Gazeta_Russa_september

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P u b l i c a d o e d i st r i b u í d o co m Th e Wa s h i n g to n P o st ( E UA ) , Th e D a i l y Te l e g ra p h ( Re i n o U n i d o) , Le F i g a ro ( Fra n ç a ) , L a Re p u b b l i c a ( I t á l i a ) , E l Pa í s ( E s p a n h a ) , F o l h a d e S . P a u l o ( B ra s i l ) , T h e E c o n o m i c Ti m e s ( Í n d i a ) , C l a r í n ( A rg e n t i n a ) , S ü d d e u t s c h e Ze i t u n g ( A l e m a n h a ) e o u t ro s g ra n d e s d i á r i o s i n t e r n a c i o n a i s

gazetarussa.com.br

Política

Vida noturna moscovita tem opções para toda as tribos

Petrov e Senna estreiam parceria na Lotus Renault

Sem cotas, poucas mulheres disputam cargos públicos

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LAIF/VOSTOCK-PHOTO

Esporte SERVIÇO DE IMPRENSA

Em Foco

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SEGUNDA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2011

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PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES

Trabalho Profissionais experientes ficam de fora na disputa por cargos gerenciais na Rússia

NOTAS

Idade, o critério número um

Interpol encontra brasileira desaparecida na Sibéria

Pouco habituados ao capitalismo, russos com menos de 19 e mais de 50 anos têm dificuldade para encontrar emprego.

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De acordo com relatório do departamento regional do Ministério do Interior da Rússia, Ustina Chernishoff foi encontrada no distrito de Turukhansk, em uma aldeia de seguidores da seita religiosa dos Velhos Crentes (uma corrente religiosa cristã ortodoxa). A brasileira, que era procurada pela mãe, partiu voluntariamente para a região. A mulher não tinha documentos que lhe garantissem o direito de residir em território russo e seu visto estava vencido. Em conversa com a equipe da Interpol, ela disse que pretende voltar à Rússia para ficar legalmente na mesma comunidade de crentes. A moça é descendente de uma família de imigrantes russos que partiu para a América do Sul durante a Revolução Socialista de 1917. Ela mudou-se para a região de Turukhansk junto com o pai e o irmão, que acabou retornando ao Brasil. Depois de viver por algum tempo com a filha na comunidade de velhos crentes, o pai a abandonou e partiu para o Canadá.

País tem hoje 75,3 milhões de desempregados na faixa média dos 34 anos. A taxa de desemprego é de 7,6%

PHOTOXPRESS

“Diretor-geral – vaga para pessoas com idade inferior a 40 anos. Diretor do departamento de vendas – abaixo dos 35 anos. Diretor-administrativo – abaixo dos 30 anos”. No site de recrutamentos Superjob.ru é assim: 54% dos empregos anunciados incluem idade como pré-requisito para os candidatos. O padrão se repete por outros sistemas de busca de vagas. No Rabota.ru, o corte por idade aparece em 75% dos anúncios. “Mesmo que não estejam explicitadas na descrição da vaga, estão, na maioria dos casos, subentendidas”, ressalta a gerente de projetos do site, Evguênia Chatilova. “Tenho três diplomas diferentes – em pedagogia, em direito e em administração. Em 2002, era diretora do departamento de RH de uma empresa e estava constantemente aperfeiçoando minhas qualificações”, conta a desempregada Ludmila F., 55.

ALAMY/LEGION MEDIA

ALEKSÊI BOIÁRSKI KOMMERSANT

Aleksandr Korolkov

Veículos Empresa brasileira vai fabricar microônibus de padrão premium com chassi russo

NESTA EDIÇÃO

Marcopolo está de volta à Rússia

Apesar de a primeira tentativa da Marcopolo, em 2006, em cooperação com o Grupo GAZ não ter tido sucesso, a empresa firmou uma nova parceria com um grupo russos. A joint venture, que deve iniciar as operações em 2012 com um volume inicial de 250 unidades comercializadas, tem perspectivas de atingir, até 2016, um volume de 3 mil unidades anuais. Na Rússia, os ônibus são usados regularmente por 60% dos habitantes. O mercado do país,

diz Kogóguin. A Kamaz só se encarregará do chassi.

Concorrentes

Veja slide show em www.gazetarussa.com.br

Microônibus da joint venture exibido na ComTrans, maior feira do setor na Rússia

de mil veículos por ano. O primeiro protótipo, de acordo com a Marcopolo, será um microônibus moderno, com carroceria da brasileira, chassi Kamaz Euro 4 e componentes de

grandes fabricantes mundiais - como motor Cummins, transmissão ZF, eixos Daimler e sistema de freios Knorr-Bremse, entre outros fornecedores. O veículo terá uma “aparência brasileira”,

A Kamaz já tem sua própria fábrica de ônibus, a Nefaz, que, entretanto, não participará do projeto brasileiro. Segundo Azat Timerkhanov, analista da agência Avtostat (que fornece estatísticas da indústria automotiva russa), o objetivo da Kamaz é ampliar sua linha de ônibus, e não converter a produção existente. “Aos ônibus de grande porte da Nefaz serão acrescentados os ônibus de pequeno porte”, explica Timerkhanov. Os russos conhecem os produtos da Marcopolo no segmento de ônibus de turismo, que marcou sua entrada no mercado.

RIA NOVOSTI

ANTON MAKHROV GAZETA RUSSA

precisa, para atender a demanda, de 12 mil a 14 mil veículos novos por ano. Em 2006, quando firmou uma joint venture com o Grupo GAZ (a maior montadora de ônibus da Rússia), os planos da Marcopolo foram frustrados com a crise financeira de 2008 e o anúncio, no ano seguinte, do fi m de contrato. Agora, a brasileira estabeleceu uma co-produção com a Kamaz, a maior montadora russa de caminhões de grande porte. “Trata-se de ônibus de classe premium, de 8 metros de comprimento, com 21 lugares sentados e capacidade para transportar até 45 passageiros”, explica o diretor-geral da Kamaz, Serguêi Kogóguin. Segundo ele, o plano é produzir, em curto prazo, cerca

RUALN SUKHUSHIN

Fabricante brasileira de ônibus firma joint venture com montadora russa de caminhões Kamaz para tentar conquistar parte da demanda de novas unidades, que chega a 14 mil por ano.

SOCIEDADE

Táxis “ciganos” banidos Contra resquício socialista de motoristas de ocasião, capital quer frota profissional PÁGINA 3

ECONOMIA E NEGÓCIOS

Agricultores, uni-vos! Setor renasce com altos salários, mas poucos se dispõem à vida no campo

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Diplomacia Ministro brasileiro discute balança comercial e alinhamento sobre Líbia e Síria

Relações bilaterais buscam alinhamento

NEZAVISIMAIA GAZETA

Diante de uma vasta pauta de discussão, uma das principais decisões anunciadas pelos chanceleres russo e brasileiro, reunidos em Moscuou, foi a intenção de abandonar o dólar na prática de

ta” Boris Martinov, doutor em ciências políticas e vicediretor do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Rússia. O expresidente Fernando Henrique Cardoso já afirmou que o Brasil é uma Rússia tropical e que os países têm muito em comum. A identidade não se restringe a parâmetros como extensão territorial e população, mas também está presente nos principais indicadores macroeconômicos.

Na política externa, os objetivos também coincidem: a construção de uma nova ordem internacional policêntrica e o aprofundamento dos processos de integração em nível regional. Durante as negociações em Moscou, os ministros das Relações Exteriores dos dois países também discutiram o alinhamento de posição sobre a situação política na Líbia e na Síria. CONTINUA NA PÁGINA 2

NIYAZ KARIM

IÚRI PANIEV

pagamentos recíprocos em importação e exportação. A visita do chanceler brasileiro foi mais uma prova da intensificação das relações russo-brasileiras nos planos político e diplomático. “Os dois países mantêm intensos contatos tanto no plano bilateral quanto no plano multilateral, em particular no âmbito da ONU, do grupo Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e do G-20”, disse ao jornal “Nezavissimaia Gaze-

REUTERS/VOSTOCK-PHOTO

Ministro Antônio Patriota reuniu-se com o chanceler russo Serguêi Lavrov em Moscou. Presidente Dilma Rousseff deve visitar o país em novembro.

OPINIÃO

Novo modelo econômico Descrédito das agências de risco pede respostas Patriota: busca de parceria em tecnologia

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Política e Sociedade

GAZETA RUSSA WWW.GAZETARUSSA.COM.BR

Gênero Sociedade patriarcal, ausência de cotas instituídas por Lênin e queda demográfica impedem ascensão política das russas

Poder para as mulheres na Rússia) não ajudam a desfazer o preconceito que cerca as mulheres na política do país. No geral, propõem leis apenas sobre família, infância, educação, esportes e saúde. “Elas não são políticas no real sentido da palavra, com uma ideologia e visão ampla, mas sim profissionais contratadas”, diz Krichtanovskaia. Ainda assim, algumas se destacam na multidão, como é o caso da ex-campeã olímpica de patinação de velocidade Svetlana Jourova, membro dos comitês de família, educação, cultura, educação física e juventude e vice-porta-voz da Duma, além de membro do comitê olímpico. “As mulheres são capazes de negociar e cooperar, mirando o impacto de suas decisões em parcelas concretas da sociedade”, afirmou Jourova à revista alemã Neue Zeiten, clamando que as colegas do sexo feminino participem mais ativamente das principais definições do governo.

Com papel reduzido desde a era soviética, mulheres buscam espaço na política e criaram até uma ONG com o intuito de eleger a primeira presidenta do país em 2018. VERONIKA DORMAN GAZETA RUSSA

Elas para presidentas RIA NOVOSTI

Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação e ex-governadora de São Petersburgo, é um dos poucos destaques femininos na política do país

Maternidade x política FRASE

Irina Khakamada POLÍTICA, MEMBRO DA COALIZÃO «OUTRA RÚSSIA»

Os homens na política russa costumam ser apáticos porque, para eles, o sistema funciona. Ainda que sejam desinteressantes, tornam-se líderes. Já as mulheres devem se fazer notar. Elas têm que ser extraordinárias.”

ITAR-TASS

Não existe espaço para as mulheres na política da Rússia atual. A famosa frase de Lênin dizia que “toda cozinheira deve saber administrar o Estado” e realmente permitiu que as mulheres fossem representadas nos órgãos do poder na União Soviética. Esse direito, garantido por cotas especiais, é definitivamente coisa do passado. Podem-se contar nos dedos as mulheres que estão no topo da cena política, como Valentina Matvienko, ex-governadora de São Petersburgo que na úlitima quarta-feira (21) foi nomeada presidente do Conselho da Federação (Câmara Alta do Parlamento Russo). “É a única com real importância política, além de ser uma administradora extremamente eficaz e experiente”, afirma a pesquisadora do Instituto de Sociologia da Academia de Ciências, Olga Krichtanovskaia. Matvienko chegou onde está por mérito próprio e ela mesma não gosta de questões que girem em torno de gênero. Na coletiva de imprensa de despedida em São Petersburgo, a ex-governadora assumiu que nunca gostou de responder a perguntas sobre mulheres e política. Quando as eleições se tornaram livres e as cotas de gênero soviéticas foram abolidas, no início dos anos 1990, as mulheres desapareceram da cena política. “Elas não se apresentam mais como candidatas e, assim, as pessoas não veem razões para votar no sexo ‘m a i s f raco’”, acr e d it a Krichtanovskaia.

ao trabalho. Somado a isso, a mentalidade machista triunfa. “Uma mulher, independente de seu status ou das qualidades e aptidões que possua, estará sempre sujeita à desconfiança”, explica a política Irina Khakamada. Figura emblemática da participação feminina na política da Rússia pós-soviética e candidata presidencial em 2004, Khakamada se aposentou dos assuntos governamentais. “Durante 13 anos, gastei 70% do meu tempo e energia provando ser uma política com direitos iguais aos dos homens. Só restou 30% para realmente aprovar leis”, confidenciou à rádio Eco de Moscou.

Hoje, o sistema sociopolítico está, de um modo geral, baseado na tradicional visão das relações de gênero. O fenômeno é intensificado pela crescente preocupação, em nível federal, de um desastre demográfico, e pela urgente necessidade de ter mais crianças no país para evitá-lo. Torna-se cada vez mais difícil ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo, considerando o número reduzido de creches e pré-escolas disponíveis e o custo das instituições particulares. As novas normas do direito de família tendem a trancafiar as mulheres nos lares em vez de conduzi-las

Khakamada se opõe ferozmente às cotas, que, segundo ela, são humilhantes e discriminatórias para as mulheres e não representam um progresso real. “O que precisamos alterar é a mentalidade e o ambiente”, acredita. Em um sistema mais baseado em camaradagem que em princípios democráticos, até mesmo o carisma e o talento de um homem são menos importantes do que sua aliança com o poder e o apoio garantido em troca. As mulheres então têm que se esforçar em dobro quando se trata de causar impressão. Os 12% de deputadas na Duma (câmara dos deputados

Krichtanovskaia não só desenvolve teorias sobre o lugar das mulheres na política como também é uma figura pública ativa, membro do partido governante Rússia Unida desde 2009 e presidente de uma nova ONG chamada “Otlitchnitsi” (“a primeira da classe”, em português), cujo objetivo é eleger uma mulher presidente nas eleições de 2018. A candidatura de Matvienko em 2012 já tem apoio. Mas a batalha será difícil. Uma recente pesquisa do VTsIOM, órgão de estatísticas oficial do governo, revelou que um quarto dos russos acredita que já existe uma quantidade abundante de mulheres na política. Além disso, segundo os entrevistados, uma candidata à presidência poderia perder as eleições simplesmente devido ao gênero.

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“Registramos um elevado grau de consonância das posições na análise da situação, assim como o desejo recíproco de contribuir para o fim da violência e o estabelecimento de um diálogo político”, disse o ministro russo, Serguêi Lavrov, sobre a primavera árabe. Os países do Brics que atualmente gozam de assentos no Conselho de Segurança das Nações Unidas assumiram uma posição especial em relação à questão líbia, abstendo-se durante a votação da Resolução 1973 – a qual foi interpretada pelo Ocidente como permissão para o emprego ilimitado de força no território líbio. No plano da cooperação econômica e comercial, o Brasil é o maior parceiro comercial da Rússia na América Latina

las: café, açúcar, frango e carne. Esses produtos representam mais de 90 % das importações russas com origem no Brasil. Não raro, os fabricantes dos produtos exportados sofrem

desde meados da década de 1990. No ano passado, as trocas comerciais do Brasil com a Rússia ultrapassaram US$ 6 bilhões, segundo relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil. Aparentemente, não há razões para preocupação. No entanto, nem tudo é corde-rosa na parceria. As trocas comerciais com a Rússia representam apenas 1,5% do comércio exterior do Brasil. A pauta de exportações brasileiras para a Rússia é restrita e não acompanha a relação de mercadorias brasileiras exportadas para países desenvolvidos – que se tornaram, há muito tempo, consumidores de produtos manufaturados de origem brasileira. A Rússia não deixa de encarar o Brasil como país fornecedor de comoditties agríco-

No ano passado, as trocas comerciais entre os países ultrapassaram US$ 6 bilhões prejuízos por causa da falsificação, como no caso de café solúvel, ou de restrições e embargos de toda a espécie, como, para usar um exemplo atual, com a carne suína e bovina. Na avaliação do chanceler brasileiro, o Brasil e a Rússia são países com economias em rápido crescimento e que se recuperaram da crise, poden-

do registrar um crescimento econômico considerável já neste ano. Patriota manifestou a esperança de que, até o final de 2011, a Rússia faça parte da OMC (Organização Mundial do Comércio). Entre outras vertentes da relação bilateral que ainda podem se desenvolver estão a cooperação no investimento da á rea cientí f ica e tecnológica. Moscou e Brasília apostam em uma aliança tecnológica sobretudo na área aeroespacial, tendo celebrado o Acordo Sobre Proteção Mútua de Tecnologia Associada à Cooperação na Exploração e Uso do Espaço Para Fins Pacíficos. Os brasileiros estão interessados na tecnologia russa de produção de combustível líquido para seus veículos de lançamento. Menos explosivo que seu con-

AFP/EASTNEWS

Moscou e Brasília estreitam laços

Chanceler brasileiro Antônio Patriota (esq.) e ministro do Exterior russo Serguêi Lavrov

gênere sólido, esse tipo de combustível pode evitar tragédias como a ocorrida, em 2003, na base de lançamentos brasileira de Alcântara, que acabou matando 21 pessoas. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguêi Lavrov, assinalou também a importância de os dois países ela-

borarem um esquema de pagamentos recíprocos em suas moedas nacionais. “É uma prova do abandono gradual do dólar como meio de pagamento universal, tanto mais que o Brasil e a Argentina já se servem de suas moedas nacionais na realização de pagamentos recíprocos

no âmbito do Mercosul”, confor me ex pl ica Bor is Martinov. Os ministros discutiram também a possibilidade da vinda à Rússia da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Sua visita poderia ser realizada já em novembro. Os países analisam a agenda das autoridades.

Legislação Iniciativa do governo visa incentivar o aumento demográfico no país ao beneficiar famílias com três ou mais filhos

As regiões onde mais nascem crianças - Moscou e Krasnodar - são também as que têm valores de terrenos mais elevados em todo o país. NATÁLIA BARANÓVSKAIA GAZETA RUSSA

A iniciativa do Estado de entregar gratuitamente terrenos a famílias numerosas foi adiantada pelo presidente russo Dmítri Medvedev ainda em 2010. Mas apenas neste ano se transformou em lei. Com a nova legislação, re-

cém-promulgada, famílias numerosas poderão receber lotes de terra para construir suas residências e eventualmente tocar seus negócios. Em 2009, segundo dados do Fundo de Previdência Social, nasceram na Rússia 1,6 milhão de crianças, das quais apenas 140 mil eram o terceiro filho da família – 54,5 mil já tinham três ou mais irmãos. No ano passado, nasceram cerca de 2 milhões de crianças na Rússia. A capital Moscou se mantém na lideran-

SHUTTERSTOSK/LEGION MEDIA

Estado entrega terrenos a famílias numerosas

Mais de 2 milhões de crianças nasceram no país em 2010

ça desse indicador, seguida da região de Krasnodar. Essas são também as regiões com os preços de terras mais altos no país. Na capital, o preço dos imóveis está entre os maiores do país Em Moscou, por exemplo, nasceram, no ano passado, 123.600 crianças. No resto da região administrativa da capital, esse número atingiu 80 mil.Em termos nacionais, cerca de 12% das crianças nascidas, ou seja, 25 mil, já ti n ha m dois ou mais irmãos. Para corresponder aos pré-

requisitos do governo, o loteamento para estabelecimento de residência fixa deve ficar dentro das fron-

Pré-requisitos do governo para elegibilidade de lotes incluem distância máxima do trabalho teiras do perímetro urbano, possuir uma boa infraestrutura de transporte, corresponder à categoria de terrenos destinados ao

assentamento habitacional individual, ter acesso às redes comunitárias urbanas e estar distante do local de trabalho entre uma e uma hora e meia no trajeto de ida, em transporte público. Se os municípios não possuírem terrenos disponíveis para serem entregues às famílias interessadas, de acordo com a nova lei, as autoridades municipais poderão propor aos órgãos de poder federal competentes que disponibilizem lotes de propriedade federal localizados no município.


Política e Sociedade

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Radicalismo Explosões, assassinatos e abusos de autoridade por parte da polícia impedem apaziguamento do conturbado sul da Rússia

Cáucaso, paz que nunca chega

JURY KOZIREV

ANNA NEMTSOVA

Veja entrevista com o presidente do Daguestão em www.rbth.ru/13291

MOSCOW MO OSC COW

Khanty-Mansiysk

AB

Estudantes rezam em universidade de Makhatchkalá, onde Maksud Sádikov era reitor; tentativa de protesto de líderes comunitários é frustrada pela polícia

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A cidade de Khassaviurt, no Daguestão, derretia com o calor do verão enquanto ativistas locais se preparavam para protestar numa praça no centro, em julho deste ano. Quando os manifestantes estavam prestes a se reunir, uma explosão levou aos ares a colorida barraca de frutas e verduras, abrindo uma cratera de cinco metros de profundidade na rua. As ambulâncias correram para levar oito civis e policiais feridos aos hospitais locais. Uma multidão de curiosos se juntou no local e, em seguida, foi sumindo à medida que as orações da sexta-feira, dia sagrado para o islamismo, começavam. Depois, centenas de pessoas se reuniram novamente determinadas a realizar o protesto, mas foram rapidamente cercadas e dispersadas por policiais. A tensão foi contida, e a rua, coberta de lixo e de sangue, ficou vazia. Ataques com bombas não são raros nessa cidade que faz fronteira entre as repúblicas do Daguestão e da Tchetchênia, no sul da Rússia. Mesmo depois de ter sido palco do

Maksud Sádikov, um reformador visionário silenciado O reitor Maksud Sádikov era considerado um dos heróis do Daguestão por todos que o conheciam. Amado pelos estudantes na universidade islâmica onde era reitor, também era amigo do presidente do Daguestão e de outros políticos e líderes que acreditavam no futuro pacífico da região. Sádikov nasceu em 1963 na cidade local de Artchid e se formou em administração pública na Universidade Estatal de Moscou. Ele poderia ter ficado em Moscou, onde se formou,

Precedente moderado

Algumas operações acabam em mortes e torturas, o que diminui a confiança nas autoridades

Durante seu último ano de vida, Sádikov passou grande parte do tempo estimulando e coordenando diálogos entre políticos e líderes religiosos. Em junho, ele ajudou a organizar a primeira grande rodada de discussões intitulada Conselho pela Sociedade Civil e Direitos Humanos. O evento reuniu oficiais do Kremlin e l íderes comu n itá r ios locais.

Poucos dias depois, Sádikov foi morto por dois homens armados. Ele é um dos 12 líderes religiosos moderados mortos no Cáucaso do Norte nos últimos 18 meses. Para o presidente do Daguestão, Magomedsalam Magomedov, Sádikov era um “elemento-chave nas negociações de paz”. “Esses assassinatos são cometidos por grupos radicais da

para seguir uma carreira no governo. Em vez disso, o sunita Sádikov resolveu voltar para o Daguestão. Tornou-se reitor do Instituto de Teologia e Relações Internacionais, na capital, Makhatchkalá, em 2003. Em 2010, começou a trabalhar para o Kremlin, quando o governo resolveu auxiliar a difusão do islamismo moderado no Cáucaso do Norte. Sádikov foi morto a tiros em junho por agressores até agora não identificados.

região que destroem o significado pacífico do islã”, diz Magomedov. Seu sofrimento está estampado no rosto. Diversos colegas e amigos de Magomedov, como seu assessor de imprensa, Garun Kurbanov, também morreram em ataques. Como ele, Kurbanov se pronunciava abertamente contra o extremismo e a intolerância religiosa. O coronel Abdurachid Bibulatov afirma que o assassinato de Sádikov foi a resposta dos militantes ao processo de pacificação. “Levando em conta a cronologia dos fatos, a morte de Sádikov foi uma

Legislação mais de 20 anos depois do Canadá, Rússia busca restringir o fumo

Mar ÁS

IA

Mar Negro o NIYAZ KARIM

ANNA NEMTSOVA

Acordo de Khassaviurt - que pôs fim à Primeira Guerra Tchetchena. Nos primeiros seis meses de 2011, o número de ataques terroristas aumentou 35% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o presidente do Comitê de Investigação da Procuradoria Geral, Aleksandr Bastríkin. Simboliza esse aumento o assassinato de Maksud Sádikov, reformador islâmico e reitor do Instituto de Teologia e Relações Internacionais Sheikh Mammadibir ar-Rotchi. Morto a tiros em julho no centro da capital do Daguestão, Makhatchkalá, o reitor concedeu uma entrevista à Gazeta Russa há exatamente um ano. Foi quando assumiu o cargo - uma espécie de emissário entre educadores muçulmanos, estudantes, sociedade civil e Estado.

ITAR-TASS

Assassinato de moderados impossibilitam ponte entre comunidade islâmica e autoridades no Daguestão.

EC

Cáspio GE

Ossé do Sutia l

OR

GI

A

sidente Magomedov tenta agora encorajar os daguestaneses vítimas de tais mensagens a denunciar as ameaças às autoridades locais. Em Khasaviurt, ativistas acreditam que a polícia também seja responsável pelo aumento da violência. O representa nte da ONG loca l Alternativa Civil, Rasul Islaimov, diz que policiais lançaram granadas dentro de uma mesquita no vilarejo de Uzun-Otar no início de agosto e mataram Nariman Aligadjiev. Pai de quatro crianç a s , A l i g a d j i e v h av i a construído a pequena mesquita para os muçulmanos da vila que praticavam o wahhabismo, uma das formas mais conservadoras do islamismo. Enquanto os ativistas da região tentavam protestar, o ataque à bomba os impediu e a polícia se encarregou de dispersar o grupo. “Vemos os esforços do presidente e de sua equipe para acalmar a situação crítica do Daguestão neste ano, mas, infelizmente, algumas operações policiais acabam em mor-

reação às negociações de paz no qual estava envolvido”, acredita. Se no verão anterior policiais eram baleados por atiradores sobre telhados, neste ano os agressores se aproximaram de investigadores e do comandante de polícia. Os oficiais levaram tiros na cabeça, diante de parentes e amigos.

Ameaça nos correios Munidos de laptops e acesso à internet mesmo na floresta, os extremistas deixaram recentemente cartões de memória contendo vídeos ameaçadores e exigências de resgate em caixas do correio. O pre-

tes, torturas e desaparecimento de civis pacíficos, o que diminui a confiança das pessoas nas autoridades”, diz a pesquisadora da ONG Human Rights Watch em Moscou, Tatiana Lokchina.

Mudando de lado Magomedov demonstra empenho para desenvolver as comunidades e fortalecer o turismo. Continua construindo hotéis, resorts e escolas. A agenda do presidente inclui até encontros semanais com uma comissão criada para estimular a aderência de antigas guerrilhas ao processo de pacificação. Até agora, cerca de 30 ex-combatentes concordaram em deixar as armas em troca de apoio do Estado, emprego e educação. Durante o encontro do mês passado, o combatente Zaipulla Gazimagomedov recebeu o direito de cumprir sua pena de dez anos em casa, no Daguestão. “Os jovens fogem de uma vida injusta para se juntarem a nossas tropas. A principal razão para ir à luta é o desespero”, a f i r ma Gazimagomedov.

Transporte Só na capital são mais de 40 mil carros ilegais

Guerra atrasada ao cigarro Táxis “ciganos” são ANTON MAHROV GAZETA RUSSA

O parlamento russo pretende examinar nos próximos meses um projeto de lei anti-tabagismo. Sempre branda, a legislação permite hoje o fumo e a comercialização quase sem restrições. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 40% dos russos são fumantes. Na Grã-Bretanha, esse número atinge 34 %, no Brasil, pouco mais de 17%. A Rússia é o quarto maior consumidor mundial de cigarros (cerca de 400 bilhões de unidades por ano), perdendo apenas para China, Índia e Indonésia - países que superam a Rússia em população. Além disso, artigos de tabacaria são muito mais acessíveis na Rússia do que na Europa. Um maço de cigarros russo custa no máximo um euro, contra os quatro euros mínimos dos europeus. Cerca de 400 mil russos morrem anualmente em decorrência de doenças causadas pelo taba-

gismo, de acordo com o Ministério da Saúde. A nova lei, que deve entrar em vigor em 2013, banirá os cigarros de quiosques de rua. O produto só poderá ser adquirido em lojas de grande porte e a publicidade será restrita: no lugar das vitrines de tabaco surgirão listas de pre-

ços e marcas de cigarros. “O governo quer simplesmente apreender a mercadoria. Bebidas alcoólicas e cigarros têm grande saída, e os cigarros representam 50 % das vendas desses pequenos comerciantes”, afirma o representante da associação empr e s a r i a l “A mp a r o d a

Brasil e Rússia entre os últimos

GAIA RUSSO

Rússia”, Aleksêi Kanevski. Também será proibido fumar nas estações ferroviárias centrais, aeroportos e paradas de transporte público, assim como em bares e restaurantes. Quem quiser fumar na escada ou corredor de prédios residenciais, como é costumeiro hoje, precisará de permissão escrita de todos os proprietários de apartamentos. As restrições abarcam não só cigarros mas todos os produtos que contenham nicotina, como narguilé, tabaco de mascar e rapé. “É passado o tempo que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo eram vistos como fatores de crescimento da economia russa”, afirma o presidente da Confederação Internacional de Associações de Consumidores, Dmítri Ianin. “Se as pequenas empresas vivem da receita obtida com a venda de cerveja e cigarros a crianças, a reforma de tais empresas terá, pelo contrário, efeito positivo para a economia russa. Que se fundam ou mudem o perfil de suas atividades.” Mas algumas particularidades, especialmente referentes ao aumento do preço do produto, dividiram os entrevistados: cerca de 55% consideram que dobrar o preço do maço não será suficiente para redu zi r o nú mero de fumantes.

banidos de Moscou Nova lei quer restringir a atividade a profissionais regulamentados, que atualmente são minoria. Ilegais contestam a medida. DÁRIA KÓSTINA LARA MCCOY ROSLOF GAZETA RUSSA

Desde o dia 1° deste mês, uma nova lei obriga que os táxis ciganos, como são chamados os carros clandestinos na Rússia, deixem as ruas da capital. Até então, quem precisava do serviço só tinha que estender o braço, esperar um motorista comum parar e negociar a corrida. Atualmente existem mais de 40 mil motoristas de táxis clandestinos somente na capital, segundo a União de Transporte de Moscou. “A anarquia dos táxis privados, com motoristas sem experiência e sem conhecimento da língua russa ou da cidade, chegará ao fim”, diz o diretor da Companhia Novo Transporte, Félix Margarian, referindo-se aos imigrantes que compõem boa parte da frota de irregulares. A nova lei exige que os motoristas de táxi privados possuam uma licença e que os seus carros sejam equipados com taxímetro, luz laranja

PHOTOXPRESS

Principais vítimas de restrições russas serão pequenos comerciantes. População se diz a favor, mas não acredita que medidas tenham efeito.

Hoje basta estender o braço e partir com qualquer motorista

sobre o capô e faixas listradas pintadas nas laterais. Os carros também deverão passar por uma inspeção a cada seis meses, e cada região tem o direito de definir qual a cor de seus táxis.

Do contra Desde que foi anunciada, a regulamentação tem gerado calorosas discussões. Taxistas promoveram protestos nas principais cidades da Rússia e enviaram petições ao governo. Aleksêi Krikunov, que trabalha há 20 anos ilegalmente e não tem planos para se regularizar, diz que a polícia dificilmente irá conseguir apreender um táxi ilegal: “Eu geralmente pego passageiros que estão indo para a minha

região. Se um policial de trânsito me parar, digo que é um parente.” Estima-se que esses táxis ilegais faturem mais de 1 bilhão de rublos anualmente, obviamente sem recolher impostos. Enquanto isso, existem hoje somente 9 mil táxis oficiais na capital. “Os ilegais que ocupam as áreas próximas aos terminais aéreos, estações de trem e shopping centers irão gradualmente se legalizar ou terão que sair do mercado”, acredita Magarian. Segundo motoristas de táxi privado, o grande problema da lei é que as licenças só serão concedidas a quem usar carros próprios, quando é comum que motoristas usem automóveis de terceiros.


Economia e Mercado

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Reação Organização tenta varrer golpistas do mercado financeiro, mas faltam leis e fiscalização

NOTAS

Em defesa do investidor

Brasileira Frasle entra no mercado de autopeças russo

GAZETA RUSSA

A empresa brasileira Frasle, uma das maiores da América Latina no setor de componentes automotivos, começou a operar no mercado russo neste ano, exportando peças. Fabricante de materiais de fricção, a empresa mantém a liderança mundial na produção de pastilhas de freio e lonas de freio para veículos comerciais pesados. Seus produtos são exportados para 80 países. Na Rússia, os produtos da Fras-le serão representados pelo grupo Omega, uma das maiores distribuidoras locais de componentes automotivos para caminhões das marcas Renault, Iveco, Man, Mercedes-Benz, Volvo, Scania e Daf. O grupo tem 18 lojas em toda a Rússia, incluindo um armazém de distribuição por atacado em Moscou, e vende produtos de mais de 75 marcas. A Fras-le possui representações oficiais em nove países e produção própria no Brasil, EUA e China.

RAIO-X

Ígor Kóstikov

Golpes diversos povoam as aplicações russas e minam a confiança dos pequenos investidores

Auto-Vesti KOMMERSANT

ILIA WARLAMOW

Para ex-presidente de reguladora do mercado de ações, proteger pequeno investidor é principal tarefa para sucesso da bolsa. BEN ARIS GAZETA RUSSA

Esquecidas no Ocidente desde o caso “Dona Branca”, em Portugal, nos anos 1990, as “pirâmides” financeiras voltaram à pauta do dia com Bernard Madoff. O esquema pelo qual investidores – na realidade, vítimas – são remunerados com os recursos de novas aplicações fez com que o americano fosse julgado e condenado a 150 anos de prisão em 2009. A fraude foi apelidada de “maior esquema Ponzi da história” – em referência ao criador do método, o italiano Charles Ponzi, que

morreu falido no Rio de Janeiro depois de cumprir pena nos Estados Unidos e ser deportado. Mas existe um lugar do mundo onde essa e outras fraudes nunca viveram dias inglórios: a Rússia. “Tão importante quanto criar um centro financeiro internacional é construir uma relação de confiança com os pequenos investidores, e isso ainda está faltando. Aqui as pessoas investem uma vez, são roubadas e não voltam a fazer aplicações”, afirma o expresidente da agência reguladora do mercado de ações da Rússia Ígor Kóstikov. Em fevereiro deste ano ele criou a União dos Consumidores de Serviços Financeiros (em russo, FinPotrebSoiuz), que tem como objetivo ajudar quem sofreu golpes de

Ranking dos fundos de pensão

União dos Consumidores de Serviços Financeiros foi criada em fevereiro deste ano Entidade busca evitar que esquemas como o de Bernard Madoff continuem prosperando fundos de investimentos. De acordo com Kóstikov, esses esquemas são comuns em todo o país, e não só inexistem leis para impedir as fraudes como não existe órgão no governo responsável pela supervisão desses fundos. Apesar da necessidade de desenvolver uma base de investidores mais ampla, as recentes reformas na infraestrutura de investimento russa não conseguiram gerar confiança nas pessoas que poderiam investir diretamente em ações.

Esquema em ação

INVESTFUNDS.RU

Nas pirâmides russas, um clube de investimentos anuncia na imprensa retornos promissores e atrativos para pequenos i nvestidores. Seduzidos, esses entram em contato com o escritório correspondente e assinam um contrato. Quando voltam para retirar o dinheiro, são informados de que clube cometeu alguns erros e perdeu toda a quantia

investida. Se os investidores começam a questionar por que o fundo foi à falência, porém, rapidamente percebem que não há u ma resposta convincente. “O investidor não pode processar o escritório russo, já que, no fim das contas, não tem ligação formal com o clube. Está agindo apenas como uma espécie de agente, e revendendo os serviços de um fundo registrado no Chipre, nas Ilhas Virgens ou em qualquer outro lugar”, explica Kóstikov. “O clube, por sua vez, não é mais do que uma caixa de correio e é fechado logo após arrecadar dinheiro suficiente. Para a maioria das pessoas, ir atrás de uma empresa no exterior é um processo muito caro e, ainda que não fosse, o contrato assinado na Rússia provavelmente não teria val i d a d e f o r a d o p a í s ”, completa. Ninguém sabe ao certo quanto os investidores de varejo têm nesses fundos. De acordo com o jornal econômico russo Kommersant, os fundos mútuos russos começaram a resgatar dinheiro na primeira metade de 2011 pela primeira vez em quatro anos. Mas, até agora, só retomaram posse de irrisórios US$ 200 mil do total de ativos em questão. Kóstikov diz que não existem números oficiais, mas estima que o valor total de negócios de investimento em varejo gire em tor no de US$ 300 milhões.

Segundo ele, os golpes estão gerando dezenas de milhões de dólares de prejuízo. Além da já citada falta de tipificação penal, não existe um órgão para supervisionar e conceder licenças aos clubes de investimento. Enquanto isso, fraudadores estão livres para agir com impunidade e podem até promover grandes campanhas publicitárias na imprensa local. O que torna esses golpes tão capciosos é que os operadores não prejudicam todos os investidores. Os maiores clubes fazem alguns retornos reais e pagam boa parte de seus investidores, mas incrementam os resultados econômicos roubando alguns deles - e usando seu dinheiro para pagar o restante. A pr át ic a é a m pl a m e nt e difundida.

Fraude institucionalizada Um pouco menos escancarados são os vendedores de créditos em bancos populares. Comercializando produtos mais tradicionais, como créditos imobiliários e de automóveis, eles se aproveitam da ausência de regulamentação para empurrar os produtos mesmo a clientes que não serão capazes de pagá-los apenas para ganhar comissões. Até o banco estatal Sberbank teve problemas, segundo Kóstikov. “O Sberbank é um dos poucos bancos que têm colaborado plenamente conosco. O cliente faz uma reclamação

Comitê de Pesquisa BRICS

IDADE: 53 CIDADE: LENINGRADO (SÃO PETERSBURGO) FORMAÇÃO: ECONOMISTA

Kóstikov liderou, entre 2000 e 2004, a Comissão Federal de Mercado de Valores Mobiliários – como era conhecida então a agência reguladora do mercado de ações. Em fevereiro desse ano, criou a União dos Consumidores de Serviços Financeiros. A organização não tem respaldo oficial e é financiada por alguns patrocinadores privados. Seu objetivo é auxiliar vítimas de golpes de fundos de investimentos.

para a agência local e, se o problema não é resolvido, é encaminhado para nós. Acompanhamos os casos junto com o escritório central, aqui em Moscou. De qualquer modo, o cliente é ressarcido em uma questão de dias”, conta. Entretanto, se o empréstimo é considerado “irrecuperável”, os bancos geralmente acabam vendendo-os a uma agência de cobrança de dívidas. “Não existe nenhum item na lei de falências pessoais que se refira a essas agências. Elas são completamente ilegais, mas quase ninguém tem consciência disso”, diz Kóstikov. O aumento do nível de consciência é outro desafio que a organização de Kostikov espera assumir na sociedade.

Foi criado neste mês, em Moscou, o Comitê Nacional de Pesquisa do grupo Brics. O novo organismo representa uma parceria não lucrativa e foi criado pela Fundação Mundo Russo e pela Academia de Ciências da Rússia. “A criação dessa instituição é uma necessidade neste momento”, afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguêi Lavrov. Juntos, os países do grupo concentram cerca de 30 % da superfície do planeta e 45% da população mundial e, segundo o chanceler, representam um elementochave da política externa da Rússia. O embaixador itinerante da diplomacia russa, Vadim Lukov, também falou, na ocasião da inauguração, sobre o interesse da Rússia na criação de um sistema de moedas de reserva. Itar-Tass

Projeto “Sôtchi-2014” vai custar R$ 11,3 bilhões PHOTOSHOT/VOSTOCK-PHOTO

Investimento Aumento do consumo interno e crescimento do setor de construção melhoram perspectivas russas

Porto seguro em tempos de crise Reservas russas em moeda forte foram recuperadas e país pode ser um dos mercados mais seguros do mundo. BEN ARIS GAZETA RUSSA

O crescimento está desacelerado no mundo ocidental e a Europa enfrenta a possibilidade real de uma segunda crise bancária, enquanto os Estados Unidos estão lutando contra uma enorme dívida externa. Os investidores estão procurando abrigo, mas há poucos lugares aonde se possa recor-

rer. Os preços do ouro subiram a níveis recordes e o franco suíço seguiu o mesmo caminho, de modo que ambos os ativos estão exageradamente caros. Enquanto isso, a Rússia, que vem sendo de um modo geral ignorada, é provavelmente um dos mercados mais seguros do mundo atualmente, de acordo com alguns especialistas. “A economia russa está cada vez melhor, mas os mercados têm pouca confiança no cenário macro russo, e vêm ignorando-a profundamente”, diz o analista do Alfa Bank, Aleksêi Deviatov.

Embora a economia do país esteja sendo afetada pela evidente desaceleração dos mercados desenvolvidos nos últimos meses, sua economia se recupera, sobretudo com o crédito e no setor de construção. Os créditos tanto para as companhias quanto para os consumidores tiveram altas astronômicas em julho e sobem até 18% e 27%, respectivamente, todo ano, tornando os bancos rentáveis. Embora o orçamento da Rússia ainda seja extremamente dependente do preço do petróleo, o consumo se tornou a principal força motriz da eco-

no Brasil

nomia nos últimos anos. Além disso, o setor de construção sofreu aceleração inesperada em julho, representada por um aumento anual de 17,8% no volume de obras, segundo o Alfa Bank. O setor de construção no período pré-crise foi o segundo mais importante motor da economia depois do consumo, mas a atividade permaneceu estagnada na maior parte dos últimos dois anos. Entretanto, o que realmente assustou os investidores foi o rebaixamento da nota de risco dos Estados Unidos pela agência classificatória Standard &

FRASE

Mikhail Kovríguin VICE-DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE REGULAMENTAÇÃO E SUPERVISÃO DO BANCO DA RÚSSIA

O lucro dos bancos durante os sete primeiros meses deste ano já chegou perto do resultado

"

obtido durante todo o ano de 2010. Creio que esse índice será ultrapassado até o fim de setembro.”

Poor’s no início de agosto. Enquanto os soberanos títulos norte-americanos tiveram sua imagem arranhada, a dívida da Rússia parece cada vez mais controlada. As reservas

de moeda forte recuperaram quase todas as perdas durante o pior momento da crise – e o país está entre as nações com menor probabilidade de negligenciar sua dívida.

O vice-primeiro-ministro russo, Dmítri Kozak, desmentiu notícias sobre um suposto aumento de custo do projeto das Olimpíadas de inverno de 2014 em Sôtchi. Depois de acompanhar uma missão do COI (Comitê Olímpico Internacional) durante visita às instalações olímpicas, o vice-premiê disse que o custo do projeto se mantém na faixa de cerca de US$ 6,6 bilhões (R$ 11,3 bilhões), dos quais cerca de R$ 6 bilhões serão provenientes de investidores de varejo e o resto por conta do Estado.Ainda de acordo com Kozak, já foram entregues cerca de 80% das obras. Ria Nóvosti

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Economia e Mercado

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Preteridos pela data de nascimento CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Falta trabalho entre os jovens

PESQUISA

Idade é barreira para emprego? DOIS TERÇOS DOS ENTREVISTADOS DIZEM TER SIDO VÍTIMAS DE DISCRIMINAÇÃO POR IDADE AO PROCURAR UM EMPREGO NA RÚSSIA, SEGUNDO ENQUETE ONLINE DO PERIÓDICO KOMMERSANT DÊNGUI QUE DUROU UMA SEMANA, EM AGOSTO DESTE ANO. MAIS DE 2 MIL LEITORES PARTICIPARAM.

SERGEY SAVOSTIANOV_RG

Ela não quis ter o sobrenome divulgado. “Agora estou procurando um novo emprego, e mandei meu currículo para 34 empresas. Não especifiquei minha idade e recebi retorno de 19 empregadores. Mas quando descobriram que eu tinha 55 anos, 14 deles admitiram abertamente que havia limite de idade para as vagas”, conta. O diretor-administrativo do escritório de recrutamento Antal Russia, Michael Germershausen, admite que as vagas para profissionais qualificados e gestores são raras para quem tem entre 45 e 50 anos. “Os empregadores realmente preferem os especialistas mais jovens para a maioria das funções. O limite de idade não declarado para profissionais de nível médio no setor financeiro é, em média, de 35 a 38 anos”, diz. Segundo Germershausen, as pessoas das gerações mais antigas têm dificuldades de se adaptar ao novo ritmo do mercado de trabalho. “Os mais velhos costumam ter compreensão limitada dos princípios da economia moderna, pouco conhecimento de línguas estrangeiras e dificuldade para se adaptar à cultura coorporativa e aos estilos de gestão atuais”, diz. A diretora de RH do Grupo Financeiro BCS, Olga Savosko, acredita que poucos podem desenvolver uma carreira na meia-idade. “Em um ou outro caso, o indivíduo é um especialista ou tem bons contatos, relevantes para a empresa. Mas, fora isso, as chances de conseguir um emprego no mercado são bem pequenas”, afi rma. Para a gerente de projetos da consultoria de RH Consort Group, Olga Ribakova, existe também uma imaturidade dos diretores mais jovens na hora de lidar com a geração anterior. “Eles não sabem se relacionar com os

Homem procura emprego em jornal especializado. Limite de idade para setor financeiro é de 35 a 38 anos

Mais de um terço dos desempregados recorre ao Estado por ocupação

NIYAZ KARIM

de Finanças e Investimento Solid, Aleksêi Zaikin. “Essas pessoas geralmente têm muita experiência em áreas específicas, e um profissional de 50 anos que se candidate a uma vaga de gestor de ativos, por exemplo, pode trazer consigo toda uma carteira de clientes”, diz. Os especialistas destacam que, nos países desenvolvidos, o movimento costuma ser inverso. “Muitas empresas estrangeiras, especialmente as alemãs e japonesas, costu mam prefer ir

mais velhos. Além disso, confundem a atividade profissional com conflitos pessoais mal-resolvidos que têm com seus pais, então acham mais fácil lidar com pessoas mais novas”, diz.

Velha guarda ativa Mas quem está acima da idade não deve desistir de conseguir um bom emprego. Existem, sim, cargos nos quais a idade é uma grande vantagem, ressalta o vicediretor de desenvolvimento de negócios da Companhia

candidatos mais maduros”, completa Germershausen. “Numa seleção, uma multinacional estipulou a idade mínima de 36 anos para os candidatos à função de consultor jurídico sênior, mesmo considerando que uma posição similar em outras empresas é ocupada por pessoas em torno dos 29 anos”, conta.

Problema russo No geral, existem dois caminhos principais que levam ao sucesso profissional e fi-

nanceiro: o do gestor e o do profissional qualificado. Na Rússia, porém, esse conceito de carreira não é muito desenvolvido. A maioria das empresas é organizada de forma que profissionais altamente qualificados sejam desnecessários. Na ausência de real competitividade em uma economia corrupta, o que um gestor precisa é de pessoas satisfeitas com suas atribuições. Desse modo, o teto máximo de qualificações exigidas para exercer funções não gerenciais é

atingido entre os 30 e 35 anos. Caso o funcionário não se torne um gestor até essa idade, é improvável que ele conti nue ava nça ndo profissionalmente. Segundo dados do Superjob. ru, a média salarial tende a crescer de acordo com a faixa etária até atingir o pico aos 40 anos. Depois disso, permanece estável, e, em alguns casos, chega até a diminuir. Ainda que no Ocidente também seja mais difícil para

Em outra enquete, do site Eexecutive.ru, 87% dos respondentes entre 30 e 35 anos afirmaram nunca ter sofrido nenhum tipo de discriminação por idade. O número caiu para 23% quando se tratava de pessoas com mais de 50 anos – desses, 41% dizem ter sofrido “algumas” situações discriminatórias e 36% afirmaram que a discriminação é um acontecimento “bastante frequente”.

uma pessoa de 50 anos conseguir emprego que outra de 30, empresas de todos os ramos precisam de funcionários com diferentes níveis de experiência. Enquanto as companhias russas continuarem dando as costas para a inovação e só recompensarem pessoas que fazem apenas o que se espera delas, indivíduos de meia-idade procurando emprego continuarão ouvindo: “Nós temos uma equipe jovem – e você não está no perfi l.”

Exportação Marca Baltika chega a diversos países da região, inclusive nos maiores mercados: Brasil e México

Há quatro anos a participação latinoamericana no total de vendas para as Américas era de 5%. Atualmente, está em 50%. ANNA PROTSENKO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

“Quer uma cerveja russa?”, perguntam meus amigos. Não pude esconder a surpresa. Onde poderíamos encontrar uma cerveja russa no México? Fomos ao “Soriana”, um dos grandes supermercados da capital. Ali nos deparamos com uma caprichada fileira de garrafas da russa Arsenalnoe, bem ao lado de um esplêndido cartaz no qual uma loira de cabelos longos e olhos azuis nos estendia uma cerveja e convidativamente dizia: “Baltika: conheça a cerveja russa.” Na América Latina, os russos têm fama de serem fornecedores de armas e vodca,

e até pouco tempo atrás nenhum latino poderia citar um produto concreto “made in Russia”. Uma das pioneiras na área é a Baltika, um complexo de fábricas cervejeiras de São Petersburgo, pertencente ao grupo Carlsberg. Na Rússia, a empresa tem recebido anualmente o título de Exportadora do Ano, já que mais de 60% de toda cerveja russa exportada sai de suas linhas de produção. Atualmente mais de 70 países já comercializam a Baltika e representantes expressam interesse no mercado americano desde o início dos anos 2000. A conquista do continente começou pelo norte, com a exportação das primeiras levas de cerveja russa para os EUA e para o Canadá.

Hermanos russos Em maio de 2008, Anton Ar-

STOCK FOOD/FOTODOM

Cervejaria russa descobre a América Latina

Procedência exótica e propaganda impulsionam vendas

témiev, o presidente da empresa, notou que a produção da Baltika quase não tinha representação na América Latina. Naquele momento, de fato, só haviam sido realizados alguns testes de exportação, com os primeiros 15 mil litros da cerveja russa

enviados ao México em 2007. Em 2009, o mercado russo de cerveja demonstrou uma inesperada queda de 8,3%, pela primeira vez desde 1998, após 11 anos de crescimento ininterrupto. Em condições nada fáceis em seu próprio

país, a Baltika apostou na expansão das vendas em novos e promissores mercados. No outono de 2008, a empresa anunciou o início da exportação para Guatemala e Uruguai. Depois disso, os limites continuaram a se expandir: Honduras, El Salvador, Haiti, Cuba, Panamá, Costa Rica e Chile, entre outros. Em agosto, fez exatamente um ano que a Baltika foi oficialmente introduzida nos principais mercados da região, México e Brasil. O volume de vendas na região superou a marca dos dois milhões de litros de cerveja em 2010. Só no México foram 40 mil litros em um ano. “Quatro anos atrás, a participação da América Latina no volume geral de vendas do continente americano não superava os 5%. Ele já ultrapassou os 50%, levando em conta os resultados de 2010, o que nos permite avaliar esse mer-

cado como bastante promissor”, destaca a diretora de vendas para os países americanos, Elena Volgucheva. Apesar da distância em relação à Rússia, a América Latina apresentou estabilidade e crescente demanda de consumo. Por ser a primeira cerveja russa a desbravar esse mercado, a Baltika acabou levando uma vantagem adicional - sua procedência “exótica”.

Loira é alma do negócio O aparecimento das cervejas russas Arsenal e Baltika-7 nos mercados de Santiago, Brasília e Cidade do México recebeu um respaldo publicitário de peso, ao serem associadas a lindas loiras e olhos azuis, tipicamente russas. Entre os contratempos que a companhia enfrenta, Volgucheva destaca a distância, o longo processo de certificação

e as dificuldades burocráticas para obtenção de documentos. Sobre as peculiaridades dos mercados locais, ela acrescenta ainda o alto grau de monopolização. Como resultado, a produção de Baltika se encontra atualmente na categoria Premium, o que pressupõe um valor bastante elevado para fabricação. No mercado mexicano uma garrafa de Baltika deveria custar cerca de 30 pesos novos mexicanos (aproximadamente R$ 4). Na prática, uma garrafa da linha Premium sai para os consumidores locais pelo dobro do preço. Em 21 anos de existência, a Baltika tornou-se uma das três maiores cervejarias da Rússia. “Um dos objetivos estratégicos da companhia é transformar a Baltika em líder mundial no segmento”, resume o diretor de exportação Dmítri Kistiev.

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No segmento de veículos de médio porte, a empresa brasileira terá de concorrer com os sul-coreanos Hyundai e os russos Paz e Kavz, construídos pela nacional “Ônibus da Rússia”. Nos primeiros anos pós-soviéticos, a Paz (cuja sigla, em português, significa “fábrica de automóveis de Pavlovsk”) detinha o monopólio desse mercado. Seus ônibus, em versão atualizada, continuam a ser usados extensivamente ainda hoje em algumas regi-

ões da Rússia. Essa versão do Paz não difere muito do protótipo brasileiro da Marcopolo, chamado de “Real”, nem dos modelos Hyundai. “O fator decisivo na luta pelo mercado será o preço”, acredita o analista da empresa de investimento Globus Nikolai Módin. O ônibus mais barato no momento é o Paz, avaliado em cerca de um milhão de rublos (cerca de R$ 56 mil). O preço do Hyundai County chega a R$ 84 mil. “A Kamaz tem que se nortear por um preço acima do mais baixo, porque é praticamente

impossível construir um ônibus mais barato do que o Paz clássico do período soviético”, assinala Módin.

Mercado Nem Kamaz, nem Marcopolo adiantam o preço de seu produto. Serguêi Kogóguin posiciona o novo ônibus no segmento premium, mas alguns especialistas questionam a classificação. “O mercado para veículos desse tipo não é muito grande. Além disso, o arranjo interior anunciado, prevendo lugares de pé, dificilmente corresponde aos cri-

térios da classe premium”, salienta o analista da empresa Finam Aleksêi Zakharov. O modelo também poderia gerar maior interesse em empresas especializadas em transporte urbano. “Esse tipo de transporte tem maior demanda”, afirma o analista da empresa Investkafe Kirill Márkin. “Moscou está desenvolvendo sua infraestrutura de transportes, disponibilizando faixas especiais de trânsito para os veículos de transporte coletivo e buscando soluções para a diminuição de conges-

tionamentos. Tudo isso implica a ampliação do parque de veículos com capacidade de serem integrados ao serviço público”, completa. Segundo o Ministério dos Transportes da Rússia, a taxa de depreciação do parque de veículos do transporte coletivo em posse das empresas é superior a 70%. Se a Kamaz e a Marcopolo conseguirem se enquadrar no processo de modernização desse setor, sua joint venture saberá provar, já num futuro próximo, sua competitividade e lucratividade.

RUSLAN SUKHUSHIN

Segunda tentativa da Marcopolo mira renovação da frota russa Joint venture terá concorrência de russos e coreanos

NÚMEROS

R$ 56 mil

70%

3 mil unidades

é o preço do Paz, concorrente mais barato do projeto.

do parque automobilístico coletivo russo está defasado.

é a meta de ônibus comercializados da Marcopolo em 2016.


Especial

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AGRONEGÓCIO NÚMEROS

DEPOIS DE CRISE DOS ANOS 1990, SETOR

446

VIVE RETOMADA DE INVESTIMENTOS

milhões de dólares de recursos estrangeiros injetados em 2010

Campo fértil para crescimento A Rússia precisa importar um milhão de toneladas de carne suína só dos Estados Unidos a cada ano. Por isso, a autossuficiência no setor foi instituída como um dos pontos principais dos Princípios de Segurança Ali-

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Pastagens, campos de girassóis e grãos prontos para a colheita margeiam uma esburacada estrada no sudoeste da Rússia, a 100 quilômetros de Kursk. Uma solitária vaca branca e preta pasta junto à estrada, pela qual os agricultores Klaus John e Serguêi Iarovôi estão a caminho da fazenda onde trabal ham, per tencente à empresa Prodimex. John aponta para o animal e diz: “Essa é a imagem da indústria de laticínios na Rússia.” A observação pode soar como brincadeira, mas não está longe da realidade. Muitos russos produzem leite para o próprio consumo, e também plantam verduras e batatas em suas datchas (casas de campo). Mais da metade da carne bovina da Rússia é proveniente de abatedouros privados, e mais de 90% das batatas são cultivadas nos jardins das casas. Nos vilarejos, as crianças diariamente reúnem as vacas antes de levar o rebanho para o pasto. “Como Pedro, o menino pastor, que caminha com as cabras pelos Alpes. Parece

Aos poucos o setor agrícola se profissionaliza, mas ainda há sérios desafios a superar mentar do Estado. Segundo foi estabelecido, até 2020 85% da carne e 90% do leite devem ser produzidos internamente. Isso significa um aumento de 20% da produção local. O auxílio do governo vem na forma de créditos a baixo custo – sobretudo para manter os animais. Antes, cerca de 7 bilhões de euros saíam dos cofres de Moscou com destino ao setor agrário, número significativamente menor do que os valores observados na União Europeia. O bloco distribui 100 bilhões de euros aos agricultores anualmente. Mas, segundo John, “na Rússia, já se pode produzir a preços de mercado mundial”.

Valorização de 400% Quem investe atualmente no setor agrário russo espera uma grande valorização do mercado. Em julho, um grupo tcheco-holandês comprou a empresa RAV Agro-Pro, que detém 160 mil hectares na região econômica de Tchernoziômni (em português, “de

108

milhões de toneladas de grãos foi a safra de 2008. Seca diminuiu para 60 milhões a safra de 2010.

2010

Nesse ano a criação de aves aumentou 10% em comparação ao ano anterior.

RIA NOVOSTI

Crédito x subsídios HEIDI BEHA

milhões de hectares foram usados como áreas de cultivo em 2010

A plantação de chá mais setentrional do mundo, em Krasnodar, na Rússia

lher, em média, metade da produção, o custo para adquirir uma colheitadeira é consideravelmente maior na Fede r aç ão Ru s sa qu a ndo comparado à Europa Central. Esse tipo de perda de produtividade faz diferença. Mas ainda assim o negócio continua a valer a pena.

Ineficiência ITAR-TASS

O país é atualmente um dos maiores importadores agrícolas do mundo. Embora os pastos russos sejam povoados por 11 milhões de vacas, o cenário ainda está distante dos 42 milhões de vacas leiteiras quando do colapso da União Soviética. A importação de leite, soja e carne bovina ainda devem se estender por um longo período. Mas a Rússia pretende se tornar capaz de suprir a demanda interna de carne de porco em dez anos. Essa produção aumentou 8,6% nos últimos anos, enquanto a de aves subiu 10%. Os grãos e a canola já produzem excedentes que são exportados. Em 2008, foram col h id a s 108 m i l hõ e s de toneladas de grãos. Embora em 2010 a colheita tenha caído para 60 milhões de toneladas devido à seca e aos incêndios, uma boa colheita é novamente esperada para 2011. Em comparação, a Alemanha produz cerca de 45 milhões de toneladas de grãos anualmente.

uma cena idílica, mas isso não alimenta um país de 147 milhões de pessoas”, explica John.

Vacas solitárias, kolkhózi arruinadas e campos abandonados estão sendo substituídos por investimentos milionários.

77,9

Meta para 2020 é que 90% do leite seja produzido no país

terra negra”), um dos tipos de solo mais férteis do mundo. O grupo acredita em uma valorização de 400% nos próximos anos. Há investimentos em empresas novas e já instaladas. Em 2008, cinco produtores alemães de sementes se uniram para formar a Aliança Alemã de Sementes, focada na Rússia. No entanto, grande parte das zonas rurais da Rússia ainda não é aproveitada. “A maioria das empresas é ineficiente. A área de Tchernozi-

ômni poderia gerar um adicional de 40% ou mais à produção atual”, afirma o agricultor Serguêi Iarovôi. Os sinais de que o potencial é enorme estão por todos os lados. Não é raro que ele e John, ao se embrenhar pelas fazendas, encontrem farta produção mesmo nas áreas onde caminhões de pesticida deixaram de pulverizar a plantação. No horário do almoço, a ceifeira, instrumento de colheita, permanece imóvel por horas. Além de só co-

Entre guerras e kolkhózi, a agricultura russa desde 1900 Muitos agricultores, contudo, preferiram abater seus cavalos, vacas e porcos a entregálos para os kolkhózi (“fazendas coletivas”) que estavam em formação por todos os cantos. Isso gerou uma nova interrupção na produção rural, sobretudo na produção pecuária. Em 1940, com o aumento do uso de máquinas, a produção de grão novamente atingiu os níveis pré-crise. Porém, a Segunda Guerra Mundial cortou a produção de carne e grãos pela metade.

RIA NOVOSTI

Por volta de 1900 a Rússia era o maior exportador de grãos do mundo. Quase um terço da exportação mundial provinha do Império Russo. A Primeira Guerra Mundial, a revolução e anos de guerra civil levaram à queda do contingente populacional dos campos e a grandes interrupções na produção agrícola. Foi somente na segunda metade dos anos 20 do século passado que as safras começaram a render novamente. Em 1929, Stálin decidiu coletivizar todo o setor agrário.

No início dos anos 80, a União Soviética era a maior produtora de trigo, centeio, cevada e algodão do mundo, com os kolkhózi e sovkhózi (“fazendas soviéticas”) sob comando do Estado. Depois da queda da União Soviética, esse tipo de produção entrou em colapso. Em 1998, a Rússia produziu apenas metade da quantidade de grãos cultivados na década de 1990. Só recentemente houve recuperação. Em 2008, primeiro ano de fôlego, a safra foi de 108 milhões de toneladas.

Na pecuária, o declínio foi ainda mais drástico. Em muitos lugares, empresas inteiras tiveram que abater o gado para gerar lucro rápido. O setor ainda não se recuperou. Hoje, existem apenas 11 milhões de vacas nos campos do país, isto é, 31 milhões a menos do que na década de 80. O agronegócio emprega 10% da população atualmente. A receita gerada pelo setor em 2009 chegou a 1,53 bilhões de rublos (o equivalente a R$ 85,68 milhões).

Outra razão para a ineficiência é a estrutura do agronegócio. As plantações de agricultores autossuficientes são muito pequenas, enquanto os conglomerados agrícolas existentes são muito grandes. Para um conjunto de empresas com campos tão vastos quanto cidades inteiras da Alemanha, é difícil controlar cada divisão ou gerenciar grandes variações de receita. Além do mais, as sociedades anônimas distribuem seus ganhos entre os acionistas. Logo, não existe uma reserva para as épocas de dificuldade. Isso ficou claro com a crise financeira de 2008 e suas repercussões. Alguns conglomerados não puderam pagar salários durante meses. É por isso que especialistas agrícolas sugerem a estabilização a partir da camada mais baixa. A ideia é que pequenos agricultores constituam empresas familiares de médio porte e comercializem seus produtos.

Mão de obra Muitos pais, porém, como Olga Iuiúkina, não veem o futuro dos filhos na plantação. O filho de Iuiúkina cresceu em meio a tratores, feno e vacas. Agora ele irá para a cidade estudar. “Ele deve virar um administrador”, diz a mãe. Já os agrônomos de grandes empresas se queixam da idade avançada dos trabalhadores rurais. “Não conseguimos en-

contrar um número suficiente de pessoas que sejam qualificadas e possam trabalhar com as tecnologias mais novas”, diz o agrônomo Aleksandr Musnik, que trabalha em uma empresa de agronegócios perto de Kursk chamada Soldatskaia. Depois dos estudos, poucos querem voltar à terra natal. “Não existem nem salas de cinema e só uns poucos restaurantes, e todos os nossos amigos vivem na cidade”, explica Serguêi Iarovôi, que é graduado. Ele trabalha na cidade de Voronej e só volta para a cidade natal aos fins de semana. Mesmo os profissionais formados em universidades agrárias não se sentem tentados a deixar as cidades e seguir para o campo em buscade salários mais altos. Aqueles que vivem em vilarejos são depreciativamente chamados de caipiras. Por isso, a busca por profissionais qualificados tem ultrapassado fronteiras. “Sair do país não é algo que compense financeiramente para os russos bem instruídos”, diz John. Por outro lado, é interessante para os estrangeiros trabalhar na Rússia, e não apenas pelo dinheiro. “Vim porque considero a vida mais emocionante aqui”, diz o sueco Torbjörn Karlsson. Ele não é o único. À noite, profissionais agrícolas da Alemanha, África do Sul e Suíça se encontram para tomar cerveja depois do trabalho em Voronej, onde estão localizadas suas empresas. Falam do preço de grãos, níveis de umidade do solo e experiências turbulentas com a polícia russa. Todos trabalham para diferentes conglomerados, mas, ainda assim, a concorrência não é grande. Por enquanto, as terras e os lucros bastam para todos.

ESPORTE Promessa russa das pistas Vitáli Petrov e par brasileiro Bruno Senna correm juntos na Lotus Renault

Inaugurando parceria no GP da Bélgica, Bruno Senna e Vitáli Petrov chegaram no 13° e 11° lugar, respectivamente. IÚRI OSSÓKIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A notícia de que o piloto Bruno Senna, sobrinho de Ayrton Senna, seria parceiro do piloto russo Vitáli Petrov foi anunciada às vésp e r a s d a 12 ª e t apa do campeonato de Fórmula 1, o Gra nde P rêm io da Bélgica. Em um comunicado oficial, a Lotus Renault confi rmou que Bruno, piloto de testes da equipe e candidato a nova estrela do automobilismo brasileiro, iria substituir Nick Heidfeld no posto de piloto titular. Sempre sorridente, o paulistano Bruno terá que trabalhar duro na disputa com pilotos internacionalmente reconhecidos, mas já deu uma mostra do que é capaz nas corridas do GP2 e GP2 Ásia, na categoria de juniores. Além de provar suas habilidades, Bruno também terá

que bater seu companheiro de equipe, o russo Vitáli Petrov, único piloto do campeonato a correr em um carro completamente igual ao seu em ter mos de velocidade. O primeiro teste para o sobrinho de Senna foi a prova de classificação no circuito de Spa-Francorchamps, onde seu tio alcançou a vitória cinco vezes - quatro delas como piloto mais rápido das etapas classificatórias. A chegada de um piloto aparentemente inexperiente a uma equipe tão forte como a Lotus Renault, que está disputando com a Mercedes o 4 º lugar no Campeonato de Construtores, tornou-se para muitos uma verdadeira surpresa. Em sua primeira entrevista coletiva como piloto neste ano e titular da equipe, Bruno disse ter ficado feliz ao receber a proposta e prometeu fazer o possível para conseguir um bom resultado no Grande Prêmio da Bélgica. O russo Petrov foi mais pru-

VOSTOCK-PHOTO

Sobrinho de Senna vira parceiro de piloto russo

Pilotos da Lotus Renault Vitáli Petrov (esq.) e Bruno Senna (dir.)

dente ao avaliar as perspectivas de seu parceiro brasileiro: “Bruno está presente em todas as reuniões, mas nos falamos pouco. É claro que nos cumprimentamos e pedimos carona um ao outro,

mas não posso dizer se ele é bom ou mau corredor. Ele é uma pessoa boa e não tem nenhuma arrogância por ter um sobrenome tão famoso.” Não são só seus adversários

que sentem o peso de seu sobrenome. Bruno, mais do que todos, sente a pressão por ser sobrinho de Ayrton Senna. “Estou acostumado a lidar com isso desde o início. O nome Senna é uma

razão para ter um grande orgulho, é uma grande insp i r a ç ã o p a r a m i m ”, declarou. “A pressão e a exigência estão presentes, assim como as comparações, mas eu aprendi a administrá-las. Isso me fez um piloto mais completo. Desde que comecei, foi importante ser independente e ter certeza de que não estava tentando ser Ayrton ou me comparar a ele. Sei que se for eu mesmo e bom o bastante, serei bemsucedido como piloto”, completou Bruno. No primeiro treino classificatório, depois de uma chuva de curta duração, o brasileiro conseguiu melhorar seu resultado, terminando a prova com dois décimos de segundo de vantagem sobre Petrov. Bruno ficou feliz e, ao mesmo tempo, surpreso por ter passado ao terceiro segmento da classificação, dizendo que a direção da equipe não esperava vê-lo na sétima posição, à frente de seu compan hei ro de equipe.

“Felizmente, o carro estava bom e me ajudou. Sabia que tinha um bom desempenho no molhado e que poderia conseguir uma boa posição, mas fiquei um pouco mais nervoso com a pista secando. Mas tudo deu certo e o carro teve bom desempenho bem tanto no seco quanto no molhado”, disse Bruno. “Seu ponto mais fraco é a falta de prática, por isso ele precisa de mais tempo para ter confiança para dirigir. Seus pontos fortes são sangue frio, velocidade e uma boa relação com os engenheiros. Ele se adaptou facilmente ao trabalho com eles e ao ambiente na equipe”, disse, após a corrida, Eric Beaulieu, chefe da Lotus Renault. Assim como o russo, a direção da equipe acredita em Bruno, porém com cautela. Na primeira provação, no GP da Bélgica, um acidente na largada levou Senna à 13° posição. Petrov ficou em 9°. Já no GP da Itália, Senna ultrapassou Petrov (9° e 10° lugares).


Opinião

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O NOVO MODELO ECONÔMICO Stanislav Macháguin EMPRESÁRIO

NIYAZ KARIM

O

sistema global de classificação de risco já não funciona mais. Durante anos, os rankings dissuadiram os países da excessiva tomada de empréstimos, os levaram a reduzir programas sociais e gastos públicos e encorajaram os Estados a aumentar os impostos. O recente rebaixamento das notas de risco dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor’s, entretanto, não surtiu o efeito esperado. Desde o anúncio do rebaixamento, em vez de diminuir, a demanda por títulos norte-americanos aumentou, enquanto a taxa de juros caiu. O maior beneficiário dessa última mudança nas regras do jogo foram os próprios Estados Unidos. Está claro agora que o Departamento do Tesouro dos EUA pode continuar pedindo quantos empréstimos quiser e imprimindo dinheiro, já que nem a classificação de risco, nem a legislação ou qualquer receio de prejuízos dos credores impedirão que os players dos mercados globais continuem comprando dólares e títulos americanos. Em primeiro lugar, eles dependem do dólar para estimar valores e pagamentos. Além disso, os títulos do Tesouro norte-americano representam dinheiro para as instituições financeiras e para os principais protagonistas do mercado – são líquidos, denominados em dólares e proporcionam juros. Concordo com a simples teoria do investidor e industrialista Warren Buffet de que a classificação dos EUA ainda é “AAA” e não há motivo algum para alterá-la, já que os títulos do Tesouro dos Estado Unidos devem ser pagos em dólares americanos, e estes, por sua vez, podem ser impressos em qualquer quantidade pelo Federal Re-

Descrédito das agências de risco, disputas cambiais e relações de consumo sustentáveis pedem novas respostas

serve, o banco central do país. Existe uma incerteza quanto ao custo desses dólares, mas podemos prever o que está por vir uma vez que o valor da moeda está mudando rapidamente. O processo iniciado pelos EUA levará China, Europa, Rússia e outros Estados a uma corrida de desvalorização monetária, caso eles queiram manter a competitiv idade de su as economias. Essa notícia é, ao mesmo tempo, boa e ruim. Boa porque o atual modelo financeiro e econômico pode sobreviver por um longo período sem grandes reviravoltas. Ruim

porque você e eu teremos que pagar por essa estagnação. Ao desvalorizar sua moeda, os Estados gradualmente diminuem os rendimentos reais (obtidos após desconto da inflação), prejudicando todos – principalmente os mais pobres. Pode ser válida qualquer ideia para mudar a infraestrutura do mundo das finanças – tal como a criação de um “banco central dos bancos centrais” ou a substituição do dólar como moeda universal pelo ouro ou por um conjunto de cinco moedas principais. Mas todas essas propostas são utópicas, não só devido à resistência da elite norte-ameri-

RÚSSIA ESPERA POR SUA EVITA PERÓN Anna Scherbakova CIENTISTA POLÍTICA

N

os idos de 2006, a manchete de um popular jornal russo me chamou a atenção: “Presidente Vladímir Pútin se reuniu com presidente chileno Michel Bachelet.” O fato de que o autor deste título simplesmente não sabia que no comando do Estado chileno estava uma mulher diz muito sobre as posições ocupadas pelas representantes do sexo feminino na política russa. Na opinião unânime dos futurólogos, este século será “a era das mulheres” em todas as esferas da vida. Mas as mudanças mais evidentes ocorrem na política. O tradicional domínio masculino nunca havia sido posto em questão, sempre encarado com naturalidade. Talvez seja por isso que o autor da curiosa manchete tenha confundido o gênero da ex-presidente do Chile. Nos últimos tempos, pode-se dizer que a representação feminina no poder mudou substancialmente. Na própria América Latina, só nos últimos 5 anos, quatro mulheres venceram as eleições e passaram a ocupar os assentos presidenciais de seus respectivos países: no Chile, a já mencionada Michelle Bachelet; na Argentina, Cristina Fernández de Kirchner; na Costa Rica, Laura Chinchilla; e no Brasil, Dilma Rousseff. Infelizmente, as russas não podem se orgulhar de semelhantes êxitos. O país continua sendo conservador quando se trata da presença feminina no âmbito da política pública e do poder. Por que na América Latina, uma região que sempre foi caracterizada pelo machismo, as mulheres têm alcançado altos cargos do poder e na Rússia continuam no fi nal da fi la do fem i n ismo mundial?

Essa irrevogável constatação é ainda mais surpreendente quando voltamos ao passado. Historicamente, tanto a Rússia como a América Latina sempre foram sociedades patriarcais, onde as mulheres ocupavam posições inferiores. No período pré-revolucionário do Império Russo, a desigualdade entre os sexos era parte da realidade. O “doméstico” era um conceito fixo na mente dos russos, e a desigualdade estava presente tanto nas tradições quanto na vida cotidiana. Mulheres exemplares deviam ater-se ao espaço reservado a elas dentro de casa e raramente apareciam para os convidados e vizinhos. Quando o faziam, era pre-

Sem exemplo forte ou cotas nas eleições, mulheres do país ainda estão presas ao papel de mães e senhoras do lar ciso receber permissão prévia do marido. Uma situação semelhante também era observada na América Latina, onde os conquistadores espanhóis impunham um estilo similar de clausura – herdado, por sua vez, dos mouros que dominaram a Península Ibérica durante séculos. As senhoras e senhoritas da nobreza só saiam de casa para ir à igreja. Em ambos os continentes, a política pública continuou sendo durante um longo período uma espécie de “clube do Bolinha”, para o qual o ingresso era vetado às mulheres. Na Rússia e na maioria dos países da América Latina, as ideias de emancipação feminina só foram difundidas muito tempo depois. Nesse aspecto, ficamos extremamente atrasados em relação à es-

clarecida e progressista Europa e aos Estados Unidos. Para nós, o movimento chegou apenas no primeiro trimestre do século passado. Na União Soviética, a ala feminina teria de agradecer a Lênin pelas conquistas obtidas na luta por seus direitos. As teses do líder sobre “a necessidade de todas as cozinheiras aprenderem também a conduzir o Estado” contribuíram para a efetiva incorporação das mulheres na vida social e, post e r ior me nt e, à at iv id ade política. A preocupação com “o papel político da mulher na sociedade” revelou-se na grande quantidade de mulheres que passaram a ocupar cargos em órgãos representativos do poder. Na Rússia, lamentavelmente, esse sistema foi deixado para trás, enquanto na América Latina passou a funcionar com plena eficiência. Nesse conjunto de 14 países existem cotas legais que reservam de 20% a 40% das candidaturas para quaisquer cargos elegíveis a mulheres. Na URSS, a incorporação das mulheres na vida sociopolítica foi feita num modelo vertical, de cima para baixo. Entretanto, os “departamentos femininos” criados dentro das estruturas partidárias já existentes ainda se ocupavam de tarefas estritamente domésticas e triviais. No mesmo período, diversas mudanças continuaram a tomar espaço na América Latina. Na Argentina, por exemplo, os homens foram submetidos à “rainha dos desamparados e líder dos descamisados”, Eva Perón, que contribuiu para o feminismo latinoamericano mais que qualquer outra. Evita colocou as mulheres no mesmo patamar dos homens, concedendo-lhes direito ao voto. E, embora agisse pelo desejo de garantir o eleitorado do marido, Juan

cana, mas também pelas posições de sig u a i s de out ros pa í se s importantes. Recentemente, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que tempos difíceis da economia mundial estão por vir. “O mundo está passando por uma mudança do sistema financeiro internacional, com países como a China vindo à tona”, afirmou. Embora a China não tenha tanta importância isoladamente, ela e os Estados Unidos são dois lados da mesma moeda: ou ambos afundarão ou sairão juntos da crise. E a China ainda tem uma margem de

segurança: está, finalmente, levantando restrições à titularidade de suas dívidas para investidores estrangeiros por meio de Hong Kong e parece afrouxar a ligação entre o yuan e o dólar americano. Isso pode oferecer aos players mundiais uma medida de valor alternativa e um instrumento de poupança antes do fim deste ano. Mas o mais importante é que os economistas e conselheiros de todos os países olhem para as causas da turbulência econômica no mundo todo. O conceito moderno de desenvolvimento econômico e de progresso científico e tecnológico se esgotou. Não há mais necessidade de criar nada novo, e quanto mais se consome determinado produto, menos importante ele se torna e mais barato fica. Enquanto não formos capazes de desenvolver um novo modelo de desenvolvimento, não haverá crescimento legítimo. O surgimento de novas ideias e a criação de uma nova economia são possíveis em algumas áreas, como a medicina, a ecologia e a exploração espacial. Entretanto, é preciso fazer com que elas se tornem interessantes e, assim, estimulem o envolvimento das pessoas. O economista Mikhail Kházin diz que a situação atual “condena as pessoas mais ativas e impetuosas a um cenário bastante desolador. Cada vez mais, a mente das pessoas é infiltrada pela ideia de que não existe espaço para elas nessa realidade”. Para o mundo continuar se desenvolvendo economicamente, é necessário mudar a sociedade, criando novos valores e motivações que, por si só, forneçam a base para o crescimento econômico. Stanislav Machágin é vice-diretor geral da consultoria de investimentos Ursa-Capital.

INTERVENÇÃO NA LÍBIA TEM RAZÕES COLONIALISTAS Perón, sua defesa aos mais necessitados não caiu em esquecimento. Atualmente, uma imponente estátua dela decora a fachada do edifício onde funciona o ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social, em Buenos Aires. Ao inaugurar a escultura, a atual presidente Cristina Kirchner disse que Evita foi “não só uma figura política, mas também o símbolo mais expressivo das mudanças ocorridas no país”. Pode-se dizer, sem exageros, que o surgimento de Eva Perón promoveu transformações não somente no própr io p a í s , m a s e m t o do o continente. Tanto a presidente Cristina, como outras mulheres que ocupam altos cargos em países da América Latina são figuras consolidadas que seguem as mesmas reg ras adotadas no u n iver so masculino. Quem as ensinou o caminho para lidar com esse mundo foi a pequena e carismática loira, que é considerada uma das mulheres mais importantes do século 20. No já iniciado “século das mulheres”, os políticos russos do sexo masculino apelam para o estereótipo conservador e patriarcal com frequência cada vez maior. A imagem da mulher que deve desempenhar apenas o papel de mãe e senhora do lar ainda é muito forte na consciência da maioria dos russos. O cenário atual não contribui para uma maior integração das russas aos ambientes tradicionalmente “masculinos” da vida social. Na história da Rússia não existiu nenhuma Evita, e nossas mulheres ficaram às margens do panorama político. Anna Scherbakova é pesquisadora colaboradora do departamento de investigações políticas do Instituto Latino-Americano da Academia de Ciências da Rússia.

Fiódor Lukianov ANALISTA POLÍTICO

A

queda de Muammar Gaddafi pode não ser o fim, mas o início de uma verdadeira crise líbia. A mudança do regime ocorreu de fato e ninguém duvidava de que o objetivo era justamente esse quando a Otan lançou a operação “Aurora da Odisseia”. Agora que a missão está cumprida, é tempo de fazermos um balanço preliminar. Para a Otan, essa foi a maior campanha após operações na Iugoslávia, em 1999, e no Afeganistão, onde os combates continuam. Mesmo que Gaddafi tenha perdido o direito moral de liderar a Líbia ao usar armas contra a população civil (segundo versão oficial), por que os países da Otan, persuadidos pela França e aplaudidos por alguns países do Golfo, conferiram poderes aos rebeldes de Bengazi, abrindo um precedente emblemático de métodos coloniais? O esquema é simples: um grupo de países proclama uma das partes do conflito como legítima. Em seguida, abre linhas de ajuda financeira e militar para o novo governo e lhe passa os ativos congelados. Depois procede à conclusão de contratos no setor de petróleo e outros. As grandes potências reconheceram o Conselho Nacional de Transição (CNT) muito antes da queda de Trípoli. Agora outros países se apressam em fazer o mesmo para não serem os últimos na corrida. Enquanto isso, não são claros sequer os princípios em que foi formada a nova e já universalmente aprovada estrutura governante, nem por quanto tempo ela sobreviverá sendo tão heterogênea. Seria engraçado ver, num futuro próximo, como as companhias de petróleo das “potências vencedoras” - França, Grã-Bretanha e Itá-

lia - vão dividir o prêmio. Paris e Roma já reclamaram para suas empresas petrolíferas uma posição de liderança na Líbia. A British Petroleum (BP) também pretende reivindicar seu quinhão. Os países do grupo Brics que se abstiveram na votação da Resolução do Conselho de Segurança, não têm nenhuma chance, como já declararam as novas autoridades líbias, o que é completamente lógico. Os objetivos humanitários inicialmente proclamados poderão ser esquecidos em discussões sobre o negócio do petróleo. A queda do ditador odioso será a grande conquista no currículo de Nicolas Sarkozy, David Cameron,

Parte escolhida recebeu apoio financeiro e militar e agora concede exploração de petróleo a seus colaboradores Anders Fogh Rasmussen e Barack Obama. O motivo de especial orgulho da Europa é ter carregado quase sozinha o fardo da operação, deixando os EUA na sombra. E o que dizer da posição da Rússia em relação à Líbia? Em última análise, Moscou ficou sem nada. Não usou seu único recurso, o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, nem se pôs ao lado dos opositores da tirania. Quem abdica de seus princípios em uma coisa, não pode esperar vê-los observados em outra. Todavia, a julgar pela lógica da atual política externa da Rússia, voltada para a minimização de prejuízos e o impedimento de conflitos, na medida do possível, a decisão do país foi completamente lógica. Fiódor Lukianov é redator-chefe da revista “Russia in Global Affairs”

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Em Foco

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Vida noturna Extravagantes e exclusivas ou jovens e descoladas, baladas da capital atendem a todos

RECEITA

Conserve o verão em uma compota

Mil e uma noites, versão Moscou

Irákli Iosebashvili GOURMAND

Em uma datcha (casa de campo), cada um faz seu papel. Os homens se levantam cedo para consertar as coisas: martelam, serram e pintam, despertando a ira dos vizinhos que ainda dormem. As mulheres cuidam do jardim, preparam as refeições e arrumam a casa. Já os mais velhos, quando não estão sentados lembrando de quão melhor era o passado, caminham lentamente pelo território com uma cesta, colhendo qualquer fruta que possa ser enlatada e conservada para o inverno. A conservação de alimentos em compotas e geleias de frutas (varênie, em russo) é uma obsessão nacional. Nas regiões mais pobres, tratase de uma questão de economia. Mas até nas datchas mais suntuosas as florestas

Veja material mutimídia em www.gazetarussa.com.br

estão cheias de apanhadores de frutas. Em um país que já presenciou a fome por diversas vezes, sempre vale a pena pensar no futuro, especialmente quando o clima é quente e a comida, abundante. Frutas como framboesa, morango e amoras são geralmente as mais usadas, mas pode-se fazer varênie de praticamente tudo: de ameixas e maçãs a cascas de melancia e pétalas de rosa. Elas contêm pedaços das frutas das quais foram feitas e são conservadas à base de açúcar. Assim como diversos pratos russos, o varênie é conhecido por suas propriedades medicinais – netinhos com febre costumam tomar chá com varênie de framboesa, pois suas avós acreditam que isso os faça suar e se curar da doença. Doente ou não, aproveite! ALAMY/LEGION MEDIA

que há 20 anos caíam para dar espaço ao novo Estado russo. Dos excessos de luxo de novos ricos que acumularam grandes fortunas com as privatizações à falta de pretensões de uma juventude que só quer ser feliz, uma palavra define esse cenário: reinvenção. A Gazeta Russa relata uma viagem cheia de surpresas pelas baladas de Moscou.

MAKS AWDEEW

DJs que ditam as paradas de sucesso, ícones da cultura, personalidades da vida pública, jovens em busca de diversão. A cena noturna russa está sempre cheia de novidades e os clubes são o retrato dessa nova vida, que mescla tendências ocidentais e regionais. Analisada sob a ótica dos clubes, entretanto, a sociedade atual pouco ou nada lembra a soviética e seus costumes,

Salto alto, álcool, pouca roupa e um improvável controle de entrada. Boates de Moscou escancaram a face consumista do país. FOTO DO ARQUIVO PESSOAL

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ALEXEI KNELZ GAZETA RUSSA

Sábado, meia-noite. Uma típica madrugada de junho em frente à luxuosa casa noturna Rai (em português, “paraíso”), instalada no antigo terreno da lendária fábrica de chocolate Krásni Oktiabr. À beira do rio Moscou, aparece uma carreata de BMWs de alta cilindrada e Ladas em péssimas condições. Modelos sobre saltos altíssimos, muitas das quais recém formadas no colégio, desfilam em direção à maior boate de Moscou. Na porta, Vladímir, o leão de chácara responsável pelo famigerado “face control” (o controle dos frequentadores de acordo com a beleza, a vestimenta ou a carteira), barra uma garota. “Onde você quer ir?”, pergunta. “Eu e minha amiga temos que entrar na área VIP”, diz, segura de si e com a cabeça erguida. “Vocês podem ir, mas desde que tenham reservado uma mesa”. No dia anterior, o namorado da moça pagou o equivalente a R$ 3 mil pela reserva. Assim, ela tem permissão para entrar, junto com a amiga e sua minúscula saia de oncinha e salto alto. As casas noturnas faturam entre R$ 460 e R$ 11,6 mil por pessoa com reservas de mesas em áreas VIP.

Domingo, 4h38

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Amanhece. Em frente à Rai, clientes negociam o preço da corrida com taxistas ilegais, enquanto na Rooftop a festa ainda está para começar. A locação é semelhante: uma fábrica abandonada à margem do rio Moscou. Porém, lá dentro reina um ambiente completamente diferente. Em vez do “face control” existem listas de presença. No lugar do estilo kitsch clássico, os frequentadores se deparam com velhos muros de tijolo. Quanto à música, são batidas arranhadas. Os clientes são, em média,

CLUBE: ROOFTOP

CLUBE: ROLLING STONE BAR

CLUBE: ARMA 17

MÚSICA: MINIMAL TECHNO

MÚSICA: DEPENDE DA FESTA

MÚSICA: HOUSE, TECHNO

À margem do rio Moscou, a balada tem excelente música e público descontraído. A pista fica aberta até tarde e os preços são bem salgados (um coquetel não sai por menos de R$ 35). Quem já virou os bolsos do avesso ganha um bis gratuito do barman.

Localizado perto do Rai, tem público completamente diferente – jovem e descolado – e shows quase todas as sextasfeiras. As paredes escuras são forradas de capas da revista que dá nome ao local. Uma atração são as garotas dançando sobre o balcão do bar.

Instalada em uma antiga fábrica de latas, é a casa noturna mais europeia de Moscou, com entrada paga e face control. Os djs de techno Marco Carola (Itália) e Ricardo Villalobos (Chile) são habitués nas pickups, e o prédio vibra com o sistema Funktion-One.

GETTY IMAGES/FOTOBANK

FOTO DO ARQUIVO PESSOAL

PHOTOXPRESS

CLUBE: SOHO ROOMS MÚSICA: HOUSE-POP

A casa faz jus ao estereótipo da vida noturna de Moscou: riquinhos, loiras oxigenadas e caviar negro ao som de eurohouse. O face control é severo: se você não parecer rico, esqueça! Um copo de vodca custa o equivalente a R$ 46.

cerca de dez anos mais velhos que os frequentadores da Rai. A maior parte tem mais de 30 anos. As mulheres são mais

Nos primeiros clubes era comum que anjas ou tigresas dançassem em gaiolas sobre a pista elegantes: saias de oncinha e saltos exagerados são raros. A vodca com Red Bull custa o equivalente a R$ 30, e hoje é dia da dupla alemã de techno Pan-Pot comandar a pista. Um pouco antes das cinco, o dj Tassilo Ippenberger se posiciona diante das pickups. A multidão toda suspira e acompanha a batida minimalista. É a segunda vez que Tas-

CLUBE: SOLIANKA MÚSICA: DE NEW WAVE A

CLUBE: PROPAGANDA MÚSICA: FESTAS DIVERSAS

HARD TECHNO/SCHRANZ

No reduto dos modernos, jovens de 18 a 22 anos revivem toda a cena do século 20, de músicas manjadas a hard techno, e o público se diverte como se não houvesse amanhã. Glamour e brilho proibidos.

silo toca nessa noite. “A cena techno russa é relativamente nova, mas está se desenvolvendo rapidamente. Moscou e São Petersburgo estão na moda!”, diz ele. No fim dos anos 1990, foram inaugurados os primeiros megaclubes nos moldes das boates ocidentais. A clientela consumista e ávida por vida noturna não deixava escapar nenhuma oportunidade de se divertir. Dançar até o fim da manhã era moda, todas as festas de médio porte contavam com a presença de dançarinas e MCs (mestres de cerimônia). O público era constantemente surpreendido por anjos glamourosos ou tigresas dançando em gaiolas sobre a pista. Estabilidade era um conceito desconhecido pela cena na

Funcionando desde 1997, é um restaurante durante o dia e, a partir das 23h, sem as mesas, vira uma pista onde se dança até cair todas as noites. O controle na entrada é imparcial e o preço das bebidas, acessível.

NÚMEROS

5% do público deixou de frequentar casas noturnas de Moscou devido ao aumento dos preços na entrada e das bebidas, segundo dados comparativos de 2007 e 2010.

8% dos moscovitas vão para a balada na capital mais de uma vez por semana, enquanto 17% não saem nunca ou muito raramente.

época. Clubes brotavam como cogumelos e fechavam um ou dois anos depois. Alguns acabaram até em chamas: no início de 2008, um incêndio tomou conta do Diáguilev, uma espécie de Studio 54 de Moscou que abriu como l’Opera dois anos depois. Hoje, as festas perderam um pouco da extravagância. O desejo de exagerar a qualquer custo quase não existe mais, e as pessoas preferem curtir a noite de forma discreta. Em vez de seguirem as propostas dos clubes, agora são os clientes que ditam as regras. Por meio de redes sociais e meios informativos, selecionam as festas que desejam frequentar a cada noite. “Antes as festas eram mais coloridas, extremas e impensadas”, reflete Andrêi Sailer, produtor musical do Solianka. Nome tirado de uma sopa regional, Solianka significa exatamente o que os brasileiros costumam chamar de “salada russa”: uma mistura improvável de diferentes elementos. “Como já se subentende pelo nome Solianka, somos exatamente como a sopa russa, para onde acaba indo tudo que se encontra na despensa”, brinca Andrêi. O clube, que atualmente traduz as novas tendências entre os jovens formadores de opinião e o público descolado, continua aberto mesmo depois de um ano de existência porque, enquanto outros lugares exageram nos preços, no Solianka prevalece outro princípio. “A coisa mais importante é a música, e é com ela que queremos atrair um público legal”, explica Sailer. O que o Solianka quer é trazer gente inteligente e bem-humorada, e a moda é um fator à parte. A meta dos proprietários, a longo prazo, não é modesta. “Queremos reconhecimento em nível internacional”, afirmam. Para eles, o Rai e outros paraísos da noite moscovita não são uma competição no mesmo patamar: “Para eles só interessa dinheiro e pouca roupa. Aqui estamos preocupados com quem busca coisas diferentes.”

Varenie de Framboesa

Ingredientes: • 2 kg de framboesas frescas recém-colhidas (podem ser compradas no supermercado também) • 1,3 kg de açúcar • Diversos potes de vidro, esterilizados em água fervente (as tampas também devem ser esterilizadas)

Modo de preparo: Lave as framboesas. Em uma tigela, faça várias camadas de framboesa e açúcar e deixe a mistura descansar até que as frutas comecem a produzir suco. Isso pode levar de 4 a 8 horas, dependendo da temperatura do ambiente

(quanto mais alta for, mais rápido será o processo). Coloque a mistura em fogo baixo e aqueça até dissolver o açúcar; em seguida, aumente o fogo e deixe ferver por mais 1 ou 2 minutos. Deixe esfriar e depois transfira a mistura para os potes. Certifique-se de que não há mais vapor sendo liberado. É também importante que o interior dos potes esteja completamente seco, pois a umidade poderá produzir mofo. Feche os potes e coloque-os em uma panela de água fervente por 10 minutos. Quando estiverem frios, armazene os potes em um lugar escuro e seco.

CALENDÁRIO CULTURAL E EMPRESARIAL TARDE DE AUTÓGRAFOS COM PAULO BEZERRA 6 DE OUTUBRO, 19H30, NA LIVRARIA DA VILA, SÃO PAULO

Já bem conhecido dos leitores de Dostiévski, o tradutor Paulo Bezerra tem encontro marcado com o público para o lançamento do mais novo trabalho, “O duplo”. É a primeira tradução direta do russo de uma das obras mais significativas do escritor do século 19. › www.livrariadavila.com.br

RIDÍCULOS AINDA E SEMPRE

COLÉGIO FRANCISCANO SÃO MIGUEL ARCANJO (SÁB.) E NA RUA TOBAIARAS (DOM.), SÃO PAULO

Aniversário do bairro de tradições do Leste europeu terá concertos, show com artistas da filial do Bolshoi no Brasil, comida típica e artesanto, entre outros. › www.grupovolga.com.br

PHARMTECH 2011 TECNOLOGIAS PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DE 22 A 25 DE NOVEMBRO, CROCUS EXPO INTERNATIONAL CENTER, MOSCOU

Adaptação da obra do surrealista russo Daniil Kharms traduzida por Tatiana Belinky, conta história de cinco pessoas que vivem situações aparentemente sem conexão.

Em sua 13° edição, a feira atrai especialistas de diversos ramos da indústria farmacêutica. No ano passado, o evento contou com público de 8 mil visitantes e expositores de mais de 20 países. O fórum promovido durante a feira, de 22 a 24 de novembro, reúne produtores de matérias-primas, embalagens e equipamentos.

› www2.uol.com.br/parlapatoes

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ATÉ 23 DE NOVEMBRO, SÁB., 21H E DOM., 20H, NO ESPAÇO PARLAPATÕES, SÃO PAULO

FESTA DE ANIVERSÁRIO DA VILA ZELINA DE 29 A 30 DE OUTUBRO, SÁB., ÀS 19H E DOM., DAS 10 ÀS 21H, NO

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