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inovação & desenvolvimento

comCENTRO 31 MAIO 2010

Incubadora do Parque Tecnológico de Óbidos já tem lotação esgotada pág. 6

Presidente da Câmara, Telmo Faria, está satisfeito com a resposta do tecido empresarial do concelho

J. Norberto Pires

ESPAÇO

“Critical é das melhores empresas mundiais de certificação” Bruno Carvalho gestor do mercado espaço, já aponta para outros voos...

Coimbra na “pole position” dos carros eléctricos

opinião

Como começar?

págs. 4 e 5

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Gonçalo Quadros

Está na altura de pormos mãos à obra

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Reflexões

Parques de ciência e tecnologia

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O GOVERNADOR CIVIL DE COIMBRA APOIA O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DO DISTRITO.


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Ponto de vista

Está na altura de pormos mãos à obra

Como começar?

Norberto Pires

Presidente do CA do Coimbra iParque

H

Director António Abrantes Sub-Directora executiva Eduarda Macário coorDenaDor científico J. Norberto Pires Director comercial Luís Filipe Figueiredo ProjectoS eSPeciaiS Soares Rebelo DePartamento Gráfico Carla Fonseca ProDução ProPrieDaDe Sojormedia Beiras, SA Contribuinte n.º 508535115 Sede, Redacção e Administração Rua 25 de Abril, n.º 7

á uns dias li um artigo muito interessante do Prof. Daniel Isenberg, actualmente professor do Babson Colleage (Massachusetts, EUA). Falava ele da necessidade de criar ecossistemas de inovação adaptados à realidade do país, região, ou cidade que o pretende instalar, em vez de copiar modelos que tiveram sucesso mas que são dificilmente transportáveis para outros locais, dadas as diferenças regionais e de condições económicas, sociais e políticas entre o local de origem e aquele em que se quer replicar o modelo. Na verdade esse é um verdadeiro problema, nomeadamente em Portugal. Procura-se muito copiar modelos (com nomes fortes e sonantes), para emular o sucesso de outros, mas não se atende à especificidade da local, aos condicionalismos, às condições básicas que é necessário fomentar, e à cultura de inovação que é necessário instalar. Isso significa identificar bem a situação e desenhar um ecossistema que aproveite as potencialidades existentes, desenvolva aquelas que são necessárias e crie uma verdadeira cultura empreendedora. Segundo Isenberg existem algumas regras para criar um ecossistema de inovação, as quais resumo a seguir e que vão de encontro também ao que eu penso. 1. Parem de tentar copiar o Silicon Valley: desenvolveu-se sob um conjunto muito particular e único de circunstâncias locais, numa época própria, num momento próprio da Universidade de Stanford e teve alguma sorte. Hoje o Silicon Valley provavelmente não conseguiria nascer de novo, nem que quisesse. 2. Prestem atenção às condições locais: que universidades, que áreas de I&D, que tipo de recursos humanos, que empresas, que empreendedores, que infra-estruturas, etc., podem alavancar o ecossistema. O ecossistema a realizar tem definitivamente de estar correlacionado com as condições locais, pois só assim maximizará resultados e terá hipótese de sucesso. 3. Envolvam a iniciativa privada: não fazem sentido ecossistemas públicos, ou que não envolvam desde o início e de forma decisiva a iniciativa privada. É uma nova forma de pensar que temos de adoptar em Portugal. 4 Identifiquem as iniciativas com maior potencial de crescimento: e apostem essencialmente nessas iniciativas (empresas) e respectivos (empreendedores). A inovação e o empreendedorismo não têm nada de democrático, antes pelo contrário vivem muito da

lei do mais forte . É necessário deixar isso bem claro, investir na qualidade e na capacidade de crescimentos, até porque isso ajuda a criar uma cultura empreendedora. Os sucessos devem ser celebrados, até com exagero. 5. Não protejam demasiado as empresas: uma incubadora é um local onde as empresas se desenvolvem, mas não estão protegidas do mercado, nem têm acesso a dinheiro fácil. As incubadoras fornecem serviços, porque os têm bem organizados, mas não escondem o mercado, a necessidade de rigor e a dificuldade de obter financiamentos. É um erro proteger demasiado, porque no final, quando deixarem de ter protecção, muitas dessas empresas morrerão. E não terão criado uma cultura inovadora e empreendedora. É um duplo falhanço. 6. Não crie clusters artificiais, deixe-os crescer de forma orgânica: isto é, devem ser identificadas as mais-valias, desenhando a forma de suporte tendo em conta os caminhos e opções já tomadas pelos empreendedores e respectivas empresas. As medidas devem suportar o caminho definido, dando mais força às linhas identificadas como estratégicas, sem tentar forçar novos caminhos (não testados), nem criar novas iniciativas que possam ser artificiais ou mesmo destrutivas. 7. Facilitem a vida aos empreendedores nos aspectos legais e na celeridade da aplicação de regulamentos. A pior coisa que pode acontecer é a existência de uma burocracia pesada que pára a iniciativa e/ou desencoraja aqueles que pensam em tomar iniciativas empresariais. Todo o investimento que tenha como objectivo simplificar procedimentos e burocracias, aumentando a eficiência do sistema legal é bom para o ecossistema de inovação. Ou seja, a acção deve ser colocada no envolvimento da iniciativa privada, na identificação e promoção das boas iniciativas e dos empreendedores com sucesso, na criação e desenvolvimento de uma cultura empreendedora que tenha impacto na educação (desde os primeiros anos dos sistema de ensino), na remoção da burocracia e das barreiras legais, ter cuidado na selecção de clusters e na condução das incubadoras (recusar o artificial, ou seja, clusters forçados e incubadoras que protegem demais as empresas), na selecção de politicas que tenham como objectivo o crescimento económico que só poderá ser obtido com empresas sólidas que cresceram rápido mas de forma sustentada.

Gonçalo Quadros CEO da Critica Software

A

zona Euro está debaixo de enorme pressão. Não nos podemos surpreender. Os mecanismos do Euro para a coesão e convergência não produziram resultados suficientemente bons, ou seja, continuam a existir dentro do mesmo espaço económico economias com ritmos e características muito diferentes. Economias fortes como a alemã ou as dos países do norte, convivem com economias débeis como a portuguesa ou a de outros países do sul. Não sendo economista não me parece complicado perceber as debilidades portuguesas e o que temos que fazer. 1º - Não podemos gastar mais do que aquilo que temos. E não podemos pressupor que vamos ter mais no futuro próximo. Gaste-se menos então! 2º - Não podemos continuar a pedir emprestado para pagarmos as nossas contas. O dinheiro emprestado tem de ser visto como um bem escasso (agora isso está bem à vista) deve ser utilizado para nos tornar mais fléxiveis, ágeis, na tomada de decisão ou para construirmos o nosso futuro; não pode fazer de receita, ou seja, ser utilizado para pagar as nossas contas ou os nossos vícios mais caros. Estimule-se a a poupança interna, reduza-se a nossa dependência

do dinheiro dos outros! 3º - Temos de crescer; é muito urgente crescer. Uma parte importante dos nossos gastos e dos empréstimos que os suportam foram justificados pelo aumento da receita que iriam provocar no futuro. Os gastos foram feitos, o aumento da receita tem de acontecer senão estamos fritos. Apostemos na qualificação e nas empresas que exportam! Os países mais débeis não só não se aproximaram do desempenho das melhores economias, como se habituaram a níveis de bem-estar, trazido pelos programas de coesão, que agora tomam por adquirido mas que não conseguem suportar. Antes do Euro era utilizado o mecanismo de desvalorização da moeda para eliminar desequilíbrios entre economias, ou seja, para modelar o poder de compra nos diferentes países com a correspondente capacidade de geração de riqueza. Hoje, na zona Euro, esse mecanismo não existe. É fácil perceber que quem produz menos não pode comprar o mesmo que quem produz mais. Quem produz menos, tem de receber menos. E receber menos não é receber o mesmo salário numa moeda com um valor mais baixo. Receber menos é mesmo receber um salário mais baixo (pago numa moeda com um valor que se mantém inalterado). Va m o s s e r c a p a z e s d e aceitar que temos de receber menores salários? Não


Parques de ciência e tecnologia (3) será melhor fazermos o que temos a fazer, já, para produzirmos muito mais? A queixa recorrente é algo que nos está nos hábitos – e note-se que não falo apenas de Portugal mas da generalidade dos países da Europa. Achamos que quem nos governa não presta, mente, não tem competência... Escárnio e maldizer são, de facto, cantigas antigas nesta Europa habituada a ser servida. O que é certo é que em Portugal, por exemplo, estes últimos trinta e tal anos trouxeram um novo país. Um país bem melhor. Temos muito mais do que o que tiveram os nossos avós; na educação, no potencial das oportunidades que nos são dadas, ou em quase todos os aspectos para que queiramos olhar. O que me parece que não evoluiu como devia é a nossa atitude. Muitos europeus desde há muito tempo revelam falta de bom senso no que toca ao conforto em que vivem - nunca julgam que é demais. Vive-se muito mais, mas há uma enorme dificuldade em alterar a idade da reforma ou os seus valores (imagino que para alguns o tempo de vida activa seja já menor do que o tempo em reforma); temos p o u c o s fi l h o s p o r q u e e l e s complicam a nossa progressão na carreira ou incomodam as nossas idas ao cinema; mas não dispensamos as reformas folgadas que os mais novos têm de nos pagar; queremos mais tempo de férias, menos horas de trabalho, melhores salários, mesmo quando as empresas em trabalhamos estão em coma profundo...; exigimos ao estado emprego, e que a todos dê à borla mais educação, melhores estradas, e sei lá mais o quê. E n fi m . P r e c i s a m o s q u e alguém nos lembre novamente que está na altura de perguntarmos o que podemos fazer pelo país em que vivemos em vez de perguntarmos o que ele pode fazer por nós. Está na altura de pormos mão à obra.

Durante o ano passado recolhi informação sobre as incubadoras existentes no país. Sem querer ser muito exaustivo aqui na apresentação de resultados dessa pesquisa, gostaria de realçar as seguintes conclusões: No que diz respeito aos preços por m² (gabinetes e pavilhões), verifica-se uma grande variação dependendo do centro ou parque onde as incubadoras se inserem, mas em geral é um preço reduzido nos primeiros (3 a 4) anos de instalação da empresa; Relativamente à dimensão dos gabinetes estes variam 10 e 66 m². Só num caso é que se apresenta alternativa superior a 200 m² (Lispolis). Todos os gabinetes se encontram devidamente equipados; Em relação à possibilidade de instalação em pavilhões só o Centro Empresarial de Aveiro (todos os pavilhões têm dimensões de 650 m²) e o TagusPark (dimensões até 1000 m²) é que contemplam esta possibilidade. Na sua grande maioria os centros de incubação disponibilizam os seguintes serviços: Apoio de secretariado; Atendimento de chamadas telefónicas; Limpeza; Utilização de sala de reuniões; Serviço de contabilidade e apoio jurídico; Gabinete de apoio à propriedade intelectual; Gabinete de apoio a financiamentos e projectos. As incubadoras valorizam de uma forma geral os seguintes aspectos na avaliação das candidaturas de empresas: Ligações com universidades ou instituições de I&D; Capacidade de desenvolvimento, elevado grau de inovação do projecto de negócio; Exploração e difusão de novas tecnologias; Potencial de crescimento e internacionalização; Envolvimento em actividades de investigação e desenvolvimento. O caso do iParque Coimbra dispõe de uma incubadora de empresas de sucesso o Instituto Pedro Nunes (IPN) que garante, de forma eficaz, a incubação de novos projectos empresariais, em particular para as empresas de base tecnológica. Com a infra-estruturação do iParque passam a estar disponíveis no Centro de Portugal espaços para empresas de inovação tecnológica que queiram construir as próprias instalações num espaço privilegiado para o desenvolvimento da sua actividade. A lacuna que se mantém é para as empresas que estão num estádio intermédio de desenvolvimento: as que já não

sendo empresas de incubação, não têm ainda dimensão para construir a sua própria sede, preferindo arrendar instalações e usufruir de serviços partilhados com outras empresas com necessidades semelhantes. Neste sentido, o Coimbra Inovação Parque (iParque) pretende oferecer soluções a empresas que procuram espaços de qualidade para arrendar, desfrutando de serviços que possam ser oferecidos de forma comum às várias empresas. Este conceito de espaço empresarial tem por base a necessidade por parte das empresas de se concentrarem na sua actividade empresarial, aplicando as suas energias e recursos exclusivamente no desenvolvimento do seu negócio, no fortalecimento das suas soluções e respectiva presença no mercado. Para além disso, querem beneficiar das sinergias que podem estabelecer com as restantes empresas que apostam no mesmo conceito, bem como com as empresas de maior dimensão que estando instaladas na região (nomeadamente no iParque) apostaram na elaboração de uma sede própria. Acresce que nos tempos que correm, as empresas sabem que têm de estar visíveis no ambiente adequado. A visibilidade é fundamental, mas também é crítico que seja imediatamente apercebido qual o tipo e posicionamento da empresa. O local certo, o ambiente adequado, a escolha do enquadramento é uma imagem de marca cada vez mais importante. O iParque está particularmente interessado em empresas da área da saúde, nomeadamente nas áreas de software, equipamentos, serviços de apoio a diagnóstico, novos métodos clínicos e de diagnóstico, etc., constituindo um cluster que permita dinamizar esta área

estratégica na região de Coimbra. As ciências e tecnologias da saúde são uma das áreas estratégicas do iParque, a par de outras (ciências e tecnologias da informação e multimédia, telecomunicações, automação e robótica) que são complementares e potenciadoras de sinergias que são fundamentais para a competitividade do sector da saúde na região centro. Isto significa: Espaço de qualidade, devidamente infra-estruturado e preparado para a actividade empresarial; Avaliação dos planos de negócio, e respectivas áreas, fazendo uma selecção rigorosa das empresas a admitir. A ideia é a de potenciar o desenvolvimento conjunto, tendo em conta o plano estratégico do iParque, promovendo sinergias entre as empresas bem como uma relação próxima que permita a presença conjunta no mercado; Conjunto de serviços comuns: contabilidade, assessoria financeira, assessoria para programas de financiamento, serviços jurídicos, serviços administrativos e de secretariado, atendimento e acompanhamento em eventos, comunicações e informática, correio, serviços de vídeo-conferência, etc; Interligação com os serviços fornecidos pelo Edifício Administrativo do iParque, o qual inclui salas de reunião, salas para eventos, dois anfiteatros, salas de formação devidamente equipadas, datacenter, restaurante, etc. Gestão e promoção do espaço, e das empresas instaladas, de forma individualizada e vocacionada para para a prestação de serviços às empresas instaladas respeitando a confidencialidade de cada uma, mas actuando como se fossem parte de uma estrutura comum com objectivos comuns.

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Soares Rebelo

Entrevista Bruno Carvalho, gestor de desenvolvimento de negócio da Critical Software para o me O projecto Cryosat permitiu à empresa de Coimbra demonstrar a sua capacidade e competência e aproximarse não só da ESA, mas também de um dos principais actores no mercado europeu da construção de satélites - a EADS Astrium, com sede em Munique. Tem, assim, como reconhecem os seus próprios responsáveis, lugar garantido noutros voos…

DIÁRIO AS BEIRAS – Que responsabilidades incumbiram à Critical Software neste último projecto espacial da ESA? BRUNO CARVALHO - Por exigência dos níveis de confiança que a ESA e a Astrium (responsável pela construção do satélite) necessitavam, à Critical Software foi pedido que levasse a cabo uma avaliação independente do software do CryoSat2. A validação pretende garantir que tudo funciona como foi especificado e está de acordo com os requisitos definidos para a missão. A verificação analisa o processo e garante que o produto final foi construído de acordo com as normas e exigências técnicas deste tipo de projectos. Responsáveis da Critical Software consideraram o lançamento do CryoSat-2, no passado dia 8 de Abril, “um momento muito especial” para a empresa. Porquê? A missão CryoSat foi uma das primeiras missões espaciais onde a Critical Software esteve envolvida. Esse envolvimento começou em 2002, quando a empresa venceu o concurso para realizar a verificação e validação na primeira versão do CryoSat, cujo lançamento, infelizmente, falhou em 2005. Ora, o lançamento CryoSat-2, bem sucedido, representa o culminar de cerca de oito anos de actividade e um justo prémio para o consórcio de que a Critical Software fez

parte, bem como para todos os que estiveram envolvidos nesta missão. A empresa refere ainda “responsabilidade social a cumprir”… … e que leva muito a sério. Poder participar em projectos que vão contribuir, de forma decisiva, para uma melhor compreensão do complexo problema que é o aquecimento global e as alterações climáticas que daí advêm, é um privilégio e um factor de motivação. A que meios, materiais e humanos, teve a Critical Software de recorrer para levar a cabo o seu trabalho? Nestes últimos oito anos, contando com a primeira versão do CryoSat, a Critical Software envolveu mais de uma dezena de engenheiros nas actividades sob a sua responsabilidade. Parte dessa equipa teve de trabalhar durante alguns períodos de tempo, entre algumas semanas a alguns meses, nas instalações da Astrium, em Munique, Alemanha, onde o satélite foi construído. A empresa está satisfeita com os resultados desta nova parceria com a ESA? Sim. Como já foi referido, esta foi uma das primeiras missões espaciais onde a Critical Software esteve envolvida, mas foi também o reconhecimento, pela ESA, de que a Critical Software é uma empresa capaz e competente na sua área. Junto da ESA, somos reconheci-

O lançamento do CrioSat-2, bem sucedido, representa o culminar de cerca de 8 anos de actividade e um justo prémio para o consórcio de que a Critical Software fez parte

dos como uma das melhores empresas à escala mundial a fazer validação e verificação de software, tendo sido convidados pela agência a desenvolver um guia que permitisse definir e melhorar esse processo e servisse de base à aferição das competências de outras empresas. Quais são os grandes objectivos do programa “Exploradores da Terra”? Enfrentamos hoje mudanças ambientais que são um problema à escala mundial, ao não se restringirem a regiões específicas e nem podendo ser analisadas isoladamente. Estas mudanças são determinadas não só pelas alterações climáticas, mas também pelo impacto que uma população em crescimento e uma economia que explora os recursos ao máximo imprimem no planeta e no seu ambiente. Os satélites “Exploradores” irão contribuir para o estudo dos fenómenos que influenciam o ambiente terrestre e para melhor compreendermos o sistema Terra. De que forma? Os “Exploradores da Terra” são um dos elementos de um plano mais vasto que é o “Planeta Vivo” (do inglês “Living Planet Programme”). Os “Exploradores” são o elemento dedicado à investigação e à ciência e as suas missões focam-se na atmosfera, biosfera, hidrosfera, criosfera e no interior da Terra, com o objectivo global de compreender melhor a interacção entre estes elementos e o impacto que a actividade humana está a ter nos processos naturais do planeta. Há assim tanta necessidade – e tanta urgência - em determinar como é que a espessura do gelo, quer da terra quer flutuando nos oceanos, está a mudar? A missão original do Cryo-

“Critical voar at à Lua e M

Sat era precisamente averiguar se a camada de gelo estava a diminuir não só em área mas também em espessura. Entretanto, nos últimos cinco anos e com os dados que foram disponibilizados por outras missões, foi possível verificar que realmente existe uma diminuição da camada de gelo. A missão CryoSat-2 foi assim reajustada, e os seus instrumentos afinados, para caracterizar essa tendência de diminuição. É difícil determinar com exactidão a velocidade a que as camadas de gelo diminuem. Espera-se que o CryoSat-2 possa dar um contributo

decisivo para que seja possível construir modelos matemáticos que possam prever qual será a evolução real do degelo. Estima-se que, desde 1978, as camadas de gelo diminuíram cerca de 2,7% por década. A urgência prende-se com o verificar de qual a relação entre os, cada vez mais frequentes, fenómenos climatéricos extremos, o aquecimento global e o degelo. O CryoSat-2 é o sucessor do CryoSat, que foi perdido devido a uma falha de lançamento em Outubro de 2005, altura em que a ESA decidiu avançar para uma versão 2 do mesmo satéli-


quer té Marte” DR

te. Justifica-se o investimento? O investimento numa segunda versão não é tão grande como na primeira, pois todo o trabalho de definição e especificação da missão já foi feito, o que costuma absorver uma parte significativa do orçamento previsto para uma missão nova. Mais, a ESA e a empresa responsável pelo lançamento do satélite contratam seguros na eventualidade de algum problema ocorrer, embora, em missões científicas, nunca cubra a totalidade dos custos. Ou seja, considerando o valor a investir pela agência, para o qual contribuem todos os

estados membros, a opção de construir um segundo satélite é racional. Depois, temos de considerar os objectivos da missão, o que, como já foi referido, são considerados de extrema importância, no contexto em que nos encontramos. Vários satélites analisam actualmente as extensões de gelo, nomeadamente os europeus Envisat e ERS e o americano IceSat. Porquê mais um? Os satélites têm um tempo de vida útil que normalmente é determinado pela quantidade de combustível que têm disponível para se manterem na órbita correcta. O EnviSat, lançado em 2002, e o ERS-2, lançado em 1995 (o ERS-1 terminou a sua missão em 2000), estão já em idade avançada e as suas missões já foram consideravelmente estendidas face ao inicialmente previsto, o que tem implicado uma gestão criativa do combustível por parte dos seus controladores. O satélite ICESat, promovido pela NASA, foi lançado em 2003 e terminou a sua missão em 2009. A NASA iniciou já a construção do ICESat-2, cujo lançamento está previsto para 2015. São, então, indispensáveis novas missões? De facto, para garantir a continuidade dos dados. Além disso, a evolução tecnológica permite construir instrumentos cada vez mais precisos. A própria missão CryoSat, porque foi lançada cinco anos depois do que estava previsto, sofreu alguns ajustes e optimizações dos seus instrumentos. O objectivo último passa sempre por as missões subsequentes serem complementares às anteriores e não apenas redundantes. Estão previstas novas participações da Critical Software em missões futuras da Agência Espacial Europeia? A Critical Software participa activamente em várias missões da ESA e em várias áreas de competência. Além da participação, já referida, nos “Exploradores da Terra”, estamos presentes nos consórcios que estão a construir os satélites que representam o elemento espaço do programa GMES (Global Monitoring for Environment and Security) – os Sentinel – no programa Galileo, e a olhar

para o futuro das missões robotizadas a Marte e à Lua. A Critical Software, ao que têm publicamente revelado os seus responsáveis, não quer limitarse a detectar meras fugas de segurança nos satélites “Exploradores da Terra”. Que outros objectivos estão previstos? No programa GMES, em particular no Sentinel-2 e no Sentinel-3, somos responsáveis pelo desenvolvimento de todo o software. Um nível de responsabilidade superior perante os nossos parceiros no consórcio e perante a ESA. Estamos também envolvidos noutros componentes das missões: processamento de dados recolhidos pelos satélites, simuladores para treino dos operadores, etc. O Cryosat foi um dos primeiros projectos espaciais em que a Critical Software esteve envolvida. Isso ajudou a abrir-lhe portas à internacionalização? Para quem trabalha, também, para o sector Espaço, a internacionalização é inevitável. A Critical Software não tem um único cliente nesse mercado em Portugal, embora trabalhe com alguns parceiros nacionais. O CryoSat, tendo sido uma das nossas primeiras missões, permitiu-nos demonstrar a nossa capacidade e competência e foi uma oportunidade de nos aproximarmos não só da ESA, mas também de um dos principais actores no mercado europeu da construção de satélites, a EADS Astrium. Num mercado que é, por inerência, exigente e competitivo, a Critical Software soube aproveitar a missão CryoSat para se afirmar e garantir que as portas lhe eram abertas nas missões seguintes. Em que novos projectos tecnológicos inovadores está a Critical Software envolvida? Acho que o mais carismático neste momento, na área do espaço, será o sistema operativo que a Critical Software está a desenvolver para ser instalado nos futuros exploradores robóticos interplanetários. O csXLUNA, como é denominado, já foi demonstrado com sucesso no robô de testes da ESA, que serve de base à definição do robô que deverá ser enviado para Marte em 2018. Se tudo acontecer como o previsto, este sistema operativo será testado, a bordo de um satélite, em 2013.

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Ora diga lá, senhor autarca

Pelas Beiras

Telmo Faria, presidente da Câmara Municipal de Óbidos

Parque tecnológico garante desenvolvimento ao concelho Embora o momento não seja o mais favorável, o concelho de Óbidos continua a desenvolver-se, mercê da aposta municipal numa política de apoio à inovação e à criatividade.

te, essa vertente da captação de investimento privado. O Município investiu até ao momento, de forma directa e indirecta, cerca de três milhões de euros no Parque Tecnológico, mas, pouco mais de um ano depois da conclusão das infra-estruturas, o investimento privado já é superior ao investimento público, através das duas empresas instaladas. Este é um sinal de que os resultados para a economia local e regional serão duradouros, projectando-se ao longo dos próximos anos.

Que mais-valias têm resultado do parque tecnológico para a economia do concelho de Óbidos? O primeiro resultado, com consequências imediatas, é o da fixação e criação de emprego. Temos, neste momento, duas empresas instaladas e em actividade no Parque Tecnológico de Óbidos, que empregam um total de cerca de 150 pessoas, com um elevado nível de qualificações e de competências, a par de uma média de idades muito jovem. Existe, ainda, a incubadora do Parque Tecnológico, a funcionar no Convento de S. Miguel das Gaeiras, onde se encontram instaladas 10 empresas e onde trabalham cerca de 30 pessoas. E tem havido captação de investimento privado? Para além da dimensão do emprego, deve também salientar-se, realmen-

Está já aprovada uma nova comparticipação comunitária de quatro milhões de euros. Em que vai ser investida essa verba? Este novo investimento vai ser concentrado na Praça Central do Parque Tecnológico, onde serão construídos dois edifícios. Um deles terá a componente de gestão e de business center, funcionando como o pulmão da vida social do Parque, com auditório, cafetaria, restauração, salas de reunião, serviços de videoconferência e alguns espaços para instalação de empresas. O outro edifício receberá uma incubadora de empresas, apoiando e incubando o desenvolvimento de projectos no sector criativo (com destaque para áreas como as tecnologias de informação, a comunicação, comunicação social, arquitectura, design e a cultura). O concurso de ideias para estes edifícios centrais, a funcionar de forma aberta, será brevemente lançado. A que se dedicam e desde quanto estão em laboração as duas empresas já instaladas no parque tecnológico? A Janela Digital, empresa integrada no universo da Portugal Telecom e que é líder na Península Ibérica em aplicações para o mercado imobiliário, encontra-se instalada em actividade desde Fevereiro de 2009. A CreativeLand, uma spin-off do Campo Aventura, empresa já em actividade no concelho há vários anos, com enorme experiência em campos de férias, animação e conteúdos para jovens, encontra-se em acti-

vidade desde Fevereiro deste ano. Há outras empresas interessadas? Temos, neste momento, três empresas em instalação em edifício próprio no Parque Tecnológico e que iniciaram já a sua actividade no concelho, antes de terem lá o seu edifício concluído. É o caso da Várzea da Rainha, com uma oferta inovadora na área do print on demand, da Ambisig, especializada em tecnologias de informação e com vasta experiência na área do ambiente e dos sistemas de informação geográfica, e da Óbidos Records, um projecto com uma forte componente inovadora na área da música e do entretenimento digital. Qual o impacto dos apoios financeiros da câmara aos projectos tecnológicos no orçamento municipal? O Município de Óbidos desenha e adopta políticas de apoio e de estímulo às áreas que considera centrais para o seu desenvolvimento, com destaque para a inovação e criatividade, mas não subsidia nem disponibiliza apoios financeiros directos. O impacto dos apoios financeiros aos projectos tecnológicos no orçamento é, desta forma, nulo ou residual. Um dos programas que pode ser salientado, neste contexto, é o pacote de incentivos fiscais para as empresas instaladas, o Óbidos Tax Free. Este pacote confere isenção de derrama (sendo esta isenção generalizada a todas as empresas do concelho), de IMT, IMI (por cinco anos, eventualmente prorrogáveis) e das taxas municipais associadas ao processo de construção e instalação. Apesar de relevantes para as empresas que se instalam no Parque Tecnológico de Óbidos, estes incentivos não têm um impacto directo relevante sobre o orçamento municipal. O tecido empresarial do concelho está a revelar empenho na inovação e na melhoria da sua competitividade? Diria até que de forma muito empenhada. Num momento de grande cepticismo, sentimos que continua a existir desenvolvimento e aposta em novos projectos a surgir no concelho.

Coimbra

Universidade pretende novo supercomputador A Universidade de Coimbra candidatou ao QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional a instalação de um novo super-computador, com cerca de cinco mil processadores e uma capacidade de cálculo 20 vezes superior à do Milipeia, considerado essencial para dar um salto qualitativo e quantitativo na investigação científica e consolidar a posição de destaque que Coimbra e a região Centro já ocupam no panorama da supercomputação.

C. Branco

“EST Shutdown” poupa energia no Politécnico A Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo Branco desenvolveu um software que garante a monitorização remota dos seus computadores. Sempre que o período de inactividade de um deles ultrapasse um tempo definido e se verifique um conjunto de condições previamente programadas, o “EST Shutdown” enviará uma ordem para o seu encerramento, evitando, assim, gastos supérfluos de energia.

Aveiro

Investigação faz avançar nanotecnologia Investigadores da Universidade de Aveiro, descobriram, com a colaboração da Universidade de Telavive (Israel), novas funcionalidades na área da nanotecnologia, que poderão abrir uma nova era na utilização de materiais piezoeléctricos em aplicações médicas e biológicas.


O projecto, que completa o Mobi-E – Programa da Mobilidade Eléctrica no nosso país, une a Universidade de Coimbra a empresas como a inCharge, a ISA, a Norchapa e o Tecnical Studio.

D

epois do pioneirismo na criação de uma rede integrada de carregamento de carros eléctricos, o nosso país vai dispor também de uma infra-estrutura com capacidade para produzir carros eléctricos em série. O projecto está a ser desenvolvido pela inCharge - Sustainable Mobility Solutions, constituída por um grupo de parceiros experientes e com valências complementares, em que se incluem a Universidade de Coimbra, onde decorrem estudos sobre sistemas avançados de carga de bateria e a ISA – Intelligent Sensing Anywhere, especializada em telemetria, gestão remota e soluções de eficiência energética. Juntamse-lhes, o Technical Studio, centro francês de investigação e design automóvel, a Norchapa – Corte e Quinagem de Chapa, empresa de promoção, gestão e execução do ramo metalomecânico em serralharia de produtos em aço inox e o CEIIA – Centro de Excelência e Inovação para a Indústria Automóvel, sediado no TecMaia. O objectivo consiste em contribuir decisivamen-

te para um ambiente mais sustentável, para o combate às alterações climáticas, para a eficiência energética e para a redução dos custos associados à mobilidade. Segundo Fabien Macaire, fundador da inCharge e já com mais de 13 anos de experiência na indústria automóvel, o projecto é “resultado de muitos anos de investigação, desenvolvimento e experiência acumulada” e envolve um investimento que já superou os dois milhões de euros e que totalizará cinco milhões até 2014, criando 70 postos de trabalho directos e indirectos. little4 poderá ser guiado sem carta O primeiro carro em produção na inCharge é o Little4, que já está homologado em Portugal e na Europa e já conta com encomendas pendentes para Espanha, França e Itália. Trata-se de uma viatura que pode ser conduzida sem carta e possui um modelo com e outro sem portas. A linha de montagem, localizada em Fafe, no distrito de Braga, é uma plataforma flexível e polivalente

para a montagem de várias pequenas séries de veículos eléctricos, havendo já contactos avançados para o início, ainda este ano, da produção de um mini-bus de seis ou oito lugares e também de alguns modelos desportivos. Na primeira fase, a capacidade instalada é de 450 carros por ano, tudo tendo sido concebido para que, num curto período de tempo, esta capacidade possa ser facilmente escalada. Veículos para curtas e médias distâncias Para valorizar mais a ideia do carro ecológico den-

tro do programa da mobilidade eléctrica em Portugal, a inCharge tem um projecto em curso com CEIIA para incorporar painéis fotovoltaicos no tecto do Little. A finalidade será dar mais autonomia ao carro e melhorar a sua gestão energética com utilização de energias renováveis. Por não produzirem quaisquer emissões e apresentarem um ruído quase n ulo, os carros eléctricos tornam-se especialmente adequados para serem usados em zonas de lazer. Assim, um dos grandes objectivos do projecto é desenvolver o conceito de veículo turístico não poluente, de baixo cus-

to (inferior a um euro por cada 100km) e que cumpra as funções de um verdadeiro guia turístico personalizado enquanto o turista se desloca livremente por uma determinada zona de interesse. Estão em curso, nesse sentido, trabalhos com a Direcção do Turismo e a Universidade de Aveiro, em parceria com o projecto AudioGuide (já em curso), tendo em vista que a electrónica que acompanha o veículo determina a sua localização instantânea, com recurso a um sistema de GPS. Dessa forma, o turista pode viajar livremente pela zona de interesse, ao seu próprio ritmo

Veículos para o século XXI Para apresentar sempre actualizações no mercado estão a ser preparadas novas parcerias com o CEIIA e a Universidade Coimbra para desenvolver três novos carros 1 - MicroCub. Soluções para mobilidade na cidade com um pequeno veículo evolutivo. Autonomia: 140 km. Capacidade: 4 pessoas em 2mx1,45m.

2. LITTLE TR. Roadster100% eléctrico, com motor à frente e atrás. Autonomia: 180 Km. A apresentação do protótipo terá lugar no Salão Mundial de Paris 2010.

3. GT-Hybride. Moto superdesportiva com uma marca nova, com motor eléctrico à frente, de 15 KW, e motor a gasolina atrás, com grande potência (aproximadamente 350 cv).

inovação & desenvolvimento

coimbra na “corrida” aos carros eléctricos

comCENTRO

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Universidade e ISA na “pole position”


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