Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros @2017

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço”

José Carlos Amorim Anthero Monteiro Ana Cristina Pires José Pereira da Rocha © 2017



José Carlos Amorim, Anthero Monteiro, Ana Cristina Pires & José Pereira da Rocha

Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço”

28 de setembro de 2017 ©


“Conhecer o Passado, para entender o Presente & construir o Futuro!”

"(...) A verdadeira viagem faz-se na memória (...) A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós (...)" Marcel Proust (1871-1922)


Ficha Técnica Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” José Carlos de Castro Amorim, Anthero Monteiro, Ana Cristina Pires & José Pereira da Rocha © Setembro de 2017 - Autores & Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros.

Coordenação geral: Ana Cristina Pires (Presidente de Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros). Coordenação científica: José Carlos de Castro Amorim (Historiador da Arte & Coordenador da “Divisão / Gabinete / Grupo de Trabalho de Cultura, História & Património da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros”). Textos: José Carlos de Castro Amorim, Anthero Monteiro, Ana Cristina Pires & José Pereira da Rocha. Participação Especial: Anthero Monteiro (Professor, Escritor, Poeta, Ensaísta, Investigador sagaz da História local de São Paio de Oleiros & Diretor da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros) & José Pereira da Rocha (Licenciado em Filologia Germânica (U.C.), foi professor do Ensino Secundário e está aposentado, foi membro da Assembleia de Freguesia de S. Paio de Oleiros, à qual presidiu em três mandatos e secretário da Junta da mesma Freguesia durante três mandatos, investiga o historial do Cemitério de S. P. Oleiros e pertence aos quadros diretivos de entidades do associativismo Oleirense). Cartografia: Ana Cristina Pires. Revisão: José Carlos de Castro Amorim, Anthero Monteiro, Ana Cristina Pires & José Pereira da Rocha. Direção de Arte - Design, Projeto Gráfico e Paginação: José Carlos de Castro Amorim, Ana Cristina Pires & Gabinete de Comunicação e Multimédia da JFSPO. Fotografia: Ana Cristina Pires, Anthero Monteiro, José Pereira da

Rocha, José Carlos Amorim & Arquivo imagético da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Capa e contracapa: “Capela de Nossa Senhora da Saúde” - Capela anexa ao antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros, elementos edificados e inaugurados entre 1903 / 1904 e 1909 (Pormenor) – Original da autoria de Margarida Costa, Pintura a Óleo sobre Tela de 34 cm x 27 cm, assinada (“M.COSTA”), e datada de 1989 (“M.COSTA 89”). São Paio de Oleiros, Coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros - JFSPO/SN 08. Edição digital: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Apoios: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros & Biblioteca Pública de S. Paio de Oleiros. Nota editorial: A par de conteúdos novos e originais, cedidos pelos seus autores, do qual destacamos a versão atualizada de 2 de setembro do artigo “São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História”, da autoria do Dr. Anthero Monteiro, grande parte desta publicação digital reproduz excertos selecionados da obra lançada publicamente no dia 20 de junho de 2017: Amorim J.C., Monteiro A., Pereira da Rocha J. & Pires A. (2017). São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço”. Catálogo evocativo dos 25 anos da Vila de São Paio de Oleiros. Património, História & Identidade. Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (ed.), 456 Ilustrações, 445 p. [ISBN: 978-989-20-7463-4]. Nos artigos de fundo, foi opção manter a grafia e a forma de citar que cada Autor segue. © 28 de setembro de 2017 - Todos os direitos reservados. Esta obra não pode ser reproduzida, no todo ou em parte, por qualquer forma ou quaisquer meios eletrónicos, mecânicos ou outros, incluindo fotografia, gravação magnética ou qualquer processo de armazenamento ou sistema de recuperação de informação, sem prévia autorização escrita do editor.

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Abreviaturas & Siglas Aa. Vv. – Autores variados a. C. – Antes de Cristo A. F. – Assembleia de Freguesia Alt. – Altura A. M. – Assembleia Municipal A.M.O. / AMO – Associação Musical Oleirense Aprox. – Aproximado(a) ou aproximadamente Arq. - Arquiteto Art. cit. – Artigo citado C. – Cristina C. – Carlos c. – cerca / cerca de (do) © - Copyright (“direitos reservados”) Ca. – Cerca de CDC / C.D.C. – Centro Desportivo & Cultural Cap. – Capítulo(s) Cf. – Confira C. M. – Câmara Municipal cm – centímetros C. P. – Comboios de Portugal d. C. – Depois de Cristo D. – Dom / Dona D.ª - Dona DGPC – Direção Geral do Património Cultural Doc. - Documento Dr. – Doutor Dr.ª - Doutora Drs. – Doutores Ed. – Edição / Editado(a) Eng. – Engenheiro(a) Eng.ª - Engenheira Eng.º - Engenheiro Etc. – Etecetera F. C. – Futebol Clube FLUP / F.L.U.P. – Faculdade de Letras da Universidade do Porto Fac. - Faculdade Fig. – Figura Figs. – Figuras GRATO – Grupo Recreativo dos Amigos do Teatro Oleirense

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h. – horas Hab. – Habitantes Inv. – Inventário J.F. – Junta de Freguesia JFSPO – Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros Km – Quilómetros Km2 – Quilómetros quadrados LAF / L.A.F. – Liga dos Amigos da Feira Lda. – Limitada Larg. – Largura m. – minutos M.ª - Maria MASSPO – Movimento de Apoio Social a São Paio de Oleiros N.ª - Nossa n.º - número Op. cit. – Obra citada p. – página P.e. – Padre Pág. – Página pp. – páginas Prof. – Professor(a) Pub. – Publicação / Publicado(a) Rev. / Rev.º - Reverendo S.ª / St.ª - Santa (s/d) – sem data Séc. – Século Sécs. – Séculos (s/l) – sine loco, sem local / lugar (s/p) – sem numeração de página S. P. – São Paio SPO / S. P. O. – São Paio de Oleiros Sr. – Senhor Sr.ª - Senhora St.º - Santo U. C. – Universidade de Coimbra V. – Verso Vd. – Vide, veja Vol. – Volume


Índice geral

Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Abreviaturas & Siglas......06 Os Autores Apontamento Biográfico de José C. Amorim......09 Apontamento Biográfico de Anthero Monteiro......09 Apontamento Biográfico de Ana C. Pires......10 Apontamento Biográfico de José Maria M. Pereira da Rocha......10 São Paio de Oleiros – Traços essenciais da sua História “São Paio de Oleiros – Traços essenciais da sua História” (Por Anthero Monteiro - Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores)......12 Mapa de localização – Freguesia de São Paio de Oleiros (Por Ana C. Pires)......27 Caracterização global da Vila: breve historial, património, recursos e atrativos turísticos São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Caracterização global da Vila: breve historial, património, recursos e atrativos turísticos (Por José C. Amorim & Ana C. Pires)......29 Razões para conhecer e visitar São Paio de Oleiros - Exemplos de Património & Identidade “Razões para (re)conhecer e visitar São Paio de Oleiros - Património & Identidade” (Introdução por José C. Amorim)......32

Património, Arte, Cultura, Arquitetura & Identidade religiosa “Epicentro cívico e religioso da Vila”: Arraial, Adro & Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros” Património Religioso (História, Arquitetura & Arte): Arraial, Adro & Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros (Por José C. Amorim)......34 “Romaria de agosto” / Festa anual dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa (Por José C. Amorim)......47 “Religiosidade popular Oleirense” (História, Arquitetura, Iconografia & Arte) - Capelas, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas / Almas do Purgatório”, Oratórios e Ex-votos “Capelas, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas / Almas do Purgatório”, Oratórios e Ex-votos da geografia de São Paio de Oleiros” (Por José C. Amorim)......49 “Capelinha das Almas (ou Alminhas de Dona Camila) Recorda 2.ª Invasão francesa (1809)” (Por Anthero Monteiro)......62 Arte, Culto & Arquitetura Funerária”: Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros “Património Religioso (“Arte, Culto & Arquitetura Funerária”): Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros” (Por José C. Amorim)......68 Património histórico, arquitetónico, cívico & ferroviário de São Paio de Oleiros – A “Linha do Vale do Vouga” “Sampaio-Oleiros” – Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros – Exemplar de Património, Cultura & Arquitetura ferroviária da secular “Linha do Vale do Vouga” (Por José C. Amorim)......77 Património & “Arqueologia médica”, filantropia & religiosidade: Complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de São Paio de Oleiros 7


Complexo do antigo “Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde” (Por José C. Amorim)......90 “Elementos para a História do Hospital-Asilo de S. Paio de Oleiros” (Por Anthero Monteiro)......92 “Património e Arqueologia Industrial & Papeleira” “O pioneirismo Oleirense na “Arte Papeleira” em Portugal e até no mundo, de 1708 à contemporaneidade” (Por José C. Amorim)......118 “Arquitetura residencial e cívica – “Do revivalismo romântico & oitocentista (séc. XIX), à influência dos estilos “Arte Nova” e “Casa Portuguesa” dos alvores de novecentos (séc. XX)” “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” & “Ateneu de São Paio de Oleiros” – Exemplos de Arquitetura residencial e cívica balizados entre o fim do séc. XIX e o início do séc. XX” (Por José C. Amorim)......135 “Outros exemplares de Património edificado Oleirense, novecentistas (séc. XX) e alguns deles adaptados às funções atuais, de matriz cívica e/ou educacional” (binómio “Arquitetura escolar” & “Arquitetura da água”) “Património público, cívico e educacional” – Exemplos de Arquitetura novecentista Oleirense, que derivam entre o “Património escolar de matriz estética do “Estado Novo” e própria “Arquitetura da água” do espaço urbano” (Por José C. Amorim)......159

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“História e Património Autárquico. Memória e Arte associadas ao legado administrativo da Freguesia, respetivas Comissões administrativas e Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros de 1885 a 2017” “História & Património Autárquico”: Epicentro e Edifício Administrativo da Freguesia de São Paio de Oleiros – Arquitetura e Arte da atual Sede da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (inaugurada em 1973)” (Por José C. Amorim)......180 “Cronologia dos Elencos da Junta de Freguesia, Comissões Administrativas e outros intervenientes na Vida da Freguesia em momentos “pré” e “pós” Revolução do “25 de abril de 1974 (1885 a 2017)” (Por José Maria M. Pereira da Rocha)......182

“1885 a 1974 – Extensão cronológica do momento administrativo “pré” Revolução do “25 de abril de 1974” (Por José Maria M. Pereira da Rocha)......182 “1974 a 2017 – Extensão cronológica do momento administrativo “pós” Revolução do “25 de abril de 1974” (listagem presidencial) (Por José Maria M. Pereira da Rocha)......189 “Património fotográfico, documental e artístico em exposição, ou arquivado, nos espaços do Salão Nobre e “Sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (excerto do “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” de novembro de 2015”)” (Por José C. Amorim)......191 Espaços de lazer e fruição pública & Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros “Parque de Nossa Senhora da Saúde” & “Parque de Merendas das Oliveiras” (Por José C. Amorim & Ana C. Pires)......216 Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros (Por José C. Amorim & Ana C. Pires)......217

Igreja de São Paio de Oleiros (Vista do Templo oitocentista séc. XIX, 1885) (Pormenor) – Original de Margarida Costa, Pintura a Óleo sobre Tela, datada e assinada: séc. XX 1987 (“M.COSTA 87”). Alt. 50 cm x Larg. 39 cm. Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Salão Nobre) JFSPO/SN 08.


Os Autores

José Carlos de Castro Amorim

Anthero Monteiro Apontamento biográfico

Apontamento biográfico José C. Amorim nasceu em São Paio de Oleiros, no antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde, no dia 18 de setembro de 1988. Academicamente é Licenciado em História da Arte desde 2009 e, desde 2012, Mestre em História da Arte Portuguesa, sendo ambos os ciclos concluídos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Também na FLUP, ingressou em 2013 no Doutoramento em História da Arte Portuguesa (ciclo de estudos que mantém atualmente em pausa após frequência e conclusão de unidades curriculares do seu 1.º ano). Tanto no ciclo de estudos conducentes ao grau de Mestre, como na frequência do Doutoramento em História da Arte Portuguesa, orientado pelo Professor Doutor Agostinho Rui Marques de Araújo, direcionou a sua especialização historiográfica para a abordagem e investigação do momento contemporâneo da Arte Portuguesa entre o século XIX e as primeiras décadas do século XX. Abordando, na especificidade, o percurso e a obra de ilustradores dos artistas portugueses Manuel de Macedo (1839 - 1915) e António Carneiro (1872 – 1930) (sobre o qual desenvolveu, em 2012, a Dissertação / Tese de Mestrado: “António Carneiro (1872 - 1930). Pluralidade e desígnios do Ilustrador”). Historiador da Arte do Museu de St.ª M.ª de Lamas desde 2010, no âmbito do seu percurso académico e profissional possui algumas publicações técnicas difundidas. Socialmente ativo, com percurso paralelo dedicado à Música e às Artes (lecionando “cursos livres de bateria” e integrando, como percussionista e baterista, tunas musicais, orquestras e bandas filarmónicas), em prol da sua Freguesia, desde a infância, integrou diferentes coletividades de matriz desportiva e sociocultural. E, desde 2013 a 2017, a par de colaborar em múltiplas vertentes autárquicas locais, coordenou os “Gabinetes de Comunicação & Múltimédia e Cultura, História & Património” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros.

Anthero Monteiro nasceu em São Paio Oleiros no ano de 1946. Fez os estudos secundários em Viana do Castelo, Braga e Aveiro. É Licenciado em Filologia Românica pela Universidade do Porto e Mestre em Estudos Portugueses pela Universidade de Aveiro. Foi Professor e Formador de Docentes e é Escritor, Poeta e Ensaísta, coautor de oito livros didáticos de Português para Portugal e Cabo Verde, colaborador num Dicionário de Língua Portuguesa, autor de oito livros de Poesia, de poemas incluídos em antologias brasileiras, de quatro livros de ensaio e de artigos publicados em revistas universitárias. Em 2004, foi galardoado com o Prémio Manuel Laranjeira, em 2015, com a Medalha de Ouro de Mérito da Vila de São Paio de Oleiros, no âmbito do seu vasto percurso cultural e associativo. Em São Paio de Oleiros dirige há quarenta anos a Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros e foi diretor do jornal oleirense Diálogo. Fez dois mandatos na Assembleia de Freguesia local e integrou a CESPOVILA, tendo sido eleito seu porta-voz e desenhado o seu logótipo. Aliás, tendo em conta esse legado, em 2016 foi homenageado pela Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, como membro da Ex-CESPOVILA (Comissão Local responsável pelo trabalho que originou a “Elevação de S. Paio de Oleiros ao estatuto de Vila”), no âmbito das “Comemorações do 25.º Aniversário desta efeméride e da existência territorial como Vila”. Foi ainda coautor do Brasão e da Bandeira oficiais da Vila e autor do hino da Associação Musical Oleirense (A.M.O.). É também de sua autoria a investigação e redação de grande parte da História conhecida de São Paio de Oleiros, trabalhos que vêm sendo publicados pela revista Villa da Feira. Terra de Santa Maria (da Liga dos Amigos da Feira (L.A.F.)), da qual é supervisor editorial e gráfico.

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Os Autores

Ana Cristina Pires de Oliveira

José Maria M. Pereira da Rocha

Apontamento biográfico

Apontamento biográfico

Ana C. Pires nasceu em Espinho no dia 13 de janeiro de 1980. É Investigadora no Centro GeoBioTec da Universidade de Aveiro e no Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada do Instituto Superior de Engenharia do Porto. Tem Doutoramento Europeu na área das Geociências, especialidade de Recursos Geológicos e Geomateriais. Nos últimos 10 anos faz investigação na área das Tecnologias do Mar e Georrecursos. Membro da Ordem dos Engenheiros e da Sociedade Portuguesa de Geotecnia. Em 2007 recebeu o Prémio Rolando Moreira de Ciência e Tecnologia em Engenharia Geotécnica|ISEP, e em 2011 recebeu o Prémio de melhor Comunicação / Poster (Belfast), concedido pelo Instituto de Engenharia Civil de Inglaterra. Fundadora / Coordenadora do Grupo Coral Juvenil da Paróquia de São Paio de Oleiros desde 1997; foi também monitora de Música no Centro de Solidariedade Social de São João de Vêr entre 2001 e 2003. De 2005 a 2007 foi membro da Direção da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, tendo ainda colaborado com outras associações e centros de apoio social. Presidente de Junta no Quadriénio 2013-2017 e Fundadora / Coordenadora do primeiro Fórum Social de Freguesia de São Paio de Oleiros em janeiro de 2014, colaborou na criação do Projeto “Mercado Jovem” (formato de “Mercearia Social”), no âmbito do Fórum.

José Maria M. Pereira da Rocha, nasceu no Porto no dia 8 de dezembro de 1937. O grau de Bacharel em Filologia Germânica foi-lhe reconhecido pela Universidade de Coimbra e mais tarde o grau de Licenciatura, fazendo parte do quadro da Escola Comercial Oliveira Martins (Porto). Concluiu o Curso de Ciências Pedagógicas na Universidade do Porto, sendo Prof. Efetivo na Escola Técnica de Coelho e Castro (Fiães), onde ocupou o cargo de Sub-Director. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1974 na Universidade Livre de Kingston-Upon-Hull (Yorkshire). Manteve-se até 1993 nos quadros da Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida (Espinho), aposentando-se nesse mesmo ano. Tem contribuído, ao longo dos anos, para o Associativismo da Freguesia de São Paio de Oleiros e tem tido um papel fundamental como autarca, tanto na Vila de S. P. Oleiros, como no Município. Colaborou nos recenseamentos eleitorais periódicos, promovendo, em 1979, a 1.ª atribuição maciça de nomes às Ruas da Freguesia – Toponímia. Elaborou também o 1.º mapa completo (à época 1975), do Cemitério Paroquial e o índice multimodal das concessões e transferências de sepulturas, base de dados que vai mantendo e atualizando, tendo publicado na Revista “Villa da Feira” um artigo sobre a sua investigação dos alargamentos do Cemitério Paroquial. Em 2015, a Junta de Freguesia nomeou-o Júri da Comissão de Honra para a Atribuição de Medalhas de Mérito da Vila (Edição 2015), com aprovação em Assembleia de Freguesia. Finalmente, em 2016, foi homenageado pela mesma Junta de Freguesia, como membro da Ex-CESPOVILA (Comissão Local responsável pelo trabalho que originou a “Elevação de S. Paio de Oleiros a Vila”), no âmbito dos 25 anos desta efeméride.

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São Paio de Oleiros Traços essenciais da sua História Por Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim)


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” São Paio de Oleiros - Traços essenciais da sua História,

Por Anthero Monteiro Fig. 01 Brasão Oficial da Vila de São Paio de Oleiros © Arquivo imagético da JFSPO.

S. Paio de Oleiros pertenceu sempre à Terra de Santa Maria da Feira, como se pode comprovar com documentos do século XIII (1220 – Inquirições de D. Afonso II; 1251 – Inquirições de D. Afonso III; 1288 - Inquirições de D. Dinis). Em 1514, surge na “carta de foral da Feira”, que, como se sabe, é um documento que institui o direito público dos concelhos e a Feira é nele considerada como “cabeça da Terra de Santa Maria”. Em 1527, era a “aldeia de Oleiros” no recenseamento geral da população ordenado por D. 12

João III, sendo a Vila da Feira, então, pertencente à Comarca da Estremadura. Em 1708, consta entre as 76 freguesias do termo da Feira arroladas no tomo II, datado de 1708, da célebre Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do Famoso Reino de Portugal do Padre António Carvalho da Costa, o que é confirmado 50 anos depois pelas Memórias Paroquiais: “termo da Villa da Feyra”. Um copiador de 1840, existente no Arquivo Municipal da Feira, inclui Oleiros entre as freguesias que pertenciam ao nosso concelho antes da Restauração do Reino após as Invasões Francesas. Depois dessa Restauração foram desmembradas várias freguesias do concelho para pertencerem ao de Fermedo. Ocorreram, entre outras, alterações com a formação do concelho de Espinho, ao qual Oleiros passou a pertencer em 1926, para regressar à Feira em 1928. Das 76 freguesias atrás referidas, o concelho ficou reduzido a 31, número que voltou a decrescer com a recente criação de várias uniões de freguesias. S. Paio de Oleiros continuou como freguesia feirense. Há referências toponímicas que fazem remontar a história oleirense ao Calcolítico, designadamente os lugares da Lapa de Cima e Lapa de Baixo, a meio caminho entre os castros de Ovil e Murado, e o já desaparecido topónimo


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Mamoa, constante do Foral Novo de D. Manuel I, de 1514. Outros reportar-se-ão à época da Romanização, como Vila Boa e Estrada. No entanto, a primeira menção documental que é feita a Oleiros, sob a forma tabeliónica em latim bárbaro, é a de “uilla de olleirolos” num inventário, datado de 1050, anterior, portanto, ao tratado de Zamora e à independência nacional. Trata-se de uma relação de bens pertencentes ao ricohomem Gonçalo Viegas e a sua esposa, D.ª Flâmula (Doc. N.º 378 dos Diplomata et Chartae, do Mosteiro de Pedroso).

O topónimo Oleiros ter-lhe-á advindo, segundo a tradição, corroborada por vários autores, da suposta proliferação de oleiros na região e da abundância de barro, se tivermos em conta dados da toponímia local, como, por exemplo, os lugares da Concharinha, Serra Morena ou Barredas. Pinho Leal refere que o barro local é “tão ordinário que só serviria para fazer telha ou tijolo”. Mas, se há quem se lembre de um telhal existente na freguesia, também há quem refira a existência de uma olaria nas proximidades da Tuna Musical e há ainda hoje barro de qualidade na vizinha Anta e uma rua na fronteira entre a Concharinha e Nogueira denominada da Soenga (ou seja, um forno de cozer louça),

que atesta terem existido tais artesãos nas imediações. ainda documentos antigos que referem a profissão “paneleiros” (fabricantes de panelas de barro) entre oleirenses, mas, nessa altura, Oleiros já assim chamava.

Há de os se

Fig. 02 Escultura processional de São Paio Mártir (utilizada, sob andor, no Cortejo religioso da “Romaria de agosto”, tributada anualmente pelos oleirenses a N.ª Sr.ª da Saúde e a Santo António de Lisboa) – Escultura de vulto, modelada em Barro / Terracota policromado/a (?) (pintado/a com várias cores), enquadrável entre os finais do século XIX e o decurso do século XX. Do ponto de vista iconográfico, representa o Orago local (protetor / patrono da Paróquia oleirense), jovem, belo e imberbe – ausente de barba - na posse dos dois atributos principais que o identificam como mártir Cristão: a “Palma do martírio” na mão esquerda, encostada junto ao peito; e a “Espada / Cimitarra” espetada no “solo”, junto aos membros inferiores, alusiva à sua morte por decapitação. Em termos hagiográficos (biografia do Santo), São Paio Mártir (ca. 912 – 925) foi capturado pelas hostes mouriscas aos treze anos de idade, e executado por ordem do Emir muçulmano “Abderramão III” / “Abd – al Rahmân III” (? – 961) © Arquivo imagético da JFSPO.

A escolha do jovem martirizado pelos Muçulmanos em 925 - S. Paio (contração de Pelágio) – para orago da paróquia deverá remontar ao tempo dos moçárabes que, segundo António Mattoso, lhe prestaram grande devoção. Seja como for, já no Censual do Cabido da Sé do Porto, datado de 1200, a igreja paroquial vem designada como 13


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Ecclesia Santi Pelagij de Oleyros. Em 1288, nas Inquirições de D. Dinis, a paróquia surge denominada como “parrochia Sancti Pelagii de Oleyros” e, na respetiva sentença, já como “Sam Paayo de Oleiros”.

Fig. 04 Versão integral do Decreto n.º 2/71 emitido em “Diário do Governo” de 7 de janeiro de 1971 – Representativo da transição nominal civil de “Oleiros” para “São Paio de Oleiros” © Diário da República. Série I, n.º 5/71. Lisboa: 7 de janeiro de 1971, p. 11.

Fig. 03 Orago local: a Imagem de São Paio Mártir que se venera no interior da Igreja Paroquial de S. P. Oleiros, num dos nichos laterais do Retábulomor / principal - Escultura de vulto em Madeira policromada, estofada, dourada e carnada, cronologicamente enquadrável entre os finais do século XIX e os alvores do século XX (de 1885 ou posterior a 1885 (?)) © Arquivo imagético da JFSPO.

O uso levou à simplificação do nome para “Oleiros”, o que posteriormente provocou inconvenientes relacionados com muitas confusões com terras homónimas e transvios de correspondência. Para evitar esses problemas, pelo decreto n.º 2/71, de 7 de Janeiro, a freguesia, copiando a designação secular da paróquia, passou a chamar-se definitivamente “S. Paio de Oleiros”. 14

A toponímia local é um verdadeiro testemunho da freguesia rural proveniente do desmantelamento que se produziu nas “vilas do Norte de Portugal” como é descrito por Alberto Sampaio nos Estudos Económicos: Agro-Velho,


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Aldeia, Lameiro, Eirados, Fial (com o significado de meda de feno), etc.. Durante séculos, tal como elas, S. Paio de Oleiros viveu do amanho das terras e da criação do gado. “Terra fértil”, dizia Pinho Leal, acrescentando que “cria gado bovino que exporta para Inglaterra”.

por Fábrica de Papel do Engenho Velho, por uma sociedade constituída pelo mestre papeleiro genovês José Maria Ottone e pelo capitalista portuense, Vicente Pedro Pedrossem, filho de um mercador de origem flamenga.

Moinhos de água abundavam nas ribeiras locais. Mas já nas Memórias Paroquiais de 1758 se diz que “Oleiros não só tem moinhos, mas também engenho de papel”. Fig. 05 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas da Roda hidráulica da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – séc. XVIII, posterior a 1708 (inventariada pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) - Elemento de arqueologia industrial referente ao complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do Distrito de Aveiro – situada em S. Paio de Oleiros - em atividade e produção permanente entre 1708 (ano de fundação), e a transição de centúria (século), de setecentos (séc. XVIII), para oitocentos (séc. XIX). A par da constância temporal descrita, o seu legado laboral foi muito mais amplo, prolongando-se, com uma ou outras crise pontual, pelos séculos XIX e XX em diante, conhecendo apenas o encerramento definitivo no ano 2000 © Museu do Papel Terras de Santa Maria & Arquivo imagético da JFSPO.

De facto, já 50 anos antes (1708), fora fundada na nossa localidade a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, de papel fino para escrever, que viria a ser mais conhecida

Figs. 06, 07 & 08 Reconstituição e pormenores de “Marca de água e Contramarcas de José Maria Ottone” (referido nos registos paroquiais de São Paio de Oleiros – “Livro Misto n.º 2, 1703-1749, folha 12/v-13” - como “Joseph Maria Ottone”) – Genovês (Voltri, Génova – Itália), sócio fundador (juntamente com Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem (1677 - 1748), oriundo de uma família da “elite setecentista” – séc. XVIII - da cidade do Porto, reconhecida como “Capitalista”, pelo seu poderio negocial e económico), e primeiro orientador (sobretudo entre 1708 e 1713), da produção papeleira oleirense na “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” / “Engenho Velho” © Maria José Ferreira dos Santos / Museu do Papel Terras de Santa Maria (Imagens extraídas de: Maria José Ferreira dos Santos, «Marcas de água e historia do papel», Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto online no dia 23 Março 2016, consultado a 22 Novembro 2016. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : 10.4000/cultura.2334).

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” O genovês saiu para fundar outra fábrica alguns anos depois e, por volta de 1781, o Engenho Velho, que continuou a laborar mesmo depois da morte, em 1748, de Vicente Pedro Pedrossem, aparece, por volta de 1781, sob a administração e propriedade do seu neto, Vicente Pedrossem da Silva.

Fig. 09 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” - Registo do estado atual de um caso singular do ponto de vista da história, património e arqueologia industrial papeleira na Vila de São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira, na região Norte e no próprio país. Trata-se de um “sítio arqueológico” composto por vestígios referentes à estrutura final do complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do distrito de Aveiro – situada em S. Paio de Oleiros - em atividade e produção permanente entre 1708 (ano de fundação), e a transição de centúria (século), de setecentos (séc. XVIII), para oitocentos (séc. XIX). A par da constância temporal descrita, o seu legado laboral foi muito mais amplo, prolongando-se, com uma ou outra crise pontual, pelos séculos XIX e XX em diante, conhecendo apenas o encerramento definitivo no ano 2000. Como marco identitário, irrompe na paisagem a sua tradicional Chaminé de Alvenaria (composta por Tijolos de Barro agrupados), de tonalidade laranja © Arquivo imagético da JFSPO.

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Fig. 10 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – Estrutura atual da “Fonte / Fontanário” de 1750, resultante da “Reconstrução / Restauro” posterior, de 1968 - Estrutura pétrea arcada (em “arco de volta perfeita”), que envolve as “ruínas / vestígios” da “Fonte / Fontanário” (decorada com saliências pétreas e fragmentos de “conchas”, um pequeno “nicho superior”, também arcado, que poderia conter uma escultura de Imaginária religiosa, atualmente ausente / perdida e uma “Bacia / Reservatório para recolha de água” que cairia através da “Bica” setecentista) © José C. Amorim / JFSPO.

À morte deste, em 1806, todos os seus bens, incluindo a fábrica, passam por testamento para o seu afilhado, o capitão do regimento de milícias de Penafiel, Francisco


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Novais Moreira. O Engenho Velho conheceu vários outros proprietários e épocas de maior ou menor fulgor, tendo sido a unidade fabril que mais tempo permaneceu em laboração contínua, o que sucedeu até às proximidades do ano 2000. Foi, todavia, um marco importante na história do concelho, pois constituiu para ele o impulso inicial para o arranque e incremento da indústria papeleira e de uma nova era.

Fig. 12 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Marca de água de papel almaço de segunda qualidade”, de 1833 e oriunda do contexto produtivo oitocentista da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros” sob posse de Francisco Novais Moreira desde 1806 - “MOREIRA.1833. AlMasso. R. F. da Lapa. Feira. 2.ª. Q.e.” (“Moreira. 1833. Almaço. Real Fábrica da Lapa. Feira. Segunda Qualidade”) (inventariada pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (Imagem extraída de: http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspx-01/06/2017,19 h 19 m.

Fig. 11 “Galga da Fábrica do Engenho Velho, hoje desfeita” © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Em 1811, Joaquim de Sá Couto fundou, no lugar do Candal de Baixo, junto à quinta da Cardenha, a que haveria de ser “uma das mais antigas e mais bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira” (Pinho Leal), onde se fabricava papel de mortalha para tabaco e papel selado, que muitos asseveram ter sido o primeiro do país. Foramlhe atribuídos vários prémios em exposições nacionais e internacionais. A fábrica, destruída por um incêndio em 17


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” 1854 e reedificada em 1859, tinha motor hidráulico, empregava madeira como matéria-prima e produzia dezasseis contos de réis, dando emprego a 65 operários. Fig. 13 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do “Moinho de Galgas” da Fábrica de papel da Cardenha” – Fragmento arqueológico enquadrável entre os sécs. XIX & XX, posterior a 1811 ou 1859 (inventariado pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © Museu do Papel Terras de Santa Maria & Arquivo imagético da JFSPO.

Fig. 14 Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) retratado na posse das insígnias honoríficas da “Comenda da Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição da Vila Viçosa”, que recebeu do monarca D. Luís I de Portugal (1838 – 1889), devido à sua ação em prol do desenvolvimento da região (sobretudo São Paio de Oleiros, Espinho e Santa Maria da Feira), e dos serviços prestados ao país. Pintura de retratística a Óleo sobre Tela, anterior a 24 de janeiro de 1902 (a data da sua morte) © Arquivo Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto (Pintura arquivada, conservada e exposta na Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto / no Edifício “Lar Condes de São João de Ver”, integrado na extensão territorial do complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” em São Paio de Oleiros).

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Fig. 15 Fachada principal de parte das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros, possivelmente edificado sob égide de Joaquim de Sá Couto (Comendador, empresário papeleiro, benemérito e filantropo de São Paio de Oleiros e do vizinho concelho de Espinho) - Residência nobre de arquitetura revivalista, neomedieva (ao gosto dos ideais oitocentistas (séc. XIX) do “Romantismo português”), posse secular dos “Condes de São João de Ver”, reflexiva do poderio socioeconómico da exploração industrial papeleira local e concelhia. Regista-se, a par da componente habitacional e segundo o levantamento histórico do Dr. Anthero Monteiro, o seu uso para “soirées”. Ou seja, para os habituais serões, receções, jantares ou festas típicas da alta sociedade das primeiras décadas do séc. XX compostos pela presença de figuras influentes da alta sociedade, nobreza, burguesia, indústria, cultura e política local, concelhia e nacional © Arquivo imagético da JFSPO & Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Em 1855, inaugurava-se em Oleiros uma fábrica de fiação de algodão, segundo o que se julga saber, relaciona-


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” -da com a Coats & Clark, também premiada nacional e internacionalmente, a qual empregava 130 pessoas. Ao advento da industrialização, pois muitas outras unidades fabris, não apenas de papel, mas de derivados de cortiça e de outros produtos foram aparecendo, correspondeu uma maior afluência de gente que duas inaugurações quase simultâneas iriam incrementar: a da linha do Vale do Vouga, em 23 de Novembro de 1908 (com paragem do Rei D. Manuel II na estação desta localidade) e a do Hospital-Asilo de Nossa Senhora da Saúde, em 6 de Janeiro de 1909, facto que mereceu honras de primeira página em o “Primeiro de Janeiro” de 12 daquele mês e ano, tendo a obra decorrido das disposições testamentárias do Comendador Joaquim de Sá Couto. Fig. 16 Postal evocativo da Estação de Comboios de São Paio de Oleiros (“Linha do Vale do Vouga”), em 13 de março de 1975 - Com construção iniciada em julho de 1908, no decurso da obra ferroviária da empresa francesa Compagnie Française pour la Construction et Exploita-tion de Chemins de Fer à l’Étranger e inaugurada com a passagem / paragem do Monarca D. Manuel II (1889 - 1932), na sua visita régia de 23 de novembro de 1908, com passagens / paragens, entre outros locais, por Espinho, Santa Maria da Feira (à época “Villa da Feira”), e Oliveira de Azeméis © Arquivo imagético da Biblioteca Pública de S. P. Oleiros & Arquivo imagético da JFSPO.

Fig. 17 “Vista atual da Fachada principal, junto à linha férrea, da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 18 Perspetiva aérea da composição primitiva de todo o complexo do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros - Registo fotográfico enquadrável entre 1909 e 1973 (intervalo cronológico correspondente ao funcionamento deste espaço hospitalar e caritativo na sua estrutura pristina, assinalando as datas de inauguração e abertura oficial deste equipamento, 6 de janeiro de 1909 e o lançamento, em 1973, das obras de ampliação que resultaram na distribuição, arquitetura e formato atual deste complexo) © Imagem extraída de: Boletim do Hospital Asilo Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros. Ano I, N.º 1. São Paio de Oleiros: Junho de 1970, (s/p) - Capa.

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Fig. 19 Estruturas primitivas do edifício central, pavilhões e Capela anexa do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros - Registos fotográficos enquadráveis entre 1909 e 1973 (intervalo cronológico correspondente ao funcionamento deste espaço hospitalar e caritativo na sua estrutura pristina, assinalando as datas de inauguração e abertura oficial deste equipamento, 6 de janeiro de 1909 e o lançamento, em 1973, das obras de ampliação que resultaram na distribuição, arquitetura e formato atual deste complexo) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

O executor dessas disposições seria o Conde de S. João de Ver e o arquiteto responsável Adães Bermudes, o mesmo que construiu a Igreja Matriz de Espinho. A revista A Medicina Moderna chamou a esta obra “um monumento de caridade”, por se tratar de um empreendimento de grande alcance filantrópico, destinado, de início, a servir os concelhos da Feira e de Espinho, mas cuja ação se estendeu muito para além destas fronteiras, até ao seu posterior encerramento, noventa anos depois, com a criação do Hospital de S. Sebastião na sede do concelho. 20

Entretanto, entre muitas outras empresas do parque empresarial oleirense, aquela que se destaca mais modernamente pela sua dimensão física, capacidade de produção e volume de exportações de revestimentos de cortiça, é a Amorim Revestimentos, S.A., assim designada desde 1995, mas decorrente da criação da IPOCORK – Indústria de Pavimentos e Decoração, S.A., constituída em 1979 e com início de atividade em 1982. Ainda hoje, é considerada a maior empresa do ramo a nível internacional, sendo responsável por levar o nome da nossa vila para os quatro cantos do Mundo. Outro motivo de afluência, embora ocasional, e de divulgação da freguesia, continua a ser a festa em honra de Nossa Senhora da Saúde, que se realiza no mês de Agosto, pelo menos nos primeiros anos subsequentes à construção da nova Igreja em 1885 e que foi considerada uma das maiores romarias do distrito de Aveiro, tendo mais tarde (1935) incluído também o culto a Santo António, que já se realizava no mês de Maio, numa festa a cargo da juventude local. A primitiva igreja, segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, dataria do séc. X e estaria implantada no lugar de Vila Boa.


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” A Travessa da Igreja Velha atesta que, junto ao cemitério, existiu outra Igreja, não se sabe desde quando até à construção da atual pelo Padre José Ferreira de Almeida em 1885. “Esta mede 35,15 metros, tem uma torre com 48 metros e 3 sinos, é provida de um bom altar-mor em renascença D. João V e mais quatro altares laterais maiores e dois menores. Tem amplo coro, esmerado batistério e duas excelentes e amplas sacristias. Custou 200 contos.” (informações do Cónego Dr. Ferreira Pinto in Actividade Pastoral, 1950). Fig. 20 Frontaria principal da Igreja de São Paio de Oleiros - templo oitocentista (século XIX, 1885), de uma só nave e de influência estética Neoclássica – “iluminada” no âmbito da “Romaria de agosto” - A festa tributada ao “protetorado e intercessão divina” de N.ª Sr.ª da Saúde e posteriormente de St.º António de Lisboa pela comunidade oleirense (um voto coletivo concretizado anualmente, de forma oficial e segundo os estudos do Dr. Anthero Monteiro, a partir de 1897) © JFSPO / Ana C. Pires.

Fig. 21 José Ferreira de Almeida (1845 – 1936), pároco local entre 1884 e 1921 e “figura-chave”, conjuntamente com o Comendador Joaquim de Sá Couto, para a edificação da contemporânea Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, inaugurada em 3 de março de 1885 - Fotografia arquivada na Sacristia principal da Igreja oleirense (do “lado da Epístola”, ou seja, à esquerda do observador aquando da sua presença no interior deste templo, posicionado defronte para o Retábulo e Altar-mor), ausente de datação, possivelmente enquadrável entre 1884 e 1921 - o tempo de duração do seu ofício como sacerdote titular da Paróquia Oleirense © Arquivo paroquial / Igreja de São Paio de Oleiros (Reprodução da fotografia original integrada na página número 34 do trabalho de investigação da autoria de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, finalizado em 2015 e intitulado “Breve resenha histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”).

Fig. 22 Frontaria da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, aberta à religiosidade local desde 3 de março de 1885 © JFSPO / José C. Amorim.

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” No que diz respeito às questões do padroado, de início até 1363, a paróquia oleirense pertencia ao rol daquelas em que era ao Bispo do Porto que competia a apresentação do respetivo pároco. A partir de então, os direitos de padroado em relação a Oleiros e outras paróquias começam a ser exercidos pelo Mosteiro de Grijó, cabendo-lhe a nomeação do nosso pároco, tratando-se, de acordo com o tombo do prior D. Afonso Esteves, de 1366, de uma apresentação in solidum, ou seja, completa, não mista ou simultânea, em suma, sem outras interferências. Mais tarde, por volta de 1435, segundo as Memórias Paroquiais de Arcozelo (1758), Oleiros conheceu, tal como muitas outras terras, épocas de grandes vicissitudes, como aconteceu na sequência da peste negra, por volta de 1348, e de outras pestilências, esterilidades, fomes e guerras subsequentes, que terão dizimado grande parte da população da localidade e da vizinhança: Santa Maria de Meladas foi extinta como freguesia, a reitoria de Santa Maria de Lamas ficou com apenas 3 habitantes e a Abadia de Oleiros com 5. Foi então que o Bispo do Porto, com o consentimento do Prior do Mosteiro de Grijó, que era padroeiro da Abadia de Oleiros, determinou uni-la à Reitoria de Lamas e anexá-las ambas à freguesia de S. Miguel de Arcozelo, que pertencia nesse tempo também ao termo da Feira. 22

Fig. 23 O “Arraial” (atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”), datável de 1900, mas na sua composição corrente, devedor, em grande parte, da reformulação iniciada a partir de 1966 pelo pároco Aurélio Gonçalves Pinheiro (titular da Paróquia entre 1966 e 1975), com “Cruzeiro pétreo” oitocentista, implementado neste território no ano de 1816 © JFSPO / José C. Amorim.

A partir daí, passou-se a um padroado misto, com “apresentação alternativa” da Diocese e do Mosteiro de Grijó. Só mais tarde, Oleiros passaria a reitoria independente. Mais recentemente, fruto de aturado trabalho desenvolvido pela CESPOVILA – Comissão para a Elevação de S. Paio de Oleiros a Vila, com o apoio direto de representantes das quatro principais bancadas partidárias da Assembleia da República, a mesma aprova,


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” em 20 de Junho de 1991, o projeto apresentado e “a povoação de S. Paio de Oleiros, é elevada à categoria de vila”, pela Lei n.º 103/91 de 16 de Agosto do mesmo ano. Anthero Monteiro (Última versão de 2 de setembro de 2017 com adendas e correções de textos anteriores) Fig. 24 “Logótipo da CESPOVILA, com grafismo da autoria de Anthero Monteiro” (Fotografia de Anthero Monteiro) © Fotografia, recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros. Fig. 25 “Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila” – Registo fotográfico da autoria de “Tomás Sobrinho”, representativo dos vinte e sete cidadãos Oleirenses que se deslocaram a Lisboa no dia 20 de junho de 1991. Para, na Assembleia da República, assistirem à oficialização da “Elevação de São Paio de Oleiros ao estatuto de Vila” © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Fig. 26 “Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila” - Destaque noticioso da Capa / Primeira página ilustrada de 30 cm x 21 cm, do n.º 23, de maio / junho de 1991, do jornal local “Diálogo”. Um órgão da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, à época dirigido pelo Dr. Anthero Monteiro, acompanhado pelo Dr. Pereira da Rocha, como Diretor Adjunto (Diálogo. Ano IV, n.º 23. São Paio de Oleiros: Maio - Junho de 1991 (Capa / 1.ª Página) © Arquivo patrimonial e imagético da JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 27 “Sessão Solene de 07 de julho de 1991 – “Anthero Monteiro Porta-voz da CESPOVILA, historia o processo até à “Elevação a Vila de São Paio de Oleiros” (Foto Tomaz Sobrinho, 1991) © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Fig. 28 “O Presidente da CESPOVILA executa o corte do bolo alusivo à Elevação a Vila no Jantar-Convívio após a Sessão Solene – Restaurante Telheiro, S. P. Oleiros, 07 de julho de 1991” (Foto Tomaz Sobrinho, 1991) © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.

Fig. 30 “Hastear das Bandeiras com a participação musical da “Tuna de S. P. Oleiros”, antecedente à Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de S. P. Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de S. P. Oleiros” a personalidades e entidades marcantes da História, Comunidade e atividade local” © Arquivo imagético da JFSPO. Fig. 31 “Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre

Fig. 29 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 23.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2014, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros” (Fotografia de José C. Amorim) © Arquivo imagético da JFSPO.

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da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de São Paio de Oleiros a personalidades e entidades marcantes da História, Comunidade e atividade local” © Arquivo imagético da JFSPO.


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” Fig. 35 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 26.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2017, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com Figs. 32 & 33 “Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 24.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2015, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com a atribuição da “Medalha de Mérito da Vila de São Paio de Oleiros a personalidades e entidades marcantes da História contemporânea, Comunidade e atividade local” - À esquerda, pormenor da “Medalha de “Mérito da Vila de S. P. Oleiros”, respetivos diplomas e notas de atribuição & À direita, perspetiva do Salão Nobre e de alguns dos laureados ou representantes dos laureados com a “Medalha de Mérito da Vila” © Arquivo imagético da JFSPO.

Fig. 34 ”Sessão Solene & Assembleia comemorativa do 25.º Aniversário da Elevação de São Paio de Oleiros a Vila de 20 de junho de 2016, no Salão Nobre da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros e que contou com uma Homenagem pública ao trabalho e aos membros da Ex-CESPOVILA” (posicionados na plateia, nos três primeiros bancos à esquerda) © Arquivo imagético da JFSPO.

a apresentação pública do Catálogo “São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” (Património, História & Identidade), a Homenagem da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros aos Ex-Presidentes de Junta que exerceram tais funções nesta localidade em plena democracia, no período “pós 25 de abril de 1974”; o Lançamento do Vídeo “#VisiteSPOleiros” e da estratégia de promoção turística, patrimonial e identitária da Vila de São Paio de Oleiros (Fotografia coletiva dos principais intervenientes e homenageados nesta Assembleia Comemorativa) © Arquivo imagético da JFSPO. Fig. 36 “Aspeto do Parque de Nossa Senhora da Saúde no dia 20 de junho de 2016, ornado com as tradicionais “Tasquinhas” e em pleno programa de animação integrante das Comemorações públicas do 25.º Aniversário de Elevação de São Paio de Oleiros a Vila” © Arquivo imagético da JFSPO.

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Mapa de localização – Freguesia de São Paio de Oleiros


Mapa de localização – Freguesia de São Paio de Oleiros

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Caracterização global da Vila: breve historial, património, recursos e atrativos turísticos


Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” - Caracterização global da Vila: breve historial, património, recursos e atrativos turísticos, Por José C. Amorim & Ana C. Pires

como “povo” em plena influência civilizacional “castreja” (aprox. nos sécs. I, II e III a. C.), à semelhança do sucedido em várias freguesias vizinhas, santamarianas ou espinhenses. Todavia, a sua primeira referência documental, como “Uilla de Olleirolos”, está datada em cerca de 1050 (séc. XI d. C.) - uma data anterior à própria fundação de Portugal, como nos cita o Dr. Anthero Monteiro nos seus estudos da história local. De cariz secular, a “identidade oleirense” sobreviveu no tempo e está patente no seu património, resistindo a múltiplas vicissitudes. Nesta localidade, ao longo do seu

Demograficamente composto por 4.069 habitantes, distribuídos por uma área de 3,91 Km2, a par do “Maior Presépio do mundo em movimento” (“Presépio Cavalinho”, atualmente desativado pelo “catastrófico” incêndio que sofreu em 15/07/2016), São Paio de Oleiros – desígnio local oficializado pelo decreto-lei de 1971 e território elevado ao estatuto de Vila desde 20 de junho de 1991 – possui um amplo historial cronológico, patrimonial, artístico, económico, devocional e humano. Como tal, esta localidade cujos primeiros vestígios remontam à Pré-História, foi possivelmente uniformizada

Fig. 37 “São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” © JFSPO / Ana C. Pires.

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço” “legado existencial”, Arte, Culto, Filantropia, Natureza e Indústria fundiram-se harmoniosamente. Originando e deixando marcas naquilo que hoje definimos e reconhecemos como pontos de interesse, recursos, manifestações coletivas, destaques e atrativos turísticos de São Paio de Oleiros. Que vão desde as Ruínas, Roda hidráulica e Chaminés da “Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” (“Engenho Velho”) – datada de 1708 e a 1.ª fábrica de papel de escrita de todo o distrito de Aveiro -; aos vestígios do “Moinho de Galgas” (séc. XIX (?)), e Ruínas da “Fábrica de Papel da Cardenha”; ao “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” (séc. XIX); ao Complexo médico e assistencial, com Capela anexa, do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” (ativo entre 1909 e 1998); aos diferentes Oratórios, Capelas das Almas, “Almas do Purgatório”, “Alminhas” ou “Ex-votos” de sécs. XVIII a XX, espalhados(as) pela Vila; à Estação de Comboios da “Linha do Vale do Vouga” inaugurada em 1908 com a visita do Rei D. Manuel II (1889 – 1932); ao Cemitério local, com diferentes exemplares de Arte, Culto e Arquitetura funerária (Lápides, Mausoléus, Capelas, Crucifixos, Cruzes, Esculturas e Azulejaria de sécs. XIX e XX); ao Arraial, de origem oitocentista (séc. XIX), “coroado no topo” com a Igreja Paroquial (“Neoclássica”, edificada em 1885); à “Romaria anual de 30

agosto”, dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa (datável de 1897 e uma das maiores do distrito de Aveiro); ao Parque de N.ª Sr.ª da Saúde (espaço de lazer, convívio e fruição cultural); ao “Parque de Merendas das Oliveiras”; à própria Sede (inaugurada em 1973), e Património histórico-artístico da Junta de Freguesia (um espaço de serviço público, aberto diariamente à comunidade e que, do ponto de vista expositivo, possui no seu interior uma valiosa coleção, em exibição permanente, de quadros fotográficos representativos de “Canastros / Espigueiros” tradicionais da Região); ao Pavilhão desportivo (com intensa e regular atividade cultural e desportiva semanal), ao edifício cinquentenário da Escola Primária, à “Casa da Cultura”, à Biblioteca Pública, aos diferentes espaços e recursos humanos das cerca de duas dezenas de Associações locais (culturais, musicais, etnográficas, desportivas, educativas e sociais). Ou mesmo, à memória do “Maior Presépio do Mundo em Movimento”, Fábrica adjacente, outros complexos fabris ativos e espaços da Indústria papeleira, corticeira, metalomecânica, fiação, tecelagem, construção civil, atividade bancária, comércio, correios, restauração, panificação, serviços de saúde, terapêutica, pedagogia e lazer que dinamizam o bem estar, a economia, a população local e a vizinhança.


Razões para conhecer e visitar São Paio de Oleiros Exemplos de Património & Identidade


Razões para (re)conhecer e visitar São Paio de

Oleiros - Património & Identidade Texto por José C. Amorim “(…) A verdadeira viagem de descobrimento não consiste desta Comunidade, Vila desde 1991, e que ao longo de em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos todo o seu percurso, incluindo-se o atual, caracteriza-se (…)” por albergar, nos mais diversos quadrantes, Mulheres & Homens de uma “fibra, capacidade de superação e Marcel Proust (1871 - 1922) coração sui generis”. É exatamente a partir desta reflexão de Marcel Proust, da ideia de renovarmos o nosso olhar perante tudo aquilo que, por norma, habitualmente, nos rodeia, envolve ou está próximo, que os seguintes Capítulos e Subcapítulos deste “Roteiro” terão o seu devido alcance. Em busca da dita “viagem de descobrimento”, de um “descobrimento interior” - que neste caso é uma viagem ao íntimo da nossa Identidade, Raízes, História e Património coletivo como Oleirenses – as páginas seguintes deste “Roteiro”, com Textos de Anthero Monteiro, José Pereira da Rocha, Ana C. Pires e José C. Amorim (originais, devidamente assentes em fontes bibliográficas, pesquisa laboriosa, reflexão, pensamento crítico e cunho pessoal), pretendem valorizar, sublinhar, exaltar e descrever, da forma mais profunda possível, algumas das manifestações patrimoniais (materiais e imateriais), que melhor identificam e são obrigatórias para perceber o legado secular, filantrópico, criativo, popular & erudito, sacro & profano, artístico & espontâneo, natural & urbano, artesanal & industrial 32

A seleção que se segue, compila Monumentos, Tradições, Espaços, Obras de Arte, Símbolos e muitas Construções que resumem aquilo que São Paio de Oleiros e as suas gentes conseguiram perpetuar pelo “tempo e pelo espaço”. Refletem tradição e evolução, individual e coletiva. Certamente que cada leitor Oleirense, ou simples frequentador / apreciador deste Território, encontrará nestas páginas alguns Locais, Histórias, Estórias, Objetos ou Práticas pelas quais passa, (con)vive ou observa quase diariamente. Todavia, a perceção da sua importância talvez não fosse a mais profunda e concreta, e é por isso mesmo que este levantamento obriga / aconselha a que, tal como refere Marcel Proust, cada um de nós “tenha novos olhos” perante o Património Histórico & Identitário de São Paio de Oleiros. E dessa forma concretizarmos a dita “viagem de descobrimento” que não procura novas paisagens, mas assenta sobretudo em (re)conhecer o que de melhor temos ao nosso redor. “Viajemos” em conjunto pela Arte, Património, História & Identidade que nos orgulham!


Patrimรณnio, Arte, Cultura, Arquitetura & Identidade religiosa


“Epicentro cívico e religioso da Vila”: Arraial, Adro & Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

Património Religioso (História, Arquitetura & Arte): Arraial, Adro & Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, Por José C. Amorim Subdividido em quatro / cinco valências, espaços e equipamentos principais, com aspeto corrente datável de diferentes momentos e intervenções, o atual “epicentro religioso e cívico” desta Vila abrange aquilo que, a partir do século XIX se começou a designar como “Complexo da Igreja Nova”. Resultante de algumas ações que precederam e procederam à própria construção da atual Igreja, este perímetro de usufruto maioritariamente publico e comunitário, denota uma estética que resulta de mais de um século de evolução e transformações estruturais, operadas ao longo de décadas pelos poderes religioso e administrativo deste Território. Partindo de um edifício outrora utilizado para efeitos escolares (1), mas que hoje possui cariz associativo e sedia a atividade do centenário Grupo Musical de São Paio de Oleiros - maioritariamente conhecido na Freguesia, na 34

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Fig. 38 Perspetiva aérea do território correspondente ao “Epicentro cívico e religioso da Vila de São Paio de Oleiros”1. Arraial (atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”). 2. “Escadório” & “Adro”. 3. Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros. 4. “Capela mortuária” (anexa ao perímetro do “Adro” e envolvência da Igreja). 5. “Residência Paroquial”. © Imagem extraída de: https://mapcarta.com/fr/283749 52 - 02 / 12 / 2016, 23 h 33 m.


Freguesia, na região e no país pelo desígnio “Tuna de S. P. Oleiros” – desenvolvem-se o “Largo Padre José Ferreira de Almeida”, comummente invocado como “Arraial”; o “Escadório & Adro” que antecedem e delimitam a Igreja Paroquial; o próprio complexo arquitetónico oitocentista, de 1885, da dita “Igreja Nova”; a “Casa / Capela Mortuária” e a atual “Residência paroquial”. Cinco elementos sui generis que definem o já designado “Complexo da Igreja Nova”, cuja perceção do seu historial, características arquitetónicas, funcionais e artísticas permite enaltecer a dinâmica coletiva e o gosto, cívico e cultual, de São Paio de Oleiros e das suas gentes.

Com ênfase direcionado para o Património religioso, o atual segmento deste “Roteiro” pretende analisar, de forma sucinta e do ponto de vista da História da Arte e da Arquitetura, a Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros e o seu património. Todavia, dada a importância que a própria envolvência espacial teve para a concretização efetiva, em 1885, da ambicionada “Igreja Nova”, e que continua a possuir na atualidade para que este seja um dos Monumentos mais significativos desta Vila, é de todo impossível falar sobre a Igreja de São Paio de Oleiros sem “dissecar”, mesmo que seja de forma breve, o historial dos equipamentos e valências que a enquadram e delimitam.

(1) O atual Edifício Sede do centenário Grupo Musical de São Paio de Oleiros (“Tuna”), foi um antigo espaço escolar em cronologias precedentes e que junto à sua fachada engloba um monumento pétreo alusivo a essa função, ornado com retrato metálico, em escultura de alto e baixo relevo, tributário de um dos Docentes que marcou essa mesma escola e as gerações de Oleirenses que a frequentaram: o Professor Abílio Martins Correia de Pinho (1895 - 1978). Também ele inscrito na História do associativismo local como um dos principais fundadores, em 1935, do Grupo Columbófilo de São Paio de Oleiros. Acerca deste Homem e da sua importância no professorado local, no seu trabalho de levantamento do historial do Grupo Columbófilo de São Paio de Oleiros, Carlos Seixas, Álvaro Silva, José Castro e Patrícia Seixas, afirmam o seguinte: “(…) PROF. ABÍLIO MARTINS CORREIA DE PINHO - Filho de Francisco Martins Correia de Pinho e de Luciana Joaquina da Silva, nasceu em 18-09-1895 na freguesia de Fajões, concelho de Oliveira de Azeméis (…) e faleceu em 01-01-1978 na freguesia de Rio Tinto, concelho de Gondomar (…) Casou na (…) cidade do Porto, em 07-01-1915, com a também professora Adelaide Sofia Ferreira (…) Em 1921 a família foi viver e trabalhar como professores para S. P. de Oleiros (…) onde permaneceram até 1939 (…) As suas extraordinárias capacidades de mestre-escola e as excecionais qualidades humanas e sociais que possuía, rapidamente o transformaram num dos maiores expoentes da sociedade Oleirense (…) Este extraordinário docente que, os adolescentes daquela época nunca esqueceram chegando mesmo a homenageá-lo com um busto que está situado no arraial da Igreja de S.P. de Oleiros mesmo à frente do edifício que foi na época, a Escola onde lecionou, e hoje é a sede do Grupo Musical de S.P. de Oleiros (TUNA) (…)” – cf. Aa. Vv. – Grupo Columbófilo de Oleiros. História cronológica. 80 Anos: 20 / 01 / 1935 a 20 / 01 / 2015. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, pp. 4 e 5.

Deste modo, por forma a prefaciar o grande eixo analítico deste “subcapítulo”, antecedendo o foco principal que se direciona para a descrição estrutural e iconográfica da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, as primeiras linhas e parágrafos deste levantamento serão previamente direcionados para a perceção das origens do projeto eclesiástico e populacional que culminou com a edificação da “Igreja Nova”. A par desta “resenha introdutória”, “Arraial”, “Escadório & Adro”, terão uma ligeira abordagem historiográfica e descritiva e só depois, surge a matéria efetiva acerca da Arte e Culto que se “encerram” no “Templo oitocentista” Oleirense. Como base bibliográfica, não obstante a utilização de publicações complementares, a produção científica que se segue tem como fontes primordiais os estudos do Dr. Anthero Monteiro e a edição de autor, de 2015, da obra “Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros” de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro. 35


“O Histórico e secular epicentro cívico e religioso da Vila”: Arquitetura, Arte & Iconografia do Arraial, Adro & Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros

iniciada a partir de 1966 pelo pároco Aurélio Gonçalves Pinheiro (titular da Paróquia entre 1966 e 1975), estendese territorialmente desde o “Edifício Sede” do centenário Grupo Musical de São Paio de Oleiros (“Tuna”) (2), até à base do “Escadório” pétreo – granítico, que permite o acesso ao “Adro” que envolve o “Templo Oleirense”, a dita “Igreja Nova”.

Do ponto de vista da sua planimetria, extensão territorial e componente decorativa, este que é, sem Arraial com Cruzeiro pétreo & Adro que antecedem a Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, do século XIX dúvida, um dos epicentros cívico e religioso da Vila de ao panorama atual São Paio de Oleiros possui um segmento contínuo de árvores e três espaços verdes; um deles, junto à “Sede” da “Tuna de Oleiros”, marcado pela existência de um “Cruzeiro pétreo” oitocentista, possivelmente implementado neste território no ano de 1816 (3) – ato que, segundo alguns estudos, poderá representar o

Fig. 39 O “Arraial” (atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”), datável de 1900, mas na sua composição corrente, devedor, em grande parte, da reformulação iniciada a partir de 1966 pelo pároco Aurélio Gonçalves Pinheiro (titular da Paróquia entre 1966 e 1975), com “Cruzeiro pétreo” oitocentista, implementado neste território no ano de 1816 © JFSPO / José C. Amorim.

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O “Arraial”, identificado na toponímia oficial de São Paio de Oleiros pelo desígnio “Largo Padre José Ferreira de Almeida”, datável, nos seus primórdios e fundação pristina de 1900, mas, na sua composição e estética corrente, devedor, em grande parte, da reformulação

(2) Antigo espaço escolar em cronologias precedentes e que junto à sua fachada engloba um monumento pétreo alusivo a essa função, ornado com retrato metálico, em escultura de alto e baixo relevo, tributário de um dos Docentes que marcou essa mesma escola e as gerações de Oleirenses que a frequentaram: o Professor Abílio Martins Correia de Pinho (1895-1978), também ele inscrito na História do associativismo local como um dos principais fundadores, em 1935, do Grupo Columbófilo de São Paio de Oleiros – Sobre este tema vide (veja): Aa. Vv. – Grupo Columbófilo de Oleiros. História cronológica. 80 Anos: 20 / 01 / 1935 a 20 / 01 / 2015. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, pp. 4 e 5.. Acerca do Historial centenário do Grupo Musical de São Paio de Oleiros (“Tuna”) vejamos o seguinte excerto: “(…) O Grupo Musical de São Paio de Oleiros foi fundado em 1910, ignorando-se qual o dia e mês (…) Em 1988, a Tuna reviveu os seus tempos áureos, graças ao grande impulso dado por novos e antigos elementos, felizmente secundado por um grande número de Oleirenses, saudosos dos grandes momentos da Tuna. É então que o Grupo Musical de São Paio de Oleiros se instala na sua nova sede, construída numa primeira fase propositadamente para o efeito, no edifício da Escola do Arraial, pela própria Tuna (…) Em de Dezembro de 2007, foi entregue pelo Dr. Antero Monteiro um documento de um boletim Informativo e cultural de Espinho, no qual se pode ler que a Tuna foi convidada pelo Grupo Coral do Club Alegre Mocidade, em 1911 (…) feitas bem as contas a Tuna teria que estar já a funcionar desde pelo menos 1910 (…)” - cf. GRUPO MUSICAL DE S. P. OLEIROS - “A Tuna. História” (Disponível em rede: http://www.tunadeoleiros.pt/index.php?id=1001 - 05/06/2017, 19 h 00 m.).


ténue início da “marcação dos terrenos e obras” que décadas depois, em três de março de 1885, originaram a abertura ao oficio religioso do “Complexo”, Edifício artístico e religioso da “Igreja Nova” – a Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros (4). Maioritariamente até à construção e uso desta Igreja (mas inclusive nos seus primeiros anos de atividade), o “Cruzeiro pétreo” e oitocentista do “Arraial” Oleirense servia como ponto de “culto oficial, passagem e viragem” no percurso de algumas das “procissões locais” que vigoravam durante a soberania religiosa da “Igreja Velha” e se deslocavam entre esse território (hoje parte do Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros), e este “Cruzeiro”. Fig. 40 “Cruzeiro pétreo” oitocentista, implementado no “Arraial” de S. P. Oleiros, atual Largo Padre José Ferreira de Almeida, no ano de 1816 – Através de um trabalho de escultura e acabamentos de Cantaria em Granito, assente sobre uma “Base quadrangular escalonada”, dividida em dois níveis de dimensões distintas entre si, do maior para o menor, desenvolve-se a partir de um “Pedestal” a “Cruz latina” (com o segmento vertical de dimensão superior face à sua “trave horizontal”), que demarca esteticamente o “Cruzeiro Paroquial” de São Paio de Oleiros © JFSPO / José C. Amorim. “Cruz latina” (com o segmento vertical de dimensão superior face à sua “trave horizontal”), que demarca esteticamente o “Cruzeiro Paroquial” de São Paio de Oleiros “Pedestal” que suporta e permite o desenvolvimento escultórico da “Cruz latina” deste “Cruzeiro Granítico” “Base quadrangular escalonada”, dividida em dois níveis de dimensões distintas entre si, do maior para o menor.

Noutro dos perímetros ajardinados deste “Arraial”, alusivo às supostas remodelações de segunda metade do século XX pelas quais este espaço atingiu grande parte da estética corrente, posicionado ao centro do seu segundo segmento, subsiste um antigo exemplar de “Arquitetura da água”.

Fig. 41 Antigo exemplar de “Arquitetura da água”, patente numa das áreas “nevrálgicas” / centrais da Vila e do “Arraial de São Paio de Oleiros” (o atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”) - Uma “Fonte / Lago & Chafariz circular”, datável da segunda metade do século XX, atualmente desmantelado para o efeito pristino (o albergue e a exibição de água), conjugando a sua estatuária original com a implementação, no século XXI, de elementos vegetalistas e florais em grande parte do seu perímetro de “tanque” © JFSPO / José C. Amorim. (3) “(…) No extremo do terreiro fronteiro há cruz de tipo calvário, datada de 1816 (…)” - cf. GONÇALVES, A. Nogueira - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros” in Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. Lisboa: Academia Nacional das Artes, 1959 1981, p. 96. “(…) A Igreja Matriz de Oleiros (…) surge actualmente erguida ao fundo de um amplo, arborizado e aprazível largo, com o Cruzeiro Paroquial (…)” - cf. SILVA, João Belmiro Pinto da & GOMES, Catarina Sofia - “São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Feira, Terras de Santa Maria. Paços de Ferreira: Anégia Editores, 2000, p. 130. (4) Embora sem citação de documentos ou fontes subsidiárias deste facto, na “Breve Resenha Histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”, os seus autores, Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, sugerem a implementação do “Cruzeiro pétreo” do “Arraial” de São Paio de Oleiros como um dos antecedentes originários da aquisição de terrenos e posterior lançamento das obras que levaram à concretização da “Igreja Nova”: “(…) O facto de o Cruzeiro ser de 1816 e a Casa Paroquial de 1818 leva-nos à certeza que a aquisição do terreno para a posterior construção do Complexo da Igreja Nova foi anterior a essa data (…) Assim, depois de acertada a negociação (doação ou não), a primeira construção do Complexo da Igreja foi o Cruzeiro (…)” – cf. Aa. Vv. – Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, p. 29.

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Uma “Fonte / Lago & Chafariz circular”, morfologicamente composto por sobreposição de Alvenaria – diferentes “blocos pétreos”, graníticos, agrupados entre si - mas desmantelado para o efeito pristino (o albergue e a exibição de água), conjugando a sua estatuária original com a implementação, no século XXI, de elementos vegetalistas e florais em grande parte do seu “tanque”.

1941 e 1946 até obter grande parte da estética base que conserva nos dias de hoje, envolvente do perímetro exterior da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros. Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, de 1885 aos dias de hoje - Arquitetura, Arte & Religiosidade da “Igreja Nova”, um dos principais símbolos do Património material & imaterial da Vila de São Paio de Oleiros “(…) Oleiros (S. Paio) A igreja é de 1885, construída no tempo do pároco José Ferreira de Almeida. Mede 35m, 15, torre com 48m, 3 sinos, bom altar-mor (…) e mais 4 altares laterais maiores e 2 menores. Tem amplo coro, esmerado baptistério e 2 excelentes e amplas sacristias. Custou 200 contos. O pároco Manuel José Oliveira Matos melhorou a igreja com vários objectos destinados ao culto (…) O pároco Abel Gomes Leite (…) reformou altares, painel na tribuna, nova imagem do coração de Jesus, pavilhão do sacrário (…) Vai revestir a frente da igreja, cúpula e os 4 panos da torre a azulejo, que já está comprado. O material e obras devem custar 70 contos (…)” Descrição da Igreja de São Paio de Oleiros em 1950, redigida por parte do Cónego Dr. Ferreira Pinto (5)

Figs. 42 & 43 Perspetiva aérea e panorâmica do “Escadório pétreo” de acesso ao “Adro” (definido em 1900 (intervencionado a partir de 1941 e 1946 até obter grande parte da estética que conserva nos dias de hoje), envolvente do perímetro exterior da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros © Imagem 42 (à esquerda), extraída de: https://mapcarta.com/28374952 - 05/06/2017, 23 h 23 m. & Imagem 43 (à direita), extraída de: https://www.google.pt/maps/@40.9887083,8.5968671,3a,90y,29.23h,110t/data=!3m6!1e1!3m4!1s5AIuVq73VsN7lvSiGQLu1A!2e 0!7i13312!8i6656 - 05/06/2017, 23 h 25 m.

Como foi referido anteriormente em diferentes páginas, Capítulos e Estudos deste “Roteiro”, a Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros foi edificada no séc. XIX, em 1885 por ordem do Padre José Ferreira de Almeida (1845 – 1936), para possível substituição de uma Cessada a extensão territorial do “Arraial Oleirense”, “Ermida” anterior, medieval, de sécs. X / XII (?). nos espaços antecedentes da entrada no Monumento da Integrada no topo de um “Escadório pétreo”, granítico e Cristandade local, define-se o volume escalonado do “Escadório pétreo”, granítico e utilizado para ascender ao (5) Excerto deste registo de 1950, retirado de: Aa. Vv. – Breve Resenha Histórica da “Adro”, definido em 1900, mas intervencionado entre Paróquia de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, p. 6.

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e que marca o fim da amplitude territorial do já analisado “Arraial” de São Paio de Oleiros e atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”, ladeada em toda a sua extensão por um “Adro” de acesso e circulação – pontuado por espaços de jardim, presença de árvores, bancos pétreos e “calçada” – na atualidade, a Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, à semelhança dos espaços públicos que a antecedem e acompanham, exprime todo o seu “valor e imponência estética”, interna e externa, através de um Edifício cuja Arte e mesmo a própria Arquitetura visível, a par de contemplar e preservar soluções e objetos da sua fundação e estrutura inicial, de 1885, reflete, como Monumento “orgânico” e exposto ao avanço cronológico que é, adaptações e atualizações decorrentes dos cerca de 132 anos de atividade, abertura e presença ininterrupta, de 1885 ao momento contemporâneo, em prol do “Culto” e ao serviço da Comunidade local.

Nesse longo intervalo temporal, foram vários os Párocos titulares, as personalidades a título individual e os agentes do poder administrativo da Freguesia que deixaram a sua “marca” neste território muito próprio e “nevrálgico” da Vila, assim como no formato, decoro, estrutura, envolvência e recheio cultual e artístico de um dos principais Edifícios da “História coletiva” deste povo e da sua cristandade. Crucial, conjuntamente com o “Arraial”, para definir o secular “epicentro cívico e religioso de São Paio de Oleiros”.

Fig. 45 “Escadório”, “Adro” e Frontaria da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros em momento integrado no programa religioso da “Romaria de agosto”, a tradicional “Festa dedicada a Nossa Senhora da Saúde e Santo António de Lisboa” © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 44 Frontaria da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, aberta à religiosidade local desde 3 de março de 1885 © JFSPO / José C. Amorim.

Em termos estruturais, a sua “Planta”, cuidada, longitudinal e em “Cruz latina”, segue o rigor geométrico e a sobriedade que demarca o seu estilo produtivo / inspirador e a respetiva época de produção, de finais do 39


século XIX. Todavia, apesar do seu cariz finissecular, a conceção pristina desta Igreja, respetivo projeto e programa decorativo da sua fachada são bastante devedores do uso de volumes simples, geométricos e simétricos. Maioritariamente retangulares, triangulares e circulares, próprios das construções religiosas de um certo “Neoclacissismo regionalizado” que marcou a arquitetura oitocentista local e nacional (6) desde o início da centúria de XIX - prolongando-se inclusive até aos alvores do século XX.

topo, coroando o seu perímetro interior, uma “Cabeceira & Ábside” com “Retábulo e Altar-mor”, “Sacrário” e duas “Sacristias laterais” de apoio à Liturgia e à ação administrativa da Paróquia.

Deste modo, com “pé direito elevado em altura”, a par do seu alçado, combinando dois registos retangulares de dimensões distintas entre si, mas complementares, a “Planimetria da Igreja Nova” engloba, na proximidade do seu “Pórtico & Porta de acesso principal”, abaixo do “Coro-Alto”, um “Nártex / Vestíbulo / Pronaos”, com “Batistério”, uma “Nave central, única e ampla” com “Deambulatório” e “Transepto”, decorada no seu perímetro pela Retabulística lateral ornada com Esculturas de Imaginária de vulto ou Relevos; e, no seu (6) “(…) IGREJA PAROQUIAL / Titular: S. Paio. / A anterior situava-se a cerca de cinco dezenas de metros para norte. Era pequena. Esta foi levantada num sítio de Bouça, em 1885, como se lê na frontaria e em lápide da capela-mor. Era pároco ao tempo o Pe. José Ferreira de Almeida. Alta e ampla, segue os tipos simples da região no fim do século. A meio da frontaria, a torre que se marca só acima da linha da empena e que forma átrio interno. Portas travessas, quatro janelas no corpo, duas na capela-mor, rectangulares (…)” – cf. GONÇALVES, A. Nogueira - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros” in Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. Lisboa: Academia Nacional das Artes, 1959 - 1981, p. 96. “(…) A Igreja Paroquial, dedicada a S. Paio, foi levantada no sítio de bouça, em 1885. Alta e ampla, segue os tipos simples da região no fim do século (…)” – cf. GONÇALVES, A. Nogueira & DIAS, Pedro - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros & Capela de Nossa Senhora da Saúde” in História e Arte. Concelho de Vila da Feira (Santa Maria da Feira). Vila da Feira (Santa Maria da Feira): Câmara Municipal de Vila da Feira (Santa Maria da Feira), 1979, p. 34.

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Fig. 46 Perspetiva atual da “Nave central”, “Deambulatório”, “Transepto”, “Cabeceira & Ábside” e Retabulística central e colateral da Igreja de São Paio de Oleiros © JFSPO / Ana C. Pires.


Mariana (Tela amovível do Retábulo & Altar-mor com o tema da “Assunção da Virgem” / “Assunção de Nossa Senhora”); e Esculturas de Imaginária de sécs. XVII / XVIII a XX (de onde se destacam, entre outras, as Imagens do Orago local: São Paio Mártir; do patrono concelhio: São Sebastião; de Cristo Crucificado e das duas figuras sagradas da “Romaria de agosto”: N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa), integradas em Retábulos e Altares de Talha dourada Joanina, Rococó e Neoclássica (por vezes concretizados através de “pastiches” / “associações” no mesmo suporte de elementos pictóricos de estilos e cronologias distintas entre si) (8). Fig. 47 “Oleiros - Igreja / Interior” – Registo fotográfico representativo da “Nave central”, “Deambulatório”, “Transepto”, “Cabeceira & Ábside” e Retabulística central e colateral da Igreja de São Paio de Oleiros (num momento cronológico onde ainda subsistia no interior desta Igreja um “Púlpito”, entretanto retirado), difundido na página número 34 da publicação de 1979, concretizada por A. Nogueira Gonçalves & Pedro Dias e intitulada: “História e Arte. Concelho de Vila da Feira (Santa Maria da Feira)” © Imagem extraída de: GONÇALVES, A. Nogueira & DIAS, Pedro - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros & Capela de Nossa Senhora da Saúde” in História e Arte. Concelho de Vila da Feira (Santa Maria da Feira). Vila da Feira (Santa Maria da Feira): Câmara Municipal de Vila da Feira (Santa Maria da Feira), 1979, p. 34

Epicentro cultural da Freguesia, esta Igreja (Instituição & Edifício - permanentemente aberto, para ofício e visita, pelo menos ao final de semana), sob orientação do Pároco titular de largas décadas, Gonçalo Cristóvão Sacadura Botte Furtado de Mendonça, alberga e fomenta um conjunto alargado de grupos paroquiais e associativos. De matriz cristã e ativos em prol de toda a No exterior, a sua fachada, em parte “Neoclássica” comunidade, graças à proatividade dos paroquianos pelas formas geométricas, sóbrias, simétricas e rigorosas envolvidos. que patenteia, encontra-se atualmente coberta por um amplo e contínuo “mosaico” de Azulejaria azulácea (cuja (7) “(…) Alta e ampla, segue os tipos simples da região no fim do século. A meio da cromia assenta em tonalidades / variações de azul), frontaria, a torre que se marca só acima da linha da empena e que forma átrio interno (…)” – cf. . GONÇALVES, A. Nogueira - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros” in resultante de uma intervenção posterior à sua cronologia Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. Lisboa: Academia Nacional das Artes, 1959 original (numa remodelação datada de 1950). Com 1981, p. 96. (8) “(…) Retábulos de madeira, novos. No principal aproveitaram algumas talhas idas Frontão triangular e encimada por uma Torre sineira (7) - da sede do bispado, que completaram de novas, formando conjunto aparatoso mas decorada com a “Cruz da Ordem Militar de Cristo” – irregular. Os seis do corpo são novos, inspirados livremente em modelos antigos, sem cuidado de proporções. Sob a mesa do primeiro colocaram um relevo de esta frontaria antevê um Templo de uma só nave, madeira, com a Deposição no Túmulo, obra corrente mas agradável, dos fins do séc. decorado com uma “Pintura de Altar” de Iconografia XVII (…)” – cf. IDEM, Ibidem. 41


“Recriação gráfica, segundo a análise histórico-artística realizada, da Planimetria base e extensão física da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros (de 1885 aos dias de hoje) - Complemento gráfico, ausente de escala, para perceção da divisão / distribuição dos espaços interiores da “Igreja Nova” de São Paio de Oleiros, inscritos na sua “Planta longitudinal em “Cruz latina” Legenda interpretativa

1 – “Porta principal”, com “Pórtico” de acesso exterior coroado com “arco de volta perfeita”, permitindo a entrada dos “fiéis / visitantes” no “Nártex / Vestíbulo / Pronaos” deste Monumento, com vista ao posterior encaminhamento para a “Nave central” da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros. 2 – “Batistério”, equipado com “Pia Batismal” pétrea no seu interior. 3 – “Escadaria”, de acesso ao “segundo nível / piso superior” deste complexo religioso - ao “Coro-Alto” da Igreja Oleirense. 4 – “Nártex / Vestíbulo / Pronaos”, área delimitada no “piso térreo”, abaixo do “Coroalto”, representativa de uma zona intermédia de acesso à Igreja propriamente dita, definida na História da Arquitetura Religiosa Europeia e Portuguesa como

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2017 © JFSPO / José C. Amorim.

como um perímetro coberto, de reflexão e preparatório dos “fiéis cristãos”, constituindo uma espécie de “câmara antecessora” da sua entrada efetiva no “Templo”, na “zona de culto / sacramental” - na “Nave única” desta Igreja. 5 - “Nave central” da Igreja de São Paio de Oleiros, equipada com duas filas de Bancos de Madeira; duas “Portas de acesso / saídas” laterais, Órgão para acompanhamento do canto coral e componente musical da Liturgia; e, a par do “Retábulo Principal / mor”, conta com seis “Retábulos e Altares laterais / colaterais” preenchidos por invocações e iconografias diversas (dedicados a “Nossa Senhora da Saúde”; a “Maria como Imaculada Conceição / Nossa Senhora da Conceição”; a “Cristo Crucificado”; ao “Sagrado Coração de Jesus”; a “São José com o “Menino Jesus”; e, por último, à “Visão Mariana de Fátima – sob iconografia de Nossa Senhora de Fátima”) - Cuja planimetria de combinação do seu “Transepto” com os espaços de “Deambulatório” desta Igreja segue a lógica formal de uma “Cruz Latina” - Crux immissa. Morfologicamente análoga à tipologia de “Cruz” mais associada ao episódio da “Crucificação de Jesus” e “símbolo maior” do Cristianismo (com o “corpo” - segmento vertical - de extensão superior face aos “braços” (interpretados pelas extremidades do seu segmento horizontal). 6 – “Deambulatório”, correspondente ao “perímetro de circulação interior” da Igreja de São Paio de Oleiros. 7 – “Transepto”, antecessor da “Cabeceira” desta Igreja e correspondente ao “eixo horizontal” da construção - ao segmento horizontal definidor dos “braços” da “Cruz latina” desta “Planta longitudinal”. 8 – “Sacristias laterais”, de apoio aos “ofícios” religioso e administrativo da Igreja & Paróquia de São Paio de Oleiros. 9 – “Cabeceira & Ábside”, extremo superior da “Nave central” da Igreja de São Paio de Oleiros, com dimensão territorial mais reduzida, patenteada com o “Retábulo principal / mor”, “Sacrário” e “Mesa de Altar” (as áreas e equipamentos fulcrais para o desenvolvimento dos ofícios eucarísticos, sacramentais e cultuais).

10 – “Retábulo principal / mor” recuado, com “Sacrário” e, mais avançada, subsiste a “Mesa de Altar principal / mor” para o cumprimento da Liturgia, prática e solenidade eucarística.


Fig. 48 Frontaria da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros, aberta à religiosidade local desde 3 de março de 1885 © JFSPO / José C. Amorim. Fogaréu resultante de um trabalho de Cantaria e Alvenaria pétrea – Granito.

“Coruchéu cónico / piramidal, com “Cruz latina” no topo e marcado com a “Cruz da Ordem Militar de Cristo” (“Cruz pátea” / “Com “pés” nas suas extremidades”), em Azulejaria de tonalidade vermelha, . “Acabamentos de Cantaria e Alvenaria de Granito - Frisos pétreos que delimitam a frontaria da Igreja, que molduram o seu revestimento azulejar e os seus ornamentos arquitetónicos.

“Torre sineira” com “frestas em arco de volta perfeita”, acabamentos de Cantaria e Alvenaria de Granito e revestida a Azulejaria”. “Pináculo granítico, resultante de trabalho de Cantaria”. “Frontão triangular”. “Janelão central encimado por “Sanefa quebrada”, moldurado a Cantaria e Alvenaria pétrea, de Granito, e com vitral alusivo ao formato de uma “Cruz latina”.

“Rosácea / janela circular”, com moldura de Cantaria e Alvenaria de Granito e vitral no seu interior.

Fig. 49 Retábulo e Altar-mor de Talha dourada Neoclássica, existente na Cabeceira da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros - Modelado em 1885, ou após 1885 (no decurso da construção deste “Templo Oleirense”), sob mecenato e suporte financeiro do Comendador Joaquim de Sá Couto. Dois elementos artísticos que, a par da estrutura, organização, linguagem e signos decorativos neoclássicos – estilo final da Talha portuguesa, onde a habitual predominância do “dourado” da folha de ouro em estilos antecessores, deu lugar à conjugação e até supremacia da “cor branca”; e que imperou em Portugal a partir do término do séc. XVIII / alvores do séc. XIX, mais sóbrio, proporcional e simétrico face ao estilo anterior, o rebuscado e esteticamente “saturado” rocaille (em português “rococó”) – exibem elementos de Imaginária de sécs. XIX / XX (Relevos e Esculturas de vulto datáveis de 1885 ou posteriores a 1885), alusivos às iconografias da “Lamentação sobre Cristo morto” (ao centro, no interior da “Mesa de Altar”); a São Paio Mártir (no Nicho médio do Retábulo, à esquerda do observador); e a Santo António de Lisboa (no Nicho médio do Retábulo, à direita do observador). Ocultando, durante alguns meses do ano litúrgico, o “Trono Eucarístico” (uma estrutura central, situada no interior da tribuna deste Retábulo-mor, organizada em degraus escalonados e sucessivos que gradualmente vão diminuindo em tamanho, destinada à exposição do “Santíssimo Sacramento”), subsiste uma Tela amovível, visível neste registo fotográfico, representativa da iconografia da “Assunção da Virgem” / “Assunção de Nossa Senhora”. Segundo os dados descritos na página 11 do trabalho de investigação da autoria de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, finalizado em 2015 e intitulado “Breve resenha histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”, esta Pintura a Óleo sobre Tela será posterior à Edificação da Igreja e do Retábulo-mor, desconhece-se a sua autoria e pressupõe-se a sua realização em 1947 - sendo apresentada no dia 15 de agosto - sob ordem do pároco da época Abel Gomes Leite e expensas de Manuel Pinto Barbosa © JFSPO / Ana C. Pires.

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Fig. 50 Nossa Senhora da Saúde (figura central da devoção local e “Romaria de agosto”) - Integrada no nicho central de um dos Retábulos colaterais de Talha dourada de linguagem mista – com motivos decorativos rocaille (em português “rococó”), e neoclássicos - da Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros (do “lado do Evangelho”, ou seja, à direita do observador aquando da sua presença no interior deste Templo, posicionado defronte para o Retábulo e Altar-mor). Escultura de Imaginária religiosa em “roca” (dotada de vestes e ornamentos reais – tecidos, atributos, ourivesaria e joalharia concebidos em materiais nobres); Madeira policromada e carnada, cronologicamente enquadrável entre os finais do século XIX e os alvores do século XX. Acerca dos atributos, adereços e acessórios desta Imagem, no decurso das suas investigações, o Dr. Anthero Monteiro elencou os seguintes aspetos / citações de realce: “(…) em 1905, a maior verba da despesa é da ordem dos 80.000 réis, na compra «dum manto bordado a ouro de setim [sic] azul para a Nossa Senhora da Saúde (…)” / “(…) Quero que a minha mesma herdeira entregue dentro de um anno, a contar do meu fallecimento, á junta da parochia da minha freguezia, a quantia de cem mil reis, destinados á ornamentação e alfayas do altar e augmento do culto de Nossa Senhora da Saude, que se venera na respectiva igreja, e que não é de irmandade legalmente erecta (…)” (Excertos do Testamento do Comendador Joaquim de Sá Couto, datado de 14 de março de 1899) / “(…) 1936 – No início do ano organizaram-se dois leilões de prendas no adro da Igreja, cujo produto se destinava a melhoramentos no altar de Nossa Senhora da Saúde (…)” © JFSPO / Ana C. Pires.

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Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos Aa. Vv. – Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015. Aa. Vv. – Dictionnaire des Symboles. Mythes, Rêves, Coutumes, Gestes, Formes, Figures, Couleurs, Nombres. Edition revue et augmentée. Paris: Robert Laffont / Jupiter, 1982, p. 955. Aa. Vv. – Grupo Columbófilo de Oleiros. História cronológica. 80 Anos: 20 / 01 / 1935 a 20 / 01 / 2015. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, pp. 4 e 5. Aa. Vv. – História da Arte em Portugal. Vol. II. Lisboa: Alfa, 1986, pp. 73, 82, 160, 161 e 163.

Aa. Vv. – Românico do Vale do Sousa. Lousada: Valsousa / Norprint-Artes gráficas, (s/d), pp. 45, 46, 143 e 144. Aa. Vv. – Rota do Românico. Vol. I. Lousada: Rota do Românico / Centro de Estudos do Românico e do Território, 2014, pp. 19 a 21. GONÇALVES, A. Nogueira - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros” in Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. Lisboa: Academia Nacional das Artes, 1959 - 1981, p. 96.


GONÇALVES, A. Nogueira & DIAS, Pedro - “Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros & Capela de Nossa Senhora da Saúde” in História e Arte. Concelho de Vila da Feira (Santa Maria da Feira). Vila da Feira (Santa Maria da Feira): Câmara Municipal de Vila da Feira (Santa Maria da Feira), 1979, p. 34.

MONTEIRO, Anthero – “A Festa da Senhora da Saúde em São Paio de Oleiros” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano IV, n.º 11. Santa Maria da Feira: outubro de 2005, pp. 99 a 101.

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Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor). 46

Fig. 51 “Andor processional de N.ª Sr.ª da Saúde no ano de 1950” – o último em que a mesma Escultura de Imaginária mariana que se venera no interior da Igreja oleirense integrou o Cortejo processional religioso da “Romaria de agosto” - Uma fotografia de arquivo, descrita da seguinte forma na página número 5 do trabalho de investigação da autoria de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, finalizado em 2015 e intitulado “Breve resenha histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”: “(…) Andor de Nossa Senhora da Saúde de 1950 (…) Esta foi a última vez que a imagem de Nossa Senhora da Saúde que se venera no altar da Igreja Matriz saiu no andor na Procissão; a partir deste ano começou a sair uma imagem mais pequenina (…)” © Reprodução da fotografia original integrada e difundida na página número 5 do trabalho de investigação da autoria de Carlos Seixas, Álvaro Silva & José Castro, finalizado em 2015 e intitulado “Breve resenha histórica da Paróquia de S. P. Oleiros”.

Fig. 52 Escultura de vulto integrada no Nicho central abobadado do frontão triangular patente na Fachada principal da Igreja de São Paio de Oleiros - De Imaginária masculina, iconografia não identificada, e possivelmente oriunda da “Igreja Velha”. Resultante do trabalho de uma “Oficina de Escultura”, com Artifex e Magister – “Artífices e Mestres Escultores” - da área de Coimbra, modelada em “Pedra de Ançã” com alguns vestígios de policromia, e enquadrável no séc. XV (?) © JFSPO / José C. Amorim.


“Romaria de agosto” / Festa anual dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“Romaria de agosto” / Festa anual dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa, Por José C. Amorim

esta “Romaria” tem como ponto alto a sua Procissão (composta por dezenas de “andores processionais” e diversas invocações), resultante de uma devoção local, nascida, segundo estudos do Dr. Anthero Monteiro, em pleno séc. XIX - possivelmente em 1897, logo após a edificação da atual Igreja. Outro dos aspetos diferenciadores desta “Festa centenária” perante as demais, do Concelho e até da Região, está ligado aos peculiares “Tapetes de Flores” que proliferam pelo chão e acolhem solenemente, na totalidade do seu trajeto, os Fig. 55 Cortejo processional de N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa no ano de 2014 (passagem do Andor processional de N.ª Sr.ª da Saúde na “Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho” - ornada no solo pelos já referidos e singulares “Tapetes de Flores” - na sua aproximação à Igreja Paroquial e ao término da Procissão) © JFSPO / José C. Amorim.

Figs. 53 & 54 Pormenores dos Andores processionais de N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa no Cortejo religioso de 2016 da “Romaria de agosto” © JFSPO / Ana C. Pires.

Em conjunto com o Parque de N.ª Sr.ª da Saúde, “Arraial” e Igreja Paroquial definem os centros cívicos e religiosos de uma das “maiores e mais procuradas romarias do distrito de Aveiro”, a secular Festa de N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António. Realizada anualmente em meados de agosto, 47


agentes “humanos e divinos” que constituem a já citada Procissão. Verdadeiras “obras de arte” resultantes da fé, entrega e até bairrismo dos residentes que afincadamente modelam, “dão corpo, cor e brilho” a estes elementos durante as horas que precedem o “cortejo processional” – promovendo inclusive a salutar cooperação entre diferentes gerações.

Fig. 56 Pormenor, registado no ano de 2016, de um dos peculiares “Tapetes de Flores” (neste caso na atual “Rua Dona Albertina Cardoso da Costa”, junto ao Parque de N.ª Sr.ª da Saúde – uma via integrada nos próprios terrenos que esta personalidade, num ato de filantropia e devoção, legou à Vila e à Paroquia em favor do cumprimento e de parte da componente civil e recreativa da “Romaria de agosto”) - Que proliferam pelo chão e acolhem solenemente, na totalidade das ruas do seu trajeto, os agentes “humanos e divinos” que constituem a Procissão oleirense das festividades de agosto, dedicadas a N.ª Sr.ª da Saúde e a St.º António de Lisboa. “Obras de arte” resultantes da fé, entrega e até bairrismo dos residentes © JFSPO / Ana C. Pires.

Combinando de forma harmoniosa “sagrado e profano”, esta “devoção religiosa” e “romaria popular” caracteriza48

se por receber, em todas as suas edições, variados grupos, agentes e artistas de nomeada, do panorama cultural, artístico e musical português. Anualmente, o garante do cumprimento deste tributo advém dos donativos da população e do trabalho árduo de uma “Comissão de Festas”, rotativa e composta por um conjunto de “Homens da Terra” – cidadãos oleirenses devotos, presididos pelo pároco titular e em harmonia com os grupos paroquiais e associativos, que de forma voluntária organizam os programas cívico e religioso da “Festa de agosto”. Providenciando todas as condições e recolhendo os meios necessários para o cumprimento solene deste “voto coletivo”.

Fig. 57 “Igreja de São Paio de Oleiros em noite de festa (iluminada e ornada no âmbito da festa anual, cívica e religiosa, dedicada N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António)” (Foto Oliveira) © Recolha e arquivo de Anthero Monteiro / Arquivo imagético da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros.


“Religiosidade popular Oleirense” (História, Arquitetura, Iconografia & Arte) – Capelas, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas / Almas do Purgatório”, Oratórios e Ex-Votos Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

Capelas, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas / Almas do Purgatório”, Oratórios e ExVotos da geografia de São Paio de Oleiros, Por José C. Amorim “(…) Esta religiosidade popular é uma forma genuína de evangelização (…) de facto, a nossa gente vive a sua profunda espiritualidade, aquela piedade que durante séculos moldou a fé com devoções simples, mas muito significativas (…)” Papa Francisco I (Jorge Mário Bergoglio (1936)) (1)

Para abordar, descrever e apresentar de forma abrangente o Património de índole religiosa que subsiste em qualquer território e reflete a sua evolução temporal, seja de uma Aldeia, Vila ou Cidade, é obrigatório tomar como existentes dois fenómenos / formatos cultuais que acabam por se complementar em pleno. Ou seja, é necessário incorporar nesse “Roteiro Patrimonial”, os Monumentos provenientes não só do foro e religiosidade

oficial - diocesana, vicarial e paroquial - sem esquecer os espaços, construções e “Ex-Votos” de diferentes escalas, tipologias e materializações, resultantes e interpretativas da religiosidade espontânea e popular. Sublinhando que este segmento do Património religioso local merece um trabalho de investigação posterior e complementar – passível de definição de um “roteiro” completo e aprofundado (com todos os elementos existentes na Vila e sua localização geográfica) – seguindo-se aos Capítulos que abarcam os dois espaços principais e de maior escala da Arquitetura e Arte Religiosa Oleirense (“Igreja Nova” e “Cemitério paroquial”), nas próximas páginas deste “Roteiro” seguem-se algumas referências à existência de Monumentos da religiosidade individual e, sobretudo, de cariz popular, dispersos por diferentes pontos da Vila de São Paio de Oleiros. Refletindo crenças individuais (como é o caso da “Ca(1) Declarações do Sumo-Pontífice da Igreja Católica, proferidas à “Rádio Vaticana” (órgão comunicativo, de matriz religiosa, do Papado e do Estado do Vaticano), no dia 21 de janeiro de 2016, acerca da importância da religiosidade popular nas comunidades cristãs e no catolicismo em geral – cf. http://pt.radiovaticana.va/news/2016/01/21/papa_religiosidade_popular_forma_genu %C3%ADna_de_evangeliza%C3%A7%C3%A3o/1202664 - 15/05/2017, 19 h 11 m.

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-pela de Nossa Senhora da Saúde”, de 1909 e que integra o Complexo do antigo Hospital-Asylo de Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros, pedida ao seu obreiro e testamenteiro pelo devoto mariano, já muitas vezes citado neste “Roteiro”, Comendador Joaquim de Sá Couto), “patronatos” de uma pequena “Congregação religiosa feminina” aqui sediada há largas décadas (materializado pela “Capela de Nossa Senhora do Sameiro” integrada na Casa de Nossa Senhora do Sameiro das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado de São Paio de Oleiros), e devoções coletivas, familiares ou de alguns lugares / conjuntos de moradores desta Vila (tendo como exemplo máximo a “Capela de São João Baptista”, erigida em 1985 pela religiosidade dos moradores de um lugar desta Freguesia denominado pelo termo “Pego”), a religiosidade popular prolifera por diferentes pontos da localidade, sublinhando variados momentos da sua história, taumaturgia e suplícios / agradecimentos por intercessão ou perdão divino.

Capela das Almas” da atual Rua do Ribeirinho da Vila de São Paio de Oleiros, que interrompe o próprio muro do complexo fabril da empresa “Amorim Revestimentos”), o século XIX e a primeira metade do século XX.

Assim sendo, esta dita “Religiosidade espontânea ou popular” manifesta-se visualmente em diferentes ruas, espaços ou lugares da geografia de São Paio de Oleiros, legando à Arte, Património e Iconografia local diferentes e pequenas realizações artísticas e construções, maioritariamente enquadráveis numa cronologia derivada entre a segunda metade do século XVIII (datação percetível através de alguns dos possíveis motivos pétreos do estilo setecentista Rocaille (em português “Rococó”), “concheados, flamejantes e de combinação côncava e convexa”, patentes na fachada da “Capelinha /

Apontamento formal e iconográfico das Capelas, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas / Almas do Purgatório”, Oratórios e Ex-Votos mais significativos da geografia de

“Capelas dedicadas a uma determinada santidade”, “Capelinhas ou Capelas das Almas”, Nichos de culto, “Alminhas ou Almas do Purgatório”, Oratórios e/ou “ExVotos” de diferentes tipologias (expiatórios e alusivos a almas, ações, acidentes, pedidos ou mesmo crimes; de cariz médico ou taumatúrgico, solicitando / assinalando a cura de enfermidades, pestilências, maleitas físicas ou mesmo espirituais), preenchem o território desta Vila, demarcam a “Identidade coletiva” da sua população e preenchem o espaço público com Arte Sacra e Arquitetura que, apesar do maior ou menor virtuosismo, rigor estético ou espontaneidade, incorporam e exprimem momentos, histórias e “estórias” da forma como os “Oleirenses” encaram o fenómeno cultual e a relação humana com o divino.


São Paio de Oleiros (do séc. XVIII ao séc. XXI)

(próximos ao formato de “conchas marítimas” ou de “chamas”), caracteriza-se por um “jogo plástico” de linhas côncavas e convexas (de “curva e contracurva”).

“Capelinha / Capela das Almas” da atual Rua do Ribeirinho da Vila de São Paio de Oleiros, que interrompe o próprio muro do complexo fabril da empresa “Amorim Revestimentos” (ca. séc. XVIII (?))

“Capelinha das Almas (ou Alminhas de Dona Camila) Recorda 2.ª Invasão francesa (1809)” - Junto à Rua Comendador Joaquim de Sá Couto e cuja edificação original seria enquadrável de 1830 a 1870

Fig. 58 “Capelinha / Capela das Almas” da atual Rua do Ribeirinho da Vila de São Paio de Oleiros (ca. séc. XVIII (?)) © JFSPO / José C. Amorim.

Edificação pétrea cujos acabamentos e motivos decorativos visíveis na sua fachada exterior indiciam uma possível origem ou influência do estilo artístico, cultual e construtivo dominante na fase final do século XVIII em Portugal, o “Rocaille”. Denominado nacionalmente pelo termo “Rococó” e cuja dinâmica visual dos seus ornamentos sobretudo “concheados ou flamejantes”

Figs. 59 & 60 “Pintura de Ex-Voto” interior e registo externo da “Capelinha das Almas (ou Alminhas de Dona Camila)” - Junto à Rua Comendador Joaquim de Sá Couto e cuja edificação original seria enquadrável de 1830 a 1870 © JFSPO / José C. Amorim.

Reprodução arquitetónica de 2013, não estritamente realista e deslocada nalguns metros da sua localização original (devido à requalificação da via e construção da atual “Rotunda do Bico do Valado” de S. P. Oleiros), da antiga “Capela das Almas” oitocentista (séc. XIX, 1830 1870), conhecida, segundo o Dr. Anthero Monteiro (cujo estudo aprofundado acerca do historial desta “Capela” encontra-se reproduzido na íntegra, no próximo Capítulo deste “Roteiro”), como “Capelinha das Almas de Dona Camila” ou “Alminhas de Dona Camila”. 51


Embora a sua morfologia não corresponda à planimetria e alçado da “Capela” original, nesta reconstrução foram reutilizados alguns elementos oriundos da demolição da construção primitiva; nomeadamente, o “Portão férreo”, vazado e decorado com enrolamentos e motivos fitomórficos; alguns fragmentos de Cantaria pétrea (destacando-se os blocos de Granito patentes na “moldura” do “Pórtico retangular” de acesso ao espaço da “Capela”. Assim como, os dois Pináculos e a “Cruz latina”, também de Granito, que enquadram e coroam esta fachada, subsistindo nos dois pontos de partida (laterais), e no vértice (central), do “Telhado de duas águas” desta construção.

Fragmentos pétreos, possivelmente oriundos e reaproveitados da demolição da “Capela oitocentista original” Vértice central do “Telhado de duas águas”: “Cruz latina” de Granito; “Pináculos laterais” de Granito; “Moldura granítica” do “Pórtico retangular” de acesso ao interior da “Capela”.

Fragmento férreo possivelmente oriundo e reaproveitado da demolição da “Capela oitocentista original” “Portão férreo”, vazado e decorado com enrolamentos e motivos fitomórficos.

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Também o suposto recheio e as “alfaias” de culto “transitaram” da “Capela” original para o interior desta reprodução (2). Como é o caso da “Pintura de Ex-Voto” (3) / “Tábua votiva”, a Óleo sobre Madeira de autoria desconhecida, atribuível a um Pintor popular de “Tábuas votivas” da região, possivelmente oitocentista (correspondendo à cronologia da “Capela” original), polícroma, mas bastante escurecida pela exposição de séculos ao fumo de velas, marcada pelos vestígios gráficos das iconografias de “Jesus Crucificado”, da “Virgem com o Menino” e das “Almas do Purgatório”. Temáticas e iconografias escalonadas do plano ascendente para o descendente. (2) Recheio e as “alfaias” de culto que contemplam também três Esculturas de Imaginária religiosa (representativas das iconografias de São José com o “Menino Jesus”, de Cristo Crucificado e de Maria como “Tota Pulchra” ou “Imaculada Conceição”. (3) Definição de “Ex-Votos” e apontamentos importantes para a sua perceção, segundo recolha e interpretação de Agostinho Rui Marques de Araújo; principalmente dedicada a “Ex-Votos médicos” e “milagres” setecentistas (séc. XVIII), da coleção de Matosinhos: “(…) Não há nada mais útil do que as tábuas votivas, que o povo português antigamente oferecia a certos Santos poderosos da sua predilecção (…) Em 1967 num artigo que consagrou a várias tábuas votivas do Entre Douro e Minho (…) o Prof. Robert C. Smith referiu a precedência cronológica da madeira em relação à tela e à chapa metálica como material de suporte (…) Recordemos, a propósito, que já em 1960 se escrevera numa apreciada síntese: “Em relação à antiguidade dos suportes, é difícil, se não quase impossível, dizer qual foi o primeiro suporte utilizado. Parece, todavia, quanto à pintura de carácter independente, que os mais antigos suportes conhecidos são a madeira e a tela (…) uma vez que a pintura popular em painéis, foi em grande parte subsidiária da pintura erudita e a maioria das “alminhas” e “milagres” existentes data do séc. XVIII, época em que a pintura sobre tela estava completamente divulgada” (…) Os “ex-votos médicos” têm uma estrutura muito simples (…) de um lado o doente (…) do outro a radiosa aparição de Cristo, da Virgem ou do santo intercessor que foi invocado (…) a legenda esclarece e completa o sentido da narração pictórica (…) Não surpreende, pois, que a modalidades de legenda com abundância de pormenores (…) corresponda o desdobrar do número de personagens na cena que com escrúpulos realistas se procura fixar (…)” - cf. ARAÚJO, Agostinho – “A pintura popular votiva no século XVIII: algumas reflexões a partir da colecção de Matosinhos” in Revista de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. N.º 2. Porto: 1979, pp. 27-41. (Também disponível em rede: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/13721 - 04/06/2017, 19 h 36 m.).


Iconografia Cristológica: “Crucificação simbólica Jesus Crucificado”.

Iconografis Mariana: “Virgem com o Menino (Maria, envolta por resplendor lumínico, suporta e exibe o Menino Jesus”).

“Capelinha / Capela das Almas / Alminhas da Rua da Cruz de São Paio de Oleiros” – Edificada numa datação precedente a 1884 / 1885 (?).

Figs. 61 & 62 “Pintura de Ex-Voto” interior e registo externo da “Capelinha / Capela das Almas / Alminhas da Rua da Cruz de São Paio de Oleiros” – Edificada numa datação precedente a 1884 / 1885 (?) © JFSPO / José C. Amorim.

Incorporada num dos extremos da “Rua da Cruz” da Vila de São Paio de Oleiros, em termos arquitetónicos esta “Capelinha / Capela das Almas / Alminhas da Rua Cruz” caracteriza-se pela sua sobriedade e simplicidade decorativa. Composta apenas por um “Telhado de duas águas” coroado, junto ao vértice central, por “Cruz latina” pétrea, a estrutura deste espaço de culto público oleirense modela uma fachada lisa, ausente de ornamentos, “caiada” a uma só cor e equipada por um pequeno “Portão férreo” de acesso ao seu interior. Iconografia das “Almas do Purgatório” – Envoltas por chamas, as “Almas” representadas são também acompanhadas por figuras da hierarquia celeste (Anjos / Arcanjos), alados.

Do ponto de vista da sua cronologia, esta “Capela das

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Almas” poderá resultar de um culto local e trabalho construtivo anterior a 1884 / 1885, ou seja, precedente à existência da atual Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros (inaugurada em 1885). Tendo em conta o levantamento histórico do Dr. Anthero Monteiro, esta hipótese cronológica oitocentista, não esquecendo que a estética atual deste Monumento poderá ter sofrido alterações no decurso do séc. XX, advém da suposta utilização desta pequena “Capelinha” para a realização da “Missa Dominical” nos momentos que mediaram a demolição da “Igreja Velha”, aproximadamente em 1884 e a conclusão e abertura ao culto, em março de 1885, da “Igreja Nova” de São Paio de Oleiros (4). No seu interior, o perímetro desta “Capelinha / Capela das Almas / Alminhas da Rua Cruz” é bastante simples e depurado, evidenciando-se apenas uma “pequena Mesa de Altar” adoçada à parede central deste Edifício, encimada pelo único “Ex-Voto” e motivo iconográfico tributado neste “fragmento da religiosidade local”, representativo de uma “Crucificação simbólica”. Do ponto de vista da sua criação, desconhecendo qualquer documento acerca do historial desta obra - se efetivamente a existência desta “Pintura de Ex-voto” / “Tábua votiva” corresponde à possível cronologia original desta edificação (oitocentista, caso se confirme a hipótese sugerida anteriormente), ou se lhe é posterior – é importante referir que essa total ausência de dados acerca da identidade do(s) encomendante(s), mecenas ou autor(es) deste Monumento, leva-nos a atribuir esta Pintura polícroma a um possível Pintor popular de 54 “Tábuas votivas” da localidade, concelho ou região.

Em termos formais, este registo retangular de índole vertical, define, através de Pintura a Óleo sobre Madeira e sob fundo paisagístico (de “montanha” na área onde a “Cruz” assenta fundações, aludindo ao local do episódio narrado, o dito “Monte do Gólgota” - traduzido para português “Monte da Caveira” e local de sepultamento de Adão, sobre o qual Jesus redimiu a Humanidade do “Pecado Original”; e “citadino” no plano recuado, com ícones e simbolismos à Cidade de Jerusalém, inclusive ao histórico templo da “cidade celeste”), a figura isolada de uma “Crucificação simbólica”, de “Jesus Crucificado”. Ou seja, constitui um “Cristo morto”, iconograficamente com o rosto reclinado sobre o ombro direito, barbado, de cabelo longo, com o corpo maioritariamente visível, “vestindo apenas” um Perizonium púdico (o “pano do pudor” aplicado a partir da sua cintura e quadris, visível e que se estende até meados da sua coxa), e cuja anatomia indicia uma presúria ao “madeiro da Cruz” através da aplicação de “três Cravos”. Com a Figura cristológica agregada ao lenho da sua “Cruz latina” através dos pés sobrepostos, trespassados por um só “Cravo” (“prego”), e das mãos atravessadas individualmente. (4) “(…) Parece poder concluir-se que a festa da Senhora da Saúde nasceu com a nova igreja. Se isso não aconteceu logo nos primeiros anos, é de crer que isso se deveu à necessidade de concentrar todos os esforços na construção e de garantir os meios para suportar as despesas, tanto mais que não seria fácil promover uma festa com a igreja velha em ruína e com a nova em alicerces ou com o adro transformado em estaleiro. Recorde-se que foi necessário demolir a igreja antiga para aproveitar parte da pedra e que, segundo contam os mais antigos, a missa dominical chegou a rezar-se na minúscula capelinha da Rua da Cruz, que ainda hoje serve de alminhas (…)” – cf. MONTEIRO, Anthero - A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, (s/d), p. 3.


“Capelinha / Capela das Almas / Alminhas do Desastre de morte de Bernardo Francisco da Silva a 11 de janeiro de 1900” “Crucificação simbólica – Jesus Crucificado de três Cravos”.

“Cruz latina”.

“Perizonium púdico” (“Pano do Pudor”).

Figs. 63 & 64 “Pintura de Ex-Voto” interior e registo externo da “Capelinha / Capela das Almas / Alminhas do Desastre de morte de Bernardo Francisco da Silva a 11 de janeiro de 1900” © JFSPO / José C. Amorim. “Três Cravos”

“Apontamento paisagista citadino” - Alusivo e simbólico da Cidade e Templo de Jerusalém.

Volume rochoso evocativo do local histórico da “Crucificação de Jesus” – “Monte do Gólgota”.

“Ex-Voto” / “Pintura popular votiva” de 1900, existente no interior de uma “Capelinha / Capela das Almas / Alminhas” (tipologia de Monumento de culto e arquitetura religiosa bastante comum em território Oleirense), também datável de 1900, situada na atual Rua Joaquim Francisco do Couto desta Vila e caracterizada pelo seu perímetro reduzido. Cobertura em “Telhado de duas águas”, coroado, no vértice central por “Cruz latina” pétrea e, na sua fachada, um pequeno “Portal” com “arco de volta perfeita” no topo, moldurado por Cantaria e Alvenaria pétrea – granítica, albergando uma “Porta de acesso” que combina Madeira e elementos metálicos.

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Dedicada à intercessão divina pela alma de Bernardo Francisco da Silva e autoria desconhecida, possivelmente atribuível a um Pintor popular de “Tábuas votivas” da região, ou a um familiar do “sinistrado”, do ponto de vista da sua iconografia a Pintura polícroma, a Óleo sobre Madeira, patenteada no interior desta “Capela” possui, na sua área inferior, a hipotética recriação do acidente de Bernardo Francisco da Silva. Simbolicamente interpretado pela presença de um “corpo masculino” deitado no chão e junto dele, uma “carroça” movimentada por “parelha de bois” (5). No plano intermédio, pressupõe-se o momento de ascensão da “Alma do sinistrado” (ou da presença figurativa de “quem pede por ele”), em ato de súplica e oração. E, por último, no registo superior desta tábua, abaixo da legenda sobreposta “DESASTRE DE MORTE. BERNARDO FRANCISCO DA SILVA A 11 DE JANEIRO DE 1900”, as figuras divinas invocadas. Ao centro, uma “Crucificação simbólica”, com “Jesus morto”, preso por “três Cravos” numa “Cruz latina” e despojado de vestuário, possuindo apenas um Perizonium panejamento púdico / “pano do pudor” curto, figurado a partir da cintura, cobrindo a sua “área púdica”. À sua direita (esquerda do observador), a recriação de um “Elemento alado” (“com asas”), elevado e assente, com os pés sobre uma nuvem, vestindo Túnica interior, Couraça de proteção (no tronco), Capacete bélico e Lança / Vara / Bastão em formato de “Cruz latina”. De rosto jovem e imberbe (ausente de barba), pressupõe-se 56 que seja uma alusão iconográfica a São Miguel - Arcanjo,

primeiro príncipe e guardião de Israel; protetor de todos os povos cristãos; comandante da armada celeste (de Deus), na derradeira batalha contra o “Mal” tradicionalmente tributado pelos crentes como “Defensor das “Almas do Purgatório”, responsável pelas etapas finais do Homem (“Juízo individual”), e intercessor pelos justos no “Juízo Final”(6). À esquerda de Cristo (direita do observador), e finalizando a composição, a terceira divindade também elevada e assente sobre uma nuvem, recria a Iconografia de Santo António de Lisboa, como membro da “Ordem dos Frades Menores de São Francisco” (7). Tonsurado, endossando o hábito Franciscano e suportando, com o seu braço esquerdo, a representação de um “Menino”. Alusivo à Iconografia do “Menino Jesus”, um dos principais atributos deste “Santo popular”, reputado como (5) Na página número 17 da “Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros”, Carlos Seixas, Álvaro Silva e José Castro descrevem da seguinte forma a ocorrência do “Desastre de morte de Bernardo Francisco da Silva a 11 de janeiro de 1900”: “(…) Foi nas consoadas do ano de 1900 e que se realizaram no dia 11 de Janeiro, que aconteceu o grande desastre que matou o condutor de um dos carros de bois que transportava uma carga de “toros” oferecida para ser leiloada (…) o estrondo do fogo assustou os bois que ao desatar numa correria desenfreada bateram com o carro contra um muro causando que os “toros” caíssem do carro, com tal má sorte para o Sr. Bernardo Francisco da Silva “Pisga” (…) ficou esmagado debaixo dos mesmos morrendo no ato. Este triste acontecimento ficou lembrado na construção das “Alminhas” (…)” – cf. Aa. Vv. – Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, p. 17. (6) Vd. Apocalipse 12, 7 – 10.; CAMPOS, A.A. – “São Miguel, as Almas do Purgatório e as balanças: Iconografia e veneração na época Moderna” in Memorandum. N.º 7. Minas Gerais: outubro de 2004, p. 104.; GIORGI, Rosa – Santi. Milão: Electa, 2002, p. 274. (7) Vd. DAIX, Georges - Dicionário dos Santos no Calendário Romano e dos beatos portugueses. Lisboa: Terramar, 2000, p. 37.; RÉAU, Louis – Iconografia del arte Cristiano. Iconografia de los Santos. Tomo II, vol. III. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1998, p. 126.; ROIG, Juan Fernando - Iconografia de los Santos. Barcelona: Ediciones Omega, 1950, p. 47.; TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos. Lisboa: Lello Editores, 2001, pp. 22 e 23.


milagreiro, “Advogado das Almas do Purgatório” e “Capela de Nossa Senhora da Saúde, inaugurada em venerado anualmente em São Paio de Oleiros pelo 1909 e anexa ao Hospital-Asylo de Nossa Senhora da menos desde 1900 (8). Saúde” Legenda sobreposta: “DESASTRE DE MORTE. BERNARDO FRANCISCO DA SILVA A 11 DE JANEIRO DE 1900”. “Crucificação simbólica”, com Jesus morto, preso por três cravos numa “Cruz latina”.

São Miguel Arcanjo primeiro príncipe e guardião de Israel; protetor de todos os povos cristãos; comandante da armada celeste (de Deus) na derradeira batalha contra o mal tradicionalmente tributado pelos crentes como “Defensor das “Almas do Purgatório”. Santo António de Lisboa, como membro da “Ordem dos Frades Menores de São Francisco” . Recriação do acidente de Bernardo Francisco da Silva. (8) Como nos refere o Dr. Anthero Monteiro: “(…) 1900 – Foi nos jornais deste ano que encontramos a primeira menção à festa de Santo António, embora não se faça alusão directa ao nome do santo milagreiro. O que se refere em título é “festa de Maio”, que se realizou no dia 13 desse mês, mas, por analogia com notícias de anos posteriores, deduzimos tratar-se da festa de Santo António. O modo como é referida, ainda que sucintamente («Foram muito concorridas as festividades de Oleiros e Rio meão, realizadas no último domingo»), faz pressupor que se tratava já de uma tradição (…) 1903 – O Santo António deste ano encontra-se também documentado: efectuou-se nos dias 2 e 3 do mês de Maria, com um programa do qual constaram missa, sermão, arraial e música (…)” - cf. MONTEIRO, Anthero - A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, (s/d), p. 6.

Fig. 65 “Capela de Nossa Senhora da Saúde, inaugurada em 1909 e anexa ao HospitalAsylo de Nossa Senhora da Saúde” © JFSPO / José C. Amorim.

Construído de raiz sob planta de Adães Bermudes (1864 - 1948) (9) - a partir de 1903 / 1904 -, por vontade, testamento e doação do Comendador Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) e inaugurado em 1909, o HospitalAsylo de N.ª Sr.ª da Saúde foi um Complexo médico e caritativo que serviu a Freguesia, o Concelho feirense e muitos Concelhos vizinhos; contemplando também uma “Capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde”.

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Este espaço de culto (usado inclusive numa das componentes religiosas da “Romaria de agosto”), seguiu as diretrizes arquitetónicas “Revivalistas”, sobretudo “Neomedievais” (ao gosto do arquiteto e repetindo algumas soluções que este vulto aplicou na conceção dos projetos de outros Monumentos sacros portugueses, como foi o caso da Igreja Matriz de Espinho, marcadamente “Neomedieval – Neorromânica”), evidenciando-se no seu exterior pela tipologia de fachada definida. Marcada pelos acabamentos de Cantaria e Alvenaria pétrea, granítica e, sobretudo, pela dinâmica estética das suas “Janelas / Vitrais” que realçam uma única “Torre”, centralizada, com “Relógio” de grandes dimensões e coroada, no topo, pelo seu “Coruchéu cónico” elevado, encimado por uma “Cruz latina” metálica, vazada e enquadrada pela sugestão de um “resplendor circular” (10).

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Fig. 66 “Altar e Tribuna da Capella-Mór” “Aspeto inicial, em 1908, do Retábulo principal da Capela de Nossa Senhora da Saúde do Complexo do antigo Hospital-Asylo de Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros” © Imagem extraída de: SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p).

No seu interior, a Retabulística existente, central e dedicada à invocação Mariana e iconográfica de Nossa Senhora da Saúde, segue a estética regrada e conservadora do estilo da Talha dourada portuguesa em voga no seu momento construtivo (alvores do séc. XX), predominantemente preenchido a branco com alguns apontamentos de “Folha de Ouro” (dourados), correspondente ao simétrico e sóbrio “Neoclassicismo”. (9) “(…) Arnaldo Redondo Adães Bermudes nasceu em Santo Ildefonso, no Porto, a 1 de Outubro de 1864. Era filho de Félix Redondo Adães Bermudes e de Cesina Romana Bermudes, um casal galego residente na cidade. Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes entre 1880 e 1886, onde foi discípulo de José Geraldo da Silva Sardinha, embora tenha concluído o curso na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Em 1888 obteve uma bolsa que lhe permitiu aperfeiçoar os estudos em França com o mestre Pierre Blondel (1847-1897). No regressou a Portugal, em 1894, iniciou a carreira de arquiteto. Nesse ano perdeu o concurso para o monumento ao Infante D. Henrique, no Porto, mas a sua qualidade ficou patente na obtenção da 2ª Medalha na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa. Na sua eclética obra arquitetónica, na qual se misturam referências aos estilos manuelino e barroco, à Arte Nova e ao Design Moderno, podem destacar-se: o projeto-modelo para a construção de 184 escolas (1902-1912); a Escola Central Primária de Santa Cruz, em Coimbra (19051907); o Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, na Tapada da Ajuda (1910); a Escola Normal de Lisboa, em Benfica (1913), atual Escola Superior de Educação de Lisboa; os hospitais da Covilhã e de Oleiros; as agências do Banco de Portugal, em Coimbra, em Bragança, em Viseu, em Faro, em Évora e em Vila Real; as cadeias de Anadia e de Sintra; as igrejas de Espinho e de Amorim; o Hotel Astória, em Coimbra; o Cemitério do Alto de S. João e o palacete do Conde de Agrolongo, em Lisboa (…) Adães Bermudes participou, também, em projetos de restauro e conservação de emblemáticos monumentos nacionais, como os palácios de Mafra, de Sintra e de Queluz, a igreja do Mosteiro dos Jerónimos e o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Foi autor do projeto vencedor do concurso para o Monumento o Marquês de Pombal em Lisboa, em parceria com António C. Abreu e o escultor Francisco dos Santos. Ganhou o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1908, pela primeira vez atribuído a um edifício de rendimento, que faz gaveto na Avenida Almirante Reis, e uma Menção Honrosa (1909), no mesmo concurso, com o Palacete na Rua do Sacramento, do Conde de Agrolongo. Em 1900 fora premiado na Exposição Universal de Paris. Casou com Albertina Bermudes de quem teve o filho Jorge, que seguiu a profissão do pai. Adães Bermudes, arquiteto, homem de cultura republicano e maçon morreu a 18 de Fevereiro de 1948, em Paiões, Sintra (…)” – cf. https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes %20ilustres%20-%20ad%C3%A3es%20bermudes – 04/06/2017, 23 h 10 m. (10) “(…) Depende e forma corpo com o hospital-asilo (…) Estudaram equilibrada-


“Capela de São João Baptista de 1985 – Fundada no que ladeia a “Porta de acesso” ao seu interior), resulta do “Largo de São João da Rua Nova do Pego da Vila de esforço e tributo coletivo de um segmento populacional São Paio de Oleiros” desta Freguesia. Fig. 67 “Capela de São João Baptista de 1985 – Fundada no “Largo de São João da Rua Nova do Pego da Vila de São Paio de Oleiros” © JFSPO / José C. Amorim.

Aludindo à identidade e gosto dos moradores do “Lugar do Pego” da Vila de São Paio de Oleiros, do ponto de vista formal, esta “Capela” demarca-se na arquitetura religiosa local pela sua planta retangular e aspeto exterior marcado pela fachada sóbria (decorada no centro do seu frontão triangular com um “Painel Azulejar” policromado, representativo da Iconografia de São João Baptista “em criança”, e equipada com “Porta férrea”), e por uma pequena “Torre” encimada por quatro Pináculos, um “Coruchéu piramidal” e uma “Cruz latina” que se elevam a partir do “Telhado de duas águas” que cobre esta estrutura.

No espaço interior, prevalece uma escultura de vulto, de Imaginária religiosa interpretativa da Iconografia de São João Baptista em “idade adulta”, que se encontra acompanha por catorze Pinturas polícromas de pequeno formato que se expandem pelas paredes desta “Capela” Integrada no centro de um Largo cujo próprio nome e recriam, “estação a estação”, os episódios marcantes corresponde à invocação da “Capela” analisada – o da narrativa Cristológica da “Via Crucis” – “Via Sacra” em “Largo de São João” da Rua Nova do Pego, derivado do Língua portuguesa. culto local a “São João Baptista” - e que durante décadas acolheu (e acolhe, sempre que esta manifestação coletiva se realiza), uma festa tradicional dedicada ao a frontaria sob o predomínio da torre, a qual se eleva em três corpos e Santo em causa, por vezes conhecida na gíria local -mente coruchéu, formando átrio externo, e seguindo um estilo sugestionado por certas como “Festa de São João do Lugar do Pego” - esta formas medievas, como se fazia ao tempo, O interior, cuidado, tem retábulo e principal, de agrado (…)” - cf. GONÇALVES, A. Nogueira - “Capela de “Construção”, finalizada em 1985 (como sublinha gráfica escultura Nossa Senhora da Saúde” in Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. Lisboa: e textualmente a inscrição pintada numa das paredes Academia Nacional das Artes, 1959 - 1981, p. 97.

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Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos

catolicismo em geral – cf. http://pt.radiovaticana.va/news/2016/01/21/papa_religiosi dade_popular_forma_genu%C3%ADna_de_evangeliza% C3%A7%C3%A3o/1202664 - 15/05/2017, 19 h 11 m.

Aa. Vv. – Breve Resenha Histórica da Paróquia de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, GIORGI, Rosa – Santi. Milão: Electa, 2002, p. 274. 2015, p. 17. GONÇALVES, A. Nogueira - “Capela de Nossa Senhora ARAÚJO, Agostinho – “A pintura popular votiva no século da Saúde” in Inventário Artístico de Portugal. Vol. 10. XVIII: algumas reflexões a partir da colecção de Lisboa: Academia Nacional das Artes, 1959 - 1981, p. 97 Matosinhos” in Revista de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. N.º 2. Porto: 1979, pp. MONTEIRO, Anthero - A Festa da Senhora da Saúde e 27-41. (Também disponível em rede: http://repositorio- de Santo António em S. Paio de Oleiros. São Paio de aberto.up.pt/handle/10216/13721 - 04/06/2017, 19 h 36 Oleiros: Edição de Autor, (s/d), p. 3. m.). RÉAU, Louis – Iconografia del arte Cristiano. Iconografia de los Santos. Tomo II, vol. III. Barcelona: Ediciones del Apocalipse 12, 7 – 10. Serbal, 1998, p. 126. CAMPOS, A.A. – “São Miguel, as Almas do Purgatório e as balanças: Iconografia e veneração na época Moderna” ROIG, Juan Fernando - Iconografia de los Santos. in Memorandum. N.º 7. Minas Gerais: Outubro de 2004, Barcelona: Ediciones Omega, 1950, p. 47. p. 104. SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. DAIX, Georges - Dicionário dos Santos no Calendário João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde Romano e dos beatos portugueses. Lisboa: Terramar, na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). 2000, p. 37.

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Declarações do Sumo-Pontífice da Igreja Católica, proferidas à “Rádio Vaticana” (órgão comunicativo, de TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos. Lisboa: matriz religiosa, do Papado e do Estado do Vaticano), no Lello Editores, 2001, pp. 22 e 23. dia 21 de janeiro de 2016, acerca da importância da religiosidade popular nas comunidades cristãs e no https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagi


na?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20%20ad%C3%A3es%20bermudes – 04/06/2017, 23 h 10 m. Fig. 68 “Nicho cultual” / “ExVoto” do Largo das Lapas da Vila de São Paio de Oleiros” – Registo pétreo de séculos XIX / XX (?), com trabalho de Cantaria e Alvenaria de Granito, decorado no seu elemento superior por um baixorelevo metálico de Iconografia Mariana © JFSPO / José C. Amorim.

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor).

Fig. 69 “Nicho cultual” / “Oratório” / “Ex-Voto” / “Pequena Capelinha / Capela das Almas / Alminhas da Rua do Agro Velho da Vila de São Paio de Oleiros” Registo de Arquitetura e Arte de linguagem contemporânea e modernista (de século XX, com readaptações enquadradas já no século XXI), ornada no seu interior com “Painel Azulejar” policromado e representativo de um episódio central de Iconografia Mariana, acompanhado pela figuração das “Almas do Purgatório”. Supostamente, segundo investigação do Dr. Anthero Monteiro, esta pequena construção foi edificada em substituição de uma “Capela” precedente, de cronologia mais remota e alusiva a um determinado episódio e iconografia que englobaria, entre outros aspetos pictóricos, motivos marítimos © JFSPO / José C. Amorim.

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Capelinha das Almas (ou Alminhas de Dona Camila) Recorda 2.ª Invasão francesa (1809) Texto por Anthero Monteiro, seleção de imagens & legendagem por Anthero Monteiro & José C. Amorim

“Capelinha das Almas (ou Alminhas de Dona Camila) Recorda 2.ª Invasão francesa (1809)”, Por Anthero Monteiro

Terá sido tal o terror que até parece que tudo congelou, que ninguém assistiu a nada, que só a tradição conseguiu por vezes espreitar através do fumo dos canhões ou das barreiras do medo. De vez em quando, encontra-se uma inscrição, um pequeno monumento, geralmente de índole popular (umas alminhas, por exemplo). Os documentos escasseiam. E quando os há, apresentam-se truncados. Tivemos nas mãos alguns com frases inteiras riscadas com tinta ou fósforos. Conseguia-se entrever a data: 11 de Abril de 1809. Escondem, porventura, traições, correções, as mãos rivais por que passaram. «Quando […] se pretende concretizar algum episódio referido pela tradição, tudo aparece vago e confuso», diz o P.e Miguel de Oliveira que, todavia, nos conta o essencial das incursões napoleónicas nesta zona, no que chamou «A campanha de entre Douro e Vouga na segunda invasão francesa».

Figs. 70 & 71 “Pintura de Ex-Voto” interior e registo externo da Reprodução arquitetónica de 2013, não estritamente realista e deslocada nalguns metros da sua localização original (devido à requalificação da via e construção da atual “Rotunda do Bico do Valado” de S. P. Oleiros), da antiga “Capela das Almas” oitocentista (séc. XIX, 1830 - 1870), conhecida, como “como “Capelinha das Almas de Dona Camila” ou “Alminhas de Dona Camila” © JFSPO / José C. Amorim.

Oleiros não comparece no diminuto roteiro das memórias escritas sobre aquele período sangrento de seis semanas de 1809, desde que, a 30 de Março as tropas do Marechal Soult passaram o Douro, restabelecida que foi a Ponte das Barcas, onde tantos

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pereceram na precipitação da fuga, a caminho do Rio Vouga, até que, enxotados pelo exército luso-britânico, comandado por Wellesley, se viram coagidos a retroceder e de novo passaram o Douro em sentido contrário, no dia 11 de Maio, para se retirarem do Porto no dia seguinte, depois de lançarem fogo à ponte fatídica. No rasto da sua passagem, deixaram inúmera devastação e a marca das suas atrocidades. Fig. 72 Pormenor das “Alminhas da Ponte” situadas na zona ribeirinha da cidade do Porto e evocativas da memória do trágico desastre da “Ponte das Barcas”, ocorrido em 1809 no âmbito da “Segunda Invasão Francesa” – Escultura de baixo-relevo em Bronze monocromático, inaugurada em 1897, da autoria de José Joaquim Teixeira Lopes (“Teixeira Lopes Pai”) (1837 1918) e descrita da seguinte forma pela Direção Geral do Património Cultural: “(…) Implantado em plena zona ribeirinha, defronte do rio Douro, as alminhas da Ponte constituem uma das mais inusuais manifestações artísticas neoclássicas da cidade do Porto. Trata-se de um baixo relevo de bronze construído em finais do século XIX (1897), por Teixeira Lopes (pai), como marco em memória do célebre desastre da Ponte das Barcas, ocorrido a 29 de Março de 1809, na segunda invasão francesa. Protegido por alpendre de ferro assente em duas consolas, de lavores florais característicos da arquitectura do ferro, a alminha compõe-se de um painel quadrangular, esculpido em relevo, onde se retrata a invasão da cidade e a fuga precipitada da população pela frágil ponte das barcas. Artisticamente, esta é uma obra mais eclética que propriamente circunscrita a um só tempo estético: aqui se conjuga o neoclassicismo da representação a uma protecção de ferro, solução que reforça o carácter cenográfico e comemorativo da obra (…) A função devocional testemunha-se no suporte para velas que ladeia o painel central, onde as gentes do bairro da Ribeira se encarregavam de cristalizar a memória de quantos padeceram naquele desastre (…)” – cf. http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisado-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71533 - 11/05/2017, 11 h 45 m. © Arquivo Distrital do Porto (Imagem extraída de: http://gisaweb.cmporto.pt/units-of-description/documents/336859/? - 11/05/2017, 11 h 47 m.

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Andaram por aqui perto certamente, porque fizeram do Mosteiro de Grijó o seu quartel-general e no alto do Picoto, de onde dominavam a zona, assestaram a sua artilharia. A cavalaria fazia as suas incursões. A estrada real (Gaia, Carvalhos, Grijó, Oliveira de Azeméis, Mealhada, rumo a Coimbra) foi o seu itinerário principal, mas não deixaram de estender ramais para a esquerda e para a direita. Arcozelo, as Airas de S. João de Ver, Feira, Souto, Ovar, Válega, Cucujães, Angeja, Albergaria, Pinheiro da Bemposta e outras terras da zona conheceram o horror dos seus desmandos. Arrifana faz questão de lembrar, através de monumento, os fuzilamentos a que assistiu, no dia 17 de Abril, como retaliação pela eliminação do Coronel Lamet, sobrinho de Soult, numa emboscada em Santiago de Riba-Ul. O franco-atirador não foi encontrado. Pagou por ele a povoação, que viveu cenas inimagináveis e viu 71 homens perecerem sob a fuzilaria. Figs. 73 & 74 À esquerda, Pormenor de um dos relevos (baixo-relevo), em bronze monocromático, aplicado no “Monumento / Memorial à Guerra Peninsular” existente em Arrifana (concelho de Santa Maria da Feira) Evocativo da “iconografia” do “Massacre de Arrifana” & À direita, “Retábulo de Madeira policromada” integrante de uma das “Capelas das Almas” ou “Alminhas” existentes em Arrifana, evocativo da memória dos mártires e iconografia do “Massacre de Arrifana” – O fuzilamento de 71 Arrifanenses que padeceram perante a vingança e violência das tropas francesas do Marechal Soult (1769 – 1851) © Imagem 73 (esquerda), extraída de: http://memorialdolamento.blogs.sapo.pt/2009/04/ - 11/05/2017, 12 h 23 m & Imagem 74 (direita), extraída de: http://artigosjornaljoaosemana.blogspot.pt/2009/08/invasoesfrancesas-ovar.html - 11/05/2017, 12 h 24 m.


concorrido, foram imediatamente postas em liberdade». E adverte: «Oxalá que esta formidável lição sirva de impor freio aos mal intencionados e preversos e que seja a última que tenha que ser dada aos Portugueses, para que se submetam sincera e cordialmente a um Governo que só aspira a grangear o seu afecto, a promover a sua segurança e a transportá-los da anarquia em que viviam submergidos ao seio da felicidade!» (1). Perto daqui também o sangue correu abundantemente. Aqui deve ter chegado o seu cheiro, aqui devem ter ecoado os estampidos dos arcabuzes, como se devem ter repercutido nas nossas quebradas os ribombos dos canhões. Fig. 75 “Ataque ao Forte de Grijó (Mosteiro grijonense ocupado pelas tropas francesas do Marechal Soult (Jean de Dieu Soult – Duc de Dalmatie) na Segunda Invasão Francesa ao Norte de Portugal), por parte das tropas anglo-lusas, sob comando do Tenente-General Sir Arthur Wellesley (futuro e primeiro Duque de Wellington, Marquês do Douro, Marquês e Conde de Wellington, Visconde Wellington de Talavera e de Wellington, Barão do Douro ou Barão Wellesley) (1769-1852)” – Pormenor de Gravura / Litografia de registo bélico, oitocentista e da autoria de H. L. Évêque (séc. XIX), difundida postumamente como complemento gráfico das considerações formuladas em 1977, na publicação da autoria de Gonçalves Guimarães, Sérgio Veludo Coelho e Felicidade Moura Correia, intitulada “Os Mártires de Arrifana: Memória da Guerra Peninsular” © Imagem extraída de: Aa. Vv. – Os Mártires de Arrifana: Memória da Guerra Peninsular. Arrifana: Junta de Freguesia de Arrifana, 1977, (s/p).

A imprensa propagandística do lado francês narrou os factos de Arrifana como tendo sido provocados por «oito moradores, ou antes, facínoras destes lugares» que «foram presos, sem perda de tempo enforcados, e as suas casas queimadas». Sem qualquer referência aos demais fusilamentos, refere que «as outras pessoas, que haviam sido igualmente presas para averiguações do referido atentado, achando-se que para ele não tinham

Fig. 76 Marechal Soult (Jean de Dieu Soult – Duc de Dalmatie) – Retrato do Marechal Soult, Comandante das forças invasoras em 1809. Pormenor de gravura de início do século XIX, publicada no livro de 1810 Collection complète des portraits des Grands-Aigles et et des Grands-Officiers de la Légion d'Honneur © Bibliothèque nationale de France (Imagem extraída de: http://dpedroiv.pt/cronologia/1809/maio/12/retir ada-do-marechal-soult-do-porto/43 - 12 / 05 / 2017, 11 h 18 m.

Fig. 77 Tenente-General Sir Arthur Wellesley – Invicto Wellington Lusitania Grata. Gravura de Francesco Bartolozzi, a partir da pintura de Domenico Pellegrini. 1810. Pormenor © Arquivo Municipal do Porto (Imagem extraída de: http://dpedroiv.pt/cronologia/1809/ marco/22/o-general-arthurwellesley--futuro-duque-dewellin/42 - 12 / 05 / 2017, 11 h 22 m.

(1) Diário do Porto n.º 3, 22 de Abril de 1809.

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A história é-nos familiar. Já não existe o Pinheiro das Sete Cruzes, ali no Picoto, para no-la recontar. Ficou apenas uma capelinha que, uns anos mais tarde, Francisca Alves de Sá, da Idanha, mandou construir junto ao pinheiro e onde um painel evoca os terríveis acontecimentos. Era sobrinha de uma das vítimas, o P.e João de Sá Rocha, que fora assassinado por se recusar terminantemente a revelar o teor da confissão do principal suspeito, a figura enigmática do Catafula, de Esmojães, que, com outros, tinha matado, na estrada real, três franceses alojados na Vergada, sendo, por isso, arcabuzado. Impedidos de conhecer todos os verdadeiros cúmplices, os soldados invasores desforraram-se ainda no irmão do Padre, que mataram nas Barrancas, e em mais quatro homens de Esmojães, juntando os sete cadáveres no famoso pinheiro, para darem uma lição a todos os resistentes armados em heróis. Tal como no Picoto, também nas Barrancas se levantaram umas alminhas para testemunhar a morte de Manuel de Sá Rocha, irmão do sacerdote assassinado, as quais desapareceram mais tarde, sendo substituídas por uma pequena capela, a exigir alguns cuidados de conservação.

encastradas no muro da Quinta do Candal, quase em frente ao antigo Café Vouga, na rua a que se deu o nome do Comendador Joaquim de Sá Couto, tio da proprietária da Quinta, naquele que é um troço da estrada PicotoEsmoriz. “Residência da Quinta do Candal de São Paio de Oleiros” .

“Rua Comendador Sá Couto”.

“Réplica de 2013, da “Capelinha das Almas / Alminhas de Dona Camila”, com datação original de 1830 – 1870 ”. Fig. 78 “Perspetiva aérea da localização da residência da secular “Quinta do Candal” de São Paio de Oleiros (assinalada por retângulo amarelo), antiga posse da Dona Camila Augusta de Sá Couto Moreira e dos primeiros Condes de São João de Ver sua filha Dona Emília Augusta de Sá Couto Moreira e respetivo marido Dr. João Augusto da Cunha Sampaio Maia (Testamenteiro do Comendador Sá Couto e obreiro da concretização da sua vontade de edificação do Hospital Asylo Oleirense – e da fixação geográfica (junto à atual Rua Comendador Sá Couto desta Vila e distante nalguns metros da localização original), da réplica (assinalada por retângulo azul), de 2013, da “Capelinha das Almas / Alminhas de Dona Camila”, com datação original de 1830 – 1870 © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.9832869,8.589328,285a,35y,270.28h,44.93t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb:0 x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 12 / 05 / 2017, 12 h 05 m.

Em Oleiros, a história não pode fazer-se de simples conjeturas nem bastará decerto o depoimento do próprio general Wellesley, responsável pela expulsão dos Mais do que alminhas, tratava-se de uma capelinha, franceses, ao escrever: «Tenho visto muitas pessoas denominada das Almas, mandada erigir, em data que pendentes, enforcadas em árvores ao longo das não foi possível apurar exatamente, mas entre os anos estradas...». Mas ajuda… 1830 e 1870 (segundo nos dizem, mas acreditamos que a data tende mais para o último número), por D.ª Camila Se não, recordemos aquelas alminhas que estiveram Augusta de Sá Couto Moreira, mãe da Condessa de S. 65


João de Ver. Um dia, pretendera transformar em pomar o pinhal existente naquela parte da quinta onde hoje está a capelinha. Ao cavar o terreno, foram encontradas muitas ossadas humanas, concluindo-se, após investigações feitas, tratar-se de corpos aí enterrados em tempo das invasões francesas. D.ª Camila desistiu da plantação do pomar e mandou enterrar novamente as ossadas e semear pinhal outra vez (2).

Fig. 79 Pormenor de parte das Alfaias de culto, Esculturas de Imaginária religiosa (representativas das iconografias de São José com o Menino Jesus, Cristo Crucificado e de Maria como “Tota Pulchra” ou “Imaculada Conceição”), e Pintura de “Ex-voto” / “Tábua votiva” com as iconografias de “Cristo Crucificado”, da “Virgem com o Menino Jesus” e das “Almas do Purgatório”, patentes no interior da Capela que replica, na atualidade, a “Capelinha das Almas / Alminhas de Dona Camila” de cronologia de fundação oitocentista (1830-1870) – Pressupõe-se que grande parte destes elementos tenha transitado da estrutura original para a área interior desta réplica de 2013, junto à atual Rua Comendador Sá Couto da Vila de São Paio de Oleiros, abaixo da recente “Rotunda do Bico do Valado”, distante, nalguns metros, da localização da Capela original © JFSPO / José C. Amorim.

(2) Muitas destas informações sobre as alminhas da D.ª Camila foram recolhidas, em 1984, pelo Sr. Daniel da Lapa junto do Sr. José Gomes da Silva (Tomaz de Abrantes) e chegaram às nossas mãos por intermédio do Sr. Fernando Sousa, da Aldeia, a quem muito agradecemos.

No meio dos esqueletos apareceu pelo menos uma arma, que nos foi mostrada, poucos anos antes do seu falecimento, pelo Dr. Jayme Neves, herdeiro da família, na sua casa da Quinta do Candal. Não sabemos se houve no local qualquer confronto ou se apenas se repetiu mais uma daquelas cenas terríveis que ensombraram centenas de lugares da região de entre Douro e Vouga e que Wellesley testemunhou. Não sabemos sequer quem foram os heróis nem os vencidos. Sabemos que o ódio destrói e que ao povo resta deixar marcas bem sensíveis dos acontecimentos para que não se esqueçam. E convém mesmo não esquecer: importaria preservar a todo o custo estes raros e piedosos testemunhos de pedra que são as alminhas e que ainda abundam na nossa terra. Recentemente, porém, a estrada sofreu obras de arranjo e alargamento, que implicaram a eliminação do monumento, mas a Junta de Freguesia da altura correspondeu de certo modo ao nosso pedido de que fosse construída uma réplica nas imediações e colocada uma placa informativa da história que aqui contamos. A forma não corresponde exatamente ao original, mas ficou pelo menos, uns metros mais abaixo, depois da rotunda, do mesmo lado da estrada que vai cruzar a linha do Vale do Vouga, uma outra capelinha que remete para a anterior. Em 1885, D.ª Camila entregou à Junta da Paróquia o produto das esmolas dadas nessa Capela das Almas, 66


, certamente destinando-o às obras da igreja nova que preparação”, cedido para publicação neste “Roteiro” pelo estavam a iniciar-se. autor, Anthero Monteiro. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por Anthero Monteiro & José C. Amorim (texto das legendas cedido AREDE, João Domingues, «Cucujães no tempo de pelos autores). Napoleão» in Cucujães, 1914. 3 Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos de base para o processo de legendagem e/ou descrição de «Episódio sangrento das Invasões Francesas» in Ronda imagens apresentadas: Aa. Vv. – Os Mártires de Arrifana: da História n.º 12, Março 1958. Memória da Guerra Peninsular. Arrifana: Junta de Freguesia de Arrifana, 1977, (s/p). / NAPIER, W. F. P., History of the War in the Peninsula and http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimo in South of France from the Year 1807 to the Year 1814, nio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em3 vols, London, 1807-1810. vias-de-classificacao/geral/view/71533 - 11/05/2017, 11 h 45 m. / /gisaweb.cm-porto.pt/units-ofOLIVEIRA, P.e Miguel de, «A campanha de entre Douro description/documents/336859/? - 11/05/2017, 11 h 47 m. e Vouga na segunda invasão francesa», in Arquivo do / http://memorialdolamento.blogs.sapo.pt/2009/04/ Distrito de Aveiro, Vol. XI, 1945. 11/05/2017, 12 h 23 m / http://artigosjornaljoaosemana.blogspot.pt/2009/08/invaso SILVA, Armando de Sousa e, SILVA, Alberto de Oliveira es-francesas-ovar.html - 11/05/2017, 12 h 24 m. / e, «Nogueira e as Invasões Francesas» in S. Xpistofori http://dpedroiv.pt/cronologia/1809/maio/12/retirada-dode Nucaria da Rugidoira, J. F. de Nogueira da marechal-soult-do-porto/43 - 12 / 05 / 2017, 11 h 18 m. Regedoura, N. Regedoura, 2004, p.29ss. /http://dpedroiv.pt/cronologia/1809/marco/22/o-generalarthur-wellesley--futuro-duque-de-wellin/42 - 12 / 05 / VITORINO, Pedro, Invasões Francesas 1807-1810, 2017, 11 h 22 m. / Livraria Figueirinhas, Porto, 1945. https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+ Oleiros/@40.9832869,8.589328,285a,35y,270.28h,44.93t/data=!3m1!1e3!4m5!3 m4!1s0xd2478e88abc45fb:0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d Notas de edição e publicação: 40.9890047!4d-8.5968868 – 12 / 05 / 2017, 12 h 05 m. 1 Texto, “da Monografia de São Paio de Oleiros em

Bibliografia

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“Arte, Culto & Arquitetura Funerária”: Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

Património Religioso (“Arte, Culto & Arquitetura Funerária”): Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros, Por José C. Amorim

Fig. 80 Perspetiva aérea do território correspondente à extensão atual e diferentes secções do “Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros” © Imagem extraída de: https://mapcarta.com/fr/28374952 - 04 / 12 / 2016, 12 h 34 m.

Com estrutura, planimetria, arquitetura e estética artística resultante de diferentes momentos de implementação, alargamento / crescimento e evolução maioritariamente de cronologia oitocentista e novecentista (nos séculos XIX e XX, como nos descreve o Dr. José Maria M. Pereira da Rocha, no decurso dos estudos desenvolvidos e resultados definidos entre 2015

e 2016 no seu “Memorando”: PEREIRA DA ROCHA, José M. – “Memorando sobre os alargamentos do Cemitério Paroquial de S. Paio de Oleiros (1885 / 1990)” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano XIV, n.º 42. St.ª M.ª da Feira: fevereiro de 2016, pp. 9-33.), acompanhando a própria evolução e estabelecimento da “legislação nacional” nesta matéria, as origens primitivas deste espaço de sepultamento local, tributo e “epitáfio” à memória de “todos aqueles que partiram”, serão remontantes a séculos anteriores à sua devida “fundação oitocentista” (séc. XIX). Correspondendo também às próprias “raízes” e primórdios da “Paróquia”. Inclusive, essas origens são mesmo indissociáveis / devedoras, em certa medida, do “Monumento / Complexo primitivo da Cristandade oleirense”, do seu uso e do seu destino. A dita “Igreja Velha”, anteriormente existente nesta freguesia e que no seu interior e na sua envolvência territorial recebeu, durante séculos, correspondendo às práticas de época, o sepultamento dos falecidos (diferenciados pelas suas origens, estrato e classes), a sua respetiva demolição entre 1884 / 1885 para, numa primeira fase, fornecer materiais para a edificação da atual Igreja Paroquial de São Paio de Oleiros e, posteriormente, para servir de terreno ao alargamento e primeira grande fase de implementação

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daquilo que designamos correntemente “Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros”.

o no Cemitério de São Paio de Oleiros, de Mozelos, de Santa Maria de Lamas, ou nalgum do Porto e de Lisboa, a par das habituais, mais recentes e repetidas campas / Não esquecendo a raiz “telúrica” deste espaço de jazigos de mármore, a existência de “Lápides / Placas sepultamento oleirense com os primórdios da “Paróquia” Memoriais, Pedestais, Obeliscos, Pirâmides & Mausoléus e da mutação / crescimento do seu culto e arquitetura ou Capelas-Jazigo” de século XIX (sobretudo das últimas religiosa (como o Dr. Pereira da Rocha descreve, de décadas de oitocentos), ou dos alvores do século XX, de forma mais fluída, nas próprias páginas do “Memorando” cariz “Neogótico”, “Neoclássico” ou com “pastiches” ( citado), por todo o país, na região e no próprio Concelho “colagens / conjugações” num só monumento de motivos ao qual São Paio de Oleiros pertence, a cronologia de e ícones de cronologias e estilos distintos entre si), estabelecimento dos “Cemitérios”, como os entendemos concretizados(as) em matérias nobres como o Mármore nos dias de hoje, corresponde essencialmente à e as melhores pedras de cada região portuguesa, define preocupação oitocentista (de séc. XIX), no cuidado com uma linguagem identitária e tipológica do país na sua a salubridade, forma ordenada e por vezes artística de arquitetura e arte tumular (inspirada, contudo, em sepultar corretamente os mortos, perpetuando a memória modelos universais, sobretudo ingleses, franceses (1), dos “entes queridos” falecidos - assegurando não só o italianos e espanhóis (2)). seu “repouso eterno”, mas tentando precaver a saúde física e sentimental dos “vivos” que permanecem. A proliferação deste tipo de construções mais eruditas para albergar o legado de famílias inteiras, normalmente Tendo em conta essa raiz marcadamente oitocentista, influentes na sociedade de inserção e economicamente assente num gosto escultórico e arquitetónico muito prósperas, assentou sobretudo num conceito individual / próprio, “Romântico” e “Revivalista”, apreciador de estilos genealógico de procura de um “museu da morte” (3). Ou que recuperam formas do Passado distante, como o “Neogótico” (inspirado na arquitetura medieval), ou o (1) Vejamos o caso do “Cemitério dos Prazeres” em Lisboa, onde segundo o estudo “Neoclássico” (devedor do rigor, equilíbrio e simetria da da Direção Geral do Património Cultural, a proliferação de “monumentos funerários índole “Neogótica”, resulta de um desejo de “imitação de modelos franceses”: “(…) arquitetura clássica), em termos patrimoniais e artísticos, de No caso do jazigo-capela de traça neogótica, os seus moldes “universais”, podem tanto em áreas citadinas, mais urbanizadas, férteis em moldar-se no Pére-Lachaise (…) O desejo de emular, sobretudo, as grandes dos Cemitérios parisienses, conduziu à progressiva individualização e recursos económicos e intelectualizadas, como em zonas realizações monumentalidade das tipologias dos jazigos dos prazeres (…)” – cf. DIREÇÃO mais remotas, carentes de alguns dos privilégios GERAL DO PATRIMÓNIO CULTURAL – Cemitério dos Prazeres. Lisboa: Direção do Património Cultural, 2016, pp. 26 e 27. (Também disponível em linha: socioeconómicos da cronologia de existência, é possível Geral http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/patrimonio_imovel/classificacao_do_p identificar uma certa uniformidade de manifestações de atrimonio/despachosdeaberturaearquivamento/2016/prazeres/er_4.pdf - 04/06/2017, arte e arquitetura tumular & funerária. Ou seja, estejamos 00 h 15 m.). 69

como


seja, através da arte, da escultura, do relevo, da arquitetura, decoro, diferença ou imponência das suas “Lápides / Placas-memoriais, Pedestais, Obeliscos, Pirâmides, Mausoléus ou Capelas-jazigo”, os seus responsáveis, ao recorrerem aos agentes principais (artistas e artífices), do mercado produtor de arte tumular, pretendiam perpetuar visualmente o seu legado, heráldica, gosto estético e crenças (4). Efetivamente, a “morte” é transversal à condição humana, independentemente das suas origens, meio de inserção e classe social. Todavia, ao longo dos séculos, o tipo de sepultamento e o direito ao “ornato decorativo” em cada “epitáfio artístico” variava segundo as posses e o estrato de cada família. Essa diferença de tratamento e forma de encarar a “memória” após a morte percebe-se perfeitamente através do contraste construtivo de volumes e formas (mais elaboradas ou depuradas), que se verifica na paisagem edificada e decorada de cada Cemitério português. Nesse âmbito, o Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros não foge à regra e a sua extensão contemporânea e estética visível, de construções e objetos artísticos, sublinham contrastes e testemunham a evolução deste equipamento desde 1885 até aos dias de hoje. Demarcando na sua “paisagem de memória” diferenças entre: materiais e linguagens estilísticas do Passado (mais robustas, rebuscadas e eruditas) e os recursos do Presente (mais sóbrios e simplistas); ou entre o “cidadão-comum”, e aqueles que durante décadas e séculos prosperaram na sociedade e econo-

(2) Sobre as influências italiana, espanhola e francesa na composição cemiterial, arte e arquitetura tumular em Portugal, vejamos as considerações de José Francisco Ferreira Queiroz: “(…) Em certa medida, os cemitérios portugueses da segunda metade do século XIX adoptaram um formulário artístico comum aos demais cemitérios do sul da Europa. Em termos de abundância proporcional da escultura face ao suporte arquitectónico, os cemitérios portugueses situam-se a meio termo entre os italianos e os espanhóis. Em geral, aqueles possuem grande pendor escultórico, mesmo que a arquitectura do cemitério, geralmente de pórticos e arcarias, seja preponderante face à arquitectura do jazigo individual. Ao invés, estes possuem grande pendor arquitectónico, de carácter colectivo, sendo pouco habituais as peças escultóricas, sobretudo em certas regiões espanholas, onde predominavam as necrópoles oitocentistas de “nicherías”. Assim, os cemitérios portugueses, no seu carácter arquitectónico mais individualizado e na proporção do uso da escultura, aproximam-se sobretudo do modelo romântico francês. Porém, se os cemitérios portugueses não podem competir com os cemitérios italianos em termos de quantidade e qualidade de obra escultórica, também não podem competir com os cemitérios franceses em termos de valia artística das peças de escultura. É sobretudo ao nível do trabalho do artífice executante, do canteiro ornatista, que os cemitérios portugueses podem equiparar-se aos melhores da Europa (…)” – cf. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - A escultura nos cemitérios portugueses (18351910): artistas e artífices. Porto: CEPESE, 2010, p. 235. (3) Para perceber o conceito oitocentista (séc. XIX), e mesmo novecentista (sobretudo dos primeiros anos e décadas do séc. XX), da busca de um “museu da morte” em algumas construções funerárias, arquitetónicas ou escultóricas dos Cemitérios portugueses, sublinhamos as referências da Direção Geral do Património Cultural, sobre alguns segmentos do Cemitério dos Prazeres em Lisboa, mas que são transversais a quase todos os complexos cemiteriais do país, independentemente das suas escalas: “(…) O desejo de emular, sobretudo, as grandes realizações dos Cemitérios parisienses, conduziu à progressiva individualização e monumentalidade das tipologias dos jazigos dos prazeres, à medida que a preconizada visão do cemitério como memorial histórico e genealógico, “museu da morte” e galeria de figuras ilustres (…)” – cf. DIREÇÃO GERAL DO PATRIMÓNIO CULTURAL – Cemitério dos Prazeres. Lisboa: Direção Geral do Património Cultural, 2016, pp. 26 e 27. (4) “(…) Apesar das apreciáveis variações regionais existentes, os cemitérios portugueses do Romantismo assumem maiores características arquitectónicas do que escultóricas. Nos casos de cemitérios mais modestos, o principal investimento era geralmente feito na portaria de cantaria e no seu respectivo portão em ferro, ao passo que, em termos de jazigos particulares, os mais aparatosos alicerçavam-se sobretudo na dimensão arquitectónica como elemento diferenciador. Contudo, a profusão de ornato – por vezes mesmo em excesso, o que foi habitual em alguns túmulos de novos-ricos mais ufanos – e a inclusão de elementos escultóricos de vulto também constituíram frequentes soluções para impor uma imagem mais grandiosa aos túmulos (…)” – cf. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices. Porto: CEPESE, 2010, p. 235.

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-mia local, patenteando esse facto na sua “última do Catolicismo - refletindo, por vezes, alguns cultos morada”. pessoais do próprio sepultado ou dos seus familiares); Assim sendo, do ponto de vista patrimonial, evidenciam-se na extensão planimétrica do Cemitério Oleirense, pela sua raridade estética no panorama local e valia historico-artística: - Alguns “Fragmentos e Lápides / Placas Memoriais”, ornadas com relevos e pormenores escultóricos maioritariamente inspirados nos motivos típicos do “Neogótico português”. Registando-se a sua conceção através da modelagem e trabalho de Cantaria em Mármore e Granito, ou, nalguns casos pontuais, do “talhe / entalhe” da Madeira; - Um número reduzido, mas importante de “Pedestais / Obeliscos / Pirâmides tumulárias de Pedra”, cuja decoração, novamente devedora do gosto finissecular “Revivalista” (de transição entre o século XIX e os inícios do século XX), se revela através de acabamentos de Cantaria e Alvenaria que acolhem no seu volume algumas esculturas / relevos representativos de motivos fitomórficos, florais, vegetalistas ou animalistas; temas ou figuras da “Iconografia da morte” (5), do respeito e tributo aos mortos segundo a religiosidade cristã; assim como de alguns elementos de Imaginária Religiosa (altos e baixos-relevos ou esculturas de vulto alusivos(as) em número superior a representações Marianas – diferentes invocações de Maria, mãe de Jesus – Cristológicas, com a “Crucificação e Morte de Jesus” em maior número, e ainda com a presença pontual de algumas Figuras 71 sagradas masculinas e femininas, de Santos e de Santas

- A estrutura, estética e composição arquitetónica e artística do “Pórtico de Entrada principal deste Complexo funerário”, com vestígios estruturais do século XIX, mas marcado por atualizações posteriores de século XX. Ou seja, enquadrado por dois muros (marcados por acabamentos e frisos retos ou curvados de Cantaria e Alvenaria pétrea, granítica, e coroados por dois pináculos), subsiste um “Portão férreo”, vazado e decorado com profusos motivos fitomórficos e ondulações, datado de 1914 e encimado por uma “Cruz latina” que se demarca pelo seu vazamento e acabamento “cruciforme / floral” da área de interseção do segmento vertical com os “braços da Cruz”, assim como das suas extremidades superior e laterais. Ladeando o próprio “Portão”, aplicados / incrustados nas paredes dos muros subsistem dois “Painéis Azulejares” policromados (com azulejaria pintada através do usos de diferentes cores), resultantes do trabalho artístico de uma “oficina” de produção de azulejaria religiosas denominada de (5) Sobre os ornatos da tumulária portuguesa de finais do século XIX aos alvores do século XX e a “Iconografia da morte”, vide (veja): “(…) Por último, há que mencionar toda a panóplia de ornatos em relevo da tumulária romântica em Portugal. Embora não se trate propriamente de escultura, por vezes assumem estes símbolos um carácter fundamental no monumento. A iconografia da morte romântica e os símbolos profissionais em relevo são os casos mais comuns. Nos cemitérios portugueses, existem exemplos destas tipologias que nada devem aos melhores exemplos europeus da mesma época, não só na habilidade para a execução de ornato realista e naturalista (no caso de flores, por exemplo), mas no valor documental e expressividade. Ainda assim, na época, a pouca capacidade e qualificação dos artífices da pedra portugueses para a anatomia e proporções notase bastante na representação de animais, que tendem a surgir com o mesmo carácter tosco de muitas esculturas (…)” – cf. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices. Porto: CEPESE, 2010, p. 235. .


“CASA PAULA”, situada em território espinhense, como tributo, arquitetura, funcionalidade e planeamento dos comprova a inscrição de autoria que estes “Painéis” espaços tumulares e funerários portugueses (7). patenteiam nos seus friso inferiores (“legenda Fig. 81 “Pórtico / Entrada Principal do Cemitério de São Paio de Oleiros: “Nicho sotoposta”). cultual / Ex-voto exterior” à esquerda do observador aquando do posicionamento Compondo dois “Nichos de culto / Ex-votos” voltados frontal face ao “Portão do Cemitério Oleirense” – Painel Azulejar policromado, da para o exterior do Cemitério de São Paio de Oleiros, em autoria da “Oficina espinhense” “CASA PAULA”, de século XX e alusivo à Iconografia das “Almas do Purgatório”, “amparadas” pela representação de uma termos iconográficos estes registos possuem como tema “Virgem com o Menino” (Maria e o “Menino Jesus” que exibe nas suas mãos dois base a referência visual e tributo cristão pelas “Almas do escapulários) © JFSPO / José C. Amorim. Purgatório”. Deste modo, à direita do observador aquando do posicionamento defronte para o “Portão principal do Cemitério de São Paio de Oleiros”, a par das “Almas do Purgatório” que solicitam auxílio, na área superior do “Painel Azulejar” existe uma invocação à figura de São Miguel Arcanjo, com um nimbo circular envolvendo a sua cabeça, couraçado, como “psicopompo” (na posse de uma “balança”, na mão esquerda, para pesar as “Almas dos humanos falecidos” no seu “Juízo individual”), protetor / defensor das “Almas do Purgatório” e principal combatente da personificação da figura do Demónio, que subjuga a seus pés e ameaça atingir com a espada que eleva na mão direita (6). Alguns dados hagiográficos (“biográficos”), cultuais e iconográficos da figura de No “Painel” existente à esquerda, a figura divina a quem (6) São Miguel: Arcanjo, primeiro príncipe e guardião de Israel; protetor de todos os as “Almas do Purgatório” representadas recorrem, alude povos cristãos; comandante da armada celeste (de Deus) na derradeira batalha o “mal” - tradicionalmente tributado pelos crentes como “Defensor das “Almas a um registo de Iconografia Mariana, onde Maria contra do Purgatório”, responsável pelas etapas finais do Homem (“Juízo individual”), e coroada, suporta e exibe o seu filho, o “Menino Jesus” intercessor pelos justos no “Juízo Final” - vd. Apocalipse 12, 7 – 10.; CAMPOS, A.A. “São Miguel, as Almas do Purgatório e as balanças: Iconografia e veneração na que, nas suas mãos, ostenta dois escapulários de –época Moderna” in Memorandum. N.º 7. Minas Gerais: outubro de 2004, p. 104. & iconografia impercetível. Através destes pormenores e GIORGI, Rosa – Santi. Milão: Electa, 2002, p. 274.). Como José Queiroz afirma: “(…) Nos casos de cemitérios mais modestos, o acabamentos de qualidade superior que dinamizam este (7) principal investimento era geralmente feito na portaria de cantaria e no seu respectivo “Pórtico”, reflexivos da passagem do tempo, cuidado, portão em ferro, ao passo que, em termos de jazigos particulares, os mais alicerçavam-se sobretudo na dimensão arquitectónica como elemento gostos e diferentes estilos pelo Cemitério de São Paio de aparatosos diferenciador (…)” – cf. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - A escultura nos Oleiros, é possível perceber a importância que o “Pórtico cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices. Porto: CEPESE, 2010, p. e a Entrada principal” possuíam na orgânica, culto, 235. 72


Fig. 82 “Pórtico / Entrada Principal do Cemitério de São Paio de Oleiros: “Nicho cultual / Ex-voto exterior” à direita do observador aquando do posicionamento frontal face ao “Portão do Cemitério Oleirense” – Painel Azulejar policromado, da autoria da “Oficina espinhense” “CASA PAULA”, de século XX e alusivo à iconografia das “Almas do Purgatório”, “amparadas” pela representação de “São Miguel Arcanjo que combate uma figura demoníaca, personificadora do Mal” © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 83 “Pórtico / Entrada Principal, com Portão férreo de 1914, do Cemitério de São Paio de Oleiros” – Com estética atual que reflete e miscigena a evolução deste espaço de sepultamento local entre construções e normativas do século XIX e os dias de hoje © José C. Amorim / JFSPO.

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Não obstante toda a relevância dos elementos de arte e arquitetura funerária citados anteriormente, do ponto de vista do “Roteiro Patrimonial” que caracteriza o Cemitério Paroquial de São Paio de Oleiros, o seu “ponto alto”, tanto em termos históricos como construtivos e artísticos, incide sobretudo no conhecimento e visualização dos pormenores das “construções eruditas”, volumes estruturais e decorativos dos “Mausoléus ou CapelasJazigo” que aqui existem, na sua maioria de finais do século XIX e inícios do século XX, essencialmente regrados pelo gosto “Neogótico” do “Romantismo português”. Tanto em Mármore como em Granito, a sua estética demarca-se no contexto local pelos acabamentos escultóricos das suas rosáceas, pináculos esguios e elevados, frontões triangulares e “arcos ogivais ou quebrados” que definem, ao gosto antigo, os seus pórticos de entrada e fachadas. Neste contexto de “Mausoléu ou Capela-Jazigo”, o exemplo superior de qualidade material do Cemitério Oleirense está patenteado no “Mausoléu ou Capela-Jazigo” concretizado em Mármore, dos primórdios do século XX, mas “Romântico” e “Neogótico” que pertence secularmente à descendência do Comendador Joaquim de Sá Couto (1820 – 1902). Onde jazem, entre outros, o próprio Joaquim de Sá Couto, seu Pai, Avó Paterna, Irmã Dona Camila Augusta de Sá Couto (“Senhora da Quinta do Candal em São Paio de Oleiros” (8)), e marido José Moreira Pinto de Almeida (“descendente da Casa da Portela em Paços de Brandão” (9)); assim como os seus testamentários, a “universal herdeira” Dona Emília


Augusta de Sá Couto Moreira (1847 - 1929) (”Senhora da Quinta da Cardenha e da Ponte Redonda” (10)), seu marido, o médico-cirurgião - posterior Conde de São João de Vêr por agraciamento do Rei D. Carlos I (1863 1908), em 1904 - concretizador do legado assistencial solicitado pelo Comendador e primeiro diretor do Hospital-Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde, João Augusto da Cunha Sampaio Maia (1857 - 1938), e respetivos familiares. Tal como nos descreve o Dr. Anthero Monteiro, citando inclusive o “Testamento do Comendador” - um homem natural de São Paio de Oleiros, residente em Espinho à data da sua morte, 24 de janeiro de 1902, mas que privilegiava o regresso à sua “amada naturalidade” - este “Mausoléu ou Capela-Jazigo” existente no centro do Cemitério Oleirense, foi edificado por vontade do próprio Joaquim de Sá Couto, e é atualmente conhecido como “Jazigo dos Condes de São João de Vêr”: “(…) Testamento do Comendador Joaquim de Sá Couto (…) Deixo à vontade do meu testamenteiro tudo quanto disser respeito ao meu funeral (…) querendo, em todo o caso, que o meu cadáver seja conduzido à Igreja da minha freguezia e sepultado no seu cemitério (…) quero que, apoz a minha morte, a dita minha herdeira mande construir no cemitério da minha freguezia (…) um jazigo de família (…)” (11) (8) Vd. SAMPAIO MAIA, Ângelo - “Casa da Torre em Terra de Santa Maria. S. João de Ver. Apontamentos genealógicos e notas da família” (texto revisto e atualizado por Fernando Sampaio Maia) in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 3. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2003, p. 19. (9) Cf. IDEM, Ibidem. (10) Cf. Ibidem. (11) Cf. MONTEIRO, Anthero - “1909 / 2009 - A História do Hospital-Asylo de São

Fig. 84 “Mausoléu ou Capela-Jazigo” do Comendador Joaquim de Sá Couto e seus familiares no Cemitério de São Paio de Oleiros – Construção em Mármore, de estilo “Neogótico”, datado do início do século XX e identificado com a inscrição, no “Frontão triangular”, acima do “Pórtico de entrada”: “Jazigo da Família Sá Couto e Sampaio” © JFSPO / José C. Amorim.

Paio de Oleiros no Centenário da sua inauguração” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 21. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2009, p. 64. Descrição sumária das exéquias fúnebres e sepultamento do Comendador Joaquim de Sá Couto em São Paio de Oleiros: “(…) Segundo a imprensa da época, a rica urna de mogno com os seus restos mortais foi transportada para S. Paio de Oleiros num carro funerário do porto, puxado por três parelhas. O préstito fúnebre formou-se no lugar do Engenho Velho (…) incorporando-se grande número de eclesiásticos e milhares de pessoas deste concelho, Espinho, Porto, Gaia e Ovar (…) realizaram-se solenes exéquias na Igreja Matriz desta localidade (…) Sepultado provisoriamente, o seu corpo foi posteriormente depositado na capela-jazigo de família, situada no centro do cemitério local (…) Uma inscrição existente nesse jazigo diz assim: Toda a vida deixa rasto que fica. Mas o rasto deixado pela obra do Comendador Joaquim de Sá Couto é muito mais uma imensa esteira de luz que não se apagará das páginas da História desta região e de São Paio de Oleiros em particular, terra que cresceu e se impôs ao abrigo do seu espírito magnânimo e empreendedor (…)” - cf. IDEM, Ibidem, pp. 63 e 64. Referência sucinta ao sepultamento de João Augusto da Cunha Sampaio Maia testamenteiro do Comendador - no “Mausoléu ou Capela-Jazigo” da família em S. P. Oleiros: “(…) Faleceu, após prolongada doença, a 8 de Junho de 1938, na Casa da Torre em S. João de Ver, mas o seu corpo foi conduzido, dois dias depois, em carro dos Bombeiros Voluntários da Feira, à Capela do Hospital de S. Paio de Oleiros (…) Logo depois, um extenso préstito em impressionante manifestação de pesar e solidariedade, acompanhou o seu corpo à nossa Igreja Matriz (…) ficou sepultado no jazigo hoje denominado dos Condes de S. João de Ver, no cemitério oleirense (…)” cf. Ibidem, pp. 67 e 68.

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Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos Apocalipse 12, 7 – 10.

2016, pp. 9-33.). QUEIROZ, José Francisco Ferreira - A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910): artistas e artífices. Porto: CEPESE, 2010, p. 235.

SAMPAIO MAIA, Ângelo - “Casa da Torre em Terra de Santa Maria. S. João de Ver. Apontamentos genealógicos e notas da família” (texto revisto e atualizado por Fernando Sampaio Maia) in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 3. Santa Maria da Feira: fevereiro de DIREÇÃO GERAL DO PATRIMÓNIO CULTURAL – 2003, p. 19. Cemitério dos Prazeres. Lisboa: Direção Geral do Património Cultural, 2016, pp. 26 e 27. (Também disponível em linha: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/patrimonio _imovel/classificacao_do_patrimonio/despachosdeabertu raearquivamento/2016/prazeres/er_4.pdf - 04/06/2017, 00 h 15 m.).

CAMPOS, A.A. – “São Miguel, as Almas do Purgatório e as balanças: Iconografia e veneração na época Moderna” in Memorandum. N.º 7. Minas Gerais: outubro de 2004, p. 104.

GIORGI, Rosa – Santi. Milão: Electa, 2002, p. 274.

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MONTEIRO, Anthero - “1909 / 2009 - A História do Hospital-Asylo de São Paio de Oleiros no Centenário da sua inauguração” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 21. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2009, Notas de edição e publicação: pp. 63 a 68. 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. PEREIRA DA ROCHA, José M. – “Memorando sobre os Amorim. alargamentos do Cemitério Paroquial de S. Paio de 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / Oleiros (1885 / 1990)” in Villa da Feira. Terra de Santa esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor). Maria. Ano XIV, n.º 42. St.ª M.ª da Feira: fevereiro de


Património histórico, arquitetónico, cívico & ferroviário de São Paio de Oleiros – A “Linha do Vale do Vouga”


Património histórico, arquitetónico, cívico & ferroviário de São Paio de Oleiros – A “Linha do Vale do Vouga” Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“Sampaio-Oleiros” – Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros – Exemplar de Património, Cultura & Arquitetura ferroviária da secular “Linha do Vale do Vouga”, Por José C. Amorim Figs. 85 & 86 Em cima, “Vista atual da Fachada principal, junto à linha férrea da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” & Em baixo, à esquerda, “Vista atual do Reverso / Traseiras da Estação Oleirense” – Inaugurado em 23 de novembro de 1908 com a passagem do Rei D. Manuel II (1889 - 1932), na atualidade, este exemplar de Património e Cultura ferroviária, não obstante a continuidade da utilização da linha como ponto de circulação férrea, paragem e “Passagem de nível”, não possui qualquer utilização interior © JFSPO / José C. Amorim.

Ao refletir acerca dos estudos, atualmente disponíveis, do levantamento monográfico (futura “Monografia de São Paio de Oleiros”, a publicar), resultantes de um longo trabalho de décadas que o Dr. Anthero Monteiro desenvolveu e continuará a desenvolver em busca da exposição plena das raízes e historial detalhado de São Paio de Oleiros, é possível perceber que grande parte dos “marcos arquitetónicos” e “momentos de manifestação coletiva” que hoje em dia visualizamos e reconhecemos, de forma inequívoca, como pontos-chave e ex-libris do “Património & Identidade” da Vila e das suas gentes, enquadram-se numa cronologia e 77


– não esquecendo que desde 1708, São Paio de Oleiros possuía uma das mais antigas e primeiras unidades fabris de produção papeleira do país – a “revolução industrial” que o século XIX impôs e Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) soube transpor para o panorama Deste modo, apontamentos e acontecimentos fabril oleirense, à sua escala e na vertente papeleira históricos, devocionais e arquitetónicos como a sobretudo, dotaram a Freguesia de maior capital e até estruturação prévia do Cemitério Paroquial com início influência política e religiosa. datado de 1884, a edificação da “Igreja Nova” em 1885, a “Romaria / Festa dedicada a Nossa Senhora da Saúde” De facto, praticamente em todas as vertentes e documentada pela primeira vez em 1897, a inclusão de realizações que no século XIX e alvores do século XX São Paio de Oleiros no trajeto, respetiva conclusão e beneficiaram a população local e contribuíram para o inauguração de um dos troços dos Caminhos de ferro da progresso industrial, cívico e religioso do território, “Linha do Vale do Vouga”, com passagem do Monarca D. existem, em certa medida, alguns denominadores Manuel II (1889 - 1932) e respetiva comitiva pela Estação comuns. local em 1908 e, a 6 de janeiro de 1909 a conclusão da primeira fase construtiva e inauguração oficial do Hospital Sem esquecer o papel de outras personalidades, com Asylo de Nossa Senhora da Saúde, demonstram que na responsabilidades administrativas e eclesiásticas, ou sua História contemporânea, São Paio de Oleiros viveu simples anónimos civicamente ativos que sempre alguns dos períodos áureos em termos de afirmação pugnaram pela evolução local, ao abordar o progresso comunitária e patrimonial. vivido em São Paio de Oleiros a partir das últimas décadas de oitocentos, é obrigatório citar o sucesso A reboque, em parte, de algum progresso da região e empresarial e a predisposição filantrópica do do país, com demonstrações de unidade e realizações Comendador Joaquim de Sá Couto, as linhas sociais, públicas muitas vezes de amplo alcance social e religiosas e humanitárias do seu Testamento de 14 de humanitário, que visavam a eliminação de carências e a março de 1899 em benefício da Freguesia (cruciais, de promoção de melhorias em termos de espaços, certa forma, para a afirmação local do culto a Nossa valências, equipamentos e serviços, este momento Senhora da Saúde; para a melhoria da “Igreja Nova” & cronológico do território oleirense reflete a própria “Cemitério Paroquial”; e para o subsídio da construção conjetura que o envolveu, de alguma, para não dizer em solo oleirense, de um dos maiores monumentos bastante prosperidade, em termos populacionais, médicos, caritativos e de beneficência do País, o Hospital eclesiásticos, administrativos e industriais. Nesse campo Asylo de Nossa Senhora da Saúde). Assim como, a conjuntura muito própria, de transição de centúria, verificada entre os finais de oitocentos (de 1884 em diante), e os alvores do século XX (sobretudo 1908 & 1909).

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devida continuidade, gosto e deferimento que o seu testamenteiro - Primeiro conde de São João de Ver - e grande parte da sua descendência (a família “Sampaio Maia”), deram à obra e desígnios deste vulto. Como o Dr. Anthero Monteiro sublinha de forma mais aprofundada num artigo intitulado “S. Paio de Oleiros e a Inauguração da Linha do Vale do Vouga” (MONTEIRO, Anthero – “São Paio de Oleiros e a inauguração da Linha do Vouga” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 20. Santa Maria da Feira: outubro de 2008, pp. 55 a 59.), também na própria passagem da linha férrea e existência de um belo exemplar, datado de 1908, de Património, Cultura e Arquitetura ferroviária em São Paio de Oleiros, o legado familiar do já falecido Comendador, 87 “Perspetiva aérea da localização, linha férrea, “complexo” e dinâmica sobretudo a intercessão e influências no panorama social Fig. arquitetónica atual da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros e político da época do seu testamenteiro, Dr. João (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © Imagem extraída de: Augusto da Cunha Sampaio Maia (1857 - 1938) e http://mapcarta.com/28374952 - 29/03/2017, 22 h 55 m. respetiva família, tiveram um papel preponderante para a Aliás, pela cronologia possível de traçar através do integração da Estação “Sampaio-Oleiros” no troço da estudo do Dr. Anthero Monteiro sobre “S. Paio de Oleiros “Linha do Vale do Vouga”. e a Inauguração da Linha do Vale do Vouga”, tanto nos momentos de lançamento, a partir de 1900, como de Pela insistência da vizinhança, via política e adjudicação da obra, em 1906, assinatura do contrato proximidade do Conde e seu cunhado, José de Sá Couto definitivo e início efetivo das obras em 1907, Oleiros Moreira, com o Eng.º André José Ferreira Borges de estaria fora das “Estações” a edificar. Efetivamente, só a Proença Vieira (1864 - 1927) – “Primeiro Visconde de partir de registos de imprensa de julho de 1908, meses Assentiz” e outorgante no contrato celebrado com o antes da inauguração de novembro, é possível Governo português, pela concessionária responsável da percecionar que tal construção fora viabilizada, sobretudo construção do troço férreo do Vale do Vouga que pela intercessão da família “Sampaio Maia” junto do “1.º atravessa São Paio de Oleiros – cruzaram-se forças e Visconde de Assentiz” e pelo facto da própria linha interesses que propiciaram a inserção de uma “Estação” atravessar, em geografia oleirense, um terreno próximo em São Paio de Oleiros, inicialmente excluída do ao Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde, o monumento percurso de paragens da “Linha do Vale do Vouga”. médico e caritativo que a partir de 1909 iria servir, entre

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outros, os concelhos de Espinho e Santa Maria da Feira (à época, “Villa da Feira”). Sobre estes factos, vejamos as considerações do Dr. Anthero Monteiro: “(…) A Gazeta d’Espinho referia, em 12 de Julho de 1908 que o deputado Dr. Egas Moniz tinha em seu poder representações das juntas de paróquia de Lamas, Mozelos e Oleiros, a solicitar uma estação na freguesia de Oleiros (…) Constava, então, que a Companhia considerara o pedido como justo e estava pronta a fazer a estação, faltando apenas a aprovação governamental. As representações seguiram para o Ministério das Obras Públicas, e o Senhor Ministro responderia que iria «tomar na devida consideração o pedido do ilustre deputado». No dia 26 do mesmo mês, a Gazeta relatava que a linha estava pronta praticamente até à Vila da Feira e que os trabalhos de construção das estações iam adiantados, parecendo «definitivamente assente o apeadeiro de Oleiros, o que é um incontestável melhoramento n’ aquela freguesia e outras visinhas, sobretudo Nogueira, Mosellos e Lamas». Não terão sido apenas as representações da junta local e das vizinhas ou a necessidade de contemplar as empresas da zona o que terá provocado a inflexão nas decisões relacionadas com as estações inicialmente previstas. Era também a existência daquele Hospital-Asilo, que iria servir os concelhos de Espinho e da Feira, causa a que não faltou certamente a intervenção bairrista dos familiares do Comendador Sá Couto, já falecido, nomeadamente o peso político do Conde de S. João de Ver, seu testamenteiro e responsável por erigir aquela obra de alto valor humanitário (…) Ora, o Engenheiro Proença Vieira integrara, em Março de 1908, uma Comissão que foi a Lisboa interceder junto do Ministério das Obras Públicas pela defesa da costa de Espinho (…) Dessa Comissão fazia parte, entre outros, o Conde de S. João de Ver. Eram, portanto, conhecidos e amigos (…) Também não será apenas coincidência que, alguns meses depois, José de Sá Couto Moreira, cunhado 80

do Conde, certamente reconhecido pelos determinantes obséquios recebidos do Eng.º Proença Vieira, tenha proposto, com êxito, à Junta de Paróquia de Oleiros que fosse dado o nome do Visconde à rua que sai da estação e segue para oeste paralela à via-férrea (…)” (1)

Fig. 88 “Carta Postal de 22 de março de 1909” – Assinada pelo “Visconde d’Assentiz” e endereçada a José de Sá Couto Moreira, como forma de agradecimento pela intercessão do cunhado do 1.º Conde de São João de Ver junto da “Junta da Paróquia de São Paio de Oleiros”, para que uma das ruas próximas à Estação e linha férrea Oleirense obtivesse o desígnio de “Rua Visconde de Assentiz” © Anthero Monteiro (Imagem extraída de: MONTEIRO, Anthero – “São Paio de Oleiros e a inauguração da Linha do Vouga” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 20. Santa Maria da Feira: outubro de 2008, p. 58.).

(1) Cf. MONTEIRO, Anthero – “São Paio de Oleiros e a inauguração da Linha do Vouga” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 20. Santa Maria da Feira: outubro de 2008, pp. 55 a 58.


“Rua do Ateneu”

“Rua Visconde de Assentiz” 00

“Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga”

Fig. 89 “Perspetiva aérea da localização, linha férrea, “complexo” e dinâmica arquitetónica atual da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” e da própria rua local tributada ao “Primeiro Visconde de Assentiz” © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.9827513,8.5939238,125a,35y,351.41h,45t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb:0x 3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 30 / 03 / 2017, 00 h 03 m.

das Estações, sobretudo de média dimensão, da “Linha do Vale do Vouga”, a Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros – identificada, talvez pelo influxo da família “Sampaio Maia” na sua aprovação e edificação, pelo termo, patente num friso da Fachada principal e Alçados laterais, “Sampaio-Oleiros” (MONTEIRO, 2008, p. 58) – caracteriza-se pela definição de um pequeno “Complexo”, maioritariamente aberto e de acesso livre, defronte para o Caminho de Ferro e passível de divisão, no seu “Edifício central”, em três blocos / segmentos / divisões. Devidamente acompanhadas por um pequeno anexo independente e um “Mecanismo metálico”, de combinação de rodas dentadas e cabos de aço – atualmente inutilizado e substituído por sistemas mecânicos automatizados e ausentes do fator humano – capaz de controlar, no passado, à distância e através de manuseamento, a descida e elevação das barreiras sinalizadoras para interrupção de tráfego rodoviário na “Passagem de nível” resultante desta ferrovia e Estação.

O traçado e a estética da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros – Exemplar de Património, Cultura & Arquitetura ferroviária da secular “Linha do Vale do Vouga” “(…) Toda a região que a linha percorre é na realidade interessante (…) verdadeiramente encantadora (…) partindo de Espinho (…) até à estação de Oleiros, de onde principia então a descer-se, sempre por entre pinhaes e campos verdes (…)” Cf. Ilustração Portugueza. II Série, N.º 150. Lisboa: 4 de janeiro de 1909, p. 833.

Seguindo a norma, o traçado e a estética arquitetónica que rege e demarca pela sua singularidade a maior parte

Fig. 90 Panorâmica atual da Fachada principal, junto à linha férrea, da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” – Inaugurado em 23 de novembro de 1908 com a passagem do Rei D. Manuel II, na atualidade, este exemplar de Património e Cultura ferroviária, não obstante a continuidade da utilização da linha como ponto de circulação férrea, paragem e “Passagem de nível”, não possui qualquer utilização interior © JFSPO / José C. Amorim.

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acelerada para o Norte do Mondego”, aprovado pela elite governativa.

Fig. 91 Panorâmica atual do Reverso / Traseiras da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” – Inaugurado em 23 de novembro de 1908 com a passagem do Rei D. Manuel II, na atualidade, este exemplar de Património e Cultura ferroviária, não obstante a continuidade da utilização da linha como ponto de circulação férrea, paragem e “Passagem de nível”, não possui qualquer utilização interior © JFSPO / José C. Amorim.

Com construção rigorosa, “sólida, perfeita”, com trabalhos de Cantaria e Alvenaria “inexcedíveis e acabamento aprimorado”, segundo descreve a “Ilustração Portugueza” de 4 de janeiro de 1909 (2), a Estação Oleirense – aprovada e lançada apenas em julho de 1908, pelas razões anteriormente referidas e a parcos meses da viagem inaugural de 23 de novembro desse mesmo ano - à semelhança das restantes do primeiro troço do Vale do Vouga, resultou de um projeto e empreitada dirigida pela Compagnie Française pour la Construction et Exploitation de Chemins de Fer à l’Étranger – representada nacionalmente pelo Eng.º André José Ferreira Borges de Proença Vieira (1864 1927) – “Primeiro Visconde de Assentiz”, que articulado com o Governo português e o Eng.º francês François Mercier, deu provimento, a partir de 1907, ao contrato celebrado em 1906, obra adjudicada e processo construtivo de uma ferrovia há muito almejada no Vale do Vouga, que desde 1900 figurava no “Plano de viação

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Fig. 92 Registo do “Mecanismo metálico”, posterior a 1908 e existente no “Complexo” da Estação Oleirense - De combinação de rodas dentadas e cabos de aço – atualmente inutilizado e substituído por sistemas mecânicos automatizados e ausentes do fator humano – capaz de controlar, no passado, à distância e através de manuseamento, a descida e elevação das barreiras sinalizadoras para interrupção de tráfego rodoviário na “Passagem de nível” resultante desta ferrovia e Estação © JFSPO / José C. Amorim.

Inaugurado com “pompa e circunstância” segundo os costumes da época, figurando o itinerário de passagem e até paragem para contemplação e embarque de dignitários locais, do “Comboio Real” que transportou D. Manuel II em 23 de novembro de 1908, o “Edifício / Bloco central” da Estação de São Paio de Oleiros, de três frentes visíveis a partir da circulação na linha (Fachada principal e Alçados laterais), “reverso / traseiras” de acesso pedestre, três níveis ou desníveis de “Telhados de duas águas” (de formato triangular), Alpendres e três segmentos de planimetria retangular, variáveis no seu volume e extensão, mas unidos entre si, seguiria, (2) “(…) Toda a parte technica, n´esse primeiro troço (…) foi irreprehensivelmente executada com solidez e perfeição, sendo as obras de arte, todas de cantaria e alvenaria, inexcedíveis em primor de acabamento (…)” – cf. Ilustração Portugueza. II Série, N.º 150. Lisboa: 4 de janeiro de 1909, pp. 835 e 836.


segundo o descritivo da “Ilustração Portugueza” de 4 de janeiro de 1909 e à imagem das “construções homónimas” deste troço, “um tipo pitoresco, semelhante ao dos caminhos de ferro económicos franceses das linhas da Sabóia” (3). Ou seja, pela origem gaulesa da Concessionária e Companhia responsável pelo projeto, e sobretudo pela importância que a França atingiu no contexto do progresso europeu dos fins do século XIX e início do Fig. 93 Vista atual do Reverso / Traseiras da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” – Inaugurado em 23 de novembro de 1908 com a passagem do Rei D. Manuel II, na atualidade, este exemplar de Património e Cultura ferroviária, não obstante a continuidade da utilização da linha como ponto de circulação férrea, paragem e “Passagem de nível”, não possui qualquer utilização interior © JFSPO / José C. Amorim.

século XX – tida como referência em Portugal nas mais variadas áreas, inclusive nos Caminhos de Ferro, onde o seu pioneirismo foi declarado e amplamente expandido e/ou reproduzido (4) – as Estações do Vale do Vouga, em particular a de “Sampaio-Oleiros”, assemelhavam-se à estrutura, pressupostos construtivos e estética das “Gares ou Petites Gares” edificadas em solo gaulês pela Companhia “Paris-Lyon-Mediterranée” (Compagnie des chemins de fer de Paris à Lyon et à la Méditerranée). Identificadas pelos acabamentos de Cantaria e Alvenaria,

perfil rústico, Telhados de duas águas, Alpendres e Edifícios centrais, muitas vezes subdivididos em três segmentos de planta retangular variável, serviços e divisões. Figs. 94, 95 & 96 Em cima, “La Gare Ballancourt” / Ao centro, “La Gare Maisse-Nilly” & Em baixo, “La Gare Fontvieille” – Construções de âmbito ferroviário, do início do século XX e da responsabilidade da Compagnie des chemins de fer de Paris à Lyon et à la Méditerranée. Três exemplos da planimetria tipo, acabamentos e estética corrente das Estações desta Companhia francesa que, segundo a Ilustração Portugueza de 4 de janeiro de 1909, serviram de ponto de partida e/ou inspiração para as Estações da Linha do Vale do Vouga (onde a Estação Oleirense se insere) © Imagem 94 extraída de: https://upload.wikimedia.org/wikipedi a/commons/3/39/Gare-deBallancourt-Carte-postale-2.jpg 31/03/2017, 00 h 42 m. / Imagem 95 extraída de: http://www.wikiwand.com/fr/Gare_de _Maisse - 31/03/2017, 00 h 42 m. & Imagem 96 extraída de: http://marcandredubout.org/cf/lvdc/lvdc0168/arlesalo02.jpg - 31/03/2017, 00 h 52 m.

(3) “(…) As estações são de um Typo Pittoresco, semelhantes às dos Caminhos de Ferro económicos francezes, construídos nos últimos annos e às das Linhas da Saboia pertencentes à Companhia Paris-Lyon-Mediterranée (…)” – cf. Ilustração Portugueza. II Série, N.º 150. Lisboa: 4 de janeiro de 1909, p. 836. (4) Desde a Cultura às Artes, à Política, à estruturação e ambiência social, à Moda, à Gastronomia e às próprias construções, a “matriz francesa” marcou e influenciou grande parte das sociedades europeias entre os finais do séc. XIX e os princípios do séc. XX. Em busca do “progresso e gosto em voga”, é muito comum encontrar em Portugal, na própria imprensa e periódicos desta cronologia, registos de diversas áreas da ação social, educacional, artística e construtiva que referem o seguimento, de forma quase “religiosa”, das diretrizes “à francesa”.

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Figs. 97, 98 & 99 Em cima, “Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” / Ao centro, “Estação de Caminhos de Ferro de Santa Maria da Feira (“Villa da Feira”), da “Linha do Vale do Vouga” & Em baixo, “Estação de Caminhos de Ferro de “Eixo-Sernada do Vouga” – Exemplos de uniformidade plástica e arquitetónica, de influência francesa e expressivos da norma construtiva, planimetria, composição, organização espacial e combinação de volumes, estética corrente, acabamentos de Cantaria e Alvenaria, tipo de Alpendres e “Telhados de duas águas” que regraram as construções, finalizadas em 1908, das Estações típicas da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim. / Imagem 98 extraída de: http://mapio.net/pic/p64102963/ 31/03/2017, 01 h 16 m. & Imagem 99 extraída de: http://valefumaca.blog spot.pt/2013/08/aveirosernada-do-vougaiii.html - 31/03/2017, 01 h 17 m.

Amplamente reconhecida, no seu historial de atividade, pelo zelo e beleza (tanto na arquitetura como nos jardins), que os “Chefes de Estação” que aqui exerceram a sua função se orgulhavam de providenciar e garantir, na atualidade, apesar da continuidade da passagem e paragem diária do dito “Vouguinha” (vernáculo local que identifica o comboio que figura nesta linha), o Edifício da Estação “Sampaio-Oleiros” da “Linha do Vale do Vouga” não possui, no século XXI, qualquer uma das funções que assumiu a partir de 1908, nomeadamente de controlo de tráfego ferroviário ou gestão de passageiros. Ausente de “Chefe de Estação” ou de outro membro dos quadros de pessoal da CP - Comboios de Portugal (entidade tutelar da linha desde 1947, que substituiu o típico e acolhedor fator humano que diferenciava as Estações do Vale do Vouga, por sistemas automatizados), “preserva-se” o “Complexo” e o Património arquitetónico, cívico e ferroviário da Estação, longe do brio de outros tempos. Caso único da Cultura ferroviária local, acompanhado por pequeno anexo independente, com “Telhado de duas águas”, usado no passado como valência sanitária / espaço de Casas de banho públicas, o “Bloco central” do Edifício da Estação Oleirense, servido apenas por uma linha férrea – contrastando com as duas que em momentos anteriores, desde 1908 aqui existiam e são visíveis num postal de 1975 (reproduzido pela Fig. 100) – demarca-se pelos três segmentos / divisões, unidos(as) e comunicantes, de planta retangular variável e rematados por “Telhados de duas águas”, singulares e desnivelados entre si. Com acabamentos de Cantaria e Alvenaria


pétrea – que se destacam pelo contraste que concretizam através da combinação com a velatura de branco que preenche, praticamente na sua totalidade, as paredes do Edifício – visíveis na base, pórticos, janelas, frestas, aberturas e vértices, não obstante a existência de um piso/andar superior, de cariz residencial que albergaria a vivência do “Chefe de Estação” em exercício, do ponto de vista público e funcional, o piso térreo da Estação “Sampaio-Oleiros” incorporava três áreas comunicantes. Fig. 100 “A existência de duas linhas (assinaladas por “setas vermelhas”),ao serviço da Estação “Sampaio-Oleiros” - Postal evocativo da Estação de Comboios de São Paio de Oleiros (“Linha do Vale do Vouga”), em 13 de março de 1975 © Arquivo imagético da Biblioteca Pública de S. P. Oleiros & Arquivo imagético da JFSPO.

A primeira, de planta retangular e acesso livre, coberta, com dois pórticos de acesso (um no seu anverso – frente – e o outro nas traseiras – reverso), mas ausente de portas, utilizada desde 1908 como “zona de espera” por passageiros, munida de bancos de madeira pintados a verde e aplicados sobre as suas paredes. A segunda, “nevrálgica”, no centro do Edifício, com portas de madeira pintadas a verde na sua frontaria e reverso, serviria, a partir de 1908 e até à sua inutilização, como espaço administrativo, bilheteira e área de controlo de tráfego de passageiros e/ou bagagem / mercadoria.

A terceira e última, com dois Alpendres resultantes do avanço das extremidades do seu “Telhado de duas águas”, serviria de “cais de embarque” / apoio ao embarque de passageiros, bagagens, carga e descarga / armazenamento de materiais e mercadoria. 1.º Bloco retangular do Edifício central da Estação Oleirense: Piso térreo - “Zona de espera” & Piso / Andar superior – “Segmento residencial da Estação” para a figura do antigo “Chefe de Estação”.

Fig. 101 “Bloco central”, Frontaria & Alçados da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim.

2.º Bloco retangular (centralizado), do Edifício da Estação Oleirense: Piso térreo - “Antigo espaço administrativo, bilheteira e área de controlo de tráfego de passageiros e/ou bagagem / mercadoria” & Piso / Andar superior – “Segmento residencial da Estação” para a figura do antigo “Chefe de Estação”.

3.º Bloco retangular do Edifício central da Estação Oleirense: “Cais de embarque / apoio ao embarque de passageiros, bagagens, carga e descarga / armazenamento de materiais e/ou mercadoria”, com dois Alpendres.

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Fig. 102 “Maquete / reprodução miniatural e motorizada de 2016 - da autoria da empresa Metalkit e apresentada na “Locomodels Expo 2016” - Ilustrativa do tráfego e passado da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © Metalkit (Imagem extraída de: http://webrails.tv/tv/?p=26331 – 31 / 03 / 2017, 16 h 39 m.

e caixilharias de janelas e o cinza típico da pedraria aplicada. Sem dúvida, marcas indeléveis que identificam a raridade do Património ferroviário das Estações que proliferam pelo troço da “Linha do Vale do Vouga”. E, em São Paio de Oleiros são sinónimo de uma “Cultura ferroviária” passível e merecedora de preservação perpétua, não apenas na memória e imaginário, mas na continuidade da sua existência física, valorização do seu legado e expressão estética.

Fig. 103 “Maquete / reprodução miniatural e motorizada de 2016 - da autoria da empresa Metalkit e apresentada na “Locomodels Expo 2016” - Ilustrativa do tráfego e passado da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © Metalkit (Imagem extraída de: http://webrails.tv/tv/?p=26331 – 31 / 03 / 2017, 16 h 42 m.

Telha de Barro, Cantaria de Pedra (granítica), Ferro, Madeira para portas, caixilharias e suporte / recobro lateral dos Alpendres, ajudariam a criar a dinâmica visual do espaço da Estação Oleirense, devidamente enquadrada pela paisagem urbana e natural que a envolve (entretanto bastante alterada desde 1908). Em termos cromáticos, a par dos frisos que na Fachada e Alçados laterais identificam a estação como “Oleiros” e “Sampaio-Oleiros”, a predominância de branco que preenche grande parte das paredes de argamassa erigidas é diminuída pelo laranja dos “Telhados de duas águas”, os verdes de algumas portas 86


Figs. 104 & 105 “Diferentes vistas do “Complexo”, “Bloco central”, Frontaria, Reverso & Alçados da Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim.

“Anexo independente”, com “Telhado de duas águas” e possível utilização, no passado, como espaço de “Sanitários / Casa de banho de serviço” da Estação Oleirense. “Entrada”, ausente de portas, mas com pórtico definido por acabamentos de Cantaria e Alvenaria pétrea, para uma área utilizada desde 1908 como “Zona de espera”, de acesso livre, da Estação Oleirense. Equipada, desde a sua estruturação primitiva, com bancos de madeira pintados a verde, corridos e incrustados em parte das paredes deste perímetro.

“Pormenores de alguns dos acabamentos de Cantaria e Alvenaria” que “dinamizam” a base, os pórticos, as janelas e os vértices da construção (tanto no seu anverso – frente – como no seu reverso – traseiras). Contrastantes com a velatura de branco que predomina nas paredes erigidas, o cinza da estrutura de suporte dos Alpendres, o verde escuro que preenche as madeiras utilizadas nas portas e caixilharia, e o laranja das telhas aplicadas.

“Bloco central da construção”, com espaço administrativo e de bilheteira da Estação Oleirense (utilizado desde 1908, mas atualmente desativado para esse efeito) no piso térreo, adoçado à já referida “Zona de espera” e munido de piso / andar superior que possuiria equipamentos e dependências propícias à residência permanente do “Chefe de Estação”. Responsável pelo seu tráfego, segurança, labor e zelo.

“Telhados de duas águas”, subdivididos e distribuídos por três níveis e desníveis, correspondentes aos três “Blocos” principais do Edifício. Cuja tonalidade laranja demarca a identidade da Estação Oleirense.

Dependência apensa, delimitando um possível espaço que, após 1908 e durante a “vida ativa” do Edifício primitivo da Estação Oleirense, terá cumprido funções de antigo “Cais de Embarque ou apoio ao embarque de passageiros, bagagem e/ou mercadorias”. Formalmente, este volume com três portas de madeira e uma abertura superior de formato circular, caracterizase pelo “Telhado de duas águas” que se expande, nas faces posterior e anterior, ao perímetro de implementação do “Bloco central do Edifício”, formando duas zonas cobertas, de “Alpendre”, apoiadas pelas devidas estruturas de madeira, pintadas em tonalidade cinza, visíveis nas suas laterais.

“Mecanismo metálico”, posterior a 1908 e existente no “Complexo” da Estação Oleirense, de combinação de rodas dentadas e cabos de aço – atualmente inutilizado e substituído por sistemas mecânicos automatizados e ausentes do fator humano.

Estrutura pétrea e metálica que, no séc. XXI, substituiu o uso do Edifício da Estação Oleirense de 1908, no serviço de passageiros da “Linha do Vale do Vouga”.

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Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos

http://valefumaca.blogspot.pt/2013/08/aveiro-sernada-dovouga-iii.html - 31/03/2017, 01 h 17 m. http://webrails.tv/tv/?p=26331 – 31/03/2017, 16 h 39 m.

Ilustração Portugueza. II Série, N.º 150. Lisboa: 4 de http://webrails.tv/tv/?p=26331 – 31/03/2017, 16 h 42 m. janeiro de 1909, pp. 833 a 837. MONTEIRO, Anthero – “São Paio de Oleiros e a inauguração da Linha do Vouga” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 20. Santa Maria da Feira: outubro de 2008, pp. 55 a 59.

Fig. 106 A atual máquina férrea do “Vouguinha” na sua passagem pela “Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“Sampaio-Oleiros”), da “Linha do Vale do Vouga” © JFSPO / José C. Amorim.

http://mapcarta.com/28374952 - 29/03/2017, 22 h 55 m. https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+ Oleiros/@40.9827513,8.5939238,125a,35y,351.41h,45t/data=!3m1!1e3!4m5!3m 4!1s0xd2478e88abc45fb:0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40 .9890047!4d-8.5968868 - 30/03/2017, 00 h 03 m. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/39/Gar e-de-Ballancourt-Carte-postale-2.jpg - 31/03/2017, 00 h 42 m. http://www.wikiwand.com/fr/Gare_de_Maisse 31/03/2017, 00 h 42 m.

-

http://marc-andre-dubout.org/cf/lvdc/lvdc0168/arlesalo02.jpg - 31/03/2017, 00 h 52 m. http://mapio.net/pic/p-64102963/ - 31/03/2017, 01 h 16 m. 88

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor).


Património & “Arqueologia médica”, filantropia & religiosidade: Complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de São Paio de Oleiros


“Património & “Arqueologia médica”, filantropia & religiosidade: Complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de São Paio de Oleiros Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

Complexo do antigo “Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde”, Por José C. Amorim

da população, o Ministério da Saúde o encerrou para efeito hospitalar, no seu interior conserva-se um espólio capaz de originar um “Museu”, crucial para a perceção da História e evolução da “Medicina Moderna” em Portugal.

Na atualidade, a par da Capela dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde (utilizada em parte da “Romaria de agosto”), este Complexo, após algumas ações de reabilitação, alberga a “Unidade de Saúde Familiar” (“Posto médico”), e sedia algumas Instituições / Associações locais (casos da “Fundação Sá Couto”; “Fundação Sanitus”; Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares; Biblioteca Fig. 107 Parte da fachada e estruturas arquitetónicas “primitivas” do Complexo do antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde © JFSPO / José C. Amorim. Pública, Associação Musical Oleirense e Agrupamento Construído de raiz sob planta de Adães Bermudes Escuteiros 1397 de São Paio de Oleiros). (1864 - 1948) - a partir de 1903 / 1904 -, por vontade, testamento e doação do Comendador Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) e inaugurado em 1909, o Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde foi um Complexo médico e caritativo que serviu a Freguesia, o Concelho feirense e muitos Concelhos vizinhos; chegando mesmo a ser um dos espaços Hospitalares mais emblemáticos da área geográfica do “Entre Douro & Vouga”. Ativo até 1998, momento em que, contra a vontade

Fig. 108 Comendador Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

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Fig. 109 Exemplar integrante do acervo de “Arqueologia médica & hospitalar” do antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros: “Cadeira de parto” (fotografada em 2015, aquando de exposição externa na área correspondente ao espaço do Fórum Social da Freguesia de São Paio de Oleiros, no “IV Mosaico social da Rede Social de Santa Maria da Feira”) - Passível de destaque e inclusão nas diferentes coleções daquele que se poderá constituir, num futuro próximo, como o “Arquivo-Museu da Medicina contemporânea do Antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros (1909-1998)”, esta estrutura que combina metal, tecido e plástico, datável do século XX - cujo historial indica que sob a sua utilização nasceu mais de metade do concelho de Santa Maria da Feira e arredores – integrou, até à sua dissolução em 1998, os serviços de Maternidade, Obstetrícia e Ginecologia (implementados e melhorados com os alargamentos das décadas de (19)60, (19)70 e (19)80), do antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros. Coleção de “Arqueologia médica & hospitalar” conservada no interior do edifício central (acessível pela entrada e fachada primitiva), do Complexo do antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde © JFSPO / José C. Amorim.

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Fig. 110 Frontaria da Capela dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde, integrada no Complexo do antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde © JFSPO / José C. Amorim.


Património & “Arqueologia médica”, filantropia & religiosidade: Complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de São Paio de Oleiros “Elementos para a História do Hospital-Asilo de S. Paio de Oleiros” Texto, seleção de imagens & legendagem por Anthero Monteiro

Elementos para a História do Hospital-Asilo de S. Paio de Oleiros, Por Anthero Monteiro

Em 2016, S. Paio de Oleiros comemorou com regozijo os 25 anos da sua Vila. No entanto, não conseguirá nunca esquecer que, 7 anos depois de conquistar esse estatuto urbano, ou seja em 1998, o seu Hospital foi desativado e passou o testemunho ao Hospital de S. Sebastião, na sede do concelho, o qual entrou em pleno funcionamento no dia 4 de janeiro do ano seguinte. Ficou, então, a pairar sobre a nossa Vila, uma nuvem de profunda amargura pela perda daquele seu ex-libris, um enorme empreendimento humanitário, que foi seu, do seu concelho e dos municípios limítrofes, pois a todos serviu durante quase 90 anos. Estava, pois, escrito que, no dia de Reis de 2009, data em que se comemoraria o 100.º aniversário da inauguração do Hospital, a lembrança da falta que faz sobretudo aos Oleirenses tenha adensado ainda mais aquele travo amargo, que só se extinguirá quando esta Vila for, pelo menos, convenientemente ressarcida dessa “usurpação”.

Fig. 111 Perspetiva geral da Entrada principal, Frontaria do edifício primitivo e posteriores acrescentos do “Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde” de São Paio de Oleiros em momento de atividade hospitalar, antecedente ao seu encerramento de 1998 © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

Isso não nos impede de aqui deixar um esboço da sua história, na certeza do quanto contribuiu para o

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crescimento da Vila oleirense e do quanto foi, à sua volta e para muitos milhares, alívio na dor e milagre sempre esperado na doença.

1. Biografia do Comendador Joaquim de Sá Couto

Esta vultuosa obra ficou a dever-se à magnanimidade de um Oleirense, que pôs a sua fortuna ao serviço do desenvolvimento da sua terra e das circunvizinhas. Esse benemérito chamou-se Joaquim de Sá Couto e, por isso, importa, desde já, conhecer-lhe os principais traços biográficos. Conheceremos, depois, em pormenor o teor do seu testamento e um pouco da vida e da ação do testamenteiro, o Conde de S. João de Ver, que realizou o sonho do Comendador. Enfim, recordaremos o memorável dia da inauguração daquela obra de largo alcance filantrópico e arrolaremos, como pudermos, algumas datas que marcaram o seu crescimento, esplendor e declínio.

O Comendador Joaquim de Sá Couto nasceu em S. Paio de Oleiros a 26 de março de 1820. A mãe, D. Custódia Maria da Costa, faleceu pouco depois, pelo que «viveu quase desde os primeiros anos entregue aos cuidados de sua avó paterna, D. Josepha de Barros» (1). Seu pai, o industrial José de Sá Couto, foi o primeiro a construir uma casa de pedra e cal em Espinho, por volta de 1843, na Praça Velha, há muito levada pelo mar. Joaquim de Sá Couto era tio de D. Emília Augusta de Sá Couto Moreira Sampaio, esposa do Sr. Dr. João Augusto da Cunha Sampaio Maia, Conde de S. João de Ver, e dos senhores José de Sá Couto Moreira e Adriano de Sá Moreira Pinto. Disse dele o sobrinho-conde, que por ele viria a ser nomeado seu testamenteiro: Activo e inteligente, dedicou-se desde tenra idade ao comércio e conseguiu ver coroados os seus esforços, encontrando-se dentro de pouco tempo habilitado a adquirir a fábrica de papel da Cardenha do Candal de Baixo (2), onde explorou por largos anos o fabrico de papel. Concorreu como produtor e expositor a várias exposições nacionais e internacionais e teve o prazer e a glória de ver premiados os produtos da sua indústria na Exposição Industrial de 1861, na Exposição Agrícola de Braga de 1863, na Exposição

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Fig. 112 Comendador Joaquim de Sá Couto (1820 - 1902) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

(1) Conde de S. João de Ver, Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saude na Freguezia d’Oleiros Concelho da Feira, Porto, Officinas do Commercio do Porto, 1908. (2) Esta fábrica, segundo Pinho Leal, foi fundada em 1811.


Internacional Portuguesa de 1865, na Exposição Universelle à Paris de 1867, na Weltansntellung 1870 em Viena e na Exposição Universal de 1878 (3).

legou à terra que lhe fora berço uma parte do produto dos seus passados labores, que pudesse mitigar lágrimas de dor e desconforto, de fome e desolação. E assim, com o generoso e avultado legado de 120 contos de réis, habilitou o seu testamenteiro a mandar levantar este belo monumento de caridade, em harmonia com as suas disposições testamentárias (5).

Participou ativamente na política do seu tempo, tendo sido chefe do Partido Progressista da Feira, foi vereador e «por vezes, serviu como presidente da Câmara da Feira» (4), lugar onde, segundo Sousa Costa, «muito Também Espinho foi beneficiado pelo trabalho pugnou pelos interesses de Espinho». filantrópico do Comendador. Azevedo Brandão refere que, para além de ter conseguido, como se disse, o Mantendo as melhores relações com o Conselheiro apeadeiro ferroviário, «dirigiu a construção da capela de Anselmo Brancamp, com D. António Alves Martins, Bispo Nossa Senhora da Ajuda e presidiu à Comissão de de Viseu, e com o Conselheiro Luciano de Castro, todos Auxílio às vítimas do mar». A este propósito, o primeiro eles habituais veraneantes em Espinho e na Praia da historiador de Espinho, o Padre André de Lima, recorda Granja, conseguiu transformar uma pequena casa da «um gesto seu», bastante para provar o quanto lhe deve guarda de passagem de nível, existente na altura perto Espinho: da atual Rua 19, num apeadeiro, que passou depois a Estação dos Caminhos-de-Ferro e foi inaugurada em 17 A partir de 1863 impôs-se a necessidade de substituir os de setembro de 1875. velhos “palheiros” de madeira, de varandas esbeiçadas Sá Couto foi «agraciado com a Comenda da Ordem de Nossa Senhora da Vila Viçosa, concedida pelo rei D. Luís, pelos relevantes serviços prestados à região e ao país». A ele se deveu, por força do seu testamento, a construção do Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde em S. Paio de Oleiros, cujos préstimos foram de um valor impossível de estimar. Prossegue o Conde de S. João de Ver: Abrigando no seu coração o culto do Bem, sensível perante a miséria que o enternecia e o sofrimento que o contristava,

sobre as ruas e situadas em ruelas da povoação, algumas em encruzilhadas sem saídas disseminadas pelo areal, por casas de pedra e cal. Para isso, porém, era preciso muito dinheiro. Onde ir buscá-lo? Sá Couto pôs às ordens da nossa gente os enormes e bastos capitais por meio de empréstimos e realizou-se o milagre, operando-se essa transformação em poucos anos. O mar, a partir de 1889, fez em Espinho grandes destroços, lançou por terra muitas casas, reduzindo muita gente à miséria, mas o Comendador Sá Couto foi talvez aquele a quem o mar mais prejuízos causou.

(3) Conde de S. João de Ver, op. cit.. (4) Cf. Correio da Feira n.º 248, de 25/01/1902. (5) Id., ibid.

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O ilustre advogado feirense Dr. Celestino Portela, num livro recente intitulado justamente Um Livro, refere na biografia de Sá Couto, dedicada ao Dr. Fernando Sampaio Maia, afinal um continuador da sua obra e dos seus propósitos de servir os mais desfavorecidos, que o nome do Comendador «está ligado a todas as iniciativas do alvorecer de Espinho, podendo salientar-se o Edifício para uma Assembleia Recreativa», para cuja Direção foi eleito em 1866 e cujos objetivos, constantes dos estatutos aprovados pelo rei D. Luís, contemplavam o desenvolvimento e conservação de «relações de convivência e delicada sociedade entre os associados, por meio de reuniões diárias para conversação, leitura e jogos que não sejam de azar». Celestino Portela alude ainda ao respeito que merecia das gentes do mar, «ao lado de quem sempre estava», e, mencionando as homenagens que constituem à sua memória o facto de a Rua 18 ter tido o seu nome e de ser o patrono da Escola E.B. 2/3 Sá Couto, transcreve o seguinte parágrafo da Gazeta d’ Espinho, a propósito da notícia da sua morte, ocorrida, naquela praia, em 24 de janeiro de 1902, pelas 5 da manhã: Dedicava a esta praia uma amizade sincera; transferira para aqui ultimamente a sua residência definitiva, vivendo há mais de três anos na sua casa onde acaba de expirar. Mereceram-lhe sempre particular interesse os negócios desta localidade, embora uma isenção, que ninguém lhe levará a mal, o colocasse em neutral atitude nos últimos acontecimentos entre Feira e Espinho.

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Sendo possivelmente a personagem mais avultada da nossa terra, uma parte da vida do Comendador entrou já

na lenda e na tradição oral local. No entanto, como é hoje impossível provar algumas das histórias que lhe são atribuídas, preferiremos ficar por aquilo que está documentado. O certo é que, como também Celestino Portela faz notar, à data do seu nascimento, Espinho era um lugar da freguesia de Anta, concelho da Feira, e, quando faleceu, era sede de concelho, criado por Decreto de 17 de agosto de 1899. Segundo a imprensa da época, a rica urna de mogno com os seus restos mortais foi transportada para S. Paio de Oleiros num carro funerário do Porto, puxado a três parelhas. O préstito fúnebre formou-se no lugar do Engenho Velho, à entrada da sua terra natal, incorporando-se grande número de eclesiásticos e milhares de pessoas deste concelho, Espinho, Porto, Gaia e Ovar, tendo sido um dos funerais mais concorridos do concelho. Realizaram-se solenes exéquias na Igreja Matriz desta localidade, concelebradas por mais de 30 eclesiásticos, presididos pelo abade de Canedo, padre Agostinho José Paes Moreira. Os ofícios e a missa foram acompanhados pela música da capela Badoni, do Porto. O seu corpo foi depositado na capela-jazigo de família, situada no centro do cemitério local. Sobre Sá Couto se escreveu: «Entrou na cova quasi desconhecido no seu grande aspecto moral para d’ahi passar á immortalidade pelo consenso geral de dois concelhos inteiros» (6). (6) Progresso da Feira, 07/02/1909.


Uma inscrição existente nesse jazigo diz assim: Toda a vida deixa rasto que fica. Mas o rasto deixado pela obra do Comendador Joaquim de Sá Couto é muito mais uma imensa esteira de luz que não se apagará das páginas da história desta região e da de S. Paio de Oleiros em particular, terra que cresceu e se impôs ao abrigo do seu espírito magnânimo e empreendedor.

O testamento do Comendador é a prova mais eloquente de que, apesar do que fez por Espinho, a sua terra natal foi a menina dos seus olhos. Foi em S. Paio de Oleiros, onde quis ser sepultado, que desejou também fosse implantada a obra humanitária que tinha em mente. Vejamos, na íntegra, o teor desse importante testamento:

2. Testamento do Comendador Joaquim de Sá Couto

Registo do testamento cerrado com que falleceu o Comendador Joaquim de Sá Couto em vinte e quatro do mez de janeiro de mil nove centos e dois ás cinco horas da manhã na casa de sua propriedade e residencia sita á rua Bandeira Coelho, d’esta Praia, freguezia e concelho de Espinho. Eu, Joaquim de Sá Couto, do logar do candal, freguezia d’Oleiros, da comarca da Feira e accidentalmente residente na Praia e freguezia de Espinho, da mesma comarca, estando no goso dos meus direitos e faculdades intellectuais e livre de qualquer coacção, faço pela primeira vez, o meu testamento pela forma seguinte: Declaro que tenho sempre vivido como catholico, e como tal desejo morrer e ser sepultado. Deixo á vontade do meu testamenteiro tudo quanto disser respeito ao meu funeral e sepultura, querendo, em todo o caso, que o meu cadaver seja conduzido á Igreja da minha freguezia e sepultado no seu cemiterio, e que no dia do meu enterro se me faça um officio de corpo presente e se reze uma missa por minha alma; quero tambem que no setimo dia posterior ao da minha morte se reze, na mesma Igreja, outra missa por minha alma, e que se repartam equitativamente por todos os pobres que residirem na minha freguezia e tiverem concorrido á ultima d’estas missas, cem mil reis em dinheiro. Declaro que sou solteiro; que nunca tive filhos alguns e que dos meus ascendentes já não resta nenhum vivo, sendo-me, por tanto, licito dispor de todos os meus haveres como bem me aprouver e sem a menor restricção. Instituo, por isso, minha unica e universal herdeira a

Fig. 113 Frontispício do “Testamento de 14 de março de 1899” do Comendador Joaquim de Sá Couto”, que contempla, entre outras disposições e diretivas pessoais, o legado filantrópico em benefício de São Paio de Oleiros e da construção do “Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

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minha sobrinha Dona Emilia Augusta de Sá Couto Moreira, que satisfará, pelas forças da minha herança, todos os legados, obrigações e mais despezas, que deixo aqui consignadas, e a seu marido, o medico-cirurgião João Augusto da Cunha Sampaio Maia nomeio meu testamenteiro, pedindo-lhe, pela muita amizade e bôa harmonia que sempre nos ligou, faça cumprir integralmente e quanto em si possa e caiba, esta disposição da minha ultima vontade. Quero que, apoz a minha morte, a dita minha herdeira mande construir no cemiterio da minha freguezia, adquirindo para isso o terreno necessario, um jazigo de familia, de apparencia modesta, para o qual fará transladar, os meus restos mortais, bem como os de meu pae e de minha avó paterna e os de minha irmã Dona Camilla e marido José Moreira, que ahi estão sepultados tambem, ficando, todavia, tal jazigo a pertencer áquella minha herdeira e marido, para nelle poderem ser depositados os seus cadaveres e as de sua familia. Quero que a minha mesma herdeira entregue dentro de um anno, a contar do meu fallecimento, á junta da parochia da minha freguezia, a quantia de cem mil reis, destinados á ornamentação e alfayas do altar e augmento do culto de Nossa Senhora da Saude, que se venera na respectiva igreja, e que não é de irmandade legalmente erecta. Quero, outro-sim, que da minha herança se separem cento e vinte contos de reis em dinheiro ou creditos hypothecarios bem garantidos, ou em uma e outra cousa; e que com dez d’esses contos de reis, com o rendimento da parte d’elles, que não for logo gasto, e com os meus rendimentos dos restantes cento e dez contos o dito meu testamenteiro compre terrenos no logar e sitio que mais que mais adquado seja, dentro da minha freguezia d’Oleiros, e nunca fóra d’ella, onde mande construir um edificio nas condições modernamente aconselhadas pela sciencia para hospital, destinado a receber e tratar gratuitamente doentes pobres de qualquer sexo, que sejam adultos e residam em qualquer ponto do concelho da Feira, cuja enfermaria deverá comportar quinze camas para cada sexo; e annexo a este edificio, quando nesse não haja inconveniente, ou separado em caso contrario, mas o mais

proximo d’elle que seja possivel, mandará tambem construir outro edificio para asylo, destinado a receber e tratar gratuitamente pessoas pobres de qualquer sexo que residam em qualquer parte do concelho da Feira e sejam invalidas ou impossibilitadas de trabalhar, e ao mesmo tempo as doentes, convalescentes de doenças agudas, que tiverem alta no mesmo hospital, em quanto durar essa convalescença, o qual deverá conter tambem quinze camas para asylados de cada sexo, construindo ainda neste edificio uma capella, sob a invocação de “Nossa Senhora da Saúde”, com communicação externa para a via publica e interna para o asylo, afim de o publico e os asylados poderem assistir a missa, que quero seja ali rezada in perpetuum todos os domingos e dias santificados, applicada por minha alma nos proximos seis mezes do anno; por alma da minha mãe nos dois mezes seguintes; por alma de meu pae nos dois mezes immediatos a estes; e pelas almas que estiverem no Purgatorio nos dois ultimos mezes do anno. E na fachada principal do edificio, no caso de haver só uma, mandará o meu testamenteiro pôr a legenda: “Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saude” seguida da éra do acabamento da construcção; e no caso de cada edificio ter sua fachada distincta, então será collocada, respectivamente em cada um, as legendas: “Hospital Nossa Senhora da Saude” e “Asylo Nossa Senhora da Saúde” seguida cada uma da éra do acabamento da respectiva construcção. Que se algum terreno escolhido para estas construcções for dos que me pertencerem á minha morte, deverá tal terreno ser avaliado por trez peritos, e o seu valor deduzido no capital dos dez contos destinado a ser gasto nas mesmas construcções, como se fôra comprado a terceiro, ficando destinado o resto somente d’esses dez contos com os respectivos rendimentos e com os rendimentos dos cento e dez contos restantes para o começo e conclusão das ditas obras. Se eu testador chegar a comprar e pagar em minha vida alguns d’esses terrenos, e a principiar algumas d’essas construcções, também quero que n’este caso sejam deduzidos do capital dos dez contos mencionados o preço que eu houver gasto na respectiva compra e todas as mais


despezas que eu houver feito com o começo das construcções até a data da minha morte. Quero que taes construcções estejam concluídas dentro de cinco annos, a contar da minha morte, quando o não possam estar antes; e que em seguida o meu testamenteiro, ainda com os rendimentos dos cento e dez contos de reis as mande mobilar devidamente, adquirindo o necessario para as pôr em circunstancias de poder servir para o fim a que são destinadas, com a modificação somente de que só se montarão dezeseis camas no hospital e outras dezeseis no asylo, preparadas para receber outros tantos doentes e asylados, oito de cada sexo, ficando a acquisição das vinte e oito camas restantes e respectivas roupas para quando os rendimentos do fundo permanente o permittirem, devendo ser o fundo do hospital e asylo de cento e seis contos de reis e o da capella dos quatro contos restantes, que todos deverão estar sempre empregados em creditos hypothecarios ou em titulos fiduciarios de assentamento, que não offereçam menor vantagem de garantia e rendimento, pois só este e não o capital é que fica destinado á manutenção de todos estes estabelecimentos. Que apenas o dito hospital e asylo estejam em circunstancias de poder receber os dezeseis pobres e outros tantos asylados, serão entregues, com os mencionados cento e dez contos de reis para fundos permanentes, a uma commissão administrativa permanente, que será composta do individuo que tiver sido eleito provedor da Santa Casa da Misericordia da Feira, e estiver funcionando como tal, o qual ficará sendo o presidente perpetuo d’esta commissão, do reverendo presbytero, que estiver parochiando a minha freguezia, e do meu dito testamenteiro João Augusto da Cunha Sampaio Maia, a qual d’elles tomará conta com tudo quando nelles se achar, passando a fazer os regulamentos necessarios e a nomear o pessoal indispensavel para o prompto funcionamento do hospital, asylo e capella, devendo as suas sessões ter lugar na sala que lhe for destinada em qualquer dos edificios; podendo, todavia, o que for provedor da Misericordia delegar em pessoa da sua escolha os poderes para o representar como membro e presidente da comissão,

para qualquer acto da mesma. Que esta commissão será permanente e se perpetuará da seguinte forma: ao que for provedor da Misericordia e parocho da freguezia sucederão, respectivamente, os futuros provedores e parochos, quanto ao marido da minha herdeira, a esse sucederá n’esta commissão o seu descendente varão mais velho e na sua falta o immediato succedendo-se assim indefinidamente pelos descendentes varões do herdeiro que tiver servido. E quando não haja descendentes nestas condições, ou sejam ainda menores, nesse caso será chamado um parente varão da linha transversal em grao mais proximo, segundo o direito civil, e, em egualdade de graos, o mais velho, para supprir a lacuna do descendente, na primeira hypothese, ou para o substituir durante a menoridade, na segunda. Se algum dia os rendimentos do fundo permanente forem augmentados com outros, provenientes de novos legados, heranças ou doações, fica obrigada a commissão a ampliar immediatamente estas instituições, conforme as necessidades de todo o concelho compativeis com tais rendimentos, podendo e devendo logo que possa ser, admittir no hospital quaesquer doentes que queiram ahi ser tratados mediante a retribuição que for determinada em regulamento, sem prejuiso, todavia, da admissão dos doentes pobres, que estiverem em condições de ser ahi recolhidos. Em tudo o mais a commissão cumprirá os seus deveres, que não ouso estar a lembrar-lhe, tendo sempre em attenção que o meu maior desejo é que taes instituições approveitem ao maior numero de pobres de todo o concelho, e d’estes os mais necessitados, e que para a sua decente sustentação são precisos muito zelo e economia. Quero que a minha herdeira, dentro de um anno a contar da minha morte, entregue a quantia de quinhentos mil reis á Santa Casa da Misericordia do Porto, de que sou irmão, e cem mil reis á minha antiga criada Maria, se ela estiver ao meu serviço á minha morte. Declaro que os meus sobrinhos Adriano e José, irmãos da minha herdeira, actualmente nada me devem; e posto que cada um d’elles tenha rendimentos proprios para poder viver modesta mas commodamente, muito principalmente se persistirem na intenção, que tem

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manifestado, de se não quererem casar, todavia, para lhes mostrar mais uma vez a minha amizade, quero que a minha herdeira dê a cada um d’elles a prestação semestral de cincuenta mil reis no primeiro de janeiro e de julho de cada anno, devendo esta obrigação começar somente depois de entregues á respectiva commissão administrativa as instituições que atraz mencionei, e devendo terminar cada uma por morte de cada um dos ditos meus sobrinhos; qual lhe disser respeito. E porque me custa escrever nesta ocasião pedi ao meu particular amigo Manuel Maria Corrêa de Sá, casado, escrivão e tabellião, actualmente em goso de licença, morador na Villa da Feira, que por mim escrevesse este meu testamento, o qual li depois d’escripto e por o achar conforme com a minha ultima vontade, o assigno e rubrico, nesta Praia d’Espinho, aos quatorze de março de mil oito centtos noventa e nove. Em tempo declaro que a missa perpetua na capella, aos domingos e dias santificados, nos dois ultimos mezes do anno, não será applicada pelas almas do Purgatorio, como retro declarei, mas sim pela alma da minha avó paterna; e mais declaro que, se alguma das actuais freguezias do concelho da Feira for do mesmo desmembrada, nem por isso os pobres e doentes dessa freguezia perderão o direito de ser recolhidos e tratados no asylo e hospital que deixo instituidos. [Seguem-se ressalvas, auto d’appreciação, datas, assinaturas, etc.].

3. Biografia do Dr. João Augusto da Cunha Sampaio Maia, Conde de S. João de Ver e testamenteiro de Joaquim de Sá Couto. Quem veio, pois, a dar forma bem palpável ao sonho do Comendador, por força do seu testamento, foi o Dr. 99

João Augusto da Cunha Sampaio Maia. Nasceu em 21 de março de 1857 em S. João de Ver, filho de Caetano Augusto da Cunha Sampaio Maia e de D. Luiza Teodora Clara Correia de Pinho. Viria a ser pai de D. Inês de Sampaio Maia de Castro Saraiva e do Dr. Ângelo da Cunha Sampaio Maia e de Amadeu Sampaio Maia. Fig. 114 À esquerda, Dr. João Augusto da Cunha Sampaio Maia (1857 - 1938), 1.º Conde de S. João de Ver - Pintura de retratística a Óleo sobre Tela, anterior a 8 de junho de 1938 (a data da sua morte) © Arquivo & Coleção “Casa da Torre” de São João de Ver & Arquivo Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto.

Fig. 115 À direita, Dr. Ângelo de Sá Couto da Cunha Sampaio Maia (1886 - 1970) Um dos referidos filhos de João Augusto da Cunha Sampaio Maia, e segundo diretorgeral do Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros entre 1938 e 1970, assumindo o cargo no decurso do falecimento do seu pai © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.


Médico-cirurgião, formado pela antiga Escola MédicoCirúrgica do Porto em 1883, fora estudante distintíssimo, com notas de “acessits” em todas as cadeiras e obtivera, no seu 5.º ano, o prémio Barão de Castelo de Paiva. Casou, no ano seguinte (7 de janeiro), com D. Emília Augusta de Sá Couto Moreira, filha de José Moreira Pinto e da sobrinha do Comendador Joaquim de Sá Couto, D. Camila Augusta de Sá Couto, do lugar do Candal desta freguesia de S. Paio de Oleiros. Com a nomeação de testamenteiro do Comendador, deixou, pouco depois da morte deste, em 1902, o cargo de médico-cirurgião municipal da Feira na área da beiramar com sede em Paços de Brandão, para assumir as novas funções na direção do Hospital-Asilo. Dois anos depois, por decreto de 25 de julho de 1904 e a instâncias do Sr. conselheiro Teixeira de Souza, exministro da Marinha e Fazenda, foi agraciado pelo rei D. Carlos com o título de Conde de S. João de Ver. Era chefe local do Partido Progressista e, em abril de 1906, assumiu o cargo de Presidente da Câmara da Feira. Por essa altura, em discordância com o pacto franco-progressista dos tabacos, demite-se do partido e ingressa no Partido Progressista Dissidente, em sintonia com o Partido Regenerador local. Os progressistas ortodoxos não lhe perdoam, pelo que, no início do ano seguinte, substituem-no na presidência da Câmara pelo vice-presidente, João de Magalhães, passando o Conde a vereador.

Faleceu, após prolongada doença, a 8 de junho de 1938, na Casa da Torre, em S. João de Ver, mas o seu corpo foi conduzido, dois dias depois, em carro dos Bombeiros Voluntários da Feira, à Capela do Hospital de S. Paio de Oleiros, onde foi rezada missa. Logo depois um extenso préstito, em impressionante manifestação de pesar e solidariedade, acompanhou o seu corpo à nossa Igreja Matriz, onde lhe foram feitas solenes exéquias. Ficou sepultado no jazigo hoje denominado dos Condes de S. João de Ver, no cemitério oleirense, onde usaram da palavra em elogio fúnebre o Dr. Crispim Borges de Castro, o presidente da Câmara, Dr. Roberto Vaz, o Dr. Belchior Cardoso da Costa, o Dr. Fernando de Tavares e Távora e o Professor Paulino Amorim. Natural de S. de João de Ver, muito lhe deve, porém, S. Paio de Oleiros, pelo zelo e exemplar competência com que executou a última vontade de seu tio em privilegiar a nossa freguesia com a construção do Hospital-Asilo e em dotá-lo das condições mais avançadas para a época. Mas não ficou por aí. O Dr. Fernando Sampaio Maia, seu neto, lembra que «o Conde de S. João de Ver, à custa da sua bolsa pessoal, conseguiu até 1938, data da sua morte, sustentar, ampliar e inovar o Hospital, tendo inclusive em 1923 – época em que tinham como diretor clínico o cirurgião Dr. José Amorim, coadjuvado pelo Dr. António Sampaio Maia – sido inaugurada a grande cirurgia pelo Dr. José Aroso que foi diretor da clínica cirúrgica do Hospital de Santo António» (7). 100


Foi, sem dúvida, das figuras locais mais proeminentes do seu tempo, pelo que os jornais da região da época registavam todas as suas movimentações: as idas a Lisboa nas suas lides políticas ou as férias na sua casa de Espinho e todos os regressos à sua Casa da Torre, em S. João de Ver, ou ao seu «magnífico solar e quinta de Oleiros», ou seja, a quinta da Cardenha, no Candal de Baixo. Figs. 116 & 117 Pormenores da Fachada principal e de três das seis faces, do Torreão hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros Residência nobre de Arquitetura Revivalista, “Neomedieva” (ao gosto dos

ideais oitocentistas do “Romantismo português”) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro & Arquivo imagético da JFSPO.

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(7) Seguimos muito de perto, pela riqueza de detalhes e perfeito conhecimento da biografia deste benemérito de S. Paio de Oleiros, os dados fornecidos pelo Sr. Manuel Magalhães Lima, um amigo da nossa terra e presidente do Conselho Fiscal da Fundação Joaquim de Sá Couto, em discurso proferido em 19 de junho de 1999, nas comemorações dos 90 anos da mesma Fundação, na Casa da Torre de S. João de Ver, em que tivemos também a honra de participar. Servimo-nos ainda da homenagem prestada ao seu avô pelo Dr. Fernando Sampaio Maia, em discurso pronunciado na mesma altura. Agradecemos a ambos e pedimos-lhes desculpa pelo (ab)uso dessas prestimosas informações, assim como ao autor do relato das mesmas comemorações. Cf. Visconde de Valladares, «Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto, 90 anos» in revista Sol Nascente, número especial 19, março 2000. Cf. ainda Defesa de Espinho n.º 324, de 12/07/1938, p. 4.

4. A inauguração do Hospital-Asilo A inauguração do Hospital-Asilo Nossa Senhora da Saúde estava prevista para 1907 e é essa data que consta da inscrição no seu frontispício, pois a última vontade expressa no testamento do Comendador Joaquim de Sá Couto, falecido em 1902, era de que «taes construcções estejam concluídas dentro de cinco annos, a contar da minha morte, quando o não possam estar antes». O certo é que não foi possível concluir a obra a tempo e a inauguração ficou para o dia de Reis de 1909, véspera das bodas de prata matrimoniais do Conde de S. João de Ver. Fig. 118 Estruturas primitivas do edifício central, pavilhões e Capela anexa do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros - Registos fotográficos enquadráveis entre 1909 e 1973 (intervalo cronológico correspondente ao funcionamento deste espaço hospitalar e caritativo na sua estrutura pristina, assinalando as datas de inauguração e abertura oficial deste equipamento, 6 de janeiro de 1909 e o lançamento, em 1973, das obras de ampliação que resultaram na distribuição, arquitetura e formato atual deste complexo) © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.


Toda a imprensa da época se referiu ao evento, que teve mesmo honras de primeira página em O Primeiro de Janeiro do dia 12 de janeiro, com a inclusão de duas fotografias das fachadas principal e lateral, podendo mesmo aquilatar-se, pela afluência de gente que se vê na primeira, pelos postes engalanados e pela nuvem de bandeiras presentes, quão festivas foram as cerimónias e quão histórico foi aquele dia para as terras que o Comendador quis privilegiar com a sua herança: a freguesia de S. Paio de Oleiros, único lugar onde ele quis aquela obra de caridade, o concelho da Feira e o jovem concelho de Espinho, que ia fazer 10 anos de idade.

Fig. 119 “Capella do HospitalAsylo” – Registo do enquadramento e estética primitiva da Capela de Nossa Senhora da Saúde, anexa ao edifício central e pavilhões do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros. Registo fotográfico de 1908, antecedente à própria inauguração e abertura oficial deste equipamento, ocorrida a 6 de janeiro de 1909 © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

Acorreu ali, naquele dia de sol, uma «romaria immensa» de povo da localidade e da vizinhança e ainda muito outro dos lados do Porto, Espinho, Esmoriz, Feira, Oliveira de Azeméis, que, chegando pela então recente linha do Vouga, em comboios organizados especialmente para aquela ocasião, originou um «colossal ajuntamento de pessoas […], levadas alli sem convite, no único propósito de se associarem espontaneamente à apoteose feita ao benemérito». Para contribuir para a animação daquele «povo aglomerado em massa», houve até a atuação de duas bandas de música e iluminações noturnas.

Seguiu-se-lhe missa cantada e abrilhantada pela orquestra dos Bombeiros Voluntários de Ovar, regida pelo Sr. Luiz Augusto de Lima. O sermão esteve a cargo do Reverendo Augusto Pinto Vieira da Silva, natural de Oleiros e aluno de Teologia na Universidade de Coimbra, e, apesar de ser a sua primeira homilia, constituiu «eloquente oração, pondo em relevo as virtudes do bondoso instituidor».

Todas as cerimónias do programa foram presididas por D. António Barroso, Bispo do Porto, que, por volta das 11 horas, procedeu à bênção dos edifícios, incluindo a capela anexa, dedicada, também ela, a Nossa Senhora da Saúde.

Concluída a componente religiosa, seguiu-se-lhe uma sessão solene no salão nobre do Hospital, aberta com a intervenção do prelado, que se felicitava «por ter na sua diocese homens da estatura moral do senhor Conde de S. João de Ver». 102


Usaram da palavra, ainda, o senhor conselheiro Costa, o abade de Arrifana, o Dr. Vaz Ferreira, antigo governador civil, o escrivão-notário José Cândido Marques d’ Azevedo, o Dr. Castro Soares, oleirense de nascimento e primeiro presidente da Câmara de Espinho, todos eles elogiando a ação e a dimensão humanitárias do instituidor e do Conde de S. João de Ver, que encerrou a sessão. A sua intervenção encareceu as virtualidades daquela obra, considerada modelar, dotada de todas as condições, obediente às normas higiénicas e científicas mais avançadas para a época e de um asseio primoroso, capaz de rivalizar com os melhores estabelecimentos congéneres do país. O Conde, aliás, editara, uns dias antes, um opúsculo intitulado Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguesia de Oleiros Concelho da Feira, ilustrado com várias fotografias, que era, afinal, a memória descritiva do empreendimento, da qual se depreendem todos os cuidados colocados na escolha do terreno, na orientação dos edifícios, na qualidade dos materiais, na sujeição às disposições sanitárias e nas demais particularidades da construção que fariam dela um paradigma de modernidade, que não traísse as disposições testamentárias do doador. O número daquele mês de janeiro da revista Medicina Moderna, de que era colaborador o feirense Dr. Aguiar Cardoso, ao fazer referência à festa de inauguração, haveria de transcrever justamente os elementos descritivos desse opúsculo. 103

Fig. 120 “Frontispício / Capa / Página de rosto da publicação “Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saude na Freguezia d´Oleiros concelho da Feira” (SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908) – Opúsculo publicado em 1908, antecedente à inauguração oficial de 6 de janeiro de 1909 do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros. Organizado em formato de “memória descritiva” da construção e das suas dependências © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

A finalizar o seu discurso, o Conde não esqueceu a referência às contribuições de outros obreiros, entre os quais destacaria o Abade de Oleiros, P.e David da Mota e Pinho, os empreiteiros Castro e Manuel Henriques da Cruz e, ainda, Manuel Pinto Barbosa, presidente da Junta de Oleiros, então já falecido. Foi descerrado, em seguida, na sala da administração, o monumental retrato do Comendador Sá Couto, em tamanho natural. Os convidados, mais de uma centena, foram, depois, encaminhados para o «lindo e pitoresco palacete» do Conde, onde lhes foi servido um lauto banquete «de cerca de oitenta talheres». Entre eles, estavam alguns


abades da vizinhança, muitas personalidades de Espinho E assim começava uma saga humanitária de e da Feira, com as respetivas câmaras, servindo aproximadamente um século, que ajudou a transformar certamente o tema do Hospital para sarar também Oleiros, a dar-lhe notoriedade e foi o orgulho da sua algumas feridas de antigas contendas entre ambos os gente. concelhos. E começou apenas com o seguinte pessoal: o efetivo Fig. 121 “Aspeto inicial, em 1908, da Sala das Sessões do Hospital Asylo externo, constituído por um diretor clínico, um secretário, de Nossa Senhora da Saúde de São um tesoureiro, um capelão e um barbeiro, e o efetivo Paio de Oleiros, com o supracitado retrato do Comendador Joaquim de interno, composto por um fiscal, um enfermeiro, uma Sá Couto”, pintado a Óleo sobre Tela enfermeira, um ajudante de enfermeiro e uma ajudante e exposto na parede central desta área” - Atualmente este registo de de enfermeira, um empregado dos serviços gerais, uma retratística pertence ao acervo da cozinheira, uma roupeira, um cozinheiro-ajudante e um Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto, estando a Pintura porteiro. O maior vencimento anual cabia ao fiscal (200 arquivada, conservada e exposta no mil réis), seguindo-se o do diretor (160 mil réis), e o Edifício “Lar Condes de São João de Ver”, integrado na extensão territorial menor ao porteiro (20 mil réis) (9). do complexo do antigo “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” em São Paio de Oleiros. Fotografia de 1908, da autoria de “A. Silva” © Imagem extraída de: SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p).

O jornal Informador (da Feira), saído dois dias depois, lamenta-se por não ter espaço para mencionar todas as damas e cavalheiros presentes nas cerimónias, que não haveriam de terminar sem a troca de calorosos brindes «ao champagne», sem a realização de uma «soirée dançante no salão profusamente iluminado» e sem as vozes das senhoras D. Maria Soares d’Albergaria e D. Maria Emília Machado Pinto, que cantaram e encantaram (8).

Mais tarde, em 1916, pela mão e proteção do Dr. Ângelo Sampaio Maia, chegariam de Tuy ao HospitalAsilo as Irmãs Hospitaleiras da Ordem Terceira de S. Francisco que aqui desempenharam um papel determinante para uma melhoria do serviço assistencial prestado. Apesar do avultado legado do Comendador Sá Couto, o Hospital viveu épocas de grandes dificuldades. Logo em 1926, o célebre regedor Guilherme Domingues Pereira, nessa qualidade e «servindo na falta daqueles que o não querem ser», elogiava Sá Couto e o seu Hospital-Asylo, mas, atendendo a que este não fora (8) Cf. Jornal O Informador de 08/01/1909. (9) Quadro de pessoal e vencimentos aprovado pelo Diário do Governo de 29 de julho de 1909.

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dotado com outros legados e sofrera, entretanto, «o flagelo da desvalorização da moeda», apelava a que, dados os enormes benefícios que trouxera à população e, sobretudo, aos mais infelizes, se lhe fizessem doações, se organizassem quermesses em seu favor e que, em vez de luxuosos funerais à morte, as pessoas lhe destinassem os seus legados (10).

Mas esta gesta de bem-fazer teria o seu amargo desfecho em 1998 com o encerramento do estabelecimento em favor do Hospital de S. Sebastião, constituindo o facto, como já se referiu, a perda mais relevante da história de S. Paio de Oleiros. A ferida deixada nos oleirenses com este tremendo golpe, sem outra qualquer compensação, dificilmente cicatrizará.

O Hospital serviu, aliás, nessa altura de arma de arremesso no diferendo entre a Feira e Espinho. Recorde-se que, nesse ano de 1926 e até 1928, a freguesia de Oleiros foi integrada no concelho de Espinho. A Feira, pela voz do Presidente da Comissão de Assistência Pública do concelho, Dr. Aguiar Cardoso, afirmava que o Hospital de Oleiros efetuava os seus serviços de assistência apenas graças às generosas verbas recebidas da mesma Comissão e acusava o município de Espinho de se recusar a dar idêntica contribuição. Acrescentava: «Alega Espinho que nenhum doente do seu concelho utilisou serviços do HospitalAsylo de Oleiros, quando o contrário é que é verdadeiro. […] O sr. Ministro do Interior prejudica e ofende gravemente a Feira desmembrando a freguesia de Oleiros do seu concelho, e galardoa Espinho anexandolhe essa freguesia, sede do único Hospital que a Feira possui.» (11).

4. Algumas outras datas relacionadas com o Hospital 1903 Em 7 de fevereiro, segundo o Correio da Feira, «está escolhido o terreno onde se projecta edificar o Hospital e Capela, em cumprimento do legado do Comendador Joaquim de Sá Couto». E ainda: «O sr. Eng.º Adães Bermudes foi encarregado de organisar as respectivas plantas». 1904 5 de março: adjudicação da empreitada de construção das obras do Hospital-Asilo aos Srs. José Alves da Costa e Castro, Manuel Carvalho da Silva, Manuel Pinto Barbosa, Manuel Henriques da Cruz e António Sá Couto pela quantia de 24.900 réis.

Entretanto, Oleiros regressa à Feira e o Hospital 23 de novembro: foi colocado na sala das sessões da prossegue a sua obra de assistência a ambos os Câmara Municipal o retrato a óleo do Comendador Sá concelhos, dentro do espírito de imparcialidade do (10) Correio da Feira n.º 1487 de 17/4/1926. Comendador. (11) Correio da Feira n.º 1531 de 12/3/1927. 105


Sá Couto, em sua memória e em atenção ao seu legado F. Movimento de doentes no banco do Hospital: 2.600 para a construção do Hospital. consultas (1.100 M e 1.500 F); 3.400 curativos e outros tratamentos (1.300 M e 2.100 F), 500 vacinações (200 M 1909 e 300 F); 10 doentes (6 M e 4 F) baixaram ao Hospital, Queixas no Correio da Feira de 28 de agosto: «Vão já devido à gravidade do seu estado; 1.200 intervenções de passados todos estes meses e o Hospital conserva-se pequena cirurgia no banco (767 M e 433 F); 12 fechado aos doentes a que foi destinado. Que motivos?» intervenções de grande cirurgia no Hospital (7 M e 5 F); Mas, em 6 de novembro: «Já está aberto o Hospital de 153 transportes de doentes ou feridos (12). Oleiros, posto que com pessoal provisório». Começara a funcionar no primeiro dia daquele mês. E a Gazeta de Até 1938 Espinho de 28/11 observa que o «Hospital-Asilo de Ampliação das instalações. Oleiros acha-se definitivamente aberto, recebendo doentes e asilados dos concelhos da Feira e Espinho». 1968 Contribuição da população a partir desta altura. 1918 Construção do bloco operatório. 1973 Início das obras da 1.ª fase. Peditório no Brasil. 1923 População continua a contribuir. Estado acede a Inauguração da grande cirurgia pelo Dr. José Aroso, participar com 50 %. diretor da clínica cirúrgica do Hospital de Santo António. 1974 1926 As obras prosseguem em bom ritmo após a revolução Movimento de Doentes Internados: doentes vindos do do 25 de Abril. ano anterior – 1 Masc. e 8 Fem.; doentes admitidos durante o ano – 18 M e 30 F; total de doentes em 1976 tratamento – 19 M e 30 F; doentes saídos curados ou Nacionalização dos hospitais. O de S. Paio de Oleiros melhorados 16 M e 31 F; falecidos – 2 F; doentes que passará a designar-se por Hospital Concelhio da Feira. ficaram em tratamento para o ano seguinte – 3 M e 5 F. Movimento de asilados: existência no 1.º dia do ano: 2 M e 4 F; entraram durante o ano – 1 M e 6 F; total dos saídos durante o ano – 2 F; entregues à família – 2 F; (12) Dados publicados pelo Presidente da Comissão de Assistência Publica no concelho da Feira, Dr. Aguiar Cardoso, no Correio da Feira n.º 1531, de 12/03/1927. faleceu – 1 F; existência no último dia do ano – 3 M e 7

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Fig. 122 Panorâmica de parte da Frontaria primitiva do edifício central do “Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde” de S. P. Oleiros enquadrada pelos acrescentos posteriores, sobretudo dos anos (19)70” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

centro hospitalar, importantíssimo na zona, não poder ser concluído, na última fase, por o Estado não querer cumprir com o disposto na legislação vigente e não assumir os compromissos que datam de 1976». E lê-se no parágrafo seguinte: «S. Paio de Oleiros conta com um velho hospital de 84 camas, já obsoleto e que não serve as necessidades da zona densamente povoada e industrializada, sobretudo a norte do concelho. Caso não venham a ser concluídas as obras em curso e não se dê de imediato início às da terceira fase, o velho hospital (de 84 camas) será substituído por um novo com... 44». No dia 2 de outubro, grande manifestação popular próhospital.

1978 Conclusão da 2.ª fase. Foram gastos até então, segundo O Comércio do Porto de 23 de setembro, 150 mil contos. Faltaria 1/3 para concluir a obra, mas não há luz verde para a 3.ª fase. Titula o jornal: «Em S. Paio de Oleiros, a não conclusão das obras do hospital é um atentado ao esforço da população» e escreve no lead da notícia: «Mais de sessenta mil habitantes do concelho de Vila da Feira estão em vias de ficar sem hospital, em S. Paio de Oleiros, com capacidade para 120 camas, bloco operatório e serviço de urgência, em virtude daquele 107

Fig. 123 “Registo de arquivo da Manifestação popular pró-Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde de S. P. Oleiros, ocorrida em 2 de outubro de 1978” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.


1984 O jornalista Aurélio Cunha publica no JN de 3 de agosto um artigo polémico visando a maternidade do hospital, que considera «um aborto». 1987 A 25 de setembro, a Assembleia Municipal aprova moção recomendando à Câmara Municipal que insista com o Governo no sentido da conclusão da 3.ª fase. 1988 À maternidade continua a recorrer, no entanto, grande número de parturientes, mesmo de outros concelhos: Ovar, S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Arouca, Vila Nova de Gaia. Figs. 124 & 125 “Registos de arquivo da Manifestação popular pró-Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde de S. P. Oleiros, ocorrida em 2 de outubro de 1978” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

O deputado Baptista Cardoso exige justiça para o nosso concelho e a construção urgente do Hospital Regional de Santa Maria da Feira. Não fez, porém, a mínima menção ao processo do Hospital de Oleiros, que é visitado, entretanto, pelo Secretário de Estado da Administração da Saúde, Eng.º Fernando Costa Freire, o qual confirma a proposta feita pelos técnicos do SUCH – Serviço de Utilização Comum dos Hospitais – de que se iria proceder às obras consideradas mais prementes para uma maior rentabilização do hospital oleirense: um bloco operatório; um bloco de esterilização; um serviço de atendimento novo, gabinetes para consultas externas; salas de observação, adstritas ao serviço de atendimento. Opera-se, entretanto, uma redução drástica valências, com a extinção da urologia, cardiologia,

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otorrinolaringologia, de acordo com a orientação geral de que a hospitais do tipo H1 só devem ser atribuídas valências básicas: medicina, cirurgia, obstetrícia e pediatria. A Oleiros é atribuída a maternidade e a Espinho, a pediatria (Oleiros fica com neonatologia).

De acordo com o mesmo jornal, a Câmara prometia, por essa altura, diversos apoios às obras do Hospital. Teria mesmo já dado «luz verde à realização de um projecto para obras de acesso através de um túnel que evitará os perigos decorrentes da actual travessia da linha férrea».

1989 1991 Em novembro, inicia-se a construção, nos terrenos Inicia-se o funcionamento do Gabinete do Utente. anexos ao Hospital, também da Fundação, do novo edifício para o Lar Condes de S. João de Ver como Neste ano em que S. Paio de Oleiros ganhava o Centro de Dia, residência permanente de 60 idosos e estatuto de Vila, o Hospital dispunha dos seguintes enfermaria com 10 camas para os residentes acamados. serviços e valências: Em 23 de dezembro, a Assembleia Municipal aprova uma proposta pelo urgente andamento do processo de construção do Hospital da Feira e também do processo do Hospital Distrital de Oleiros, solicitando ao Governo todo o apoio necessário ao seu eficaz funcionamento e melhoria das instalações. 1990 O Hospital regista o seguinte movimento anual (média dos 2 anos anteriores): 50 704 pessoas atendidas no Serviço de Urgência; 13 736 consultas de especialidade; 30 930 análises clínicas realizadas; 14 218 exames radiológicos efetuados; 1 174 nascimentos; 1 036 intervenções cirúrgicas; 2.935 internamentos.

- Internamento: serviço de medicina interna, cirurgia geral, obstetrícia, ginecologia, neonatologia, ortopedia e oftalmologia; - Consulta externa: medicina interna, cirurgia geral, obstetrícia, ginecologia, planeamento familiar, neonatologia, ortopedia e oftalmologia; - Meios complementares de diagnóstico e terapêutica: radiologia e análises clínicas;

- Urgência: serviço de atendimento permanente (urgência 24 horas por dia).

1992 Em maio, o diretor do Hospital, Dr. António Pedro, Segundo dados publicados na imprensa dois anos garantia em entrevista ao jornal Diálogo: «S. Paio de depois, o Hospital de Oleiros estava, nesta altura, Oleiros será essencialmente um serviço de materno- classificado em 30.º lugar entre os cerca de 100 hospitais infantil. Vai ter uma obstetrícia e uma neonatologia do país, à frente, por exemplo, dos de Espinho, Figueira 109 fortes».


da Foz e Castelo Branco e muito próximo do de Aveiro; radiológicos – 18.335. recebeu 50.000 doentes; passavam diariamente pelos serviços de urgência 164 doentes em média e servia 1994 uma população de 130.000 habitantes. Em abril, o Presidente da Câmara, Alfredo Henriques, declara, em entrevista ao jornal Diálogo, que «o Hospital Em dezembro, a CESPOVILA – Comissão para a de S. Paio de Oleiros vai continuar o seu papel, Elevação de S. Paio de Oleiros a Vila – solicitou apoio independentemente da construção de um outro hospital para a conclusão das obras da 3.ª fase aos quatro no concelho». Em 22 de julho, o Ministério da Saúde e a deputados (Narana Coissoró – CDS, Baptista Cardoso – Câmara Municipal assinam protocolo para as obras da PSD, José Mota – PS e Jerónimo de Sousa – PCP), que nova urgência: a Câmara avançaria com as obras, tinham subscrito a proposta de promoção de S. Paio de contribuindo com 49% dos custos. O contributo Oleiros a Vila. ministerial seria de igual montante, ficando os restantes 2% a cargo da Fundação Sá Couto, proprietária do 1993 imóvel. Em outubro, o Ministro da Saúde, Dr. Paulo Em junho, a Câmara Municipal disponibilizou cerca de Mendo, anuncia, em programa televisivo, que a futura 30.000 contos para aplicar em obras no Hospital. unidade hospitalar em construção na Feira (fase de terraplenagem) será privada. O JN dá conta de que Neste ano, a lotação do Hospital era de 75 camas e 25 fontes ligadas ao Ministério prevêem para o Hospital de berços e, ainda, 4 camas de OBS, que não faziam parte Oleiros um futuro negro: vai ser encerrado quando abrir o da lotação oficial. Foram também publicados os da Feira. seguintes dados estatísticos: Nesta altura, o estabelecimento oleirense tinha 75 Internamentos: doentes saídos – 3.488; atos cirúrgicos – camas, mais de 300 trabalhadores e um orçamento anual 1.649; partos – 1.217; demora médica – 5,2 dias; taxa de que rondava o milhão de contos.

ocupação – 56%.

O Hospital, que era “Regional de S. Paio de Oleiros”, Serviços de urgência: doentes saídos – 59.543; OBS – regressa à designação primitiva (“Hospital de Nossa Senhora da Saúde”), na sequência de uma proposta feita 636. pela Direção, em junho do ano anterior, e de acordo com uma diretiva da Direção-Geral de Saúde de que «os Consultas externas: 13.000 (10 valências). hospitais devem adoptar designações de acordo com o Exames subsidiários: análises clínicas – 74.095; exames seu historial».

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mesma altura, no Porto, que o Hospital de Oleiros não é para fechar «nem antes nem depois de o da Feira abrir». 1996 É constituída a Liga de Amigos do Hospital, cuja direção é entregue à Dr.ª Luísa de Mesquita, que trabalhara 42 dedicados anos naquele estabelecimento. 1997 Em janeiro, o Presidente da Fundação Sá Couto, Dr. Fernando Sampaio Maia, afirma ao jornal Diálogo: «Temos condições para administrar o Hospital». A Assembleia de Freguesia de S. Paio de Oleiros convida a Ministra da Saúde a visitar o Hospital. Fig. 126 “Hospital de Oleiros – “Morte” (quase) certa” – Pormenor de excerto noticioso do Jornal de Notícias de 23 de outubro de 1994, alusivo ao processo de substituição e encerramento do “Hospital Oleirense” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

1995 Declarações do Presidente da Câmara, Alfredo Henriques, ao jornal Diálogo de novembro / dezembro: «O Hospital de Oleiros tem tido um papel preponderante no concelho, especialmente na zona norte, e vai continuar a desempenhar um papel importante. Já disse várias vezes que o Hospital da Feira foi estudado e programado a contar com o de Oleiros e com outros desta área, tendo em conta o número de camas e os serviços neles existentes. Naturalmente que cada um irá ter os serviços para os quais está vocacionado». 111

O Ministro da Saúde, Dr. Paulo Mendo, garante, pela

1998 A 21 de fevereiro, a Assembleia de Freguesia aprova, por unanimidade, uma recomendação para que o Executivo da Junta diligencie pela manutenção da atividade do Hospital, de modo a albergar, no mínimo, um Serviço de Atendimento Permanente, Serviço de Atendimento de Cuidados Continuados, em articulação com o Hospital de S. Sebastião, e Serviço de internamento em fase pré e pós-operatória de doentes. Aprovou ainda um voto de confiança à Fundação Sá Couto e à Junta de Freguesia no sentido de defenderem os interesses dos munícipes e oleirenses na manutenção do Hospital. A 5 de junho, no entanto, o Hospital de S. Paio de Oleiros é extinto pelo Decreto-lei n.º 151/98.


No dia 10 de outubro, dá-se, simbolicamente, a passagem do testemunho com 30 oleirenses a serem recebidos pelo diretor do Hospital da Feira, Dr. Hugo Meireles, a pedido da Junta de Freguesia, para a primeira visita guiada às instalações.

Figs. 127, 128 & 129 “Em 20 de dezembro de 1998, muitas centenas de oleirenses e vizinhos, convocados pela Comissão Dinamizadora p’ra Defesa do SAP no Hospital de Oleiros, manifestam-se, em frente à fachada principal, contra a decisão de instalar na Feira o SAP que, durante algum tempo, usou as instalações do Hospital de Oleiros, fundindo-o com o SAP da sede do concelho” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.

Em 20 de dezembro, muitas centenas de oleirenses e vizinhos, convocados pela Comissão Dinamizadora p’ra Defesa do SAP no Hospital de Oleiros, manifestam-se, em frente à fachada principal, contra a decisão de instalar na Feira o SAP que, durante algum tempo, usou as instalações do Hospital de Oleiros, fundindo-o com o SAP da sede do concelho. Na mesma altura, a Assembleia Municipal aprova uma moção recomendando que o Hospital de Oleiros seja reconvertido e aproveitado, na certeza de que é vital para o Norte do concelho a existência de um SAP na nossa Vila.

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1999 A 4 de janeiro, entra em funcionamento, na sede do concelho, o Hospital de S. Sebastião, que fora criado em 1996 e que, em 31 de dezembro de 2005, será transformado em Entidade Pública Empresarial.

entidade proprietária das instalações – a Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto – e a Administração Regional de Saúde do Centro com vista à transferência da Extensão de Saúde de São Paio de Oleiros para aquelas instalações.

Em 28 de maio, 15.840 cidadãos assinam uma petição para a reabertura de um serviço de atendimento permanente nas instalações devolutas do Hospital de Oleiros, para ocorrer à forte densidade populacional, à elevada concentração empresarial e à grande dinâmica económica e social da zona em que está implantado. A Comissão dinamizadora deste movimento pelo SAP contou com o apoio expresso dos Órgãos Autárquicos do Município e de Órgãos das 31 freguesias, tendo o presidente da Câmara sido o primeiro subscritor.

Em setembro, realizaram-se reuniões da Comissão pró SAP com autarcas e com a Administração Regional de Saúde, tendo resultado como compromisso a abertura de um serviço de atendimento tipo “consulta aberta” das 08 às 20 horas, de 2ª a 6ª feira. Em 19 de outubro, comemora-se o 90.º aniversário da Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto, na Casa da Torre de S. João de Ver, domicílio do presidente, Dr. Fernando Sampaio Maia.

No dia 13 de junho, os eleitores oleirenses boicotam em massa as eleições para o Parlamento Europeu: a abstenção atingiu uma cifra próxima dos 98%. No mesmo dia, a Comissão p’ra Defesa do SAP no Norte da Feira fizera apelo nesse sentido às freguesias de Oleiros, Mozelos, Nogueira da Regedoura e Paços de Brandão, como forma de mostrar a indignação das populações pelo encerramento do SAP que funcionou no ex-Hospital. Em julho, previa-se a entrada em funcionamento, a título transitório, do CAT – Centro de Assistência a Toxicodependentes nas instalações da antiga consulta externa do Hospital. 113

Em 30 de agosto, é celebrado um protocolo entre a

Fig. 130 “Heráldica e iconografia representativa e identificativa da Fundação Comendador Joaquim de Sá Couto de São Paio de Oleiros” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro.


2003 Em 27 de fevereiro, o deputado do PSD, Manuel Oliveira, intervém na Assembleia da República, lembrando o compromisso anterior e, ainda, a convicção que ficara nas populações e nos responsáveis políticos, aquando do encerramento do Hospital, de que as suas instalações abrigariam não apenas o serviço de atendimento permanente, mas também uma unidade de retaguarda do Hospital de São Sebastião.

Oleiros, com a AMO – Associação Musical Oleirense, entidades que foram conseguindo concitar alguns apoios da Junta de Freguesia, da Câmara Municipal e de outras entidades para algumas melhorias efetuadas no antigo estabelecimento hospitalar.

2009 Foi inaugurado, no dia 17 de janeiro, um centro da Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares, a funcionar em instalações cedidas pela Fundação Sá 2006 Couto. Inauguração nas instalações do antigo Hospital, em 11 de dezembro, da USF – Unidade de Saúde Familiar Sem 2016/17 Fronteiras – de S. Paio de Oleiros e Nogueira da A SANITUS e a Fundação Sá Couto, que há já algum Regedoura, para atendimento alternado em consulta tempo se desentenderam, vão dirimindo razões em aberta. tribunal. A SANITUS retira de S. Paio de Oleiros a sua segunda sede, embora ali prossigam as entidades que 2008 com ela emparceiraram. A Fundação SANITUS nascida em novembro do ano anterior, com sede no Porto, instala a sua segunda sede no Hospital Nossa Senhora da Saúde, em S. Paio de Esta história, com um início bem auspicioso e Oleiros, então devoluto, propondo-se reabilitar vários dos momentos de glória, entre algumas atribulações, não seus edifícios e espaços, num projeto que se denominará deveria nunca ter um fim e muito menos um desenlace “Complexo Clínico e Geriátrico Nova Vita”, o qual inicia a tão amargo. Há histórias que prometem muito e, porque sua atividade como uma Unidade de Trabalhos há promessas que nunca se cumprem, dissolvem-se em Continuados, com projetos aprovados, mas pouco depois quase nada. E é verdade o conteúdo de um dos cartazes suspensos por falta de verbas do Serviço Nacional de das várias manifestações realizadas em Oleiros onde se Saúde. A SANITUS, entretanto, foi estabelecendo nos lia: “Prometeram mas não cumpriram”. anos subsequentes, em diversas instalações do complexo, parcerias várias, nomeadamente com a No n.º 45 da revista da LAF, Villa da Feira, de fevereiro ADESPO – Associação de Desenvolvimento de S. Paio 2017, o Comendador Alfredo Henriques, anterior de Oleiros, com a Biblioteca Pública de S. Paio de Presidente da Câmara do concelho e certamente um dos

Concluindo

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Estamos certos de que se tratou de algo inelutável, mas não era nem é inelutável que não se cumprissem essas promessas. Ficaremos à espera, suspeitando que esse será um comboio que nunca mais chegará. Por falar em comboio, recordemos que, uns dias antes da inauguração do Hospital-Asilo, feito por vontade do Comendador para servir Feira e Espinho, foi também inaugurada a linha do Vouga, com a intermediação também do seu testamenteiro, o Conde de S. João de Ver, ficando assim garantida a ligação de ambos os concelhos a S. Paio de Oleiros, com uma estação ali a dois passos do Hospital. Ainda é esse Vouguinha, com horários bem diminutos, que os Oleirenses que não Fig. 131 “Em 20 de dezembro de 1998, muitas centenas de oleirenses e vizinhos, dispõem de outros transportes terão que usar para convocados pela Comissão Dinamizadora p’ra Defesa do SAP no Hospital de Oleiros, manifestam-se, em frente à fachada principal, contra a decisão de instalar na Feira o chegarem à Piedade. Piedade deles é que ninguém tem, SAP que, durante algum tempo, usou as instalações do Hospital de Oleiros, fundindo- porque da Piedade ao S. Sebastião é meia hora de o com o SAP da sede do concelho” © Arquivo imagético de Anthero Monteiro. caminho a pé e, depois é necessário regressar no protagonistas do enorme empreendimento que foi a sentido inverso. Nos tempos que correm é anedótico e é construção na sede do concelho do Hospital de S. por isso que o Hospital da Feira ainda não serve (bem) Sebastião, ao relatar a história dessa obra, escreve que todos os munícipes. esta “foi a maior conquista do Concelho nos últimos 100 anos.” Não é possível duvidar. Dizer, em contrapartida, No entanto, a nossa missão era escrever esta História. que o encerramento do Hospital de S. Paio de Oleiros O vento, a chuva e as intempéries, o sol, o tempo, as constituiu a maior perda de sempre para a nossa Vila (e silvas, as ervas, a ferrugem e o bolor continuarão a para as vizinhas) também é uma verdade insofismável. também a concluir o fim do fim da história na zona Tudo isto independentemente de se considerar que o S. envolvente daquele monumento humanitário que, em S. Sebastião, sendo outros os tempos, é uma obra muito Paio de Oleiros, foi cura, lenitivo, esperança, primeiro maior e muito mais moderna (outra coisa não faria berço de Feirenses, Espinhenses e muitos mais. sentido) e que serve todo o concelho (e outros), de que somos parte integrante. Algumas instituições que se servem ainda de algumas 115


das suas antigas instalações prosseguirão a quotidiana tentativa de sobrevivência, a qual se deve sobretudo à tenacidade e ao sacrifício próprio de alguns obreiros, que muitos consideram loucos, mas que teimam em ter como causa suprema o bem comum. Será justo referir que, nalguns casos, têm merecido apoios importantes da Autarquia.

O Primeiro de Janeiro, 12/01/1909.

PORTELA, Celestino, Um Livro, Santa Maria da Feira, LAF, 2003. Progresso da Feira, 17, 24 e 31/01 e 07/02/1909. Terras da Feira, 28/07/1994.

Bibliografia & Recursos eletrónicos

https://www.sanitus.pt/fundacao-sanitus-historia.php

BRANDÃO, Francisco Azevedo, Anais da História de Espinho, vol. I, p. 151. Conde de S. João de Ver, Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saude na Freguezia d’Oleiros Concelho da Feira, Porto, Officinas do Commercio do Porto, 1908. Correio da Feira, 09/01/1909, 17/04/1926 e 12/03/1927. Diálogo n.º 9, janeiro / fevereiro 1989. Gazeta d’Espinho, 27/12/1908, 03 e 10/01/1909.

Notas de edição e publicação: 1 Texto, “da Monografia de São Paio de Oleiros em Gazeta Feirense, 11/01/1909. preparação”, cedido para publicação neste “Roteiro” pelo «Hospital-Asylo de Oleiros», in A Medicina Moderna n.º autor, Anthero Monteiro. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / 181 XVI – Vol. VI, janeiro 1909. esquematização gráfica e legendagem por Anthero Monteiro (texto das legendas cedido pelo autor). O Informador, 25/12/1908 e 08/01/1909. 116


Património e Arqueologia Industrial & Papeleira “O Pioneirismo Oleirense na “Arte Papeleira” na região e em Portugal, de 1708 à contemporaneidade”


Património e Arqueologia Industrial & Papeleira “O Pioneirismo Oleirense na “Arte Papeleira” na região e em Portugal, de 1708 à contemporaneidade” Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“O Pioneirismo Oleirense na “Arte Papeleira” na região e em Portugal, de 1708 à contemporaneidade”, Por José C. Amorim “(…) Moinhos de água abundavam nas ribeiras locais. Mas já nas “Memórias Paroquiais” de 1758 se diz que “Oleiros não só tem moinhos, mas também engenho de papel” (…)” Anthero Monteiro (1)

Não querendo desenvolver um Capítulo aprofundado acerca da “História da Indústria Papeleira em São Paio de Oleiros” - algo que, por si só e pela importância e amplitude da sua cronologia, seria merecedor de uma publicação individual, própria e específica - nesta área (1) Cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 5.

do “Roteiro” pretendemos abordar de forma superficial e demonstrativa, em linhas genéricas, o legado principal e o “Património Arqueológico” existente em solo Oleirense de uma das suas atividades artesanais e industriais mais características e duradouras. Crucial para a Identidade moderna, contemporânea e coletiva deste Território, a “Arte Papeleira”. Marcadamente ligada à “Revolução industrial” do Distrito de Aveiro, sobretudo do Concelho de Santa Maria da Feira e das Freguesias de Paços de Brandão e São Paio de Oleiros “à cabeça” (2), a “Arte Papeleira” possui uma componente civilizacional secular e milenar, evoluin(2) “(…) No seio do distrito de Aveiro, a indústria do papel estabeleceu-se, nomeadamente, no concelho da Feira e Terras de Santa Maria (…) “A Relação das Fábricas de 1788”, mandada executar pela Real Junta do Comércio e Administração das Fábricas do Reino e Águas Livres, inaugura estatisticamente a história da indústria do papel no distrito de Aveiro. Note-se que, no grupo das fábricas produtoras de papel fino para escrever (…) é indicada a Fábrica de Nossa Senhora da Lapa (em S. P. Oleiros). (…)” - cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 15 e 16.

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-do de “geografia em geografia”, de “população em população”, passando por todos, ou quase todos os continentes do globo, perpetuando no “tempo e no espaço” a sua história e a da própria Humanidade (3), atingindo entre a época moderna e a contemporaneidade (sécs. XVII / XVIII a XX), a vertente produtiva industrial. Na qual São Paio de Oleiros inscreve o seu nome de forma quase pioneira em termos locais, nacionais (4), europeus e globais. Desde o remoto e artesanal “Engenho”, alusivo ao processo fabril manufatureiro mais tradicional (5), aos mais avançados mecanismos e maquinismos, ao longo do seu historial a “Arte Papeleira” de contexto industrial e sua respetiva evolução é indissociável do aproveitamento de um recurso natural fundamental para a existência humana, a Água. Deste modo, como patenteia o excerto citado, da autoria do Dr. Anthero Monteiro e que prefacia este estudo, pelos seus recursos naturais e diferentes “cursos de água” que possui desde os primórdios da sua existência, ao longo da sua História São Paio de Oleiros incorporou as condições ideais para acolher e desenvolver, de forma pioneira, no universo industrial, alguns segmentos do processo produtivo do Papel em Portugal (6). Citando novamente o Dr. Anthero Monteiro e a sua redação da História geral Oleirense, quando sugere a hipótese de “Oleiros provir de “Olleiros”, palavra castelhana e portuguesa antiga, na qual se molham os “ll”, pronunciando-se “Olheiros” e que significa “olhos” ou 119

(3) “(…) Não é arrojo afirmar-se que o “berço do Papel” surgiu na China (…) no primeiro século da era cristã (…) Só em 751 é que o papel abandonou a China a caminho da Europa, trazido pelos Mouros, que o fabricavam, dum modo especial em Bagdade e Damasco (…) atravessaram o mediterrâneo e atingiram a Europa (…) Não é fácil determinar a data em que recomeçou a fazer uso do papel em Portugal. Sabe-se apenas que o 3.º caderno das Inquirições de D. Afonso III já foi escrito em papel, Sousa Viterbo afirma que o primeiro documento que encontrou referente a moinhos de papel em Portugal é uma carta de D. Afonso V, datada de 27 de fevereiro de 1441, na qual autoriza Fernão Rodrigues a transportar trapos (…) para uns moinhos de papel na cidade de Leiria (…)” – cf. ALFERES, Albano de Paiva - “O Fabrico do papel no Concelho da Feira” in Velharias. Santa Maria da Feira: Villa da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira, 2006, p. 132. (Artigo publicado originalmente no n.º 4392 de 28 de outubro de 1983 do Jornal Correio da Feira). (4) “(…) O fabrico de papel no Concelho de Santa Maria da Feira constitui uma arte com quase trezentos anos de tradição. Em 1708, foi fundada a primeira fábrica de papel do Concelho, na Freguesia de São Paio de Oleiros (…) a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, mais conhecida por fábrica do Engenho Velho (…)” – cf. SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, p. 7. (5) “(…) O sector das actividades industriais registou, nos séculos XVII e XVIII, um crescimento acentuado, mais evidente no século XVIII (…) Ao longo do século XVIII, o desenvolvimento manufactureiro beneficiou com o aparecimento de novas indústrias transformadoras: o fabrico do papel foi um desses casos. Note-se que, para o arranque desta manufactura, foi determinante estarem reunidos, nas diferentes regiões, um conjunto de factores indispensáveis à produção do papel, tais como os recursos naturais (a água, por exemplo) e as matérias-primas (inicialmente recorria-se ao uso do trapo) (…)” – cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A indústria portuguesa nos séculos XIX e XX: as fábricas de papel” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 12 e 13. (6) “(…) No seio do distrito de Aveiro, a indústria do papel estabeleceu-se, nomeadamente, no concelho da Feira e Terras de Santa Maria. Podemos assegurar, efectivamente, que esta região era bastante propícia à instalação desta indústria, visto que reunia condições, nomeadamente naturais, capazes de responder às necessidades de produção e desenvolvimento da indústria papeleira. Note-se que os moinhos e, especialmente, a água, eram elementos essenciais ao arranque industrial papeleiro: o curso de água corrente dos rios era a força motriz capaz de responder às necessidades industriais. É certo que não podemos esquecer o trapo, visto que este era a matéria-prima essencial ao fabrico do papel, mas ambos se complementam, uma vez que as duas componentes são a base para, posteriormente, se proceder ao fabrico e produção de papel (…)” – cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e


-ligente, dedicou-se desde tenra idade ao commercio e “nascentes de água”, que os mais velhos afiançam terem conseguiu vêr coroados os seus esforços, encontrando-se existido um pouco por toda a freguesia (e que ainda hoje dentro de pouco tempo habilitado a adquirir a fabrica de rebentam em vários locais)” (7); ao apontarmos esta via papel da Cardenha do Candal de Baixo, onde explorou por interpretativa da toponímia local, devidamente largos annos o fabrico de papel. Concorreu como productor fundamentada pelo seu autor, sublinhamos textualmente e expositor a varias exposições nacionaes e internacionaes e teve o prazer e a glória de vêr premiados os productos da a própria e histórica “abundância” de cursos hídricos pela sua industria na Exposição Industrial de 1861, na Exposição geografia local, que tanto abonou para que múltiplas Agrícola de Braga de 1863, na Exposição Internacional personalidades e famílias teluricamente enraizadas ou Portugueza de 1865, na Expsition Universelle à Paris de ligadas a São Paio de Oleiros prosperassem e 1867, na Weltansstellung 1870 in Wien Die Internationale fomentassem nesta localidade, durante séculos, em Jury, e na Exposition Universelle de 1878 (…)” (8) contexto artesanal e fabril, a implementação e progresso Efetivamente, no panorama da Indústria oitocentista daquilo que hoje definimos como “Industria Papeleira Oleirense”. Documentada desde o remoto ano de 1708 Oleirense e no ramo papeleiro, entre muitas outras unidades, famílias e industriais de realce que aqui aos dias de hoje. vingaram, Joaquim de Sá Couto e a sua “renovada” Abordar o crescimento urbano e patrimonial de São “Fábrica de Papel da Cardenha do Candal de Baixo” Paio de Oleiros, como foi anteriormente referido neste marcaram uma época, crescendo exponencialmente, em “Roteiro”, entre outras atividades, obriga a (re)conhecer o termos estruturais, técnicos e produtivos. Fundada sob legado, a importância e a prosperidade que a “exploração outra família e administração, no ano de 1811, segundo papeleira” originou. Tendo como expoente máximo dessa citação que o Dr. Anthero Monteiro executa aos estudos importância socioeconómica o caso, maioritariamente de Pinho Leal, a “Fábrica de Papel da Cardenha do oitocentista (séc. XIX), mas estendido aos primeiros anos Candal de Baixo” foi considerada “uma das mais antigas de novecentos (séc. XX), do Comendador Joaquim de Sá e bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira”, Couto (1820 – 1902) e de grande parte das suas fontes conhecida como uma das produtoras do “primeiro papel de rendimento pessoal e obra filantrópica em prol de São de mortalha para tabaco e papel selado de todo o país” Paio de Oleiros e da sua Comunidade. Enraizadas no (9). Todavia, o suposto apogeu, prosperidade e trabalho papeleiro e na busca constante da vanguarda na hegemonia que este complexo fabril usufrui ao longo da sua produção, algo que lhe valeu um percurso marcado sua história, surgiu, maioritariamente, no decurso da sua

por meritórias distinções nacionais e internacionais: “(…) Comendador Joaquim de Sá Couto (…) Activo e intel-

XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 15 e 16. (7) Cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio

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e das pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (do qual reproduzimos, de seguida, o seu registo fotográfico oficial). Debelando momentos de adversidade, após padecer à destruição pelas chamas - num incêndio datado de 1854 -, e sob visão e investimento do seu proprietário, a “Fábrica de Papel da Cardenha” foi totalmente reconstruida, concluindo-se a sua reedificação em 1859, cinco anos volvidos após a “tragédia das chamas”. Segundo descritivo do Dr. Anthero Monteiro nos seus estudos da História local, reedificada, esta unidade fabril oleirense “tinha motor hidráulico, empregava madeira como matéria-prima e produzia dezasseis contos de réis, dando emprego a 65 operários” (11). Atualmente, do legado desta Fábrica, apenas restam alguns vestígios arquitetónicos do seu complexo e parcos “engenhos” da sua “Arqueologia Industrial & Papeleira”, como é o caso do seu “Moinho de Galgas para moer papel”, inventariado aquisição por parte de Joaquim de Sá Couto suas meritórias ações administrativas.

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(10)

de Oleiros, 2002, p. 4. (8) Cf. SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). (9) “(…) Era o início de outra era: em 1811 (…) funda, no lugar do Candal, a que haveria de ser “uma das mais antigas e bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira” (Pinho Leal), onde se fabricava papel de mortalha para tabaco e papel selado, que muitos asseveram ter sido o primeiro do país, embora o seu uso em Portugal pareça datar de 1660 (…)” – cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 5. (10) “(…) Comendador Joaquim de Sá Couto (…) Activo e intelligente, dedicou-se desde tenra idade ao commercio e conseguiu vêr coroados os seus esforços, encontrando-se dentro de pouco tempo habilitado a adquirir a fabrica de papel da Cardenha do Candal de Baixo, onde explorou por largos annos o fabrico de papel (…)” - cf. SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). (11) “(…) Destruída em 1854 e reedificada em 1859, tinha motor hidráulico, empregava madeira como matéria-prima e produzia 16 contos de réis, dando

Fig. 132 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do “Moinho de Galgas” da Fábrica de papel da Cardenha” – Fragmento arqueológico enquadrável entre os sécs. XIX & XX, posterior a 1811 ou 1859 (inventariado pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © Museu do Papel Terras de Santa Maria & Arquivo imagético da JFSPO.

Para além da oitocentista “Cardenha” e até aos dias de hoje, em pleno e tecnológico ano de 2017, a Indústria Papeleira, ultrapassando alguns momentos de crise e adversidade conjuntural (12), permanece enraizada de forma quase “telúrica” no tecido empresarial de São Paio de Oleiros. Sinónimo de “progresso industrial” e “memória coletiva” dos territórios Santamariano e Oleirense, nesta Vila, o legado cronológico da produção papeleira não se fixa apenas no século XIX, em Joaquim de Sá Couto e na sua “afamada” “Fábrica da Cardenha”.


Pelo contrário, sem nunca esquecer o mérito e o patamar elevado ao qual este vulto e a sua obra chegaram, a História papeleira local envolve o empenho e conhecimento de muitas mais famílias, empresários, personalidades, operários e unidades fabris que, à sua escala (de cariz mais “caseiro” ou em amplos complexos industriais), proliferaram e prosperaram tirando partido das características naturais, sociais e económicas desta geografia e população. Atendendo ao largo intervalo temporal que engloba, a “Arte Papeleira” Oleirense viu algumas dessas fábricas e “marcas” de renome extinguirem-se com o passar dos anos, mas outras, modernizadas e atualizadas segundo a exigência e competitividade recente, continuam ativas em pleno século XXI. Liderando mesmo, em casos pontuais, a produção, a qualidade e a vanguarda nacional e internacional na “Arte de fazer / transformar o papel”.

a faz incorporar o estatuto de “pioneira” tanto na região, como, em grande parte da linha da frente do país. Deste modo, sem esquecer que em Portugal o uso de “Moinhos de papel” remonta ao século XV, mas a sua produção de forma totalmente artesanal a séculos anteriores, em termos fabris / industriais, para percebermos os primórdios da “Industria Papeleira Oleirense”, temos de recuar ao século XVIII, mais precisamente ao ano de 1708.

Foi aqui, em São Paio de Oleiros, que nesse ano a Industria Papeleira das Terras de Santa Maria, do Distrito de Aveiro e, nalguns tipos e segmentos produtivos, do país (não esquecendo que em Braga, fundada pelo mesmo “Mestre papeleiro” que em sociedade criou a primeira Fábrica Oleirense, já existia notícia da produção de papel documentada desde 1706), se iniciou; fixando um dos mais antigos e importantes “sítios arqueológicos” Como referido anteriormente a vertente papeleira local da História da Produção do Papel, atualmente composto usufrui e assenta numa ampla cronologia existencial, que pelas “Ruínas da Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, posterior emprego a 65 operários (…)” – cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta e comummente identificada no de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 5. vernáculo local pelo termo “Engenho (12) “(…) Entrado no século XX, a Industria do Papel desta região atravessa uma grave crise provocada pela concorrência das fábricas de papel do Centro do país, as Velho” (13). quais, atempadamente, haviam investido em novas tecnologias, libertando-se da feição manufactureira que continuou a caracterizar a industria do concelho de Santa Maria da Feira. Este facto, tão nocivo ao desenvolvimento do sector papeleiro, constituiu, no entanto, dada a proximidade do Passado, um factor de extrema importância com o reencontro e recuperação de cenários papeleiros oitocentistas, nomeadamente a nível da arquitectura e lógica de ocupação de espaços. Só a partir da década de setenta é que neste concelho a Indústria do Papel recupera parte da prosperidade que a havia caracterizado nos séculos anteriores, com a transformação de algumas “fábricas caseiras” fundadas nos anos quarenta e cinquenta, em unidades produtoras de grande dimensão, e com o rejuvenescimento tecnológico de algumas das antigas fábricas do século XIX (…)” – cf. SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, pp. 8 e 9.

Fig. 133 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” em 2009 © Telma Marília Assunção & Arquivo imagético da JFSPO. (13) “(…) A indústria de papel no concelho da Feira inicia-se com a fundação, em 1708, da Real Fábrica de Papel de Nossa Senhora da Lapa, mais conhecida por “Engenho Velho” (…)” – cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A indústria portuguesa nos séculos XIX e XX: as fábricas de papel” in A Família Azevedo Aguiar

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Tal como sublinham o Dr. Anthero Monteiro nos seus estudos da História geral de São Paio de Oleiros (14), e a Dr.ª Maria José Santos (15), especialista na História Papeleira concelhia e nacional (entre referências de muitos outros autores e artigos da especialidade e que subsidiam estes factos), a “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, o dito “Engenho Velho”, foi fundada no ano de 1708 por uma sociedade constituída pelo “técnico papeleiro” José Maria Ottone e o conhecido capitalista de uma das mais respeitáveis e proeminentes famílias setecentistas portuenses, Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem (1677 - 1748) (16). Genovês, natural de Voltri – Itália, José Maria Ottone / Joseph Maria Ottone como também surge referido em alguns documentos de época, esteve ligado a São Paio de Oleiros e ao “Engenho Velho” pelo menos de 1708 a cerca de 1713 e foi uma “figura capital”, um dos grandes “Mestres Papeleiros” da História do Papel em Portugal, não só pela fundação desta “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, como também pelo labor que desenvolveu noutras unidades produtoras que criou ou geriu, de grande relevo e distribuídas por diferentes geografias do país, as primeiras da História desta atividade industrial. De facto, dada a sua importância, para conhecer “a fundo” a História da Industria Papeleira em Portugal e em São Paio de Oleiros, é impreterível traçar parte do perfil e percurso deste Homem. Algo que a Dr.ª Maria José Santos realizou nos seus levantamentos historiográficos e de onde retiramos o seguinte excerto: 123

“(…) Oriundo de uma família papeleira de Voltri, Génova,

José Maria Ottone terá chegado a Portugal ainda em finais do século XVII. Em 1706, o seu nome surge ligado à fundação de uma fábrica de papel na cidade de Braga e, em 1708, encontramo-lo ligado à criação da Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, em São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira. Em 1713, já fabricava papel num engenho na Vila da Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 12 e 13. (14) Que num dos Capítulos iniciais deste “Roteiro” intitulado “São Paio de Oleiros – Traços essenciais da sua História”, acerca desta temática afirma o seguinte: “(…) De facto, já 50 anos antes (1708) fora fundada na nossa localidade a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, que viria a ser mais conhecida por “Fábrica de Papel do Engenho Velho”, por uma sociedade constituída pelo genovês José Maria Ottone e pelo capitalista portuense Vicente Pedrossen. Esta fábrica haveria de ser, apesar de múltiplas mudanças de proprietários, a que, talvez em todo o país, mais tempo permaneceu em laboração, o que aconteceu até às proximidades do ano 2000 (…)”. (15) “(…) Em 1708, foi fundada a primeira fábrica de papel do Concelho, na freguesia de São Paio de Oleiros. Agraciada pelo Rei D. João V, com alvará real e respectivos privilégios, a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, mais conhecida por Engenho Velho, produzia papel fino de escrita, sob a orientação do genovês José Maria Ottone, seu sócio fundador (…)” – cf. SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, pp. 7 e 8. (16) Acerca da biografia de Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem e a sua participação na fundação, em 1708, da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros, vejamos parte do estudo de Pedro Teixeira Pereia: “(…) Vicente Pedro nasceu a 31 de Janeiro de de 1677 e foi casado com Brízida (ou Brígida) Maria da Silva, uma lisboeta (…) Nascido no seio de uma família empreendedora, Vicente adquiriu e desenvolveu (…) as suas capacidades para o mundo dos negócios e investimentos. Em 1705, aos 25 anos de idade, Vicente Pedro Pedrossem cria uma sociedade mercantil, Vicente Pedro & C.ª que se prolongou até 1747 sob a sua tutela, sociedade essa que negociava através da importação e exportação de bens (…) Para lá dos negócios de importação e exportação que Vicente Pedro desenvolvia, também a industria lhe foi cara. Em 1708, em sociedade com José Maria Ottone, Mestre papeleiro de origem italiana, Vicente Pedro Pedrossem fundou com alvará régio, a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, de papel fino para escrever, na freguesia de São Paio de Oleiros, Concelho da Vila da Feira (…) Vicente Pedro Pedrossem (…) foi o homem conferiu ao seu sobrenome todo o peso, significado e importância que fez desta família uma das mais respeitáveis e proeminentes da sociedade setecentista portuense. Vicente Pedro Pedrossem faleceu a 28 de Outubro de 1748 (…)” – cf. PEREIRA, Pedro Teixeira – “Os Pedrossem – Uma família de Elite no Porto setecentista” in Douro-Estudos & Documentos. Vol. III, n.º 15. (s/l): 2003, pp. 111 a 114.


Lousã, tendo apresentado, em finais desse ano, um pedido de empréstimo à Coroa para a construção de uma nova fábrica, naquela mesma vila, o qual lhe seria concedido em Fevereiro de 1714 (…) Apesar das diferentes designações e grafias com que nos deparamos, no respeitante ao sobrenome deste técnico papeleiro genovês, nomeadamente na documentação da Junta do Comércio, onde aparece frequentemente designado como “Joze Oton”, a verdade é que nos registos paroquiais de São Paio de Oleiros, a referência é “Joseph Maria Ottone”, o mesmo sucedendo nos registos paroquiais da Lousã. Concluímos, por isso, ser este o nome de família que mais tempo usou ao longo da sua vida, tanto mais que, numa escritura de 13 de Fevereiro de 1715, ele próprio assina “Jozeph M Ottone”. Todavia, em Braga, no início, ou praticamente no início do seu percurso como fabricante de papel, este genovês assinava, dum modo bem legível, “Ottoni”, como refere Aurélio de Oliveira (…)” (17)

Conhecido o perfil do principal orientador e promotor do primeiro grande “marco historiográfico da exploração papeleira local em contexto fabril”, segue-se um breve apontamento, em formato de cronologia, acerca da evolução, passível de documentar e apurar, deste complexo papeleiro. Entre 1708 e o ano 2000, o legado da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, o “Engenho Velho” de São Paio de Oleiros é, deveras extenso, fixando-se nas páginas da História do Papel em Portugal através de descrições como esta: “(…) A Fábrica de Nossa Senhora da Lapa permaneceu por quase um século como a única fábrica produtora de papel de todo o distrito de Aveiro, sendo determinante a sua influência no aparecimento de outras fábricas na região. De referir que com esta fábrica se iniciou a tradição da indústria do papel em Terras de Santa Maria. Só mais tarde é que começaram

a surgir outras fábricas de papel que se implementaram no distrito, nomeadamente, a partir de 1795, com a fundação do Engenho Novo (…) a Fábrica de Nossa Senhora da Lapa desempenhou um papel preponderante na produção de papel fino para escrever e sua consequente comercialização (…)” (18) Fig. 134 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Prensa do Engenho Velho” – Elemento de arqueologia industrial referente ao complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do distrito de Aveiro, datado do séc. XVIII ou posterior a 1708 (inventariado pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (Imagem extraída de: http://www.museudopapel.org/multimedia/Image/07 _gestaodecolec%C3%A7oes/incorpora%C3%A7ao _1.JPG-01/06/2017,23 h 22 m.).

Fig. 135 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Moinho de Galgas” – Pormenor do estado atual de algumas das “Galgas de Moer papel” do último formato arquitetónico e ativo do “Engenho Velho” Oleirense (elemento de arqueologia industrial posterior a 1708) © José C. Amorim / JFSPO.

(17) Cf. Maria José Ferreira dos Santos, « Marcas de água e historia do papel », Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto online no dia 23 Março 2016, consultado a 31 Maio 2017. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : 10.4000/cultura.2334. (18) Cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 16 a 19.

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"Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa", o histórico e pioneiro "Engenho Velho" da produção de papel oleirense, fundado em 1708 e caso raro no panorama da Arqueologia Industrial & Papeleira em Portugal – Tabela cronológica com alguns apontamentos para a perceção da sua Historiografia, de 1708 a 2017, Por José C. Amorim

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1708 – Tendo em conta a maioria das fontes bibliográficas especializadas, sob sociedade do “Mestre Papeleiro” genovês José Maria Ottone / Joseph Maria Ottone, com o portuense Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem (numa dinâmica onde o italiano fornecia o seu amplo conhecimento na “Arte de produzir papel” e o afamado portuense, o capital necessário para este investimento), São Paio de Oleiros recebeu a primeira Fábrica de produção papeleira do Concelho de Santa Maria da Feira e de todo o Distrito de Aveiro. Sob a designação oficial de “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, posteriormente identificada na gíria papeleira local

e nacional pelo termo “Engenho Velho”, esta unidade cujas ruínas do seu complexo industrial se demarcam, na atualidade, pelos valores de história e memória que absorvem, como um dos mais valiosos e significativos espaços da “Arqueologia Industrial & Papeleira regional e portuguesa”, usufruiu de privilégios e isenções por um período de trinta anos a contar da sua fundação, inscritos no “Alvará Régio / Alvará Real” desse mesmo ano de 1708, concedido pelo Monarca português D. João V (1689 – 1750) (19). Fig. 136 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” - Registo do estado atual de um caso singular do ponto de vista da história, património e arqueologia industrial papeleira na Vila de São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira, na região Norte e no próprio país. Trata-se de um “sítio arqueológico” composto por vestígios referentes à estrutura final do complexo daquela que foi, por alvará régio concedido pelo monarca D. João V (1689 – 1750), a primeira e única Fábrica de papel “fino / de escrita” do distrito de Aveiro – situada em S. Paio de Oleiros - em atividade e produção papeleira permanente entre 1708 (ano de fundação), e a transição de centúria (século), de setecentos (séc. XVIII), para oitocentos (séc. XIX). A par da constância temporal descrita, o seu legado laboral foi muito mais amplo, prolongando-se, com uma ou outra crise pontual, pelos séculos XIX e XX em diante, conhecendo apenas o encerramento definitivo no ano 2000. Como marco identitário, irrompe na paisagem a sua tradicional Chaminé de Alvenaria (composta por Tijolos de Barro agrupados), de tonalidade laranja © Arquivo imagético da JFSPO. (19) Cf. SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, p. 7.


De 1708 em diante - Durante cerca de um século, para além de ser a primeira, a “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, o dito “Engenho Velho” de São Paio de Oleiros, permaneceu e prosperou como a única Fábrica de papel do Distrito de Aveiro, influenciando o surgimento de unidades posteriores na região. Em termos nacionais, foi uma das primeiras, senão a primeira grande Fábrica de produção de “papel fino, de escrita”, cuja produção anual teria como principais pontos / destinos de comercialização a área administrativa da “Comarca da Feira” (hoje Concelho de Santa Maria da Feira), a cidade do Porto e outras regiões do país (20).

-ne / Joseph Maria Ottone na produção papeleira da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros. Segundo a documentação, a saída deste “Mestre Papeleiro” italiano do “Engenho Velho” deveu-se ao suposto insucesso / incompatibilização da sua sociedade com Vicente Pedro Pedrossen / Pedrossem (22). Todavia, apesar da sua saída e do fim desta sociedade, a atividade contínua da Fábrica papeleira Oleirense não teve quebras, verificando-se apenas algumas trocas de proprietários em momentos historiográficos posteriores e certas crises pontuais no século XX. Mesmo assim, apesar de algumas transformações, a produção papeleira deste espaço Segundo os estudos da Dr.ª Maria José Santos, fabril, segundo o Dr. Anthero Monteiro, só encerrou conjuntamente com a “Fábrica de Papel da Lousã” definitivamente na proximidade do século XXI, no ano (fundada em 1716 pelo mesmo José Maria Ottone 2000. aquando da sua saída do “Engenho Velho” Oleirense), a “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” contribuiu Também em momentos integrantes deste balizamento decisivamente para que a partir do início do século XVIII cronológico, tendo em conta o levantamento se generalizasse, em Portugal, a produção de Papel com historiográfico da Dr.ª Maria José Santos, o genovês José Maria Ottone e a sua suposta ação em São Paio de “Marca de água” (21). Oleiros na “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” 1708 a 1713 – Intervalo temporal que define a estadia, o surgem referenciados, sob a grafia “Joseph Maria contributo técnico e o labor contínuo de José Maria Otto- Ottone”, no segundo livro dos “Registos Paroquiais de São Paio de Oleiros para os anos de 1703 a 1749” (atualmente arquivados no Arquivo Distrital de Aveiro – (20) Cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 16, 17, 18, 19 e 20. (21) Cf. Maria José Ferreira dos Santos, « Marcas de água e historia do papel », Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto online no dia 23 Março 2016, consultado a 31 Maio 2017. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : 10.4000/cultura.2334.

(22) Cf. SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, p. 8. & CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, p. 18.

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Registos Paroquiais de S. Paio de Oleiros, Livro Misto n.º uma menção, sem referir designações oficiais, à 2, 1703-1749, fl. 12/v-13.) (23). existência, pioneirismo e importância da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho”, respetivo 1750 – Atendendo aos fragmentos arqueológicos, enquadramento e produção papeleira: “(…) Mas já nas arquitetónicos e artísticos que subsistem atualmente nas “Memórias Paroquiais” de 1758 se diz que “Oleiros não “Ruínas do complexo da Real Fábrica de Nossa Senhora só tem moinhos, mas também um engenho de papel” da Lapa”, o “Engenho Velho” de São Paio de Oleiros, (…)” (24). tendo como base a inscrição “1750”, escavada num elemento pétreo que compõe uma “Bica de água” antiga, 1788 – Partindo do estudo da Dr.ª Telma Correia acerca pressupõe-se que o ano de 1750 marque a construção da “História da Industria Papeleira no Distrito de Aveiro e primitiva de uma “Fonte / Fontanário” que durante Concelho de Santa Maria da Feira”, na sua referência à séculos acompanhou todos os proprietários e “Relação das Fábricas de 1788”, sob supervisão da “Real “embelezou” a evolução dos espaços, paisagem e Junta do Comércio e Administração das Fábricas do Reino e Águas Livres”, sublinha-se o registo de época da equipamento fabril do “Real Fábrica” Oleirense. “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”. Deste modo, Fig. 137 Arqueologia Industrial / no contexto das fábricas produtoras de “papel fino, de Papeleira: “Ruínas do complexo escrita” que essa “Relação” aponta, entre outras, da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Bica assinala-se a “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” pétrea”, marcada pela inscrição de São Paio de Oleiros, como a primeira do Distrito de “1750” - Alusiva à suposta datação pristina da “Fonte / Aveiro e uma das primeiras do país. Contudo, como a Fontanário” que durante séculos autora denota, esse documento acaba por não referir o acompanhou e demarcou a envolvência estrutural e “Alvará Régio / Alvará Real”, respetivas isenções e paisagística da “Real Fábrica de privilégios que o “Engenho Velho” recebeu, pela Nossa Senhora da Lapa”, o dito “Engenho Velho” de São Paio atribuição do Rei de Portugal em exercício, D. João V, “O de Oleiros © José C. Amorim / Magnânimo”, por um período de trinta anos desde a sua JFSPO. fundação (25). 1758 – Como cita o Dr. Anthero Monteiro nos seus (24) Cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro estudos da História local, as “Memórias Paroquiais de da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 5. 1758”, na referência à caracterização oleirense, evocam (25) Cf. CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do Papel no Distrito de

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(23) Cf. Maria José Ferreira dos Santos, « Marcas de água e historia do papel », Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto online no dia 23 Março 2016, consultado a 31 Maio 2017. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : 10.4000/cultura.2334.

Aveiro e no Concelho da Feira” in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, p. 16.


De 1708 ao início do século XX – Apesar de possíveis trocas de proprietários e administrações, conhece-se, através das várias fontes existentes, a atividade e produção papeleira ininterrupta da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho”. Um caso raro de longevidade na História do tecido industrial do Distrito de Aveiro e até no próprio país, que se prolongaria até aos antecedentes do séc. XXI, ao ano 2000. Todavia, dos alvores do séc. XX até ao ano 2000, a continuidade, utilização do espaço e mesmo a tipologia de produtividade não seria tão uniformizada como nas duas centúrias anteriores (séculos XVIII e XIX). 1833 – Entre outros elementos de “Arqueologia Industrial & Papeleira”, por exemplo uma “Prensa”, que foram inventariados e deslocados das “Ruínas do complexo da Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho” de São Paio de Oleiros para o “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (criado em Paços de Brandão e inaugurado em 2001); no seu acervo e coleção de “Marcas de água”, realça-se uma “Marca de água de papel almaço de segunda qualidade”, de 1833 e oriunda do contexto produtivo oitocentista da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros. Em termos gráficos e textuais, essa “Marca de água” possui as seguintes inscrições e componentes: “MOREIRA.1833. AlMasso. R. F. da Lapa. Feira. 2.ª. Q.e.” (“Moreira. 1833. Almaço. Real Fábrica da Lapa. Feira. Segunda Qualidade”) (26).

(26) Cf. http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspx-01/06/2017,19 h 14 m.

Fig. 138 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Marca de água de papel almaço de segunda qualidade”, de 1833 e oriunda do contexto produtivo oitocentista da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros” - “MOREIRA.1833. AlMasso. R. F. da Lapa. Feira. 2.ª. Q.e.” (“Moreira. 1833. Almaço. Real Fábrica da Lapa. Feira. Segunda Qualidade”) (inventariada pelo “Museu do Papel Terras de Santa Maria”) © “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (Imagem extraída de: http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspx-01/06/2017,19 h 19 m.).

Início do século XX (ca. 1905) – Segundo o Dr. Anthero Monteiro e a sua investigação, não sabendo ao certo se a vertente papeleira deste complexo fabril fora interrompida, as instalações ou algumas das dependências da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” foram adquiridas e utilizadas pela companhia “Coats & Clark”, para implementação de uma Fábrica de fiação de algodão. Na informação gentilmente cedida para figurar neste “Roteiro”, acerca deste facto, o Dr. Anthero Monteiro cita Pinho Leal e o jornal “Correio da

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Feira” de 11 de março de 1905: "Teria havido, no entanto, uns anos antes, julgamos que dentro ou nas imediações da fábrica do Engenho Velho, uma indústria de fiação de algodão, que Pinho Leal já referia como empregando 130 operários e que cremos ter a ver com a empresa Coats & Clark“. “No Correio da Feira de 11.03.1905, surge uma notícia intitulada “Fábrica em Oleiros”, em que se diz ter sido constituída no Porto a Companhia Coats & Clark que “vae adquirir a propriedade e fabrica de papel do Engenho Velho em Oleiros, pertencente ao Sr. Costa, para ali instalar a fábrica de linha de algodão”.

perdida e uma “Bacia / Reservatório para recolha de água” que cairia da “Bica” setecentista), é através das referências / inscrições literárias e numéricas que atualmente conseguimos visionar neste elemento arquitetónico, que definimos, com auxílio do conhecimento do Dr. Anthero Monteiro, outro momento da História contemporânea do “Engenho Velho”, associado à administração dos destinos deste espaço por uma família local de sobrenome “Castro”.

1968 – Não obstante outras mudanças de proprietários, teor e atividades que possam ter ocorrido até este ano de 1968, focando novamente esta abordagem na “Arqueologia” que prevalece nas “Ruínas da Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho” de São Paio de Oleiros, a par da “Bica de água”, pétrea e marcada pela datação “1750”, a estrutura geral da “Fonte / Fontanário” que durante séculos acompanhou todos os proprietários e “embelezou” a evolução dos espaços e equipamento fabril do complexo da “Real Fábrica”, apresenta uma composição visível nos dias de hoje, resultante de uma suposta intervenção de 1968. Demarcada pela estrutura pétrea e arcada (em “arco de volta perfeita”), que a envolve (decorada com saliências pétreas e fragmentos de “conchas”, um pequeno “nicho superior”, também arcado, que poderia conter uma escultura de Imaginária religiosa, atualmente ausente / 129

Fig. 139 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – Estrutura atual da “Fonte / Fontanário” de 1750, resultante da “Reconstrução / Restauro” posterior, de 1968 - Estrutura pétrea arcada (em “arco de volta perfeita”), que envolve as “ruínas / vestígios” da “Fonte / Fontanário” (decorada com saliências pétreas e fragmentos de “conchas”, um pequeno “nicho superior”, também arcado, que poderia conter uma escultura de Imaginária religiosa, atualmente ausente / perdida e uma “Bacia / Reservatório para recolha de água” que cairia através da “Bica” setecentista) © José C. Amorim / JFSPO.


Assim sendo, no corpo frontal da estrutura que enquadra a “Bica pétrea” de 1750, abaixo deste elemento, ladeada pela figuração de dois pássaros (possíveis “pombas”), subsiste a inscrição “F. CASTRO” e, ao centro da “Bacia / Reservatório” pétreo para acumulação de água, o registo “R. da 1968”. Após troca de perspetivas e interpretações com o Dr. Anthero Monteiro, foi possível identificar a primeira alusão literária – “F. CASTRO” – como “Feito por Castro”; e a segunda – “R. da 1968” – “Restaurada em 1968”. Ou seja, tendo em conta a antiguidade da “Fonte / Fontanário”, remontante, no seu formato pristino a 1750, estas inscrições indicam que a estética atual que envolve a “Bica setecentista” e constitui a “Fonte / Fontanário” do “Engenho Velho”, das “Ruínas da Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa” de São Paio de Oleiros, resulta de uma ação de “reconstrução ou restauro”, operada em 1968, por um proprietário de sobrenome “Castro”.

Fig. 140 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – Estrutura atual da “Fonte / Fontanário” de 1750, resultante da “Reconstrução / Restauro” posterior, de 1968 – Pormenor da inscrição, abaixo da “Bica pétrea de 1750”, “F. CASTRO” – “Feito por Castro” datada de 1968 © José C. Amorim / JFSPO.

Figs. 141 & 142 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – Estrutura atual da “Fonte / Fontanário” de 1750, resultante da “Reconstrução / Restauro” posterior, de 1968 – Pormenor da inscrição de “Reconstrução / Restauro de 1968”, incrustada no segmento frontal da “Bacia / Reservatório” desta “Fonte / Fontanário”, “R. da 1968” – “Restaurada em 1968” © José C. Amorim / JFSPO.

Esse proprietário seria, em 1968 e tendo por base o conhecimento e investigação do Dr. Anthero Monteiro partilhada para este “Roteiro”, um dos descendentes, que não conseguimos especificar com exatidão, do “Sr. José Correia de Castro (também ele proprietário do “Engenho Velho” até 1964), de S. Paio de Oleiros, marido de Dona Alda Castro, lugar da Estrada, Rua do Hospital, ele nascido em 2 / 10 / 1899 e falecido em 7 / 2 / 1964”. Até ao ano 2000 – Desconhecendo se por aquisição direta à “família Castro” ou a algum proprietário posterior, no último momento de laboração, em cerca do ano 2000, a “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, à época e quiçá desde 1910 (no decurso da queda da Monarquia e implantação, com a revolta de 5 de outubro, da “República portuguesa”, algo que terá abolido o uso do termo “Real” das designações oficiais), mais conhecida como “Fábrica de Papel do Engenho Velho” / “Fábrica do Engenho Velho”, estaria sob posse e administração de Joaquim Francisco do Couto. Também ele oriundo de

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uma das famílias empresariais mais proeminentes da encerramento, exposto às vicissitudes da passagem sociedade e economia de São Paio de Oleiros, sobretudo temporal e a algum “desinteresse de conservação do século XX. preventiva”, o “sítio arqueológico” e o último formato da estrutura arquitetónica do “Engenho Velho” Oleirense, Tal como referido anteriormente num dos Capítulos degradaram-se bastante, atingindo um estado de ruína iniciais deste “Roteiro”, intitulado “São Paio de Oleiros – sobejamente avançado. Excetua-se a sua “Chaminé de Traços essenciais da sua História”, sob a perspetiva do Alvenaria de Barro”, cuja durabilidade, cromia laranja e Dr. Anthero Monteiro, com um legado existencial balizado imponência marcam, de forma singular, a paisagem entre o remoto ano de 1708 e o ano 2000, o “Engenho desta Vila e o enquadramento da localização dos Velho” Oleirense terá sido caso único de longevidade no vestígios daquela que foi a primeira Fábrica de papel do panorama industrial português: Distrito de Aveiro e uma das primeiras de todo o país (pioneira sobretudo na produtividade de “papel fino, de “(…) De facto, já 50 anos antes (1708) fora fundada na escrita”). nossa localidade a Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa, que viria a ser mais conhecida por Fábrica de Papel do Engenho Velho, por uma sociedade constituída pelo genovês José Maria Ottone e pelo capitalista portuense Vicente Pedrossen. Esta fábrica haveria de ser, apesar de múltiplas mudanças de proprietários, a que, talvez em todo o país, mais tempo permaneceu em laboração, o que aconteceu até às proximidades do ano 2000 (…)"

De 2000 a 2001 / Após 2001 – No decurso da investigação, fundação e “responsabilidade patrimonial” do “Museu do Papel Terras de Santa Maria” (localizado fisicamente em Paços de Brandão), procedeu-se ao levantamento, inventário e/ou deslocação de algum “Património de Arqueologia Industrial & Papeleira” que demarcou a importância e a história da atividade secular da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho” de São Paio de Oleiros. De 2000 a 2017 – Em virtude da sua inatividade e 131

A partir de 2017 – Com a aquisição, empreendedorismo e projetos, por parte do Sr. Simão Rocha (BONCARTON, SGPS), dos terrenos envolventes e “Ruínas da Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa”, este importante “sítio arqueológico” de São Paio de Oleiros e da História da Industria Papeleira Portuguesa ganhará uma dinâmica visual renovada, combinando “Museologia & Industria”. Miscigenando a preservação das imagens e estruturas marcantes do Passado, com a transformação e concretização de espaços, valências e equipamentos produtivos de cariz modernista, em busca do fomento socioeconómico e avanço tecnológico da produção papeleira local, nacional e mundial.


Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos

MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, pp. 4 e 5.

ALFERES, Albano de Paiva - “O Fabrico do papel no Concelho da Feira” in Velharias. Santa Maria da Feira: Villa da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira, 2006, p. 132. (Artigo publicado originalmente no n.º 4392 de 28 de outubro de 1983 do Jornal Correio da Feira).

PEREIRA, Pedro Teixeira – “Os Pedrossem – Uma família de Elite no Porto setecentista” in Douro-Estudos & Documentos. Vol. III, n.º 15. (s/l): 2003, pp. 111 a 114.

SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde CORREIA, Telma Marília Assunção - “A indústria na Freguezia d´ Oleiros Concelho da Feira. Porto: portuguesa nos séculos XIX e XX: as fábricas de papel” Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). in A Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em SANTOS, Maria José Ferreira dos - “O Museu do Papel História e Património – Ramo Arquivos Históricos, Terras de Santa Maria” in Villa da Feira. Terra de Santa orientada pelas Professora Doutora Amélia Polónia & Maria. Ano I, n.º 4. Santa Maria da Feira: junho de 2003, Dra. Maria José Ferreira dos Santos à Faculdade de pp. 7 a 9. Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2009, pp. 12 e 13. Maria José Ferreira dos Santos, « Marcas de água e historia do papel », Cultura [Online], Vol. 33 | 2014, posto CORREIA, Telma Marília Assunção - “A Indústria do online no dia 23 Março 2016, consultado a 31 Maio 2017. Papel no Distrito de Aveiro e no Concelho da Feira” in A URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI : Família Azevedo Aguiar Brandão e a Indústria do Papel 10.4000/cultura.2334. (séculos XIX e XX) (Dissertação de Mestrado em História e Património – Ramo Arquivos Históricos, orientada pelas http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspxProfessora Doutora Amélia Polónia & Dra. Maria José 01/06/2017,19 h 14 m. Ferreira dos Santos à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: Faculdade de Letras da http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.aspxUniversidade do Porto, 2009, pp. 15 a 20. 01/06/2017,19 h 19 m. 132


http://www.museudopapel.org/multimedia/Image/07_gest aodecolec%C3%A7oes/incorpora%C3%A7ao_1.JPG01/06/2017,23 h 22 m.

Fig. 143 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” – “Moinho de Galgas” – Pormenor do estado atual de uma das “Galgas de Moer papel” do último formato arquitetónico e ativo do “Engenho Velho” Oleirense (elemento de arqueologia industrial posterior a 1708) © José C. Amorim / JFSPO.

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim (com agradecimento especial ao Dr. Anthero Monteiro pela troca de opiniões e informações partilhadas acerca desta matéria, para melhor redigir este artigo). 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor). 133

Figs. 144 & 145 Arqueologia Industrial / Papeleira: “Ruínas do complexo da Real Fábrica de N.ª Sr.ª da Lapa” / “Engenho Velho” - Registo do estado atual de um caso singular do ponto de vista da história, património e arqueologia industrial papeleira na Vila de São Paio de Oleiros, no concelho de Santa Maria da Feira, na região Norte e no próprio país. Panorâmicas do “sitio arqueológico” da “Real Fábrica de Nossa Senhora da Lapa – Engenho Velho”. Como marco identitário, irrompe na paisagem a sua tradicional Chaminé de Alvenaria (composta por Tijolos de Barro agrupados), de tonalidade laranja © Arquivo imagético da JFSPO.


Arquitetura residencial e cívica – “Do Revivalismo Romântico e oitocentista (séc. XIX), à influência dos estilos “Arte Nova & Casa Portuguesa” dos alvores de novecentos (séc. XX)”


Arquitetura residencial e cívica – “Do Revivalismo Romântico e oitocentista (séc. XIX), à influência dos estilos “Arte Nova & Casa Portuguesa” dos alvores de novecentos (séc. XX)” Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” & “Ateneu de São Paio de Oleiros” – Exemplos de Arquitetura residencial e cívica balizados entre o fim do séc. XIX e o início do séc. XX, Por José C. Amorim

Figs. 146 & 147 Em cima, Fachada principal de parte das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros - Possivelmente edificado sob égide de Joaquim de Sá Couto (1820-1902) (Comendador, empresário papeleiro, benemérito e filantropo de São Paio de Oleiros e do vizinho concelho de Espinho). Residência nobre de Arquitetura Revivalista, “Neomedieva” (ao gosto dos ideais oitocentistas – séc. XIX - do “Romantismo português”) & Em baixo, Panorâmica geral de um edifício conhecido localmente como “Ateneu”, de possível cronologia dos anos (19)30 © Imagem 146 extraída de: MONTEIRO, Anthero “1909 / 2009 - A História do Hospital-Asilo de São Paio de Oleiros no Centenário da sua inauguração” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 21. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2009, p. 67. & Imagem 147 extraída de: https://mapcarta.com/pt/Street_View - 02/04/2017, 00 h 17 m.

Com uma malha urbana edificada, visível e atual, maioritariamente datável ou transformada a partir da segunda metade do século XX, subsistem no Património arquitetónico de São Paio de Oleiros alguns, raros, exemplos de Arquitetura residencial e cívica que testemunham no presente, algumas das soluções que vigoraram no passado local entre o século XIX e as primeiras décadas do século XX. Desses escassos exemplares, existem dois edifícios

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que pelo seu historial, utilização e estética, enquadram os destaques da Arquitetura contemporânea local entre o “Revivalismo Romântico oitocentista” (de séc. XIX), em parte “Neomedievo”, a influência tardia das soluções “Arte Nova” e o reconhecido estilo nacionalista “Casa portuguesa” das primeiras três / quatro décadas do séc. XX.

conservam, apesar das marcas de degradação temporal visíveis e independentemente de patentearem algumas miscigenações, os pressupostos da sua Planta, Traçado e Alçado originais. De facto, mesmo do ponto de vista do Património de índole civil, à semelhança do que se verifica noutros campos e áreas históricas, identitárias e artísticas deste “Roteiro”, encontramos novamente dois exemplares de realce que se enquadram na dita “época Deste modo, não esquecendo a raridade patrimonial, áurea” da historiografia e crescimento local histórica e arquitetónica da “Residência rural de 1854” multidisciplinar, exponenciado entre os finais do século (com a datação inscrita / escavada / gravada no seu XIX e os princípios do século XX. pórtico, retangular e pétreo, da entrada principal e “Casa rural de 1854” – “Casa dos Bernardos” pequeno nicho / espaço de possível “Oratório / Almas do purgatório / Alminhas” marcado com Cruz latina no topo, mas atualmente despojado de “Alfaias / Arte sacra / Ex148 “Perspetiva votos / Objetos de culto”), existente na Rua da Igreja, de Fig. aérea da localização frente para o “Cemitério Paroquial” – a dita “Casa dos da “Casa rural de – “Casa dos Bernardos” na gíria popular oleirense - e o “Prédio de 1854” Bernardos” de São 1933” que resiste à passagem do tempo na Rua do Paio de Oleiros © extraída de: Valado – caracterizado, numa das suas secções, pela Imagem https://www.google.pt/ “Rua da Igreja & fragmento datação inscrita num relevo em formato de losango e, na maps/@40.9903084,8.5946984,127a,35y,2 do Cemitério Paroquial” restante, pelos elementos visíveis, sobretudo “arcos 94.46h,45t/data=!3m1! abatidos” de linguagem aproximada ao estilo “Arte nova” 1e3 - 02/04/2017, 01 h “Rua da Cruz” / “Casa portuguesa” – o “Solar / Palacete Romântico da 26 m. Quinta da Cardenha” e o antigo “Ateneu”, são os casos de estudo mais significativos para a perceção dos tipos e estilos marcantes da História da Arquitetura e Património edificado, de cariz cívico e residencial, que se demarcam na paisagem e urbanismo oleirense. Fig. 149 Panorâmica geral da extensão da Frontaria da “Casa rural de 1854” – “Casa Tal 136

evidência

é

notória,

tendo

em

conta

que

dos Bernardos” de São Paio de Oleiros © Imagem extraída https://www.google.pt/maps/@40.9907809,8.5960742,3a,90y,294.46h,89.01t/data=!3m6!1e1!3m4!1sB9RGgB1d1V6jzhOUHwTPg!2e0!7i13312!8i6656 - 02/04/2017, 01 h 24 m.

de:


“Prédio de 1933”, com pormenores estilísticos “Arte Nova” tardia e “Casa portuguesa”

“Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” – Espaço de traço revivalista, símbolo de prosperidade, residência e convívio

“Rua do Valado”

“Rua Joaquim Francisco do Couto” Fig. 150 “Perspetiva aérea da localização do “Prédio Arte Nova / Casa portuguesa de 1933”, sito em São Paio de Oleiros © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/@40.9846218,8.5962612,61a,35y,99.1h,45.04t/data=!3m1!1e3 - 02/04/2017, 01 h 39 m. Fig. 151 Panorâmica geral da extensão da Fachada e de um dos Alçados laterais do “Prédio Arte Nova / Casa portuguesa de 1933”, sito em São Paio de Oleiros © Imagem extraída de: https://www.google.pt /maps/@40.9846363, 8.5959648,3a,75y,10 4.38h,77.38t/data=!3 m6!1e1!3m4!1sXE5T H8QO7hr0-02/04/2017, 01 h 42 m.

Figs. 152 & 153 “Perspetivas aéreas da localização e estrutura atual do espaço e “complexo” do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha”, com entrada / acesso atual pela Rua Comendador Joaquim de Sá Couto de São Paio de Oleiros, a poucos quilómetros de distância da Estação “Sampaio-Oleiros” da “Linha do Vale do Vouga” e do próprio complexo do antigo Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde © Imagens extraídas de: https://www.google.pt/maps/@40.9807311,8.5957442,139a,35y,90h,45t/data=!3m1!1e3 - 02/04/2017, 11 h 26 m.

Possivelmente edificado numa cronologia oitocentista (séc. XIX), sob égide de Joaquim de Sá Couto (1820 1902) – em virtude da sua prosperidade económica resultante da exploração papeleira, sobretudo da “Fábrica de Papel da Cardenha do Candal de Baixo” (fundada em 1811, posteriormente adquirida e exponenciada por Sá Couto (1), destruída em 1854 num incêndio de grandes proporções, mas reconstruida em 1859) – foi no decurso do seu falecimento, respetivo legado e testamento dirigido à sua herdeira e sobrinha

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Emília Augusta de Sá Couto Moreira (1847 - 1929) e respetivo marido, João Augusto da Cunha Sampaio Maia (1857 - 1938) (2) – o já referido Primeiro Conde de São João de Ver, testamenteiro, obreiro do cumprimento da vontade do Comendador e primeiro diretor do Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde – que o “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de São Paio de Oleiros obteve maior referência documental (3) e até importância no panorama sociocultural da Freguesia e respetiva vizinhança. Tal como sublinha o Dr. Anthero Monteiro num dos seus artigos (também ele resultante do trabalho de investigação que este autor local desenvolve para a produção da “Monografia” de S. P. Oleiros, a publicar), e intitulado “A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros” (MONTEIRO, Anthero - A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, (s/d)), nos primeiros anos de novecentos (séc. XX), o próprio “Solar / Palacete da Cardenha” figurava, através de receções, bailes e “soirées” dirigidas à alta sociedade da época, no itinerário e programa cívico do culto e celebração local dedicada a Nossa Senhora da Saúde. Ora vejamos:

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“(…) 1906 / A festa realiza-se também na data habitual. Lêse na Gazeta de Espinho: «Os nobres condes de S. João de Ver ofereceram nesse dia (15/8) às pessoas das suas relações e amizade um opíparo jantar seguido de soirée, onde se dançou com todo o entrain até de madrugada». Foi no seu Palacete da Quinta da Cardenha, em S. Paio de Oleiros, o que parece ser uma tradição da casa, ou pelo menos, será notícia nalguns dos anos subsequentes. O

Conde de S. João de Ver, que era o testamenteiro do Comendador Sá Couto, exercia então o cargo de Presidente da Câmara da Feira (…) 1909 / Volta a imprensa regional a referir-se a «uma bela festa no palacete dos Senhores Condes de S. João de Ver», que teve lugar no domingo da Senhora a Saúde. «Após uma bem servida ceia, dançou-se com grande animação até depois das 4 horas da manhã» (…)” (4) (1) “(…) Comendador Joaquim de Sá Couto (…) Nasceu o benemérito instituidor do Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde, commendador Joaquim de Sá Couto, aos 26 de Março de 1820, na freguezia de Oleiros (…) Activo e intelligente, dedicou-se desde tenra idade ao commercio e conseguiu vêr coroados os seus esforços, encontrando-se de pouco tempo habilitado a adquirir a fábrica de papel da Cardenha do Candal de Baixo (…)” – cf. SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). (2) “(…) Dr. João Augusto da Cunha Sampaio Maia, 1.º Conde de São João de Ver, nasceu a 21 de Março de 1857 e faleceu, na Casa da Torre a 8 de Junho de 1938 (…) Casou, a 7 de Janeiro de 1884, em São Paio de Oleiros, com D. Emília Augusta de Sá Couto Moreira, senhora da Quinta da Cardenha (…) Filhos: D. Inês de Sá Couto da Cunha Sampaio Maia, Senhora da Quinta da Cardenha (…) Foi Senhora da Quinta da Cardenha por doação de seus pais (…)” – cf. SAMPAIO MAIA, Ângelo “Casa da Torre em Terra de Santa Maria. S. João de Ver. Apontamentos genealógicos e notas da família” (texto revisto e atualizado por Fernando Sampaio Maia) in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano I, n.º 3. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2003, pp. 18 e 19. (3) Segundo refere o Dr. Anthero Monteiro no seu estudo evocativo do historial do Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde de São Paio de Oleiros, as visitas de João Augusto da Cunha Sampaio Maia ao “Solar” e “Quinta da Cardenha” mereciam interesse de jornais e periódicos da época: “(…) Foi, sem dúvida, das figuras locais mais proeminentes do seu tempo, pelo que os jornais da região da época registavam todas as suas movimentações: as idas a Lisboa nas suas lides políticas ou as férias na sua casa de Espinho e todos os regressos à sua Casa da Torre, em S. João de Ver, ou ao seu «magnífico solar e quinta de Oleiros», ou seja, a quinta da Cardenha (…)” – cf. MONTEIRO, Anthero - “1909 / 2009 - A História do Hospital-Asylo de São Paio de Oleiros no Centenário da sua inauguração” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 21. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2009, p. 68. (4) Cf. MONTEIRO, Anthero - A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, (s/d), p. 6. (Documento acessível, sob autorização do autor, no segmento de “História &Identidade - Arquivo histórico e documental” do “Portal / Website” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, através da ligação: https://www.dropbox.com/s/qb6u3cnhqzt0nz7/Hist%C3%B3ria%20N%C2%AA%20Sr a%20Sa%C3%BAde%20Sto%20Ant%C3%B3nio.pdf?dl=0 – 02/04/2017, 16 h 43 m.).


Fig. 154 Pormenor da Fachada principal de parte das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros - Residência nobre de Arquitetura Revivalista, “Neomedieva” (ao gosto dos ideais oitocentistas do “Romantismo português”) © Arquivo imagético da JFSPO.

Pelas referências históricas descritas, é possível perceber a suposta importância social (5) e familiar que este “Solar / Palacete” absorveu nas suas épocas de residência ou visitas pontuais. Pela orgânica espacial da Quinta, respetivo complexo definido e, sobretudo pelos traços e pressupostos arquitetónicos visíveis na sua Fachada principal, perceciona-se neste Edifício um certo “gosto revivalista”, em consonância com a sua hipotética época de edificação e com o próprio “Romantismo em voga na Europa e no Portugal oitocentista”. Eclético ao gosto burguês, profundo apreciador, na Arquitetura pública e privada, da recuperação e adaptação de soluções visuais remotas, próprias de um passado distante, essencialmente “Neomedievais” (“Neorromânicas”, “Neogóticas” & “Neomanuelinas”),

contrastantes nos seus princípios concetuais, construtivos, funcionais e estéticos com os estilos imediatamente anteriores ao século XIX e mesmo dos inícios do século XIX, como foram o “Barroco” (sécs. XVII & XVIII), o rebuscado “Rocaille / Rococó” (de séc. XVIII), e o próprio “Neoclassicismo” que transitara do término de setecentos para os alvores do novo século (fins do séc. XVIII & início do séc. XIX) (6).

(5) Pois passaram por aqui, certamente, personalidades influentes da alta sociedade das suas épocas de existência – fase final do séc. XIX e primeiras décadas do séc. XX - nobres, burgueses, industriais, membros da cultura artística, literária e musical, e ainda políticos de alcance local, regional e nacional. (6) Acerca da Arquitetura do Romantismo em Portugal, e do estilo em si, de cariz revivalista “Neomedievo”, vide (veja): “(…) Tomando o Romantismo sobretudo como processo de renovação do material mítico, como o via Kenneth Clark (…)” – cf. ARAÚJO, Agostinho Rui Marques de – Experiência da Natureza e Sensibilidade PréRomântica em Portugal. Temas de pintura e seu consumo (1780-1825). vol. I. Tese de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (sob Orientação de Carlos Alberto Ferreira de Almeida). Porto: ed. Autor, polic. (subsidiada pelo Instituto Nacional de Investigação Científica / Centro de História da Universidade do Porto), 1991, (s/p). “(…) Mas, ao neoclassicismo que viera de setecentos o novo século opunha outra espécie de revivalismo histórico, no neogótico, que em Portugal rapidamente evoluiu para um neomanuelino filho do estilo de quinhentos, a que os românticos logo deram o valor emblemático (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte portuguesa de oitocentos. Colecção Biblioteca Breve. Vol. 28. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua portuguesa, 1992, p. 58. “(…) demanda criativa do séc. XIX não dispunha da estabilidade necessária para suportar avanços técnicos e pictóricos. Sob uma galeria inicialmente distante de momentos progressistas externos, o país regista empenho no seu restabelecimento arquitetónico, nomeadamente através da reconstrução lisboeta e tentativa de melhoria de recursos públicos. Do ponto de vista citadino, Lisboa e Porto evoluem na sua malha, enquanto que as restantes urbes careciam de intervenção aprofundada. Na arquitetura, destaca-se a unanimidade inicial no uso do Neoclassicismo, cuja resposta estética posterior surgia no traço Romântico Neomedievo (alternando entre o Neogótico, o Neomanuelino e o Neorromânico) (…)” – cf. AMORIM, José – “Correntes artísticas” in António Carneiro (1872-1930). Pluralidade e desígnios do Ilustrador (Dissertação de Mestrado em História da Arte portuguesa orientada pelo Professor Doutor Agostinho Rui Marques de Araújo, apresentada ao Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Porto: D.C.T.P. / F.L.U.P., 2012, p. 35.

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escrito “Quinta da Cardenha” no friso superior, o caminho dirigido ao “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” encontra-se acessível pela via local denominada Rua Comendador Joaquim de Sá Couto.

Figs. 155 & 156 Panorâmica geral e pormenor do pórtico e portão com o escrito “Quinta da Cardenha” identificado com o número 463 da atual Rua Comendador Joaquim de Sá Couto da Vila de São Paio de Oleiros - Passível de acesso ao perímetro de “Quinta, Complexo e Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros - Residência nobre de Arquitetura Revivalista, “Neomedieva” (ao gosto dos ideais oitocentistas do “Romantismo português”) © Arquivo imagético da JFSPO.

“Pináculo pétreo, coroado no topo com esfera”.

Possivelmente enquadrável num contexto construtivo da segunda metade do século XIX e em consonância com algumas influências da Arquitetura dominante na vizinhança – sobretudo nas estâncias de veraneio espinhenses – apesar de possuir outras dependências, anexos e/ou acrescentos coevos ou extemporâneos, em termos da sua Planimetria este Edifício caracteriza-se pelos seus dois “blocos” principais, de dimensão superior e retangulares, combinados em “L”, comunicantes e unidos entre si por uma estrutura de transição. Um belo e peculiar Torreão hexagonal, de cota superior e com uma pretensa chaminé circular adoçada numa das suas faces.

“Portão metálico com escrito no friso superior identificativo da “Quinta da Cardenha”. “Pormenor de trabalho pétreo em formato de voluta / enrolamento espiralado”.

Com pórtico de entrada no perímetro da Quinta decorado com alguns apontamentos pétreos, sobretudo enrolamentos / volutas, três pináculos coroados no topo com esferas e uma estrutura de portão metálico com o 140

“Bloco central” do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” com Planta de combinação em “L” invertido (representado visualmente pelas “linhas vermelhas”) – Duas estruturas retangulares com Torreão hexagonal de transição / união entre ambas”.

Fig. 157 “Perspetiva aérea da localização e estrutura atual do espaço e “complexo” do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros © Imagem extraída de: https://www.google.p t/maps/@40.981389 6,8.5941156,68a,35y, 199.26h,45.04t/data =!3m1!1e3 03/04/2017, 15 h 34 m.


Especificamente, é na Fachada principal de cada um dos elementos retangulares e Torreão hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada que compõem o “bloco central” desta construção oitocentista, que as pretensas características Românticas deste Edifício são percetíveis. Deste modo, no “Solar / Palacete da Quinta da Cardenha”, circunscrito por pequeno muro / vedação com cercadura metálica e pórticos de acesso, os dois segmentos de Planta retangular identificam-se pelos volumes retos que definem as suas faces (Fachadas e Alçados retangulares, simétricos), e pelos dois telhados, o principal de quatro e o secundário de duas águas, que cobrem a totalidade de cada uma destas divisões. Antecedendo os próprios esteios / pontos de partida para os telhados construídos, de forma a criar alguma cenografia na composição, nos segmentos superiores da Fachada principal, e alguns dos Alçados / “Fachadas laterais” de cada um destes “corpos arquitetónicos” evidencia-se uma balaustrada de Cantaria – sobrepujada, pétrea e segmentada – que circunscreve, em parte, a extensão destes perímetros. Mantendo a harmonia com a cenografia, geometria e simetria propostas nestes “blocos”, as aberturas, frestas ou janelas que os dinamizam são também molduradas retangularmente, possuindo caixilharia de Madeira circunscrita por beirais e peitoris em Pedra. Não obstante a importância e o cariz oitocentista que cada um destes pormenores construtivos patentes nos “corpos retangulares” desta obra revela, é na estrutura hexagonal com chaminé adoçada que o arquiteto

(ausente de referências documentais, pelo menos nesta fase preliminar em que a investigação se encontra), e todos os elementos envolvidos na realização deste “Solar / Palacete” Oleirense exibem a pretensa vertente Romântica e Revivalista deste espaço; atribuindo-lhe também alguma dinâmica cenográfica. Podemos mesmo aferir que pela sua estética, este Torreão constitui uma marca identitária deste Monumento e da Arquitetura oitocentista local, difícil de encontrar em complexos vizinhos de cronologia e estilo similares. Fig. 158 Fachada principal de parte das Ruínas do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros © Imagem extraída de: MONTEIRO, Anthero “1909 / 2009 - A História do Hospital-Asilo de São Paio de Oleiros no Centenário da sua inauguração” in Villa da Feira. Terra de Santa Maria. Ano VII, n.º 21. Santa Maria da Feira: fevereiro de 2009, p. 67.

“Corpo arquitetónico de Planta, Fachada, Alçados, frestas e janelas de cariz retangular” .

“Torreão hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada” .

“Telhado de quatro águas” .

“Balaustrada de Cantaria – pétrea, sobrepujada e segmentada” .

“Pequeno muro com vedação”, cercadura metálica e pórticos de acesso, que circunscreve o Monumento” .

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“Torreão hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada” .

identificam alguns dos signos e soluções que enquadram / aproximam parte desta construção aos ideais Românticos Revivalistas “Neomedievais”, típicos da Arquitetura senhorial, nobre e burguesa da segunda metade do século XIX português. Neste caso, um tipo de Revivalismo “Neomedieval” mais ao gosto “Neorromânico” (7), passível de interpretação nesse âmbito pelo conjunto de “Ameias” (espaçamento entre volumes pétreos), e “Merlões” retangulares (estruturas Fig. 159 “Perspetiva aérea da pétreas), que coroam e circundam o topo da chaminé localização e estrutura atual do espaço cilíndrica; evocativos, na época contemporânea e em e “complexo” do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” © certa medida, das construções / fortificações acasteladas Imagem extraída de: da Época Medieval, mais próprias de um Românico https://www.google.pt/maps/@40.98073 11,austero (típico do séc. XII), de geometrias mais simples 8.5957442,139a,35y,90h,45t/data=!3m1 nas suas “Ameias” e “Merlões”, do que de um Gótico !1e3 - 02/04/2017, 00 h 15 m. plasticista e decorativo que apresentaria outro tipo de Do ponto de vista formal, este volume de Planta soluções formais e geométricas nesses elementos. hexagonal avançada, com chaminé cilíndrica adoçada numa das suas faces laterais, possui uma cota que se Também a presença, valorização e uso do “arco de eleva em altura perante os “corpos retangulares” do volta perfeita” na coroação da porta de entrada e janela Edifício, indiciando, pela própria distribuição de que figuram a dinâmica da face central da Fachada deste aberturas, porta, pequeno varandim, frestas, janelas, Como descritivo do Revivalismo Romântico de cariz “Neomedieval”, ao gosto friso de separação em Cantaria e elementos decorativos (7) “Neorromânico”, vide (veja): “(…) Entretanto, o estilo neorromânico ou “bizantino”, de três das suas faces que compõe a Fachada principal, que se radicava num gosto contemporâneo internacional, substituíra, em Portugal, o dos românticos. De Ventura Terra a Marques da Silva, ele satisfez a sua divisão em dois “Pisos / Andares” interiores (um neomanuelino uma determinada consciência nacionalista, própria da geração intelectual de 90, “Piso térreo” e um “Andar superior”). marcada, por um lado, pelo surto patriótico contra o “Ultimatum” britânico e, por outro,

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Em termos estilísticos este volume encarna o ex-libris do “Solar / Palacete da Cardenha”, pois é através desta composição hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada que possui a porta de acesso principal ao interior do Edifício, ao seu pretenso “hall de entrada” - que se

por um ensimesmamento tradicionalista, sublinhando os valores das “serras” contra a “cidade” (…)” – cf. FRANÇA, José–Augusto – Arte Portuguesa do século XIX. Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1988, p. 60. “(…) O neorromânico, apropriado a igrejas (…) mas também para sinagogas e templos adventistas e para associações culturais tanto quanto para túmulos (…) e palacetes (…) tendia a valorizar como eminentemente portuguesa, a arte românica, ligada aos primórdios da nacionalidade (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte portuguesa de oitocentos. Colecção Biblioteca Breve. Vol. 28. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua portuguesa, 1992, pp. 107 e 108.


Torreão hexagonal, indiciam a proximidade deste “Solar / Palacete” ao “Neorromânico” que desta forma recupera em pleno séc. XIX, mas com outro tipo de materiais e acabamentos, a estrutura dos portais com “arco de volta perfeita” que demarcam e identificam a Arquitetura típica do Românico português de séc. XII.

Fig. 160 Pormenor da Fachada principal (três das seis faces), do Torreão hexagonal com chaminé cilíndrica adoçada do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros Residência nobre de Arquitetura Revivalista, “Neomedieva” (ao gosto dos ideais oitocentistas do “Romantismo português”) © Arquivo imagético da JFSPO.

Do ponto de vista morfológico, iconográfico, estrutural e construtivo, o programa do Torreão hexagonal do “Solar / Palacete da Cardenha”, mantendo a uniformidade Romântica com os dois segmentos principais do “bloco central” deste Edifício, apresenta no seu topo, correspondendo aos seis lados da Planta hexagonal deste volume, balaustradas de Cantaria – pétreas, sobrepujadas e segmentadas. A par da vertente visual e efeito estético, estes elementos poderiam delimitar e proteger um suposto espaço passível de utilização como “miradouro” de vista privilegiada para o território Oleirense e áreas vizinhas. Em termos globais, neste registo construtivo evidenciam-se três das seis faces visíveis da sua Planimetria e Alçado em hexágono. Ou seja, as três faces que definem a Fachada principal deste elemento, caracterizado, nas duas laterais, pela simetria e divisão em dois níveis de janelas – correspondentes a “Piso térreo” e “Piso superior” – de formato retangular, com caixilharia de Madeira devidamente moldurada com Cantaria - enquadrada por beirais e peitoris pétreos. Na sua face central, no espaço correspondente à entrada para o “Piso térreo” subsiste um pequeno escadório avançado, de acesso à porta principal, com cinco níveis de degraus de diferentes comprimentos (distribuídos do maior, junto ao terreno onde assenta, para o menor, elevado ao nível da base da porta). Ladeando e delimitando as laterais deste escadório, existem duas balaustradas de Cantaria – pétreas – cenográficas, em formato de corrimão de apoio / amparo

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à subida e descida deste elemento, ornadas por alguns enrolamentos, volutas e motivos espiralados, de combinação de volumes e linhas “côncavas e convexas”, “serpenteadas” / “onduladas”. No término da escadaria descrita, acede-se à porta principal deste Edifício, moldurada a Cantaria e de “arco de volta perfeita” com chave. Composta por duas folhas (duas aberturas), esta porta de Madeira com almofadas retangulares e quadrangulares, possui na sua área superior estática duas aberturas retangulares, vazadas e trabalhadas com Ferro fundido; e ainda, no seu topo, acompanhando o formato do arco, uma bandeira em leque, também vazada e totalmente decorada com motivos de Ferro fundido. A mesma tipologia de “arco de volta perfeita” (também com chave declarada) – simbolizando a hipotética consonância estética deste Edifício com o gosto “Neorromânico” da segunda metade e finais de oitocentos (8) – repete-se no topo da janela de sacada, também com bandeira em leque que acompanha a curvatura do arco, correspondente ao “Piso superior” deste volume e que encima o pórtico de entrada neste “Solar / Palacete”. Suportada por mísulas de Pedra, onduladas e que partem do vão existente acima do “arco de volta perfeita” da porta de entrada, subsiste uma balaustrada pétrea que compõe um pequeno varandim de apoio e segurança, que guardaria a janela superior desta Fachada, de caixilharia em Madeira e moldurada a Cantaria. 144

Acima do pórtico de entrada e abaixo do varandim

pétreo, enquadrado pelas duas mísulas que suportam essa balaustrada, numa área nobre e central da Frontaria do Edifício, prevalece um pequeno motivo iconográfico digno de registo e de cariz monárquico. Ou seja, um relevo pétreo que modela o formato de uma Coroa real, aludindo, quiçá, aos ideais e condição do mecenas e fundador deste espaço e posteriores descendentes, proprietários e frequentadores deste “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de São Paio de Oleiros. Sem dúvida um exemplo raro de “habitação senhorial da segunda metade do século XIX”, que merece, pela sua singularidade em termos locais, regionais e porque não nacionais, uma menção nas páginas da História da Arquitetura dos “Solares e Palacetes” em Portugal, que durante o século XIX interpretaram o imaginário, os valores, o gosto e o poderio dos seus proprietários, assim como dos seus criadores, os arquitetos, engenheiros, artistas e decoradores que como aponta José-Augusto França contribuíam para modelar “uma fantasia que nos informa sobre o espírito de quem a usou” (9). (8) “(…) As janelas ogivais que tinham caracterizado semelhantes construções do romantismo, já desde o revivalismo do fim de setecentos, desapareciam agora: o arco de volta inteira substituía o arco quebrado, o gosto do gótico esvaia-se na nova mentalidade histórica dos finais do século (…) Mas, se o neogótico português cedo traduzira uma desinência manuelina, era afinal ao neomanuelino que o neo-românico se substituía (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XIX. Segundo volume. 3.ª Edição. Lisboa: Bertrand Editora, 1990, p. 174. (9) “(…) Palácios, Palacetes e Solares / Ao lado das grandes construções da época, basílicas e teatros, cadeias e paços reais, outros edifícios marcam especialmente o gosto que reflecte e propõe o viver social (…) a sua encomenda é sobretudo garantida pela possibilidade de uma independência e de uma fantasia que (…) nos informa sobre o espírito de quem as usa (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XIX. Primeiro volume. 3.ª Edição. Lisboa: Bertrand Editora, 1990, p. 167.


Figs. 161 & 162 Pormenores de parte das Ruínas do “Torreão hexagonal” e “Chaminé cilíndrica adoçada e ameada no topo” do “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” de S. P. Oleiros © Arquivo imagético da JFSPO. “Janela de sacada, com “Friso de Cantaria “Merlões”. caixilharia de Madeira, – pétreo – moldurada a Cantaria e de interrompido com “Ameias”. “arco de volta perfeita”. métopas e tríglifos”. “Arco de volta perfeita”.

“Topo da janela de sacada, com bandeira em leque que acompanha a curvatura do arco”. “Chave do arco de volta perfeita”. “Janelas retangulares com caixilharia de Madeira, moldurada a Cantaria pétrea”.

“Arco de volta perfeita”. “Chave do arco volta perfeita”.

“Mísulas de Cantaria – pétreas – de suporte para o varandim superior”. “Vão pétreo acima do “arco de volta perfeita” do pórtico de entrada no Edifício”. “Relevo pétreo de iconografia Monárquica – Coroa real”. “Varandim de guarda da janela de sacada – Pequena balaustrada de Cantaria (em Pedra)”.

“Friso de Cantaria, pétreo e alusivo à divisão de “Pisos / Andares” desta estrutura hexagonal”

“Ameias & Merlões retangulares Pormenor de cariz Revivalista “Neomedievo – Neorromânico” que coroa e circunda a chaminé cilíndrica adoçada.

“Balaustradas de Cantaria – pétreas, sobrepujadas e segmentadas”.

de

“Topo da porta, acompanhando o formato do arco, com bandeira em leque, vazada e totalmente decorada com motivos de Ferro fundido”.

“Almofadas retangulares e quadrangulares da Porta de duas folhas”.

“Escadório avançado, de acesso à porta principal, com cinco níveis de degraus de diferentes comprimentos (distribuídos do maior para o menor). Ladeado e delimitado por duas balaustradas de Cantaria – pétreas – cenográficas, em formato de corrimão de apoio”.

“Área superior da porta principal, estática, em Madeira decorada com duas aberturas retangulares, vazadas e trabalhadas com Ferro fundido” “Porta principal de duas folhas, em Madeira monocromática.

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“Ateneu de São Paio de Oleiros” – Exemplo sui generis do enraizamento da Cultura e do Associativismo Oleirense, esteticamente representativo da influência “Arte Nova” e do nacionalismo da “Casa Portuguesa” das primeiras décadas do século XX na Arquitetura cívica deste território

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Figs. 163 & 164 “Perspetivas aéreas da localização e estrutura atual do espaço e “complexo” do “Ateneu de São Paio de Oleiros”, com entrada / acesso atual pela Rua do Ateneu de São Paio de Oleiros, nas traseiras da Estação ferroviária “Sampaio-Oleiros” da “Linha do Vale do Vouga” © Imagens extraídas de: https://www.google.pt/m aps/place/R.+Ateneu/@4 0.9839564,8.5938322,57m/data=!3 m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd 2478c1df29ac59:0x614d e76c8bfb3afa!8m2!3d40. 9837814!4d-8.5938489 – 05/04/2017, 12 h 19 m. & https://mapcarta.com/28 374952 – 05/04/2017, 12 h 20 m.

No decurso da evolução e pensamento dos arquitetos portugueses de impacto nacional, regional ou provincial, face ao Revivalismo oitocentista, visível em São Paio de Oleiros no descrito “Solar / Palacete da Cardenha”, seguiu-se na construção residencial e cívica de âmbito geral ou local, o desejo de definição de um estilo marcadamente “português”. Capaz de encarnar, pelas suas soluções e formas, algumas das correntes de pensamento e crescentes sentimentos nacionalistas da sociedade. Sob o desígnio “Casa portuguesa”, esse mesmo estilo sedimentou-se a partir do período do fim de século XIX (alcançando algumas das décadas iniciais do século XX), e representou a primeira tentativa de nacionalização estilística da Arquitetura em Portugal, através da criação de uma síntese formal, capaz de juntar numa só construção, diversos elementos e soluções originais de raiz marcadamente regional. Intentada, numa fase prévia, pelo arquiteto Ricardo Severo (1869 - 1940) (10), após múltiplos debates e ensaios, foi apenas com Raúl Lino (1879 - 1974) que a “Casa portuguesa” obteve o seu “ponto alto” em termos de aceitação e proliferação (11). (10) Acerca da importância inicial de Ricardo Severo para a posterior afirmação do termo e estilo “Casa portuguesa”, vide (veja): LACERDA, Aarão de – A arte em Portugal no séc. XIX. (Separata do livro Portugal). Lisboa: Secretariado Nacional da Informação, 1946, p. 383. (11) Sobre o termo e estilo “Casa portuguesa”, assim como o papel de Raúl Lino para a sua teorização e implementação, vide (veja): “(…) “casa portuguesa”, que constituiu ponto principal, senão “ponto de honra” de lucubrações ideológicas, históricas, etnográficas e técnicas, que encheram polemicamente os anos finais de Oitocentos e os inícios de Novecentos (…) Raul Lino (…) regressado em 1897 a Lisboa (…) apoiado por um grupo de amigos e admiradores que constituíam a “intelligentsia” nacionalista, quer no pensamento quer na criação artística (…) satisfez-se, até depois de 1920, numa arquitetura privada muito estudada e pura que, sem imitação,


Foi também a partir do gosto, aceitação, evolução do estilo “Casa portuguesa” e respetiva resistência pelos alvores e primeiras três / quatro décadas do século XX, que a par da combinação de soluções típicas de um tradicionalismo lusitano, os arquitetos portugueses, maioritariamente nas obras de cariz cívico e residencial, abriram as portas à miscigenação e adaptação, nem que fosse simplista, descontextualizada do verdadeiro intuito do conceito internacional, ou mesmo tardia, de alguns signos e pressupostos técnicos, formais e visuais próprios do estilo “Art Nouveau”, em português “Arte Nova” (12) – bastante presente, à semelhança do Revivalismo Romântico oitocentista, em algumas construções existentes na vizinhança, principalmente em registos das estâncias de veraneio espinhenses. Inclusive, a título de curiosidade, quando o próprio estilo “Arte Nova” foi alvo de debate, reflexão e interpretação no panorama da Arquitetura internacional do início do século XX, coube a uma figura ligada a um dos “Monumentos-chave” de São Paio de Oleiros, Adães Bermudes (1864 - 1948) – o já referido autor do Projeto / Planta primitiva do antigo Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde - a realização, para usufruto dos arquitetos lusitanos e em representação da “Sociedade dos Architectos Portvgveses”, de um relatório (onde o próprio opina e formula considerações de gosto e interpretação), acerca do “VI Congresso Internacional dos architectos”, realizado em Madrid no mês de maio de 1904 e com o seu primeiro tema direcionado para a discussão da “Arte nova nas obras de architectura” (13).

De facto, através da linguagem visível e que subsiste incólume face à degradação temporal pela qual o Edifício do “Ateneu” padece, é possível perceber a variação estilística desta construção entre o nacionalismo arquitetónico das soluções “Casa portuguesa” – patentes não só em alguns prédios que se conservam nas proximidades do “Ateneu”, mas também em freguesias vizinhas, como Mozelos por exemplo – e a presença de certos apontamentos típicos da “Arte Nova” em Portugal.

se baseava numa tradição nacional (…) Entre os dois polos estéticos, de Raul Lino e de Ventura Terra, a arquitetura portuguesa deste período, alongado assim pelo século XX dentro, definiu-se num gosto “fin de siècle” em que o “Art Nouveau” penetrou (…)” – cf. FRANÇA, José–Augusto – Arte Portuguesa do século XIX. Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1988, p. 60. (12) Sobre a forma como as soluções e pressupostos do estilo “Art Nouveau” (“Arte Nova”), foram adaptados, agregados e interpretados no contexto da Arquitetura portuguesa, vide (veja): “(…) Mas os arquitectos, ou os desenhadores de arquitectura, interessaram-se também pela «arte nova», nas suas construções de pedra e cal ou, sobretudo, nas decorações de lojas que fizeram. Ao nível da decoração, e só a esse, de resto, interveio a «arte nova» (…) molduras de janelas, arabescos escultóricos nas portas, um ou outro elemento inserido timidamente numa fachada neutra (…) Parêntese da arte portuguesa na passagem de Oitocentos, a «arte nova» não poderá ser considerada como sintoma de um anúncio de novos esquemas mentais. Ela não foi necessitada por um movimento interior, nem justificada por uma informação exterior suficiente. De «arte nova» pouco ou nada se sabia em Portugal, e o renascimento das industrias artísticas tinha aqui um carácter fechado, auto-satisfeito nos valores duma tradição popular que os críticos encareciam, ou duma repetição erudita – que o mercado pagava (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XIX. Segundo volume. 3.ª Edição. Lisboa: Bertrand Editora, 1990, pp. 191, 192 e 193. (13) Vd. BERMUDES, A. R. Adães – “VI Congresso Internacional dos Architectos” in Annuario da Sociedade dos Architectos Portvgveses. Anno I. Lisboa: 1905, pp. 72 a 89. Deste relatório de Adães Bermudes, entre outras referências, José-Augusto França cita o seguinte: “(…) Coube a Adães Bermudes fazer o relatório (…) «Deliciosas e originais criações (…) muitas das obras (de “arte nova”) eram realmente belas como proporção, carácter e harmonia, intensamente originais como expressão e conceito» (…)” – cf. FRANÇA, José-Augusto – A Arte em Portugal no século XIX. Segundo volume. 3.ª Edição. Lisboa: Bertrand Editora, 1990, pp. 186 e 187.

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Romana), e latino “Athenaeu” (“Escola de poesia e retóricas”). Na própria Grécia antiga, o “Ateneu” serviria também como um espaço público onde os literatos liam e debatiam as suas produções. Já do ponto de vista contemporâneo, do século XIX em diante, a terminologia “Ateneu” passou a identificar estabelecimentos particulares / associativos de instrução, recreio ou academias. Assim sendo, é dentro desta aura de multidisciplinaridade, ânsia de partilha, convívio e fruição Fig. 165 Panorâmica geral da Fachada principal do “Ateneu de São Paio de Oleiros” cultural e comunitária que este Edifício passou a ser - De possível cronologia dos anos (19)30 e miscelânea de estilos construtivos “Casa portuguesa” com apontamentos “Arte Nova” © Imagem extraída de: comummente identificado como “Ateneu de São Paio de https://mapcarta.com/pt/Street_View - 02/04/2017, 00 h 17 m. Oleiros”. Albergando / apoiando, ao longo do seu historial Ausente, até ao momento atual desta investigação e ativo e segundo alguns testemunhos, entidades e análise histórico-artística, de qualquer documentação atividades de matriz associativa, de cariz social, cultural, efetiva e concreta acerca da cronologia ou autoria deste desportivo e recreativo. Projeto e edificação, pelas características formais que conserva, tanto na sua Planimetria como nos volumes, Neste âmbito, vejamos por exemplo, o breve relato Alçados e elementos decorativos, tendo em conta o formulado pelos autores do levantamento historiográfico prolongamento que a “Casa portuguesa” e a “Arte Nova” e cronológico “Grupo Columbófilo de Oleiros. História obtiveram pelas três / quatro primeiras décadas do cronológica, 80 anos: 20/01/1935 a 20/01/2015” – Carlos século XX e a datação de alguns dos Edifícios vizinhos Seixas, Álvaro Ferreira, José Castro e Patrícia Seixas – de traçado similar, o antigo “Ateneu de São Paio de onde, ao referirem um momento de atividade do Grupo Oleiros” remontará aos anos (19)30 – sabendo-se Columbófilo Oleirense no “Ateneu”, citam, de certa forma, inclusive que a partir de 6 de janeiro de 1939, a par de a multiplicidade de atividades e entidades locais que em outras componentes, sediava no seu “Piso / Andar superior” a atividade do recém criado, em 20 de janeiro (14) “(…) No dia 6 de Janeiro de 1939 alugaram o 1º andar do prédio do Sr. de 1935, Grupo Columbófilo de São Paio de Oleiros (14). Maximino Martins (ATENEU) por 100 Escudos mensais. Esta casa que ainda existe

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Segundo a etimologia histórica, o atual desígnio “Ateneu” existente no léxico português, advém da remota “Cultura Clássica”, dos termos grego “Athénaion” (Templo da deusa Athena, correspondente a Minerva na Mitologia

está situada na rua da Estação do Caminho Ferro. Aqui funcionaram as secções de Teatro, Escola de Música e Comissão de Festas que organizava os famosos Bailes da Época. Em 9 de Março de 1952, e porque o senhorio queria subir a renda para 200 Escudos, a Sede do Grupo mudou-se para a casa do Sr. Vicente Costa Pinto, hoje Café Central (…)” – cf. Aa. Vv. – Grupo Columbófilo de Oleiros. História cronológica. 80 Anos: 20 / 01 / 1935 a 20 / 01 / 2015. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, p. 7.


algum momento da sua existência estiveram ligadas a este espaço arquitetónico: “(…) No dia 6 de Janeiro de 1939 alugaram o 1º andar do prédio do Sr. Maximino Martins (ATENEU) por 100 Escudos mensais. Esta casa que ainda existe está situada na rua da Estação do Caminho Ferro. Aqui funcionaram as secções de Teatro, Escola de Música e Comissão de Festas que organizava os famosos Bailes da Época (…) Foi aqui, nos altos desta edificação, situada em frente da Estação do Caminho de Ferro de S. Paio de Oleiros, que em 1939 se instalou o G.C.de Oleiros (…) baptizado (…) com o nome de “ATENEU”, porque aí para além da sede social do Grupo funcionavam praticamente todas as actividades culturais de S. Paio de Oleiros, que estivessem relacionadas com a cultura em si, o desporto ou o lazer (…) Aqui, além dos famosos Bailes (que indirectamente foram a raiz de muitas famílias Oleirenses), tiveram lugar representações dos mais famosos grupos Teatrais e Artistas da época, incluindo ainda os “Colóquios e Palestras” (…) a Escola de Música da TUNA de OLEIROS dirigida entre outros pelo mestre-escola Sr. “Joaquim do Pereiro” e ainda a sede dos Grupos de Futebol: “Oleiros F.C”. e “Sport Clube Mocidade de Oleiros” ambos a disputar então, os Campeonatos Oficiais da Associação de Futebol de Aveiro (…)” (15)

Implementado nas proximidades do Reverso – “Traseiras” - da Estação de Caminhos de ferro “SampaioOleiros” da “Linha do Vale do Vouga”, acessível por uma das vias paralelas à linha férrea, atualmente designada, em seu tributo e homenagem perpétua, como “Rua do Ateneu” da Vila de São Paio de Oleiros, em termos formais, este “complexo” distingue-se por associar, na sua Planta e Alçado, dois “blocos construtivos” de matriz retangular e dimensões distintas entre si.

Fig. 166 “Perspetiva aérea da localização do “complexo” e dinâmica arquitetónica atual do Edifício comummente designado pela população local como “Ateneu de São Paio de Oleiros” © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.983342,8.5938309,62a,35y,351.41h,44.97t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb: 0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 - 06/04/2017, 15 h 07 m.

“Ateneu de São Paio de Oleiros”

“Rua do Ateneu”

“Rua Visconde de Assentiz”

“Estação de Caminhos de Ferro de São Paio de Oleiros (“SampaioOleiros”), da “Linha do Vale do Vouga”

Do ponto de vista arquitetónico, aquando da observação direta do público, localizado na Rua do Ateneu, defronte para a Fachada principal deste Edifício, percebe-se que à esquerda subsiste uma dependência de dimensão reduzida em termos planimétricos e de Alçado erigido, nivelada pelo “Piso térreo” do “Bloco central” do “Ateneu”. Este suposto “Anexo retangular”, (15) Cf. Aa. Vv. – Grupo Columbófilo de Oleiros. História cronológica. 80 Anos: 20 / 01 / 1935 a 20 / 01 / 2015. São Paio de Oleiros: Edição de Autor, 2015, pp. 7, 26 e 27.

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adoçado ao espaço de maior planimetria e amplitude do “Ateneu”, não obstante as hipóteses analíticas e historiográficas de corresponder à sua cronologia original, ou representar um acrescento de datação posterior, exibe algumas das características que enquadram esta construção nos estilos “Casa portuguesa” e “Arte Nova”. Verificados no seu “Telhado de três águas” em Alvenaria de Barro, coroado no topo do seu vértice central por um suposto “pináculo”, também de Alvenaria de Barro – um signo apreciado e bastante utilizado nas construções ao gosto “Casa portuguesa” (16). Tais considerações de estilos são passíveis de identificação no trabalho de Cantaria que delimita, através da sobreposição de diferentes blocos pétreos de dimensão similar, as laterais da sua Fachada. Assim como, na tipologia de “Arco abatido” – oriundo do “gosto” e adaptação da “Arte Nova” – que moldura e encima o pórtico da entrada principal deste “Bloco secundário”. Complementado por uma porta de Madeira de duas folhas, acompanhada, no topo, por uma bandeira em leque vazada e envidraçada, que segue o formato do “Arco abatido”. No enquadramento deste pórtico, resiste o trabalho de Cantaria pétrea que o delimita, combinando, na moldura superior do arco, ladeando a sua chave, dois segmentos de Alvenaria de Barro (criando uma dicotomia estética e contraste visual entre a tonalidade pétrea e o laranja da Alvenaria utilizada).

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(16) Algumas considerações de teoria, estilo e gosto “Casa portuguesa” e apropriações “Arte Nova” na História da Arte e Arquitetura nacional: “(…) A questão da Casa Portuguesa, na passagem para o século XX, é reflexo do debate sobre a identidade política, cultural e artística como manifestações da procura de uma identidade original portuguesa. Com raízes no século XIX — mas, para alguns autores, com ressonâncias desde o século XII (…) esta inquirição cruza-se com o romantismo e o movimento garrettiano, manifestação provocadora que aponta a nossa terra, lugar revigorante e factor de autenticidade, como matriz insuperável da

portugalidade. A proposta de regresso à terra, vista como inevitabilidade moderna, implica uma distinta interpretação da realidade envolvente que, sob diferentes manifestações, confronta um Portugal velho a um outro que se deseja novo (…) A arte, a arquitectura e a cultura popular seriam, nas duas primeiras décadas do século XX e, posteriormente, em 1933 com o endurecimento da questão nacionalista, a arena onde seria travada a questão da portugalidade e da sua assunção. Embora todos estes debates e iniciativas só possam ser esclarecedores na globalidade da sua estrutura — isto é, ser observadas numa mesma série que historicamente questiona a identidade portuguesa — é na cultura popular e na idealização dos seus valores que encontram a sua legitimação (…) Neste contexto cultural de coexistência de diferentes modos de fazer punha-se em causa a adequação da arquitectura internacionalista beauxartiana de influência francesa (v. Ventura Terra); mas também se questionavam os revivalismos tardios de audaciosa mistura de estilos, inicialmente ligados à retórica nacional (v. neo-manuelino), para se contrapor um novo gosto enunciado numa atitude patriótica, assumindo a pobreza e o ruralismo como promessa de regeneração (v. neo-românico); ou então, criticava-se com ironia a nova expressão formal que, de forma generalizada, era adoptada pela habitação burguesa: o chalet (…) Pressupunha-se sempre a defesa de um estilo nacional para edificações simples e baratas, que era também, na circunstância do século XX português, uma das respostas possíveis face à crescente exigência económica, construtiva e espacial, prefigurando uma arquitectura pitoresca com telhados e beirais vagamente acentuados, vãos guarnecidos com molduras, portadas e alpendres. Estas edificações, casas, prédios ou equipamentos ficariam conhecidas pela designação genérica de Casa Portuguesa, marcando definitivamente a história da arquitectura portuguesa (…)” – cf. RAMOS, Rui – “Casa Portuguesa” in ROLLO, Fernando (direção) - Dicionário de História da I República e do Republicanismo. Lisboa: Assembleia da República portuguesa, 2011, pp. 1 a 6. “(…) Em Raul Lino, os combates teóricos e a obra construída são, na justa medida, consonantes com os valores que empreendeu em nome de princípios valorizadores do património e cultura nacional. A vasta obra publicada - “A Nossa casa” de 1918, “Casa Portuguesa” de 1929, “Casas Portuguesas”, de 1933, obras de grande divulgação, sobretudo a primeira -, foi determinante na definição e introdução de conceitos para um movimento cultural de índole nacionalista, gerando vários seguidores. O seu vínculo a processos metodológicos na inventariação de estruturas do habitar, em que o domínio semântico da linguagem arquitectónica é preponderante, pressupõe a definição de uma identidade nacional. Estariam aqui as primeiras manifestações definidoras de uma identidade para uma arquitectura de carácter nacional (…) Se entendermos que a arquitectura é “entendida na cultura portuguesa sobretudo como uma questão de estilo e gosto (…) verificamos (…) a existência paralela de uma arquitectura académica oriunda da filiação nas beaux-arts e uma arquitectura enraizada nas tradições nacionais, originando especificidades como os revivalismos historicistas e a casa portuguesa. Esta situação propiciará e foi responsável pela introdução dos primeiros elementos modernistas na arquitectura portuguesa, através das inovações tecnológicas e da adesão formalista às correntes (…) Arte Nova e a Arte Déco. Tendo surgido tardiamente em Portugal, a Arte Nova em geral teve uma fugaz permanência como modelo (…)” – cf. PEREIRA, Luís Arquitectura portuguesa anos 30-50: atitude e crise de identidade: elementos para a construção de um Percurso (Tese de Doutoramento em Arquitectura apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa, 2011, pp. 10, 11 e 77.


“Pináculo em Alvenaria de Barro, aplicado no vértice principal do “Telhado de três águas” – elemento decorativo ao gosto “Casa portuguesa”. “Telhado de três águas” em Alvenaria de Barro”. “Pórtico de entrada principal do “Bloco secundário” do “Ateneu”, delimitado por Cantaria pétrea, coroado com “Arco abatido” – de influxo “Arte Nova” - e acompanhado por porta de Madeira, com duas folhas (duas aberturas)”.

“Acabamentos de Cantaria pétrea”.

“Alvenaria de Barro que ladeia a chave do “Arco abatido”. “Chave Abatido”.

do

arco

“Remate superior da porta, em Madeira e Vidro, correspondente ao formato do “Arco abatido”, com bandeira em leque vazada e envidraçada”. Figs. 167 & 168 Em cima, “Perspetiva aérea da localização do “complexo” do “Ateneu de São Paio de Oleiros”, com ênfase para o seu “Bloco secundário” de anexo / apoio & Em baixo, Fachada principal do “Bloco secundário” de anexo / apoio do “Ateneu” © Imagens extraídas de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.983342,8.5938309,62a,35y,351.41h,44.97t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb :0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 06/04/2017, 17 h 09 m. & https://www.google.pt/maps/@40.9838719,8.5937085,3a,75y,244.05h,89.93t/data=!3m6!1e1!3m4!1suX7vOd9nPlO4sKdJWw_q kA!2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 - 06/04/2017, 17 h 10 m.

No “Bloco retangular principal” do “Ateneu de São Paio de Oleiros”, pela própria distribuição de aberturas e estética da Fachada definida, percebe-se que este volume edificado, de cota superior, em altura, teria dois “Pisos / Andares” constituintes. Um deles térreo, acessível diretamente pela atual Rua do Ateneu; e o outro superior, alcançável através de escadório interno, existente no interior do “Piso térreo”, e ainda, através de uma escadaria exterior, em “L” e com uma pequena curvatura no seu segmento inicial, aplicada à direita, num dos Alçados do Edifício. Fig. 169 Panorâmica de um dos Alçados laterais do “Bloco retangular principal” do “Ateneu de São Paio de Oleiros” - Com escadaria exterior propícia ao acesso, a partir da Rua do Ateneu, ao “Piso / Andar Superior” deste Edifício, em formato de “L”, com curvatura no seu segmento inicial e trabalhada a Cantaria e Alvenaria pétrea © Imagem extraída de: https://www.google.pt/ maps/@40.9840997,8.5936461,3a,75y,254.3h,87.53t/data=!3m6!1e1!3m4!1sIK2mZ2ustGRJF4Qbe0wR6Q! 2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 - 06/04/2017, 17 h 39 m.

De traço retangular, tanto na sua Planimetria como nos Alçados levantados, e extensão territorial superior face ao “Bloco retangular secundário”, analisado anteriormente, este “Bloco central” e principal do “Ateneu Oleirense” encontra-se encerrado por um “Telhado de quatro águas” em Alvenaria de Barro. Também através

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da modelação do Barro, em vulto pleno e à semelhança do que se verifica no único vértice do “Telhado de três águas” do “Bloco secundário” desta construção, indiciando pressupostos do estilo “Casa portuguesa” existem, nos dois vértices principais do “Telhado de quatro águas” deste “Bloco central”, dois “pináculos”, nas proximidades das áreas da sua Fachada e Reverso – “Traseiras”.

Fig. 170 Pormenor do segmento inferior - correspondente ao acesso para o “Piso Térreo” - de uma panorâmica da Fachada do “Bloco retangular principal” do “Ateneu de São Paio de Oleiros” © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/@40.9839366,8.5936849,3a,37.5y,294.56h,85.57t/data=!3m6!1e1!3m4!1s96XSO7wWpMHdopS4B1 meIQ!2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 – 06/04/2017, 18 h 34 m.

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Estruturalmente, a Fachada deste volume principal do “Ateneu de São Paio de Oleiros” divide-se em dois segmentos separados visualmente por um pequeno friso horizontal de Cantaria pétrea. Correspondendo à entrada principal / nobre para o Edifício e respetivo “Piso térreo”, o registo inferior desta Frontaria está dinamizado por três aberturas na sua arquitetura, figurando um pórtico de acesso central, ladeado por duas janelas de dimensão

significativa.

Do ponto de vista plástico, nestes três elementos demarcam-se pormenores identificativos de um certo influxo “Arte Nova”, bastante simplificado e em consonância com o modelo principal “Casa portuguesa” que caracteriza este Edifício. Deste modo, tanto no pórtico como nas janelas verifica-se um “contorno formal” de Cantaria pétrea (no caso das janelas com beirais e peitoris), moldurado, no topo, por “Arcos abatidos” com chave, ladeada por ligeiros apliques de Alvenaria de Barro - correspondendo à dicromia do tom pétreo e laranja, anteriormente identificada neste Capítulo aquando da análise efetuada ao “Bloco secundário” deste “complexo”. Em cada uma das janelas com caixilharia de Madeira identifica-se, no seu topo, uma bandeira em leque que acompanha o formato do “Arco abatido”, vazada e envidraçada. O mesmo tipo de trabalho de Marcenaria, Carpintaria e Vidraria está patente no topo da porta de Madeira – de duas folhas, vazadas, cada uma delas, por dois segmentos retangulares envidraçados – que integra o pórtico central do “Ateneu”. Ou seja, no seu espaço superior correspondendo ao tipo de “Arco abatido” que a Cantaria define, visualiza-se uma bandeira em leque, vazada e envidraçada. Respeitando a um possível acrescento de cronologia posterior à datação original desta Edificação, permanece, acima do pórtico descrito, uma pequena estrutura de recobro / alpendre da sua entrada, com telha suportada por três “esteios” / segmentos metálicos.


remate superior, são os acabamentos de Cantaria que este “Bloco central” do “Ateneu Oleirense” apresenta – com segmentos pétreos de dimensão regular e similar entre si, sobrepostos ou agregados – dinamizando a cenografia e a estética deste exemplar bastante peculiar da Arquitetura cívica e residencial de São Paio de Oleiros, passível de enquadramento nos anos (19)30.

Fig. 171 Pormenor do segmento superior - correspondente ao acesso para o “Piso Superior” - de uma panorâmica da Fachada do “Bloco retangular principal” do “Ateneu de São Paio de Oleiros” © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/@40.9839366,8.5936849,3a,37.5y,294.56h,85.57t/data=!3m6!1e1!3m4!1s96XSO7wWpMHdopS4B1 meIQ!2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 – 06/04/2017, 18 h 34 m.

No segmento superior deste “Bloco central”, rematado por um friso de Cantaria pétrea, subsistem três aberturas, correspondentes a três janelas com caixilharia de Madeira, as laterais com pequena guarda, em Ferro fundido e dinamizadas por programa iconográfico fitomórfico, caracterizado por motivos ondulados côncavos e convexos; e a janela central de sacada, acompanhada por um pequeno varandim também guardado / decorado por estrutura metálica, de Ferro fundido e seguindo o mesmo programa decorativo das laterais. De cariz retangular, cada uma destas janelas está moldurada por Cantaria pétrea, incluindo beirais e peitoris.

Na “memória coletiva” de São Paio de Oleiros, o termo “Ateneu” é sinónimo de um “Pólo de convívio, cultura e recreio” que marcou, no passado e ao longo de várias décadas do século XX, a sociedade local. “Sublinhando / alimentando” a sua forte componente associativa. Não só por encerrar no seu interior todo esse legado, este Imóvel merece que o seu estado de conservação seja devidamente melhorado, e o seu traçado e estética exterior sejam preservados, pois assumem características impares na malha urbana e História da Arquitetura da Vila e da própria Região.

A “bipolarização” entre motivos “Casa portuguesa” e soluções “Arte Nova” que o “Ateneu” preconiza nas suas Fachadas, Telhados, Pórticos, Portas, Janelas, Cantaria, Alvenaria e Apontamentos metálicos, são deveras reveladores que à sua escala, São Paio de Oleiros entre os fins do século XIX e as primeiras três / quatro décadas do século XX esteve atento às discussões construtivas que marcaram o país, atraindo agentes capazes de interpretar, com mestria estrutural e plasticismo, todos Transversais à altura e largura de todo o Edifício, esses desígnios e debates visuais. correspondendo às suas arestas, base, friso intermédio e

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“Friso intermédio, de Cantaria pétrea, horizontal e extensivo à largura deste “Bloco central”, correspondente a um dos eixos do Edifício e visualmente alusivo à sua divisão em dois “Pisos / Andares” – “Térreo e Superior”. “Pormenores de acabamentos de Cantaria pétrea patentes nas laterais do “Bloco central” do “Ateneu” – segmentos de dimensão similar entre si, sobrepostos”.

“Janelas laterais, com caixilharia de Madeira, delimitadas por Cantaria pétrea, com beirais e peitoris, molduradas por “Arcos abatidos” com chave, ladeados por Alvenaria de Barro. Acompanhadas, no topo, por bandeiras em leque vazadas e envidraçadas que correspondem ao formato dos “Arcos abatidos”.

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“Pórtico de Entrada principal / nobre, de acesso ao “Piso térreo” do ”Ateneu”, delimitado por Cantaria pétrea, coroado, no topo, por “Arco abatido” com chave ao centro, ladeado por dois segmentos de Alvenaria de Barro. Possui porta de Madeira monocromática, com duas folhas – duas aberturas – vazadas e envidraçadas, cada uma delas, num pequeno segmento retangular do seu corpo. Acima da porta, subsiste uma estrutura que combina Vidro e Madeira, formando bandeira em leque, vazada e envidraçada, correspondente ao formato e orientação do próprio “Arco abatido” do pórtico”.

“Pormenores de acabamentos de Cantaria pétrea patentes nas laterais do “Bloco central” do “Ateneu” – segmentos de dimensão similar entre si, sobrepostos”.

“Janelas laterais retangulares, delimitadas por Cantaria pétrea com beirais e peitoris, caixilharia de Madeira e pequena guarda de Ferro fundido, decorada com motivos ondulados – côncavos e convexos”.

“Janela central de sacada, com caixilharia de Madeira, acompanhada por pequeno varandim, guarnecido por estrutura de Ferro fundido, de programa iconográfico similar ao das guardas laterais. Em termos formais está delimitada retangularmente por Cantaria pétrea, com beirais e peitoris”.

“Friso intermédio, de Cantaria pétrea, horizontal e extensivo à largura deste “Bloco central”, correspondente a um dos eixos do Edifício e visualmente alusivo à sua divisão em dois “Pisos / Andares” – “Térreo e Superior”.

“Remate superior do “Bloco central” do “Ateneu Oleirense”, em formato de friso de Cantaria pétrea, horizontal e extensivo à largura desta construção”. Figs. 172 a 175 “Perspetiva aérea da localização do “complexo” do “Ateneu de São Paio de Oleiros”, com ênfase para pormenores da Fachada principal e Frontaria dos “Pisos / Andares” térreo e superior do seu “Bloco retangular principal” © Imagens extraídas de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.983342,8.5938309,62a,35y,351.41h,44.97t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb :0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 07/04/2017, 11 h 39 m. / https://www.google.pt/maps/@40.9839366,8.5936849,3a,37.5y,294.56h,85.57t/data=!3m6!1e1!3m4!1s96XSO7wWpMHdopS4B 1meIQ!2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 – 07/04/2017, 11 h 40 m. & https://www.google.pt/maps/@40.9839366,8.5936849,3a,37.5y,294.56h,85.57t/data=!3m6!1e1!3m4!1s96XSO7wWpMHdopS4B 1meIQ!2e0!7i13312!8i6656!6m1!1e1 – 07/04/2017, 11 h 41 m.


Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos

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-

https://www.google.pt/maps/@40.9907809,8.5960742,3a,90y,294.46h,89.01t/data=!3m6!1e1!3m4!1s PEREIRA, Luís - Arquitectura portuguesa anos 30-50: -B9RGgB1d1V6jzhOUHwTPg!2e0!7i13312!8i6656 atitude e crise de identidade: elementos para a 02/04/2017, 01 h 24 m. construção de um Percurso (Tese de Doutoramento em Arquitectura apresentada à Faculdade de Arquitectura e https://www.google.pt/maps/@40.9846218,Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). Lisboa: 8.5962612,61a,35y,99.1h,45.04t/data=!3m1!1e3 Universidade Lusíada de Lisboa, 2011, pp. 10, 11 e 77. 02/04/2017, 01 h 39 m. RAMOS, Rui – “Casa Portuguesa” in ROLLO, Fernando https://www.google.pt/maps/@40.9846363,(direção) - Dicionário de História da I República e do 8.5959648,3a,75y,104.38h,77.38t/data=!3m6!1e1!3m4!1s Republicanismo. Lisboa: Assembleia da República XE5TH8QO7hr0- - 02/04/2017, 01 h 42 m. portuguesa, 2011, pp. 1 a 6. https://www.google.pt/maps/@40.9807311,SAMPAIO MAIA, João Augusto da Cunha (Conde de S. 8.5957442,139a,35y,90h,45t/data=!3m1!1e3 João de Vêr) – Hospital-Asylo Nossa Senhora da Saúde 02/04/2017, 11 h 26 m. na Freguezia d´Oleiros Concelho da Feira. Porto: Officinas do «Commercio do Porto», 1908, (s/p). https://www.google.pt/maps/@40.9813896,8.5941156,68a,35y,199.26h,45.04t/data=!3m1!1e3 SAMPAIO MAIA, Ângelo - “Casa da Torre em Terra de 03/04/2017, 15 h 34 m. Santa Maria. S. João de Ver. Apontamentos genealógicos e notas da família” (texto revisto e atualizado por https://www.google.pt/maps/@40.9807311,Fernando Sampaio Maia) in Villa da Feira. Terra de Santa 8.5957442,139a,35y,90h,45t/data=!3m1!1e3 Maria. Ano I, n.º 3. Santa Maria da Feira: fevereiro de 02/04/2017, 00 h 15 m. 2003, pp. 18 e 19. https://www.google.pt/maps/place/R.+Ateneu/@40.98395 https://mapcarta.com/pt/Street_View - 02/04/2017, 00 h 64,17 m. 8.5938322,57m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478c1df 156


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Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor).

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“Outros exemplares de Património edificado Oleirense, novecentistas (séc. XX) e alguns deles adaptados às funções atuais, de matriz cívica e/ou educacional” (binómio “Arquitetura escolar” & “Arquitetura da água”)


“Outros exemplares de Património edificado Oleirense, novecentistas (séc. XX) e alguns deles adaptados às funções atuais, de matriz cívica e/ou educacional” (binómio “Arquitetura escolar” & “Arquitetura da água”) Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“Património público, cívico e educacional” – Exemplos de Arquitetura novecentista Oleirense, que derivam entre o “Património escolar de matriz estética do “Estado Novo” e própria “Arquitetura da água” do espaço urbano, Por José C. Amorim

século XIX e os primeiros anos e décadas do século XX. “Igreja Nova” (1885), “Cemitério Paroquial” (a partir de 1884), “Solar / Palacete Romântico da Quinta da Cardenha” (segunda metade / finais do séc. XIX), Estação “Sampaio-Oleiros” da “Linha do Vale do Vouga” (1908), Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde (1909), e “Ateneu” (década de (19)30), derivam de segmentos, estilos, pressupostos construtivos e funcionais distintos, mas representam alguns dos exlibris da História da Arquitetura local e regional, conservando, todos eles, a origem numa matriz cronológica bastante peculiar. De um já sublinhado “fin de siécle” (1) que se revelou fértil em São Paio de Oleiros, e se estendeu pelos alvores de novecentos (séc. XX).

Todavia, a par destes “Monumentos-Chave” da História da Arte e Arquitetura local que se enquadram até aos anos 30 do séc. XX, proliferam pela geografia Oleirense outros exemplares de Edifícios que comprovam a Do ponto de vista arquitetónico, o Património edificado existência de movimentos construtivos posteriores, de maior relevo histórico-artístico que subsiste na definidores de valências e equipamentos cujo traçado e paisagem Oleirense dos dias de hoje, enquadra-se maioritariamente, como verificamos nas páginas de (1) Terminologia francesa alusiva ao “fim do século XIX”, bastante comum na alguns dos Capítulos anteriores deste “Roteiro”, no narrativa da História da Cultura e das Artes que em Portugal aborda a conjuntura momento transitório entre a segunda metade / término do ideológica e produtiva deste período cronológico. 159


pressupostos visuais merecem figurar num breve apontamento / levantamento / inventário que neste “Roteiro” - num formato bastante simplificado – pretende elencar alguns espaços escolares e registos de “Arquitetura da água” (2), que demarcam a paisagem do espaço urbano local. Capazes de formular uma seleta que, mesmo breve e superficial, identifique a Arquitetura produzida em São Paio de Oleiros numa conjuntura balizada entre a segunda metade do século XX e os dias de hoje. “Polarizada” entre as imposições e planos estéticos, austeros e reformistas do “Estado Novo” (1926 - 1974) (3), e a sequente “liberdade formal” que desde 1974 (4) e até à atualidade impera nos projetos, intervenções, adaptações e realizações construtivas que dinamizam a “nossa” malha urbana.

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(2) Para perceber, de forma genérica, o conceito “Arquitetura da água”, vide (veja): “(…) Cada civilização desenvolveu as suas maneiras de controlo e manipulação da água na paisagem e no espaço arquitectónico. Segundo Conceição, “uma das primeiras grandes acções de domesticação da natureza, deverá ter sido a da adução, condução e distribuição da água nos campos de cultura e aos aglomerados urbanos. Aquedutos, canais, tanques, reservatórios, cisternas e fontanários surgem, deste modo, como elementos ordenadores dos espaços públicos ou colectivos, evidenciando, em cada época ou local, a sensibilidade e o imaginário poético e artístico dos seus mentores e obreiros” (Conceição 1997, p.769) (…) Desde os tempos remotos que o Homem procurou compreender e justificar a origem e o destino da água. A evolução do conhecimento do funcionamento do ciclo hidrológico tal como o conhecemos hoje, deveu-se a uma procura contínua do seu entendimento ao longo de milénios, não só do ponto de vista mitológico, religioso e filosófico, mas também segundo uma acepção científica. Demonstra-se que a manipulação da água pela mão do Homem, surge pela necessidade de criar redes de recolha de água, condução e controlo de forma a satisfazer as necessidades básicas como beber, lavar e regar (…)” – cf. PIRES, Fernando - A reconfiguração da malha urbana de Lisboa pela arquitetura civil do abastecimento de água à cidade no século XVIII. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada, sob orientação do Prof. Doutor Arq.º Orlando Azevedo, à Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa, 2014, pp. 21 e 22. (3) Breves apontamentos sobre os desígnios gerais da Arquitetura pública que o

regime totalitário português, conhecido como “Estado Novo” (1926 - 1974), tentou impor durante a sua existência: “(…) Os regimes totalitários conseguem, ou pelo menos tentam, moldar a sociedade e sua visão através da arquitetura. Ainda que este conceito não seja novo, e tal já tenha sido tentado inúmeras vezes ao longo da história da arquitetura, estes regimes possuem algo que os arquitetos ao longo da história geralmente não possuíam: poder. O poder de controlar o que se constrói, o poder de criar espaços à sua imagem e o poder de moldar a sociedade. Foi, como refere Nuno Rosmaninho, “com os regimes ditatoriais surgidos nos anos vinte e trinta que a propaganda se converteu numa poderosa e permanente máquina de endoutrinamento, abrangendo a imprensa, a música, a arquitectura, as artes plásticas, o cinema e a rádio.” (…) À semelhança da realidade das políticas ditatoriais europeias, em Portugal também não se via com bons olhos a emergente modernidade. Acreditava-se que este chamado progresso traria consigo a corrupção moral (…) António de Oliveira Salazar procurava o estabelecer de uma sociedade agrícola e a criação de “uma imagem do carácter nacional eminentemente associado à iconografia rural” (…) Salazar entendia que a arquitetura doméstica era uma necessidade social: “um instrumento pedagógico (...) que o levava a ambicionar ‘formar as consciências’”. Por outro lado, entendia também a necessidade da “criação de uma arquitectura de grande fôlego que ‘significasse’ o Estado não enquanto burocracia, mas enquanto Nação e que fosse dela como que a sua emanação espiritual” (…) Salazar (1932, citado por Torgal, 2004 apud Rosmaninho, 2006, p. 5) não tinha a “pretensão ridícula” de criar ou inspirar um estilo e considerava-se contente se as obras a realizar fossem portuguesas e simplesmente belas.“ É evidente que com tais origens, inspiradas por um lado, nos referidos convencionalismos apriorísticos, em pseudo-regionalismos e, por outro, monumentalismos grandiloquentes, a ‘arquitetura portuguesa’ não podia passar de um mito sem condições de vida, de uma síntese impossível entre propostas formais inconciliáveis, dando origem aquilo que, pejorativamente, se veio a designar por ‘português suave’.” (…)” – cf. SEBASTIÃO, Joana – Arquitetura, Imagem e Cenografia. O Estado Novo e a construção de uma Identidade Nacional. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada ao Departamento de Arquitetura da FCTUC, sob orientação do Prof. Doutor Jorge Figueira). Coimbra: Departamento de Arquitetura da FCTUC / Universidade de Coimbra, 2013, pp. 9 a 19. (4) Referência sucinta à forma como na própria Arquitetura, o término do “Estado Novo”, a partir de 25 de abril de 1974, trouxe maior liberdade às artes e construções de amplitude local, regional e nacional: “(…) O aparecimento da arquitectura na comunicação social – que, em Portugal, se insinuou nos anos 70 e se afirmou mais claramente nos 80 –, é um fenómeno revelador das mudanças sociais que ocorreram no país. A mediatização das artes motivou o interesse pela prática arquitectónica, revelando uma maior consciência da presença desta disciplina nas nossas vidas. Por outro lado, é na imprensa dita especializada que se poderão apreender as motivações, as dúvidas e as crises desta classe profissional. É também reveladora a importância que acontecimentos paralelos à prática quotidiana em gabinete vão tendo nas publicações. Por exemplo, as exposições (mais ligadas ao debate teórico ou estilístico) e os congressos (porventura o local por excelência de discussão dos problemas com que os arquitectos se deparam) vão aparecendo com maior frequência. Este fenómeno é especialmente interessante, uma vez que se está num período em que a afirmação disciplinar se faz não tanto através da obra construída


Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” Exemplo local de Arquitetura escolar, inaugurado em 1960, de “tipo urbano” e “estilos Douro / Beira litoral”, com estética integrada no “Plano dos Centenários de construção de Escolas”, levado a cabo em Portugal por ordem do “Estado Novo” entre 1941 e 1974

Fig. 176 Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” – Uma edificação inaugurada em 1960, acessível pela Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho da Vila de São Paio de Oleiros © JFSPO / José C. Amorim.

Inaugurado em 1960, na atualidade este Edifício, apesar de conservar o grosso do seu traçado original, possui algumas alterações espaciais, acrescentos, melhoramentos e/ou remodelações próprias de um espamas através do confronto de ideias, percursor de novos caminhos (…)” – cf. REIS, Sofia – 74-86. Arquitectura em Portugal: Uma leitura a partir da imprensa. (Dissertação de Mestrado no âmbito da especialização em Arquitectura, Território & Memória, apresentada ao Departamento de Arquitectura da FCTUC, sob orientação do Professor Arquitecto Mário Kruger). Coimbra: Departamento de Arquitectura da FCTUC / Universidade de Coimbra, 2007, p. 10.

-ço que atravessou mais de cinquenta anos de história e atividade ininterrupta - operadas por iniciativa e apoio governamental, municipal, de diferentes executivos da Junta de Freguesia local e, especialmente, pelo esforço e dedicação das múltiplas Associações de Pais que por aqui têm deixado o seu legado. Convivendo com diferentes tutelas, regimes políticos e ministeriais, pelas suas dependências passaram variadas gerações de “Raparigas & Rapazes”, hoje “Mulheres & Homens”, Oleirenses e não só, ativos e que nunca esqueceram o papel deste espaço na sua educação, percursos académico e existencial. O mesmo sucede e sucederá com as atuais gerações de “Raparigas & Rapazes” que diariamente frequentam o ensino básico neste complexo, “Mulheres & Homens” do devir, cuja memória futura também não esquecerá este Edifício e as experiências protagonizadas no seu interior. Fig. 177 “Escola Primária da Igreja, São Paio de Oleiros 1960 / 2010. Comemoração do Cinquentenário” – Pormenor do Painel azulejar de tonalidade azulácea (em variações / gradações de azul), realizado mediante registo fotográfico antigo, tributário da paisagem arquitetónica, natural e urbana de enquadramento e estética original da “Escola Primária da Igreja” aquando da sua inauguração e uso, a partir de 1960 (com divisória para ensinos feminino e masculino). Incrustado na Fachada principal do Edifício desde 2010, este “Mosaico artístico” que assinala o cinquentenário da inauguração deste “Complexo escolar” (1960-2010), resultou de uma iniciativa conjunta entre a Associação de Pais da EB1 Igreja, em exercício nesse mesmo ano, e o Executivo da Junta de Freguesia local, vigente no quadriénio 2009 - 2013 © JFSPO / José C. Amorim.

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Fig. 178 Panorâmica da “Escola Primária da Igreja” de São Paio de Oleiros na década de (19)60 – Registo fotográfico de autoria e datação desconhecidas, supondo-se, pelas características que o Edifício escolar apresenta e respetiva envolvência territorial, uma proximidade cronológica coincidente com os seus primeiros momentos de atividade. Ou seja, após a sua inauguração ocorrida em 1960 (enquadrável na década de (19)60, ou posterior a essa mesma década, numa datação anterior a 1974) © Arquivo imagético da “Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros”, também designada como “EB1 Igreja” & Arquivo imagético da JFSPO.

Embora subsistissem pelo território Oleirense, desde o início do séc. XX, alguns espaços escolares de escala reduzida, posteriormente readaptados nas suas funções (transformados a nível escolar, cívico ou associativo), no âmbito do “Ensino primário”, hoje designado por “Ensino básico”, à época da sua criação, este Edifício veio modernizar, centralizar e aumentar a resposta educativa local, integrando um plano de construção escolar de escala nacional, promovido, regrado e imposto pelo “Estado Novo” (1926 - 1974) a partir dos anos (19)40. Através desta normativa, denominada de “Plano dos Centenários para a construção de Escolas”, demarcou-se na Arquitetura escolar portuguesa um estilo e estética peculiar (resistente e identificável na própria atualidade), nacionalista e comummente reconhecível pelas soluções 162

e desígnios que apresenta, interpreta e repete de espaço para espaço; contendo apenas algumas variações quanto à escala e aos materiais utilizados - muitas vezes identificativos / correspondentes à dimensão, características, condicionantes e “tradicionalismos” da respetiva área geográfica / região de enquadramento de cada uma das Escolas edificadas. Apesar do arranque do “Plano dos Centenários” remontar aos anos (19)40, em São Paio de Oleiros a “Escola Primária da Igreja” – primitivamente designada desta forma pelo seu enquadramento urbano, paisagístico e declarada proximidade com a Igreja Paroquial local - hoje “EB1 de São Paio de Oleiros / EB1 Igreja de São Paio de Oleiros”, apenas foi erigida nas proximidades da década de 60 do século XX. Não esquecendo a existência de relatos que aludem à utilização do espaço, talvez como forma de ensaiar a sua funcionalidade, numa fase final do seu processo construtivo, no término da década de (19)50, a inauguração oficial da “Escola primária Oleirense” está datada de 1960; e, do ponto de vista plástico, pela sua volumetria, dimensão e soluções construtivas e decorativas definidas, enquadra-se no “tipo Urbano” e “estilos Douro / Beira litoral” que o “Plano dos Centenários de construção de Escolas” concebeu. Identificados pela robustez, sobriedade e austeridade patenteada; pelo formato retangular do Edifício (transversal a todas as Faces, Planimetria, Alçado, Portas e Janelas – com exceção de duas frestas do “Piso Superior”, molduradas no topo por “Arco de volta perfeita”), com Planta de oito salas divididas em dois


“Blocos” de dois “Pisos / Andares” e quatro salas cada um deles ilustrativo do “tipo Urbano”, “estilo Douro um (correspondentes à divisão e separação inicial dos (Granito)” e “estilo Beira litoral (Cantaria)”. Figs. 179 & 180 Em espaços de “Ensino feminino” e “Ensino masculino”), com cima, Panorâmica da duas entradas independentes e caracterizados pelos “Escola Primária da Igreja” de São Paio de apontamentos de Cantaria pétrea (granítica), que Oleiros na década de enquadram, envolvem e molduram os Pórticos, Portas e (19)60 & Em baixo, Panorâmica atual da Janelas existentes e visíveis do exterior. Fachada principal do Tanto no seu ambiente pristino, remontante à década de (19)60, como na atualidade, correspondendo às normas construtivas do “tipo Urbano” e “estilos Douro / Beira litoral”, a dinâmica estética e cromática deste “Bloco escolar” é bastante simples e sóbria. Maioritariamente definida por um pequeno contraste que se verifica entre o espaço “caiado” a branco de grande parte das faces e paredes observáveis deste complexo, o tom laranja do seu “Telhado de quatro águas” e as propriedades visuais dos enquadramentos de Cantaria pétrea – granítica – que envolvem todas as suas portas, janelas e aberturas.

Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” © Imagem 179 Arquivo imagético da “Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros”, também designada como “EB1 Igreja” & Arquivo imagético da JFSPO & Imagem 180 JFSPO / José C. Amorim. Fig. 181 Comparativo com exemplar de Edifício escolar do “Plano dos Centenários” de “tipo Urbano”: “Escola de Odivelas – Loures, Edifícios de 8 salas (Arquivo DirecçãoGeral de Equipamento Escolar, 1971)” © Imagem extraída de: VILA POUCA, Óscar Cardoso Pires - Escolas Primárias - Edifícios com propósito. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, sob orientação do Prof. Doutor Rui Braz Afonso). Porto: F.B.A.U.P., 2013, p. 26.

Como comprovativo superficial do possível enquadramento tipológico da Arquitetura da “Escola primária Oleirense” no “tipo Urbano” e “estilos Douro / Beira litoral”, sugerimos um breve confronto visual e identificativo de semelhanças construtivas, baseado no estudo de Óscar Vila Pouca, datado de 2013 e intitulado “Escolas Primárias - Edifícios com propósito”, entre registos da “EB1 Igreja de São Paio de Oleiros” com outros três espaços escolares do “Plano dos Centenários para a construção de Escolas” do “Estado Novo”, cada 163


Figs. 182 & 183 Em cima, Panorâmica da “Escola Primária da Igreja” de São Paio de Oleiros na década de (19)60 & Em baixo, Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” © Imagem 182 Arquivo imagético da “Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros”, também designada como “EB1 Igreja” & Arquivo imagético da JFSPO & Imagem 183 JFSPO / José C. Amorim. Fig. 184 Comparativo com exemplar de Edifício escolar do “Plano dos Centenários” de “estilo Douro (Granito)”: “Escola masculina n.º 3 de Vila do Conde – Porto, Edifício escolar de 4 salas simples, tipo Douro Granito (Arquivo Direcção-Geral do Equipamento Escolar, 1971)” © Imagem extraída de: VILA POUCA, Óscar Cardoso Pires - Escolas Primárias - Edifícios com propósito. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, sob orientação do Prof. Doutor Rui Braz Afonso). Porto: F.B.A.U.P., 2013, p. 17.

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Figs. 185 & 186 Em cima, Panorâmica da “Escola Primária da Igreja” de São Paio de Oleiros na década de (19)60 & Em baixo, Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” © Imagem 185 Arquivo imagético da “Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros”, também designada como “EB1 Igreja” & Arquivo imagético da JFSPO & Imagem 186 JFSPO / José C. Amorim. Fig. 187 Comparativo com exemplar de Edifício escolar do “Plano dos Centenários” de “estilo Beira Litoral (Cantaria)”: “Escola de Cimo da Vila – Ovar (Aveiro), Edifício de 2 salas, gémeo, Tipo Beira Litoral – Cantaria (Arquivo Direcção-Geral do Equipamento Escolar, 1969)” © Imagem extraída de: VILA POUCA, Óscar Cardoso Pires - Escolas Primárias - Edifícios com propósito. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, sob orientação do Prof. Doutor Rui Braz Afonso). Porto: F.B.A.U.P., 2013, p. 19.


De modo a perceber de forma sustentada os pressupostos existenciais, legislativos e construtivos que originaram o interesse governamental na criação e implementação do “Plano dos Centenários para a construção de Escolas” em Portugal entre 1941 e 1974 com o intuito de reformar, melhorar e aumentar a resposta escolar lusitana, deficitária e até obsoleta em algumas localidades e regiões - que subsidiou inclusive a edificação da “Escola primária Oleirense”, centremo-nos de novo no levantamento e considerações efetuadas em 2013 por Óscar Vila Pouca. Através das suas considerações, é possível percecionar de forma teórica, as características do tipo construtivo “Urbano” e estilos “Douro (Granito) / Beira litoral (Cantaria)”, que utilizamos para enquadrar, através de uma análise morfológica e comparativa, a miscigenação estética patente na estrutura visível da atual “EB1”, que, desde 1960 e de forma oficial, ministra o “Ensino primário / básico” em São Paio de Oleiros: “(…) A arquitetura escolar pode ser vista como um programa, uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, sendo que simultaneamente, o espaço educativo reflete as inovações pedagógicas, tanto nas suas conceções gerais, como nos aspetos mais técnicos. O espaço escolar é então encarado como uma construção cultural que expressa e reflete determinados discursos (…) Os projetos, planos e programas de edificação de escolas que precederam o projeto das “escolas de Área Aberta / tipo P3” não lhe auguravam nada de bom. Pondere-se no exemplo do “Plano dos Centenários”. Este projeto celebrou oitocentos anos de nacionalidade e trezentos da Restauração da Independência e surgiu na sequência do ciclone ocorrido em 1941 (…) Em 1963, no âmbito da OCDE, foi iniciado um “projeto de ajuda”

aos Países Mediterrânicos. Com o objetivo de desenvolver a escolaridade obrigatória, um grupo de trabalho constituído, em grande parte, por técnicos em Educação, propunha-se apoiar países como a Grécia, a Jugoslávia, a Espanha e Portugal (…) O Plano dos Centenários constituiu um projeto de construção de escolas em larga escala, levado a cabo pelo Estado Novo em Portugal, entre 1941 e 1974. A designação do plano é tornada oficial por um artigo da Lei do Orçamento Geral do Estado para o ano de 1941: “O governo iniciará em 1941 a execução do plano geral da rede escolar, que será denominado dos Centenários e em que serão fixados o número, localização e tipos de escolas a construir para completo apetrechamento do ensino primário, inscrevendo-se no orçamento as verbas necessárias para as obras a realizar em participação com os corpos administrativos ou outras entidades” (art.º 7.º da Lei n.º 1985, de 17 de dezembro de 1940) (…) A primeira fase do Plano dos Centenários compreendia a construção de 561 edifícios com 1 250 salas de aula, distribuídos por todos os distritos do país, incluindo as ilhas. Pretendia-se que esse ritmo fosse mantido por 10 anos até se concluírem cerca de 12 500 salas de aula. O total previsto no Plano dos Centenários compreendia cerca de 11 458 salas de aula a que correspondiam 6 809 edifícios (…) Os projetos tipo Rogério de Azevedo e Raúl Lino fazem parte dos projetos tipo regionalizados, desenvolvidos pela Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em 1935, e destinados a serem construídos em série de harmonia com as características da arquitetura regional, impostas não só pela aplicação dos materiais próprios dessas regiões, como também pelas variações do clima (…) Os projetos da autoria do arquiteto Rogério de Azevedo eram destinados às regiões do Norte e Centro do país (…) Conhecem-se seis tipos, resultando em 32 soluções: tipo Minho (Tijolo); tipo Alto Minho (Granito); tipo Douro (Granito); tipo Beira Alta (Granito); tipo Beira Litoral (Cantarias); tipo Trás-os-Montes (Xisto) (…) Os estudos apresentados pela Direção dos Edifícios Nacionais do Norte serviram de base aos projetos definitivos das escolas primárias de todo o país. Os edifícios,

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todos com a mesma planta, obedeciam a dois tipos destinados a um só sexo ou com separação para os dois sexos. Os alçados seriam elaborados de forma a marcar, mesmo por qualquer pequena característica, cada uma das regiões (…) O Plano dos Centenários previa a construção de edifícios de 6 e 8 salas. Foram estudadas como ampliação dos projetos aprovados em 1944. Mantinha-se o mesmo tratamento dos espaços e, de um modo geral, o mesmo aspeto dos interiores e exteriores. Os Projetos da Direção dos Edifícios Nacionais do Norte, da autoria do arquiteto Manuel Fernandes de Sá, em 1944, previam escolas: (…) Tipo Minho – Granito (…) Tipo Douro – Granito (…) Tipo Xisto (…) Tipo Tijolo (…) Todos os estudos basearam-se nos aspetos económicos das construções tendo em vista o reduzido orçamento previsto. O estudo arquitetónico dos alçados limitou-se a uma escolha criteriosa dos materiais existentes nas regiões para as quais se destinava o edifício. Vincaram-se ainda, com alguns pormenores arquitetónicos, as características regionais dos edifícios. A entrada principal é em cantaria de granito ou xisto. A porta é em madeira de carvalho. Os Projetos da Direção dos Edifícios Nacionais do Centro, da autoria do arquiteto Joaquim Areal, em 1944, previam escolas: (…) Tipo Beira Litoral (Cantaria) (…) Tipo Beira Litoral (Tijolo) (…) Tipo Beira Alta (Granito) (…) Tipo Beira Alta (Xisto) (…) Em 1956, os técnicos da Delegação para as Obras de Construção de Escolas Primárias apresentam ao Ministro das Obras Públicas um primeiro estudo para os novos edifícios de escolas primárias. O anteprojeto-tipo apresentado concebido para edifícios de 1 sala de aula fora organizado a partir do trabalho de simplificação das fachadas e de normalização das portas, janelas e blocos sanitários, executado pelo Arquiteto Fernando Peres. O estudo acima referido era tido como o ponto de partida para edifícios com qualquer número de salas. O anteprojeto-tipo previa dois esquemas: o tipo Urbano e o tipo Rural. Em ambos os casos pretendia-se empregar elementos construtivos normalizados e reduzir ao mínimo os elementos arquitetónicos considerados 166

dispensáveis e eliminar os desnecessários (…) Tipo Urbano: Projeto destinado às vilas e às localidades que, embora não tendo aquela categoria, apresentam nítidas características de aglomerado urbano e gozam já de um certo desenvolvimento económico. A sala de aula mede 8 x 6 m, com 3,50 m de pé direito. O vestíbulo é dimensionado de forma a nele se poder desenvolver uma escada, para o caso do edifício vir a ser acrescido de um andar. O edifício construído segundo este modelo era ainda constituído por um recreio coberto com alpendre, um bloco sanitário e uma pequena arrecadação (…)” (5)

Fig. 188 “Perspetiva aérea atual do “Complexo” e Edifício da Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja” – Uma edificação inaugurada em 1960, acessível pela Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho da Vila de São Paio de Oleiros © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.9883879,8.5965751,61a,35y,8.67h,45.04t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb:0x 3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 13/04/2017, 12 h 10 m.

(5) Cf. VILA POUCA, Óscar Cardoso Pires - Escolas Primárias - Edifícios com propósito. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, sob orientação do Prof. Doutor Rui Braz Afonso). Porto: F.B.A.U.P., 2013, pp. 6 a 26.


Edifício da “Cantina Escolar de São Paio de Oleiros”, outro exemplo de Arquitetura escolar construído, também sob tutela administrativa do “Estado Novo”, como espaço de apoio à comunidade educativa local, sobretudo à Escola Primária – Atual Escola Básica número 1 de São Paio de Oleiros, também designada como “EB1 Igreja”

recursos. Todavia, na sua estética, os complexos das “Cantinas escolares” desta época serviram, à imagem das “Escolas primárias”, para impor e afirmar os pressupostos da Arquitetura escolar, bastante regionalizada e assente num sentido, sóbrio e austero, de uniformidade visual e conservadorismo, capaz de simbolizar formalmente “Estado & portugalidade” (7).

De cronologia posterior á inauguração oficial de 1960 da “Escola primária da Igreja de São Paio de Oleiros”, a “Cantina Escolar” também acessível pela atual Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho desta Vila, distando poucos metros da “EB1”, será cronologicamente enquadrável entre 1960 e 1974. Tal proposta cronológica assenta no facto do propósito de apoio à “Escola primária” que originou a construção de raiz deste Edifício, Fig. 189 Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício da “Cantina Escolar de São Paio de Oleiros” – Uma edificação inaugurada entre 1960 e 1974, acessível pela cuja normativa e traçado insere-se na Arquitetura escolar Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho da Vila de São Paio de Oleiros © JFSPO / típica do “Estado Novo”, o já referido regime totalitário e José C. Amorim. nacionalista português que teria o seu término a 25 de No âmbito da sua “política e reforma escolar” de índole abril de 1974, com a conhecida e assim identificada nas nacionalista, o “Estado Novo” já a partir de 1933, mas páginas da historiografia lusitana “Revolução dos sobretudo no decurso das construções de Edifícios Cravos”. escolares do “Plano dos Centenários”, iniciado após 1941, a par das “Escolas primárias”, apostou também na Devidamente equipada com Cozinha e pelo menos atualização e edificação de dependências e complexos duas “Salas de refeição”, a “Cantina Escolar Oleirense”, de apoio, nomeadamente na vertente social, higiénica e de um só piso – Piso térreo – nos dias de hoje já não salutar das “Cantinas Escolares”. Embora remonte a um recebe os alunos locais no seu interior, servindo apenas período pré “Estado Novo”, a uma ação promulgada governamentalmente em 23 de setembro de 1918 para (6) “(…) A construção de cantinas foi promulgada enquanto medida de combate ao combater o absentismo nacional (6), a construção de absentismo, pela primeira vez de que há registo, a 23 de Setembro de 1918 pelo Decreto-Lei n.º 4847 (…)” – cf. Aa. Vv. – Estudos e Relatórios: A evolução do sistema “Cantinas escolares” foi também uma aposta do regime de refeições escolares em Portugal (1933-2012): I.º Relatório de Pesquisa. Lisboa: Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2012, p. 10. totalitário para dotar o ensino de múltiplas valências e

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de ponto de apoio para a confeção, finalização e distribuição de refeições escolares pelos diferentes espaços de “Jardim de Infância” e “Escola primária” que subsistem nesta localidade e compõem a sua resposta educativa de cariz público. Pela sua valia, singularidade estética e “memórias individuais e coletivas” (8) que a sua ambiência e envolvência encerram, este Edifício merece figurar nas páginas deste e de qualquer outro “Roteiro patrimonial desta Vila”. Conservando grande parte das suas estruturas e apontamentos decorativos originais, este Edifício de

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(7) Sobre os intuitos e processos de implementação / atualização das “Cantinas Escolares” no universo administrativo, social, propagandístico e educativo do “Estado Novo”, vide (veja): “(…) Foi ainda no decorrer do período da Ditadura Militar que a assistência escolar sofreu uma mudança substancial quando, em 1927, se institucionalizou a dispensa do pagamento de propinas a uma determinada percentagem de alunos comprovadamente pobres e com sucesso escolar (…) A propósito da atribuição de bolsas de estudo e da dispensa do pagamento de propinas veja-se o excerto deste relatório da cantina escolar do Liceu Gil Vicente referente ao ano lectivo de 1935-36: A assistência é exercida pela Associação, pela Cantina e pelo Estado. A Associação paga propinas, compra livros a alguns alunos e fornece almoços gratuitos (…) As principais transformações no sistema de refeições escolares ocorreram em 1936 quando o Ministério da Instrução Pública deu lugar ao Ministério da Educação Nacional (MEN). Nesse mesmo ano o MEN criou duas organizações que viriam a assumir um papel determinante na organização do fornecimento de refeições escolares: a Organização Nacional Mocidade Portuguesa e a Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN) (…) Entre outros apoios concedidos pela OMEN, o fornecimento de refeições gratuitas era um deles. Durante o Estado Novo, eram muitas as famílias portuguesas que sobreviviam apesar da fome e da insegurança que a pobreza e a falta de trabalho lhes provocavam (…) até os anos 60 a educação escolar era uma experiência à qual poucas crianças acediam (principalmente as que careciam de recursos). A criança (“criança-adulto”) contribuía maioritariamente para a organização do lar e para o trabalho doméstico, estando a educação, por esse motivo, confinada a esse espaço (…) Quanto à escola, esta desempenhava o papel central de “inculcador ideológico, baseado numa forte ideologia nacionalista assente na trindade, Deus, Pátria, Família” (…) Perante as débeis condições económicas em que muitas famílias se encontravam – e de como

isso dificultava o exercício da disciplina sobre as crianças – o Estado viu-se na necessidade de prestar auxílio às famílias mais carenciadas através do fornecimento de refeições e da oferta de roupa ou livros (…) Apesar de se verificar uma crescente intervenção estatal na alimentação das crianças durante o Estado Novo, o serviço prestado estava instrumentalizado de modo a favorecer uma estratégia mais ampla de “inculcador ideológico” (Stoer, 1983, p.794) na conquista de soberania sobre o povo. A alimentação escolar, estando organizada sob a dependência da MP e da OMEN, contribuiu para a expansão dos aparelhos de vigilância e controlo do Estado Novo (…) Neste período, as refeições escolares tinham o propósito de atenuar os efeitos de pobreza (carência alimentar, condição física precária e maus hábitos de higiene) e educar as crianças segundo os valores do regime, incutindo a fraternidade, a obediência, a disciplina e as boas maneiras. Mesmo assim, as refeições fornecidas não abrangiam a totalidade das crianças que sofriam de carência alimentar, e as que tinham esse privilégio usufruíam desse serviço durante um curto período de tempo, dado que, com o regime do Estado Novo, a escolaridade obrigatória foi reduzida a um ciclo de três anos. Deste modo, houve uma expansão lenta da rede de cantinas (…) Como já foi referido, no Estado Novo a alimentação escolar fazia-se nas cantinas escolares da Mocidade Portuguesa (MP) e da Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN). Embora não existam números relativamente às cantinas da MP, porém, como consta no testemunho transcrito, sabe-se que estas eram insuficientes. Já no que respeita às cantinas da OMEN, sabe-se que em 1940 foi “instalada a primeira cantina escolar no Casal Ventoso, à qual se seguiram, no mesmo ano, as cantinas do Bairro da Liberdade e de três escolas oficiais de Lisboa” (Pimentel, 2001, p. 153). Até 1946 a OMEN não teria conseguido criar “senão quatro cantinas em Lisboa, quatro em Coimbra e oitenta no Porto” (Pimentel, 2001, p. 154). Um ano depois viriam a ser construídas onze cantinas em Lisboa e catorze no ano seguinte (Pimentel, 2001) (…) Sujeitos a limitações orçamentais totalmente desproporcionais à abrangência que procuravam dar, a subsistência das cantinas dependia de alguns subsídios ou outros apoios pontuais (…) Embora o esforço dos agentes educativos e da comunidade tenha contribuído progressivamente para o melhoramento do funcionamento das cantinas, a resposta que este modelo de organização procurava dar jamais poderia satisfazer as necessidades alimentares de uma população predominantemente em situação de pobreza (…) Com a criação do IASE em 1971, e depois, com a inclusão do Programa de Alimentação Racional (que incluía o Suplemento Alimentar) passou a haver um registo mais sistemático do número de cantinas. As orientações do IASE não se limitaram a regular a composição dos menus escolares. Como já foi referido, as preocupações eram mais abrangentes e ambicionavam uma melhoria dos hábitos de higiene, não só dos alunos como também do pessoal responsável pela confecção ou distribuição das refeições e das respectivas instalações (…) Quanto ao papel pedagógico dos agentes educativos, destaca-se a importância dos professores acompanharem os alunos durante o tempo da refeição (IASE, 1971). O acompanhamento dos alunos fazia-se por etapas: durante a lavagem das mãos, durante a refeição na cantina mantendo-se a ordem, após a refeição (garantindo que os utensílios regressavam à cozinha ou à copa) e, novamente, durante a lavagem das mãos após a refeição e, quando havia condições, na lavagem dos dentes também (IASE, 1971) (…)” – cf. Aa. Vv. – Estudos e Relatórios: A evolução do sistema de refeições escolares em Portugal (1933-2012): I.º Relatório de Pesquisa. Lisboa: Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2012, pp. 10 – 13, 57 e 58.


Planta, Alçado, Paredes e Faces visíveis, simétricos e de geometria retangular, identifica-se pela sobriedade e rigor do seu programa. Deste modo, à imagem de outras construções similares, encimando o “Bloco central” deste Edifício subsiste, sobre as “Salas de refeição”, um “Telhado de quatro águas”, acompanhado por outro de “duas águas” e um de “uma água”, possivelmente correspondentes ao perímetro das zonas de Cozinha, Copa e Área de serviço. Na sua Fachada principal, demarcando o cariz “austero” da Arquitetura escolar do “Estado Novo”, observa-se um registo simétrico, com porta única ao centro, retangular e de acesso às duas “Salas de refeição”, cada uma delas visível pelos dois conjuntos de três janelas que ladeiam a porta principal. Modelando e “moldurando” o “Pórtico de entrada”, a par do pequeno friso superior de cinco aberturas na arquitetura (comuns nas construções escolares do “Estado Novo”, sobretudo nas estruturas de “tipo Urbano”), visualizam-se dois volumes escavados na parede, de cariz vertical, retangulares e que antecedem os dois conjuntos de janelas acima citados. Também como forma de marcar a área geográfica e assinalar um estilo regionalizado de “Edifício escolar”, correspondendo com parte dos materiais e das soluções visuais da “Escola primária Oleirense”, no “Complexo e Edifício da Cantina Escolar”, para além do muro exterior de Alvenaria pétrea (granítica), sublinham-se outros acabamentos de Alvenaria e Cantaria pétrea (sobretudo granito), patentes na sua Frontaria; nomeadamente no friso horizontal junto ao solo que assinala a sua base de implementação, no registo vertical das duas arestas

laterais do Edifício e na “moldura pétrea retangular” que delimita o perímetro dos dois conjuntos de três janelas que identificam, nesta Fachada, as duas “Salas de refeições” da “Cantina Escolar de São Paio de Oleiros”. Do ponto de vista cromático, à semelhança do que se verifica na “Escola primária” anteriormente analisada, a dinâmica desta “Cantina” centra-se sobretudo nos contrastes tonais concretizados pelo branco que se expande por grande parte das paredes “caiadas”, pelo laranja da Alvenaria de Barro dos telhados; e ainda, pelas propriedades visuais dos apontamentos de Alvenaria e Cantaria pétrea (granítica), que o Edifício recebe.

Fig. 190 “Perspetiva aérea atual do “Complexo” e Edifício da “Cantina Escolar de São Paio de Oleiros” – Uma edificação inaugurada entre 1960 e 1974, acessível pela Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho da Vila de São Paio de Oleiros © Imagem extraída de: https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+Oleiros/@40.988505,8.594608,62a,35y,326.03h,45.04t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd2478e88abc45fb: 0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40.9890047!4d-8.5968868 – 13/04/2017, 15 h 59 m. (8) Pois são muitos os cidadãos de ambos os sexos, sobretudo de gerações “pós 25 de abril de 1974”, que recordam com saudosismo e nostalgia os momentos em que diariamente, na sua infância e aquando da frequência no ensino escolar local (sobretudo básico / primário), munidos da sua “senha de refeição”, os alunos se deslocavam até ao espaço da “Cantina Escolar Oleirense” para usufruírem do seu momento de almoço. Muitas vezes coroado com um pequeno intervalo propício ao “lazer e à correria” nos espaços ajardinados que antecedem a entrada, enquadram e delimitam todo o espaço arquitetónico da “Cantina Escolar de São Paio de Oleiros”.

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Resposta pública do Ensino pré-escolar local: Outros escolar da segunda metade do século XX português. Exemplares de Património escolar Oleirense, edificados na segunda metade do século XX e que conservam a De pendor tradicionalista, apesar de conter diferentes sua função educativa remodelações / intervenções / acrescentos visíveis nos Jardim de Infância da Quebrada dias de hoje, posteriores à sua cronologia original e resultantes de intervenções diversas - combinando esforços e apoios das tutelas ministeriais, do município, dos Executivos da Junta de Freguesia local e, sobretudo, dos diferentes quadros das Associações de Pais - a par do espaço natural que o envolve e serve de “recreio”, o Edifício do Jardim de Infância da Quebrada de São Paio de Oleiros caracteriza-se pela geometria retangular das suas aberturas, portas e janelas; pela robustez dos pilares cilíndricos que suportam, em algumas faces e segmentos, os Telhados (contribuindo também para a Fig. 191 Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício do Jardim de Infância da definição de pequenas áreas cobertas, de “Alpendre”). E Quebrada de São Paio de Oleiros – Uma edificação remontante à segunda metade do século XX, acessível pela Rua Nova da Aldeia da Vila de São Paio de Oleiros © ainda, pelos “Telhados de duas e três águas”, JFSPO / José C. Amorim. correspondentes aos dois “Blocos de Salas” que se Com possível origem na reinterpretação de um espaço unem, comunicam entre si e definem a Planimetria deste escolar precedente, o atual Jardim de Infância da espaço escolar Oleirense. Refletindo “modernidade”, Quebrada, acessível pela Rua Nova da Aldeia da Vila de enquadrando-se na dinâmica educativa atual e São Paio de Oleiros, integra a resposta pública do contrastando com a austeridade e sobriedade estética de “Ensino pré-escolar” local – anteriormente designado momentos precedentes, sobretudo aproximados à pelo termo “Pré-primária” e antecedente ao ingresso no origem deste Edifício escolar, para além do contraste “Ensino primário”. visível entre a tonalidade laranja da Alvenaria dos Telhados, com a cor “branca” da maior parte das Educando, marcando e preparando, durante as suas paredes, amarela de outras faces, frisos, pilares décadas de atividade ininterrupta, múltiplas gerações de cilíndricos e metálica da caixilharia de alumínio das crianças Oleirenses e de localidades vizinhas para as portas e janelas, na Fachada principal deste Jardim de etapas educativas seguintes, em termos estruturais a sua Infância sobressai uma intervenção artística policromada. Planimetria e Alçados originais enquadram-se nos Animada, de linguagem plástica simbólica e identificativa pressupostos estéticos e construtivos da Arquitetura dos pressupostos, desígnios e funções deste espaço.


Resposta pública do Ensino pré-escolar local: Outros Exemplares de Património escolar Oleirense, edificados na segunda metade do século XX e que conservam a sua função educativa Jardim de Infância da Lapa Fig. 192 Panorâmica atual da Fachada principal do Edifício do Jardim de Infância da Lapa de São Paio de Oleiros – Uma edificação remontante à segunda metade do século XX, acessível pela Rua Nova do Pego da Vila de São Paio de Oleiros © JFSPO / José C. Amorim.

Também importante no percurso formativo de diferentes gerações de Oleirenses e vizinhos, acessível pela atual Rua Nova do Pego da Vila de São Paio de Oleiros, o Edifício do Jardim de Infância da Lapa poderá representar uma construção original da segunda metade do século XX. Posterior, inclusive pela própria linguagem construtiva que apresenta, ao Edifício do Jardim de Infância da Quebrada anteriormente analisado, este espaço escolar complementa a resposta pública do “Ensino pré-escolar” Oleirense. Situado numa área limítrofe, próxima ao término geográfico da Vila, a edificação deste “Complexo pré-escolar” teve como propósito inicial responder às necessidades da população infantil, em idade “Pré-escolar”, desta zona / lugar da Freguesia, um pouco distante do centro Oleirense e, consequentemente da área de implementação do Jardim de Infância da Quebrada e da própria “Escola primária da Igreja”, atual “EB1”. A construção deste espaço terá ocorrido também num

momento da história local onde a resposta pública, nomeadamente do Jardim de Infância da Quebrada, seria curta perante o volume de crianças em idade “Préescolar” que proliferava por São Paio de Oleiros. Na contemporaneidade, Jardim de Infância da Lapa e Jardim de Infância da Quebrada padecem anualmente com as vicissitudes decorrentes da baixa natalidade que afeta a Vila, a região e o próprio país. Delimitado por espaço natural, ajardinado e utilizado como recreio, este Edifício, apesar de evidenciar nos dias de hoje e à semelhança do que se verifica nos restantes elementos do Património escolar Oleirense, remodelações / alterações / acrescentos posteriores à sua época de construção – por via ministerial, municipal, com apoio de Executivos da Junta de Freguesia local, mas essencialmente pelo empenho das suas Associações de Pais - interpretando os pressupostos sóbrios e tradicionalistas da Arquitetura escolar local e nacional da segunda metade do século XX, caracterizase pela sua Planta e Alçados simples, retangulares, simétricos e definidores de um só “Bloco”, com um único “pórtico de entrada”, ladeado por dois segmentos de três janelas cada um, patentes na sua Fachada principal. Coroando o Jardim de Infância da Lapa, subsiste ainda um “Telhado de duas águas”. Tal como sucede no Jardim de Infância da Quebrada, também no Jardim de Infância da Lapa a cromia da sua Fachada principal encontra-se dinamizada por uma intervenção artística policromada e apelativa. De índole simbólica e interpretativa da componente funcional e educativa deste espaço.

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Património arquitetónico do século XX Oleirense: Lavadouros, Tanques, Fontes, Chafarizes, Bebedouros e Fontanários: A “Arquitetura da água” como exemplo da intervenção humana no controlo da água no território e “malha urbana” local (Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras & “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964 da “Escola Primária da Igreja”, atual “Escola Básica número 1 / “EB1 Igreja de São Paio de Oleiros”) “(…) Oleiros provir de “olleiros”, palavra castelhana e portuguesa antiga, na qual se molham os “ll”, pronunciando-se “olheiros” e que significa “olhos” ou “nascentes de água”, que os mais velhos afiançam terem existido um pouco por toda a freguesia (e que ainda hoje rebentam em vários locais) (…) Moinhos de água abundavam nas ribeiras (…)” Anthero Monteiro (Cf. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, pp. 4 e 5.)

“(…) Cada civilização desenvolveu as suas maneiras de controlo e manipulação da água na paisagem e no espaço arquitectónico (…) a manipulação da água pela mão do Homem, surge pela necessidade de criar redes de recolha de água, condução e controlo de forma a satisfazer as necessidades básicas como beber, lavar e regar (…)” Fernando Pires (Cf. PIRES, Fernando - A reconfiguração da malha urbana de Lisboa pela arquitetura civil do abastecimento de água à cidade no século XVIII. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada, sob orientação do Prof. Doutor Arq.º Orlando Azevedo, à Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa, 2014, pp. 21 e 22.)

Partindo das duas considerações supracitadas - a 172 primeira do Dr. Anthero Monteiro acerca do topónimo

“Oleiros” e da sua variante interpretativa que alude à “Hidro toponímia” local, evocativa da secular existência de nascentes, cursos de água e sua respetiva manipulação humana no território, ofícios, indústria, paisagem rural e urbana Oleirense; e a segunda, de Fernando Pires sobre o conceito de “Arquitetura da água”, seu entendimento, quadrantes de ação e importância histórica para os diferentes momentos da civilização humana e da evolução das suas malhas geográficas e urbanas – é possível perceber a pertinência da inserção de breves referências a alguns motivos, equipamentos e monumentos de “controlo de água” neste levantamento do Património arquitetónico novecentista (séc. XX), da Vila de São Paio de Oleiros. Ao longo de todo o seu percurso existencial e historiográfico, correspondendo ao desígnio transversal a toda a Humanidade de tentar manipular a água em benefício do “bem-estar” comum, sobrevivência, serviços e ofícios de um povo, o espaço rural e urbano de São Paio de Oleiros usufruiu de construções capazes de guiar, armazenar, fornecer e tirar partido dos seus recursos hídricos. Aliás, como grande exemplo da manipulação das propriedades da água em benefício próprio, os Oleirenses destacam-se pelo já sublinhado pioneirismo dos seus seculares engenhos e moinhos de água utilizados na produção papeleira, que marcaram a sua vertente tradicional e posterior adaptação industrial (9). (9) Sobre os recursos hídricos de São Paio de Oleiros, respetiva manipulação humana e adaptação secular aos desígnios pioneiros da produção papeleira local, vide (veja): “(…) Moinhos de água abundavam nas ribeiras. Mas já nas “Memórias


Todavia, tendo em conta que essa componente recebeu uma abordagem superior em algumas das páginas anteriores deste “Roteiro”, compostas pelas referências exclusivas à Arqueologia Industrial e Património Papeleiro (sobretudo de sécs. XVIII a XX), de São Paio de Oleiros, direcionamos este levantamento de alguns exemplares de “Arquitetura da água” Oleirenses para a sua presença, interação, frequência, estética e serviço no espaço e malha urbana da Vila. Através da pequena seleção formulada, descritiva de alguns dos “Monumentos de Arquitetura da água” mais marcantes da paisagem e urbanismo Oleirense, identifica-se a sua edificação numa cronologia maioritariamente novecentista (balizados entre 1954, 1964 e 1968), de influência nacionalista e estética austera (dos quais destacamos apenas dois para análise aprofundada, tendo em conta as especificidades estilísticas que denotam, o primeiro, de 1954, de “linhas mais ondulantes e o segundo, de 1964, mais estático, reto e austero) e resultante dos programas de “Arquitetura da água”, salubridade e higienização pública que o “Estado Novo” (1926 - 1974) – regime totalitário português anteriormente citado pelo plano de construção escolar que originou a “Escola primária da Igreja de São Paio de Oleiros” – fomentou, regrou e impôs na maioria das Aldeias, Vilas e Cidades de Portugal. Tal como sublinha Fernando Pires quando refere que “a manipulação da água pela mão do Homem, surge pela necessidade de criar redes de recolha de água, condução e controlo de forma a satisfazer as necessidades básicas como beber, lavar e regar” (10), é

sobretudo neste contexto funcional, de resposta ao abastecimento e necessidades de higienização pública, com exceção para um registo de cariz meramente decorativo, que as Fontes, Bebedouros, Chafarizes, Tanques, Reservatórios e Lavadouros públicos identificados foram erigidos no território Oleirense.

Figs. 193 & 194 Panorâmica e pormenor atual da Frontaria da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1968 (com estrutura oval / elíptica e “bacia / reservatório de água circular), da Rua Nova do Hospital da Vila de São Paio de Oleiros com Lavadouro” © JFSPO / José C. Amorim.

Paroquiais” de 1758 se diz “Oleiros não tem só moinhos, mas também um engenho de papel” (…) no lugar do Candal, a que haveria de ser uma das mais antigas e mais bem acreditadas fábricas de papel da Terra da Feira” (Pinho Leal) (…) Destruída em 1854 e reedificada em 1859, tinha motor hidráulico (…)” – cf. MONTEIRO, Anthero “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 5. (10) Cf. PIRES, Fernando - A reconfiguração da malha urbana de Lisboa pela arquitetura civil do abastecimento de água à cidade no século XVIII. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada, sob orientação do Prof. Doutor Arq.º Orlando Azevedo, à Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa, 2014, pp. 21 e 22.

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“Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954, da Rua das Marcada pelos desígnios literário “C.M.F.” e numérico Pedras da Vila de São Paio de Oleiros, com Lavadouro” “1954” - escavados ao centro e alusivos à tutela inicial (“Câmara Municipal da Feira” (atualmente Santa Maria da Feira)), e cronologia de edificação, “1954” – esta “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz da Rua das Pedras” do território Oleirense enquadra-se nos pressupostos estéticos nacionalistas, simplistas, robustos e austeros que o “Estado Novo” subsidiou na maioria das suas composições de “Arquitetura da água” com este propósito (11). Identificando o material típico da área de inserção, este “Volume e Monumento de Arquitetura da água”, sóbrio, robusto e simétrico, resulta de um trabalho de Alvenaria e Cantaria pétrea visível (granítica), existindo apenas movimento no seu remate superior, composto por dois enrolamentos / volutas contracurvadas e espiraladas que enquadram, ao centro, um elemento / “plinto” piramidal invertido. Fig. 195 Registo atual da Frontaria da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras da Vila de São Paio de Oleiros” © JFSPO / José C. Amorim.

Apesar de imprópria para consumo humano, nos dias de hoje, a água oriunda da “Pedreira de São Paio de Oleiros” – onde foi escavado e modelado este exemplo singular da “Arquitetura da água” de São Paio de Oleiros - continua a correr pela “bica” e a acumular-se no pequeno reservatório retangular que completa a “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras da Vila de São Paio de Oleiros”. 174

Como complemento de utilidade pública e higienização (respondendo a momentos históricos onde a profissão de “Lavadeira” (12) era bastante comum, ou simplesmente (11) Ao analisar alguns um registos e monumentos de “Arquitetura da água” típicos do “Estado Novo”, situados na Ilha açoriana da Graciosa, Jorge Paulus Bruno identifica pressupostos visuais e normas construtivas típicas deste estilo, que se repetem noutras geografias nacionais e são passíveis de interpretação nos próprios exemplares de “Arquitetura da água” de São Paio de Oleiros: “(…) Já do século XX são numerosos os chafarizes do Estado Novo (…) construídos em pedra de cantaria à vista, de desenho austero e de inspiração nacionalista, por vezes tendo na sua proximidade um telheiro, também ao gosto do Estado Novo com lavadouros (…)” - cf. BRUNO, Jorge A. Paulus – Arquitetura da água na Ilha Graciosa (Texto produzido no contexto do projecto SOSTENP – Estratégias de Desenvolvimento Económico, Social e Ecológico Sustentável em Espaços Naturais Protegidos da Macaronésia). Inventário do Património Imóvel dos Açores. Santa Cruz da Graciosa: Direção Regional da Cultura / Instituto Açoriano de Cultura / Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, 2010, p. 42.


escasseava a água canalizada nas residências e as lides domésticas careciam de idas aos “rios, riachos, simples cursos de água e posteriormente lavadouros” para lavar roupa suja), também enquadrável nos desígnios construtivos e propostas de “Arquitetura da água” do “Estado Novo”, coevo ou até posterior à própria datação da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras da Vila de São Paio de Oleiros”, agrega-se uma construção identificativa de um “Lavadouro público”. Em formato de “Telheiro”, maioritariamente aberto, de linhas simples e matriz retangular, com dois “Tanques / Reservatórios de água”, alguns apontamentos, frisos e acabamentos de Cantaria pétrea (granítica), e ainda, pilares e cobertura trabalhados a argamassa.

“Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964 da “Escola Primária da Igreja”, atual “Escola Básica número 1 / “EB1 Igreja de São Paio de Oleiros”

Fig. 197 Registo atual da Frontaria da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964 da “Escola Primária da Igreja”, atual “Escola Básica número 1 / “EB1 Igreja de São Paio de Oleiros” © JFSPO / José C. Amorim. Fig. 196 Panorâmica atual da Frontaria da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras da Vila de São Paio de Oleiros com Lavadouro” © JFSPO / José C. Amorim. (12) Sobre o papel social e profissional das “Lavadeiras” no século XX, sobretudo na vigência do “Estado Novo” em Portugal, vide (veja): “(…) A Lavadeira foi uma figura de grande importância tanto em meio rural como em meio urbano em pleno século XX. Mesmo nas casas que empregavam criadas permanentes ou mulheres-a-dias, grande parte da roupa era lavada por estas mulheres que trabalhavam à tarefa. A falta de água canalizada obrigava a que a roupa fosse lavada no exterior das habitações, em riachos ou nas fontes das cidades e vilas, em tanques especialmente construídos para o efeito (…) no período do Estado Novo foram objecto de exaltação com o filme Aldeia da Roupa Branca, que se integra na política de enaltecimento dos valores rurais e tradicionais portugueses (…) A categoria encontrada no Recenseamento Geral da População de 1940 é Lavadora e engomadora de roupa (…)” – cf. ALMEIDA, Maria Antónia Pires de – “Lavadeira” in MADUREIRA, Nuno Luís (coord.) - História do Trabalho e das Ocupações. Vol. III. Oeiras: Celta Editora, 2002, pp. 1 e 2.

Posterior à “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz da Rua das Pedras” e à própria edificação e inauguração de 1960 da “Escola primária da Igreja” onde está inserida / incrustada, voltada para a via pública, no muro de Alvenaria pétrea (granítica), que desde a sua estrutura pristina delimita este espaço escolar, a “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964 da “Escola Primária da Igreja”, atual “Escola Básica número 1 / “EB1 Igreja de São Paio de Oleiros” é visível e acessível através de um dos extremos da Avenida Dr. Domingos da Silva Coelho, comunicante com a Rua Joaquim Francisco do Couto da Vila de São Paio de Oleiros.

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Apesar de conservar o seu formato, estrutura e arquitetura original, atualmente, esta “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964” encontra-se desativada da sua função primordial de orientar e disponibilizar água. Contudo, este registo de “Arquitetura da água” é bastante peculiar no enquadramento da Vila de São Paio de Oleiros por incluir “bancos pétreos (graníticos)” / “zonas de descanso” nas suas laterais (indiciando que a par do suposto abastecimento do contexto escolar de inserção, num momento historiográfico onde a água canalizada e o acesso à água potável não abrangia a totalidade da rede habitacional e comunitária, a sua viragem para a via pública teria como função pristina abastecer cidadãos locais ou mesmo viajantes sedentos de água e de descanso nos respetivos caminhos / jornadas laborais) (13).

este Monumento de “Arquitetura da água” aludindo às tradições construtivas e aos materiais próprios desta área territorial, interpretando os desígnios concetuais do “Estado Novo”, evidencia-se pelo trabalho de Alvenaria e Cantaria pétrea visível (maioritariamente com Granito aparelhado). Com “reservatório / bacia recetora de água semicircular”, ladeada pelos já citados “bancos / zonas de descanso”, pétreos (de uma só laje de Granito cada um), e retangulares, no seu “Frontão” esta “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964”, à semelhança da “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1954 da Rua das Pedras”, conserva, numa área centralizada as inscrições “C.M.F.” e “1964”, escavadas e identificativas da tutela primitiva (“Câmara Municipal da Feira” (atualmente Santa Maria da Feira)), e respetivo ano de construção.

Tendo em conta os valores construtivos da sua época de produção, de pendor tradicionalista e nacionalista, do ponto de vista formal, talvez pelo próprio enquadramento e aplique no muro de Alvenaria granítica da “Escola primária Oleirense”, o programa plástico desta “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964” é muito mais depurado, geométrico, equilibrado, simples e austero nas suas linhas e volumes do que a própria construção homónima, de 1954 e da “Rua das Pedras” - também ela integrada na “Arquitetura da água” robusta, simétrica e sóbria, típica do “Estado Novo”, mas que denota um ligeiro pormenor de movimento no topo contracurvado da sua Frontaria.

(13) No seu contributo para o estudo do Património Edificado do Concelho de Carregal do Sal, especificamente no levantamento que efetua acerca da “Arquitetura da água”, de Fontes e Chafarizes, Evaristo João de Jesus Pinto refere algumas considerações aplicáveis à perceção histórica, estética e funcional dos exemplares Oleirenses de “Fontes / Chafarizes” elencados: “(…) construções arquitectónicas que remontam ao período do Estado Novo, observando-se nestas estruturas, uma grande diversidade de tipologias construtivas e materiais de suporte como o granito, sobretudo de origem local (…) Tratando-se de um tipo específico de património, as fontes que emergiram nas diversas povoações do concelho surgiram, como em tantas outras localidades, pela necessidade de se facilitar o acesso à água a todos os seus habitantes. Estes diversos imóveis com as respectivas bicas e pias de granito, lá estavam à beira dos caminhos e nos largos das aldeias, matando a sede e refrescando a todos, constituindo locais de referência de pequenas pausas, de memória de longas caminhadas para os campos, feiras, festas, romarias e rotina da vida doméstica no seio das comunidades. Deste modo, quem não se lembra de ter visto, também, os animais a beber nas pias de granito, junto à fontes e chafarizes? Como esquecer que, num tempo não muito distante o transporte dos materiais das diversas lides do campo e das próprias pessoas era, na maior das vezes, efectuado por animais? Ficaram os testemunhos de um tempo vivencial que marcou gerações (…)” – cf. PINTO, Evaristo João de Jesus - Fontes e Chafarizes do Concelho de Carregal do Sal. Contributos Para o Inventário do seu Património Histórico Edificado. Carregal do Sal: Museu Municipal Manuel Soares de Albergaria / Câmara Municipal de Carregal do Sal, 2013, p. 8.

Adoçado ao muro pétreo da “Escola primária da Igreja”,


Distinto das soluções estéticas patentes no programa construtivo do exemplar de 1954 da “Rua das Pedras”, o “Frontão” desta “Fonte / Bica / Bebedouro / Chafariz de 1964” denota maior simetria, rigor e austeridade formal. Seguindo um modelo / tipo construtivo bastante difundido na “Arquitetura da água” portuguesa, de cariz nacionalista e identificativo da estética base que o “Estado Novo” incutiu na malha rural e urbana de diferentes Aldeias, Vilas e Cidades lusitanas, este “Frontão” associa três volumes paralelepipédicos, dispondo o maior em altura ao centro, de laje granítica única, ladeado pelos dois menores, metricamente iguais entre si e concebidos através de um trabalho de Alvenaria pétrea que sobrepôs, em cada um deles, três blocos similares de granito.

Fontes, Bibliografia & Recursos eletrónicos

Graciosa (Texto produzido no contexto do projeto SOSTENP – Estratégias de Desenvolvimento Económico, Social e Ecológico Sustentável em Espaços Naturais Protegidos da Macaronésia). Inventário do Património Imóvel dos Açores. Santa Cruz da Graciosa: Direção Regional da Cultura / Instituto Açoriano de Cultura / Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, 2010, p. 42. MONTEIRO, Anthero - “Historial de São Paio de Oleiros” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, pp. 4 e 5. PINTO, Evaristo João de Jesus - Fontes e Chafarizes do Concelho de Carregal do Sal. Contributos Para o Inventário do seu Património Histórico Edificado. Carregal do Sal: Museu Municipal Manuel Soares de Albergaria / Câmara Municipal de Carregal do Sal, 2013, p. 8.

PIRES, Fernando - A reconfiguração da malha urbana de Lisboa pela arquitetura civil do abastecimento de água à cidade no século XVIII. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada, sob orientação do Prof. Doutor Arq.º Orlando Azevedo, à Faculdade de ALMEIDA, Maria Antónia Pires de – “Lavadeira” in Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa). MADUREIRA, Nuno Luís (coord.) - História do Trabalho e Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa, 2014, pp. 21 e das Ocupações. Vol. III. Oeiras: Celta Editora, 2002, pp. 22. 1 e 2. REIS, Sofia – 74-86. Arquitectura em Portugal: Uma BRUNO, Jorge A. Paulus – Arquitetura da água na Ilha leitura a partir da imprensa. (Dissertação de Mestrado no Aa. Vv. – Estudos e Relatórios: A evolução do sistema de refeições escolares em Portugal (1933-2012): I.º Relatório de Pesquisa. Lisboa: Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2012, pp. 10 – 13, 57 e 58.

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âmbito da especialização em Arquitectura, Território & Memória, apresentada ao Departamento de Arquitectura da FCTUC, sob orientação do Professor Arquitecto Mário Kruger). Coimbra: Departamento de Arquitectura da FCTUC / Universidade de Coimbra, 2007, p. 10. SEBASTIÃO, Joana – Arquitetura, Imagem e Cenografia. O Estado Novo e a construção de uma Identidade Nacional. (Dissertação de Mestrado integrado em Arquitetura, apresentada ao Departamento de Arquitetura da FCTUC, sob orientação do Prof. Doutor Jorge Figueira). Coimbra: Departamento de Arquitetura da FCTUC / Universidade de Coimbra, 2013, pp. 9 a 19. VILA POUCA, Óscar Cardoso Pires - Escolas Primárias Edifícios com propósito. (Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, sob orientação do Prof. Doutor Rui Braz Afonso). Porto: F.B.A.U.P., 2013, pp. 6 a 26.

Fig. 198 Antigo exemplar de “Arquitetura da água”, patente numa das áreas “nevrálgicas” / centrais da Vila e do “Arraial de São Paio de Oleiros” (o atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida”) - Uma “Fonte / Lago & Chafariz circular”, datável da segunda metade do século XX, morfologicamente composto por sobreposição de Alvenaria – diferentes “blocos pétreos”, graníticos, agrupados entre si - atualmente desmantelado para o efeito pristino (o albergue e a exibição de água), conjugando a sua estatuária original com a implementação, no século XXI, de elementos vegetalistas e florais em grande parte do seu perímetro de “tanque” © JFSPO / José C. Amorim.

https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+ Oleiros/@40.9883879,8.5965751,61a,35y,8.67h,45.04t/data=!3m1!1e3!4m5!3m 4!1s0xd2478e88abc45fb:0x3f888b3ca3cc4c8a!8m2!3d40 .9890047!4d-8.5968868 – 13/04/2017, 12 h 10 m. https://www.google.pt/maps/place/S%C3%A3o+Paio+de+ Oleiros/@40.988505,8.594608,62a,35y,326.03h,45.04t/data=!3m1!1e3!4m5!3 40.9890047!4d-8.5968868 – 13/04/2017, 15 h 59 m. 178

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor).


Histรณria & Patrimรณnio Autรกrquico

Memรณria & Arte associadas ao legado administrativo da Freguesia, de 1885 a 2017


“História & Património Autárquico” - Memória & Arte associadas ao legado administrativo da Freguesia, respetivas Comissões administrativas e Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, de 1885 a 2017 Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

“História & Património Autárquico”: Epicentro e Edifício Administrativo da Freguesia de São Paio de Oleiros – Arquitetura e Arte da atual Sede da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (inaugurada em 1973), Por José C. Amorim Inaugurado no dia 21 de outubro de 1973, o “EdifícioSede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros foi concebido e idealizado segundo as normas construtivas vigentes na sua época de produção (ainda sob o conservadorismo estético em voga).

construtivos, nos acabamentos e motivos decorativos das suas faces (anterior e posterior), e respetivos alçados laterais. Como são os casos da Argamassa, da Madeira (na porta e caixilharia visível), da Azulejaria e da Alvenaria pétrea, nomeadamente granítica.

Fig. 199 “Edifício-Sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros – Inaugurado no dia 21 de outubro de 1973 © JFSPO / José C. Amorim.

Como comprovam as duas “lápides comemorativas” Em termos formais, caracteriza-se pelo seu “Telhado existentes em diferentes paredes do seu interior – em de duas águas”, definido com telhas de Alvenaria de Mármore decorado com relevos escavados compondo Barro e pela utilização simultânea de diferentes materiais escritos literários, pintados a dourado e laudatórios da

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efeméride em causa – este espaço, crucial para debelar algumas das carências pelas quais o território padecia até então, foi inaugurado com honras “Municipais” e de “Governo Civil”, através da presença em solo oleirense do Presidente da Câmara Municipal de St.ª M.ª da Feira em exercício, Sr. Alcides Branco e do Governador Civil de Aveiro, à época, o Dr. Francisco Valle Guimarães (cujo nome se inscreve na toponímia oleirense, na própria via que serve este Edifício). Também crucial para consumar esta obra marcante para a administração local e autárquica da Freguesia de São Paio de Oleiros, foi a ação do Executivo em atividade, antecessora e integrante do ano de 1973, apoiada pelo Dr. Domingos da Silva Coelho (assinalado inclusive na toponímia local), aquando da sua Presidência do Município feirense. Deste modo, tendo como base os estudos de arquivo do Dr. José Maria M. Pereira da Rocha e a informação perpetuada pelas já descritas “lápides marmoreais” patenteadas no interior deste Edifício, alusivas à sua já citada inauguração operada no dia 21 de outubro de 1973, o “elenco da Junta” (em funções contínuas de 15 de novembro de

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Fig. 200 Placa junto à entrada, no espaço interior da Junta de Freguesia Oleirense, marmórea e memorial da sua inauguração, de 21 de outubro de 1973 – “Este Edifício foi inaugurado pelo Governador Civil de Aveiro Dr. Francisco Valle Guimarães sendo Presidente da Câmara da Feira o Sr. Alcides Branco / Em 21 – 10 – 1973” © JFSPO / José C. Amorim.

1963 a novembro de 1974), responsável pela concretização desta construção, teria a seguinte dinâmica: Artur de Oliveira na qualidade de Presidente, devidamente auxiliado por António Alves da Costa como Secretário e Ernesto Alves da Silva no cumprimento das funções de Tesoureiro. Fig. 201 Artur de Oliveira (1913 – 1981) - Natural de São Paio de Oleiros (onde nasceu a 8 de maio de 1913 e faleceu a 5 de maio de 1981 – estando o seu corpo sepultado no Cemitério Oleirense, posicionado na sepultura n.º 34 da sua 2.ª secção), foi Tesoureiro da Junta de Freguesia entre janeiro de 1955 e dezembro de 1963 (dois mandatos). E posteriormente Presidente do Executivo, chefiando os destinos da Freguesia durante três mandatos, de janeiro de 1964 a novembro de 1974, participando decisivamente na construção e inauguração do “Edifício-Sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros © Arquivo de José Maria M. Pereira da Rocha & Arquivo Imagético da JFSPO.

Fig. 202 Placa incrustada na parede de um dos gabinetes administrativos interiores da Junta de Freguesia de S. P. Oleiros, marmórea e memorial dos intervenientes da sua edificação – “Homenagem da Junta de Freguesia ao Dr. Domingos da Silva Coelho impulsionador desta obra quando Presidente da Câmara da Feira / A Junta em exercício / Artur de Oliveira – Presidente / António Alves da Costa -. Secretário / Ernesto Henri-ques da Silva – Tesoureiro / 21 – 10 – 1973 © JFSPO / José C. Amorim.

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José C. Amorim. 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor).


Cronologia dos Elencos da Junta de Freguesia, Comissões Administrativas e outros intervenientes na Vida da Freguesia em momentos “pré” e “pós” Revolução do “25 de abril de 1974” (1885 a 2017) Texto, seleção de imagens & legendagem por José Maria M. Pereira da Rocha

Cronologia dos Elencos da Junta de Freguesia, Comissões Administrativas e outros intervenientes na Vida da Freguesia em momentos “pré” e “pós” Revolução do “25 de abril de 1974” (1885 a 2017), Por José Maria M. Pereira da Rocha

Pinto (?), Comendador José (?) d’ Azevedo Brandão, António Coelho da Rocha, P.e José Ferreira d’ Almeida, tesoureiro. Elenco da JF em 31.12.1887 – António Coelho da Rocha, João Rodrigues Malta, Joaquim Francisco Gomes da Costa, P.e José Ferreira d’ Almeida, tesoureiro. Elenco da JF em 31.12.1888 - Os mesmos de 1887. Elenco da JF em 31.12.1889 – António Coelho da Rocha, José Ayres Pinto, Vicente Gomes da Cruz. Secretário da JF, Joaquim Moreira Dias.

1885 a 1974 – Extensão cronológica do momento Elenco da JF em 31.12.1891 – Os mesmos do ano administrativo “pré” Revolução do “25 de abril de anterior. 1974” Elenco da JF em 31.12.1892 – Manuel Pinto Barbosa, Em 01 de janeiro de 1885 - Era presidente da Junta Vicente Gomes da Cruz, José Francisco de Oliveira, P.e Adriano de Sá Moreira Pinto e o Padre José Ferreira de José Ferreira d’ Almeida (tesoureiro), Joaquim Moreira Almeida assinava-se como tesoureiro em 31 de Dias (secretário) (Ao contrário das contas anteriores, não dezembro do mesmo ano. O mesmo tesoureiro continuou há certidão do acórdão de aprovação das contas). até 1894. Elenco da JF em 31.12.1893 – Os mesmos do ano anterior. Mas José Francisco de Oliveira não assinou. Elenco da JF em 31.12.1886 – Adriano de Sá Moreira

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Elenco da JF em 31.12.1894 – Os mesmos do ano anterior. Mas o presidente Manuel Pinto Barbosa, o tesoureiro, Padre José Ferreira de Almeida e o vogal José Francisco de Oliveira não assinaram. (Manuel Pinto Barbosa, pai, viúvo de Dona Luísa Dias da Rocha, faleceu antes de 1909. Menção do facto na inauguração do Hospital. O padre Ferreira de Almeida acrescentou à sua assinatura de tesoureiro a menção “presidente da Junta”. Já era ele?).

Elenco da JF em 31.12.1901 – Os mesmos, com Joaquim Francisco Gomes da Costa no lugar de Joaquim Francisco da Costa. O secretário ainda assinou as contas nesta data. Mas na cópia do acórdão de aprovação das contas, em agosto de 1902, o secretário, que o não assinou, designa-se “interino”.

Elenco da JF em 31.12.1902 – Os mesmos do ano anterior. Não há assinatura do secretário. Secretário deve ter falecido em agosto. Na lápide de memória, na Elenco da JF em 31.12.1895 – Os mesmos dos anos sepultura (n.º 108, da 3.ª secção), menciona-se o anteriores, que não assinaram as contas por terem sido falecimento em 1898. Lapso? Parece. substituídos no princípio de 1895 (?) por P.e José Ferreira d’ Almeida, presidente; Joaquim Francisco da Elenco da JF em 31.12.1903 – Os mesmos do ano Costa, vogal tesoureiro; António Coelho da Rocha e anterior. Não há assinatura do secretário. Joaquim Moreira Dias (secretário). O mesmo Padre Ferreira de Almeida assina-se como “Párocho” e Elenco da JF em 31.12.1904 - Os mesmos do ano acrescenta “presidente da Junta”. Desaparece a menção anterior. Não há assinatura do secretário. A partir de “tesoureiro”. 1904 aparece apenas a assinatura do Padre Ferreira de Almeida sem mencionar o cargo. Em 31 de dezembro de Elenco da JF em 31.12.1896 – Os atrás mencionados. 1910 a assinatura é antecedida da menção “o abbade”. António Coelho da Rocha não assinou. Elenco da JF em 31.12.1905 - Os mesmos do ano Elenco da JF em 31.12.1897 – Os mesmos do ano anterior. Não há assinatura do secretário. anterior. Elenco da JF em 31.12.1906 - Os mesmos do ano Elenco da JF em 31.12.1898 – Os mesmos do ano anterior. Não há assinatura do secretário. anterior. Elenco da JF em 31.12.1907 - Os mesmos do ano Elenco da JF em 31.12.1899 – Os mesmos do ano anterior. Não há assinatura do secretário. anterior. Elenco da JF em 31.12.1908 - Os mesmos do ano Elenco da JF em 31.12.1900 – Os mesmos do ano anterior. Não há assinatura do secretário. 183 anterior.


Elenco da JF em 31.12.1909 – O presidente e pároco José Ferreira d´ Almeida e o vogal Joaquim Francisco Gomes da Costa mantêm-se, mas o outro vogal foi José Alves da Costa.

Elenco da JF em 31.12.1911 - Os mesmos, mas Joaquim Francisco Gomes da Costa já não assina. Faleceu? (Extinta Junta em 1910: António Alves de Souza, secretário. Em 17 de março de 1912 entregou dois livros de atas: de 1 de março de 1892 a 19 de dezembro de Elenco da JF em 31.12.1910 - Os mesmos do ano 1898 e outro de 1 de janeiro de 1899 a 11 de março de anterior (?). As contas, no entanto, datadas de 1906). 05.03.1911, são assinadas por Manoel Alves dos Santos, António de Sá Couto, Joaquim Alves dos Reis Júnior, Elenco da JF em 31.12.1912 – Manoel Alves dos Santos, Joaquim Francisco Gomes da Costa e Manoel Alves da Manoel Francisco Sarralva, Manoel Carvalho da Silva, Costa. Aparece um novo secretário, José Pereira Alves José Alves Dias e Manoel Alves da Costa. O secretário, Carvalho. José Pereira Alves Carvalho, não assina e recebeu “gratificação (10#000)”. O mesmo “(6#000)” para o Elenco da JF em 19.03.1911 – Manoel Alves dos Santos, secretário do regedor, cujo nome não consta. Não há presidente; Joaquim Francisco Gomes da Costa, acórdão de aprovação das contas. Joaquim Alves dos Reis Jr., António de Sá Couto, Manoel Alves da Costa, vogais; pároco, P.e José Maria Elenco da JF em 16.03.1913 – (Auto de revisão de Valente da Costa; regedor, Manuel Pinto Barbosa; José inventário com nova Comissão Administrativa Pereira Alves Carvalho (de Paços de Brandão), empossada em 2 dos referidos mês e ano). Manoel Alves secretário. dos Santos, presidente; Manoel Francisco Sarralva, Manoel Carvalho da Silva, Manoel Alves da Costa, José Alves Dias, vogais; José Pereira Alves Carvalho, secretário.

Fig. 203 Padre José Ferreira d´ Almeida, pároco entre 1884 e 1921, tesoureiro da Junta entre 1885 e 1894 e presidente da Junta pelo menos entre 1895 e 1910 (Foto in “Breve Resenha Histórica da Paróquia de S. Paio de Oleiros” – 2015). .

Elenco da JF em 13.04.1913 – (Revisão e declaração de inventário). José Alves da Costa e Castro, regedor. Embora o auto diga que o pároco (novo? ou Padre Ferreira de Almeida) vai assinar o mesmo, o certo é que não há assinatura do pároco… José Pereira Alves Carvalho (de Paços de Brandão), secretário. Elenco da JF em 31.12.1913 – José Alves Dias, presi-

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-dente; Manoel Francisco Sarralva e Manoel Alves da Costa, vogais. A moeda mudou de “réis” para “escudos”. Valor: 1.000#000 = 1 escudo. O secretário da Junta recebeu 16$00.

Elenco da JF em 31.12.1917 - Os mesmos do ano anterior (?). Falta a assinatura do presidente nas contas aprovadas em 28.04.1918. José Alves Dias passara a acumular com o cargo de presidente da Comissão Recenseadora Escolar desde 02.08.1914.

Elenco da JF em 31.12.1914 – José Alves Dias, presidente; Manuel Francisco Sarralva, Manuel Carvalho Elenco da Comissão Administrativa em 02.01.1918 – (A da Silva, Manuel Alves da Costa, vogais. Junta anterior terminou o mandato em 31.12.1917). Joaquim d’ Oliveira Sá, presidente; Manoel Alves da Elenco da JF em 31.12.1915 - Os mesmos do ano Costa, António Francisco de Oliveira, vogais. (José Alves anterior. Manuel Carvalho da Silva não assinou as contas Dias, Manoel Francisco Sarralva, Manuel Carvalho da aprovadas em 26.03.1916. Silva e o reconduzido Manoel Alves da Costa assinaram as primeiras duas atas deste ano de 1918 na qualidade Elenco da JF em 31.12.1916 - Os mesmos do ano de membros cessantes da Junta anterior. José Alves da anterior. Manuel Alves da Costa não assinou as contas Costa e Castro assinou a segunda ata presumivelmente aprovadas em 11.03.1917. na qualidade de ainda regedor). Esta C.A. / Junta manteve-se até 13 de abril de 1919.

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Fig. 204 José Alves Dias (1859 – 1946), proprietário, do lugar do Lameiro. Foi vogal da Junta em 1912 e presidente de 1913 a 1917. Faleceu em 1946 com 87 anos © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Elenco da Comissão Administrativa em 13.04.1919 – Manoel Pinto Barbosa (presidente), João Francisco d’ Oliveira, (vice-presidente), e Américo d’ Oliveira Costa, tesoureiro (vogais, efetivos). Vogais substitutos: Manoel de Souza Paes, António Ferreira Capela e José Maria Pereira da Rocha. A nomeação foi executada pelo Dr. Ângelo Sá Couto da Cunha Sampaio Maia, Governador Civil de Aveiro. Esta C.A. manteve-se até 31 de agosto de 1919. Reconduzido o secretário José Pereira Alves Carvalho. Elenco da Junta em 31.08.1919 – Manuel Pinto Barbosa, presidente; João Francisco d’ Oliveira, vice-presidente; Américo d’ Oliveira Costa, tesoureiro, efetivos. Valentim


Francisco Calado, vogal e Joaquim d’ Oliveira Sá, “vogal, eleito pela minoria”. A posse foi conferida pelo regedor Guilherme Domingues Pereira. Reconduzido o secretário José Pereira Alves Carvalho, que deixou de assinar as atas de 27 de novembro de 1921 a 16 de abril de 1922. Esta Junta foi reconduzida nos mesmos cargos em 2 de janeiro de 1922. O livro de atas n.º 6 termina em 16 de abril de 1922. Fig. 205 Executivo local em 1922: João Francisco de Oliveira (vice - presidente) - Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite. Alt. 23, 5 cm x Larg. 19 cm. Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Documento histórico: Fotografia Contemporânea - Retratística oficial, séc. XX) © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 206 Executivo local em 1922: Américo de Oliveira Costa (tesoureiro) - Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite. Alt. 23, 5 cm x Larg. 18, 5 cm. Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Documento histórico: Fotografia Contemporânea - Retratística oficial, séc. XX) © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 207 Executivo local em 1922: Valentim Francisco Calado (vogal) - Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite. Alt. 23, 5 cm x Larg. 18, 7 cm. Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Documento histórico: Fotografia Contemporânea - Retratística oficial, séc. XX) © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 208 Executivo local em 1922: Joaquim de Oliveira Sá (vogal) - Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite. Alt. 23, 5 cm x Larg. 18, 5 cm. Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Séc. XX - Fotografia de 1922 (possivelmente executada por estúdio situado no Porto), reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Documento histórico: Fotografia Contemporânea - Retratística oficial, séc. XX) © JFSPO / José C. Amorim.

Elenco da Junta em 02.01.1923 – (Sala das sessões da Junta “sita na sacristia da igreja paroquial” – eleição ocorrida em 26.11.1922) – Foi reconduzida a mesma Junta do mandato anterior, todos conservando os seus cargos. A posse foi conferida pelo presidente cessante, Sr. Manuel Pinto Barbosa e o mandato é previsto ser de três anos. Elenco da Junta em 29.03.1925 – É substituído o vicepresidente João Francisco de Oliveira pelo vogal substi-

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-tuto António Ferreira Capela, e o vogal Valentim Exonerada por despacho de 12.10.1936 a Comissão Francisco Calado foi “aclamado” vice-presidente. Administrativa anterior, toma posse na data em epígrafe o novo elenco formado pelos Srs. Manuel Pinto Barbosa, Elenco da Junta em 02.01.1926 – É reconduzido o presidente; Joaquim Ferreira Capela e Manuel Alves da mesmo elenco do mandato anterior, e foi dispensado o Costa, vogais efetivos. Substitutos: Américo de Oliveira novo ato de posse em virtude de haver recondução. Foi Costa, José Rodrigues Malta e António Ferreira Cadinha. dissolvida em julho, em resultado do movimento do 28 de A posse foi dada pelo regedor, Sr. Adriano Gomes da maio, mas manteve-se em funções até outubro. Costa, sob despacho de 12.10.1936 do secretário do Governo Civil de Aveiro, licenciado José Elísio Elenco da Comissão Administrativa em 10.10.1926 – Gonçalves, no impedimento do Governador. Foi eleito Manuel Pinto Barbosa, presidente; Valentim Francisco tesoureiro o vogal Joaquim Ferreira Capela. Calado, vice-presidente, e Joaquim de Sá, tesoureiro; Américo Oliveira Costa, António Ferreira Capela e Elenco da Junta (ou Comissão Administrativa (?)) em Manuel Alves da Costa, vogais substitutos. A posse foi 05.11.1937 - Manuel Pinto Barbosa, presidente; Manuel dada pelo regedor Sr. Manuel Rodrigues Pinto Monteiro, Alves da Costa, secretário e Joaquim Ferreira Capela, na presença do secretário José Pereira Alves Carvalho, tesoureiro. A posse foi conferida na Câmara Municipal da também reconduzido. O alvará de nomeação veio do Feira pelo presidente da respetiva Comissão Governador Civil, capitão de artilharia e engenheiro civil Administrativa, licenciado Roberto Vaz de Oliveira. Em 9 José Luciano da Silva Cravo. Em 11 de outubro deste de janeiro de 1938 é contratado como escrivão o mesmo ano, a Freguesia foi anexada a Espinho. (Vd. secretário que tinha acompanhado os elencos anteriores, Memorandos Diversos, ata n.º 19, de 8 de novembro). Sr. José Pereira Alves Carvalho, de Paços de Brandão. Em 6 de maio de 1928, a ata da reunião desse dia refere que a Freguesia tinha sido desanexada do concelho de Elenco da Junta em 04.01.1942 – Empossados em Espinho. 05.11.1941 – Manuel Francisco do Couto, presidente; professor Manuel Francisco Serralva Jr., secretário; Em 3 de junho de 1928 pede a demissão o tesoureiro Miguel Rodrigues Malta, tesoureiro. Em novembro de Joaquim de Oliveira e Sá, “por motivo dos seus muitos 1941 era presidente da Câmara o Dr. Roberto Vaz de afazeres a que a sua indústria a tal obriga”. É substituído Oliveira. na reunião seguinte (17 de junho), pelo vogal substituto Manoel Alves da Costa. Elenco da Junta em 02.01.1946 – São reconduzidos os mesmos membros que formavam o elenco anterior, para Elenco da Comissão Administrativa em 01.11.1936 – um mandato de cinco anos. O presidente da Câmara era


o Dr. Domingos Caetano de Sousa.

Elenco da Junta em 05.11.1950 – São reconduzidos os mesmos membros da Junta referidos para o mandato anterior. Elenco da Junta em 04.11.1954 – São reconduzidos os mesmos presidente e secretário do elenco anterior. Para o lugar de tesoureiro, Miguel Rodrigues Malta, entretanto falecido, entra Artur de Oliveira.

Fig. 210 Manuel Francisco do Couto (fotografado em 1973) – Presidiu a Junta de Freguesia entre 1942 e 1963. Faleceu no dia 1 de março de 1976 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Elenco da Junta em 15.11.1959 – São reconduzidos os membros da Junta referidos para o mandato anterior. Também o presidente da Câmara é novo: Dr. Domingos da Silva Coelho.

Elenco da Junta em 15.11.1963 – Novo elenco da Junta: Artur de Oliveira, presidente; António Alves da Costa, secretário; Ernesto Henriques da Silva, tesoureiro. Elenco da Junta em 15.11.1967 – É reconduzido o mesmo elenco do mandato anterior. Fig. 209 Manuel Francisco do Couto (fotografado em 1965) – Presidiu a Junta de Freguesia entre 1942 e 1963. Faleceu no dia 1 de março de 1976 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Elenco da Junta em 15.11.1971 – Idem. O mandato cessou em novembro de 1974, quando entrou em funções a Comissão Administrativa.

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1974 a 2017 – Extensão cronológica do momento Manuel Alves da Silva - Presidente entre 1983 & 1989. administrativo “pós” Revolução do “25 de abril de 1974” (listagem presidencial) Bernardo Júlio de Oliveira e Silva – Presidente entre 1975 & 1977.

Fig. 213 Manuel Alves da Silva – Presidiu a Freguesia de 1983 a 1989 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. . Fig. 211 Bernardo Júlio de Oliveira e Silva – Presidiu a Freguesia de 1975 a 1977 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Américo Ferreira Lopes - Presidente entre 1977 & 1982.

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Fig. 212 Américo Ferreira Lopes – Presidiu a Freguesia de 1977 a 1982 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

José Henrique Relvas da Silva – Presidente entre 1990 & 1997.

Fig. 214 José Henrique Relvas da Silva – Presidiu a Freguesia de 1990 a 1997 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .


Carlos Alves Seixas – Presidente entre 1998 & 2001.

Fig. 215 Carlos Alves Seixas – Presidiu a Freguesia de 1998 a 2001 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

David Ferreira Rodrigues – Presidente entre 2010 & 2013.

Fig. 217 David Ferreira Rodrigues – Presidiu a Freguesia de 2010 a 2013 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Ana Cristina Pires de Oliveira – Presidente entre 2014 & 2017.

Eduardo José da Costa Pereira da Rocha – Presidente entre 2002 & 2009. Fig. 218 Ana Cristina Pires de Oliveira – Presidiu a Freguesia de 2014 a 2017 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Fig. 216 Eduardo José da Costa Pereira da Rocha – Presidiu a Freguesia de 2002 a 2009 © José Maria M. Pereira da Rocha / Arquivo Imagético da JFSPO. .

Notas de edição e publicação: 1 Texto cedido para publicação pelo autor, José Maria M. Pereira da Rocha. 2 Distribuição da retratística fotográfica, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José Maria M. Pereira da Rocha (texto das legendas cedido pelo autor).

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Património fotográfico, documental e artístico em exposição, ou arquivado, nos espaços do Salão Nobre e “Sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (excerto do “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” de novembro de 2015”) Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim

Nota introdutória & Considerações metodológicas (excerto do “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” de novembro de 2015”), Por José C. Amorim

incorporação, posse, preservação, estabilização; e que, acima de tudo, permite a salvaguarda da instituição aquando da exibição pública deste Património (documentando cada um dos elementos da coleção). No trato, estudo, manuseamento e análise do acervo descrito, foram seguidas normas rigorosas e, sobretudo, plenamente integradas na exigência das “políticas” patrimoniais contemporâneas.

“(…) Património histórico. A expressão designa um fundo destinado ao usufruto de uma comunidade alargada a dimensões planetárias e constituída pela acumulação contínua de uma diversidade de objectos que congregam a sua pertença ao passado (…) O culto prestado hoje em dia ao património histórico exige, pois, mais do que uma verificação de prazer. Exige um questionar, uma vez que ele é o revelador, negligenciado e, contudo, incontestável, de um estado da sociedade e das questões que nela existem (…)”

Deste modo, antecedendo a referência técnica ao Levantamento / Inventariação analítica formulada (de onde retiramos este excerto para constar neste “Roteiro”), importa indicar que cada um dos objetos identificados e abordados, recebeu ações coerentes de conservação. Compostas por limpeza preventiva, eliminação de matérias orgânicas externas à estrutura da Françoise Choay in “Alegoria do Património” obra, poeiras e manchas temporais acumuladas; e, (Cf. CHOAY, Françoise - Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70, principalmente, pela estabilização de cada peça, visando 2008, pp. 11 e 12.). a sua longevidade e preservação.

No âmbito do trabalho de Levantamento / Inventário Relativamente à metodologia e estrutura aplicadas analítico de parte de um segmento do espólio histórico e neste Inventário, as opções tomadas adaptaram-se ao artístico pertencente à Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, este documento consuma o registo descritivo intuito e possibilidade “mista” de exibição e arquivo do espólio “levantado”. Assim sendo, o documento original, de um acervo singular. Uma redação comprovativa de de onde retiramos este excerto, inicia-se com uma breve

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descrição histórica e patrimonial do meio envolvente à produção e incorporação da coleção sinalizada. Ou seja, à Freguesia de São Paio de Oleiros (capítulo introdutório patente na publicação original, mas que retiramos do excerto aqui colocado para não repetir informação abordada anteriormente nas páginas deste “Roteiro”). E, a par dessa contextualização espaciotemporal, subdivide esta coleção da JFSPO em cinco quadrantes, citando-se: “Documento histórico: Fotografia Contemporânea - Retratística oficial, séc. XX”; “Documento histórico: Fotografia Contemporânea Registo de acontecimentos, séc. XX”; “Património artístico: Pintura contemporânea - Paisagismo, séc. XX”; “Património artístico: Tecelagem e bordado artístico, séc. XX” & “Documento histórico: Periódico contemporâneo ilustrado, séc. XX”.

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Como método de registo e identificação da entidade tutelar e do objeto, este Levantamento atribuiu a cada uma das manifestações descritas um número identificativo, de agregação e inventário. Uma numeração iniciada pela sigla da instituição proprietária: “JFSPO” “Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros”. Respetivamente acompanhada por duas referências díspares entre si, votivas ao propósito e função atual de cada objeto no espaço da entidade tutelar. Ou seja, para os objetos em arquivo, aplica-se a sigla “ARQ” - de “Arquivo” - acompanhada por numeração crescente; e a sigla “SN” - de “Salão Nobre” - votiva aos elementos da coleção “JFSPO” exibidos no perímetro expositivo do Salão Nobre da Sede de Junta de Freguesia de São Paio

de Oleiros (seguindo as premissas estabelecidas no “Caderno Museográfico”, patente no Inventário original, mas que não reproduzimos no excerto selecionado para pertencer ao teor deste “Roteiro”). Também acompanhada por numeração crescente.

“PATRIMÓNIO FOTOGRÁFICO, DOCUMENTAL E ARTÍSTICO DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. P. OLEIROS” (Reprodução do Prefácio de Anthero Monteiro redigido para inclusão no “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” de novembro de 2015”) Conforme se explica na nota de apresentação deste trabalho, ele resulta do habitual inventário de bens que, anualmente, a Junta de Freguesia deve submeter à apreciação da respetiva Assembleia. Isso foi feito certamente ano após ano através dos tempos na autarquia oleirense e, contudo, desta vez, pretendeu o autor dar-lhe outra notoriedade e outro préstimo que não os do simples arrolamento patrimonial.


José Amorim, creditado com um curriculum académico e profissional invejável para emprestar brilhantismo à referida tarefa, consegue surpreender-nos. Sobrexcede mesmo o expectável. Chega com um olhar diferente que valoriza aquilo que é visto pelos outros como um simples papel, uma simples imagem, um simples objeto. Para ele, tudo é documento credor de uma atenção mais demorada, de uma minúcia e cuidado que se deve ter com aquilo que, sendo frágil embora, é precioso e digno de ser preservado da traça do tempo e da usura. As instalações da autarquia foram mudando com o galgar dos anos e, sendo tudo composto de mudança, como diz o poeta, foram-se revezando também lá dentro as pessoas. Nas gavetas, nos armários, sobre as mesas ou pendurados da parede, terão vivido muitas imagens, textos variados, objetos de todo o género e, no entanto, quase tudo parece ter sido levado pela voragem das estações, como se por ali tivesse passado o simum ou tivesse ocorrido um terrível naufrágio.

que são para os contemporâneos e para os vindouros e dar-lhes o destaque que merecem como testemunhos do passado e pedaços vivos da História, indispensáveis para sustentar o presente e consolidar o futuro da comunidade oleirense. Dir-se-ia que foram esses salvados que tiveram a sorte de encontrar quem soube tirá-los da sombra e do anonimato e exibi-los como uma preciosidade de que se tem orgulho. Este gesto de quem acarinha o património da terramãe, além de preencher uma lacuna, oferece-se como um exemplo que ensinará à posteridade local como gerir o acervo documental e material existente na sede da autarquia e que percorre áreas diversas, como sejam: o retrato de figuras locais, o registo fotográfico de acontecimentos ocorridos na freguesia, a pintura realista que documenta recantos da sua paisagem, os trabalhos artesanais relacionados com a sua representação heráldica.

O trabalho realizado abalança-se para além da identificação e da inventariação criteriosa do património, de acordo com uma metodologia moderna e adequada. Realiza ainda a caracterização da freguesia, esboça a sua história nos traços fundamentais, percorre a sua geografia essencial e os pontos mais relevantes do seu património arquitetónico a todos os níveis (religioso, industrial, assistencial, escolar, associativo, desportivo, artístico, popular, etc.). As permanentes referências bibliográficas denotam evidentes preocupações de José Amorim, no entanto, achou que valia a pena, mais documentação, observando a exatidão e o rigor histórico. do que salvá-los e escondê-los, partilhá-los como lição Qualquer oleirense minimamente atento à sua terra Ficaram apenas alguns poucos à espera que o tempo concluísse a sua obra. Ninguém os considerou importantes. Houve mãos que certamente preferiram apressar a ruína. Rasgaram-se papéis que um pouco mais de sensibilidade e apreço pela memória teriam salvaguardado. Houve documentos valiosos que se lançaram ao lixo ou à sofreguidão das chamas, porque se entendeu serem apenas velharias sem préstimo.

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deveria sentir-se solidariamente ufano e reconhecido Retratística oficial, séc. XX. pelo serviço prestado com tanta qualidade por este conterrâneo que só o amor ao seu torrão natal faz mover, prometendo não ficar por aqui. Ficamos descansados, Identificação do Objeto artístico sabendo, desde já, que outros aspetos e valências serão contemplados em trabalhos futuros. Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Aqui ficam exaradas as nossas felicitações ao autor, Super - categoria: Artes visuais. esperando que possam servir de incentivo a outras realizações, suas ou não, que privilegiem a história, o Categoria: Fotografia Retratística oficial património, ou outra qualquer área da nossa terra comum contemporânea. – S. Paio de Oleiros. Título: “Executivo local em 1922: João Francisco de Oliveira (Vice - Presidente)”.

Património fotográfico, documental e artístico em exposição, ou arquivado, nos espaços do Salão Nobre e “sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. (Excerto do “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” de novembro de 2015”), Por José C. Amorim

Autor: Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Material e técnica: Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite. Cronologia: Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. Dimensões (em cm): Alt. 23, 5 x Larg. 19.

N.º de inventário: Documento histórico: Fotografia Contemporânea - JFSPO/ARQ 01.

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.


Descrição & Análise formal Registo fotográfico de formato retangular, regrado pelos cânones próprios da retratística oficial contemporânea. Em suma, este documento gráfico da história autárquica local figura o rosto frontal e parte do tronco de João Francisco de Oliveira, Vice-presidente da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, no ano de 1922. Anverso do fotográfico

No seu reverso, esta fotografia encontra-se carimbada e datada através da referência cronológica “22 de Junho de 1966”. Uma data que, conjuntamente com o carimbo e a assinatura manuscrita “F.TOMAZ” (existente no anverso do retrato), poderá comprovar a reedição / restauro deste elemento de retratística de 1922, em 1966, por parte do estúdio local “Foto Tomaz”, do fotógrafo oleirense José Gomes da Silva.

registo

Assinatura manuscrita “F.TOMAZ”, do estúdio Oleirense “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva.

Executivo local em 1922: João Francisco de Oliveira (Vice - Presidente) Retrato frontal e de “aparato” (tronco e rosto), de 23, 5 cm x 19 cm, assinado “F. TOMAZ”, carimbado e datado no reverso. Registo fotográfico de 1922, reeditado / restaurado em 22 de junho de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz” de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. JFSPO/ARQ 01.

Reverso do registo fotográfico Carimbo / marca “Foto Tomaz - José Gomes da Silva Telef: 967350 - S. Paio de Oleiros” e referência cronológica: “22. Jun. 1966”.

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Identificação do Objeto Artístico

Descrição & Análise formal

Registo fotográfico de formato retangular, regrado Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio pelos cânones próprios da retratística oficial de Oleiros. contemporânea. Super - categoria: Artes visuais. Categoria: Fotografia contemporânea.

-

Retratística

Em suma, este documento gráfico da história autárquica local figura o rosto frontal e parte do tronco de oficial Américo de Oliveira Costa, Tesoureiro da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, no ano de 1922.

Título: “Executivo local em 1922: Américo de Oliveira Costa (Tesoureiro)”.

No seu reverso, esta fotografia encontra-se ausente de carimbo ou datação. Contudo, pela sua assinatura manuscrita “F.TOMAZ” (vigente no anverso do retrato), e Autor: Reedição / restauro de 1966, com retoques a pelo estilo em tudo similar ao dos restantes existentes no Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José espólio da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. este fragmento de retratística de 1922, terá sido reeditado / restaurado em 1966 por parte do estúdio local Material e técnica: Fotografia em Papel, com “Foto Tomaz”, do fotógrafo oleirense José Gomes da retoques de Lápis de Grafite, Silva. ou Grafite. Cronologia: Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada em 22 de junho de 1966. Dimensões (em cm): Alt. 23, 5 x Larg. 18, 5. N.º de inventário: JFSPO/ARQ 02. 196

Executivo local em 1922: Américo de Oliveira Costa (Tesoureiro) Retrato frontal e de “aparato” (tronco e rosto), de 23, 5 cm x 18, 5 cm, assinado “F. TOMAZ”. Registo fotográfico de 1922, possivelmente reeditado / restaurado em 22 de junho de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz” de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. JFSPO/ARQ 02.


Autor: Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. Material e técnica: Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite.

Anverso do fotográfico

Cronologia: Séc. XX - Fotografia de 1922 reeditada / restaurada registo em 22 de junho de 1966.

Dimensões (em cm): Alt. 23, 5 x Assinatura manuscrita Larg. 18, 7. “F.TOMAZ”, do estúdio Oleirense “Foto Tomaz”, N.º de inventário: de José Gomes da Silva. JFSPO/ARQ 03.

Identificação do Objeto Artístico

Descrição & Análise formal

Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio Registo fotográfico de formato retangular, regrado de Oleiros. pelos cânones próprios da retratística oficial contemporânea. Super - categoria: Artes visuais. Em suma, este documento gráfico da história oficial autárquica local figura o rosto “a três quartos” e parte do tronco de Valentim Francisco Calado, Vogal da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, no ano de 1922. Título: “Executivo local em 1922: Valentim Francisco Calado (Vogal)”. No seu reverso, esta fotografia encontra-se carimbada Categoria: Fotografia contemporânea.

-

Retratística

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e datada através da referência cronológica “22 de Junho de 1966”. Uma data que, conjuntamente com o carimbo e a assinatura manuscrita “F.TOMAZ” (existente no anverso do retrato), poderá comprovar a reedição / restauro deste elemento de retratística de 1922, em 1966, por parte do estúdio local “Foto Tomaz”, do fotógrafo oleirense José Gomes da Silva.

Executivo local em 1922: Francisco Calado (Vogal)

Reverso fotográfico

do

registo

Carimbo / marca “Foto Tomaz - José Gomes da Silva - Telef: 967350 - S. Paio de Oleiros” e referência cronológica: “22. Jun. 1966”.

Valentim

Retrato “a três quartos” e de “aparato” (tronco e rosto), de 23, 5 cm x 18, 7 cm, assinado “F. TOMAZ”, carimbado e datado no reverso. Registo fotográfico de 1922, reeditado / restaurado em 22 de junho de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz” de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. JFSPO/ARQ 03.

Identificação do Objeto Artístico Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Super - categoria: Artes visuais. Categoria: Fotografia contemporânea.

-

Retratística

oficial

registo

Título: “Executivo local em 1922: Joaquim de Oliveira Sá (Vogal)”.

Assinatura manuscrita “F.TOMAZ”, do estúdio Oleirense “Foto Tomaz”, de 198 José Gomes da Silva.

Autor: Reedição / restauro de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz”, de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros.

Anverso do fotográfico

Material e técnica: Fotografia em Papel, com retoques de Lápis de Grafite, ou Grafite.


Cronologia: Séc. XX - Fotografia de 1922 (possivelmente (possivelmente executado num estúdio fotográfico executada por estúdio situado portuense), em 1966, por parte do estúdio local “Foto no Porto), reeditada / Tomaz”, do fotógrafo oleirense José Gomes da Silva. restaurada em 22 de junho de 1966. Dimensões (em cm): Alt. 23, 5 x Larg. 18, 5. N.º de inventário: JFSPO/ARQ 04.

Descrição & Análise formal Registo fotográfico de formato retangular, regrado pelos cânones próprios da retratística oficial contemporânea.

Executivo local em 1922: Joaquim de Oliveira Sá (Vogal) Retrato “a três quartos” e de “aparato” (tronco e rosto), de 23, 5 cm x 18, 5 cm, assinado “F. TOMAZ”, carimbado e datado no reverso. Registo fotográfico de 1922, reeditado / restaurado em 22 de junho de 1966, com retoques a Lápis de Grafite, ou Grafite, por “Foto Tomaz” de José Gomes da Silva - São Paio de Oleiros. JFSPO/ARQ 04.

Em suma, este documento gráfico da história autárquica local figura o rosto “a três quartos” e parte do Anverso do registo tronco de Joaquim de Oliveira Sá, Vogal da Junta de fotográfico Freguesia de São Paio de Oleiros, no ano de 1922. Assinatura manuscrita No seu reverso, esta fotografia encontra-se carimbada “F.TOMAZ”, do e datada através da referência cronológica “22 de Junho estúdio Oleirense de 1966”. Uma data que, conjuntamente com o carimbo e “Foto Tomaz”, de a assinatura manuscrita “F.TOMAZ” (existente no José Gomes da Silva. anverso do retrato), poderá comprovar a reedição / restauro deste elemento de retratística de 1922 199


Documento histórico: Fotografia Contemporânea Registo de acontecimentos, séc. XX Identificação do Objeto Artístico Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Super - categoria: Artes visuais. Anverso fotográfico

Reverso fotográfico

do

registo

Carimbo / marca “Foto Tomaz - José Gomes da Silva - Telef: 967350 - S. Paio de Oleiros” e referência cronológica: “22. Jun. 1966”. 200

do

registo Categoria: Fotografia - Registo de acontecimentos contemporâneos.

Possível assinatura de 1922, indicativa de um estúdio fotográfico portuense. Atendendo à rasura / cobertura a Lápis de Grafite, ou Grafite, desenvolvida na reedição / restauro de 1966 deste elemento de retratística, o nome do estúdio fotográfico encontra-se atualmente impercetível. Contudo, a sua localização é clara, comprovada através da presença da palavra sotoposta (abaixo do nome): “Porto”.

Título: “Inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31 / 05 / 1964”. Autor: Ausente de referência (Autoria desconhecida). Material e técnica: Fotografia em Papel. Cronologia: Séc. XX - 1964. Dimensões (em cm): Alt. 14 x Larg. 19. N.º de inventário: JFSPO/ARQ 05.


Descrição & Análise formal

locais e populares, denota-se a presença, enfatizada pela legenda sotoposta (no plano inferior da fotografia), do Governador civil de Aveiro, do Presidente da Câmara de Santa Maria da Feira e de outros representantes institucionais do Município feirense. Como elemento visual de identificação direta do acontecimento registado, evidencia-se o teor da seguinte legenda dactilografada: “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e mais entidades da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31 de Maio de 1964”.

“Inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31/05/1964” Registo fotográfico de 1964, de autoria desconhecida e com 19 cm x 14 cm. Apresenta ainda a seguinte legenda sotoposta (no plano inferior): “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e mais entidades da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31 de Maio de 1964”. JFSPO/ARQ 05.

Registo fotográfico de formato retangular e orientação horizontal, de autoria desconhecida e referente à captação de um acontecimento coletivo oleirense: “A inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio” ocorrida em 31 de Maio de 1964”.

Anverso do registo fotográfico

Legenda sotoposta (no plano inferior), e dactilografada “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e mais entidades da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio Sob uma multidão em ambiência festiva de dignitários em 31 de Maio de 1964”. 201


Identificação do Objeto Artístico

Descrição & Análise formal

Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Super - categoria: Artes visuais. Categoria: Fotografia - Registo de acontecimentos contemporâneos. Título: “Inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31/05/1964”. Autor: Ausente de referência (Autoria desconhecida). Material e técnica: Fotografia em papel. Cronologia: Séc. XX - 1964. “Inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31/05/1964”

Dimensões (em cm): Alt. 14 x Larg. 19. N.º de inventário: JFSPO/ARQ 06.

Registo fotográfico de 1964, de autoria desconhecida e com 19 cm x 14 cm. Apresenta ainda a seguinte legenda sotoposta (no plano inferior): “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e outras entidades da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31/05/1964”. JFSPO/ARQ 06.

Registo fotográfico de formato retangular e orientação horizontal, de autoria desconhecida e referente à captação de um acontecimento coletivo oleirense: “A inauguração da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio” ocorrida em 31 de Maio de 1964”. 202

Sob uma multidão em ambiência festiva de dignitários


locais e populares, denota-se a presença, enfatizada pela Património artístico: Pintura contemporânea legenda sotoposta (no plano inferior da fotografia), do Paisagismo, séc. XX. Governador civil de Aveiro, do Presidente da Câmara de Santa Maria da Feira e de outros representantes Identificação do Objeto Artístico institucionais do Município feirense. Neste elemento fotográfico, o momento captado perpetua o simbolismo do “corte da fita” na inauguração desenvolvida. Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Como elemento visual de identificação direta do acontecimento registado, evidencia-se o teor da seguinte Super - categoria: Artes plásticas, Artes decorativas. legenda dactilografada: “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e mais entidades Categoria: Pintura - Paisagismo contemporâneo (Vista de da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Monumento local). Luz pública a mercúrio em 31/05/1964”. Título: “Igreja de São Paio de Oleiros” (Vista do Templo oitocentista – séc. XIX, 1885). Autor: Margarida Costa (“M.COSTA 87”). Material e técnica: Óleo sobre Tela.

Anverso do registo fotográfico Legenda sotoposta (no plano inferior), e dactilografada “Sua Excelência o Governador Civil de Aveiro, Presidente da Câmara e outras entidades da Feira, na Inauguração Solene da Cabine de Vila Boa e Luz pública a mercúrio em 31/05/1964”.

Cronologia: Séc. XX – 1987 (“M.COSTA 87”). Dimensões (em cm): Alt. 50 x Larg. 39. N.º de inventário: JFSPO/SN 07.

203


Descrição & Análise formal Registo paisagístico com vista do Templo cristão Oleirense (a dita “Igreja Nova”, edificada por ordem do Padre José Ferreira de Almeida na centúria de oitocentos (séc. XIX), com término datado de 1885), parte da envolvência do seu “Escadório”, do “Arraial” com presença de arvoredo - atual “Largo Padre José Ferreira de Almeida” - e do seu arruamento lateral. De formato retangular, esta Pintura a Óleo sobre Tela de 1987, é da autoria de Margarida Costa (cronologia – que assinala os 102 anos da “Igreja Paroquial Oleirense” - e autoria comprovadas pela presença da inscrição manuscrita “M.COSTA 87”, no plano inferior da representação), e sintetiza a estética da fachada da Igreja de São Paio de Oleiros e de parte do seu corpo central (com janelão retangular composto por vidro / vitral em Cruz latina; frontão triangular neoclássico; nicho abobadado com escultura de imaginária pétrea; fogaréus laterais; sineira com quatro pináculos, remate piramidal e presença na sua face / parede central, a vermelho, da “Cruz da Ordem militar de Cristo” - a “Cruz pátea” / Cruz com “pés” nas suas extremidades). Do ponto de vista cromático, ou seja da sua cor, a par da presença dos cinzas, verdes, castanhos, laranjas e ocres, evidenciam-se na globalidade da composição os tons azuláceos (sobretudo na figuração do céu e da fachada do Templo). Realça-se ainda o forte contraste cromático existente entre o azul da frontaria da Igreja (representativo do revestimento azulejar existente no 204

Monumento), e o branco da parede lateral da indicação gráfica do corpo / nave central do Templo.

Igreja de São Paio de Oleiros (Vista do Templo oitocentista séc. XIX, 1885) Original da autoria de Margarida Costa, Pintura a Óleo sobre Tela de 50 cm x 39 cm, assinada (“M.COSTA”), e datada de 1987 (“M.COSTA 87”). São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. JFSPO/SN 07.

Assinatura e datação manuscrita “M.COSTA 87” - “Margarida Costa 1987”.


Categoria: Pintura - Paisagismo contemporâneo (Vista de Monumento local). Título: “Capela de Nossa Senhora da Saúde” - Capela anexa ao antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros; elementos edificados e inaugurados entre 1903 / 1904 e 1909. Autor: Margarida Costa (“M.COSTA 89”). Material e técnica: Óleo sobre tela. Cronologia: Séc. XX - 1989 (“M.COSTA 89”). Dimensões (em cm): Alt. 27 x Larg. 34. Referência nominal de autoria (relevo escavado, existente numa placa incrustada na moldura de envolvimento da Tela) - “Margarida Costa”.

N.º de inventário: JFSPO/SN 08.

Identificação do Objeto Artístico Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Super - categoria: Artes plásticas, Artes decorativas. 205


Descrição & Análise formal

“Capela de Nossa Senhora da Saúde” - Capela anexa ao antigo Hospital Asylo de N.ª Sr.ª da Saúde de São Paio de Oleiros, elementos edificados e inaugurados entre 1903 / 1904 e 1909

integra o património religioso oleirense, encontrando-se anexa ao antigo Hospital Asylo de Nossa Senhora da Saúde (duas construções edificadas a partir de 1903 / 1904 e possivelmente inauguradas em 1909, resultantes da doação de “cento e vinte contos de reis”, operada pelo testamento do benemérito e filantropo local, o Comendador Joaquim de Sá Couto). Da autoria de Margarida Costa, esta pintura de formato retangular e orientação horizontal, a Óleo sob suporte de Tela de 1989 (cronologia e autoria comprovadas pela presença da inscrição manuscrita “M.COSTA 89”, no plano inferior da representação), apresenta um bom tratamento lumínico. Destacando-se na sua estética o contraste existente entre a intensidade dos castanhos, dos ocres e dos laranjas aplicados nas figurações de portas e telhas, com o brilho e a luminosidade do branco que define o Monumento representado. A par das tonalidades referidas, a composição encontra-se dinamizada pelos verdes e recorte do arvoredo, do azul suave do céu e do cinzento claro da via representada.

Original da autoria de Margarida Costa, Pintura a Óleo sobre Tela de 34 cm x 27 cm, assinada (“M.COSTA”), e datada de 1989 (“M.COSTA 89”). São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. JFSPO/SN 08.

Registo paisagístico com vista parcial do alçado lateral da nave central, parte da fachada lateral, arruamento, arvoredo e construções envolventes à “Capela de Nossa Senhora da Saúde”, no ano de 1989. Esta Capela, 206

Assinatura e datação manuscrita - “M.COSTA 89” “Margarida Costa 1989”.


de Oleiros.

Super - categoria: Têxtil - Artes decorativas. Categoria: Tecelagem e Bordado artístico. Título: “Heráldica de São Paio de Oleiros: Brasão oficial”. Autor: Ausente de referência (Autoria desconhecida). Material e técnica: Tecido bordado a Fio polícromo. Cronologia: Séc. XX. Dimensões (em cm): Alt. 62 x Larg. 46. Referência nominal de autoria (relevo escavado, existente numa placa incrustada na moldura de envolvimento da Tela) - “Margarida Costa”.

N.º de inventário: JFSPO/SN 09.

Património artístico: Tecelagem e bordado artístico, séc. XX. Identificação do Objeto Artístico

Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio 207


Descrição & Análise formal

Coroa mural prateada.

Elemento têxtil bordado a Fio polícromo e emoldurado, de formato retangular, cuja representação iconográfica exprime a totalidade do “Brasão oficial da Vila de São Paio de Oleiros”.

1.º terço do brasão: “Meda” de feno e forcado – “Meda” de feno combinada com forcado, originária do termo “Fial”, representativo de um lugar da Vila.

Deste modo, sob fundo branco, desenvolve-se o ícone máximo da Heráldica oficial oleirense, com uma Coroa mural prateada; um Listel branco com o desígnio oficial da localidade (“Vila de São Paio de Oleiros”); dois terços do Brasão preenchidos a azul-escuro; a Pala central a azul-claro; uma “Meda de feno e Forcado”; uma “Roda de Oleiro”; uma “Galga de moer papel”; um “Pão de Ló envolto por papel”; o “Castelo de Santa Maria da Feira”; “São Paio Mártir” (como orago da Paróquia) e “Três faixas ondeadas” como símbolos dos três rios locais.

Heráldica de São Paio de Oleiros: Brasão Com Coroa mural; Meda de feno; Roda de Oleiro; Três faixas ondeadas (três rios locais); Castelo de St.ª M.ª da Feira; Listel branco; Pão-de-ló; Galga de moer papel; São Paio Mártir (orago)

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Original de autoria desconhecida, tecido bordado a Fio policromo (com presença de várias cores), de 62 cm x 46 cm, séc. XX. São Paio de Oleiros, coleção artística da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. JFSPO/SN 09.

Zona nobre do Brasão – Pala central: São Paio Mártir – Orago da Paróquia (protetor), cujo nome compõe o da própria Vila: “São Paio de Oleiros”.

3.º terço do Brasão: Galga de moer papel – Com as suas pedras de moer papel (pioneirismo local na “Arte Papeleira”. Flanco (parte inferior) do Brasão: Pão-de-ló – Envolto em papel, remete para a Indústria papeleira local e para a Doçaria artesanal.

Listel branco – Com a inscrição do desígnio local: “Vila de São Paio de Oleiros”. Flanco (parte inferior) do Brasão: Roda de Oleiro – Alusiva à Olaria, atividade secular, tradicionalmente ligada à criação do topónimo (nome da Freguesia) “Oleiros”.

Zona nobre do Brasão – Pala central: Castelo de Santa Maria da Feira – Poder temporal e integração local nas seculares “Terras de Santa Maria”.

Fundo dos terços laterais do Brasão: Três faixas ondeadas – Simbolismo dos três rios que atravessam e/ou delimitam a Vila; cruciais para o fomento da Indústria papeleira oleirense; que se encontram dignamente representados na toponímia e antroponímia locais (Rio Ribeiro, Ribeirinho e Pego). Nota de composição e fonte da análise gráfica: Conteúdos desenvolvidos e organizados a partir da leitura e contacto com a interpretação da heráldica da Vila de São Paio de Oleiros, redigida por Anthero Monteiro no seguinte artigo: MONTEIRO, Anthero - “Historial: O Brasão” in Aa. Vv. - Roteiro da Vila de S. Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2002, p. 7.


Documento histórico: Periódico contemporâneo ilustrado, N.º de inventário: JFSPO/SN 10. séc. XX Identificação do Objeto Artístico

Descrição & Análise formal

Instituição / Proprietário: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Super - categoria: Periódicos contemporâneos. Categoria: Jornal local ilustrado. Título: Elevação de São Paio de Oleiros a Vila - 20 de junho de 1991 - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila”.

Referência bibliográfica: Diálogo. Ano IV, n.º 23. São Paio de Oleiros: Maio - junho de 1991 (Capa / 1.ª Página). Direção editorial: Dr. Anthero Monteiro (Diretor); Dr. Pereira da Rocha (Diretor adjunto).

Elevação de São Paio de Oleiros a Vila - 20 de junho de 1991 - “20 de Junho de 1991, 19 horas. Assembleia da República: O Sim a S. P. Oleiros Vila” Destaque noticioso da Capa / Primeira página ilustrada de 30 cm x 21 cm, do n.º 23, de maio / junho de 1991, do jornal local “Diálogo”. Um órgão da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, à época dirigido pelo Dr. Anthero Monteiro, acompanhado pelo Dr. Pereira da Rocha, como Diretor adjunto. Diálogo. Ano IV, n.º 23. São Paio de Oleiros: Maio - junho de 1991 (Capa / 1.ª Página). JFSPO/SN 10.

Capa / Primeira página do Jornal oleirense “Diálogo”. Edição, propriedade e publicação: Biblioteca Pública de Um periódico contemporâneo ilustrado, de formato São Paio de Oleiros. retangular, propriedade da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, dirigido pelo Dr. Anthero Monteiro (Diretor), e Material e técnica: Papel impresso por processo pelo Dr. Pereira da Rocha (Diretor adjunto). tipográfico. Cronologia: Séc. XX - maio - junho de 1991. Dimensões (em cm): Alt. 30 x Larg. 21.

Neste vigésimo terceiro número do quarto ano de publicação (maio - junho de 1991), do “Diálogo”, evidencia-se o enfoque jornalístico dado à oficialização da “Elevação de São Paio de Oleiros a Vila”.

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Um acontecimento descrito pelo artigo “20 de Junho 1991, 19 horas Assembleia da República: O Sim a São Paio de Oleiros Vila”, acompanhado por uma fotografia retangular, horizontal, reproduzida a preto e branco e da autoria do estúdio oleirense “Tomás sobrinho”, representativa dos cidadãos locais que se deslocaram à Assembleia da República no dia 20 de junho de 1991.

“20 DE JUNHO 1991, 19 HORAS ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA: O SIM A S.P.O.EIROS VILA” “(…) 27 EMOCIONADOS OLEIRENSES ASSISTIRAM EM DIRECTO, NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA À VOTAÇÃO DO “PACOTE” DE ELEVAÇÃO DA CATEGORIA DAS POVOAÇÕES, QUE CONFERIU A S. P. OLEIROS O TÍTULO DE VILA (…)”

Cabeçalho gráfico Ilustração alusiva à Identidade, História, Património e Associativismo Oleirense (com presença de uma composição simplificada da Igreja de São Paio de Oleiros, uma “Galga de moer papel” e um apontamento da fachada da “Casa da Cultura” de São Paio de Oleiros, atual Sede do Grupo Recreativo dos Amigos do Teatro Oleirense (G.R.A.T.O.), à época, 1991, a Sede da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros - proprietária do Jornal “Diálogo”. 210

Ilustração fotográfica - Registo da autoria de “Tomás Sobrinho”, representativo dos vinte e sete cidadãos Oleirenses que se deslocaram a Lisboa no dia 20 de junho de 1991. Para, na Assembleia da República, assistirem à oficialização da “Elevação de São Paio de Oleiros ao estatuto de Vila”.


Fontes & Bibliografia 2014” (Disponível em rede: http://jf(excerto do “Levantamento / Inventário analítico - Vol. I” spoleiros.pt/images/documentos/ESPECIAL-NATALde novembro de 2015”) Presepio-Cavalinho.pdf - 04/05/2015, 01 h 26 m.). Aa. Vv. - Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros. Apocalipse 12, 7 – 10 in BIBLIA SAGRADA. – São Paulo: Associação Cultural fundada em 1975. Estatutos e Sociedade Bíblica Católica internacional / Paulus, 1997. regulamento interno. São Paio de Oleiros: Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, 1980. ARAÚJO, Agostinho – “A pintura popular votiva no século XVIII: algumas reflexões a partir da colecção de Aa. Vv. - Grandioso Cortejo de Oferendas promovido Matosinhos” in Revista de História da Faculdade de pela Santa Casa da Misericórdia da Feira em benefício Letras da Universidade do Porto. N.º 2. Porto: 1979, pp. do Hospital Asilo de N.ª Sr.ª da Saúde de Oleiros (Álbum 27-41. (Disponível em rede: http://repositoriofotográfico). Santa Maria da Feira: Santa Casa da aberto.up.pt/handle/10216/13721 - 04/05/2015, 18 h 57 Misericórdia da Feira, 1951. (Disponível em rede: m.). http://www.biblioteca.cmfeira.pt:90/flexpaper/flexpaper.aspx?skey=&doc=73194&i BAZIN, Germain – História da Arte: Da Pré-História aos mg=12840 - 03/05/2015, 12 h 23 m.). nossos dias. Lisboa: Bertrand, 1992. Aa. Vv. - O Maior Presépio do Mundo em Movimento (Catálogo). São Paio de Oleiros: Cavalinho, 2012. (Disponível em rede: http://cavalinhomundomagico.pt/download/Catalogo_Mai or_Presepio_Mundo.pdf - 04 / 05 / 2015, 01 h 22 m.).

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AMORIM, José - “Localização e acessibilidades do Presépio Cavalinho” (Disponível em rede: http://jf-sp- Boletim do Hospital Asilo Nossa Senhora da Saúde de oleiros.pt/destaque/45-localizacao-e-acessibilidades-doSão Paio de Oleiros. Ano I, n.º 2. São Paio de Oleiros: presepio-cavalinho - 04/05/2015, 01 h 28 m.). Março de 1971. AMORIM, José - “Presépio Cavalinho: São Paio de Boletim do Hospital Nossa Senhora da Saúde de S. Paio Oleiros como ponto de paragem obrigatória e tributo de de Oleiros. Ano II, n.º 3. São Paio de Oleiros: maio de um verdadeiro “Natal Português” – Nov. 2013 – Mar. 1972. 211


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Grupo Musical de São Paio de Oleiros (Tuna) - “A Tuna. História” (Disponível em rede: http://www.tunadeoleiros.pt/index.php?id=1001 03/05/2015, 17 h 41 m.).

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SAMPAIO MAIA, Ângelo - “Casa da Torre em Terra de Santa Maria. S. João de Ver. Apontamentos genealógicos MONTEIRO, Anthero - “Uma visita à Toponímia Oleirense e notas da família” (texto revisto e atualizado por numa Paisagem eminentemente Rural” in Villa da Feira. Fernando Sampaio Maia) in Villa da Feira. Terra de Santa Terra de Santa Maria. Ano XIII, n.º 37. Santa Maria da Maria. Ano I, n.º 3. Santa Maria da Feira: fevereiro de Feira: junho de 2014. 2003. Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2010.

MONTEIRO, Anthero - “A Festa da Senhora da Saúde e de Santo António em S. Paio de Oleiros” (Disponível em rede: http://www.biblioteca.cmfeira.pt:90/flexpaper/flexpaper.aspx?skey=&doc=59374&i mg=1409 - 04/05/2015, 19 h 03 m.).

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Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Levantamento / Inventário analítico - Vol. I. São Paio de Oleiros: Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, 2015.). 2 Distribuição de imagens / figuras, apresentação / esquematização gráfica e legendagem por José C. Amorim (texto das legendas cedido pelo autor). 3 Reprodução de parte da Ficha Técnica e agradecimentos patentes na publicação de 7 de novembro de 2015, originária deste excerto adaptado ao teor deste “Roteiro”: Património fotográfico, documental e artístico em exposição, ou arquivado, nos espaços do Salão Nobre e “sede” da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. Levantamento / Inventário analítico - Vol. I / José Carlos de Castro Amorim © novembro de 2015 Autor e Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. / Autoria: José Carlos de Castro Amorim (Coordenador da Divisão / Gabinete de Cultura, História e Património da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros). / Projeto Gráfico: José Carlos de Castro Amorim. / Fotografia: José Carlos de Castro Amorim e Arquivo imagético da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros. / Revisão: José Carlos de Castro Amorim & Ana Cristina Pires de Oliveira. / Participação especial: Ana Cristina Pires de Oliveira - Presidente de Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (Nota de Apresentação – “Inventário de património Histórico e artístico”) e Anthero Monteiro Presidente da Direção da Biblioteca Pública de São Paio de Oleiros, Professor, Escritor, Poeta, Ensaísta e principal Historiador do legado secular de São Paio de 214

Oleiros e das suas gentes (Prefácio - “PATRIMÓNIO FOTOGRÁFICO, DOCUMENTAL E ARTÍSTICO DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. P. OLEIROS”). / Agradecimentos: À Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros, nomeadamente ao Executivo e à sua Presidente, a Eng.ª Ana Cristina Pires de Oliveira; a toda a equipa de trabalho que colabora com esta instituição autárquica; à Assembleia de Freguesia de São Paio de Oleiros, nomeadamente à Presidência e Secretariado, assim como a todos os Vogais e “Bancadas” que integram este órgão local. À Dr.ª Elisabete Cristina de Oliveira Cardoso; e em especial, ao Dr. Anthero Monteiro, pelo amplo trabalho de décadas em prol do conhecimento e publicação de ensaios, artigos ou estudos históricos acerca do legado humano, identitário e patrimonial de São Paio de Oleiros e das suas gentes. Cruciais para enaltecerem a Vila no “tempo e no espaço”. Servindo de base bibliográfica coerente e sustentada em trabalhos como este - conjuntamente com algumas fontes primárias e outros autores que abordaram, de forma pontual, esta Freguesia e a sua ambiência históricoartística nas suas pesquisas.

Fig. 440 Bandeira oficial da Vila de São Paio de Oleiros © Arquivo imagético da JFSPO.


Espaços de lazer e fruição pública & Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros


Espaços de lazer e fruição pública & Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim & Ana C. Pires

“Parque de Nossa Senhora da Saúde” & “Parque de Merendas das Oliveiras”, Por José C. Amorim & Ana C. Pires Datado do séc. XX e de “inspiração francesa” no seu traçado primitivo (cuja área de convívio circunscrevia uma Fonte / Chafariz central, atualmente desmantelada/o), o Parque de N.ª Sr.ª da Saúde, bastante diferente na atualidade, assume-se como um dos centros cívicos de S. P. Oleiros. Concebido para congregar e incitar ao convívio dos seus visitantes, este Parque - munido de

Áreas verdes, Árvores, “Zonas de descanso”, Mesas, Parque infantil, Equipamento de manutenção, “Campo de jogos”, Bebedouro, Esplanada, Bar / Cafetaria, “Concha acústica” (palco) e Bancada escalonada - acolhe anualmente eventos coletivos ligados ao associativismo, cultura, entretenimento, lazer, solidariedade, efemérides e tradições locais (como a “Festa das Coletividades & Festival da Juventude”, ou parte das festividades da “Romaria de N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António”).

Fig. 220 Pormenor do “Parque de Merendas das Oliveiras” de S. P. Oleiros © JFSPO / José C. Amorim.

Fig. 219 Panorâmica geral do Parque de N.ª Sr.ª da Saúde de S. P. Oleiros © JFSPO / José C. Amorim.

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Próximo do Parque de N.ª Sr.ª da Saúde e completando a sua componente de espaço de lazer aberto a toda a comunidade e de acesso livre, situa-se o “Parque de Merendas das Oliveiras”.


Espaços de lazer e fruição pública & Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros Texto, seleção de imagens & legendagem por José C. Amorim & Ana C. Pires Mais uma “área verde”, ampla e aprazível, equipada com bancos e mesas de belo efeito estético, propícias ao convívio, à degustação de refeições e às tradicionais “merendas” ou “pic-nics”, que pretende proporcionar momentos de idílio e sorrisos a todos os seus visitantes.

Agosto - “Romaria de agosto” / Festa anual, cívica e religiosa, dedicada a N.ª Sr.ª da Saúde e St.º António de Lisboa.

Distinguindo-se de outros espaços similares, este “Parque” de âmbito “familiar” possui ainda uma área infantil muito própria, o “Espaço da Portelinha”, munido de bancos e mesas de escala reduzida.

Eventos relevantes, anuais e identitários de São Paio de Oleiros, Por José C. Amorim & Ana C. Pires

Junho - Festa cívica e religiosa dedicada a St.º António de Lisboa. - Comemorações integradas no Aniversário de Elevação de S. Paio de Oleiros a Vila: - “Festa das Coletividades”. - “Festival da Juventude – SPOL”.

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Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço”

© 28 de setembro de 2017 – José C. Amorim, Anthero Monteiro, Ana Cristina Pires & José Pereira da Rocha

+ Informações Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros Rua Dr. Francisco Valle Guimarães, n.º 272 4535 – 478 São Paio de Oleiros | Tel.: 220 826 285 www.jf–sp–oleiros.pt | facebook.com/jfspoleiros 218

Edifício-sede da Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros – Inaugurado no dia 21 de outubro de 1973, concebido segundo as normas construtivas vigentes na sua época de produção (ainda sob o conservadorismo estético em voga). Caracteriza-se pelo seu “Telhado de duas águas”, definido com telhas de Alvenaria de Barro e pela utilização simultânea de diferentes materiais construtivos, nos acabamentos e motivos decorativos das suas faces (anterior e posterior), e respetivos alçados laterais. Como são os casos da Argamassa, da Madeira (na porta e caixilharia visível), da Azulejaria e da Alvenaria pétrea, nomeadamente granítica © JFSPO / José C. Amorim.


Proposta de citação: Amorim J.C., Monteiro A., Pires A. & Pereira da Rocha J. (2017). Roteiro de Identidade Histórica, Patrimonial & Artística da Vila de São Paio de Oleiros. São Paio de Oleiros no “tempo e no espaço”. Junta de Freguesia de São Paio de Oleiros (ed. digital), 220 Ilustrações, 220 p.

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