Rússia, 21 de maio

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Reunindo os continentes

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Diretor de novo instituto em Montevidéu quer estreitar laços entre Rússia e América Latina

Produzido por

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Este suplemento foi preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 16 de maio de 2014.

Ártico, alvo de disputas e objeto de desejo global

Com cinco estações polares participando dos estudos do clima, além do início do funcionamento da única plataforma de petróleo de escala industrial da região, a Prirazlômnaia, e uma rota que reduz custos de transporte entre Ásia e Europa em até 40%, o Ártico russo é hoje uma das áreas mais estratégicas do mundo. Descubra por que o país reforça a defesa de sua parte ali e pretende abocanhar um quinhão maior do Ártico reivindicando territórios. CONTINUA NA PÁGINA 3 GETTY IMAGES/FOTOBANK

Comércio exterior Redução de importações do país retarda diversas obras infraestruturais na Rússia

Produção de papel, de helicópteros, construção de estradas e até túneis do metrô dependem da indústria ucraniana. MARIA KARNAUKH ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Em 2013, as autoridades de Moscou assinaram um contrato no valor de US$ 22 milhões com uma indústria ucraniana de Dnepropetrovsk para o fornecimento de equipamentos que seriam usados na construção do metrô da capital. Mas, de acordo com o vice-prefeito, Marat Khusnullin, devido aos recentes eventos na Ucrânia, as entregas serão adiadas em dois ou três meses. Também devido à crise no país vizinho, em vez de seguir o cronograma que prevê a

construção de 13 km de linhas de metrô em 2014, acredita-se que será possível finalizar apenas 8 km neste ano. O volume de exportações da Ucrânia para a Rússia, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Econômico russo, gera US$ 2,6 bilhões por ano para a economia ucraniana. Esse fornecimento já foi, contudo, reduzido. No primeiro trimestre deste ano, a importação de vagões de carga ucranianos pela Rússia diminuiu em 7,5 vezes. “Em termos financeiros, isso representa uma redução de US$ 360 milhões para US$ 49 milhões”, afirma Vladímir Savtchuk, chefe do Departamento de Pesquisa de Transporte Ferroviário do Institu-

to de Problemas de Monopólios Naturais. A importação de acessórios e estruturas de aço, cuja negociação movimenta US$ 1,9 bilhão, e de canos de metais ferrosos, no valor de US$ 947 milhões, também sofreu reduções significativas, e as empresas russas se viram obrigadas a buscar alternativas em território nacional. A Evraz, a Severstal e a NLMK, por exemplo, estão iniciando operações em novas instalações a um custo de US$ 2 bilhões. A redução de importação de materiais para a construção de estradas, como gesso, seixos, cascalho e brita, bem como o comércio de componentes para produção de papel, intensificaram ainda

ITAR-TASS

Crise ucraniana atrasa metrô moscovita

Dos 13 km prometidos, só 8 km deverão ser entregues em 2014

mais o impacto das medidas de retaliação tomadas por empresas do país vizinho. De acordo com o Serviço Aduaneiro Federal da Rússia, a importação de mercadorias ucranianas para a Rússia caiu 37% em janeiro de 2014. Apesar da redução, os parceiros russos pagaram para as empresas ucranianas US$ 698,3 milhões em apenas um mês. Se, para a Ucrânia, a Rússia é o maior importador, responsável por 24,7% do seu volu me total de comércio exterior, a Ucrânia é o quinto maior parceiro da Rússia, ocupando uma fatia de 5,4% do comércio exterior dessa. Assim, a ruptura das relações comerciais com a Rússia trará para a Ucrânia uma queda acentuada da cota de expor-

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tações, reduzindo o PIB real em, pelo menos, 1,5%. “A Rússia pode compensar o déficit de mercadorias ucranianas aumentando sua própria produção”, diz o diretor-geral do Grupo Alor, Serguêi Khestanov. Atualmente, porém, a Rússia não consegue substituir os componentes da indústria de aviação importados da Ucrânia. “A descontinuidade do fornecimento de motores ucranianos pode ameaçar os contratos internacionais de venda de helicópteros firmados pela Rússia”, adverte Khestanov. A fábrica ucraniana Motor Sich produz motores para os helicópteros Mi-8 e o Mi-24, os modelos russos mais procurados no mercado mundial.

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Opinião

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DESENVOLVIMENTO DO ÁRTICO COMPELIDOS A INTENSIFICAR PRESENÇA MILITAR Andrêi Gúbin CIENTISTA POLÍTICO

o final de 2012, o presidente russo Vladímir Pútin declarou que a navegação pela Rota do Mar do Norte era ainda mais econômica do que a praticada pelo Canal do Suez, reafirmando a extrema importância da região para a Rússia. “A Rússia quer expandir a rede de reservas naturais protegidas, bem como reforçar a segurança na região ártica, que produz 80% do gás russo e mais de 90% do níquel e do cobalto do país, ou seja, riquezas que representam de 12% a 15% do PIB e cerca de um quarto das exportações russas”, afirmou ainda Pútin, du rante o “Fórum Internacional do Ártico – Território do Diálogo”, realizado em 2013 na cidade russa de Salekhard. Com os interesses de muitos Estados convergindo para o Ártico, a Rússia se vê compelida a agir de forma incisiva, mantendo o controle sobre

uma vasta área ali que soma mais de 1 milhão de quilômetros quadrados. Em outubro de 2013, um grupo de dez navios de guerra, sob o comando do cruzador nuclear “Piotr Velíki”, acompanhados por um navio quebra-gelo nuclear, navegaram 2.000 milhas pelos mares de Barents, de Kara e de Laptec, quando esses estavam todos cobertos de gelo. A flotilha aportou nas Ilhas da Nova Sibéria, no delta do rio Lena, e levou para lá equipamentos para aquecimento doméstico e combustível. “A expedição teve a tarefa de coletar informações sobre as mudanças das condições hidrográficas, atualizar as cartas náuticas, realizar observações meteorológicas, assim como elaborar um estudo sobre a viabilidade da navegação de embarcações sem a assistência de navios quebra-gelo em altas latitudes”, observou o comandante

N

da Marinha russa, Víktor Chirkov. A Rússia também está restaurando a Base Aérea de Temp, na Ilha Kotélni, a maior do arquipélago Nova Sibéria. Lá estão sendo empregadas novas tecnologias que permitirão seu uso durante todo o ano e o apoio a aviões de transporte em todas as situações climáticas. No arquipélago de Nova Zemliá, foi concluída a reforma da pista da Base Aérea de Rogachevo, onde serão implantados caças interceptadores e um sistema de mísseis de defesa aérea que protegerão as fronteiras da Rússia de ataques aéreos setentrionais. Os líderes russos parecem determinados a fomentar a presença naval militar permanente no Ártico. A Frota do Norte é composta pelo navio aeródromo Almirante Kuznetsov, que pode carregar aviões capazes de defender o espaço aéreo russo na região. Está previsto para daqui a dez anos o início das operações de outras embarcações de combate que pos-

Os países que têm interesse na região também estão modernizando rapidamente suas forças armadas, levando em conta os possíveis problemas do local. A situação fica ainda mais

complicada pela falta de um regime internacional de segurança eficaz no Ártico e pela participação ativa de países de fora da região que apoiam os Estados que lhes oferecem condições para participar em projetos no local. A Rússia quase não tem aliados no Conselho do Ártico. Com os acontecimentos recentes na Ucrânia e a deterioração das relações com o Ocidente, os membros permanentes do conselho, especialmente EUA, Canadá, Noruega e Dinamarca provavelmente adotarão políticas para limitar as iniciativas econômicas e militares russas na região. Assim, o país deve procurar aliados entre os observadores do conselho interessados no livre acesso à região, como China, Coreia do Sul,

Japão e Brasil, assim como os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático. Provavelmente será observado um agravamento das disputas territoriais e das tentativas de revisão do estatuto legal da região ártica. Não será fácil para a Rússia. O Ártico tem importância vital do ponto de vista dos interesses nacionais, e as lideranças irão buscar resolver quaisquer conflitos primeiramente por meios diplomáticos e políticos. Moscou certamente não será o iniciador de uma “Batalha pelo Ártico”, mas não vai tolerar a violação de seus direitos.

Esse é o preço que a Rússia tem que pagar para fazer parte do clube. Mas por que o plano russo para o retorno ao Ártico, plenamente justificado, está sendo implementado tão lentamente? Existe uma estratégia muito concreta em relação ao Ártico: as empresas privadas ou com participação estatal russas, como a Lukoil, a Rosneft e a Gazromneft, estão realizando projetos específicos baseados em princípios de economia de mercado e são destinados a gerar lucros a médio prazo. Durante reunião do Conselho de Segurança da Rús-

sia em 22 de abril, Pútin ressaltou a importância de “fortalecer a infraestrutura militar” na região. Ordenou a criação de uma rede unificada de bases navais na costa do Ártico para defender os interesses russos na região. Mas também existe uma abordagem mais ampla, a do Estado, que vai além do simples equilíbrio entre custos e benefícios. O Estado está interessado no desenvolvimento do território russo do Ártico, com sua infraestrutura para as gerações russas atuais e futuras, um desenvolvimento sustentável para os próximos séculos. Isso não é apenas economia, inclui ques-

tões de soberania territorial e estatal, além de completa presença no Ártico. Essas duas abordagens não devem ser comparadas ou confundidas, mas sim coexistentes. A política do Estado sobre o Ártico deve garantir harmonia entre as duas abordagens, e a parceria entre as iniciativas públicas e privadas deve assegurar o desenvolvimento sustentável da parte russa para seus habitantes e para todo o povo russo.

mostravam instáveis. A fabricante sueca de automóveis Volvo, por exemplo, anunciou em março passado que, devido à situação na Ucrânia, reconsideraria uma parceria com a fabricante estatal de material ferroviário e tanques Uralvagonzavod. O projeto, no valor de US$ 100 milhões, era referente à fabricação conjunta de veículos blindados modernos. “A queda significativa do IED, que atrai não apenas capital, mas também tecnologia moderna e competências administrativas, teria tido forte impacto no crescimento econômico de longo prazo. E negar o acesso de bancos e empresas russas ao sistema ban-

cário dos EUA e, possivelmente, ao europeu, que foi a sanção mais severa já aplicada ao Irã, teria um efeito devastador”, afirma o economista Serguêi Guriev. O investimento interno em capital fixo foi abalado, e as IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) também sofrem com o cenário. Em 2013, uma janela de oportunidades se abriu brevemente, e a Rússia viu várias IPOs escaparem diante de seus olhos. Agora, os planos de IPO de diversas grandes empresas são incertos, e o momento é sombrio para a economia russa.

s a m op e r a r n a s z o n a s árticas. É possível, porém, que surja uma ameaça aos mísseis balísticos russos, naquilo que se chama de “ataque preventivo”, devido à presença permanente de submarinos nucleares da Marinha dos Estados Unidos e da implantação por esses de sistemas de defesa antimísseis baseados no mar. É necessário, portanto, que a Rússia modernize toda sua capacidade nuclear baseada em submarinos. De fato, apesar de em janeiro de 2013 ter entrado em funcionamento o novo submarino nuclear Iúri Dolgorúki, somente após 2020 outros oito dessa classe estarão operando na Frota do Norte. O documento com os princípios da política da Rússia

no Ártico a partir de 2020 prevê um reforço na guarda costeira e no controle de fronteiras. Com esse objetivo, unidades especiais das Forças Armadas realizaram operações na península de Kola.

forma continental Mendeleiev. A Rússia gastou milhões de dólares com esse intuito, um custo sem precedentes para uma reivindicação territorial. Nem mesmo os garimpeiros do século 19 gastaram tanto na exploração de fontes na Califórnia, em Yukon e no Alasca. Mas o investimento foi essencial porque o país quer fazer parte da comunidade internacional, e na década de 1990 assinou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que impõe a todos os países signatários que forneçam dados sobre sua parte na plataforma continental.

Com interesses de diversos Estados convergindo para o Ártico, Rússia deve proteger seu quinhão

Andrêi Gúbin é chefe do Centro Ásia-Pacífico do Instituto de Estudos Estratégicos da Rússia.

Aleksandr Piliassov ECONOMISTA

senão o desenvolvimento desse território, não apenas devido às novas oportunidades que sua plataforma continental oferece, mas também pelo potencial para o desenvolvimento urbano e dos recursos naturais e demográficos. Além disso, com a independência das repúblicas da Ásia Central e do Sul do Cáucaso,

or que a relação custo-benefício do desenvolvimento do Ártico não suscita questionamento, por exemplo, na Noruega, um país que extrai petróleo e gás na região há décadas e se tornou o líder da inovação ali? Por que essa questão não é colocada pelo Canadá, que em comparação com a Rússia tem uma população muito pequena na região do Ártico e está construindo diversos novos centros de pesquisas científicas polares? Por que com a Rússia é diferente? Por que ela ainda hesita sobre a necessidade de voltar ao Ártico após a crise dos anos 1990, embora todas as outras potências mundiais lutem pela participação no desenvolvimento da região? O que acontecerá à Rússia se ela não desenvolver o Ártico em termos de território e PIB? O país cairá dez posições em todos os rankings internacionais, no mínimo. Para a Rússia, não há alternativa

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País gastou milhões com reivindicações territoriais, mas desenvolvimento da região é lento a Rússia tornou-se um país do Norte. Portanto, o desenvolvimento do Ártico é simplesmente inevitável. Mas ressurge a questão de como garantir a nova presença do país de forma eficiente e economicamente viável. O programa de modernização da frota de quebra-gelos

soviética está sendo realizado lentamente e em uma escala muito modesta. Apesar do conhecimento e da exploração da plataforma continental, as conquistas russas estão bem abaixo das dos países europeus e dos Estados Unidos. Os esforços da Rússia para superar essas diferenças são claramente insuficientes. No anos 1990, o Ártico russo não recebeu a devida atenção do Estado. Houve grandes cortes no orçamento para a frota de quebra-gelos, no apoio à população indígena do Norte e do Ártico e nos programas de pesquisa polar. Agora, a Rússia retoma apenas parcialmente os planos soviéticos de presença no Ártico. Durante a última década, a Rússia realizou somente projetos isolados, tais como a exploração da nova jazida de petróleo Prirazlômnoie, da petrolífera Lukoil, alvo de protesto do Greenpeace no ano passado. Os recursos mais importantes das últimas décadas foram destinados à coleta de dados para apoiar a reivindicação russa de milhares de quilômetros quadrados da plata-

KONSTANTIN MALER

POR QUE A HESITAÇÃO EM SE DEDICAR AO ÁRTICO?

A UCRÂNIA E OS INVESTIMENTOS Ben Aris ECONOMISTA

s acontecimentos na Ucrânia causaram um grande choque, tanto para empresários russos, como para políticos em Bruxelas e Washington. Como resu ltado, o impacto da reanexação da Crimeia será sentido nos investimentos nacionais e estrangeiros ao longo deste ano. Na Rússia, o aumento dos investimentos se mostrou crucial para elevar o crescimen-

KONSTANTIN MALER

O

to econômico. Esse movimento vinha se apoiando em gastos no varejo, mas chegou ao fim em 2013. Quando esse motor econômico começava a dar sinais de problemas, os investimentos se mostraram ainda mais importantes. No ano passado, a Rússia atraiu a enorme quantia de 94 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto (IED), tornando-se o terceiro maior receptor de IED do mundo, de acordo com ranking divulgado pela Conferência das Nações Unidas

sobre Comércio e Desenvolvimento, em fevereiro passado. Grande parte desse valor veio com o acordo entre a British Petroleum e a petrolífera estatal Rosneft na aquisição da joint venture TNK-BP. O IED teria provavelmente diminuído consideravelmente neste ano, mesmo se desconsiderando o acordo da TNK-BP. Mas agora os analistas esperam uma queda ainda maior. A partir de meados de março, diversos grandes negócios que estavam prestes a ser concluídos já se

Aleksandr Piliassov é diretor do Centro de Economia do Norte e Ártico do Conselho para os Estudos das Forças Produtivas.

Ben Aris é editor-chefe do jornal Business New Europe.

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Especial

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Exploração História secular tem novo capítulo com projeto russo-americano resistindo a sanções

Petróleo Reserva tem 71,9 mi de ton

Pesquisas no Ártico superam obstáculos

Gazprom dá início a extração na região Gigante estatal expediu o primeiro carregamento produzido na plataforma Prirazlômnaia, única em escala industrial do Ártico. ALEKSÊI LOSSAN

dos dois novos petroleiros com capacidade de navegar em determinadas condições de gelo. Uma base especial de emergência também foi construída às margens do local de extração.

GAZETA RUSSA

LORI/LEGION MEDIA

Parceria entre russa Rosneft e norte-americana Exxon Mobil na busca de hidrocarbonetos indicam importância da região. VADIM IERCHOV GAZETA RUSSA

A russa Rosneft e a norte-americana Exxon Mobil continuarão a desenvolver reservas de hidrocarbonetos mesmo diante da imposição de maiores sanções à Rússia devido à crise ucraniana. O Centro de Pesquisas e Projetos do Ártico para Desenvolvimento da Plataforma Continental, fundado pelas duas gigantes do petróleo e do gás, já inicia uma exped ição de pe squ i sa n a região. O Ártico concentra cerca de 13% das reservas de petróleo e 30% das de gás natural ainda não descobertas no mundo, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA. Mais da metade desses recursos estariam na parte russa. Mais especificamente, 95% das reservas de gás árticas estão no segmento russo.

Abundância de parcerias Não foi por acaso que, em 2010, a mesma Rosneft iniciou parceria com outra gigante do petróleo e do gás, a britânica BP. Então, as companhias pretendiam inclusive trocar ações entre si, além de criar um Centro de Tecnolo g i a s do Á r t ic o n a Rússia. Junto a institutos russos e estrangeiros líderes em pesquisa e universidades, o centro deveria se ocupar do desenvolvimento e implementação de tecnologias e soluções de engenha-

ria avançadas para a exploração segura dos recursos de hidrocarbonetos do Ártico. Muitos especialistas comparam a exploração da plataforma continental à conquista do espaço devido aos avanços alcançados em nanotecnologia e eletrônica. A parceria é vantajosa para ambos, já que os norte-americanos detêm a experiência e os equipamentos necessários para tal, e a Rússia os ajudará a capitalizar seus ativos no Ártico de um modo mais rápido e seguro.

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FATOS SOBRE O ÁRTICO

Dura conquista A tarefa a que se propõem russos e americanos é visivelmente difícil. Mais complicada, porém, foi a própria conquista do Ártico, que se apoiou em grande parte sobre os esforços russos. Ainda na primeira metade do século 16, o povo pomors, um grupo étnico russo que habita a região do mar Branco, no norte da Rússia, navegou até o Oceano Ártico e ao longo de sua costa por meio de afluentes dos rios siberianos. Já em 1648, um grupo de marinheiros liderado por Fedot Popov e o chefe cossaco Semion Dejnev contornou com suas embarcações a Península de Chukotka e atingiu o Oceano Pacífico. Entre 1733 e 1742, como resultado da chamada “Grande Expedição do Norte”, foram traçados no mapa os contornos da costa do Oceano Ártico, de Arkhangelsk até a foz do rio Kolimá, o litoral da ilha de Honshu e as Ilhas Curilas. Em 1899, por iniciativa do Almirante Makarov, construiu-se o pri-

É a região polar localizada no norte do planeta. É constituída pelo Oceano Ártico e partes do Canadá, Rússia, Estados Unidos (Alasca), Dinamarca (Groenlândia), Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia.

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A maior dificuldade na exploração do Ártico é o clima: as temperaturas no inverno ficam entre 40 e 60 graus Celsius negativos. Nesse período ocorrem também as noites polares, que duram mais de 24 horas.

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meiro quebra-gelo de alta potência do mundo, o Ermak, destinado a manter comunicação regular com os rios Ob e Ienisei, através do mar de Kara, e para pesquisas oceânicas até as latitudes mais altas. A Rússia Soviética e, mais tarde, a União Soviética não

as jazidas na plataforma continental. O uso desse corredor permite acelerar e simplificar significativamente a troca de mercadorias entre a Europa e a Ásia. Por exemplo, a distância marítima entre Roterdã e Tóquio através do Canal de Suez é de 21,1 mil quilômetros. En-

Equipamentos e conhecimento americanos se unem a experiência russa na região

Além do desenvolvimento de reservas, Ártico permite redução de rotas de navegação

deixaram para trás as atividades imperiais na região. Em 10 de março de 1921, Vladímir Lênin assinou um decreto criando o Instituto Científico e de Pesquisas do Mar, com o Ártico como área de atuação. A partir de 1923, foram construídas 19 estações polares radiometeorológicas na costa e nas ilhas do Oceano Ártico em um período de apenas dez anos. Já nas décadas de 1930 e 1940, a travessia de toda a Rota do Mar do Norte foi feita pela primeira vez em uma única viagem. A Rota do Mar do Norte é provavelmente mais importante no Ártico russo do que

quanto a rota da Passagem do Noroeste é feita em 15.900 km, a Rota do Mar do Norte reduz a travessia para 14.100 km.

Uma rota para o gás A rota permite redução de até 40% no tempo de travessia em relação aos trajetos tradicionais. Como resultado, a economia de combustível e redução do tempo de entrega repercutem na redução dos custos com pessoal e com frete de um navio. O papel da Rota do Mar do Norte aumenta significativamente com a crescente popularidade do gás natural liquefeito (GNL). Graças a ele,

O Ártico é um dos principais pontos de discussão de organizações de defesa do meio ambiente, como o Greenpeace, que defende que sua natureza deve permanecer intocada pelo ser humano.

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os produtores podem vender gás natural sem se preocupar com a existência ou não de dutos ligando a sua jazida. É por meio dessa rota que opera o projeto de abastecimento Yamal LNG, implementado pela russa Novatek em parceria com a francesa Total e a chinesa CNPC.

Fronteiras árticas O Ártico sofre uma perda de 5% na área da cobertura de gelo a cada 10 anos, e a espessura das geleiras do mar Ártico é a metade do que foi há meio século. Assim, é fundamental ter a divisão das fronteiras do Ártico reconhec id a p e l a c o mu n id ade internacional. Atualmente, elas são definidas com base na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982. Segundo esse documento, a competência territorial do Estado se aplica apenas à plataforma continental. Quanto ao fundo dos mares e oceanos e seus subsolos, que não estão sob a jurisdição de nenhum país, esses são considerados patrimônio comum da humanidade. Ou seja, todas as nações do mundo têm direitos iguais de exploração dos recursos naturais ali existentes.

Na contramão dos barulhentos protestos da ONG Greenpeace, a Rússia conseguiu finalmente implementar seu projeto petrolífero no Ártico. O volume do primeiro carregamento da commodity alcançou 70 mil toneladas. “Esse hidrocarboneto bruto requer um processamento de alta tecnologia. Ele é melhor e mais barato do que o petróleo extraído nos Urais e nos campos europeus, e existe uma grande demanda por petróleo desse tipo”, afirma o analista sênior da c o n s u lt o r i a U F S , I l i á Balákirev. As reservas do depósito ártico somam um total de 71,96 milhões de toneladas, e a taxa de extração prevista é de 6 milhões de toneladas por ano. Assim, estima-se que o campo permanecerá ativo por pelo menos dez anos. Por serem pequenas, as reservas não devem influenciar significativamente nos preços da commodity. O preço mínimo do barril previsto pelo projeto será de US$ 80. O campo de extração está localizado a 60 km da costa, no mar de Pechora, o que torna a acesso ao hidrocarb one t o u m ve r d ade i r o desafio. Mesmo assim, a Gazprom garante haver total segurança durante a extração, transporte e armazenamento do petróleo. O hidrocarboneto extraído é armazenado em compartimentos especiais com capacidade para até 94 toneladas. Em caso de vazamento, o sistema de segurança é acionado em 7 segundos, bloqueando a passagem do produto. Além disso, o local de transferência do petróleo para os navios-tanque varia, e é determinado conforme as condições do mar, velocidade do vento, correntes marítimas e espessura do gelo. Para tanto, foram construí-

Recorde de gastos? A produção na plataforma de Prirazlômnaia é um dos projetos russos mais caros na área de petróleo e gás. Em 20 anos, as despesas para sua implementação já ultrapassaram a marca dos US$ 2,5 bilhões. O projeto estava atrasado desde 2004, mas a “corrida ao Ártico” acelerou os esforços. Apesar de o campo ter sido descoberto em 1989, a plataforma marítima de extração só foi instalada em agosto de 2011, e a produção foi iniciada em 2013. “Em termos de navegação e de logística, a extração do petróleo ártico parece ser a solução mais eficaz. Espera-se que, após o aumento na produção, a empresa consiga estabelecer contratos de longo prazo”, diz Balákirev, acrescentando que, no primeiro trimestre deste ano, a Gazprom manteve contato com refi narias no noroeste da Europa. Para ele, a produção de petróleo na região tem caráter político, já que a Rússia reivindica territórios do Ártico. Atualmente, os projetos para desenvolver a plataforma ártica estão em diversos níveis e estágios e são conduzidos principalmente pela Shell, Statoil, ExxonMobil, ConocoPhilips e BP. Mas a Gazprom pretende ser a única exportadora de petróleo ártico no mundo. “Para a Rússia, a produção de petróleo não é só um projeto econômico econômico. Ela compreende o Ártico como uma zona de interesses prioritários e quer limitar a crescente influência dos países ocidentais na região”, concorda o analista da consultoria Finam, Anatóli Vakulenko. O governo russo planeja instalar um total de 25 plataformas semelhantes no Ártico.

Análise Abertura perene da Rota do Norte como consequência de derretimento na região exige maiores cuidados com interesses nacionais

Defesa da parcela russa já está em progresso DMÍTRI LITÓVKIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Pela primeira vez na história da Marinha russa, o cruzador de mísseis guiados de grande porte “Piótr Velíkii” atravessou a rota marítima do norte. Apesar de o evento ter chamado pouca atenção da imprensa mundial, especialistas afirmam que ele poderá trazer sérias consequências para a segurança internacional. Um grupo de navios de guerra da Frota do Norte russa, liderado pelo cruzador de mísseis guiados de grande porte “Piotr Velíki”, atravessou os estreitos de Kara e de Vilkitski e entrou nas águas do mar de Laptev, onde realizou treinamentos com armas de artilharia e defesa antiaérea, partindo em seguida para a principal base da Marinha, localizada na cidade de Severomorsk. O “Piótr Velíkii” é o primeiro navio a completar a rota mencionada desde agosto de 1942. Naquela época, o cruzador de grande porte “Admiral Scheer”, pertencente à frota da Alemanha nazista, afundou o quebra-

-gelo soviético “Aleksandr Sibiriakov”, e a partir daí nenhum navio russo ou alemão foi além do arquipélago Nova Zemliá. O motivo, segundo o almirante Igor Kassatánov, ex-vice-comandante da Marinha russa, é a falta de qualquer objetivo importante para tal. “Os interesses nacionais na região foram defendidos por expedições científicas e pelas empresas transportadoras, assim como pelo processo de desenvolvimento da infraestrutura costeira e de equipamentos de navegação. Agora, porém, a situação é diferente devido ao derretimento de blocos de gelo ao longo da rota marítima do norte que passa pelas águas territoriais da Rússia”, diz. Em 2013, um navio de pequeno porte da guarda de fronteira com deslocamento de apenas mil toneladas saiu da cidade de Murmansk em 23 de agosto, chegando à ilha de Sacalina já em 20 de setembro. O navio passou pela rota marítima do norte sem acompanhamento de qualquer embarcação ou quebra-gelo. Segundo a tripulação, ao longo do caminho, as águas árticas estavam livres de gelo, o que facilitou sua navegação. Como a rota marítima do norte é o caminho mais curto

quel, petróleo e gás natural, enquanto o mar ali é rico em carbonos.

Presença mundial no Ártico

Reivindicação territorial

NATALIA MIKHAYLENKO

Cruzador “Piotr Velíki” ganhará reforço do “Admiral Nakhimov”, que passa por reforma em estaleiro na cidade de Severodvinsk.

Cruzador Piotr Velíki “Piotr Velíki” é a maior embarcação da Marinha russa, equipada com 24 misseis supersônicos de cruzeiro “Granit”, um arsenal completo de mísseis

terra-ar, complexo de artilharia e meios de combate a submarinos, além de um sistema de fornecimento de energia nuclear que garante sua autonomia.

entre a Europa e Ásia, o tempo de transporte de cargas civis entre esses dois continentes poderá ser reduzido com o caminho livre de gelo. A costa do norte do território russo possui os maiores depósitos de minério de ní-

Em 2007, a expedição Ártica-2007 teve por objetivo provar a pertinência ao territór io r u s so d a dor sa l de Lomonossov, localizada na parte central do Oceano Ártico, entre as ilhas da Nova Sibéria e a Ellesmere, do Arquipélago Ártico Canadense. Os resultados da missão, assim como as amostras do solo obtidas do fundo do mar na região, foram apresentados à comunidade internacional, responsável pela decisão sobre a ampliação da área das águas territoriais da Federação Russa. Mesmo na ausência de uma resposta final, o governo russo já iniciou o processo de ampliação da presença militar do país na região, emitindo uma ordem de criação das equipes de fuzileiros motorizados e dispondo de divisões de defesa antiaérea e interceptores de alta altitude MiG-31 no território do arquipélago Nova Zemliá, além da restauração dos campos de pouso e bases dos aviões bombardeiros estratégicos. “As medidas são unilaterais, pois toda a rota marí-

tima do norte encontra-se nas águas territoriais russas. O derretimento dos blocos de gelo que acontece justamente nas proximidades de sua costa impossibilita qualquer ação de outros interessados em dominar a plataforma continental ártica em questão”, diz Vladímir Koziúlin, professor da Academia de Ciências Militares. Mas o controle do território não estará completo sem a presença dos navios da Marinha russa. Isso explica a recente missão realizada por um cruzador nuclear, segundo Kassatonov. O resultado deste trabalho será aplicado na elaboração do plano de permanência dos navios russos na região. O cruzador “Piotr Velíki” conseguiu demonstrar a todos a capacidade russa de defender seus interesses na região do Ártico. E em breve ele receberá um reforço: o cruzador nuclear de mísseis guiados de grande porte “Admiral Nakhimov”, que no momento encontra-se em processo de modernização no e s t a le i r o d a cid ade de Severodvinsk. Quando deixar o local, o “Admiral Nakhimov” deverá se tornar o navio russo mais moderno e potente para ajudar a manter os territórios do país sob controle.


Economia

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com

Briliov: “Sou um daqueles russos que leem José Martí e Mario Benedetti no original”

ENTREVISTA SERGUÊI BRILIOV

DIRETOR DO NOVO INSTITUTO BERINGBELLINGSHAUSEN QUER MAIOR APROXIMAÇÃO DE MERCOSUL E UNIÃO ADUANEIRA Nascido em Havana e filho de funcionários da câmara de comércio soviética, Serguêi Briliov é vice-diretor do canal estatal “Rossiya” e, agora, diretor do Instituto Bering-Bellingshausen para as Américas (IBBA). O principal objetivo da organização não governamental baseada em Montevidéu é estreitar os laços entre Rússia e América Latina, sejam eles econômicos ou culturais. Para tanto, a instituição quer promover um maior conhecimento mútuo dos principais mecanismos de integração regionais dos quais esses fazem parte: o Mercosul e a União Aduaneira. A primeira reunião do IBBA está marcada para o dia 14 de julho na capital uruguaia. Briliov falou à Gazeta Russa sobre os planos para o instituto: Você é conhecido na Rússia principalmente por ser vice-diretor do canal estatal “Rossyia”, pelo qual entrevistou Pútin, Obama, Bush, Tony

Blair e David Cameron, entre outros. Onde fica a América Latina no meio disso tudo? Realmente, as pessoas me associam mais com a agenda do hemisfério Norte. Mas não podemos esquecer de dois pontos: em primeiro lugar, a Rússia pertence geograficamente ao Norte, mas tem uma agenda mais parecida e próxima às dos países em desenvolvimento do hemisfério Sul, e compar tilha pontos em comum com esses não só na economia, como até no modo de pensar. Além disso, sou, tecnicamente, um latino. Por que tecnicamente? Sou russo, considero-me moscovita, mas nasci em Havana e c r e s c i e nt r e Q u it o e Montevidéu. Não foi uma escolha sua, em outras palavras... Foi e não foi. Meus pais trabalharam na América Latina dos anos 1970 até os anos 1990. E eu sempre tive um profundo e constante interesse na região. Fiz muitas en-

trevistas com os presidentes de países latino-americanos: Bachelet, Chávez, Sanguinetti, Ortega, Morales, Correa e outros. Além disso, escrevi dois livros sobre a América Latina e inúmeros artigos científicos. E sim, sou um daqueles russos que leem obras de José Martí e Mario Benedetti no original. O que é Bering-Bellinsghausen? Bering e Bellinsghausen foram dois marinheiros russos dos séculos 17 e 19, respectivamente. Foram eles que completaram o mapa do Hemisfério Ocidental, das Américas: do Alasca à região antártica de Bellinghausen. As letras que formam a abreviatura da nossa organização, IBBA, parecem formar o desenho de um barco com asas. É preciso deixar que os ventos da contemporaneidade movam essas asas... E quais são esses ventos? Gostaria de citar um exemplo específico: o conhecimen-

FOTO DO ARQUIVO PESSOAL

Um instituto para reunir os continentes br.rbth.com/25633

to da comunidade empresarial russa sobre a legislação das zonas francas do Mercosul. Mencionei o assunto durante conversas com diversos empresários russos que já operam no mercado sul-americano e percebi que eles nada sabem sobre os benefícios desses regulamentos. E a maioria deles não têm analistas especializados em assuntos regionais. Vêm para a América do Sul como para Europa ou Estados Unidos. Por outro lado, os sul-americanos também não sabem sobre a existência da nova União Aduaneira, formada por Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão. Um dos objetivos do IBBA será apresentar orçamentos a empresas privadas e publicar relatórios detalhados elaborados pelos melhores especialistas nessa agenda. O relatório inicial será apresentado durante a primeira conferência do IBBA, em 14 de julho, em Montevidéu.

cipam de fóruns como Davos não sabem sobre esses projetos? É uma ironia, mas em lugares como Davos, russos e sul-americanos se reúnem para discutir a agenda global, mas quase não falam da própria agenda. Eles sabem mais sobre a União Europeia e o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio do que sobre os projetos de seus próprios países. Falta um formato bilateral, e é preciso criar um fórum especial para tanto.

Como empresários que parti-

Houve trabalho conjunto entre

UMA VIAGEM ATRAVÉS DO RIO MOSCOU

Além dos projetos voltados ao empresariado, em que áreas atuará o instituto? Já iniciamos, em nome do IBBA, dois projetos relacionados à área de História. O primeiro será a organização de eventos comemorativos do 70º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial, e o segundo, uma conferência com historiadores russos e latino-americanos sobre cooperação durante a guerra.

RAIO-X IDADE: 41 FORMAÇÃO: LETRAS E JORNALISMO

Filho de funcionários da câmara de comércio soviética, Briliov nasceu em 27 de julho de 1972 em Havana, Cuba, e pas-

Rússia e América Latina na Segunda Guerra Mundial? É disso que trata meu último livro, “Os Aliados Perdidos”. Mais de 50% do açúcar consumido na URSS durante a guerra, por exemplo, era importado de Cuba. Então, diziam que isso era parte do Lend-Lease, ou seja, o programa de empréstimos norte-americano, mas, na verdade, o açúcar era cubano. Outro exemplo foi a defesa dos submarinos soviéticos no Pacífico, que foi efetuada pela Força Aérea hondurenha em 1942.

AS CORES RUSSAS

sou a infância e adolescência entre Rússia, Equador e Uruguai. Formou-se em letras na capital uruguaia, e em jornalismo internacional pela MGIMO, em Moscou. Foi correspondente internacional baseado na Europa para o canal estatal “Rossiya”, do qual é hoje vice-diretor.

Quais outros projetos serão realizados pelo IBBA? Tentaremos estrear na América do Sul três ou quatro filmes russos produzidos pelo meu canal. São documentários de interesse geral relacionados às explorações geográficas atuais, além do filme “Stalingrado”, que foi a grande estreia do ano passado e contou com a participação de grandes estrelas russas e alemãs. A legendagem está em fase de finalização. Entrevista realizada por Elena Nóvikova

GUERRA Campos de strike ball, reconstruções de operações militares, cursos de enfermagem de guerra e uma enorme exposição de artefatos militares.

RECONSTRUÇÃO DA CHEGADA DA FAMÍLIA ROMANOV, MÚSICOS CIGANOS, TEATRO E CIRCO DE RUA, COMÉRCIO DE VACAS E GANSOS E TORNEIO MUSICAL DE “TCHASTUCHKA”.

NOS DIAS 7 E 8 DE JUNHO, O PARQUE KOLÔMENSKOE, EM MOSCOU, ABRIGARÁ O QUARTO FESTIVAL INTERNACIONAL DE HISTÓRIA “TIMES AND AGES”, CELEBRANDO OS 100 ANOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL.

Em meados de 2014, em homenagem ao centenário da Primeira Guerra Mundial, o tema do festival será o “Início do século 20: a Primeira Guerra e as Revoluções”. Nele será possível contemplar os primeiros passos da cinematografia russa, participar das conspirações da “imprensa underground”, experimentar roupas e figurinos da moda do final do século 19 e início do século 20, assim como participar de torneios de wrestling, comprar artigos vintage em diversos antiquários, percorrer os acampamentos de vários exércitos europeus participantes e testemunhar as reconstituições de batalhas famosas da Primeira Guerra.

No início do verão, às margens do rio Moscou, acontecerá o melhor acampamento de clubes históricos do mundo - aqueles que reconstituem momentos do início do século 20: o The Victorian Military Society 1837-1914 e o Great War Society (Inglaterra), o Association du Poilu de la Marne (França), o 33rd Division (EUA), o Deutsches Rotes Kreutz (Alemanha) e o Front-Line Eesti (Estônia).

HISTÓRIA Os amantes de história militar poderão ver com seus próprios olhos combates entre carros blindados de primeira geração, apreciar a beleza de aviões e canhões da época e passar por treinamentos com unidades de soldados experientes. O destaque do festival será a reconstrução de uma das batalhas centrais da Primeira Guerra, a “Ofensiva Brusilov”. CULTURA RUSSA

PAZ Entre os passatempos pacíficos, os visitantes poderão conferir as maravilhas elétricas de um dos cientistas mais misteriosos do século 20: Nikola Tesla. A seus experimentos muitos atribuem o enigmático “Evento de Tunguska”, uma explosão na região de Tunguska, na Sibéria.

Aqueles que vêm a Moscou poderão provar o verdadeiro sabor cultural nativo da Rússia, contemplando circos ciganos de rua com acrobatas e malabaristas. A entrada no festival é gratuita.

Artes Desfiles de moda do início do século 20, exposição de carros antigos, cinema de rua, piquenique à la russe, concertos com bandas de música tradicional.

O evento é organizado pela Comissão de Turismo e Hotelaria de Moscou e pelo site TRAVEL2MOSCOW.COM


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