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Trecho de considerações extemporâneas

Manual de Sobrevivência Filosófico

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72 vida”, que questiona e recusa qualquer doutrina que drene a expansão das nossas energias.

Mas nietzsche não era filósofo de formação. ele estudou nas Universidades de bonn e leipzig, tornando-se, em 1868, professor de filologia grega na Universidade de basileia (suíça). em 1879, depois de ter um colapso nervoso, retirou-se da vida acadêmica e fez uma série de viagens pela suíça, itália e frança. o cara padecia de dores de cabeça fortíssimas e mal aguentava a luminosidade. viajava para lugares sossegados, onde podia se sustentar com sua magra pensão de professor aposentado por invalidez. em 1889, sofreu uma crise de loucura da qual não se recuperou até a morte. a filosofia de nietzsche não segue um sistema e é fragmentária, porque seu pensamento se desenvolveu em um sentido mais poético e crítico do que teórico e doutrinário. ele até é chamado de “filósofo poeta” por causa do seu estilo. nesses textos cáusticos ele detona os valores tradicionais e decadentes da cultura ocidental, o conservadorismo, a estreiteza da visão de mundo burguesa, o cristianismo. Tudo isso, para ele, estabelece uma forma de vida contrária à criatividade e à espontaneidade da natureza humana. castra, enfim, nossa humanidade.

Trecho de Considerações Extemporâneas

Neste texto, Nietzsche alerta contra aquilo que chamou de “caráter perigoso” da ciência, que vai produzir um trabalhador e um ser humano impessoal e sem autonomia. Hum… onde será que eu vi isso antes? Ah, aqui, na megacientífica pós-modernidade!

o juízo dos antigos filósofos gregos sobre o valor da existência diz tão mais do que um juízo moderno, porque eles

lUcrÉcio • esPinosa • scHoPenHaUer • ePiTeTo • KierKeGaarD Desejo

tinham diante de si e em torno de si a vida mesma em uma exuberante perfeição e porque neles o sentimento do pensador não se confunde, como entre nós, no dilema entre o desejo de liberdade, beleza e grandeza da vida e o impulso à verdade, que pergunta somente: o que vale em geral a existência? Permanece importante para todos os tempos saber o que Empédocles, em meio ao mais vigoroso e ao mais efusivo prazer de viver da cultura grega, enunciou sobre a existência; seu juízo pesa muito, tanto que nem um único juízo em contrário, de algum outro grande filósofo do mesmo grande tempo, o contradiz. ele apenas fala com clareza maior, mas no fundo — ou seja, para quem abre um pouco os ouvidos — todos eles dizem o mesmo. Um pensador moderno, como foi dito, sempre sofrerá de um desejo não cumprido: exigirá que antes lhe mostrem outra vez vida, vida verdadeira, vermelha, sadia, para que ele então emita sua sentença sobre ela. Pelo menos para si mesmo, ele considerará necessário ser um homem vivo, antes de poder acreditar que pode ser um juiz justo. aqui está o fundamento pelo qual os filósofos modernos estão precisamente entre os mais poderosos fomentadores da vida, da vontade de vida, e aspiram sair de seu próprio tempo extenuado em direção a uma civilização, a uma physis transfigurada. essa aspiração, entretanto, é também seu perigo: neles combatem o reformador da vida e o filósofo, isto é: o juiz da vida. seja qual for o lado para o qual se incline a vitória, é sempre uma vitória que encerrará em si uma perda.

 Empédocles

(490 – 435 a.C.) foi um filósofo

pré-socrático que viveu na Sicília. Mas, se você não se lembra desse cara, certamente conhece sua principal e mais influente teoria.

Empédocles escreveu um livro chamado

Sobre a Natureza, onde afirma que toda a matéria é formada por quatro elementos: terra, água, ar e fogo.

Essa ideia influenciou o pensamento e a ciência ocidentais até a metade do século 18.

 Empédocles, Friedrich Beer, 1875, estátua de pedra.

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