Boas Práticas Pedagógicas - Desafioa para o Professor Online

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Universidade Aberta

Mestrado em Pedagogia do ELearning

Boas Pr谩ticas Pedag贸gicas Desafios para o Professor Online

Processos Pedag贸gicos em ELearning

Docente: Jos茅 Mota Discente: Estela Gomes

Dezembro 2011

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BOAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DESAFIOS PARA O PROFESSOR ONLINE Estela Gomes estela-m-gomes@hotmail.com

RESUMO Pretende-se neste artigo refletir sobre alguns dos temas que foram sendo abordados na unidade curricular de Processos Pedagógicos em ELearning do Mestrado em Pedagogia do ELearning da Universidade Aberta. Temas como ensino, educação, boas práticas pedagógicas, pedagogia do elearning, aprendizagem formal e informal, a rede na aprendizagem e outros foram objeto de estudo e reflexão por parte de alunos e professor. Palavras chave: pedagogia, educação, aprendizagem, rede, conhecimento.

1. INTRODUÇÃO Este artigo constitui uma reflexão sobre as boas práticas pedagógicas e os desafios que o conhecimento destas coloca ao professor em contexto online. No âmbito da unidade curricular de Processos Pedagógicos em ELearning do Mestrado em Pedagogia em ELearning da Universidade Aberta de Portugal, foi proposto um desafio aos mestrandos de, com base na entrevista(s) realizada(s) a professores online com atividade pedagógica reconhecida pelas boas práticas, elaborar um pequeno artigo que evidenciasse uma reflexão cuidada sobre os alguns aspetos importantes na temática dos processos pedagógicos em elearning. A escolha dos entrevistados incidiu, no caso deste artigo, no Professor Morten Paulsen e na Professora Lúcia Amante, ambos professores conceituados no universo do ensino a distância e que tiveram a gentileza de aceder ao pedido de trocarem algumas impressões com a entrevistadora, Estela Gomes, sobre aspetos relevantes para a demarcação do que podemos entender serem boas práticas pedagógicas em contexto online. O leitor poderá consultar nos links disponibilizados no final do artigo o conteúdo das entrevistas, cuja divulgação foi permitida por ambos os entrevistados e a quem se dirige um agradecimento pela disponibilidade demonstrada. Poderá ainda consultar os endereços onde se encontram disponibilizados os guiões de entrevista e respetivas matrizes de análise de conteúdos.

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2. EDUCAR E ENSINAR NÃO SÃO SINÓNIMOS Segundo Chaves (1999), (…) tanto o ensino como a aprendizagem são conceitos moralmente neutros. Podemos ensinar e aprender tanto coisas valiosas como coisas sem valor ou mesmo nocivas. A Educação, porém, não é um conceito moralmente neutro. Educar (alguém ou a si próprio) é, por definição, fazer algo que é moralmente correto e valioso (…). Segundo Moran (2002), (…) educação a distância é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. (…). Na expressão “ensino a distância”a ênfase é dada ao papel do professor (…) a palavra “educação” é mais abrangente (…). Educar e ensinar não são sinónimos… É deveras importante que o professor online tenha subjacente à sua prática a distinção entre o que significa ensino e educação. A primeira questão da entrevista que serve de suporte a este artigo permitiu observar os pontos de vista dos entrevistados sobre esta distinção fundamental para cimentar a prática pedagógica: Existe alguma confusão entre os termos “educação online” e “ensino online”; muitos consideramnos sinónimos. Quais são, na sua opinião, as principais diferenças entre estas duas expressões, caso entenda que se observa alguma distinção entre as mesmas? There is some confusion between the terms "online learning" and "online education". What are the differences between these two expressions? Professora Lúcia Amante: Na minha perspectiva, ensino online é uma expressão mais restritiva, dado que se centra não no processo global de formação, mas põe a tónica no processo de ensinar. Claro que só se ensina quando alguém aprende alguma coisa, mas entendo que educação online é mais abrangente e remete para uma concepção do processo de aprendizagem mais ampla, onde esta ocorre através de diversas formas não sendo exclusivamente determinada pelo acto de ensinar, associado à acção de um professor.

Professor Morten Paulsen: In my view, learning is just one element of education. Online education covers a much broader range of services than online learning. I do for example think that online learning can take place without a teacher or an educational organization. In my discussion of Online Education Terms, I state that online education is characterized by:    

the separation of teachers and learners which distinguishes it from face-to-face education the influence of an educational organization which distinguishes it from self-study and private tutoring the use of a computer network to present or distribute some educational content the provision of two-way communication via a computer network so that students may benefit from communication with each other, teachers, and staff .

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A distinção que o professor Morten Paulsen estabelece entre educação e ensino online é deveras interessante já que nos remete para a importância do professor na educação online e que não se verifica no ensino online já que a aprendizagem neste contexto pode ocorrer de forma mais informal e de modo próprio. Pretende-se desta forma insistir no papel de educador que o professor online deve assumir. A ênfase da educação online coloca-se no processo global da formação conforme referido pela Professora Lúcia Amante; mais do que ensinar o professor online deve educar… 3. BOAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Em 2009, o Hanover Research Council, elaborou um relatório denominado Best Practices in Online Teaching Strategies, onde as linhas condutoras para as boas práticas pedagógicas online são explicitadas. Nesse documento são enunciados três princípios para a pedagogia online, partilhados em 2003 por Bill Pelz, e que lhe valeram o prémio Award for Excellence in Online Teaching atribuído no Sloan Consortium’s. O primeiro princípio de Pelz é let the students do (most of) the work e resume-se a assumir que, quanto mais os estudantes se debruçarem sobre os conteúdos, mais probabilidade terão de evoluir na aprendizagem dos mesmos; os estudantes devem liderar as discussões e debater entre si os recursos que encontram na rede, utilizando os sumários das leituras efetuadas para ajudar outros estudantes. O segundo princípio de Pelz é que interactivity is the heart and soul of effective asynchronous leaning e estimula os estudantes a interagirem uns com os outros, com o professor, com a internet, utilizando o trabalho colaborativo e individual. O último princípio de Pelz é strive for presence. Quando Pelz fala em presença refere-se à presença social, à presença de ensino e à presença cognitiva. Os princípios de Pelz são bem complementados pelas características subjacentes ao acrónimo VOCAL. No seu artigo Be VOCAL: Characteristics of Successful Online Instructors, John Savery (2005), explica que VOCAL são as siglas que representam as palavras chave das características que tornam eficiente um professor online: Visible, Organized, Compassionate, Analytical and Leaderby-example (estar presente, ser organizado, ser compassivo, ser analítico, liderar pelo exemplo). A segunda questão colocada aos entrevistados foi a seguinte: Na sua opinião, quais devem ser as principais características de um professor online? Quais os elementos que entende serem relevantes numa boa prática pedagógica em contextos online? In your point of view, what are the main features of an online teacher? What are the elements that promote a good teaching practice? Professora Lúcia Amante: Eu diria que, para se ser um bom professor online, tem de se ser, antes de mais, um bom professor, incluindo aqui a competência quer científica, quer pedagógica. Depois há que saber transpor isso para o contexto online, designadamente ao nível da natureza das actividades propostas e da comunicação estabelecida. O aluno online precisa de sentir o professor, 4


precisa que a presença social do professor contribua para facilitar a comunicação de modo a ultrapassar inibições e a percepcionar um clima de trabalho que potencie a interacção. Um professor online tem de ser criativo e tem de saber aproveitar o potencial do grupo favorecendo a sua dinâmica interna. Tem de fazer sentir que está atento, que está presente, mas fazer sentir aos alunos que eles são agentes da sua própria formação e que são co-responsáveis pelo seu processo de aprendizagem e pela aprendizagem do grupo. Professor Morten Paulsen: On November 13, I was in a panel discussing Stephen Downes’ presentation We don’t need no educator: The role of the teacher in today’s online education. There, he identified about 25 different online teacher roles, and I could add some of my own. Since individual teachers cannot handle all these roles well, the main consequence is that good online teaching practice is characterized by division of labor. Online teachers need decent support services and have to cooperate with colleagues, students and their online networks to provide excellent teaching practice. A Professora Lúcia Amante enfatiza a presença social do professor online, indo de encontro a John Savery quando afirma a necessidade da visibilidade do professor. Citando a professora, (…) o aluno online precisa de sentir o professor, precisa que a presença social do professor contribua para facilitar a comunicação de modo a ultrapassar inibições e a percepcionar um clima de trabalho que potencie a interacção (…), um dos princípios de Pelz. No ensino online a comunicação verbal é substituída pela comunicação textual; a ausência do professor pode provocar sentimentos de insegurança e de abandono fazendo crer ao estudante que o professor não se interessa pelo seu percurso de aprendizagem; a interação entre aluno e professor é quebrada e o desinteresse do aluno instala-se… (…) Tem de fazer sentir que está atento, que está presente, mas fazer sentir aos alunos que eles são agentes da sua própria formação e que são co-responsáveis pelo seu processo de aprendizagem e pela aprendizagem do grupo. O Professor Morten Paulsen refere Stephen Downes que no seu painel We don’t need no educator: The role of the teacher in today’s online education enuncia vinte e cinco papéis atribuídos ao professor online que o professor Morten completaria com mais uns quantos. Uma vez que é difícil concentrar numa só pessoa tantas tarefas é necessária uma equipa de trabalho onde a divisão do trabalho possibilite a aprendizagem através das boas práticas pedagógicas. No relatório Best Practices in Online Teaching Strategies, na página 18 e seguintes, fornecem-se algumas diretivas que podem ajudar a manter uma pedagogia de excelência nos cursos ministrados online, a saber:        

Preparar os estudantes para o ensino online; Especificar os objetivos do curso, as expectativas, a estrutura e as normas de funcionamento; Criar um ambiente acolhedor que permita a construção de uma comunidade de aprendizagem; Promover a construção do conhecimento por parte do estudante; Promover a interação entre as partes; Monitorizar o progresso de cada estudante e encorajar os mais desinteressados; Apreciar a qualidade e quantidade de mensagens trocadas entre os estudantes; Providenciar o feedback e o apoio necessário ao estudante; 5


  

Encorajar os estudantes a auto regular o seu trabalho; Entender o impacto do multiculturalismo; Lidar adequadamente com o multiculturalismo.

Muitas outras diretivas são fornecidas ao longo do documento que se deixa ao cuidado do leitor consultar, mas interessa deixar claro que o professor online deve preocupar-se com muitos aspetos na sua prática que não só os que estão associados à evolução da tecnologia ou do simples seguimento do curso que ministra; o envolvimento humano e o apelo à interação são muito importantes.

4. OS DESAFIOS QUE SE COLOCAM A UM PROFESSOR ONLINE A terceira questão colocada aos entrevistados é a seguinte: No final do livro de Morten Paulsen, “Online Education and Learning Management Systems Global E-learning in a Scandinavian Perspective”, o professor comenta as questões relativas ao futuro da educação online. Quais são, no seu entender, os principais desafios que um professor online enfrenta na sociedade contemporânea? Quais as formas de os ultrapassar? In the final part of your book “Online Education and Learning Management Systems - Global Elearning in a Scandinavian Perspective”, you discuss the future developments in online education. What are the most important challenges online educators faces today? Professora Lúcia Amante: Julgo que há muito ainda aprender sobre a educação online. Há muita investigação por fazer e é importante que se avance nessa área de modo a contribuir para a adequada formação de professores online. Os desafios que se colocam à educação online e a estes docentes são imensos. Desde logo o acompanhar da evolução tecnológica, de modo a que esta possa ser posta ao serviço da sua actividade. O mobile learning, por exemplo. Também a oferta de educação online em larga escala, que parece ser uma tendência a considerar, coloca questões sobre a relação entre essa “massificação” e a qualidade dos cursos; será outro desafio a enfrentar. Por outro lado, o saber usar a tecnologia, mas não ser usado por ela. Ou seja, retirar dela o que interessa sem se deixar levar por modernismos e pseudo-inovações estéreis ou superficiais, do ponto de vista da aprendizagem. Professor Morten Paulsen: European educational institutions are facing a tough economical future. Developing and sustainable models for large-scale online education cost-effective is therefore crucial. Open Educational Resources and social networks provide wonderful opportunities for informal learning. However, the online education community needs to figure out how this informal learning can be utilized in economical sustainable and formal education. (o professor forneceu ainda o link para algumas páginas de interesse da sua publicação, a saber, http://issuu.com/mfpaulsen/docs/onlineeducation/314) A Professora Lúcia Amante e o Professor Morten Paulsen lançam, nas suas respostas, algumas pistas para que possamos refletir sobre alguns aspetos da contemporaneidade que constituem verdadeiros desafios ao professor online. Citando o Professor Morten Paulsen, Open Educational 6


Resources and social networks provide wonderful opportunities for informal learning, o que nos leva a refletir sobre o papel da aprendizagem informal nos contextos de aprendizagem atuais. Segundo Julian Sefton-Green (2004), na nossa sociedade é difícil separar os processos pedagógicos da prática educativa. Por variadas razões, investimos muito na educação dita formal e, para a maioria de nós a discussão em torno da aprendizagem está intimamente ligada com os sistemas formais de educação e como estes devem ser organizados e geridos. No entanto, esquecemos que muita da aprendizagem que efetuamos no dia a dia é de índole informal e adquirida em contextos como a escola, a família, através dos diversos relacionamentos que estabelecemos ou nas interações estabelecidas via redes sociais. Assim sendo, é importante questionarmos o que entendemos por aprendizagem. De acordo com Julian Sefton-Green (2004), alguns investigadores admitem que a aprendizagem ocorre em múltiplos contextos e que estas aprendizagens contribuem para o aumento de competências necessárias ao ensino formal, sendo este sobrevalorizado nos dias que correm e o conhecimento informal subvalorizado. Alguns vão mais longe nas suas afirmações, admitindo que apenas as aprendizagens certificadas são válidas. Podemos então questionar se aprendizagem informal se refere ao que aprendemos, como aprendemos, onde aprendemos, o que aprendemos, ou, ao invés, à relação estabelecida entre a atividade e o que é valorizado como conhecimento nos dias de hoje? Será que aprendizagem informal significa simplesmente o que aprendemos em diferentes contextos, diferentes locais, diferentes coisas, ou refere-se a tudo o que aprendemos que não é correntemente avaliado no sistema educativo? Esta reflexão é importante e constitui um desafio na prática educativa do professor online uma vez que, cada vez mais, o aluno se revela como produto de aprendizagens informais que se manifestam cada vez mais acessíveis a todos os níveis. Citando a Professora Lúcia Amante, (…) os desafios que se colocam à educação online e a estes docentes são imensos. Desde logo o acompanhar da evolução tecnológica, de modo a que esta possa ser posta ao serviço da sua actividade. O mobile learning, por exemplo. As novas tecnologias abrem espaço para novas aprendizagens, muitas delas informais, e que constituem um verdadeiro desafio para qualquer professor, em particular para um professor online que ensina e educa utilizando a tecnologia para tal efeito. Existe a necessidade de adequar as práticas pedagógicas a um avanço, cada vez mais rápido, de novas potencialidades que as inovações tecnológicas permitem; o verdadeiro desafio coloca-se ao nível da permanente atualização e da criatividade que se exige ao professor online.

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5. A REDE E A APRENDIZAGEM

Computer networks are having a major impact on enhancing and transforming teaching and learning relationships, opportunities, and outcomes. Traditional educational structures are being dramatically altered by new communication and information technologies. Networking, the convergence and maturation of computing and telecommunications, has become a force for a new form of education, creating a paradigm shift: a change to a new model and set of expectations and rules for how to function successfully within a new learning environment. (Linda Harasim in Computer Networking and Scholarly Communication in the Twenty-First-Century University, 1996, pp. 204)

A quarta questão colocada aos entrevistados é a seguinte: Com o advento das novas tecnologias, a aprendizagem informal começa a assumir um papel relevante nos contextos educativos. Siemens e Downes são mentores do conectivismo e assumem que “a rede” começa a evidenciar-se como uma alternativa ao ensino dito mais convencional. Como pode um professor online integrar as redes sociais na sua prática educativa e como é que esta integração pode melhorar a qualidade de ensino? With the advent of new technologies, informal learning is taking a leading role. Siemens and Downes are mentors of connectivism as an alternative to conventional teaching. How can an online teacher take advantage of online social networks to improve the quality of education? Professora Lúcia Amante: Penso que é como em tudo. O professor pode integrar as redes sociais, sempre que isso possa constituir uma mais valia. Essa mais valia não terá a ver propriamente com a melhoria da qualidade de ensino, poderá ter a ver com a melhoria da aprendizagem, designadamente se as redes sociais forem um meio habitualmente usado pelos alunos envolvidos. Provavelmente essa melhoria da aprendizagem opera de forma indirecta. Ou seja, se uso instrumentos que me permitem um maior acesso à informação, se esses instrumento/espaços congregam utilizadores que têm interesses de aprendizagem idênticos aos meus, se me estimulam a contribuir também para alargar esses conhecimentos, se o que faço e disponibilizo assume um carácter público, tudo isto pode potenciar e favorecer a aprendizagem. Mas são necessários estudos mais específicos que permitam saber mais sobre esta questão, permitindo-nos entender quais os reais contributos que estas redes podem, ou não, dar no desenvolvimento de processos de aprendizagem e se todos os sujeitos podem beneficiar desses contributos, ou se há perfis específicos de alunos que beneficiam e outros não. Usar porque está na “moda”, ou porque supostamente é inovador, pode conduzir a uma superficialidade que será, pelo contrário, contraproducente ao que se pretende quando se pensa em aprendizagem. 8


Professor Morten Paulsen: Firstly, social networks may improve quality of education because they give students access to larger communities of people who can act as advisors and contributors to their learning process. Secondly, students tend to deliver better quality work when they realize that a lot of people can see and comment on their coursework. The social networks also introduce a number of challenges for teachers and educational institutions. Teacher workload and evaluation of students are crucial issues for educational institutions that need to think carefully about cost-effectiveness and formal certifications. Com o advento da Internet, e à medida que a rede se foi expandindo e criando novas possibilidades de interação e conexão entre indivíduos, o conceito de aprendizagem teve de expandir os seus horizontes e manifestar-se mais abrangente. Na sociedade contemporânea, o estudante tem muitas formas de obter conhecimento e a Internet é uma fonte inesgotável de recursos onde a aprendizagem pode tomar forma. Em particular, as redes sociais podem contribuir de forma positiva na construção do conhecimento e os professores não devem alhear-se deste fenómeno que cada vez mais é banalizado. O facto de as redes sociais possibilitarem uma maior difusão do trabalho realizado pelos estudantes revela-se um incentivo para a produção de trabalhos de melhor qualidade; citando o Professor Morten Paulsen, (…) students tend to deliver better quality work when they realize that a lot of people can see and comment on their coursework. (…) O professor pode integrar as redes sociais, sempre que isso possa constituir uma mais valia. Essa mais valia não terá a ver propriamente com a melhoria da qualidade de ensino, poderá ter a ver com a melhoria da aprendizagem, designadamente se as redes sociais forem um meio habitualmente usado pelos alunos envolvidos (…), citando a Professora Lúcia Amante. Cabe ao professor online tirar o melhor partido das ferramentas que os alunos habitualmente utilizam para recolher informações e reverter essa utilização em proveito de uma aprendizagem qualitativamente significativa. (…) Se uso instrumentos que me permitem um maior acesso à informação, se esses instrumento/espaços congregam utilizadores que têm interesses de aprendizagem idênticos aos meus, se me estimulam a contribuir também para alargar esses conhecimentos, se o que faço e disponibilizo assume um carácter público, tudo isto pode potenciar e favorecer a aprendizagem. (…), citando a Professora Lúcia Amante. É esta aprendizagem de utilização favorável das redes sociais, ou da rede numa acepção mais ampla, que pode ser evidenciada pelo professor e potenciada no decurso das aulas virtuais. (…) The social networks also introduce a number of challenges for teachers and educational institutions (…), citando o professor Morten Paulsen. A quantidade de artefactos digitais produzidos, o controlo que deve ser feito sobre as produções dos estudantes, a avaliação criteriosa que deve ser feita desses trabalhos, provoca uma sobrecarga de trabalho ao docente e constitui um verdadeiro desafio educacional.

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6. TRANSPARÊNCIA INTERAÇÃO E COOPERAÇÃO NA APRENDIZAGEM Segundo Mota (2009), (…) os avanços nas Tecnologias da Informação e da Comunicação e o desenvolvimento da Internet abriram potencialidades e oportunidades ao EaD que revolucionaram, em certa medida, a forma como se concebia o ensino e a aprendizagem neste contexto, ao permitir, finalmente, a existência de um grupo de aprendizagem e níveis elevados e diversificados de interacção entre os vários intervenientes. Referindo-se aos estudos efetuados por Linda Harasim, Mota (2009) indicia que estas mudanças eram suficientemente profundas para que se pudesse falar do Ensino Online como um novo domínio educacional e como um novo paradigma na aprendizagem, baseado no trabalho colaborativo e na construção partilhada do conhecimento. Mais do que ninguém, o estudante de Mestrado em Pedagogia do ELearning deve aperceber-se da importância da construção do conhecimento através da partilha e cooperação de recursos e entender a importância que esta conceção de aprendizagem tem na sua prática futura. A quinta questão colocada aos entrevistados é a seguinte: Na sua opinião, quais as melhores estratégias pedagógicas a adotar por parte do professor, para que o processo de ensino/aprendizagem se revele eficiente e bem sucedido? Quais seriam as suas recomendações a um estudante do Mestrado em Pedagogia do ELearning para que a sua futura prática seja eficaz? Quais as competências que o estudante deve adquirir e potenciar? In your opinion, what are the best teaching strategies for a successful online learning? What are your recommendations for a master's student in the elearning pedagogy? What skills must he develop for his future practice? Professora Lúcia Amante: Penso que parte desta questão foi respondida na 2, a propósito das características de um bom professor online. O futuro mestre em Pedagogia do ELearning, terá de ter a noção da teia de factores que estão associados à qualidade dos cursos nesta modalidade de modo a ter uma leitura holística das diferentes situações que se lhe deparem e possa nelas intervir considerando as várias dimensões que envolvem. Penso que um estudante online deve potenciar as suas capacidades de interacção e de cooperação, bem como as suas capacidades de pesquisa. Todavia não pode negligenciar a componente de trabalho individual, as leituras as reflexões, etc. Mas, mais do que qualquer outro estudante, tem de ser capaz de gerir o seu tempo, e de distinguir o essencial do acessório. Professor Morten Paulsen: Learning environments become more useful and interesting if teachers and students develop a culture for sharing. This is why I promote transparency in online education. Transparency make cooperation more easy and interesting since information about people and their work is available for others. The challenge is however to find the right balance between privacy and transparency. Teachers and students should develop skills to understand and manage transparency properly.

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Ambos os entrevistados entendem que, em contexto online, a interação e a partilha de recursos são fundamentais para a construção de uma aprendizagem sólida. Interessante notar a ênfase atribuída à transparência na cooperação como um fator decisivo na aprendizagem coletiva. No ensino online promove-se a existência de comunidades virtuais e estas só se revelam produtivas quando se manifesta transparência na cooperação e espírito de partilha, junto com o sentimento de pertença.

7. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – UM FUTURO PROMISSOR Educação tem muito a ver com futuro, porque, em parte, o futuro depende da educação. (Demo, 2005, pp2)

Segundo Belloni (2008), o futuro promissor do ensino a distância é apoiado pela flexibilização que oferece aos estudantes e que não é encontrada no sistema dito mais tradicional de ensino e educação, a saber:    

Flexibilização de acesso Flexibilização de ensino Flexibilização de aprendizagem Flexibilização da oferta numa perspetiva de formação ao longo da vida

Esperando reforçar o futuro que se antevê promissor da educação a distância, foi colocada a sexta e última questão aos entrevistados. Finalmente, no seu entender, o que reserva o futuro para a educação a distância? Finally, in your opinion, what will the future hold for online education? Professora Lúcia Amante: O futuro da educação a distância é um futuro promissor. Cada vez mais a tendência será de recorrer a esta modalidade pois as suas potencialidades são enormes e cada vez mais se adequa ao mundo em que vivemos. A globalização, a necessidade de actualização constante dada a curta vida dos conhecimentos adquiridos e a consequente necessidade de aprendizagem ao longo da vida, a que se associam as crescentes possibilidades tecnológicas, prefigura uma acentuada evolução da educação a distância, designadamente com recurso a contextos online. Mas, não tenhamos dúvidas. Como em tudo surgirão muitas abordagens sérias e rigorosas, que serão uma mais valia. Mas surgirão também abordagens ligeiras, facilitistas, e desconexas, daqueles que entendem a educação a distancia como uma forma barata e fácil de fazer formação. Educação a distância não é, de todo, fácil. Exige mais do professor do que a educação presencial. Assim como também exige mais do aluno, em geral. Professor Morten Paulsen: Hmm - I venture to predict that the future of online education is disruptive, cost-effective, cooperative, transparent, mobile, multimedial, translated, omnipresent and bright: 

The current European economy will have disruptive effects on traditional education, and cost-effective online education initiatives may gain new markets.

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The current development of social network and web2.0 services urge the development of more cooperative and transparent online education.

The technical development usher a rapid development of mobile and multimedial online education.

There is also an interesting development in automatic language translation services which will support the development of more international learning environments.

Finally, I'm convinced that the future of online education is omnipresent and bright.

A conjetura mundial, as dificuldades financeiras que países e instituições atravessam, o frenesim profissional e social que caracterizam a sociedade contemporânea, a necessidade permanente de atualização dos conhecimentos, são fatores impulsionadores do crescimento da educação a distância como solução para a obtenção de conhecimento. Claro que de entre a mais variada oferta de cursos a distância, existe a necessidade de procurar a qualidade como referia a Professora Lúcia Amante; no entanto, para a oferta pedagógica credível, o futuro é brilhante e omnipresente como refere o Professor Morten Paulsen.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta reflexão tão abrangente que focou temas que incidiram na aprendizagem, ensino, educação, aprendizagem informal e formal, boas práticas pedagógicas, desafios colocados ao educador, a rede na aprendizagem e o futuro da educação, todos incidindo no contexto online, foi possível levantar e responder a questões pertinentes com a ajuda dos entrevistados que amavelmente se prestaram a conceder informações que enriqueceram este artigo. Uma vez que este artigo é o produto de muitas das reflexões feitas na unidade curricular Processos Pedagógicos em ELearning, entendeu-se finalizar o mesmo deixando ao leitor o seguinte excerto do livro Educação do Futuro e o Futuro da Educação de Pedro Demo: (…) os educadores, precisam, para fazerem parte do futuro da sociedade e principalmente para serem motores cruciais desse futuro, saber mudar naturalmente, no fluxo da história. Incluo aí duas preocupações mais importantes. Uma refere-se a saber mudar: o educador está sempre em balanço, refazer-se profissionalmente é a sua profissão, reinventar-se como educador é a sua razão de ser. Não pode parar (…). Outra refere-se a saber humanizar a mudança (…). (Demo, 2005, pp. 107) O guião de entrevista, a matriz de análise de conteúdos das entrevistas e o artigo em questão podem ser consultados no endereço: http://estelagomesmpel05.blogspot.com/

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Belloni, L. (2008). Educação a Distância. 5ª Edição, Editora Autores Associados: Campinas. Coleção Educação Contemporânea

Chaves, E. (1999). Tecnologia na educação: Conceitos básicos. Disponível em: http://edutec.net/Tecnologia%20e%20Educacao/edconc.htm acedido em Dezembro de 2011

Demo, P. (2005). Educação do Futuro e o Futuro da Educação. Editora Autores Associados: Campinas. Coleção Educação Contemporânea

Harrison, T.; Stephen, T. (1996). Computer Networking and Scholarly Communication in the Twenty-First-Century University. State University, New York, USA

Moran, J. (2002). O que é Educação a Distância. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm acedido em Dezembro de 2011

Mota, J. (2009). Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na Rede. Disponível em: http://orfeu.org/weblearning20/3_2_1_trab_colab_ensino_online acedido em Dezembro de 2011

Paulsen, M. (s.d.). Online Education and Learning Management Systems - Global E-learning in a Scandinavian Perspective. Apontamentos de consulta em: http://www.studymentor.com/#ListofContents acedido em Dezembro de 2011 Savery, J. (2005) BE VOCAL: Characteristics of Successful Online Instructors in Journal of Interactive Online Learning, vol.4, nº 2. Disponível em: http://www.ncolr.org/jiol/issues/viewarticle.cfm?volID=4&IssueID=15&ArticleID=73&Source=2 acedido em Dezembro de 2011

Sefton-Green, J. (2004). Informal learning with technology outside school. Disponível em: http://www2.futurelab.org.uk/resources/publications-reports-articles/literature-reviews/LiteratureReview379 13


Washington. Hanover Research Council (2009). Relat贸rio Best Practices in Online Teaching Strategies. Dispon铆vel em: http://www.hanoverresearch.com/library/assets/libPdfs/Best%20Practices%20in%20Online%20Tea ching%20Strategies%20-%20Membership.pdf acedido em Dezembro de 2011

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