Ôxe! - Julho de 2013

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Ven d a Proi bi d a

Distribuição Gratuita graças ao apoio do comércio local

ANO IV − Numero 50

Comportamento Sociedade Cultura e protagonismo!

5.000 Exemplares

imagem: Roger Neves

Francisco Morato - São Paulo Brasil

A ELITE TREME! Realização:

Be Linux, Be Free!

Na confecção deste material gráfico foram utilizados apenas softwares que atendem a licença GNU/GPL.


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imagem: Mari Moura

O informativo Ôxe! é uma iniciativa da ::. Diga, Ôxe! O MANDRUVÁ Ôxe! Produtora Comunitária que visa Ôxe! Pra quem não conhece quem é o propiciar à população de Francisco Mo- Mandruvá? rato e região, um veículo de jornalismo O Mandruvá: É uma banda de rock cidadão e produção, difusão e divulgaroll, a proposta inicial em 2003 era ção de ideias e informações na área cul- and fazer uma banda de rock com som prótural. Todas as informações, ilustrações prio, misturando vários ritmos, o que mais e imagens são de responsabilidade de pesou foi a formação musical de cada um, seus respectivos autores e obedecem a curtimos rock, mas também oulicença Creative Commons 3.0 Brasil sempre víamos MPB e Rap. Eu, Denis e Marcelo Atribuição-Uso Não-Comercial-Com- não éramos engessados num estilo só, ia partilhamento pela mesma Licença de Alceu a Slayer. Já tinhamos passado (acesse o blog para maiores detalhes), fase de moleque, “que eu sou salvo indicações do(a) autor(a) em con- daquela grounge” ou determinado estilo, já trário. Para ver uma cópia desta licença, trash, escutávamos muitas coisas e a banda fivisite http://creativecommons.org/licou com essa cara, com várias pegadas e censes/by-nc-sa/3.0/br/ ou envie uma som eclético. Mas somos uma banda carta para Creative Commons, 171 Se- um de rock, com som autoral. Temos essa pecond Street, Suite 300, San Francisco, gada de fazer som próprio e releituras, California 94105, USA. sempre! Não tem uma definição, é antropofágico, é comer e vomitar tudo misturado, não estamos inventando nada, a gente reinventa. Be Linux, Be Free! Ôxe! Qual o segredo de ter uma banda Na confecção deste material há 10 anos? gráfico foram utilizados O Mandruvá: Primeiro, tem que gostar apenas softwares que atendem muito do que a gente faz, porque tem váa licença GNU/GPL. rios motivos pra chutarmos o balde e desistir! A nossa ideia nunca foi ser popular, até porque não fazemos música popular, ::. O que a gente usou nessa edição então é vontade de tocar mesmo, por isso não conseguimos parar. A gente curte o Programas que a gente faz. E aprender com o outro, Ubuntu 12.04 (ubuntu.com) gente se junta por afinidade e com o LibreOffice 3.5.7.2 (pt-br.libreoffice.org) atempo conseguimos nos ouvir e entender GIMP 2.6.12 (gimp.org) o que o outro quer. Scribus 1.4.1.svn (scribus.net) Inkscape 0.48.3.1 r9886 (inkscape.org) Ôxe! Agora em Julho vocês comemoram 10 anos de O Mandruvá e vocês Mozilla Firefox 22.0 (br.mozdev.org) trazer o Dead Fish. Porque o Dead Audacious 3.4 (audacious-media-player.org) vão Fish? O Mandruvá: Quando ouvimos o som do Dead Fish, curtimos, quando vimos as ::. Colaboraram nesta edição: letras então, achamos do caralho e pensamos que seria bacana conversar com eles. Betto Souza (subjetividadeematividade.blogspot.com.br) Então, quando houve essa possibilidade de fazer parceria com a prefeitura de caiCleide Lima eiras, o primeiro nome que veio à cabeça (cleidelimamar@hotmail.com) era o deles. Por ter um conteúdo político muito forte, dialogar com a gente e com a Messias Silva proposta do evento, caiu como uma luva. (messiassilva0810@gmail.com) Ôxe! A gente vive numa região muito Régis Andrade pobre e que as atividades culturais são (togalindepatane@gmail.com) relegadas pra segundo ou terceiro plano Sidnei Santos e o rock é muito mal visto, como vocês (robinholook@hotmail.com) conseguiram mobilizar um evento desse A Equipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli, tamanho? O Mandruvá: Tivemos uma sorte, Gilberto Araújo, Mari Moura e porque na região não tinha banda de som Roger Neves (digaoxe@gmail.com) próprio e misturado, então a galera começou a nos olhar com outros olhos, teve uma gestão em caieiras e o PT ficou na área da cultura e nos procuraram, como uma banda que tocava sons diversificados, então começamos a focar nesses eventos,

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A banda O Mandruvá, referência em nossa região, comemora 10 anos de caminhada e traz uma das maiores referências do rock brasileiro na atualidade, Deadfish , para tocar com eles e outros convidados.

que era o Juventude Fazendo Arte, que estamos fazendo parceria hoje. Como Caieiras é perto de Franco, Morato, Perus, Taipas, nosso nome começou a escapar nessas regiões. Participamos do Fermuca, um festival, e ganhamos, conseguimos gravar o CD, e em toda essa conjuntura, nos firmamos como referência. Isso foi construído, e nos utilizando desse “know row”, quisemos fazer um outro projeto, porque em Caieiras houve uma mudança de gestão que limou os projetos culturais, e como tinha a Quilombaque, em Perus, fomentando cultura há uns anos, nos aliamos a eles, que tem experiência em produção de cultura e fomos caminhando. Em 2010, realizamos só um MAT – Música e Atitude em Transpiração, em 2011 outro, e no ano passado, fizemos cinco eventos. E quer queira quer não, através das mídias eletrônicas, mesmo que a galera não vá, ela vai ver o cartaz, vai repassar, vai curtir, vai comentar, tudo isso é divulgação. Nos utilizando disso, resolvemos encampar esse novo projeto, que ainda está sendo gestado, em parceria com a prefeitura. A ideia de fazer esse intercâmbio é justamente trazer o pessoal de fora, pra que eles divulguem o evento em outros lugares e O Mandruvá vai estar lá, junto. A partir do MAT em Perus, surgiram convites pra tocar no CCJ, Paranapiacaba, Várzea Paulista e isso surte um efeito, fizemos em uma escala pequena, porque quando tem mais grana, mais estrutura, mais divulgação, fica melhor. Ôxe! Durante a apresentação de vocês no Oxandolá, vocês falaram sobre as manifestações que vem acontecendo no país, a respeito da repressão. Como vocês vêem essas manifestações e o rumo que estão tomando? O Mandruvá: Nós achamos super válido, mas tem que se ter cuidado, esse movimento tem uma tentativa de endireitar-se e aí, a mídia burguesa está se aproveitando disso, pra tranformá-lo num movimento de direita fascista e nacionalista, é complicado. Porque amamos o Brasil, mas quando tem uma cultura de ideia nacionalista, onde há exclusão das minorias, isso é fascismo, porque eles querem um Brasil forte, e veem a fraqueza no pobre, no negro, no homossexual, co-

mo se essas camadas atrapalhassem o desenvolvimento do país. Isso que me dá receio, mas em contrapartida é muito louco você ver 20 centavos se tornar um símbolo. Ôxe! O que é necessário pra mudar a nossa região, principalmente ligado à música e atividades culturais? O Mandruvá: Deixar a vaidade de lado, tem vários grupos tentando fazer movimentos culturais legítimos, mas ainda há certa vaidade de não querer se misturar, mas tem que se juntar. Formar coletivos, que não precisam pensar igual, mas precisam saber dialogar, porque o foco é produção cultural. Não estamos nos vendendo, estamos recuando pra poder fazer um gol bonito, não é rachando, não é quebrando tudo, temos que ter diálogo, negociação política, por isso que pra tocarmos um projeto macro na região é necessário ter essa postura. Ôxe: Como vocês se mantém? O modo que o grupo se organiza? O Mandruvá: A gente se mantém com a vontade, na raça. Desde o início, a gente deixa claro que tudo que formos ganhar com o Mandruvá é para o Mandruvá, temos a ideia de investimento na banda, visamos poder tocar, que é o que gostamos de fazer. Por exemplo, nunca ganhamos nada com o MAT, só gasolina, cerveja e camarim, nesse evento agora não tem cachê, vamos ganhar 200,00, assim como as outras bandas, quem vai ganhar cachê é o Dead Fish. Temos alguns gastos com luz, gasolina do carro, às vezes trocamos equipamentos, mas é pontual, isso é pra mantermos a banda. Agora temos foco no CD, então estamos guardando grana para a viabilização dele. Nos organizamos assim, talvez de uma forma não muito profissional, mas é o que temos. Ôxe! E qual o futuro do Mandruvá? O Mandruvá: A gente não pensa muito nisso, vamos vivendo, nosso projeto é lançar o CD, não fazemos muitos planos. O agora bem feito sobra pro depois, se não for bem feito, não sobra pro depois, porque desanima, sobretudo depois de dez anos. Depois desse AGORA do dia 27, pode ter um depois muito louco e melhor ainda. .::


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::. Na Faixa

Por: Meire Ramos

D’água (Francisco Morato-SP), as mono bandas Extre- 27/07 – banda O Acaso – classic rock

::. Programação Cultural em Franco da Rocha me Blues Dog (São Matheus-SP), X So Pretty (Centro- 28/07 – Rafael Carodoso – MPB Esse mês a Secretaria Adjunta de Cultura de SP), o público também poderá ver artistas internacionais 31/07 – Balaio Autoral Franco da Rocha inaugura mais um novo projeto de di- como é o caso do Congo Shock (Buenos Aires-ARG), e

::. O Mandruvá e Dead Fish em Caieras

A Prefeitura de Caeiras realizará a partir do mês de julho o projeto Juventude Fazendo Arte. O evento será realizado em parceria com o projeto Música e Atitude em Transpiração, o M.A.T., da banda O Mandruvá, que começou em 2010, em parceria com a Comunidade Cultural Quilombaque. Esse será um espaço para os artistas e grupos da cidade e região se apresentarem e divulgarem seus trabalhos. E para a abertura do projeto, no dia 27 de julho, além das bandas da região como a própria O Mandruvá (Caieiras-SP), Sonora Artificial (Caieiras-SP), Nego

"Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado."

Rui Barbosa

O Espaço Eco`s fica na Rua João Mendes Junior, 542 intervenções de cortejo e grafitagem com Bonga (Caieiras-SP) e Danillo Guetus (Perus-SP), B.Boys com o – no centro de Francisco Morato. Professor Chuim (Caieiras-SP), e nada mais nada menos que DEAD FISH, como banda convidada mais que Mais informações: 4881-6957 especial. Tudo isso você confere a partir das 14h no ::. Teatro nos Parques PEC – Antigo MAC (Rod. Pres. Tancredo de Al. NeNos dois próximos meses, ves, KM 34), a entrada é 1 kg de alimento. a população de São Paulo poderá ter acesso a mais de ::. Espaço Eco`s opções de apresentações O Espaço Eco`s tem se tornado um grande ponto de 30 GRATUITAS espetácufruição cultural na cidade de Francisco Morato, promo- los teatrais emdeparques vendo atividades artísticas em quase todos os dias da Capital, Grande São Paulodae semana, e em que o público da região encontra ativida- interior do estado. des para todos os gostos. O Teatro Girandolá está Confira a agenda de julho: na programação com o es12/07 – DJ Django e DJ Vivi – Flash Back anos 70, 80 e 90 petáculo Conto de Todas as Chance de ver o Teatro Girandolá Cores, e se apresentará nos 13/ 07 – Katrash com exposição de Ana Bedoya dias 27 de julho (sábado), no parque da Água Branca 14/ 07 – Arnaldo e as novas mídias (MPB) no Parque da Água Branca (Av. Francisco Matarazzo, 17/07 – Balaio Autoral 455 – Barra Funda – 3865-4130), às 16h, e 25 de agos18/07 – Stand up com Felipe Tristão to (domingo), no Parque da Cidade (Av. Olivo Gomes, 19/07 – Esttaca Zero – rock`n roll 100 - Santana – São José dos Campos – (12)392120 /07 – Casulo de Rudá – reggae 9382), às 15h. 21/07 – Tequila – rock acústico 24/07 – Balaio Autoral As atividades vão de 13 de Julho a 25 de Agosto de 25/07 – Arnaldo e Fabiano – chorinho 2013, confira a programação completa pelo site: 26/07 – Noite Árabe – com apresentações de dança do www.teatronosparques.com.br .:: ventre imagem: Divulgação

fusão artística, o Roda dos Sete Tons. O projeto pretende ser mesmo uma grande roda de músicos, em que todos podem tocar seus instrumentos, sem qualquer restrição de estilo musical, aproximando também diretamente o público que passa pelas ruas do bairro. O evento inicia-se no dia 20 de julho e acontecerá na Avenida Giovani Rinaldi, próximo à pista de skate. E dando continuidade ao projeto Vitrine do Som, os moradores de Franco da Rocha poderão ver os trabalhos dos artistas da música Sertaneja da cidade no palco na Praça Caieiras, a partir das 15 horas do dia 13 de julho. Os shows mostrarão as vertentes caipira de raíz, o country e o sertanejo universitário.


imagem: Roger Neves

Ao fundo: Rua Alcantara Machado, no centro de Morato, tomada pela manifestação organizada por estudantes da rede pública estadual.

Por: Roger Neves

para o próprio umbigo e começa a ver e agir como um todo, pensando não apenas na gente, mas no coletivo; podemos transformar nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso estado e nosso país em algo melhor PARA TODOS! Mas passado esse momento de manifestações, as pessoas começam a se perguntar: e agora? Obviamente não dá pra ficar protestando para sempre e em algum momento isso não vai ter mais o mesmo efeito, então o que fazer? Além disso a própria sociedade (de dentro e fora do Brasil) já espera algo mais disso tudo e, principalmente, resultados concretos desse momento. Além de levar as pessoas para a rua e abalar e acuar todos os políticos, sem exceção, do país; o que mais conseguimos? Além de gerar o momento de maior instabilidade política dos últimos vinte anos, o que mais conseguimos? Além de fazer a Dilma tremer, o que mais? Vinte centavos? Longe de ser uma solução, ir às ruas e manifestar-se sobre sua insatisfação é apenas uma parte de um processo longo de mudança de paradigma. Uma parte importante, mas ainda assim uma parte. Mostrar que você é contra algo, não resolve a situação; é preciso construir uma outra opção e se você não fizer isso, alguém vai fazer no seu lugar (o que nunca é uma boa ideia). Por outro lado, é preciso ter uma visão clara a respeito do que se quer, para obviamente não ser ludibriado. Ter derrubado a passagem para o patamar anterior é uma baita conquista, mas não resolve o problema do transporte público, que é muito maior, e nem garante que em algum momento (ou de um modo colateral) eles aumentem a passagem. Muito menos resolve o enorme problema de mobilidade nas grande capitais e periferias; no nosso caso aqui em Morato, continua-

mos reféns da Moratense e da CPTM (carro nem é uma opção válida). Numa democracia representativa como a que temos no Brasil, depois de protestar ainda é preciso ficar de olho no que nossos representantes estão fazendo, se estão fazendo realmente o que a gente quer, construir mecanismos para que possamos participar e interferir na tomada de decisão dos rumos do país, participar desses mecanismos e fazer valer nossa vontade. Em outro sentido, ainda é preciso fazer nossa parte, ficar esperando que o governo resolva tudo não é uma boa ideia. Mas também reclamar da sujeira da cidade e da agressão ao meio ambiente, mas jogar o papel de bala no chão é o fim da picada. Nas palavras do mestre Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. E é justamente nestes dois pontos que mora todo o perigo. Sem que você perceba, a cortina de fumaça já foi lançada. É muita ingenuidade achar que os políticos profissionais e os grandes empresários de nosso país entregariam o jogo assim tão fácil. A maioria deles ganha a vida nos sacaneando, então é claro que iriam dar um jeito de reverter o jogo em seu favor, principalmente se ninguém estiver olhando. Veja o que aconteceu com a PEC 37, uma das principais reivindicações das manifestações: diversos deputados que tinham se posicionado a favor dela inicialmente, mudaram de lado assim que estouraram as manifestações, o que fez com que fosse derrubada no congresso. Mas isso não quer dizer que ela tenha sido enterrada e o deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), já vem estudando uma forma de reapresentá-la no próximo ano. A lei da “ficha limpa”, o fim do voto secreto dos deputados e senadores, a reforma política, dentre outras já vão sendo torcidas e retorcidas, mascaradas, manobradas e atenuadas, enquanto o tal plebiscito e outros “cafés pequenos” da política são tratados com pompa e estardalhaço pelo Planalto Federal e os grandes meios de comunicação. A manobra é velha e conhecida: vai se empurrando com a barriga em meio a discussões e burocracias intermináveis a fim de esperar os ânimos esfriarem e as pessoas esquecerem das demandas ou se descaracteri-

Concentração pré-manifestação na Praça Belém da Serra: juventude vai se organizando em coletivos.

imagem: stock.xchng

A ELITE TREME!

Há cerca de um mês mais ou menos, vimos ir às ruas a população brasileira com as mais variadas demandas. Ainda que puxados pelo MPL e as reivindicações de menores tarifas no transporte público, conforme foram crescendo os protestos, também cresceram as reivindicações. PEC 37, “cura gay”, marco regulatório da internet, gastos da Copa, o “padrão FIFA”, dentre outras demandas da população que cansou de ficar só olhando. E nossa região não ficou fora disso: Morato, Franco, Caieiras, dentre outras tiveram também suas manifestações que causaram alguns transtornos, mas deram uma bonita demonstração de exercício da cidadania e protagonismo popular. Talvez o maior mérito dessas manifestações tenha sido mostrar e provar, para o grosso da população, o óbvio: que juntos podemos conseguir muito mais, vinte centavos não é nada comparado a tudo o que poderíamos conseguir; e, por outro lado, que um povo não deve temer seu governo, o governo sim, deve temer seu povo. Ainda que tenha sido lindo ver aquele povo todo na rua, sorrindo e protestando, por outro lado esse ainda não é o fim da luta. O caminho é longo e está cheio de perigos; é preciso tomar cuidado para que a sociedade brasileira não cometa outra vez os mesmos erros que cometeu em outros momentos e jogue fora, a troco de nada, esse belíssimo momento histórico. E é realmente um belíssimo momento. Essas manifestações, dentre outras coisas positivas, pôde trazer de volta a esperança de um futuro melhor a uma população entorpecida pelo consumo sem sentido e pelo descaso com que historicamente foi tratada. Essas manifestações nos mostraram o que político nenhum quer que a gente lembre, que a união das pessoas, a pressão popular e suas manifestações pacíficas são a maior força política de qualquer país. Mais que isso, com elas, as pessoas voltaram a descobrir algo que a ditadura militar tentou sufocar nos brasileiros, a certeza de que lutando juntos conseguimos transformar qualquer coisa. Quando a gente para de olhar

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imagem: Roger Neves

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"Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar."

Cora Coralina


imagem: Roger Neves

imagem: Roger Neves

za parcial ou completamente a proposta original. É o que já vem acontecendo com a Lei da Ficha Limpa, projeto de iniciativa popular e referendado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas para a qual “já circulam sugestões como a de aliviar a punição para políticos que forem considerados inelegíveis pela Justiça Eleitoral”, como apurou o portal IG. Outro caso é o do Voto Aberto que no calor da batalha foi empurrado para frente, mas que muito provavelmente vai se restringir apenas aos casos de cassação de mandato, enquanto propostas bem mais amplas como a PEC 196 e 348 (2001) que acabavam mesmo com o voto secreto vão sendo cozinhadas no fogo brando da burocracia e não tem sequer previsão de quando poderão ser votadas. Mas há casos mais graves ainda. É o caso, por exemplo da lei que tipifica o crime de terrorismo no Brasil, relatado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que vai “ficar pra depois” e, dependendo de como se encaminhe, pode enquadrar no futuro movimentos sociais e manifestações como as que vimos pelo Brasil nos últimos dias. Um outro exemplo de possível retrocesso envolve o chamado marco regulatório da internet, outra demanda presente nos protestos. Esse marco regulatório definiria as regras para usuários e empresas de internet e comunicação no Brasil, o que em tempos de olhares bisbilhoteiros dos americanos é de absoluta importância. Um dos principais pontos é a chamada “neutralidade da rede” que, na prática, iria impedir que as empresas

continuem controlando a velocidade de conexão e definindo pacotes de dados com base no perfil dos consumidores, já que o anonimato dos usuários deveria ser protegido. Com isso as empresas iriam lucrar menos, pois não poderiam limitar o acesso dos usuários, o que iria indiretamente baratear o acesso; e por outro lado, ficaria mais barato “ligar” pela internet para alguém em outro estado do que pelo telefone. Advinhe o que as empresas de telefonia fizeram. Desde que foi proposto, o projeto de lei tem sido adiado sucessivamente e mais uma vez foi empurrado pra frente. Infelizmente no Brasil (e acredito que no resto do mundo também) somente protestar não é o bastante para sermos ouvidos. É preciso ainda ficar em cima, acompanhar de perto as providências que o governo toma, ficar a par do que acontece e se envolver na vida pública. A elite tremeu e ainda treme ao se lembrar das recentes manifestações, isso porque eles sabem de todo o poder que a massa tem e de tudo o que pode ser feito se as pessoas se mobilizarem; mais que isso sabem que duzentas pessoas na rua podem muito mais do que vinte trancadas em gabinetes confabulando e tramando contra o bem público. Sabem que numa democracia, a vontade da população é soberana e é obrigação de nossos representantes acatar e fazer valer essa vontade. Sabem que se a população quiser, a chapa esquenta de verdade. Mas cabe a nós fazermos isso acontecer. Isso não vai vir de bandeja. Do mesmo modo, é preciso que façamos nossa parte, é preciso tomarmos parte do processo de decisão, assim como criarmos nossas próprias soluções. Ficar eternamente esperando que o governo faça é tão ruim quanto deixar que ele faça o que quiser. O que acontece se apenas 20% de toda a população mora-

Manifestantes fecham rua em frente à antiga estação para decidir coletivamente o trajeto.

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Victor Hugo

tense decide boicotar o sistema de transporte? E se eles criarem outros meios para irem ao trabalho e voltar? E se eles derem carona uns aos outros? E se eles fizerem uma grande compra coletiva, ao invés de um monte de pequenas compras, quanto de economia isso irá gerar para eles? E se criarem uma horta comunitária e não precisarem mais ir até o centro fazer a feira? E se fizerem um grande mutirão, reformando as casas uns dos outros? E se eles se mobilizarem para acompanhar, fiscalizar e exigir que certa obra seja concluída? E se esses 20% puderem decidir diretamente o futuro da cidade? O que isso tudo vai gerar? Eu arrisco uma resposta: um futuro melhor. Mas é preciso escolher ativamente esse futuro melhor. É preciso escolher entre a novela e um futuro melhor, entre acompanhar um campeonato que não leva a lugar algum e um futuro melhor, entre a cervejinha e um futuro melhor, entre não fazer nada no sofá e um futuro melhor, entre postar inutilidades ou um futuro melhor no Facebook. É preciso também perder o medo. Perder o medo de tentar, de se arriscar, de se organizar e, especialmente, das outras pessoas. Durante as manifestações em Morato, vimos um medo exagerado das pessoas quanto às manifestações, o que fez fecharem quase tudo no centro. É gente como a gente e como tantos outros querem felicidade e um futuro melhor. E pode apostar, TODOS NÓS merecemos e temos direito a isso e mais. E aí, pronto pra agir? .::

Ao fundo, manifestação toma todo o centro da cidade. População foi aderindo ao movimento durante percurso.

Assim como em outros municípios, tônica do movimento em Morato foi a alegria e o pacifismo.

"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã."

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imagem: Roger Neves

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"Os Amantes do...

Por: Messias Silva Resignada na imposição do voto-padrão e tristonha à ouvir um constante clichê: que a mamata escoa dinheiro pelo ladrão, a massa, dispôs- se a se mexer!

Viva o dia em que O mundo parou! viva o dia Em que a Terra pirou! As pessoas se uniram se deram as mãos Se abraçaram Com calor tão grande!

VIVA

Por: Cleide Lima

A anarquia demorou à responder a uma roubalheira de luxo no poder, Quem, na verdade, é o anarquista? o povo, lesado, ou o mal congressista? O brasileiro cansou de ter à frente as mordomias e um julgamento enganoso dos lesadores da economia, O mês de junho de 2 01 3 destacou a história que a corrupção marcou, A turba revoltada pela escassez de fundos ao: transporte, educação, saúde e sensatez, Dos sorrisos e poses acima da miséria os voos, exóticos, internacionais em série, Hotéis caríssimos pagos com impostos que deviam ser usados pro nosso suporte,

imagem: stock.xchng

...Poder"

Políticos preocupados com a Copa do Mundo escolas e creches com matagais nos fundos, Autoridades enfrentam aglomerações mas, irredutíveis nas explorações, Alguns mendigos e andarilhos gatos-pingados dão o corpo como dão o gado, Brasileiros das sarjetas pessoas que outras rejeitam, 2 01 3 mostrou nas capitais do Brasil a união sem confrontos, a maior que se viu, Velhos, crianças e jovens aos reinvindicados caros tributos e preços aviltantes nos supermercados, A chusma sob um jugo capital constantemente a politicagem à captar, O grupo escol se vê lesado pois acaba também, na conversa, levado, O manifesto no país busca entender por quê, os condenados, a polícia não foi prender?!. . . Enquanto a plebe passa por vexames a mídia, também, apanha dos "Home", Assim, o tempo vai se espaçando e os escândalos vão passando, Todavia, ao mundo vai a insólita exposição e fica a expectativa, ao amante do poder, a posição. . : :

Como se o Sol Estivesse no meio de nós Como se realmente Houvesse vida em nós! Vida que não para, Vida que não dói. Vida que nos embriaga de amor! .:: imagem: Marcelo Camargo/ABr - ebc.com.br

Em 201 3 estamos novamente oferecendo o que há de melhor para você que deseja adquirir sua habilitação. Venha conhecer nossas instalações e conferir nossos preços!


Não fala!... se cala, tá dizendo o quê? Você não é esperto, anda pelo certo? Cadê você, se oprimiu? A palavra te feriu?

É! agora sei, cadê o homem? Que diz estar com fome? E na verdade é sede, Sede de ignorância, podre na arrogância... Sim, é fato, não tente esconder; Se faz de vítima, mas é o réu, Quantos, que em suas mãos penaram? Muitos aclamaram e você não atendeu!... Crianças, adolescentes, homens Armados são uns monstros Mas sem armas, se fazem de coitados! E ainda dizem que a culpa é das armas Grande mentira, é da ignorância. Tá dizendo o quê? Você está errado, fala de seus direitos! Cadê os meus, agora você quer advogado!? Mas na hora que aquele coitado que No chão você deixou, não teve direitos... Você foi: o juri, juiz e o condenou, É! você é a arma e a peça é a desculpa... E pra sociedade só resta a ignorância... .::

Toram o

Por: Sidney Santos

Francisco Morato terra de gente vários rios, Francisco Morato terra de gente vários rios; Na quebrada do 120 os moleques estão a mil. Francisco Morato terra de gente vários rios; Respeitando as quebradas do Alegria ao Beira Rio. Francisco Morato terra de gente vários rios; Já tem tantos problemas e a passagem já subiu. Francisco Morato terra de gente vários rios; Desde a bolinha de gude e a pipa que sumiu. Francisco Morato terra de gente vários rios; Da chamada rua de terra que o asfalto já cobriu.

::. Betto Souza

Sociedade à Ignorância Por: Régis Andrade

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imagem: stock.xchng

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Francisco Morato terra de gente vários rios; De um lado para o outro tem a ponte que partiu. Francisco Morato terra de gente vários rios; Cidade dormitório que muitos não partiu. Francisco Morato terra de gente vários rios; Francisco Morato terra de gente vários rios; Meu berço e meu lar, mas o sistema já faliu. Cêtámaluco .::

9 Saiba: blogduoxe.blogspot.com Siga: @informativo_oxe Curta: Produtora Ôxe!


DEZ ANOS DE O MANDRUVÁ


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