Revista Mackenzie 49

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reação

Como lidar com o agressor

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cola. Na nova escola, nunca tive problemas com ninguém. Pelo contrário, converso com praticamente todos até hoje. Alguns anos depois, já no terceiro ano do curso de Medicina, tive uma depressão maior. Provavelmente resultado de tudo que passei na época e pelo fato de não ter procurado tratamento com psicólogos”, relata Bruna*, 22 anos. Segundo o psiquiatra e docente do Mackenzie, Pérsio Ribeiro Gomes de Deus, a psiquiatria trata o fato quando está ocorrendo e suas sequelas. “As vítimas apresentam um aumento considerável nos índices de doenças depressivas, nos quadros de fobias, nas síndromes de pânico e, inclusive, nos quadros de suicídio”, comenta o doutor Pérsio. De acordo com o docente, não se deve iniciar um tratamento sem fazer uma investigação diagnóstica cuidadosa, com exames laboratoriais, genéticos, entre outros. Esses exames auxiliarão a compreender quais sistemas cerebrais foram comprometidos pelo transtorno em questão. “Terminada a investigação, teremos condição de indicar medicações mais adequadas, juntamente com outros métodos terapêuticos como a psicoterapia e a prática de exercícios físicos, dependendo de cada caso”, explica o doutor. “Os pais que tiverem um filho vítima de bullying devem procurar um profissional especialista nesses casos. Não necessariamente o psiquiatra, mas um profissional que domine o tema”, enfatiza o doutor Pérsio.

A conscientização dos alunos com relação ao tema ajuda no controle de atitudes discriminatórias Denise Augusto de Souza Hiraoka, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Gilmar Taccola na zona leste de São Paulo

Segundo os profissionais envolvidos, quando falamos em tratamento não podemos esquecer o outro lado da moeda, isto é, o agressor também necessita de cuidados. “Eu sempre provocava os outros alunos à toa, na intenção de tumultuar a aula. Escolhia alguém aleatoriamente e provocava por diversas vezes. Dava chutes, socos, riscava o caderno deles, jogava o estojo no lixo, colocava a mão na comida para provocar, entre outras coisas”, conta André*, 14 anos, aluno da EMEF Professor Gilmar Taccola. Segundo a direção do colégio, o aluno tem uma família completamente desestruturada. “A mãe nunca atendeu às nossas convocações e ele já foi encaminhado diversas vezes ao Conselho Tutelar. Após inúmeras conversas com a diretoria e equipe técnica pedagógica da escola, percebemos que André precisava de atenção”, constata a diretora Denise. Desde então, ele está sempre em contato com a direção da escola, os professores estão se empenhando para recuperar a defasagem de aprendizado que ele tem, conversam regularmente e o André está recebendo a atenção que sempre precisou. *Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

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