e filial, cujos laços unem pai e filho, na vida e na morte, na viagem e no retorno, na guerra e na paz.

Ulisses/Odisseus e o jovem índio tupi submetem-se, temporariamente, ao papel de anti-heróis como pretexto para ganharem tempo e poderem se preparar melhor para a luta. Ambos se deixam submeter a humilhações, vexames, são achincalhados de covardes e deixam-se passar por tal. Sob disfarce, Ulisses é motivo de

escárnio. Tanto o protagonista da Odisseia, quanto o do I-Juca-Pirama usam de máscaras, disfarces para poderem atingir seus objetivos.

Talvez, pelo fato de Gonçalves Dias ter tido a felicidade de fazer uma releitura da obra máxima de Homero, bem urdida e bem elaborada, com um poder de síntese incrível e exemplar, o poema I-Juca-Pirama seja a melhor concepção de épico que se tenha em Língua Portuguesa.

Suspeito que esses sejam os verdadeiros motivos de, após 200 anos, Gonçalves Dias e sua mãe Vicença Mendes Pereira permanecerem vivos.

A sobrevivência no texto e na obra de arte, em geral, reafirma a única imortalidade que pode ser conferida a um ser humano. A obra literária do poeta Gonçalves Dias a ratifica.

PREITO A GONÇALVES DIAS

Coube-me a responsabilidade, que reputo imensa, de abrir o primeiro ciclo de palestras promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em comemoração ao Bicentenário de Gonçalves Dias. Sei que a escolha de meu nome deveu-se não a méritos que por acaso possua, mas ao fato de ocupar a cadeira número 20 patroneada por Antônio Gonçalves Dias. Não levaram em conta minha provectude… Meus 93 anos agradecem a extremamente honrosa indicação. Me esforçarei por não desmerecê-la, de já contando com a complacência do seleto público aqui presente.

Início este preito a essa figura estelar do Panteon Maranhense e Nacional, com versos de Mata Roma, meu saudoso professor dos tempos de Liceu:

Poeta Gonçalves Dias, nossa terra escrínio de almas raras, teve contigo os seus mais belos dias  e as suas noites de luar mais claras…’’

Nessa época tínhamos por obrigação, para mim por demais prazerosa, saber de cor poesias de Gonçalves Dias e muitas vezes íamos em romaria declamá-las ao pé de sua estátua na praça de seu nome onde,no dizer de Graça Aranha ‘’o poeta espera, na sua palmeira de mármore, o sabiá que não vem nunca…’’

Esse homem singular teve uma produção literária impressionante para o pouco que viveu. Talento multifacetado, foi também teatrólogo, advogado, jornalista e etnógrafo. Foi considerado o maior expoente do romantismo no seu tempo e, podemos dizer, o maior indianista brasileiro.

Josué Montello ao prefaciar as Poesias Completas de Gonçalves Dias assevera que “O culto a um poeta implica numa atitude mais complexa do que um simples ato de Fé; exige o nosso exame, o estudo atento da mensagem que ele nos deixou.” “E é isto que se pretende seja feito com esta nova publicação das poesias de Gonçalves Dias. Elas constituem, inegavelmente, o primeiro documento considerável da sensibilidade brasileira traduzida em versos duradouros.”

Essas palavras de Montello foram citadas, 48 anos depois de proferidas, por Dilercy Adler na apresentação da belíssima obra Sobre Gonçalves Dias, em boa hora organizada por essa ilustre confreira e o não menos ilustre confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz. E eu me permiti repeti-las hoje, caríssima Presidente, 58 anos depois, tal o seu significado. Por oportuno, ressalto o valioso contributo de Vossas Excelências, pela iniciativa arrojada de homenagear a passagem dos 190 anos de nosso poeta com a publicação dos Mil Poemas para Gonçalves Dias.

No prefácio da excelente obra Sobre Gonçalves Dias, de autoria de Weberson Fernandes Grizoste, encontrei informações valiosas que peço vênia para incorporar a esta minha manifestação no propósito de enriquecê-la. Assim vejamos logo ao início:

“Bendita a hora em que nasce um gênio, aqui, ali, além, que importa se for a luz benéfica que esclareça e guie a humanidade?”

Estas palavras são de Antônio Henriques Leal e estão grafadas no primeiro parágrafo do terceiro tomo do Pantheon Maranhense (1874), dedicado inteiramente a biografia de Gonçalves Dias.”

“Quem não dirá que Antônio Gonçalves Dias foi uma luz benéfica que esclareceu e guiou toda uma nação? Entre todos os ilustres filhos do Maranhão, Gonçalves Dias é, sem dúvida, aquele cuja luzência resplandeceu com maior pujança. Hoje, quando cantamos o Hino Nacional, muitas vezes declaramos despercebidos do seu significado: “nossos bosques têm mais vida, nossa vida [no teu seio] mais amores”, mas foi ele o primeiro a ter percebido essa generosidade da natureza, saudoso e triste diante das margens viçosas do Mondego. Foi em Coimbra que ele escreveu a sua “Canção do Exílio” que se tornou, o poema brasílico mais declamado, elogiado, imitado e conhecido até a atualidade’’.

Detém-se o autor ainda, sobre a origem da expressão ordem e progresso estampada na Bandeira Nacional e por todos atribuída a Augusto Comte, sendo certo que Gonçalves Dias em 1846 já referia no penúltimo subcapítulo de Meditação escrito em São Luís: “Porque a ordem e o progresso são inseparáveis;o que realizar uma obterá a outra.” Cuida o ilustre prefaciante de esclarecer que os Discursos de Comte foram publicados em 1848 e Meditação viria a lume em 1850.

‘’

Recorro agora ao discurso que proferi por ocasião da minha posse na cadeira número 20 deste sodalício:

“Falar de Gonçalves Dias, senhoras e senhores, é falar do Maranhão e do Brasil.  É falar do cultor da história de nossos avós. É falar do poeta indianista. É falar do profundo amor que devotava à sua terra ao ponto de cantá-la como jamais alguém a cantou nos versos da Canção do Exílio. É falar do maior dos poetas brasileiros.

Caxias viu nascer o menino Antônio, aquele que Bilac chamaria de gênio tutelar de nossa inteligência, a 10 de agosto de 1823, pouco depois da adesão do Maranhão à Independência. Filho do português João Manuel Gonçalves e da mestiça maranhense Vicência Ferreira, não lhe impediu a origem o acesso aos estudos, nos quais, bem cedo, se revelou. Assim, quando partiu para Coimbra, aos quinze anos, já estudara latim, filosofia e francês com o professor Ricardo Leão Sabino que vivia em Caxias. Esse professor, segundo nos conta Jomar Morais, era “uma curiosa e fascinante personalidade, que combinava a inteligência viva com boa cultura, grande coragem pessoal e índole aventureira” e deve ter sido de grande valia na formação intelectual do discípulo precoce.

Em Coimbra, frequentou Gonçalves Dias o Colégio das Artes a fim de concluir os estudos preparatórios iniciados em Caxias, com vistas a ingressar no Curso de Direito, revelando notável aproveitamento, tornando-se conhecido como “o esperançoso menino do Maranhão". A falta de recursos financeiros quase o impediu de matricular-se na Universidade de Coimbra ante ordenar-lhe a madrasta o retorno ao Maranhão, por não mais poder mantê-lo em Portugal. Felizmente outros jovens maranhenses que estudavam em Coimbra, Joaquim Pereira Lapa e Alexandre Teófilo de Carvalho Leal (o maior e melhor amigo de Gonçalves Dias por toda a vida) e o fluminense José Hermenegildo Xavier de Moraes, lhe oferecem os recursos necessários para continuar os estudos, o que aceito, não sem alguma hesitação por parte do jovem estudante. Após submeter-se, com êxito, aos exames preparatórios, matriculou-se no Curso de Direito, onde logo figurou entre os primeiros. Isto aos 17 anos de idade.

Além dos estudos jurídicos, esse aluno exemplar dedicar-se-ia ao estudo da literatura inglesa e francesa, sintonizando-se de imediato, com o movimento romântico onde pontificavam Victor Hugo, Chateaubriand, Lamartine, Alexandre Herculano e Almeida Garrett, cujas obras leu avidamente. A nostalgia da Pátria que perpassava pelos estudantes brasileiros em Coimbra, à época, atinge o ápice nos versos da “Canção do Exílio”, misto de evocação e saudade, de paisagem e ternura, que consagraria Gonçalves Dias para todo o sempre. Manuel Bandeira afirma ter sido a “Canção do Exílio” para Gonçalves Dias, “o seu grande momento de inspiração, o passaporte de sua imortalidade". Ainda que não tivesse escrito mais nada, ficaria a Canção do Exílio para sempre gravada na memória de sua gente. "Na atualidade tornou-se a “Canção do Brasil” na feliz expressão do ilustre confrade Edmilson Sanches, cujo nome de forma exponencial se projeta hoje, para gáudio nosso, aqui e além fronteiras.

A poesia indianista de Gonçalves Dias seria outro legado inestimável. Não tivesse sido ele membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (onde ingressou a 12 de setembro de 1847); não tivesse ele sido membro da Comissão Científica de Exploração instituída por Dom Pedro II em que titular/responsável pela Seção de Etnografia e Narrativa de Viagem; não tivesse ele escrito o notável trabalho científico “Brasil e a Oceania”; não tivesse ele revolvido os arcanos de nossa história ao pesquisar os arquivos daqui e d’alémmar, ainda assim mereceria figurar entre os patronos deste Instituto por essa poética indianista repassada de sentimento nativista, não só captando o homem/índio em seu meio natural como pela compreensão impiedosa dos brancos, tão bem traduzida no:

CANTO DO PIAGA

“Ó guerreiros da Taba sagrada.

O guerreiros da Tribo Tupi, Falam Deuses nos cantos do Piaga

Ó guerreiros meus cantos ouvi.

Esta noite - era a lua já morta

Anhangá me vedava sonhar;

Eis na horrível caverna, que habito, Rouca voz começou-me a chamar.

Abro os olhos, inquieto, medroso

Manitôs! Que prodígios que vi!

Arde o pau de resina fumosa, Não fui eu, não fui eu que o acendi!

Eis rebenta a meus pés um fantasma.

Um fantasma d’imensa extensão; Liso crânio repousa a meu lado, Feia cobra se enrosca no chão.

O meu sangue gelou-se nas veias, Todo inteiro - ossos, carnes - tremi, Frio horror me coou pelos membros, Frio vento no rosto senti.

Era feio, medonho, tremendo, Ó guerreiros o espectro que eu vi.

Falam deuses nos cantos do Piaga

Ó guerreiros, meus cantos ouvi!

(II)

Por que dormes, ó Piaga divino?

Começou-me a Visão a falar, Por que dormes? O sacro instrumento

De per si já começa a vibrar.

Tu não viste nos céus um negrume

Toda a face do sol ofuscar; Não ouviste a coruja, de dia, Seus estrídulos torva soltar?

Tu não viste dos bosques a coma

Sem aragem - vergar-se e gemer, Nem a lua de fogo entre nuvens,

Com prêmio de até R$ 5 mil, evento 'Gonçalves Dias na era da IA' abre inscrições em São Luís

Inscrições são voltadas para equipes e podem ser feitas até 26 de setembro. Evento vai produzir imagens e vídeos baseados nas obras do poeta maranhense, a partir do uso de técnicas de Inteligência Artificial (IA).

Solenidade celebra os 200 Anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, no MA Foto:

Reprodução/TV Mirante

Estão abertas, até 26 de setembro, as inscrições para a Hackathon Gonçalves Dias, uma competição que vai produzir imagens e vídeos baseados nas obras do poeta maranhense, a partir do uso de técnicas de Inteligência Artificial (IA). As inscrições podem ser feitas por meio deste site.

O evento acontecerá nos dias 29 e 30 de setembro e, 01 de outubro, a partir das 18h, em um shopping localizado no bairro Calhau, em São Luís. Mais informações sobre o regulamento, podem ser consultadas por meio deste site.

As equipes multidisciplinares serão formadas com no mínimo três componentes e no máximo cinco. A sugestão é que os grupos tenham pessoas com conhecimento ou formação nas áreas de Artes Visuais, Literatura ou Letras, Produção Audiovisual, Design e Tecnologia. As equipes vencedoras serão premiadas em dinheiro. O primeiro lugar ganhará R$ 5 mil e o segundo R$ 3 mil. "Faço um convite a todos que lidam com programação, com design, com audiovisual, com literatura para que participem do nosso evento", convida Jorge Murad, idealizador da iniciativa.

Entre os critérios que serão julgados pela comissão responsável pela avaliação dos trabalhos estão a aplicabilidade para resolver os problemas relacionados, inovação, criatividade, adequação ao tema, desafio e objetivos propostos e, viabilidade de execução real.

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