O PEQUENO PRÍNCIPE

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Antoine de Saint-Exupéry

Tradução de

Luiz Fernando Emediato

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Copyright © 2020 by Geração Editorial Ltda. 2ª edição 8ª Reimpressão – Março de 2020 Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009 Editor e Publisher Luiz Fernando Emediato Diretora Editorial Fernanda Emediato Estagiário Luis Gustavo da Silva Barbosa Capa, Projeto Gráfico e Diagramação Alan Maia Preparação Sandra Martha Dolinsky Revisão Josias Andrade Hugo Almeida DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Saint-Exupéry, Antonie de, 1900-1944. O pequeno príncipe / Antonie de Saint-Exupéry ; [tradução Luiz Fernando Emediato]. -- São Paulo : Geração Editorial, 2020. Título original: Le petit prince. ISBN 978-85-8130-307-9 1. Literatura infantojuvenil I. Título. 14-11992 Índices para catálogo sistemático 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5 GERAÇÃO EDITORIAL LTDA. Rua João Pereira, 81 – Lapa CEP: 05074-070 – São Paulo – SP Telefone: +55 11 3256-4444 E-mail: geracaoeditorial@geracaoeditorial.com.br www.geracaoeditorial.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil

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CDD: 028.5

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Título original: Le petit prince

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A Lé o n Wert h

eço perdão às crianças por ter

dedicado este livro a um adulto. Mas tenho um motivo bastante sério: esse adulto é o melhor amigo que tenho no mundo. Outro motivo: ele é capaz de compreender tudo, até os livros para crianças. Tenho ainda um terceiro motivo: esse meu amigo mora na França, e lá ele tem fome, tem frio e precisa de carinho. Se todas essas razões não bastam, bem… dedico este livro à criança que essa pessoa foi um dia. Todos os adultos um dia foram crianças, embora poucos se lembrem disso. Corrijo, portanto, minha dedicatória: A L É O N W E RT H , Q UA N D O E R A P E Q U E N I N O.

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1 ma vez, quando eu tinha seis anos, vi uma linda ilustração num livro chamado “Histórias Reais da Natureza”, sobre a floresta virgem.

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Era a imagem de uma jiboia engolindo um bicho. O desenho era assim:

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O livro dizia que as jiboias engolem sua presa inteira sem mastigar. Depois, elas ficam paradas num canto e dormem seis meses para fazer a digestão. Fiquei pensando sobre as aventuras na selva, e fiz meu primeiro desenho a lápis de cor. Meu desenho número um. Ele era assim:

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Mostrei minha obra-prima para uns adultos e lhes perguntei se tinham medo. — Por que deveríamos ter medo de um chapéu? — eles responderam. Mas meu desenho não era de um chapéu. Eu tinha desenhado uma jiboia digerindo um elefante. Então desenhei dentro da jiboia, para que os adultos pudessem compreender. Eles precisam sempre de explicações. Meu desenho número dois era assim:

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Aí eles me deram um conselho: deixe de lado esses desenhos de jiboias vistas de dentro ou de fora e vá aprender geografia, história, aritmética ou gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma magnífica carreira de pintor. Perdi a vontade por causa do insucesso de meus desenhos número um e número dois. Os adultos não entendem nada sozinhos, precisam sempre de explicações; e é uma chatice, para nós, crianças, ficar dando explicações para eles. Precisei então escolher outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Com eles, voei por quase todo o mundo. A geografia, é claro, me ajudou bastante. Eu podia reconhecer, num relance, se sobrevoava a China ou o Arizona. Este conhecimento é muito útil, principalmente quando se está perdido no meio da noite.

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Ao longo de minha vida, tive muitos contatos com muitas pessoas sérias. Convivi com pessoas adultas e as vi muito de perto. Mas isso não ajudou a melhorar minha velha opinião a respeito delas. Por exemplo: quando me encontrava com alguém que me parecia mais lúcido, fazia uma experiência e mostrava para ele meu desenho número um, que sempre levava comigo. Queria saber se ele podia compreender. Mas a resposta era sempre a mesma: “Isso é um chapéu”. Assim era com todos. Nesse caso, não lhes falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Eu me aproximava dessas pessoas, ficava bem no nível delas e lhes falava apenas de baralho, futebol, política ou gravatas. Os adultos ficavam bem contentes comigo, por eu ser mais ou menos como eles.

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2 oi assim que vivi, muito sozinho, sem ter realmente quase ninguém com quem conversar, até que, há uns seis anos, meu avião caiu no deserto do Saara. Alguma coisa quebrou no motor. Como não levava comigo nem passageiro, nem mecânico, resolvi consertar sozinho aquele defeito complicado. Era uma questão de vida ou morte. A água que eu tinha daria para viver oito dias, não mais.

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Na primeira noite, dormi sobre a areia, a milhares de quilômetros de algum lugar habitado. Estava mais isolado que um náufrago num barquinho bem no meio do oceano. Vocês podem então imaginar minha surpresa quando, pela manhã, uma voz suave de criança me acordou: — Por favor… Desenhe um carneiro para mim. — O quê? — Desenhe um carneiro… Dei um pulo, como se atingido por um raio. Esfreguei os olhos e olhei bem. Então vi um rapazinho fora do comum que me olhava muito sério. Eis o melhor retrato que pude fazer dele, tempos depois:

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bbbbbbb É menos encantador do que ele era na realidade – mas não é minha culpa. Os adultos me desestimularam a seguir a carreira de pintor quando eu tinha seis anos, lembram? Eu não havia aprendido a desenhar nada mais além de jiboias vistas por dentro e por fora. Olhei então para aquela aparição, com os olhos arregalados de espanto. Não se esqueçam de que eu estava a milhares de quilômetros de qualquer lugar habitado. Meu rapazinho não me parecia nem perdido, nem morto de cansado, de fome, sede ou medo. Não tinha, de jeito nenhum, a aparência de uma criança perdida no meio do deserto, longe da civilização. Quando, enfim, pude falar, perguntei: — Mas… O que você faz por aqui? Ele respondeu docemente, como se fosse uma coisa muito importante: — Por favor… Desenhe um carneiro para mim. Quando o mistério é muito profundo, é impossível desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse, tão longe de qualquer lugar e correndo perigo de morte, tirei da bolsa uma folha de papel e uma caneta.

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bbbbbbb Lembrei-me então que havia estudado principalmente geografia, história, aritmética e gramática, e disse ao menininho, meio mal-humorado, que não sabia desenhar. Ele me respondeu: — Não importa. Desenhe um carneiro para mim. Como eu nunca havia desenhado um carneiro, refiz um dos únicos desenhos que sabia fazer — a tal jiboia vista do lado de fora. Fiquei espantado quando ele disse: — Não! Não! Eu não quero um elefante dentro de uma jiboia. A jiboia é perigosa e o elefante ocupa muito espaço. Onde moro tudo é pequeno. Preciso de um carneiro. Desenhe um carneiro para mim. Então eu desenhei:

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Ele fitou o desenho atentamente e disse: — Nada disso! Esse desenho é muito ruim. Faça outro. Fiz este:

Meu amigo sorriu educadamente, com indulgência: — Isso não é um carneiro. É um cabrito. Olha os chifres. Fiz de novo o desenho, mas foi de novo recusado:

— Esse é muito velho. Quero um carneirinho que viva muito tempo.

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Perdi então a paciência, e como tinha pressa de desmontar meu motor, rabisquei outro desenho:

— Isto é uma caixa. O carneiro está dentro. Para minha surpresa, o rostinho de meu pequeno juiz ficou todo iluminado: — Era assim que eu queria! Será que precisarei de muito capim para ele? — Por quê? — Porque o lugar onde moro é muito pequeno… — Qualquer coisa será suficiente. Eu lhe dei um carneirinho bem pequeno. Ele olhou bem o desenho e disse: — Não é tão pequeno assim… Olha! Ele dormiu… E foi assim que um dia eu conheci o pequeno príncipe.

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3 emorei a compreender de onde ele viera. O pequeno príncipe me fazia muitas perguntas, mas não dava atenção para as minhas. Foram as palavras ditas por ele ao acaso que pouco a pouco me revelaram tudo. Assim, quando percebeu pela primeira vez meu avião (não o desenharei aqui, seria muito complicado para mim), ele me perguntou:

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— Que coisa é aquela ali? — Não é uma coisa. Aquilo voa! É um avião. Meu avião. Fiquei orgulhoso de lhe dizer que eu voava. Ele exclamou então: — Mas como? Você caiu do céu? — Sim — eu disse, sem modéstia. — Ah! Que interessante… O pequeno príncipe deu uma risada que me irritou muito. Gosto que minhas desgraças sejam levadas a sério. Ele acrescentou: — Então você também veio do céu! De que planeta você é? Entrevi uma luz no mistério de sua presença e foi então que perguntei, bruscamente: — Você veio de outro planeta?

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Mas ele não me respondeu. Mexeu com a cabeça de leve e olhou meu avião: — Em cima de um troço como esse você não pode mesmo ter vindo de muito longe… Ele se afundou então num pensamento que durou bastante tempo. Depois, tirou do bolso o carneirinho que eu havia desenhado e ficou olhando o seu tesouro. Fiquei intrigado com a confidência dele sobre “os outros planetas” e quis então saber alguma coisa mais sobre aquela história. — De onde você vem, meu rapazinho? Onde é a sua casa? Para onde você quer levar o carneirinho? Ele ficou um tempo pensando, sem nada falar, e respondeu de repente: — O bom desta caixa é que ela poderá servir de casa, à noite. — Sem dúvida — eu disse. — E se você for bonzinho, lhe darei também uma corda e uma estaca para amarrá-lo durante o dia. Ele pareceu chocado com a minha ideia. — Amarrar? Que ideia esquisita! — Mas se você não amarrá-lo, ele poderá fugir e você o perderá. Meu amigo soltou uma nova gargalhada: — Mas para onde ele poderia ir?

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— Sei lá! Por aí… Direto e reto, sempre em frente. O pequeno príncipe disse, muito sério: — Não importa. É tão pequeno o lugar onde moro! Depois, talvez com um pouco de tristeza, ele acrescentou: — No meu planeta, a gente não pode ir muito longe, andando sempre em frente.

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4 prendi, assim, uma segunda coisa muito importante: o planeta de onde ele viera era pouco maior que uma casa!

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Nada de surpreendente para mim. Eu sabia muito bem que, além dos grandes planetas como Terra, Júpiter, Marte ou Vênus, aos quais demos nomes, existem centenas de outros tão pequenos que é difícil vê-los, mesmo com telescópios. Quando um astrônomo descobre algum deles, lhe dá um número, em vez de um nome. Chama-o, por exemplo, de “asteroide 325”.

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Tenho sérias razões para acreditar que o planeta de onde vinha o pequeno príncipe era o asteroide B 612. Esse asteroide foi visto uma única vez, em 1909, por um astrônomo turco.

Esse astrônomo demonstrou sua grande descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém acreditou nele, por causa de suas roupas estranhas. Os adultos são assim. Felizmente, para a reputação do asteroide B 612, um ditador turco obrigou seu povo a vestir-se como os europeus. Quem não obedecesse poderia ser condenado à morte. O astrônomo repetiu sua demonstração em

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1920, todo reluzente em uma roupa muito elegante. Não deu outra: todo mundo acreditou nele.

Bem, se lhes dou esses detalhes sobre o asteroide B 612 e até lhes revelo seu número, é por causa das pessoas grandes, os adultos. Eles adoram números. Quando contamos para eles, por exemplo, sobre um grande amigo, eles nunca nos perguntam sobre o que realmente importa. Jamais perguntam: “Qual é o tom da voz dele? De quais brinquedos gosta? Faz coleção de borboletas?”. Nada disso. Apenas perguntam: “Qual a idade dele? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha o pai dele?”. Somente assim acreditam que conhecem

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as pessoas. Se você diz para os adultos: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, com gerânios na janela e pombas no telhado…”, eles não conseguem imaginar como a casa é! É preciso dizer: “Vi uma casa de R$ 1 milhão”. Então eles exclamam: “Nossa! Que beleza!”. Assim, se a gente lhes disser: “A prova de que o pequeno príncipe existe é que ele era encantador, que ele ria e queria um carneirinho, e quando alguém quer um carneiro, é porque existe”, os adultos darão de ombros e nos dirão que somos infantis! Mas se dissermos: “O planeta de onde o pequeno príncipe veio é o asteroide B 612”, eles ficarão convencidos e não nos aborrecerão com perguntas. Eles são assim. Não precisamos ter raiva deles só por isso. As crianças devem ter paciência com os adultos. Mas nós, que compreendemos a vida, não estamos nem aí para os números! Eu até gostaria de ter começado esta história como nos contos de fada. Teria começado assim: “Era uma vez um pequeno príncipe que morava num planeta só um pouquinho maior do que ele mesmo, e que queria ter um amigo…”. Para quem compreende a vida, isto seria, sem dúvida, mais convincente. Não quero que leiam meu livro sem prestar atenção. Fico muito triste quando me lembro dessa história! Já

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se passaram seis anos desde que meu amiguinho se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui é porque não quero esquecê-lo. Esquecer um amigo é muito triste. Não é fácil ter um amigo de verdade. Temo ficar como os adultos, que só se interessam por números. Foi para evitar isso que comprei uma caixa de lápis de cor. É bem difícil, na minha idade, aprender a desenhar, ainda mais quando tudo o que consegui fazer foi desenhar jiboias fechadas e abertas quando tinha seis anos! Claro que tentarei fazer os retratos tão semelhantes quanto possível, mas não sei se vou conseguir. Um desenho pode até sair bom, o outro apenas mais ou menos. Eu me atrapalho também nos tamanhos. Uma hora o pequeno príncipe está muito grande, outra hora pequeno demais. E quanto à cor de sua roupa? Cada hora sai num tom. Assim, sigo tentando, mas pode ser que me engane quanto a detalhes muito importantes. Mas, nesse caso, tenho uma desculpa: meu pequeno amigo nunca me dava muitas explicações. Eu acreditava que era igual a ele, mas infelizmente não sei ver um carneirinho pelos buracos de uma caixa. É possível que eu seja um pouco como os adultos. Pode ser que eu tenha envelhecido.

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5 odo dia eu aprendia alguma coisa a mais sobre seu planeta, sua partida e sua viagem. Isso aparecia devagarinho, durante nossas conversas. Foi assim que, no terceiro dia, fiquei sabendo do drama dos baobás.

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Mais uma vez isso aconteceu por causa do carneiro. Tomado por uma profunda dúvida, o pequeno príncipe me perguntou: — É verdade que os carneiros comem arbustos? — Sim. É isso mesmo… — Ah! Fico feliz de saber disso. Não compreendi por que seria tão importante que os carneiros comessem arbustos. Mas aí ele acrescentou: — Mas eles podem comer os baobás também? Expliquei-lhe que os baobás não são simples arbustos, são árvores tão grandes como igrejas, e mesmo se ele levasse para o seu planeta uma manada de elefantes, ainda assim eles não conseguiriam acabar com um só baobá. O pequeno príncipe riu muito dessa ideia de uma manada de elefantes. — Teríamos que amontoar os elefantes uns em cima dos outros…

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Mas ele lembrou, sabiamente. — Os baobás são bem pequenos antes de crescer. — É verdade! Mas por que você quer que os carneiros comam os baobás ainda pequenos? — Bem... Pense bem — respondeu ele, como se aquilo fosse uma grande verdade. Precisei fazer um grande esforço para entender o tal problema. O caso é que no planeta dele, como em todos os outros planetas, havia ervas boas e ervas daninhas. Portanto, de boas sementes saíam ervas boas e de sementes más, ervas más. As sementes são invisíveis e dormem secretamente debaixo da terra, até que um dia uma delas desperta e estica, na direção do sol, timidamente, um ramo encantador e inofensivo. Se for o raminho de um rabanete ou de uma roseira, podemos deixar que ele cresça livremente. Mas se é de uma planta ruim, temos que arrancá-la logo. No planeta do pequeno príncipe havia sementes terríveis… como as sementes de baobá. O solo do planeta estava infestado delas. Se não arrancarmos a mudinha do baobá a tempo, depois fica muito difícil nos livrarmos da árvore. Ela se espalha por todo o planeta e fura-o com suas raízes. E se o planeta é muito pequeno e os baobás são muitos, ele pode rachar.

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— É uma questão de disciplina — disse-me o pequeno príncipe mais tarde. — Quando, pela manhã, acabo de lavar o rosto, começo a fazer a faxina do planeta. É preciso arrancar os baobás, separando-os das roseiras, com as quais se parecem muito quando são pequeninos. É um trabalho aborrecido, mas fácil de fazer. Ele me aconselhou a fazer um desenho bonito que levasse as crianças de nosso planeta a compreender essas ideias.

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— Se um dia elas tiverem que viajar, o desenho poderá lhes ser útil. Claro que não tem problema deixar para mais tarde esse trabalho importante; mas tratando-se de baobás, deixar isso para depois é quase certamente uma catástrofe. Conheci um planeta habitado por um sujeito preguiçoso, que não teve cuidado com três arbustos… Desenhei então o tal planeta. Não gosto de ser alarmista, mas os perigos dos baobás são tão grandes e desconhecidos para quem se perde num asteroide, que vou abrir uma exceção e advertir: “Meninos, cuidado com os baobás!”. Foi assim — com o propósito de alertar meus amigos desses perigos desconhecidos — que trabalhei com tanto empenho nesse desenho. A lição que ele contém vale o esforço. É possível que alguém pergunte: por que não há neste livro outros desenhos tão grandiosos como os dos baobás? A resposta é bem simples: até tentei fazê-los, mas não consegui. Quando desenhei os baobás, estava tomado por um sentimento de urgência.

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6 h, pequeno príncipe! Pouco a pouco, pude compreender sua vida melancólica. Durante muito tempo, sua única distração foi a beleza do pôr do sol. Pude entender tudo quando ele me disse, na manhã do quarto dia: — Gosto muito do pôr do sol. Venha, vamos ver… — Temos que esperar. — Esperar o quê? — Que o sol se ponha, ora… Ele fez uma carinha de surpresa e logo riu de si mesmo. Disse: — Sempre penso que estou em casa!

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Como todo mundo sabe, quando é meio-dia nos Estados Unidos, o sol está se pondo na França. Logo, bastaria ir à França e num minuto poderíamos ver o sol se pôr. Mas, infelizmente, a França é muito longe. No pequeno planeta dele, bastava afastar um pouco a cadeira e olhar o tão desejado crepúsculo… — Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes! — disse ele. E acrescentou: — É bom ver o pôr do sol quando a gente fica triste… — Você estava tão triste assim quando viu o pôr do sol quarenta e três vezes? — perguntei. Mas ele não respondeu.

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7 o quinto dia, por causa do carneirinho, mais um segredo da vida do pequeno príncipe me foi revelado. Ele me perguntou bruscamente, sem preâmbulo, como resultado de um problema a respeito do qual deveria ter meditado por um longo tempo, em silêncio: — Se um carneiro come um arbusto, pode comer flores também? — Um carneiro come qualquer coisa que encontre. — Mesmo flores com espinhos? — Sim. Mesmo as flores com espinhos. — Para que servem os espinhos, então? Eu não sabia. Estava muito ocupado desapertando um parafuso do motor de meu avião e bastante preocupado com a gravidade do defeito. Minha reserva de água estava acabando e eu começava a temer pelo pior. — Para que servem os espinhos?

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O pequeno príncipe nunca desistia de uma pergunta depois de tê-la feito. Irritado com a resistência do tal parafuso, respondi a primeira coisa que me ocorreu: — Espinhos não servem para nada. São pura maldade das flores. — Oh! Ele ouviu em silêncio, mas logo reagiu, com uma espécie de rancor: — Não acredito! As flores são frágeis. São ingênuas. Elas se defendem como podem. Elas acham que são terríveis, com seus espinhos… Não respondi. Naquele momento, só pensava no parafuso: “Se este parafuso resistir um pouco mais, vou bater nele com um martelo”. Mas o pequeno príncipe me interrompeu de novo: — Você pensa então que as flores… — Não! Não penso nada. Respondi qualquer coisa para que você calasse a boca. Preciso cuidar de coisas sérias. Ele me olhou surpreso. — Coisas sérias! — repeti. Olhava para mim, que segurava aquele martelo em punho, dedos cheios de graxa e inclinado sobre algo que lhe parecia bem feio… — Você se comporta como os adultos! Senti um pouco de vergonha. Mas ele acrescentou, implacável: — Você confunde as coisas. Mistura tudo!

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aAaAaAaA Estava mesmo irritado. Sacudia a cabeça, agitando ao vento seus cabelos dourados. — Conheço um planeta onde mora um senhor muito vermelho, que nunca sentiu o cheiro de uma flor, nunca olhou uma estrela e jamais amou alguém. Em toda a sua vida não fez mais do que somar números. Todo dia ele repete, como você: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!”. Parece que ele tem orgulho disso. Mas ele não é um homem. É um cogumelo! — Um quê? — Um cogumelo! O pequeno príncipe estava pálido de cólera. — Há milhões e milhões de anos que as flores têm espinhos, e há milhões e milhões de anos que os carneiros comem as flores, apesar dos espinhos. Não é coisa séria investigar por que as flores perdem tempo fabricando espinhos se eles não servem para nada? Não é importante entender a guerra dos carneiros com as flores? Isto não é mais sério e importante que os cálculos de um sujeito gordo e vermelho? Se eu conheço uma flor única no mundo e que não existe em nenhuma outra parte além do meu planeta? Se um dia um carneirinho acabar com ela de uma vez, numa manhã, sem perceber o que está fazendo? Isso não é importante?

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© THE JOHN AND ANNAMARIA PHILLIPS FOUNDATION Livro_Pequeno_Principe_LUXO_N_TRAD.indd 130

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Vida e obra de Antoine de Saint-Exupéry Leoclícia Alves

É

verão de 1912. No aeródromo de Ambérieu, na França, as pessoas assistem fascinadas ao espetáculo das máquinas voadoras. Seis anos atrás, um ousado brasileiro chamado Santos Dumont tinha alçado voo sobre Paris, numa engenhoca feita de bambu, seda japonesa e alumínio, o lendário 14-bis. Começava a era da aviação. Nesse dia, na pista do aeródromo, está Gabriel Wroblewski, inventor e piloto. Ele conversa com um garoto de olhos expressivos, que lhe diz: “Monsieur, minha mãe me deu permissão para voar!”. Gabriel retruca: “É mesmo?” — “Sim, eu lhe garanto!”, responde o menino, sem piscar. E convence. O pequeno Antoine de Saint-Exupéry, aos doze anos, realiza seu primeiro batismo de voo, com a ajuda de uma mentirinha: sua mãe nem sonhava que, naquela tarde, o filho estava a voar pelos céus da França. Antoine, ou melhor, Jean-Baptiste Marie Roger Pierre de Saint-Exupéry, nasceu em 1900, na cidade de Lyon. Seu pai era o conde Jean de Saint-Exupéry, e sua mãe, a doce Marie Foscolome, também

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O futuro aviador e escritor Antoine de Saint-Exupéry, aos sete anos. © COLLECTION ROGER-VIOLLET/AFP

de origem nobre. O patriarca morreu precocemente num acidente ferroviário e Marie tomou para si a responsabilidade de educar os cinco filhos: Marie-Madeleine, Simone, Gabrielle, Antoine e François. É no castelo Saint-Maurice de Rémens, rodeado de uma floresta de pinheiros negros, que Antoine e seus irmãos irão crescer. Ao completar dezessete anos, Antoine já passou por diversas escolas, onde ganhou a fama de distraído. Sua inteligência e criatividade, porém, são incontestáveis. Ele vai para Paris tentar a vida e lá é recebido por sua prima Ivone, a duquesa de Trèvise. Ivone é uma mulher que aprecia as artes. Seu humilde palacete é frequentado pela nata literária da cidade. São os famosos anos 1920, a Belle Époque de Paris. É Ivone quem apresenta o primo a muitos artistas, e também a seu futuro editor literário, Gaston Gallimard. Incerto quanto ao futuro, Antoine tenta entrar na escola naval, mas é recusado. Curiosamente, sua nota em redação foi muito baixa. O tema? “Impressões de um soldado voltando da guerra”. Reza a lenda que

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Saint-Exupéry aos seis anos, com sua tia Madeleine Foscolombe. © TOP FOTO/KEYSTONE BRASIL

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ele escreveu na folha de resposta: “Eu não fui à guerra, então acho que não posso falar nada ‘fingido’”. Resolve estudar arquitetura na Escola de Belas Artes, mas não vai muito adiante. Seu sonho de criança se torna cada vez mais imperativo: voar! Ele aguarda a oportunidade. Em 1921, é chamado para a Força Aérea da França, mas devido a seu conhecimento em mecânica, fica no solo, consertando os aviões, o que lhe causa grande decepção. Resolve então fazer um curso sério de aviação por conta própria. Tudo certinho, como manda o figurino, mas Saint-Exupéry é um jovem impaciente. Na primeira oportunidade, enfastiado das explicações teóricas, aproveita um minuto de distração do instrutor e decola sozinho. “Oh! Vejam lá se não é o louco Saint-Exupéry! Como vai pousar?” De fato. Ele não teve aulas de pouso. A plateia aguarda o pior. Mas para surpresa geral, e dele mesmo, o teimoso piloto faz uma aterrissagem aos solavancos. A cabine começa a pegar fogo, a fumaça negra sobe. Mas Saint-Exupéry, milagrosamente, está são e salvo, orgulhoso, mas encrencado. Vai passar duas semanas na prisão. Consegue seu brevê de piloto no ano seguinte, mesma época em que é dispensado do exército, com a patente de subtenente. Sua chance de voar de verdade está chegando. Um amigo, o abade Sudour, apresenta Antoine a Didier Daurat, chefe da companhia aérea Latécoère. O dono da empresa, Pierre-Georges Latécoère, acabara de ter uma ideia bem maluca, mas sedutora: usar os aviões ociosos da Primeira Guerra Mundial para formar o primeiro correio aéreo do mundo. Daurat, braço direito do dono, contrata Saint-Exupéry para as primeiras expedições.

Terra dos Homens (1939) Il Livro que ganhou o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa. Autobiográfico, traz as memórias de seus primeiros voos.

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Em dezembro de 1934, Saint-Exupéry e seu mecânico Prévot tentam quebrar o recorde de velocidade Paris-Saigon. Uma pane derruba o monomotor Simon Caudron no deserto da Líbia, no Egito. © SPAARNESTAD/RUE DES ARCHIVES/LATINSTOCK

As belas memórias de seus primeiros voos como mensageiro estão no livro Terra dos Homens, publicado em 1939. Saint-Exupéry faz a linha Tolouse-Dacar. Ali, conhece seus fiéis amigos: Jean Mermoz e Henry Guillaumet. Os três serão protagonistas de aventuras perigosas nos céus da África do Norte. E eis que surge o deserto... Tem como falar de Saint-Exupéry sem pensar no deserto? Ele reflete, em Terra dos Homens: “Entretanto, amamos o deserto [...] Se no começo ele é apenas solidão e silêncio, é que não se entrega aos amantes de um dia. Mesmo uma simples aldeia de nossa terra se furta assim ao recém-chegado [...] Mesmo um homem, a dois passos de nós, um homem que se encerrou em seu claustro e vive segundo regras para nós desconhecidas é como

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se habitasse nas solidões do Tibete, longe, tão longe que nenhum avião nos levaria até lá, nunca. Nada nos adiantaria visitar a sua cela. Ela está vazia. O império do homem é interior.” Após adquirir experiência no ofício, obtém o posto de chefe no cabo Juby, um ponto de reabastecimento dos aviões-mensageiros, no deserto da Mauritânia. Não é bem o que se poderia chamar de um belo cargo. E por motivos bem óbvios: era uma área constantemente ameaçada pelos mouros rebeldes, que não hesitavam em derrubar aviões estrangeiros e usar pilotos como reféns em troca de dinheiro, isso quando não os matavam, simplesmente. Mas Saint-Ex, como era apelidado pelos amigos, ousado de nascença, aceitou o desafio e cativou os mouros. Pacientemente, aprende árabe. Senta na areia do deserto para comer com eles e mostra seus truques de mágica. Estabelece assim uma inusitada relação de paz com os rebeldes, que o apelidam de Satax. Muitas tribos o chamam respeitosamente de Senhor das Areias. Todos sabem: Saint-Ex é um homem corajoso. E mais importante: Saint-Ex é um homem responsável. Ele parte em missões quase suicidas para resgatar pilotos perdidos no meio do deserto, percorrendo áreas varridas por tiros de fuzis. No que depender dele, seus companheiros jamais serão deixados para trás.

Correio Sul (1929) Il Seu primeiro livro, escrito em pleno deserto da Mauritânia, conta as aventuras de Jacques Bernis, um piloto dividido entre o amor por uma moça e os perigos da rota aérea França — América do Sul.

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Saint-Exupéry com sua esposa, Consuelo Soucin Sandoval, em 1935. © PFB/RUE DES ARCHIVES/LATINSTOCK

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“O senhor é um homem bom, por favor, me esconda no seu avião.” É Bark, um velho escravo dos mouros que implora a Saint-Ex que o ajude a fugir. E Saint-Ex o ajudará, mas não vai escondê-lo no avião e despertar a ira dos mouros. Ele junta todas as suas economias e negocia a liberdade de Bark. Generoso, leva o ex-escravo de volta à sua terra, Marrakesh, e dá o que lhe resta de dinheiro: “Boa sorte, amigo. Sempre é tempo de recomeçar”. E volta para seu deserto, o deserto que é silêncio, templo fértil para seu fértil pensamento; o deserto que guarda seus segredos, como o coração dos homens. Quando sobrevoa sozinho os oceanos infindáveis de areia é sobre a humanidade que Saint-Exupéry pensa. Em sua tenda, à noite, escreve cartas afetuosas para aqueles que ama. É um período de profundo aprendizado. No deserto, ele escreve seu primeiro livro, Correio do Sul, que será publicado em 1929. Em 1927, a companhia aérea para a qual Saint-Ex trabalha resolve expandir suas atividades. A essa altura, a Aéropostale, ex-Latécoère, é simplesmente a maior do mundo! O magnata Pierre esfrega as mãos, contente. Sua ideia do correio aéreo foi um sucesso. Seus pilotos não têm medo! Conduzem os frágeis aviões, enfrentando tempestades, ciclones e as traiçoeiras montanhas dos Andes, expandindo mais e mais as rotas de entrega. “O correio tem que chegar!” é o lema dos bravos e leais aviadores. E agora chegava a vez da América do Sul. Saint-Exupéry é convidado para assumir a diretoria da linha da Patagônia, na Argentina. Foi preciso perguntar duas vezes se ele topava? Claro que não. Cheio de energia, aos vinte e sete anos, ele parte para o Novo Mundo, onde, para sua grande alegria, vai trabalhar com seus velhos amigos Mermoz e Guillaumet. Sua estada nas terras de cá deixou boas lembranças. O povoado de Campeche, em Santa Catarina, tem muitas histórias para contar. Lá, havia um campo de pouso e abastecimento de aviões. Os moradores, em sua maioria pescadores de vida simples, ficavam fascinados com os pássaros de metal que viviam a subir e descer do céu. “Lá vem o Zé Perri!”, exclamavam. Um simpático francês descia de sua engenhoca voadora e cumprimentava a todos, sempre sorridente. Ia se deliciar com a culinária local e papear com seu Deca, um pescador que virou seu amigo.

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Vol de nuit (1931) Il Cartaz em francês do filme. Direção: Clarence Brown. Produção: David O. Selznick. 1933. 84 min. © DIVULGAÇÃO

O neto de seu Deca, impressionado com os relatos do avô sobre a amizade com o aviador estrangeiro, escreveu um livro: Deca e Zé Perri. O cativante pai do Pequeno Príncipe deixou saudades no pequeno povoado. Eles o homenagearam com o nome de sua principal avenida e colocaram o principezinho como rosto de boas-vindas em muitos dos estabelecimentos da cidade. É em Buenos Aires, num jantar na embaixada francesa, que o galante Saint-Exupéry conhece Consuelo Soucin, uma jovem artista plástica de beleza arrebatadora. Natural de El Salvador, ela é uma mulher de gênio forte, uma personalidade marcante. E sofre de asma, por isso dá leves tossidinhas... Os dois iniciam um romance intenso e conturbado. “Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias. Mas eu era jovem demais para saber amá-la.” Apesar... O amor é apesar. Saint-Exupéry jamais abandonará Consuelo, apesar de seus caprichos difíceis de lidar. Eles se casam na França em 1931. Ela sobe ao altar vestida de preto, com um buquê de rosas vermelhas, selando um casamento cheio de altos e baixos. A temporada que viveu na América do Sul foi decisiva no amadurecimento de Saint-Exupéry. Os desafios do ofício, o amor por

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Consuelo, a fidelidade a seus amigos... Ali ele escreve Voo Noturno, seu segundo romance. O livro conta a história do jovem piloto Fabien, comandado pelo austero diretor Rivière. Baseado em acontecimentos reais, Saint-Ex aborda o nascimento dos voos noturnos, com todos os seus perigos naturais. Isto porque antes os aviões só decolavam de dia, mas a Aéropostale, sempre visionária, decidiu agilizar ainda mais os correios. No livro, temos uma tragédia, e uma Cidadela Il Chamada pelo genial análise dessa tragédia, pela óptica próprio Saint-Exupéry de do dever e do amor, temas fortíssimos sua obra póstuma, nunca foi em Saint-Exupéry. Percebe-se aqui a concluída. Publicado em 1948, maturação de uma filosofia, que vai após sua morte, o livro tem mais de 500 páginas. De uma culminar mais tarde na bíblia do penimpressionante profundidade samento exupéryano: Cidadela. linguística e filosófica, o autor Voo Noturno é publicado na França reflete sobre o sentido da em 1931. Um sucesso. Ganha o imporvida, na voz de um antigo e tante prêmio Fémina. Hollywood se inmelancólico rei berbere. teressa pela obra e ela vai parar nas telas, com Clark Gable no papel principal. Na França, o perfume Vol de Nuit, caríssimo, simboliza o fascínio da nação pelos códigos de honra dos heróis aviadores: “A vida nos separa talvez dos companheiros, e nos impede de pensar muito nisso. Eles estão em algum lugar, não se sabe bem onde, silenciosos e esquecidos, mas tão fiéis! E se cruzamos seus caminhos, eles nos sacodem pelos ombros com belos lampejos de alegria. Sim, nós temos o hábito de esperar...” A crise de Wall Street em 1929 e as instabilidades políticas na América do Sul minam a potência da Aéropostale, seus donos são a

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Saint-Exupéry e sua esposa, a bela e geniosa Consuelo Soucin, em 1934. © COLLECTION ROGER-VIOLLET/AFP

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Detalhe de um manuscrito original de O Pequeno Príncipe, escrito por Saint-Exupéry em 1941. O rascunho foi apresentando pela casa de leilão Art Curial, de Paris. © REMY DE LA MAUVINIERE/AP PHOTO/GLOW IMAGES

família Bouilloux-Lafont, que, afundada em dívidas, liquida a empresa. Ela é vendida a companhias privadas francesas e recebe posteriormente o nome Air France. Após a dissolução da companhia, Saint-Exupéry volta a morar na França com sua esposa. Mas não irá descansar. Escreve com paixão, desenha, toca violino, ama a companhia de sua esposa e amigos, mas precisa voar. Consegue o modesto posto de piloto de testes na Air France, mas o que o interessa agora é a nova moda francesa: testar modelos novos de avião e recordes de velocidade aérea. As recompensas são boas, e o desafio, por si só, o atrai como um ímã. Ele escreve: “Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra do que todos os livros. Porque oferece resistência”.

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Começa então uma série de aventuras bem perigosas, e igualmente emocionantes. Uma delas certamente merece nota. O ano é 1934. Ele e seu mecânico Prévot decolam de Benghazi, cidade da Líbia, para quebrar o recorde até Paris. Um gordo prêmio os aguarda e eles aceleram. Tudo vai bem até que uma pane os derruba no meio do deserto da Líbia. Sem água, sem comida, e com um avião definitivamente sem conserto. E agora? Eles enfrentam o calor escaldante. Tentam captar o orvalho da noite com lonas do avião, impregnadas de óleo e ácido. Quase morrem envenenados. Quatro dias de sede e fome. Saint-Exupéry, no entanto, não se entrega ao desespero, ele medita sobre as pequenas coisas bonitas que consegue ver. A raposa do deserto, arredia, que se alimenta de minúsculos caracóis, de forma a respeitar seu ciclo reprodutivo. O espetáculo do céu noturno, límpido, primitivo. Seu companheiro sugere o revólver, mas Saint-Exupéry respeita a vida até seus últimos segundos possíveis, ele não vai desistir dela tão fácil. Resolvem se embrenhar pelas dunas infinitas, delirantes. As miragens se tornando cada vez mais sérias. É a morte chegando, e com ela vem uma espécie de serenidade salvadora, eles sabem disso. Ao fim do quarto dia, já nos limites da desidratação, Prévot vê sua última alucinação: “Olha, Antoine, um anjo num camelo”. Saint-Ex se vira, descrente, com o pouco de força que ainda lhe resta, e para sua surpresa, também vê o anjo: “Eu também o vejo, Prévot”. O anjo é um beduíno do deserto, que os salva da morte certa. Terra dos Homens, que será publicado em 1939, traz o relato dessa experiência quase mortal, mas transformadora para os dois aviadores. No ano seguinte, 1936, explode a Guerra Civil Espanhola. Este seria só o começo de uma avalanche perigosa de governos totalitários. Adolf Hitler prepara a Alemanha para uma ofensiva violenta contra toda a Europa. Ele alia-se aos ditadores fascistas Benito Mussolini, da Itália; e Francisco Franco, da Espanha. A França, pátria amada de Saint-Exupéry, enfrenta sérios problemas... Brigas e mais brigas internas entre a esquerda e a direita tornam impossível uma unidade nacional de defesa.

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Ele é contratado por um jornal francês para escrever reportagens. Além dele, Ernest Hemingway, George Orwell e muitos outros escritores consagrados são convocados a falar sobre o fantasma que começa a cobrir a Europa. Uma visita à Alemanha o deixa assombrado. Seus textos corajosos alertam a França sobre a necessidade de uma união para enfrentar o inimigo que se aproxima. O nazismo se espalha como uma praga forte. Em Carta a um refém, escrito durante seu exílio nos Estados Unidos, ele reflete: “Uma tirania totalitária poderia satisfazer-nos em nossas necessidades materiais. Mas não somos um rebanho no pasto. [...] Quando o nazista respeita exclusivamente aquele que se parece com ele, respeita apenas a si mesmo. Recusa as contradições criadoras, destrói toda esperança de ascensão e erige, por mil anos, em lugar de um homem, o robô de um formigueiro. [...] Incapazes de se impor pela evidência, as religiões políticas apelam para a violência. E eis que, dividindo-nos quanto aos métodos, arriscamo-nos a não mais reconhecer que caminhamos para o mesmo fim.”

“Para nossa unidade,, o Capitão Saint-Exupéry é um modelo de dever e espírito de sacrifício”, foi o que disse um dos companheiros do esquadrão 2/33. © AUTOR DESCONHECIDO

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Ainda em 1936, seu primeiro romance, Correio do Sul, é adaptado para o cinema. Saint-Exupéry, o próprio, é quem faz as arriscadas manobras aéreas para as filmagens. Um piloto-escritor. Ativo e atento. Ele é consciente do perigo das sementes de baobá, símbolos de uma ameaça (talvez a maldade humana?) que se não forem arrancadas enquanto é tempo, podem rachar um planeta. O principezinho, ao cuidar de seu pequeno asteroide em busca das sementes O Pequeno Príncipe quase para arrancá-las, é a imagem do ser humano virou um filme de Walt Disney. A ideia só não foi adiante virtuoso, no sentido mais coerente da palavra. porque o famoso desenhista Aquele que se sabe responsável por si mesmo, americano, já no estúdio de mas também por todo o mundo. gravação, ficou irritado com É um período bastante difícil para Saintoutro diretor que queria -Exupéry. Mermoz, seu grande amigo dos comandar as filmagens. tempos de correio aéreo, morre num acidente de avião. Em casa, o casamento passa por uma fase delicada. Saint-Exupéry e Consuelo não conseguem conciliar bem seus gênios fortes. “Tu decidiste partir. Vai embora! Ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa...” Resolvem se separar. Pegam o mesmo trem e se despedem, respeitosamente. Ela embarca num navio com destino à sua terra natal. E Saint-Exupéry pilota um avião, com o objetivo de vencer a prova de criação de uma nova rota: Nova York-Patagônia. Mas quando se encontra no céu da Guatemala o avião começa uma queda livre e se espatifa no solo. A causa? Erro de cálculo. O avião não aguentou o peso do combustível. Foi um acidente gravíssimo que quase ceifou a vida do jovem piloto-escritor. Quebrou os braços, os punhos e a mandíbula; seu ombro esquerdo ficou totalmente esmagado. Muitas fraturas expostas. Salvou-se por um milagre. O médico sugere que seu braço esquerdo, em condições deploráveis, seja amputado. O paciente teimoso diz que não. E ficará com um braço semiparalisado para sempre.

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Com seu fiel amigo Henry Guillaumet, em frente a um avião modelo Latécoère 28, da Aéropostale. © COLLECTION ROGER-VIOLLET/AFP

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Mas trata-se de Saint-Exupéry, um homem forte por dentro e por fora. Ele se recupera do acidente, embora vá ficar com sequelas sérias que o impossibilitam de voar novamente: a mobilidade de seus membros está agora bastante reduzida, até mesmo abrir um paraquedas, para ele, é tremendamente difícil. “Ah, mas eu estou vivo. Para tudo, há um jeito!”

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“Um belo castigo me espera se eu for inferior ao que penso de mim mesmo.” © GRANGER/GLOW IMAGES

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Saint-Exupéry vai para Nova York fazer cirurgias e resolve ficar por um tempo. Uma grande amiga, Nelly de Vogüé, lhe arranja uma boa acomodação na cidade e o apresenta aos círculos de artistas. Todos gostam dele. O único problema é que ele é um escritor dos ares, e terá que aprender a viver como um escritor de salões. Termina de escrever e publica Terra dos Homens, um sucesso de crítica, e ganha o National Award Book de 1939. Ganha, também na França, o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa no mesmo ano. Ele volta para seu país e se engaja de forma crescente nas questões políticas. Em 1o de setembro de 1939, a Segunda Guerra Mundial começa com a invasão da Polônia pelo exército alemão. A situação da França é crítica, algo que Saint-Exupéry vinha alertando havia anos. Grande parte dos franceses não acredita que Hitler vá ousar contra Paris. Mas a história nos dá a resposta: ele ousaria sim. O parco exército francês sofre com a falta de soldados. Sem organização, como combater o invasor? Contra o parecer dos médicos, Saint-Exupéry consegue autorização para voar, e é integrado como capitão do esquadrão 2/33, responsável por voos de reconhecimento aéreo. Interceptar o inimigo antes que ele chegasse em suas portas era a única maneira de preparar as linhas de defesa. Saint-Exupéry faz missões rasantes arriscadas. Ele e os bravos companheiros do esquadrão enfrentam as saraivadas de bombas, tiros de canhões e metralhadora. Dezenas de aviões são abatidos. Em 1940, Hitler chega a Paris. A França, encurralada e fraca, assina o armistício. É o fim. Saint-Exupéry está desesperado. Não terá alternativa que não seja exilar-se nos Estados Unidos e buscar, praticamente sozinho, o apoio do presidente Roosevelt para combater os alemães. Tem que se submeter ainda a várias cirurgias, o que o limita bastante fisicamente. Junto a uma colônia de franceses exilados em Nova York, eles buscam meios para ajudar sua pátria. Saint-Exupéry escreve o marcante livro Piloto de Guerra, no qual reflete de forma profunda sobre os perigos de um fim da civilização pelo totalitarismo. Rapidamente se torna o mais vendido das Américas. É chamado de resposta filosófica, à altura, ao

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O baobá, árvore de origem africana. Seu tronco chega a 10 metros de diâmetro. Na foto, espécime no centro da cidade de Nísia Floresta, a 45 quilômetros de Natal (RN). Árvore rara no Brasil, é muito comum na África, Austrália e no Oriente Médio. © CADU ROLIM/FOTOARENA

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Mein Kampf, a obra doutrinadora de Adolf Hitler. A causa francesa ganha destaque nas discussões americanas. O Pequeno Príncipe nasce agora, no meio da guerra. Uma noite, enquanto Saint-Exupéry está jantando com seu editor, ele rabisca um desenho curioso. Um menino de cabelos cor de ouro. O editor pergunta do que se trata. E ele responde que não é nada demais: “É apenas o garoto que existe em meu coração.” Ao que o editor retruca, esperançoso: “Por que não pode ser ele o herói de um livro infantil? Poderíamos lançá-lo no Natal!” É o ano de 1942. Saint-Exupéry se pergunta: “É. Por que não? Mas o que eu diria aos homens?” Seu livro póstumo, Cidadela, traz uma das respostas a essa pergunta: “Porque tu vives segundo um império, que não é de coisas, mas do sentido das coisas”. E o principezinho sai pelo universo, de carona numa revoada de pássaros selvagens, com a missão de descobrir o sentido das coisas. “Que quer dizer conquistar?” [...] “Onde estão os homens? — perguntou de novo o pequeno príncipe. — Estamos um pouco sós no deserto….” “Estamos sós também entre os homens — disse a serpente.” É porque algo muito importante está faltando neles. “O que é?” — queria saber o principezinho. Poucos, como a raposa, saberiam a resposta, mas generosa, ela partilha com o amigo que a cativou. É um presente muito precioso: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

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Eis que em Terra dos Homens, Saint-Exupéry dá nome ao verdadeiro deserto do coração: “Em um mundo em que a vida se une tanto à vida, em que as flores amam as flores no leito dos ventos, em que o cisne conhece todos os cisnes, só os homens constroem a sua solidão”. Naquele momento, Saint-Exupéry se perguntava o que dizer à humanidade, num momento tão difícil em que milhões de pessoas eram obrigadas a usar na roupa uma estrela amarela que simbolizava um carimbo de morte. “Por que estão deturpando a pureza de uma estrela amarela? Por que estão deturpando a pureza das pessoas?” Léon Werth (1878-1955), a quem O Pequeno Príncipe é dedicado, é um judeu, amigo de Saint-Exupéry, que ficara na França e fora carimbado... Saint-Exupéry inicia uma força -tarefa. Pede à sua rosa Consuelo que lhe arranje um lugarzinho simples para escrever em paz. (Os dois tinham reatado e ela fora para Nova York.) Ela lhe consegue um casarão e enche a casa de amigos para inspirá -lo. A ideia dá muito certo. A doce Silvia Hamilton, uma grande amiga, lhe é inspiração para criar a raposa. O cachorrinho dela, um poodle branco, vai ser o modelo para os carneirinhos. Entre poses divertidas e diálogos meio malucos, o conto de Natal vai ganhando forma. Saint-Exupéry resolve, ele mesmo, ilustrar seu livro. Munido de suas aquarelas, retoma uma promissora carreira de pintor. Os belíssimos desenhos, hoje tão marcantes para todos nós, foram feitos com intensa dedicação e amor, ao som da Sinfonia no 40 de Mozart. Noites a fio, sem dormir, só o pequeno príncipe existia em sua mente, e o acolhia nos braços. O exílio nos Estados Unidos foi também uma forma de aplacar a solidão, trazendo de volta aquela criança curiosa, de cabelos dourados, ninguém menos que ele mesmo quando desbravava a floresta de pinheiros negros na França. No dia 6 de abril de 1943, O Pequeno Príncipe é lançado nos Estados Unidos. Saint-Exupéry, no entanto, não imagina a fama que seu livrinho iria alcançar.

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Saint-Exupéry entrando na cabine do avião, com ajuda do tenente Leleu. Em Alghero (Sardenha), 1944. © COLLECTION ROGER-VIOLLET/AFP

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Ele está muito preocupado com a França. Não suporta a ideia de ver o lugar onde nasceu na posse dos invasores nazistas. Naquele ano, os Estados Unidos enviam suas primeiras tropas para a África do Norte. Saint-Exupéry, a muito custo, consegue se integrar ao grupo de combate, e parte para a guerra. Em 1944, Saint-Exupéry está com quarenta e quatro anos. Ele se prepara para uma missão de reconhecimento aéreo a bordo de um Lightning P-38. É manhã do dia 31 de julho. Ele decola, confiante e orgulhoso, feliz por se sentir útil à sua pátria. É o último voo do Capitão Saint-Exupéry. Seu avião desaparece sem deixar vestígio. Paris é libertada dez dias depois com a vitória dos Aliados. Mais alguns meses e a Alemanha se rende. Acaba a Segunda Guerra Mundial, deixando um saldo de milhões de mortos e uma Europa inteira para se erguer das ruínas. Um clássico nascia: O Pequeno Príncipe torna-se o terceiro livro mais traduzido, perdendo apenas para a Bíblia e o Alcorão. São quase 250 versões. É, incontestavelmente, a obra mais famosa da literatura francesa. O tempo passou... Em 1998, um pescador do Mediterrâneo puxa sua rede e fica intrigado com algo que reluz nela. Encravada numa pequena pedra, está uma pulseira de prata. Ele desprende o objeto com cuidado e lê o que está escrito ali: Antoine de Saint-Exupéry (Consuelo) c/o Reynal And Hitchcock 386 4TH Ave. N.Y. U.S.A. É acionada uma equipe de rastreamento. Destroços de um modelo Lightning P-38 são encontrados numa área próxima dali. Mais investigações e surge uma revelação: um piloto alemão da época da guerra, chamado Horst Rippert, tinha abatido aquele avião. Era seu dever no exército. Mas, triste, reconhece: “Se eu soubesse que quem estava pilotando era Saint-Exupéry, jamais o teria derrubado. Todos nós líamos seus livros. Gostávamos muito dele”. Imortalizado em sua obra, Saint-Exupéry segue cativando crianças e adultos no mundo inteiro.

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Ilustração do pintor A. Koshkin para O Pequeno Príncipe. © SVERDLOV/RIA NOVOSTI/AFP

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Prateleira com algumas versões de O Pequeno Príncipe. São quase 250 traduções. © AGE FOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL

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