MANUAL DO PROFESSOR| A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

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CARTA AO PROFESSOR

PROPOSTAS DE ATIVIDADES I

Linguagens e suas Tecnologias

Antes da leitura

6 Durante a leitura

7 Depois da leitura

PROPOSTAS DE ATIVIDADES II

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Antes da leitura

14 Durante a leitura

14 Depois da leitura

15 Ciências da Natureza e suas Tecnologias

18 Antes da leitura

18 Durante a leitura

19 Depois da leitura

19 Matemática e suas Tecnologias

20 Antes da leitura

Durante a leitura

Depois da leitura

Fábula ou romance?

Leitura e escrita literárias

Campo da vida pessoal

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo jornalístico-midiático

Campo de atuação na vida pública

Campo artístico-literário

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sum Á rio
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BIBLIOGRAFIA COMENTADA ............................................................................................................ 34
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20
21 APROFUNDAMENTO
SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
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carta ao professor

Prezado professor, prezada professora,

Este Material Digital do Professor objetiva auxiliar no trabalho com o romance em sala de aula com atividades elaboradas a partir de orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Duas videoaulas acompanham este material e fornecem uma perspectiva panorâmica deste conteúdo.

Escrito em plena Segunda Guerra Mundial e publicado em 1945, A revolução dos bichos já é um clássico do influente escritor do século 20 Eric Arthur Blair, que assumiu o pseudônimo de George Orwell desde o seu primeiro livro, Na pior em Paris e Londres, de 1933.

Blair nasceu em 1903, na Índia. Seu pai trabalhava para o império britânico, por isso o pequeno Eric estudou em colégios tradicionais da Inglaterra, para onde foi morar com sua mãe. Jornalista, crítico e romancista, Blair tornou-se famoso com a publicação do romance 1984, de 1949. Morreu de tuberculose em 1950, e viu apenas o início do sucesso da sua obra acontecer. Em sua lápide consta apenas o nome de batismo, sem menção ao nome com que foi imortalizado.

A revolução dos bichos trata do poder e narra a insurreição dos bichos em uma granja contra seus patrões. No desenrolar do enredo, narrado na terceira pessoa, os bichos, em especial os porcos, vão se tornando, pouco a pouco, mais tiranos que os homens. Os animais apresentam comportamentos antropomórficos, ou seja, comportamentos humanos, daí a alcunha dada por seu autor: fábula satírica, pois nela foram empregados recursos fabulares.

Segundo o próprio Orwell, A revolução dos bichos é uma fábula satírica, porque usa animais como personagens com o intuito de construir um argumento sólido sobre a moralidade e a política humanas. De acordo com essa tradição literária, Orwell antropomorfiza os animais, ou seja, ele não apenas lhes confere a capacidade de falar, mas também qualidades e preocupações humanas.

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O tom narrativo de Orwell é de uma simplicidade e uma secura próximas às de La Fontaine e Swift, desenvolvendo uma prosa clara e admiravelmente adequada ao seu objetivo, que se transforma lentamente, à medida que a história avança, indo de otimista a amargo.

Embora a obra tenha sido escrita como uma denúncia a um governo específico, seus temas gerais de opressão, sofrimento e injustiça, bem como a forma como a narrativa é construída e os elementos que a compõem, têm aplicação muito mais ampla.

Diante de um romance como A revolução dos bichos podemos concluir que não basta que os estudantes conheçam grandes autores; é preciso também que reflitam sobre o que escreveram e transformem, recriem e tragam essas histórias para perto de si, para suas realidades e interesses criativos. É preciso que narrativas assim sejam objeto de adaptações para teatro; gravações de áudios comentados em podcasts e submetidos a experiências criativas autorais em produtos audiovisuais; enfim, manipulados com a criatividade e a familiaridade que os estudantes têm com os novos meios de expressão digital. Uma obra de arte literária só será plenamente viva se for um agente provocador de novas obras de arte de novos escritores e criadores.

Esperamos que durante o ano letivo seja efetivado um trabalho de qualida de, de modo proveitoso e prazeroso, com a literatura em sala de aula. Afinal, a leitura de diferentes obras literárias pode contribuir com o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais para a formação dos jovens estudantes do Ensino Médio brasileiro.

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Equipe editorial

propostas de atividades i

Linguagens e suas Tecnologias

Acreditando no caráter atemporal da obra literária, apresentamos aqui propostas de atividades que visam a promover uma maior, mas não total, compreensão de A revolução dos bichos. Tomamos o conceito de literatura como uma obra de interpretações múltiplas e infinitas. Aqui estão apenas algumas delas, que buscam compreender, interpretar e problematizar o texto literário a partir dos pressupostos na BNCC, que ressalta:

A prática da leitura literária, assim como de outras linguagens, deve ser capaz também de resgatar a historicidade dos textos: produção, circulação e recepção das obras literárias, em um entrecruzamento de diálogos (entre obras, leitores, tempos históricos) e em seus movimentos de manutenção da tradição e de ruptura, suas tensões entre códigos estéticos e seus modos de apreensão da realidade.

Espera-se que os leitores/fruidores possam também reconhecer na arte formas de crítica cultural e política, uma vez que toda obra expressa, inevitavelmente, uma visão de mundo e uma forma de conhecimento, por meio de sua construção estética (BRASIL, 2018, p. 523).

Ao mesmo tempo, pretendeu-se apontar a fruição da obra, que, aliada a outras leituras e possibilidades literárias, amplia os horizontes de expectativa dos jovens leitores, também como dita a BNCC:

A fruição, alimentada por critérios estéticos baseados em contrastes cultu rais e históricos, deve ser a base para uma maior compreensão dos efeitos de sentido, de apreciação e de emoção e empatia ou repulsão acarretados pelas obras e textos (BRASIL, 2018, p. 496).

Para tanto, propomos uma condução de atividades separada em três momentos principais: Antes da leitura, Durante a leitura e Depois da leitura, embasados nos estudos de Isabel Solé (1998).

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As atividades apresentadas no Antes da leitura têm como objetivo a verificação dos conhecimentos prévios dos alunos em relação à obra e o levantamento de hipóteses sobre o tema e o gênero. Essa avaliação prévia possibilita ao professor um diagnóstico do que já é conhecido por parte dos alunos, quais elementos são desconhecidos e quais são os caminhos mais pertinentes a cada realidade escolar. Além disso, esse levantamento resgata e valoriza o conhecimento construído fora da sala de aula por parte dos estudantes.

O momento Durante a leitura tem como principal objetivo orientar a leitura propriamente dita, verificando quais pontos eventualmente necessitam de explicação, análise, observação e/ou contextualização.

Depois da leitura é a etapa que centraliza o maior número de atividades e propostas, uma vez que é nesse momento que a compreensão, análise e interpretação do romance são de fato concretizadas. As atividades propostas objetivam a verificação das hipóteses levantadas na subseção Antes da leitura, confirmando-as ou não. Isso garante uma melhor discussão e debate dos temas levantados pela leitura da obra, seus aspectos globais de sentido e suas características estruturais.

Antes da leitura

1. Estabeleça se a leitura será feita individualmente, extraclasse ou de forma coletiva. Se ocorrer em sala, proporcione um clima aberto ao diálogo, res peitoso e especialmente agradável – dentro das possibilidades – num lugar silencioso, com temperatura amena para que os alunos não se distraiam ou sejam incomodados facilmente.

2. Sugerimos como primeira sondagem questionar a turma em relação ao ato de literatura em si:

a) Que benefícios a leitura literária nos propicia?

É muito provável que os alunos se lembrem das questões práticas ligadas ao ensino, às exigências do Enem e dos vestibulares. Valorize as respostas que digam respeito à importância da literatura na formação pessoal e ética dos leitores, da leitura de fruição etc.

b) Na opinião de vocês, por que um romance é escrito?

Resposta pessoal. Procure discutir com os alunos o caráter contemporâneo que os romances têm com seus contextos de produção; porém, não deixe

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de valorizar tais obras como fruto estético, produto do pensamento e da cultura.

c) Para vocês, o que é literatura?

Resposta pessoal. Um dos itens da seção Aprofundamento discute essa questão.

3. Observe, junto aos alunos, os elementos multissemióticos que compõem a capa e a quarta capa, como título, nome do autor/tradutor, incluindo as imagens, as cores e a tipografia utilizadas. Oriente-os, perguntando:

a) O que acharam da capa e da quarta capa do livro? Vocês acreditam que elas antecipam algum elemento ou fato relevante para a narrativa?

b) O que o título sugere a vocês?

c) O que mais lhes desperta a atenção ao observar?

Respostas pessoais. Essas questões podem e devem ser retomadas após a leitura do romance com o intuito de verificar se as impressões, hipóteses e opiniões se confirmaram.

4. Pergunte se já ouviram falar no nome ou leram alguma narrativa de George Orwell, a fim de verificar o conhecimento prévio acerca do autor. Resposta pessoal. Nesse momento, podem ser retomadas algumas informa ções sobre o autor, apresentadas no início desse material, a fim de utilizá-las ao trabalhar a questão com os estudantes.

5. Aproveite o momento para perguntar o que os alunos entendem por fábula. Peça que compartilhem seus conhecimentos sobre o gênero, contando, se lembrarem, oralmente algum texto fabular. Resposta pessoal.

Durante a leitura

1. Essa etapa pode ser promovida de diferentes formas. Se a leitura individual for sugerida em um primeiro momento extraclasse, é importante uma conversa logo após todos terem-na iniciado. O objetivo é verificar o interesse dos alunos pela obra, sua compreensão e avanço em relação à leitura e sua significação. Se optarem por uma leitura coletiva, a cada trecho lido faça

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uma pausa e questione os alunos sobre a narrativa, em especial os elementos espaço, personagens e conflito. Isso permitirá avaliar se o enredo está sendo bem apreendido pelos estudantes.

2. Ao serem apresentados os personagens da narrativa, pergunte aos alunos que sentimentos e lembranças o nome de cada um evoca. Se julgar conveniente, anote algumas dessas respostas, principalmente as que dizem respeito a Napoleão, Sansão, Maricota e Moisés.

3. Solicite aos alunos que registrem no caderno ou em um suporte digital eventos do enredo e algumas características estruturais, estilísticas e discursivas da narrativa, assim como a confirmação ou refutação de hipóteses levantadas antes da leitura. Peça, também, que registrem vocábulos desconhecidos e seus significados após a consulta ao dicionário. Reserve, se possível, um momento para o compartilhamento desse vocabulário entre os colegas de turma.

4. Após a leitura do primeiro capítulo, faça uma pausa e comente com a turma sobre o discurso do porco Major e seu efeito sobre os animais da fazenda.

• Questione-os sobre os argumentos levantados por Major, principalmente a pergunta central do seu discurso: “qual é a natureza desta nossa vida?”

• Instigue os alunos a também responderem a essa questão no mundo contemporâneo.

• Oriente-os sempre a fortalecer seus argumentos de forma coerente e concreta, distinguindo fato/realidade de opinião e dialogando, com respeito, valorizando a experiência e a realidade do outro.

• Valorizando também a sátira do tom fabular, questione aos alunos sobre as impressões que tiveram ao depararem com personagens animais agindo e falando com consciência. O objetivo é verificar nos alunos os diferentes efeitos da leitura, como distanciamento da narrativa, humor e sarcasmo por parte do narrador e liberdade poética, dentre outros.

5. Nos capítulos seguintes, observe se os alunos conseguem visualizar os regimes políticos sendo moldados na narrativa. Primeiro, um regime mais igualitário, visando apenas aos recursos necessários à sobrevivência de cada indivíduo; depois, um regime autoritário vai se fortalecendo, privilegiando

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determinadas classes de animais enquanto as outras retornam à situação inicial de exploração.

Oriente-os a observarem com atenção as atitudes e pensamentos de alguns animais em especial, como Benjamin, Sansão e Moisés. Como toda fábula, o narrador deixa implícitos os motivos, isto é, as intenções de alguns personagens. Sabemos pela leitura o que eles fazem, mas não sabemos o porquê exato, o que eles desejam e o que esperam. O objetivo dessa análise é permitir aos jovens leitores contemplarem as várias camadas de um personagem, ou seja, como sua consciência é criada, quais suas significações.

Depois da leitura

1. Após a leitura, solicite aos alunos que retomem suas hipóteses iniciais e anotações feitas durante a leitura. Faça as perguntas a seguir:

a) Na opinião de vocês, o título escolhido está adequado à história? Por quê? Respostas pessoais. Se achar pertinente, analise com os alunos as diferenças assumidas pelos tradutores brasileiros nas diferentes traduções do título Animal farm: A revolução dos bichos e A fazenda dos animais. Os títulos em Portugal são ainda mais diversos: O Porco Triunfante, O Triunfo dos Porcos e A Quinta dos Animais.

b) Caso fossem traduzir o romance, que título escolheriam? Resposta pessoal. Solicite uma justificativa para algumas respostas mais originais ou aparentemente não adequadas.

c) O que vocês acharam do enredo de A revolução dos bichos? De que ele trata? Resposta pessoal.

d) Vocês relacionaram a narrativa com algum momento histórico? Explique e compartilhe com seus colegas. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes estabeleçam relação entre a narrativa e alguns momentos políticos reais, como a ascensão do Socialismo russo ou do Nazismo alemão, por exemplo. Podem ainda evocar o avanço da extrema-direita em diversos países, ou ainda a crise no regime de extrema-esquerda venezuelano.

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2. Relembre com os estudantes que, em narrativas mais longas (como novelas e romances), os personagens costumam ser em maior número que em narrativas mais curtas (como contos e crônicas), mas são classificados da mesma maneira: em principais e coadjuvantes . Os personagens principais se dividem em protagonistas (ou heróis) e antagonistas (ou vilões ), isto é, aqueles que executam a ação principal da história e aqueles que buscam impedir as ações do(s) protagonista(s), respectiva mente. Coadjuvantes são aqueles com participação menor e discreta na narrativa. São amigos, confidentes, mensageiros, criados, patrões. Enfim, personagens que ajudam a contar a história, mesmo não participando ativamente do conflito narrado.

3. Se achar adequado e pertinente, comente com os alunos que não são apenas as descrições e características físicas são importantes para o estudo da narrativa. Atitudes, pensamentos, desejos, sonhos e vontades deles também nos ajudam a compreender a construção e caracterização dos personagens. Alguns aspectos a serem observados são:

• o humor: se o personagem age calmamente ou se está furioso; se é ágil ou perfeccionista etc.

• as emoções dominantes: claro que podemos sentir várias emoções ao longo de um dia, mas qual é a dominante? Que tipo de emoção guia a maioria das ações de determinado personagem?

• suas ideologias: ou seja, o que o personagem pensa, em que ele acredita, sua afinidade política ou filosofia de vida. São essas características que definem também as características morais do personagem, isto é, se suas ações condizem com sua ideologia, definindo qual a autenticidade de sua personalidade.

• As relações sociais: que dizem respeito tanto à sua classe social quanto à forma como o personagem interage com outras pessoas.

4. Depois da leitura e compreensão do romance, o trabalho pode ser finalizado com a proposta de criação de um vlog ou de podcasts com resenhas do romance, comentando capítulos mais significativos, ou análises que foram construídas, ou, ainda, uma explanação da atualidade da obra. O objetivo é criar textos com recursos persuasivos que despertem o interesse de novos leitores.

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Ao realizar tal proposta, atribua funções aos alunos, para que todos participem da atividade. Oriente-os em relação às etapas de elaboração do vlog ou do podcast, que pode seguir os pontos abaixo:

• Organização das informações em um roteiro, incluindo o tom que usarão na gravação (os alunos podem optar, por exemplo, por assumir um tom mais humorístico, ou um tom mais acadêmico e sério. O importante é que as informações essenciais de uma resenha sejam contempladas).

• Edição e revisão do roteiro (tendo em mente sempre a necessidade de uma linguagem fácil, clara e ágil).

• Produção do material, tendo em vista o material necessário (celular, câmera, gravador, música de fundo, vinhetas, sonorização etc.).

• Para editar o vídeo ou o áudio, os estudantes podem utilizar aplicativos gratuitos, encontrados na internet, com diferentes recursos para texto, imagens e sons.

Uma vez finalizado o material, oriente os alunos a fazerem o upload do vlog ou do podcast em uma plataforma digital e compartilhar com seus familiares e conhecidos.

Competências e habilidade

CE 1: Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.

CE 6: Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.

CE 7: Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.

EM13LGG701: Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos.

EM13LGG102: Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade.

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Competências e habilidade

EM13LP03: Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paródias e estilizações, entre outras possibilidades.

EM13LP15: Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e multissemióticos, considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir.

EM13LP17: Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe, videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas multimídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de produção de sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas.

EM13LP18: Utilizar softwares de edição de textos, fotos, vídeos e áudio, além de ferramentas e ambientes colaborativos para criar textos e produções multissemióticas com finalidades diversas, explorando os recursos e efeitos disponíveis e apropriando-se de práticas colaborativas de escrita, de construção coletiva do conhecimento e de desenvolvimento de projetos.

EM13LP20: Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/problemas/questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizando diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins.

EM13LP29: Resumir e resenhar textos, com o manejo adequado das vozes envolvidas (do autor da obra e do resenhador), por meio do uso de paráfrases, marcas do discurso reportado e citações, para uso em textos de divulgação de estudos e pesquisas.

EM13LP46: Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

EM13LP49: Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

EM13LP52: Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

EM13LP53: Produzir apresentações e comentários apreciativos e críticos sobre livros, filmes, discos, canções, espetáculos de teatro e dança, exposições etc. (resenhas, vlogs e podcasts literários e artísticos, playlists comentadas, fanzines, e-zines etc.).

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propostas de atividades ii

Além de Linguagens e suas Tecnologias, a leitura do romance A revolução dos bichos possibilita uma abordagem na perspectiva de outros componentes curriculares, por meio de atividades relacionadas a outros campos do saber. A seguir, apresentamos algumas sugestões de atividades que podem ser propostas aos estudantes.

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Regimes políticos

Em relação à área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, desde uma primeira leitura, o romance A revolução dos bichos possibilita a inferência do tema explicitamente político da fábula. Trata-se, sabemos, da narração de uma mudança de regime político. Para uma melhor compreensão dessas estruturas, pode ser proposta uma atividade de pesquisa e discussão oral sobre as diferentes formas de regimes políticos conhecidos. Como afirma a BNCC:

A política está na origem do pensamento filosófico. Na Grécia Antiga, o exercício da argumentação e a discussão sobre os destinos das cidades e suas leis estimularam a retórica e a abstração como práticas necessárias para o debate em torno do bem comum. Esse exercício permitiu ao cidadão da pólis compreender a política como produção humana capaz de favorecer as relações entre pessoas e povos e, ao mesmo tempo, desenvolver a crítica a mecanismos políticos como a demagogia e a manipulação do interesse público. A política, em sua origem grega, foi o instrumento utilizado para combater os autoritarismos, as tiranias, os terrores, as violências e as múl tiplas formas de destruição da vida pública (BRASIL, 2018, p. 556).

O objetivo desta atividade é fazer com que os alunos, ao realizarem as pesquisas e o compartilhamento de resultados, reflitam e percebam que regimes políticos são frutos de uma época, de uma forma específica de pensamento e de uma ideologia dominante e que possuem, entre si, diferenças e fundamentos similares.

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Proponha, também, que os estudantes organizem as informações em slides para serem apresentadas à turma em forma de seminário. Ao final, promova um debate sobre o tema.

Antes da leitura

É importante destacar o tom político da narração. Apesar de isso ficar claro na leitura, inúmeros paratextos e textos da fortuna crítica desse romance propõem-no como uma metáfora de regimes políticos. Proponha os seguintes questionamentos à turma:

1. Na opinião de vocês, o que é e para que serve a política? Resposta pessoal. Promova um debate sobre o conceito de “política”, permitindo que os alunos interajam e troquem ideias, a fim de chegar a uma conclusão coletiva, ou seja, a turma deve construir conjuntamente esse conceito e, depois, compará-lo com os resultados da pesquisa proposta na subseção Depois da leitura.

2. Qual a importância de um regime político que tenha como objetivo o bem comum? Resposta pessoal.

Durante a leitura

Oriente os alunos a fazerem anotações sobre as descrições dos personagens, suas ações e discursos. Peça que observem as etapas da tomada de poder por parte dos animais, para que, depois, possam julgá-la justa ou não. Se necessário, peça que comparem a situação antes da revolução e depois, enfatizando os trabalhos e dificuldades a que eram sujeitados os bichos por parte de Jones.

Oriente-os, ainda, a atentarem para a ausência dos motivos na fábula, isto é, o porquê das ações de alguns personagens, em especial de Napoleão.

Por fim, enfatize que se trata de uma sátira; portanto, os alunos devem observar com atenção a personificação dos animais e a ironia do narrador.

Oriente-os a registrarem trechos que consideram importantes, pois eles podem ser usados, depois da leitura, para comprovar/justificar determinada leitura ou opinião.

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Depois da leitura

1. Pesquisa

Para que os alunos possam discutir o romance com embasamentos históricos e sociológicos, peça que, em grupos, pesquisem diferentes regimes políticos antigos e contemporâneos. Informe a eles que, em geral, os regimes políticos são divididos em três grandes grupos: Democracia (poder de muitos), Oligarquia (poder de poucos) e Autocracia (poder de uma pessoa).

Grupo 1: Caciquismo/ Mandonismo

• Grupo 2: Absolutismo

• Grupo 3: Czarismo

• Grupo 4: Ditadura

• Grupo 5: Democracia

• Grupo 6: Autoritarismo

Grupo 7: Totalitarismo

Outra possibilidade é dividir os grupos conforme os regimes políticos em voga em ao menos um país no mundo de hoje. Algumas possibilidades são as repúblicas (parlamentares, presidencialistas totais, presidencialistas parlamentares, semipresidencialistas, unipartidárias), monarquias parlamentares constitucionais e ditaduras militares.

Peça que, na pesquisa, busquem informações como:

• Características das formas de regimes políticos;

• Países nos quais o regime político está em exercício;

• Papel da imprensa nesses países;

• Principais dificuldades políticas encontradas nesses países.

Oriente os alunos a pesquisarem em fontes diversas, atuais e confiáveis, seja em publicações físicas, seja na internet. Peça que deem preferência a sites institucionais, pois neles costuma haver um processo rigoroso de apuração de informação. É importante também fazer uma leitura crítica em relação ao tema, não buscando informações apenas em fontes que agradam pela posição política. Por se tratar de tema complexo, é essencial pesquisar contrapontos para determinadas questões, como papel do chefe político, limites para a interferência (estrangeira e/ou militar), o papel de outras formas de poder (como o judiciário e o legislativo, por exemplo) etc.

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2. Seminário

Por fim, oriente cada grupo a organizar as informações obtidas em uma apresentação em slides. Marque com antecedência uma data para as apresentações, indicando também a duração de cada uma delas.

Oriente-os, caso necessário, a distribuírem as informações em tópicos e itens, economizando na quantidade de texto para não poluir os slides com excesso de informação. A mesma recomendação vale para as cores de fundo e para as fontes utilizadas bem como o seu tipo.

Outras orientações podem ser sugeridas, como evitar a leitura durante a apresentação; indicar exemplos com reportagens e fotografias, sempre que possível, e sobre a possibilidade de inclusão de outras mídias, como músicas e trechos de filmes e documentários.

3. Debate

Ao findar as apresentações, promova um debate sobre o que foi apreendido. Mediante questionamentos aos alunos, leve-os a se posicionarem sobre os regimes políticos e o exposto pelos grupos, concordando ou discordando da posição defendida. Aproveite a oportunidade e ressalte a importância de argumentar de forma responsável e ética na defesa de um ponto de vista, de forma tolerante e respeitando os Direitos Humanos.

Competências e habilidade

CE 1: Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.

CE 6: Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

EM13CHS101: Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

EM13CHS103: Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).

EM13CHS603: Compreender e aplicar conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de governo, soberania etc.) na análise da formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas.

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Ditaduras latino-americanas

De acordo com estudo realizado pelo centro de reflexão britânico Economist Intelligence Unit, em 2018, 34% da população mundial viviam sob regime autoritário. Os governos autoritários seguem uma trajetória semelhante à desenvolvida por Orwell em sua narrativa. Os temas apresentados em A revolução dos bichos ilustram as tendências das sociedades modernas que, se não necessariamente conduzem ao totalitarismo, certamente levam ao autoritarismo.

A fim de ampliar os conhecimentos dos alunos acerca desses regimes que tanto marcaram a história de nosso continente, proponha uma pesquisa com a mesma organização da atividade anterior. Os grupos podem, nesta atividade, ser divididos de acordo com as ditaduras e regimes autoritários que serão abordados. Algumas sugestões são:

Argentina (1930-1938), (1955-1958), (1966-1973), (1976-1983)

Bolívia (1971-1985)

Brasil (1889-1894), (1930) e (1964-1985)

Chile (1973-1990)

Colômbia (1953-1957)

Costa Rica (1863-1866), (1868-1876), (1877-1882) e (1917-1919)

Cuba (1933-1959)

República Dominicana (1889-1899) e (1930-1961)

El Salvador (1931-1979)

Equador (1972-1979)

Guatemala (1954-1996)

Honduras (1963-1974)

México (1853-1855) e (1876-1910)

Nicarágua (1925-1936), (1936-1956), (1956-1966), (1966-1976) e (1976-1985)

Paraguai (1954-1989)

Peru (1968-1980)

Uruguai (1875-1890) e (1973-1984)

Venezuela (1847-1858), (1908-1935) e (1948-1958)

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Ao concluir as apresentações, promova um debate sobre o que foi apreendido pelos alunos. Por meio de questionamentos, leve-os a se posicionarem sobre os regimes políticos ditatoriais e suas privações: liberdade de imprensa, censura artística, monitoramento de cidadãos etc. Aproveite a oportunidade e ressalte a importância de argumentar de forma responsável e ética na defesa de um ponto de vista, de forma tolerante e respeitando os Direitos Humanos.

Competências e habilidade

CE 1: Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, cientí ficos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.

CE 6: Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

EM13CHS101: Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

EM13CHS103: Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).

EM13CHS602: Identificar, caracterizar e relacionar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, do diálogo e da promoção da cidadania.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias

“Todos os animais são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros.”

Para a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a leitura do romance permite um excelente momento de provocação e debate ao abordar uma teoria que pensávamos superada, a de que nossa sociedade e civilização estão fundamentadas em uma predileção genética baseada nas raças, indo contra a ideia de que todos os seres humanos são iguais em essência.

Antes da leitura

Questione os alunos se eles se lembram de momentos da História em que a raça fundamentou uma predileção particular. Sonde também suas opiniões sobre a

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questão do preconceito existente na sociedade atual em relação a etnias diferentes. Pergunte, por exemplo, se já testemunharam casos de preconceito ou racismo. Enfatize que esse é um problema social, não apenas de uma ou outra etnia: todo aquele que é visto como “menos igual” está sujeito a ser vítima.

Durante a leitura

Oriente os alunos a registrarem os momentos em que há uma distinção nítida entre raças, e como esses momentos são organizados na narrativa. O objetivo aqui é possibilitar a visualização da estruturação do discurso hegemônico de uma determinada espécie.

Depois da leitura

Releia com os alunos o sétimo mandamento em suas duas versões. A partir de sua ideia final “Todos os animais são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros” (uma deturpação de um dos princípios básicos do Animalismo), promova uma atividade de leitura de fontes teóricas seguida de debate, refletir sobre o uso indevido de teorias científicas para justificar o preconceito, o racismo e a segregação de pessoas, privando-as de direitos.

Sugestões de leitura para a atividade:

• COELHO, W. N.; COELHO, M. C. (Orgs.). Raça, cor e diferença: a escola e a diversidade. Belo Horizonte: Mazza, 2008.

• RAMOS, Jair de Souza. “Ciência e racismo: uma leitura crítica de Raça e assimilação em Oliveira Vianna”. Hist. Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, pp. 573-601, ago. 2003. Disponível em: <https:// www.scielo.br/pdf/hcsm/v10n2/17751.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

• SANTOS, R. A.; SILVA, R. M. N. B. “Racismo científico no Brasil: um retrato racial do Brasil pós-escravatura”. Educ. rev., Curitiba, v. 34, n. 68, pp. 253-268, abr. 2018. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/er/ v34n68/0104-4060-er-34-68-253.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021.

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Competências e habilidade

CE 3: Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs).

EM13CNT305: Investigar e discutir o uso indevido de conhecimentos das Ciências da Natureza na justificativa de processos de discriminação, segregação e privação de direitos individuais e coletivos para promover a equidade e o respeito à diversidade.

Matemática e suas Tecnologias

A exploração do trabalho humano

Segundo a ONG Escravo, nem pensar!, a partir de dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), há pelo menos 20,9 milhões de pessoas no mundo que vivem sob regime de escravidão ou análogo.

Segundo o relatório Índice Global de Escravidão, publicado pela fundação Walk Free da Organização das Nações Unidas (ONU), esse número pode ultrapassar 40 milhões de pessoas no globo. No Brasil, estima-se que cerca de 370 mil pessoas exerçam atividades em regime análogo ao de escravidão.

Antes da leitura

Sonde os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema. Provavelmente citarão situações noticiadas pela imprensa, como a exploração de trabalho na indústria têxtil e em trabalhos braçais, como em carvoarias e plantações. Anote-as, se pertinentes, para que possam ser retomadas em outro momento.

Durante a leitura

Solicite atenção especial dos alunos na exploração e relação de trabalho, envolvidas em todo o enredo de A revolução dos bichos. Se possível, inicie a leitura em sala, com os alunos, analisando o primeiro capítulo mais demoradamente, em especial o discurso do porco Major: seus objetivos e seus argumentos. Oriente os alunos para que não depreciem nenhuma das relações estabelecidas, nem mesmo as dos bichos entre si; peça que as registrem em seus cadernos para que possam ser retomadas na atividade.

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Depois da leitura

Releia com os alunos o discurso inicial de Major, em especial o núcleo de seu argumento, expresso no trecho a seguir:

Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa vida? Vamos ser sinceros: nossas vidas são miseráveis, cheias de trabalho e curtas. Nascemos, recebemos apenas comida suficiente para manter nossos corpos respirando, e aqueles que aguentam isso são forçados a trabalhar até o último sopro de suas forças; e no instante em que nossa utilidade termina, somos abatidos com crueldade hedion da. Nenhum animal na Inglaterra conhece o significado de felicidade ou lazer depois de completar um ano de idade. Nenhum animal na Inglaterra é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a pura verdade. (p. 22)

Em seguida, converse com a turma sobre os conhecimentos de cada um sobre o tema: o que sabem, leram ou viram em noticiários sobre o trabalho escravo. É importante, ao abordar o tema, que embora tenha ocorrido a abolição legal da escravidão no Brasil, o povo negro continua lançado à margem da sociedade. Outro caminho interessante para a atividade é cruzar os dados e confirmar a relação entre escravidão e preconceito racial.

Informe os alunos que, de acordo com o artigo 149 do Código Penal Brasileiro, o trabalho análogo ao escravo é caracterizado por: condições degradantes de trabalho, não compatíveis com a dignidade humana, expondo a vida do trabalhador a riscos; jornada exaustiva, entendida como esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta danos à saúde física e mental; e trabalho forçado e servidão por dívida. Esses elementos não definem de forma singular o trabalho escravo. Muitas vezes, mais de dois desses elementos são caracterizados na mesma situação. Não raro, todos eles.

Segundo o site da ONG Repórter Brasil, que também luta contra o trabalho escravo,

Não é apenas a ausência de liberdade que faz um trabalhador escravo, mas sim de dignidade. Todo ser humano nasce igual em direito à mesma digni dade. E, portanto, nascemos todos com os mesmos direitos fundamentais que, quando violados, nos arrancam dessa condição e nos transformam em coisas, instrumentos descartáveis de trabalho. Quando um trabalhador mantém sua liberdade, mas é excluído de condições mínimas de dignidade, temos também caracterizado trabalho escravo.

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A partir disso, organize os alunos em grupos para que pesquisem os números dos diferentes tipos de trabalho escravo no mundo contemporâneo:

• Indústria da pesca e de frutos do mar;

• No narcotráfico e produção de drogas;

• Escravidão sexual;

• Mendicância;

• Em propriedades particulares;

• Indústria têxtil e de calçados.

1. Oriente-os acerca da pesquisa, que pode ser realizada em sites de ONGs que lutam contra o trabalho escravo e outras fontes confiáveis. Lembre-os de sempre checar as informações pesquisadas. Combine com a turma um dia para a entrega da pesquisa e apresentação dos dados.

2. Proponha aos estudantes que desenvolvam um gráfico de barras contendo as informações pesquisadas. Um grupo pode ficar responsável por juntar os resultados em um gráfico comparativo envolvendo o(s) tipo(s) de trabalho escravo mais frequentes, o que atinge mais pessoas, em mais países etc.

3. Dentro do possível, sugira aos alunos que consultem aplicativos e sites confiáveis e gratuitos para o desenvolvimento de gráficos e tabelas. Estabeleça uma data para a apresentação dos resultados.

Competências e habilidade

CE 1: Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.

CE4: Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferentes registros de representação matemáticos (algébrico, geométrico, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de resultados de problemas.

EM13MAT104: Interpretar taxas e índices de natureza socioeconômica (índice de desenvolvimento humano, taxas de inflação, entre outros), investigando os processos de cálculo desses números, para analisar criticamente a realidade e produzir argumentos.

EM13MAT406: Construir e interpretar tabelas e gráficos de frequência com base em dados obtidos em pesquisas por amostras estatísticas, incluindo ou não o uso de softwares que inter-relacionem estatística, geometria e álgebra.

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aprofundamento

O alerta sonoro avisa que chegou novo e-mail. Uma mensagem de texto do chefe cobra uma tarefa em atraso. E uma surpresa no sábado de manhã: um cartão-postal da amiga que está viajando. Textos como esses têm uma explícita intencionalidade: avisar sobre uma reunião, fazer uma cobrança, enviar uma lembrança. Esses textos “querem”, cada um, uma coisa específica. Talvez seja essa a primeira característica de um texto que se quer literário: ele não tem uma intencionalidade explícita, e muito menos pragmática. Literatura é o texto que quer somente significar algo para o leitor. Algo que ninguém sabe o que é, nem o escritor, nem o leitor, que só o descobre quando lê. Toda leitura é uma descoberta. A literatura desnuda uma experiência que fica disponível ao leitor. O leitor sente o texto literário. Como escreve George Orwell (2007, 39), “Não quero comentar a obra; se ela não falar por si mesma, é porque fracassou”. O leitor crítico é leitor atento ao que a obra diz (ou não diz).

Aqui, não queremos outra coisa senão conceder subsídios para que você, professor, possa trabalhar o romance A revolução dos bichos em sala de aula no que diz respeito à teoria literária, isto é, às estruturas linguísticas, semióticas e sociológicas que garantem ao texto caráter de literário. Diferente de um jornalista ou do porta-voz de um governante, o escritor não produz um texto para que ele informe algo a alguém, sendo o mais fiel possível à realidade. Um escritor literário escreve a partir desta nossa realidade, mas cria, por meio do signo linguístico, uma outra realidade independentemente do real. Assim, podemos falar, por exemplo, que Dom Quixote existe; existe desde quando Cervantes o escreveu e vai existir por muito tempo ainda. Mesmo não existindo na nossa realidade, Dom Quixote existe, e não podemos dizer o contrário. Vejam que a literatura mantém uma frágil relação com o que entendemos como realidade: o escritor parte desta realidade, é claro, mas cria outra totalmente singular.

E esse caráter de singularidade podemos constatar, por exemplo, analisando a forma como a linguagem é utilizada, e não apenas o que ela comunica. Em um texto literário, seja ele um romance ou um roteiro de teatro, toda ação do personagem tem seu significado na construção imagética que fazemos da descrição à qual o leitor/espectador tem acesso. Assim, se o personagem for, digamos,

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egoísta, as ações dele devem seguir e comprovar essa característica. A estrutura do texto, o uso não comum da linguagem, a escolha das palavras, a própria ação do personagem: tudo no texto literário tem função estética.1

Fábula ou romance?

Segundo seu autor, A revolução dos bichos é uma fábula satírica. Fábula enquanto intertexto, sátira enquanto tom. Claro que ambas as concepções são tomadas como empréstimo no século 20 de forma crítica dentro de um romance; e temos então uma fábula mais extensa do que aquelas de Esopo e uma sátira que termina com o gosto amargo do trágico.

Assim como o conto, tanto a fábula quanto o romance têm origem nos tempos primitivos, como textos narrativos vinculados pela oralidade, carregados de tradição, de memória, de ensinamento que não vêm daqui ou dali, mas de um tempo imemorial. Esses textos, conforme os conhecemos hoje em dia, apresentam entre si algumas características, como a presença de personagens, a ação narrativa e o conflito, por exemplo; mas também apresentam distinções, que, na maioria das vezes, dizem respeito ao número desses elementos. Um romance pode apresentar mais personagens que um conto, gênero que, por sua vez, é geralmente mais longo que uma fábula, cuja linguagem é concisa e direta, sem muitas explorações sobre os motivos dos personagens. Por isso, geralmente são empregados personagens animais, isto é, seres que vivem instintivamente, como forma de representar as vontades humanas como instintos, mostrando que certas características são inatas aos indivíduos, algo que, séculos depois, a Psicanálise não desmentiu.

Ao longo da história da literatura ocidental, Esopo, Jean de La Fontaine e tantos outros registraram e escreveram textos aparentemente inofensivos, tomados, muitas vezes, como histórias para crianças por usarem personagens animais. O uso de animais é, na verdade, uma premissa de liberdade para criticar hábitos julgados negativos na sociedade. O mais interessante é que, como o mito, a fábula, por sua concisão no núcleo narrativo, adapta-se com extrema facilidade a qualquer época, a qualquer tema. Não à toa, usamos em Teoria Literária os termos “mito” e “fábula” além do sentido do gênero que eles denominam.

1 Aristóteles, em sua obra Poética, datada do século 4 a.C., buscou sistematizar o formato e a estética dos gêneros literários gregos, propondo, assim, três funções da literatura: a cognitiva, a estética e a catártica. A essas funções foram acrescentadas outras por autores modernos, como a identitária e a político-social.

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O escravo grego Esopo, autor de histórias como “O leão e o rato”, “O lobo e o cordeiro” e “A raposa e a cegonha”, tão em no nosso imaginário quanto os mitos e contos de fadas, é certamente o mais conhecido autor da Antiguidade, mas é importante sabermos que não é o único.

As histórias a ele atribuídas foram editadas ininterruptamente desde a antiguidade e se confundem com a criação da imprensa, da qual foi um dos grandes sucessos – a primeira edição impressa das Fábulas é de 1474, data muito próxima da publicação da Bíblia de Gutemberg, 1455 (DUARTE, 2013, p. 9).

Se por um lado Esopo se torna “uma das maiores referências para a literatura infantil em todos os tempos” (p. 9), por outro, no seu tempo, as fábulas diziam respeito a toda a sociedade. Interessante, aliás, é a presença da imprensa em ambos os gêneros que nos interessam aqui: além da divulgação das fábulas, foi essa invenção que possibilitou o surgimento do romance moderno como o conhecemos.

A palavra “romance” tem diversos significados. Enquanto gênero literário, pode designar dois tipos diferentes de narração: uma primeira, que denomina o romance de origem popular, sem autoria específica, poético, de fundo histórico ou lírico, versificado, com ou sem rimas, transmitido oralmente, principalmente por cantadores medievais; e uma segunda., que denomina a composição em prosa, que se mantém como estrutura mais ou menos fixa desde o século 17, quando foi publicado Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, em 1605, o primeiro romance moderno.

A partir daí, o gênero épico se desenvolveu principalmente em três grandes gêneros literários: o romance, o conto e a novela. A diferença entre eles é, na maioria das vezes, muito sutil. As diferenças mais nítidas são o número de personagens e os conflitos dentro da narrativa, além da posição do clímax como ponto central da narrativa: no conto e na novela, o clímax, na maioria das vezes, é central na narrativa, momento-chave da ação; no romance, por sua vez, apresenta, muitas vezes, o clímax diluído em uma resolução.

Sobre as características do romance, Moisés (2013, p. 412) escreve: Estruturalmente, o romance caracteriza-se pela pluralidade de ação, pela coexistência de várias células dramáticas, conflitos ou dramas. Em princípio, não há limite para o número de células dramáticas que concorrem para a organização do romance. Entretanto, o ficcionista elege apenas algumas,

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as que podem harmonizar-se dentro de um conjunto. Assim, de modo genérico, o romance apresenta menos células dramáticas que a novela: esta pode estender-se para além do derradeiro episódio, ao passo que o romance termina completamente na última cena.

Com a imprensa e o advento da burguesia, o romance alcançou seu auge entre os séculos 18 e 19, caindo cada vez mais no gosto popular: assim como os gregos se viam nos heróis e deuses dos mitos, os sujeitos modernos se enxergam facilmente nas tramas e nos trabalhadores, operários, advogados e políticos representados nos romances, além das outras camadas sociais.

No século 20, o romance é desmontado: em um momento que se começou a se falar em crise do romance, ele ressurge em outra forma, dando cada vez mais vazão à consciência dos personagens, à medida que as ações em si iam perdendo força ao longo do enredo. É isso que encontramos nos romances de Marcel Proust, por exemplo, e em Virginia Woolf ou Clarice Lispector: o tempo cronológico da narrativa, antes definido de forma linear em começo, meio e fim, agora não faz mais sentido. As noções de passado e futuro se misturam na consciência, no ambiente do sonho, da loucura. Estamos no tempo psicológico, em que um dia dura mil anos, e o foco narrativo dá lugar ao fluxo de consciência.

Além disso, imageticamente, o romance é fortemente influenciado pela foto grafia e pelo cinema.

Após as duas grandes guerras, o romance, assim como toda a literatura, se viu diante da barbárie, do Holocausto; diante daquilo que não pode ser descrito, porque extrapola a linguagem: o trauma. O filósofo alemão Walter Benjamin (1987) bem mostrou o efeito de duas guerras na narrativa: perdeu-se o seu principal elemento: o narrador. Esses dois acontecimentos, somados aos movimentos totalitários que surgem na mesma época, são cruciais para entendermos dois dos grandes escritores da primeira metade do século 20: Franz Kafka e George Orwell. Kafka tinha 20 anos quando Orwell nasceu, e Orwell tinha 20 anos quando Kafka morreu. Ambos representam a realidade por meio do absurdo, como escreve Mario Vargas Llosa:

O adjetivo “orwelliano”, primo em primeiro grau de “kafkiano”, refere-se à angústia opressiva e à sensação de absurdo extremo que geraram as ditaduras totalitárias do século XX, as mais refinadas, cruéis e absolutas da História, em seu controle dos atos, da psique e até dos sonhos dos membros de uma sociedade. […] a palavra “orwelliano” permanece como lembrança de uma

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das experiências político-sociais mais devastadoras vividas pela civilização, e que os romances e ensaios de George Orwell nos ajudaram a compreender nos seus mecanismos mais recônditos (2009, p. 30).

Assim como fez Franz Kafka, ao afastar seu relato de uma realidade humana, aproxima-se o humano do animal. Como uma boa criação ficcional, os animais de A revolução dos bichos “nos arrancam de nossa prisão realista, conduzem e guiam pelos mundos da fantasia, abrem-nos os olhos sobre aspectos desconhecidos e secretos da nossa condição, e nos dão os instrumentos para explorar e entender mais os abismos do que é humano” (LLOSA, 2009, p. 29). Orwell faz isso duplamente. A primeira, como literatura; a segunda, ao tomar a deturpação da informação como um dos principais elementos de um regime autoritário. Como escreve Llosa: “a irrealidade e as mentiras da literatura são também um veículo precioso para o conhecimento de verdades ocultas da realidade humana” (LLOSA, 2009, p. 30).

Leitura e escrita literárias

George Orwell escreveu em “Por que escrevo”, ensaio de 1946, recém-publicado no Brasil, algumas razões pelas quais, para ele, alguém escreve. “Eu tinha o hábito”, relata, “próprio à criança solitária, de inventar histórias e conversar com pessoas imaginárias” (ORWELL, 2021, p. 88). Imaginava-se em situações, como sendo algum herói, estilo Robin Hood. Só com cerca de 16 anos ele descobre “a alegria das meras palavras, isto é, dos sons e das associações dos mesmos” (p. 89). Havia, desde sempre, uma necessidade de descrever as coisas, de contar histórias para si. Orwell faz essa retomada autobiográfica, porque entende a literatura como resultado de uma série de vivências e experiências que ele, sujeito escritor, viveu e experimentou.

Deixando de lado a necessidade de ganhar a vida, acho que há quatro gran des motivos para escrever, pelo menos para escrever prosa. Eles existem em diferentes graus em cada autor, e as proporções variam de tempos em tem pos em cada escritor, de acordo com a atmosfera em que vive (ORWELL, 2021, p. 90).

São eles: o puro egoísmo, o entusiasmo estético, o impulso histórico e o propósito político. Para Orwell, o escrever vai desde uma escala mais superficial, de alguém que quer parecer inteligente e ser lembrado, até aqueles que são praticamente forçados a escrever porque as circunstâncias, histórica e políticas, assim exigiam. Nas palavras de Orwell, o “desejo de ver as coisas como elas são, descobrir fatos verdadeiros e guardá-los para uso da posteridade”.

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Entre um e outro, o estético, isto é:

Percepção do belo no mundo externo ou, por outro lado, em palavras e em seu arranjo correto. Prazer no impacto de um som sobre o outro, na firmeza da boa prosa ou no ritmo de contar uma boa história. O desejo de compartilhar uma experiência tida como valiosa e como uma experiência que não deve se perder (ORWELL, 2021, p. 90).

Orwell lembra que qualquer texto pode ser um texto estético-literário, pois ele diz respeito a “palavras e frases de estimação que o atraem por razões que não sejam utilitárias”. A linguagem literária, portanto, como dissemos no início deste tópico, é aquela que subverte a linguagem para um uso não comum, e isso causa um efeito na leitura. Como dita a BNCC:

Como linguagem artisticamente organizada, a literatura enriquece nossa percepção e nossa visão de mundo. Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que estamos vendo/vivenciando (BRASIL, 2018, p. 499).

No caso de A revolução dos bichos, Orwell deixa claro ser seu primeiro livro em que, conscientemente, ele tentou fundir o propósito político com o estético. Como todos os livros que ele escreveu, esse também nasce de um sentimento de injustiça, “porque há alguma mentira que pretendo expor, algum fato ao qual quero chamar atenção” (ORWELL, 2021, p. 93). No fim das contas, ele sabe:

Não sou capaz de abandonar completamente a visão de mundo que adquiri na infância, e não quero fazê-lo. Enquanto eu seguir vivo e bem, continuarei interessado no estilo da prosa, em amar a superfície da terra, em ter prazer material e no deleite com informações inúteis (ORWELL, 2021, p. 93).

Essa rápida retomada a esse texto do escritor é para evidenciar a estreita relação entre a leitura literária e a escrita, uma vez que, dentre os vários benefícios da leitura de textos ficcionais e poéticos, está o impulso, muitas vezes simultâneo, de descrever ou narrar experiências e sensações. Esse impulso, em outros tempos, era desenvolvido na escrita de cartas e diários, práticas que diminuem cada vez mais com o avanço dos meios de escrita digital. Talvez seja esse o mais importante objetivo aqui: a esperança de que a leitura de textos clássicos, como é o caso de A revolução dos bichos, desperte, em alunos e professores, o impulso literário não

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só enquanto leitura, mas também enquanto escrita, além, é claro, do despertar político diante das injustiças.

Para o escritor e professor de escrita criativa Luiz Antônio de Assis Brasil, escrever literatura

[…] pressupõe o conhecimento de circunstâncias extraliterárias. Mas isso não significa acumular dados na memória, armazená-los num computador ou registrá-los num caderno de anotações. É preciso integrar esses conhecimentos e, do resultado, deduzir coisas diferentes do que sua mera adição (2019, p. 14).

Tal domínio, como também afirma Orwell em seu ensaio, chama-se técnica, e ela se desenvolve de diferentes maneiras nas diferentes pessoas. Orwell lembra o som das palavras, o som do choque entre elas. Alguns escritores evocam a obsessão em intuir ou imaginar os pensamentos e motivos de pessoas comuns nas ruas, nas praças: a mãe que carrega os três filhos (vão para onde?), a senhora sentada na praça (o que espera? ou quem?), o homem que, desesperado, corre pela avenida (atrasado? fugindo?). O importante, escreve Orwell evocando Shakespeare, é ser fiel a si próprio: “A primeira coisa que esperamos de um escritor é que não diga mentiras, que diga o que de fato pensa, o que de fato sente. O pior que se pode dizer acerca de uma obra de arte é que ela não é sincera” (ORWELL, 2020, p. 78). Mesmo em uma história das mais fabulosas, como é o caso de A revolução dos bichos, a autenticidade do nar rador, seu compromisso com seu contexto de produção, tudo isso garante à obra a sua verdade, embora seja tudo ficção. Ao serem escritos, explica Afrânio Coutinho, “os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social” (1978, p. 10).

Esperamos que a leitura e o trabalho com o romance A revolução dos bichos sejam proveitosos. Não à toa, essa obra já é considerada um clássico da literatura do século 20. Repetindo aqui as palavras do escritor Italo Calvino:

O clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber) mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira particular). E mesmo esta é uma surpresa que dá muita satisfação, como sempre dá a descoberta de uma origem, de uma relação, de uma pertinência (2007, p. 12).

Que assim seja.

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sugestÕ es de refer Ê ncias complementares

A fim de enriquecer e ampliar o trabalho com o romance A revolução dos bichos, são propostas a seguir atividades e referências com o intuito de estabelecer relações intertextuais e interdiscursivas nos cinco campos da atuação social: campo da vida pessoal, campo da vida pública, campo jornalístico-midiático, campo artístico-literário e campo das práticas de estudo e pesquisa.

Campo da vida pessoal

Ao lado da metáfora das transformações de um regime político para outro, A revolução dos bichos ilustra também as diferentes relações de trabalho. No Ensino Médio, tal preocupação permeia o imaginário dos alunos, muitas vezes causando ansiedade e desespero diante do universo que se abre e se chama futuro. A fim de discutir essas relações, tanto problematizando suas estruturas a partir de pensadores quanto em uma perspectiva futurista, sugerimos a conferência TED, de Carlos Piazza, fundador da CPC, empresa de negócios digitais especializada em transformação e aceleração digitais e seus impactos na sociedade. Assista à conferência “Não confunda trabalho com emprego e tudo isso com sua vida!”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=d9-YvDhfEzw>.

Acesso em: 19 fev. 2021.

Após, juntos, assistirem à conferência, discuta com os alunos o que eles entendem como relações de trabalho e qual a importância de estarem conscientes dessas estruturas. Questione-os, durante o debate, como eles acreditam que será o futuro da profissão que almejam exercer. Organize a turma de forma que todos tenham seu momento de fala, respeitando sempre os momentos de escuta.

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Campo das práticas de estudo e pesquisa

Tema importante e que pode ser trabalhado com a leitura do romance é o da Guerra Fria, conceito, aliás, empregado pela primeira vez justamente por George Orwell. A partir de um longa-metragem, propomos uma atividade argumentativa e de escrita sobre o conflito político e cultural entre os Estados Unidos e a União Soviética. O objetivo desta atividade é ampliar o repertório cultural dos alunos, evidenciando o papel crítico das linguagens artísticas, neste caso, o cinema.

1ª sugestão: Dr. Fantástico. Direção de Stanley Kubrick. 1964.

2ª sugestão: Boa noite e boa sorte. Direção de George Clooney. 2005.

De diferentes formas, os filmes sugeridos tratam da paranoia e do militarismo na guerra política e cultural entre os dois países. Após assistirem a um deles, peça aos alunos, para ampliação da discussão, uma breve pesquisa sobre as relações entre a Guerra Fria, a indústria cultural, a cultura de massa e o consumismo.

Após concluírem a pesquisa, peça aos alunos que redijam um texto, apontem essas relações e problematizem a partir de alguns elementos de A revolução dos bichos, em especial aqueles relacionados com a manipulação da informação para manutenção do status quo.

Campo jornalístico-midiático

Ao iniciar esta atividade, informe aos alunos que George Orwell, além de escritor, foi jornalista. Muitos escritores do século 20 transitaram pelas suas esferas, dividindo sua obrigação com a verdade dos fatos e sua ilusão criativa. Convide os estudantes a assistirem ao breve documentário sobre a vida e a obra de George Orwell, produzido pelo canal Antofágica, disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=J7wzzidiH_I>. Acesso em: 18 fev. 2021.

Se houver tempo para o trabalho com um filme mais longo e de abordagem mais ampla, indicamos o docudrama produzido pela BBC Television, em 2003, George Orwell: A Life in Pictures [Uma vida em imagens] que retrata a história de vida do escritor britânico, representado por Chris Langham, já que nenhuma gravação de som ou vídeo real foi encontrada. O filme é facilmente encontrado na internet, legendado, nas plataformas de streaming.

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Em seguida, solicite aos alunos uma pesquisa sobre a vida e a obra de outros escritores-jornalistas. Algumas sugestões são:

• João do Rio (1881-1921);

• Euclides da Cunha (1886-1909);

• Mário de Andrade (1883-1945);

• Truman Capote (1924-1984);

• Paulo Francis (1930-1997);

• Vladimir Herzog (1937-1975);

• Hunter S. Thompson (1937-2005).

Combine com a turma um dia para apresentação das informações pesquisadas. Se necessário, oriente os alunos na produção de slides.

Campo de atuação na vida pública

Conhecer e entender como funcionam as relações de trabalho e como são estruturadas é dever de todo cidadão, uma vez que há leis que amparam o traba lhador em diferentes situações. A revolução dos bichos apresenta uma metáfora de como essa relação pode pesar para um dos lados, impossibilitando o bem-estar da classe trabalhadora, que não usufrui daquilo que é produzido.

Para aprofundar a questão sobre os direitos básicos do trabalhador, sugerimos a leitura do capítulo “Dispositivos constitucionais pertinentes da Constituição da República Federativa do Brasil, primeira parte da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e normas correlatas (Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017, pp. 13-16”. Disponível em: <https://www2.senado. leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/535468/clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2021).

Em seguida, solicite aos alunos que escrevam um texto dissertativo com o tema: “Lucro e direitos do trabalhador: limites e abusos”. Se achar pertinente, após a entrega da dissertação, promova também um debate para exposições orais das ideias dos alunos, lembrando que esses momentos devem refletir respeito e diálogo.

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Campo artístico-literário

Muitos filmes de longa metragem dialogam com o tema abordado em A revolução dos bichos, empregando, como fez Orwell, elementos metafóricos para representar a luta de classes, tanto explícita quanto aquela estrutural, que permeia nossa sociedade como um todo e a divide em diferentes relações de poder. A fim de melhor debater sobre essas questões, atividade interessante é fazer uma análise comparada entre o romance A revolução dos bichos e um longa-metragem. Alguns filmes que podem ser sugeridos são:

• O poço. Direção de Galder Gaztelu-Urrutia. Espanha: Netflix, 2019. (94 min.).

Distopia que retrata a luta de classes como um enorme poço com 132 níveis nos quais diferentes personagens ficam, em duplas, durante 30 dias. Uma plataforma atravessa todos os níveis, coberta de comida, todos os dias, permanecendo em cada um deles por alguns minutos. Metáfora de como os que estão no topo são beneficiados, o filme se destaca por apresentar de forma concreta um conceito abstrato.

• Parasita. Direção de Bong Joon-ho. Coreia do Sul: CJ Entertainment, 2019. (132 min.).

Filme de enorme sucesso internacional, retrata a convivência entre duas famílias, uma servindo à outra, até que uma noite de forte chuva coloca todas as relações de trabalho em xeque.

Após assistirem ao filme escolhido, solicite aos alunos que escrevam uma resenha crítica sobre o material. Se achar pertinente, os filmes podem ser divididos entre os alunos e, assim, eles podem circular seus textos para os colegas que não assistiram ao mesmo filme. Ainda é possível convidar alguns alunos que queiram para ler suas resenhas para a turma.

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Bi B liografia comentada

BENJAMIN, Walter. “O narrador”. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. (Obras escolhidas v. 1.). Trad. Sergio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Ensaio clássico de um dos maiores pensadores do século 20, “O narrador” analisa o fim da narração tradicional no início do século.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, MEC/SEB/CNE, 2018.

Documento que norteia as competências e habilidades a serem desenvolvidas durante a Educação Básica, no sentido de subsidiar os currículos municipais, estaduais e federais.

BRASIL, Luiz Antônio de Assis. Escrever ficção: um manual de criação literária. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

Com mais de 20 livros publicados, o escritor e professor Luiz Antônio de Assis Brasil é uma das maiores autoridades brasileiras no campo da escrita criativa, cuja experiência e conselhos estão reunidas nesse livro.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos? Trad. Nilson Moulin. Companhia das Letras: São Paulo, 2007.

Obra fundamental do escritor italiano. Na obra, em linguagem acessível, Calvino discorre sobre os fatores que ajudam a iluminar o que é um clássico.

COUTINHO, Afrânio. Notas literárias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Essa importantíssima obra da teoria literária brasileira oferece um estudo dos conceitos básicos da disciplina, como uma definição do que é literatura e dos gêneros contemplados pela linguagem literária.

DUARTE, Adriane. “Esopo e a tradição da fábula”. In: ESOPO. Fábulas completas. Trad. Maria Celeste C. Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013. Reunião de todas as fábulas conhecidas de Esopo, com tradução direta do grego e uma ótima apresentação assinada por Adriane Duarte.

LLOSA, Mario Vargas. “É possível pensar o mundo moderno sem o romance?”

In: MORETTI, Franco (Org.). O romance: a cultura do romance. v. 1. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

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Nesta obra, fundamental para o estudo do romance, Franco Moretti reúne dezenas de vozes que analisam o gênero romance ao longo da sua trajetória na história da cultura humana.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12ª ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Cultrix, 2013. Obra fundamental para o estudo e ensino de literatura, abrangendo seus principais conceitos, gêneros e elementos.

ORWELL, George. “Por que escrevo”. In: Fazenda dos Animais: ou A revolução dos bichos. Edição integral. Inclui prefácio do autor e tradução inédita de “Por que escrevo”. Trad. André Batista. Amazon: 2021. Ensaio recém-publicado no Brasil, trata-se de uma autoanálise de como Orwell compreendeu seu papel como escritor.

ORWELL, George. Prefácio do autor à edição ucraniana (1947). In: A revolução dos bichos: um conto de fadas. Trad. Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Prefácio escrito em 1947, sob encomenda, no qual Orwell analisa brevemente alguns motivos na escrita de A revolução dos bichos.

ORWELL, George. Sobre a verdade. Trad. Claudio Alves Marcondes. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. Reunião de trechos de ensaios, reportagens, cartas e romances nos quais George Orwell discute os conceitos de verdade e mentira, além de ficção e história. Trata-se de um excelente complemento para a análise da ficção orwelliana.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Trad. Claudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998. Lançada no Brasil em 1992, essa obra segue até hoje como uma das grandes referências sobre o ensino de leitura e o papel do professor na formação de leitores na escola. A autora, professora na Universidade de Barcelona, Espanha, aponta alguns caminhos para que o professor possa promover a autonomia dos alunos nesse complexo processo que é a leitura, incluindo o das estratégias que favorecem a interpretação e a compreensão de textos.

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A revolução dos bichos George Orwell

Coordenação Editorial: Fernanda Emediato

Elaboração do conteúdo: Marcia Paganini Cavéquia

Revisão: Josias A. de Andrade e Hugo Almeida

Leitura crítica: Ricardo Augusto de Lima

Projeto gráfico e diagramação: Alan Maia

ISBN: 978-65-88436-13-4

Temas: Cidadania e Diálogos com a sociologia e antropologia

Gênero: Romance

Ensino Médio Troi A E D i Tor A Avenida Mofarrej, 348 – Vila Leopoldina CEP: 05311-000 – São Paulo – SP

1ª edição 2021

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iSBN (13) 978-65-88436-13-4 p
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or m arcia p aganini c avéquia
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