Guia Prático de urologia

Page 87

normal mede aproximadamente 20 g e tem formato variável. A presença de lobo mediano associa obstrução mecânica e indicação cirúrgica, mesmo na ausência de aumento global da glândula. Fornece ainda dados sobre a morfologia da parede vesical permitindo avaliar as alterações crônicas decorrentes de micções realizadas sob alta pressão por longos períodos, necessitando de grande esforço da musculatura vesical para eliminar a urina. Este conjunto de alterações é conhecido como “bexiga de esforço”. As alterações vesicais iniciam-se com o espessamento de sua musculatura. Com o tempo, trabeculações e divertículos podem se formar, decorrentes de pequenas herniações de mucosa por entre as fibras espessadas. A medida de resíduo pós-miccional é facilmente obtida por este exame e se constitui em mais um dado que deve ser utilizado para a escolha do tratamento desses pacientes. A fluxometria é exame importante na avaliação de pacientes com prostatismo. Por meio de um fluxômetro obtém-se uma curva do volume urinado. Esta, para ser valorizada, deve ser resultante de micção com volume igual ou maior que 150 ml. A curva normal tem forma de sino e se torna achatada e alongada conforme se instala a obstrução. A medida do fluxo máximo tem correlação importante com a presença de obstrução por HPB. Admite-se como valor mínimo normal o de 15 ml/s em homens. Em pacientes bastante sintomáticos sem obstrução anatômica evidente ou em casos de presença de outras doenças que possam interferir na contratilidade ou inervação da musculatura vesical, tem-se utilizado cada vez mais o exame urodinâmico com estudo da correlação fluxo/pressão para o diagnóstico de obstrução infravesical. Por meio deste exame, temse idéia precisa do esforço realizado pela musculatura detrusora durante o esvaziamento da bexiga. A comparação dos valores obtidos com curvas de padrão normal (nomogramas) é de grande auxílio na identificação de pacientes obstruídos.

Tratamento O tratamento da HPB é indicado em pacientes sintomáticos cujo prostatismo tenha impacto sobre a qualidade de vida. Uma vez que se trata de doença benigna sem qualquer correlação com o adenocarcinoma de próstata, a indicação de tratamento deve ser tomada por decisão conjunta envolvendo o médico e o paciente, visando unicamente ao bem-estar do mesmo e o alívio dos sintomas causados pela obstrução ao fluxo urinário.

Tratamento medicamentoso Estima-se que 80% dos pacientes portadores de HPB prefiram tratamento medicamentoso à cirurgia. Atualmente estão disponíveis diversas drogas para o tratamento clínico de sintomas de prostatismo. Estas drogas podem ser divididas didaticamente em três principais grandes grupos: agentes fitoterápicos, hormonioterapia ou alfabloqueadores. Desde tempos remotos, a fitoterapia tem sido usada no tratamento de pacientes com prostatismo. Os primeiros relatos de uso de extratos de plantas para tratar de pacientes com sintomas de obstrução infravesical datam do século 15 antes de Cristo, documentados em papiros egípcios. Ainda hoje, são

drogas bastante utilizadas, principalmente em países europeus. Na Itália, por exemplo, em levantamento feito por Di Silverio em 1993, os agentes fitoterápicos corresponderam a mais de 40% de todas as drogas prescritas para HPB. Hoje se conhecem diversos mecanismos de ação de agentes f itoterápicos. Sugere-se que a maior parte desses efeitos está relacionada à ação de componentes esteróides presentes nestas plantas (sistoesteróides e f itoesteróides), os quais diminuiriam a colesterolemia, inibindo a formação de prostaglandinas, dif icultando a conversão de testosterona em diidrotestosterona por meio de efeito citotóxico direto, promovendo melhora da complacência vesical, diminuindo a concentração de fatores de crescimento tecidual e por efeito placebo. As drogas fitoterápicas são de uso bastante seguro, com poucos efeitos colaterais descritos. O estudo de determinado tipo de pseudo-hermafroditismo masculino no qual há def iciência congênita da enzima 5 α-redutase foi a chave para o uso da finasterida no tratamento clínico da HPB. Observou-se que, em tais pacientes, apesar de haver níveis séricos normais de testosterona, não há produção de diidrotestosterona (DHT). Com isso, a próstata e demais estruturas provenientes do seio urogenital são pouco desenvolvidas. A idéia básica do uso de bloqueadores 5 α-redutase no tratamento de HPB é promover a queda seletiva dos níveis séricos e intraglandulares de DHT sem alterar a produção de testosterona. Desse modo, procura-se diminuir o volume da próstata sem afetar a libido ou a potência sexual de pacientes portadores de HPB. Observou-se, por meio de estudos clínicos, que a finasterida reduz a concentração de DHT no tecido prostático em 85%. O principal efeito resultante é a redução do tamanho prostático. Esta ação acontece mais rapidamente do primeiro ao terceiro mês após o início da administração, observando-se diminuição, em taxas mais lentas, no período subseqüente, até a estabilização do efeito, que ocorre em torno de 12 meses após o início do tratamento. Em estudos clínicos, a redução de volume prostático obtida após 12 meses de tratamento com finasterida variou de 19% a 23%. Estima-se que o uso de finasterida leve a uma redução de aproximadamente 50% no valor do PSA sérico. Não há evidências, no entanto, de que a finasterida suprima preferencialmente a produção do PSA de origem benigna ou maligna. Nos grupos tratados com finasterida, não houve diminuição do número de diagnósticos de câncer quando comparados com os grupos controles. Foram publicados mais recentemente os resultados do “PLESS” (“Proscar Long-Term Efficacy and Safety Study”), incluindo 3.040 portadores de HPB com sintomas de moderados a graves, fluxo urinário diminuído (< 15 mL/s) e PSA < 10 ng/mL. Após quatro anos de seguimento dentro do regime de estudo duplo-cego, com controle por placebo, seus principais resultados foram os seguintes: n redução de risco de Retenção Urinária Aguda (RUA): 57%; GUIA PRÁTICO DE UROLOGIA

81


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.