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OPINIÃO 13

O Mensageiro 23.Julho.2009

SINAIS DOS TEMPOS

D. João Alves

Bispo Emérito de Coimbra

Reflectindo acerca da Igreja, da sua vocação e missão Tenho notado que bastantes pessoas, algumas cristãs outras não, têm muita dificuldade em compreender a Igreja na sua realidade completa. Olhando-a, aparece como as outras institui-

OPINIÃO

Valdermar Rodrigues Professor universitário

As Coutadas do Conhecimento Os surtos de gripe têm a vantagem de pôr em evidência realidades e ideias que Portugal teima em não debater, como se também a peste as invadisse. Uma dessas realidades é o facto de Portugal, como de resto a maioria dos Estados do “mundo moderno”, possuir uma limitadíssima capacidade tecnológica para enfrentar as epidemias. O primeiro caso nacional de gripe A teve de ser confirmado em Londres, e Portugal esperou, suspenso, 48 horas pelo resultado da análise. O número de países do mundo com capacidade para produzir vacinas anti-

ções meramente humanas quanto ao seu perfil social, quanto à organização da sua vida e actividade e, também, quanto ao modo de estruturar o poder. Observando-a bem, no entanto, nota-se que ela é bastante diferente. Enquanto as sociedades temporais crescem, organizam-se, perduram, debilitam-se, envelhecem e desaparecem, a Igreja nasceu, expandiu-se, perdurou com altos e baixos, por vezes, com graves crises que a debilitaram e levariam ao seu termo, mas não aconteceu assim. Revigorou-se, voltando a maior fidelidade à sua vocação e missão de origem e continuando o seu caminho na história até aos tempos actuais em que tem motivos para estar feliz, mas ao mesmo tempo, a debater-se com alguns graves problemas. Não, a realidade da Igreja não se esgota nos seus aspectos visíveis que, no entanto, a integram no mundo em que vive e que

qualquer um pode observar. Como escreveu um famoso historiador e filósofo inglês, esta sociedade, a Igreja, não se equipara totalmente às demais sociedades humanas e temporais. É que na Igreja há uma dimensão que não se vê, directamente, com a simples capacidade racional do ser humano, há nela, além da dimensão temporal, uma outra dimensão a espiritual. Esta realidade espiritual nem todos a descobrem porque lhes falta a fé, ou seja, a participação na visão que Deus tem de si e da criação e que capacita a razão humana para as coisas espirituais. Esses olham, mas não vêem. Observam, mas não descobrem a dimensão transcendente da Igreja. Parece-me que ajuda a compreender o que escrevi aquilo que alguém deixou escrito, isto é, que a Igreja pode comparar-se a um belo e harmonioso templo cujo espaço é embelezado por múltiplos vitrais que

difundem a sua luminosidade e arte por todo o templo e que encantam quem os observa, ali mesmo, no interior do templo. Não acontece assim, porém, quando se observa de fora. Então, além do esquema frio do templo descobre-se apenas o suporte rígido e sem encanto dos vitrais. A Igreja, olhada de fora, isto é, sem fé, é parecida às realidades temporais e sociais. Entrando nela, pela fé, é bem diferente e atraente. Há muita gente que não chega a entrar na Igreja e, por isso, não a compreende na sua realidade completa. O Concílio Vaticano II sentiu que era real esta dificuldade de muitos e, por isso, decidiu comunicar o que ela pensa acerca de si mesma à luz da fé. Estou a referir-me à constituição conciliar – Lumen Gentium. Neste famoso documento, a Igreja diz o que pensa de si, como se organiza e para que existe. Começa,

porém, logo no primeiro capítulo, por afirmar que a sua realidade completa não se compreende somente com a simples capacidade da razão humana, mas que exige uma capacidade que vem de Deus, a capacidade que nasce da fé. É esta capacidade que introduz no interior da Igreja e revela a beleza da sua transcendente realidade. Quem entra na Igreja e a olha daí descobre que existe uma unidade entre o que aparece de fora e o mistério que a anima de dentro. O Concílio afirma que a Igreja, no mundo, é sinal de Deus revelado em Jesus Cristo, sinal que o Espírito Santo fortalece e dinamiza. Vou terminar este escrito, um tanto difícil para artigo de jornal, citando o início da bela e profunda Constituição Conciliar –Gaudium et Spes – que diz: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as

angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de todos os aflitos, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias dos discípulos de Cristo e nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração”. E mais adiante: “ É, por isso, que a Comunidade dos cristãos se reconhece real e intimamente solidária com o género humano e com a sua história”, e no fim do número três da mesma Constituição, apesar das debilidades dos cristãos ao longo da história, acrescenta: “Nenhuma ambição terrena move a Igreja, ela tem em vista um só fim: continuar, sob o impulso do Espírito Paráclito, a obra do próprio Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido”.

gripais é muito reduzido, e Portugal não foi até agora além das intenções de instalar em território nacional uma fábrica de produção de vacinas. Não sei se fez bem ou mal, o futuro di-lo-á. Pois que outra das realidades que teima em passar desapercebida é a de se reconhecer a quem pertence, nos dias que correm, a ciência e os bens que vão sendo por ela produzidos. Muito fugazmente, como por entre os nevoeiros, descobre-se uma poderosíssima indústria ligada às ciências da vida (e do ambiente) que se encrespa com a venda de medicamentos genéricos, e que ferozmente se debate, nos bastidores, pela protecção (comercial) das suas patentes e descobertas científicas. Não menos importante também o poder que tais (e outras) corporações transnacionais exercem sobre Estados, cientistas, universidades e centros de investigação, levando-os a investigar sobretudo aquilo que lhes convém e que facilmente pode gerar lucro. A isto se dá hoje o nome de “inovação”. Esse poder não só limita a ciência como pode levar ao seu empobrecimento geral e, no limite, ao seu desaparecimento enquanto bem

civil do interesse de todos. John Sulston, laureado em 2002 com o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina e um dos investigadores responsáveis pela descodificação do genoma humano, alertou recentemente para este perigo. Segundo ele, o moderno acrónimo I&D (investigação e desenvolvimento) traduz bem a mistura que prevalece entre duas coisas distintas e normalmente defasadas no tempo, fazendo subliminarmente com que só se investigue aquilo que “interessa”. A quem? - devia perguntar-se. Geralmente os políticos justificam as suas escolhas e programas de apoio à investigação científica utilizando outros eufemismos, como é o caso da “eficiência” e da “produção científica”. E avaliam a investigação recorrendo a complexos modelos que “medem” não só a “produtividade do investigador” mas também a penetração no “mercado” das suas inovadoras “descobertas”. Para não dizer mais, direi que me arrepio ao ver a ciência assim, ao metro ou ao quilo, com as universidades transformadas em fábricas ao serviço da economia, e os cientistas convertidos em proletários modernos.

Existem obviamente soluções para contornar o nefasto da situação, mas que obrigam a uma mudança geral de paradigma. E acresce que nenhum país desenvolvido parece hoje em condições de poder inverter a tendência aparentemente geral. A ligação da política aos negócios é evidente, e fazer política sem o apoio das grandes corporações transnacionais parece a muitos impossível. Estamos porém no domínio das “percepções”, não propriamente das realidades feitas. O que impede actualmente um governo de criar e gerir os seus próprios programas de apoio à investigação? O que impede um governo de separar objectivamente a “investigação” do “desenvolvimento”, tal como fazia até há pouco mais de meio século atrás, privilegiando a primeira e deixando a segunda para as empresas? A quem interessa afinal essa permanente promiscuidade entre ciência, política e negócios? Julgo que não é aos povos, e que da “simbiose” só os negócios beneficiam. A ciência e a política empobrecem, a primeira pelo que já se falou, e a segunda perdendo o fôlego para a retórica, essa outra face da dialética que, como dizia

Aristóteles, se ocupa das questões ligadas ao conhecimento comum e que não corresponde a nenhuma ciência em particular. Pois também hoje a política parece estar cada vez mais “cientificada” ou refém da técnica, coisa que une, pela reverência, Habermas a Heidegger. E já agora o que impede os “blocos regionais” de influência (tipo UE), de reverem o absurdo regime de patentes e direitos de “propriedade intelectual” de que muitas vezes nem os próprios autores beneficiam? O que impede afinal tais blocos de declararem o livre acesso aos resultados e conhecimento gerados pela

investigação científica? Para mais quando estão tantas vezes em causa as vidas de milhões de seres humanos? Se se pretende, com tanto fulgor “humanitário”, liberalizar o comércio e as economias, porquê insistir tanto na protecção de certas coutadas do saber e do conhecimento? É por causa destes “pesos e medidas” ajustados à conveniência do mais forte, sob a capa de uma pretensa igualdade e democracia, que os povos actualmente descrêem da política e daqueles que, supostamente, os governam e representam. Nomeadamente nós, europeus.

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AVISO N.º 50/2009 LOT. N.º 1/94 Nos termos do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 177/01, de 04 de Junho, torna-se público que a Câmara Municipal de Leiria emitiu em 16/06/2009 o Aditamento n.º 3 ao Alvará de Loteamento n.º 833/97. Titular do Aditamento ao Alvará – Civifátima - Construções, Lda. Lotes 5 e 9 descritos na Conservatória do Registo Predial de Leiria sob os n.º (s) 5128 e 5132 da freguesia de Marrazes. O local encontra-se abrangido pelo Plano Director Municipal de Leiria. As alterações incidem sobre os lotes acima referidos. Leiria, 16 de Junho de 2009 POR DELEGAÇÃO DA PRESIDENTE DA CÂMARA A VEREADORA ISABEL MARIA DE SOUSA GONÇALVES DOS SANTOS O MENSAGEIRO • Edição 4768 • 23/07/09


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