comCENTRO_3

Page 1

10-0480

inovação & desenvolvimento

comCENTRO 30 ABRIL 2010

DR

Câmara de Oliveira do Hospital apoia inovação

José Carlos Alexandrino lamenta que algumas empresas do concelho esbarrem muitas vezes “num mundo de burocracia” quando se candidatam a fundos comunitários. pág.8

Cadeira de rodas conduzida pelo olhar “inventada” no Politécnico da Guarda pág.7

J. Norberto Pires

opinião

Dívida galopante

pág. 2

Reflexões

10/0481

A importância das incubadoras nos parques tecnológicos pág. 2

Critical no espaço A empresa de Coimbra acaba de registar novo sucesso internacional, através da sua participação no projecto “Exploradores da Terra”, da Agência Espacial Europeia, em que lhe incumbiu a responsabipág. 3 lidade de verificar e validar os sistemas de “software” mais críticos do satélite Cryosat 2.

Made in Portugal avança na Europa O nosso país subiu um lugar no “ranking” europeu de inovação, ocupando agora a 16.ª posição, à frente, entre outros, da Noruega e da Espanha. pág. 4 e 5

O GOVERNADOR CIVIL DE COIMBRA APOIA O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DO DISTRITO.


inovação & desenvolvimento

comCENTRO

2

Ponto de vista

Dívida galopante

É Norberto Pires

Presidente do CA do Coimbra iParque

P

Director António Abrantes Sub-Directora executiva Eduarda Macário coorDenaDor científico J. Norberto Pires Director comercial Luís Filipe Figueiredo ProjectoS eSPeciaiS Soares Rebelo DePartamento Gráfico Carla Fonseca ProDução ProPrieDaDe Sojormedia Beiras, SA Contribuinte n.º 508535115 Sede, Redacção e Administração Rua 25 de Abril, n.º 7

Parques de ciência e tecnologia (II)

ortugal (todos nós) construiu uma dívida pública que atingiu os 79% do PIB no final de 2009 e que deverá ficar pelos 108% do PIB no final de 2012. Quando a Argentina “estourou” em 2001 a sua dívida pública era de 62% do PIB, ou seja, a situação não era mais grave do que a nossa, actualmente. E foi o que foi, lembram-se? Sabendo-se que o PIB ronda os 164 mil milhões de euros (em 2009), e que Portugal tem cerca de 10 milhões de pessoas, isto significa que cada Português deve ao estrangeiro cerca de 16,4 mil euros. Vendo isto de outra maneira, cada criança que nasça em Portugal hoje, já nasce com uma dívida de 16,4 mil euros. Será por isso que cada vez nascem menos crianças no país? Os pais não têm coragem de lhes fazer tamanha maldade? A situação é verdadeiramente crítica e tem de ser encarada com seriedade, o que parece não estar a ser feito. O deficit orçamental previsto no orçamento de 2010 é de 8,3% (o de 2009 foi de 9,3%), ou seja, parece que o plano preparado para resolver o problema não é suficiente, ao ponto de Simon Johnson (anterior economista chefe do FMI) ter declarado recentemente que “os portugueses nem estão a considerar ainda cortes sérios”. Mas mais importante do que resolver o problema financeiro monstruoso que foi criado é atacar as causas que lhe deram origem. E as causas são bem claras: 1. Portugal vive acima das suas possibilidades, gasta mais do que aquilo que produz, isto é, tem um nível de

vida que não é compatível com os rendimentos que tem; 2. Não existe em Portugal, a todos os níveis, uma cultura baseada no trabalho como forma de obter resultados sustentáveis; 3. O mérito não é premiado como forma de incentivar as pessoas a ultrapassarem objectivos, indo para além do que lhes é solicitado; 4. Não existe uma cultura empreendedora e de risco, com bons exemplos, que incentivem as pessoas a contarem consigo próprias, desenvolvendo estratégias para melhorarem as suas condições de vida. Os Portugueses parecem vencidos, descrentes e desmotivados, o que torna muito difícil incentivá-los a fazerem alguma coisa por si próprios. Muitos, a maioria, limitam-se a esperar que algo aconteça e a reclamar de tudo e de todos; 5. Não existe uma cultura de exigência a todos os níveis, o que permitiu que a mediocridade se instalasse e criasse raízes procurando por todos os meios (corrupção e amiguismo) manter-se no poder; 6. Portugal não tem uma elite forte, honesta, culta e responsável, que possa ser referência de comportamento e garante da resolução eficaz e sustentável dos problemas que nos afligem. Muitos dos exemplos que recebemos são de pessoas que usam os lugares do Estado e das empresas para tratarem da sua vida ao arrepio dos mais elementares valores éticos e de solidariedade. São estes os nossos problemas. Sinceramente, não vejo propostas para os resolver, nomeadamente sabendo que alguns são problemas culturais que demoram gerações a solucionar.

muito relevante, num parque de ciência e tecnologia, avaliar a importância de criação de espaços para empresas tecnológicas de elevado potencial, as quais não tendo ainda dimensão para adquirir um lote de terreno no parque, ali se queiram instalar. Essas empresas, para além de um espaço físico flexível, precisam também de partilhar serviços de apoio à gestão e funcionamento que não podem suportar individualmente. Este conjunto de apoios a conceder às empresas será algo próximo de uma incubadora. A incubação de empresas é definida pela IASP (Associação Internacional de Parques de Ciência e Tecnologia) como um processo dinâmico de desenvolvimento empresarial, pelo qual as incubadoras ajudam a desenvolver jovens empresas, ajudando‐as a sobreviver e a crescer durante o seu período de start-up, quando são mais vulneráveis. As incubadoras fornecem a essas empresas serviços de apoio à gestão, acesso a financiamento e a outros serviços de apoio empresariais e técnicos vitais para o seu funcionamento e sucesso. Oferecem ainda serviços administrativos partilhados, acesso a equipamentos, espaços flexíveis em condições favoráveis num espaço comum. O fenómeno da incubação tem sido alvo de diversos estudos em que a pertinência da sua associação a parques de ciência e tecnologia é uma constante. Westhead (1997) defende que reflectem a presunção de que a inovação tecnológica provém da investigação científica e que os parques podem contribuir com o catalisador ambiente de incubação para a transformação de investigação “pura” em productos. Marques et al. (2003) definem as incubadoras tecnológicas como as que apoiam as empresas que baseiam a sua actividade em tecnologia. Estas, segundo os autores, encontram‐se dentro ou na vizinhança de universidades ou parques de ciência e tecnologia. Parece evidente a ideia de que um ambiente de incubação favorece o sucesso de empresas tecnológicas. Roure e Keely (1989) definem os seguintes factores facilitadores de disponibilidade de tecnologia ou de oportunidades de mercado no processo de criação de empresas de novas tecnologias: ‐ A presença de incubadoras; ‐ Mercado potencial atractivo, de preferência local; ‐ Universidades e centros de I&D com forte interacção com empresas; • Incentivos ou projectos governamentais ou contratos de compras públicas. Quanto às estratégias possíveis para captação de clientes para parques de ciência e tecnologia, destaca‐se como particularmente interessante a abordagem de Ylinenpää (2001), que apresenta os

casos do Madison University Research Park e do Technopolis de Oulu, para distinguir entre as duas grandes estratégias possíveis: atracção e incubação. A estratégia de atracção baseia‐se na capacidade de oferecer a potenciais investidores –empresas que estejam já no mercado – as infra-estruturas e os recursos humanos que elas procuram. Pelo contrário, a estratégia de incubação é centrada no desenvolvimento de uma organização de apoio a potenciais produtos e conceitos de negócio saídos de uma universidade ou centros de I&D. Devem também ser oferecidos serviços de apoio à gestão, de aconselhamento, de capital “semente” e de formação, bem como infra-estruturas flexíveis que permitam o desenvolvimento e expansão dos negócios. Conclui-se que normalmente as duas estratégias são combinadas nos parques, apesar de Ylinenpää (2001) defender que cada parque se deve concentrar na sua estratégia principal para não correr o risco de ficar, estrategicamente, em ‐terra de ninguém‐. Quanto às funções que uma incubadora exerce dentro de um parque de ciência e tecnologia, Marques et al. (2003) indicam que um objectivo importante de uma incubadora de empresas é ‐a produção de uma empresa de sucesso, que, uma vez abandonado o programa de incubação, seja financeiramente viável, independente e capaz de sobreviver face a forte concorrência‐. De acordo com Freire (2003), em apresentação feita sobre o caso do Taguspark, “essencialmente, um parque de ciência e tecnologia terá que acolher o empreendedorismo e apoiar a criação e desenvolvimento de novas empresas tecnológicas inovadoras, que sejam capazes no futuro de actuar com sucesso no mercado”. De acordo com dados da IASP, obtidos por inquérito elaborado a parques de ciência e tecnologia de todo o Mundo (nos últimos dois anos), 78% dos parques afirmaram ter uma incubadora, 12% não responderam e apenas 10% indicaram não ter incubadora de empresas no parque. Devo ainda realçar que 41% dos parques inquiridos afirmam gerir directamente a incubadora e 8% indicaram mesmo considerar a gestão da incubadora a sua actividade principal. Referências:

Westhead, P., “inputs” and “outputs of technology based firms located in and off Science Parks” R&D Management 27 (1), 45–62, 1997 Marques et al., Proceedings of IASP Congress, Estoril, 2003 Freire et al, Proceedings of IASP Congress, Estoril, 2003 Håkan Ylinenpää “SCIENCE PARKS, CLUSTERS AND REGIONAL DEVELOPMENT”, Paper presented at 31st European Small Business Seminar in Dublin, Sept 12 14, 2001 Roure, J.B., Keely, R.H., “Comparison of predicting factors of successful high growth technological ventures in Europe and USA”,


A

de espessura das calotes polares da Gronelândia e da Antártida, no âmbito de estudos destinados a determinar a evolução das alterações climáticas. “Orgulhamo-nos de participar nestas missões e de estar nesse limite tecnológico que é a fronteira com o espa-

ço”, declarou Bruno Carvalho, gestor de Desenvolvimento de Negócio da Critical Software na área do Espaço.

A Critical Software, fundada em 1998 como “spinoff ” da Universidade de Coimbra, está já a trabalhar com o consórcio que prepara um outro satélite a lançar

dentro de dois anos pela ESA e que vai analisar os campos magnéticos. A participação da empresa não se tem todavia limitado a detectar falhas do “software”, como aconteceu com o CryoSat-2. Noutros casos, tem desenvolvido o “software” de bordo ou o “software” de

controlo no solo, de análise dos dados e distribuição da informação recolhida. Está inclusivamente empenhada no desenvolvimento do próprio simulador do satélite, que é usado para treinar as equipas de controlo. “Este foi um dos projectos que ajudou a Critical a ser reconhecida internacionalmente, em particular na ESA, como uma empresa capaz de fazer este tipo de validações”, sublinha Bruno Carvalho. A Critical Software, cujo principal cliente, após a sua implantação, foi a NASA, é hoje um grupo empresarial com subsidiárias em Southampton (Reino Unido), San Jose, Califórnia (Estados Unidos), São Paulo (Brasil), Bucareste (Roménia) e Maputo (Moçambique).

10-0870

Critical Software acaba de registar novo sucesso internacional, através da sua participação no projecto CryoSat, da Agência Espacial Europeia (ESA), em que lhe incumbiu a responsabilidade de verificar e validar os sistemas de “software” mais críticos do satélite Cryosat-2, lançado no passado dia 8 de Abril para o espaço, a partir do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, trabalho que mobilizou cerca de uma dezena de engenheiros durante três anos. A missão, integrada no programa “Exploradores da Terra”, destina- -se a medir com precisão as alterações de espessura do gelo que flutua nos oceanos e as variações

inovação & desenvolvimento

Critical “voa” no CryoSat

comCENTRO

3

PEUGEOT

SERVICE QUALITY AWARDS

AUTOMÓVEIS DO MONDEGO

Vencedor 2009

AF_1_2P_MONDEGO_255X168_A.indd 1

3/30/10 10:54 AM


4-5 comCENTRO

ortugal subiu um lugar no ranking europeu de inovação, ocupando agora a 16.ª posição, à frente de países como a Noruega e a Espanha, tendo passado a fazer parte do grupo de “países moderadamente inovadores”. Esta tendência positiva foi recentemente confirmada pelo European Innovation Scoreboard de 2009, enquanto o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) realça, por seu lado, que a par da dinâmica na internacionalização da tecnologia concebida em Portugal, “2009 foi o melhor ano de sempre” em relação ao pedido de patentes nacionais. Em 2008, foram pedidas 83 patentes europeias e 100 patentes internacionais, valores que indicam, segundo o INPI, que “os requerentes nacionais estão a preferir a via da patente internacional face à via europeia, uma vez que no âmbito do pedido internacional podem designar a patente europeia”. Gonçalo Sampaio, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Consultores em Propriedade Industrial (ACPI), considera, no entanto, que o número de pedidos de registo de patentes em Portugal está ainda muito aquém das médias europeias, devido, nomeadamente, à “falta de cultura da protecção”. “Temos capacidade inventiva, ganhamos muitos prémios em feiras internacionais relacionadas com invenções, mas depois não as protegemos”, critica o secretário-geral da ACPI, para quem “o problema de Portugal é porventura o mais grave na área da inovação, que é inovar e não proteger”. Para o especialista em propriedade industrial, “o grande problema tem a ver com a cultura que não existe nos empresários e nos inventores de proteger”, considerando imperativo “ultrapassar o bloqueio cultural que existe”. Gonçalo Sampaio argumenta que, sem protecção, perde-se a oportunidade de divulgar a inovação nacional, bem como as respectivas vantagens económicas. “É dinheiro que se perde, sem dúvida”, afirma, expli-

P

avança na

Europa

“Made in Portugal”

INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO/INOVAÇÃO

inovação & desenvolvimento


ada ano, entre 10 a 20 projectos concluídos na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) “têm aplicação económica directa”, entre a centena que nesse período encerra a programação de financiamento. “Resultam, quer de ideias nossas, quer de interessados que vêm ter connosco”, garante João Gabriel Silva, director da faculdade, frisando que são consequência de “uma política muito intensa de ligação ao tecido económico e à sociedade”. É o caso da Ferreira Marques e Irmãos, S.A., a maior empresa nacional do ramo, detentora da marca Topázio, que procurou nos cientistas da UC a solução para o ene-

C

Coimbra desenvolve projectos com aplicação económica directa

cando que “a patente é um título atribuído a quem inventou, que passa a ter o direito ao monopólio do invento, o exclusivo da exploração, durante 20 anos”.

ma mão robótica inteligente, capaz de substituir a mão humana, está a ser desenvolvida por uma equipa de investigadores europeus, integrada por portugueses, cujo trabalho se centra na inteligência associada ao movimento. O objectivo do “HANDLE” é criar uma mão apta a identificar e manipular todo o tipo de objectos, como se de uma mão humana se tratasse. Liderado pela Universidade Pierre e Marie Curie, em Paris, o projecto envolve os Institutos de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior Técnico de Lisboa, por Portugal, e cientistas do Reino Unido, Espanha, Suécia e Alemanha, além da empresa de robótica Shadow (Londres). O trabalho da equipa de Coimbra foca-se no “estudo da percepção (com base no tacto e na visão) de objectos pelos humanos e no desenvolvimento de modelos matemáticos que serão usados na nova geração de mãos robóticas. “O que fazemos é a leitura da manipulação dos objectos para duplicar esse movimento. A maior dificuldade é sabermos como se deve manipular coi-

U

Mão robótica inteligente

grecimento da prata, por oxidação. Ana Paula Piedade, à frente de uma equipa do Centro de Engenharia Mecânica, desenvolveu um produto que trata a prata e a mantém sempre brilhante. Ivânia Marques, aluna de mestrado em Engenharia do Ambiente, sob orientação de Teresa Vieira, resolveu, por seu turno, um grave problema ambiental, o das lamas resultantes da indústria da caixilharia de alumínio, que habitualmente são depositadas em aterros industriais ou clandestinos em Portugal, e que no ano 2008 totalizaram 10 mil toneladas. Esses resíduos foram transformados em aditivo para argila vermelha, e os tijolos fabricados com a sua incorporação aumentaram em 34 por cento o isolamento térmico sem acréscimo no custo de produção.

m grupo de robótica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, coordenado por Lino Marques e Aníbal Traça de Almeida, desenvolveu um robô de desminagem, que utiliza um sistema de múltiplos sensores, incluindo os de cheiros, testado no campo da Royal Military Academy da Bélgica, adequado para este tipo de ensaios, onde detectou todas as minas aí existentes. Já houve contactos do Exército e de empresas, e o director da faculdade conta que em breve se inicie a sua produção para acabar com essa “praga do planeta”, que mata 25 mil pessoas por ano, e mutila muitas mais. A FCTUC e a Empresa Geovita, do grupo Patris Capital, juntaram-se num projecto pioneiro de aproveitamento do calor interno da Terra. A água é injectada até profundidades de três a cinco quilómetros, aquece e trazida de novo à superfície e transformada em vapor de água, faz girar turbinas e produz electricidade. O “Robô Cirurgião” e o “Robô Dentista”, luvas descartáveis biodegradáveis, um interface gestual para computador, um sistema de detecção de fraudes e uma “Casa low-cost” são outros projectos da FCTUC em negociação final com empresas. “Neste momento, temos em carteira mais de 15

U

Robôs com múltiplos fins

sas de determinada forma, para que encontremos a mais comum”, explicou Jorge Dias, coordenador, em Coimbra, do estudo. No fundo, o que os cientistas estão a fazer é “adicionar inteligência, autonomia e destreza às actuais mãos robóticas mecânicas para que, no futuro, tenhamos uma mão inteligente (recheada de sensores, músculos e tendões artificiais) capaz de identificar um objecto, perceber a sua função e manuseá-lo correctamente”, acrescentou o investigador.

nvestigadores da FCTUC projectaram uma casa modular, cuja tipologia pode ser facilmente alterada em função das necessidades dos moradores, e com baixos custos de construção. O projecto assenta no uso intensivo de aço leve e resulta numa “redução de 28 por cento dos custos de construção”, sendo o preço do metro quadrado de 550 euros, “imbatível” para o mercado português, na opinião do coordenador, Luís Simões da Silva. A vivenda, de arquitectura moderna, possui características “affordable houses” (casas acessíveis), e surge em resposta a um desafio lançado pelo maior grupo de indústria de aço do mundo – a ArcelorMittal, a grupos de investigadores de oito países, entre os quais Portugal. Para que a casa fosse versátil e “funcionasse em qualquer zona de Portugal”, foi projectada para “a região sísmica mais gravosa - Sagres - e para ter neve correspondente à zona da Serra da Estrela e vento correspondente à zona costeira”, acrescentou. “Ao utilizarmos uma estrutura de utilização de aço intensiva, conseguimos, para o mesmo grau de isolamento térmico, ter paredes mais finas, ou seja, “para a mesma área de construção temos mais área útil, sem qualquer aumento de custo”, frisa Luís Simões da Silva, acrescentando estarem a ser feitos esforços “para que empresas (de construção) comecem a aplicar o conceito”. Outros 15 grupos de investigadores da Índia, Brasil, China, Polónia, Suécia, Roménia e República Checa apresentaram projectos semelhantes para o mercado dos respectivos países, em resposta ao desafio da ArcelorMittal.

I

Casa modular “low-cost”

milhões de euros de projectos com a indústria”, afirmou João Gabriel Silva, recordando que a quase totalidade dos que se encontram em fase de produção “foram há uns anos atrás resultado de estudos estritamente científicos”.

Portugal foi o país europeu que mais progrediu no indicador relativo à despesa das empresas em investigação e desenvolvimento (I&D), afirma o último relatório do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).


inovação & desenvolvimento

comCENTRO

6

Vida empresarial

ASSESSORIA JURÍDICA

Nuno Santos explica sucesso com investimento em tecnologia de ponta

Organização essencial ao sucesso das empresas Filipe Oliveira considera que a advocacia preventiva e de aconselhamento influente é, a par de outras, uma valência indispensávelnasempresasenaformacomo as mesmas actuam no mercado.

CICLO FAPRIL

Referência nacional ao nível da inovação Em tempo de crise, a empresa pode orgulhar-se de, nos últimos anos, ter visto a sua facturação aumentar. O sucesso deve-se, em grande parte, ao facto de ter apostado em tecnologia de ponta. Patrícia Cruz Almeida

A

Ciclo Fapril, com sede em Vale de Grou (Águeda), foi a primeira empresa nacional a adquirir uma máquina de corte e tubo por laser. Hoje, quase 45 anos após ter sido fundada, pode orgulhar-se de ser uma empresa moderna. “O nosso crescimento acentuou-se à medida que fomos investindo em tecnologia de ponta. Isso tornou-nos uma referência ao nível de inovação de processos no trabalho de tubo, soldadura e fabrico de peças em alumínio”, revela Nuno Santos, um dos administradores da empresa. A atenção constante à evolução da tecnologia garantiu-lhe “diferenciação face à concorrência”. A pesquisa de novos caminhos, soluções inovadoras e conceitos alternativos para benefício dos clientes foi “a locomotiva do desenvolvimento da empresa”, que está prestes a concluir a reestruturação de todo o seu layout, de toda a fábrica. “Adoptámos algumas políticas de gestão ligeiramente diferentes, nomeadamente

a especialização, explica Nuno Santos, acrescentando que a Ciclo Fapril trabalha na área da indústria metalomecânica ligeira em geral. “Os clientes enviam-nos uma modelo e nós procedemos à industrialização e à execução das

peças. E trabalhamos desde a indústria automóvel à hospitalar, passando por componentes para energias renováveis. Somos, em suma, uma indústria ao serviço da indústria”, considera o administrador.

Quase meio século de história A Ciclo Fapril nasceu em 1965, a fazer pequenos componentes para bicicletas e ciclomotores, nomeadamente na tornearia. Mais tarde, durante a década de 80, afirmou-se também no fornecimento da indústria automóvel nacional. Ainda nos anos 70, parte da produção era vendida para as ex-colónias portuguesas em África e ainda para Holanda e França. Depois, com a produção de componentes para a indústria automóvel, a empresa começou a alargar os seus horizontes. Aliás, a Ciclo Fapril, como adianta Nuno Santos, “teve sempre um carácter exportador”. Devido à crise no sector das duas rodas a nível nacional e os problemas que daí surgiram, a respectiva estratégia comercial passou a desenvolver-se noutros mercados que não o português. A aposta foi ganha e, actualmente, a Ciclo Fapril dedica-se ao fabrico de componentes soldados metálicos, baseados em estampagem/quinagem de chapa, corte/dobragem de tubo/ arame e tornearia/mecanização. “Não temos produto próprio nem final. São novos projectos, novos negócios que nos continuarão a fazer crescer”, conclui Nuno Santos.

DIÁRIO AS BEIRAS - De que forma pode o direito contribuir para a organização empresarial? Filipe Oliveira - O direito surgiu como forma de regulação das relações entre os indivíduos, fosse para regular as relações familiares (direito das sucessões, da família), fossepararegularasrelaçõesentre as pessoas (direito de propriedade, direito de demarcação), fosse para regular as relações entre as pessoas no âmbito das sua actividades, agrícolas, comerciais ou outras (contratos, obrigações de juros). A ordemjurídicaé,desdeháséculos, um dos pilares civilizacionais, a par com a ordem religiosa. Significa isso que coube ao direito um papel importante na forma como a humanidade evoluiu …. Sim, sem dúvida, ainda que possa parecer tendenciosa a resposta vinda de um advogado. Desde sempre, o nosso dia-a-dia baseia-se em actos com relevância ou consequências jurídicas. Pense-se na primeira troca comercial ou na autorização concedida a alguém para cultivar determinado terreno com a obrigação de pagar ao proprietário do terreno com parte da colheita. Mas desde esses tempos as necessidades alteraram-se, tornaram-se mais complexas. É verdade e o direito tem acompanhado essa evolução, ainda que por vezes de forma aparentemente lenta. Pense-se no direito da informática, nos direitos da personalidade, nomeadamente naquilo que era o direito à imagem ou à reserva da vida privada antes de existirem os meios actuais de comunicação e de difusão. Os ordenamentos jurídicos souberam adaptar-se e criar um conjunto de normas reguladoras e de protecção dos indivíduos face a estas novas e complexas realidades. Centremo-nos nas empresas e na actividade empresarial… Sim, acabei por não responder à pergunta. Também ao nível da

organização empresarial é fulcral existirumafortecomponentejurídicadebase,numaprimeirafasee de apoio, numa fase subsequente. É cada vez mais fácil constituir uma empresa. A desmaterialização de alguns actos e a implementação de programascomoaEmpresanaHora, tornaram realmente tudo mais fácil. Só que, a constituição da empresanãoégarantiadesucesso ou da desejada implantação e sustentação no mercado. Mais uma vez, a organização é essencial ao sucesso de qualquer empresa. Que problemas podem ocorrer no início do desenvolvimento da actividade da empresa? Eu não diria problemas, mas sim desafios. Definir áreas de actuação e definir a estrutura ao nível dos recursos humanos e das suas valências técnicas são fulcrais para qualquer empresa. A existência de um gabinete jurídico pode contribuir para o sucesso de uma empresa? Um gabinete jurídico ou um apoio jurídico regular certamente que contribuirão para que uma empresa e a sua estrutura accionista tomem decisões mais adequadas e, acima de tudo, para que corram menos riscos nos contratos que celebram e nas obrigações que assumem. Pense-se, por exemplo, nas implicações fiscais que pode ter a celebração de um contrato. Caberá à assessoria jurídica da empresa avaliar se aquele contrato, à partida lucrativo, não sairá prejudicado pela tributação em percentagem não antecipada de mais-valias. Mas o recurso ao advogado ainda é o último dos expedientes. Essa é uma realidade que está a mudar. Antecipar problemas é evitá-los e a advocacia preventiva e de aconselhamento influente é, a par de outras, uma valência indispensável nas empresas e na forma como as mesmas actuam no mercado.


De Óbidos para a Europa Colocar a região Centro entre as 100 mais inovadoras da Europa é um dos objectivos da OBITEC, entidade gestora da componente de investigação, desenvolvimento, ensino e formação do Parque Tecnológico de Óbidos.

“A

té 2017, vamos tentar que a r e g i ã o Ce n t r o seja uma das mais inovadoras da Europa, onde estamos hoje em 153.º lugar entre 300 regiões”, sublinha Jorge Ferreira, da Universidade de Coimbra, que, com outras entidades, integra os órgãos sociais da OBITEC, entidade gestora do Parque Tecnológico de Óbidos. Trata-se de uma meta que conta, à partida, com total apoio do presidente da Câmara Municipal de Óbidos, Telmo Faria,

empenhado em “dar um contributo muito forte, em conjunto com outros parques, incubadoras de empresas e universidades”. O projecto conta nos órgãos sociais com várias universidades, institutos politécnicos e instituições de formação na gestão de um parque de ciência e tecnologia. Os órgãos sociais da OBITEC integram, para além do município (que preside à direcção), as universidades de Coimbra e Técnica de Lisboa, o Instituto Politécnico

de Leiria, a Escola Técnica de Imagem e Comunicação (ETIC), empresas e associações empresariais. O lançamento do concurso público de ideias para os edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos, num investimento de 3,6 milhões de euros, será um dos primeiros projectos da associação. “Queremos uma resposta arquitectónica que espelhe a inovação e a criatividade”, explicou Telmo Faria, durante a apresentação do programa de concurso a que arquitectos

TECNOLOGIA

U

ma cadeira de rodas eléctrica que pode ser conduzida apenas com o olhar foi desenvolvida por um professor do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) no âmbit o d o p r o j e c t o “ Ma g i c Key”, que tem permitido desenvolver aplicações informáticas para pes soas deficientes. O investigador Luís Figueiredo revelou que o sistema, denominado “Magic Wheelchair”, usa uma câma-

ra de alta definição e uma aplicação informática que determina a direcção do olhar do utilizador. O dispositivo, que dá autonomia total ao utilizador em ambientes interiores, porque em ambientes exteriores há interferência da luz solar com os sistemas, destina-se a pessoas com graves limitações físicas e permite ter um controlo absoluto sobre a cadeira de rodas, apenas e só com o olhar. Luís Figueiredo

não possui estimativas de quanto custa, por exemplo, instalar a aplicação numa cadeira eléctrica já existente, mas deixa claro que “se houver uma única pessoa que com este sistema possa melhorar a qualidade de vida, vale a pena investir”. O projecto tem vindo a ser apoiado, para além da ESTG do IPG, pela Guarda Digital Associação Distrital para Sociedade de Informação e pela Fundação PT.

10-1036

Cadeira de rodas conduzida com o olhar

nacionais e estrangeiros se poderão candidatar durante 60 dias. O autarca estima que a construção dos edifícios centrais, onde serão instaladas todas as áreas de apoio às empresas do parque, “poderá ser posta a concurso no até final do ano”. A obra, que deverá estar concluída, no máximo, até início de 2012, permitirá ao parque, segundo o presidente da câmara, “entrar em velocidade cruzeiro, criando espaços para apoio a muitas empresas e aumentando significativamente o número de trabalhadores”. A par com este dossiê, a OBITEC apostará também, a partir de agora, na apresentação do projecto do Parque Tecnológico de Óbidos a cerca de 3.000 empresas da Área Metropolitana de Lisboa. A gestão do ABC - Apoio de Base à Criatividade (uma incubadora de empresas a funcionar no Convento de S. Miguel das Gaeiras) será outra das tarefas centrais da Obitec.

inovação & desenvolvimento

INVESTIGAÇÃO

comCENTRO

7


inovação & desenvolvimento

comCENTRO

8

Ora diga lá, senhor autarca

Ao Centro

“Futuro passa por negócios diferentes dos tradicionais”

Parque tecnológico no centro das Caldas da Rainha

JOSÉ CARLOS ALEXANDRINO, presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Hospital

O executivo municipal, empenhado em mudar o paradigma do desenvolvimento local, orçamentou 550 mil euros para projectos que possam aumentar a competitividade dos sectores fundamentais para o desenvolvimento do concelho. DIÁRIO AS BEIRAS - Que projectos tecnológicos têm merecido apoios financeiros da autarquia? JOSÉ CARLOS ALEXANDRINO - O município dispõe de dois instrumentos para apoiar projectos inovadores e de carácter tecnológico: um concurso municipal de ideias de negócio designado Empreender + e um fundo municipal de apoio para este tipo de projectos (Finicia/Invista+), que tem vindo a ser divulgado no sentido de generalizar o seu acesso e estimular investimentos inovadores, que sustentem o empreendedorismo oliveirense e ajudem a criar o próprio emprego. Nestes casos, qualificado. Há já alguma proposta pronta a avançar? Temos já, realmente, alguns projectos privados premiados e sinalizados para avançar, casos do Logic Pulse, ligado à tecnologia RFID, da Fauna Polis, um outro na área das ciências da saúde, que são do domínio público e que gostaríamos que viessem a integrar um plano mais v a s to de

o novo presidente da ESTGOH, Jorge Alexandre Almeida, e sei que a escola está disponível para colaborar de forma activa, dentro das suas áreas científicas, com os empresários da região.

Qual o impacto dos apoios financeiros da câmara aos projectos tecnológicos no orçamento municipal? Enquanto aposta do actual executivo, o impacto vai ter de ser crescente, até pela expectativa gerada pela carteira de projectos associados à Plataforma e que terão de ser, em primeira-mão, projectos auto-sustentáveis. Para isso estamos a trabalhar e, à partida, em sentido restrito, a Câmara Municipal tem uma dotação de cerca de 550 mil euros para este domínio que, naturalmente, poderá ser reforçada se os projectos assim o motivarem. Ir à procura, aprender, criar e diversificar as fontes de emprego sustentável dá-nos uma motivação acrescida para desenvolvermos o nosso projecto para Oliveira do Hospital.

O que seria efectivamente necessário, a nível local, para ultrapassar a crise e relançar a economia? Fundamental era que aparecessem ideias de negócios diferentes dos tradicionais, ao nível de pequenas e médias empresas. Parece-me que o futuro passa por aqui. Nesta questão, e a nível local, o sector primário é crucial, assim como o sector turístico, de ensino e energético. Estamos empenhados em trazer conhecimento e investigação para estes sectores, mas a questão logística, tanto ao nível empresarial como de ensino, é fulcral e de uma enorme importância. Mas sem os traçados da Serra da Estrela, que são a chave para alcançar o progresso, não será possível relançar a economia local.

O tecido empresarial do concelho está a revelar empenho na inovação e na melhoria da sua competitividade? De um modo geral, e a nível nacional, as empresas estão cada vez mais a apostar na inovação e diferenciação. Com a actual crise internacional é extremamente importante ter esta consciência e em Oliveira do Hospital existem empresas de êxito que têm apostado significativamente na inovação. Também é verdade que por vezes esbarram num muro de burocracias quando se candidatam a fundos para melhorar o nível da inovação.

Que papel poderá desempenhar a Câmara tendo em vista a dinamização do tecido empresarial do concelho? A Câmara já realizou diversos contactos nacionais e internacionais, por forma a alavancar o projecto “Plataforma”, que tem por base a dinamização do tecido empresarial. Está a criar-se uma estrutura e um projecto com base num conceito de “elo de ligação” entre o centro de conhecimento e saber e as empresas para a criação de uma corrente empresarial forte e dinâmica. Pretendemos criar condições para aumentar a competitividade dos sectores fundamentais para o desenvolvimento do concelho. O papel da Câmara será o de mudar o paradigma local e será esse um dos principais objectivos deste executivo.

A Escola Superior de Tecnologia e Gestão está a apoiar os empresários? Tenho tido um contacto estreito com

Polis da Ria de Aveiro avança em 2010 O relatório ambiental e o plano estratégico do programa Polis Litoral da Ria de Aveiro, que estiveram em consulta pública até ontem, vão estar agora disponíveis nas 12 câmaras municipais que integram o projecto, bem como na sede da Sociedade Polis, no Parque de Exposições de Aveiro, na Administração da Região Hidrográfica do Centro, nas instalações do ICNB nas Dunas de S. Jacinto e na sede da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro. Os documentos podem ainda ser consultados no site www.polisriadeaveiro.pt.

10-0788

DB - Paulo Leitão

diversificação do tecido produtivo da nossa região. Acreditamos que a Plataforma de Desenvolvimento poderá acolher todos estes projectos, que já deram mostras de possuir méritos próprios.

A Câmara Municipal das Caldas da Rainha está a construir um parque empresarial de base tecnológica numa zona central da cidade com o objectivo de potenciar a convivência social. Os lotes vão ser vendidos pela autarquia a 15 euros o metro quadrado e as empresas terão ainda como incentivo à sua fixação a isenção de taxas e licenças por um período de dez anos. As oito empresas e um restaurante deverão criar cerca de 100 postos de trabalho, na área das soluções tecnológicas.

MANTENHA O SEU CORAÇÃO EM BOA FORMA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.