Ôxe! - Agosto de 2014

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Venda Proibida

Agosto / 201 4

ANO VI − Numero 63

5.000 Exemplares

Francisco Morato - São Paulo

Brasil

imagem: Mari Moura

C o m p o r t a m e n to S o ci e d a d e Ce augulytjuevretae!!!

Distribuição Gratuita graças ao apoio do comércio local

O Jaraguá é Guarani! No mês em que se comemora o Dia internacional dos Povos Indígenas e o início do último ano da segunda década internacional dos povos indígenas, a gente traz um pouquinho da luta dos Guaranís do Jaraguá para permanecerem em sua terra. Realização:

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Na confecção deste material gráfico foram utilizados apenas softwares que atendem a licença GNU/GPL.


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Agosto / 2014

::. Diga, Ôxe! Dra. Andrea Amorim - médica e pesquisadora Esse mês, entrevistamos nossa querida amiga e parceira Andrea Amorim, que tem uma pesquisa voltada aos movimentos sociais no Brasil e que já viajou pra Espanha e pra Portugal, pra estudar as realidades nessas áreas, que são diferentes, mas nem tanto! Ôxe!: Pra quem não conhece, quem é Andrea Amorim? Andrea: Trabalho em saúde publica e trabalhei muito tempo com comunidades indígenas, escolhi trabalhar com essas comunidades antes de escolher trabalhar com saúde, em função dos problemas que estavam vivendo na área da saúde, pensei que poderia ser mais útil. Tenho grande interesse e gosto pela arte, música, dança, teatro e todas as expressões artísticas, acho que são ferramentas de transformação social, de reflexão e de tornar a vida mais suave. Sou mãe de dois meninos lindos, apaixonada por muitas coisas. Mergulho profundamente nas coisas que faço, a ponto de quase não conseguir voltar pra respirar... mas com o tempo, vou aprendendo a ter fôlego! Sou uma eterna estudante e essa entrevista será sobre esse meu lado! Ôxe!: Como surgiu o interesse em pesquisar movimentos sociais? Andrea: O interesse em estudar, surgiu da necessidade de buscar respostas que não tive sozinha e nem em cursos. Fiz o mestrado e o doutorado nas áreas de ciências sociais, saúde coletiva e ciências humanas em saúde. A formação em saúde nos dá uma compreensão muito rasteira da questão social, e para trabalhar num país onde a desigualdade social é tão grande, é importante compreender as questões sociais para podermos ter uma atuação melhor, para trazer respostas. Eu sofria e não entendia porque a política de saúde pública não vai pra frente. A legislação brasileira em saúde é boa, houve uma luta de movimentos sociais, de sanitaristas, para criação do SUS. Mas temos que construir o que está bonito no papel e não vira, isso é angustiante e difícil entender. Ôxe!: E como foi a pesquisa do seu mestrado? Andrea: No mestrado, tive a oportunidade de conhecer a professora Ana Bretas, da UNIFESP, que me deu total liberdade para fazer o que achasse melhor. Eu resolvi estudar o bairro do Recanto dos Humildes, em Perus, e a unidade de saúde que foi construída lá. Desde o começo da pesquisa, eu pensava em como aquilo seria devolvido pra comunidade, como o estudo poderia ajudá-los. Foi então que Ana me apresentou um método chamado Pesquisa-Ação, onde você dá voz e direção da pesquisa para a comunidade estudada. Foi muito intenso. Essa unidade de saúde passou por um processo de privatização, tive que aprofundar o estudo nesse processo de privatização da saúde. Nas entrevistas pedia: Conte a história do Programa de Saúde da Família (PSF) do Recanto dos Humildes, e quando contavam a história, automaticamente falavam dos movimentos sociais, pois esse programa foi implantado com luta e voz desses movimentos sociais. Pudemos ver claramente com o estudo, uma rede de movimentos, que começa com os Queixadas, na década de 50, da Fábrica de Cimento de Perus. Na história do PSF Recanto dos Humildes, as equipes ocuparam prédios e espaços públicos... eram 50 funcionários numa casa emprestada da comunidade, e depois ocupamos uma escola abandonada, ocupamos porque tínhamos raízes nos movimentos de moradia e através desses movimentos, o PSF foi construído. E através da Pesquisa-Ação, escutamos o pedido da comunidade: dar visibilidade para toda essa história de luta. Na apresentação do mestrado, todos os parceiros de movimentos sociais que me ajudaram na pesquisa, estavam lá, tocamos tambores, apresentamos teatro... foi algo bem inusitado e transformador. Ôxe!: E como foi a sua experiência de ir pra Espanha e pesquisar os movimentos sociais de lá? Andrea: Sempre pensei em ir pra fora do país, também tenho necessidade de viajar, aprender com outras culturas, trabalhei na Amazônia e aprendi muito com o diferente, a diversidade é a riqueza do mundo. Pessoalmente, pensava em sair e estudar, era uma oportunidade, eu precisava de um tempo pra mim, também para conhecer outros lugares e outras realidades. Fiquei com o coração apertado, me afas-

tei da família, mas valeu a pena. Então, entendendo os movimentos sociais como rede e como uma grande escola, construí o projeto de doutorado. Tive contato com uma proposta de um sociólogo português chamado Boaventura Souza Santos, que é a Universidade Popular dos Movimentos Sociais, uma proposta dele dentro do Fórum Social Mundial, num momento onde o fórum estava passando por várias reflexões. O Fórum foi durante muito tempo um espaço de encontro de movimentos sociais, depois de um tempo veio o questionamento sobre este espaço e onde estava a verdadeira transformação, pois a sociedade anda rapidamente e, às vezes, os movimentos sociais são lentos para mudanças. A proposta de Boaventura, a ecologia dos saberes, é uma proposta para compartilhar saberes. Ele valoriza como o terceiro mundo tem enfrentado o chamado desenvolvimento que é baseado na exploração e sacrifica a vida de muita gente. Fiz meu projeto em busca de enxergar movimentos de outros países e saber qual aprendizagem podemos ter com outras experiências, a proposta do Doutorado foi construir pontes entre movimentos do Brasil e movimentos da Europa. Mandei proposta para várias pessoas que tinham escrito a proposta com o Boaventura, e o professor Tomas Vilasante, da Universidade Complutence de Madrid, me aceitou pelo meu projeto, ele estuda processos democráticos e metodologias participativas. Ôxe!: E esse processo de estabelecer pontes entre os movimentos daqui e da Europa, como foi? Deu certo? Andrea: Ah, mas o que é dar certo? Algumas pontes são visíveis, são grupos que se encontraram e dá pra ver o que fizeram juntos, mas tem pontes que são menos visíveis, então é difícil avaliar qual deu certo. Serei mais objetiva, falarei de três pontes: Girandolá X Teatro da Escuta; Pátio Maravilhas X Comunidade Quilombaque; Fórum Popular de Saúde X YOSI Sanidade Universal. Antes de estabelecer essas pontes, fiz uma reunião com coletivos do Brasil, dessa região, perguntei quem topava que eu representasse alguns movimentos daqui lá fora, e alguns toparam. Sobre a primeira ponte, no segundo dia em Madrid conheci uma pessoa chamada Adriana, das Ilhas Canárias, ela me convidou pra conhecer um grupo de Teatro Social, fui com ela e conheci o Moisés, contei a história da minha pesquisa e contei a história dos Queixadas de Perus, ele me disse que conhecia a história dos Queixadas e da greve dos sete anos, fiquei abismada, foi como achar uma agulha no palheiro, percebi que a ponte já estava ali, só demos um estalo nesse dia, e tudo começou. Em janeiro, Geraldine e Chusa, do Teatro da Escuta, já estavam vindo pra cá, para trocar com o Girandolá, e desde então, aconteceram várias ações em parceria, o vínculo está formado. Sobre o Pátio Maravilhas, é um centro social ocupado, é auto-gestionado e fui acolhida lá. Tem 35 coletivos que ocupam o espaço, teatro, cozinha, yoga, aulas de salsa, tango, discussão política, o 15M usa o espaço. O 15M é um movimento muito importante na Espanha, que surgiu da indignação em relação a algumas perdas de direitos que os espanhóis vinham sofrendo com o desenvolvimento do neoliberalismo. Os movimentos espanhóis são articulados e politizados. Eu ia nas reuniões do Pátio e percebi que tinham os mesmos problemas da Quilombaque, tentamos estabelecer uma comunicação, mas não conseguimos, porém não posso dizer que não deu certo. Um amigo meu disse que na verdade, a PONTE sou eu. A

Do Recanto dos Humildes e da Aldeia do Jaraguá até Portugal e Espanha, a Dra. Andrea Amorim já pesquisou diferentes movimentos de reinvindicação social e agora finaliza tese mostrando essa experiência.

ponte está lá, alguns enxergam, outros não, mas ainda tenho vontade de estabelecer de fato, todas as pontes. O Fórum Popular de Saúde com o YOSI foi interessante. Não conhecia o Fórum, conheci depois de voltar da Espanha, fui em alguns encontros e imediatamente o pessoal se interessou em conhecer a experiência do YOSI Sanidade Universal, da Espanha, que passa por um processo de privatização de serviços sociais. A saúde e educação não podem ser privatizadas, porque as empresas tem uma visão de bens comuns como bens de consumo, como mercadoria, e a saúde não é mercadoria e não pode ser tratada exclusivamente como fonte de lucro. A lógica do mercado não cabe no serviço de saúde e nem de educação! Há um decreto do rei da Espanha que proibiu a assistência de saúde aos imigrantes em situação irregular no país, isso gerou muita confusão e muita gente que precisava de assistência foi excluída, inclusive gente que não se enquadrava no que dizia o decreto, o YOSI é um grupo de pessoas da comunidade, médicos, outros profissionais de saúde, que propõe desobediência civil, ou seja, esse grupo convence os profissionais da saúde a atenderem pacientes excluídos da assistência. Eu amadureci demais vendo essas experiências de luta. Sobre essas pontes, eu quero trocar mais, fico até angustiada, mas existe um preconceito do lado de cá, que é fruto de uma história, pois não queremos ser colonizados outra vez, essa relação com a Europa, causa receios em algumas pessoas, mas quando fui pra lá, vi gente igual a gente. Como dizia o movimento antropofágico, temos que engolir o outro, aproveitar o que é bom e vomitar o que não nos serve. Ôxe!: E pessoalmente, como foi essa vivência fora do Brasil? Andrea: Nunca tinha saído do Brasil, não conhecia ninguém la. Sou tímida, falando uma outra língua que não falava fluentemente... fui pra Espanha, que está nessa chamada crise, uma Europa querendo ser burguesa, mas que está perdendo seu bem estar social. Lá, não sou reconhecida como um deles, e sim como forasteira e negra, que pra mim é um motivo de orgulho, mas sofri discriminação. Alguns também me identificavam como Ameríndia, e isso reforçou em mim o quanto sou mestiça... eles não te reconhecem apenas pela cor da pele e sim, pela fisionomia, não tenho nariz nem boca de europeu. Tive muitos amigos africanos lá, isso foi ótimo, sentávamos e conversávamos, eu era do grupo deles, era bem diferente da relação com os europeus. Fiquei indignada também com a maneira como tratam os Africanos. Na Espanha e em toda Europa exitem centros de internamento de estrangeiros, que são verdadeiras prisões onde colocam os imigrantes em situação irregular, onde eles sofrem todo tipo de violência, inclusive sexual e física. Felizmente exitem europeus que lutam pelo fechamento desses lugares horrorosos. Tive amigos que ficaram presos e fiquei com nojo dessa situação. São coisas que não sabemos que existem porque tentam nos passar a ideia de que a Europa e os Estados Unidos são um mundo democrático e perfeito. Ôxe!: E pro futuro, o que você quer? Andrea: Quero ir pra África, pra Mali ou Senegal, essa vontade tem a ver com esse processo de aprendizagem que passei. .:: imagem: Acervo Pessoal


O informativo Ôxe! é uma iniciativa da Ôxe! Produtora Comunitária que visa propiciar à população de Francisco Morato e região, um veículo de jornalismo cidadão e produção, difusão e divulgação de ideias e informações na área cultural. Todas as informações, ilustrações e imagens são de responsabilidade de seus respectivos autores e obedecem a licença Creative Commons 3.0 Brasil Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença (acesse o blog para maiores detalhes), salvo indicações do(a) autor(a) em contrário. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/br/ ou envie uma carta para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA.

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::. O que a gente usou nessa edição

::. Na Faixa

2 Por: Fabia Pierangeli

::. Programação Espaço Ecos

Um cardápio variado de Arte será oferecido ao público pelo Espaço Eco's durante o mês de agosto, com música, vídeos e exposição de artes plásticas. O Eco's, que funciona de quarta a domingo, a partir das 18h, tem se tornado um importante espaço para a difusão do trabalho artístico na região. Então, já sabe, se estiver a fim de se divertir, encontrar gente interessante, ouvir boa música e enriquecer o seu universo cultural, o Espaço Eco's é uma boa pedida. De 1 a 30 de agosto, Exposição de Pop Art, apresentando trabalhos de alunos da rede pública de ensino da cidade de Cajamar, da professora Eliane Sansão. Todas as quartas, a partir das 20h, exibição de vídeos com Ailton Arnaldo (ENTRADA LIVRE). Todas as quintas, a partir das 20h, Jorge Ébano (ENTRADA LIVRE) . Dias 15 e 22 (sextas-feiras), a partir das 21h, In'Verso A3(Entrada R$ 3,00). Dia 23 (sábado), a partir das 21h, DJ Django & Vivi, com músicas dos anos 60 (Entrada R$ 3,00). Dia 29 (sexta-feira), a partir das 21h, DJ Elisa (Entrada R$ 3,00). Dia 30 (sábado), a partir das 21h, Marvin's (Entrada R$ 3,00). Mais informações: 4881-6057

Programas Ubuntu 12.04 (ubuntu.com) LibreOffice 3.5.7.2 (pt-br.libreoffice.org) GIMP 2.6.12 (gimp.org) ::. Sarau ConPoeMa Scribus 1.4.1.svn (scribus.net) segundo sábado de todo mês é Inkscape 0.48.3.1 r9886 (inkscape.org) diaTodo de encontro, de alegria e de exaltação Mozilla Firefox 22.0 (br.mozdev.org) à poesia em Francisco Morato. Amantes Audacious 3.4 (audacious-media-player.org) das artes e sedentos por expressão se reúnem, pra uma noite de troca e de compartilhamento, no Sarau ConPoeMa, ::. Colaboraram nesta edição: que acontece no Espaço Girandolá, que fica na Av. São Paulo, 965, Vila Suíça, Beto Bellinati Francisco Morato, SP. (betobellinati@gmail.com) O Sarau de agosto acontecerá no dia Danilo Góes (surtopsicoticoo@hotmail.com) 09 e o de setembro no dia 13, sempre a partir das 19h. Prepare já a sua poesia, Gilberto Araújo sua música, sua coreografia, sua cena ou (gilmetamorphos@gmail.com) simplesmente o seu desejo de estar junto e apreciar arte e participe desse Sarau, Messias Silva que é de todos os que quiserem fa(messiasilvarimador@gmail.com) zer parte dele!!! A entrada é semRégis Andrade pre GRATUITA!!! (togalindepatane@gmail.com) Outras informações: 44888524

A Equipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli, Mari Moura e Roger Neves (digaoxe@gmail.com)

imagem : Mari Moura

Agosto / 2014

O Fóru m Perm anen te do mês passado foi da Rocha e a próxima vai ser em Franciscoem Franco Morato

::. Fórum Permanente de Cultura

Desde agosto do ano passado, artistas e produtores culturais das cidades de Francisco Morato, Franco da Rocha, Caieiras e Mairiporã se reúnem mensalmente no Fórum Permanente de Cultura da Bacia do Juquery, para discutirem e pensarem em ações de implantação e fortalecimento de políticas públicas pra cultura na região. O próximo encontro acontecerá no dia 28 de agosto, às 19h, no Espaço Girandolá ( Av. São Paulo, 965, Vila Suíça, Francisco Morato, SP). Venha colaborar com essa construção!

::. Festival de Inverno Franco da Rocha 201 4

No ano de 2001, nascia em Franco da Rocha, de maneira tímida e despretensiosa, o Inverno Cultural Franco da Rocha, que na sua primeira edição, foi realizado em um único final de semana, reunindo artistas locais em um importante momento de encontro e troca estética e afetiva. A sementinha que foi plantada lá em 2001 germinou e ano após ano tem dado frutos, cada vez mais saborosos. Em sua 13ª edição, o festival vem se fortalecendo e se tornando referência em nossa região. A edição desse ano, vem recheada de muita música, teatro, dança, artes plásticas e cinema, tudo oferecido gratuitamente para o público. Confira abaixo a programação e se programe!!! 21/08 às 18h30 – Oficina de produção para cinema (20 vagas) – Centro Cultural 22/08 às 20h – Gabriel Nascimbeni (MPB) – Centro Cultural 23/08 às 15h – Oficina URBEX (fotografia) – Casa de Cultural 23/08 às 19h – Festival de dança – Centro Cultural

24/08 às 15h – Oficina “A dança da indignação” - Centro Cultural 24/08 às 19h – Espetáculo de dança: Solano em rascunhos cantares ao meu povo – Centro Cultural 26/08 às 18h – Oficina de filmagem para cinema (20 vagas) – Centro Cultu-

ral 27/08 às 18h – Espetáculo de Circo: Zé preguiça – em frente a estação 28/08 às 15h – Espetáculo de circo: Carlos Felipe em apuros – E.E. Parque Vitória IV 29/08 às 20h – Espetáculo de circo: Circo Frente e Verso – Centro Cultural 30/08 às 15h – Oficina Poesia, Rap &Intervenção – Casa de Cultura 30/08 às 20h – Show Paula Lima - em frente a estação 31/08 às 15h – Movimento Expressões Urbanas (Grafite, Mcs, B-boys e bandas) – Centro Cultural Mais informações: 4443-7050

::. Girandolá ConPoeMa Recebe...

Como de praxe, todos os meses, no primeiro fim de semana tem atividade cultural na região pelo Girandolá ConPoeMa Recebe, possibilitando à população o acesso GRATUITO a espetáculos teatrais, musicais e de dança, bem como bate-papos com os grupos artísticos participantes. Em setembro o projeto será realizado no Centro Cultural Newton Gomes de Sá, em Franco da Rocha, com apresentações do espetáculo “SagaS”, do grupo Una Teatro, nos dias 06 e 07 de setembro, às 20h e às 18h, respectivamente. A limitação de público é de 40 pessoas por dia! Aproveite o feriado ficando por aqui, conferindo essa programação cultural e não gastando nada! Não perca! .::


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O Jaraguá é Guarani!

imagem: Mari Moura

Por: Fabia Pierangeli

imagem: Mari Moura

Há muitos anos, quando eu ainda era adolescente, ouvi pela primeira vez na minha vida, alguém falando que existia uma aldeia indígena perto do Pico do Jaraguá, parque que fica há uns 30 km de distância da minha casa. Eu não lembro muito bem quais eram as circunstâncias, mas lembro de ter ouvido e lembro também que essa informação parecia tão distante de mim, que naquele momento, nem me interessou muito. Ao longo da minha vida, ouvi outras vezes essa informação, mas ela só passou a ser relevante e significativa de fato pra mim, quando pelos idos de 2011, junto com o grupo de teatro do qual faço parte, o Teatro Girandolá, começamos a pesquisar histórias de diversos lugares do mundo, para contarmos para crianças. Naquele ano, lemos e contamos muitas histórias e, por algum motivo, talvez nossa ancestralidade falando bem alto dentro da gente, as histórias indígenas começaram a nos chamar muito a atenção. E foi sem explicação também, que muitas histórias começaram a nos encontrar, uma avalanche de e-mails de amigos, que sem nenhum motivo e sem nem saber que estávamos pesquisando histórias, nos enviavam histórias indígenas, reportagens sobre povos indígenas, imagens, vídeos e por aí vai. O fato é, que sem nos darmos conta, fomos nos aproximando da história dos povos originários do nosso país e naquele mesmo ano, decidimos ir até a tal aldeia pra conhecer como aquele povo vivia. Pois bem, a primeira coisa que fizemos, foi tentar contato, sem nenhum sucesso, por meio dos órgãos oficias FUNAI e FUNASA. Depois de muito tentar, por fim, conseguimos o telefone de uma das netas da Cacique na época, D. Jandira, da aldeia Tekoa Ytu. Ligamos, marcamos um primeiro encontro lá na comunidade e a partir desse encontro, posso afirmar, com toda certeza, que descobri que na escola, tudo o que eu aprendi sobre os “índios do Brasil”, era mentira.

Na escola eu aprendi que casa de índio é oca, que eles caçam, pescam, nadam no rio, andam sem roupa, comem milho e mandioca, acreditam em vários deuses, usam cocar de penas e chamam a Lua de Jaci. Passei minha infância toda decorando datas e nomes... Em 1.500, Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil. Padre José de Anchieta “instruiu e defendeu” os índios brasileiros. Os bandeirantes foram homens “valentes” que desbravaram o interior do Brasil. Mas nenhum professor nunca me contou que no meu país se fala mais de 220 línguas diferentes. Na escola eu nuca aprendi que no Brasil existem mais de 300 povos indígenas e que cada um desses povos, tem um jeito muito particular de viver. Ninguém nunca me falou que o que chamam de descobrimento do Brasil foi na verdade uma invasão horrorosa onde milhares de homens, mulheres e crianças foram brutalmente assassinados. Eu não aprendi na escola que desde aquela época, homens, mulheres e crianças indígenas, continuam sendo assassinados e massacrados dia após dia. E eu demorei quase 30 anos pra descobrir que muitas coisas que me ensinaram na escola eram mentiras, mentiras cabeludas, assombrosas. Eu tive que ir até uma aldeia pra sentir pela primeira vez, pulsando dentro de mim, as minhas origens. Adentrar aquela tekoa (aldeia), ver aquele povo, ouvi-los falando, cantando, brincando, rezando, me tocou de uma forma intensa e dolorosa. Eu olhava para aquele povo e pensava como é que o meu país pode ser tão negligente com um povo que estava aqui muito antes da civilização europeia invadir a América. E esse inconformismo só aumenta dentro de mim, a cada dia que passa. Quanto mais eu convivo e conheço os povos originários desse nosso Brasil, mais inconformada eu fico. Nossos indígenas vivem de uma maneira muito diferente da gente. A relação que eles tem com o mundo é infinitamente diferente da relação que a gente, não indígena, tem. A consciência ambiental e a ligação intensa que existe entre os povos indígenas e a natureza é algo quase incompreensível para a nossa cultura ocidental. A relação com a terra para um povo indígena, transcende a questão de posse e isso os coloca numa condição de conflito permanente com os “grandes” donos de terras de nosso país. A terra é condição essencial para a preservação da cultura de um povo indígena. É na terra que se constitui uma aldeia, que é um espaço sagrado, onde o povo pode viver a sua maneira. Recentemente, a aldeia do Jaraguá – Tekoa Pyau – recebeu um mandato de reintegração de posse, de uma terra que está em processo de demarcação há quase 20 anos, de uma terra que já foi

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Guaranís da Aldeia Tekoa Pyau do Jaraguá se concentram no MASP antes da caminhada que tomou a Avenida Paulista e imediações.

reconhecida como terra indígena e que só aguarda a homologação final. Esse mandato de reintegração de posse é absurdo, aliás, como todo o processo de demarcação de terra indígena. Se todo o território brasileiro era originalmente ocupado por indígenas, isso significa que todo o Brasil é um território tradicional indígena, porém, pra demarcar um território indígena, é aberto um processo e um estudo para saber se o território solicitado é realmente um território tradicional indígena. E a não demarcação gera inúmeros problemas para as comunidades, uma vez que, quando uma comunidade vive num território não demarcado, ela não tem direito a nenhum serviço de infraestrutura básica como água encanada, saneamento básico, eletricidade, escola, posto de saúde. Além de tudo isso, a não demarcação gera um clima permanente de insegurança e também de conflito e violência. Sem o reconhecimento oficial de que uma terra é indígena, o povo que vive nela é vítima de quem se diz dono ou se acha no direito de explorar a terra ocupada. Eu sou integrante da Associação Cultural ConPoeMa, associação que produz esse informativo e que acompanha a luta diária de resistência da comunidade Guarani Mbyá que vive na aldeia do Jaraguá. Com essa comunidade temos aprendido muitas coisas, mas a lição mais forte, sem dúvida nenhuma está na forma como dia a dia esse povo resiste, com sua cultura. E por esse motivo, estamos com eles e apoiamos sua luta. Por esse motivo, nos juntamos a eles e aos tantos outros povos indígenas que esperam a demarcação dos seus territórios pra gritar, em alto e bom som, em coro: O Jaraguá é Guarani! O Brasil é indígena! No último dia 27 de julho, centenas de indígenas e outras centenas de amigos e apoiadores da causa indígena estiveram na Av. Paulista, em frente ao TRF – Tribunal Regional Federal, em uma manifestação onde homens, mulheres e crianças, caciques e pajés, cantaram, dançaram e oraram, num grande ritual onde foi entregue uma carta que falava sobre o mandato de reintegração de posse da aldeia do jaraguá, da forma como aquele povo vivia, das dificuldades que enfrenta e também exigia a imediata demarcação da aldeia do Jaraguá e de todas as aldeias já reconhecidas, mas que ainda aguardam a finalização do processo de demarcação. A luta dos povos indígenas é atual, legítima e está mais próxima do que podemos imaginar. Apoiar essa causa é preservar a memória cultural do nosso país, é resgatar nossa identidade. Demarcação das terras indígenas já! .:: Para saber mais sobre essa luta acesse: www.yvyrupa.org.br ou www.facebook.com/yvyrupa?fref=ts imagem : Mari Moura

nal Federal afim de Manifestação foi até Tribunal Regio despejo. sensibilizar juizes e conseguir suspensão de


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::. Primeiro Lugar - Adulto

::. Segundo Lugar - Adulto

INICIADOS

CÍRCULO VICIOSO

Por: Marcia de Carvalho | São Paulo/SP

imagem: Stock.XCHNG - www.sxc.hu

Por: André Luis Soares | Guarapari/ES

E corta cana corpo envolvido em pano, por agora o seu plano é livrar-se dos mosquitos; e queima palha entra ano e sai ano, a única coisa que muda é o patrão ficar mais rico. E colhe cana até a noite quando, enfim, deixa no chão o corpo todo dolorido, pra de manhã tomar café sem comer pão, o almoço é só feijão que fervido em água suja até arde de fedido. E limpa cana pra encher o caminhão, pois a usina de açucar ter que ser abastecida; e corta cana dia inteiro, tira bagaço e palha, sua casa só tem tralha, adobe cru e chão batido.

E corta cana com atenção ou o facão lhe tora os dedos, quem reclama perde o emprego, a gororoba e o abrigo; e se a palha é muito espessa e se a mão tem muitos calos, como forma de consolo o sol queima seu juízo. E dá o sangue e a vida ao Vale do Jequetinhonha, onde bom homem não sonha pois só pensa nos espinhos; nessa rotina de miséria, de vinhaço e de sofrer, seu destino é enriquecer os poderosos e mesquinhos. Neto de velhos boias-frias que morreram tendo nada, sua história foi escrita longe da escola e dos livros; nessa sina tão maldita que mais parece armadilha, também seguem a mesma trilha a mulher e os seis filhos. .::

A 4ª edição do Concurso de Poesi-

as “PROFESSOR APARECIDO ROBERTO TONELLOTTI” veio

consolidar e coroar este projeto, desenvolvido de maneira independente pela Ôxe! Produtora Comunitária, desde 2009. A premiação dos ganhadores do concurso aconteceu no Sarau ConPoeMa, dentro da programação do festival de artes integradas Oxandolá [In] Festa 2014. Neste ano foram 1 1 4 inscrições, 25 na categoria infantil, 51 na categoria juvenil e 38 na categoria adulto, números que crescem ano a ano, provando o interesse e demanda da população brasileira pela arte e cultura, literatu- ::. Terceiro Lugar - Adulto ra, e mais especificamente, neste caso, pela poesia. MEIO A MEIO Por: Geraldo Trombin | Americana/SP O concurso obteve representatividade de todas as regiões do Brasil, e Ando meia-noite, meio-dia; mais uma vez, inscrições vindas do meio cheio de certo vazio! exterior. Do Brasil, vieram inscrições Ando meio-termo, meio ermo; dos estados do Pará, Bahia, Perriso amarelo, meio sem elo. nambuco, Rio Grande do Norte, AlaAndo meia boca, meia-idade, goas, Distrito Federal, Espírito Santo, meio assim sem vaidade; São Paulo, Rio de Janeiro e Rio de pouca prosa, espinho de rosa! Grande do Sul, e também uma vinda Ando meio azia, do Japão. Agradecemos a participameia-sola nos pés da disritmia; ção de todos os envolvidos, em es-

pecial aos incentivadores, pais e professores, que nos auxiliam nesta empreitada de fomento a poesia, e parabenizamos a todos os inscritos e ganhadores! Neste mês, começamos a publicar as poesias vencedoras do concurso e você confere aqui!

"Eu admiro qualquer pessoa que lute e grite em prol de sua decência."

Deborah Kerr

E acotovelaram-se Assim, Encontrando O que não buscavam Roçando o cominho dos cotovelos Tirando fagulha do corpo alheio Produziram para toda a vida - ah, só depois saberiam O tempero de um amor inteiro. .::

bordão meio chato da gaita de foles! Melhor dar meia-volta, e (volta e meia) tomar uns bons goles... da mais pura poesia. .::


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Quando por mim passou você deixou, uma fragrância no ar de minhas lembranças você usava tranças, a minha queixa ao lembrar sua madeixa, e tê-la deixado ir à se perder, à se evadir de minhas vistas sumir, lembro você toda dengosa parecia aquele astro de cauda luminosa, o cometa que em torno do Sol dá voltas encantado à vi pelas costas, na esperança de ver você senti no rosto o vento e da brisa à mercê, naquele momento os meus pensamentos, voaram para o espaço se direcionaram, à alguns anos passados o dia que foi lançado ao espaço encantado, com três homens de coragem a nave e o mundo vendo as imagens, em rede nacional o flutuar orbital,

o homem marcar quando na lua, à pisar, nos livros de histórias a conquista, a glória, antes da Lua chegarem pelas estrelas passaram, no mar da tranquilidade Neil Armstrong e Edwin Aldrin, ao alunissar emoções ao mundo à passar, a marca das pegadas no nosso satélite natural, fixadas, em evolução no módulo Michael Collins, momentaneamente à realidade volto mas nessa magia estou envolto, passo o tempo à imaginar em devaneios, à divagar, nostalgias, saudades, evoluem às passagens, às fases da Lua, suas mudanças constantes cheia, nova, crescente, minguante; comecei a crer numa alucinação apagá-la do meu coração, estava, num mundo, suspenso privado de senso, viví uma paixão irreal, gosto-defel um amor infundado em lua-demel... .::

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Por: Messias Silva

Oferecimentos:Helena Maria Correia; Prof. de português/CEU vla.Atlântica Pirituba SP. Mais a Prof. de história e filosofia/CEU vla.Atlântica Pirituba SP. E agradecimentos ao Hélio Sales da Cunha; mestre de manutenção por ceder seu acervo de conhecimentos em sua biblioteca particular.

DE UM RENASCIMENTO

Por: Beto Bellinati

An tes, B e to C om u m , Di straído. En t ã o , Fran co d a Roch a. . . G o st e i ! H i póteses, In tel i g ên ci as. . . J am ai s Larg u ei Morato, N i t i d a m e n t e, O u t ro s s i m : Pon tos Qu i xotescos R en a s ci . Son h os, Teatro, U to p i a , Vi a-crú ci s. - Xeq u e-m ate! Z i c a. . . M u i t a zi c a ! N a q u e l a é p o c a, o a b e c e d á r i o ti n h a só 23 l etras. . : :

imagem: WikiMedia - wikimedia.org // fotomontagem: Roger Neves

Em 201 4 estamos novamente oferecendo o que há de melhor para você que deseja adquirir sua habilitação. Venha conhecer nossas instalações e conferir nossos preços!

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NEFELIBATA-1

EU ME ESCONDO

Por: Régis Andrade

Ando mas não chego, Quem não anda vai longe, Vejo mas não enxergo, Quem não vê, enxerga longe, Falo mas não me compreendem. Quem é mudo é compreendido, Escuto mas não entendo, E quem é surdo ouve muito bem. ilustração: Roger Neves

imagem: Stock.XCHNG - www.sxc.hu

Agosto / 2014

Sou perfeito fisicamente, Mas sou um inútil, Me escondo de mim mesmo, Eu me engano, arrumo desculpa, Sou uma farsa, Enquanto pessoas com deficiências batalham, lutam por seus ideais, Eu me escondo, Enquanto pessoas que não andam, seguem seu caminho, Eu me escondo, Pessoas que não vêm, enxergam com detalhes, eu vejo mas não vejo, Eu me escondo, Pessoas que não falam, se comunicam com todos, eu que falo fico mudo, É eu me escondo, É, arrumo desculpa pra tudo, Eu me escondo, sou uma farsa. .::


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Já fazia algum tempo que ele estava vindo me visitar, mas devido a outros afazeres e preocupações não lhe deu muita atenção. Dessa forma, ele não se sentia a vontade, não demorava muito tempo e depois ia embora. Mas no outro dia estava de volta. Certo dia, depois de um certo tempo, percebo que ele estava ficando mais tempo em casa, isso era resultado de uma atenção maior que lhe dava, acho que com o tempo havia nutrido uma certa simpatia. E com o passar do tempo foi surgindo uma certa afinidade. A simpatia era tanta que tive a impressão que ele sempre esteve presente ali, ao ponto que sua presença fizesse com eu ficasse descontraído, fazendo com que eu revelasse as minhas franquezas. Isso era estranho, eu revelava meus segredos e erros, e quando revelava parecia que eu não sabia deles, tanto ele como eu ficávamos surpreso com tais revelações. Sempre me mantive intocável sentimentalmente, nunca chorei na frente de alguém, nem sequer deixei transparecer que sentia alguma dor, mas ali dialogando deixava transparecer essas reações. As visitas eram constantes e mais duradouras, o que fazia com que eu me distanciasse das minhas amizades e evitasse outras. Como tinha a sua companhia evitava sair de rolê, encontros e festas, pois ele me fez enxergar que a vida era o mais do mesmo. Dessa maneira, não via mais graça em nada, e tudo que eu sempre valorizei ele desvalorizava e conseguia me convencer sobre a sua opinião. E algo me atrai nele e sem percebe o meu passatempo era todo com ele. Ele está pensando em se mudar para minha casa. Ainda estou pensando em divertir o beliche com meu amigo Desanimo. .::

::. BETTO SOUZA

Por: Danilo Góes

imagem: Stock.XCHNG - www.sxc.hu // fotomontagem: Roger Neves

A Visita

imagem: Stock.XCHNG - www.sxc.hu

Agosto / 2014

RETALHOS DE INFÂNCIA

memórias de um tempo brincante

O caso do vento que cantava o fim do mundo Por: Gilberto Araújo

Em Casa de minha Vó Zefa, no finzinho da tarde, quase sempre o vento anunciava o fim do mundo em uma solene cantata solo. Atravessava o imenso vale que havia depois das bananeiras, lá pros fundos do quintal. Era um assovio assustador que chegava balançando as mangueiras e as ameixeiras. Nem o barulho dos aviões que ousavam passar por ali naquele momento era páreo para o canto do vento. E todos nós – eu, meus três primos e nossos cavalos de bambu - aguardávamos aflitíssimos, até o cair da noite, o fim do mundo, que era sempre adiado, para a nossa sorte e desapontamento. .:: "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."

Friedrich Nietzsche


fotomontagem: Mรกrcio Salomรฃo


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