Professor Aprendiz

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Antonio Carlos Moschella de Oliveira

PROFESSOR APRENDIZ


Antonio Carlos Moschella de Oliveira

PROFESSOR APRENDIZ

editora

S Ăƒ O PAU L O - 2 0 1 2


editora

© Editora Lexia Ltda, 2012. São Paulo, SP CNPJ 11.605.752/0001-00 www.editoralexia.com Editores-responsáveis Fabio Aguiar Alexandra Aguiar

Diagramação e capa Equipe Lexia

Projeto gráfico Fabio Aguiar

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O46p Oliveira, Antonio Carlos Moschella de Professor Aprendiz / Antonio Carlos Moschella de Oliveira. -- SãoPaulo: Lexia, 2012.

96 p. ISBN 978-85-8182-000-2

1. Professor. 2. Ensino. i. Título CDD – 40 Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento do autor. Impresso no Brasil. Printed in Brazil.


Professor Aprendiz

A única certeza que temos, ao sair dos bancos universitários, é a de que ainda necessitamos aprender muito, e talvez não estejamos totalmente preparados para entrar em uma escola na condição de professor. Mas a verdade é que por melhor preparados, nunca estaremos totalmente prontos e acabados, assim como nossos alunos, também não estarão. Vivemos, e em razão desta vida, encontramo-nos sempre em formação, em transformação, num contínuo movimento de melhoria, aprimoramento, construção e desconstrução, que provavelmente durará por toda nossa jornada. Portanto é necessário dar um passo de cada vez, manter a calma e avançar sempre, aceitando nossos eventuais erros conscientes que somos parte de um processo de


“individuação”, ( Jung 1875-1961), ou seja, de uma busca de nos tornarmos inteiros, superando crises, dif iculdades, doenças e etc. O autor


O Mestre deve ser meio sério, para dar autoridade à lição e meio risonho, para obter o perdão da correção. Machado de Assis



“À minha esposa Helen, que sempre estende sua mão amiga, permanecendo a meu lado, compartilhando alegrias, angústias, certezas e incertezas...”



Agradecimentos

Agradeço a meus pais, por terem me dado a vida, às minhas filhas, por serem a razão do meu viver, e à minha esposa, por ser a inspiração deste mundo. Agradeço a meus alunos e professores.



Sumário

17

Prefácio

20

Por que começamos o dia com vontade de recepcionar bem os alunos, mas nem sempre finalizamos da mesma forma?

23

Por que alguns professores agem com frieza e distanciamento?

25

Por que outros se amarguram, ou se insensibilizam

28

Qual a razão de tantas faltas, tantas ausências “presentes”, e tanto descompromisso?

31

Quais as reais causas de nossas frustrações?


34

O aluno real e o aluno imaginário

37

O professor real e o professor imaginário

40

O aluno é a melhor parte da escola

42

A Transgressão

45

Não deixar ninguém para trás

48

Fazer porque gostamos versus fazer por que é preciso

51

Na escola deve-se tomar partido

54

Poder versus Autoridade

56

Não critique, elogie

58

Crianças difíceis

61

Conhecimento e Afetividade

63

Sorrir Sempre

65

Desagrados Políticos

68

Letramento

70

Professor Aprendiz

72

Medalha


75

O difícil momento da separação

78

Pessoas que passam despercebidas

80

Olhe nos olhos

83

Um empurrãozinho

85

Parquinho

87

Professor Contemporâneo versus Professor Moderno

89

A difícil arte da conciliação

91

Alguns absurdos que ouvi nas escolas!



Prefácio

Como trabalhar com alunos que amamos, mas que nos deixam no correr do dia literalmente transtornados? Muitas vezes chegamos às nossas escolas com uma enorme vontade de abraçar aquelas crianças carentes em todos os sentidos, mas nem sempre finalizamos o nosso dia com este mesmo sentimento. Às vezes, demonstramos nossas frustrações, às vezes, as escondemos, mas seja qual for a situação, a realidade é que o desconforto existe. Não podemos deixar que estas frustrações nos transformem, como acontece com muitos professores, em pessoas amarguradas, insensíveis, ou dependentes de bebidas alcoólicas ou de medicamentos de tarja preta. Na minha jornada por escolas da rede estadual e municipal de São Paulo, conheci muitos professores maravi— 17 —


lhosos, com os quais tive a honra de compartilhar momentos inesquecíveis. Mas encontrei também professores que exibem um comportamento distante dos alunos, frios, amargurados, insensíveis, descompromissados, ausentes (mesmo estando em sala de aula), outros que tem preferido recorrer ao excesso de faltas ou licenças médicas para fugir da realidade do convívio escolar. Muito se aprende no dia a dia sob a influência de comportamentos tão heterogêneos destes grupos de professores frente à realidade educacional atual. Sinto na pele suas tristezas, alegrias, dificuldades e na tentativa de encontrar respostas que ajudem a nos posicionar frente a algumas antinomias existenciais, levanto alguns questionamentos: Por que começamos o dia com uma vontade de recepcionar bem os alunos, e não o finalizamos da mesma forma? Por que alguns professores agem com tal frieza e distanciamento? Por que outros se amarguram, ou se tornam tão insensíveis? Qual a razão de tantas faltas, tantas ausências “presentes”, e tanto descompromisso? Quais as causas de nossas reais frustrações? Quais carências de nossos alunos teremos de enfrentar primeiro? E quais as “nossas” carências? Como evitar exemplos de professores tão desgastados? Como escapar das dependências químicas, síndromes e doenças psicológicas que tanto afligem a categoria dos professores? — 18 —


Este livro não tem a pretensão de apresentar respostas prontas, receitas a serem imitadas, nem de ser um manual de algum produto final, pois o ser humano não é obviamente uma máquina simples de se operar. Mas tem, sim, como responsabilidade apresentar algumas análises a partir da ótica particular de um professor de educação física em busca de um ideal na área da educação. Destina-se, portanto, ao leitor que possua coração aberto, e a certeza de uma mudança para melhor. Talvez aquela certeza que ainda não se tem quando saímos dos bancos das faculdades... Boa leitura!

— 19 —


Por que começamos o dia com vontade de recepcionar bem os alunos, mas nem sempre finalizamos da mesma forma?

As crianças, jovens e adultos que frequentam nossas escolas têm hoje muitas diferenças em relação aos alunos do passado. Há algum tempo nossos alunos diante de um modelo político de repressão não tinham espaço nem mesmo para responder às argumentações feitas pelos professores. Com medo de falar, não queriam apresentar trabalhos para a sala, não tinham voz própria, nem vontade de se expressar. Se hoje reclamamos dos alunos copistas, o que eram então aqueles alunos filhos ou netos da ditadura, senão reprodutores fantasmas, sem opiniões próprias ou capacidade de defendê-las? A escola passada era voltada para uma camada social mais elitista e obviamente excludente, muitos entravam nas séries iniciais, mas poucos saiam diplomados. — 20 —


Aqueles alunos do passado recente também apresentavam algum tipo de indisciplina, se bem que em níveis não tão desafiadores quanto os atuais. Mas, hoje, a realidade é bem diferente, temos uma escola que recebe alunos de todas as camadas sociais, com grandes necessidades especiais, muitas vezes de lares desestruturados e com os mais diferentes objetivos de vida, enfim diferentes sob todos os pontos de vista. Além de toda esta diversidade, nossa escola atual tem como compromisso evitar a evasão escolar, apresentando uma educação de qualidade. Mas como? Fomos preparados em uma época de transição da ditadura para a democracia, nos falta certa “flexibilidade humanizante” ( JUNIOR, O.A.L.Organizações e papeis sociais: Culpa, infantilização e ferramentas de controle in: XIII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE PSICOSSOCIOLOGIA E SOCIOLOGIA CLÍNICA, DAS SOLIDÕES ÀS SOLIDARIEDADES-VÍNCULOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS EM ANÁLISE, 2009, Belo Horizonte, MG). É necessário compreender, aceitar e estimular a necessidade do acolhimento dos alunos por mais diversos que estes se apresentem, através de uma ótica mais focada nas relações, nas interações tanto entre os sujeitos, como também com o meio em que vivem, considerando especialmente o seu momento histórico, sua cultura, do que somente na transmissão do conhecimento*,sic. Precisamos sair da passividade e interagir mais com nossos alunos, expor nossos pensamentos sem receio de recebermos uma opinião divergente, aceitando as diferenças e combatendo todas as formas de preconceito existentes, não apenas nas palavras, mas também em nossas ações e princi— 21 —


palmente em nossos sentimentos. É necessário enfrentar as situações educativas, “aliando o rigor metódico com a afetividade (Freire, Paulo)”. Se conseguirmos olhar para nossos alunos com mais respeito poderemos terminar o dia letivo, com um abraço, e não com o “livro de ocorrências” em nossas mãos.

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Por que alguns professores agem com frieza e distanciamento?

Educar é mais, muito mais do que simplesmente transmitir conhecimentos. O educador deve ter sensibilidade, que o torne capaz de perceber pequenos detalhes que muitas vezes influenciarão os alunos pelas suas vidas. Para Kant (1724-1804), “o ser humano só se torna verdadeiramente humano pela educação”, ampliando esta afirmação, talvez seja possível, pensar que a educação somente seja também verdadeira se for humana. Uma palavra de apoio, um olhar, um sorriso, um abraço, são indubitavelmente importantíssimos, principalmente para aqueles alunos que não tem em seus lares estas posturas. Imagine então como podemos influenciá-los positivamente tendo uma atitude mais próxima, daí sim será possível mergulhar no mundo dos conteúdos intelectivos, mas não antes de nos aprofundarmos no mundo das emoções, — 23 —


que sempre transformarão qualquer relacionamento mais humano e verdadeiro. Devemos ser corajosos e enfrentar humana e eticamente quaisquer distanciamentos que nos separem de nossos alunos, seja pelas diferenças culturais, sociais, regionais, raciais, étnicas, religiosas, cronológicas, linguísticas e etc. Transformar nossas ações em exemplos de bemquerer, exemplos de alteridade, desenvolvendo a capacidade de ver nos alunos nós mesmos. Desejar a eles e esperar deles o melhor que de nós mesmos desejaríamos e esperaríamos, aliando afetividade ao rigor metódico e intelectual como nos aconselha Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997). Para nos aproximar deveremos acrescentar também uma “pitada” de humildade, que inicialmente nos revele dúvidas, incertezas, dificuldades, para com as quais teremos que lidar, mas que finalmente nos una definitivamente aos alunos, e aos ideais mais nobres da educação. Atravessar o pátio, subir ou descer as escadas, andar pelos corredores sem sorrir, sem cumprimentar, sem ao menos olhar para um aluno, é não nos olharmos, é não prestar atenção em nós, é não nos ouvirmos mais, isto não pode acontecer, para o bem deles, e de nós próprios.

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Por que outros se amarguram, ou se insensibilizam?

Não é nada fácil preparar um professor para lidar com a realidade atual da educação, principalmente no que diz respeito à falta de interesse, de vontade e de perspectiva dos nossos alunos. Quando saímos dos bancos acadêmicos estamos cheios de ideais e de ânimo para construirmos juntos uma ponte entre o conhecimento e os alunos, e é natural que após anos de tentativas, em alguns casos frustradas, muitas vezes nos sintamos amargurados quando não conseguimos sequer nos fazer ouvir em meio a uma sala tumultuada e cheia de “bagunça”. Mas, como enfrentar a difícil tarefa de motivar alguém tão desinteressado, seja pela falta de perspectivas, pela simples ignorância, ou mesmo pela pressão sócio financeira que infelizmente levará alunos a “subempregos”, — 25 —


não menos dignos, mas que certamente não preencherão as licenciaturas ou profissões de nível superior? Um caminho talvez seja mostrar como uma informação transformada em conhecimento pode mudar a vida de um jovem. Mostrar a importância do conhecimento não pelo conhecimento simplesmente, mas sim como ferramenta de mudança social, de ascensão econômica, e de transformação cultural. Mas ao aceitarmos a educação como instrumento capaz de possibilitar a ascensão dos indivíduos na estrutura social, assume-se então uma visão equalizadora do ensino, com todas as implicações políticas que se originam a partir deste conceito. Desta forma poderíamos finalmente responder a perguntas como: “para que aprender isto, professor?”. Ensinar sob esta ótica ocasionará a reconstrução dos conteúdos, a partir da realidade mais simples dos alunos partindo para situações mais complexas implicando na criação de um novo currículo. Um currículo que valorize o aluno, sua realidade como participante da sociedade e não apenas valorizando os conteúdos convencionais e tradicionais. Trata-se de uma mudança de foco, onde o ator mais importante passa a ser o educando e não o sistema educacional. Educar desta forma não vai amargurar nenhum profissional, pois não será um caminho impossível, será isto sim, um caminho novo, cheio de plenitude, de humanidade, e de justiça social, que dará valor real ao aluno, seus conhecimentos prévios, sua origem, sua natureza, sua pessoa, e consequentemente maior valorização aos professores. Aceitando este conceito teremos profissionais da educação mais sensíveis, preocupados com a realidade do outro, — 26 —


que se identifiquem com os alunos e com suas difíceis realidades, atuando como suporte, apoio, e instrumental em busca da “sociedade utópica e possível”, de Paulo Freire.

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