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QUARTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2013

O melhor da

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Naválni julgado

Vice-premiê quer privatizar

Oposicionista pode pegar 10 anos de prisão por desvio de verbas de madeireira

Dvorkovitch fala sobre conjuntura econômica às vésperas do Fórum Econômico de São Petersburgo

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Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), La Nacion (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

Legislação Proposta por deputada, emenda busca resolver falta de contigente nas fileiras do Exército russo

NOTAS

Exército abre as portas às mulheres

REUTERS

Leonardo DiCaprio viverá Rasputin no cinema

O ator norte-americano Leonardo DiCaprio irá interpretar Rasputin, a polêmica figura que influenciou diretamente a família do tsar Nicolai II. O filme, da Warner Bros, terá roteiro de Jason Hall, o criador de “American Sniper”. O filme trata da ascensão do místico Rasputin, seu poder sobre a família Romanov e sua terrível morte. DiCaprio já havia sido considerado para o papel de outro grande personagem da história russa, Vladímir Lênin, devido à semelhança física com o revolucionário bolchevique. Lenta.ru

Alistamento no serviço militar não será obrigatório ao sexo feminino, mas passa a ser permitido dos 18 aos 27 anos de idade.

Gato é detido com celular Agentes penitenciários da República de Komi, no norte da Rússia, capturaram um gato que escalava o muro da Colônia Penal N° 1 com objetos proibidos atados ao corpo no final de maio. “Dois pacotes estavam presos às costas do animal e continham dois celulares com baterias e carregadores”, de acordo com relato do Departamento de Serviço Penitenciário da República de Komi.

ALEKSÊI PESTOV, DENIS TELMANOV IZVÉSTIA

PHOTOXPRESS

Mais direitos Segundo uma das autoras d a s e m e n d a s , T at i a n a Moskálkova, vice-presidente da Comissão da Duma de Estado para os Assuntos da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), o principal objetivo da iniciativa é conceder às mulheres dir e it o s ig u a i s ao s do s homens. “Nossa ideia não é estimular a ida das mulheres para o Exército, mas permitir que

elas tenham essa possibilid a d e ”, d e c l a r o u a deputada. Já o presidente da Comissão de Defesa da Duma de Estado e ex-comandante da Frota do Mar Negro, almirante Vladímir Komoiedov, acredita que a medida poderá resolver os problemas de pessoal, principalmente com o fracasso na criação de um sistema de prestação do serviço militar em regime de contrato.

“Já que os homens de verdade são escassos em nosso país, as mulheres devem ter a possibilidade de servir”, ironizou Komoiedov.

Seguindo os EUA O almirante também relembrou a surpresa de encontrar mulheres nos navios visitantes norte-americanos enquanto foi comandante da Frota do Mar Negro. “Lembro de ter perguntado ao comando norte-ame-

ricano sobre o local em que as mulheres moravam nos navios e se não eram assediadas pelos tripulantes do sexo masculino. Eles me disseram que todas as tentativas da parte masculina da tripulação de estabelecer com as mulheres a bordo relações estranhas ao serviço eram coibidas”, acrescentou o almirante. Segundo Komoiedov, as emendas serão examina-

Economia Rublo e real enfrentam alta do dólar

As Olimpíadas mais caras da história

Um problema, duas moedas

Maior parte dos gastos com os preparativos de Sôtchi está sendo destinada à infraestrutura urbana. DÁRIA TIKHONOVA GAZETA RUSSA

Ao longo dos 8 anos de preparativos, estima-se que o investimento total nas Olimpíadas de Sôtchi, no sul da Rússia, supere os US$ 51 bi-

lhões. Como comparação, as Olimpíadas de Pequim, em 2008, consumiram US$ 45 bilhões e as de Londres, em 2012, US$ 30 bilhões. Assim como na China, a maior parte do investimento na Rússia está sendo aplicada na modernização da infraestrutura urbana, enquanto pouco mais de US$ 7 bilhões foram destinados diretamen-

Um livro didático unificado sobre a história da Rússia, encomendado pelo governo e supervisionado pelo premiê Dmítri Medvedev, irá chamar a atenção dos professores para 31 pontos polêmicos. Entre outros conselhos, recomenda-se que Stálin seja analisado pela “instituição de uma ditatura de partido único e autocracia”. Já a era Pútin-Medvedev deve ser lembrada como um período “de estabilidade do sistema político e econômico”. Marina Darmaros

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A inflação decorrente da alta do dólar revela mais um ponto em comum entre Rússia e Brasil. VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Apesar da modernização da economia russa e do rápido desenvolvimento da indústria manufatureira no Brasil, ambos os países têm economias que continuam a ser consideradas de matérias-primas. E isso tem impacto significativo sobre as moedas nacionais. Graças aos altos preços do petróleo, durante os últimos 11 anos (com exceção de 2012) o orçamento russo não teve déficit. Porém, o país continua a sofrer da “doença holandesa”, ou seja, sua abundância de recursos natu ra is o leva quase à desindustrialização. Para impedir esse processo, o Ministério das Finanças da Rússia decidiu criar um Fundo Nacional de Reserva, que guarda todas as receitas excedentes, o que

ALAMY/LEGION MEDIA

MIKHAIL MORDASOV

Instalações olímpicas consumiram pouco mais de US$ 7 bilhões

História russa unificada

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Sôtchi-2014 Jogos de Inverno custarão US$ 51 bi te à criação das instalações olímpicas. Dmítri Kozak, vice-premiê russo responsável pela organização dos jogos, acredita que esses recursos ajudarão a transformar Sôtchi em um dos principais pontos turísticos do país. Quase metade do investimento total (US$ 20,9 bilhões) foi destinada à malha de transportes. “Acho que durante o período soviético não dávamos muita importância aos congestionamentos em nenhum lugar, nem mesmo em Moscou, mas em Sôtchi eles já existiam”, afirma o prefeito da cidade, Anatóli Pakhomov, que espera que os investimentos olímpicos resolvam o problema. Até 2014, serão construídos 260 km de vias públicas em Sôtchi, e a capacidade das rodovias que chegam à cidade irá aumentar entre 1,8 a 2,5 vezes. O tráfego também deverá ficar 25% mais rápido. “Estão sendo construídas 30 plataformas ferroviárias. O trem vai parar praticamente em todo lugar”, explica o prefeito. O projeto de maior porte da estatal Russian Railways é uma estrada combinada (rodoviária e ferroviária) de Adler até o resort nas montanhas Alpika Service, em Krasnaia Poliana, e custará cerca de US$ 6,6 bilhões.

Lenta.ru

Forças Armadas já contam com o poder feminino, mas sob contrato. Agora elas poderão se alistar no Exército

Relatório do Sberbank, o maior banco da Rússia, detalha os problemas comuns enfrentados pelo real brasileiro e o rublo russo, e indica soluções

permitiu à economia russa superar a crise de 2008-2009 relativamente sem senti-la. No entanto, de acordo com relatório do Sberbank, o maior banco do país, durante os últimos 11 anos, o rublo teve valorização de 60% em relação à inflação. Nem mesmo a evasão de divisas russas pôde parar esse crescimento. “Em 1 de junho de 2012, o montante total do Fundo de Reserva e do Fundo Nacional de Previdência ultrapassou os US$ 171,1 bilhões, o que corresCONTINUA NA PÁGINA 4

Leia as notícias mais fresquinhas no site

ALEKSEY BEZRUKOV

Um grupo de deputados da Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo) encaminhou ao Ministério da Defesa uma proposta de emenda à “Lei do Dever Militar Geral e Serviço Militar”, para autorizar que mulheres com idades entre 18 e 27 anos prestem serviço militar. Atualmente, o alistamento é obrigatório apenas para cidadãos russos do sexo masculino na mesma faixa de idade. Os autores da proposta querem igualar os direitos femininos em termos de serviço militar, sublinhando, no entanto, que o alistamento não será obrigatório para as mulheres.

Vrangel, a ilha proibida dos ursos polares WWW.GAZETARUSSA.COM.BR/14147

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Opinião

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UM LUGAR ENTRE OS LÍDERES Fiódor Lukianov Analista político

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m maio de 1998, em Bi r m i ngha m, no Reino Unido, aconteceu a primeira reunião do G8, fórum internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos do mundo e a Rússia. Desde então, a Rússia não só se tornou membro de quase todos os clubes internacionais, mas também adquiriu uma grande experiência presidindo a maioria deles. Pode-se dizer então que a Rússia está entre os países líderes mundiais, responsáveis pelo destino do mundo? A reunião em Birmingham foi um marco importante na história da Rússia moderna. Na época, o então presidente russo Boris Iéltsin se esforçava para tornar o país membro de associações internacionais e recuperar seu status de grande potência. Mas, apenas três meses após a reunião, o país anunciou a moratória da dívida externa e enfrentou uma profunda crise econômica e política. A ilusão de se igualar aos demais líderes mundiais passou assim que o governo russo teve seu pedido de ajuda financeira negado pelos países ocidentais. Hoje isso parece estranho. A Rússia passou, há muito, de país devedor a credor e discute como ajudar o euro e até alguns dos países da Europa. Não há dúvidas de

que a Rússia faz parte do clube dos países mais ricos do mundo.

Show político Concebido em meados da década de 1970 como forma de consulta informal a portas fechadas entre as maiores economias ocidentais sobre o estado real da conjuntura global, o G8, que incluía originalmente os cinco países mais ricos do mundo, se ampliou, transformando suas r e u n iõ e s e m u m s how político. Quanto mais transparente é o ambiente, mais perigosas se tornam as declarações diretas, até mesmo em reuniões privadas, onde vazamentos, de qualquer maneira, acontecem. Sem discussões francas, porém, as reu n iões perdem seu sentido. Por outro lado, as mudanças fundamentais na relação das forças mundiais fizeram com que as reuniões em formato limitado se tornassem pouco eficazes. Em algum momento, ficou claro se tratar de um absurdo discutir a situação econômica mundial sem a China que, entretanto, não podia ser admitida em um grupo só integrado por nações democráticas. A criação da cúpula de líderes do G20 em meio à crise de 2008 resolveu o problema. No entanto, o grupo não chegou a formar uma governança mundial. Na primeira fase da crise, a reunião das 20 maiores economias do mundo teve um efeito calmante. Com

Durante a crise de 2008, G20 teve efeito calmante, mas cúpulas se tornaram atividade cerimonial

A IMAGEM À FRENTE DO PODER BRANDO NIKOLAI ZLOBIN HISTORIADOR

O

s Estados soberanos estão, lenta, porém constantemente, perdendo a capacidade de administrar individualmente suas principais realizações em território nacional. A economia mundial se torna cada vez mais globalizada, interconectada e ramificada. O sistema de distribuição de informações também deixou de respeitar as fronteiras nacionais. Um número recorde de pessoas vive e trabalha no exterior, embora não sejam os emigrantes típicos de algumas décadas atrás. Aquilo que durante séculos era atributo de um limitado grupo de pessoas e uma atividade extremamente confidencial torna-se pouco a pouco assunto público. Essa tendência influencia, enfim, a política internacional e a diplomacia. Com a redução do papel tradicional do Estado e a degradação da soberania, a diplomacia clássica entre países virou coisa do passado. Enquanto documentos diplomáticos e o conteúdo das conversas confidenciais são revelados com maior frequência, a sociedade civil começa a ultrapassar as fronteiras nacionais e intervir na política internacional.

Rússia alcançou presidência do G20, mas complexo de inferioridade barra suas iniciativas

que as autoridades russas simplesmente ignoraram essa questão durante toda a existência do Estado moderno. Além disso, o país vive à sombra de vários estereótipos e clichês soviéticos. Por fim, os inimigos geopolíticos e ideológicos de Moscou estiveram empenhados em degradar a imagem da Rússia – seja por simples antipatia, confl ito de interesses políticos ou concorrência comercial. O resultado hoje é um país quase ausente do confronto global entre as potências do “soft power”. E isso não só diminui suas oportunidades no mundo, mas impossibilita a construção de uma imagem adequada e atraente. Em razão disso, as perdas econômicas e políticas da Rússia só vão aumentar.

Nas manchetes

Os interesses dos Estados soberanos não só se tornam mais interligados, como também incertos e de difícil formulação. Um conflito milit a r e m de fe s a de s e u s interesses pode se transformar em uma guerra contra si mesmo. A dinâmica do mundo moderno exige reações rápidas e a revisão regular das prioridades.

Em alta Nessas condições, cresce o papel dos fatores não tradicionais da política externa, entre eles o “soft power” (“poder brando”), termo cunhado no início dos anos 1990 por Joseph Nye, professor da Universidade de Harvard. Em outras palavras, trata-se do aumento da influência internacional por meio de recursos não políti-

cos ou militares de modo a promover valores, prioridades, ideias e opiniões. É claro que ninguém aboliu os métodos militares. Mas hoje já se pode dizer que a nova ordem mundial consistirá na oposição de Estados e blocos por meio do “soft power”. Por isso, é extremamente importante para a Rússia desenvolver esse conceito, bem como aprimorar tecnologias e métodos para sua aplicação, estratégia de desenvolvimento, prioridades e objetivos. Do mesmo modo, é preciso equacionar os problemas fi nanceiros e organizacionais por meio de apoio político e intelectual, e garantir a ajuda da sociedade civil e de parceiros da Rússia em outros países. Cabe lembrar, contudo,

Felizmente, Moscou terá oportunidades exclusivas de influenciar a agenda global nos próximos anos. Atualmente presidindo o G20, o país estará no comando do G8 em 2014 e, finalmente, sediará o encontro entre os países do Brics em 2015. Som a n d o i s s o a o s Jo g o s Olímpicos de Inverno 2014 e à Copa do Mundo de Futebol de 2018, fica evidente a tomada das manchetes mundias pela Rússia em nível global. O país vai naturalmente atrair a atenção da opinião pública internacional e seria imprudente não aproveitar essa oportunidade para reforçar sua posição no mundo. Mas isso requer um amplo programa do governo, o qual a Rússia simplesmente não possui no momento. Nikolai Zlobin é analista político, historiador e articulista. Escreve para o The New York Times, entre outros veículos.

o tempo, porém, as cúpulas se tornaram uma atividade cerimonial. Mesmo assim, cada país proсura usar sua presidência para se apresentar como potência mundial responsável. E agora chegou a vez de Moscou.

Dentro e fora Nos últimos anos, a Rússia tem apresentado diversas iniciativas globais. Essas, porém, não se concretizaram por uma série de razões. Por um lado, o país não sabe demonstrar sua liderança no mundo atual devido ao per-

sistente complexo de inferioridade desde a extinção da União Soviética. Além disso, os políticos russos não aprenderam a disfarçar seus interesses egoístas em uma embalagem altruísta, ao contrário de seus colegas ocidentais. Por outro lado, no mundo atual, as iniciativas globais simplesmente não funcionam. Não há infraestrutura para levar os planos globais à prática. No mundo moderno, decisões globais f u nciona m pior que as regionais. O exemplo mais marcante é o fracasso da ONU no combate às mudanças climáticas. Já em dimensões nacionais, é bastante eficaz a aplicação de tecnologias para eficiência energética e redução das emissões de gases do efeito estufa. Quinze anos depois da participação de Iéltsin pela primeira vez em uma reunião do G8 como líder de um país-membro, sua meta de alcançar uma alta posição internacional foi atingida e até excedida. Porém, não se sabe qual será o papel da Rússia no cenário internacional nos próximos anos. No futuro, como em 1998, o lugar da Rússia no mundo dependerá da qualidade de seu desenvolvimento interno, e não de sua capacidade de se apresentar adequadamente em fóruns internacionais. Fiódor Lukianov é analista do Conselho para Política Externa e Defesa em Moscou.

O NOVO IMPÉRIO OTOMANO Stanislav Khatuntsev HISTORIADOR

U

m atentado terrorista ocorrido no dia 11 de maio na cidade turca de Reyhanli virou pretexto para o envio de tropas à Síria. A cidade está localizada perto da fronteira com a Síria e a tragédia está diretamente relacionada ao país. Disso eu não tenho dúvidas. As autoridades turcas, incluindo o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, culparam imediatamente o presidente sírio Bashar al-Assad pelo ocorrido. No dia seguinte ao atentado, o chefe do governo turco chegou a declarar que o governo vizinho está tentando arrastar a Turquia ao “pântano sírio”, durante uma coletiva de imprensa em Istambul. Mesmo assim, a participação de Damasco na organização da trag é d i a q u e o c or r e u e m Reyhanli, na minha opinião, é pouco provável. O futuro do regime sírio já não é promissor e ninguém quer provocar a intervenção turca no país, assinando, assim, sua própria sentença de morte. Já os rebeldes sírios estão muito interessados não só na ajuda da Turquia, mas também na intervenção direta do exército de um dos países-membros da Otan. No dia 6 de maio, a Turquia deu início a uma série de exercícios militares na província de Adana, perto da fronteira síria, que durou 10

dias. De acordo com o Estado-Maior da Turquia, seu objetivo é o desenvolvimento de medidas de mobilização, preparação e coordenação das tropas. Mas esses exercícios apontam para uma operação de invasão da Síria. Foi um acordo assinado recentemente entre as autori-

Turquia vive neootomanismo com objetivos expansionistas que visam a Síria

Ninguém quer provocar intervenção turca no país, assinando a própria sentença de morte dades turcas e os separatistas curdos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), prevendo a retirada das forças curdas da Turquia, que abriu caminho para a realização dos exercícios militares. O ministro das Relações Exter iores da T u rquia, Ahmet Davutoglu, declarou que o país responderá a qualquer ação hostil. O ministro chegou a publicar um artigo intitulado “A Grande Turquia”, em que trata do futuro da expansão econômica do país no Mediterrâneo.

Outro jor nal tu rco, o “Hürriyet”, divulgou recentemente o mapa da “Nova Turquia”, que inclui a porção sudeste da Bulgária, nordeste da Grécia, as ilhas gregas no mar Egeu, Chipre, a república autônoma georgiana de Adjaraa, a república autônoma azerbaijana de Nakhchiban, o norte de Iraque e, o que é ainda mais interessante, quase a metade da Síria. Os jornais publicaram somente a posição oficial do Partido da Justiça e Desenvolvimento, principal partido islâmico na Turquia. Porém, o governo do país participa cada vez mais ativamente na promoção de um movimento conhecido como “neo-otomanismo”, que pretende restaurar o Império Otomano, desintegrado após a derrota na Primeira Guerra Mundial, em 1918. Recentemente, a Turquia se desviou do rumo pacífico e está testando a viabilidade de possíveis anexações, incluindo a da Síria. Os atentados na Turquia se tornaram motivo para o envio de tropas ao país. Mas é provável que o governo de Assad espere os resultados da Conferência Internacional sobre a Crise na Síria. Cabe aguardar o desfecho desse encontro, que tem presença confirmada do Secretário de Estado dos EUA, do presidente russo e do premiê britânico. Stanislav Khatuntsev é doutor em História e articulista.

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Política e Sociedade

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Processo Um dos líderes dos protestos contra o governo, Naválni é acusado de desviar US$ 510 mil da madeireira “Florestas de Kirov”

Julgamento de blogueiro gera desconforto Possível condenação de opositor poderia esfriar as relações Rússia-UE – já se sugere restringir acesso de russos à Europa.

Magnítski (implementada pelos EUA, a lei restringe a entrada de russos suspeitos de violações dos direitos humanos no país). “Muitas pessoas nos EUA consideram esse ato inconstitucional, já que os nomes listados foram selecionados arbitrariamente, além de nenhum deles ter sido objeto de investigação judicial antes de sua inclusão na lista”, diz Múkhin.

ALINA SABÍTOVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Oposição processada

REUTERS

Em 2013 foram movidos cinco processos relacionados ao oposicionista. Observadores temem repetição do caso Khodorkóvski

gestor dos Correios Russos, como coautor. Os irmãos negam as acusações, que acreditam ter motivações políticas.

A sentença e a UE

“É hora de a UE adotar a lista Magnítski”, diz representante do comitê de cooperação UE-Rússia

O Comitê Investigativo da Rússia, que prepara os casos criminais para acusação, alega que há evidências suficientes para condenar Aleksêi Naválni pelo caso da madeireira “Florestas de Kirov”. Mas os processos contra ele

podem trazer problemas com a União Europeia, que criticou Moscou anteriormente no julgamento do opositor Mikhail Khodorkóvski, mantido preso mesmo após cumprir a pena. Dmítri Trênin, diretor do Centro Carnegie de Moscou, afirma que uma longa sentença poderia prejudicar as relações entre a Rússia e a Europa. “Os líderes ocidentais seriam, obviamente, obrigados a censurar a na-

tureza política do julgamento de Aleksêi Naválni, o viés assumido pelo Poder Judiciário russo e a pressão sobre adversários do governo”, diz Trênin. “Seria comparável, em menor escala, à reação do Ocidente ao veredito de Khodórkovski.” Para ele, seria um erro se a Europa renegasse acordos já alcançados ou congelasse negociações, como a de isenção de vistos para os cidadãos russos em visita à UE.

História Prestes a oficializarem participação no Exército, russas encaram conflitos há 4 séculos

Face feminina da guerra tem uma longa história Apesar do atraso da proposta de lei que deve oficializar serviço militar feminino, história da mulher russa na guerra remonta ao século 17. ALEKSANDR KOROLKOV

CORBIS/FOTO SA

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

© RIA NOVOSTI

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© RIA NOVOSTI

As referências à primeira mulher-soldado russa datam do século 17. Durante a Revolta de Stepan Razin (1670-1671), Aliona Arzamasskaia, a “Joana D’Arc russa”, comandou por cerca de dois meses um destacamento com mais de 2 mil rebeldes refugiados na fortaleza de Temnikov (atual Mordóvia, na Rússia Ocidental). Após a tomada da fortaleza, Aliona foi acusada de heresia e bruxaria e acabou torturada e condenada à fogueira. O viajante e naturalista alemão Johann Frisch, seu contemporâneo, descreveu-a como uma amazona que “superava os homens com a sua coragem incomum. Quando seu destacamento foi derrotado, ela continuou a resistir persistentemente, matando mais sete ou oito”. Já a invasão da Rússia por Napoleão, em 1812, rendeu as primeiras condecorações femininas. Por decreto, 7.606 medalhas foram concedidas

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1. Guerrilheiras russas defendem o país com submetralhadoras. 2. Condecorada com o título de “Heroína da Segunda Guerra Mundial”, Maria Dólina completou 72 missões no bombardeiro Pe-2, jogando 45 toneladas de bombas sobre o inimigo. 3. A atiradora de elite Liudmila Pavlichenko matou mais de 300 soldados e oficiais inimigos.

às viúvas de generais e de oficiais mortos em combate, e às mulheres que trabalhavam nos hospitais. Também foi na guerra de 1812 que a primeira mulher foi aceita no quadro regular do exército. Aos 23 anos, Nadejda Dúrova entrou para a história como “A donzela da Cavalaria”. Ela serviu sob o nome de Aleksandra Aleksándrova, com permissão pessoal do imperador. Dúrova se destacou na batalha decisiva de Borodinó, na qual sofreu uma séria concussão. Cem anos depois, Rimma Ivanova foi arregimentada usando um nome masculino no posto de enfermeira. Quando revelou-se que ela era mulher, Rimma continuou a servir, usando o nome próprio. Em 9 de setembro de 1915, quando dois oficiais de seu regimento foram mortos em combate, Rimma incitou o grupo ao ataque e lançou-se às trincheiras inimigas. Foi morta por uma bala no quadril, aos 21 anos. Por meio de um decreto de Nicolau II, a heroína recebeu, postumamente, a condecoração de mais alto grau daquela época, a Ordem Militar de São Jorge de 4º nível. Enquanto se tem conheci-

mento de apenas uma mulher nas fileiras do exército regular durante a Primeira Guerra Mundial, milhares de outras colaboraram com as forças russas em outros sentidos, como membros da resistência (“partizanki”), operando telégrafo e enfermeiras. Quase uma centena delas foi condecorada. As mulheres combateram na linha de frente na Segunda Guerra Mundial. A atiradora de elite Liudmila Pavlichenko aniquilou 309 soldados e oficiais inimigos em batalha. Foi dispensada das forças armadas devido aos ferimentos quando tinha apenas 25 anos. Registros estimam que as mulheres-snipers tenham eliminado mais de 11.280 oficiais e soldados nazistas. Logo após o início do conflito, a aviadora Marina Raskova dirigiu-se pessoalmente ao Comitê Central do Partido Comunista da URSS, solicitando permissão para constituir um regimento feminino de aviação. Seu pedido foi deferido. Mas apareceram tantas interessadas que se decidiu criar três regimentos femininos de uma só vez. A tradição de mulheres-aviadoras sobrevive até hoje. Recentemente, criou-se o primeiro esquadrão feminino de helicópteros da história da Rússia, intitulado “Colibri”. Atualmente, cerca de 50 mil mulheres servem nas forças armadas da Federação Russa.

Já Aleksêi Múkhin, diretor do Centro de Informação Política, acredita que as consequências de uma possível sentença de prisão para Naválni seriam limitadas. “Os europeus sempre conseguiram separar política de economia”, diz ele. Embora exista um forte lobby político contra a Rússia dentro da União Europeia, há pouca probabilidade que os europeus instituam uma versão própria da lei

O Parlamento Europeu também poderá usar o resultado do julgamento contra a Rússia. “O caso Naválni é apenas a ponta do iceberg. Há uma pilha de processos judiciais e investigações relacionadas aos protestos contra a posse de Vladímir Pútin há um ano. É hora de a UE seguir o exemplo dos Estados Unidos e adotar a lista Magnítski”, disse ao jornal russo “Kommersant” o vice-presidente do comitê para cooperação UE-Rússia no Parlamento Europeu, Werner Schultz. O ex-ministro das Relações Exteriores polonês, Andrzej Olechowski, considera o esfriamento das relações mais perigoso do que a realização de grandes protestos. “Não acredito que have r á s a nç õ e s”, a f i r m a Olechowski. “A Rússia não aceitaria isso de braços cruzados. Entretanto, esses casos levarão a uma frustração e decepção cada vez maior com o país. Isso poderia causar um retrocesso nas relações de Mo scou com a Un ião Europeia.”

Mulheres russas poderão prestar serviço militar CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

das pela Comissão de Defesa no segundo semestre de 2013. O vice-presidente da Comissão de Defesa, Franz Klintsevitch, acredita que a adoção do recrutamento militar de mulheres estimulará os homens. “Defendo essa iniciativa para envergonhar os homens que fogem do serviço militar obrigatório”, disse Klintsevich. Agora, os autores da iniciativa aguardam a reação do Estado-Maior General. “Tive uma reunião com o diretor do departamento de recrutamento militar do Estado-Maior General, Vassíli Smirnov. O Ministério da Defesa prometeu dar uma resposta até 5 de junho”, disse a deputada Moskalkova em entrevista ao jornal “Izvéstia”.

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Um dos mais carismáticos militantes da oposição russa, o blogueiro anticorrupção Aleksêi Naválni pode pegar até 10 de prisão sob acusações de fraude em um julgamento polêmico que tem dividido a opinião pública no país – e pode gerar tensões com a União Europeia no futuro. Em janeiro passado, Naválni foi acusado de fraude e desvio de US$ 510 mil da madeireira estatal Kirovles (do russo, “Florestas de Kirov”). Se for considerado culpado no julgamento, que começou em abril, ele poderá pegar até 10 anos de prisão – privando a oposição de uma de suas lideranças mais proeminentes. Naválni foi um dos principais líderes dos protestos contra o governo que ocorreram no final de 2011 e início de 2012, proferindo discursos inflamados contra Vladímir Pútin, eleito para seu terceiro mandato como presidente em março de 2012. Naválni contou com apoio considerável de manifestantes liberais e nacionalistas, e ganhou respeito de alguns d o s e m pr e s á r io s m a i s abastados. O caso da “Florestas de Kirov” é um dos cinco processos relacionados a Naválni neste ano. Outro caso de fraude milionária tem Oleg Naválni, irmão de Aleksêi e

Cerca de 3 mil mulheres têm patente de oficial no país

“Muitas mulheres já servem às Forças Armadas russas sob contrato. O desafio é formular corretamente as emendas para que não causem reação negativa na sociedade”, disse uma fonte do departamento de recrutamento militar do Estado-Maior ao “Izvéstia”. Atualmente, cerca de 50 mil mulheres servem às Forças Armadas russas, de acor-

do com o porta-voz do Ministério da Defesa, Ígor Konatchenkov. Dessas, 3 mil têm patente de oficial e as demais estão prestando serviço militar sob contrato, com patentes de sa rgento e soldado. A convocação de mulheres para o serviço militar impõe uma série de desafios, entre os quais a construção de instalações separadas, como banheiros, chuveiros e quartéis. Portanto, a iniciativa requer cá lcu los econôm icos cuidadosos.

investigação global de reatores de nêutrons rápidos, centrífugas de enriquecimento de urânio, sistemas de resfriamento ativo e passivo, combustível nuclear e reatores nucleares no espaço. Esses avanços ajudaram o país a garantir a posição de líder mundial na exportação de tecnologia nuclear e a abrir novas fábricas na China, Índia e Irã ao longo dos últimos seis anos. A Rosatom também tem contratos na Turquia, Vietnã e Bielorrússia que, juntos, são e s t i m a d o s e m U S $ 70 bilhões. O chefe da AIEA (Agência Internacional de Energia Atô-

mica), Yukiya Amano, visitou a Rússia em maio para inspecionar os últimos avanços do país em segurança nuclear e assistir a testes de resistência na usina de Kaliningrado. Atualmente, a energia nuclear é responsável pela produção de 372 gigawatts (GW) de eletricidade em 194 usinas e 437 reatores espalhados pelo mundo. Amano acredita que esse número deverá aumentar em 80 a 90 GW em um futuro próximo, considerando o papel das usinas nucleares como fonte estável de geração de energia, capaz de garantir soberania energética a vários países.

Sob contrato

Energia Conferência na “capital do norte” russa no final de junho trará inovações mundiais para o setor

São Petersburgo apresentará usina nuclear segura Diante da crescente demanda global por energia limpa e segura pós-Fukushima, Rússia oferecerá dispositivos de segurança nuclear. ANDRÊI REZNITCHENKO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Os principais especialistas, executivos e autoridades de diversos países estarão reu-

nidos na Conferência Internacional sobre Energia Nuclear no sécu lo 21, que ocorrerá em São Petersburgo no final de junho. O mercado mundial de energia nuclear, estimado em US$ 133 bilhões em 2011 pela Rosatom (empresa estatal de energia nuclear da Rússia), está passando por um mo-

mento crítico, em meio à queda do apoio público pós-Fukushima e ao aumento da concorrência fomentada pela revolução do xisto e fontes alternativas de energia. Ainda assim, a Rosatom prevê que a crescente demanda global por energia barata impulsione esse mercado para US$ 300 bilhões até 2030.

“A demanda por energia nuclear não mudou; sua estrutura foi alterada. Se antes tínhamos clientes interessados em reatores nucleares de segunda geração, agora todo mundo quer a tecnologia mais segura disponível”, diz o porta-voz da Rosatom, Vladislav Botchkov, enfatizando que o xisto e as fontes al-

ternativas de energia não são capazes de competir com a energia nuclear em termos de preço e segurança.

Tchernóbil “A experiência de Tchernóbil deu à Rússia um impulso para desenvolver os mais sofisticados sistemas de segurança”, afirma Botchkov. “Por causa dessa experiência, criamos um dispositivo que localiza automaticamente todos os vazamentos de radiação em caso de emergência dentro de uma área não habitada.” Os cientistas russos também permanecem à frente na


Economia e Negócios

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viária] Russian Railways, a [diamantífera] Alrosa, a [empresa de navegação] Sovkomflot estão se preparando para entrar no mercado de ações. Portanto, vemos a privatização como um instrumento de competitividade e eficiência. A reposição do orçamento é a segunda meta mais importante. Os recursos serão direcionados ao financiamento de programas de investimentos de longo prazo.

ENTREVISTA ARKÁDI DVORKOVITCH

“Privatização elevará competitividade”

Nos últimos anos, o governo falou muito sobre a necessidade de diversificar a economia. No entanto, de acordo com os dados do serviço federal alfandegário, em 2012 o percentual de exportações de produtos que não fossem petróleo e gás diminuiu em 4%. Por quê? Enquanto a fatia das exportações do setor de petróleo e gás é historicamente alta, sua taxa de crescimento é significativamente menor do que a de outros setores da economia. Nossa indústria de processamento está em rápido crescimento e o setor de TI tem mostrado um crescimento anual de 15% a 20% nos últimos dez anos. O valor monetário da fatia da indústria do petróleo, na verdade, aumentou porque os preços de petróleo subiram. Se o preço do barril estivesse entre US$ 70 e US$ 80, em vez de US$ 105 a US$ 110, o equilíbrio poderia se deslocar para os domínios de outros produtos. Mas, convenhamos, é bom que os preços não estejam caindo [risos].

VICE-PREMIÊ FALA SOBRE A CONJUNTURA ECONÔMICA E O AMBIENTE DE NEGÓCIOS NO PAÍS ÀS VÉSPERAS DO FÓRUM ECONÔMICO INTERNACIONAL DE SÃO PETERSBURGO

GAZETA RUSSA

Em entrevista à Gazeta Russa, o vice-premiê Arkádi Dvorkovich falou sobre a desestatização da economia do país, o acesso de empresas estrangeiras à plataforma continental de petróleo e perspectivas do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que ocorre neste mês. O que impede um investidor estrangeiro de se sentir tranquilo na Rússia? Os investimentos na Rússia nem sempre são competitivos em comparação com investimentos em outros países por uma série de razões. Mudar essa situação é a principal meta do presidente e do

primeiro-ministro. O objetivo é entrar para a lista dos 20 países mais bem colocados no índice “Doing Business” do Banco Mundial até o ano de 2018. Caminhamos nessa direção e já simplificamos significativamente os procedimentos para os reg istro de negócios, por exemplo. É difícil para um vice-premiê trabalhar com empresas privadas que possuem posições próprias, como a Rosneft, cujo presidente mantém pontos de vista contrários aos seus? Não penso que, por exemplo, para o secretário de energia dos Estados Unidos seja fácil trabalhar com as gigantes americanas. Elas também têm um poderoso lobby e de-

fendem seus interesses. Minha missão é fazer com que o setor funcione. Sobre o desenvolvimento da plataforma continental, tomou-se a decisão de atribuir licenças maiores à Rosneft e à Gazprom. Ele [Ígor Sêtchin, presidente da Rosneft] ainda não decidiu o que fazer com as áreas que não serão de sua jurisdição: se vai entregá-las a empresas particulares ou simplesmente mantê-las como reserva estratégica para as gerações futuras. Se as empresas privadas russas tiverem acesso à plataforma, isso facilitará o acesso de companhias estrangeiras a eles? As estrangeiras só poderão operar por lá como sócias mi-

nor itá r ias de empresas russas. Em 2011, em uma entrevista concedida ao apresentador norte-americano Larry King, o sr. disse que “a economia russa sofre uma interferência muito grande do Estado e sobra pouco lugar para o negócio privado real”. A situação mudou nos últimos dois anos? Até certo ponto, sim. Um programa de privatização dos ativos do Estado foi aprovado e está sendo implementado com sucesso, com previsão de conclusão em 2018. Em setembro do ano passado, venderam-se 7,58% das ações do [o maior banco russo] Sberbank, por US$ 5,2 bilhões.O [banco] Vneshtorgbank, a [companhia ferro-

RG

ELENA CHIPÍLOVA

RAIO-X IDADE: 41 ANOS FORMAÇÃO: ECONOMISTA CARGO: VICE-PREMIÊ

Arkádi Dvorkovitch formou-se em economia cibernética na Universidade Estatal de Moscou em 1994. Depois de trabalhar como consultor no Ministério das Finanças russo, no

ano 2000 tornou-se conselheiro do ministro do Desenvolvimento Econômico e Comércio, Guérman Gref. De 2008 a 2012, foi auxiliar do presidente russo e ocupa o cargo de vice-primeiro-ministro desde 21 de março de 2012. Também é membro, desde 2006, da União do Futebol Russo e presidente da Federação Russa de Xadrez desde 2010.

Real e rublo enfrentam problemas comuns CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Brasil, um exemplo De acordo com os dados do Sberbank, devido à melhoria significativa das condições do comércio e ao aumento dos investimentos no Brasil, a moeda nacional brasileira também está sobrevalorizada em 7% a 15%. O Brasil tem uma política para enfraquecer o real e,

Taxa de câmbio real nos países do Brics

causada pelo crescimento da taxa de câmbio nominal, enquanto na Rússia só a inflação teve impacto sobre a taxa de câmbio do rublo.

Índice de preços relativos RússiaBrasil

Metas e restrições

NATALIA MIKHAYLENKO

ponde a 8,1% do Produto Interno Bruto da Rússia, ou às despesas orçamentárias de seis meses”, explica Nikolai Podlevskikh, chefe do departamento de análise da consultoria de investimetos Zu r ic h C apit a l Management. Ao comparar o real brasileiro ao rublo russo, os economistas do Sberbank descobriram que, apesar das diferenças nas políticas econômicas dos países, as moedas têm muito em comum.

segundo os especialistas do Sberbank, outras economias baseadas em matériasprimas, inclusive a russa, devem seg u i r o exemplo do Brasil. O rublo e o real se valorizaram por diferentes razões. “O real se fortaleceu por causa do crescimento da taxa de câmbio nominal, enquanto o principal motivo para o aumento da taxa de câmbio do rublo foi a inflação”, diz Podlêvskikh. No entanto, as condições econômicas são semelhantes nos dois países. “Durante o período pós-crise no Brasil, e na Rússia um pouco antes, o valor das exportações cresceu significativamente, enquanto os preços dos produtos importados continuam caindo”, explica o relatório do Sberbank. “Isso causa um aumento da demanda, que provoca o fortalecimento das taxas de câmbio nominais e o aumento dos salários.”

FONTE: HAVER

Brasil deverá tornar sua economia mais flexível ou introduzir restrições sobre capital estrangeiro

De acordo com os resultados do estudo da Zurich Capital Management, o principal problema da economia brasileira são os altos gastos públicos e, como resultado, o déficit orçamentário. Hoje, o nível da dívida pública brasileira é o dobro da

FONTE: HAVER

média dos países emergentes e sua redução é uma tarefa urgente. No Brasil os gastos públicos ultrapassam 40% do PIB – uma fatia maior do que em qualquer outro país da Amér ica Lati na, exceto Argentina. “Em ambos os países as

taxas de câmbio crescem somente devido à entrada de capital estrangeiro no merc a d o l o c a l ”, a f i r m a Podlêvskikh. A análise comparativa da dinâmica dos preços no Brasil e na Rússia confirma que o aumento da taxa de câmbio do real brasileiro foi

Ao contrário do Banco da Rússia, o Banco Central do Brasil iniciou suas metas de controle da inflação ainda em 1999, quando o primeiro ainda tentava conter a taxa de câmbio. De acordo com os especialistas da Zurich Capital Management, o Brasil terá que mudar sua política financeira, tornando a economia mais flexível ou introduzindo restrições sobre o fluxo de todos os tipos de capital estrangeiro no país. “Essas medidas ajudarão a restaurar o crescimento econômico e poderão ser aplicadas a outros países emergentes, em primeiro lugar à Rússia”, afi rma Nikolai Podlêvskikh.

MARIA KHOREVA

Quer saber mais? De 21 a 23 junho, Kolomenskoie vai receber a 3ª edição do

SABRE / arma O tamanho e forma do sabre não eram regulamentados. Até o final do século 19, cossacos e oficiais tinham permissão para usar armas brancas antigas, herdadas de seus antepassados.

ALABARDA RUSSA / arma Arma composta por uma longa haste com ponta de ferro pontiagudo e atravessada por outro ferro em forma de meia-lua, com 20 a 50 cm. Era usada em combates corpo a corpo e como apoio para a espingarda de mecha. Cada camponês tinha a obrigação de possuir uma alabarda.

“TEMPOS E ÉPOCAS” ESPINGARDA DE MECHA / arma No século 16, os fuzileiros russos usavam a espingarda de mecha, muito parecida com o mosquete utilizado na Europa Ocidental. A espingarda russa tinha 22 mm de calibre, peso aproximado de 8 kg e alcance de 150 a 200 m.

CAFETÃ / vestimenta Os fuzileiros russos usavam um cafetã típico da Europa Oriental abotoado da direita para a esquerda. O número de botões e botoeiras variava de acordo com o tipo de regimento. No inverno, os fuzileiros usavam um cafetã forrado de pele com uma gola xale de pele e bordas de pele nas mangas.

LUVAS / vestimenta As luvas geralmente eram de couro marrom e tinham cano longo e macio. Os oficias usavam luvas de cano duro, adornado com bordados de ouro e franjas.

FAIXA / arma Feita de couro, a faixa se estendia sobre o peiro na transversal e servia para pendurar pequenas bolsas com pólvora, balas, mecha e um chifre de boi para despejar a pólvora na câmara da espingarda. O número de bolsas chegava, não raro, a 12.

BOTAS / vestimenta As botas ficavam abaixo do joelho e podiam ser vermelhas, verdes ou amarelas, conforme o tipo de regimento.

O Museu Kolomenskoie está localizado em uma área de 390 hectares no sul de Moscou. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de Kazan, se encontra um dos ícones de Nossa Senhora mais venerados do país. A primeira referência documental à aldeia de Kolomenskoie data de 1336. Entre 1528 e 1532, foi construída na aldeia a famosa Igreja da Ascensão, encimada por uma cúpula em forma de pirâmide. Mais tarde, o tsar russo Ivan, o Terrível, mandou construir ali a Igreja da Decapitação de São João, o Precursor para comemorar sua coroação. As obras duraram de 1547 a 1554.

LORI/LEGION MEDIA

Neste festival de recriação histórica os visitantes poderão assistir a torneios medievais e aprender a atirar

GORRO ALTO COM CINTA DE PELE / vestimenta O gorro era de veludo, com o detalhe de uma cinta feita de pele de cordeiro. A cinta dos oficiais, porém, era de pele de zibelina com um emblema de ouro em forma de coroa.


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