Centro Histórico de Campinas

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Centro Histórico de Campinas Roteiro de Visitação

Paula Vermeersch

1ª Edição Campinas

2012


O trabalho Centro Histórico de Campinas - Roteiro de visitação de Paula Vermeersch foi licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição – Uso Não Comercial – Compartilhamento pela mesma Licença (by-nc-sa).

ISBN

978-85-64741-01-0 imagens do miolo

Greg Lopes, Maxwell Campos, Paula Vermeersch, Tel Amiel e Thiago Pezzo colaboração

Americo Correia, Greg Lopes, Maxwell Campos, Tel Amiel e Thiago Pezzo Editado por

Império do Livro Rua Padre Antônio Joaquim, 102 Bosque 13026-060 - Campinas - SP - Brasil Tel. + 55 (19) 2511 0544 www.imperiodolivro.com.br


Prefácio

Este roteiro foi pensado para o pedestre, que caminha pelo centro do município paulista de Campinas, com curiosidade de saber histórias e significados dos prédios que ali repousam. Ornamentos, portas, guirlandas, quinas e janelas: tantos elementos para o olhar que vaga pelo calçadão, descendo da Estação Ferroviária em direção à Catedral Metropolitana. O objetivo é trazer, ao olhar de quem passa, a beleza do patrimônio desta cidade, herdeira da riqueza cafeeira e hoje palco de inovações tecnológicas. Dra. Paula Vermeersch Historiadora da Arte e da Arquitetura

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Estação Ferroviária

Construída a partir de modelo inglês, também aplicado em estações australianas, a Estação Feroviária atesta a riqueza da expansão cafeeira, a partir de 1850, na cidade. Os trens chegaram a Campinas em 1868, e a Companhi a Paulista Railway foi a responsável pelas primeiras execuções do entroncamento do interior paulista; de fato, a Estação campineira é uma das mais antigas do Estado e merece visita, tanto por sua importância histórica quanto pela elegância de seu conjunto arquitetônico. O destaque, no interior do edifício, vai para vários detalhes, como lustres, janelas, escadas, plataformas, antigos vagões, e pesos ferroviários. O entorno da estação também possui prédios de interesse, como os sobrados ornamentados da avenida Andrade Neves, que, apesar de mal conservados, dão uma ideia da elegância dos arredores no auge do funcionamento da Estação, hoje sede de parte dos serviços da Secretaria Municipal de Cultura.

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Museu da Cidade

A Lidgerwood Manufacturing Company foi uma das primeiras indústrias instaladas no país. De origem norte-americana, iniciou suas atividades no Brasil em 1862 , e chegou a Campinas em 1868. Oferecia máquinas para o beneficiamento do café, e fundição em ferro e bronze. Agora, em sua fábrica de risco neo-gótico, inspiração recorrente em Arquitetura industrial vitoriana, de 1884, funciona o Museu da Cidade. Belas águias em ferro adornam as janelas. O Museu especializou-se em cultura material; apresenta peças como máquinas de escrever, vitrolas e outros artefatos, e a intenção é oferecer ao visitante uma pequena viagem no tempo, a partir do exame da evolução tecnológica.

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Cricoletti

O início do calçadão da rua 13 de Maio possui dois edifícios comerciais instigantes: a sede da firma Cricoletti e outro casarão comercial, ao lado dos pontos de ônibus para Hortolândia. Nesses dois prédios, bem como em outros da avenida Andrade Neves, percebemos as fachadas ornamentadas com flores, formas geométricas, grotescas (conjuntos de máscaras ou rostos de leões).Tais ornamentos talvez sejam a marca mais característica da arquitetura campineira em seus primórdios; olhando com vagar, o visitante pode descobrir detalhes surpreendentes, escondidos nas quinas dos frontispícios.

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Calçadão

Para quem se interessa por História da Arquitetura e seus estilos, passear pelo calçadão da 13 de Maio oferece um panorama do desenvolvimento das técnicas construtivas e do desenho de projetos no Brasil, e o surgimento da consagrada mundialmente Arquitetura Contemporânea Brasileira. Das construções de planta retangular, com decoração nas fachadas, os edifícios com diagonais arrojadas, o visitante de Campinas observa como as formas utilizadas nas construções tornaram-se mais simplificadas, retilíneas e precisas.

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Palácio da Mogiana

Sede da Companhia Ferroviária Mogiana, o chamado Palácio da Mogiana data de 1910 e é produto de construtores de origem italiana, os irmãos Massini. O prédio já foi museu, biblioteca e atualmente é utilizado para vários serviços públicos, na área de saúde e assistência social. Seguindo a tradição dos construtores italianos, o Palácio faz referência à Arquitetura clássica, com elegantes colunas e guirlandas em suas fachadas. A porta curva na esquina, e os portões de ferro, compõem a imponência do prédio.

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Largo do Rosário

A igreja do antigo Largo do Rosário foi demolida na década de 20; as fotos antigas atestam a grande rachadura que dividiu o prédio em dois. Hoje, nos arredores da praça, existem belos sobrados ecléticos (como o do Centro Cultural Vitória, de estilo neo-renascentista), e construções art-déco, como o Fórum, a sede da Associação de Comércio da cidade e a matriz do famoso Giovanetti (e sua linda clarabóia). Outros destaques são a residência do Visconde de Indaiatuba, que, devido a um incêndio na década de 90, perdeu seu interior ricamente decorado, e o Éden Bar, o restaurante mais antigo de Campinas, em funcionamento desde 1889, com sua fachada de torres elegantes.

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O Mercadão

Obra do engenheiro-arquiteto campineiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851 - 1928), e um dos maiores orgulhos do município, o Mercado foi projetado a partir de inspirações neo-mouriscas, ou seja, homenageando as criações de países árabes, como o Egito e o Líbano, ou construções dessa origem na Espanha. Foi inaugurado em 1908, pelo prefeito Orozimbo Maia. A intenção seria sublinhar o caráter mercantil da tradição árabe, o que seria adequado para a finalidade do prédio. Essa ideia de citação do passado ou de tradições construtivas diferentes foi muito utilizada por Ramos de Azevedo em su as realizações. O Mercadão de Campi nas, sem dúvida, é uma das mais bem-sucedidas, e tornou-se modelo para, por exemplo, o Mercado de Amparo.

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Catedral Metropolitana

As fachadas da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição são resultado de uma longa história de dificuldades técnicas, falta de verbas e até mesmo de um acidente, em janeiro de 1863, que resultou fatal para alguns trabalhadores do canteiro de obras. Iniciada em 1807, a igreja, em taipa de pilão, ficou pronta em seu interior, mas sem fachadas, devido aos deslizamentos no terreno pantanoso. Depois de muitos anos de debates e desacertos, a equipe de italianos do engenheiro-arquiteto milanês Cristovam Bonini, a partir de 1872, construiu, em pedra e tijolo, um frontispício clássico, que remete à Catedral de São Pedro do Vaticano e aos tratados modernos italianos de Arquitetura.

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A talha da Catedral de Campinas é famosa por não ter policromia, ou seja, a madeira trabalhada não recebeu cores. Talvez por isso a rica decoração em madeira chame a atenção, por ser incomum entre as igrejas brasileiras. Anjos, flores, colunas e símbolos litúrgicos tornam os retábulos obrasprimas da escultura do século XIX no país. Vitoriano dos Anjos, mestre baiano responsável pela decoração do templo de Nosso Senhor do Bonfim de Salvador, e Bernardino de Sena, artista fluminense, dividem os créditos por esse interior raro e delicado. Visitas ao Museu de Arte Sacra da Arquidiocese podem ser feitas em alguns horários; trata-se do maior acervo de Arte Sacra do interior paulista.

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Palácio dos Azulejos

Residência dos tempos do fausto de um dos representantes da aristocracia campineira, o Barão de Itatiba, datada de 1878, em taipa e tijolos, o Palácio dos Azulejos abriga o Museu da Imagem e do Som, com rico acervo iconográfico. A fachada azulejada e detalhes como os dois soldados orientais da murada remetem o visitante às tradições portuguesas. Escadas e afrescos, além do acervo, fazem do MIS parada obrigatória para qualquer visita no centro da cidade. Defronte o Palácio, encontra-se um pequeno edifício, obra de Ramos de Azevedo. Datado de 1883, é contemporâneo à inauguração da Catedral e a suposição é que, na sua execução, o jovem engenheiroarquiteto tenha utilizado as equipes de trabalhadores italianos que marcarão a virada do século na cidade.

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Rua Conceição

O cruzamento das ruas Barão de Jaguara e Conceição, bem como o traçado desta primeira via, se destacam pela quantidade de prédios ora com ornatos variados (tradicionalmente relacionados, em História da Arte e da Arquitetura, como chamado Ecletismo) e de retas graciosas (o chamado Art-Déco). A ideia é mostrar ao visitante as possibilidades de observação dessas fachadas, e o registro das mesmas, em fotografia, desenho, etc. Assim, a ligação de quem passa com a história e a conservação da cidade pode se transformar em informação útil para o exercício da cidadania.

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Largo do Carmo

No Largo do Carmo, o prédio do Jockey Club, datado de 1925, é um dos últimos exemplares da era de ouro do café no Oeste paulista, e suas construções com ornamentos refinados. O espaço da praça conta ainda com o monumento-túmulo de Carlos Gomes (18361896), de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli (1852-1931). O célebre compositor erudito faleceu em Belém do Pará e seus restos mortais foram transladados para sua cidade natal, que contratou o escultor para elaborar, no local da casa do pai do artista, um conjunto escultórico de vulto.

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Basílica do Carmo

A Basílica do Carmo remete o visitante à formação da cidade. Em 1772, os habitantes de Campinas do Mato Grosso de Jundiaí requisitaram a permissão para a construção de uma capela dedicada à Virgem Maria; a primeira capela foi erigida onde atualmente fica o monumento-túmulo de Carlos Gomes. Depois, no local da atual Basílica, uma construção de taipa abrigou a Matriz da vila. A antiga matriz foi demolida em 1929, e em 1940 o atual templo foi inaugurado, em formato neo-gótico, nas fundações da antiga construção. A decoração tem mármores, de autoria do artista Lélio Coluccini, vitrais alemães com alto-relevos e um órgão Tamburini de tubos, adquirido pela Arquidiocese em 1953, em pleno funcionamento e que é utilizado em concertos.

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Rua Barão de Jaguara

Escondida na esquina das ruas Barão de Jaguara e Ferreira Penteado, a Farmácia Merz, de 1910, tem curiosas fachadas, com serpentes de Esculápio (símbolo da área da Saúde), figuras humanas e leões. Já a Galeria BarãoVelha e o Mercado Campineiro são parte do imaginário afetivo de gerações de campineiros; fazem parte de um mundo sem shopping centers e grandes redes. Destaque para a gastronomia no Mercado, com seus bares, pastelarias e lojas de doces de milho.

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Largo de São Benedito

Fundada em 1885, a Igreja de São Benedito é fruto de longos esforços da comunidade afro-descendente da cidade, reunida numa congregação de leigos que resolveu construi-la no antigo campo onde se enterravam os escravos. O jovem engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo foi o responsável pela sua construção. A estátua da Mãe Preta é de autoria do artista plástico paulistano Júlio Guerra (1912-2001). Em 1955, Guerra criou uma escultura para tratar do tema da escravidão e da contribuição africana para a sociedade brasileira, para o Largo do Paissandu em São Paulo, onde existe a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na década de 70, lideranças do movimento negro, a comunidade religiosa e a Prefeitura Municipal, encomendaram a mesma escultura para o conjunto do São Benedito campineiro.

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Casa de Saúde

O Circolo Italiani Uniti é projeto de Samuele Malfatti e Ramos de Azevedo. Sede social da associação dos imigrantes italianos, sua primeira utilização foi a de estabelecimento de ensino para os filhos destes, em língua italiana; abriu suas portas em 2 de maio de 1886. Depois das epidemias que abalaram a cidade na virada do século, o prédio foi ampliado e se tornou enfermaria, e depois hospital, definitivamente, em 1918. A praça Professora Sílvia Simões Magro recebeu essa denominação em 1982, em homenagem à segunda vereadora eleita no município, mas ainda continua sendo chamada de Largo de São Benedito. De bonito traçado, a praça possui busto de bronze do francês Hercule Florence (1804-1879), desenhista da Expedição Langsdorff e que foi um dos inventores da fotografia.

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Creche Bento Quirino e EE Francisco Glicério

Edificada, como a Igreja de São Benedito, no antigo Campo dos Cativos, a Crech e Bento Quirino é de 1916 e tem fachada num refinado estilo austríaco, denominado Secession, de delicado rendilhado. Primeiro Grupo Escolar de Campinas, a Escola Estadual Francisco Glicério foi inaugurada em 1897, em frente ao Largo do Riachuelo. A praça foi demolida quando da ampliação da avenida Moraes Salles, e a construção foi modificada ao longo das décadas, mas basicamente o projeto de Ramos de Azevedo, de citações renascentistas, permanece no edifício. 37


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Praça Carlos Gomes

Concebida pelo engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo, a praça Carlos Gomes alia paisagismo e história. Inaugurada em 1883, passou por readequações ao longo do tempo. Suas estátuas mereceriam um estudo à parte, bem como restauração. O coreto, com seus velhos atlantes curvados, teto de madeira e gradis de ferro trabalhado, e as palmeiras imperiais encontram-se defronte do arrojado Edifício Itatiaia, de autoria de Oscar Niemeyer. Inaugu rado em 1951, o Itatiaia marca uma nova fase da Arquitetura na cidade e é uma das poucas realizações do arquiteto em solo paulista.

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EE Carlos Gomes

A antiga Escola Normal, de 1924, leva assinatura do arquiteto César Marchiso. Hoje estabelecimento estadual de ensino médio e fundamental, apresenta fachada e interior com afrescos, pinturas murais de técnica aprimorada. Nas imagens, figuras alegóricas comemoram o progresso da nação, a partir das propostas políticas da chamada República Velha.

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