RETALHOS - BY NERY

Page 1




Retalhos: poesia, contos, histórias

Copyright @ 2021 Nery Mesquita Fotos: Luciana Cruz Mesquita Capa: Giovana Nunes Mesquita Pesquisa: Rúbio Elias Paniago Digitação: Lorrany da Cunha Neiva Acompanhamento: Rogério Mesquita Transporte: Paulo Roberto Mesquita Apoio: Nayara Capingote Rubens R. de Cássia Návio Leão Luís Estevam Projeto Gráfico/Diagramação: James Cruvinel Junior / jameskalel@gmail.com

Impressão: Gráfica Modelo Av. Raulina F. Paschoal, n° 535 - Centro CEP 75.701-480 - Catalão-GO Fone: (64) 3411-2223 2021 Impresso no Brasil Printed in Brazil 4


“Do fundo do meu coração”

Dedicado Aos meus pais, Maria Elias Primo e Venerável Mesquita. À minha companheira, Wilma de Fátima Mesquita, que, além de mãe exemplar, é a base de sustentação da nossa casa. Aos meus estimados filhos, Rogério Mesquita, Clícia Maria e Paulo Roberto, frutos de meu amor com Wilma: Deu no que deu, é bom demais! As minhas noras e genro. Aos meus queridos netos, João Paulo, Giovana, Ester, Natasha, Raika e a sapeca Pietra. Peço ao grande Criador do Universo, proteção sempre, aos meus filhos, netos, noras e genro. Meu dileto e querido irmão Laurindo Elias Pedrosa (Netim). Minha sorridente e dedicada irmã, Neide Elias Chagas. Obrigado a todos que colaboraram e participaram, aos meus irmãos presentes e aqueles que voltaram a se misturar com as estrelas. Tudo aqui nesse registro é verdadeiro e não existe nada que não tenha saído do meu coração, menino simples, com muitos amigos que tenho para testemunhar os fatos narrados aqui. Aos meus professores: Paulo Fayad, Maurício de Oliveira, Wilson Naves, Farid Nahas, Jamil Sebba, Cornélio Ramos, Júlio Pinto de Melo. 5


Retalhos: poesia, contos, histórias

6


“Do fundo do meu coração”

Sumário Capítulo 1

7

Histórias... da vida.

7

MÚSICA

13

MEUS MESTRES

19

EU VI NO FUTEBOL

23

RECORDO COM SAUDADES

37

Testamento, balanço, despedida: sentimentos

45

(07/04/99)

52

Tributo ao meu amigo passageiro

57

(Jeová Machado)

57

É fogo!

67

Grupo de jovens (MUG)

73

(Retalhos, 11/04/1999)

76

(26/06/1999)

76 7


Retalhos: poesia, contos, histórias

Aos meus pais

77

Capítulo 2

79

Rádio... boas lembranças.

79

PARTICIPAÇÃO DE NERY MESQUITA EM JORNAIS

83

Capítulo 3

101

Poesia... falas do coração.

101

A madrugada fria é o recanto dos amantes

101

Capítulo 4

125

Contos... uma viagem

125

8


“Do fundo do meu coração”

Capítulo 1

Histórias... da vida.

Família: Clicia Maria, Paulo Roberto, Rogério Mesquita e casal Wilma e Nery

9


Retalhos: poesia, contos, histórias

Um

sonho...

Um sonho faz você voar, faz você flutuante e esperançoso, você fica lindo, prosa, corajoso e esquece da realidade, sonho é sonho. Sonho...

(Retalhos, 23/04/1972)

10


“Do fundo do meu coração”

Ao passar aqui na rua, lembrando que um dia eu fui realmente uma criança feliz, sei que onde minha mãe estiver, ela sempre estará de olho em mim, chamando minha atenção por tudo que estarei fazendo, estará sempre dentro do meu coração, sempre na minha mente! Seus lindos olhos vão sempre servir como lanterna para iluminar os caminhos que ainda irei percorrer. Minha infância não esquecerei jamais porque foram os dias mais felizes que passei! A velha casinha não existe mais, muitos amigos também se foram, minha juventude também. Obrigado, Mestre do Universo, por ter me dado esse privilégio de estar aqui até hoje para que eu possa passar na rua onde eu morava. Como irei me apresentar na frente de Deus? Um menino, um andante um palhaço... Ah, eu sei! Vou me apresentar como Ele me fez, belo e feio, fraco e forte, da sorte e do azar, da escuridão e da luz. Como eu sou? Só Deus sabe.

11


Retalhos: poesia, contos, histórias

12


“Do fundo do meu coração”

Obrigado, meu Deus, por ter me dado tudo que tenho, minha família e essa grande legião de amigos! Tem hora que temos de aceitar o que a vida traz para nós... Do moleque de rua para quem faltou de tudo mas o amor da minha mãe ainda me protege, da minha adolescência, que vivi com intensidade, até chegar a ser considerado como um dos maiores comunicadores de Goiás. Meus maravilhosos filhos, todos, que até agora estão por aqui! ções...

Agradecer cada sorriso: às pessoas que me deixam com sauda-

Saudades de velhos tempos... A vida já tem seu traçado e ninguém pode mudar. Eu aceito minha idade, aceito as enfermidades e a cura também, eu aceito tudo, até as pedras que me atingem indo diretamente ao meu coração. Eu aceito tudo. Peço passagem para chegar aos pés de Jesus e ajoelhar e saber se serei perdoado! Minha vida valeu a pena! E posso não deixar tantas saudades, mas lembranças sim... “Era um garoto, que como outro, amava os Beatles e os Rolling Stones!”

13


Retalhos: poesia, contos, histórias

Janeiro de 1971, eternas saudades de um grande amigo, Pedro Marinho.

14


“Do fundo do meu coração”

MÚSICA Sempre gostei de música. Quando criança, ganhei de presente um rádio, presente ganho de meu saudoso padrinho, José de Brito. Um rádio Semp de quatro pilhas. Fiz deste veículo de comunicação meu fiel companheiro; até na escola ele me acompanhava. À noite, era hora em que eu costumava ligar na rádio Globo e na Mundial. Na Globo para ouvir futebol, programas esportivos e, principalmente, os jogos do Vasco. Na Rádio Mundial era para ouvir o seu principal programa musical, com o qual o saudoso apresentador Big Boy fazia dos jovens e adolescentes a alegria de ouvir os grandes cantores e bandas internacionais, como: The Beatles The Platters Creedence Johnny Rivers The Jackson 5 Bee Gees 15


Retalhos: poesia, contos, histórias

Abba Elton John Rod Stewart Joe Cocker Bob Dylan Demis Roussos The Doors The Rolling Stones E muito mais. Eu deixo uma parte especial para o meu principal ídolo: Elvis Presley. O Araw é o principal “pai” do rock. Agora se sabe mais sobre esse grande artista (é só procurar na internet). Elvis teve influência direta nas vidas dos jovens: nas vestimentas, no corte dos cabelos e na irreverência rebelde da época. É tanta coisa da época que aparecem muitos mais assuntos! Voltando ao rádio: não imaginava nunca que um dia eu iria me tornar radialista e que me deliciaria vendo fotos e discos de meus grandes ídolos.

16


“Do fundo do meu coração”

Cine Teatro Real. Gincana Estudantil da Escola Rita Paranhos Bretas. Março de 1969 (Nerinho cantando música de Elvis Presley) 17


Retalhos: poesia, contos, histórias

Da minha vida de jovem adolescente, em que sempre respeitei as garotas que namorava, no meu bairro eu já sobressaía devido ao companheiro violão, às músicas de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, The Fervers e outros grupos musicais. Então, para não ficar naquela mesmíssima, comecei a ensaiar músicas dos Beatles. E foi um sucesso! As garotas, quando sabiam de nossa presença nos bailes, reservavam seus lugares. Hoje eu faço os mesmos bailes da época de ouro de minha vida, onde revejo velhos amigos e amigas para recordar os melhores anos de nossas vidas. Que bom que ainda estou aqui!

The Big Boys, rock catalano Anos Dourados. 18


“Do fundo do meu coração”

Casal da Jovem Guarda, Olivio Antônio e Marilda (cumpadres).

Nery Mesquita e Úrsula Kemppes. (Banda Tropical). 19


Retalhos: poesia, contos, histórias

Rosária Garcia e seu esposo Milton Nery guardiões da Jovem Guarda.

Quando a Paróquia São Francisco recebeu o terreno na Avenida José Marcelino, onde temos hoje prédios comerciais, como Materiais de Construção Guarujá, Farmácia São Francisco, Fórmula R Pneus, e a casa das irmãs, o MUC, grupo de jovens, criou uma horta comunitária. Com a venda das verduras e legumes, criamos uma caixinha, para começar a quadra de esportes, que virou, mais tarde, o Salão São Francisco. Doces lembranças da nossa juventude, doces momentos com os amigos do grupo, saudosas tardes de domingo, belos momentos de contemplar as lindas meninas com suas roupas singelas. Nós, os rapazes, cantarolando músicas de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, os Fivers. Belas tardes, belas saudades... Onde fomos parar...?

20


“Do fundo do meu coração”

MEUS MESTRES José de Brito Jamil Sebba Cornélio Ramos Altamiro dos Santos Édson Arruda Frei João Galdino Paulo Fayad Carlos César Elias (Dida) Farid Nahas Wilson Naves Batuíra Borges Sebastião Capingote José Pedro Júnior (Pidim) Ademir Aires José Carlos Gonçalves Milton Nery Santana Návio Leão Márcia Fayad Sebba Irmã Iolanda Maria da Glória Sampaio Fátima Abrão Dan Ahsuero Arédio Teixeira Duarte Paulo Hummel 21


Retalhos: poesia, contos, histórias

Pidim, Nery, Fernando Marcelino, Fernando Neiva e Antônio Paulino.

Haley Margon, político honesto,trabalhador, apaixonado por Catalão. 22


“Do fundo do meu coração”

Empresário José Augusto Carneiro, visão futurista.

23


Retalhos: poesia, contos, histórias

24


“Do fundo do meu coração”

EU VI NO FUTEBOL João Batista Alves (João Ferro) Manezão do Piluga Alemão Zagueiro Senilton Paranhos Joãozinho da Natalina Alberto Mendes Pilé Madrugada (Edir) Homero Idevan Lázaro Domingues Jarbas Nascimento (Bicudo) Maurício Marão Godô Jair Vítor Arildo 25


Retalhos: poesia, contos, histórias

Waguinho Zé Birro (Chupão) Pebinha Os Tavares Heleno Helenito Badoca Cidão Pedro Garrincha Zé Mizael Weber Machado Motorzim Divino da Enedina Zé Bueno Lapada Leivino Fonseca Cláudio Abrão Cidinho Sidiney Lucinei Gervásio Uberaba Tião

26


“Do fundo do meu coração”

Futebol... saudades, Silvio, Ozires, Macaúba e Joãozinho da Natalina.

E no próximo tem mais... 27


Retalhos: poesia, contos, histórias

Times dos Magros, aniversário de Catalão anos 80

. 28


“Do fundo do meu coração”

Time dos Gordos. Nery, Raulino, Dema, Valtão, Cão, Nivaldo Silva, Armandino, Antônio do Mercado, Zé Tomate, Salvo, Rocha e Abadio.

Seleção de Amadores de 1966. 29


Retalhos: poesia, contos, histórias

LEMA Esporte Clube.

As feras do Facão. 30


“Do fundo do meu coração”

Madeireira Marques.

Vasquinho. 31


Retalhos: poesia, contos, histórias

Palmeiras Esporte Clube.

Catalão Futebol Clube. 32


“Do fundo do meu coração”

Posto Saturno.

Uma de várias lembranças que tenho é do saudoso Campo do Catalão. Todos os amigos de outrora passaram por lá! Na minha infância tinha três coisas de que eu não abria mão, pescar, música e jogar futebol. Aos domingos, chegava cedo, para ver o primeiro jogo da manhã; ia almoçar e voltava para o Campo do Catalão e ficava até o pôr do sol. Nos intervalos, as equipes deixavam a gente brincar com a bola do jogo. Aquilo, para a molecada, era o máximo! Era nesses intervalos que as pessoas descobriam os meninos que já poderiam começar a treinar com os adultos. No meu caso, comecei a 33


Retalhos: poesia, contos, histórias

treinar com quinze anos. O velho e saudoso Campo do Catalão tirava os meninos das ruas, evitando males maiores, porque ou estávamos na escola ou no campo de futebol! Os maiores craques do futebol catalano passaram por lá. Por exemplo: Joãozinho da Natalina, João Ferro, Oliveira, Jair Vítor, todos os Tavares... e por aí vai... Para falar sobre o Campo do Catalão teria que dedicar um livro especialmente para aquele lugar onde desfilaram os verdadeiros jogadores do futebol da nossa região. Esse trecho, dedico a dois craques: o Alberto Mendes e ao meio-campista Batel, funcionários da bola!

34


“Do fundo do meu coração”

Móveis Mesquita Futebol Clube (extinto).

Catalão Futebol Clube. 35


Retalhos: poesia, contos, histórias

Olhos d’água Futebol Clube.

CRAC Campeão Goiano, 1967. 36


“Do fundo do meu coração”

Juventos Esporte Clube.

Navio Leão, Gato Campeão Goiano 1967 e Nery. 37


Retalhos: poesia, contos, histórias

38


“Do fundo do meu coração”

RECORDO COM SAUDADES Maria-fumaça Zé do Trem Tarzan da Boca da Onça Cortar cana (Usina Martins) Circo Spano Brasileiro Locomove do Fayad Roubar caqui (Nabib) Pinga com Farinha Dormentes da estação ferroviária Sorvete da Dona Irota Guaraná do Jorge Primo Capinar quintal Alto-falante do Empório Goiás Rádio do Zuca 39


Retalhos: poesia, contos, histórias

Pasto do Pedrinho Campo do Catalão Reis do Ringue Batel Engraxate Bastião Mola-Faca Joaquinzinho Taco de Ouro Comercial Mesquita Móveis Mesquita Casa Rádio (Zé Carrijo) A Eletrolar Crispim, corretor e animador Serralheria do Sabino Torneadora do Irani Café Nádia Zé Picolé Carroceria Cícero Zé das Éguas (peão de boiadeiro) Tropa de montaria do Adalcino 40


“Do fundo do meu coração”

Ônibus do Leivino (Melancia) Escola Parque Campo do Aziz Bomba Retratista Quirino (espiritualista) Salão do Félix (Felim) Totônio Fogueteiro Aerolines Brasil (Bruno Paschoal) Professora Mariazinha (Maria das Dores Campos) Fábrica de Parafusos TV Triângulo Supermercado Alô Baiano (Dedé) Supernicolau (Nicolau Abrão) Armazém da Catarina Sebba Zé Bibica (Galinhada) Dona Divina (biscoiteira) Mozar Alfaiate Oficina e Torno do Toniquinho Dona Inês Salgadeira Oficina Do Zé Toco 41


Retalhos: poesia, contos, histórias

Fábrica de Colchões (Zé Baribaldino) Bagunça Prego Pedreiro Chafir (lutador) João Aprijo Macaco Mecânico Euclidinho Mecânico Táxi do Beijo Costa Tôim Gordo do Táxi Ranchos: Pingo de Ouro e Flor de Maio João Netto Treze de Maio (Salão do Clube) Sorvete da Goiandira Salão do CRAC (Salão da 20 de Agosto) Fanfarras (Estadual, Anchieta, Mãe de Deus) Gruta da Igreja Nova Matriz Expresso Rápido Catalano (Ubaldo) Lanterninhas do cinema (Lu, Joaquim e Mudinho) Veinho Engraxate (Iraci Custódio) Nenzinho Pipoqueiro 42


“Do fundo do meu coração”

Big Lanche (Sebastião Pinto) Cambota Correr da polícia Artur da Rodoviária Bar do Jorge (Espetinho do Abi) Vavá Mecânico Barbearia do Zé Furtado Matança dos porcos na Praça das Mangueiras Campo da Graminha (Bar do Bolões) Hotel Oeste Hotel Irmãs Elias Hotel dos Viajantes Pensão do Constantino (Pensão Glória) Pensão Santa Helena Oficina do Arcênio Marinho Sapo Leiloeiro (Bairro do Pio) Carro de Som do João Bosco Casa da Lavoura (João do Otílio) Divano Elias Domingos da Prefeitura 43


Retalhos: poesia, contos, histórias

Sapataria do Floro Chuteira Gaeta Morro das Três Cruzes (o outro) Cabo João Postilo Policial Grupo da Boca da Onça Campo do Santos (Posto Dona Celina) Fábrica de Broquetes Fábrica de Macarrão Cometa Fábrica de Manteiga Jandaia Curtume Frigorífico Santa Terezinha Largo das Mangueiras Coreto do Jardim (Praça Getúlio Vargas) Cine Real Cinema da Diva Festivais de música (Batuíra Borges) Bola de Cobertão Bar das Vitaminas 44


“Do fundo do meu coração”

Pegar mala na Estação Tiro de Guerra Bar do Porquinho (Panificadora) Cerâmica do Zé Marcelino Ferreiros Teófilo (Nivaldo e Baiano Silva) Geraldo Xispada (auto elétrica) Açougue do Domingos Serrarias: do Samir, Esperidião, Sebastião de Pádua, Nigrim, Zé Maria. Zé Eletricista (benemérito do Clube Treze de Maio) Hotel Matriz (Dona Helena) Zique Bol (time de futebol) Zé Prequeté Sílvio do Bairro do Pio (Soldado sem Farda) Máquina de limpar arroz (Chiquinho da Máquina) Atevaldo Telegrafista Alto-falante da Assembleia de Deus Tirso Peres (Mecânico) Jogo de bocha Jogo de maia1

1

O autor prefere a grafia como é a pronúncia na linguagem popular. 45


Retalhos: poesia, contos, histórias

46


“Do fundo do meu coração”

Testamento, balanço, despedida: sentimentos Aos meus queridos, a vida é um momento rápido no qual ninguém jamais conseguiu realizar tudo. Da minha infância pobre, sou testemunha da fome, da miséria e do preconceito. Então, fui passando por etapas e cheguei aqui. Adeus, meus amigos de bebidas e serenatas! Adeus, amigos de pescadas e noites frias às margens de rios! Adeus, meus netos de quem gozo a admiração e as brincadeiras! Adeus, aos meus filhos, que certamente são iguais, todos! Wilma, sei que não vai entender, apenas sentirá minha falta! Quarenta e oito anos juntos em 2021! Nossa história não cabe aqui! Chorei e sorri muito. Deixo a meus irmãos o sentimento de ter aproveitado pouco vocês. 47


Retalhos: poesia, contos, histórias

Adeus, meu Catalão querido! Adeus, primos da fazenda Mata Preta, onde, para não passar fome, eu, mamãe e irmãos fomos morar na fazenda de meu saudoso tio Pedro. Adeus, Morrinho de São João, onde ganhei o meu primeiro beijo, de uma coleguinha de aula. Aquele dia eu jamais esquecerei. Gostaria que meus acervos culturais, musicais e outros fossem destinados a quem se interessar. Para passar para outro lado, ninguém tem culpa. Acho que chegou a hora de fechar meu livro... Por falar em livros tenho dois pequenos trabalhos, encadernados, sem nenhuma pretensão, apenas para contar um pouco da minha história (Retalhos e [...] não sei se vão ser assim). Gostaria que fossem incinerados porque não são obras literárias e estão inacabados2... Enfim, se alguém um dia sentir minha falta, relembre momentos comigo e sinta saudades do velho andante de sandálias sujas do pó da estrada da vida. Ninguém tem culpas, ninguém me deve nada. (Ao passar onde passou comigo, feche os olhos) (Nery Mesquita 01/09/2021, três e quinze da madrugada) 2 No momento em que escrevia isso o autor não esperava que aqui estivesse editado e público um livro com seus escritos. 48


“Do fundo do meu coração”

Dona Olandina, mulher exemplar.

Meu amigo, meu companheiro de pescada, segundo pai, João Ferreira, meu sogro. 49


Retalhos: poesia, contos, histórias

Meu irmão Laurindo Pedrosa e minha esposa Wilma.

Papai Noel oficial por 12 Anos. 50


“Do fundo do meu coração”

51


Retalhos: poesia, contos, histórias

52


“Do fundo do meu coração”

Eu sou do bairro Nossa Senhora de Fátima, eu sou filho de Maria, eu joguei bola no Campo do Catalão, eu cortei cana na Usina Martins, eu assisti a matança de porcos nas Mangueiras, eu tirei fotos no Zé de Brito, eu passei debaixo do pano do circo, eu briguei depois da aula, eu pesquei no Córrego do Almoço, eu passei sabão nos trilhos do trem, eu corri do soldado Postílio, eu fui na Velha Cláudia, na Das Dores, na Fia Pereira... Eu fui em todas. Eu fiz serenata, eu namorei, eu casei, eu moro aqui, eu sou do Nossa Senhora de Fátima. 53


Retalhos: poesia, contos, histórias

(07/04/99) Da vida, desfrute com carinho as bondades para nós oferecidas, sabendo que nem todos receberão as dádivas. Repartiremos com quem não tem nada, para que possamos seguir com nossa imagem gravada no pensamento de quem é grato a nós. Pense nisso.

Casamento caipira, minha eterna noiva Ângela.

54


“Do fundo do meu coração”

Nery, Ângela e Adriete Elias.

Nery, Celestino, Valdete e Wilma 55


Retalhos: poesia, contos, histórias

Jessy, Maria, Wilma, Nici e Vicente (se o tempo parasse).

Meu maior aliado, de quem eu mais precisei nas minhas piores turbulências, quem sempre me levantou do chão e me colocou de pé, abriu caminhos para eu passar, puxando minhas orelhas e fazendo de mim amigo, companheiro de todos os que se aproximam de mim, nunca vai me desprezar. Ah, que bom ter Pai bom assim! Acho que poderei um dia morar para sempre ao lado Dele, meu Amigo... Jesus Cristo. Eu já estive em vários lugares; conheço muitas pessoas, converso com muita gente, aprendo com cada um, respeito a opinião, para ser respeitado. O que Deus preparar para cada um vai chegar, na hora que o Grande Arquiteto do Universo vai olhar bem em seus olhos e falar: meu filho!

56


“Do fundo do meu coração”

Capitão Edson Arruda, e minha irmã Neide Chagas.

57


Retalhos: poesia, contos, histórias

Edson Arruda, Nery, Cheirinho.

Casal Cleodionir e Neuza, irmãos Inseparável. 58


“Do fundo do meu coração”

Tributo ao meu amigo passageiro

(Jeová Machado)

Quando o sol vem saindo através das árvores que margeiam o Rio Paranaíba, uma fumaça sai da chaminé de um pescador, certamente o bule tem café. Seu semblante mostra alegria por estar ali, perto das águas mansas do rio; levanta o anzol e tem um peixe! Adeus, amigo de pousadas e histórias vividas; adeus, às ilusões; adeus, à inocência de ter sido um passarinho que visitou mais de uma vez nossos corações; adeus, sorriso único! Adeus. 59


Retalhos: poesia, contos, histórias

Então a noite chegou e eu me encontrava mais uma vez correndo pela casa com meu caminhãozinho de madeira; foi quando ouvi minha (saudosa) mãe falar, “vai dormir é tarde”; sua benção, mãe!

Minha mãe, lembranças eternas.

60


“Do fundo do meu coração”

Eu e alguns amigos fomos ao cinema (Cine Teatro Real). Quando acabou a sessão, outro grupo de amigos veio informar que no Bairro Santo Antônio (Rua da Grota) estava acontecendo uma festa de aniversário com muita música e garotas lindas! Então, fomos para o local. Começamos a dançar, e, quando olhei no relógio, já passava de duas horas da manhã... Naquela época não era normal chegar em casa a uma hora dessas. Então chamei meu amigo e vizinho pra irmos juntos embora, subindo a velha Avenida José Marcelino. Eu morava nessa mesma avenida, na altura da Cerâmica São José (depois, Escola Polivalente e hoje Escola Militar). Quando notamos as luzes todas da minha casa acesa, achei estranho, e apertamos o passo. Já da calçada gritei por minha mãe, “mãe, ô, mãe!”. Para alívio nosso, ela abriu a porta com um sorriso que só mãe tem! “Calma, gente, perdi o sono te esperando e estou fritando biscoitos para nóis tomá café!” Como se diz: mãe não dorme enquanto o filho não chega (perdão por isso, mãe!).

61


Retalhos: poesia, contos, histórias

Meu pai, Veneravél Mesquita, mineiro de Araxá – MG, ferroviário, maçon. Minha mãe tinha na sua coleção de utensílios de cozinha um tacho de cobre; guardado como um tesouro, só era usado em ocasiões especiais, para fazer doces, cozinhar milho e pamonha. Porém, certa vez ao manusear o tal tacho, a peça preciosa caiu do fogão, estragando a alça! Minha mãe ficou muito triste com o fato. Mas, uma vizinha nossa procurou mamãe e disse, “dona Maria, lá no final da ‘Zé Marcelino’, 62


“Do fundo do meu coração”

tem uns ciganos que consertam tacho”. Então mamãe colocou o tal objeto em um carrinho de mão e fomos no acampamento dos ciganos (esse acampamento ficava onde hoje existe o Mara Hotel). Chegando lá, minha mãe perguntou, “vocês arrumam tacho?”. Um dos ciganos se aproximou balançando a cabeça com gesto positivo. Foi combinado o valor do conserto, minha mãe efetuou o pagamento, tudo certo. O cigano disse, “tacho bom como esse a senhora não vê nunca mais, é muito difícil uma peça dessas hoje em dia”. Então, fomos embora. Passados dois dias voltamos para pegar o tacho. Quando chegamos, cadê os ciganos?! Tinham ido embora! Minha mãe ficou brava passado, procurando informações dos ciganos; ninguém sabia, é claro; foi um bafafá perto de nossa casa, chamaram a polícia, mas, naquela época, não podiam fazer nada. Foi quando levei um cabo de vassoura na cabeça, ao dizer para minha mãe, “tacho bom como esse a senhora não vê nunca mais!”. Nos anos cinquenta, não tenho certeza, mas parece que meu pai não estava trabalhando na rede ferroviária. Montou uma farmácia de manipulação. Com essa função, ele se tornou muito conhecido, principalmente na zona rural, de onde sempre chegava gente em busca de alívio para suas dores. Em uma dessas ocasiões, chegou um morador da região da Mata Preta trazendo uma filha para se consultar com meu pai. O senhor narrou que a mocinha estava com muita febre, dor de garganta, sintomas de gripe. Meu pai preparou os medicamentos para aplicar uma injeção na paciente. A conversa seguia. A paciente estava com a mãe na carroça, lá fora. Aí meu pai se dirigiu para lá, se aproximou e aplicou a injeção. Silêncio por um instante... E o fazendeiro disse: “Senhor Venerável, não é minha mulher que está doente, mas, sim, minha filha!”. Papai, que era muito esperto, disse: “Eu sei, mas todos vão receber o medicamento porque todos estão contaminados, inclusive o cavalo!”. E aplicou mesmo em todos. Assim foi meu querido pai, Venerável! 63


Retalhos: poesia, contos, histórias

Localidade hoje ocupada pela praça Aguiar de Paula. Ao fundo, Casa Santa Rita, comércio de propriedade de Venerável Mesquita, pai do Nery Mesquita. De acordo com informações, o carreiro é Pedro Primo, irmão de Jorge Primo, do Guaraná Amazonas.

Ontem passei na rua onde morei com minha mãe e meu irmão, a pobre casinha nossa não existe mais. No lugar, um belo edifício. Fiquei longo tempo assistindo pedaços de minha vida, me vi correndo atrás de uma velha bola de futebol, descendo a rua em um carrinho de rolimã, ou na minha velha bicicleta. As brincadeiras só eram quebradas quando mamãe gritava com uma vara de marmelo na mão, “passa pra dentro, Nerim; vem tomar banho, olha a cor da sua roupa; vem fazer o dever de casa!”. Hoje é tarefa escolar. Aquela vida que ficou para trás... 64


“Do fundo do meu coração”

Eu me recordo muito da Praça das Mangueiras, onde, entre tantas outras coisas, eu ia buscar serragem de madeira para minha mãe usar no fogareiro para cozinhar feijão e ferver água; a semana inteira a molecada lá, brincando de bola, de capoeira, de luta livre, de pega-pega. Lá eu ia ver os ternos de congo ensaiar. Neste mesmo espaço se instalavam vários circos e parques de diversão; os que vinham com mais frequência eram o Circo Spano Brasileiro e o Parque Brasil. O lugar também era conhecido como As Mangueira. Para quem só ouviu falar, esse local hoje é setor comercial e residencial, acima da Praça do Marca Tempo. Eu me lembro muito bem, eu fui moleque lá. 65


Retalhos: poesia, contos, histórias

Meu irmão, professor Laurindo

66


“Do fundo do meu coração”

Meus sonhos se partiram nas asas da recordação, as asas eu quebrei, as penas eu guardei para construir outras asas para subir ao encontro de Maria. Talvez eu não consiga alcançar a lua, Mas seu reflexo banha minha alma. Esse negócio de ter saudade. Parece cafona... Olha que já fui!

No último dia vinte e um de julho, de dois mil e vinte e um, completei 48 anos de casado com a rainha Wilma! Eu garanti minha felicidade, e ela, um lugar no céu! (Nery Mesquita)

Outro dia fui visitar o museu de história de Catalão. Fiquei sentado no velho banco de madeira que até hoje teima em fazer parte da história. Quantos visitantes e passageiros descansaram nele! Senti a velha locomotiva maria-fumaça chegando, muito movimento, gente apressada para chegar nos braços de alguém, outros se despedindo; assim vi também, entre as pilhas de dormentes, namorados e amantes. Acordei no banco da estação com meu neto João Paulo falando “vamos embora, o trem passou”. Literalmente.

67


Retalhos: poesia, contos, histórias

68


“Do fundo do meu coração”

É fogo! No começo dos anos setenta, eu começava a chegar na idade de ir à caça (poder namorar!); foi quando minha mãe me disse, “qual moça vai namorar um rapaz que não trabalha? Não tem dinheiro pra ir ao cinema, ir em uma lanchonete. Vai procurar um emprego!”. Seguindo os conselhos de Dona Maria, fui. Imaginem vocês, como era Catalão naquela época! Só tinha serviço como servente de pedreiro, ou capinar quintal, ou cortar cana na Usina Martins, ou qualquer outra coisa. Eu tinha um tio que era vereador, Jorge Primo. – Prosseguindo: Ele tinha muita influência na cidade, me disse, “vamos lá na Casa da Lavoura porque tenho amizade com o Divano e com o Zé do Otílio.” Meu tio fez o pedido. Eu fui contratado no dia seguinte. Ao chegar, o Sr. João me disse, “hoje você fica aqui, conhecendo a loja, mexe em nada, não”; fiquei encantado com a oportunidade, fui almoçar feliz demais! Ao voltar, “seu” João me pediu para eu colocar uma escada, subir no telhado e tirar as goteiras. Fui. Comecei a fazer o serviço... Quando “dei por mim” descobri que a loja já tinha fechado. O pessoal tinha me esquecido no telhado! Fiquei desesperado, porque alguém tirou e guardou a escada! Não tinha como eu descer, era muito alto. Logo começou a escurecer, o movimento da Avenida Vinte de Agosto parou; pensei, “e agora?” Então, tive uma ideia. - Lembrando: a Casa da Lavoura era onde hoje existe 69


Retalhos: poesia, contos, histórias

uma loja de móveis, em frente ao antigo Colégio Anchieta. Tudo bem, andei no telhado até a marquise. Mas, não adiantou nada, porque havia lá uma placa metálica muito grande e quem passava na calçada não me via... Com medo de ter que passar a noite lá fui iluminado pelo Anjo da Guarda. Pelo movimento, descobri que os alunos do período noturno do Colégio Anchieta começavam a chegar. Então comecei a gritar, “socorro, está pegando fogo na Casa da Lavoura! Socorro, gente, traz uma escada!” Começou então aquela correria, gente pulando muro, outros vendo como iria trazer água... Aquela coisa louca! De repente, alguém colocou uma escada para ver lá em cima. Aproveitei e saí de fininho e fui embora! No outro dia, cheguei para trabalhar, o “seu” João me chamou no escritório e me disse, “você não precisa vir mais não” (...)

70


“Do fundo do meu coração”

Hoje o dia amanheceu nublado, mostrando a chegada das chuvas. Mamãe corria para tirar as roupas do varal, meu irmão guardou lenha e eu fechava as portas e janelas. Choveu muito, o dia inteiro. A noite prosseguiu chuvosa e a luz das lamparinas balançava com o vento. Não chove mais como antes. Meu irmão não mora mais comigo. Mamãe, em uma madrugada chuvosa, foi ficar mais perto de Maria Santíssima. Eu... perdido... à procura de tudo...

Meu Irmão Laurindo Pedrosa. 71


Retalhos: poesia, contos, histórias

Minhas lembranças me levam para quando eu era engraxate e, com um pequeno caixote de madeira, perambulava pela cidade tentando ganhar algum dinheiro. Só não podia passar perto de onde alguém estivesse com uma bola de futebol...! Acontece que havia muitos engraxates e todos tinham seus pontos fixos. Não havia como entrar. Tentava. Mas acabava apanhando. Então, pensei, “vou tentar no Posto e Restaurante JK”, e fui. Descobri que o Rotary Club se reunia lá, às quartas-feiras; criei meu espaço. Como eu tinha meu tempo disponível, ficava lá o dia todo. Cheguei a ganhar algum dinheiro, para ajudar em casa, comprar gibis, ir ao cinema, comprar material de pesca, etc. Um belo dia, por volta da hora do almoço, eu estava no ponto de abordagem de possíveis fregueses. Estacionaram vários veículos de cor prata e com placas verdes. Quando todos os viajantes já estavam dentro do restaurante, o garçom me chamou mandando que eu engraxasse os sapatos de todos. Lá fui. Após eu terminar a tarefa, o dono do restaurante, o Sr. Chico do Irapuã efetuou o pagamento, que atingiu uma boa quantia. Muito alegre, corri para casa para entregar o dinheiro para minha mãe, que, como eu, ficou feliz demais! Fez uma compra boa, na época. Continuei prestando serviços de engraxate no local. Passados alguns dias, fui ajudar o garçom a lavar as escadas do estabelecimento comercial e, no bate-papo, ele me disse, “sabe de quem você engraxou os sapatos aquele dia que chegou aquele tanto de carro?” Respondi que não. Então ele disse, “aquele que estava cantando é o Presidente da República, Juscelino Kubitschek”. 72


“Do fundo do meu coração”

Zé de Brito. Uma das pessoas que mais me ajudaram, meu adorado padrinho, homem de bem, fotógrafo, dentista prático e sempre dava uma de mecânico. Tive a honra de conviver também com sua esposa, minha querida madrinha Luzia, mulher que tinha um coração grande e de uma calma para mediar qualquer tipo de problema. Fui criado praticamente na casa deles, onde seu filho Paulo dividia as molecagens e peraltices comigo. Fomos criados juntos. Até nos tornarmos compadres. Uma amizade de irmãos, coisa muito difícil nos dias de hoje. Para ajudar lá na casa e também na tarefa de educar os meninos, no caso, eu e Paulinho, uma pessoa da família foi, nos anos 60, uma das maiores dançarinas de Catalão. Falo de Rosinha, mais conhecida como Rosinha do Zé de Brito. Outra pessoa a quem devo muito.

José de Britto (sem comentários!). 73


Retalhos: poesia, contos, histórias

Nós anos 60 e 70 os melhores bailes da região eram em Goiandira. O clube ficavam lotados. E a velha rivalidade entre os jovens de Catalão e Goiandira imperava. Meu amigo e hoje meu compadre Paulo Antero (Paulinho do Zé de Brito) e eu não conseguimos carona para ir ao baile na cidade vizinha. Então bolamos um plano. Ele teve uma excelente ideia: roubar o jipe do pai dele. Chegamos na residência por volta das 21 horas e o Zé de Brito estava acordado, vendo o programa do Chacrinha. A gente tinha que esperar. Nosso plano de roubar o jipe parecia ter ido por água abaixo. Resolvemos desistir. Mas, o dono do jipe resolveu ir dormir. Então, saímos, pé ante pé, pelo corredor que dava acesso a garagem. Abrimos o portão com muita cautela e empurramos o veículo para o meio da rua e voltamos para fechar o portão. Empurramos o carro até a avenida José Marcelino, o Paulo pulou dentro para funcionar a máquina e eu, correndo atrás. E nada do jipe funcionar! Fomos até no Ribeirão Pirapitinga e o carro não funcionou. E como leva-lo de volta para o lugar dele?! Na época não existia reboque ou outra coisa para fazer o resgate. Frustrado nosso plano, fomos embora. Fui para minha casa e o Paulinho pra dele. No outro dia, domingo nos encontramos e ele me disse: “sabe porque o Jipe não funcionou?! Meu pai desconfiou do nosso plano e retirou a gasolina do tanque! Só isso! Agora, temos que trazer o Jipe de volta.” Adeus baile de Goiandira. Criamos um grupo de jovens denominado MUG (Movimento Unindo Gente), atendendo ao saudoso Padre João, pároco da recém-criada Paróquia São Francisco. Isso nos meados dos anos sessenta, porque naquele tempo grande quantidade de jovens frequentava as missas aos domingos pela manhã. Um dos primeiros a cantar nas missas foi 74


“Do fundo do meu coração”

o saudoso Mozar Alves. Devido a sua facilidade de comunicar com as pessoas, foi escolhido para ser o líder do grupo. Como ainda não existia outra igreja na paróquia São Francisco, as reuniões e missas eram na Igreja do Rosário. Depois, foi construído o Centro Comunitário onde se encontra a Creche São Francisco e o salão de festas. Essa turma de jovens era composta pelo professor Aníbal, Aurinha, Benedita Adelaide, Walter do Caminhão, João Protético, Zeno Marques e outros, que agora me fogem à memória, porque não existe um registro oficial.

Grupo de jovens (MUG) A Igreja Católica, nos anos 60, descobriu que os jovens poderiam prestar serviços nas paróquias; aqui em Catalão, através do Padre João, da comunidade de São Francisco. Ele convocou os jovens da paróquia a uma participação mais atuante na Igreja. Então, no dia 27 de agosto de 1969, na Igreja do Rosário, mais de 50 jovens e adolescentes fundaram o Movimento Unindo Gente (MUG). Sua primeira diretoria provisória ficou assim constituída: Presidente: Mozar Alves 1º Vice: professor Aníbal 2º Vice: Heleno Alves 1º Tesoureiro: Nélson Pereira (Nelsão) 75


Retalhos: poesia, contos, histórias

2º Tesoureiro: Olívio Antônio 1º Diretor de Esportes: Nery Mesquita 2º Diretor de Esportes: Cleudionir de Melo (Luta) 1º Diretor de Eventos: Milton Nery Santana 2º Diretor de Eventos: Sergio Antônio Ribeiro (Pereco) 1as Diretoras de Patrimônio: Aurinha (in memoriam); Adelaide Alonso 1as Diretoras de Comunicação: Tereza (Aníbal); Maria Helena.

Conselho Walter do Caminhão Helenito Alves Benedita Padre João Vitomar Suely Maria Célia Esta foi a primeira diretoria constituída, com a aprovação do Bispo de Ipameri e com a apreciação do Pároco Padre João. Outras diretorias vieram, mas, “Os Ternuras” nunca mais! Até que acabou. Valeu! 76


“Do fundo do meu coração”

Na minha adolescência as coisas eram muito difíceis, em todos os sentidos. Aos sábados não tinha dinheiro para pagar um sorvete pra namorada, ir ao cinema, nem pensar! Sabendo dessas dificuldades, comuns aos jovens filhos de trabalhadores, o saudoso amigo, orientador e companheiro, o professor Aníbal — uma das pessoas que mais deixou saudades entre nós — como era muito ligado aos padres da matriz são Francisco, conseguiu o salão da paróquia para promover pequenas festinhas para alegrar os jovens. Em um desses eventos, inauguramos uma mesa de ping-pong, doada pela também saudosa Nilda Margon que, além de amiga do nosso professor Aníbal, era madrinha dos grupos de jovens. Estávamos ansiosos para o grande evento. Saiu o sorteio para o confronto inaugural. O salão totalmente lotado. Já havia até torcida organizada. A primeira dupla a se enfrentar era Nery versus Olívio Antônio, Vocês não vão acreditar no que aconteceu! O Sérgio Carvalho, mais conhecido como Pereco, estava encarregado de levar as raquetes e as bolas. Sabem o que aconteceu?! Ele foi ao cinema com sua namorada Luíza e esqueceu de levar os objetos para realização da festa! Em reunião dos jovens, ele foi suspenso por tempo indeterminado. O grupo MUG nessa primeira formação durou nove anos.

77


Retalhos: poesia, contos, histórias

(Retalhos, 11/04/1999) Os namorados, sempre aguardando a volta um do outro, ensaiando lindas frases de amor e carinho para agradar o coração de quem se ama! Esperando também a retribuição de um abraço, de um beijo, com carícias suaves — e outras mais ousadas. E assim o tempo nos leva a variadas sensações de prazer e sonhos... Eu vivi vários momentos que hoje estão saindo de dentro de meu coração! Quantas vezes, quantos lugares, quantos amores! E uma história diferente da outra! Mas, meu amor durava pra sempre! Não eternamente.

Passei caladinho, pela janela, e coloquei uma flor no travesseiro de minha mãe, com um singelo cartão de Dia das Mães. Não sabia eu que um dia colocaria uma flor ao lado dela, de despedida.

(26/06/1999) O meu tempo de correr passou, tento colher os frutos que plantei, mas cada vez mais os melhores caem longe do meu alcance; outro passa e pega. 78


“Do fundo do meu coração”

Aos meus pais Cheguei aqui trazido pelo puro amor de duas pessoas que se dedicaram um ao outro, com renúncia, dificuldades e buscas! Cheguei aqui pelo mais belo e puro encontro de duas almas! Hoje fico comtemplando fotos e fatos do passado, recordando cada dia, seus feitos... Hoje não choro mais... Para quê? Eu sou feliz e sei!

Dedico essas palavras à pessoa que mais me fez feliz, minha esposa, Wilma de Fátima. Não fui o melhor marido do mundo, aliás, muito além, partirei devendo muito a ela, pedir perdão não volta moinho! Agradeço de coração tudo que fez por mim, me deu belos filhos e netos, me deu alegria, choramos juntos, temos uma história juntos, ninguém apaga!

79


Retalhos: poesia, contos, histórias

80


“Do fundo do meu coração”

Capítulo 2 Rádio... boas lembranças.

Rádio Cultura de Catalão ZYW – 33. A rádio do povo Este negócio de “Rádio do Povo”... Bem, falarei da “The original”, nos idos de 70. Comecei na Rádio Cultura em agosto de 1973. Comecei como sonoplasta, hoje DJ, mais vale, como admirador de rádio. Foi fácil convencer meu amigo: Milton Nery a dar um jeitinho com o Altamiro dos Santos e com o Frei João 81


Retalhos: poesia, contos, histórias

Galdino para me contratarem. Na equipe da emissora tinha os mais tímidos: eu, Antônio João, Antônio Miguel, Dona Georgina (transmissor), e a tropa de elite: Wilson Naves, Fernando César Azevedo, Waldir Silvério, Walter Silvério, Maurício de Oliveira, Nilson João e outros mais. Os que mais sofriam com a tropa de elite eram o pessoal do sertanejo, pois a tropa lançava discos para fora da rádio, através das janelas, o que não era de agrado da turma. Quase todo sábado à noite a rádio saía do ar... ninguém conseguia fazer isso, só eu modestamente. Para tirar a rádio do ar, havia uma manha. Atrás do painel de controle, eu conseguia soltar um pequeno transistor; quando ele esquentava, páfi, lá se foi a Cultura! Apenas o eletrônico, dito de Paracatu (MG), conseguia reativar a emissora. O Frei Galdino sabia de tudo, mas levava todos na boa! Meu melhor patrão! Minha eterna gratidão ao homem de compreensão e amizade que conheci, Frei Galdino.

82


“Do fundo do meu coração”

Paulo César, Nery Mesquita, Wilson Naves, Frei Sebastião, Farid Nahas, os garotos Rogério e Cleison.

Equipe de Esporte da Rádio Cultura, Manoel Silva, Eltálio Pereira, J de Oliveira e Nery Mesquita. 83


Retalhos: poesia, contos, histórias

Meu professor de rádio, competência, carisma, o único.

84


“Do fundo do meu coração”

PARTICIPAÇÃO DE NERY MESQUITA EM JORNAIS DITO E FEITO AUTO NEWS O PIRAPITINGA INFORMATIVO CULTURAL A SEMANA TRIBUNA DA CIDADE PRIMEIRA MÃO DIÁRIO DE CATALÃO JORNAL SERRA DOURADA ACONTECE REVISTA ATIVIDADES A REGIÃO DIÁRIO DE GOIÁS (GOIÂNIA) ÚLTIMA HORA (UBERLÂNDIA) JORNAL O CATALÃO (COLUNA DE HUMOR) 85


Retalhos: poesia, contos, histórias

86


“Do fundo do meu coração”

Troféu Imprensa Melhor Comunicador De 2001.

87


Retalhos: poesia, contos, histórias

88


“Do fundo do meu coração”

89


Retalhos: poesia, contos, histórias

90


“Do fundo do meu coração”

91


Retalhos: poesia, contos, histórias

92


“Do fundo do meu coração”

93


Retalhos: poesia, contos, histórias

Rio Negro e Solimões. 94


“Do fundo do meu coração”

Nery Mesquita , Amado Batista.

95


Retalhos: poesia, contos, histórias

96


“Do fundo do meu coração”

Nery e José Rico.

Rick, Nery e Renner. 97


Retalhos: poesia, contos, histórias

Ênio Paschoal, Silvio Paschoal, governador Irapuã Costa Júnior e Divano Elias.

98


“Do fundo do meu coração”

99


Retalhos: poesia, contos, histórias

100


“Do fundo do meu coração”

101


Retalhos: poesia, contos, histórias

102


“Do fundo do meu coração”

Capítulo 3

Poesia... falas do coração.

A madrugada fria é o recanto dos amantes que só tem a lua. Eu sou um sonhador que só tenho meus sonhos. Melhor pra mim, que tenho a madrugada em meus sonhos.

103


Retalhos: poesia, contos, histórias

Essa é pra você perdida entre rascunhos. Sobreviver de lembranças, do gosto amargo da saudade, da alegria de viver aqui, agora.

104


“Do fundo do meu coração”

O dia que eu partir talvez alguém chore, outros talvez vão sempre lembrar. “Passou como um meteoro” “Deixou quase nada” Um sorriso? Uma lágrima? Um aperto de mão? Um beijo?! Certamente, um aperto no coração... de alguns. (Nery Mesquita)

105


Retalhos: poesia, contos, histórias

(02/10/12) Vi. Passava do outro lado da rua. Quis chamá-la. Você passou longe de mim. Do outro lado da rua. Seguiu. Do outro lado da rua. Meu coração disparou. Vi passar. Do outro lado da rua. Você dobrou a esquina, Ficou mais longe de mim, como até hoje. Da rua do outro lado.

106


“Do fundo do meu coração”

Eu tentei prendê-la em meus braços, eu tentei segurar suas mãos, eu tentei de tudo, ... só não consegui segurar minhas lágrimas. Agora que você foi embora, estou livre outra vez, estou livre outra vez... Ah... eu não queria ficar livre outra vez.

107


Retalhos: poesia, contos, histórias

Segurei firme na sua mão, pedindo pra não ir. Olhei para seus olhos brilhantes, com avisos de despedida, fui soltando suas mãos, lentamente. Não havia mais como segurá-la. Naquela mesma noite, você já estava em outros braços. (Retalhos, Nery Mesquita, 22/01/1971)

108


“Do fundo do meu coração”

e a porta se abriu lentamente um vento frio... assustador chegou junto, virei rapidamente, assustado, me levantei da cadeira, olhei pela janela, não vi ninguém, é sempre assim, sempre você aparece para me assustar susto com sabor de chegada. Só em sonho porque sei que jamais virá. (Retalhos, Nery Mesquita, 22/08/1977).

109


Retalhos: poesia, contos, histórias

A dor da ausência corta meu peito, olhos cheios de saudades, Boca seca pela falta de seus beijos, Olhar perdido, tarde triste. Olhando para a estrada não vem ninguém, Cai a noite, As estrelas aparecem com seus brilhos para que eu possa contemplar sua beleza, uma delas se desgruda, parece que vem caindo em minha direção, corro para fora do rancho para esperar sua chegada e nada, amanheceu, o dia chegou, mais uma vez vou esperar você, as flores estão no mesmo lugar esperando para serem colhidas para eu colocar nos seus cabelos ou talvez na minha campa...

110


“Do fundo do meu coração”

O vento passou entre meus cabelos e disse um nome suave. Ele voltou e disse seu nome novamente... Perguntei ao vento, por que ela? O vento ficou calado e foi para onde o sol se esconde, você ficou entre meus cabelos, e foi penetrando, agora, está no meu coração!

111


Retalhos: poesia, contos, histórias

Acordei cedo e levei a mão para acariciar você. Algo errado: você não estava ali. Busquei de novo; você não estava; acordei de novo e lembrei que você tinha ido embora.

112


“Do fundo do meu coração”

Quando eu não tiver mais esperança de ver você, quando eu não sonhar mais com você, quando eu parar de lutar, quando eu não sorrir mais, quando secarem minhas lágrimas, quando acabar tudo em mim podem trazer um caixão para enterrar meu corpo. A única coisa que você terá de mim será a certeza de que você conheceu de perto o maior amor do mundo. (28/09/1988)

113


Retalhos: poesia, contos, histórias

(27/03/1991) Estou sem chão, minhas pernas estão trêmulas, minhas mãos estão frias, estou morrendo por ela; o vento passou aqui e levou a mulher da minha vida, levou meus sonhos; só não levou minha esperança.

114


“Do fundo do meu coração”

Vou parar de buscar o berço do vento; ele pode não gostar e me soprar para mais longe de você.

115


Retalhos: poesia, contos, histórias

Esses lábios que me perseguem dia e noite, esses lábios quentes que me aquecem nas noites frias, esse abraço forte que me aperta estão tão longe que os sinto todos os dias. (Nery)

Grãos de areia, esses são piores dentro do sapato! Kkkkkkkkkk!

116


“Do fundo do meu coração”

Observação. Esperando para devolver suas asas olha, que o vento não vai trazer seu perfume, também vento, não quero perfume eu quero é ela. (by Nery) O perfume é a essência feminina que transborda o desejo mais oculto de um ser.

117


Retalhos: poesia, contos, histórias

Vem, locomotiva, rasgando meu coração, deixando para trás saudades; vem, locomotiva, leva com você meu último sonho!

118


“Do fundo do meu coração”

Todo viajante tem que ter alguma coisa na sua mala; a vida tem vários pontos de partida, mas, sem nada na mala, tem que voltar no começo.

119


Retalhos: poesia, contos, histórias

Corte meu coração ao meio, sugue todo meu sangue, rasgue meu peito, feche meus olhos, corte minha língua, senão você vai ouvir... Eu te amo. (Retalhos, Nery Mesquita, 23/02/2000).

120


“Do fundo do meu coração”

Você pode fazer o que quiser comigo, bloquear, tirar você de minha memória, jamais, porque vou morrer um dia e esse registro literário ficará para sempre; um dia meus bisnetos vão ler e perguntar... “Que mulher foi essa?”

121


Retalhos: poesia, contos, histórias

Os caminhos de menino eu percorri todos, fui um menino sonhador, sonhei tanto que até hoje estou esperando meu sonho de menino chegar. Partir sonhando, quando chegar a hora de partir. Partirei levando meu único sonho, o meu sonho de menino.

122


“Do fundo do meu coração”

O menino saiu correndo no caminho para alcançar a felicidade, o menino tinha certeza que ela existe; e não parou de correr. Fui correndo atrás. Quando avistou um velhinho, à beira da estrada, parou e perguntou, “o senhor viu a felicidade?”. O velho respondeu, “você está passando por ela!”

123


Retalhos: poesia, contos, histórias

Só pare se precisar, só corra se estiver com medo, só peça se não souber, só olhar se interessar. Só grite se a dor for forte, nunca volte, ao sair leve tudo, apague da memória os lugares onde passou, e não volte jamais.

124


“Do fundo do meu coração”

Agora é noite e o silêncio toma conta. A beira do rio, as águas fazem um murmúrio para quebrar o silêncio, Meu olhar busca, no meio do nada sua imagem, em tudo... O dia vem chegando E o canto dos pássaros traz a vida ao local. Só o dia chegou, junto com a saudade, você, não. (Retalhos)

125


Retalhos: poesia, contos, histórias

Um dia, não vamos mais nos encontrar; um dia, eu e você, separados, iremos aos lugares em que fomos juntos, o mesmo chope, os mesmos chocolates, a pescaria de pelúcias... Enfim, tudo estará nos mesmos lugares, ao pegar o carro para ir embora, um leve sorriso, uma grande lembrança, uma grande saudade.

126


“Do fundo do meu coração”

Capítulo 4

Contos... uma viagem Como arrancar você de meus pensamentos, levar para bem longe essa saudade que me mata, onde andará quem me deu tanto amor? Esse tempo todo não achei ninguém, parei de procurar, passei por todos os caminhos, então parei, fechei os olhos em mais um sonho. (Retalhos, Nery Mesquita, 24/11/2018).

(12/02/1994) Deixe seu sonho levar para dentro de suas entranhas o sabor de sentir o abraço da ausência, sabendo que estou aqui parado esse tempo todo lhe esperando. Quanto tempo senti suas asas imaginárias me abraçarem para me proteger de outras! Deixe-me andar em seu dorso como Ícaro, cavalgando em busca do sol! Eu já era seu e você não sabia. Como uma porta que abre recebendo um viajante, você continua dormindo com seus lábios suaves esperando meu beijo. Sonho trazer você para devolver suas asas imaginárias. Eu para você e você para mim! Nunca desprendidos da seiva real do mel! Vem com cuidado para não pisar em minhas asas! 127


Retalhos: poesia, contos, histórias

Um menino de ontem, um menino de rua, um menino de lua, do sol, da chuva, do vento, do calor e do frio, ainda sou menino para muitos. Dentro de mim eu cresci, o menino está ficando velho, não tem como voltar; corre, corre, menino, segura na mão do tempo e vai! (Nery)

O trem parou na estação e você subiu no vagão. E eu avistei você, acomodada no banco para a viagem; sabia que você jamais voltaria, mesmo assim fiz um sinal de despedida, e o trem apitou e foi embora; foi embora também meu primeiro amor. Outros vieram, também se foram; hoje, aqui na plataforma da estação, recordo pedaços de minha vida, vida de amores, beijos longos e abraços de despedida. (Retalhos, Nery Mesquita, 23/04/1976).

Um dia, há muito tempo, já passado, uma pessoa olhou em meus olhos e, passando as mãos nos meus cabelos, disse: ‘Lindo, você chegou muito tempo adiantado dessa vida de hoje; você não é desse tempo e não tem nada de bagagem, apenas sua suavidade e os amores que irá ganhar, e, ao ganhar, irá perder, por entre os dedos.” Me deu um longo beijo e voltou a fitar meus olhos. Foi a primeira que perdi (em 23 de janeiro de 1969, dia do meu aniversário). Uma mulher bem mais velha que eu, nunca mais a vi. 128


“Do fundo do meu coração”

Linda passou pela minha vida; se marquei ou não, agora é hora de partir; e, como um cometa, meu brilho vai apagando lentamente; talvez o dia virá com chuvas de lágrimas e rajadas de saudades. As luzes da cidade vão continuar a brilhar, a rua que você morava ainda tem os meus passos rasgando a madrugada fria e escura; eu, molhado pela garoa, e você, nos braços de outro. Não quero me despedir de você sem um lenço na mão, para a despedida... ou secar minhas lágrimas.

Um pobre mendigo passa na sua rua mendigando um pedaço de pão; eu venho logo atrás, mendigando seu amor; o mendigo ganha pão, e eu não ganho nada. (Nery Mesquita, 22/02/2000)

Flor, pela realidade, eu partirei primeiro, quero não te esquecer, do fundo do meu coração! Devido ao meu jeito, minha profissão de estar no meio das pessoas, conheci muitas mulheres, inclusive você. Tive muito cuidado na travessia da ponte, com tantas conquistas. Uma seria diferente; então, mais tarde, que descobri que era você, como um barco que já tivesse deixado o porto. Encontrei outro barco, com a tripulação definida; então, estou fazendo o trajeto de volta e, na caminhada, lembrei... irá perder por entre os dedos. Estou mais uma vez em suas mãos, faça o melhor para você, lembrei..., ... por entre os dedos... 129


Retalhos: poesia, contos, histórias

Um amante percorria as ruas frias da madrugada, quando, ao passar por ele, um casal conhecido perguntou, “cara, o que faz sozinho perambulando pelas ruas?” O vagabundo abaixou a cabeça e continuou andando, só ele sabia que não estava sozinho, havia alguém dentro dele!

Estou de joelhos na frente do carrasco, olhando a lâmina da gui-

lhotina, pronta para terminar mais um condenado; será a primeira vez que não irá cortar a cabeça; dessa vez, vai cortar o coração.

O frio corta o rosto do viajante que, mesmo assim, continua sua viagem; vai andando pela escuridão da noite fria, sem destino, com medo, mesmo assim, continua sua viagem. Alguém passa e pergunta ao viajante: “vai para onde?”. Ele responde: “não sei”. Alguém comenta: “coitado, está perdido!”.

A madrugada fria anuncia a chegada da solidão. Você sozinha. Eu também. Por que não cheguei primeiro dentro do seu coração? Por que o tempo nos levou por caminhos tão diferentes? Angústia de não ter você em meus braços e em nossos corpos sentirmos o calor da paixão... O tempo passa, e eu , sentado aqui, com minha taça de vinho, sem poder fazer nada contra esse tal destino! 130


“Do fundo do meu coração”

Eu não tenho mais tempo; eu não peguei meu tempo. Nossa! Que tempo que corre tão rápido, que ele passou entre meus dedos! Falando, agora, já passou uma parte do tempo. O vento, passando, mexendo meus cabelos, e só agora que percebi que o tempo coloriu meus cabelos de branco. Ôh, tempo mau!

Uma vida começa com muita alegria e esperança. Mas, a vida passa, e , quando olhamos, já estamos no final da linha. É hora de começar a fazer as malas.

O trem da vida vai passar e ganhamos a passagem de ida. Na plataforma da estação não tem ninguém com um lencinho branco de despedida. Estou indo, deixando para trás um ponto de interrogação: quem foi esse homem?!

131


Retalhos: poesia, contos, histórias

Meu respeito a todas as Lojas Maçônicas (Paz amor III, casa de meu pai Venerável Mesquita e do meu filho Rogério Mesquita).

Para Wilma Agradeço a Deus por ter colocado em meu caminho essa mulher de fibra, honestidade, caráter, amor e superação, espero que Deus, com sua imensa glória, reservada aos justos, pague por mim o prêmio que ela merece. Obrigado, Dona Wilma, sua simplicidade me trouxe até aqui!

Nery Mesquita 132


“Do fundo do meu coração”

133


Retalhos: poesia, contos, histórias

134


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.