31° Edição jornal contramão.

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março/abril 2015

contramão 31

“universo paralelo”

formas de se (des)ligar do mundo pág. 3

UNA - Ano 7 - BELO HORIZONTE - Março/Abril 2015 Distribuição gratuita JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA

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CONTRAMAO.una.BR

Natália Alvarenga

Gustavo Espósito

Para celebrar o Dia do Fotógrafo, em 8 de janeiro, o Jornal Contramão promoveu o #contradesafio, que teve como tema o “Verão em BH”. O desafio foi tirar fotos que estivessem relacionadas ao tema e publicá-las com a tag #contradesafio para seleção das três melhores para o jornal impresso.

Wagner Henrique

Foto capa: CAMILA LOPES

EXPEDIENTE Núcleo de Convergência de Mídias (NuC) do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) - Centro Universitário UNA Reitor: Átila Simões Diretor do ICA: Lélio Fabiano dos Santos Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Tatiana Carvalho Costa NuC/Coordenação: Reinaldo Maximiano Diagramação: Pedro Faria e Ana Sandim Supervisão: Reinaldo Maximiano (MTb06489) e Ana Sandim (18.727/MG) Revisores: Reinaldo Maximiano, Ana Sandim e Renata Louise Estagiários: Camila Lopes Cordeiro, Felipe Chagas, Italo Lopes, Yuran Khan, Luna Pontone, Victor Barboza, Pedro Faria e Renata Louise Foto capa: Camila Lopes Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Sempre Editora

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contramão on-line acesse: CONTRAMAO.UNA.BR EDITORIAL A edição 31 que chega às suas mãos destaca as diferentes formas de as pessoas se desligarem da realidade usando smartphones e outros dispositivos de abdução, conforme alguns os consideram. O repórter Victor Barbosa nos apresenta o tema e o fotógrafo Yuran Kahn o registra em ensaio. Na sequência, acompanhando as efemérides do mês de março, o repórter Felipe Chagas registra a militância feminista no 8 de março e as intervenções artísticas que marcaram os protestos em BH. O repórter Ítalo Lopes se pautou no Dia Internacional da Síndrome de Down para mostrar a inserção de seus portadores no mercado de trabalho, em BH. A repórter Camila Lopes, inspirada pelo Dia Internacional contra a Discriminação Racial, enfocou na presença do indígena na capital mineira. São sete mil índios que vêm de diferentes regiões do estado, muitos deles expulsos de suas aldeias. A repórter Sandra Carriere nos apresenta os busólogos, como são chamadas as pessoas que sabem tudo, mas tudo mesmo, que se refere aos ônibus. Essas pessoas se reúnem periodicamente em BH e orientam essa paixão para as suas vidas pessoal e profissional.


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como as pessoas

se (des)conectam? por :Victor Barbosa 4° período Jornalismo Multimídia fotos: Yuran Khan 3° período Cinema

Cada vez mais distraídas com seus gadgets, muitas vezes, as pessoas não notam o no que está ao seu lado. O modo como as pessoas se desligam do mundo real cha mou a atenção do fotógrafo inglês Babycakes Romero, que começou a registrar pela lente de sua câmera esse cotidiano. Inspirado no trabalho do fotógrafo, o Jornal Contramão que acompanha está matéria um ensaio fotográfico, mostrando a relação dos belo-horizontinos com seus smartphones, em diferentes espaços. Hoje, aquela boa prosa que as pessoas não dispensavam em um café da manhã pode estar sendo substituída pelas mensagens instantâneas. Com a popularização dos smartphones, os aplicativos e as redes sociais móveis se tornaram praticamente indispensáveis para a vida dos usuários e ofereceram às pessoas novos recursos de comunicação.

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CONTRAMAO.una.BR

Com esses novos recursos, a conversa

olho no olho morreu?

Para o estudante de Publicidade e Propaganda Leonardo Silva, de 19 anos, as pessoas estão menos dinamizadas: “Muitas conversas, até mesmo em família, são ignoradas por uma pessoa que se encontra online, mas ainda existe a conversa frente a frente”. Já Valéria Alves, babá, 21 anos, diz que a conversa “olho no olho” morreu, sim. “Está muito a desejar. As pessoas não conversam como antes. Tudo é celular! Celular e celular”, enfatiza. Em

uma

conversa

face

a

face,

Suzana

Cohen,

publicitaria, mestre em Linguística e fundadora do Über Trends, diz que as pessoas passam muito tempo “vidradas” na tela do celular, porque ele se tornou um dispositivo que converge diversas tecnologias em um único ambiente. “A todo momento e a todo instante, você é convidado a tirar o celular do bolso para executar alguma ação. E pode ser que você pegue o celular várias vezes ao dia e cada vez que você pegou ele foi com um objetivo diferente”, contextualiza Cohen.

aplicativos Os smartphones oferecem diversos recursos de comunicação, como as redes sociais móveis, que podem ser baixadas e acessadas com facilidade através desses aparelhos. Os aplicativos de mensagens instantâneas e chats online fazem sucesso entre os usuários, mas o tempo que gastamos ao usá-los tem feito com que as ruas, ônibus, metrôs e praças ficassem “tomadas” por celulares, e isso tem interferido no diálogo entre as pessoas. Entrevistamos

43

pessoas

para

saber

em

quais

lo-

cais fora de suas casas elas mais usavam o celular e quais os aplicativos elas mais utilizavam durante o dia. As respostas foram praticamente iguais, como mostra o infográfico:

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Em quais locais as pessoas mais usam o celular? faculdade

17

ônibus

rua

8 8 7

outros

2

academia

1

trabalho

Apps mais utilizados whatsapp facebook outros jogos

33 5 4 1 Infográfico: Pedro Faria

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Mercado de

trabalho sem Preconceitos sociedade e são independ a com gem era int wn do de me dro Sín com s Pessoa

entes profissionalmente

texto e foto: Italo Lopes 4° período Jornalismo Multimídia

A Síndrome de Down (SD), também

Seabra, 20, é aprendiz de auxiliar adminis-

relata. Para que a integração da pessoa no mer-

conhecida como Trissomia do Cromosso-

trativo e está há três meses em uma empre-

cado de trabalho seja produtiva, é necessário

mo 21, é caracterizada pela presença de

sa de assessoria de cobrança. Ela conta que

que haja também uma preparação por parte

um cromossomo a mais nas células do in-

a iniciativa de procurar o emprego foi dela

da empresa ao receber o novo funcionário.

divíduo. Pessoas com essa síndrome apre-

e que já estava acostumada a fazer em casa

A psicóloga Ana Carolina Gontijo, 32, expli-

sentam dificuldades intelectuais e têm car-

o que faz enquanto trabalha. “Eu que quis

ca que: “Para que ocorra uma real integração

acterísticas específicas: olhos amendoados,

começar a trabalhar. Gosto demais de tra-

da pessoa com Síndrome de Down no ambi-

hipotonia muscular, deficiência intelectu-

balhar lá, eu mexo com computador, papel,

ente de trabalho e a contratação seja inclusiva,

al e uma tendência maior de desenvolver

faço pastas e organizo, e é muito papel mes-

gerando benefícios a todos os envolvidos, é

determinadas doenças. Apesar desses as-

mo”, enfatiza.

fundamental que a Empresa como um todo e,

pectos em comum, cada pessoa tem sua

Eliana Seabra, 57, vendedora autônoma e

principalmente, a equipe de trabalho estejam

própria personalidade e desejos, e entre

mãe de Bruna, conta que o entusiasmo da

bem orientadas, capacitadas e preparadas para

essas obstinações está a vontade de ter uma

filha já vem de dentro de casa: “Ela é inde-

receber este novo colaborador.

vida menos dependente.

pendente e resolve tudo. Acorda de manhã e,

Sendo igualmente necessária a coerência

Com isso, vem a difícil procura por um

enquanto não arruma o quarto da irmã, não

entre a avaliação do perfil da pessoa a ser con-

emprego, mas o que mais dificulta a con-

fica satisfeita. Acaba de almoçar e arruma a cozinha. Não precisa mandar. Tem uma

tratada e a análise da função a ser desempenhada na empresa, para que o jovem com

percepção e um interesse muito grande”,

SD sinta-se motivado e engajado no trabalho

tratação não são as questões relacionadas à doença, mas ao preconceito. Bruna

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CIDADANIA

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e, consequentemente, tenha um bom de-

Quem confirma a insatisfação da filha ao

na construção de identidade e, principal-

sempenho profissional que gere resultados”,

ficar sem emprego é a dona de casa Nair Cal-

mente, no desenvolvimento da autonomia”.

esclarece. Vanessa Boroni, 29, já trabalhou

das, 70. “Eu sentia ela mais feliz depois que

Ela ainda acrescenta dizendo que o em-

em dois empregos diferentes e revela que as

começou a trabalhar, agora parece que ela

pregador também tem muito a ganhar com

amizades que fez nos locais em que trabalhou

está sem motivo, só fica vendo novela e com-

a contratação. “De acordo com pesquisas já

é um dos motivos para querer voltar ao mer-

putador, e isso não é bom pra ela. A turma do

realizadas, em empresas grandes que con-

cado, pois teve que sair pela grande distância

serviço se unia para churrascos e ela ia, int-

tratam pessoas com SD, os ganhos não são

de casa até a empresa. “Meu patrão era mui-

eragia e contava novidades, hoje ela não tem

somente para os jovens inseridos. As pesqui-

to bom e educado comigo, converso com ele

isso”, declara a mãe.

sas demonstram que o ambiente de trabalho

até hoje pelo Facebook. Gostava muito do

A psicóloga confirma que é normal a mu-

já foi considerado pelos outros colabora-

pessoal com quem trabalhava e conversava

dança de comportamento dessas pessoas

dores como mais agradável com a presença

muito com eles. Eram muito bacanas comi-

ao conhecerem a rotina de uma empresa.

destes jovens, bem como identificaram au-

go. Ficava feliz e gostava muito do que fazia.

“Em curto prazo, apresentam melhoras na

mento nos índices de cooperação e colabo-

Dizem que até hoje têm clientes que pergun-

autoestima, na socialização, na capacidade

ração entre os demais funcionários”, conclui.

tam por mim”, conta animadamente.

de responsabilização e de aprendizado,

donça (pedagoga que acompanha Bruna em

da Silva (centro) e Priscilla de Souza Men Eliana Maria Seabra Mâe de Bruna Seabra

suas atividades).

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Mostra de Cinema de

Tiradentes

je ho a m ne ci do r ga lu o m te ba de is na io ss Profi por: Felipe Chagas 4° período Jornalismo Multimídia

Durante a Mostra de Cinema de Tiradentes, realizadores puderam

concluiu dizendo que o lugar do cinema deveria ser nas salas de exibição

opinar sobre o futuro do audiovisual no país. Entre as diferentes for-

e ressalta “a necessidade da tela grande para o cinema de autor”. Porém,

mas de difusão e visão do audiovisual hoje no Brasil, cineastas encon-

alguns enxergam isso como autoritário, já que nas salas de exibição não

tram conflitos, que vão desde as várias formas de comunicação com o

existe a possibilidade de mudança de canal, como na tv, por exemplo; “É

público até a recepção de suas obras.

difícil competir com uma tela que está dentro de casa e que as pessoas acreditam que não estão pagando nada para tê-la ali dentro”, completa.

Dentro dessa realidade que permeia o meio cinematográfico no país, o curador da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Cleber Eduardo,

O cineasta Helvécio Ratton, diretor do filme “O Segredo dos Dia-

propôs como tema central a pergunta: “Qual o lugar do Cinema hoje?”.

mantes”, reconhece que o lugar do cinema, hoje, é múltiplo. Ratton

A ideia por ele levantada problematiza o excesso de telas e disposi-

defende a importância das diferentes telas e endossa a ideia de que o

tivos em que são exibidos os conteúdos audiovisuais hoje. O que acaba

audiovisual depende da tela grande e que a percepção do que é assisti-

modificando a relação do publico com o que é assistido.

do faz com que a sétima arte sirva como espaço de discussão e reflexão sobre a realidade. “É preciso que a gente consiga fazer com que o es-

O curador defende que é difícil manter a atenção dos jovens durante

paço do cinema se multiplique, partindo para o concreto. É necessário

um longo período vendo um filme, pois, eventualmente, eles irão se dis-

que se crie mais salas de exibição para que essas obras alcancem um

persar usando seus celulares ou conversando com as pessoas ao lado. Ele

maior número de pessoas”, defende.

foto: Yuran Khan

Seminário “Qual o Lugar do Cinema?” Cleber Eduardo (Crítico de cinema e curador -SP, Francis Reis (Mediador) e Felipe Bragança (Cineasta-RJ).

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CINEMA

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Arriscar O cineasta Felipe Bragança esteve na mostra lançando seu livro “Claun: A Saga dos Bate-bolas”, que faz parte do projeto transmídia, que inclui também uma websérie, e futuramente um jogo de vídeo game. Ele acredita ser necessário aos cineastas se arriscarem mais, sem medo da transição entre as diferentes telas, e não se acovardarem diante dessas mudanças. Para Bragança, deve-se criar de acordo com os recursos que se tem, de forma investigativa, diferentemente de quem cria audiovisual somente pra reportar imagens, sem contextualizar o que está sendo feito. “O cinema é um lugar onde você está se propondo a pensar as imagens com risco, com invenção e com investigação dos signos”, conclui. Marlon de Paula, membro do coletivo “Sem Eira Nem Beira”, reforça que o cinema deve servir como um lugar de repercussão das ideias dos realizadores e que o papel do cineasta é usar esse espaço para trazer à tona os grandes conflitos, sem medo do risco e das refle-xões em torno do movimento. Deve-se pensar além da existência do cinema o lugar de nós cineastas no meio de tudo isso e as formas de criação”, recomenda.

Entrega dos prêmios da 18° Mostra de Cinema de Tiradentes foto: Felipe Chagas

Cineastas mineiros

debatem soluções para o setor Os realizadores presentes na mostra aproveitaram o debate realizado com o coordenador do departamento de fomento da Ancine, Agência Nacional do Cinema, Rodrigo Camargo, para levantarem falhas encontradas por eles, como: acesso a editais, burocracia para apresentação de projetos à agência e a baixa ocupação de filmes brasileiros nas salas de cinema. O presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Cardoso, elencou questões negativas encontradas no relatório anual da Ancine, destacadas por ele sendo como as grandes dificuldades de realizar cinema hoje no país. E destacou a perda de espaço nas salas de cinema como sendo uma das maiores dificuldades para os realiza-

dores. “Independente de terem outras janelas de exibição que a gente possa usar para audiovisual, se existe essa janela nós temos que cuidar dela também e deixá-la mais à disposição da produção brasileira do que da estrangeira”, concluiu. Cardoso falou também sobre a criação do Fórum Mineiro de Audiovisual, que foi organizado por um grupo de produtores locais a fim de organizar o mercado mineiro para aproveitar melhor as oportunidades que estão surgindo com o Fundo Setorial do Audiovisual. Ele aproveitou para tentar mobilizar os cineastas: “quero convocar os realizadores a se unirem e pensarem juntos em políticas públicas efetivas para o setor”.

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CONTRAMAO.una.BR Da esquerda para direita: Karina Vasquez Leila Vasconcelos e Gilmara Andrade. (foto: arquivo pessoal)

além das

aldeias Indígenas migram para capital em busca de tratamento médico, educação e trabalho por: Camila Cordeiro 3° período Jornalismo Multimídia Os últimos dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e

tão fugindo das suas terras; outros estão procurando assistência méd-

Estatística (IBGE) de 2010 revelou que, no Brasil, existem cerca de 300

ica especializada e acabam ficando; assim como há aqueles que vêm a

povos indígenas, falantes de 274 idiomas. Esses povos estão distribuí-

procura de educação de qualidade e, por fim, também permanecem.

dos por todo o território nacional.

Outro motivo muito pertinente é o sério problema das terras dos índios - que cada vez mais diminuem de extensão - o que acaba tornado

O número de indígenas aldeados em Minas Gerais é de, aproximadamente, 12 mil pessoas, segundo o censo realizado pela Universidade

a sobrevivência difícil, levando-os a mudar para a cidade em busca de renda suficiente para seu sustento.

Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2007. De acordo com esse levantamento, são nove povos indígenas: os Xakriabá, Maxakali, Krenak, Pataxó, Kaxixó, Xukuru-Kariri, Pankararu, Aranã e Mukuri.

A história da Leila Vasconselos ilustra bem a situação. Nascida e criada na tribo Tukano, na região do Rio Negro, no Amazonas, Leila veio para BH depois de ter conhecido lá na sua aldeia o belo-horizontino

Em Belo Horizonte, há mais de 7 mil famílias indígenas vivendo na

que viria a ser o pai de sua filha. “Eu não me vejo voltando para a

região metropolitana, de acordo com dados divulgados pelo Projeto

tribo, por causa dos meus estudos e os da minha filha aqui em BH,”

Centro de Serviços para as Populações Indígenas da RMBH, realizado

explicou Leila.

pelo GVC (Gruppo di Volontariato Civile) do Brasil em colaboração com a UFMG, em 2012.

O índio Biriba - aqui na cidade ele atende como Rodrigo - veio da tribo dos Pataxós do sul da Bahia. Ele está na cidade há 5 dias, mas

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Em entrevista, Mario Fundarò, representante da GVC do Brasil, ar-

logo volta para sua tribo: “Nós ficamos em pousadas, vendemos nosso

gumentou sobre os principais motivos da migração dos indígenas das

artesanato e depois a gente volta. Não conseguimos ficar aqui por mui-

aldeias de origem para Belo Horizonte: alguns foram expulsos e/ou es-

to tempo. No máximo duas semanas.”


CULTURA

março/abril 2015 Apesar de a história do Biriba nos parecer a mais comum, pelo fato de podermos distingui-lo facilmente no meio da multidão pelos trajes nativos, ele faz parte da pequena população flutuante de índios de BH. O que significa que ele não entra no levantamento de que há mais de 7.900 pessoas indígenas residindo aqui. “Na cidade, ainda hoje, tem muita ignorância sobre o que é ser índio. Muitas pessoas acreditam que índio só existe na Amazônia ou que, para ser índio, tem que andar nu e descalço e ter o cabelo liso ou morar na aldeia e só falar língua indígena”, depoimento explicitado no Manifesto dos Povos Indígenas na Cidade de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Guldierre Tupinikim relatou que no primeiro dia de aula no curso de Ciências Biológicas os colegas dele brincaram que ele era um falso índio por não se enquadrar na imagem de índio que eles tinham na cabeça. “Apesar de uma forte descriminação, a maioria dos indígenas que moram na RMBH trabalham duro para sobreviver, para mandar os filhos à escola ou para continuarem estudando na UFMG. Isso tudo mantendo a própria cultura, a produção de plantas medicinais, xaropes, comida, os rituais, etc”. Explica Mário Fundarò. Em Belo Horizonte, existem várias associações em prol do índio, mas a principal e mais consistente é o Movimento Lideranças Indígenas da RMBH. O Movimento luta para garantir os direitos da população indígena, independentemente de onde morarem, para serem reconhecidos pelas instituições que muitas vezes os ignoram e pelo próprio direito constitucional, além de sensibilizar e informar a sociedade civil sobre a presença das comunidades e do direito a um espaço digno como cidadão brasileiro, independentemente de o índio residir na cidade ou na aldeia.

Índio Biriba da Tribo Pataxós do Sul da Bahia. (foto: Camila Cordeiro)

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foto: Felipe Chagas

Diversas mulheres,

diversas artes

como forma de militânci Mulheres de BH ocupam as ruas trazendo arte

a e resistência por: Felipe Chagas 4° período Jornalismo Multimídia

Militantes feministas de BH e região metro- Sem o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte, a conosco? Porque é um de dia de todas, é um dia politana promoveram a “Diversas – 1ª Mostra solução encontrada por elas foi se unirem, inclu- de celebrar o feminino”. Feminista de Arte e Resistência”. O evento re- sive financeiramente, para viabilizarem o projeuniu diferentes propostas artísticas e trouxe to. “O processo da Mostra foi todo colaborativo,

A meninas do coletivo “As Bacorinhas” sur-

aos espaços públicos da cidade uma reflexão todo mundo fez, todo mundo trabalhou, é uma preenderam a todos que assistiam às apresobre o lugar das mulheres na sociedade, us- vitória para Belo Horizonte ver tanta mulher na sentações, quando subiram nuas ao palco em ando a arte como forma de luta e resistên- rua gritando os seus direitos e se articulando.

uma performance que abordou as repressões e ta-

cia. A mostra ocorreu entre os dias 6 e 8 de

bus sobre o feminino e buscaram uma discussão

março, e fez parte das celebrações e da luta

A Mostra é nossa , “afirmou Veridiana Vidal, e reflexão sobre o tema. Após o impacto inicial

pelo Dia Internacional da Mulher.

arte” educadora e produtora da Diversas. A causado pela nudez das integrantes, o público atMostra levou também às ocupações [Dandara, ento à mensagem passada por elas aplaudiu de

Dificuldades como lugares para divulgação Eliana Silva, Esperança, Rosa Leão, Vitória, forma calorosa e emocionada, demonstrando do trabalho feminino, a aprovação em pro- Areias (Tomás Balduíno) e Guarani-Kaiowá], apoio às revindicações do grupo. jetos e a inserção da mulher de forma igual- onde já existem trabalhos sociais das organizaitária no cenário cultural da cidade foram al- doras, um total de 36 oficinas simultâneas. De

Michele Sá, 28, atriz e integrante do coletivo,

guns dos questio- namentos levantados pelas acordo com Veridiana, o intuito era inserir as falou da importância desse espaço para o traintegrantes da Mostra. Dentro dessa propos- moradoras desses locais que não têm acesso balho do grupo: “O nosso coletivo faz do teatro ta, todas as participantes puderam apresentar aos movimentos artísticos centrais ao contex- uma forma de manifestação e protesto. Não exseus projetos umas com o apoio das outras.

to proposto: “Dialogar com a periferia é o nosso iste um lugar mais indicado para trazer essa luta

Da produção à segurança, o evento foi todo maior desafio, e a questão era: como trazer as da mulher que não a rua”. Sá ainda destaca que organizado e protagonizado por mulheres. mulheres das ocupações para celebrar esse dia “aqui na rua você consegue atingir uma diversi-

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CULTURA

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fotos : Flúvio Daniel

dade de mulheres e de homens e tentar abran-

to bem recebida e sinto o carinho das pessoas

tudo isso aqui pela representatividade, a gente

ger ainda mais a discussão”.

com meu trabalho. Acredito que devemos lu-

chega nesse lugar e encontra com pessoas

tar todas juntas e que a união faz a força”.

iguais a nós, que têm a mesma vivência, ou pior, daí a gente se identifica e se reconhece”.

As mulheres trans também tiveram seu momento no eventos, em apresentações de dança

Nívea Sabino, poeta e colaboradora da

e debates sobre suas condições. Cristal Lopez,

Mostra, ressalta a importância do evento para

A Mostra Diversas buscou fazer com que o

Agente de Cidadania e artista performática,

a causa feminista: “Eu sendo mulher que faço

dia de luta das mulheres não fosse visto apenas

contou do apoio que recebe das feministas e

parte de diversas minorias entendo que ser

como possibilidade de mercado ou remissão

como a luta é grande, mas falou que também já

mulher hoje é resistir e o lugar da mulher é na

por toda repressão histórica vivida por elas,

conseguiu muitos resultados unindo diferentes

luta”. Barbara Quadros, 24, militante do mov-

enfatizar pautas feministas que sempre foram

movimentos em busca do mesmo objetivo de

imento feminista, enfatiza: “Não é um dia que

invisibilizadas e trazer a reflexão sobre o que é

igualdade: “Apesar dos olhares tortos que eu

vão me dar flores e vão se redimir de tudo que

ser mulher e fazer arte.

ainda vejo em alguns lugares, hoje, eu sou mui-

nós mulheres já passamos. Eu acho importante

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m, os ônibus, e mu co em o ixã pa a um de no tor em em Em BH, pessoas se un se meio de transporte coletivo já contam até com um clube de admiradores des por: Sandra Castro 2° período Jornalismo Multimídia “Não sou busólogo. Esse termo ficou muito desgastado nos últimos anos, prefiro admirador de ônibus. Sou admirador de ônibus”, garante o jornalista Bruno Freitas, 29, presidente e fundador do Clube dos Admiradores de Ônibus de Minas Gerais (CAOM). Freitas trabalha no jornal Estado de Minas e tem predileção por temas relacionados à mobilidade urbana. Dentre esses, os assuntos relacionados aos ônibus, como lançamentos de desenhos de carrocerias, fabricantes, desenvolvimento de design de frotas, empresas de manutenção e operadoras desse meio de transporte, etc. Mensalmente, os integrantes da CAOM partilham informações e debatem a mobilidade na Região Metropolitana de BH. O clube foi criado em 2013 e conta, hoje, com 890 integrantes que acompanham as novidades, fóruns de debates e chamadas para eventos e reuniões na página: admiradoresdeonibus.wordpress.com. Segundo Freitas, o Clube foi institucionalizado a partir da necessidade de se criar uma entidade que representasse esse hobby em Minas Gerais. “Nos encontramos, geralmente, na rodoviária da capital ou em garagens de empresas de ônibus. Nós não inter-

Bruno Freitas, criador do Clube Admiradores de Ônibus.

ferimos diretamente em políticas públicas, mas discutimos os problemas do transporte público e sugerimos soluções para empresas de ônibus e órgãos públicos”, explica. Um tema presente nos encontros é o Move, o sistema de transporte por ônibus implantado na capital em março de 2014. “O Move traz mais benefícios que transtornos, racionaliza o sistema de transporte por ônibus. A BHTrans não está trabalhando bem a imagem do sistema”, defende Bruno Freitas. Para ele, o pedágio urbano e o rodízio de veículos também devem ser introduzidos no debate de soluções para a mobilidade urbana da capital, na avaliação do clube. Como bom admirador de ônibus, Freitas possui uma grande quantidade de materiais relativos a eles, como miniaturas, vídeos, revistas e jornais. “Tenho aproximadamente 30 mil fotografias, é o que mais gosto”, revela. Desde criança, o jornalista estuda assuntos sobre transportes, mas só aos 21 anos, passou a se dedicar especificamente aos ônibus.

Paixão e profissão A agente de viagens Bárbara Almeida, 23, encontra na profissão um modo de estar mais próxima do objeto da sua admiração na rodoviária de BH. Ela é a única mulher associada ao Clube de Admiradores de Ônibus: “Sou respeitada e muito bem acolhida pelos outros participantes do grupo”. O estranhamento vem de fora do grupo: quando a agente Bárbara Almeida diz que é admiradora de ônibus, que gosta e que pesquisa sobre o assunto, a reação é inusitada. “As pessoas me perguntam se sou doida. Mas com a maior divulgação do hobby na internet, esse desconhecimento tende a diminuir”, assegura. Entre um atendimento e outro no guichê da rodoviária, Barbara Almeida lembra que sua paixão vem da infância e da adolescência. “Aos 12 anos, comecei a procurar mais conteúdo sobre os ônibus na internet, meu interesse crescia cada vez mais.

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Cotidiano Hoje, tenho mais de cem revistas, miniaturas, vídeos e fotos”, informa. A paixão alcança inclusive a escolha do meio de transporte para alguma viagem de turismo. “Claro que prefiro ônibus. Esse veículo proporciona experiências que nenhum outro pode me oferecer. Já tive a oportunidade de viajar à Paraíba e me sentir imensamente feliz”, garante.

março/abril 2015 A paixão pelos ônibus foi decisiva na hora de escolher a profissão. A agente de viagens já trabalhou na Viação Gontijo e, hoje, está na empresa Santa Fé Transportes, é sua meta é: “Tirar minha carteira de habilitação para poder dirigir os ônibus da empresa, já estou muito ansiosa”, revela.

Busologia de pai para filho Terminal Rodoviário de BH: o metalúrgico Aguinaldo José da Silva, 36, acompanhado da esposa e do filho Raphael, 9, narra o ônibus. “Foi na adolescência, quando viajava entre a zona rural e a zona urbana da cidade de Argerita, no interior de Minas Gerais. A paixão pelos ônibus contribuiu para estimular o meu talento artístico, pois fiz um curso de desenho e passei a produzir projetos de pinturas para os ônibus da minha região”. O metalúrgico é integrante do Clube dos Admiradores de Ônibus de Minas Gerais desde a fundação, em 2013, e, hoje, para o seu orgulho, vai às reuniões do Clube acompanhado pelo filho Raphael. “Há cerca de 3 anos, ele passou a me acompanhar nas reuniões, e comecei a perceber um grande interesse dele pelo assunto”, afirma. Única criança a participar dos eventos do Clube, Raphael revela que prefere os modelos rodoviários e que admira, principalmente, a pintura dos ônibus. “Sei que ele ainda é muito novo, mas já percebo um grande talento dele também pelos desenhos dos veículos. Quando produzo os meus projetos, o Raphael dá dicas sobre as cores e os desenhos que devo usar”, observa. Entusiasmado, Aguinaldo José da Silva faz questão de destacar que o menino ganhou o concurso para produção da logomarca do Clube dos Admiradores de Ônibus. O busólogo garante que não pressiona o filho a curtir seu hobby: “É uma admiração natural pelos ônibus, e acredito que, futuramente, ele terá um retorno financeiro, pois seu talento nos projetos de pintura é muito grande”. A paixão pelos ônibus incentivou Teixeira a conhecer as questões do trânsito e do transporte urbano em BH e a repassar seus con-

Aguinaldo e Raphael ambos apaixonados por ônibus.

hecimentos aos usuários, pedestres e motoristas. Já o personagem Mr. Bus foi criado em 1999, e a inspiração de Teiceira doi o mágico Mr. M. “Nessa época, passei a usar o ônibus na cabeça”, relembra.

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a

CONTRAMAO.una.BR

ana sandim Jornalista técnica de laboratório

Reinaldo Maximiano

Camila Lopes

Coordenador Jornal laboratório NuC

estagiária Jornalismo

Pedro Faria

Yuran Khan

estagiário publicidade e propaganda

estagiário cinema

Victor Barboza estagiário Jornalismo

Felipe Chagas

estagiário Jornalismo

renata louise

estagiária Relações públicas

Luna Pontone estagiária Jornalismo

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Italo Lopes estagiário Jornalismo


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