Eu sei um segredo

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José Guedes poesia

Carla Mourão desenhos

Design © ISBN Depósito legal Primeira edição Impressão

amv | ateliê estratégias criativas 2010, estratégias criativas e os autores 978-972-8257-97-2 335916/11 2011 Rainho e Neves, lda. | Portugal Reservados todos os direitos

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Segredo E

u sei um segredo que é do tamanho do mar, escusas de pedir, porque eu não to vou contar. Há coisas assim, que são mesmo para esconder; quando fores maior é que vais compreender. Eu sei um segredo que é do tamanho do mar, e por ser tão grande, é difícil de guardar! Há coisas assim, que são mesmo para esconder; olha que é segredo, não podes nunca dizer!… Eu sei um segredo que é do tamanho do mar, um segredo a dois custa menos aguentar. Há coisas assim que são mesmo para esconder; mas não contes nada, não vá mais alguém saber…


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Militar em Tancos Ainda a farda vestia quando o sargento me berra: — Então você não sabia que agora já está na guerra?

E

u fui militar em Tancos, fui lá p’ra fazer a guerra, mas como ia de tamancos, custou-me a passar a serra.

Por fim, diz-me o furriel: — Rapaz, que te traz aqui?» «Pois saiba o meu coronel que eu venho lutar p’ra si!»

Eu fiquei muito contente por poder enfim marchar. Isto até dá gosto a gente ir p’ra tropa guerrear!…

Quando cheguei ao quartel, disse para a sentinela: «Vai chamar o furriel que lhe trago uma morcela.»

Foi que Que que

«Meu sargento, por favor, onde mora o inimigo? Dê-me a espingarda maior e eu lhe darei o castigo!»

Veio o furriel e ainda o sargento e o capitão, por sorte, levava a pinga p’ra molhar a reunião.

Já na caserna, deitado, sonhei a noitinha inteira. Eu era condecorado e havia festa na aldeia.

— Vês os papéis na parada? Aí tens o inimigo. Mas, olha, não vás sem nada, leva a vassoura contigo.

Comemos (foi um regalo!) E ainda bebemos melhor; quem não largava o gargalo era o sargento-mor.

Fazia escuro lá fora quando a corneta tocou. «Irra, quem me chama agora? A noite mal começou!?»

«Ai que má fortuna a minha, Nossa Senhora me acuda, nunca mais chega a horinha de eu entrar na peluda!…»

tamanha a gargalhada eu até me assustei. gente tão animada p’ra amigos arranjei!


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Zé love Maria

E

screvi-te uma carta no tampo ensebado da minha carteira, na fila do lado. Como assinatura, fiz, com emoção, «Zé love Maria» sobre um coração. Eu ia ao recreio só para te olhar, mas muito em segredo, não fosses notar. E havia reguadas e dedos no ar e um cheiro a merenda na sala, a pairar.


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Chegou o exame: que alívio passar! Seguiste os estudos, eu fui trabalhar. Mas, mesmo de longe, nunca te perdi; seguia os teus passos, torcia por ti. E os anos voaram e a gente mudou; só o meu amor por ti não murchou. Tu hoje és doutora, eu fiquei José; para certas montanhas não basta ter fé... Resta-me um consolo: guardar, com paixão, «Zé love Maria» no meu coração.


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