Informativo Ôxe - Abril de 2015

Page 1

Abril / 201 5

ANO VI − Numero 71

1 0.000 Exemplares Francisco Morato - São Paulo

Brasil

A rte e im agem : Roger Neves

VENDA PROIBIDA

Apoio:

Realização:

Publicações


Abri l - 20 1 5

Por: Mari Moura e Lucas Varjão

imagem: Mari Moura

1 ::. Diga, Ôxe!

Joice Aziza

Mulher negra, mãe, historiadora, professora e ativista, a caieirence Joice Aziza nos conta um pouco de sua trajetória e luta na região.

1. Ôxe! Pra quem não conhece, quem é Joice Aziza? Joice: Meu nome é Joice Aziza de Mendonça. Joice é o nome que meus pais escolheram para me batizarem, significa alegria e Aziza eu escolhi por conta da diáspora africana que ocorreu, já que meus ancestrais foram escravizados e quando chegaram aqui no Brasil tiveram que ser rebatizados, portanto não sei meu sobrenome de fato. Aziza significa magnífica maravilhosa, não que eu ache assim, também vai, mas sim por conta da minha descoberta quanto mulher negra, que foi dentro de um processo mágico e revelador. Sou mulher negra, mãe solteira, moradora do bairro mais periférico de Caieiras, uma cidade super aburguesada. Meu bairro, Vila Rosina, o primeiro bairro da cidade e o menos desenvolvido. Licenciei-me em história pela UNINOVE, dou aula em Franco da Rocha, na rede estadual. Essa é Joice Aziza! 2. Ôxe! Como é ser uma mulher negra no Brasil hoje? Como você a vê a questão do preconceito racial no país? Joice: São duas coisas. Ser mulher no Brasil já é difícil e ser mulher negra o preconceito é duplo. O Brasil vive o racismo que deu certo, é camuflado, todos dizem que não existe racismo no Brasil. Mas ele é o que mais nos afeta. E enquanto mulher negra é uma questão mais acentuada e dura, ainda mais pobre. Eu vejo que isso é muito difícil, mas temos que combater esse preconceito, através de políticas públicas para mulheres pobres, pretas e periféricas. Ninguém melhor para falar do que passamos, do que nós mesmas. O principal é que tenhamos essas políticas públicas direcionadas a nós. 3. Ôxe! Com quais movimentos de luta você está envolvida? Joice: Comecei no projeto chamado Roda de Conversa, sobre a Lei 10.639/03, eramos eu e mais um rapaz, o William Henrique. Hoje esse projeto se chama Coletivo Akofena, trabalhamos com as questões étnico-raciais na cidade de Caieiras. Tivemos um impasse profundo, porque usávamos espaços públicos, como a Câmara, mas com o tempo, as ações foram tomando uma proporção maior e hoje fazemos discussões no Centro Cultural de Caieiras, sempre com a temática negra e abordando assuntos tratados em escolas, de manifestação regional. Hoje o nosso o coletivo abrange as regiões da Bacia do Juquery. Além do Akofena, também administro o Nós da Diáspora, que é um blog para mulheres. Ele nasceu da necessidade das mulheres negras, porque temos tempo pra ser mãe, pra ser amiga, ativista, profissional, e não temos tempo pra nós mesmas. Coisa que homens tem, o privilégio de jogar futebol, ficar com os amigos, nós não temos isso, porque temos que cuidar dos afazeres enquanto eles estão no jogo. Não estou falando só de mulheres negras, as mulheres no geral sofrem com isso, eu percebo porque quando encontro outras mulheres, falamos dessas questões. Esse blog tem textos, poemas, pra sanar um vazio que temos dentro da gente. Tem textos de várias pessoas, inclusive da Carolina Amanda Borges da UFRJ, uma ativista; poeta Akins Kinte, que fala da questão da mulher negra não ser mulata, porque vem do termo mula e não somos mula e tem

o Fernando Ripol com o texto, Negra Mulher, que trabalha com samba do Congo, Brasilândia. E agora estamos fazendo o primeiro chamamento de Mulheres Negras da Bacia do Juquery. No ano passado o coletivo Akofena fez uma plenária em homenagem à mulher negra e procurei as mulheres negras da região pra compor a mesa, mas não encontrei. Chamamos mulheres negras da leste, de Jundiaí, da Sul e de Caieiras, não tinha. O que vejo é que muitas de nós já estão na luta, mas não nos juntamos, por isso estamos chamando outras mulheres negras daqui, para nos fortalecermos, se tivermos que fazer uma fala feminista negra ou mulherista, falaremos da nossa realidade. O primeiro encontro será no dia 25 de abril, no anexo da Câmara em Caieiras, já temos 20 mulheres inscritas, a pauta do encontro será feita no próprio dia, para tratarmos de questão de gênero e cor. Queremos políticas públicas especificas para nossas questões. 4. Ôxe! Como se deu a formação do grupo de mulheres negras da Bacia do Juquery? Quais as lutas que o movimento terá que enfrentar? Joice: Quando começamos as iniciativas de cunho negro em Caieiras foi um choque, porque é uma cidade “sem preconceito”. No início tínhamos espaço na Câmara, depois a Faculdade aí quando fomos tratar sobre “Genocídio da juventude negra”, o espaço estava fechado e não tínhamos como discutir essa pauta tão importante. Dessa vez, parece ter mais aceitação por parte da administração Cultural atual. No ano passado tivemos o primeiro 20 de novembro no centro de Caieiras (na Praça Pró-Polo). Hoje as ações ocorrem no centro cultural, mas não sei como será a questão do espaço mais pra frente, se teremos que mudar. Mas temos que ter um lugar pra nos reunirmos. Segundo o CENSO da cidade, diz que 35% da população se auto declara negra. Imagina as que não se declaram. Estamos fazendo ações para chamar essas pessoas também. 5. Ôxe! Você, além de ativista do movimento negro, também é feminista? Há diálogo entre esses movimentos de lutas das mulheres? Joice: Fiquei confusa sobre o feminismo, porque muitas mulheres negras não se enxergam dentro do movimento feminista, enquanto as mulheres buscavam salário digno, por melhores salários, as mulheres negras estavam na luta há muito tempo, nossos salários eram e são menores do que qualquer outra pessoa, por isso existe um impasse, mas para ser mais objetiva, essa questão, eu faço curso de 21ª Promotora Populares Legais de São Paulo. Um curso feminista, que atende muitas especificidades, trata da mulher lésbica, mulher negra lésbica, imigrantes e negras, que é o meu caso. Muitas meninas negras falam do movimento mulherista, eu, Joice Aziza, ainda estou em estudo, porque algumas são muito extremistas, assim como no feminismo branco. Mas eu não acredito na sororidade, porque a mulher branca não entende o sofrimento da mulher negra, antes eu acreditava, mas temos uma luta muito grande. 6. Ôxe! Como você avalia as conquistas do movimento

negro e, mais especificamente, do movimento de mulheres negras? Joice: Podia estar melhor, mas às vezes ouvimos declarações racistas, no ambiente do trabalho coisas do tipo, que os patrões não deveriam contratar mulheres pelo simples fato de engravidarem e/ou quando dizem “que não merecemos ser estupradas, porque somos feias” e isso é normal, embora já tenhamos conquistas, ainda temos um árduo caminho. Acredito num mito nagô que diz que Olorum quando criou o mundo, mandou seu filho mais velho, que não conseguiu cumprir a missão. Assim, quem criou o mundo foi Odudua, sua filha, uma mulher. Uma outra história diz que o homem sabia que a mulher era muito mais forte do que eles, aí pra minar isso, criaram uma desavença entre as mulheres, que era a vaidade. Acreditariam que os homens seriam suas poses. E disputariam o amor desses homens e assim não teriam tempo para união feminina. Um mito antigo, mas que em pleno século XXI, temos esses mitos nagô tão presente na nossa realidade. 7. Ôxe! Como você avalia as políticas públicas voltadas para os direitos das mulheres e ao enfrentamento ao racismo? Joice: Eu vejo que temos um caminho longo pela frente, pra falar de sofrimento, precisamos de uma representatividade. Dentro do senado, de 560 membros, 23 são mulheres, entre elas 2 são negras, por isso temos que participar e nos integrarmos nos cargos públicos, ninguém melhor pra falar sobre a mulher do que uma mulher. Enquanto nossa representatividade for masculina e opressora, estamos fadadas ao machismo. 8. Ôxe! Qual maior desafio atualmente na luta pelos direitos das mulheres negras no Brasil? Joice: Acredito que seja enfrentar o machismo de peito aberto, não de uma maneira violenta, mas cada mulher se empoderando e tendo uma auto-estima como mulher negra, a partir do momento que ela se reconhecer como mulher negra, ela pode lutar e se unir com outras mulheres. 9. Ôxe! Falando em empoderamento, como foi o seu processo? Joice: Antes eu e minha irmã nos identificávamos como afrobege, porque no Brasil se você não tem uma pigmentação acentuada fica difícil. Diziam que eu queria me declarar como negra, por conta das cotas. Outro processo foi o cabelo, sempre tive cabelo cacheado, mas pra usar turbante também foi um processo, porque o turbante é um símbolo de resistência, se alguém disser “ai, adoro esse estilo”, vou dizer que não é moda, é um ato político, é resistência. 10. Ôxe! E pro futuro, qual a perspectiva? Joice: Vou pensar no meu objetivo, eu espero que num futuro próximo, nós tenhamos um reconhecimento negro em Caieiras, que quebre esse estigma que é uma cidade aburguesada, quero que as causas sociais sejam colocadas na mesa, acredito muito na minha região, quero a região da Bacia do Juquery na luta ativa contra o racismo. .::


Abi l - 20 1 5

2

O informativo Ôxe! é uma iniciativa ::. Na Faixa Por: Teatro Girandolá da Ôxe! Produtora Comunitária que ::. Nova temporada do Teatro Gi- Hilst e circula com o apoio do ProAC Edivisa propiciar à população de Francis- ::. Comboio das Artes no CEU tais. Em Hilda a palavra nada tem de literárandolá em Franco da Rocha co Morato e região, um veículo de jor- Francisco Morato a palavra é corpo. Tem um poder nalismo cidadão e produção, difusão e O Fórum Permanente de Cultura da De 26 de abril a 16 de maio de 2015, o rio: encantatório de aplacar a fúria de conhecer. divulgação de ideias e informações na Bacia do Juquery e o seu Comboio das Teatro Girandolá fará nova temporada de Diante da força e complexidade de sua esArtes desembarcarão em terras moratenses, seu espetáculo “Juquery - Memórias de crita, o grupo se sentiu desafiado a imergir área cultural. Todas as informações, ilustrações e imagens são de responsa- agregando suas atividades artísticas ao pró- quase vidas”. As apresentações acontecerão nessa alquimia de instrumentos verbais e reximo OCUPACEU das Artes, que aconte- no Centro Cultural de Franco da Rocha criar os enigmas e imagens que brotam de bilidade de seus respectivos autores e cerá no dia 25 de abril a partir das 14h, no (Av. Sete de Setembro, s/nº, Centro, Franco sua literatura, tendo como centro da investiobedecem a licença Creative ComCEU das Artes e do Esportes de Francisco da Rocha), aos sábados e domingos, às gação essencialmente a palavra. mons 3.0 Brasil Atribuição-Uso Morato, que fica no bairro do Jardim Vas- 20h, com exceção do dia 10/05, que a apreNão-Comercial-Compartilhamento souras. sentação começará às 21h, e a entrada é Sinopse: Osmo, um serial killer com prepela mesma Licença (acesse o blog , Os ingressos serão distribuí- tensões literárias, está mergulhado na difícil para maiores detalhes), salvo indicaO Comboio das Artes está em sua segun- GRATUITA com 1 hora de antecedência. Serão ofe- e intrincada tarefa de escrever sua história, ções do(a) autor(a) em contrário. Para da edição, é realizado de maneira indepen- dos 40 lugares por sessão e o espetáculo quando é interrompido pelo telefonema de ver uma cópia desta licença, visite dente pelos coletivos que compõem o recidos uma amiga que o convida para dançar. O é indicado para maiores de 16 anos. http://creativecommons.org/licenFórum, e contará neste mês com atrações foi acionado. Agora seu tétrico ritual ses/by-nc-sa/3.0/br/ ou envie uma advindas das cidades de Franco da Rocha, Sinopse: O espetáculo “Juquery - memó- gatilho será perpetrado: sair para dançar com uma Francisco Morato e Mairiporã. rias de quase vidas”, traz à cena persona- mulher, fazer amor com ela e depois assassicarta para Creative Commons, 171 e histórias esquecidas atrás dos muros ná-la. Osmo é um anti-herói que busca comSecond Street, Suite 300, San FranAs atividades já confirmadas para o dia gens do Hospital do Juquery (que há preender a dimensão da vida e da morte. cisco, California 94105, USA. são: Oficina de sensibilização artística para mais de 100Psiquiátrico anos separa a loucura considecrianças, ministrada por Silvia Sapucaia – rada doentia, da loucura cotidiana Dia 05/05 às 20h – Workshop de teatro: Franco da Rocha; Teatro Infantil “Conto de vel pela sociedade). As históriase aceitá“A Transposição do conteúdo literário padesses todas as cores”, do Teatro Girandolá – personagens se contrapõem a tantas outras ra a cena”, no Espaço Girandolá, em Francisco Morato; Apresentação musical da histórias que estão todos os dias diante dos Francisco Morato. O Núcleo Entretanto Be Linux, Be Free! banda Dr. Júpiter – Mairiporã; e Exposi- nossos olhos, e que talvez acostumados à compartilhará o processo de criação do esNa confecção deste material ção fotográfica de Mariana Lima e Mari- elas, já nos passam despercebidas. gráfico foram utilizados petáculo “Osmo”, por meio do Workshop. ana Moura – Mairiporã e Franco da apenas softwares que atendem Para se inscrever, envie seus dados e carta Rocha. “Juquery - memórias de quase vidas” é de interesse para o e-mail: meire@conpoa licença GNU/GPL. realização da Associação Cultural ema.org.br O Comboio circulará pela região trimes- uma CONPOEMA , através de seu núcleo artís::. O que a gente usou nessa edição tralmente, e passará pelas cidades de Mairi- tico Teatro Girandolá , foi produzido com O projeto CONPOEMA Recebe é uma porã, no dia 17 de julho e 24 de outubro recursos do ProAC (Programa Programas de Ação realização da Associação Cultural CONem Franco da Rocha. É tudo GRATUITO. Cultural, das Secretaria de Estado Ubuntu 12.04 (ubuntu.com) da POEMA e essa edição conta com a parceLibreOffice 3.5.7.2 (pt-br.libreoffice.org) Pra participar, é só chegar!!! Cultura) e apoio do Complexo Hospita- ria da Prefeitura de Franco da Rocha e GIMP 2.6.12 (gimp.org) lar do Juquery e da Cooperativa Paulista apoio da Secretaria de Estado da Cultura ::. Circuito Cultural Paulista em (através do ProAC) e da Casa de Carnes de Teatro. Scribus 1.4.1.svn (scribus.net) Franco da Rocha Max Boi. Mais informações: 4488-8524 Inkscape 0.48.3.1 r9886 (inkscape.org) Essa temporada também conta com a O espetáculo “Donzela Guerreira” , da Mozilla Firefox 22.0 (br.mozdev.org) da Prefeitura de Franco da Ro- ::. Sarau Cultural de Caieiras Audacious 3.4 (audacious-media-player.org) Cia Mundu Rodá, será apresentado no parceria . Para saber mais sobre o espetáculo Todo terceiro sábado do mês, é dia de Centro Cultural Newton Gomes de Sá cha (Av. Sete de setembro, s/n°, Centro, Franco acesse www.teatrogirandola.com.br. Ou- Sarau Cultural de Caieiras, sarau que ::. Colaboraram nesta edição: da Rocha, SP), numa parceria da Secreta- tras informações: 4488-8524 acontece pelo segundo ano consecutivo ria Adjunta de Cultura de Franco da ::. CONPOEMA Recebe... Núcleo com o apoio do ProAC - Programa de Rocha com o Circuito Cultural Paulista, Danilo Góes Ação Cultural da Secretaria de Estado (coracaodeterra@gmail.com) programa da Secretaria de Estado da Cultu- Entretanto da Cultura. A edição de abril acontecerá ra, no dia 25 de abril, às 20 horas, com Desde 2009 a Associação Cultural no dia 18, a partir das 19h e terá como Gabriela Rodrigues CONPOEMA mantem uma agenda per- convidados o saxofonista Edson Pacheco e (gabriela@dmimprensa.com.br) ENTRADA FRANCA. com atividades artísticas e cultu- o Teatro Girandolá, com apresentações de Sinopse: Recorrente em muitas culturas manente George de Paula rais que gratuitamente à cenas e músicas de seus espetáculos. (george-140@hotmail.com) e civilizações, na tradição oral, na literatura população.sãoO oferecidas projeto CONPOEMA de cordel, nos muitos romances, na mitolo- be, é um dos projetos que garante queReceJhoyce Milena todo O Sarau Cultural de Caieiras acontece gia e na História, o espetáculo Donzela primeiro final de semana do mês os morano espaço “Porco a pá (Porquoi Pas?) - Arte (joycepoeta@live.com) Guerreira, da Cia Mundu Rodá, conta a dores de Francisco Morato e Franco da Ro- e convivência”, que fica na Av. Olindo DárMessias Silva de uma jovem que se disfarça de possam assistir teatro, música ou dança. tora, 4.560, Morro Grande, Caieiras. Leve (messiasilvarimador@gmail.com) história homem para seguir em combate no lugar cha as próximas atrações: 30/04 e sua arte e inscreva-se para compartilhá-la. A Tamires Santana de seu velho pai, representando o único fi- Confira 01/05 , às 20h, no Centro Cultural de Fran- participação é GRATUITA e as inscrições (tamisantana.wix.com/oficial) lho varão da família. Como soldado, ela se co da Rocha Sete de setembro, s/n°, podem ser feitas antecipadamente pelo teleapaixona por seu Capitão e este por ela. Centro, Franco(Av. da Rocha, SP) – Espetáculo fone 96915-1735, pelo e-mail saraucultuSem revelar sua verdadeira identidade, Teatral Osmo (indicado A Equipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli, para maiores de 18 ralcaieiras@uol.com.br, pela fan page Donzela e Capitão travam suas próprias ba- anos). Mari Moura e Roger Neves facebook.com.br/sarauculturaldecaieiras talhas, colocando a prova seus princípios, (digaoxe@gmail.com) ou pessoalmente no dia do próprio Sarau. .:: sentimentos e desejos. O espetáculo é baseado na obra de Hilda


3

Abri l - 20 1 5 im agem : Roger Neves

SEI S AN O S D E C AM I N H AD A E M AI S U M R EC O N H EC I M EN TO Neste ano (em Junho, precisamente) o nosso Informativo Ôxe! completa seis anos de publicações ininterruptas, de modo independente, livre, aberto e voltado para a população de nossa região. Sempre focado nas questões culturais, sociais e comportamentais de nossa região e país, ele se mantêm, como sempre foi e sempre será: um espaço aberto para que as pessoas possam se manifestar, para que possam escrever, serem publicadas e, principalmente, serem lidas; onde suas ideias possam circular e quiçá influenciar mais pessoas. Um espaço onde se pode também ter contato com a cultura de nosso lugar e de outros lugares, seja através dos textos, imagens e ilustrações publicados, seja através da programação em nossa região que também sempre divulgamos. Antes de tudo, o nosso Informativo Ôxe! é conexão, ponte, hub, troca e encontro entre as pessoas que tem algo interessante a dizer e quem tem vontade de ler, saber, ouvir e conhecer coisas interessantes. Há quem diga que isso é bobagem, que ninguém liga pra isso, que as pessoas não querem saber disso e até que usamos uma linguagem “muito difícil” para a população. Na visão dessas pessoas a população apenas quer saber quando irão asfaltar sua rua, o que vai passar na novela e que time ganhou no último jogo; sempre na linguagem mais rala e na forma mais simplista que se possa imaginar. A gente, por outro lado, acredita que a população é mais inteligente do que essas pessoas pensam. Acreditamos que a população não se deixa mais enganar pelos jornais e rádios que são pagos para falarem mal ou bem de vereadores e prefeitos, nem pelos “veículos de comunicação” cuja única finalidade é “captar” verbas de comunicação da prefeitura e câmara de vereadores. Acreditamos que cada pessoa é um universo e cada voz merece ser ouvida, sem intermediários. Acreditamos que a comunicação é um direito inalienável, que deve ser exercido diretamente. Mas, infelizmente, por conta de nossa história e de como a população sempre foi tratada, as pessoas ainda ficam muito desconfiadas e não perceberam que o tempo dos coronéis já passou, que elas tem direito a falarem abertamente sobre o que pensam e que isso deve ser respeitado. E convenhamos, ainda faltam meios para as pessoas poderem exercitar isso e se habituarem a ter uma voz, a praticarem esse direito e se expressarem e compartilhar ideias e ideais. Colaborar para que isso seja cada vez mais possível é parte de nosso trabalho. E nesses seis anos temos visto como é importante e o quanto a população necessita disso. Se o simples fato de nosso informativo ser percebido como “diferente”, de simplesmente “sumir” na própria semana em que é distribuído, das pessoas dizerem “Ah, é o Ôxe!? Então, pode deixar.” e de sabermos que algumas pessoas colecionam suas edições não fosse o suficiente para isso; certamente o fato dele ser usado por professores nas salas de aula, da felicidade das pessoas em serem comentadas, citadas e lidas nos saraus e os novos autores que vem “nas-

cendo” no últimos anos, certamente mostra o quanto isso é necessário e importante. Mas acima de tudo isso, o que mais nos evidencia a necessidade desse trabalho é, ao contarmos tudo isso, perceber no olhar do garoto um misto de surpresa e orgulho ao entender que aqui também tem escritor e artista, que o lugar em que ele mora tem tanto valor quanto qualquer outro lugar e que nossa voz é tão boa e importante quanto qualquer outra e merece ser ouvida. Sobretudo para esse aí, o que fazemos faz diferença. Isso tudo nos enche de satisfação em continuar realizando este trabalho e, apesar das dificuldades que enfrentamos, continuar possibilitando um espaço para que fazedores de cultura e população em geral possam se expressar. E as dificuldades não são poucas. Já tentaram nos intimidar por causa de críticas que fizemos a administração da cultura municipal, já nos deixaram na mão, já fomos e continuamos sendo criticados por simplesmente fazer nosso trabalho (e o de muitos dirigentes públicos também) e enfrentamos, antes e mesmo hoje, as dificuldades financeiras graças a um mercado publicitário local viciado e completamente sucateado e ao parco entendimento que o empresariado local tem do que seja “marketing cultural”. Mas por entender toda a importância deste tipo de ação, nós da Associação Cultural CONPOEMA(muitas vezes com nossos próprios recursos) e nossos queridos parceiros do comércio local (não é preciso nomeá-los, você pode ver seus anúncios nesta edição) seguimos mantendo esta iniciativa de forma independente, aberta e livre à população de Francisco Morato e Franco da Rocha. Uma iniciativa feita e mantida por e para essa mesma população. E não é só a gente que acha isso tudo muito bonito e importante. Ao longo de nossa trajetória, temos juntado reconhecimento e positivas impressões de outros fazedores de cultura e órgãos públicos estaduais e federal. Já em 2010/2011 fomos contemplados e tivemos o reconhecimento do Ministério da Cultura com o prêmio federal Pontos de Mídia livre, que premiou no Brasil todo iniciativas de comunicação livre. E é de nos orgulhar (e assombrar um pouco também) pensar que nosso Informativo Ôxe! está em pé de igualdade com outras tantas importantes e premiadas iniciativas de mídia livre espalhadas pelo Brasil e que, dentre estas, é um dos poucos que se mantêm ativo até hoje. Em 2011/2012 o projeto de artes plásticas Axé du Ôxe!, que teve seu início nas páginas do Ôxe!, foi contemplado pelo programa estadual ProAC (Programa de Ação Cultural), na categoria de editais voltados a exposição de artes plásticas e fez história e representou um importante momento para as artes plásticas em toda região. Em 2012/2013 foi a vez de juntarmos todo mundo que já escreveu no Ôxe! e fazermos a Coletânea Ôxe! que foi financiada também pelo ProAC, na categoria de editais voltados a publicação de série de livros, o que permitiu que publicássemos em livro todas as colaborações que recebe-

Por: Roger Neves

mos no período, fazendo chegar ainda mais longe estes textos, imagens e ideias. No ano passado (2014) fomos mais uma vez reconhecidos e contemplados pelo Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, desta vez com o próprio Informativo Ôxe!, agora na categoria de editais voltados especificamente para publicações culturais; o que nos deixou duplamente felizes. Primeiro pelo reconhecimento do poder público estadual da importância e relevância de nosso trabalho e segundo por este prêmio ser o resultado direto da luta por mais recursos para a cultura do FLIGSP (Fórum do Litoral, Interior e Grande São Paulo), grupo do qual também participamos ativamente desde 2013. Este prêmio vai nos permitir não só manter a publicação do Informativo Ôxe! durante 10 meses em 2015, mas também ampliar sua tiragem para 10.000 exemplares, nos permitindo distribuir mais e melhor em nossa região, abrindo novas e interessantes possibilidades. Neste mês de Abril, a partir desta edição, iniciamos nosso projeto aprovado pelo ProAC e com ele também inauguramos uma nova fase, não só para o Informativo Ôxe!, mas para toda a Associação Cultural CONPOEMA (quem viver, verá! :). O projeto, além de permitir a remuneração da equipe de produção (o que em geral não acontece, já que nosso trabalho é feito de forma voluntária, isto é, sem receber nada) durante esses 10 meses, vai também permitir que cheguemos mais longe e possamos distribuir melhor o Informativo Ôxe! em Francisco Morato e Franco da Rocha, fazendo com que ele chegue mais longe, a mais pessoas e assim mais pessoas possam participar e tomar contato com os conteúdos que veiculamos. Mais até; como contrapartida do projeto, vamos destinar 10% dessa tiragem (1.000 exemplares) para a Secretaria de Estado da Cultura distribuir nos aparelhos públicos do estado (em especial as bibliotecas e oficinas culturais), o que significa que iremos ainda mais longe e pessoas de todo o estado de São Paulo poderão ler e colaborar com o Informativo Ôxe!, permitindo assim mais trocas, maiores possibilidades e riqueza cultural e de diálogo, democratizando mais ainda este meio de comunicação livre. Então, a você que nos apoia, lendo, escrevendo, desenhando, fotografando, apoiando financeiramente, comentando e curtindo, comemore também e sinta-se orgulhoso, pois mais este reconhecimento é seu também; pois sabemos que sem vocês aí do outro lado, nada disso seria possível. E pra você que está chegando agora, nos conhecendo e se familiarizando com este nosso cantinho: bem vindo a bordo! Sinta-se a vontade para participar, colaborar e curtir e saiba que aqui você não é “apenas” passageiro, pode também pegar no timão e ajudar a conduzir este barquinho de papel em mares nunca d'antes navegados. Só resta agora uma pergunta: que novos mares e aventuras o futuro nos reserva? Borandá? .::

"Um povo forte não precisa de um líder forte."

Emiliano Zapata


imagem: Tamires Santana

Por: Tamires Santana

CROSSLINK E ANEL DE FERRARA SÃO OS PROCEDIMENTOS MAIS UTILIZADOS PARA CORREÇÃO Segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), nos últimos 10 anos, o número de candidatos a transplante de córnea caiu 44% no Brasil. O transplante de córnea normalmente é realizado por pessoas que têm ceratocone, uma doença que provoca o afrouxamento da córnea e que pode acontecer por dois motivos: herança familiar ou atrito. No caso do atrito, ocorre quando a criança tem alguma alergia e coça muito o olho, de forma que amolece a córnea, (pequena lente natural do olho). Quando a córnea sofre o afrouxamento, ela vai para frente, formando um cone e causando uma alteração na visão, pois a córnea precisa ter uma determinada curvatura. O processo do ceratocone é evolutivo e tem início por volta dos 12 anos de idade. Antigamente, quando evoluía, o transplante de córnea era a única solução. Hoje em dia, uma das opções de tratamento é o chamado anel de Ferrara, no qual coloca-se um anel no tecido interior da córnea, uma espécie de uma pequena mola de acrílico que corrige o ceratocone. Por meio deste processo, o cone é trazido para trás, melhorando a visão. Porém não são todos os tipos de córnea nos quais esse procedimento é possível ser realizado, já que existem córneas finas ou ceratocone que já evoluiu demais. Dessa forma, esse tipo de procedimento fica restrito a alguns pacientes com ceratocone. Para suprir a demanda destas pessoas, há outro procedimento denominado Crosslink, que tem sido muito utilizado atualmente. “Na fase inicial do ceratocone, este processo já pode ser feito. Antes que a córnea comece a afrouxar e desenvolver o ceratocone, é usado um produto que enrijece a córnea (é como se fosse uma resina aplicada na córnea). Desta maneira, ela não estufa, evitando a formação do cone. Feito esse procedimento, pode-se usar lente de contato normal. De qualquer forma, a melhor forma de prevenção do ceratocone é evitar que a criança alérgica coce demais os olhos”, afirma o oftalmologista e diretor clínico do HCJundiaí, Dr. Vitor Samadello. .::

“O mesmo Estado que às vezes premia também mata; isto que é louco e contraditório demais”, esta foi a mensagem que se sobressaiu do discurso feito por Bonga Mac ao re-

ceber o Prêmio Sabotage na Câmara Municipal de São Paulo, na noite de sexta-feira (20/03/15). Dentre as quatro categorias: Disk Jockey (DJ), Mestre de Cerimônia (MC), Dançarino (Breaking Boy) e na categoria Graffiti, neste último, o artista, arte educador e empresário foi destaque, ao lado de DJ La (in memoriam - DJ), Sabotage (in memoriam - MC), Cris SNJ (DJ) e Carlos Step (Breaking). A premiação foi criada pelo Projeto de Resolução nº 2/2005, com o objetivo de valorizar e fomentar a cultura Hip Hop na cidade de São Paulo, principal polo cultural do país. Ao receber o prêmio, além de destacar a ironia do Estado, o artista defendeu que “ninguém dentro do Hip imagem: Tamires Santana

Por: Gabriela Rodrigues

O que a premiação de nome Sabotage tem a nos dizer imagem: www.flick.com

Transplantes de córnea diminuem no país graças aos avanços nos tratamentos do ceratocone

4

Hop, do seu segmento, das suas organizações são inimigas, somos parceiros. Vivemos em um momento ímpar no Brasil, um levou expoentes da cena Hip Hop para noite momento medonho onde as pessoas que- Prêmiação de premiação, dentre eles o grafiteiro Bonga Mac. rem até pedir de volta um dos piores pesadelos que o Brasil já teve. Está na hora da gente se ligar e mostrar que podemos mais. A periferia deve se levantar e apontar as coisas erradas", afirmou.

Morador de Caieiras há mais de trinta anos, Bonga já realizou dezenas de trabalhos na região. Dedicou a homenagem a cada painel apagado, destacando cada totalitarismo e às vezes até ignorância de pessoas que acreditam que o outro não tem direito à liberdade de expressão.

imagem: Tamires Santana

Abi l - 20 1 5

“Ganhar um reconhecimento é de uma grande satisfação, mas desde que esse venha pelo mérito à sua caminhada e dedicação ao próximo e a si, pois não existe melhor, acredito que sou mais um. O ciclo não para”, explica.

É importante entender o valor da cultura Hip hop e a importância ao ser reconhecida em uma das maiores potências políticas da América Latina. Da mesma forma que não se deseja patentear ou institucionalizar o que por sua natureza se emerge e é autêntico das ruas, é um passo a ser observado, pois qualifica e dá maior força e representatividade a esta cultura, uma vez que dá aval para discuti-la enquanto política pública, aproximando e destacando cada vez mais as reais necessidades da população das infinitas propostas defendidas “por quem está atrás da mesa” - e que nem sempre faz a mínima questão de lá sair. Uma premiação (dentre outras ações) colabora, reconhece e dá visibilidade, além dos cinco nomes citados, a todos aqueles que a cada dia tentam viver da sua arte, seus pensamentos e, acima de tudo, sua ideologia, fazendo com que a cultura de rua ganhe atenção e conquiste respeito. Sem contar que com a popularização de nomes como Sabotage, além de reconhecer a vida de quem “não era Pablo Escobar, mas era o cara e pá”, evidencia o quanto a violência física, emocional e social ainda pulsa sobre a realidade da população periférica e como priva, sobretudo, sua juventude a ir de encontro a um resultado menos drástico, escancarada em estatísticas e nos noticiários de cada dia. .::

"O Brasil vai bem, mas o povo vai mal."

Emílio Garrastazu Médici


Por: Messias Silva

Os gatinhos, dela, eram companhia, os gatinhos apareciam do nada vários apertos na campainha, e no quintal abandonados Ela os ¨adotava¨carinhosamente, eles os seus felinos a mulher dos gatos cuidadosamente, os mantinha no seu domínio Os gatos passeavam nos muros, algazarravam nos telhados perturbavam no escuro, viviam na redondeza espalhados A mulher dos gatos era paciente, os seus gatos à rodeavam muitas autoridades cientes, mas nem, por ali, rondavam Era temida, a mulher dos gatos! a bondosa senhora era rejeitada eram furados os seus sapatos, vestia roupa emprestada Trazia aos ombros uns gatinhos, as crianças vinham ao portão muito amor a mulher tinha, jogavam o que comer em porções

im agem : www. flick. com

Era um miadeiro no casarão, os cães se assustavam com as criaturas o sorriso da mulher ia até ao porão, gargalhava, ela, às alturas Repudiada por ter os bichos, mas todos tinham um animal... tratavam-na como lixo, a mulher dos gatos se sentia mal. Certa manhã os gatos, em bando, corriam, dispersaram-se pela vizinhança uns miavam, outros sorriam, o corpo da mulher dos gatos ficou na lembrança... .::

Hoje em dia, como se diz

"Vai surgindo o sol nas colinas Emitindo seus raios do alto Aquecendo este chão querido De passante Francisco Morato Na batalha do cotidiano Nunca foges de seu ideal Pois é esse o lema que ostenta Com denodo de seu pessoal (...)"

eu te amo?

Por: Joyce Milena

Eu te amo, Porque te desejo, Será pela beleza, Que te torna perfeita?

Trecho do hino à cidade de Francisco Morato, de autoria de

João Januário (João Poeta)

Te amar no momento, Curar os lamentos, que a vida nos dá. O que um "eu te amo"não faz? Num olhar um encanto, Que enxuga teu pranto, e te faz sorrir. Sem limites, Para os momentos tristes não existir.

im agem : Roger Neves

A MULHER DOS GATOS

Os bichanos a se esfregar, dentre as pernas da mulher ocupada manhosamente miavam e refregar, na disputa de um peixe-espada

Abri l - 20 1 5

Eu te amo hoje, Eu te amo eternamente, Palavra da mente, que sai sem pensar. Em busca da prova, Um ao outro busca a perfeição sem ter. Planos, uma vida de casal, Que fiéis não conseguem ser. “eu te amo, Porque necessito-a, Me dedico-a, Porque tu és meu único amor, Para toda a minha vida." Palavras divinas e raras, Para ser promessa uma dívida. Hoje em dia, Como se diz eu te amo? .::

im agem : www. flick. com

5


6

SEO VITOR

im agem : www. flick. com

Drama Crônico

o quotidiano de um suburbano

im agem : www. flick. com

Abi l - 20 1 5

A G arag em

Por: Olavo Passos Por: Danilo Góes

O meu vizinho, Seo Vitor, morreu hoje. Quer dizer... Foi enterrado. Ele já tinha morrido há muito, desde que deixou de produzir. Aí é que está o que se considera morte no homem, a improdutividade. Mas, agora foi oficializado. Foi falência, ou seja: faliu. Todos os seus órgãos deixaram de funcionar, um após outro. E ele morreu. Já não gozava o doce da vida. Talvez porque tinha diabetes e não podia com doce. Veja: o doce lhe era prejudicial! A gente, quando não prova mais do doce da vida, vai ficando doente, meio-amargo. Diz que ele tava chato mesmo, xingando todo mundo. Um marrento. Mas que sofria. Tinha muitas dores, uma pior que a outra. A morte lhe veio para recompensar as dores e todas as noites mal-dormidas. Antes seu coração estava inchado, parecia até que estava lhe apertando os pulmões. Sim, também não respirava direito, além disso, fumava. Aprendeu a fumar quando era novo e fumou enquanto teve vida. Mas o que o levou ao hospital foi um febrão, acharam até que era dengue. Não era. Depois de uma semana despediu-se do corpo numa maca de UTI. Falência múltipla dos órgãos. Diz que quando chegou em São Paulo muitas mulheres lhe passaram pela mão até conhecer Dona Fátima, que ainda era senhorita. Teve quatro filhos, cinco netos, uma casa e um velório modesto. Foi eletricista e prosador, mas nos dias derradeiros não saía de casa. Quando eu nasci, ele já morava aqui e já estava aposentado por causa da trombose. A Dona Fátima, não, tem sessenta e quatro anos e ainda trabalha. Pois é... Desde que eu me lembro eles são velhos. Do lado de cá do muro escutava os dois brigando. A Dona Fátima dizia assim: “Tuas cuéca que apodreça! Esse negóço num me serve de nada, mesmo!”. Atardinha, eu chegava da escola e ele estava no portão, esperando a Dona Fátima. Daí eu puxava com ele um dedinho de prosa. Dona Fátima está inconsolável. Coloquei aqui em casa aquela música do Vininha, pra ver se... Sei lá... Dava uma animada... Gerasse uma reflexão: “Pra que chorar/ Se o sol já vai raiar/ Se o dia vai amanhecer?/ Pra que sofrer/ Se a lua vai nascer?/ É só o sol se pôr/ Pra que chorar/ Se existe amor?/ A questão é só de dar/ A questão é só de dor”. Mas não adiantou nada... Seo Vitor, não te vi para dizer, mas mesmo assim: Bom descanso. .::

::. Betto Souza

*- Olavo Passos é um personagem criado por George de Paula para o "Drama Crônico".

O cheiro era insuportável, mas só para quem estava de visita, pois o casal que morava ali, já havia se acostumado com o odor que saia dos canos da privada que passava pela garagem. Kethilin e Wilderson, moravam ali, é, moravam ali na garagem, com mais uma criança. Com 4 meses de namoro ela havia engravidado, ele usava camisinha no começo, mas com suas juras de amor eterno conseguiu convencer Kethilin a manter relação sexual sem preservativo. Por incrível que pareça, pela pouca idade dos dois, não houve demonstração de desespero e nem preocupação, e sim, ficaram entusiasmados com o acontecimento, ficaram anestesiados pela felicidade de terem um filho. Já os pais de Kethilin ficaram indignados e revoltados, pois eles ainda eram quase crianças e muito imaturos. O casal estava cheio de sonhos, iria ter sua casa própria, morar juntos e constituir família. Eles não contavam com os abutres do ramo imobiliário e o sonho da casa própria foi adiado, na verdade foi aniquilado. Com um salario minimo e meio de Wilderson não conseguiram finalizar a compra de uma casa em 120 vezes em suaves prestações. Dessa forma, a família de Kethilin deixou que ficassem na garagem. No espaço minusculo só coube a cama, fogão, guarda roupa e a pia, o banheiro teriam que usar na casa dos pais. Ficariam ali temporariamente, esse era o pensamento, até que ambos arrumassem um emprego com um salário melhor. Esse "temporariamente" depois de 7 anos se tornou definitivo, se acostumaram - ou tiveram que se conformar - com a garagem e com cheiro indigesto. As reclamações de Kethilin eram diárias, precisava de mais espaço, as roupas mofavam sempre, era desconfortante receber visitas. Wilderson também sentia uma certa inquietação: o sogro vivia dizendo para ele procurar um lugar melhor, não tinha privacidade na sua própria casa, a criançada perturbava batendo na porta da garagem e o cachorro da sogra cagava todo o corredor. Teve uma vez, que devido as brigas constantes entre Wildeson e o sogro, tentaram alugar uma casa, o aluguel levava quase metade do salario e dificultava cada vez mais a economia familiar , aumentando as dividas. A criança estava grande para continuar a dormir na cama com eles, mas não tinha outro lugar, o casal perdia muito da intimidade. Mesmo com toda adversidade, desejavam mais uma criança, que segundo eles essa seria planejada. Não pensaram na questão estrutural de como ter mais uma criança morando na garagem. O planejamento para eles se resumia só na ideia de quererem ter o filho. A garagem era uma felicidade só, Kethilin estava gravida do segundo, depois de muito tempo o casal estava em harmonia de novo. .::

Em 201 6 estaremos novamente oferecendo o que há de melhor para você que deseja adquirir sua habilitação. Venha conhecer nossas instalações e conferir nossos preços!

"Um povo que valoriza seus privilégios acima dos seus princípios, cedo perde os dois."

Dwight D. Eisenhower



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.