Nova ediição do suplemento Rússia

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“Moeda do Brics é viável”

DONAT SOROKIN/TASS

Um dos maiores empresários do país na atualidade, Oleg Sienko fala à Gazeta Russa P.4

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Este suplemento é preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 21 de novembro de 2014. Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Religião Governo anuncia ampliação de programa de construção de novas igrejas ortodoxas na capital de 200 para 380 unidades

Templos moscovitas geram debate Apesar de favorecidos, ortodoxos protestam contra a construção na capital de novas edificações islâmicas e budistas.

Para ortodoxos, convivência com judeus, muçulmanos e budistas causa não apenas conflitos, mas engarrafamentos

ANDRÊI MÉLNIKOV

Em 2011, a prefeitura de Moscou iniciou um programa para a construção de 200 igrejas ortodoxas na capital. Agora, o governo planeja dobrar esse número e construir 180 novas igrejas em Nóvaia Moskvá, como foi intitulado o território da capital integrado às áreas de outras cidades adjacentes. O diretor do programa e conselheiro do prefeito de Moscou e do Patriarca da Igreja Ortodoxa, Vladímir Résin, afirmou à Gazeta Russa que o programa tem orçamento independente do governo. “[O projeto] é realizado somente com doações e depende totalmente da demanda dos moradores”, disse Résin. Para o Patriarca Kirill, faltam pelo menos 200 igrejas ortodoxas na capital, segundo diz seu secretário, Vladímir Viguiliánski. “Kirill não é apenas o chefe da Igreja Ortodoxa, mas também o bispo da cidade de Moscou, e afirma que, entre todas as unidades da Federação Russa, Moscou ocupa a última posição em número de igrejas por habitante”, diz. Movimentos anticlericais moscovitas se manifestaram contra as igrejas ortodoxas. Mas os protestos contra as CONTINUA NA PÁGINA 3

YURI MASHKOV/TASS

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Desestalinização Primeiro grupo a se dedicar à lembrança de vítimas de desmandos soviéticos poderá ter as portas fechadas

Depois de ser classificada como “agente estrangeiro” em 2013, organização enfrenta audiências. Próxima será em 17 de dezembro. OLEG EGOROV, MARINA DARMAROS ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Classificado como “agente estrangeiro” sob uma lei de 2013 que assim batizou a maior parte das ONGs do país recebendo dinheiro do exterior, o grupo “Memorial” agora corre real perigo de fechar suas portas. Em outubro, o Ministério da Justiça da Rússia instaurou inquérito no Supremo Tribunal para dissolver a organização, alegando que sua licença não bate com as atividades executadas pela ONG. Uma audiência sobre o caso foi realizada em 13 de novembro, e outra foi marcada para 17 de novembro, mas adiada para 17 de dezembro, a pedido de ambas as partes. “Vamos usar o tempo adicional para consertar os pro-

blemas que o Ministério da Justiça levantou”, diz Oleg Orlov, um dos fundadores da organização. O grupo “Memorial” foi criado pela fusão de dezenas de organizações regionais espalhadas pelo país. Assim, a administração das subsidiárias por vezes não bate com a documentação oficial da matriz nacional. E é nessa falha administrativa que se baseia a acusação.

Reação O caso tem sido considerado uma “punição exemplar” por ativistas do país. “Espero que seja o fim dessa história. Uma conferência será realizada, e os pedidos sem fundamento do Ministério da Justiça serão cumpridos”, diz Liudmila Aleksêieva, fundadora da mais antiga organização de defesa dos direitos humanos da Rússia, o Grupo Moscou Helsinque. “A dissolução do ‘Memorial’ causará enormes danos à imagem do governo russo”, afir-

ma o chefe do Conselho Preside ncia l de Di r e it o s Humanos, Mikhail Fedotov. Fundado em 1989 na capital sob os auspícios do dissidente vencedor do Nobel Andrêi Sákharov, o ‘Memorial’ organiza um enorme evento para relembrar vítimas dos abusos estalinistas, intitulado “O regresso dos nomes”. A ação acontece todo 29 de outubro, véspera do Dia da Memória das Vítimas da Repressão Política, quando uma multidão se reúne no centro moscovita para ler em voz alta os nomes das pessoas executadas durante as repressões de Stálin. Desde a fundação do grupo, os ativistas do Memorial também se dedicam a monitorar novos casos de violação dos direitos humanos, trazendo-os a público e se ocupando da proteção jurídica das vítimas.

O líder reabilitado Apesar dos crimes do regime estalinista, muitos russos

ainda veem Iossif Stálin como um líder sábio, que usou meios rigorosos para alcançar propósitos necessários. De acordo com pesquisa realizada pelo Centro Levada em 2013 entre russos, armênios, azeris e georgianos, 49% dos entrevistados têm uma atitude positiva em relação a Stálin. Por outro lado, apenas 18% dos russos disseram desejar ter um líder como ele nos dias atuais. “A questão não está tanto no culto à personalidade de Stálin, mas no culto ao Estado. O culto ao líder será indestrutível enquanto na mente das pessoas a grandeza abstrata do império for mais importante do que o bem-estar dos cidadãos - o que, na minha opinião, é o principal critério para o sucesso do Estado”, disse à Gazeta Russa o copresidente do “Memorial”, Ian Ratchínski. Para ele, a época soviética habituou a sociedade à ideia de que o Estado está acima do indivíduo. Assim, ao pen-

AP/EASTNEWS

Sem ‘Memorial’, direitos humanos correm risco

Enquanto 49% dos russos veem Stálin com bons olhos, apenas 18% querem um líder como ele

sar na grandeza da URSS, as pessoas se esquecem do preço que se pagou por tal magnificência. Já a socióloga Olga Krichtanóvskaia acredita que a figura de Stálin tem um caráter mais complexo. “Aos olhos dos intelectuais pró-Ocidente, Stálin é um tirano e o criador da repressão. Mas o povo, em geral, se lembra dele como o responsável pela industrialização, o feitor de grandes conquistas, o vencedor da guerra. Ambas as coisas são verdades, e daqui

nascem esses dois pontos de vista antagônicos. Ninguém vai defender Stálin dizendo que a repressão foi uma coisa boa. Mas a verdade é mais m u l t i f a c e t a d a ”, d i z Krichtanóvskaia.

Relembrar e não repetir Na década de 1990, foi aprovada na Rússia a lei “Sobre a reabilitação das vítimas da repressão política” e criada uma comissão sob a alçada do presidente para acompanhar sua execução. De acordo com a lei, toda pessoa que tenha sido

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“vítima da arbitrariedade do Estado totalitário” tem o direito de ter seu nome reabilitado, em vida ou postumamente. O país também conta com uma série de museus de história da repressão política, como o Museu da Gulag e o Museu Sákharov, que têm enormes coleções de documentos sobre a repressão e utensílios do dia a dia dos presos nos campos de trabalho forçado. Ambos trabalham em estreita colaboração com o grupo “Memorial”.


Opinião

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa gazetarussa.com.br

O PRESIDENTE MUDA O TOM ANALISTA POLÍTICO

discurso de Vladímir Pútin no fórum de discussões anual Clube Valdai, no final da semana passada, pareceu muito duro para a maioria dos comentaristas. Se ignorarmos metáforas mordazes - como “dona da taiga” (característica atribuída à Rússia) e “geopolítica dos novos ricos”, que não conseguem administrar a riqueza ilimitada que possuem (atribuída aos Estados Unidos) -, a apresentação pode ser considerada mais como analítica que como populista. O fato de que o presidente russo não aceita a política norte-americana moderna não é novidade. Ele fala sobre isso há anos. Mas o tom mudou. Durante seu primeiro mandato, Pútin convidava a uma mudança de rumos, porque as ameaças comuns superavam os desacordos. Durante o segundo mandato, ele advertia que a Rússia não admitiria que sua opinião fosse ignorada. Durante a campanha eleitoral de 2012, ele estava perplexo, tentando entender a lógica das ações de Washington, que não fortalecem a ordem internacional, mas a destroem objetivamente. No discurso deste ano no Clube Valdai, sentiu-se o fatalismo: o orador já não confia na capacidade dos EUA de mudar, apenas constata suas ações destrutivas. Talvez seja essa falta de expectativas que produz o maior

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efeito, fazendo-nos interpretar o discurso de maneira negativa. Enquanto isso, a mensagem principal de Pútin foi bastante positiva, porque tinha muito em comum com o tema principal da reunião: a busca de novas regras que permitam o início da próxima fase de desenvolvimento da comunidade internacional. Até então, o mundo estava de fato em fase de erosão e, agora, passando por um rápido desmantelamento do sistema que se desenvolveu na segunda metade do século 20. A construção de uma nova ordem mundial, da qual tanto se falava há 25 anos, não teve êxito. Tudo começou como uma tentativa de encontrar um modelo comum que envolvesse as duas superpotências - a ordem foi imaginada assim por Mikhail Gorbatchov, o primeiro a falar dela. Com o colapso da União Soviética, os “arquitetos”, ou seja, os Estados Unidos, ficaram sozinhos. Ninguém conseguiu controlar os processos globais, e é mais provável que o contrário é que tenha ocorrido.

Mundo multipolar Pode-se dizer que o mundo multipolar que surge hoje não promete nem ordem, nem harmonia, nem equilíbrio. Isso foi expressado pelo presidente russo. Com o mundo multipolar, aumenta a anarquia global, porque o número de ‘players’ internacionais está crescendo e ainda não existem regras para o jogo.

TATIANA PERELYGINA

Atitude negativa dos EUA sobre Pútin é justificada, já que este questiona sua hegemonia É preciso promover a agitação das massas, das quais depende o debate sobre a nova ordem mundial

CRIMEIA ARMADA GERA INDIGNAÇÃO Víktor Litóvkin ANALISTA MILITAR

eagindo ao fortalecimento da presença da Otan no Leste Europeu, o gover no russo decretou a instalação de bases de aviões bombardeiros TU-22M3 e complexos estratégicos Iskander para afastar os navios da Sexta Frota americana da península da Crimeia. Apesar de possíveis ameaças, o país não pretende levar armas atômicas para a região. Mesmo assim, o presidente do Comitê das Forças Armadas do Congresso americano, Howard McCown, e o chefe do Subcomitê das Forças Estratégicas, Michael Rodgers, apresentaram ao presidente Barack Obama uma solicitação de rompimento de ligações com o governo russo devido à suposta transferência de armas nucleares à Crimeia. James Enofe, membro do Comitê de Forças Armadas do Senado americano, acredita que recentes atividades da Rússia podem ser consideradas uma ameaça direta aos Estados europeus. As autoridades americanas também apontam se tratar de uma violação do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado por Estados Unidos e União Soviética em 1987. O acordo estabeleceu o cancelamento dos projetos de produção de mísseis de cruzeiro de base terrestre com alcance de 500 a 5.500 quilômetros, assim como a destruição de todas as unidades já existentes.

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teoricamente não existe uma hegemonia eterna. Charles Krauthammer, que em 1990 introduziu o termo “momento unipolar” (em outras palavras, o período em que os Estados Unidos podiam fazer tudo o que consideravam necessário), advertiu que isso não iria durar para sempre. Aliás, ele quase adivinhou a duração do “momento”: entre 25 e 30 anos. Mas, na prática, a superioridade dos Estados Unidos era - e continua a ser - tão grande que não foram discutidos os outros modelos nos quais Wa-

Pútin é diferente dos líderes de outras potências porque não apenas condena e critica a política dos Estados Unidos (e há poucas pessoas que o fazem), mas sistematicamente rejeita seu papel. É isso o que provoca a maior reação. De fato, após a Guerra Fria, a dominação mundial dos Estados Unidos tornou-se um axioma, e qualquer transformação do mecanismo global passou a ser considerada como uma correção técnica dessa posição, e não sua alteração. Todos sabem, claro, que

A CEI APÓS O FIM DA URSS

sântemo-S, sistemas de defesa aérea antimíssil Pantsir-S1, assim como os sistemas de defesa eletrônica Krasnukha, entre outros. Um dos principais motivos para tanto é a defasagem em que se encontram os armamentos da Frota do Mar Negro devido à política adotada pelo governo ucraniano. Apesar de um acordo estabelecido com as autoridades russas em 1997, Kiev sempre criou barreiras para adiar a renovação da frota de navios militares russos e dos próprios dispositivos de combate, inclusive equipamentos hidrográficos e faróis, na península.

Arkádi Dubnov analista político

erta vez, um colega me contou como ficou sabendo do colapso da União Soviética em 1991, quando tinha apenas 15 anos de idade. “Depois do intervalo, a professora de russo entrou no auditório e disse que a União Soviética tinha acabado. A aula então continuou, e ela começou a falar sobre o escritor soviético Boris Pilniak, que no governo de Stálin foi punido com a pena de morte”, disse. A notícia não chocou a maioria dos soviéticos, preocupados com problemas cotidianos: a inflação crescia rapidamente, a moeda se desvalorizava, as prateleiras dos mercados estavam vazias. Mas as autoridades anunciavam que a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) substituiria a URSS, e até as forças armadas continuariam unidas. Hoje, quase um quarto de século após a formação dessa estrutura, é difícil encontrar alguém que tenha opinião favorável sobre a CEI. Um dos

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Sem armas nucleares

KONSTANTIN MALER

No entanto, o Departamento de Defesa norte-americano não abandona seus planos de posicionar 3 mil soldados com todo o equipamento necessário em bases militares recém-inaguradas na Bulgária e na Romênia.

EUA tem reservas de bombas atômicas na Europa, mas não quer antimísseis na península russa Além disso, na comunidade romena de Deveselu, localizada a apenas 500 quilômetros da cidade de Sevastopol, está sendo construída uma base de defesa antiaérea com sistema Aegis e complexos de defesa antimíssil MS-3. Nas águas do mar Negro, também têm sido avistados com certa frequência navios americanos equipados com o mesmo sistema Aegis e mísseis de cruzeiro Tomahawk, geralmente acompanha-

EXPEDIENTE WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;

dos por embarcações francesas, italianas e turcas.

Peças de museu A transferência de aviões de bombardeio de longo alcance TU-22M3 - que podem lançar tanto mísseis de cruzeiro comuns, quanto ogivas nucleares - e de complexos estratégicos Iskander-M para o aeródromo da Crimeia é apenas uma reação lógica à presença de navios militares dos Estados Unidos e da Otan nas proximidades das fronteiras russas. Os planos do governo russo também preveem a entrega de outros armamentos à península. Em breve, a frota e os regimentos do mar Negro ganharão esquadrilhas de aviões de assalto SU-24, novas bases militares de defesa costeira equipadas com os complexos Bal e Bastion, contendo mísseis antinavio de cruzeiro Uran e Onix, complexos automotores de artilharia Msta-S, sistemas de lança-foguetes múltiplos Tornado-G, sistemas automotores de mísseis antitanque Cri-

Enquanto os estaleiros de São Petersburgo e Kaliningrado constroem novos submarinos a diesel e contratorpedeiros, os planos do governo russo incluem a transferência das doze primeiras unidades desses à península da Crimeia até o final deste ano. Os novos navios substituirão as velhas embarcações da Frota do Mar Negro, tais como o Samum e o Moskvá - que é hoje o principal cruzador da frota, equipado com um complexo de lançadores de mísseis que já comemorou o seu quadragésimo aniversário. Apesar das suspeitas dos americanos, que dispõem de reservas de bombas atômicas de queda livre B-61 nos territórios da Bélgica, da Holanda, da Turquia e da Alemanha, as Forças Armadas russas não pretendem manter armamentos nucleares fora do território nacional. Além disso, as autor idades r ussas estão dispostas a liberar a região do mar Negro de armas nucleares. Víktor Litóvkin é analista militar e coronel reformado do Exército russo.

shington poderia ser “um dos” ou mesmo “o primeiro entre iguais”. Estritamente falando, a atitude negativa dos Estados Unidos a respeito do que faz e diz Pútin é justificada – em Washington, entende-se que o presidente russo questiona não suas políticas, mas seus direitos especiais. O que ocorre é uma situação clássica: aparece um desafiador da hegemonia que pretende encerrar sua dominação no mundo. Consequentemente, é necessário limitá-lo e não deixá-lo se fortalecer. O paradoxo é que Pútin

motivos é que, com a criação da organização, a maioria dos líderes de países pós-soviéticos se tornaram presidentes vitalícios. A comunidade resultou de vários fatores, como o colapso da economia soviética, a luta pelo poder entre Gorbatchov e Iéltsin, e também o

Opinião sobre a CEI é desfavorável, mas ela é indispensável, e nem Ucrânia quer se retirar dessa desejo da Ucrânia de sair da URSS, expresso em referendo em 1º dezembro de 1991. Com os acordos de Belovejskaia, Gorbatchov deixou o cargo de presidente, substituído por Iéltsin, e muitos líderes de repúblicas soviéticas, de uma hora para outra, tornaram-se “ex-líderes”, como na Ásia Central, no Cáucaso e na parte europeia da ex-União Soviética. Na maioria dessas repúblicas, o poder estava nas mãos dos partidos comunis-

ALEXEY IORSH

Fiódor Lukianov

EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2014 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

repete a todo tempo que a Rússia não quer o domínio global, não pretende governar o mundo, nem participar de uma corrida para mostrar sua grandeza. Essa posição foi pronunciada tanto no Clube Valdai, quanto em outras reuniões. O presidente russo percebe o potencial de seu país. No entanto, recusa-se a jogar de acordo com as regras estabelecidas pelo governo dos Estados Unidos. Tanto em demonstrações conceituais, quanto em ações práticas. As ações da Rússia em 2014 – especialmente em relação à Crimeia – demonstram que Moscou prefere seguir seus interesses, independentemente do que os outros pensem disso. O discurso de Pútin no Clube Valdai, como muitos de seus pronunciamentos, é mais uma mensagem dirigida especificamente para o Ocidente. No novo mundo que o presidente rascunha, é necessário haver discussões intensas com os países e regiões que não se opõem ao Ocidente, mas também não estão incluídos no bloco ocidental. O debate sobre as novas regras não pode ser conduzido na antiga linha do confronto da época da Guerra Fria. O mundo é mais democrático, e os efeitos do processo global dependem muito mais das “grandes massas mundiais”. Junto a essas, também é preciso promover a agitação. Fiódor Lukianov é presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa.

tas locais, que rebatizaram as siglas com nomes “democráticos”, aprenderam o vocabulário relevante e tomaram slogans da oposição. Mas as economias das ex-repúblicas soviéticas em 70 anos de prevalência do poder soviético eram tão dependentes umas das outras que apenas aquelas que possuíam recursos naturais próprios – Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Azerbaijão – conseguiram sobreviver de maneira relativamente independente. A manutenção das outras ex-repúblicas, hoje, depende, em maior ou menor extensão, da ajuda de grandes potências (Rússia, China, EUA ou UE). A maioria das tentativas de criar uniões interestatais no território pós-soviético sem a participação da Rússia terminou em fracasso. Assim, apenas projetos patrocinados por Moscou, como a União Aduaneira entre Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia, poderão sobreviver no território da CEI. A Rússia está pronta para fornecer a seus parceiros matérias-primas e ajuda financeira, exigindo deles lealdade política. Mas é exatamente essa posição que provoca preocupação entre as elites políticas aliadas à Rússia, porque é associada a ambições neoimperialistas de Moscou. No entanto, foi graças à CEI que se pôde manter a livre circulação de pessoas entre os países sem necessidade de vistos e proporcionar a migração de milhões de trabalhadores para a Rússia e o Cazaquistão, que sustentam as economias dos países vizinhos. Esses fatores dão razão para afirmar que a maioria dos membros da CEI terá interesse em manter a Comunidade ainda por muito tempo, e a recusa da Ucrânia em se retirar da CEI é prova disso. Arkádi Dubnov é cientista político especializado em países da CEI.

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Especial

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Moscovitas ganharão 350 novas igrejas ortodoxas CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

construções não tiveram sucesso: apesar de a prefeitura ter concordado em rever alguns projetos, o programa continua a ser levado a cabo.

Quais as principais crenças na Rússia e o que russos pensam sobre relações entre religião e política?

Muçulmanos Os muçulmanos também expressam insatisfação, já que têm apenas quatro templos em Moscou. A maior dessas mesquitas sequer foi inaugur ad a, e a i nd a e s t á e m construção. “A Rússia é um país multiétnico, abriga diversas religiões, e os membros de todas essas crenças precisam de templos na capital”, diz o mufti - espécie de acadêmico e líder islâmico - de Moscou e da região Central, Albir Krganov. De acordo com ele, faltam cinco pequenas mesquitas na capital. “Essa falta é sentida durante as orações de sexta-feira: apenas 10 mil pessoas podem entrar nas quatro mesquitas da cidade, enquanto outros 15 mil a 20 mil muçulmanos são obrigados a rezar na rua”, diz. Os representantes de outra religião tradicional da Rússia, o budismo, ainda não têm um único templo na capital. No entanto, começaram a ser construídos em agosto dois templos em Moscou para eles. Suas locações foram escolhidas pela Comissão de Planejamento Urbano e de Terras de Moscou.

FONTE: KOMMERSANT, VTSIOM

Protestos ortodoxos

Ortodoxos russos e governo afirmam que muçulmanos, com apenas quatro templos e milhares rezando nas ruas da capital, não precisam de mais mesquitas por serem imigrantes

tantes expressaram sua insatisfação com os planos de construção de um centro religioso do Islã no distrito. Em 2012, quando surgiram os primeiros rumores sobre uma mesquita ser erguida no distrito de Mítino, no norte de Moscou, as pessoas saíram às ruas de novo. “No momento, o número de mesquitas atende às necessi-

dades dos residentes permanentes na cidade, e não há necessidade de construir novas”, diz o diretor do programa de construção de igrejas ortodoxas, Vladímir Résin. Sua posição corresponde à do governo de Moscou, que acredita que a maioria dos fiéis que frequentam as mesquitas durante os principais feriados muçulmanos não é

composta por moscovitas, mas por imigrantes. Em 2012, os moscovitas também saíram às ruas para se manifestar contra a construção de um templo budista no distrito de Otrádnoie. Eles afirmavam que, além de conflitos, a coexistência de budistas com cristãos, muçulmanos e judeus poderia provocar engarrafamentos nas ruas.

Fé para exportação Universal e Bola de Neve têm presença forte e centenas de fiéis no país

Igrejas brasileiras apostam em evangelização pós-soviética Para arrebanhar fiéis russos, pastores vão às ruas com mensagens de amor e paz. Mas já receberam bengaladas e até foram detidos. MARINADARMAROS GAZETA RUSSA

Em um condomínio de luxo na zona sul de Moscou, uma pequena porta de vidro dá acesso a um porão onde tatames e evangelhos dividem espaço. Na porta há apenas um adesivo, onde se lê, em alfabeto latino, “Ribeiro Jiu-Jitsu”. Mas, além dos cerca de 50 alunos matriculados no curso de lutas, ali funciona também uma filial da igreja evangélica Bola de Neve. “Não queríamos chamar a atenção dos moradores, que podem não querer uma igreja aqui, já que os russos, em geral, consideram qualquer outra religião cristã além da Igreja Ortodoxa Russa - exceto, talvez, pela católica como ‘seita’”, explica o pastor e idealizador da Bola de Neve em Moscou, Felipe Sestaro. Aos 33 anos, Sestaro começou a pregar há dez, assim que chegou à capital russa para estudar medicina por meio de uma agência de intercâmbio. O trabalho do pastor começou em uma “rakushka”, como são chamadas as pequenas garagens feitas de contêineres de metal, tão comuns no país. “Aluguei uma dessas, comprei uns banquinhos, coloquei fiação e comecei a pregar”, conta. Mas logo o proprietário da garagem desfez o trato, já que o pastor sequer tinha carro. A partir daí, Sestaro passou a pregar no quarto do aloja-

Conhecida como “Igreja dos surfistas”, Bola de Neve concentra brasileiros e africanos

mento universitário. “De lá fomos para um hotel, e daí para a sede que alugamos hoje, onde nos reunimos todos os dias.”

Pertencer a algum lugar A igreja tem hoje cerca de 80 fiéis em Moscou e 60 na cidade de Kursk, entre brasileiros, russos, moçambicanos e angolanos, além de alguns nigerianos, colombianos e costa-riquenhos, entre outros. A maioria é jovem, com menos de 30 anos de idade, e proveniente do Brasil e de países africanos. A estudante de economia Melissa Escudero, 24, é a única peruana que frequenta os cultos da Bola de Neve em Moscou. Ela se converteu ao cristianismo na capital russa.

“Estava precisando de Deus, foi um momento de muitas provações”, diz. As dificuldades que os estrangeiros, e até mesmo os locais, encontram para se relacionar na Rússia tornam o país um local atraente para as operações das igrejas brasileiras. “Todo mundo precisa pertencer a algum lugar, a algum grupo. E, em Moscou e nas grandes cidades russas, essa tarefa é mais complicada do que em outras metrópoles. Por isso não me espanta que as novas religiões venham ganhando força pelo território russo”, diz a internacionalista Luiza Ferreira, 27, que viveu por cinco anos na capital do país. Pa r a o pa stor Br u no

Trunkel, 25, mudar-se para a Rússia não foi uma escolha própria. “Eu servia na Igreja Universal no Brasil, em Campinas, e o bispo Macedo tinha vindo visitar a Rússia e viu a necessidade de enviar mais pastores para expandir o trabalho e evangelizar”, conta. Dois meses depois, no início de 2008, ele estava no país. A Universal tem sede em Moscou desde 1997, além de cerca de dez filiais pelo país, com um total de 1.500 fiéis desses, 1.200 apenas na capital.

Objetivo russo Conhecida no Brasil como “a igreja dos surfistas”, a Bola de Neve se dedica mais ao futebol na Rússia. As “células” da congregação, como são cha-

madas as reuniões semanais descontraídas dos fiéis realizadas fora dos cultos, são muitas vezes feitas na torcida de times para os quais jogam alguns de seus irmãos mais notórios - que são jogadores profissionais atuando no país. Mas o principal objetivo das congregações é atrair russos. Na Universal, por exemplo, há apenas 30 lusófonos, entre africanos e brasileiros, e os cultos são feitos diretamente em russo. Além disso, a igreja realiza trabalhos de evangelização nas ruas. Mas não sem contratempos. “Um dia, uma senhora já de bastante idade, que parecia ser bem comunista ainda, se ofendeu e pegou o pau em que se apoiava para andar e começou a bater nos evangelistas”, conta Trunkel. Com a Bola de Neve o trabalho também não é fácil. Em setembro, ao tentar arrebanhar fiéis em uma das principais ruas turísticas da capital, a Arbat, o pastor foi detido, junto com seus ajudantes, após uma russa, ofendida, agredi-los e chamar a polícia. “Nós só tínhamos um cartaz aberto dizendo ‘Deus existe e ama você’. Isso não é contra a lei. É contra o gosto do russo, mas não é contra a lei”, diz. Apesar dos contratempos, ele não pretende deixar de buscar novas ovelhas no país. “Claro que a gente agrega todos os povos, mas o objetivo é levar essa mensagem de amor aos russos, que viveram tanto tempo na cortina de ferro, sob opressão contra a religião e contra Deus”, diz.

Capital terá Buda de cinco metros Primeiro templo budista de Moscou será inaugurado em 2017 e terá acupuntura e cantina com pratos típicos de Tuva e do Vietnã. ROKSANA AVETISSIAN IZVÉSTIA

A construção do primeiro templo budista de Moscou se iniciará em meados de 2015. Além da nave de culto, o edifício de três andares terá um espaço dedicado à meditação, bem como biblioteca e sala de cinema. Mas o grande atrativo será uma estátua de Buda de cinco metros de altura. Patrocinadores e fiéis, com seus donativos, irão financiar a construção do templo, orçado em 250 milhões de rublos (cerca de R$ 14 milhões). “Já começamos a angariar fundos para a obra e, assim que chegarmos ao valor necessário, começará a construção, que deverá durar cerca de dois anos”, diz a presidente da comunidade budista de Mo s c ou , D u l m a Chagdárova.

Cinema e pratos típicos Segundo Dulma, no primeiro piso do edifício ficará a sala de orações, um espaço reservado aos sacerdotes e uma cantina para os frequentadores do templo. O segundo andar abrigará uma sala de conferências, aposentos para acadêmicos budistas e uma área de meditação. O terceiro se destinará à biblioteca e à sala de cinema, onde serão exibidos documentários sobre o budismo. A enfermaria e a chapelaria ocuparão o andar térreo. O sótão abrigará ainda um templo de menores dimensões no telhado. “Nossos budistas também poderão usufruir de sessões de acupuntura e de práticas medicinais tibetanas. A cantina irá servir comida típica vietnamita, de Tuva, da Buriátia e mongol a preços acessíveis. Durante as festas budistas mais importantes, a alimentação será gratuita”, promete Dulma. Apesar da carência de templos budistas na capital, que

REUTERS

Mesmo gozando de vantagens sobre as outras doutrinas, ativistas ortodoxos se manifestam contra a construção de novos templos budistas e muçulmanos. Em 2010, iniciou-se uma onda de protestos contra novas mesquitas, com manifestações dos trabalhadores da indústria têxtil no sudeste de Moscou. Os manifes-

Moradores do bairro votaram contra templo budista

hoje não tem nenhum espaço espiritual voltado a essa religião, 400 moradores do bairro de Otrádnoie, onde será instalado o edifício, votaram contra sua construção em 2012. Segundo eles, a existência de uma sinagoga e uma mesquita nas cercanias, além de diversas igrejas ortodoxas, poderia levar a confrontos religiosos. Mas Renat Láichev, membro da comissão para ONGs e organizações religiosas da Duma Municipal de Moscou (assembleia legislativa), considera essencial a construção de um centro budista na capital. “Em Moscou já existem mesquitas, sinagogas, paróquias ortodoxas e católicas, e o surgimento de um templo budista não deve causar admiração. Além disso, o budismo é uma das mais antigas religiões existentes, e só por isso seus membros já deveriam ter todo o direito a um templo próprio, e não apenas em Otrádnoie”, diz. Contra a argumentação dos moradores do bairro, o deputado usa o exemplo de outros países europeus. “Na Alemanha, por exemplo, coexistem em um mesmo edifício vários centros religiosos. Católicos, islâmicos, cristãos e judeus frequentam a mesma casa, só que entram por portas diferentes. E sem quaisquer confrontos.”


Economia

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa gazetarussa.com.br

ENTREVISTA OLEG SIENKO

‘Moeda dos Brics é viável e realista’ UM DOS PRINCIPAIS EMPRESÁRIOS DO PAÍS, OLEG SIENKO FALA SOBRE PODER DE AUTONOMIA DOS BRICS, ECONOMIA RUSSA E SANÇÕES OCIDENTAIS. © PAVEL LISITSYN /RIA NOVOSTI

Com um currículo que inclui cargos de direção em grandes petrolíferas e produtoras de gás do país desde o início dos anos 1990, Oleg Sienko é hoje um dos principais empresários russos no ramo de construção de máquinas, liderando a categoria no ranking do jornal “Kommersant” dos 1.000 empresários “top” da Rússia em 2013 e 2014. Diretor-geral da corporação de desenvolvimento e produção de vagões, estradas de ferro e maquinário bélico Uralvagonzavod, ele fala sobre os rumos da economia no país pós-sanções:

as sanções têm causado sérios problemas. É difícil contrapor os cenários expostos pelos especia l istas do Ba nco Mundial. No entanto, também é certo que o país deve tomar medidas para estimular a economia, independentemente das limitações orçamentais. Outros países têm conseguido encontrar seu caminho para sair de crises semelhantes injetando dinheiro na economia. Se quisermos sair da crise rapidamente, o governo tem que ser muito mais proativo do que tem sido. Decisões lentas significam que os esforços para combater a crise deverão ser dobrados.

No final de setembro, o Banco Mundial publicou três cenários de médio prazo para o desenvolvimento econômico da Rússia. O melhor deles prevê baixo crescimento do PIB nos próximos anos, e uma das falhas seria a atual política de estímulo fiscal. Como você avalia a situação da economia russa? Está longe de ser uma questão simples. Já ficou claro que

Como se manifesta essa lentidão do governo? Há setores-chave da economia que precisam de apoio imediato. Nós mesmos criamos alguns desses problemas ao adotarmos leis a torto e a direito, e agora estamos correndo para superá-los. A ajuda do governo não deve se limitar à injeção de dinheiro na economia; tam-

BRICS BUSINESS MAGAZINE

Brics e um pool de divisas de reserva para contrabalançar instituições como o FMI. O próximo passo lógico seria a criação de uma moeda comum para os países do Brics. Isso permitiria que os países se afastassem da dependência dos centros financeiros ocidentais e do dólar americano como principal moeda de reservas e transações. É o passo mais realista, que poderia resultar em melhoria econômica em todos os países do grupo.

bém deve se concentrar em proteger e preservar o mercado interno. Até agora, tem ocorrido justamente o oposto. Quando a Rússia aderiu à OMC, quase todo mundo ganhou acesso ao mercado russo. Na indústria automotiva, por exemplo, a meta de 50% de localização, baseada no modelo das empresas automotivas no exterior, ainda é inatingível, como sempre foi. Por não produzir as peças no mercado interno, deixamos de estimular outros setores da nossa economia, como a indústria de mineração, da metalurgia, da construção etc.

O que seria necessário para a criação de tal moeda? Os países teriam que escolher uma ‘moeda dos Brics’ para todas as transações entre os membros do grupo e atrelá-la ao euro para facilitar a conversão; em seguida, criar centros monetários e de transação, bem como um sistema de pagamento próprio. Tenho certeza de que muitos países da América Latina, do Sudeste Asiático e da África usariam gradualmente a moeda, já que estão ficando cada vez mais cansados da

Você defende uma aproximação entre os países do Brics, incluindo a criação de uma moeda comum. Quão viável é essa iniciativa? É totalmente viável. Juntos, os países do Brics correspondem à metade da população do planeta, e já deram um importante passo para a criação de um mecanismo financeiro independente. Refiro-me ao recente acordo para criar um Banco de Desenvolvimento do

Automóveis Fabricante de caminhões já tem planos para entrar na Argentina permitirá criar centenas de postos de trabalho e ajudará a diversificar a indústria. Além disso, a Kamaz produz caminhões de múltiplas funções que poderiam ser aplicados em várias áreas importantes, tais como agricultura e transportes de equipamentos de telecomunicações”, diz.

Na esteira do caminhão

AFP/EASTNEWS

Marca é recordista no rali Paris-Dakar, do qual saiu vitoriosa 12 vezes

América Latina sob a mira da Kamaz Montadora da marca no Brasil já foi aventada nos últimos anos, mas não saiu do papel. Agora, país se prepara para assinar com Argentina. DANIELA BENTIVOGLIO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Durante o Quarto Fórum Internacional do Gás, realizado no início de outubro em São Paulo, a ministra da Indústria da Argentina, Débora Guiórgi, e seu homólogo russo, Andrêi Dutov, declararam estar interessados na construção de uma fábrica de caminhões Kamaz no país la-

tino-americano. “Nas condições geopolíticas atuais, a Rússia e a Argentina têm uma possibilidade real de aumentar o volume de comércio”, disse Dutov na ocasião. Além da parceria com a Kamaz, o ministro falou sobre “excelentes perspectivas para o desenvolvimento da cooperação no fornecimento de helicópteros russos”. Segundo Guiórgi, a possibilidade de montar os caminhões russos na Argentina já é considerada há algum tempo. “Essa iniciativa poderá ser

útil para complementar o mercado argentino de caminhões pesados e semipesados. Além disso, é uma boa oportunidade para aumentar a cooperação efetiva com a Rússia e seu maior conglomerado industrial, a Rostec, que tem um grande potencial em outras áreas”, declarou Guiórgi. Para o vice-diretor da Kamaz, Pável Kánichev, a produção de caminhões na Argentina poderá ser bem-sucedida para ambas as partes. “Em primeiro lugar, isso

Tendo como principal acionista a Corporação Estatal Rostec, a Kamaz deve levar consigo para o mercado argentino outros projetos de alta tecnologia, como a construção de helicópteros e aviões, sistemas de segurança, equipamentos médicos e gás. Na Colômbia, a corporação russa já produziu mais de mil ônibus junto a empresas locais. O chassi desses veículos foi criado pela Kamaz, enquanto os ônibus foram montados por empresas colombianas. Além disso, a marca forneceu mais de milhares de caminhões para a Venezuela. No Brasil, a Kamaz tem uma relação estreita com a fabricante de ônibus Marco Polo. Em 2011, as empresas fecharam um contrato de joint venture para produzir os ônibus da brasileira em território russo. “Nossa experiência bem-sucedida na colaboração com outros países da América Latina confirma o potencial do projeto para o mercado argentino. Queremos fechar o contrato em breve”, diz Kánichev.

hegemonia do dólar e euro. Se isso acontecer nos próximos três anos, o novo sistema de pagamento mundial englobaria pelo menos 70% de todos os países, em termos de população global, o que poderia nos livrar do dólar de uma vez por todas. Como uma moeda comum do Brics poderia se diferenciar do dólar ou do euro? A diferença é que ela seria apoiada por ativos e recursos reais - incluindo recursos humanos, naturais e matérias-primas - nos quais nossos paí se s são r ico s. Mu it o provavelmente, uma vez que essas medidas forem introduzidas, o mundo ficará dividido em dois grupos: o “progressista”, que incluirá países do Brics e os mercados emergentes alinhados a eles; e o “pessimista”, com Estados Unidos, Europa e os países a eles associados. Quanto mais cedo isso ocorrer, maiores serão nossos avanços no desenvolvimento econômico e nossas chances de construir uma aliança po-

RAIO-X

FORMAÇÃO: ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO

Formado na Universidade Estatal Russa de Gás e Petróleo Gubkin, Oleg Sienko foi diretor de diversas companhias ener-

derosa e independente para contrabalançar os EUA. Quais os principais passos que a Rússia pode dar com os Brics para compensar as consequências das sanções e levar suas economias para um novo nível tecnológico? O primeiro seria a criação de uma moeda comum. O segundo seria remontar nossa base tecnológica em conjunto com nossos parceiros. Nem todas as tecnologias importantes estão disponíveis nos países que introduziram sanções contra nós. Além disso, há países no

a.com.b gazetaruss

Ocidente que adotaram uma perspectiva mais sóbria; eles têm as tecnologias de que precisamos, mas não possuem matérias-primas. Claro que também precisamos construir tecnologias por nós mesmos. Enfim, o terceiro passo está relacionado à infraestrutura, e talvez esta seja a área mais importante, porque estimularia outras indústrias. Mas, para que isso aconteça, precisamos adotar uma nova maneira de pensar e começar a lidar com essas questões. E precisamos fazê-lo imediatamente, e não procrastinar, como de costume.

Guinada Rússia ocupa 62° lugar em rol do Banco Mundial

País salta 30 posições em ranking de negócios Agilidade no registro de empresas foi um dos fatores para êxito russo. Brasil subiu apenas três degraus e ficou em 120º lugar.

série de novos critérios , como disponibilidade de empréstimos, processos de falência e prot e ção de acion i st as minoritários. Além disso, a versão anterior do ranking avaliava os indicadores russos tomando como parâmetro apenas Moscou. Neste ano, foram também adicionados dados de São Petersburgo.

Facilidade de Fazer Negócios

TASS

A Rússia subiu 30 posições no ranking produzido pelo Banco Mundial que mede a facilidade de se fazer negócios em 189 países. Assim, o país alcançou a 62ª posição. No ano passado, a Rússia esteve na 92ª posição. “Nunca antes subimos 30 posições de uma vez só. O que causou esse crescimento? Vale ressaltar as medidas que facilitam o registro de negócios e propriedades, e o processo para recebimento de alvará de construção. Além disso, a elaboração de relatórios fiscais tornou-se menos demorada”, diz o diretor da Agência de Iniciativas Estratégicas, Andrêi Nikítin. Mudanças na metodologia do ranking, como a adição de novos indicadores e a simplificação das exigências para empresas recém-criadas, também afetaram os resultados da Rússia, apontam os relatórios do Banco Mundial. O modelo de cálculo de classificação matemática da versão deste ano apresenta uma

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géticas russas, como a Most-Oil e a Mega-Oil, de 1996 a 1998, e a Gazexport, a partir de 2002. Em 2006, partiu para o ramo de construção de máquinas, tornando-se diretor da fábrica Lepse e, a partir de 2006, da construtora de vagões, estradas de ferro e maquinário bélico Uralvagonzavod.

IDADE: 48 ANOS

NTRAL BANCO CE MBIO ADOTA CÂTE PARA O FLUTUAN RUBLO 257 28 a.com.br/ gazetaruss

Falhas para superar

FONTE: BANCO MUNDIAL

A Rússia ocupa o 156º lugar em termos de tempo e facilidade para obtenção de alvará de construção, e o 143º em conexão de redes elétricas. Quando o assunto é disponibilidade de empréstimos, o país fica em 61º lugar, e, em relação aos mecanismos de um processo de falência, em 65°. No entanto, é relativamente fácil iniciar um negócio na Rússia: o país está em 34º lugar neste critério, sendo ainda mais fácil registrar o direito de propriedade (12º lugar). Também não é difícil fazer com que as obrigações contratuais dos parceiros de negócios sejam cumpridas (14º lugar). Além disso, a Rússia está em 49º lugar em termos de acessibilidade e clareza do mecanismo de pagamento de impostos.

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