Marco Zero 70

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ANO XI- NÚMERO 70 – CURITIBA, NOVEMBRO DE 2021

LEIA NESTA EDIÇÃO Os caminhos da compostagem para gerar vida - Página 5 Avanços da participação feminina na política - Página 8 O universo do Metaverso, a aposta do Facebook - Página 10

Pandemia aproxima o agressor da vítima Isolamento imposto pela Covid-19 obriga mulheres a conviver mais tempo no mesmo ambiente com parceiros e parentes violentos

Jornal Laboratório - Curso de jornalismo do Centro Uninter


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Opinião

Ao Leitor

ZERO

Paulo

PESSOA

Desde o dia três de outubro, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) de onde fazem parte 600 jornalistas de 117 países e territórios ao redor do mundo, começaram a publicar o que está sendo chamado de “Pandora Papers”. Trata-se do resultado de investigações realizadas em torno de 11,9 milhões de documentos vazados de 14 escritórios especializados na abertura de empresas offshore com sedes no Panamá, Ilhas Virgens Britânicas e Bahamas. O termo offshore ganhou relevância devido à repercussão dos fatos. Offshores são empresas que existem no papel e geralmente não possuem funcionários, usadas para abertura de contas em paraísos fiscais. Por sua vez, esses paraísos fiscais eximem o dono das contas do pagamento de impostos ou as

tarifas são quase nulas, sem falar que o proprietário da conta não mora no país do paraíso fiscal, isentando-o do pagamento de várias taxas. Mas a abertura dessas empresas é crime? De acordo com nossa legislação, não é. E se eu abrir uma empresa offshore em um paraíso fiscal? Também não estou cometendo nenhum crime. E abrir contas em paraísos fiscais? É crime? De novo, a resposta é não. Então qual seria a relevância do Pandora Papers para o mundo? No mínimo alguns proprietários vão ter que se explicar devido ao detalhamento da apuração desses documentos. Somente no Brasil, 1.897 brasileiros foram apontados como donos dessas empresas. Alguns que, além de serem totalmente antiético a posse por razão dos cargos que ocupam no meio público, ainda agiram de maneira hipócrita e com maldade por tomarem ações que desestabilizam a economia e evitaram a volta de uma estabili-

EXPEDIENTE

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter

Professor responsável: Mauri König Diagramação: Equipe Marco Zero Projeto Gráfico: Equipe Marco Zero Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131, CEP 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail - mauri.k@uninter.com Telefones 2102-3377 e 2102-3380.

dade econômica. Para garantir a legalidade dessas empresas, há a necessidade do proprietário brasileiro as declararem no Imposto de Renda e, quando o saldo passa de um milhão de reais, também devem declarar ao Banco Central, de acordo com a Instrução Normativa nº 1037 da Receita Federal. Acontece que duas figuras públicas estão entre os nomes da lista. O atual ministro da economia, Paulo Guedes e o diretor do Banco Central, Roberto Campos Neto. Dois dos indivíduos mais importantes da economia brasileira e com poder para impactá-la diretamente. A grande questão é: houve crime por parte deles? De acordo com a assessoria de ambos, os dois declararam suas empresas no imposto de renda, portanto, sem crime. De acordo com o ICIJ, as empresas ainda estariam no nome de ambos e gerando lucro, o que já aponta para um crime administrativo de acordo com o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal. Servidores públicos não podem possuir empresas que vão lucrar com o trabalho exercido em seus cargos. Não é preciso muito para relacionar as ações tomadas por esses agentes econômicos e os benefícios que poderiam obter. O ministro Paulo Guedes aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que prejudicou muitas transações econômicas para a população e pequenos empresários. Este

Pandora Papers e a pimenta nos olhos dos outros

Boa leitura!

Coordenador do Curso: Guilherme Carvalho

N.º 70 – Novembro de 2021

Roberto de Vasconcelos

Entra ano e sai ano, o Brasil não consegue se livrar de uma chaga social que o mantém entre os cinco países com os maiores índices de violência contra a mulher. Trata-se de um problema crônico e histórico, cuja geografia foi parcialmente alterada na pandemia. É o que revela a reportagem de capa do Marco Zero, assinada por Luan Companhoni. Parte dessa violência migrou das ruas para as casas. O confinamento imposto pela Covid-19 aumentou o tempo de exposição das mulheres aos potenciais agressores. Levantamento do Datafolha identifica queda de 10% das agressões nas ruas e aumento de 6,6% no ambiente doméstico. Irmãos, tios, pais, maridos e outros parentes aumentaram sua participação nos casos de violência. Mas o Brasil também sabe ser acolhedor e está aprendendo a ser mais inclusivo, como mostram outras matérias desta edição. No intervalo de apenas um ano, o país registrou como residentes mais de 48 mil imigrantes oriundos de vários países, em particular do Haiti e da Venezuela. Já no cenário político, as mulheres vêm ganhando mais espaço, oxigenando as casas legislativas municipais, estaduais e federal. A equidade de gênero ainda está distante, mas elas têm conseguido importantes conquistas. A matéria é assinada por Poliana Almeida.

MARCO

A rodovia do sofrimento ainda gera transtornos Celio

BIRRO

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ou “transamazônida”, nascido ao longo da Rodovia Transamazônica e naturalmente, filho de herói da BR 230, que para cá veio na euforia das “terras sem homens para homens sem terras”, deixaram tudo por lá e para cá vieram sem saber que desafios iriam enfrentar em uma terra inóspita e ao mesmo tempo habitada. A aventura encarada foi em busca do sonho de ser dono de um lote de terra num pedaço do Brasil e com isso, milhares de pioneiros ladearam a parte da estrada na ala oeste, pois para o nordeste brasileiro , a Transamazônica era de realidade acessível aos novos colonos assentados pela instituição agrária. Desde Altamira rumando à Itaituba , os 550 km tornar-se iam um trecho de histórias incríveis, que só os fortes suportariam e venceriam. Histórias como as de uma cobra capturada que seu couro circundou o barraco por 3 voltas. Histórias de manadas de caititus que comia até as pessoas que ficasse no chão quando a manada passasse, os cachorros não escapavam. Promessas do Governo Federal

imposto não é pago pelo ministro em suas transações caso utilize a conta aberta em paraíso fiscal e qualquer movimentação financeira de sua empresa offshore não é taxada com o IOF. O recente pacote econômico que Paulo Guedes luta no Congresso Nacional para aprovar, tem em seu texto-base dispositivo que beneficiava quem possui contas em paraísos ficais. O diretor do Banco Central Roberto Campos Neto aprovou resolução que dispensa qualquer contribuinte de declarar seus ativos no exterior em valores inferiores a um milhão de dólares. Valor que também sofre alteração por conta da desvalorização do Real. Se for comprovada as posses dessas figuras públicas, mesmo no exercício de seus cargos atuais, estará explicado a positividade injustificável com que ambos discursam sobre a economia brasileira. Afinal, como afirma a sabedoria popular, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Enquanto a população luta para ter dinheiro para itens de necessidade básica como alimentação e higiene, empresários e membros do alto escalão do governo não possuem muito o que se preocuparem. Aliás, agem com falta de ética, o que reforça a hipótese de que estariam agindo em benefício próprio. Dentre as evidências disso estão a desvalorização do Real e aumento do valor de transações em dólares. Quem paga a conta são as famílias brasileiras.

à época ficaram com grandes lacunas, sangue e suor, vida e dor, foram as premissas de um ficar e aguentar, e com tudo isso, 49 anos depois, o próprio progresso procura posição para aninhar e esperançar vôo alto para a geração que vivencia o início do futuro. Hoje a Transamazônica é um referencial de esquecimento e crítica, mas começam a ter uma perspectiva de progresso, seus trechos de travessia turbulenta está em muitos no imaginário e na nostalgia de sofrimento que é esquecida ao transitar em solo negro e alinhado. Poucos são os momentos ainda de angustia, que logo serão sanados.

Hoje a Transamazônica é um referencial de esquecimento e crítica, mas começam a ter uma perspectiva de progresso, seus trechos de travessia turbulenta está em muitos no imaginário e na nostalgia de sofrimento


N.º 70 – Novembro de 2021

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Comportamento

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3 Exército

Brasil acolhe 48 mil imigrantes em um ano MILENA

SOUZA

Fugindo da guerra ou em busca de oportunidades, eles encontraram um lugar para recomeçar a vida

Segundo dados do OBmigra, a maior parte dos refugiados são de países como Venezuela, Cuba e Haiti

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vinda de refugiados e imigrantes para o Brasil vem crescendo nos últimos anos. Eles saem do país de origem por razões diversas, alguns para se proteger das guerras e perseguições, como o caso dos refu-

“Com a pandemia instalada no Brasil e no mundo, a moradia e o trabalho são dois fatores que ficaram bem mais difíceis no momento” giados, e outros saem em busca de oportunidades e melhor qualidade de vida. Tanto um como outro são chamados de imigrantes.

Segundo dados do OBmigra (Observatório das Migrações Internacionais), 48.459 imigrantes foram registrados como residentes no Brasil entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020. Equivalente em números à população de uma cidade de porte médio, eles encontram no país um espaço para reconstruir a vida. Curitiba é uma das cidades que têm registrado maior aumento de imigrantes em anos mais recentes. De acordo com a Fundação de Ação Social (FAS), mais de mil famílias foram atendidas entre os meses de agosto e setembro de 2020 pelos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) na capital do Paraná. Entre os atendimentos realizados, estão os encaminhamentos para vagas de emprego, acesso a cursos, saúde e educação. “Todos os imigrantes são tratados de forma igual, sendo integrados à sociedade e tendo os seus direitos

aos benefícios sociais garantidos”, afirma a coordenadora da FAS, Adriana Ribeiro. As origens daqueles que mais solicitaram refúgio no último são a Venezuela, Cuba e Haiti, segundo o OBmigra. E as solicitações mais comuns desses imigrantes ao chegarem em alguma cidade são nas áreas de moradia e trabalho. Mas, diante do cenário atual da crise agravada pela pandemia, os efeitos negativos que afetam a população nativa também se estenderam aos imigrantes. “Com a pandemia instalada no Brasil e no mundo, a moradia e o trabalho são dois fatores que ficaram bem mais difíceis no momento”, aponta a coordenadora do Programa de Política Migratória da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Tatyana Friedrich. Fuga da crise Diante de um cenário carregado de conflitos, fome e a crise que se instalou na Venezuela, muitos não viram outra opção a não ser deixar o país em busca de refúgio. Nestor Rafael Arzola, de 26 anos, é venezuelano e deixou o país para buscar novas oportunidades e melhores condições de vida para a família. Viu no Brasil um lugar de esperança para uma vida nova. Arzola conta que um dos motivos para sair da Venezuela foram as condições precárias em que viviam no país. Todos foram atingidos por uma forte recessão, com a falta de emprego e de oportunidades, sem contar as restrições de acesso à saúde e à educação. Ele chegou ao Brasil em dezembro de 2018 e fez o registro dos seus documentos no estado de Roraima, onde foram realizados os procedimentos necessários para o

seu acolhimento, como aplicação de vacinas e alimentação. “Fui recebido muito bem pelos brasileiros, me deram toda a assistência que precisei”, conta. Uma de suas maiores dificuldades foi entender o português.

Use o QR-code e confira uma pesquisa da Acnur sobre o perfil do refugiado no Brasil

Senti dificuldades na hora de arrumar emprego, pois entendia muito pouco da língua portuguesa. Mas depois fui aprendendo “Senti dificuldades na hora de arrumar emprego, pois entendia muito pouco da língua portuguesa. Mas depois fui conseguindo aprender”, diz Arzola. Ele está empregado há dois anos e passou a morar em Curitiba com a sua família, a qual também conseguiu trazer para o Brasil.

Hoje ele segue na busca de seus sonhos, tendo mais oportunidades e melhores condições para viver. “Acredito que minha vinda para o Brasil foi um recomeço, posso trabalhar e ter todas as minhas coisas dignamente. Sou mais feliz, pois tenho a chance de dar uma vida melhor para mim e para minha família”, conclui.


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Sustentabilidade

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Cidades pedalam pela sustentabilidade Evandro

TOSIN

O uso da bicicleta proporciona avanços ambientais e maior mobilidade

Cidade modelo para o transporte público, a capital paranaense precisa avançar em modais sustentáveis

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capital paranaense tem avançado rápido na sua corrida sobre duas rodas. Hoje, a cidade possui 172,9 km de ciclovias, 19,6 km de ciclofaixas em vias calmas e 11,6 km de ciclorrotas, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Apesar dos avanços, os números de Curitiba ainda estão longe daqueles de Paris, que anunciou investimentos bilionários para se tornar uma cidade 100% ciclável até 2026. A ideia é que o cidadão francês não precise mais de 15 minutos para ter acesso ao trabalho, a serviços, parques e lazer. A bicicleta não é mero modis-

mo, ela reduz a poluição ambiental, não emite gases poluentes do efeito estufa, além de ser um meio de transporte que contribui para o desenvolvimento sustentável. Na visão de Chris Carlsson, historiador e viajante pelo mundo, “pedalar é um ato político”. Em 2019, a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou projeto de Lei que atribui o título de “Cidade Amiga da Bicicleta” a municípios do estado que fomentem essa modalidade de transporte. Já receberam o título as cidades de Paranaguá, Marechal Cândido

trânsito no Paraná em 2019, uma queda de 7% em comparação ao ano anterior. Na capital paranaense, também houve diminuição de 22% nos índices de mortalidade de ciclistas em vias públicas. Foram 14 vítimas em 2019, contra 18 no ano anterior.

Anjo conecta ciclistas

A ong Bike Anjo é uma comunidade de ciclistas e através da bicicleta incentiva e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse meio de transporte nas cidades, promovendo transformação social e gerando melhorias nos espaços urbanos. O projeto surgiu em 2010 na cidade de São Paulo, para trazer novos ciclistas para as ruas, otimizar o tempo de deslocamento da cidade e um trânsito mais humano.

A Bike Anjo funciona como uma plataforma e interliga pessoas que querem aprender a andar de bicicletas, dicas e tirar dúvidas. A comunidade, que acredita na transformação por meio da bicicleta, já marca presença em 38 países e 822 cidades do mundo. No Brasil, são 1.600 Bike Anjos participantes, em mais de 250 cidades. Em Curitiba, são cerca de 170 Bike Anjos cadastrados na plataforma www.bikeanjo.org.br. “A gente tinha vários cicloativistas na cidade que se juntavam em um movimento chamado bicicletada, ou massa crítica. Conversando com outras pessoas, percebi que a gente poderia ajudar a pelo menos levá-las ao seu trabalho, fazer esse deslocamento junto, acompanhá-las no trânsito. Entre nós, isso virou o apelido de bike anjo”, explica o idealizador do movi-

mento, João Paulo Amaral. Na iniciativa também é possível participar das Escolas Bike Anjo (EBAs), que são oficinas gratuitas organizadas por grupos de anjos em determinado município. Há data, hora e local para acontecer. Em Curitiba, a Escola Bike Anjo ocorre no primeiro domingo de cada mês, entre 9h30 e 12h30, na Praça Nossa Senhora de Salete, no estacionamento do Palácio das Araucárias, no Centro Cívico. O Bike Anjo também participa de campanhas como o Dia Mundial sem Carro, comemorado em setembro e que mobiliza a população a não usar automóveis e adotar meios de transporte sustentáveis. Participa ainda do Bike to Work Day, evento anual que acontece no mês de maio, que se propõe a incentivar o uso da bicicleta para as pessoas irem ao trabalho. Evandro Tosin

“Temos que ter políticas públicas efetivas para a bicicleta no Paraná e a nova lei vai colaborar para que isso aconteça

Rondon e União da Vitória. A iniciativa de autoria dos deputados Goura (PDT) e Hussein Bakri (PSD), além do ex-deputado Elio Rusch (DEM), confere a honraria aos municípios em que a utilização da bicicleta é visto como um meio de transporte e que incentive o uso da mobilidade sustentável. “Temos que ter políticas públicas efetivas para a bicicleta no Paraná e a nova lei vai colaborar para que isso aconteça”, explica Goura. Além disso, no contexto atual o uso desse meio de transporte é uma alternativa para o enfrentamento do coronavírus, evitando aglomerações no transporte público. Erlon Ricardo Bernardino é diretor de fotografia, ciclista e integrante do grupo “Pedal Alto da XV”. Ele utiliza a bicicleta duas vezes por semana, nas quartas-feiras e nos sábados para passeios na cidade ou região metropolitana. Em média, ele percorre entre 40 e 65 quilômetros de distância nesses dias. Além dos benefícios para o condicionamento físico, Bernardino elogia o estado e a manutenção das ciclovias e ciclo-faixas. “Eu, que moro na Vila Oficinas, sou bem atendido de casa até o trabalho ou até mesmo em algum parque da cidade. Na região que eu uso, estão em ótimas condições e bem sinalizadas”, afirma. A distância entre a residência de Bernardino e do seu local de trabalho, na região central de Curitiba, é de 8 quilômetros. Já Natalina Pereira Gomes, moradora da Cidade Industrial de Curitiba, fala sobre os benefícios do uso do modal: “Além de ser bom para a saúde, alivia o estresse”, afirma. Segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, 142 ciclistas perderam a vida no

Natalina Pereira Gomes pedala 25 quilômetros nos dias de folga do trabalho.


N.º 70 – Novembro de 2021

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Meio Ambiente

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Compostagem: destino certo para resíduos orgânicos Bárbara

POSSIEDE

A transformação da matéria que é capaz de gerar vida

O processo de decomposição dos restos de alimentos pode ser a solução para o lixo

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responde a 52% do volume total de resíduos produzido no Brasil. Carolina esclarece que grande parte desta quantia é destinada aos aterros sanitários, onde não recebem tratamento específico e acabam sendo depositados com os demais resíduos. Um dos

moinhos, trituradores, silos e esteiras, que permitem a prática a nível industrial, mas engana-se quem pensa que a compostagem só pode ser realizada em grande escala.

“Ao nutrir a terra e retirar dela fertilizante, podemos adubar ainda mais terra e plantar mais vida”

Ao fazer a correta separação das sobras de alimentos, borra de café e até podas de jardim, é possível iniciar sua composteira em casa. A bióloga explica que a compostagem caseira pode ser realizada em caixas ou diretamente sobre o solo, com ou sem minhocas. “A principal diferença de fazer com minhocas é que elas digerem a matéria orgânica, o que acelera o processo, facilitando o trabalho dos micro-organismos”. Quem mora em casa ou tem alguma área verde disponível, pode facilmente compostar diretamente no solo. Basta fazer um buraco na terra, colocar o material orgânico, sem espalhar muito, e cobrir com matéria seca (folhas, palha ou serragem). Aos poucos essas sobras de alimentos vão se transformar em uma terra escura: adubo. Este adubo pode ser utilizado na sua própria casa e, ao retirá-lo abre-se espaço para mais material orgânico ser decomposto. Para quem mora em apartamentos, é possível montar sua própria composteira com caixas plásticas ou baldes com tampa. A estudante Chaara Lipszyc, preocupada em reduzir a quantidade de lixo que produz, começou a compostar em casa. “Separamos as cascas de legumes, verduras, ovos e papéis, e descartamos na composteira, onde já tem terra e minhocas. Cobrimos com folhas secas. Depois da transformação dos restos ainda nos beneficiamos do adubo para utilizar em nossa horta”, afirma. Ao longo do tempo realizando compostagem, a estudante acabou notando uma mudança de hábitos em toda a família: “o maior bene-

maiores problemas da decomposição acontecer nos lixões é a formação de gás metano, altamente nocivo ao meio ambiente. Pelo processo de compostagem, a decomposição acontece na presença de oxigênio e, portanto, não ocorre a geração de gás metano. O resultado é apenas água e dióxido de carbono, gás 23 vezes menos agressivo para o aquecimento global do que o mencionado anteriormente. Há 20 anos o Brasil já fabrica equipamentos como

Empresas que fazem para você Composta + – (PR) Curitiba compostamais.com Brotei – (SC) Florianópolis www.brotei.com.br

GRI – (SP) São Paulo www.grisolvi.com.br

K2Agro – (PR) Ponta Grossa www.k2agro.com.br

Ciclo Orgânico – (RJ) Rio de Janeiro www.clicoorganico.com.br

Reciclo – (RS) Porto Alegre www.re-ciclo.net

LocMaq – (RO) Porto Velho www.locmaquinas.com.br

Compostagem doméstica

fício deste processo é a diminuição do lixo que produzimos para os aterros, mas com o tempo percebemos que o fato de prestar mais atenção na separação dos resíduos, também acabou influenciando nossos hábitos de consumo”. Para quem não quer, ou não pode fazer casa, uma alternativa é encaminhar o material para alguma iniciativa que faça compostagem. A empresária Maureen Gasparin encontrou em um desses projetos o incentivo que estava faltando. “Eu já tinha ouvido falar em compostagem, mas não tinha espaço nem ânimo para fazer por conta própria. Quando conheci uma empresa que facilitava esse pro-

cesso, acabei me interessando”. Ela explica que a empresa que contratou deu todo o suporte, fornecendo um material informativo sobre quais itens poderiam ser utilizados para compostar e disponibilizando um balde de lixo com uma sacola biodegradável para que ela possa fazer a separação dos resíduos. Maureen conta que a empresa recolhe esse material de 15 em 15 dias diretamente na casa dela. “Não tive dificuldade nenhuma. Pelo contrário me sinto cada vez mais consciente sobre a produção de lixo e emissão de poluentes. Pra completar, mensalmente ainda ganho um brinde da empresa ou o adubo correspondente a compostagem”. Ilustração: Bárbara Possiede

apéis, cascas de ovo e restos de frutas e vegetais fazem parte dos resíduos de matéria orgânica que comumente geramos em casa. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, anualmente são produzidos 32 milhões de toneladas destes resíduos, o equivalente a 88 mil toneladas de lixo diário. Para a redução deste volume, uma alternativa que está ganhando cada vez mais adeptos é a compostagem. A bióloga Carolina Erbes explica que a compostagem é conhecida como a reciclagem dos resíduos orgânicos e permite que a matéria orgânica que antes seria descartada, seja transformada através de um processo natural. Por meio deste procedimento, criam-se condições para que microorganismos decompositores, como fungos e bactérias, realizem a transformação dos resíduos em húmus, um material fértil e rico em nutrientes. “Com isso facilitamos a continuidade de um ciclo da natureza. Ao nutrir a terra e retirar dela fertilizante, podemos adubar ainda mais terra e plantar mais vida”, afirma. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2012, o material orgânico cor-


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Especial

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Violência migra das ruas para as casas Mulheres ficam mais expostas aos agressores devido ao confinamento imposto pela Covid-19

Luan

Companhoni

Datafolha registrou queda de 10% nas agressões nas ruas, mas aumento de 6,6% no número de agressões domiciliares.

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histórico de violência contra a mulher coloca o Brasil em quinto lugar no mundo em feminicídio, segundo o Mapa da Violência 2015 elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Foram 106 mil mortes de

mulheres entre 1980 e 2013, além das agressões físicas e psicológicas. Agora, por trás das cortinas de uma pandemia global, há um número incalculável de vítimas invisíveis da violência doméstica. Temos uma pandemia dentro da outra. Recolhidas em casa por causa

do isolamento social, elas passam mais tempo ao lado dos agressores. Os dados assustam e evidenciam traços de uma cultura fortemente machista. De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em 2020 foram registradas mais de 105 mil denúncias de violência doméstica, recebidas por meio do Ligue 180 e do Disque 100. Do total, 72% se enquadram nas descrições da Lei Maria da Penha, com tipificações penais bem definidas. Em 2021, houve um recuo de

Houve queda de 10% nas agressões nas ruas, enquanto aumentou em 6,6% o número de agressões domiciliares. 3% no número de casos de violência em relação a 2019. Contudo, a fonte das agressões e a sua localização mostram uma mudança preocupante. Houve queda de 10% nas agressões nas ruas, enquanto aumentou em 6,6% o número de agressões domiciliares, conforme dados levantados pelo Datafolha

em 2021. Dentre os agressores mais comuns, os vizinhos abriram espaço para os irmãos, tios, pais, maridos e outros parentes. O Mapa da Violência 2015 já demonstrava essa tendência há quase uma década, com 55,3% desses crimes cometidos no ambiente doméstico e parceiros ou ex-parceiros das vítimas respondendo por 33,2% dos homicídios. Agora, o levantamento do Datafolha também mostra que, entre as mulheres agredidas, 35,2%, se encontram na faixa de 16 a 24 anos. Mulheres acima dos 45 representam 32,9% dos casos. Julia (nome fictício) é outro caso que se enquadra no primeiro grupo, quando a violência começa mais cedo. “Quando começamos a namorar, ele me tratava como uma princesa, mas, com o tempo, começou a ficar ciumento”, ela diz sobre o relacionamento abusivo. “Eu tinha 16 anos, o conheci na academia e começamos a sair. Só descobri depois que ele era usuário [de drogas] e que era agressivo”, relata. Hoje, aos 25 anos, Julia trabalha como recepcionista. Ela lembra com pesar do período em que sofreu abuso físico e emocional, tendo sido perseguida por alguns meses, inclusive após o término do relacionamento. A família da vítima, que desconhece os abusos, ainda mantém contato com o

‘‘Eu não posso me manter sozinha, não tenho renda suficiente para mim e os meus filhos. Enquanto não tiver isso, vou continuar com ele”. agressor. Julia não está sozinha nessa triste realidade. Muitas vezes, as mulheres se veem presas a uma relação abusiva para preservar os filhos. “Eu não posso me manter sozinha, não tenho renda suficiente para mim e os meus filhos. Enquanto não tiver isso, vou continuar com ele”. O relato é de Amanda (nome fictício), 36 anos, desempregada, que engravidou do namorado aos 15 anos e com 16 se casou. “Durante os primeiros anos ele saía muito, ficava fora até de madrugada e não me dava satisfações. Eu tinha crises de choro e ficava com ciúmes”, conta. Com o passar do tempo, a relação se deteriorou. O marido se tornou agressivo e paranoico. “Encontrei uma câmera escondida na sala. Ele instalou quando eu não


N.º 70 – Novembro de 2021 estava em casa para ver o que eu fazia”, descreve. Amanda sofreu agressão física e moral por anos, fatos presenciados também por sua filha mais velha. Amanda ainda mora com o agressor.

Ciúmes e objetificação

Quando se trata de violência doméstica, é preciso identificar os antecedentes que levam à agressão. Mulher carente emocionalmente e mulher que não foi amada na infância tendem a enfrentar esse tipo de problema, indica a psicóloga Adriana de Barros, que trabalhou na Secretaria das Mulheres. Os fatores que levam o homem a agressão são pouco explorados. De acordo com Barros, “muitos deles aprendem desde criança a objetificar a mulher, a desejar diversas par-

O Brasil ainda se encontra preso a uma cultura machista, na qual a mulher é vista como propriedade do homem. ceiras”. Nos casos de feminicídio, é frequente a motivação por ciúmes. Segundo Katia Chambo Gonçalves, assistente social da ONG Nova Mulher, o Brasil ainda se encontra preso a uma cultura machista, na qual a mulher é vista como propriedade do homem. “É humilhante ser agredida. Muitas delas preferem esconder a agressão por vergonha”, comenta.

O X do alerta vermelho

Luan Companhoni

Desenvolvida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a campanha “Sinal vermelho contra a violência doméstica” tem como objetivo facilitar a busca por ajuda para a mulher. Ao marcar um X em vermelho em

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Especial

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sua mão, a vítima pode discretamente informar uma pessoa de que está sofrendo agressões. A campanha foi criada em 2020 devido às dificuldades de contato entre as pessoas, dando maior segurança para que a mulher se manifeste. Contudo, em se tratando de suporte psicológico, “muitas mulheres não têm conhecimento destes serviços e só ficam sabendo quando fazem um boletim de ocorrência”, diz a assistente social Katia Gonçalves. ONGs como a Nova Mulher, assim como projetos de auxílio por meio de órgãos públicos, são a principal fonte de representação e suporte para as mulheres. A Casa da Mulher Brasileira, por exemplo, iniciativa do governo federal que já dispõe de oito unidades no país, é um centro para proteção e suporte a mulheres que abriga diversas vítimas de agressão que não têm para onde ir. Apesar da existência destes locais, as vítimas de agressão não costumam buscar ajuda psicológica com frequência. Cursos para geração de renda, suporte psicológico e social, auxílio jurídico, entre outros, são oferecidos às vítimas. Segundo Gonçalves, “muitas delas dependem do agressor financeiramente para que ela e os filhos sobrevivam”. No entanto, a psicóloga Adriana de Barros chama a atenção para um fator importante. “Muitas mulheres abusadas se tornam agressivas”, diz. Ela chama a atenção para o fato de que é muito importante para a mulher seguir com uma ajuda psicológica após o trauma. Isso pode evitar que sequelas emocionais se manifestem no futuro. Para a psicóloga, o perigo não é apenas para a mulher, mas especialmente para os filhos de casais em conflito. “Essas crianças irão crescer com traumas. Muitas vezes modificando seu próprio comportamento devido à situação passada pela mãe”, observa. Segundo ela, a busca por apoio social e psicológico deve ser uma prioridade para toda mulher que sofreu agressão.

Problema histórico A violência doméstica contra a mulher é um problema crônico e histórico. Em 2018, três mulheres foram vítimas de feminicídio por dia no Brasil. Em 2019, uma média de 729 ocorrências de lesão corporal foram registradas por dia sob a Lei Maria da Penha. Em sua maioria, as

Casa da Mulher em São Paulo.

Use o QR-code e saiba mais sobre a Casa da Mulher

mulheres afetadas são negras (mais de 50% das vítimas são deste grupo). Em aproximadamente 90% dos casos, o agressor é o companheiro atual ou anterior e em 60% dos casos as agressões ocorrem na residência da vítima, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.


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Política

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Política é coisa de mulher? Poliana

ALMEIDA

A evolução das candidaturas femininas à prefeitura de Curitiba desde 1998

O ano de 2020 bateu recorde em candidaturas

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“Uma mulher em um cargo eletivo pode ter uma visão diferenciada das demandas sociais. Não é uma questão de pensar melhor ou pior que um homem, é pensar diferente”, pontua Panke. “Não tem ninguém melhor que uma mulher para representar as mulheres nos espaços de poder”, diz a cofundadora e coordenadora geral da empresa de pesquisa e consultoria política Elas no Poder, Karin Vervuurt. Ela abre um parêntese para dizer ainda que é importante termos não só mulheres, mas pessoas negras, indígenas e da comunidade LGBTQIA+ concorrendo a cargos políticos, para que esses grupos sejam representados. No caso de Curitiba, tradicionalmente as mulheres têm pouco espaço nos cargos eletivos de maior projeção no município. Um caso raro foi da vice-prefeita de Gustavo

Presença feminina na disputa eleitoral curitibana

Fruet, Mirian Gonçalves. Ambos cumpriram o mandato de 2013 a 2016. Mirian foi prefeita interina de Curitiba por 10 dias, durante uma viagem de Fruet ao Japão.

Olhar para a história

Por mais que as últimas eleições municipais tenham quebrado alguns paradigmas, é preciso olhar para o passado para se ter uma análise sob a perspectiva histórica. Um levantamento dos nomes de mulheres que entraram na disputa política de Curitiba ajuda a entender o contexto. O estudo levou em conta mulheres que foram vices ou candidatas majoritárias nas eleições desde 1988 (ver gráfico). Este recorte temporal se deve ao fato de que em 1995, Marta Suplicy, à época deputada federal por São Paulo, abriu caminho para uma maior representatividade feminina na política. É daquele ano o início da legislação que visa ampliar o espaço das mulheres nas campanhas. A Lei 9.100/95 prevê em seu Art. 11, parágrafo 3º, que “vinte por cento, no mínimo, das vagas de cada partido ou coligação deverão ser preenchidas por candidaturas de mulheres”. Segundo Karin Vervuurt, o ano de 1995 foi o grande divisor de águas para as mulheres ingressarem na política. “Acredito que este foi um grande avanço para as mulheres na política, por que sabemos que o financiamento é uma grandíssima barreira para que as mulheres consigam se eleger e ter candidaturas competitivas”, ressalta. Luciana Panke acredita que é preciso pensar na representação feminina para além do aspecto le-

gal. Vamos a um exemplo: mais da metade da população brasileira é do sexo feminino, então isso acarreta demandas específicas para essa parcela, como saúde pública, educação, segurança entre outros serviços. Quando este debate chega ao ambiente político, os projetos propostos são pensados por homens que não passam por situações vividas pelas mulheres. Ou seja, quando temos apenas um ponto de vista, isso não representa democracia.

Sentindo na pele

Camila Lanes (PC do B) concorreu ao cargo de prefeita em 2020, aos 24 anos. Quando questionada sobre a inclusão para o público feminino na capital, a resposta é

clara: “Está longe de ser inclusiva. Somos a maioria da população na cidade, mas isso não se espelha na política local, que tradicionalmente é ocupado por homens”. Se sofreu algum tipo de preconceito apenas por ser mulher? Diversos. Ela própria conta como foi: “Já tive que ouvir um deputado estadual, eleito pelo povo, me mandar calar a boca em meio a uma audiência pública porque ele não se controlava. Já ouvi afirmações descabidas de que ganhei protagonismo político porque me deitei com alguém ou porque sou uma ‘estudante profissional’”. Camila acrescenta ainda que para despertar o interesse por pautas políticas nas meninas é preciso ter educação crítica, grêmio livre e políticas afirmativas. Ascom

última eleição municipal curitibana reelegeu o prefeito Rafael Greca (DEM). Entretanto, algumas barreiras foram quebradas em relação à representatividade feminina. Em 2020, batemos o recorde de mulheres concorrendo ao cargo e entre elas estava Letícia Lanz, a primeira mulher transgênero a entrar na disputa pela prefeitura. A professora Luciana Panke, líder fundadora do Grupo de Pesquisa Comunicação Eleitoral, lembra que demoramos 120 anos do Brasil República para eleger alguém do sexo feminino para a presidência. Dilma Rousseff foi eleita em 2011. “Correspondeu a uma onda em toda a América Latina. No início de 2010, isso ajudou a promover uma reflexão da participação feminina em cargos executivos”, complementa.

Karin Kervuurt e Letícia Medeiros: fundadoras do Elas no Poder


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EaD: um Marco Zero em cada canto

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Edson Wander

O mineiro é solidário no câncer Associação ajuda pacientes e familiares durante tratamento

Edson

WANDER

Nova sede em três pavimentos, mais ampla e funcional

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m Itajubá, região Sul de Minas Gerais, a Associação Viva Vida nasceu em 31 de maio de 2003 com a missão de dar apoio a portadores de câncer e seus familiares em paralelo ao tratamento oncológico. Entidade filantrópica e sem vínculo governamental, ela presta atendimento a 700 pessoas com câncer. Criada por Ester Vieira Silva

e Paulo Venâncio, a associação conta com apoio de profissionais das áreas médica, de nutrição, psicologia, fisioterapia, assistência social e apoio jurídico.

Elo solidário

A associação tem a proposta de ser um elo entre quem precisa e quem pode ajudar. O apoio começa nas dificuldades básicas enfrentadas pelas famílias carentes

ao longo do tratamento, tais como fraldas geriátricas, suplemento alimentar, leite, cesta básica, remédios, cama hospitalar e cadeira de rodas. “O câncer não é só o tratamento oncológico, o paciente tem que ter um acompanhamento ao longo do tempo”, diz a presidente da associação, Ester Vieira Silva. “O tratamento psicológico não é só para o paciente, às vezes é principalmente

para a família”, complementa a supervisora de captação de recursos, Cícera Lopes. A associação se sustenta promovendo eventos e através de captação de recursos. Como uma entidade sem fins lucrativos, precisa de ajuda e de voluntários. “O que mantém a Viva Vida é a comunidade através de doações”, salienta Ester Vieira. A associação atendeu durante

Luísa Falcão

Berço da cultura Um único endereço abriga as múltiplas manifestações culturais de Cachoeira do Sul Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha, berço cultural do município de Cachoeira do Sul distante 200 km da capital, Porto cio é o coração da cultura municiLuísa Alegre. Mesmo sendo uma cidade pal, sediando o Atelier Livre MuFALCÃO consideravelmente pacata, possui nicipal Professora Eluiza de Bem uma das bibliotecas públicas mais Vidal, a Associação Cachoeirense achoeira do Sul é um organizadas e atuantes do estado, de Amigos da Cultura (AMICUS), município com cerca localizada na Casa de Cultura o Conselho Municipal de Educade 83 mil habitantes Paulo Salzano Vieira da Cunha. ção, a Loja de Caridade do Hosno centro do Rio Grande do Sul, Construído em 1915, o edifí- pital de Caridade e Beneficência

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de Cachoeira do Sul e, por fim, a Biblioteca Pública Municipal Dr. João Minssen. Fundada em 2 de dezembro de 1946, a Biblioteca Dr. João Minssen tem a missão de informar e entreter a população cachoeirense. Com um rico acervo, o lugar conta

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“O câncer não é só o tratamento oncológico, o paciente tem que ter um acompanhamento ao longo do tempo” anos em uma instalação alugada no centro de Itajubá, mas hoje tem sede própria, um prédio no bairro Vila Rubens. O primeiro pavimento já está em funcionamento e o segundo em vias de ser finalizado. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone (35) 3622 9397 ou direto na associação, assim. A Associação Viva Vida fica na Rua José Marques Duarte, 260 Vila Rubens, Itajubá. Veja também no facebook.com/vivaavidaitajuba/

“O que mantém a Viva Vida é a comunidade através de doações” No meio de uma sociedade da informação e avanços tecnológicos, o núcleo municipal da cultura de Cachoeira do Sul acaba facilitando o acesso à informação com 25 mil livros catalogados, de todos os gêneros e com uma ampla diversidade de temas e para todas as idades. Sendo um grande polo cultural, o complexo também apresenta aulas de teatro, dança e música. No meio de uma sociedade da informação e avanços tecnológicos, o núcleo municipal da cultura de Cachoeira do Sul acaba facilitando o acesso à informação, sendo um espaço amplo que promove a inclusão de todos os moradores que buscam lazer e conhecimento neste centro cultural. A Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha localiza-se na Rua Sete de Setembro, 1121, no centro de Cachoeira do Sul.


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EaD: um Marco Zero em cada canto

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N.º 70 – Novembro de 2021 Paulo Pessôa

O mundo paralelo do Metaverso Paulo

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As revoluções e os impactos da plataforma que fez o Facebook mudar o próprio nome

A plataforma promete alterar o modo atual de comunicação e socialização dos usuários de redes sociais.

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ocê abre os olhos e está no meio de uma rua geométrica e bem construída. Não há buracos na calçada, veículos ou relevo onde se pisa. Ambos os lados possuem construções que exibem anúncios, arte e entretenimento custando valores anunciados em centenas de moedas diferentes. O sol não corre no céu e o relógio não move os ponteiros. Não há vento, animais transitando pelo céu ou terra, assim como as próprias plantas são artificiais. Ao chegar no final de qualquer rua você verá o mar, que se estende por um horizonte infinito. Por mais que a narração possa parecer parte de um sonho, ela é real e será parte comum no futuro. Isso

é no que acredita a empresa Facebook, que está investindo tudo no Metaverso, uma plataforma virtual onde poderemos vivenciar experiências simulando um espaço físico substituindo o atual formato das redes sociais. A aposta é tão forte na ideia de que a realidade virtual e aumentada será o futuro da comunicação e socialização que no dia 28 de outubro de 2021 o Facebook alterou o nome da empresa para Meta, demonstrando o nível de comprometimento com o novo projeto. Mas o que seria essa nova plataforma chamada de Metaverso? Para a pesquisadora do ITS Rio, Celina Carvalho, a futura rede social é o encontro entre o físico e o virtual. “Imagina que a gente tem uma reu-

A defesa da plataforma pelo Facebook fez com que algumas pessoas se questionassem se o projeto do Metaverso seria um jeito de a empresa driblar a polêmica dos documentos vazados no dia 23 de outubro de 2021. Os arquivos afirmavam que a rede social ignorava notícias falsas impulsionadas por celebridades, diagnósticos de que a rede social seria nociva aos usuários e teria até mesmo páginas com redes criminosas de tráfico de armas e de mulheres. Para o jornalista e repórter do site Tecnoblog Leandro Kovacs, a empresa não estaria fazendo apenas uma estratégia de marketing, pois as pesquisas sobre a plataforma já existiam. “Eu não acho que o Me-

taverso seria uma manobra. A tecnologia já está sendo pesquisada e é uma tendência. Pode ter sido adiantado, mas ela não foi criada para tentar tirar o foco dessas questões do Facebook, ao meu ver”, explica. Uma certeza é unânime entre os especialistas. O Metaverso deve mudar o futuro das interações sociais e comunicação. “Você pode falar com o mundo inteiro sem sair de sua casa e isso é uma vantagem. Mas você deixa de ter um bom relacionamento interpessoal com as pessoas que estão próximas a você. As relações sociais foram muito afetadas pelo uso da internet e da comunicação. E com o Metaverso isso só vai se tornar mais significativo”, comenta Kovacs. Paulo Pessôa

Paulo Pessôa

Especialistas: Metaverso irá mudar o modo de interação no meio virtual

nião, que ao invés de a gente entrar por vídeo-chamada bastaria a gente entrar neste ambiente virtual e aí seria como se todo mundo estivesse na mesma sala. As pessoas poderiam interagir de uma forma muito mais intensa e imersa”, afirma Carvalho. “Eu acredito que a gente vai ter um impacto significativo na forma de comunicar e como a gente interage no ambiente virtual. Acredito que tem um grande potencial para tornar a experiência mais imersiva, quem sabe até mais pessoal”. A plataforma também é apontada como sendo o futuro do e-commerce. Empresas e profissionais do varejo deverão proporcionar aos clientes a visualização do que estão adquirindo de um modo que possam interagir com o produto antes da compra e sem sair de casa. Caio Jahara, fundador e CEO da R2U, empresa de realidade aumentada focada no varejo, fala um pouco sobre o futuro do comércio virtual. “Hoje o usuário está acostumado a comprar em um website, que simplesmente mostra uma imagem. Mas quem oferece a realidade aumentada já faz com que aconteça aquela viralização dos colegas comentando onde tem realidade aumentada, onde tem essa experiência. Porém, daqui a poucos anos ela vai ser obrigatória. Nenhum usuário vai querer comprar em um website que não tenha essa experiência”, comenta. Jahara explica que sua empresa já está se preparando para a nova plataforma. “Hoje a R2U compartilha desse sonho do Metaverso. Estamos ajudando as empresas de varejo a ficarem cada vez mais prontas para ele, porque os clientes da R2U já conseguem experimentar os produtos na casa dele. A gente literalmente transporta virtualmente o objeto em tamanho real para a sala do cliente”.

As interações devem sofrer alterações com o uso da realidade aumentada


N.º 70 – Novembro de 2021

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@TÁ NA WEB Especial Podcast

Anchor

SoundCloud

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ma das opções mais procuradas na internet é o Anchor, plataforma especializada em conteúdo de podcast que não só faz a hospedagem de seu arquivo de áudio, mas também faz o serviço de envio para as principais plataformas de

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utra opção é o uso da plataforma Soundcloud, que desde 2008 opera como um serviço de streaming musical. Com a onda dos podcasts, a plataforma se atualizou e agora possibilita a categorização e disponibilização de podcasts

Tecnologia

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s podcasts têm sido uma das principais opções de lazer e canal para se manter informado durante a pandemia. O modelo de comunicação tem sido adotado por vários perfis do mundo digi-

tal, que vão de grandes empresas a usuários comuns das redes que desejam compartilhar sua opinião. O canal exclusivo do serviço de streaming de música Spotify, para podcasters (produtores de podcasts), traz a informação que a produção de novos podcasts vem crescendo 200% há cada ano desde 2019 na plataforma. Mais de 299 milhões de usuários do Spotify consomem esse tipo de

streaming. Tudo de forma gratuita. Fazendo o upload no Anchor, automaticamente você terá uma conta criada e seus podcasts disponibilizados no Spotify, Pocket Casts, Google Podcasts, Overcast, Apple Podcasts, além de gerar um RSS feed para você fazer sua pró-

pria distribuição. Outra vantagem do Anchor é a possibilidade de monetização de seu conteúdo. A plataforma também possui um blog onde são disponibilizadas dicas de como melhorar sua produção, além de novidades do universo dos podcasters.

virtualmente. Por já possuir uma rede fechada de streaming e hospedagem, geralmente os arquivos upados na plataforma não possuem fácil reprodução em outros streamings, mas ainda podem ser facilmente compartilhados em redes sociais e sites, possuindo também

a opção de incorporação do player se você possuir um blog ou site e deseja divulgar seu podcast. O SoundCloud também possibilita a monetização de seu conteúdo, além de trabalhar como uma rede social que pode conectar com facilidade o seu trabalho a pessoas do mundo todo de forma gratuita.

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PESSOA

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mídia mensalmente, abrangendo 92 tipos de mercados diferentes. Porém, a plataforma só realiza o streaming do produto, não faz a hospedagem do arquivo de áudio. Para você que está pensando em criar um podcast falando sobre um assunto que está em alta na mídia, dar sua opinião sobre um tema ou até mesmo para ter seu próprio webjornal, aqui vai algumas plataformas para hospedagem e streaming desse material.


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Ensaio fotográfico

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Ensaio de

Renata CRISTINA

Entre as janelas do isolamento

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pandemia do Coronavírus deixou o mundo por mais de um ano olhando através de janelas. Os dias passaram com as molduras de ferro, madeira e o vidro, como em um quadro mostrando o que havia fora de casa. Foi aprendido a trabalhar em casa, estudar em

casa. Crianças, jovens, idosos, de diferentes lugares e paisagens unidos no isolamento em comum, aprendendo a olhar a vista de outras maneiras. Passaram outono, inverno, primavera, verão e a esperança de o isolamento ficar para trás e voltar a ver o mundo sem ser através de vidros.

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