Capítulo 29 | A Prisão Pendular

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Secretaria Municipal da Cultura de Novo Hamburgo, apresenta:

Pela Voz de um Gato Pardo de Maurício Fülber

Parte III O Arsenal Mágico de Rubicântigo Capítulo 29

A Prisão Pendular

Capítulos completos disponíveis em: linktr.ee/estudiofulber


Capítulo 29

A Prisão Pendular Imaginem vocês a situação deste gato, que estava jogando ping-pong tranquilamente (okay, nada tranquilamente na verdade) até a exaustão física completa e o eventual desmaio, ao despertar dentro de uma cela sem aviso prévio após acontecimentos aos quais ele não participou conscientemente. Não deve ser nada fácil, convenhamos. Mas acostumado como ele sempre esteve em se meter em confusões as quais não previu, manteve sua habitual calma e começou a gritar: - Onde eu toooo!?! Tem alguém aqui!?! Ouvindo uma resposta um pouco distante de alguém que ele não soube identificar a voz que dizia: - Aguarde um momento e logo mais entraremos em contato com você! Na verdade você entrará em contato conosco! Na verdade a sua cela entrará em contato conosco! Daqui a pouco eu te explico sem gritar quando as celas pendularem! “Quando as celas pendularem?”, pensou Narai, não entendendo o que aquilo significava ao certo, mas imaginando que logo mais saberia, visto ter sido informado de que a informação viria assim que a cela entrasse em contato com o outro ser que estava gritando com ele. O que minutos depois aconteceu. Narai estava olhando em volta tentando entender onde estava e se percebeu numa espécie de gaiola, parecida com aquela que os humanos de Palasita usavam para aprisionar pássaros, e ficou imaginando se precisaria aprender a cantar para se manter naquele lugar, tentando antecipar eventuais -2-


situações vindouras. Notou também que essa gaiola estava pendurada ao teto por quatro cabos de aço que a impediam de se balançar e que, em volta, era uma grande caverna sem entrada ou saída, com a gaiola erguida acima de uma espécie de poço d'água. Essa era sua situação, preso em uma gaiola, numa caverna sem entradas acima de um aglomerado de água. Sem escapatória, sem saída e sem companhia. Pelo menos ao que parecia, pois alguém havia gritado de volta pra ele. Seria talvez um eco consciente que ao invés de repetir respondia? Não podia ser. Ou seria? Esses pensamentos ocuparam sua mente por alguns minutos até que percebeu as grades começarem a vibrar e a girar, fazendo com que a visão do exterior ficasse borrada a ponto de se tornar visualmente indefinível. Depois de girarem em alta velocidade por alguns segundos, as grades pararam abruptamente, desvelando uma nova localização da gaiola, agora com uma ponte para uma saída e um morcego que o aguardava. - Isso que significa “pendular”? - perguntou o gato, agora sem sentir a necessidade de gritar. - Exatamente - respondeu o morcego. - Depois de um tempo você se acostuma. Já era hora de você acordar depois de tantas horas se recuperando. - Quantas horas? - Umas cinquenta eu acho. - Isso dá mais de dois dias! - Eu poderia ter dito dessa forma também, é preferível? - Eu acho que sim, pelo menos dá uma noção mais realista. Quando você disse “horas” eu pensei: tá -3-


tudo bem, não passou tanto tempo. Mas agora sabendo que foram dias eu fiquei preocupado. - Com o que? - Minha turma, claro! - Ah, mas não precisa se preocupar. - Uffa, que bom. Pode me dizer onde estão? - Claro que sim! - Então diga, por favor. - Parte deles está presa em outras celas pendulares, como essa sua, e a outra parte está desaparecida e nós não temos a mais pulha ideia de onde estejam. Narai levou um segundo para reagir pois teve que desconstruir o sorriso de alívio que havia incorporado a sua face ao ouvir que não precisava se preocupar ao perceber que provavelmente deveria se preocupar e muito. - Isso não foi nada tranquilizador - disse, finalmente. - Desculpe, acho que estou um pouco destreinado em tato social depois de tanto tempo aqui. - Você é um prisioneiro também? - Não, não. Eu sou o guarda da sua seção. - Você é bastante simpático. - Eu tento, não é porque você está preso aqui que precisa ficar mal alojado ou ser mal tratado. Eu não sei o que você fez pra ser encarcerado, mas será bem tratado de toda forma. - Pois então.. eu não sei como eu vim parar aqui. - Você não teve um julgamento? - Não. -4-


- Humm - o morcego se afastou um pouco e buscou a ficha do gato em uma escrivaninha um pouco mais distante. - Realmente sua ficha é bastante confusa. - Será que você pode me ajudar? - Vou ver o que posso fazer. Até mais tarde! - Até mais tarde? E a cela pendulou novamente, levando Narai para um outro ponto da Prisão Pendular, muito parecido com o primeiro, mas com diferentes formatos de rocha e de tamanho ao seu redor.

...continua… -5-


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