São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História @2017

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São Paio de Oleiros Traços essenciais da sua História Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim)

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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim)

02 de setembro de 2017 ©


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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História,

Por Anthero Monteiro Fig. 01 Brasão Oficial da Vila de São Paio de Oleiros © Arquivo imagético da JFSPO.

S. Paio de Oleiros pertenceu sempre à Terra de Santa Maria da Feira, como se pode comprovar com documentos do século XIII (1220 – Inquirições de D. Afonso II; 1251 – Inquirições de D. Afonso III; 1288 - Inquirições de D. Dinis). Em 1514, surge na “carta de foral da Feira”, que, como se sabe, é um documento que institui o direito público dos concelhos e a Feira é nele considerada como “cabeça da Terra de Santa Maria”. Em 1527, era a “aldeia de Oleiros” no recenseamento geral da população ordenado por D. 5

João III, sendo a Vila da Feira, então, pertencente à Comarca da Estremadura. Em 1708, consta entre as 76 freguesias do termo da Feira arroladas no tomo II, datado de 1708, da célebre Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do Famoso Reino de Portugal do Padre António Carvalho da Costa, o que é confirmado 50 anos depois pelas Memórias Paroquiais: “termo da Villa da Feyra”. Um copiador de 1840, existente no Arquivo Municipal da Feira, inclui Oleiros entre as freguesias que pertenciam ao nosso concelho antes da Restauração do Reino após as Invasões Francesas. Depois dessa Restauração foram desmembradas várias freguesias do concelho para pertencerem ao de Fermedo. Ocorreram, entre outras, alterações com a formação do concelho de Espinho, ao qual Oleiros passou a pertencer em 1926, para regressar à Feira em 1928. Das 76 freguesias atrás referidas, o concelho ficou reduzido a 31, número que voltou a decrescer com a recente criação de várias uniões de freguesias. S. Paio de Oleiros continuou como freguesia feirense. Há referências toponímicas que fazem remontar a história oleirense ao Calcolítico, designadamente os lugares da Lapa de Cima e Lapa de Baixo, a meio caminho entre os castros de Ovil e Murado, e o já desaparecido topónimo


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O topónimo Oleiros ter-lhe-á advindo, segundo a tradição, corroborada por vários autores, da suposta proliferação de oleiros na região e da abundância de barro, se tivermos em conta dados da toponímia local, como, por exemplo, os lugares da Concharinha, Serra Morena ou Barredas. Pinho Leal refere que o barro local é “tão ordinário que só serviria para fazer telha ou tijolo”. Mas, se há quem se lembre de um telhal existente na freguesia, também há quem refira a existência de uma olaria nas proximidades da Tuna Musical e há ainda hoje barro de qualidade na vizinha Anta e uma rua na fronteira entre a Concharinha e Nogueira denominada da Soenga (ou seja, um forno de cozer louça),

que atesta terem existido tais artesãos nas imediações. ainda documentos antigos que referem a profissão “paneleiros” (fabricantes de panelas de barro) entre oleirenses, mas, nessa altura, Oleiros já assim chamava.

Há de os se

Fig. 02 Escultura processional de São Paio Mártir (utilizada, sob andor, no Cortejo religioso da “Romaria de agosto”, tributada anualmente pelos oleirenses a N.ª Sr.ª da Saúde e a Santo António de Lisboa) – Escultura de vulto, modelada em Barro / Terracota policromado/a (?) (pintado/a com várias cores), enquadrável entre os finais do século XIX e o decurso do século XX. Do ponto de vista iconográfico, representa o Orago local (protetor / patrono da Paróquia oleirense), jovem, belo e imberbe – ausente de barba - na posse dos dois atributos principais que o identificam como mártir Cristão: a “Palma do martírio” na mão esquerda, encostada junto ao peito; e a “Espada / Cimitarra” espetada no “solo”, junto aos membros inferiores, alusiva à sua morte por decapitação. Em termos hagiográficos (biografia do Santo), São Paio Mártir (ca. 912 – 925) foi capturado pelas hostes mouriscas aos treze anos de idade, e executado por ordem do Emir muçulmano “Abderramão III” / “Abd – al Rahmân III” (? – 961) © Arquivo imagético da JFSPO.

A escolha do jovem martirizado pelos Muçulmanos em 925 - S. Paio (contração de Pelágio) – para orago da paróquia deverá remontar ao tempo dos moçárabes que, segundo António Mattoso, lhe prestaram grande devoção. Seja como for, já no Censual do Cabido da Sé do Porto, datado de 1200, a igreja paroquial vem designada como 6


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) Ecclesia Santi Pelagij de Oleyros. Em 1288, nas Inquirições de D. Dinis, a paróquia surge denominada como “parrochia Sancti Pelagii de Oleyros” e, na respetiva sentença, já como “Sam Paayo de Oleiros”.

Fig. 04 Versão integral do Decreto n.º 2/71 emitido em “Diário do Governo” de 7 de janeiro de 1971 – Representativo da transição nominal civil de “Oleiros” para “São Paio de Oleiros” © Diário da República. Série I, n.º 5/71. Lisboa: 7 de janeiro de 1971, p. 11.

Fig. 03 Orago local: a Imagem de São Paio Mártir que se venera no interior da Igreja Paroquial de S. P. Oleiros, num dos nichos laterais do Retábulomor / principal - Escultura de vulto em Madeira policromada, estofada, dourada e carnada, cronologicamente enquadrável entre os finais do século XIX e os alvores do século XX (de 1885 ou posterior a 1885 (?)) © Arquivo imagético da JFSPO.

O uso levou à simplificação do nome para “Oleiros”, o que posteriormente provocou inconvenientes relacionados com muitas confusões com terras homónimas e transvios de correspondência. Para evitar esses problemas, pelo decreto n.º 2/71, de 7 de Janeiro, a freguesia, copiando a designação secular da paróquia, passou a chamar-se definitivamente “S. Paio de Oleiros”. 7

A toponímia local é um verdadeiro testemunho da freguesia rural proveniente do desmantelamento que se produziu nas “vilas do Norte de Portugal” como é descrito por Alberto Sampaio nos Estudos Económicos: Agro-Velho,


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) Aldeia, Lameiro, Eirados, Fial (com o significado de meda de feno), etc.. Durante séculos, tal como elas, S. Paio de Oleiros viveu do amanho das terras e da criação do gado. “Terra fértil”, dizia Pinho Leal, acrescentando que “cria gado bovino que exporta para Inglaterra”.

por Fábrica de Papel do Engenho Velho, por uma sociedade constituída pelo mestre papeleiro genovês José Maria Ottone e pelo capitalista portuense, Vicente Pedro Pedrossem, filho de um mercador de origem flamenga.

Moinhos de água abundavam nas ribeiras locais. Mas já nas Memórias Paroquiais de 1758 se diz que “Oleiros não só tem moinhos, mas também engenho de papel”. Fig. 05 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas da Roda hidráulica da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – séc. XVIII, posterior a 1708 (inventariada pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) - Elemento de arqueologia industrial referente ao complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do Distrito de Aveiro – situada em S. Paio de Oleiros - em atividade e produção permanente entre 1708 (ano de fundação), e a transição de centúria (século), de setecentos (séc. XVIII), para oitocentos (séc. XIX). A par da constância temporal descrita, o seu legado laboral foi muito mais amplo, prolongando-se, com uma ou outras crise pontual, pelos séculos XIX e XX em diante, conhecendo apenas o encerramento definitivo no ano 2000 © Museu do Papel Terras de Santa Maria & Arquivo imagético da JFSPO.

De facto, já 50 anos antes (1708), fora fundada na nossa localidade a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, de papel fino para escrever, que viria a ser mais conhecida

Figs. 06, 07 & 08 Reconstituição e pormenores de “Marca de água e Contramarcas de José Maria Ottone” (referido nos registos paroquiais de São Paio de Oleiros – “Livro Misto n.º 2, 1703-1749, folha 12/v-13” - como “Joseph Maria Ottone”) – Genovês (Voltri, Génova – Itália), sócio fundador (juntamente com Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem (1677 - 1748), oriundo de uma família da “elite setecentista” – séc. XVIII - da cidade do Porto, reconhecida como “Capitalista”, pelo seu poderio negocial e económico), e primeiro orientador (sobretudo entre 1708 e 1713), da produção papeleira oleirense na “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” / “Engenho Velho” © Maria José Ferreira dos Santos / Museu do Papel Terras de Santa Maria (Imagens extraídas de: Maria José Ferreira dos Santos, «Marcas de água e historia do papel», Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto online no dia 23 Março 2016, consultado a 22 Novembro 2016. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : 10.4000/cultura.2334).

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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) O genovês saiu para fundar outra fábrica alguns anos depois e, por volta de 1781, o Engenho Velho, que continuou a laborar mesmo depois da morte, em 1748, de Vicente Pedro Pedrossem, aparece, por volta de 1781, sob a administração e propriedade do seu neto, Vicente Pedrossem da Silva.

Fig. 09 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” - Registo do estado atual de um caso singular do ponto de vista da história, património e arqueologia industrial papeleira na Vila de São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira, na região Norte e no próprio país. Trata-se de um “sítio arqueológico” composto por vestígios referentes à estrutura final do complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do distrito de Aveiro – situada em S. Paio de Oleiros - em atividade e produção permanente entre 1708 (ano de fundação), e a transição de centúria (século), de setecentos (séc. XVIII), para oitocentos (séc. XIX). A par da constância temporal descrita, o seu legado laboral foi muito mais amplo, prolongando-se, com uma ou outra crise pontual, pelos séculos XIX e XX em diante, conhecendo apenas o encerramento definitivo no ano 2000. Como marco identitário, irrompe na paisagem a sua tradicional Chaminé de Alvenaria (composta por Tijolos de Barro agrupados), de tonalidade laranja © Arquivo imagético da JFSPO.

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Fig. 10 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – Estrutura atual da “Fonte / Fontanário” de 1750, resultante da “Reconstrução / Restauro” posterior, de 1968 - Estrutura pétrea arcada (em “arco de volta perfeita”), que envolve as “ruínas / vestígios” da “Fonte / Fontanário” (decorada com saliências pétreas e fragmentos de “conchas”, um pequeno “nicho superior”, também arcado, que poderia conter uma escultura de Imaginária religiosa, atualmente ausente / perdida e uma “Bacia / Reservatório para recolha de água” que cairia através da “Bica” setecentista) © José C. Amorim / JFSPO.

À morte deste, em 1806, todos os seus bens, incluindo a fábrica, passam por testamento para o seu afilhado, o capitão do regimento de milícias de Penafiel, Francisco


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Fig. 12 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Marca de água de papel almaço de segunda qualidade”, de 1833 e oriunda do contexto produtivo oitocentista da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros” sob posse de Francisco Novais Moreira desde 1806 - “MOREIRA.1833. AlMasso. R. F. da Lapa. Feira. 2.ª. Q.e.” (“Moreira. 1833. Almaço. Real Fábrica da Lapa. Feira. Segunda Qualidade”) (inventariada pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (Imagem extraída de: http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspx-01/06/2017,19 h 19 m.

Fig. 11 “Galga da Fábrica do Engenho Velho, hoje desfeita” © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Em 1811, Joaquim de Sá Couto fundou, no lugar do Candal de Baixo, junto à quinta da Cardenha, a que haveria de ser “uma das mais antigas e mais bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira” (Pinho Leal), onde se fabricava papel de mortalha para tabaco e papel selado, que muitos asseveram ter sido o primeiro do país. Foramlhe atribuídos vários prémios em exposições nacionais e internacionais. A fábrica, destruída por um incêndio em 10


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) 1854 e reedificada em 1859, tinha motor hidráulico, empregava madeira como matéria-prima e produzia dezasseis contos de réis, dando emprego a 65 operários. Fig. 13 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do “Moinho de Galgas” da Fábrica de papel da Cardenha” – Fragmento arqueológico enquadrável entre os sécs. XIX & XX, posterior a 1811 ou 1859 (inventariado pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © Museu do Papel Terras de Santa Maria & Arquivo imagético da JFSPO.

Fig. 14 Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) retratado na posse das insígnias honoríficas da “Comenda da Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição da Vila Viçosa”, que recebeu do monarca D. Luís I de Portugal (1838 – 1889), devido à sua ação em prol do desenvolvimento da região (sobretudo São Paio de Oleiros, Espinho e Santa Maria da Feira), e dos serviços prestados ao país. Pintura de retratística a Óleo sobre Tela, anterior a 24 de janeiro de 1902 (a data da sua morte) © Arquivo Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto (Pintura arquivada, conservada e exposta na Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto / no Edifício “Lar Condes de São João de Ver”, integrado na extensão territorial do complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” em São Paio de Oleiros).

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Fig. 15 Fachada principal de parte das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros, possivelmente edificado sob égide de Joaquim de Sá Couto (Comendador, empresário papeleiro, benemérito e filantropo de São Paio de Oleiros e do vizinho concelho de Espinho) - Residência nobre de arquitetura revivalista, neomedieva (ao gosto dos ideais oitocentistas (séc. XIX) do “Romantismo português”), posse secular dos “Condes de São João de Ver”, reflexiva do poderio socioeconómico da exploração industrial papeleira local e concelhia. Regista-se, a par da componente habitacional e segundo o levantamento histórico do Dr. Anthero Monteiro, o seu uso para “soirées”. Ou seja, para os habituais serões, receções, jantares ou festas típicas da alta sociedade das primeiras décadas do séc. XX compostos pela presença de figuras influentes da alta sociedade, nobreza, burguesia, indústria, cultura e política local, concelhia e nacional © Arquivo imagético da JFSPO & Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Em 1855, inaugurava-se em Oleiros uma fábrica de fiação de algodão, segundo o que se julga saber, relaciona-


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Fig. 17 “Vista atual da Fachada principal, junto à linha férrea, da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 18 Perspetiva aérea da composição primitiva de todo o complexo do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros - Registo fotográfico enquadrável entre 1909 e 1973 (intervalo cronológico correspondente ao funcionamento deste espaço hospitalar e caritativo na sua estrutura pristina, assinalando as datas de inauguração e abertura oficial deste equipamento, 6 de janeiro de 1909 e o lançamento, em 1973, das obras de ampliação que resultaram na distribuição, arquitetura e formato atual deste complexo) © Imagem extraída de: Boletim do Hospital Asilo Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros. Ano I, N.º 1. São Paio de Oleiros: Junho de 1970, (s/p) - Capa.

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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) Fig. 19 Estruturas primitivas do edifício central, pavilhões e Capela anexa do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros - Registos fotográficos enquadráveis entre 1909 e 1973 (intervalo cronológico correspondente ao funcionamento deste espaço hospitalar e caritativo na sua estrutura pristina, assinalando as datas de inauguração e abertura oficial deste equipamento, 6 de janeiro de 1909 e o lançamento, em 1973, das obras de ampliação que resultaram na distribuição, arquitetura e formato atual deste complexo) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

O executor dessas disposições seria o Conde de S. João de Ver e o arquiteto responsável Adães Bermudes, o mesmo que construiu a Igreja Matriz de Espinho. A revista A Medicina Moderna chamou a esta obra “um monumento de caridade”, por se tratar de um empreendimento de grande alcance filantrópico, destinado, de início, a servir os concelhos da Feira e de Espinho, mas cuja ação se estendeu muito para além destas fronteiras, até ao seu posterior encerramento, noventa anos depois, com a criação do Hospital de S. Sebastião na sede do concelho. 13

Entretanto, entre muitas outras empresas do parque empresarial oleirense, aquela que se destaca mais modernamente pela sua dimensão física, capacidade de produção e volume de exportações de revestimentos de cortiça, é a Amorim Revestimentos, S.A., assim designada desde 1995, mas decorrente da criação da IPOCORK – Indústria de Pavimentos e Decoração, S.A., constituída em 1979 e com início de atividade em 1982. Ainda hoje, é considerada a maior empresa do ramo a nível internacional, sendo responsável por levar o nome da nossa vila para os quatro cantos do Mundo. Outro motivo de afluência, embora ocasional, e de divulgação da freguesia, continua a ser a festa em honra de Nossa Senhora da Saúde, que se realiza no mês de Agosto, pelo menos nos primeiros anos subsequentes à construção da nova Igreja em 1885 e que foi considerada uma das maiores romarias do distrito de Aveiro, tendo mais tarde (1935) incluído também o culto a Santo António, que já se realizava no mês de Maio, numa festa a cargo da juventude local. A primitiva igreja, segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, dataria do séc. X e estaria implantada no lugar de Vila Boa.


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) A Travessa da Igreja Velha atesta que, junto ao cemitério, existiu outra Igreja, não se sabe desde quando até à construção da atual pelo Padre José Ferreira de Almeida em 1885. “Esta mede 35,15 metros, tem uma torre com 48 metros e 3 sinos, é provida de um bom altar-mor em renascença D. João V e mais quatro altares laterais maiores e dois menores. Tem amplo coro, esmerado batistério e duas excelentes e amplas sacristias. Custou 200 contos.” (informações do Cónego Dr. Ferreira Pinto in Actividade Pastoral, 1950). Fig. 20 Frontaria principal da Igreja de São Paio de Oleiros - templo oitocentista (século XIX, 1885), de uma só nave e de influência estética Neoclássica – “iluminada” no âmbito da “Romaria de agosto” - A festa tributada ao “protetorado e intercessão divina” de N.ª Sr.ª da Saúde e posteriormente de St.º António de Lisboa pela comunidade oleirense (um voto coletivo concretizado anualmente, de forma oficial e segundo os estudos do Dr. Anthero Monteiro, a partir de 1897) © JFSPO / Ana C. Pires.

Fig. 21 José Ferreira de Almeida (1845 – 1936), pároco local entre 1884 e 1921 e “figura-chave”, conjuntamente com o Comendador Joaquim de Sá Couto, para a edificação da contemporânea Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, inaugurada em 3 de março de 1885 - Fotografia arquivada na Sacristia principal da Igreja oleirense (do “lado da Epístola”, ou seja, à esquerda do observador aquando da sua presença no interior deste templo, posicionado defronte para o Retábulo e Altar-mor), ausente de datação, possivelmente enquadrável entre 1884 e 1921 - o tempo de duração do seu ofício como sacerdote titular da Paróquia Oleirense © Arquivo paroquial / Igreja de São Paio de Oleiros (Reprodução da fotografia original integrada na página número 34 do trabalho de investigação da autoria de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, finalizado em 2015 e intitulado “Breve resenha histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”).

Fig. 22 Frontaria da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, aberta à religiosidade local desde 3 de março de 1885 © JFSPO / José C. Amorim.

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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) No que diz respeito às questões do padroado, de início até 1363, a paróquia oleirense pertencia ao rol daquelas em que era ao Bispo do Porto que competia a apresentação do respetivo pároco. A partir de então, os direitos de padroado em relação a Oleiros e outras paróquias começam a ser exercidos pelo Mosteiro de Grijó, cabendo-lhe a nomeação do nosso pároco, tratando-se, de acordo com o tombo do prior D. Afonso Esteves, de 1366, de uma apresentação in solidum, ou seja, completa, não mista ou simultânea, em suma, sem outras interferências. Mais tarde, por volta de 1435, segundo as Memórias Paroquiais de Arcozelo (1758), Oleiros conheceu, tal como muitas outras terras, épocas de grandes vicissitudes, como aconteceu na sequência da peste negra, por volta de 1348, e de outras pestilências, esterilidades, fomes e guerras subsequentes, que terão dizimado grande parte da população da localidade e da vizinhança: Santa Maria de Meladas foi extinta como freguesia, a reitoria de Santa Maria de Lamas ficou com apenas 3 habitantes e a Abadia de Oleiros com 5. Foi então que o Bispo do Porto, com o consentimento do Prior do Mosteiro de Grijó, que era padroeiro da Abadia de Oleiros, determinou uni-la à Reitoria de Lamas e anexá-las ambas à freguesia de S. Miguel de Arcozelo, que pertencia nesse tempo também ao termo da Feira. 15

Fig. 23 O “Arraial” (atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”), datável de 1900, mas na sua composição corrente, devedor, em grande parte, da reformulação iniciada a partir de 1966 pelo pároco Aurélio Gonçalves Pinheiro (titular da Paróquia entre 1966 e 1975), com “Cruzeiro pétreo” oitocentista, implementado neste território no ano de 1816 © JFSPO / José C. Amorim.

A partir daí, passou-se a um padroado misto, com “apresentação alternativa” da Diocese e do Mosteiro de Grijó. Só mais tarde, Oleiros passaria a reitoria independente. Mais recentemente, fruto de aturado trabalho desenvolvido pela CESPOVILA – Comissão para a Elevação de S. Paio de Oleiros a Vila, com o apoio direto de representantes das quatro principais bancadas partidárias da Assembleia da República, a mesma aprova,


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) em 20 de Junho de 1991, o projeto apresentado e “a povoação de S. Paio de Oleiros, é elevada à categoria de vila”, pela Lei n.º 103/91 de 16 de Agosto do mesmo ano. Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores) Fig. 24 “Logótipo da CESPOVILA, com grafismo da autoria de Anthero Monteiro” (Fotografia de Anthero Monteiro) © Fotografia, recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros. Fig. 25 “Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila” – Registo fotográfico da autoria de “Tomás Sobrinho”, representativo dos vinte e sete cidadãos Oleirenses que se deslocaram a Lisboa no dia 20 de junho de 1991. Para, na Assembleia da República, assistirem à oficialização da “Elevação de São Paio de Oleiros ao estatuto de Vila” © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Fig. 26 “Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila” - Destaque noticioso da Capa / Primeira página ilustrada de 30 cm x 21 cm, do n.º 23, de maio / junho de 1991, do jornal local “Diálogo”. Um órgão da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, à época dirigido pelo Dr. Anthero Monteiro, acompanhado pelo Dr. Pereira da Rocha, como Diretor Adjunto (Diálogo. Ano IV, n.º 23. São Paio de Oleiros: Maio - Junho de 1991 (Capa / 1.ª Página) © Arquivo patrimonial e imagético da JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 27 “Sessão Solene de 07 de julho de 1991 – “Anthero Monteiro Porta-voz da CESPOVILA, historia o processo até à “Elevação a Vila de São Paio de Oleiros” (Foto Tomaz Sobrinho, 1991) © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

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São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) Fig. 28 “O Presidente da CESPOVILA executa o corte do bolo alusivo à Elevação a Vila no Jantar-Convívio após a Sessão Solene – Restaurante Telheiro, S. P. Oleiros, 07 de julho de 1991” (Foto Tomaz Sobrinho, 1991) © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Fig. 30 “Hastear das Bandeiras com a participação musical da “Tuna de S. P. Oleiros”, antecedente à Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de S. P. Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de S. P. Oleiros” a personalidades e entidades marcantes da História, Comunidade e atividade local” © Arquivo imagético da JFSPO. Fig. 31 “Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre

Fig. 29 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 23.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2014, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros” (Fotografia de José C. Amorim) © Arquivo imagético da JFSPO.

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da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de São Paio de Oleiros a personalidades e entidades marcantes da História, Comunidade e atividade local” © Arquivo imagético da JFSPO.


São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História, Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim) Fig. 35 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 26.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2017, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com Figs. 32 & 33 “Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de São Paio de Oleiros a personalidades e entidades marcantes da História contemporânea, Comunidade e atividade local” - À esquerda, pormenor da “Medalha de “Mérito da Vila de S. P. Oleiros”, respetivos diplomas e notas de atribuição & À direita, perspetiva do Salão Nobre e de alguns dos laureados ou representantes dos laureados com a “Medalha de Mérito da Vila” © Arquivo imagético da JFSPO.

Fig. 34 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 25.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2016, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com uma Homenagem pública ao trabalho e aos membros da Ex-CESPOVILA” (posicionados na plateia, nos três primeiros bancos à esquerda) © Arquivo imagético da JFSPO.

a apresentação pública do Catálogo “São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” (Património, História & Identidade), a Homenagem da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros aos Ex-Presidentes de Junta que exerceram tais funções nesta localidade em plena democracia, no período “pós 25 de abril de 1974”; o Lançamento do Vídeo “#VisiteSPOleiros” e da estratégia de promoção turística, patrimonial e identitária da Vila de São Paio de Oleiros (Fotografia coletiva dos principais intervenientes e homenageados nesta Assembleia Comemorativa) © Arquivo imagético da JFSPO. Fig. 36 “Aspeto do Parque de Nossa Senhora da Saúde no dia 20 de junho de 2016, ornado com as tradicionais “Tasquinhas” e em pleno programa de animação integrante das Comemorações públicas do 25.º Aniversário de Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” © Arquivo imagético da JFSPO.

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Proposta de citação: Monteiro A. (2017). São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores - Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José Carlos Amorim). Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (ed. digital), 36 Ilustrações, 20 p.


© 2017


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