Nova edição do Rússia

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O melhor da Gazeta Russa BR.RBTH.COM

NATALIA MIKHAYLENKO

Imortais para ‘dummies’ Um guia básico sobre os principais escritores russos e o significado de seus sobrenomes P.4 Produzido por

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Este suplemento é preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 12 de setembro de 2014.

No início do mês, a agência da ONU para refugiados anunciou que mais de um milhão de ucranianos deixaram suas casas devido aos conflitos no país. O número corresponde tanto a refugiados internos, quanto aos que deixaram o território ucraniano. Desses, 814 mil trocaram a Ucrânia pela Rússia, segundo dados da agência, e 87% são provenientes das regiões de Lugansk e Donetsk. Diante do rápido aumento em agosto, eram 730 mil os ucranianos asilados na Rússia por conta dos combates - o país agora conta com uma série de campos de refugiados, que vão da capital da Crimeia, Simferopol, a Moscou e São Petersburgo, passando por Belgorod, Briansk, Voronej, Kursk, Rostov e outras. Hoje, há 36 mil ucranianos nesses campos, onde é preciso reaprender a viver: há filas para tudo, os homens vivem separados das mulheres, é preciso cozinhar, limpar, receber os novatos... Apesar de dura, a adaptação é também temporária, já que os refugiados são realocados depois de apenas uma semana. A Gazeta Russa mostra como funcionam esses campos, e como o país está se preparando para abrigar os refugiados com o fim do verão na região e a queda das temperaturas. CONTINUA NA PÁGINA 2

MIKHAIL MORDASOV

Por uma vida longe da guerra

Commodities Expansão é estratégica após sanções que proibiram fornecimento de maquinário de extração por potências ocidentais à Rússia

Empresa busca ampliar sua presença na América Latina e no grupo dos Brics. Bolívia também está na mira da Gazprom. ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

A Gazprom International, uma subsidiária da gigante de petróleo e gás russa Gazprom, quer ampliar sua presença na América Latina. A empresa está negociando a compra de ações de campos de petróleo na plataforma continental do Brasil. De acordo com o diretor do escritório de representação da Gazprom no Brasil, Chakarbek Osmonov, a companhia também planeja iniciar a produção de gás em campos da Bolívia em 2016. No Brasil, a companhia ficou

interessada especialmente em campos que já estão sendo explorados.

Novos mercados “A América Latina é rica em hidrocarbonetos que interessaram à Gazprom”, diz Ivan Kapitonov, pesquisador da Academia Russa de Economia Nacional. “Isso permitirá que a Gazprom diversifique sua própria base de recursos, além de expandir a presença em uma região extremamente atraente do ponto de vista da demanda”. “Nos projetos conjuntos com parceiros europeus, a Gazprom provavelmente terá acesso não só a parte dos lucros, como também às tecnologias empregadas, tão necessárias em um período

d e s a n ç õ e s ”, e x p l i c a Kapitonov. Na Bolívia, a principal parceira da Gazprom é a companhia francesa Total. O analista da consultoria Investcafe, Grigóri Birg, lembra que a Gazprom, a Total e a estatal boliviana YPFB assinaram, ainda em 2008, um contrato de serviço de pesquisa e exploração de hidrocarbonetos no bloco Acepo, na Bolívia. As reservas de gás desse bloco são estimadas em 51 bilhões de metros cúbicos de gás, e os investimentos futuros no desenvolvimento serão equivalentes a US$ 1 bilhão. Ao lado dele existem dois outros blocos, dos quais foram extraídos aproximadamente 176 bilhões de metros cúbicos de gás e 15 milhões de

AP

Gazprom iniciará produção de petróleo no Brasil

Em tempos de sanções, parcerias com a América Latina proverão acesso russo a tecnologias

toneladas de condensado de gás natural. A Gazprom é uma acionista minoritária desses projetos, e sua participação na exploração dos blocos é de 20%, assim como a da argentina-italiana Tecpetrol, enquanto a francesa Total tem 60%. De acordo com Dmítri Baranov, gerente da consultoria Finam Management, os países da América Latina

apostaram na aceleração de seu desenvolvimento, e por isso precisarão de muito mais petróleo e gás nos próximos anos. “A cooperação com os Estados latino-americanos reforçará os laços político-econômicos da Rússia com esses e aumentará o nível de confiança de suas relações. Além disso, a experiência de trabalho ali obtida poderá ser

utilizada por empresas russas em outras regiões do mundo”, diz.

Contexto mundial De acordo com a assessoria de imprensa da Gazprom, a empresa está apostando na América Latina. Ainda em fevereiro de 2007, a companhia assinou um acordo de cooperação com a Petrobras na área de prospecção, ex-

Leia as notícias mais fresquinhas no site

tração, transporte e venda de hidrocarbonetos. O acordo tratava principalmente da exploração de depósitos marinhos, além de um segmento promissor para a Gazprom: a produção de gás natural liquefeito. A cooperação entre a Gazprom e o Brasil assume novos significados com as sanções impostas à Rússia pelos EUA e pela União Europeia. “Num contexto de intensificação das sanções, a expansão da cooperação entre a Rússia e os países do grupo Brics é um passo lógico. Na Rússia, antes da crise ucraniana que conduziu a política das potências ocidentais em direção ao confronto, dava-se preferência às empresas desses países em detrimento às dos países do grupo Brics”, diz o pesquisador Kapitonov. No entanto, a guinada provocada pelas sanções, que proibiram o fornecimento de alguns tipos de equipamentos para extração de petróleo e gás, deu um impulso para a realização de projetos da Rússia e dos países do Brics. “Esses projetos conjuntos já eram há muito tempo planejados, mas nunca haviam sido iniciados p o r r a z õ e s d i v e r s a s”, arremata.

b r. r b t h .co m

E NÃO DEIXE DE CONFERIR NOSSA PRÓXIMA EDIÇÃO IMPRESSA EM 1º DE OUTUBRO


Especial

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com

CAMPOS DE REFUGIADOS RÚSSIA CONCEDEU ASILO A 814 MIL UCRANIANOS DESDE O INÍCIO DOS CONFLITOS NO SUDESTE DO PAÍS. UM DE SEUS LOCAIS DE ABRIGO É A PENÍNSULA DA CRIMEIA, REINTEGRADA À RÚSSIA EM MARÇO PASSADO.

UM LAR ALÉM DA FRONTEIRA Caridade Voluntários ajudam asilados

“Recebo uma família ou duas. Com crianças” Oferta de ajuda a ucranianos na Rússia é tão grande que associações especializadas em auxiliar imigrantes quase não têm demanda desses. MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA

MIKHAIL MORDASOV (4)

Asilados passam uma semana no campo de Mazanka antes de serem enviados a outras regiões, e precisam cozinhar, limpar e ajudar os novatos

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Na aldeia de Mazanka, a apenas dez quilômetros de Simferopol - capital da Crimeia e maior cidade da península -, moram pessoas que descobriram na prática o que é a guerra. Ali, um campo de refugiados montado pelo Ministério das Situações de Emergência da Rússia abriga ex-moradores das regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk, palco de batalhas entre o governo ucraniano e milícias separatistas que já duram meses. Atualmente, vivem no acampamento de Mazanka mais de 800 pessoas. Esse número corresponde à metade da capacidade do lugar, mas o fluxo de refugiados cresce dia a dia. Eles são levados ao campo em grupos organizados que chegam de ônibus do centro especial de distribuição Artek, em Simferopol. Muitas das famílias que chegam ao local têm bebês de colo e idosos. “Nossa casa fica perto da cidade de Teplogorsk. Lá houve um grande bombardeio, sempre tivemos muito medo”, diz a refugiada Elmira Maltsev, moradora da cidade de Stakhanov, na região de Lugansk. O lugar onde Elmira morava fazia parte do território apelidado de “Triângulo das Bermudas”. São as cidades de Stakhanov, Brianka e Altchevsk, onde estão as fábricas do empresário ucraniano

Reino do otimismo O campo de refugiados em Mazanka tem várias tendas grandes e um dormitório de alvenaria onde, além de quartos, há banheiros, chuveiros e cozinha. Devido ao grande número de refugiados, há sempre grandes filas para tudo. Poucos, porém, reclamam, e reina o otimismo. “Ganhamos comida para os bebês, fraldas, pasta de dente, escovas. Temos tudo o que precisamos essencialmente”, diz Katerina Gorelkina, da cidade de Lisitchansk, na região de Lugansk. “É claro que queremos voltar para casa, mas agora é impossível. Não tem quase ninguém lá, a região está sendo bombardeada, e os preços dos produtos subiram muito. Agora, as condições aqui estão melhores.” No acampamento em Mazanka homens e mulheres vivem em espaços separados. Enquanto elas ficam abrigadas no dormitório de alvenaria, os homens ficam nas tendas.

EXPEDIENTE WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;

O que é Novorrôssia? A Comunidade da Repúblicas Populares ou Novarrôsssia é um Estado confederativo não reconhecido pela comunidade internacional que reclama os territórios das regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk. Essas, após as rebeliões separatistas decorrentes dos eventos recentes na Ucrânia, proclamaram-se independentes do país, autointitulando-se “República Popular de Donetsk” e “República Popular de Lugansk”. A Novorrôssia é a fusão, declarada em 22 de maio de 2014,

Cada quarto do dormitório pode hospedar de 10 a 20 pessoas. No pátio, há uma caixa de areia para crianças brincarem. Os refugiados devem manter o local limpo por si sós. Há os que não se adaptam imediatamente, mas é

“Ao deixar minha casa, colei fita crepe nas janelas para os vidros não quebrarem com as explosões” preciso cozinhar, lavar a roupa, limpar as lixeiras, ajudar a instalar os recém-chegados. Assim como Elmira, Artiom Mamikin é de Teplogorsk. Ele, porém, se acostumou com a nova vida mais rápido. “Fizemos novos amigos, nos comunicamos com vizinhos. Eles nos ajudam”, diz Artiom.

© ALEKSEY MALGAVKO / RIA NOVOSTI

DMÍTRI VÓSTRIKOV

e governador da região de Dn ipropetrovsk, Ígor Kolomoiski. “É por isso que a Guarda Nacional da Ucrânia protege bem esse local. Mas as cidades mesmo estão quase vazias. Eu, meus dois filhos e meu marido decidimos deixar a cidade. Atravessamos a fronteira de Izvarino, na região de Rostov. De lá, tomamos primeiro um ônibus, depois uma balsa para a Crimeia”, conta. “Quando saímos, colei fita crepe nas janelas de casa, como faziam durante a Segunda Guerra Mundial, para os vidros não quebrarem por causa das explosões.”

Refugiados da Novorrôssia recebem doações de toda a Rússia desses dois Estados não reconhecidos. A palavra também remete à província de Novorrôssia, que existiu durante o reinado de Ekaterina II, de 1764

a 1775, e de Pável I, de 1796 a 1802. O Império Russo conquistou essa área durante guerras com o Canato da Crimeia e com o Império Otomano.

Notícias do front

sas”, diz Katerina. No fim das contas, ela conseguiu atravessar a fronteira pagando uma propina de 200 hrivna (o equivalente a R$ 34). Os refugiados ficam no acampamento de Mazanka por cerca de uma semana. Depois, seguindo a ordem de chegada, são levados de avião para a Rússia continental. A família de Elmira, por exemplo, será enviada para Kemerovo, cidade a 3.500 quilômetros de Moscou famosa por sua mineração, no sul da Sibéria Ocidental. Lá, prometeram um emprego a seu marido, que é mineiro. “Não há trabalho na minha terra. Minha irmã fechou sua farmácia, pois não há mais fornecimento de medicamentos para lá”, diz Elmira. “Nossa região era diretamente ligada à Rússia. Agora, a grande questão é como manter a economia da região.”

É comum escutar ecoar pelo campo a pergunta “Como estão os nossos parentes?”. Algumas vezes, não há nenhuma notícia vinda das áreas de combate. Mas, pouco a pouco, os refugiados conseguem reunir relatos sobre a situação dos lugares de onde vieram. As informações mais confiáveis vêm dos recém-chegados. Os refugiados os rodeiam para perguntar se os amigos estão vivos, se as casas não foram derrubadas e se o bombardeio continua. Rostov, região russa na fronteira com a Ucrânia, é a rota da maior parte dos que querem chegar à Crimeia. Além do perigo de outros caminhos, há também o suborno exigido pelas tropas. “Vár ias vezes quase fomos arrancados de dentro dos ônibus porque tínhamos uma autorização das autoridades rus-

EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2014 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Guerrear para reunir “A crise ucraniana é um problema que reuniu um enorme número de pessoas, dos mais diversos credos. Há muitos voluntários recolhendo produtos alimentícios, roupas, dinheiro, e muitos estão abrigando as pessoas em suas próprias casas. Em cidades como Rostov, as pessoas abrigam pessoas completamente desconhecidas”,

Golpistas também estão se aproveitando de onda de ajuda voluntária, e há casos de trabalho escravo No último dia 9, a Igreja Ortodoxa Russa também abriu seus próprios locais de arrecadação e está focada em receber material para o inverno. Segundo sua assessoria de imprensa, a Igreja já doou 700 toneladas de alimentos e vestimentas para os refugiados ucranianos. A chegada do frio também deve contribuir para um aumento no número de refugiados do país na Rússia. Segundo Gannushkina, os refugiados querem retornar à pátria, mas o mais provável é que mais compatriotas se unam a eles na Rússia.

Fraudes Com a onda de ajuda voluntária, porém, também surgiram grupos aplicando golpes em nome da caridade. No início de agosto, por exemplo, a página do Facebook “Save Donbass People” reportou que um cidadão ucraniano estava aliciando refugiados em um campo na cidade de Rostov, no sul da Rússia, e levando-os a Moscou para exercerem trabalho escravo.

AFP/EASTNEWS

Intocada pela guerra, Crimeia se tornou um dos destinos de ucranianos que trocaram a pátria pela Rússia para escapar de combates que assolam sudeste do país.

Com o fim do verão europeu, a Rússia se prepara para dias mais frios, e as temperaturas de setembro já caem para até 10 graus Celsius na capital. Sob um clima mais frio, os diversos pontos de coleta de roupas e alimentos para os refugiados ucranianos já não recebem mais vestimentas de verão e começam campan has para ar recadar agasalhos. É o caso da página “Ajuda aos refugiados da Ucrânia” (vk.com/republic_novorossia), uma das mais populares do gênero na principal rede social russa. A página foi criada pela associação “Céu Pacífico” (em russo, “Mírnoe Nebo”) e tem mais de 30 mil seguidores. Em Moscou, há também diversas tendas improvisadas diante das saídas de estações de metrô que recolhem material para refugiados internos e externos, enquanto as páginas na internet dedicadas a essa tarefa organizadas por russos se multiplicam dia a dia. Em inglês, uma das que tem recebido atenção internacional é a Help Donbass People Relief, no Facebook. Ali, um grupo sem vínculos governamentais costuma publicar seus avanços, fotos das famílias que ajuda, de veículos abarrotados de mantimentos e agradecimentos a doadores do mundo todo que enviam recursos, sobretudo via PayPal.

disse à Rádio Europa Livre a diretora da ONG “Migração e Direito”, Svetlana Gannushkina. Uma das principais ativistas dos direitos humanos no país, ela diz que há tanta ajuda por parte de civis e do governo russo que o contigente de ucranianos recebidos por sua organização tem sido relativamente pequeno. Nas redes sociais há publicações impensáveis no mundo com oferta de ajuda. Uma dessas, por exemplo, na página do Facebook “Save Donbass People”, traz os dizeres: “Meu tio está pronto para receber em sua casa uma ou duas famílias, com crianças. De qualquer cidade onde ocorram combates”.

PRESIDENTE DO CONSELHO: ALEKSANDR GORBENKO (ROSSIYSKAYA GAZETA); DIRETOR-GERAL: PÁVEL NEGÓITSA; EDITOR-CHEFE: VLADISLAV FRÓNIN É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A REPRODUÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO OU RETRANSMISSÃO DE QUALQUER PARTE DO CONTEÚDO DESTA PUBLICAÇÃO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO ESCRITA DA ROSSIYSKAYA GAZETA. PARA OBTER AUTORIZAÇÃO DE CÓPIA OU REIMPRESSÃO DE QUALQUER ARTIGO OU FOTO, FAVOR SOLICITAR PELO TELEFONE +7 (495) 775 3114 OU E-MAIL BR@RBTH.RU

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Política e Sociedade

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Opinião pública Entre razões para mudanças está o embargo russo a produtos alimentícios e consequente aumento dos preços

Cai otimismo quanto a rumo do país ANASTASSIA MÁLTSEVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

O índice de aprovação do presidente russo Vladímir Pútin caiu pela primeira vez neste ano desde a anexação da Crimeia, em março passado. O indicador, porém, continua alto: 84%. A queda de três pontos percentuais em relação ao mês de agosto é atribuída tanto ao enfraquecimento do patriotismo exacerbado pela anexação da pen í nsu la ucraniana, como ao embargo russo sobre produtos alimentícios provenientes da União Europeia e dos Estados Unidos, e o consequente aumento dos preços ao consumidor final. Além disso, o número de russos que acreditam que as coisas no país estejam indo na direção correta caiu para 64%, contra os 66% do início de agosto. Já o número de pessimistas quanto ao rumo do país subiu de 19%, em agosto, para 22%, em setembro. Para o diretor do Centro Levada, Lev Gudkov, ainda é cedo para dizer se os níveis de aprovação de Pútin realmente entraram em declínio, já que a queda registrada está dentro da margem de erro estatística.

“O primeiro pico de popularidade do presidente ocorreu em janeiro do ano 2000. Então, o aumento do índice para 84% provocou atentados terroristas pela Rússia e deu início à segunda guerra na Tchetchênia. Seis meses depois, a taxa de aprovação do presidente caiu abruptamente para 61%”, relembra.

carnes, peixes e produtos lácteos de países que apoiam as sanções”, diz Gudkov. “Mais de 60% dos russos passaram por dificuldades econômicas, e isso não deixa as pessoas nada felizes. A maioria esmagadora da população não está disposta a pagar para ver no caso da Crimeia, com o congelamento de salários, cortes de benefícios sociais e aumento de impostos.” Além disso, o sociólogo diz que as pessoas temem o agravamento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que poderia dar início a uma guerra de verdade. “Isso é uma coisa que os russos categoricamente não desejam. Em março, de 74% a 75% das pessoas aprovavam a entrada de tropas russas na Crimeia. Hoje, essa aprovação caiu para 41%.”

Qual a opinião russa sobre questões da atualidade?

Povo bélico? O segundo pico de popularidade de Pútin ocorreu em agosto de 2008, durante a guerra contra a Geórgia, quando o índice atingiu o valor recorde de 88%. Mais tarde naquele ano, a Rússia foi afetada pela crise econômica mundial. O desemprego e a alta dos preços de bens e serviços provocaram uma queda na taxa de aprovação do presidente e do governo. “Depois disso, a aprovação de Pútin foi caindo gradualmente até atingir os 42%, em agosto de 2013. Mas a bem-sucedida organização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sôtchi, em fevereiro passado, interrompeu a tendência de queda no índice.” Segundo sociólogos, o último crescimento registrado na taxa de aprovação de Pútin estaria relacionado com sua política externa e a reintegração da Crimeia. Mas, se por um lado aumentou o número de russos que

NATALIA MIKHAYLENKO

Indicadores têm queda tímida, mas reveladora. Taxa de aprovação do presidente russo e de anexação da Crimeia também caíram.

Derrota vitoriosa

acham que a Crimeia deve ser parte da Rússia (de 64% para 73%, em relação a março), por outro, caiu de 23% para 16% o número dos que se dizem “felizes e orgulhosos” com a anexação. Além disso, 45% dos entrevistados dizem não entender de política e ter uma ideia muito vaga do que está acontecendo na Ucrânia.

Imigrantes assustam mais que guerra Pesquisa divulgada em 19 de agosto pelo VTsIOM (Centro Russo de Pesquisa de Opinião Pública) revelou que 27% dos russos acreditam que os imigrantes representam a maior das ameaças contra o país. Em segundo lugar, vêm os ataques terroristas, e apenas em segui-

da estão os conflitos com países vizinhos, que preocupam 23% dos entrevistados. Apesar da preocupação causada pelo caráter xenófobo dos resultados, o número dos que temem imigrantes caiu pela metade em comparação com o índice de 2005.

“Cresce um sentimento de preocupação, indecisão e ansiedade na sociedade russa devido ao aumento dos preços de bens de primeira necessidade. Isso é resultado das sanções econômicas acionadas contra a Rússia pelos países da UE e pelos EUA, assim como das medidas de resposta da Rússia, que impôs um embargo à importação de vegetais, frutas,

Segundo o diretor-executivo do Centro de Análises Políticas, Viatcheslav Danilov, há nuances que viram o jogo das pesquisas de opinião pública sobre o presidente. “A queda da taxa de aprovação de Pútin das alturas celestiais onde se encontrava já tinha sido prevista por dois grandes centro de pesquisa, o VTsIOM e o Levada, ainda em junho, e o fato de a aprovação ter se mantido tão alta até setembro é um recorde e sinal de sucesso das políticas do presidente.”

Esporte Parte do projeto da pista foi incorporado aos planos das Olimpíadas

Autódromo de Sôtchi passou pelos últimos retoques e já estava pronto para a corrida dois meses antes do primeiro Grand Prix na Rússia. JAMES ELLINGWORTH ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A menos de um mês de o primeiro Grand Prix da história ser realizado na Rússia, em 12 de outubro, o circuito do Autódromo de Sôtchi está só esperando a largada final. Os 5,8 quilômetros de pista circundam vários dos locais que sediaram os Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro passado. O asfalto foi instalado, a torre de controle da corrida está repleta de equipamentos de alta tecnologia, e as arquibancadas comportam até 46 mil espectadores. “Tudo está em excelente estado e feito nos padrões mais elevados”, afirma o diretor de corridas da F1, Char-

lie Whiting. É dele a palavra final sobre a aptidão das pistas para receber o evento.

sido incorporada ao campeonato havia pouco tempo, teve o mesmo destino. Com a Rússia, a diferença está sobretudo no apoio governamental ao evento. A F1 em Sôtchi é essencial aos planos do Kremlin para o legado olímpico da cidade na costa do mar Negro.

Pista camaleão Em dezembro de 2012, a pista em torno do Parque Olímpico de Sôtchi era apenas uma faixa de terra parcialmente escavada rodeada de banheiros químicos para operários e cadeiras de plástico. Já em agosto, porém, a situação era outra. “Posso dizer sem hesitação que o circuito está pronto 60 dias antes do evento, o que costuma ser muito raro”, disse Whiting na ocasião. Em 2010, a pista de Yeongnam, na Coreia do Sul, só foi aprovada 11 dias antes do início da F1. O autódromo foi retirado do calendário da F1 no ano passado, depois de quatro corridas com fraca presença de público. Na mesma época, o Grand Prix da Índia, que também tinha

parte do projeto da pista pôde ser incorporado aos planos de construção das Olímpiadas. Como resultado, o governo alega ter gasto US$ 200 milhões para a construção da pista, um valor razoavelmente baixo. Durante os Jogos Olímpicos de fevereiro passado, os espectadores também puderam ver os prédios de pit lane servindo como centro de exposições improvisado para empresas russas e sede dos voluntários olímpicos.

REUTERS

Sôtchi à espera da largada para a Fórmula 1

Prospecção do evento no país começou antes mesmo de Hungria comunista sediá-lo, em 1986

Apesar de tentativas de boicote por políticos britânicos, evento deve ser realizado em outubro O outro lado da moeda O Grand Prix da Rússia será o maior evento esportivo pós-Olímpiadas em Sôtchi até a Copa do Mundo de 2018, e ajuda a fortalecer a motivação comercial promovida pelos Jogos de Inverno. Além disso, abrigar a corrida em Sôtchi ajudou a economizar nos custos, já que

grande parte do circuito está baseada em curvas acentuadas contornando as arenas usadas nas Olímpiadas, ao invés de retas longas e curvas suaves. Os organizadores garantem que 30 mil dos 50 mil ingressos para o evento já foram vendidos. Além disso, a multidão de 50 mil espectadores que compareceu a uma corrida de DTM em Moscou em agosto quebrou um recorde do esporte motorizado na Rússia, mostrando que a F1 pode ter o mesmo potencial.

O lado negativo de usar o Parque Olímpico é que, embora as vias estivessem lá, a obrigação de usá-las parece ter imposto limites à imaginação do projetista Hermann Tilke. No mapa da pista, fica óbvio que determinados pontos poderiam prover ultrapassagens emocionantes, e

Boicote falho A crise na Ucrânia acrescentou sua cota de problemas ao evento, com pedidos de boicote por alguns políticos britânicos. Sôtchi fica a pouco mais de 300 quilômetros da Crimeia e a 500 quilômetros de Donetsk, cidade ucraniana devastada pela guerra. Mas o boicote parece altamente improvável. O chefe de gestão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, exerce controle rígido sobre as equipes e não mostrou nenhum sinal de que

estaria reconsiderando seus planos. A corrida já é em si uma vitória. Esforços para sediar esse tipo de evento na Rússia começaram antes mesmo de a Hungria, então comunista, se tornar o primeiro país do bloco oriental a sediar uma corrida, em 1986. A burocracia soviética não investiu nesses esforços iniciais, e os planos para realizar corridas em Moscou nas décadas de 1990 e 2000 falharam devido à falta de recursos financeiros.

Fim de uma era? Após troca de governador, “cidade das artes” tem dificuldades para manter iniciativas culturais sem financiamento

DMÍTRI ROMENDIK GAZETA RUSSA

Na Rússia central, a 1.500 km de Moscou, a cidade de Perm tem se destacado no ramo das artes, atraindo diversos curadores de renome e centros culturais. Assim, não surpreende que o único campo de trabalhos forçados preservado no país tenha sido transformado em um museu ali em 1996, dedicado a preservar a infeliz história das gulags. Agora, porém, cortes de verbas provocaram o fechamento do museu, também conhecido como Memorial da Repressão Política “Perm-36”. O memorial abrangia todo o enorme território da ex-colônia penal de Perm, onde, a partir de 1946, os condenados

por “crimes de Estado grave s” c u mpr i a m s u a s sentenças. “Enquanto existiu, o museu foi um exemplo de cooperação bem sucedida entre o governo e as organizações socia is pr ivadas”, d i z a Comissária para os Direitos Humanos em Perm, Tatiana Margolina. Fundado pela organização de direitos humanos Memorial, o museu ganhou fama no país com a criação do festival anual Pilorama, que reunia músicos, artistas, atores e ativistas de direitos humanos de todo o país.

Mudanças políticas A recente repaginação de Perm e sua transformação em “cidade das artes” têm sido atribuídas ao ex-governador Oleg Tchirkunov. Sob sua liderança, foram criados diversos festivais na região, e as artes obtinham recursos generosos do governo.

GEOPHOTO

Troca de diretoria e dificuldade de comunicação levou ONG a retirar das exposições material de arquivo de sua propriedade.

LORI/LEGION MEDIA

Má gestão baixa portas de Museu da Gulag

O campo de trabalhos forçados Perm-36 recebeu presos políticos ente 1946 e 1988, e foi transformado em museu em 1996

Mas, Tchirkunov foi substituído por Víktor Basarguin em 2012, e os projetos culturais e educacionais começaram a passar para segundo plano. O Pilorama teve sua verba cortada e deixou de existir, como acontece agora com o museu. Neste ano, os antigos gestores do museu, Víktor Chmirov e Tatiana Kúrsina, foram demitidos. Em julho

NÚMEROS

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anos foi o tempo de existência do museu Perm-36. O campo de trabalhos forçados para presos políticos que ali existiu operou por 42 anos.

passado, após uma série de tentativas frustradas para restaurar a cooperação entre o governo regional e as ONGs, a organização Perm-36, que concede o material de arquivo em exposição ali, anunciou oficialmente o encerramento da parceria. Agora, a ONG se prepara para recolher todo seu material, ou seja, todas as coleções do museu. A administração local,

porém, declara que o museu continuará a funcionar. “Serão criadas exposições sobre a história da gulag na União Soviética e no Território de Perm”, diz Serguêi Malenko, diretor do Departamento de Programas Civis e Especiais do governo do Território de Perm. Mas Arsêni Roguínski, presidente do conselho da Sociedade Internacional Memorial

e um dos fundadores do museu, não esconde sua insatisfação. “O governo do Território de Perm acusa nossa organização sem fins lucrativos de importuná-los por dinheiro. Isso é um disparate. Foi o Estado quem decidiu assumir o controle sobre as organizações públicas, especialmente em uma área tão delicada como a história do país”, diz Roguínski. Milhões de prisioneiros passaram por gulags desde a década de 1930 até o fim da União Soviética. O termo “gulag”, que em russo é a abreviatura de Administração Geral dos Campos e Colônias de Trabalho Correcional, foi apresentado ao mundo ocidental pelo vencedor do Prêmio Nobel, Aleksandr Soljenítsin. Seu livro “O Arquipélago Gulag”, de 1973, comparava os campos a um grupo de ilhas espalhadas pelo vasto e isolado interior da URSS.


Em Foco

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Casa dos Escritores não quer deixar os dois protagonistas entrarem no restaurante do estabelecimento sem suas carteirinhas de associados. Quando um deles diz que Dostoiévski, por exemplo, não tinha nem poderia ter qualquer carteirinha de associado, ela responde: “Dostoiévski morreu”. Então o escritor contesta: “Protesto, Dostoiévski é imortal”. O sobrenome Bulgákov, por sua vez, é formado a partir do nome Bulgak, comum nos tempos antigos, e que significa “irrequieto, alvoroçado”. E lhe cai bem.

Guia rápido De escritores antigos e contemporâneos e suas famílias

Sobrenomes imortais para ‘dummies’

Tchekhov

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A Gazeta Russa explica quem é quem e de onde vieram os principais nomes literalmente - que recheiam as estantes russas. ALEKSÊI MIKHEEV ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Provavelmente o principal símbolo da cultura russa, o poeta Aleksandr Púchkin tem sobrenome que remete à palavra “canhão”. Os Púchkin constituem uma antiga linhagem da nobreza iniciada ainda no século 14 por Grigóri Morkhínin, que foi apelidado de “Púchka” (em russo, “canhão”) por ter sido o primeiro artilheiro da Rússia. Hoje, Púchkin tornou-se uma figura quase mitológica no país. Qualquer criança sapeca russa já ouviu os pais perguntarem: “Quem vai fazer sua lição de casa? Púchkin?” O escritor seria o equivalente a Dante na Itália ou Goethe na Alemanha. Para aqueles que não dominam o idioma russo, entretanto, sua poesia pode se perder nas traduções.

Autor de “Guerra e Paz”, o conde Lev Tolstói é, sem dúvida, o principal pensador russo. Também os Tolstói constituem uma antiga linhagem da nobreza, cujo primeiro representante, ao que tudo indica, foi um homem de compleição bastante robusta (“tôlsti”, em russo, significa “gordo”). Em “Anna Karénina”, Tolstói dá a um personagem um sobrenome “revelador”: Lévin, uma clara alusão de que ele era uma espécie de alter ego do autor.

Lérmontov

Dostoiévski e Bulgákov

Mikhail Lérmontov é o segundo mais impor tante

O sobrenome do grande escritor Fiódor Dostoiévski tem

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NATALIA MIKHAYLENKO

poeta russo. Contemporâneo mais jovem de Púchkin, ele tem sobrenome de origem escocesa. Um antepassado do poeta, George Learmonth, passou a servir no Exército da Rússia em 1613. Curiosamente, tanto Púchkin como Lérmontov nomearam seus principais personagens homenageando rios do norte do país: o primeiro, com “Evguêni Onéguin” (do rio Onega), o segundo, com Petchórin (do rio Petchora)

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1. Púchkin (1799-1837) remete à palavra “canhão”; 2. Lérmontov (1814 - 1841) é sobrenome escocês russificado; 3. Tchekhov (1860-1904) faz referência aos que “espirram demais”; 4. Pasternak (18901960) remete a um legume que virou sobrenome.

Este sobrenome não tem nada a ver com os tchecos, e remete ao antigo nome russo “Tchekh” (ou “Tchokh”), que está relacionado com o verbo “tchikhat” (“espirrar”). Pessoas que estavam constantemente resfriadas e que espirravam frequentemente recebiam tal apelido. Durante a juventude, o médico Anton Tchekhov publicou regularmente histórias satíricas em periódicos sob uma variedade de pseudônimos. O mais famoso deles foi Antocha Tchekhonte, mas também havia “O Irmão do meu Irmão”, “Laerte”, “Ulisses”, “Homem sem baço”, “Champánski” e “Schiller Sheikspirovich Goethe”.

Escritores Nóbeis Tolstói

uma origem geográfica: seus antepassados eram naturais de um lugarzinho chamado D o s t o i e v, n a e n t ã o Bielorrússia. Um bordão com seu nome foi criado a partir de um romance de outro grande escritor russo, Mikhail Bulg á k o v. N a n a r r a t i v a fantástica “O Mestre e a Margarida”, Bulgákov descreve uma cena em que a funcionária da portaria da

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AO GOSTO DO FREGUÊS A companhia Mosguides oferece uma variedade de excursões noturnas por Moscou com diferentes horários e trajetos. Seu diferencial está no fato de que os próprios turistas escolhem a duração e o local do passeio: os guias os ajudam, então, a reservar com antecedência uma mesa em um restaurante de prestígio ou em uma das casas noturnas da cidade. A empresa disponibiliza excursões a pé, de carro e de barco. Os preços e horários são estabelecidos de acordo com a escolha do turista. www.en.mosguides.ru/ moscow/night

No século 20, cinco russos foram laureados com o Prêmio Nobel de Literatura: Ivan Búnin, Boris Pasternak, Mikhail Cholokhov, Aleksandr Soljenítsin e Iossif Bródski. O sobrenome de Búnin se formou a partir do apelido Búnia, pelo qual, no passado, chamavam uma pessoa de arrogante e orgulhosa. Pasternak (Pastinaca sativa), também conhecida como cherovia, é um legume cujo nome virou sobrenome. Já o sobrenome Cholokhov provém do adjetivo “cholokhi”, que em diferentes dialetos significa “de rosto áspero”, ou seja, “bexiguen-

t o ”, “c o m m a r c a s d e varíola”. O sobrenome de Soljenítsin foi formado a partir da palavra “soljenitsi”. Assim eram chamados aqueles que se ocupavam de “solojenie”, ou seja, do cultivo e da secagem do malte. “Chukhov”, sobrenome do protagonista de seu romance mais famoso, “Um dia na vida de Ivan Denissovitch”, provavelmente vem de “Chukhi”, que é um dos diminutivos do nome Aleksandr (Sacha – Sachukha - Chukha). Ou seja, como Tolstói no caso de Lévin, o recurso foi empregado por Soljenítsin para insinuar que ele estava escrevendo sobre si mesmo. Por fi m, Bródski é outro típico sobrenome geográfico, que indica que os antepassados do poeta eram naturais de Brodi, uma cidade da Galícia atualmente situada no te r r itór io da Ucrânia.

Nabokov e Erofeev O sobrenome de Vladímir Nabokov vem da palavra “naboki”, que sig nifica “coxo”. Quando, vivendo em exílio, Nabokov começou a escrever em inglês e conquistou a fama nos Estados Unidos após a publicação de “Lolita”, ele dizia que seu sobrenome representava certa dificuldade para os americanos em termos de pronúncia: eles constantemente o chamavam de Nabakov ou Nabukov. Já o sobrenome do autor de “Moscou – Petuchki”, Venedikt Erofeev, é um daqueles que provêm de nomes porpróprios. Ele foi formado a pa r t i r do a nt igo nome Erofei. Com esse sobrenome, porém, está associada também uma história curiosa. Viktor, um escritor de menos renome e que tem o mesmo sobrenome do falecido Venedikt, atualmente escreve e tem sido frequentemente publicado no Ocidente. Na Rússia, como é de costume, quando se abrevia seu nome, ele se torna homônimo do outro escritor: V. Erofeev.

ARROZ COM FEIJÃO VIP A agência turística Visit Russia oferece excursões noturnas em Moscou com guia turístico exclusivo em carro particular ou micro-ônibus. A excursão de três horas custa R$ 190 e inclui visita a pontos turísticos básicos que ficam além dos limites da região central, como o centro empresarial Moskva City. O passeio também inclui uma parada nas Colinas de Vorobiov, em frente ao prédio principal da Universidade Estatal de Moscou, contruído na era Stálin. Ali, um mirante especial proporciona uma vista inesquecível da capital russa. www.visitrussia.com

MOSCOU POR MOSCOVITAS A filial moscovita da Tours by Locals disponibiliza uma grande variedade de passeios noturnos pela capital, tanto para grupos (com preços que chegam aos R$ 540 para um grupo de até 8 pessoas), como para turistas individuais. A duração média de cada excursão é de três horas, e o trajeto depende da vontade dos turistas. Moradores locais, os guias estão preparados para propor trajetos únicos pela cidade. www.toursbylocals.com/ night-moscow

*Todas as excursões são realizadas em inglês. Excursões em outros idiomas estão disponíveis mediante solicitação.

AVENTURA E MISTÉRIO Aos amantes de aventuras e lendas urbanas, a empresa City Discovery oferece um passeio noturno através dos túneis secretos do Metro-2, por onde, diz-se, transportam-se secretamente armas, além da prisão da KGB, entre outros. A excursão inclui passeio noturno de bonde, passagem pelo “marco zero” e visita ao Khitrovka, o bairro mais criminoso de Moscou no século 20. O preço por adulto é de R$ 75. www.city-discovery.com/ moscow

T R AV E L 2 M O S C O W. C O M


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