Revista Oriente Ocidente N.19 - INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU 2008

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ISSN 1680-7855

EAST WEST

Número 19 Fevereiro de 2008 Ilustração de Victor Hugo Marreiros

IIM Observador Consultivo da CPLP LUSOFONIA em Força com ACLUS em Macau COMEMORAÇÕES Luís Gonzaga Gomes e Deolinda da Conceição Livros, Memória, Identidade


www.iimacau.org.mo

Rua de Berlim, Edifício Nam Hong, 2º andar NAPE, MACAU, Tel (853) 2875 1727 – (853) 2875 1767 Fax (853) 2875 1797 email: iim@iimacau.org www.iimacau.org.mo

Este número de Oriente/Ocidente teve o patrocínio da Fundação Jorge Álvares

ORIENTEOCIDENTE “newsletter” do IIM Instituto Internacional de Macau Número 19 Fevereiro de 2008 Editor Luís Sá Cunha Produção IIM Design Gráfico victor hugo design Impressão Tipografia Welfare Lda. Tiragem 1.500 exemplares Preço MOP 20.00/ 2.00

EDITORIAL

LUSOFONIA

EM FORÇA ASSOCIAÇÃO DE CULTURA LUSÓFONA (ACLUS) EM MACAU

06 06 06 06 06 08 09

CONFERÊNCIAS NA ESCOLA PORTUGUESA, UNIVERSIDADE DE MACAU INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAU INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU LANÇAMENTO DO DICIONÁRIO TEMÁTICO DA LUSOFONIA FERNANDO CRISTÓVÃO EVOCA AGOSTINHO DA SILVA NA ESCOLA PORTUGUESA 09 IIM OBSERVADOR CONSULTIVO DA CPLP

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE LUÍS GONZAGA GOMES (1907/1976) Intenções e programa 11 RAZÕES DE UMA COMEMORAÇÃO 12 ACTOS NO DIA 20 DE MARÇO 12 SESSÃO EVOCATIVA NO IIM “LUÍS GONZAGA GOMES E O INTERCÂMBIO CULTURAL LUSO-CHINÊS”, POR GRACIETE NOGUEIRA BATALHA 12 PROTOCOLO ENTRE 11 INSTITUIÇÕES MACAENSES 12 NOVA SALA DE LUÍS GONZAGA GOMES 12 DE NOVO, O CENÁCULO 14 LUÍS GONZAGA GOMES O MACAENSE EXEMPLAR

DEOLINDA DA CONCEIÇÃO 16 COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DA MORTE DE DEOLINDA DE CONCEIÇÃO 16 EDIÇÃO DE “CHEONG-SAM – A CABAIA” 16 “DEOLINDA, MULHER PIONEIRA”, POR INÁCIA MORAIS

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IIM – UNIVERSIDADE DE BERKELEY (CAL) 18 18 19 19 19

SEMINÁRIO DO IIM EM BERKELEY IDENTIDADE E JUVENTUDE EM MESA-REDONDA A CONSTRUÇÃO DO FEMININO – CONFERÊNCIA POR DEOLINDA ADÃO INTERCÂMBIO BIBLIOGRÁFICO RENOVAÇÃO DO PROTOCOLO E NOVAS ACÇÕES

LIVROS, MUITOS Livros, Memória, Identidade Sessão de Lançamento no III Encontro das Comunidades

20 “THE PORTUGUESE COMMUNITY IN HONG KONG – A PICTORIAL HISTORY”, PELO ARQ. ANTÓNIO SILVA 20 “CHEONG-SAM – A CABAIA”, POR DEOLINDA DA CONCEIÇÃO 20 “NO CENTENÁRIO DE LUÍS GONZAGA GOMES, POR JORGE RANGEL 20 “FALAR DE NÓS – III”, POR JORGE RANGEL 20 “CAMÕES ESTEVE EM MACAU”, POR EDUARDO RIBEIRO

MAIS LIVROS ... 21 “O BRASIL E A CHINA: RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO NO SÉCULO XXI”, POR SEVERINO CABRAL, EDIÇÕES EM PORTUGUÊS E CHINÊS 21 VENCESLAU MORAIS – MAIS DOIS VOLUMES DA “OBRA COMPLETA” (COD) 21 “LUÍS GONZAGA GOMES E O INTERCÂMBIO CULTURAL LUSO-CHINÊS”, POR GRACIETE BATALHA

ORIENTEOCIDENTE ORIENTEOCIDENTE 33


SEMINÁRIOS / CONFERÊNCIAS

RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

22 “AS RELAÇÕES CHINA / BRASIL E OS DESAFIOS DO SÉCULO XXI” (SEVERINO CABRAL) 22 “ECONOMIA DO BRASIL, HOJE” (ÁUREO DE MELO) 22 IIM NO CONGRESSO DA FIEALC 23 GESTÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL EM MACAU E HONG KONG (HILARY DU CROS E FREDERIK LEE) 23 WENCESLAU DE MORAES E O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (CARLOS MORAIS JOSÉ) 24 “TIMOR, ENTRE A ESPERANÇA E O DESESPERO”, MOISÉS SILVA FERNANDES E ARNALDO GONÇALVES 24 IIM NO FORUM ÁSIA-EUROPA PARA O AMBIENTE 24 IIM NA UNIVERSIDADE SUN YAT-SEN (CANTÃO)

30 GABINETE DE LIGAÇÃO DA RPC / IIM ENCONTROS EM LISBOA E EM MACAU 30 VISITAS: ADM E ATFPM 30 IIM COM CPLP 31 VISITA DO DIRECTOR-EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO ÁSIA-EUROPA AO IIM 31 CENTENÁRIO DO REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA DO RIO DE JANEIRO

PROTOCOLOS 26 IIM / ASSOCIAÇÃO DE CULTURA LUSÓFONA (ACLUS) 26 IIM / “MACAU ARTS, CULTURE AND HERITAGE INSTITUTE” 26 IIM / BERKELEY 27 PARA A MEMÓRIA DE LUÍS GONZAGA GOMES (APOMAC, APIM, ADM, EPM, CAC, ROTARY, CASA DE PORTUGAL, DÔCI PAPIAÇÂM, ELOS CLUB, CLUBE DE MACAU, IIM)

DIÁSPORA IIM no III Encontro das Comunidades 32 PRÉMIO PARA APIM 32 COM A CONFRARIA DA GASTRONOMIA MACAENSE 33 24 DE JUNHO, DE NOVO

VIDA INSTITUCIONAL 34 PRÉMIO IDENTIDADE 2007, PARA APIM 34 PRÉMIO JOVEM INVESTIGADOR 35 INVESTIGADORES ASSOCIADOS E INVESTIGADORES CONVIDADOS 35 CÁTEDRA JEAN MONET PARA UM 35 NOSSAS INSTALAÇÕES

EXPOSIÇÕES 28 MACAU, NO BRASIL E NOS EUA 28 YU JIAN, EM ESPANHA 29 “MICROCOSMOS”, POR A. CONCEIÇÃO JÚNIOR

OS NOSSOS SÓCIOS 37 37 37 37 37 37

CARLOS MARREIROS, AVANTI FÁTIMA COM MEDALHA ASSOCIAÇÃO DE COMANDOS JORGE RANGEL E A SHIP RUI MARTINS FELLOW DO IEEE EM MACAU VICTOR MARREIROS PREMIADO

PARA SEMPRE 38 38 39 39 ORIENTEOCIDENTE 4

JORGE EGMONT HAGEDORN RANGEL JOSÉ SILVEIRA MACHADO PROFESSSOR ALMEIDA GARRETT APARECIDO DE OLIVEIRA


Editorial Foi mais um ano para o IIM (o oitavo de vida e acções). O que foi feito será avaliado por quem mais chegadamente nos acompanha ou concede atenção às nossas actividades. Para nós, foi um ano igual: queremos significar que o que fizemos foi com o mesmo empenho de sempre, em tudo, ao serviço da identidade, da memória, e dos valores da Macau eterna e do progresso e elevação das suas gentes de hoje. Foi, porém, um percurso mais desamparado de meios estruturais. Como as existências mais frágeis da sociedade, também o IIM viveu sofridamente o impacto do a que chamam “crise de crescimento”. A brutal oferta no mercado do emprego e a vertiginosa subida dos salários enfrenesia um êxodo do trabalho semi-qualificado e qualificado para as novas unidades hoteleiras e casinos, que desertifica milhares de unidades económico-sociais e serviços, incapacitados de enfileirarem no ritmo e possidência dos novos donos de Macau. O IIM foi sendo atingido com a saída sucessiva de vários funcionários dos departamentos de secretaria e tesouraria, e também de pessoal auxiliar. A escalada dos vencimentos endoura, nas expectativas da procura local, o chamariz dos casinos e dos seus chamativos “néons”. Durante o ano, o funcionamento da Biblioteca e da Sala Multimédia do IIM foi afectado por falta de vigilantes e pessoal de apoio. É com apreensão que enxergamos o futuro, e as vias de acomodar tantas erupções inflaccionárias no nosso parco, inelástico, orçamento disponível. Mas, sobre tudo, para além das muitas coisas que concretizámos, satisfaz-nos o termos sido admitidos como Observador Consultivo pela CPLP, a realização de uma semana intensa de promoção da Lusofonia em Macau com a ACLUS, a edição de tão oportunas publicações, o termos assinalado os aniversários de Luís Gonzaga Gomes e de Deolinda da Conceição – em resumo, termos deixado tantas referências e reavivado tantas memórias que substanciam a identidade de Macau. Isto, faremos sempre entre a tempestade e o ruído avassaladores – imprimi-lo-emos em todos os estandartes e grava-lo-emos em todas as pedras do nosso caminho.

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Lusofonia em força

2007

LUSOFONIA

EM FORÇA

Semana lusófona Foi uma semana em cheio no esclarecimento do conceito e na promoção do projecto da Lusofonia em Macau, em que o IIM viu substancialmente cumprida uma das suas mais polarizantes orientações fundacionais. O programa foi possível com a empenhada participação das mais proeminentes personalidades académicas da Associação da Cultura Lusófona (ACLUS), e também com a colaboração do Departamento de Português da Universidade de Macau, do Instituto Politécnico de Macau, da Escola Portuguesa, do Instituto Inter-Universitário, da Universidade de Ciência e Tecnologia e da ACOLOP (Associação de Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa). Foi uma acção dirigida sobretudo aos alunos das instituições de ensino atrás enunciadas, delineando-lhes a dimensão e importância estratégica do espaço lusófono no mapa linguístico-cultural do futuro próximo do Mundo. As várias sessões contaram com a presença de cerca de 400 alunos e a participação de docentes e outros interessados nos temas apresentados. A equipa da ACLUS que se deslocou a Macau e protagonizou as respectivas sessões sobre a Lusofonia é sem dúvida o núcleo académico mais notabilizado em Portugal no universo da lusofonia, pela investigação e dedicação académicas e pela paixão e pioneirismo militante. O núcleo da ACLUS veio liderado pelo Professor Fernando Cristóvão (figura altamente associada à área linguística lusófona com distinto currículo interventivo e autoral, tendo sido vice-presidente e presidente do Instituto da Cultura e Língua Portuguesa, actual Instituto Camões). Com ele vieram as Professoras Maria Lúcia Marques (área literáriolinguística) e Maria Adelina Amorim (área histórica) e ainda o Dr. José Augusto Garcia Marques (área jurídica), juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.

“Foi uma acção dirigida sobretudo aos alunos das instituições de ensino atrás enunciadas, delineando-lhes a dimensão e importância estratégica do espaço lusófono no mapa linguístico-cultural do futuro próximo do Mundo”.

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Lusofonia em força

O Programa A primeira sessão (12/4/07) decorreu no anfiteatro da Escola Portuguesa de Macau (EPM), repleto de alunos para ouvir duas intervenções: “Os Livros das Palavras e as Palavras dos Livros”, pela Profa. Maria Lúcia Garcia Marques; “Património da Lusofonia, Herança da Humanidade”, pela Profa. Maria Adelina Amorim. Temas dirigidos à abertura de espírito à dimensão e valor de herança lusófona e à sensibilização da palavra falada e escrita, exemplicadas na literatura em Português expressa. Durante a sessão, um grupo de alunos da Escola Portuguesa de Macau ofereceu aos presentes momentos inesquecíveis com a declamação de poemas de grandes vozes da arte poética lusófona. No dia seguinte (13 de Março), na Faculdade de Direito da Universidade de Macau, o Dr. José Augusto Garcia Marques dissertou sobre “A CPLP e o lugar de Macau no Direito Lusófono”. No dia 14, decorreu uma sessão/debate no Auditório 1 do Instituto Politécnico, repleto de representantes dos corpos docente e discente e de mais público interessado. O Dr. José Garcia Marques relacionou o “Direito, a Lusofonia e Macau”, numa perspectiva abrangente, e o Prof. Fernando Cristóvão abordou a situação e o projecto da “Lusofonia na Globalização Contemporânea”. No dia 15, o IIM acolheu no seu Auditório alunos do IPM, do Instituto Inter-Universitário, da Universidade de Ciência e Tecnologia e da Universidade de Macau, em sessão bilingue Português/Chinês em que pelos oradores foram esboçados os contornos da Lusofonia no Mundo e em Macau, e o papel do Desporto na congregação da dinâmica lusófona. Intervieram o Prof. Fernando Cristóvão, a Profa . Maria Antónia Espadinha e o Dr. Manuel Silvério. Anteriormente, no dia 13, realizara-se um encontro entre os membros da ACLUS e da ACOLOP, visando traçar as linhas gerais de colaboração futura em investigação e recolha de documentação sobre as manifestações desportivas no âmbito da Lusofonia. O Seminário contou com o apoio do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura do Governo da RAEM.

“As várias sessões contaram com a presença de cerca de 400 alunos e a participação de docentes e outros interessados nos temas apresentados”.

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Lusofonta em força

O Dicionário Temático da Lusofonia O Programa encerrou com chave de ouro, com um acto público que tinha sido desde o início o mais motivante pretexto para a realização desta semana promotora da Lusofonia em Macau: A apresentação em Macau do “Dicionário Temático da Lusofonia”. Edição recente e em princípio de divulgação nas geografias lusófonas, o Dicionário organizado e dinamizado pelo núcleo da ACLUS tem a colaboração de 350 investigadores dos oitos países de Língua Portuguesa, e filia-se naquela genealogia de edições destinadas a ficar na História, como factor adunante de contributos em arquitectações do grande edifício patrimonial comum a todas as famílias que em Português no Mundo se expressam. Na perspectiva dos elementos da ACLUS, os oitos países de língua portuguesa não estão unidos apenas pela língua, mas também por um património histórico e de afectos, que os séculos têm consolidado, formando um grupo ou bloco linguístico e de intereses, de características e convivências particulares. O Dicionário caracteriza em primeiro lugar as características comuns aos oito países de língua portuguesa, considerando de igual modo porém as regiões de outros países onde o património edificado e não edificado de raíz lusa se encontra vivo ainda hoje. Entre esta categoria estão as regiões lusófonas de Macau, Goa, Galiza, Casamansa. O Dicionário engloba temas como Antropologia, Arquivos e Centros de Documentação, Arte Desporto, Direito, Economia, Ensino, Forças Armadas, Gastronomia, Geografia, História, Instituições, Língua, Literatura, Migração e Comunidades, Música, Religiões, Saúde e Turismo, sem esquecer um fundamental capítulo: o de expôr e interrogar-se sobre o que é de facto o conceito da Lusofonia, as diversas perspectivas que o buscam, a sua dimensão, etc.. Moderada pelo Presidente do IIM, Jorge Rangel, a sessão prolongou-se em debate nucleado em volta do tema “A Lusofonia Como Comunidade Transnacional”. Tão distante das maiores referências geográficas onde se fala Português, tão pequena na sua dimensão lusófona, Macau despertou, no último ano, para um assomo concretizado que a projectou para o centro do grande projecto lusófono: a realização dos Ios Jogos da Lusofonia, primeiro grande encontro de todas as Famílias Lusófonas em festa. E o IIM orgulha-se da sua humilde participação e contributo em tudo isto: com a organização do “1o Encontro de Poetas Chineses e Lusófonos” (integrado no programa cultural de Jogos) e com a realização destas jornadas de esclarecimento e sensibilização da juventude a uma das mais seguras certezas e realidades do futuro mundo global: o grande espaço linguístico-cultural e afectivo da Lusofonia.

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Lusofonia em força

Agostinho da Silva, mestre da lusofonia IIM Observador da CPLP Esta semana da lusofonia foi precedida por um acto de prefácio, no dia 5 de Março, na Escola Portuguesa. IIM e Elos Clube de Macau, que tinham arcado com a feliz responsabilidade de assinalarem com a devida solenidade a comemoração em Macau do “Centenário do Nascimento de Agostinho da Silva”, intenção materializada em várias iniciativas públicas, prolongaram o programa comemorativo, com aproveitamento em Macau do Professor Fernando Cristóvão. Fernando Cristóvão, admirador de Agostinho da Silva com cuja personalidade de excepção trabalhou no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICALP), com dadivosa disponibilidade aceitou falar sobre o Mestre do Pensamento Português para os alunos da Escola Portuguesa de Macau. Durante uma hora evocou a figura, o pensamento, a obra, e o exemplo, destacando-lhe o perfil de bandeirante desbravador do projecto lusófono.

A categoria de Observador Consultivo permite às instituições distinguidas assistir às reuniões de carácter técnico e ter acesso às decisões tomadas nas Conferências de Chefes de Estado e de Governo, bem como pelo Conselho de Ministros. A decisão foi comunicada à Direcção do IIM pelo Secretário Executivo da CPLP, Embaixador José Tadeu Soares, e é tida como reconhecimento da vocação e acção do IIM, testemunhados publicamente desde a sua fundação. Com humilde contentamento acolhemos a distinção que nos foi concedida, factor de encorajamento para continuarmos o que temos vindo a fazer na relação e sintonia de Macau com o mundo da lusofonia durante os últimos anos, no âmbito de quarenta protocolos de colaboração estabelecidos com prestigiadas instituições dos países lusófonos, factores estimulantes da organização de conferências, exposições, edições, apoios às investigações académicas e intercâmbio de materiais informativos.

CPLP

Na área da Escola, fora previamente inaugurada uma exposição de 20 painéis sobre a vida, o percurso intelectual e a dimensão espiritual de Agostinho da Silva, exposição oficial da Associação Agostinho da Silva concebida por António Borges e Renato Epiânio. Na linhagem luminosa que entronca nas ramagens de Camões, Vieira, Pascoes ou Fernando Pessoa, Agostinho da Silva retoma aquele diálogo eterno em que o sumo da lusíada pátria se conversa, sonhando a arquitectação do império celeste na Terra e no tempo real dos homens.

O Instituto Internacional de Macau foi recentemente distinguido com a atribuição do estatuto de Observador Consultivo pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O referido estatuto foi deliberado em reunião do Conselho de Ministros da CPLP, que, de acordo com os seus princípios estatutários, pode atribuir a categoria de Observador Consultivo “às organizações da sociedade civil interessadas nos objectivos prosseguidos pela CPLP, designadamente através do respectivo envolvimento em iniciativas relacionadas com acções específicas no âmbito da Organização”.

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Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE LUÍS GONZAGA GOMES (11/07/1907- 20/03/1976)

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Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

Razões da comemoração Passou, durante 2007, a data centenária do nascimento do grande vulto da cultura macaense que foi Luís Gonzaga Gomes. Como sabe quem acompanha a vida cultural de Macau, Luís Gonzaga Gomes foi considerado, pelas maiores figuras do panorama cultural de Macau no século XX, o maior historiador macaense de sempre e, acima de tudo e de todos, o grande agente do intercâmbio cultural luso-chinês. Como tal, deve justamente ser visto e cultuado como um genuíno símbolo de Macau no mais nuclear da sua identidade: como lugar pioneiro do intercâmbio espiritual entre a China e o Ocidente, laboratório de simbioses e sínteses culturais.

E porquê durante um ano? Porque, angustiantemente, assistimos à descaracterização de Macau, não só nas suas expressões urbana, ambiental, rítmica, mas também espiritual e patrimonial, à indefesa mercê da brutal avalancha doe imperialismo casineiro, da invasão das massas turísticas anónimas, da integração de dezenas de milhares de novos residentes, de tantos factores desvalorizantes da memória e dos valores locais, onde já pouco se quer saber do passado.

E, Luís Gonzaga Gomes, foi, em mais de 400 anos, o mais autêntico símbolo de Macau, daquela Macau eterna que nos celestes desígnios foi gerada como agente da moção para a unidade do género humano, protagonizada pelos portugueses em quinhentos.

Sensível à figura e ao exemplo de Luís Gomes e aos próprios seus valores fundacionais, decidiu o IIM assumir-se como entidade congregadora e estimuladora de um programa comemorativo, a decorrer durante um ano, para que se conclamaram as instituições macaenses, serviços e fundações, à participação na comemoração da efeméride. E porque é que o IIM decidiu provocar um movimento comemorativo da data e da figura? Porque, em primeiro lugar, nenhuma entidade ou instituição, pública ou privada, se propôs memorar ou encabeçar qualquer iniciativa, e porque é vocação fundacional do IIM consagrar-se ao culto da identidadede Macau.

Luís Gonzaga Gomes de autoria de António Conceicão Júnior, tinta da China sobre papel, 21x29,7cm,1979 ORIENTEOCIDENTE 11


Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

Actos comemorativos

Como gestos iniciais e simbólicos de um ambicioso programa comemorativo, para cuja participação foram convidadas e estimuladas várias instituições de Macau, realizaram-se, no dia 11 de Julho (aniversário do nascimento), Quarta-Feira, no cemitério de S. Miguel Arcanjo, dois actos inaugurativos das comemorações: • Missa em memória de Luís Gonzaga Gomes, oficiada por S. Exa. Reverendíssima o Bispo D. José Lai, e que foi dita em Português e Chinês, com a presença dos representantes das instituições e da família; • Deposição de flores junto à sepultura, depois da oração ao Anjo das Sepulturas dita por D. José Lai e de uma evocação de Luís Gonzaga Gomes feita por Luís Sá Cunha.

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No dia 26, nas instalações do IIM, abriramse as páginas do programa comemorativo com muita solenidade e afluência e enquadramento humano. Feita uma evocação da figura de LGG e explicadas as razões da iniciativa tomada pelo IIM, em intervenção do seu Presidente, Jorge Rangel, seguiu-se a apresentação do opúsculo “Luís Gonzaga Gomes e o intercâmbio cultural luso-chinês”, pelo Secretário do IIM, Luís Sá Cunha. O texto do opúsculo, de autoria da Dra. Graciete Nogueira Batalha, fora por ela lido numa das sessões do “Cenáculo Luís Gonzaga Gomes”, especificamente na sessão que foi dedicada ao seu patrono, e que teve como objectivo recolher depoimentos que compusessem um esboço biográfico do homenageado.


Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE LUÍS GONZAGA GOMES

Com a presença de um grande núcleo das mais relevantes figuras na vida cultural de Macau na época, a sessão decorreu na Sala Bocage do Hotel Mandarim em Junho de 1991, e o momento foi fixado para a posteridade numa fotografia de grupo que será exposta na nova Sala de Luís Gonzaga Gomes, no IIM. Foi, de seguida, sugerido um vasto programa de actividades e feito um desafio às diversas instituições a participarem na sua realização, tendo como gesto inicial sido assinado um protocolo de compromisso por onze instituições locais: Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, Associação dos Macaenses, Casa de Portugal, Círculo dos Amigos da Cultura, Clube de Macau, Elos Clube de Macau, Escola Portuguesa de Macau, grupo Dóci

Papiaçám di Macau, Rotary Clube de Macau e Instituto Internacional de Macau.

Gomes, que será a sede do renascente Cenáculo.

Um dos maiores desafios sugeridos aos presentes foi a reedição de algumas das obras de Luís Gonzaga Gomes, porque editar um autor foi sempre a melhor via de lhe prestar homenagem e à sua obra. A obra de Luís Gonzaga Gomes é hoje desconhecida das presentes gerações, porque na maioria os seus livros foram editados nos anos 50 do passado século, e não são hoje acessíveis.

Ex-Presidente da Comissão Instaladora do Cenáculo, Luís Sá Cunha convidou todos os presentes a constituirem-se sócios fundadores do ‘novo’ Cenáculo, tendo lido a acta exarada no velho livro de Actas, que todos os presentes assinaram.

Foi também anunciada a restauração ou refundação do Cenáculo Luís Gonzaga Gomes, em hibernação desde 1992, para ser oficialmente constituído e inaugurado durante 2008, e em sequência, foi inaugurada a nova Sala de Luís Gonzaga

A entusiástica adesão de tantos que compareceram às cerimónias deixou esperança de que, havendo os apoios materiais, até Julho de 2008 se possam deixar relevantes marcas, nestes tempos de dissolvência, da memória de uma figura que foi para muitos símbolo da mais autêntica Macau.

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Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

LUÍS GONZAGA GOMES O MACAENSE EXEMPLAR “... houve em Macau homem silencioso e tenaz (...) que dedicou grande parte da sua vida ao estudo da língua e da cultura chinesa, ao mesmo tempo que da ocidental, e com meritório trabalho de as dar a conhecer uma à outra. Esse homem foi Luís Gonzaga Gomes”. Graciete Nogueira Batalha, 25/6/1991

“O macaense Luís Gonzaga Gomes, nascido a 11 de Julho de 1907 e falecido a 20 de Março de 1976, foi uma vida de total entrega e dedicação à acção cívica e cultural de Macau. Por esta razão, e para homenagear a sua memória e realçar o seu exemplo, foi-lhe erigido um busto em lugar público, exposto primeiro no Jardim de S. Francisco e actualmente firmado no Jardim das Artes. Não foi apenas a sua incansável acção no campo cultural que lhe valeu as merecidas distinções e a gratidão da nossa memória; é especialmente uma faceta rara que o notabiliza e distinge – ele foi um profíquo agente do intercâmbio cultural ChinaPortugal, nas suas múltiplas acções e iniciativas, como escritor e tradutor. É autor de riquíssima bibliografia onde introduz e apresenta inúmeros aspectos da cultura chinesa para o universo da língua portuguesa; inversamente, também publicou e traduziu livros para língua chinesa. Personalidade sensível ao movimento das trocas culturais, conhecedor da língua chinesa, ele foi Secretário da Comissão da Elaboração do Regulamento do Curso de Língua Chinesa no Liceu Nacional Infante D. Henrique, o principal estabelecimento de Ensino Secundário para luso-falantes de Macau naquele tempo. Acabou por ser ali o professor de Língua Chinesa, defendendo sempre a importância do seu ensino junto da comunidade de língua portuguesa. Neste campo, ele publicou “Vocabulário Cantonense-Português”, “Vocabulário Português-Cantonense” e “Noções Elementares da Língua Chinesa”. As suas preocupações e acções pedagógicas devem ter-lhe sido inspiradas no berço; o seu pai, Joaquim Francisco Xavier Gomes, foi Director da Escola Central do Sexo Masculino, e sua mãe, Sara Carolina de Encarnação, foi também Directora da Escola Central do Sexo Feminino. O pendor cultural que cedo animou o seu espírito, herdou-o também por certo da atmosfera culta da sua família, idêntica a muitas da comunidade macaense existentes nesses tempos em Macau. ORIENTEOCIDENTE 14


Centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes

Uma personalidade culta

Um topa-a-tudo

Sobretudo, o gosto pela música fora-lhe inculcado pela irmã mais velha, Maria Margarida, que estudara Música, Canto e Ballet clássico nos Estados Unidos da América. Com ela aprendeu a tocar violino e no seu convívio se forjaram as suas facetas de melómano e apaixonado da ópera. Da sua casa, pelo relato de visitantes, fica o registo de uma escritório privado à prova de som, onde se isolava rodeado de discos de música erudita, para escutar as óperas preferidas.

Ele foi, constantemente em vida, uma dedicação exclusiva à vida cultural e cívica de Macau, desempenhando inúmeros cargos em organismos e associações. Entre outros, ele foi Secretário da Comissão da Defesa e Valorização do Património Artístico e Histórico de Macau, Chefe de Redacção da Revista “Renascimento”, SecretárioGeral do Jornal “Notícias de Macau”, Presidente e Secretário do Rotary Club de Macau, Vice-Presidente da Comissão Administrativa do Leal Senado da Câmara, Vogal da Comissão de Terras, Secretário da Associação Desportiva Macaense e Secretário da União Macaense.

Luís Gonzaga Gomes (o Inho Gomes, hipocorístico carinhoso por que era designado entre a comunidade macaense) foi um extraordinário autodidacta, surpreendendo tão vastos conhecimentos culturais que transpiraram dos seus múltiplos escritos. Também nos conhecimentos de Música foi um self made man, tirando o curso por correspondência da Escola Universal de Paris, à semelhança do que fez para aprender as línguas Inglesa, Italiana e Alemã. Dirigindo o Círculo da Cultura Musical, ele teve acção notável na promoção musical de Macau, onde atraiu muitos cantores e instrumentistas de renome mundial, em espectáculos memoráveis. No Grupo de Amadores de Teatro e Música, Luís Gonzaga Gomes era o segundo violino. Participou em concertos como cantor. Como Director da Emissora de Rádiodifusão de Macau, foi programador de tempos musicais, foi crítico musical e era o redactor dos noticiários: conhecedor de várias línguas, ouvia as principais estações internacionais, donde colhia elementos para redigir as notícias com que informava a comunidade residente.

O diálogo de culturas Luís Gonzaga Gomes foi a personalidade que mais e melhor encarnou o espírito macaense de intercomunicador entre dois povos, duas comunidades e duas culturas. Por isso o seu espírito não se concentrou apenas no universo da História: teve vasto e profundo emprego no campo da etnografia macaense. Verteu para chinês “Os Lusíadas contados às crianças”, um resumo da História de Portugal, e a “Arte europeia na corte de Qianglong”, entre muitas outras obras escritas. Para dar a conhecer aos portugueses a riqueza etnográfica de Macau (folclore, costumes, tradições, lendas, artes, etc.) publicou “Lendas Chinesas de Macau”, “Festividades Chinesas de Macau”, “Contos Chineses”, “Curiosidades de Macau Antiga”, entre outros. Para introduzir os falantes de Português na Cultura da China, publicou, entre muitas outras traduções dos clássicos, livros como: “O Clássico Trimétrico”, “O Ensino de Mil Caracteres”, “A Piedade Filial”, “As Quatro Obras”, “O Livro da Vida e da Virtude de Láucio”, etc.

Foi violinista, cantor e representou Macau no exterior como tenista. Com a sua competência e conhecimentos da arte chinesa, foi ele quem instalou o Museu Luís de Camões, hoje denominado Museu de Arte de Macau. Foi um grande coleccionador de arte chinesa, e foi proprietário de uma valiosa biblioteca, cujos livros doou e se encontram integrados hoje no espólio da Biblioteca e do Arquivo Histórico de Macau. Teve contactos regulares com grandes académicos de todo o Mundo, e escreveu artigos para dezenas de revistas estrangeiras. Quem o conheceu em vida, descreve-nos o seu estilo humilde, de personalidade recolhida, refugiado numa vida monástica para dedicação total e inesgotável de serviços à sua cidade e às comunidades nela viventes. Dizem-nos que nunca era visto a desperdiçar tempo em actividades supérfluas. Discreto, dizem-nos que ele não andava, deslizava... E assim nos abandonou. Mas hoje, mais do que nunca, o seu exemplo é vivo e actual: porque sem o conhecimento dos outros povos e civilizações, que só o diálogo cultural nos proporciona, a marcha da globalização trará o desentendimento e os conflitos. Luís Gonzaga Gomes foi um símbolo de Macau – lugar de diálogo, de harmonia, de tolerância, de universalidade e de paz.” (Instituto Internacional de Macau)

da esquerda para à direita Luís Gonzaga Gomes Com oito anos de idade Com colegas Foto de intimidade do distinto historiador, escritor e sinólogo macaense. No Liceu com colegas, 1920 Com o Bispo ORIENTEOCIDENTE 15


Deolinda da Conceição - 50 Anos

DEOLINDA DA CONCEIÇÃO

Estivemos durante 2007 especialmente atentos a importantes efemérides e devidas comemorações. Primeiro Luís Gonzaga Gomes (100 anos do nascimento) que, pelo exemplo de total dádiva ao serviço da sua terra, encarnação viva de todos os valores identitários de Macau e especificamente como o maior agente do intercâmbio cultural luso-chinês – conclamava a irrecusável homenagem das presentes gerações. Tendo como uma das suas vocações axiais o culto da identidade macaense, o IIM procura enfrentar, no limite das suas forças, as perturbações dos factores identitários em galopante processo degenerativo. Aconteceu que passou também outra efeméride que trouxemos da obscuridade do esquecimento à luz da viva memoração: Os 50 anos da morte de Deolinda da Conceição. Como se, por força d’astros e destino, nos surgissem do passado em conjunção para que nós, rememorando-os, não abandonemos às sombras letais a Macau de sempre. Deolinda – Mulher macaense, ela também um exemplo e um símbolo, bonita, culta, sensível, vivendo a mais íntima e sofrida condição feminina compenetrada dos dramas sociais que a rodeavam. O IIM editou a 5a edição do seu “livro de horas” – “Cheong Sam – A Cabaia”, livro que, lançado durante o III Encontro das Comunidades Macaenses na presença de centenas de pessoas da diáspora, foi o pretexto para a sua evocação pública. Aqui a evocamos, com as palavras da Dra. Inácia Morais que prefaciam a obra:

Deolinda, mulher pioneira “Deolinda é uma mulher que fala da rotura e do espaço de emancipação, da dificuldade da revolução das mentalidades em relação ao feminino, mas ao mesmo tempo da coragem de milhares de mulheres anónimas que, com as suas vidas difamadas e aviltadas por uma sociedade fechada como a de Macau, contribuíram para a rotura definitiva com o “antes” e projectaram a mulher Macaense para a emancipação dos nossos tempos. Faz transparecer nos seus contos o facto de a mulher trabalhadora ser inteligente, sofredora, bela e de certa maneira ansiar por liberdade, numa sociedade em que o homem estava contaminado de preconceitos. Deolinda retrata-nos a mentalidade daquela época e as profundas alterações económicas que se deram, ao nível da fome e da guerra de Xangai. A luta que a mulher do seu primeiro

Deolinda e o irmão Manuel, estudantes liceais. Anos 30

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Deolinda da Conceição - 50 Anos

Deolinda com as cunhadas, mulheres dos irmãos do marido, Celeste Conceição, Olívia Lobo Conceicão e Anita de Mello, irmã do marido. Deolinda no Hotel Bela Vista, com o seu filho José, a irmã Áurea, o filho Rui e o marido.

conto, “Cheong-Sam”, trava, as formas de resistência e de transgressão, fá-laão entrar de uma forma ou de outra, na cena pública. Deolinda põe a nu a aparência da sociedade dos bons costumes e arrasa a tentativa utópica de uma sociedade tradicional e perfeita. Este gesto desafiador, atinge as personagens de uma tradição desfocada e à deriva. As aspirações das personagens são as mesmas das pessoas da época, apresentam- -se sob vários cambiantes tais como o real e o ideal, a consciência e a inconsciência, a liberdade e a necessidade dela. Segundo ela a mulher existia num universo particular que quase se transformava numa armadilha, onde tudo o que fizesse era observado com sentido de censura. Deolinda apresenta-nos a mulher como uma personagem encurralada, mas que vai resistindo e se vai preparando para a emancipação. Este facto surpreende o Mundo dos homens. Como escritora vai aos poucos ganhando terreno. A sociedade repara na intrusa que vai penetrando no seu território e ela vai-se impondo e vai ganhando autonomia. Aos poucos deixa o papel de subalternidade e passa a controlar o seu destino e até o daqueles que a não tinham levado a sério.

O seu objectivo parece ter sido a vitória do universo feminino. Nos contos a mulher disfarçava-se e ludibriava constantemente o homem, para poder sobreviver. Não só o homem como também o maior de todos os adversários – o mundo. Nela é bem visível a cisão entre sexos. O anseio de libertação da mulher é talvez a primeira rotura com o passado e percebe-se que há um vislumbrar de uma emancipação futura.

Deolinda com o marido e filho António, no aeroporto da Portela, no dia do seu regresso a Macau.

Deolinda deixa-nos a mulher mergulhada num clima de saturação e crise de melancolia onde os sentimentos de solidão, fragilidade e impotência em relação ao poder instituído a conduzem a uma aparente ruína simbólica da qual a maior parte das suas personagens são capazes de sair de forma reforçada. Esta maneira de abordar o problema, fazendo pequenas, mas seguras roturas no mundo masculino, tornam-na a primeira dissidente. Habilidosamente, Deolinda escreve também sobre coisas supérfluas e por vezes aos olhos do distraído leitor, patéticas; escreve sobre moda, toiletes, canto, dança e chapéus com laçarotes. A sua coluna no jornal sobre moda era lida pelas senhoras da época que assim lhe perdoavam a ousadia de escrever num mundo de escrita masculina. Esta foi a maneira defensiva de a sociedade lhe permitir, depois, falar de problemas mais sérios. Este livro é, pois, uma peça importante sobre a história das mulheres. O facto de Deolinda ter registado parte do que viu e do que a comoveu, faz-nos hoje mais sabedores do que se passava no seu tempo. A nossa obrigação é a de deixarmos aqui registado o nosso agradecimento.”

(Inácia Morais)

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IIM - Universidade de Berkeley (CAL)

IIM - BERKELEY Com cobertura e estímulo do protocolo assinado entre as duas instituições, têm decorrido com regularidade satisfatória as relações, iniciativas e acções entre o IIM e a Universidade de Califórnia – Berkeley, uma das maiores dos EUA e do mundo, com um historial assinalado a lápis branco com 22 Prémios Nobel. As relações processam-se através do Departamento do Programa de Português daquela Universidade, e, através de Macau, a lusofonia e o patuá têm vindo a merecer especial consideração dentro daquele núcleo de estudos. O ano de 2007 ficou também marcado com realizações conjuntas que tendem a impulsionar cada vez mais as colaborações pelo futuro próximo.

Juventude e identidade Teve lugar também, de seguida, um painel de intervenções, em tentativa de analisar e sugerir respostas a um tema que tanto tem vindo a preocupar as gerações mais velhas da diáspora macaense: como integrar as novas gerações nos valores da identidade?

“Macau’s Identidy: crossroads, challenges and opportunities” Em Março, 2007, ambas as instituições coorganizaram, com o apoio do Instituto para as Artes, Cultura e Identidade de Macau com sede na Califórnia, a conferência Macau’s Identity: crossroads, challenges and opportunities com intervenções de Gustavo da Roza (“Património e Desenvolvimento Urbano em Macau”), Luís Sá Cunha (“As relações históricas entre Macau e os EUA”) e André Silveira (“Macau como Plataforma de Negócios para Empresários Lusófonos”). Esta última intervenção contou com informações e materiais audiovisuais gentilmente cedidos pelo IPIM (Instituto para a Promoção do Comércio e Investimento de Macau) e pelo Gabinete de Apoio do Secretariado Permanente do Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. ORIENTEOCIDENTE 18

A mesa-redonda decorreu com a presença e participação de todos os presidentes das associações macaenses na Califórnia, que prestaram o seu depoimento individual, transmitindo as suas experiências e ideias para a transmissão do legado. O encontro “A Juventude e o Futuro da Identidade Macaense” gerou um entusiasmado debate, e foi enquadrado e teve mediação do Arquitecto Gustavo da Roza, uma das figuras mais notáveis da diáspora e representante do IIM.


IIM - Universidade de Berkeley (CAL)

A Identidade Feminina e a Literatura Portuguesa O Instituto Internacional de Macau (IIM), em colaboração com a Universidade da Califórnia, Berkeley e a Universidade de Macau, organizou no dia 7 de Maio a palestra “Construção Social e Literária do Feminino”, em que foi oradora a Dra. Deolinda Adão, Coordenadora do Programa de Estudos Portugueses, daquela Universidade. A apresentação traçou uma possível cronologia de construção do feminino na literatura portuguesa, relacionando também este processo com o análogo percurso no resto da Europa. O objectivo não foi analisar exaustivamente a construção do feminino na literatura portuguesa, mas sim recolher noções de identidade feminina em textos que a oradora considera os fundamentais e tentar analisar a forma como os parâmetros de feminilidade estabelecidos nesses textos entraram no imaginário cultural português em geral. Deolinda Adão é doutoranda pelo Departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia, Berkeley, sendo Mestre em Línguas Hispânicas e Literatura Luso-Brasileira. É coordenadora do Programa de Estudos Portugueses da Universidade da Califórnia, Berkeley, tendo coordenado inúmeros outros cursos de formação intensiva relacionados com a Língua e Cultura Portuguesa. Leccionou Português na Universidade e em diversas outras instituições de ensino na Califórnia e publicou vários artigos em revistas e edições universitárias de São Paulo, de Curitiba (Brasil), dos Açores, de Berkeley, Califórnia e Toronto, Canadá.

Intercâmbio bibliográfico

Protocolo e novas acções

Durante o seminário realizado em 2004, em Berkeley, a Directora da Biblioteca da Universidade acompanhou e assistiu a todas as intervenções e actos, tendo deixado uma mensagem aos presentes: a Universidade estava a dar crescente atenção ao fenómeno do desenvolvimento da nova China e à sua emergência internacional, e pretendia engrossar as existências bibliográficas sobre as realidades sínicas, em Português, Inglês e Chinês.

Em Novembro, durante o III Encontro das Comunidades, procedeu-se à renovação do “Protocolo IIM/Berkeley”, tendo-se dilatado o tempo de vigência para um novo período de três anos.

Presente durante o III Encontro das Comunidades Macaenses, a Dra. Deolinda Adão – que vem crescentemente participando e sendo integrada em actividades de Macau e da diáspora – trouxe cartas oficiais dos responsáveis da Biblioteca que pôs nas mãos do IIM para, localmente, endereçar os pedidos de oferta de edições à Biblioteca de Berkeley.

Entretanto, novas iniciativas conjuntas do IIM e da Universidade de Berkeley estão a ser preparadas, entre as quais a organização da exposição sobre Fernão Mendes Pinto, da autoria de Carlos Marreiros e de Victor Marreiros, em Berkeley, no ano lectivo 2008/09, acompanhado de um seminário sobre a “Peregrinação”; um projecto de investigação sobre desenvolvimento económico e governação ambiental na bacia do Rio das Pérolas; e o reforço do intercâmbio de investigadores entre Berkeley e instituições de investigação e ensino superior de Macau.

Esta notícia é também um apelo a outras instituições, para colaborarem neste intercâmbio bibliográfico, podendo dirigirse ao IIM para informações.

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Livros, muitos

LIVROS, MUITOS A política editorial sempre foi uma constante na programação das actividades anuais do IIM, e o ano de 2007 continuou a tradição dos anteriores anos; mas as mudanças na realidade que nos rodeia veio reforçar a ênfase da missão do livro – como repositório e transmissor de Memória – no vigoramento da identidade. Não foi por acaso que a grande sessão de lançamento de livros organizado pelo IIM tivesse decorrido sob a inspiração da trilogia “Livros, Memória e Identidade”. Publicar é dar força à identidade, afirmava-se também em “slogan” no espaço da Sala C da Macau Dome onde decorreu a sessão, assistida por cerca de três centenas de participantes no III Encontro das Comunidades, e integrada no respectivo Programa. Na mesa, presidida pelo Dr. Jorge Rangel, Presidente do IIM, tomaram lugar Luís Sá Cunha, Secretário do IIM, a Dra. Inácia Morais, professora do IPM, o Dr. José Manuel Rodrigues, Presidente do APIM e da Comissão Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses, o Arquitecto António Silva, autor do livro “The Portuguese in Hong Kong”, o Dr. Eduardo Ribeiro, autor do livro “Camões esteve em Macau” e o Dr. Rufino de Fátima Ramos, da Direcção do IIM. Todas as edições apresentadas prestaram culto à Memória, enfatizando-se cada edição como depósito perdurável de tradições, patrimónios, imaginários e referências colectivas, e veículo de transmissão às novas gerações e ao futuro, por entre os ventos letais que varrem Macau. Mereceu destaque a espectacular edição “The Portuguese Community in Hong

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Kong – A Pictorial History”, album cartonado de 300 páginas, com cerca de 200 fotografias de personalidades, grupos familiares e institucionais, e actividades da comunidade portuguesa estabelecida em Hong Kong desde quase os seus primórdios. Da autoria do Arquitecto António Pacheco Jorge da Silva, investigador e residente na Califórnia, o livro, além de um prefácio que historia a presença portuguesa em Hong Kong, acaba por ser um retrato colectivo do grande família da diáspora macaense, testemunhando a sua grandeza, adaptabilidade e triunfo, e muito especificamente a exaltação da participação cívica da comunidade para a estruturação da sociedade de Hong Kong no período em que mais apelava ao vigoramento das suas traves arquitecturais. O livro foi apresentado pelo autor, Tony Silva, e teve como entidades patrocinadoras o Conselho das Comunidades Macaenses, o Instituto Internacional de Macau e o Dr. Ambose So, Consul Honorário de Portugal em Hong Kong. Foi anunciada a execução de uma exposição, com ampliações das fotos do livro, a ter lugar em Hong Kong, cujo destino será a posterior itinerância pelos núcleos da diáspora dos EUA e Canadá.

Para assinalar duas iniciativas do IIM, o centenário do nascimento de Luís Gonzaga Gomes e o cinquetenário da morte de Deolinda de Conceição, foram apresentados dois livros: “No Centenário de Luís Gonzaga Gomes”, de Jorge Rangel, (edição do IIM integrada na sua

colecção “Mosaico”) e uma reedição de “Cheong-Sam – A Cabaia”, de Deolinda de Conceição (edição do IIM patrocinada também pela Fundação Jorge Álvares, livro que foi apresentado pela novel doutorada pela Universidade de Macau, Inácia Morais, cuja tese versou muito especificamente a obra literária de Deolinda de Conceição). Jorge Rangel apresentou “Falar de Nós III”, terceiro volume da compilação das crónicas semanais que publica no “Jornal Tribuna de Macau”, que se enfileiram como um dos maiores registos de memórias da vida macaense nos últimos 80 anos. Já no 3o tomo, os acervos memorialistas reunidos nos volumes serão uma das referências para a leitura historiográfica de Macau dos finais do Sec. XX e começos do século XXI, só possíveis graças à privilegiada memória e capacidade arquivística do autor, que teve a mais lata experiência política activa e intervenção na vida de Macau no último terço do século passado. Foi também integrada na sessão uma referência desenvolvida à recente edição do livro “Camões esteve em Macau”, da editora COD e de autoria de Eduardo Ribeiro que, em presença, desdobrou os argumentos e as razões afirmativas da presença real do Poeta em Macau. Extraordinária jornada memorialista, cujos actores, os livros, permanecem porque gerados na forma escrita, e onde o Presidente do Conselho das Comunidades, José Manuel Rodrigues insistiu na importância da “memória futura” e Jorge Rangel apelou à edição, sempre, de mais livros “para que as gerações futuras possam saber mais do passado e do actual presente”.


Mais Livros

MAIS LIVROS…

Para assinalar o Centenário do Nascimento de Luís Gonzaga Gomes, e como acto editorial simbólico e de abertura da respectiva Programa, o IIM editou na sua colecção “Mosaico” e opúsculo “Luís Gonzaga Gomes e o intercâmbio cultural Luso-Chinês”, de autoria da Dra. Graciete Nogueira Batalha. Trata-se do texto escrito que a autora leu durante a 6a sessão do primevo Cenáculo Luís Gonzaga Gomes, em Junho de 1991, e onde destaca a faceta mais importante de Luís Gonzaga Gomes como agente do intercâmbio cultural entre a China e Portugal, quer como autor, quer como tradutor. Acompanhando e aprofundando as especiais relações que o IIM promove entre Macau/China e o Brasil, foi edidado o livro “O Brasil e a China: Relações de Cooperação no Século XXI”, de autoria de Severino Cabral, tido como o maior especialista do Brasil sobre a China. Organizado dentro da mesma perspectiva abrangente e sob largo enfoque estratégico que é habitual nos trabalhos de Severino Cabral, o livro explana as linhas gerais de uma estratégia da relação sino-brasileira no contexto do sistema internacional contemporâneo. O livro, publicado anteriormente em Português durante o ano de 2007, foi publicado também em Língua Chinesa durante a conferência feita pelo autor (ver noutro local) no IIM (esta edição tem o patrocínio da Fundação Henry Fok).

Wenceslau de Moraes

Luís Gonzaga Gomes

Estivemos também associados a duas obras publicadas pela COD, no âmbito da edição da Obra Completa de Wenceslau de Moraes, a que o IIM deu um patrocínio inicial.

“No centenário de Luís Gonzaga Gomes”, de autoria de Jorge Rangel, foi outra das edições executadas dentro do Programa das comemorações do centenário, e publicada na colecção “Mosaico” que, com este opúsculo, consumou o VI volume de títulos publicados.

Teve lugar a 27 de Abril, no Instituto Internacional de Macau, a sessão de apresentação pública dos volumes VIII – “Paisagens da China e do Japão”, e IX – “Os Serões no Japão”, das “Obras Completas de Wenceslau de Moraes”. Esta iniciativa da editora COD, contou com a presença do presidente da Associação Wenceslau de Moraes, Pedro Barreiros e com uma intervenção do Director do COD, Carlos Morais José e foi apoiada pelo jornal Hoje Macau.

A edição destinou-se especialmente e ser divulgada entre os participantes do III Encontro das Comunidades Macaenses, e reúne capítulos sobre as razões da comemoração, dados biográficos, testemunhos, programa comemorativo e elementos de bibliografia activa de Luís Gomes.

Livros, Memória e Identidade

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Seminário/Conferências

SEMINÁRIOS CONFERÊNCIAS

Além dos seminários e conferências organizados e realizados pelo IIM, e daquelas em que participou através dos seus membros e investigadores, aconteceram na sede do IIM outras conferências sobre temas diversos, cuja referência separada tem apenas a ver com o não terem surgido integradas em contexto mais abrangente.

IIM no Congresso da FIEALC

Cooperação China/Brasil No âmbito do protocolo celebrado entre o IIM e o IBECAP, no Rio de Janeiro, em 2007, e que tem promovido várias iniciativas de colaboração, o Prof. Severino Cabral (Director-Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos da China e Ásia Pacífico – IBECAP) fez no IIM uma palestra sobre “As relações Brasil/China e os desafios do Século XXI”. A palestra versou uma análise avaliativa dos aspectos políticos, económicos, culturais e estratégicos presentes na relação sinobrasileira no contexto do sistema internacional contemporâneo. O papel fundamental de Macau na aproximação cultural entre a China e o Brasil foi frisado pelo orador perante representantes do Fórum de Cooperação Económica ChinaPLPs, Instituto de Promoção do Investimento e Comércio de Macau, Câmara de Comércio Brasil-China, Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos, Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, entre outros participantes. O Professor Severino Cabral sublinhou que sem o conhecimento mútuo das realidades sociais e culturais, os investimentos económicos podem fracassar. Este aspecto foi vincado também pelos participantes presentes que sublinharam várias vezes a pertinência e oportunidade de se enfocar a estratégia para o campo das pequenas e médias empresas do Sul da China. No decorrer da sessão, o IIM apresentou uma nova edição, - “O Brasil e a China: Relações de Cooperação no Século XXI” de autoria do Prof. Severino Cabral, versão

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em Língua Chinesa do livro já editado em Português na colecção “Mosaico” do IIM.

Economia do Brasil O Professor Áureo de Melo, Professor do Ensino Médio em São Paulo, Brasil, e dirigente da União dos Escritores Brasileiros, visitou o Instituto Internacional dia 17 de Outubro de 2007. Tendo reunido com a direcção do Instituto Internacional de Macau, o Professor ofereceu mais de 30 edições sobre variados temas do Brasil Contemporâneo. Tem realizado palestras sobre a História Económica do Brasil desde 1964 até ao presente, e fez para os corpos sociais do IIM uma exposição sobre “A evolução económica do Brasil e a sua situação actual”, dentro da política promovida pelo Presidente Lula da Silva.

Em Setembro, durante quatro dias de intensa sucessão do seminários e painéis, decorreu em Macau o 13o Congresso da FIEALC (Federação Internacional de Estudos Sobre a América Latina e o Caribe), que teve como cabeça organizativa a MAPEAL (Associação de Macau para a Promoção do Intercâmbio entre a Ásia/ Pacífico e a América Latina). Com a presença de representantes de 39 países e a intervenção de cerca de 400 participantes, saldou-se numa grande oportunidade para ampla troca de informações e pontos de vista em dezenas de áreas, e resultou em grande projecção de Macau na latinidade e da sua divulgação como ponto de encontro cultural oriente/ocidente. Solenizou o Congresso a presença de altas individualidades das áreas política, diplomática e académica e, durante a Assembleia Geral da FIEALC que decorreu no dia 27, o Dr. Gary Ngai Mei Cheong foi eleito novo Presidente da FIEALC. Intimamente associados, desde o início da sua costituição, à existência do MAPEAL (Jorge Rangel é Vice-Presidente Honorário e outros membros da Direcção são sócios fundadores) com quem tem colaborado nos últimos anos em várias iniciativas, o IIM também participou no Congresso com duas intervenções: o Presidente Jorge Rangel fez uma intervenção sobre “Macau nas relações da China com o Brasil”, e Luís Sá Cunha apresentou vastos materiais e referências justificativas da elaboração de uma “História da Literatura de Macau”, que, expressa em Português, é uma via cultural de partilha de Macau com o universo latino.


Seminário/Conferências

Wenceslau de Moraes e o Admirável Mundo Novo Na referência de apresentação dos livros de Wenceslau de Moraes editados pela COD no auditório do IIM, teve lugar a conferência “Wenceslau de Moraes e o Admirável Mundo Novo”, por Carlos Morais José, que lançou o debate sobre a “pós-modernidade” na perspectiva do escritor. Este, confrontado com o aparecimento das novas tecnologias no seu tempo, preocupava-se com as respectivas consequências para a existência humana.

Gestão do Património Cultural O Instituto Internacional de Macau organizou mais um importante seminário dedicado ao património cultural, desta vez com a colaboração de especialistas de Hong Kong e da Austrália. O seminário “Cultural Heritage Management in Macau and Hong Kong: The Theory and Practice of Stakeholder Consultation” (Gestão de Património Cultural em Macau e Hong Kong: a teoria e a prática das auscultações públicas) realizou-se no auditório do Instituto Internacional de Macau dia 18 de Setembro. Foram oradores a Dra. Hilary du Cros, doutorada em gestão do património cultural pela Universidade Monash (Austrália), professora do Instituto de Formação Turística de Macau, e membro do Comité Científico Internacional sobre Turismo Cultural do Conselho Internacional sobre Monumentos e Sítios (ICOMOS segundo a sigla inglesa), e o Dr. Frederick Lee, doutor em planeamento urbano pelo Massachussets Institute of Technology (MIT) e professor da Universidade de Hong Kong.

O seminário apresentou o enquadramento teórico adoptado para a análise das complexidades existentes na prática da gestão do património cultural, especialmente importante para o envolvimento das comunidades e grupos de interesse em processos de decisão relativos à gestão do património cultural. Neste contexto, foram apresentados estudos de caso acerca da experiência de Macau e Hong Kong nesta matéria. Estes ilustraram a evolução das estratégias de gestão adoptadas pelas autoridades das duas Regiões Administrativas Especiais, bem como as questões levantadas em debateschave sobre gestão do património em ambos os Territórios. A Dra. Du Cros e o Dr. Lee co-editaram “Cultural Heritage Management in China: Preserving the Pearl River Delta Cities”, livro recentemente publicado pela editora internacional Routledge.

Foram, em particular, referidos os exemplos tecnológicos da fotografia e do gramofone que no final do século XIX despertaram viva inquietação no escritor português. Perante a banalização da existência e a democratização da posteridade pela máquina fotográfica, muitíssimo acessível quando comparada ao dispendioso retrato pintado, o autor declarava que as palavras “morte, ausência já não têm que existir nos dicionários”. Sentia também Moraes, segundo Carlos Morais José, que se desprestigiava a existência, e se roubava, neste caso através do gramofone, o fluir normal do tempo. Através de tal invenção da técnica, tudo se passaria a resumir a simulações. “A Primavera será quando o homem quiser mas terá que se contentar com o seu simulacro”, escreveu Wenceslau de Moraes. O som, a imagem, e próprio tempo perdiam significado, e esvaziavam a existência de rituais importantes. Carlos Morais José lembrou a grande actualidade da mensagem de Moraes nos dias de hoje. O editor revelou que faltarão apenas três outros volumes, constituídos essencialmente por cartas, para que o projecto das “Obras Completas de Wenceslau de Moraes” se concretize plenamente. Um apelo foi ainda deixado por Carlos Morais José às autoriddes culturais portuguesas para que não esqueçam o espólio de publicações originais de Wenceslau de Moraes presente no antigo arquivo do jornal “O Comércio do Porto”, o mais antigo jornal português publicado em Portugal continental, adquirido recentemente, e de seguida encerrado, por uma empresa espanhola.

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Seminário/Conferências

Timor Em associação colaborante, ao abrigo do protocolo anteriormente assinado, o Fórum Luso-Asiático e o IIM organizaram a conferência/debate sobre – “Timor – Entre a Esperança e o Desespero”, em que foram oradores Arnaldo Gonçalves e Moisés Silva Fernandes. Foi explanada sistematicamente uma análise da situação geral em Timor, e aventados caminhos de superação ou solução, nas perspectivas diversas dos dois oradores. As exposições provocaram o mais vivo debate entre os presentes, confrontados com a defesa de alternativas que propugnavam a integração ou não de Timor como protectorado da Austrália.

Participação no Fórum Ásia-Europa para o Ambiente

Investigadores do IIM na Universidade Sun Yat-sen, Cantão

O Instituto Internacional de Macau participou na quinta mesa redonda do Fórum Ásia-Europa para o Ambiente, que decorreu na cidade de Shenzhen de 28 a 30 de Novembro, sob o lema “Achieving Urban Sustainability: Integrated Environmental Management” (Garantir a Sustentabilidde Urbana: Gestão Integrada do Ambiente).

O Dr. Sanjay Nadkarni, investigadorconvidado do Instituto Internacional de Macau, participou na conferência internacional intitulada “Heritage and Tourism: Community, Enterprise, Government and Tourists” realizada de 7 a 10 de Julho conjuntamente pela Universidade Sun Yat-sun, “Center for Tourism Planning and Research”, e pela Universidade de Northern Arizona.

Os Oradores Moisés Silva Fernandes é Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Lisboa, e recebeu a sua formação em estudos políticos da Universidade de Manitoba, Canadá. Como investigador associado sénior do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, os seus interesses de investigação abrangem temas como Relações Internacionais e Ciência Política, Timor-Leste nas relações lusoaustralo-indonésias contemporâneas, Macau nas relações luso-chinesa contemporâneas e a política externa portuguesa contemporânea. E actualmente director do Instituto Confúcio em Portugal. Arnaldo Gonçalves, Professor Convidado de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau, é presidente do Fórum Luso-Asiático desde a sua criação em 1997. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, é mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, onde é actualmente doutorando.

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Sob a organização conjunta da Fundação Ásia-Europa, Academia de Ciências Sociais de Pequim, Secretariado Sueco do Ambiente para a Ásia (“Swedish Environmental Secretariat for Asia”), e Conselho Municipal de Shenzhen, cerca de 40 profissionais, incluindo peritos da Agência Europeia para o Ambiente, Agência das Nações Unidas para o Ambiente e diversos representantes ministeriais das duas regiões, partilharam experiências, opiniões e estratégias para as próximas décadas. O Instituto Internacional de Macau fez-se representar por André Silveira, investigador-associado.

A iniciativa atraiu várias dezenas de especialistas internacionais e da região, com intervenções sobre temas como “Moving Heritage Forward: Identity, Engagement and Creativity”, do Professor Mike Robinson (Leeds Metropolitan University), “Studies on Tourism Commercialisation in Historic Towns” apresentado pelo Professor Bao Ji-gang (Sun Yat-sen University) e “Kai Ping Heritage Biding” por Mr. Li Riming (Geographical Society of China). Os participantes realizaram uma visita de estudo ao património mundial de Macau, testemunhando um insaciável crescimento da indústria do jogo. Por outro lado, no âmbito de um projecto de investigação dedicado à governação da água na China, o mestre André Silveira, investigador associado do IIM, colabora com o departamento de recursos hídricos e ambiente da Universidade Sun Yat-sen. Desde Outubro de 2007, o investigador desloca-se frequentemente àquela Universidade.


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Protocolos

PROTOCOLOS

O IIM assinou, desde a sua existência activa, cerca de quarenta protocolos de colaboração, com algumas das mais prestigiadas instituções do universo lusófono. Porque foi opção estratégica do IIM, desde o início, promover o espaço lusófono a “zona de esforço” da sua acção, considerando e perspectivando esse grande espaço em crescimento como grande “união” lusíada no Mundo global, e considerando ainda a pertença de Macau a esse espaço cultural e a prioridade de o reforçar com o alargamento e aprofundamento dos laços histórico-culturais.

IIM/ACLUS

Macau/Califórnia

Em plena jornada pro-lusófona (ver 1o ponto do sumário) foi assinado o protocolo entre o IIM e a Associação da Cultura Lusófona (ACLUS) no dia 16 de Março, através dos seus Presidentes, respectivamente Jorge Rangel e Fernando Cristóvão.

Com protocolos já assinados com as várias Casas de Macau na Califórnia e com a Universidade de Berkeley, ao abrigo dos quais se concretizaram várias acções nos últimos quatro anos, o IIM assinou mais um protocolo com uma novel instituição macaense da Califórnia, o “Macau Arts, Cultural and Heritage Institute”, liderado por Arthur Brito. Antes desta oficialização formal de relação entre as duas entidades, já haviam sido realizadas algumas iniciativas conjuntas, como o Seminário “Macau’s identity: crossroads, challenges and opportunities” (ver neste número “seminários”) e a itinerância de uma exposição fotográfica sobre o património construído de Macau, “Macau: universal heritage”).

O documento assinado prevê o estabelecimento de programas anuais de actividades, ligados à formação científica, divulgação cultural, edição de textos, pesquisa arquivística ou outra. Assim, as duas partes decidiram comprometer-se na elaboração de actividades conjuntas, que poderão assumir a forma de acções de divulgação cultural e do conhecimento científico sobre o mundo de língua portuguesa, através de cursos, conferências, exposições, concursos, visitas de estudo, pesquisa, etc. Em conformidade com os propósitos gerais subscritos, o IIM divulgará em Macau e junto dos seus parceiros institucionais no exterior as iniciativas da ACLUS, colaborando desde já também para ampliar os verbetes e entradas respeitantes a Macau no Dicionário da Lusofonia.

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O novo protocolo visa sensibilizar residentes dos EUA à história, artes, literatura e realizações da RAEM, em iniciativas que possam contribuir para o melhor conhecimento mútuo e para a aprofundamento de relações de amizade entre Macau e os EUA.

IIM/Berkeley Como ficou referido (Ver IIM/Berkeley) foi renovado o protocolo por mais três anos entre o IIM e a Universidade e Berkeley através do seu Programa de Estudos Portugueses. Prevê-se que o protocolo, que estimulou já a realização de várias iniciativas nos últimos três anos, constitua incentivo para novas realizações e intercâmbios no futuro próximo, esboçando-se a realização de um grande seminário sobre Fernão Mendes Pinto e a “Peregrinação” e a exposição de desenhos e ilustrações de Carlos Marreiros e Victor Marreiros, além do alargamento para áreas científicas mais vastas que englobam outro Departamento da U. Cal (Berkeley), da República Popular da China e da Europa.


Protocolos

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE LUÍS GONZAGA GOMES

Centenário de Luís Gonzaga Gomes No dia 26 de Julho, e durante a cerimónia evocativa e de abertura das comemorações do Centenário de Luís Gonzaga Gomes, várias instituições de Macau compareceram no acto, associando-se à convocatória do IIM para uma união de esforços em dignificação da memória do homenageado. Na presença de cerca de cem personalidades de referência da comunidade portuguesa, com destaque para o Consul-Geral de Portugal, Dr. Pedro Moitinho de Almeida, e do Bispo D. José Lai, procederam à assinatura do documento os representantes de 11 instituições macaenses:

José Cordeiro (APOMAC) Lourenço do Rosário (APIM) Miguel Senna Fernandes (ADM) Maria Edith Silva (EPM) Joey Ho (CAC) Felipe de Senna Fernandes Amélia António Sónia Palmer André Silveira António Dias Azedo Luís Sá Cunha

Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau Associação Promotora da Instrução dos Macaneses Associação dos Macaenses Escola Portuguesa de Macau Círculo dos Amigos da Cultura Rotary Clube Casa de Portugal (Dôci Papiaçam) (Elos Clube de Macau) (Clube de Macau) (Instituto Internacional de Macau)

Outras instituições convidadas não puderam estar presentes mas algumas, como a Escola Luso-Chinesa Luís Gonzaga Gomes, traçaram um vasto programa de evocação dirigido aos seus membros. As instituições co-assinantes comprometeram-se a colaborar para ornar o centenário com a dignidade e com o relevo merecidos, participando nas iniciativas comuns e tomando iniciativas próprias, apoiando edições, divulgando a figura de Luís Gonzaga Gomes e o seu exemplo junto das novas gerações.

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Exposições

EXPOSIÇÕES Duas exposições continuam a sua itinerância: “Macau – uma flor de lótus na Lusofonia” (exposição de fotografias da Associação Fotográfica de Macau, há três anos a percorrer sessenta cidades do Brasil). “Macau – Património Mundial” (ampliação de fotografias do Instituto Cultural – Departamento do Património Cultural, que vai sendo exposta em diversos pontos dos EUA e Canadá). Comparticipando nos actos comemorativos do “Centenário do Nascimento de Agostinho da Silva”, o IIM e o Elos Clube de Macau associaram-se para organizar mais uma mostra do discurso expositivo de vida e obra do Mestre, organizada pela Associação Agostinho da Silva. A entidade acolhedora foi a Escola Portuguesa de Macau (EPM), em cujo átrio estiveram expostos os “posters” para os alunos. Foi inaugurada no dia em que Fernando Cristóvão falou de Agostinho da Silva ante o anfiteatro da Escola cheio de alunos. O Elos anunciou a atribuição de um Prémio para o melhor texto apresentado sobre a figura de Agostinho da Silva.

Yu Jian, em Espanha Yu Jian é um dos mais altos expoentes da actual poesia Chinesa, também artista e realizador de cinema, uma das vozes convocadas ao “1o Encontro de Poetas Lusófonos e Chineses” realizado em Macau pelo IIM, com a colaboração da Fundação Jorge Álvares e do Centro Nacional de Cultura. Uma das alíneas do programa foi a exposição fotográfica que reuniu fotos de Yu Jian e Yao Jingming. Agora, o IIM apoiou a exibição em Espanha do contributo alargado de Yu Jian, que foi exposto na cidade de Pontevedra, em Junho.

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Exposições

Conceição Júnior, de prata Com a exposição “Macrocosmos”, António Conceição Júnior encerrou um “ciclo de 25 anos”, iniciado em 1982 com a sua exposição “Enquadramentos”, dois extremos que enquadram um quarto de século dedicado às artes onde ACJúnior se reafirmou e distinguiu como uma das mais marcantes intervenções e original linguagem no panorama artístico de Macau. Sempre ao lado dos autores e obras que valorizam Macau e a sua identidade, o IIM apoiou como “sponsor” mais esta intervenção de ACJúnior, como tem feito no passado. A iniciativa, organizada pela Casa de Portugal, corresponde à missão da associação, que é a de “dar visibilidade à capacidade de criação e de realização dos membros da nossa comunidade, agentes identitários e enriquecedores dessa realidade complexa que é Macau”, disse a presidente da instituição, Amélia António. “Artista multifacetado, intelectual criativo e insatisfeito, humanista em permanente busca do seu próprio aperfeiçoamento, homem e cidadão sensível e atento, António Conceição Júnior tem dedicado toda a sua vida à acção cultural, contribuindo de forma permanente para a preservação e desenvolvimento da identidade de Macau”, escreve Maria Amélia António na nota de abertura do album de fotografia. A obra de António Conceição Júnior apresentada na galeria do Clube Militar é, para António Andrade, uma “selecção dos sinais deixados pela não invisível desse discreto pintor virtuoso, a que podemos chamar acção do tempo comandada pelas leis da Física e da Química, mediados pelo olhar solidário e fascinado de um outro Pintor que foi no seu encalço, os fotografou e os expõe num registo que parece querer-nos dizer o quanto ele próprio gostaria de ter sido seu autor original – que afinal de facto é, visto que para nós só existe o que é revelado”.

Novo património do IIM Em gesto de reconhecimento, António Conceição Júnior fez a gentil oferta ao IIM de seis ampliações fotográficas encaixilhadas da sua autoria, que vêm enriquecer o nosso património artístico e serão em breve expostas nas nossas instalações. Trata-se de uma série de enfoques contextualizados por ACJúnior nas comoventes geometrias escritas pelas “calçadas à portuguesa”, que hoje começam a ser omnipresentes em Macau. ORIENTEOCIDENTE 29


Relações Institucionais

RELAÇÕES INSTITUCIONAIS ATFPM Seguiu-se idêntico encontro entre o IIM e a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, que para o efeito convocou uma larga representação de elementos.

IIM/Gabinete de Ligação da RPC

em Lisboa

Na sequência de anteriores relações, o IIM colaborou com o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM na organização de uma visita que os seus membros realizaram a Portugal em meados de Setembro. A representação do Gabinete de Ligação, liderada pelo Vice-Director Xu Zhe e composta por 6 elementos, do Gabinete em Macau e do Gabinete em Pequim, foi uma visita de observação para se inteirar mais profundamente dos aspectos das relações entre Portugal e China/Macau e do funcionamento de certas áreas na Europa do Sul. Por isso, deslocouse também a França e a Itália. O IIM, concretamente, foi agente da organização do encontro entre esta embaixada chinesa e uma representação dos corpos dirigentes da Universidade de Coimbra e da Câmara Municipal de Coimbra. Já em Lisboa, a delegação governamental chinesa teve recepção nas instalações do Instituto Internacional de Macau, localizadas no Palácio de Independência (sede da SHIP, Sociedade Histórica de Independência de Portugal) para troca de informações nas áreas académica e cultural. Para tanto, o IIM convidou uma série de personalidades das áreas universitária, jurídica, diplomática e cultural, na maioria com anteriores relações com Macau, tendo o Presidente do IIM feito uma exposição sobre o actual estado da cooperação naquelas áreas entre Portugal e a China/Macau, identificando novos desafios e oportunidades a enfrentar e a aprofundar. Depois da troca de impressões entre os presentes, foi oferecido um jantar aos membros da delegação, com a presença do fado de Lisboa e de Coimbra.

IIM/Gabinete de Ligação em Macau

Instituições macaenses – ADM

No dia 26 de Novembro, foi a vez de uma visita do Gabinete de Ligação ao IIM, agora em Macau, em gesto de cortesia e aprofundamento das boas relações.

Representações do IIM fizeram visitas de cortesia e troca de informações e impressões a algumas instituições macaenses, na continuidade de uma prática que se iniciara em anos anteriores.

O Vice-Director Xu Zhe, acompanhado de dois quadros superiores, foi recebido pelo Presidente e alguns membros dos corpos sociais e sócios do IIM, tendo visitado a sede e ouvido o Presidente sobre os objectivos e as actividades mais relevantes desenvolvidas pelo IIM, com troca de impressões sobre o actual momento da RAEM. E repetiu-se um cerimonial, uma vez que um anterior encontro se dera também nas imediações do Natal: partilha de bolo-rei com vinho do Porto, em clima de simpatia e boa disposição. ORIENTEOCIDENTE 30

Uma das visitas foi à ADM (Associação dos Macaenses) que recebeu a representação do IIM na sua sede para o que reuniu vários elementos dos corpos sociais, liderados pelo Presidente Miguel de Senna Fernandes. Entre a representação da ADM e a do IIM, encabeçada por Jorge A.H. Rangel, houve troca de impressões sobre as actividades respectivas, acompanhadas de um opíparo serviço de iguarias macaenses em que a ADM é distinta.

Houve troca de informações sobre as actividades das duas instituições e de impressões sobre o estado actual da RAEM, tendo falado o Presidente Jorge Rangel e o Presidente da ATFPM, Deputado José Pereira Coutinho, que, na Assembleia e em permanentes gestos de reivindicação social tem sido uma das figuras mais dinâmicas na vida política da RAEM. Jorge Rangel, no final, entregou um pacote de edições escolhidas do IIM, para integração na Biblioteca da ATFPM.

Com a CPLP Em representação do IIM, e a convite da Direcção, o Vice-Presidente José Amaral esteve presente em cerimónia de lançamento editorial, uma das iniciativas integradas no X Aniversário da Constituição da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O acto teve lugar no dia 25 de Julho, no Palácio Foz em Lisboa, e a edição, titulada “Pensar, Comunicar, Actuar em Língua Portuguesa” vai ficar como uma das realizações de referência na vida institucional da Comunidade, pelos registos capitulares que integra: Cultura na CPLP, Negócios e Desenvolvimento, Observadores, Futuro (certeza e incerteza) e CPLP e a Lusofonia. Felicitações, mas todos queremos que se ande mais depressa e mais fundo, caminho da grande união lusófona a projectar-se no Mundo a haver.


Relações Institucionais

Visita do Director-Executivo da Fundação Ásia-Europa ao IIM A direcção do Instituto Internacional de Macau recebeu na sede do IIM o DirectorExecutivo da Fundação Ásia-Europa, Bertrand Fort. A Fundação promove, desde 1997, a cooperação cultural e académica entre os países da Ásia Oriental e Sudeste Asiático e os países da União Europeia. O IIM e a ASEF reforçarão a cooperação existente de modo a realizar conjuntamente projectos de natureza académica e cultural, com o objectivo de aproximar instituições de Macau, da China continental e de países da União Europeia.

Centenário do Real Gabinete O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro impõe-se à nossa sensibilidade de “portugueses à solta” como a mais carismática instituição da diáspora lusa no mundo. Foi a primeira implantação portuguesa em terras do grande Brasil posterior à sua declaração de independência, é um museu da História, da Cultura e da Língua. É, assim, uma da mais antigas instituições culturais do Brasil. Não há ninguém que, ao entrar na Sala da Biblioteca, não estaque ao assombro daquela catedral de livros a escalar os céus. O IIM honra-se do protocolo que tem com o Real Gabinete Português de Leitura, e algumas acções concretizámos juntos. No dia 14 de Maio de 2007, o Real Gabinete comemorou 170 anos de existência, decidindo assinalar o facto com um programa comemorativo. Os elementos da Direcção do IIM, Jorge Rangel, José Amaral e Luís Sá Cunha foram convidados para membros da “Comissão de Honra” das comemorações. O RG editou um número especial da sua revista “Convergência Lusíada”, dedicado integralmente a Agostinho da Silva, e também nós nos honrámos com o contributo que nos foi solicitado. Luís Sá Cunha participou com um depoimento escrito, e a capa da revista reproduziu o “poster” do Elos Clube de Macau “Agostinho da Silva, Poeta à solta”. Congratulamo-nos com o “Prémio Cultura e Ciência” que a Fundação Luso-Brasileira decidiu muito justamente atribuir ao Real Gabinete, pela sua contribuição para a aproximação cultural entre Portugal e o Brasil, no 170o aniversário. Estaremos sempre com o Real Gabinete, e com outra “instituição” da presença lusíada no Mundo – o seu Presidente António Gomes da Costa.

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Diáspora

DIÁSPORA IIM no III Encontro das Comunidades Através sobretudo do contributo de elementos da sua Direcção, o IIM participou activamente em várias iniciativas do III Encontro das Comunidades realizado em finais de Novembro. Jorge Rangel (Presidente) e Rufino Ramos (Tesoureiro) participaram nos debates preparatórios das eleições para o Conselho Geral e Permanente do Conselho das Comunidades Macaenses, sendo o Secretário da Direcção, Luís Sá Cunha, vogal do Conselho Permanente. Além da organização da grande sessão de apresentação de trabalhos editoriais, e da respectiva execução de cinco livros, que representam contributos importantes para a história, memória e identidade de Macau, o IIM esteve presente e interveniente no momento inaugural do Encontro e noutros momentos, como o programa do Dia dedicado à Juventude através do Dr. André Silveira. Jorge Rangel foi eleito para o cargo de presidente do Conselho Consultivo do Conselho das Comunidades Macaenses. Na abertura do Encontro que decorreu nas instalações da Escola Portuguesa de Macau, o Presidente Jorge Rangel entregou os símbolos (diploma e placa de cristal) do Prémio Identidade 2007 à APIM (Associação Promotora da Instrução dos Macaenses) ali representada pelo seu Presidente José Manuel Rodrigues. Jorge Rangel explicou às centenas de presentes, onde se destacavam o representante do Presidente da República de Portugal, Dr. João Bosco Mota Amaral e o Cônsul de Portugal, Dr. Pedro Moitinho de Almeida, o espírito e objectivo do Prémio Identidade do IIM, tão justamente atribuído à APIM pelo seu historial ao serviço da instrução de sucessivas gerações de macaenses e pela sua notável acção no recente estreitamento de relações entre as parcelas da diáspora e na exaltação dos valores comuns. Também o IIM participou, através de vários dos seus elementos, na Confraria da Gastronomia Macaense: na sua constituição e actos públicos, na digressão a Portugal e no concurso para a escolha do logotipo, tendo estado presente nos actos solenes da sua primeira apresentação pública, no Teato D. Pedro V, numa das mais vivas e afectivas cerimónias de todo o III Encontro. Ao abrigo dos protocolos que tem assinados com todas as Casas de Macau, o IIM continuou a manter contactos regulares com as casas e personalidades da diáspora, alimentando as relações com troca de informações e envio de publicações.

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Diáspora

24 de Junho, de novo Sem dúvida, todo o corpo da diáspora se agitou nos últimos anos, denunciando mais nervo nas muitas iniciativas que surgem em reafirmação da vontade de identidade e da sua pervivência no futuro.

Concurso de quadras populares

Porque se tinham abandonado as históricas comemorações de 24 de Junho, dantes o Dia da Cidade?

Uma das principais iniciativas do IIM foi o Concurso de Quadras Populares, incentivando todos os participantes no Arraial a partilhar os seus dotes poéticos. As três melhores quadras foram premiadas com um livro de poesia de Camilo Pessanha, edição do IIM, e prémios monetários de 500, para o primeiro classificado, e 250 patacas, para os restantes premiados.

Miguel de Senna Fernandes – sensível, entusiástico e dinâmico protagonista em iniciativas de culto dos valores da identidade e da herança cultural – depois da notável dedicação ao “patuá” e do restauro dos tradicionais “carnavais”, tocou o clarim: retomar a tradição do Dia de S. João Baptista. Em correspondência do apelo, acorreram várias instituições e colaborações, com elas o IIM e o Elos Clube. No seguimento do protocolo firmado aquando do 10o aniversário da Associação dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Casa de Portugal, a APOMAC, a APIM e a ADM organizaram em conjunto o Arraial de São João, retomando as celebrações do dia 24 de Junho, dia da Cidade de Macau. Uma cerimónia religiosa presidida por D. José Lai, Bispo de Macau, deu início ao Arraial, que contou com actuações da Banda da Polícia de

Segurança Pública e da Tuna Macaense, e desfile de marchas populares. Música e petiscos estiveram sempre presentes ao longo dos dois dias de Festa, dias 23 e 24 de Junho.

Quadras Vencedoras

As entidades organizadoras promoveram ainda um grande sorteio, distribuindo 30 prémios, incluíndo prémios monetários e estadias em hotéis de luxo, espalhando expectativa e entusiasmo.

Meu prendado São João Do Bolhão e do Lilau Do alho porro e balichão Santo do Porto de Macau

O IIM, em colaboração com o “Elos Clube de Macau”, foi responsável por dois pavilhões onde se venderam livros, “posters”, postais do Instituto e do Elos Clube, fazendo alusão à cultura e identidade de Macau, e à dimensão lusófona do Território.

Segunda Classificada

Um dos pavilhões albergou ainda um ecrã onde se visionaram continuamente versões de filmes tradicionais portugueses como “O Pátio das Cantigas” e “A Menina da Rádio”, com a autorização especial da editora Tobis Portuguesa.

Terceira Classificada

Primeira Classificada

Agradeço ao São João Por me dar esta flôr, Pois é um lindo botão Para dar ao meu amor.

Meu São João, pequenino, Sabes o que temos por perto? Jamais soubeste por certo! Pois nada mais do que um casino.

Donativo da Comissão Organizadora da Festa do dia 24 de Junho A Comissão Organizadora da Festa de 24 de Junho, dia de São João e da cidade de Macau, decidiu doar as receitas decorrentes da iniciativa a instituições de caridade baseadas em Macau. Assim, no passado dia 20 de Setembro, os representantes do Instituto Internacional de Macau, Associação dos Macaenses, APOMAC, Casa de Portugal, Escola Portuguesa de Macau e APIM, entregaram ao Centro de S. Lúcia (centro de deficientes femininos). Lar de S. Luís de Gonzaga e Centro de St. Margarida, um cheque com o valor aproximado de 15.000 patacas para cada entidade. Cremos que o gesto se deve transformar em tradição em futuras edições da Festa. ORIENTEOCIDENTE 33


Vida Institucional

VIDA INSTITUCIONAL

Prémio Identidade 2007 Para a APIM

Prémio Jovem Investigador

Cumprindo a periodicidade anual da sua atribuição, o “Prémio Identidade” do Instituto Internacional de Macau relativo do ano de 2007 foi oficialmente entregue, no dia 25 de Novembro, à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM). A cerimónia pública decorreu durante a sessão de recepção aos elementos participantes no III Encontro das Comunidades Macaenses nas instalações da Escola Portuguesa de Macau (ver referência em “Diáspora”). O galardão foi entregue pelo Presidente do IIM, Jorge Rangel, ao Presidente da APIM, José Manuel Rodrigues.

O IIM havia criado, e tinha já atribuído em anteriores anos, o “Prémio Jovem Investigador”, com o objectivo de incentivar em estudantes, jovens professores e investigadores o gosto pela investigação científica. Para a constituição dos júris e acompanhamento dos trabalhos, o IIM tem tido a colaboração da reitoria da Universidade de Macau e dos presidentes de estabelecimentos de ensino superior de Macau (oficiais e privados) bem com dos respectivos corpos docentes.

O Prémio Identidade, que o IIM decidiu criar para distinguir pessoas ou instituições relevantes pelo seu serviço ao culto da identidade de Macau, já foi atribuído em anos anteriores ao Pe. Manuel Teixeira, ao Prof. Eng. Luís de Guimarões Lobato, ao escritor Henrique de Senna Fernandes, ao comendador Arnaldo de Oliveira Sales e à Universidade de Macau, por ocasião do seu 25o aniversário. Atribuído por decisão universal dos elementos dos corpos sociais do IIM, o “Prémio Identidade” foi concedido à APIM pelo seu labor em prol da instrução de sucessivas gerações macaenses e pela sua dedicação aos valores basilares da identidade de Macau, bem como pela sua acção junto das organizações da diáspora macaense, mantendo-as mais solidamente ligadas a Macau.

Mas, a realidade de Macau vem conhecendo profundas e aceleradas transformações, e vêm mudado os horizontes, as prioridades, as perspectivas. Com esta análise decidiu a Direcção flexibilizar as regras do Prémio, iniciando em 2007 uma nova fase. Assim, foi decidido incluir, para além da área científica strictu sensu, mais áreas: Economia e Gestão; e Património, Cultura e Identidade. Um prémio monetário de 25.000.00 MOP está atribuído ao trabalho vencedor em cada uma destas áreas. Podiam concorrer ao PRÉMIO JOVEM INVESTIGADOR 2007 todos os alunos, professores ou investigadores das instituições de ensino superior de Macau com idade até 35 anos completada até 31 de Dezembro de 2007. As candidaturas deviam ser apresentadas na sede do Instituto Internacional de Macau até ao dia 30 de Dezembro de 2007. Baseada nas mesmas razões de fundo que aconselharam pragmaticamente as alterações no alargamento das áreas a contemplar – as rapidíssimas mudanças estruturais no campo socio-cultural de Macau – a Direcção deixou em prevenção a inclusão, durante 2008, de duas novas áreas, a “jurídica” e a da “criatividade”.

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Vida Institucional

Nossas instalações O IIM procurou também durante o ano explorar os espaços das nossas instalações, como forma de serviço comunitário, e também como realização de pequenas receitas.

Corpos de Investigadores

Universidade de Macau

Ideia in mente, há muito dentro do IIM, resolveu a Direcção preparar para 2008 a constituição e oficialização de dois corpos de investigadores – exigência lógica de qualificar os inúmeros membros e colaboradores do IIM, tantos distintos investigadores e autores em várias áreas.

É um reconhecimento da maturidade da Universidade de Macau – o apoio concedido pela União Europeia para a criação de uma “cátedra Jean Monet” na UM, distinção que só tem estado ao alcance de raros estabelecimentos de ensino universitário no Mundo.

Será um dos corpos constituído por investigadores associados, que integrará sócios do IIM, e o outro por investigadores convidados, personalidades ligadas a instituições académicas, científicas e culturais que, no âmbito ou não de formalização protocolar, têm colaborado com o IIM.

Parabéns à UM, com felicitações especiais ao Vice-Reitor Prof. Rui Martins, sócio fundador do IIM, e que tanto pugnou por ela.

Entre outros objectivos possíveis, visa-se substanciar a nossa estrutura institucional, incentivar relações e trocas de informações, estimular as potencialidades de conjugar planos de investigação etc.

O IIM tem sido procurado por entidades privadas para uso das nossa salas, por duas razões: são espaços apetrechados, e bem localizados, os preços praticados são agora bastante mais baratos, dada a inflação galopante em Macau e os altos preços praticados por hotéis. Durante o ano utilizaram as nossas instalações: U2, Hearts on Fire, CJR Education, RICS – Royal Institute of Chartered Surveyors, e Associação de Intercâmbio entre Jovens de Macau, Jiang Xi e Taiwan.

Abrem-se perspectivas mais optimistas no reforço da presença europeia em Macau, em que o projecto “União Europeia – 50 anos” pode significar um sintoma do maior empenho da estratégia europeia em Macau.

Estão previstas várias áreas: 1 Cultura e Identidade de Macau 2 Literaturas e Cultura Lusófona 3 Património e Turismo 4 Economia e Ambiente 5 Administração Pública e Ciências Jurídicas 6 História e Relações Internacionais 7 Artes e Indústrias criativas Está também prevista, para momento posterior, a constituição de um Conselho de Investigação Académica. ORIENTEOCIDENTE 35


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Os nossos sócios

OS NOSSOS SÓCIOS Rui Martins Fellow do IEEE em Macau

Carlos Marreiros, avanti!

Associação de Comandos

Carlos Alberto dos Santos e Santos Marreiros, e... “Santos” de fora fazem milagres... Porque a consagração da obra arquitectónica (e não só) de Carlos Marreiros deu-se agora, em Novembro, em Itália, consumada na edição de um livro que lhe é dedicado – “Marreiros, Un architetto fra due cultura” – nos 25 anos da sua carreira de arquitecto.

O Vice-presidente do IIM e nosso delegado em Lisboa, José Ângelo Lobo do Amaral, foi reeleito presidente da Associação de Comandos, organismo associativo que congrega milhares de “Comandos” no activo e na disponibilidade, força de elite do Exército Português que teve uma actuação relevante nos três teatros de operações da Guerra do Ultramar e na reposição da ordem e da normalidade política em Portugal em 25 de Novembro de 1974, integrando, hoje, Missões de Paz no estrangeiro.

De autoria de Marco Imperadori e Giuliana Iannaccone, que fizeram a apresentação, o livro foi lançado em acto público organizado pela Ordem dos Arquitectos da Província de Milão, também com intervenções de Guiseppe Biondo (Director da revista “Modulo” e editor de volume, e do Professor Euríleo Pizzi que sublinhou o cacrácter bicultural oriente/ocidente presente na obra e na estruturação cultural do Arquitecto macaense, apresentado também como artista, desenhador, escultor, pintor, académico e professor. Auguri, architetto!

Fátima dos Santos Ferreira, em alta: mesmo agora distinguida pelo Chefe do Executivo com a “Medalha do Mérito Altruístico”. Um justo reconhecimento de uma longa carreira e veemente dedicação a tantas obras de cariz social, em tantos anos de serviço às gentes de Macau.

Este ano há 295 novos Fellows em todo o mundo e o Prof. Rui Martins tornou-se o primeiro IEEE Fellow de Macau, reconhecido pela sua liderança no ensino da engenharia.

José Amaral é também membro da Direcção Central da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

Jorge Rangel e a SHIP Jorge A.H. Rangel, presidente do IIM, acaba de ser reeleito, para o triénio 2008-2010, presidente da Direcção Central da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, que tem sede no Palácio da Independência, em Lisboa. A SHIP e o IIM firmaram um protocolo de cooperação, visando a realização de iniciativas conjuntas e que permite ao IIM a utilização do Palácio da Independência para as suas actividades.

Fátima, medalhada

O Prof. Rui Martins, Vice-Reitor para a área de investigação da Universidade de Macau (UM), foi elevado em 1 de Janeiro de 2008 a IEEE Fellow. O IEEE cuja sigla significa Institute of Electrical and Electronics Engineers foi criado originalmente em 1884, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e é mundialmente reconhecido como a maior sociedade profissional nas áreas de investigação científica e ensino superior, com mais de 370.000 membros em mais de 160 países, organizados em 319 secções de 10 regiões geográficas.

No âmbito das suas actividades académicas, Jorge Rangel, que já estava envolvido no Curso (de pós-graduação) de China Moderna, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa), passa a integrar também o corpo docente do Mestrado em Estudos Chineses (Curso de China Moderna e Contemporânea), da Universidade de Aveiro, que voltou a funcionar após uma interrupção de alguns anos.

Victor Hugo Marreiros premiado em Itália Os selos e o bloco filatélico da emissão “Companhia de Jesus”, da autoria do reconhecido artista local Victor Hugo Marreiros e emitidos pelos Correios de Macau a 30 de Novembro de 2006, obtiveram recentemente o título mais prestigiante no Prémio Internacional de Arte Filatélica S. Gabriel da Itália que contemplou o Melhor Tema Religioso. Victor Marreiros já fora distinguido no 20o Prémio Internacional da Arte Filatélica Asiago, pelo design da emissão “Jogos e Diversões de Macau – Jogos Tradicionais”, emitida a 31 de Junho de 1989. ORIENTEOCIDENTE 37


Para Sempre

PARA SEMPRE Jorge Egmont Hagedorn Rangel “A Jorge Egmont Hagedorn Rangel, meu pai, falecido no dia 15 de Abril de 2007”

“Foi um dedicado marido, pai exemplar, cidadão cumpridor das suas obrigações cívicas e um excelente amigo e companheiro em todos os momentos da vida. Acima de tudo, era um homem tranquilo e foi placidamente que nos deixou num domingo de Abril, com 89 primaveras acabadas de completar. Jorge Egmont Hagedorn Rangel nasceu em Xangai no dia 4 de Dezembro de 1917, na época de ouro daquela pujante cidade internacional na China, onde gentes de muitas origens convergiram, promovendo o seu vertiginoso e sólido desenvolvimento. O pai, António Maria Óscar Rangel, era português e a mãe, Marianne von Hartwig Hagedorn, alemã.

Ali passou os verdes anos da infância e da juventude, mas foi em Macau, terra dos avós paternos, onde a família, oriunda de Portugal, está radicada há dez gerações, que fez o serviço militar, casou e viu nascer os seus filhos, sendo testemunha atenta e serena das notáveis transformações verificadas nesta nossa querida cidade ao longo de muitas décadas, desde os anos que antecederam os tempos dificílimos da Guerra do Pacífico até aos nossos dias. Levou com ele as memórias das suas vivências e observações dos grandes acontecimentos e das mais significativas efemérides da história contemporânea de Macau. Ficaram, porém, alguns testemunhos recolhidos que poderão ser oportunamente divulgados.

Parafraseando um conhecido escritor, muito citado nestas ocasiões, podemos dizer que a morte de um homem, de qualquer homem, representa sempre uma perda para a humanidade. Não precisamos, porém, de ir tão longe. Basta-nos saber que aqueles que deixaram algo de si nos corações dos outros, serão por eles lembrados, porque continuarão a ter um lugar nesses corações. É, certamente, o caso deste homem que, em todas as circunstâncias, quis e soube ser um homem simples, igual aos homens modestos e humildes que conheceu, sempre longe das luzes de qualquer ribalta. Por isso, teve amigos de todas as idades, origens e condições sociais. Assim será recordado por quantos com ele privaram. (...) Jorge A. H. Rangel (Excerto da crónica semanal, publicada no Jornal Tribuna de Macau, 30/4/07)

José Silveira Machado Tinha 89 anos (nascido a 24 de Outubro de 1918) e chegou a Macau em 1933, onde passou, quase sempre, toda a sua vida, um percurso de dedicação e amor à terra, vivido com as virtudes da alegria, da amizade, da dádiva – Amigo e referência para todos, deixou um vazio. Tinha dito em recente entrevista: “Toda a minha vida no Oriente sempre teve dois objectivos principais em que o primeiro foi prestigiar Portugal no Oriente”. Também confessara que “tinha medo da americanização de Macau”.

paisagem habitual: não passa frente ao cenário, ele é também o cenário.

Luís Sá Cunha apresentou a sua última obra “O outro lado da vida” e prefaciara-a em premonição íntima de despedida. Era dia do seu 85o aniversário:

De formação cristã, o José Silveira Machado habita a “cidade cristã”, como se hospeda no “bazar”. Na sua vida, ele fez a síntese de dois universos e de duas vivências, das duas metades de Macau.

“O José Silveira Machado não é apenas uma grande memória de Macau. A sua funda vivência na cidade, durante tempos lentos que propiciam as géneses e as sínteses interiores, resultou nele operação de inclusão, de mimésis. Há qualquer coisa da Macau antiga que foi sendo nele incorporada; ele entranha-se na ORIENTEOCIDENTE 38

Assim o conservo sempre no meu imaginário, (eu virtual realizador do meu filme de Macau), a registar a sua passagem em “travelling” pelos cenários patrimoniais, o seu perfil sempre mimetizado aos fundos: a Igreja de S. Domingos, a fachada da Misericórdia, a Pharmacia Popular, os CTT, o “Vaquinha”... Mas onde o eternizo é a descer a inteira Almeida Ribeiro, o seu recorte, lá ao fundo, a esvair-se sob as arcadas...

...Vê-lo-ei sempre a desfilar entre a Almeida Ribeiro e a Rua de Felicidade, na aresta cúmplice da intensidade da vida não adiada. Em Macau, setenta anos de vida fruída e solar. Parabéns, José. Luís Sá Cunha


Para Sempre

Professor Almeida Garrett Foi o grande executor da estratégia do então Secretário Adjunto Jorge Rangel para a transição de poderes em Macau: além da localização das leis, a preparação de quadros competentes na área jurídica e administrativa para a transmissão de uma Administração de qualidade à RAEM. Para tanto urgia a arquitectação de uma qualificada Faculdade de Direito dentro da Universidade de Macau. Para sempre, o Professor Almeida Garrett ficará associado a esse projecto vitorioso e ancorado à nossa memória.

motorista-estafeta – com o trabalho que, esforçadamente, humildemente, fizera à noite, no seu quarto de hotel: os planos do Curso, a sua Organização Científica e Pedagógica, os objectivos das Cadeiras, os nomes dos Assistentes que haveriam de regê-las, os horários, as provas e os júris de admissão dos estudantes, o regulamento do Conselho Científico e tudo o mais (que era imenso!). Tudo em folhas ou pedaços de folhas pautadas, como só ele usava, com a sua letra deitada, escrita a tinta preta, às vezes só decifrável pelo sentido.

(...) “A portaria da criação das Faculdade da Universidade de Macau saíu daí a poucos dias. Lá estava (mais do que um “forcing”, teve de ser um “forceps”) lá estava a Faculdade de Direito, com o seu Director e o seu Subdirector, a par das outras todas.

E foi assim, quase sem ninguém dar por isso, que, dia-a-dia, mês-a-mês construiu as bases e a estrutura das nossa Faculdade. Com competência e com dedicação, sem dúvida. Mas, sobretudo, com a consciência de que se tratava de uma missão e não de um cargo. E com amor.

O Doutor Garrett veio imediatamente para Macau. E todas as manhãs, bem cedo passou a aparecer-me no pequeno GAES que era então – eu, uma secretária e um

O Prof. Almeida Garrett conhecia como poucos o tumultuoso nascimento do Curso e a confusão em que ainda estava mergulhado. E conhecia, também, a

desconfiança (eu diria, o desdém) com que a Universidade olhava “de cima” aquele “intruso” que não constava dos saxónicos “Colleges” da pequena Universidade particular (de e para Hong Kong) que ali estava antes. Não sabiam o Reitor, o Senado e outras autoridades académicas com quem se iam meter... Mas se conhecia bem tudo isto, Garrett sabia melhor algo de muito mais determinante e de mais inadiável: Sem uma Faculdade de Direito a funcionar bem e imediatamente, não seria possível formar, em Macau e para Macau, em pouco mais de meia dúzia de anos, as dezenas de juristas indispensáveis para se cumprirem dois dos mais graves compromissos assumidos por Portugal e pela República Popular da China na Declaração Conjunta: a localização das leis e a criação das condições que assegurassem a permanência, para além da Transição, do Ordenamento jurídico do Território. (...) ( Crónica de Luís Oliveira Dias, no “Jornal Tribuna de Macau” )

Aparecido de Oliveira Uma perda para a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), para a Língua Portuguesa, para a Lusofonia. Exembaixador do Brasil em Portugal, fora ele o grande impulsionador da constituição da CPLP, visando mais largo e mais alto: Secretário de Jânio Quadros (1962) privara com Agostinho da Silva, então conselheiro do Presidente do Brasil para as relações internacionais (cuja visão estratégica influenciaria o Brasil a olhar para a África e o Oriente) que o sensibilizara à arquitectação da Comunidade. Lembrá-lo é continuar a construir a União Lusófona. Por tudo, é património simbólico da nossa casa. ORIENTEOCIDENTE 39


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