Guia Prático de urologia

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Capítulo 37

Quimioterapia em Urologia Ricardo Pasquini* Glaci L. Moura

Introdução Os tumores geniturinários são heterogêneos quanto a sua biologia e representam, sem dúvida, um grupo intrigante quando se consideram as variadas respostas obtidas com a quimioterapia. A introdução da combinação cisplatina, bleomicina e vimblastina revolucionou o manejo dos tumores avançados de testículo; entretanto, ensaios clínicos não conseguiram mostrar benefício em quimioterapia isolada ou combinada nos tumores renais e de próstata. Os avanços nas áreas de biologia molecular e manipulação genética, o surgimento de novas drogas e o desenvolvimento de técnicas mais apuradas de diagnóstico vêm mudando alguns dos conceitos acima. O presente capítulo tratará dos tumores geniturinários com relação a sua resposta à quimioterapia e tecerá algumas considerações sobre futuras perspectivas de tratamento.

Quimioterapia em carcinoma de células renais O carcinoma de células renais é considerado uma neoplasia quimiorresistente quando são considerados os critérios atuais de resposta tumoral. Os agentes citotóxicos mais utilizados demonstram respostas marginais e não existe benefício em termos de sobrevida ou melhora da qualidade de vida quando do emprego dos mesmos. Inúmeras avaliações com diferentes agentes revelaram respostas ao redor de 6%, sendo que o agente quimioterápico mais amplamente estudado foi a vimblastina. Esta droga, mesmo usada semanalmente, não mostrou respostas superiores. A explicação para a pouca sensibilidade aos agentes citotóxicos reside possivelmente na expressão da glicoproteína P de múltipla resistência às drogas, presente na superfície da célula tumoral.

Terapia hormonal Estudos experimentais demonstraram a inibição do crescimento tumoral em presença de acetato de medroxiprogesterona, porém, evidências clínicas e laboratoriais não confirmaram benefícios que possam justificar seu uso em caráter adjuvante. Endereço para correspondência: Caixa Postal 1.920 80001-970 - Curitiba - PR Tel.: (0--41) 262-6665 - Fax: (0--41) 264-5472 E-mail: tmo@hc.ufpr.br

Terapia biológica A ação antitumoral do interferon parece estar relacionada a um efeito direto, aliando-se a efeitos imunoestimulatórios e antiangiogênicos. O uso de interferon alfa determina respostas objetivas, variando de 15% a 20%, com uma média de duração de seis a dez meses. A associação com outras drogas, especialmente vimblastina e medroxiprogesterona, não mostrou aumento nas taxas de resposta. O custo e a toxicidade desta modalidade de tratamento devem ser considerados, especialmente por não haver impacto em termos de sobrevida. A interleucina 2 é uma linfocina e não apresenta nenhuma atividade antitumoral direta. Sua atuação se dá através de mecanismo estimulador da diferenciação linfocitária. A resposta tumoral a esse agente varia de 0 a 35% e, nos casos com resposta completa, a remissão pode durar acima de 18 meses. Associando-se o interferon a células LAK (“lymphokine-activated killer”) ou a células TIL (“tumor infiltrating lymphocytes”), encontram-se respostas ao redor de 15% a 20%, sendo que os melhores resultados ocorrem em pacientes com bom índice de desempenho e previamente nefrectomizados.

Conclusão A terapia citotóxica adjuvante e o tratamento da doença metastática do tumor renal representam assunto de interesse para pesquisas clínicas com novas drogas, considerando-se as inexpressivas respostas obtidas até o momento. A terapia hormonal tem uso limitado e o tamoxifeno em altas doses encontra-se em fase de avaliação. A terapia biológica representa atualmente a opção com melhores respostas em pacientes com boas condições clínicas, devendo-se pesar os custos e a toxicidade. Pouco progresso tem sido atingido nos últimos anos no tratamento desse tumor e, considerando-se suas características únicas em termos de resistência às drogas, remissão espontânea, dormência tumoral e resposta à imunomodulação, constitui-se em interessante modelo para que novas estratégias sejam tentadas.

Quimioterapia em tumores de pênis e uretra O papel da quimioterapia é restrito a tumores metastáticos e em recaída e varia conforme o tipo histológico. Os pacientes com tumores de células transicionais apresentam alguma resposta com os análogos da platina. Os agentes citotóGUIA PRÁTICO DE UROLOGIA

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