Gazeta Russa

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QUARTA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2012

O melhor da

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PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

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Aquecimento global no fim?

Rio+20 tem bilateralismo

Apesar das previsões catastróficas do IPCC, grupo de cientistas russos nega o efeito e diz que Terra resfria.

Em evento paralelo, russo defende parceria com Brasil em energia

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Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Mainichi Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

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NOTAS

LORI/LEGION MEDIA

Moscou é a 4° cidade mais cara do mundo

BEZRUKOV&BASHNAEVA

Risco de extinção Com documentos ilegais comprados de canadenses, russos exportam peles dos animais

Ursos brancos, mercado negro Organizações de defesa do meio ambiente mundiais apelam a presidente russo para que proteja espécies em risco de extinção. MARGARITA KAZÁNTSEVA IZVÉSTIA

O Ifaw (do inglês Fundo Internacional para a Proteção de Animais), o NRDC (Con-

selho de Defesa dos Recursos Naturais) e o HSI (Human Society International) pediram ao presidente russo Vladímir Pútin que apresente uma proposta para incluir os ursos polares no “Primeiro Anexo da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Ex-

tinção” (Cites, na sigla em inglês). “Enviamos uma carta ao presidente da Rússia, ao novo ministro dos Recursos Naturais e ao Serviço Federal de Vigilância da Natureza da Rússia, mas ainda não recebemos a resposta”, diz a diretora de projetos da Ifaw, Mila Danílova.

Apesar de a Rússia ter proibido a caça a ursos polares há mais de 50 anos, circulam pela internet vários anúncios de venda de peles, patas, presas e garras desses animais, bem como de serviços de curtimento de peles e até de emissão de documentos legalizando os produtos. Mais de 300 ursos polares

Confira imagens dos ursos polares da Ilha de Vrânguel: www.gazetarussa.com. br/14147

são vitimados pela caça ilegal anualmente. De acordo com ambientalistas, o número de ursos polares será reduzido a um terço do atual nos próximos 40 anos. Os grupos pedem ao presidente uma regulamentação rigorosa em relação à proibição

Migração Executivos moscovitas deixam a capital

Sibéria inagura super radar

Empresas privadas redescobrem interior do país

MARIA PORTNYAGINA, OLGA FILINA OGONIOK

VIKTOR LITOVKIN

Todos os lançamentos de mísseis dentro da área de cobertura passam a ser detectados pelos satélites do sistema de vigilância. VÍKTOR LITÓVKIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A Rússia fi nalizou a instalação de um novo radar, o Voronej-M, nos arredores da cidade siberiana de UssólieSibírskoe. A aparelhagem é parte do sistema nacional de alerta de mísseis e é a quarta instalada pela Rússia nos últimos anos. Agregados a radares em outras regiões russas, bem como na Bielorrússia, Azerbaijão e Cazaquistão, eles formarão

um arco de alerta de mísseis. O Exército não esconde que a novidade é a reação aos planos dos EUA e Otan de criar um escudo de defesa antimíssil na Europa. “O novo aparato faz parte do sistema de dissuasão nuclear russo. É um sinal para que os EUA e a Otan repensem suas ações”, afirma o comandante da Defesa Aer o e s pac i a l r u s s a, Oleg Ostápenko. Segundo o general, o país não instalará novos radares no exterior “A expe r iê ncia de at r itos e nvolve ndo o s r ad a r e s CONTINUA NA PÁGINA 4

Raio da primeira fase cobre Japão, China, Coreias do Sul e do Norte, Vietnã, Indochina e parte da Índia. Fase seguinte terá Pacífico norte e central e costa dos EUA

Mesmo durante o congestionamento pesado das 9 da manhã, a moscovita Tatiana Gladicheva leva apenas cinco minutos para chegar ao trabalho. Depois do serviço, ela vai caminhando pelo bosque para tomar um pouco de ar fresco. E isso considerando que seu apartamento está bem no centro da cidade.

Maria Azálina

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Defesa Aparato vai cobrir seis mil quilômetros

Mão de obra e aluguéis mais baratos atraem empresas, enquanto funcionários sonham com vida calma, sem trânsito, e casa própria.

A consultoria Mercer lançou, no último dia 12, sua pesquisa anual das cidades mais caras do mundo para expatriados. O objetivo do estudo é auxiliar empresas multinacionais a calcular os gastos de seus funcionários no exterior. Tóquio lidera o ranking, seguida por Luanda (Angola), Osaka (Japão), Moscou e Genebra (Suíça). São Paulo vem em 12°, seguida por Rio de Janeiro. Já Brasília, em 33°, empata com Nova York. A Rússia traz ainda São Petersburgo em 28° lugar. A pesquisa calculou os preços de mais de 200 produtos e serviços, incluindo aluguel, alimentação e combustível, em 214 países. A cidade mais barata segundo o estudo é Karachi (Paquistão), onde o custo de vida do expatriado é um terço do de Tóquio.

É fácil explicar por que a vida de Gladicheva é tão prática. Embora seja natural de Moscou, ela não vive mais ali. Em 2009, a empresa onde trabalha, a Fábrica de Doces Bolchevique, foi transferida para Sobinka, na unidade federativa de Vladímir, 160 quilômetros a leste de Moscou. A jovem, que é gerente de produção, mudou-se junto. “Imagine só poder sair de casa no verão, comer um churrasco e se encher de alegria com canteiros de flores. E Vladímir possui ainda todas as facilidades de uma cidade grande: salas de cinema, te-

atros, cafés, restaurantes e casas noturnas”, conta. Com suas qualificações profissionais, Gladicheva poderia ter permanecido em Moscou e conseguido emprego em outra companhia, mas resolveu optar por um novo tipo de vida.

Onda migratória Gladicheva não é exceção entre os funcionários que deixaram a capital. Em 2006, de acordo com pesquisas do portal de recursos hu m a no s Sup e r job. r u ,

Professor da USP lança livro sobre povo russo Na próxima quinta-feira (28), às 18h30, Angelo Segrillo profere no auditório do departamento de História da USP palestra de lançamento do livro “Os Russos”, que sai neste mês pela editora Contexto. “Ao contrário de outros livros meus, este é menos acadêmico, trata dos russos em si, como povo, sua formação histórica”, disse Segrillo à Gazeta Russa. “Mas tem também o choque cultural e coisas peculiares como o nado em águas geladas no inverno.” Marina Darmaros

Novas traduções diretas Novas traduções diretas do russo marcam o mês de junho. Pela editora Contexto sai “O método formal nos estudos literários”, de Pável Medvedev, enquanto a Iluminuras publica pela primeira vez o livro de Vsévolod Meyerhold “Do Teatro”. (MD)

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LEIA NO SITE

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS EVGUÊNI KÍSSIN 27 DE JUNHO, QUA., TEATRO CULTURA ARTÍSTICA, SÃO PAULO

COLLECTION PREMIERE MOSCOW 2012 INTERNATIONAL FASHION TRADE SHOW DE 5 A 8 DE SETEMBRO, EXPOCENTRE, MOSCOU-RÚSSIA

Em tour pela América Latina, o pianista russo Evguêni Kíssin se apresenta em São Paulo. Com extensa discografia premiada com o Grammy e o Diapason d’Or, Kíssin é doutor honoris causa pela Manhattan School of Music, membro honorário da Royal Academy of Music de Londres, e detentor do Prêmio Shostakovich, uma das mais elevadas comendas musicais concedidas pelo governo da Rússia.

O evento internacional reúne fabricantes, revendedores e compradores de roupas femininas, masculinas e infantis, lingeries, acessórios, moda praia e juvenil do mundo inteiro. A exibição é essencial para quem quer ingressar no mercado russo de moda, assim como no Leste Europeu e países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), reunindo também representantes europeus e asiáticos.

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Sharapova levará bandeira nas Olimpíadas de Londres WWW.GAZETARUSSA.COM.BR/14658


Opinião

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DOIS CENÁRIOS PARA A SÍRIA ATÉ QUE A INTERVENÇÃO NOS SEPARE? A Rússia divulga notícias sobre “terroristas estrangeiros” que lutam contra Damasco de igual para igual. Ao mesmo tempo, nunca fala sobre sua recusa de reconhecer como terrorista quem o é verdadeiramente: o movimento palestino Hamas ou o Hezbollah no Líbano. Não é surpresa nenhuma que o Exército Livre da Síria seja composto por pessoas muito diferentes, incluindo militantes islâmicos. Também é claro que eles têm tanques, armas de todos os tipos e força aérea. A concepção de que as forças são desiguais e de que o governo carrega maior responsabilidade é uma conclusão baseada no senso comum. Não há duvidas de que Assad já teve muitas oportunidades para cessar o massacre e dar início ao processo de paz, mas está cada vez mais clara sua falta de disposição para tal. Agora, o Kremlin deve decidir se a Rússia ficará ao lado de seu último cliente no Oriente Médio até o fim. E, desta vez, não para fechar contratos militares ou pela base naval em Tartus, mas para impor a ideia de que soberania é um tipo de licença perpétua para a tirania política. O Ocidente deverá também responder ao mundo árabe sobre qual a diferença entre os caráteres autoritários do regime de Muammar Gadaffi e o de Bashar Assad. Afinal, ainda não se sabe por que a Líbia mereceu uma intervenção estrangeira e a Síria não.

Konstantin von Eggert ANALISTA POLÍTICO

epois de denúncias sobre as mortes de mais de cem civis, incluindo crianças, na cidade de Hula, na Síria, os principais países ocidentais expulsaram de seus territórios diplomatas sírios. Já o enviado da ONU ao país, Kofi Annan, continua tentando convencer Bashar Assad a aceitar o plano de paz da organização. Quantas pessoas devem morrer para a comunidade internacional começar a pressionar Bashar Assad? Aparentemente 10 mil – a estimativa mínima – ainda é pouco. Quando Rússia e China aderiram à declaração do Conselho da Segurança da ONU que condenava o massacre em Hula, o clima de agitação tomou políticos, diplomatas e jornalistas. “Moscou se afasta do apoio incondicional ao regime de Assad”, lia-se nas manchetes de jornais. Mas, mesmo sem provas, as autoridades russas continuam insistindo que apenas poucas pessoas morreram em Hula pelas mãos de integrantes das forças governamentais e que os outros foram assassinados por “terroristas”. Reformulo, então, minha pergunta: Qual é o número aceitável de civis mortos após o bombardeio pela artilharia? O governo russo repete as ideias propostas pelo regime de Assad e mitiga as provas dos habitantes de Hula sobre o ataque de “shabihas”, paramilitares sob as ordens de Assad para intimidar os opositores sírios.

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Evguêni Chestakov ANALISTA POLÍTICO

recém-eleito presidente francês François Hollande diz ser “inadmissível permitir que o regime de Assad mate seu próprio povo”. Mas os próprios europeus têm a intenção de “matar o povo sírio”, vide declarações do ministro da Defesa belga de que seu país está pronto a intervir militarmente em Damasco. Paris também deu a entender que participaria de uma ação do gênero. Depois da tragédia na aldeia síria de Hula, a Rússia pediu várias vezes para que fosse realizada uma investigação independente de modo a identificar os culpados. No entanto, os países ocidentais tiraram conclusões baseadas apenas na oposição síria, que acusa o regime de Damasco pelo massacre. Muitos países europeus expulsaram os embaixadores sírios, embora esses diplomatas não tenham feito nada fora do âmbito de sua profissão. A má vontade latente dos adversários de Assad na Europa em aguardar os resultados da investigação e a pressa em expulsar os diplomatas sírios cheiram a conluio. A resposta bem coordenada do Ocidente e o surgimento do esquecido “Grupo de Amigos da Síria” dizem muito. Depois de dois dias de conversações em Damasco, o expresidente da ONU Kofi Annan, enviado especial da ONU-Liga Árabe, pediu novamente que as partes ponham fim à violência. No entanto, os clamores parecem

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Konstantin von Eggert é comentarista da rádio Kommersant FM.

RÚSSIA PEGA CARONA NO TRANSIBERIANO Serguêi Karaganov ANALISTA POLÍTICO

ão é nenhuma novidade que a Rússia precisa aderir ao crescimento econômico da Ásia e começar uma nova fase de desenvolvimento da Sibéria, com destaque para as regiões subdesenvolvidas além do lago Baikal. A locomotiva asiática já é aproveitada pelos EUA, que encontraram na região novas fontes de crescimento. Países desenvolvidos da Europa fazem a mesma coisa. Só a Rússia parece ficar de braços cruzados, numa espécie de prazer masoquista perante o despovoamento da Sibéria e o receio de maior proximidade com a China. O porquê de a Rússia agir dessa maneira tem raízes históricas. No século 20, a exploração da Sibéria e do Extremo Oriente russo foi um processo marcado por métodos socialistas autoritários. Após a queda do comunismo, o impacto foi especialme nte doloroso pa ra a região. A isso também se sobrepõe a incapacidade da elite russa, seja de direita ou de esquerda, de abandonar o já antiquado modelo eurocêntrico e avaliar adequadamen-

GUILHOTINA NÃO TRATA DOR DE CABEÇA

DMIRI DIVIN

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te a dimensão do poderio econômico da Ásia. Nos últimos dois ou três anos, o desejo de se voltar para os países asiáticos foi diversas vezes mencionado por Vladímir Pútin e Dmítri Medvedev. O resultado foi uma maior cooperação comercial entre os dois lados. Recentemente também surgiu a ideia de criar uma corporação estatal para o desenvolvimento da Sibéria Oriental e Extremo Oriente russo, levantando extensa especulação da imprensa. Economistas renomados se pronunciaram contra esse plano e foram apoiados por autoridades de alto escalão. Foi então que surgiu a proposta de criar um ministério

Capital no Extremo Oriente ajudaria país a ampliar relevância internacional, hoje em declínio específico para lidar com o assunto. Antes de mais nada, não vale a pena lamentar o desiquilíbrio da balança comercial com a Ásia, nem estimular um processo de industrialização do país quando a região vizinha oferece uma mão de obra muito mais barata e muito mais numerosa em qualquer setor. Seria mais prático enten-

der que a industrialização asiática, acompanhada da escassez de água e alimentos na região, proporciona à Rússia vantagens competitivas e oportunidades sem precedentes para a produção e exportação de matérias-primas agrícolas com o maior valor agregado possível. A fi m de quebrar a visão estereotipada da Sibéria, seria interessante criar uma nova capital do país no Extremo Oriente. As funções de centro de decisão política, militar e diplomática poderiam ser atribuídas a Moscou; São Petersburgo continuaria sendo o centro cultural e legislativo do país, e os aspectos econômicos poderiam ser concentrados em uma nova cidade no Extremo Oriente. Se os líderes do país anunciassem a intenção de concretizar essa ideia na próxima cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) em Vladivostok, a relevância internacional do país, que está em declínio, irá aumentar significativamente. Uma das principais medidas seria o apoio a jovens especialistas locais para, assim, evitar o constante fluxo emigratório para demais regiões da Ásia e Europa. O Estado deve criar condições para a sociedade se desenvolver economicamente. Para tanto, será necessário investir em infraestrutura básica e diminuir a presença estatal nos assuntos econômicos. Afinal, sabemos muito bem quão eficazes são atividades econômicas exercidas pelo Estado. Serguêi Karaganov é presidente do Conselho para Política Externa e Defesa da Rússia.

ineficazes para a oposição síria, que é composta por uma grande quantidade de grupos armados insubordinados. Esses grupos dependem de patrocinadores que estão interessados em atrapalhar o plano de paz de Annan. Muitos no Ocidente também apoiam a ideia de bombardear o país para levar ao poder as marionetes da oposição. Nenhum dos adversários de Assad fala sobre quantos morrerão nesse tipo de pacificação. Eles também não escondem seu apoio à oposição armada da Síria. O governo holandês, por exemplo, admite abertamente fornecer apoio financeiro e técnico aos opositores de Assad. Mas se as interferências em assuntos internos alheios não são vergonhosas na Europa, a Rússia tem pelo menos o direito moral de fornecer apoio m i l it a r of icia l a Damasco. Moscou está tão interessada em pôr um fim na violência síria quanto a Europa. No entanto, a Rússia considera o uso da “guilhotina” para o tratamento de dor de cabeça nas relações internacionais como inaceitável. O plano de Kofi Annan ainda é o único instrumento apoiado pela comunidade internacional que pode ajudar a evitar o aumento de escala da violência e do conflito religioso na Síria. A Rússia concorda que o presidente sírio não tem o direito de matar civis. Mas para os russos, os militares da Otan que desejam o combate no país também não têm esse direito. Evguêni Chestakov é articulista do jornal Rossiyskaya Gazeta.

DA PERIFERIA PARA O CENTRO DO MUNDO Carlos Serapião ECONOMISTA

a última década, Brasil e Rússia (além de China e Índia) passaram da periferia para o centro do sistema financeiro global, que tem no G-20 sua instância política e de gover nança mais representativa. O G-7 (EUA, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Japão, França e Itália) perdeu peso relativo, sobretudo no pós-crise financeira de 2008, por não incluir a segunda maior economia (China), tampouco a sexta (Brasil), nona (Rússia) e décima (Índia). Segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers, o G-7 vai ser ultrapassado pelo E-7 (BRIC + México, Indonésia e Turquia) em 2032.Não se tratou de vitória diplomática dos emergentes ou concessão dos industrializados, mas pura constatação dos fatos. O crítico literário brasileiro Roberto Schwarz publicou, em 1990, o talvez melhor estudo crítico sobre a obra de Machado de Assis, intitulado “Um mestre na periferia do capitalismo”. Essa ideia de periferia vem da Teoria da Dependência, concebida por intelectuais latino-americanos nos anos 1960, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para explicar a inserção do subconti nente no capita l ismo global.

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Nos anos 1990, vivi sete anos no exterior. Na década seguinte, quatro. E sigo fora, em Moscou. Pude testemunhar a ascensão internacional do Brasil, sobretudo com o presidente Lula e no pós-crise de 2008. Nunca poderia imaginar que o Brasil viesse a ser considerado “cachorro grande”

Pobres continuamos nós e as demais sociedades dos BRIC. Os Piigs são ricos endividados no tabuleiro global, o que efetivamente aconteceu no universo dos fluxos de investimento (no comércio ainda não, pois continuamos com 1% do comércio mundial). O que diria Machado hoje, se visse o Brasil com o sexto PIB do mundo e com perspectivas reais de galgar ainda melhores posições no primeiro quarto deste século? Mas não nos deixemos iludir: os BRIC seguem sendo sociedades relativamente pobres, se comparadas aos países do primeiro mundo. E com imensos desafios em produtividade e qualidade de vida. Em 2010, segundo o Banco Mundial, o PIB per capita da UE foi de US$ 31.745, enquanto o do Brasil, US$ 11.210; Rússia, US$ 19.890; China, US$ 7.599; e Índia, US$ 3.425! No caso dos Piigs, foi de US$

25.416 (Portugal), 32.230 (Espanha), 40.464 (Irlanda), 31.954 (Itália) e 28.408 (Grécia). Pobres relativamente à Europa continuamos nós e as demais sociedades dos BRIC. Os Piigs são ricos endividados, enquanto os BRIC são países em desenvolvimento com as contas em ordem. E, neste primeiro semestre de 2012, os investidores internacionais ficaram reticentes quanto aos BRIC. As taxas de crescimento na China têm sido as mais baixas desde 2004. A Índia poderá ser rebaixada pelas principais agências de risco de crédito. O Brasil deverá crescer menos de 3% já pelo segundo ano consecutivo. E a Rússia continua muito dependente da variação dos preços do petróleo para se manter crescendo. Para demonstrar que o brilho dos BRIC não terá sido apenas temporário, entre 2007 e 2010, o que contribuiu para amenizar os efeitos recessivos da crise financeira de 2008, seus governos e sociedades têm uma enorme e diferenciada agenda de trabalho pela frente. Essa passagem “da periferia para o centro” é uma mudança de paradigma, mas não se trata de ponto de chegada ou de uma estável zona de conforto. Carlos Serapião mora em Moscou e é diretor da B2U Trading. Formou-se no Instituto Rio Branco e tem mestrado em finanças pela École Nationale des Ponts et Chaussées.

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Política e Sociedade

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Urbanismo Depois da demolição de 700 edifícios históricos nos últimos 20 anos, sociedade civil passa a proteger de perto legado da cidade

Moscovitas lutam contra destruição de patrimônio

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O que a cidade já perdeu...

ALEKSANDRA GURKOVA GAZETA RUSSA

Os membros do grupo de proteção do patrimônio arquitetônico Arkhnadzor distribuem velas acesas perto das ruínas de um edifício no centro da capital. “Perder uma construção do século 18 é como deixar morrer uma pes-

jkov, Moscou perdeu cerca de 700 edifícios históricos. As causas são simples: restaurar um imóvel antigo sai mais caro que construir um novo.

Política urbana No final de 2010, com a posse do atual prefeito Serguêi Sobiânin, a concessão de licenças para construção de novos edifícios no centro histórico foi interrompida. “Mas o patrimônio arquitetônico continua a ser destruído”, diz a ativista.

Um dos exemplos mais claros da arbitrariedade das construtoras é a propriedade dos Chakhovskie, área em que se encontra o teatro Guelikon. A administração do edifício cultural decidiu construir uma nova sala e demolir um antigo pavilhão situado dentro da propriedade. O movimento Arkhnadzor recolheu as informações necessárias e provou ao Ministério Público que a demolição daquele edifício era ilegal. A decisão dos juízes foi favo-

Protestos em série A partir daí, os ativistas do Arkhnadzor passaram a fazer guarda em frente à propriedade. “A demolição começou inesperadamente às

Rio+20 Em evento da programação paralela, russo expõe possíveis parcerias para gás natural

Transição aquecida

Transição para economia de baixo carbono favorece uso do gás natural, menos poluente, e investimento em novas tecnologias CEZAR FACCIOLI

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ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Brasil e Rússia devem ter papel de liderança na transição para uma economia de baixo carbono, afirmou o diretor-geral do Instituto de Estratégia Energética da Federação Russa, Aleksêi Gromov, durante seminário sobre sustentabilidade em energia promovido pela Câmara de Comércio e Indústria BrasilRússia. Segundo ele, ambos os países já incorporaram em seu planejamento a concepção de que os combustíveis fósseis são finitos e que é urgente desenvolver alternativas de menor impacto ambiental. “Os paí-

Aleksêi Gromov (esq.), durante evento no Rio de Janeiro

ses devem investir pesadamente em novas tecnologias”, disse Gromov. O evento integrou a programação da Rio+20. Organizado pela delegação da Fe-

deração Russa à Rio+20, o encontro contou com o apoio da seção brasileira da Aliança das Civilizações, organismo de estudos da ONU, e do Cazaquistão.

Gromov apresentou no seminário um estudo sobre o panorama da energia mundial até 2050. Alinhado com conclusões de especialistas de países desenvolvidos e emergentes, o estudo aponta para o predomínio das fontes fósseis até 2030, e uma provável mudança de paradigma em 2050. A necessidade de controlar o aquecimento global, limitando as emissões que causam o efeito-estufa, será o fator preponderante na guinada. “A Rússia tem as maiores reservas de gás do planeta, mas também capacidade de investimento e desenvolvimento de novas tecnologias”, argumenta o especialista. A energia já foi comercializada de maneira padronizada, como commodity. Mas, com o tempo, sua negociação tem mudado para o setor de

Redescobrindo o interior CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

FRASE

Natália Grichakova MALAKUT SOLUÇÕES E PESQUISA DE RH

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Muitas empresas estão deixando Moscou para economizar em custos administrativos e os funcionários são obrigados a migrar junto com elas.”

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só 15% dos moscovitas estariam dispostos a mudar para outra cidade por causa de um novo emprego. Mas, em maio deste ano, 24% dos funcionários em posições de média e alta gerência afirmavam em seus currículos que concordar i a m e m s e mu d a r d a capital. “Muitas empresas estão deixando Moscou para economizar em custos administrativos e os funcionários têm que migrar junto”, afirma a consultora da Malakut Soluções e Pesquisa de RH, Natália Grichakova. Não é preciso dizer que os gestores não estão se mudando sem a devida infraestrutura. A realocação de companhias moscovitas em outras regiões é o motivo pelo qual os executivos estão deixando Moscou. “É melhor ter a gerência próxima às facilidades de produção, para que os gestores tenham ao menos alguma

Tatiana Gladicheva mudou-se com a empresa para Sobinka

noção do que estão supervisionando”, diz Elena Tchernenko, diretora do Centro de Análise e Consultoria no departamento de economia imobiliária da Academia de Economia e Serviço Estatal da Rússia.

Terra do telemarketing Na cidade de Tver, que fica 170 quilômetros a noroeste da capital e cuja população é de

cerca de 400 mil pessoas, empresas moscovitas abriram 14 call centers, cada qual empregando mais de mil pessoas. “O custo da mão de obra e o aluguel de escritórios é mais barato fora de Moscou”, explica Natália Zubarevitch, diretora de estudos regionais no Instituto Independente para Política Social. Existe também outra vantagem que aumenta a atrati-

vidade dos subúrbios de Moscou: melhores soluções para moradia. “Depois de 2007, quando nos mudamos para o distrito de Domodêdovo [a 40 km. do centro de Moscou], nossos empregados conseguiram comprar seus próprios apartamentos nas redondezas”, conta Oksana Rôgova, funcionária da fábrica de móveis para cozinha Blum.

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rial do início do século 19, da qua l resta m poucos exemplos. O Arkhnadzor foi fundado em fevereiro de 2009, quando ativistas de diferentes grupos moscovitas dedicados ao estudo de patrimônios locais decidiram unir esforços para proteger o legado arquitetônico da cidade. Hoje, a associação reúne cerca de 5 mil membros e o número continua a crescer, resultado do grande interesse na questão.

Organizações apelam a Pútin que proteja ursos polares

BEZRUKOV&BASHNAEVA

Gás dá novo fôlego a parceria Brasil-Rússia

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6 de manhã”, lembra Iúlia Mezentseva. “Aproveitandose do fato de que havia apenas dois dos nossos voluntários no local, os operários botaram o prédio abaixo.” Apesar dos protestos contra sua demolição, outra propriedade que deixou de existir foi a dos Alekseiev, situada no rico bairro moscovita de Zamoskvoretche. O complexo foi construído após o grande incêndio de 1812 em Moscou, tornando-se um ícone da arquitetura impe-

rável ao grupo. Contudo, no início de 2010, o conselho da cidade de Moscou aprovou um projeto de reconstrução que previa a demolição de edifícios do século 18 e, com financiamento da prefeitura, a construção de uma sala de teatro mais moderna.

serviços, em que o valor agregado se deslocou para a logística, a capacidade de entregar no prazo e com as especificações requeridas nos principais mercados. “Os recursos serão cada vez mais locais, para diminuir o risco político. As tecnologias é que serão transacionadas internacionalmente”, prevê Gromov. A maior ênfase na tecnologia marcará o mercado de gás natural, à medida que sua fatia na matriz energética mundial for aumentando. “O Brasil é uma país de dimensões continentais, como a Rússia. O know how russo em transporte de gás a grandes distâncias pode ser útil aos brasileiros,” argumenta Gromov. Além disso, empresas russas figuram entre as líderes no uso das partículas mais ricas do gás natural para a cadeia de termoplásticos e insumos industriais. “O futuro do gás está na química. O Brasil pretende usar o gás que tem na fabricação de fertilizantes, do qual somos grandes produtores. Podemos participar desse esforço em cooperação,” afirma.

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1. Propriedade dos príncipes Chákhovski-Glebov-Strechniov (1880). Arquiteto: K. Térski. Demolida em 2012, dará lugar a um teatro. 2. Mesquita (1904). Projetada por N. Jukov. Demolida em 2011 para contrução de um templo maior. 3. Loja “Détski Mir” (1950). Arquiteto: Dúchkin. Em demollção. 4. Casa dos Feokstístovi. Ala de madeira do século 19 foi demolida em 2011. Prédio quatro vezes maior vai substitui-la.

KOMERSANT

soa querida”, diz a coordenadora dos voluntários, Iúlia Mezentseva, enquanto contempla o vazio à sua frente. Iúlia e seus companheiros não conseguiram preservar o pavilhão de propriedade da família Chakhovskie. Mas eles ainda têm muito trabalho pela frente. No livro vermelho do Arkhnadzor estão listados outros 250 edifícios q u e o g r u p o pr e t e n d e salvar. Devido à política urbana do ex-prefeito da capital, Iúri Lu-

Defesa dos edifícios históricos de Moscou motiva cada vez mais pessoas a desafiar autoridades em protestos urbanísticos.

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Alasca-Tchukotka concentra de 5 mil a 7 mil animais CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

de venda de peles de urso polar, e aumentar controle sobre a caça. Vladímir Pútin controla pessoalmente vários programas de proteção a animais, como o tigre siberiano, o leopardo-das-neves e a baleia branca. A pele de urso polar importada do exterior, principalmente do Canadá, custa entre 1 milhão e 3 milhões de rublos (de R$ 62,5 mil a R$ 187,5 mil). Já a russa sai de R$ 15,6 mil a R$ 20 mil. Na Rússia também é possível comprar, por cerca de R$ 1,9 mil, os documentos da Cites que legalizam a pele do animal. “A venda desses documentos é ilegal. As pessoas os compram para vender as peles de ursos russos como se fossem canadenses”, diz a diretora da IFAW, Maria Vorontsova. A artimanha é usada no mercado negro para exportar a pele russa, já que o Canadá é o único país que não proibiu a caça ao animal. Os canadenses, que recebem cotas especias de caça, revendem esses documentos. “A Rússia e a China são os principais mercados para venda da pele branca. Em países emergentes é prestigioso colocar uma pele de urso polar j u n t o à l a r e i r a”, d i z Vorontsova. Hoje existem apenas 19 populações de ursos polares no mundo, que somam de 20 a

25 mil animais. Desses, de 5 a 7 mil concentram-se na população Alasca-Tchukotka, de acordo com especialistas da ilha de Vrânguel, no norte da região. De acordo com cientistas russos, o número de ursos no país está diminuindo rapidamente. Recentemente, os habitats de ursos polares na ilha de Vrânguel caíram de 300 para cerca de 60. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN na sigla em inglês) nos próximos 20 anos a população total dos ursos polares vai ser reduzida a um terço da atual. Para o vice-chefe do Serviço Federal de Vigilância da Natureza da Rússia, Amirkhan Amirkhanov, a legislação do país é suficiente. O animal está na Lista Vermelha da IUCN e foi banido do comércio legal. “É preciso lutar contra a caça ilegal em toda a Rússia. Também tentamos incentivar as populações indígenas da região de Tchukotka na luta contra a caça ilegal”, afirma Amirkhanov. “As mudanças climáticas afetam a vida dos ursos polares e qualquer caça – legal, ilegal ou por cotas – pode prejudicar as populações do animal”, afirma. Esta matéria foi publicada originalmente no jornal Izvéstia

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Ciência

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Resfriamento à vista Apesar de relatórios do IPCC apontarem o contrário, russos acreditam que temperatura está caindo

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Aquecimento global está chegando ao fim

ALEKSANDR TSIGANOV ITAR-TASS

“O processo de esfriamento global já começou”, anunciam cientistas da Estação de Pesquisa da cidade de Dolgoprúdni, nos arredores de Moscou, citando os resultados de estudos realizados com o Observatório Aerológico do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Segundo eles, depois de um pico em 2005, a temperatura média da Terra diminuiu em 0,3 graus e voltou ao nível dos

Poeira espacial Segundo os cientistas, entre 400 e 1.000 toneladas de poeira espacial atingem a at-

No início de 2040 planeta começará a congelar, com temperaturas abaixo das médias de 1880 mosfera terrestre todos os dias, provocando a condensação do vapor d’água. Assim, quanto mais poeira espacial cai na Terra, maior é a camada de nuvens que cobre o planeta e reflete a luz do Sol no espaço. Como resultado, o clima tor-

na-se mais frio. Verificou-se ainda que os períodos de aquecimento e esfriamento global coincidem com aqueles em que o planeta fica envolto em nuvens especialmente densas de sujeira interplanetária. “A principal fonte de pó espacial são cometas”, afirma Iúri Stojkov, do Instituto de Física. “Ao se aproximar do Sol, os cometas liberam seu ‘manto’ de pó e gás congelados, que entra na atmosfera terrestre e cai sobre a Terra”, explica. Segundo Stojkov, a quantidade de pó espacial precipitado depende das posições dos planetas. “A mudança na concentração de poeira

Análise Para articulista, setor energético tem a ganhar com geração atômica

Energia nuclear resiste a Fukushima Acidente em usina nuclear japonesa após desastres naturais abalou o setor, mas países se mostram dispostos a manter seus programas. ANDRÊI REZNITCHENKO

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ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

O acidente de Fukushima poderia ter dado fim à história da energia nuclear. Mas, de acordo com estatísticas da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o número de países dispostos a implementar seus próprios programas nucleares para fins pacíficos não diminuiu. Mais do que isso, países europeus, árabes e asiáticos anunciaram recentemente planos de construir novas usinas nucleares. Mais de um ano depois do acidente de Fukushima, gera indignação a afirmação da AIEA de que até 2030 podem ser instalados 350 novos blocos geradores pelas usinas nucleares do mundo todo. Apesar da ligeira desaceleração nas taxas de crescimento das capacidades de geração nuclear após os acontecimentos no Japão, essas continuam impressionantes. A causa do acidente de Fukushima não tem nada a ver com a segurança e confiabilidade da energia nuclear. Os reatores nucleares da central japonesa resistiram ao terremoto e ao tsunami e foram vítimas da negligência humana. Até o ano passado, especialistas japoneses haviam descartado qualquer

Até 2030, podem surgir 350 novos geradores nucleares

possibilidade de um acidente grave na usina. Quando esse ocorreu, eles não conseguiram reagir a tempo, nem pôr em ação o sistema de resfriamento da zona dos reatores devido ao corte da energia elétrica provocado pelo tsunami. “Em 1992, visitei várias instalações nucleares do Japão, entre as quais uma usina nuclear, onde nos foi mostrado um simulador para o treinamento de operadores em situações de risco”, conta o diretor do Ibrae (da sigla em russo, Instituto de Desenvolvimento Seguro da Energia Atômica da Academia de Ciências da Rússia), Leonid Bolchov. “Quando perguntamos sobre

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Cooperação russobrasileira no setor pode render fonte eficiente e limpa para humanidade simulações de acidentes graves, eles nos disseram que nãovalia a pena mostrar à opinião pública que a possibilidade de acidentes graves existia”, afirma Bolchov. “Aliás, nas primeiras horas após o acidente na usina japonesa, os especialistas do Ibrae previram com exatidão como iriam se desenrolar os acontecimentos em Fukushima-Daiichi-1 – como o combustível iria se fundir nos blo-

cos geradores de energia e nas piscinas de refrigeração e como seria o nível de contaminação radioativa no território do Japão e no oceano. Suas previsões, inclusive aquelas para o ano seg u inte, se realizaram”, completa. Especialistas russos não perderam tempo e desenvolveram sistemas de proteção passiva, inclusive um apanhador especial para a contenção de combustível fundido, e outros sistemas de segurança para o novo bloco gerador de energia Aes-2006, de terceira geração, instalado pela companhia de energia nuclear russa Rosatom em novas centrais nucleares da Rússia e de outros países. O novo bloco já foi instalado na usina nuclear indiana Kudankulam, a ser inaugurada neste ano, e na turca Akkuyu, cuja construção não foi interrompida nem por um só dia, mesmo depois do acidente de Fukushima. A Rússia, primeira a construir uma usina nuclear civil no mundo, desenvolve novas tecnologias de uso de energia nuclear para a geração de energia elétrica. Além disso, a estatal Rosatom investe ativamente no desenvolvimento de novas plataformas, mais seguras e eficientes, e em projetos para evitar a poluição do meio ambiente e reciclar o combustível usado e os resíduos radioativos. O Brasil também faz parte do clube dos países nucleares e juntos, os dois têm um vasto leque de vertentes interessantes para a cooperação na energia nuclear no âmbito do Brics, onde têm papel de destaque. A cooperação russo-brasileira pode ser crucial para a criação de uma fonte de energia eficiente e segura para a humanidade.

cósmica e do clima da Terra deve, portanto, obedecer a periodicidades semelhantes às registradas nas posições do demais planetas”, disse. Para verificar suas hipóteses, os cientistas confrontaram as periodicidades na posição de planetas e as da mudança do clima global e calcularam a relação entre os valores de temperatura e o tráfego de poeira cósmica. Com base nos resultados, puderam elaborar uma previsão das mudanças climáticas para os próximos 50 anos.

dade das mudanças e negar o aquecimento global, segundo os especialistas do Instituto de Física. Os resultados foram confirmados pela análise de amostras de gelo extraídas de um poço perfurado no gelo que cobre o Lago Vostok, na Antártida. A amostra forneceu um panorama das mudanças de temperatura ao longo de 420 mil anos, quando a Terra sofreu pelo menos quatro grandes oscilações de temperatura com amplitude de 8 graus. Os meteorologistas defendem ainda que mesmo 1 grau de diferença já pode ser considerado demais quando se fala em clima global.

Oscilações perenes Esse não é o primeiro trabalho a descobrir a periodici-

As mudanças, segundo o IPCC O IPCC (do inglês, “Painel Intergovernamental para Mudança do Clima) foi criado em 1988 para reunir dados científicos do mundo todo a respeito das mudanças climáticas. O relatório de 2007 da organização denunciava que, devido ao aquecimento, as geleiras do Himalaia desapareceriam até 2035. No ano passado, a organização desmentiu a futura extinção das geleiras, sem negar, porém, os impactos das ações humanas no clima.

Super radar russo inicia operações CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

de Mukatchevo e Sevastópol, na Ucrânia, e de Gabala, no Azerbaijão, nos obriga a contar apenas com o território nacional”, completa. Radares serão instalados também em outras regiões do país como parte do projeto Voronej-M e Voronej-DM – cujas siglas indicam o uso de ondas métricas e decimétricas.

Controle ferrenho Em sua primeira fase, o radar pode monitorar o espaço aéreo e cósmico sob um raio de seis mil quilômetros, em um arco de 120 graus. Neste campo de visão situam-se Japão, China, Coreia do Sul e do Norte, Vietnã, Indochina e boa parte da Índia. “A segunda fase entrará em operação dentro de um ano e meio, terá o mesmo alcance e vai monitorar o Pacífico norte e central, inclusive a costa ocidental dos EUA”, explica o projetistachefe de radares, Serguêi Boev. Todos os lançamentos de mísseis dentro da área de co-

VIKTOR LITOVKIN

anos 1996 e 1997. Os cientistas acreditam que até o início de 2015 a temperatura cairá mais 1,5 décimos de grau, o que corresponde ao clima do início dos anos 1980. Em 2020, os habitantes do Hemisfério Norte poderão relembrar dos rigorosos invernos de 1978 e 1979 e, no início de 2040, nosso planeta começará a congelar, apresentando temperaturas abaixo das médias registrados no período entre 1880 e 2006, de acordo com os cientistas. As pesquisas mostram que a causa das mudanças climáticas tem origem espacial e não têm relação com as atividades humanas na Terra, ao contrário do que se pensa.

Segundo cientistas russos, aumento da camada de poeira espacial envolvendo a Terra reflete a luz do Sol no espaço e esfria o clima.

Informações sobre lançamentos serão enviadas a Moscou

bertura do radar serão detectados pelos satélites do sistema de vigilância espacial. As informações sobre os lançamentos serão transmitidas para o sistema de alerta de mísseis, cujos computadores calcularão a trajetória do míssil, identificarão o alvo e transmitirão os dados obtidos para o posto de comando central da Defesa Aeroespacial, em Solnetchnogorsk, nos arredores de Moscou. Este, por sua vez, será res-

Espaço coberto pelo novo radar

ponsável por informar o chefe de Estado russo e esperar por suas ordens. Se o míssil lançado ameaçar a segurança do país, o posto de comando central, em conformidade com as instruções do presidente, poderá derrubá-lo e retribuir o ataque. “Tudo isso deve ser feito em questão de minutos. Um inimigo em potencial está ciente dessas capacidades russas, e dificilmente se atreverá nessa aventura”, afirma o Boev.

Características do novo sistema O Voronej-M é capaz de localizar, acompanhar e identificar os meios de ataque aeroespaciais modernos. Em cooperação com satélites de vigilância espacial, pode detectar lançamentos de mísseis balísticos estratégicos, mísseis de curto e médio alcance, de cruzeiro e uma grande variedade de aeronaves.

Andrêi Reznitchenko é chefe de redação de ciência e ecologia na agência de notícias Ria-Nôvosti

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