Edição Ôxe! - Junho de 2015

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ANO VI − Numero 73

1 0.000 Exemplares

Comportamento Sociedade Cultura

Francisco Morato - Franco da Rocha

São Paulo - Brasil

imagem: André Bispo - flickr.com

VENDA PROIBIDA

Casa que abrigou o Museu Osório Cesar no Complexo Hospitalar do Juqueri.

MEMÓRIA EM CONSTRUÇÃO Cessão de área e promessa de revitalização e reativação do museu Osório Cesar, reacende esperança de espaço destinado a construção e conservação da história da região da Bacia do Juqueri. Apoio:

Realização:

Publicações


::. Diga, Ôxe!

Por: Mari Moura

Esse mês a sessão Diga, Ôxe! Entrevisou o pessoal da

O n ze H o ra s C i a . d e Te a tro

Onze Horas Cia de Teatro, de Franco da Rocha, grupo novo da região, mas que já apresenta seu espetáculo Sonhos de Helena por nossas terras. Conheça abaixo um pouco do trabalho dessa galera!!

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Eduardo Galeano

1. Ôxe!: Pra quem não conhece, quem é Onze Horas Cia de Teatro? Onze Horas: A Onze Horas nasceu do núcleo experimental de teatro de Franco da Rocha, tocado pelo André Arruda há quase 20 anos, a pesquisa inicial era o Livro dos Abraços do escritor Eduardo Galeano, depois disso nos reunimos e pensamos numa outra estética cenográfica e das histórias e culminou nos Sonhos de Helena. Também tem influência de um outro grupo que existiu, a Má Cia de Teatro, o Onze é resultado desse trabalho anterior, do Livro dos Abraços e outras referências que fizeram essa companhia nascer. 2. Ôxe!: Como foi o processo de construção do espetáculo “Sonhos de Helena”? Porque contar as histórias individualmente? Onze Horas: Surgiu de um experimento dentro do núcleo de experimentações teatrais, onde pegávamos histórias do Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano, mas a proposta é que fossem contadas de maneira individual, a plateia deveria ter no máximo uma pessoa. Apresentamos uma primeira proposta em 2013, aí já decidimos formar o grupo no começo de 2014 e houve a ideia de trabalhar mais a dramaturgia, cenário, figurinos, mas nada está fechado. Continuamos criando elementos para o espetáculo, descobrindo outras formas de realizá-lo, continuamos agregando outras pessoas no grupo, que chegam, tem empatia e contribuem para o nosso trabalho. O André teve a ideia de contar as histórias para uma pessoa, foi porque ele via que o Livro dos Abraços era muito pessoal, quando cada um lê a obra, se identifica e parece que estamos olhando no olho do autor, então a ideia inicial era essa, olhar no olho do outro. Tanto que quando entra mais de uma pessoa, perde-se a questão do olhar. 3. Ôxe!: Como está sendo a receptividade do público com o espetáculo Sonhos de Helena? Onze Horas: As pessoas se envolvem muito, principalmente quem nunca viu teatro, elas mergulham nas histórias. Algumas pessoas chegam desconfiadas, assustadas, por estarmos sozinhos na frente delas, são quatro histórias independentes, especialmente na primeira, tem um certo medo, receio, mas ao longo do percurso isso muda, percebemos que no final, a maioria delas sai transformada e emocionada. E contar para cada pessoa é de um jeito, você está dando atenção a ela naquele momento, nenhuma contação é igual porque as pessoas são diferentes e únicas, quando contamos para uma criança, para um adulto, é sempre diferente, cada um tem uma energia e move as histórias de maneiras diferentes. Cada um que entra é uma novidade e é sempre diferente.

4. Ôxe!: Como o grupo se organiza nos ensaios e apresentações? Onze Horas: Temos um elenco numeroso, o que complica a questão dos ensaios, não temos um dia específico, onde todos estejam juntos, mas o fato de trabalharmos com uma dramaturgia diferente facilita, como a criação é mais individual, muitas vezes ensaios com algumas pessoas, as que não podem estar no dia, apresentam numa outra ocasião o trabalho para todos, aí todos dão pitaco no trabalho realizado pelo outro. É difícil um dia com todos ensaiando juntos! O cenário, tudo acaba tendo uma característica com pequenos núcleos de criação, até no processo de criação, o espetáculo é realizado de maneira intimista. Em algumas situações de construção do espetáculo, estavam três integrantes e vamos nos dando bem, e seguimos trabalhando assim. Quando marcamos uma apresentação, vemos quem pode estar, tem um número mínimo que precisamos para o trabalho acontecer, claro, mas sempre dá certo. Todos estão acreditando nisso e conseguimos nos organizar. 5. Ôxe!: Por que a escolha do escritor Eduardo Galeano? André Arruda: Eu já conhecia o trabalho do Galeano, dentro do processo do espetáculo “Ara Pyau – Liturgia para o povo invisível”, do Teatro Girandolá, li o livro “As Veias abertas da América Latina”, achei surpreendente. No processo das oficinas, li alguns textos dele e achei interessante trabalhar esse escritor com a galera e muitos não conheciam ele, começamos a ver alguns vídeos dele na internet e vimos que tinha que ser ele. Ele é um escritor que fala de um modo simples sobre questões essenciais para a humanidade, tudo o que ele fala tem muita potência, nos faz querer ir atrás do que acreditamos, da justiça, da liberdade. Achamos o Livro dos Abraços, começamos a ler e o Eduardo Galeano foi uma oferta da vida pra gente. Luana Dorigon: O interessante desse livro é que as histórias são muito distintas, mas a forma que as histórias chegam na gente é muito intensa, por isso escolhemos continuar com esse trabalho. 6. Ôxe!: Como é fazer teatro aqui nessa região? Onde vocês pretendem chegar com esse trabalho? OnzeHoras: Queremos mostrar para as pessoas que ainda existe essa ligação olho a olho, que tem teatro e arte aqui, que os moradores dessa região não precisam sair dessas cidades para ver um trabalho de qualidade. É um prazer apresentar esse espetáculo, o formato dele possibilita essa relação que é inestimável, principalmente pra quem está contando, é a possibilidade de entrar no íntimo de alguém que nem conhecemos. Nos transformamos pra sempre, em cada história. Nossa última apresentação foi no Oxandolá [In] Festa, contamos por aproximadamente 1h30 e foi transformador, é um respiro, é uma abertura de processo constante. Marcelo Paixão: Comecei a fazer teatro em Franco da Rocha, mas quando precisei estudar, tive que sair daqui, nessa cidade não tinha muita alternativa para os artistas, al-

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gumas cidades próximas daqui até tem uma preocupação em nutrir os grupos que vão nascendo, aqui é mais difícil, tem as oficinas do André, mas é muito difícil, amigos meus que começaram comigo não estão trabalhando aqui, eu estou trabalhando com arte e cultura e estou feliz, sinto que essa gestão tem uma preocupação maior em circular vários tipos de atividades culturais na cidade. E é o que queremos, que as pessoas usufruam da arte, demanda tem, vemos isso quando abrimos oficinas nos espaços culturais e tem muitos inscritos nessas atividades, ou seja, as pessoas se interessam por arte sim. Tenho que falar também do trabalho do Teatro Girandolá, que resiste há muito tempo aqui na região e está crescendo a cada ano. Sinto que é possível acreditar e desenvolver trabalho artístico sério, mesmo estando nessa cidade dormitório. André Arruda: Desde que eu comecei a fazer teatro, queria fazer aqui nessa cidade, sabia que muitos trabalhos poderiam ser desenvolvidos aqui, que as pessoas não conheciam diversas obras e que acrescentaria muito na vida e cada um, meu objetivo era fincar pé aqui mesmo, dei sorte de encontrar pessoas que tinham o mesmo objetivo e nos juntamos para fazer isso, estou na Onze Horas, no Teatro Girandolá. Também me sinto sortudo porque sou funcionário da prefeitura e ganho para fazer o que gosto. E agora tem outras pessoas dando oficinas ligadas à arte na cidade e elas também podem ganhar pra fazer o trabalho que acreditam. Tatila Deise: É um tempo que nos dedicamos à arte, que é pago quando contamos as histórias, ali para cada pessoa, eu não me vejo fazendo outra coisa, não fui trabalhar, mas o olho no olho, o que sinto quando vejo as apresentações, isso me paga, porque arte é um trabalho, não é só um encontro de amigos. Comecei a fazer teatro aqui com 15 anos, não sabia de nada, aí conversava muito com o André, que me ensinou demais e hoje sei que é isso que quero fazer. Esse grupo me paga, me emociona. 7. Ôxe!: Pra quem quer fazer teatro ou ter um grupo, quais as dicas que vocês dão? Onze Horas: Na prática o que tem em Franco são a oficinas de teatro, é um primeiro passo importante para conhecer teatro e todas as suas linguagens, mas não basta. Estamos do lado da cidade de São Paulo, é possível conhecer outros profissionais, diversas áreas do teatro, o centro tem várias opções para quem quer investir em arte. Trabalhar com arte é igual trabalhar com qualquer profissão, um bom médico é aquele que dedica tempo pro seu trabalho, a arte não é diferente, a pessoa tem que mergulhar e se entregar, porque escolhemos nos dedicar a isso e é possível. 8. Ôxe!: E pro futuro, qual a perspectiva? Onze Horas: O Galeano fala sobre utopia, que é uma eterna caminhada, você caminha dez passos em direção a ela e ela corre de você, você corre cem metros pra ela e ela corre cem metros de você. A Onze Horas ainda é uma criança, sem planejamento, é um caminho de anos, pessoas vão embora, outras virão e a companhia continuará viva. O futuro é promissor. .::


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imagem : Mari Moura

Por: Fabia Pierangeli e Meire Ramos O informativo Ôxe! é uma iniciativa ::. Na Faixa da Associação Cultural CONPOEMA ::. Sarau Cultural de Caieiras com atividades de grafitagem nas escadarias que visa propiciar à população de cidade através do projeto Revitalizar, em aquele espaço acolhedor, onde você da Francisco Morato e região, um veícu- se Sabe parceria com 25 grafiteiros; e de shows sente a vontade pra falar do que você lo de jornalismo cidadão e produção, pensa, do que você sente? O Espaço Cul- músicais nas vertentes do Reggae, RAP, difusão e divulgação de ideias e ina presença de DJs, MCs, e grupos da Porco a Pá, é assim… um espaço com formações na área cultural. Todas as tural cidade. aconchegante, que uma vez por mês, seminformações, ilustrações e imagens pre no terceiro sábado, abre suas portas pra O evento terá início às 9h da manhã, e são de responsabilidade de seus resgente bonita, gente inteligente, gen- ganhará toda a tarde e início da noite. pectivos autores e obedecem a licen- receber te interessante, gente que gosta de arte e que Quem for curtir o som, vai ainda poder ça Creative Commons 3.0 Brasil se junta pra celebrar a vida cantando, dan- conferir a exposição de quadrinhos HQ, deAtribuição-Uso Não-Comercialçando, recitando, encenando, conversando e senvolvidos pelos alunos da Oficina de ArCompartilhamento pela mesma trocando ideias. Todo terceiro sábado de tes e Desenho do município; presenciar Licença (acesse o blog para maiores cada mês é dia de Sarau Cultural de Cai- uma ação de grafitagem em geladeiras, para detalhes), salvo indicações do(a) aueiras no Espaço Cultural Porco a Pá, que a expansão do projeto Gelotecas, que dispotor(a) em contrário. Para ver uma có- fica na Avenida Olindo Dártora, 4560, no nibilizam livros gratuitamente por toda cipia desta licença, visite bairro do Morro Grande, em Caieiras. dade; além de poder compartilhar do http://creativecommons.org/licenmomento em que o Conselho de Cultura ses/by-nc-sa/3.0/br/ ou envie uma será empossado. carta para Creative Commons, 171 Tudo isto num único dia, num mesmo Second Street, Suite 300, San Franbalaio, um grande momento para apreciar e cisco, California 94105, USA. valorizar os artistas locais! As atividades artísticas acontecerão no dia 27 de junho, um sábado, a partir das 9h, no Espaço da Cultura, na rua XV de O espetáculo "Pernambuco em Atos" já passo novembro, 171, no centro de Mairiporã, u por Morato e agora aporta no Sarau4Cultu ral de Caieiras. com ENTRADA GRATUITA! Be Linux, Be Free! Mais informações: culturamairipoNa confecção deste material E o próximo sarau acontecerá no dia 20 ra.blogspot.com.br gráfico foram utilizados de junho a partir das 18h, em ritmo de festa apenas softwares que atendem junina, com duas atrações pra lá de especi- ::. Circuito Cultural Paulista traz esa licença GNU/GPL. ais, na área do teatro e da música. No teatro, petáculo de teatro para crianças, o artista Claudio Albuquerque, Pernambu- em Franco da Rocha ::. O que a gente usou nessa edição cano erradicado em terras jundiaienses, traz O Circuito Cultural Paulista é um prograpara o Sarau seu divertidíssimo e encantador Programas espetáculo Pernambuco em 4 atos, que traz ma da Secretaria de Estado da Cultura, Ubuntu 12.04 (ubuntu.com) histórias e elementos da cultura pernambu- desenvolvido em parceria com as prefeituLibreOffice 3.5.7.2 (pt-br.libreoffice.org) cana dentro de 4 malas que vão sendo aber- ras, que possibilita que atividades artísticas tas e compartilhadas com o público presente. gratuitas sejam levadas há quase 100 muniGIMP 2.6.12 (gimp.org) Já na área da música, nossos ouvidos e cora- cípios paulistas. Desde 2013, nossa região Scribus 1.4.1.svn (scribus.net) ções serão acalentados pelo que há de me- integra esse projeto, recebendo atividades Inkscape 0.48.3.1 r9886 (inkscape.org) lhor na música tradicional da nossa região, nas cidades de Franco da Rocha e FrancisMozilla Firefox 22.0 (br.mozdev.org) Audacious 3.4 (audacious-media-player.org) com os grandes músicos Zé Canela, Mario co Morato. Pacanaro e Ranulfo Farias. A atração desse mês na cidade de FranMas as atrações não param por aí, porque co da Rocha acontece no dia 27/06 às ::. Colaboraram nesta edição: o Sarau é um espaço aberto e não são só os 17h no Centro Cultural Newton Gomes artistas convidados que podem se apresen- de Sá (Av. Sete de Setembro, S/N – centro Danilo Góes tar. Portanto, prepare já uma poesia, uma – Franco da Rocha), com ENTRADA (coracaodeterra@gmail.com) música, uma história, uma dança ou qual- FRANCA. quer outra coisa que você ache importante Comemorando 10 anos, A PESTE – Messias Silva (messiasilvarimador@gmail.com) compartilhar e participe também. As inscri- Cia. Urbana de Teatro monta o espetácuções são gratuitas e feitas na hora, no pró- lo Pinocchio, clássico de Carlo Collodi, que Tamires Santana prio espaço onde acontece o Sarau. ganha dramaturgia de Pamela Duncan (que (tamisantana.wix.com/oficial) Mais informações: facebook.com/sa- também dirige a montagem) e Rogerio Favoretto. rauculturaldecaieiras ou 96915-1735. E a programação continua ao longo do A Equipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli, ::. IntegrARTE #10, em Mairiporã ano, de agosto a novembro de 2015. Não Mari Moura e Roger Neves Neste mês de junho as artes de rua ga- perca! (digaoxe@gmail.com) nham destaque no IntegrARTE, contando Mais informações: www.circuitocultu-

ralpaulista.sp.gov.br

::. "Cine na quebrada", mais uma iniciativa independente na nossa região

No dia 27 de junho, às 18h, tem início o projeto Cine na quebrada, idealizado por Joice Aziza, Denise Cardoso e Ronaldo Américo. Na primeira sessão será exibido o curta: Xadrez das Cores, que aborda a questão racial no Brasil. Logo depois, haverá um debate sobre a questão do racismo. Pipoca e refrigerante serão oferecidos durante a sessão, através de uma parceria com os comerciantes da Vila Rosina. A entrada é GRATUITA!!! Quando: 27/06/2015 Onde: Casinha - Vila Rosina Horas: 18h. Mais informações: facebook.com/joice.mendoncasilva

::. CONPOEMA Recebe...em Julho

Todos os meses este projeto da Associação Cultural CONPOEMA traz atividades artísticas para as cidades de Franco da Rocha e Francisco Morato, sempre no primeiro fim de semana. Em julho a programação conta com uma peça de teatro e shows de rock. Dia 03 de julho, sexta, às 20h, a Companhia Teatro da Investigação – CTI, de Suzano, apresentará GRATUITAMENTE seu espetáculo de rua “A Olaria de Jackson do Pandeiro” no calçadão em frente a estação da CPTM de Franco da Rocha. Sinopse: Para discutir o momento histórico das políticas de moradia no Brasil de hoje; Personagens da obra de Jackson do Pandeiro ganham vida para fazer surgir do barro os tijolos, a esperança e a dignidade dos trabalhadores sem teto. O público, agenciados pelo elenco, participa ativamente da "peça-baile". No dia 4, domingo, o rock invadirá o calçadão, desta vez, de Morato, com a apresentação de 3 bandas locais, numa parceria com o projeto Circuito Rock Morato. O evento terá início às 19h e promete fazer muito barulho até às 22h! As bandas convidadas da noite são AUDIOZUMB e TRAMÓIA, de Franco da Rocha, e FIBONATTIS de Francisco Morato. Nesse dia estaremos recebendo doação de alimentos não perecíveis e agasalhos, que contribuirão com a campanha do agasalho 2015 da nossa cidade. Mais informações: 4488-8524 .::


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imagem: André Bispo - flickr.com

A r e fo r m a d o M u s e u O s ó r i o C esa r e o resg a te d e pa rte d a n ossa h i stóri a

Por: Fabia Pierangeli

imagem: Reprodução - arnaldochieus.blogspot.com.br

imagem: Roger Neves

imagem: André Bispo - flickr.com

Toda a formação da nossa região, que abrange as ci- psicanálise Sigmund Freud. seu trabalho deixou um legado de mais de 8.000 obras dades de Franco da Rocha, Mairiporã, Francisco Mo- Osório Cesar foi um psiquiatra que trabalhou 45 anos de arte de pacientes-artistas, que hoje formam um rico rato e Caieiras, está intimamente ligada com a fundação no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, sendo um dos pre- acervo que conta parte da história da psiquiatria brasileira. e a história do Complexo Hospitalar do Juqueri em 1898. cursores do tratamento de doenças mentais através da E esse tanto de história, merece sim ser preservada. Esse hospital, sempre cercado de muitas histórias e pa- Arte, cujo pioneirismo foi reconhecido inclusive por Ni- Como moradora dessa região, me sinto feliz por saber radigmas, foi durante décadas referência no tratamento se da Silveira, um dos nomes de maior destaque no Bra- que existem pessoas pensando e trabalhando para pree desenvolvimento da psiquiatria brasileira e contribuiu sil nessa área e que servar e valorizar enormemente com o desenvolvimento da nossa região. deixou como legado parte da minha hisHoje, 117 anos depois de sua fundação, já tendo passa- histórico brasileiro o tória. A restauração do por diversas crises, todo o complexo de prédios e ser- Museu do Inconscido Museu, que deviços busca novas vocações. E uma dessas novas vocações ente, no Rio de Jave começar em está ligada a arte, a cultura, a educação e a preservação neiro. Osório Cesar breve, pois o pesda memória. O plano diretor do Hospital, que traça me- era paraibano, tocava soal da Prefeitura tas a serem desenvolvidas a longo prazo, prevê que par- violino e veio para junto com o pessote das instalações do Complexo seja destinada a essas São Paulo em busca al do Hospital esáreas. E para atingir tal objetivo, a atual diretoria do Ju- de melhores condicreveu um projeto queri vem trabalhando duro desde 2010, buscando par- ções de estudo. Sua que foi apresentacerias em diversas esferas. Uma das parcerias conquistadas primeira formação do e contemplado e recentemente oficializada foi com a Prefeitura Muni- acadêmica foi de em um edital do cipal de Franco da Rocha, que recebeu uma área de dentista, mas nunca FID (Fundo Esta163.311 metros quadrados, através de uma cessão de chegou a exercer a de Interesses área assinada pelo governador Geraldo Alckmin no úl- profissão. Em 1925, Casa que abrigou o Dr. Osório Thaumaturgo César no Complexo Hospitalar do Juquery se- dual Difusos) que destitimo dia 2 de junho. Essa cessão de área foi fruto de uma com 30 anos formou- rá revitalizada e reaberta ao público com obras produzidas por pacientes e itens de época. na recursos finanparceria entre a diretoria do Hospital e a Prefeitura, que se médico e logo começou a trabalhar no Hospital Psi- ceiros para projetos que tenham como finalidade se uniram a fim de buscar formas e alternativas para que quiátrico do Juqueri, onde se aposentou 45 anos depois. reconstituir, reparar, preservar e prevenir danos causaparte da área do hospital pudesse ser destinada a servi- Paralelamente ao mundo da medicina e da psiquiatria, dos no território do Estado de São Paulo ao meio amços que poderão contribuir significativamente com a me- Osório Cesar nutria seu gosto pela música e pela Arte biente, a bens de valor artístico, estético, histórico, turístico, lhoria na qualidade de vida da população francorrochense de forma geral, tecendo inten- paisagístico, ao consumidor, ao contribuinte, às pessoas e da região. sas relações com grandes no- com deficiência, ao idoso, à saúde pública, à ordem urEsse grande pedaço de terra, mes do movimento modernista banística e à cidadania, bem como a qualquer outro inque agora oficialmente é de resde São Paulo e sendo casado teresse difuso ou coletivo. É desse edital que sairá os ponsabilidade da Prefeitura de com uma das grandes pintoras recursos que vão reformar o Museu Osório César e resFranco da Rocha inclui boa parte da história brasileira, Tarsila do taurar parte de seu acervo, que num futuro, não tão disda entrada do hospital, abranAmaral. tante, estará novamente de portas abertas para que a gendo a área do museu, a área da possa visitar e dessa forma conhecer um pouPara escrever esse texto, ti- população antiga olaria e toda a área de laco mais das suas próprias raízes. ve que pesquisar um pouco zer do hospital, incluindo o Parmais sobre a história do Mu- Logo mais, nós, moradores dessa região que um dia que Infantil e o campo de futebol seu e também do homem que também já se chamou Juqueri, poderemos novamente (antigo CTO). Essa é uma área leva o seu nome. Alguns da- reviver, por meio da arte e da preservação do nosso patombada e abriga alguns prédios dos dessa pesquisa me fizeram trimônio histórico, a nossa própria história. Isso é algo históricos e também tombados refletir que a permanência du- imprescindível e eu ouso até dizer que urgente em nosdo Hospital. Um desses prédios, rante 4 décadas de um homem sa região. Nossa região necessita desenvolver sua idenque é tombado e que guarda um como Osório Cesar no Juque- tidade. E a memória é elemento fundamental na formação imenso significado histórico é a ri, num período em que acon- da identidade cultural individual e coletiva de uma cocasa projetada pelo arquiteto teceram muitas atrocidades munidade. É a memória que nos permite compreender Ramos de Azevedo, onde viveu naquele lugar é um fato bas- como e porque se dão as transformações econômicas, o Dr. Franco da Rocha, criador tante curioso e parece que re- políticas, sociais e culturais. Conhecer o passado nos alido Hospital e que futuramente mais uma das tantas cerça para que possamos entender o presente e também daria nome a cidade que se for- Retrato de Osório Cesar, pintado por Tarsila do Amaral, com vela contradições espaço. prospectar o futuro. Que venha a reforma do Museu mou ao seu redor; a mesma casa quem o médico foi casado e que teve influência em sua obra. Osório Cesar daquele tinha aspirações Osório César e que inspirado por ela, venham muitas que em 1985 foi transformada comunistas, foi inclusive preso algumas vezes por isso, reformas e ressignificações de toda a área do Juno Museu Osório Cesar. O Museu, que ficou em funci- visitou a União Soviética ao lado de Tarsila do Amaral outras queri e de Franco da Rocha. Que possamos dionamento até o ano de 2006, reúne mais de 8.000 obras e o período em que ela viveu com ele coincidem com a fundir atambém história Hospital e de todo o povoado que de pacientes-artistas, além de móveis da casa do Dr. produção das obras mais sociais de sua história. Ele fa- se formou ao seudoredor essa história nos impulsiFranco da Rocha, aparelhos que foram utilizados no iní- zia arte terapia com os pacientes, incentivava que os “lou- one a traçar novos rumose que para a melhoria do futuro da cio do século no tratamento das doenças mentais e car- cos” se expressassem através da pintura e da escultura, nossa região. .:: tas trocadas entre o fundador do Hospital e o pai da


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imagem: Tamires Santana

im agem : www. flick. com

imagem: commons.wikimedia.org

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Como em todo ano, nesta edição do Oxandolá [In]Festa tivemos também a premiação do Concurso de Poesias Profª. Aparecido Roberto Tonellotti, concurso este que visa reconhecer a produção literária em verso de autores à margem das editoras. Como em todo ano, também, nós publicaremos nas páginas do Ôxe! os premiados e é justamente pela grande novidade deste ano que a gente vai começar: a Categoria Local. Abaixo, você também confere também a lista com todos os premiados pelo concurso.

Categoria Infantil 1º Lugar "Borboletas da estrada" - Arthur Melo Christino de Almeida (Jaguarari – BA) 2º Lugar "Vivo vivo" - Sara da Silva Brito (São Paulo – SP) 3º Lugar "O planeta pede socorro" - Indra Dandara Mariano Quevedo (Dourados – MS) Menção Honrosa "O Arco-Iris" - Salete Magalhaes Alves (Coaraci – BA)

Categoria Infanto-Juvenil 1º Lugar Luizza Milczanowski Julianelli Mendes (Rio de Janeiro – RJ) 2º Lugar "Guerra" - Fabio Luciano da Silva (Itapecerica da Serra – SP) 3º Lugar "Poema corriqueiro" - Giovani Tridapalli Kurz (Curitiba – PR) Melhor Colocada da Cidade de Francisco Morato "Guerreiro" - Joyce Milena de Oliveira Menções Honrosas "Olhar-te-ia" - Amanda Brusius (Três Coroas – RS) "Eu & eu" - Yago Tadeu Borges de Souza (Eldorado – SP) "Desabafo de um escravo" - Raiana Soares Oliveira Cruz (Jequié – BA ) "Receita" -

Categoria Adulta 1º Lugar

"Amanhecer" - Gilquele Gomes de Araújo (Iguatu – CE)

2º Lugar

to rancisco Mora F e d a d a c lo o Melhor C Categoria Adulta "

da de Franciscnio lMorato Melhor Colocaria Catego Infanto-juve

"Guerreiro "

Joyce Milena de Oliveira Guerreiro de fé, Guerreiro que luta, ta, Ser humano que escu Mas sabe falar. Tão jovem e lá! , Não importa se chorar não dá. do to po tem Ser forte o Buscar o melhor, caminho, Começar do pior, é o ração valente, co o é O que importa, tir. Insistente em não desis Guerreiro que decide, perar, Mas seus sonhos a es Sem poder conquistar. reiros, Todos nós somos guer e, ad id a Não importa , é na fé, e na poesia, Nossa grande amizadea cortesia, São elas que liberam continuar. A grande verdade pra ro aberto, Nossa história é um liv mo exemplo, pra futura Precisamos deixa-la co geração. Pois somos guerreiros,sorriso, Toda lágrima teu seu posto, Cada esforço tem seu erreiro. A cada geração, um gu

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"Dente Salvo" - Paulo Emílio M. de Azevedo (Macaé – RJ)

3º Lugar "Vandalismo Poético" - Jose Antonio Viana Rocha (Fortaleza – CE) Melhor Colocada da Cidade de Francisco Morato "Se tu te apercebesses..." - Thais Paloma Pereira Silva Melhor Colocado da Cidade de Franco da Rocha "Bagagem" - Elves Ferreira dos Santos

Menções Honrosas

"Coisas da Infância" - Aidner Mendez Neves (Juazeiro – BA) "Galope Surreal" - André Luís Soares (Guarapari – ES)

Confira nas próximas edições as outras poesias premiadas!

ebesses.. . c r e p a te tu e "S hais P. P. Silva

T

.. .” . Tudo passa ser. il g á fr é o d n u ”Tudo no muo no livro soturno do te chucadas, a d m tu r r, o le fl o m ss e Po i tuas ideias Repousa aqu e impessoal. Na cama fria ”. ao pé de mim ejada sa u o p e R . m es Diz-me: ”Ve tar-me na tua voz tão d n co e d s. s á ra tu Eh ecer. nios e desven Teus infortú ares tanto, hás de adorm te n E, de pra a. canto é antig e lh e u q o ã ç n Dorme. A ca s, velhas e enrugadas, o ã m s a h e latente, Min a face cálida o docemente. tu m e m sa u d n Po étalas tomba Tais quais p pouso. rejubila de re ce fa a tu , es rm Enquanto doFico só. s. tá es e nós. Ébrio ue fizeram d as a crença, q o il u q a s o m Som uma crença, E nós somos s viver]. .: : [não sabemo

Melhor Coloca do d nco d Categoriae AFra dulta a Rocha

Elves F"erBraegiraagem" dos Santos Levo na

Bagagem Um tudo De poucas Coisas

Nela carrego A partida O retorno O destino A viagem Nela guardo As cidades Os ritmos Acontecimen E imagens tos Nela cabe O sonho Um riso Os cafés O chá A hora

E há De caber Aquilo que Completa O par Pois logo Dia chega A pressa Cansa e Vai- se Embora

De pouco Em tanto De u m Lado ao Outro Levo na Bagagem A solitude A vontade A infância O mundo. .: :


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4 imagem: www.flick.com

Não percebi que me olhavas com intenção de flerte e paquera por paixão o pranto teu rosto molhava agora sentir o teu corpo eu quero... Me dava o sorriso diariamente eu nem via,embutido nele,lágrimas aflitas me namoravas mentalmente minhas piscadas deixava o teu coração mais aflito... Se eu soubesse que seu namorico me alcançava te enviava um ósculo de longe faria um charme e avançava lhe tascava um beijo longo... Pro flerte não continuar inconsequente o namoro eu confirmava te namorava constantemente relacionamento sério firmava...

Para mim eras invisível em todo canto nem te via tentavas de tudo pra se fazer visível até o dia que um recado me envia... O recado fixo do teu olhar retumbou meu coração vi a orquestra,em meu ser,espalhar melodias em harmonização... Você muito me paquerou no teu flerte eu senti o ímpeto que em meu coração gerou e um ardente namoro pressenti... Ao arrebatamento submetida gamada,amante da sensação cativou minh'alma comprometida com tua essência sublime da sedução ...

Feliz,no jardim,eu te namoro onde a rosa e o cravo são namorados esqueço do tempo,ali me demoro conspiração do Universo por sermos enamorados... Você me deu três beijinhos um de amor,dois pro noivado eu prezar o terceiro longo e estaladinho o determinante para nos casar... .::

NAMORADOS ENAMORADOS

Eu não sabia que tinhas o meu nome em seu diário e nos teus cadernos mantinhas em segredo meu sobrenome vivias amor platônico e devaneios eternos...

Por: Messias Silva

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D E M AL A P I OR Por: Danilo Góes

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Dona Marluce está empregada há seis meses, conseguiu emprego com carteira assinada. Agora trabalha na escola onde seus filhos estudam. Contratada por uma prestadora de serviço na área da limpeza. Recebe um salário-mínimo, mas para quem estava sobrevivendo de bolsa família, esse salário faz uma baita diferença. Outra vantagem é que consegue vigiar as suas crianças. Esse trabalho chegou na melhor hora, pois a situação estava indo de mal a pior, acabou de chegar o netinho. A filha mais velha parou de ir pra escola depois que engravidou e o marido estava preso. O trabalho na escola é cansativo, ela e Dalva (outra funcionária) por período. Dalva está na escola há cinco anos e já foi contratada por três empresas diferentes, ainda não recebeu os direitos trabalhistas das antigas empresas, decretaram falencia e não pagam. A escola é grande para as duas e os alunos não cooperam. Dona Marluce ficou indignada quando alunos fizeram guerra de maçã. O que rendeu cintadas no seu filho caçula, que está na 7ª série, o viu envolvido na bagunça. O seu orgulho estava no último ano, achava seu filho muito inteligente, cheio das palavras difíceis. Ele explicava que ela deveria ganhar bem mais, que metade do salário ficava com a empresa que a contratou. Comentou com a mãe sobre a lei da terceirização, que era contra a lei, mas indagava por que ninguém fez esse rebuliço antes, já que

era permitida para a limpeza, segurança, recepção. E com aprovação da lei ampliar as terceirizações para atividadefim, ou seja, para engenheiros, bancários e metalúrgicos. Falava irônico “enquanto estava na limpeza estava tudo bem, mas agora que vai ampliar para empregos da classe média, aí fazem mó auê”, Dona Marluce não entendeu muito coisa. Dona Marluce é viúva e é a única renda da casa, ela levava em um saco preto de lixo a sobra da merenda da escola. Sua menina que está no 1º ano sentia vergonha do trabalho da mãe e queria morrer quando a via levando o saco preto. Mas chegava em casa, comia que era uma beleza. Dalva e Dona Marluce estavam sobrecarregadas de trabalho e devido a isso discutiam quase todos os dias, uma acusava a outra de fazer corpo mole. Dalva levou ao conhecimento da diretora que Dona Marluce levava alimentos da dispensa da merenda para casa. Mesmo levando pacote de bolacha que as mulheres da cozinha davam, Dona Marluce disse a diretora que só levava a sobra da merenda. A diretora não relatou o ocorrido aos superiores dela, mas proibiu-a de levar merenda. A partir desse dia, vinha um tiozinho pegar as sobras de merenda jogada no lixo para dar para os porcos e galinhas. .::

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""[...] quando não se tem o hábito da história, os factos relativos ao passado parecem quase sempre inacreditáveis."

Aldous Huxley



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