Revista Mundo e Missão Dezembro

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Dezembro 2018 – Ano 25 – nº 228 – www.editoramundoemissao.com.br – R$ 15,00


Por Letícia Dias – retornoavida@fazenda.orb.br

Fazenda da Esperança: 30 anos no resgate de mulheres Uma bela história em dois tempos. E um testemunho emocionante.

L

ucilene Rosendo esperava uma resposta de Deus ao seu desejo de amá-Lo em primeiro lugar, mas não sabia como e nem onde colocar em prática sua aspiração. Nelson Giovanelli, seu sobrinho e cofundador da Fazenda da Esperança, estava em missão junto a outros quatro jovens para abrir uma nova comunidade no Nordeste. A convite de Lucilene, eles relatavam suas experiências a um grupo de jovens da paróquia da qual ela participava, em Lagarto/SE. Naquele momento, uma jovem do grupo perguntou por que não existia a parte feminina da Fazenda. Nelson respondeu que ainda não havia encontrado uma mulher corajosa que quisesse dar a vida para Jesus, num trabalho como esse. Pronto! Lucilene obteve a resposta ao pedido que tanto esperava. Na mesma época, Iraci Leite se encantava com as homilias de frei Hans, em Guaratinguetá, sobre “viver o Evangelho”. Aquela expressão logo se tornou para ela uma alegria e um desafio.

Como Lucilene, Iraci também ansiava para que Deus fosse tudo em sua vida. Na paróquia, descobria que Jesus está entre nós quando nos amamos, inspirados na frase “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles” (Mt 18, 20). Então, pedia a Deus para enviar alguém que partilhasse desse ideal e uma comunidade onde pudessem viver na presença de Jesus. Lucilene chegou a Guaratinguetá, em outubro de 1988, decidida a iniciar o Centro Feminino. E Iraci, ao mesmo tempo, percebia que começar um centro de recuperação seria a possibilidade de viver sempre a presença de Jesus. Um belo dia, ambas partilharam seu projeto e deram os primeiros passos para realizá-lo. Em novembro, acolheram as primeiras meninas em um apartamento da bela cidade paulista. Foi um singelo início. Atualmente, são mais de 30 unidades espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. São locais de onde saem testemunhos maravilhosos de vida nova. Nesta edição, a jovem Raquel Prudêncio, 22 anos, de Penápolis/SP, partilha como tem encontrado, através do Carisma da Esperança, um novo sentido para sua vida.

Lucilene com o bebê e, à direita, Iraci

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MUNDO E MISSÃO

Uma nova mulher Nasci em uma família desestruturada. O ambiente era

agressivo entre meu pai e minha mãe, entre eles e os filhos e estes entre si. Somos cinco irmãos: dois rapazes, os mais velhos, e três meninas mais jovens. Quando eu tinha 11 anos, passei a sofrer abusos de um dos irmãos. Eu contava para a mãe e, ao invés de me ajudar, ela me batia. Talvez para me proteger, cortava o meu cabelo bem curto e me vestia como um menino. Eu não entendia porque isso acontecia comigo. Comecei a perder o interesse até por aquilo que eu mais gostava. Não mais me sentia bem na escola, onde sofria várias discriminações. Até que, aos 15 anos, e sem conseguir mais suportar aquela vida, fugi de casa. Ao chegar a outra cidade, fiquei dois dias perambulando pelas ruas, onde conheci as drogas. Fui morar com uma amiga que conheci na rua, também usuária. E aí a vida ficou pior.


Fotos: Fazenda da Esperança

Comecei a me relacionar com homens e mulheres. Nada tinha mais importância para mim. Era uma vida louca, sem direção, com muitas drogas, bailes e tudo o que me afastava de um mundo melhor. Ao completar 18 anos comecei a me prostituir. Sem um sentido, eu pensava que, pelo menos, na prostituição ganhava algum dinheiro. Eu sofria, mas as drogas me ajudavam a suportar tudo. No fundo daquele poço descobri que estava grávida. A primeira reação foi de não querer a criança. Eu me perguntava: “como vou ter um bebê sem saber quem é o pai?” Além disso, não me sentia preparada para ser mãe. E mesmo com algumas tentativas de aborto, o bebê crescia. Quando já não foi possível ficar naquele lugar, procurei uma assistente social. Ela ofereceu uma internação em um hospital psiquiátrico. Foi lá que me falaram da Fazenda da Esperança. Deixei o hospital e cheguei à Fazenda. Envergonhada, eu não queria saber de nada. Pensava sobre o que eu tinha feito com a vida. Mas, ali comecei a ser amada. Todos se preocupavam comigo e com o meu bebê. Um mês depois de ter chegado, minha filha nasceu. Era muito dif ícil, pois toda vez que eu olhava para ela, me lembrava da vida errada que eu vivera. E que eu nunca saberia quem

era o pai dela. Mesmo assim, as pessoas da fazenda ajudavam a cuidar da minha filha e de mim também. Eu continuava muito fechada e não tinha comentado com ninguém que fui prostituta e que minha filha era fruto disso. Essa atitude não ajudava a ir adiante. Um dia, uma “madrinha” da Fazenda, chamada Verônica, mesmo sem conhecer a minha história, começou a falar que Deus ama a todos, até uma prostituta. Era Ele falando comigo. Então, não aguentei. Contei a ela a minha história, chorei muito... E ela me fez entender que, mesmo com toda a sujeira do passado, eu era muito amada por Deus. Poderia até ter adqui-

rido uma doença na vida errada, mas não! Deus tinha me presenteado com uma criança. Quando ambas olhamos para minha filha, ela estava sorrindo. Ali comecei a caminhada para uma mudança de vida. Estou há 11 meses na Fazenda, quase terminando o período de recuperação. Olho para trás e vejo o quanto mudei. Amo demais a minha filha. Sempre peço desculpas a ela por tudo o que fiz, e tenho o maior prazer em cuidar dela. Minha alegria é tê-la em meu colo. Também nesse período pude me reaproximar da minha família. Perdoei cada momento sofrido, inclusive o meu irmão, pois sei que, sem perdão, eu não poderia seguir em frente. Cada dia na nova vida me traz mais alegria. Sinto-me amada por Deus! Experiências como essa você encontra no livro “Minha alma canta a grandeza do Senhor”, lançado no dia 10 de novembro. Foi a ocasião em que a Fazenda da Esperança celebrava 30 anos de inauguração da parte feminina. O esperado evento contou com dois dias de formação e de festas no Centro Feminino Mãe da Esperança, na cidade de Guaratiguetá-SP.

Missa quarta às 6h55 na Rede Vida Programa Fazendo Esperança www.portalfazenda.org www.lojavirtual.fazenda.org.br /fazendadaesperanca @fazendaesperanca @retornoavida /fazendaesperanca

A perfeita alegria

Tema proposto para meditação no mês de dezembro na Fazenda da Esperança


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