FARRAZINE # 23

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A

apagatti

20.ago.2011

FARRAZINE # 23

• HQ CIDADE NUA • MÚSICA • GRAPHIC NOVELS • CINEMA • CONTOS • E MUITO MAIS...

ENTREVISTA

PIPOCA E NANQUIM

Traço a Traço com


INDICE






Bruno Zago

Alexandre Callari

Daniel Lopes









Scott McCloud

Entretanto, nosso foco aqui serão as Graphic Novels autobiográficas e os seus traços comuns. Ou seja, as obras onde a intenção de reminiscência é clara, ainda que subjetiva, onde o roteiro se desenvolve dentro da lembrança e não ao redor dela, como numa ficção original. Não é possível apontar nenhum desses padrões como canônico, mas é possível, como usual de um artigo, abrir a discussão e a possibilidade de um estudo mais profundo daquilo que as molda. No mais, pode ser interpretado como boas dicas de desenvolvimento. Animistas e Iconoclastas: Scott McCloud, grande teórico dos quadrinhos modernos, explana no terceiro livro de sua trilogia, Desenhando Quadrinhos, suas ideias a respeito das quatro culturas dos quadrinhos (páginas 229 a 239), que seriam as quintessências transcendentais dos gêneros quadrinísticos. Em resumo, as filosofias básicas dos quadrinistas. São elas: O Classicismo, o Animismo, o Formalismo e a Iconoclastia. Scott explica que essas quatro escolas não são declaradamente opostas, mas que, em pares, buscam abordagens diferentes dos quadrinhos, ora como experimentação artística, ora como realização artística. Para os fins desse artigo, o foco será no Animismo, na Iconoclastia e na sua combinação, pois são os perfis que mais se aproximariam em tese das Graphic Novels autobiográficas. O Animismo reafirma o conteúdo acima da arte e prima pela intuição. Ele, de certa maneira, complementa o Classicismo, que busca a soberania da arte e da técnica. Não se trata apenas de texto contra desenho. O Classicismo também pode ser esmerado no texto, assim como na arte. Também não se trata apenas de desenhar ou escrever sem nenhum tipo de pauta ou sistema. O Animismo visa uma narrativa compreensível e explorável, ainda que visceral. Apesar da queda por múltiplas inter-

pretações, o autor animista não tende a confundir o seu leitor. Há também um foco na criação de personagens autênticos e vivos, mesmo que pobres em detalhes. Enquanto o Classicismo visa a criação de um mundo a volta do personagem, o animista é capaz da fazer o personagem contracenar com o próprio vazio. A Iconoclastia é mais selvagem nas suas aplicações. Seria de certa maneira a quebra completa das regras que acercam o fazer quadrinhos, com uma rixa especial com o motivo básico de se fazer quadrinhos (ficar conhecido e famoso). O Iconoclasta é um autêntico despretensioso e não rebusca suas obras, mas sim trabalha com a crueza natural das coisas. Compartilham com os animistas o foco maior no conteúdo, mas não são tradicionais, pois seu compromisso é com a vida real e cotidiana exterior ao próprio quadrinho. Numa livre associação, os animistas seriam dramaturgos de teatro, enquanto os iconoclastas cronistas de folhetim. O personagem iconoclasta, assim como a crônica iconoclasta, não tem compromisso com o entendimento, parecendo muitas vezes incompleto. Assim como o mundo em si também o é, pois para essa filosofia de trabalho as coisas nem sempre são justas e claras As Graphic Novels autobiográficas seriam, então, uma união dos dois tanto no sentido de que pendem contrários ao apego visual e material, primando pelo impalpável, quanto no sentido de que o biógrafo começa sua jornada procurando apenas expor os episódios que viveu sem grandes evoluções, mas acaba tendo uma grande inclinação em romanceá-los. Isso ocorre porque existe a necessidade de dar ênfase aos ecos psicológicos que aqueles incidentes tiveram, pois cada coisa ocorre em múltiplos níveis de existência, tanto interna quanto externa, diversas camadas de significado.


Também isso se dá devido ao que considero ser o objetivo final de uma autobiografia. Expondo o mecanismo da vida ao redor do personagem central, num processo indutivo, o autor busca desvendar o próprio mecanismo da vida que cerca a todos. O autor busca entender seu lugar no universo, vendose como uma peça de um sistema maior que ele. Ele oferece essa visão para o leitor, que então se espelhará e tentará fazer uma junção, montando o todo. Traços básicos de uma Graphic Novel autobiográfica: Analisando um grupo de obras selecionadas (Maus, Retalhos, Cicatrizes, Persepolis, American Splendor, Epilético, Ao Coração da Tempestade), é possível perceber alguns elementos comuns, a forma como são trabalhados e sua importância para definir a obra. O Autor como Centro A colocação pode parecer óbvia se levada em consideração apenas no âmbito das obras autobiográficas, mas como já dito, o autor pode relatar os fatos ou através de um alter ego ou então transferir parte de suas experiências de vida para um personagem totalmente diferente dele. Contudo, o que fica constante é que tal personagem, ego ou alter, é o eixo central a partir de onde tudo irá orbitar. Literalmente, o centro do universo. Com certeza se trata do conceito básico do protagonista, mas nunca do conceito do herói. Na realidade, o protagonista autobiográfico se mostra um indivíduo falho e por vezes inseguro, por conta do próprio ato do autor de encarar suas ações passadas e, por conseguinte, seus erros. Nem sempre por ser o centro, o personagem é um narrador em primeira pessoa ou em terceira, mas por ser um relato subjetivo, os vícios de personalidade do personagem, como suas mesquinharias e preconceitos, por exemplo, influenciam demais a experiência

do leitor, que assiste aquele episódio sob a ótica daquele que foi o centro da pressão, vítima ou felizardo. O estado de espírito do autor, antes e depois do acontecido, procura encarnar no leitor a fim de transformar a leitura numa simulação, através do discurso descritivo, que é o tipo de texto que predomina nesse tipo de obra. Muito raro o autor buscar referências externas para ter uma ideia mais precisa do fato que viveu, ele confia em seus sentidos. Mesmo quando o autor relata os efeitos que tais fatos tiveram sobre outros personagens presentes na trama ou não, ele o faz de maneira subjetiva, sem ter conhecimento total de como seus próximos se sentiam. Isso acontece com mais frequência quando o biógrafo é seu próprio foco, mas em Maus, por exemplo, o biografado é o pai do biógrafo. Todavia, ainda assim, o autor não buscou outras fontes para completar as narrativas do pai (que conta suas histórias de sobrevivente de Auschwitz), pois o verdadeiro foco da obra é na realidade mostrar a figura curiosa e contraditória que ele era, além da relação distante entre os dois. Na verdade, em Maus, essa é a verdadeira história e Art Spigelman, e não Vladek Spiegelman, é o verdadeiro centro. Conflitos Toda vida é na verdade uma luta nossa contra algo que se impôs em nosso caminho e nos tirou o conforto. E em toda autobiografia quadrinizada é possível entender e apontar o conflito em que o personagem está envolvido, que na realidade, é a trama em si, despida de seus detalhes. Ainda que sejam vários conflitos separados, haverá um que será a origem de todos e é o que define a “fase” em que o personagem está na sua vida. Tal conflito demandará quase a história inteira para ser resolvido, isso se ainda não estiver ocorrendo na vida do autor até hoje.

Art Spigelman


David Small

Um conflito nem sempre é uma contenda violenta ou um choque literal de forças. Muitas vezes se trata do personagem lidando com forças naturais a sua volta as quais ele não compreende totalmente. Outras vezes são problemas que o personagem traz dentro de si e o conflito se resume nele tentando achar um equilíbrio pessoal. De qualquer forma, nunca o conflito é mostrado de uma maneira simples, pois para o autor nunca foi simples naquela época e nem é atualmente. Dezenas de fatores irão se impor ao longo da luta do personagem, obrigando-o a pensar nas consequências e nas pessoas que o afetam e que podem ser afetadas. O personagem muitas vezes flertará com a desistência completa e com a ideia de que talvez seu conflito seja invencível e que ele tenha de apenas conviver com ele. Em outra ele finalmente encontrará uma resposta, o conflito pode cessar ou pode aparentemente sumir. A obra possui a força que o conflito tiver, o que obriga o autor a desenvolvê-la em todas as suas complexidades e agonias, mas também o força a tentar falar também da evolução que tais sofrimentos trouxeram em sua vida, a maturidade conquistada. É preciso que o autor torne o seu conflito algo único, para que ele não seja um mero resmungo, todavia, é preciso preservar uma simplicidade, para que os leitores encontrem uma semelhança com seus próprios problemas. Todo o conflito muda pelo menos em sua superfície, devido às pessoas que surgem e oferecem diversas abordagens ou pontos de vistas sobre ele para o protagonista. Mesmo que não o façam, a mera existência deles já ajuda o personagem a desviar o curso do conflito e eles se tornam elementos dignos de nota. Existem autores que buscam isolar o conflito no centro do palco, dando a impressão que a volta dele tudo é vazio, é o caso de Cicatrizes de David Small, que fecha a trama em volta do autor e sua mãe cruel e reprimi-

da, sem dar atenção a possíveis amigos ou outras relações familiares da vida do autor, nem como elas afetaram seu contato com a mãe. Nem sempre o resultado disso é encarado com naturalidade pelo leitor. Há ocasiões onde o autor não expõe com clareza o que tal conflito está causando no interior do protagonista, em boa parte para reproduzir a própria confusão vivida na época. Muitas vezes sem dar atenção se isso é ou não coerente com o que o leitor é capaz de aceitar. Tudo isso depende se a obra é mais iconoclasta ou animista. Paralelos O espírito de época, ou Zeitgeist, é parte importante de uma autobiografia, ainda mais se o autor possuir algum sentimento de nacionalismo ou militância política. Apesar de lotar a obra com um conteúdo muitas vezes educativo demais, atrapalhando a vista do interior do personagem, é necessário reconhecer a necessidade de contextualização histórica, mesmo que ele seja tão subjetivo quanto todo o resto. Para entender por que o protagonista era daquele jeito é preciso entender por que TUDO era do jeito que era. Traçar paralelos não é, deixemos claro, explicar o cenário. Não. Trata-se de isolar um fato da vida do protagonista e descrever um fato de seu mundo que ocorreu se não ao mesmo tempo, da mesma forma, ou com interpretações semelhantes. Persepolis, de Marjane Satrapi, é uma obra que apesar de seu aspecto de livro infantil, é altamente politizada, pois, ao mesmo tempo em que descreve a infância da autora em plena guerra civil iraniana, procura mostrar a guerra como um mal que também cresce e se desenvolve, mas que aparentemente nunca morre. Marjani cresce na guerra e a guerra cresce em Marjani. Outros tipos de paralelos envolvem tramas de fundo sem conteúdo histórico, usando elemen-


tos simples de causa e efeito, a fim de traçar uma semelhança de mecanismos entre elas. Mas tanto um quanto o outro constituem um artifício comum da filosofia animista de quadrinhos, pois tende a mostrar o protagonista como um reflexo do mundo a volta dele ou que o mundo segue uma série de padrões que se repetem. Nenhuma dessas construções elaboradas cabe a iconoclastia, que é mais despretensiosa, realista e assume esses voos como um superdimensionamento do autor. Metáforas e simbolismos Mesmo que tais reflexões não tenham ocorrido na época em que alegadamente ocorreram, o autor pode inserir diversos tipos de comparações e figuras de linguagem na sua narrativa, a fim de tornar mais fácil ou mais difícil para o leitor. Isso é válido, pois a autobiografia não é apenas uma reconstituição do vivido, mas também uma análise de um tempo imaturo feito por um autor mais maduro. As metáforas e simbolismos existentes nessas obras agem de forma semelhante aos paralelos, mas não de todo. Num sentido muito mais interior do autor (diferente do paralelo que é exterior), o símbolo é a tentativa de resumir todo um universo de ideias num único objeto, pessoa, palavra ou acontecimento da trama, de modo que sempre que ele é evocado, o leitor compreenda a situação. Algo como a palavra rosebud de Cidadão Kane (que simboliza a infância perdida) ou o sonho de Holden Caulfield em Apanhador no Campo de Centeio (que refletia não apenas seu medo de crescer como também a busca por uma pureza que pudesse subjugar o vazio de seu mundo). Metáforas agem de modo mais econômico. São comparações que servem para um entendimento mais imediato de sentimentos que normalmente não seriam fáceis de descrever, mas que não são fortes ou autosuficientes para serem símbolos. Em geral a intenção do autor de constituir um sím-

bolo é bem mais clara, pois o mesmo aparecerá mais vezes, já que se trata de algo constante na vida do protagonista naquela época, mesmo que ele não reconhecesse com tal reverência. Diferentes de paralelos, símbolos podem ocorrer em obras iconoclastas, já que são justificáveis por serem íntimos. Recortes e Narrativas Não-Cronológicas Narrativas não lineares foram uma das principais evoluções do quadrinho moderno, por justamente forçar o leitor a pensar e ler de forma mais atenta, juntando os pedaços. Uma fórmula emprestada do cinema, ela também obrigou o leitor a encarar diversas peculiaridades do tempo em si e as múltiplas ordens onde as coisas acontecem ou podem acontecer. Por se tratar de lembranças, a autobiografia pode trabalhar isso de uma maneira bem mais livre, ordenando os fatos tendo como base sua importância pessoal, a expectativa do leitor ou quaisquer outras experimentações. Isso afirma uma linha animista, onde a vida do autor pode ser vista como um filme editável. Ao passo que a lógica iconoclasta prega que nada ocorreu à toa e que tudo teve seu lugar, ainda que num curto espaço de tempo. Isso não significa, contudo, que uma obra iconoclasta não possa segmentar a vida em ciclos curtos e apresentá-los de forma separada, ao invés de uma linha contínua e infinita, como a interpretação mais radical poderia sugerir. O conflito e o fluxo de narrativa acabam sendo parceiros fundamentais na constituição da obra, pois unidos podem criar efeitos como pressa, confusão, paranoia, êxtase, além de simular a recordação numa verossimilhança psíquica, ou seja, lembranças despedaçadas e incompletas assim como na mente humana. Jimmy Corrigan, de Chris Ware (que não é autobiográfica e sim inspirada em fatos vivi-

Chris Ware


Charles Burns

dos), possui fortes vieses Formalistas (a escola de quadrinhos que prima pela experimentação do veículo e suas possibilidades de transmissão de ideias), pois aplica em diversas páginas, séries de quadrinhos unidos em sequência, complexos como gráficos empresariais, mas que traçam sem palavras os graus de separação entre os personagens ou objetos da trama, muitas vezes recuando ou avançando no tempo. Um enorme dominó que sugere que talvez toda a vida seja uma história em quadrinhos devido à sua sequencialidade. Histórias dentro de histórias Ainda no âmbito das narrativas não-cronológicas, o autor muitas vezes lança mão de flashbacks dentro de flashbacks, ou seja, casos onde ele se recorda que tentou se recordar de algo, ou que alguém tentou se recordar de algo e contou a ele. Como dito anteriormente é raro o autor fazer uma pesquisa aprofundada a respeito dos outros pontos de vista que cercavam sua pessoa, como que entrevistá-los. Isso, por sinal, tornaria a obra demasiadamente objetiva, a ponto de dispensar o próprio autor como seu artista e roteirista. Contudo, também como foi dito, o autor coloca em sua obra o que viu e o que ouviu a sua volta e, logo também, o que pensou que fosse. Se a vida do autor é rica, é porque dezenas de pessoas passaram por ela, se a vida do autor é vazia, então as poucas pessoas que nela surgiram devem ter tido uma grande importância. De uma forma ou de outra, as experiências de outrem muitas vezes são desenvolvidas na trama porque fizeram alguma diferença no modo como o autor via o mundo naquele tempo ou porque podem traduzir com mais acuidade o contexto em que viviam. Epilético, de David B., possui como trama central a vida do autor ao lado de seu irmão, diag-

nosticado epilético bem jovem, numa época onde isso ainda não possuía nenhum tratamento estabelecido. A família de David busca uma cura sem cessar, conhecendo diversos charlatões e pioneiros no caminho, enquanto o próprio irmão de David afunda num mundo particular. No desenrolar da obra, David começa a descrever as inúmeras histórias que ligam seus pais, avós e bisavós, além dos demais personagens que aparecem, evidenciando o traço em comum de todos: a busca por uma “cura”. Ao longo do épico, perguntas surgem, tais como: o que é a doença? O que é a cura? A cura é simplesmente o fim da doença? O uso de histórias dentro de histórias cria diversos resultados em Epilético, tais como a noção de família como uma grande rede não só de laços consanguíneos, mas também como um grande legado; o karma vivido por todos os seres humanos, na busca da resolução definitiva de seus problemas; e a construção da moral do próprio autor. Existem outras formas de trabalhar esse conceito metalinguístico de forma mais acentuada, sem recorrer a mecanismos mais previsíveis como relatos de parentes dentro da história. Em Black Hole, de Charles Burns, é explorado um curioso efeito onde os personagens se recordam de eventos e durante a memória, seus “eus” passados relembram fatos mais priscos ainda. Claro que Black Hole não é autobiográfico e sim uma ficção com inspirações na adolescência de Burns, o que permite essa plasticidade, que não pode ser julgada como subjetividade. Dureza e Feiúra Esse aspecto não é exclusividade desse tipo de quadrinhos, mas sim uma realidade presente em absolutamente toda a forma de arte, que é o contraste entre o feio e o belo. Não se trata de uma


crítica superficial em cima da arte visual, mas sim de uma análise em cima da própria história e dos acontecimentos. Tanto o Animismo quanto a Iconoclastia compartilham uma abordagem artística ligada com a vida. Ou seja, tornar arte devido à sua semelhança com a organicidade da vida real, como que esta fosse a única obra de arte real do universo e a expressão humana, meras reproduções da Grande Arte. E a arte da vida trabalha criando nos seres humanos diversas reações, nem todas boas, mas necessárias, pois esta é a reação prevista para que a dita obra cumpra seu objetivo. A vida humana é imperfeita, pois o próprio conceito de vida perfeita não é concebível, que dirá aplicável. O processo de se tornar humano envolve um sem número de decepções e descobertas de aspectos desagradáveis tanto daqueles que te cercam, quanto de você mesmo. Sobreviver a essas decepções traz uma visão mais lúcida e madura do mundo, permitindo que você controle melhor sua vida. No discurso da Graphic Novel autobiográfica, busca-se destacar os duros fatos da vida ou as obscuras facetas humanas a fim de dar realismo à obra, cumprindo com seu lado iconoclasta (assim como, na realidade, fazem o cinema e a televisão) Essa acaba sendo a característica que mais chama a atenção dentro desse gênero, pois é um dos subterfúgios mais certeiros e devastadores na busca do artista de “tocar a alma” do leitor. Porém, o exagero nesse quesito pode fazer a obra passar de dramática para sinistra ou até melodramática, e até mesmo exceder os limites da subjetividade, com risco de se tornar uma ficção. A tal feiúra da vida não se manifesta apenas de maneira abertamente cruel e inumana (ou até veladamente), muitas vezes, como visto em American Splendor, de Harvey Pekar, a vida não é feia por que seja má. O feio, na realidade, é toda a falta

de qualquer outra coisa fantástica, o cotidiano sem fim, o limbo. A vida seria o rosto de um homem de mais de quarenta anos, com suas rugas e marcas de cansaço. Beleza e Singeleza Na Graphic Novel a beleza pode ser enxergada de diversas maneiras, em especial na própria feiúra. O modernismo e o pós-modernismo se encarregaram de virar do avesso as maneiras de se apreciar arte. O leitor busca ter uma experiência intensa, mesmo que ela seja de quase autodestruição, há uma grande satisfação na demolição de valores e ideologias cuja inocência está em franca dúvida. Claro, isso se tratando do restrito público consumidor desse tipo de HQ, isso não se aplica ao grande público que, por sinal, não consome Graphic Novels. Mas por detrás de tanto autoflagelo, o que o autor e seu leitor buscam é a redenção, sem dúvida. A purificação e o encontro de algo legítimo, autêntico e, sim, belo. Em muitas partes da trama, o protagonista se deparará com detalhes do mundo que constituem formas transitórias de beleza, perdidas, cercados de escuridão e mundanidade. Pequenos atos ou falas, carregados de significado. Elas passarão, às vezes, despercebidas pelo personagem, mas não pelo leitor, são as singelezas da obra. O encontro do belo e a redenção costumam ser as ferramentas com que o autor deseja dar fim ao seu conflito. O belo aqui pode significar qualquer coisa, como um sentimento confiável, auto-estima, uma companhia ou, simplesmente, uma resposta. Como a autobiografia se reserva a um recorte da vida do autor, é comum que o protagonista não encontre tal beleza definitiva, mas compreenda que talvez ela não exista ou que um dia chegará, e que o mundo esconde diversas singelezas as quais ele ignorou, mas não o fará novamente a partir de agora. Observe que isso nem sempre constitui um final

Craig Thompson


David B.

feliz. A obra Retalhos, de Craig Thompson, conta com delicadeza o romance entre o próprio autor, filho de cristãos ortodoxos, e uma garota chamada Raina, que possui um espírito livre, mas que guarda dentro de si várias inseguranças. O relacionamento é cercado de momentos de pureza e carinho, e dá a Craig as forças que ele precisa para sair da clausura que sua família e o cristianismo lhe impuseram, mas ele termina, o que deixa Craig desorientado. Craig é obrigado a refletir sobre a autenticidade dos momentos que viveu diante do presente que se tornou passado. Livre de espírito, mas sozinho, Craig enfim decide seguir em frente. Ao contrário do que se poderia esperar, Raina não retorna na vida de Craig, mas este parece ter atingido outro nível de convivência com as coisas que o assombravam. Arte Alternativa O fato das escolas Animistas e Iconoclastas terem foco na vida e no conteúdo, não significa necessariamente que a arte seja desleixada, mas sim que não ofusquem o texto e os personagens com preciosismos e detalhes visuais chamativos e desnecessários. Segundo Scott McCloud, as quatro escolas estão organizadas em pares de afinidade (Classicismo e Animismo são tradicionais, Iconoclastia e Formalismo são rebeldes. Classicismo e Formalismo são visuais e técnicos, Iconoclastia e Animismo são viscerais e intuitivos), mas todos os tipos de combinações são virtualmente possíveis, mesmo que opostas em teoria (Iconoclastia e Classicismo, por exemplo). Claro que a escolha da arte se limita primeiro pelas capacidades do autor, que também costuma ser o desenhista. A partir daí, ele poderá escolher a abordagem visual mais adequada, o que nunca é uma decisão óbvia ou fácil. Em Epilético e Persepolis, a arte transmite um ar infantil e carente de técnica, mas é eficiente e transmite a mensagem

com clareza. Seu maior defeito talvez seja seu leque restrito de graus de expressões ou variedade de rostos. Black Hole e Ao Coração da Tempestade de Will Eisner, por outro lado, possuem uma arte bem mais detalhista, como um esmero principalmente no uso do preto e branco (que aliás, são as cores que predominam em Graphic Novels autobiográficas). Podem conseguir criar boas atmosferas, mas não possuem o problema de serem artes muito “inacessíveis” para os aspirantes, o que não ocorre com os desenhos de David B. e Marjane. Arte e história podem se combinar justamente numa contradição planejada. É o caso principalmente de Maus, que cruza os relatos dos maus tratos sofridos pelos judeus nas mãos dos nazistas com personagens com rosto de ratos, porcos e cachorros, todos simplificados. Nesse caso foi feita uma aposta total em cima dos diálogos e do contexto para que o leitor entenda o que os personagens sentem, mesmo a arte sendo repetitiva e sem expressão. Mensagem Quadrinhos ou não, o indivíduo lembra porque viveu, e conta porque há uma lição a ser transmitida, mesmo que não se trate de um adágio ou ideia possível de ser escrita com palavras. Ou mesmo que tal lição não possa se reaplicada na vida de quem lê. Na realidade, o autor pode estar apenas dizendo que ELE aprendeu uma coisa, mas que não necessariamente você, leitor, precise entender. Tudo o que o autor pode estar querendo dizer é: eu estive lá. A mensagem estará no fim de tudo: da construção do protagonista central, do começo de seu conflito, das pessoas que conheceu e que contaram suas histórias, das lembranças dentro das lembranças, do mundo inóspito ou solitário que teve de atravessar, das belezas que passaram indiferentes, do objetivo final atingido ou da batalha


perdida. Após tudo isso, caberá ao leitor refletir e verificar se tal viagem dentro do corpo de outra pessoa lhe expandiu os horizontes, se foi divertida e inspiradora ao menos ou se não passou de um exercício de vaidade do autor. Linhas animistas têm uma preocupação maior em passar essa dita mensagem, enquanto os Iconoclastas muitas vezes trabalham com a mensagem de “não haver mensagem”, sendo até o fim crentes de que o mundo não é um local feito para ser entendido. Críticas Gerais As obras lidas para a conclusão desse artigo não representam nem um décimo do que esse gênero tem a oferecer em termos de obras disponíveis tanto no Brasil quanto no mundo, o que significa, na prática, que todos os conceitos discutidos aqui podem não ser um padrão amplo. Todavia, é incorreto afirmar que são casos isolados, mesmo a bibliografia sendo parca. Todas as obras citadas aqui valem a pena serem procuradas, lidas e relidas, principalmente se você procura se formar um quadrinista, mesmo que não autobiográfico ou mesmo de Graphic Novels. Para complementar o artigo, é possível utilizar os critérios discutidos e tecer pequenas análises: Maus, de Art Spigelman, ganhador do Pulitzer, é tido como uma das obras mais importantes do gênero, para não dizer dos quadrinhos em si. A descrição da devastação causada pelos nazistas e da engenhosidade dos sobreviventes para conseguirem atrasar suas execuções chama a atenção, contudo, os personagens, mesmo os principais, não são trabalhados com muita profundidade. O único, talvez, seja o pai de Art, narrador da história, um idoso às portas da morte, mas neurótico e preconceituoso. Nem o próprio autor consegue transmitir autenticidade. A relação dos dois é distante, mas há um esforço para superarem isso, que não

se conclui antes da morte de Vladek. Retalhos, de Craig Thompson, é de fato uma história bem inocente, flertando muitas vezes com o piegas, mas nunca atravessando de fato essa linha. Os personagens principais são bem acabados e a relação entre eles é crível. O autor trabalha bem ao nos envolver no êxtase da paixão dos protagonistas e como ela é abruptamente interrompida por uma súbita insegurança de Raina que nunca é explicada. O final, contudo, é reticente. Cicatrizes foi feito por David Small, e foi tida como a melhor HQ de 2010. Conta a respeito da relação glacial que ele possuía com seus pais, em especial sua mãe, que ocultava seu lesbianismo. A mãe de Small aparenta estar em conflito dentro de si, procurando fazer seu amor de mãe sobressair ao rancor que tem pelo filho, mas nunca conseguindo. A avó de David possui traços sociopatas, uma característica ignorada pela mãe de David. Mais tarde, devido a um erro de procedimento de seu pai, David acaba adquirindo câncer e também uma cicatriz no pescoço que o impede de falar. A obra parece francamente incompleta em muitos sentidos, mas não se assume iconoclasta a despeito disso. A arte faz uso de quadros que tomam quase a página toda, com aquarelas cinzentas, buscando referir ao silêncio, mas não passando de grandes e desajeitados desperdícios de espaço (talvez por Small ser um pintor), tornando o livro polpudo, mas curto demais. O conflito não é bem desenvolvido, dando a impressão de estarem faltando diversos outros pedaços, que seriam essenciais. Muitas oportunidades de desenvolvimento são perdidas ao longo da obra que, na realidade, é muito pretensiosa. O final é insatisfatório, não convencendo o leitor que de fato a mãe de Small fora um obstáculo tão grande. Persepolis, de Marjane Satrapi, é bem ordenado e repartido em pequenos episódios, o que sugere hiatos e não um recorte contínuo da vida

Marjane Satrapi


Harvey Pekar

da autora. Assim como em Maus, os personagens principais, os familiares de Marjane, não são bem desenvolvidos, só representando as partes que a autora desejou lembrar deles. Isso, no entanto, ainda está de acordo com o conceito de um livro de memórias. Talvez por ter vivido numa época, num país e numa família onde a consciência política era valorizada, a autora dedica muito tempo a explicar os joguetes e figuras importantes da guerra que a cerca, o que deveria tornar o livro educativo, mas acaba sendo irritante na maioria das vezes. No entanto, a proposta do livro de fato é ser mais histórico e politizado do que seus equivalentes. Epilético, de David B., descreve sua saga ao lado dos pais, que lutam para achar a cura da doença de seu irmão, a epilepsia. Cobrindo um largo intervalo da vida de B., a obra quase não poupa detalhes. A memória do autor consegue resgatar desde as brigas nas ruas de seu bairro na infância, passando pelos livros que leu, até as histórias particulares de cada curandeiro e médico que conheceram. Talvez por isso, os dois livros não sejam fáceis de ler continuadamente, tampouco de forma picada, pois o volume de informação é muito. Epilético é europeu de fato, pois se assemelha muito a um filme dessa linha, tanto na sua arte demasiada escura quanto na sua narrativa carregada de viagens ao subconsciente e passagens muitas vezes secas. O protagonista consegue ser facilmente assimilado pelo leitor, pois possui os mesmo traços que a maior parte dos aspirantes a quadrinistas. O irmão de B. também é um personagem muito bem elaborado. Misterioso, ele já não compreende mais seu lugar no mundo e aos poucos vai desistindo da cura, preferindo se isolar aos poucos do mundo real. Não se sabe ao certo, ao fim da obra, se o irmão está vivo ou morto. American Splendor, de Harvey Pekar, foge dos padrões normais de uma autobiografia, pois ao passo que a maioria dos autores busca relatar fa-

tos conturbados de sua vida, Pekar simplesmente retrata a monotonia de seu viver. São pequenos episódios onde vemos o arquivista Harvey lidando com seus colegas de serviço intrometidos, seus amigos sanguessugas, suas tentativas de comprar e vender discos de jazz, entre outras coisas que poderiam parecer fascinantes para nós, mas não para Harv. As histórias começam do nada e raramente terminam de modo claro, e também não possuem uma linearidade. Ao término da leitura, o leitor pode ser abordado por outro interessado que vai lhe perguntar: O que acontece nessa história? Ao que o leitor responderá: Nada, mas ai é que está. Ao Coração da Tempestade é um retrospecto da vida de Will Eisner, só que na forma quase de livro ilustrado, com uma forte inclinação Classicista. Cobrindo parte da sua infância, seu desenvolvimento como artista, até quando a guerra entra em seu caminho, a obra não é a primeira do gênero (vide o texto recomendado), mas foi a primeira mais conhecida. Apesar da fama de seu personagem, Spirit, Eisner foi um romancista muito melhor do que roteirista. Todos os seus livros baseados em lembranças, com ênfase em Um Contrato com Deus, são ótimos. Todavia, o livro em questão sofre com sua idade, já que narra a saga com saltos e textos diretos, formas tradicionais demais de contar histórias, fazendo o personagem simplesmente ir do ponto A ao ponto B. Mesmo assim, Eisner foi pioneiro e ler sua biografia é mais que um ato de aprendizagem do básico, é um ato de respeito. Por Que Tudo Isso? Para você que chegou até o fim desse longo artigo, deve surgir a dúvida: Para que tabelar tudo isso? Eu sou obrigado a seguir essas indicações? E se não for, então para que elas servem? Como dito no início do texto, quase não há como diferir Graphic Novels de quadrinhos indies, pois as primeiras são de qualquer maneira quadri-


nhos independentes. Porém, o contrário não se aplica: nem todas as obras independentes são Graphic Novels. Por quê? Por causa do acabamento? Por que são feitas por profissionais? Por que uma editora simplesmente disse que era ou não era? Para definir o que uma obra é ou não, imagina-se que devemos perguntar isso direto ao artista. Aquilo que ele quis fazer, em tese, deveria ser o que a obra é. Mas mesmo isso não será suficiente, se o artista não quiser rotular a obra, não souber ao certo o que fez ou não ter certeza de que atingiu todos os pré-requisitos que elegeu para a missão estar cumprida. Esses requisitos, por mais individuais que sejam, são altamente influenciados pela expectativa que as demais pessoas têm da obra. E haverá situações onde, dependendo da forma, função ou conteúdo da obra, o artista não conseguirá argumentar contra o coletivo. Por exemplo, se um artista faz uma história em quadrinhos mas diz que pintou um quadro, ainda assim teríamos de concordar com ele? Claro que veículo/mídia e gênero são coisas diferentes. O primeiro abrange toda uma forma, enquanto o segundo os conteúdos e suas abordagens. Mas também é certo que as mídias em si também são segmentações de algo maior, que é a arte. E a arte é um segmento de algo maior que ela, a vida humana. “A base da cultura humana é a lista” já disse Joseph Campbell, antropólogo de grande renome mundial. Isso por que humanos gostam de nomear e organizar coisas. É um processo não só comportamental, como instintivo, usado principalmente para sua manutenção social. Scott McCloud também complementa dizendo: “Se você criou algo bom, é bem certo que outros queiram imitar. Se houverem pessoas suficientes imitando, você tem então, um gênero.” Ele também explana que, quando um gênero é fundado, surgem diversas expectativas em cima dele que vão determinar seu funcionamento básico e seu sucesso em incorporar aquela identidade. Dependendo da ramificação do gênero, as expectativas podem ser muitas ou poucas. É natural ter uma revolta contra a ideia de gênero, sobretudo nos tempos atuais, onde os indivíduos buscam firmar uma identidade original, mas nunca conseguindo, pois a indústria cultural massifica tudo que os cerca, reduzindo a fórmulas prontas. De fato quando algo novo é descoberto e lhe é

dado um nome, ele automaticamente é carimbado e deixa de ser uma surpresa. Quando ele se torna um nome, também se torna um símbolo, que pode ser passado adiante pelo processo comunicativo (conversas, escrita, desenhos) que, como a própria palavra indica, é o processo de tornar comum. Mas o que fazer então? Voltarmos aos tempos onde certos segmentos da sociedade tinham o conhecimento, enquanto outros não? Estamos indiscutivelmente numa era não de democratização da informação, mas de amplo acesso a ela. Não quer dizer necessariamente que a novidade tenha morrido, o que se percebe na verdade é o contrário. Todos os dias nascem dezenas de novas tendências, que são desde derivados de outras mais antigas, repaginações ou até mesmo fusões e misturas. Podem ter vida longa ou curta, dependendo de sua real qualidade, mas tendo existido, são automaticamente parte da História Humana. E como tal, existirão indivíduos interessados em estudá-las e decifrá-las. E em seguida, oferecer suas descobertas para aqueles que quiserem apreciá-las.

Por Rafael Martins







Por Beto Potyguara






QUEM SOMOS




http://caricaturadias.blogspot.com/


I









C i d a d e n u a

p a r t e s V e V 1

Texto

Rafael C. Oliveira Arte

Bruno Romero



Oitos horas antes do Cataclismo...

Seus amigos chegaram...

Desista. Seus amigos vieram te buscar,

Central, responda! Central! Shiii...

DESGRAÇADAAA!

Shiiii...

O QUE VOCÊ QUER DE NÓS???

mas eles vão ter que passar por todo o sistema de defesa da cidade.

DIGA, VOU MATAR TODOS VOCÊS! NÓS SOMOS A LEI AQUI, ENTENDEU! NÓS SOMOS A LEI!

Faça silêncio! O espetáculo já vai começar... Senhoras... ...e senhores! Vamos apresentar... ...a todos vocês... ...a história... ...do mais poderoso... Herói!


! ! ! ! O O O O O O O O O O O O O O O OOOOO O O O O O O O O O O O O O O O O O O G FOOO

Não existe teatro no mundo tirano de vocês? Que diabos é isso!?

Vou dizer o que queremos...

Liberdade!

Quero saber o que você quer, sua desgraçada!


Sete horas antes do Cataclismo...

Este lugar deu paz a todos, aqui não existe guerra. E você me diz que preferem guerrear? Preferem a violência? Os conflitos emocionais? Você só pode estar louca!

Queremos poder fazer nossas escolhas. Do que adianta paz se nem sabemos o que é isso?

Não pedimos paz, até porque isso nunca existiu para nós humanos...

Você conheceria o mar se eu apenas mencionasse a palavra "mar" antes que pudesse vê-lo? Isso para nós não é paz. E a guerra é um produto constante, inevitável, como a morte.


Morte? Aqui nenhum de vocês morrem. Somos todos imortais!

Engano seu. Nós começamos a morrer a partir do momento em que nascemos... Não queremos ser marionetes sem sentimentos, sem cor, sem energia e tampouco sem nossos Não pedimos essa pensamentos. inércia, ela nos foi imposta! Pare com essa conversa mole e me diga quem diabos é você!

A pergunta certa seria "quem é você?" E se quer saber como eu consegui, tente se lembrar um pouco antes de ser inserido nessa máquina cheia de apetrechos.

Nenhum ser vivo conseguiu burlar o sistema arquitetado para a Cidade Nua! Como você conseguiu?


Seis horas antes do cataclismo... Mrs Dalloway! Mrs Dalloway! Mrs Dalloway!

Ó bela Mrs Dalloway! Onde você está?

Tenho uma carta para a senhorita! Mrs Dalloway! Mrs Dalloway!

Mrs Dalloway, apareça! Por favor, temos assuntos sérios a tratar!

A! H A H A H HA A H ! A A H H A A H H A HAH HAHAHA

A H A H A H HA

Zizizizizizzzzzzz zzizzzzzzzz...Sistema c... f...al...h.... Inician...process...


Herr Mannelig dispensou uma bela Troll, porque ela não era uma "donna cristiana"... E você Mrs Dalloway? És uma Troll também?

Vamos! Quem Sou um soldado é você? escolhido para exterminar as inconstâncias do Já se sistema Cidade Nua. E você é o centro do perguntou nosso problema! isso!? Só isso? Só isso que sabe sobre você? Nada do seu passado... Nada CALE A BOCA! de sua infância... EU VOU MATAR VOCÊ GAROTA! VOCÊ É Quem é você?

Cinco horas antes do cataclismo...

Perdemos contato com a central, destruam tudo! A ordem é nos protegermos e colocar toda a cidade abaixo! FOGOOO!

Esta forma talvez lhe agrade mais, Dante!

APENAS UM VÍRUS QUE INVADIU O SISTEMA, ESSA SUA APARÊNCIA NÃO ME ASSUSTA...


Não importa a forma, não hesitarei em atirar!

Pode vir, Dante. Estive esperando muito tempo por isso. Você é o nosso escolhido!

Como é difícil encontrar a Mrs Dalloway!



Não! Ele não pode estar aqui.

MORRAAAAAAAAAAAAAM!

NA PRÓXIMA EDIÇÃO... O COMEÇO... DO FIM!




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