jornal coletivo sÓ, oitava edição, setembro/outubro de 2009

Page 2

Expediente Edição, reportagem e diagramação - Lucas Rodrigues de Campos Ilustrações e arte - Chuck Dedo Amarelo Edição e revisão de texto - Tatiane Klein Colaboração - Elton Amorim, Paulo Fávero, e Fábio Batistine e Raymundo Raine 6000 cópias Centro Cultural Popular Consolação http://so0jornal.wordpress.com Consolação, 1897, (11) 2592-3317 http://www.ccpc.org.br ccpc@ccpc.org.br Contato so.contato@gmail.com Endereço - Rua Navarro de Andrade, nº 20, ap. 22 05418-020, São Paulo, SP Telefones - (11) 7600-5699 por Lucas Rodrigues de Campos, Chuck Dedo Amarelo e Paulo Fávero

Dentro de um curso de música que atende a regras antiquadas na música, o surgimento de novos sons: A Banda do CANIL _ registra momentos importantes de nossa música; Fé cega e faca amolada, é um deles. Há dois anos, a música surgia na versão dos Doces Bárbaros. Hoje se assemelha à viagem e competência exploradas na gravação original da canção grafada no long play Minas, do Milton Nascimento de 1975. A forma de lidar com os sons é ingênua privilegia o primeiro contato no ato. Em meio ao show, os músicos parecem tocar a expressão das faces. O agrupamento de tardes improvisadas tornou o som físico, quase palpável, um estalo musical na pele. Provoca coletivizando o entendimento musical que só pode ser sensível aos olhos dos ouvidos, coisa de organismo. Mesmo. A música, autoral e de domínio público, é produzida por todos os presentes no espaço público. Dança das vísceras, gritos, luzes, fogo, atuações, pulmões, tinta, câmeras, ação! Por vezes ação, mais ação, pausa, libertação! Muitas outras mais: Gil, Lênin, Gordin, Lanny, Trosky, Jim, Sauno, Gal, Soul, latidos e grunhidos. Sugestão ao grito para os que conhecem e os que avistam a ilha pela primeira vez. Piratas caolhos, a ilha tem cerveja, o rum é sonho,

paulo fávero

aos malditos

Segundo número em parceria com o Centro Cultural Popular; oitava do coletivo sÓ - a primeira foi lançada em 2005, em formato revista -, sétima edição como jornal: um especial sobre o Rock da Mortalha. Diferente dos últimos números, esta edição de coletivo sÓ dá destaque às entrevistas, uma das ferramentasm mais importantes no registro da memória. Em nosso caso, aplicamos-na na recuperação do passado e no registro do presente: um que surge das catacumbas do Rock da Mortalha e outro que vem do instrumental Mama Gumbo e da fluência de sons e uivos vindos de um canil forjado à marretadas. Parceiros de Arnaldo Baptista no grupo Patrulha do Espaço, Dudu e Koko Genari são lembrados pelo amigo Giácomo Paolo, espécie de manager do Rock da Mortalha. Ambos são fundadores do Patrulha, e Kokinho, como era conhecido no meio musical, fez sua última aparição em vida em Loki. O documentário trabalha de forma dúbia; enquanto constrói o mito de Arnaldo, amaldiçoa o termo rock progressivo e as contribuições do mutante Sérgio Dias em “Tudo foi feito pelo Sol”. Na época em que floresciam Iacanga, outros malditos do progressivo - alguns já relatados aqui (Som Nosso de Cada Dia e Terreno Baldio) - o trio de hard macabro da Vila Liviero, São Bernardo do Campo, causava espando no público do Festival de Águas Claras. Em Loki, aqui apresentado por uma resenha crítica, é possível notar a dificuldade de se tornar artista com obra reconhecida. No caso de Arnaldo Baptista, o reconhecimento veio após uma sucessão de traumas: foi preciso voar e ficar em exílio durante anos. Hoje o filme alça Arnaldo à confusa extratosfera dos gênios.

também nostalgia. Mas o grupo é de piratas públicos e sonoros às quartas-feiras. O número das caravelas sonoras que já aportaram no porto é hoje, quase incontável. Alfândega originária em Haight-Ashbury, com tarifas um pouco mais baixas. Meretrio, Saunoflex, Baratas Organolóides, Soul Barbecue, Zé Brasil, Banda de Argila, Gangsters, além da banda batizada pelo local, estão na história do espaço apossado pelo ímpeto e pela autogestão. Jams, treinos, músicos acadêmicos e bêbados loucos de plantão. Com todo respeito à etimologia mundrunga, sempre hippie, suja, louca, e contestadora. Consagradas sejam as quintas feiras de boa música e cerveja sem entrada. Até o sol raiar, ou às vezes, até mais. É nas QuintasiBrejas do CANIL _ Espaço Fluxus de Cultura, onde o fenômeno acontece, a balada é mesmo eter-

na: a fossa, o atraso preguiçoso no serviço, sono entorpecido: o mundo das idéias em efervescêcia analgésica, antitérmica e proparoxítona. O cansaço...levantai-vos! Isso remete, em devaneio, à tradição perdida da Escola de Comunicação e Artes. Aos anos setenta. Vilanova. Arrigo e companhia, como muitos outros, não são nostalgia, são criatividade presente em um CANIL _, grunhindo contemporaneamente, mas, experimentando por conta. Aí está o passado atual, compor e experimentar como antes. Reciclagem não de riffs, mas de uma formar de enxergar o que se ouve. Música boa é música viva. Isso os integrantes da matilha Zé Motta (vocal e percussão), Ed Woiski (guitarra), Kiko Woiski (baixo), Henrique Gomide (teclado) e João Fideles (bateria) e o iluminador Paulo Fávero sabem muito bem. É como se a boa música ainda fosse de alguma maneira valorizada pela maté-

CANIL_

ria humana que a executa durante todos os procedimentos. Ou seja, o lance é criar. O espaço recebia o gerador de eletricidade da antiga REI_toria. O gerador não funcionava, o espaço era obsoleto. Virou canil. Dezenas de cães bastardos amontoavam-se, latiam, degladiavam-se presos. Marretadas políticas, marteladas de dimensões críticas, diversas, abriram outro caminho. Arte que virou vídeo, música. Em 04 _05 _006, estudantes reocuparam o espaço público. Arquitetura de vanguarda, dita de Artigas: abandonada, porca, nula, amarela, fantástica, nave espacial indestrutível, possibilitou o redondo aberto horizontal, sem portas, grades ou jaulas para novas articulações criativas. Mais nostalgia, a prova da nostalgia válida. Armaram um palco no teto. Hoje o teto é questionado. Agüenta ou não agüenta? Agüentou todas as esferas de Dark Side of The Moon. O lançamento ao Espaço Fluxus de Cultura. Os cães da matilha hoje são livres ao menos no seu CANIL _: correm no verde, perseguem carros. E se os deuses da música ainda rezam por algo, os cães ainda mijam livres nos postes. Isso sim é resistência!


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
jornal coletivo sÓ, oitava edição, setembro/outubro de 2009 by Jornal coletivo sÓ um jornal de música - Issuu