A fisiologia, a fisiopatologia e a clínica

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A fisiologia, a fisiopatologia e a clĂ­nica


O conhecimento sobre a doença “Conhecer é analisar.”

DECOMPOR

EXPLICAR REDUZIR

MEDIR

IDENTIFICAR

PÔR EM EQUAÇÕES


Metamorfose da ciência Ciência e história: Relações do homem com a natureza e busca de uma forma de coerência intelectual

A ciência como prática cultural: interação entre as questões produzidas pela cultura e a evolução conceitual da ciência no seio dessa cultura.


O discurso do vivente Os sistemas explicativos e o diálogo entre o homem e a natureza. Pensamento ocidental – modelos:  Aristóteles  Galileu, Newton e Laplace: ciência do determinismo e da reversibilidade  Einstein e a relatividade  A mecânica quântica


O discurso do vivente O Universo dura. Quanto mais nos aprofundarmos sobre a natureza do tempo, melhor compreenderemos que duração significa invenção, criação de formas, elaboração contínua do absolutamente novo.

Bergson, A evolução criadora


O discurso do vivente Trata-se de opor a matéria viva, capaz de se organizar, de produzir seres vivos, à massa inerte e às leis universais da mecânica. Stahl – pai do vitalismo A vida como um “princípio natural, permanente e imanente” que luta contra a corrupção da vida.


O discurso do vivente: a fisiologia Definindo a fisiologia: 1.

2. 3.

É uma ciência por sua procura de constantes, por seus processos de medição, por sua atitude analítica. Ciência das funções normais da vida? Ciência das condições de saúde?

Para definir a fisiologia, tudo depende, em suma, da idéia que fazemos de saúde. Canguillhem, O normal e o patológico


O discurso do vivente: a fisiologia

Século XVI – fundação da anatomia. Aspecto estático, delimitado da forma viva Século XVII – fundação da fisiologia. Privilégio do movimento, da idéia funcional em medicina Harvey – 1628 – descoberta da circulação do sangue


O discurso do vivente: a fisiologia

O objeto da fisiologia Ê dotado de constância relativa, uma vez que admitimos a possibilidade da vida ultrapassar constantes biológicas convencionalmente consideradas como normas.


A identidade “científica” dos fenômenos vitais normais e patológicos 

Augusto Comte – o interesse se dirige do patológico para o normal, como substituto de uma experimentação biológica muitas vezes impraticável no homem. (noção de experimentações espontâneas)

Broussais – as doenças consistem basicamente no excesso ou na falta da excitação dos tecidos. Os fenômenos de saúde e de doença só diferem pela intensidade.


Claude Bernard e o problema das relações entre o normal e o patológico Fisiologia e patologia se confundem e são, no fundo, uma só e mesma coisa: 

VARIAÇÕES QUANTITATIVAS DIFERENÇAS DE GRAU

HOMOGENEIDADE E CONTINUIDADE


Saúde e doença

A saúde é a vida no silêncio dos órgãos. Leriche


O problema das relações entre o normal e o patológico O fato patológico só pode ser apreendido como tal - isto é, como alteração do estado normal – no nível da totalidade orgânica;e, em se tratando do homem, no nível da totalidade individual consciente, em que a doença torna-se uma espécie de mal. Ser doente é, realmente, para homem, viver uma vida diferente, mesmo no sentido biológico da palavra. Canguilhem, O normal e o patológico


A fisiologia e a patologia RUPTURA DA ESTABILIDADE FISIOLÓGICA NORMATIVIDADE (capacidade de responder, sem reação catastrófica a flutuações das condições de existência) NOVA ORDEM FISIOLÓGICA

NOVA ORDEM PATOLÓGICA

imunidade X anafilaxia


A fisiologia e a patologia constatação, pelo doente, de que „alguma coisa não vai bem‟

exploração metódica dos sintomas pelo médico SEMIOLOGIA MÉDICA

correlação com a fisiologia interpretação fisiológica dos sintomas FISIOPATOLOGIA


A fisiologia e a patologia É o anormal que desperta o interesse pelo normal. As normas só são conhecidas como tal nas infrações. As funções só são reveladas por suas falhas. A vida só se eleva à consciência e à ciência de si mesma pela inadaptação e pela dor. Canguilhem, O normal e o patológico

SUBORDINAÇÃO LÓGICA DA FISIOLOGIA À PATOLOGIA


A fisiologia e a patologia O pensamento médico – científico - deve proporcionar conhecimentos causais mas não está isento de julgamentos de valor. (...) As leis da física e da química não variam segundo a saúde e a doença. No entanto, se admitirmos, do ponto de vista biológico, que a vida não faz diferença entre esses estados, estaremos nos condenando a não poder nem mesmo distinguir um alimento de um excremento. O que distingue um alimento de um excremento não é uma realidade físicoquímica, e sim um valor biológico. Canguilhem, O normal e o patológico


A demarcação entre saúde e doença: ciência ou julgamento de valor?    

Há ciência se o objeto admitir a medida e a explicação causal. O ponto de vista científico traduz uma escolha. A ciência da vida tem a vida como sujeito e como objeto. O fisiologista faz uma obra científica, mas não deixa de considerar como ser vivo que a vida o atravessa, também, em certo sentido

É a própria vida, pela diferença que estabelece entre seus comportamentos propulsivos e repulsivos, que introduz na consciência humana as categorias de saúde e de doença. Essas categorias são biologicamente técnicas e subjetivas e não biologicamente científicas e objetivas. Em resumo, a distinção entra a patologia e a fisiologia só pode ter um valor clínico.


A demarcação entre saúde e doença: ciência ou julgamento de valor?

Em matéria de patologia, a primeira palavra, historicamente falando e a última palavra, logicamente falando, cabem à clínica. (...)

Objetivamente, só se pode definir variedades ou diferenças, sem valor vital positivo.


Doença e cura

De qualquer modo, nenhuma cura é uma volta à inocência biológica. Curar-se é criar para si novas normas de vida, às vezes superiores às antigas. Há uma irreversibilidade da normatividade biológica.


Dessa sobrevivência do passado resulta a impossibilidade de uma consciência passar duas vezes pelo mesmo estado. Por mais que as circunstâncias sejam as mesmas, não é mais sobre a mesma pessoa que agem, uma vez que a tomam em um novo momento de sua história. Henri Bergson, A evolução criadora


Arnaldo Antunes, 2002



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