Controvérsias & Contratempos

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Laécio Dantas de Araújo

CONTROVÉRSIAS & CONTRATEMPOS A vida é feita de polêmicas e imprevistos.


Laécio Dantas de Araújo

CONTROVÉRSIAS & CONTRATEMPOS A vida é feita de polêmicas e imprevistos.

editora

S Ã O PAU L O – 2 0 1 1


editora

© Editora Lexia Ltda, 2011. São Paulo, SP CNPJ 11.605.752/0001-00 www.editoralexia.com

Editores-responsáveis Fabio Aguiar Alexandra Aguiar Projeto gráfico Fabio Aguiar

Diagramação e capa Equipe Lexia Revisão Cyelle Carmem Bianca Briones

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP A658C Araújo, Laécio Dantas de Controvérsias & Contratempos: a vida é feita de polêmicas e imprevistos / Laécio Dantas de Araújo. -- São Paulo: Lexia, 2011. 222 p. ISBN 978-85-63557-87-2 Inclui bibliografia

1. Literatura. I. Título.

CDD –B869 Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento do autor. Impresso no Brasil. Printed in Brazil.


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os amigos conquistados ao longo de mais de meio século de vida, principalmente os funcionários do Departamento da Polícia Federal; aos meus entes queridos que se foram para a vida eterna, em particular, meu saudoso pai, Delfino Onofre Araújo, que apesar de nunca ter frequentado uma escola, teve a sabedoria de ensinar-me os primeiros passos dessa longa jornada. Dedico ainda, de forma especial, à minha querida mãe, Alzira Alves Dantas de Araújo, mulher religiosa, que mostrou a seus filhos que, através da fé divina e do amor, todos os obstáculos podem ser vencidos.



AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Senhor Deus do Universo por me dar condições de poder estar realizando esta obra; aos meus familiares, que sempre me ensinaram e me aconselharam a respeitar o próximo e a seguir os bons princípios da vida. Agradeço ainda, em particular, às minhas eternas companheiras: Glaura, estimada esposa, e minha pequena e adorável filha, Rayanne Kalinne. Estas compartilharam comigo muitos momentos difíceis que passei e me apoiaram para que nunca desistisse da idéia desse projeto; Agradeço também a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que esta obra fosse realizada, especialmente, ao meu amigo, Escrivão de Polícia Federal, cordelista e desenhista, Joaquim Furtado, pela excelente contribuição com suas charges expostas neste livro.



SOBRE O AUTOR

Laécio Dantas de Araújo nasceu em Currais Novos-RN, bacharel em Direito, é Agente de Polícia Federal, desde 1982, iniciou sua carreira na SR/DPF/AC, tendo sido lotado ainda na SR/DPF/SP e na SR/DPF/ AL. Hoje, desenvolve suas atividades na SR/DPF/PB. Com quase 30 anos de serviço estritamente policial, já participou de várias operações policiais, eventos e cursos pelo país. Algumas destas experiências são inesquecíveis, como a oportunidade de conhecer um pouco da selva amazônica, combater o narcotráfico na região do polígono da maconha, ter sido lotado no maior aeroporto do país, ter participado de cursos na área de inteligência, tanto pela ANP (Academia Nacional de Polícia) como na ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), além de ter sido agraciado pelo Banco do Brasil, com uma “medalha de honra ao mérito”, quando era lotado na cidade de Maceió/AL.



APRESENTAÇÃO

Dizem que o homem realizado é aquele que conseguiu, durante sua vida, plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Com a edição deste livro, seu autor certamente se liberta dessa tríade aforística, ao mesmo tempo em que nos oferece uma lição de vida e bom gosto literário, ao descrever com sutileza de detalhes um cotidiano feito de imprevistos e polêmicas, no seu livro Controvérsias & Contratempos. Laécio é um desses seres humanos iluminados. Quando o conheci estava no fulgor da sua juventude, transmitia entusiasmo e esbanjava alegria, porém o que mais me chamou atenção foi a maneira simples e amigável no trato com as pessoas. Tais traços de personalidade convergem para o que os grandes pensadores chamavam de mansuetude, que é a marca registrada dos grandes vultos da humanidade. Ter a oportunidade de expressar essas opiniões sobre meu amigo Laécio é uma satisfação muito grande, pois apesar de termos trabalhado juntos na Polícia Federal Brasileira, o nosso convívio foi mais profissional. Embora tenha descoberto nele essas qualidades,


tivemos poucos momentos para trocar ideias ou curtir um momento cultural e de lazer. Daí não ter percebido esse seu talento literário, que agora flui com essa obra e nos brinda com sua inteligência. Formado em Ciências Jurídicas e quase trinta anos de experiência como Policial, Laécio prestou serviço em várias regiões do País, onde além de sua marca pessoal, foi acumulando elogios e comendas por onde passou, razão pela qual assevero, sem medo de errar, que a iniciativa de escrever esse livro é o coroamento de toda uma vida dedicada a serviço da Nação Brasileira, com dignidade, coragem e, sobretudo, com a consciência do dever cumprido. Esta com certeza não será a última, mas a primeira de uma série de outros textos e obras que se seguirão, onde o autor continuará nos brindando com a singeleza de suas palavras e a enorme experiência de vida acumulada. Sucesso, amigo, nesta nova e brilhante carreira, que o espírito de Deus possa continuar te iluminando. Quanto à tarefa que me coube, além de prazerosa, me senti imensamente honrado. Obrigado pela oportunidade e pelo carinho da sua amizade. Até o próximo livro. Geraldo Amorim Perito Criminal Federal


PREFÁCIO

A obra Controvérsias & Contratempos, tardou em chegar! Para a felicidade do leitor, tardou, mas não falhou! A vida de Helidan que é retratada, com muito bom humor, desde sua infância até a idade adulta, quando ingressou na Federal, traz uma sacada de muita inteligência, ironia e realidade. Assim como Helidan, Salvador, nosso outro personagem da obra, também retrata histórias hilárias, próprias das polêmicas e imprevistos de que a vida é feita. Ambos são personagens que aqui e acolá, na obra, aparecem com algum codinome. Mas todos retratam a vida, bem vivida, na experiência de vida do autor, desde a infância até a Federal, que é a nossa melhor SKIULLA. E desta forma, o autor, Laécio Dantas, divide entre oito Livros, mais de cento e trinta contos e causos, com elementos que misturam realidade e ficção, com diversos personagens que representam, ou podem representar, muito das situações vividas por ele, de forma engraçada e pitoresca. Eu mesmo tive o prazer – sim, prazer – de vivenciar e ser um dos personagens de seus contos. Numa pegadinha “polêmica e


imprevista”, Eu e outro companheiro descobrimos que “Ourinho” tinha duas grandes virtudes: o espírito de esportividade e bomhumor; e, especialmente, a humildade de reconhecer um pequeno defeito, o “olho gordo” daquele instante, inebriado por algumas “cervas”, muita lábia, e pelo “ouro de tolo”. Assim, toda a obra tem esta característica da simplicidade e inteligência do autor, que traz, por meio de seus contos, momentos de imensurável distração e lazer, com uma leitura fácil e gostosa, fazendo o leitor viajar por uma realidade retratada no cotidiano da Federal e da SKIULLA. Não temos outra coisa a dizer a você leitor sobre a leitura de CONTROVÉRSIAS & CONTRATEMPOS: A vida é feita de polêmicas e imprevistos, a não ser, divirta-se! E boa leitura! Tércio Fagundes Caldas Vice-presidente do Sindicato dos Policiais Federais da Paraíba Advogado, e agente da Polícia Federal aposentado


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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LIVRO I TRAVESSURAS DE UM INGÊNUO GAROTO NOS TEMPOS DA BRILHANTINA 25 1. Um verdadeiro atleta 2. Estranho no lavabo 3. Dando aula ao prefeito 4. Bicicleta, pipoca e ladeira não combinam 5. Se não varrer direito, fica preso no quartel 6. A vitamina de manga 7. No escurinho do cinema 8. Velocidade máxima 9. Enrolado na roleta 10. O barraco armado na casa da Florinda 11. A corrida do terror 12. Despertador adiantado 13. A estridente vigilante

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14. Passeio duplo e desespero duplo 15. Na batida do bombo 16. Escapou fedendo 17. Defunto na Kombi 18. Cabeça dura 19. A buchuda do bucho pequeno 20. Ajudando na passagem 21. Rali em busca de Triunfo

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LIVRO II AQUI DE TUDO TEM E DE TUDO ACONTECE 22. Doceira bom sabor 23. Seresta do fiasco 24. Fio dental 25. Bebida da família 26. Moto atolada no asfalto 27. Bombardeio no palacete 28. Clínica de Mastologia 29. Com medo das teclas 30. Máquina mal-assombrada 31. O melhor som da cidade 32. O melhor médico da cidade 33. Sono profundo 34. Dia das Mães 35. Por conta dos birinaites 36. A visita das musas selvagens 37. Namoradas do D. Juan 38. Cada uma mais linda do que a outra 39. Casa de mãe-joana 40. Ouro de tolo

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41. Chegado a uma gorduchinha 42. Economia em dobro 43. Economia exagerada 44. O pirado da água mineral 45. Aluno da estrada 46. Desodorante perfumado 47. Descendo o barranco 48. Dormindo no toalete 49. Rezando na prova 50. Quem ver pernas não ver o short 51. Cara documento 52. Sobrinho e tio sem sintonia 53. Melhor prato 54. Camisa temperada 55. Caneta poderosa 56. Revoltados com o cara-pálida 57. A melhor aula prática da Lei da Gravidade 58. Melhor churrasco da região 59. Nem eles sabem o que fizeram 60. Em traje de gala 61. Novatos na selva 62. Perdidos no rio 63. Perdidos na seca 64. Aula de sobrevivência 65. Trio bem preparado 66. Comemoração de arromba 67. Invadindo a nação 68. Enquanto a elite não chega 69. Espirrada no livro 70. Pronto para competir 71. Licença médica triplicada

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72. Um sonho de um mês 73. Um pãozinho pelo amor de Deus 74. Cicerone 75. Oásis no sertão

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LIVRO III O IMPREVISTO PODE ACONTECER COM QUALQUER UM 76. Dentro do tanque 77. Carro dentro d’água 78. Caminhão desgovernado 79. Cachoeira dentro de casa 80. Bang bang no clube 81. Bang bang no estádio 82. Terra tremendo 83. Salvo pelo sono 84. Barco quase afunda 85. Onde há fumaça há fogo 86. Fogo no prédio 87. Nunca se esqueça de puxar o freio de mão 88. Menino perigoso 89. Observando o corpo do alto 90. Rosto no alto 91. Estrelinhas 92. Pronto meu filho 93. Força estranha 94. Sexta-feira, 13 de agosto 95. Benzedeira 96. Cordão espiritual 97. Alma penada deitada na pista 98. Alma penada em pé na pista

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99. Telefone dedo duro 100. Celular dedo duro 101. Sentido inverso 102. Achado por acaso 103. Até os gatos lhe cumprimentam 104. Parente da genial 105. Nota máxima 106. Carro trocado 107. Bendita Misericórdia LIVRO IV FELIZES AQUELES QUE ESTÃO NA CONDIÇÃO DE AJUDAR 108. Bolsas recheadas 109. Quando a praia é o destino 110. Andarilho vencedor 111. Perola mais bela de todas 112. Mecanismo de última geração 113. Motivando o desmotivado 114. De volta ao lar 115. O melhor combustível é a vontade de trabalhar 116. Importante aluno 117. Devia ter aprendido no colégio 118. Rico faxineiro 119. As aparências se enganam LIVRO V LUZES DO ALTO 120. Astro luminoso 121. Bolas verdes

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122. Brilho na estrada 123. Raio cortando o céu 124. Fabricação infantil LIVRO VI SEMPRE HÁ UMA SAÍDA 125. Mente pequena 126. Desespero no ar 127. Sumiço do livro 128. Aluno invisível 129. Os ouvidos de um plumitivo 130. Os boatos de um plumitivo e a lentidão do horista

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LIVRO VII O IMPORTANTE É SABER COMPETIR 131. O quadrado da Donaquinha 132. Joias da máquina colorida 133. Tiasenha 134. A sorte é o azarado

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LIVRO VIII PREPARAÇÃO PARA VIDA PROFISSIONAL

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INTRODUÇÃO

Este livro conta alguns dos fatos pitorescos da infância, adolescência e da vida adulta do ingênuo e arteiro, Helidan. E dos membros da Skiulla, uma entidade escolar fictícia que está sempre pronta a ajudar da melhor forma possível os problemas vividos pela sua sociedade. Durante a leitura o leitor vai se deparar com muitas controvérsias e contratempos vividos por ele e por membros da Skiulla, principalmente pelo aluno Salvador. E se aconteceram com eles, podem muito bem ter acontecido com qualquer um. A educação de Helidan foi muita rígida. Seus pais não admitiam mentiras e falta de respeito com o próximo. Levou muita surra por suas traquinagens e nem por isso deixou de amá-los e respeitá-los. A mãe, devota de Nossa Senhora, ensinou-lhe, que através da fé, todos os obstáculos podem ser vencidos. Desde pequeno sempre conviveu com situações inesperadas e inexplicáveis. Muitas delas de forma espirituosa. No seu tempo de adolescência, não havia academia climatizada, bombas energéticas, silicones ou similares, para 21


deixar os corpos bonitos. Era tudo no natural, nada artificial. As garotas eram belas, pela própria natureza. E, para manter o visual, apenas pulavam cordas. Cada garoto tinha sua própria academia que normalmente ficava no quintal da casa. O principal instrumento de musculação era a maromba. Feito de duas latas de leite em pó, cheias de areia ou cimento e separadas por um cabo de vassoura ou uma barra de ferro. A saúde era completada com várias brincadeiras de rua, como: pega-pega, pega-ladrão, garrafão, futebol no campinho, tirar frutas das árvores, banho de chuva, etc. Tudo de pés descalços. Ninguém se incomodava de arrebentar os dedos. Caso acontecesse, a natureza tomava conta de sarar. Hoje em dia, a rapaziada fica só no climatizado, com calçados de última geração. Correr sem calçado, nem pensar, a sola do pé é muito fina e logo vai criar calo. A parte social ficava por conta, das matinês, dos cinemas, dos bate-papos nas calçadas e praças. As drogas, que tanto assolam os jovens de hoje, passavam longe daquela turma. Os poucos, que curtiam, eram escondidos daquela geração sadia. Helidan, quando ficou adulto, entrou nos quadros da federal, instituição que tem atuação nos mesmos moldes da Skiulla, que é a de ensinar e levar seus conhecimentos a quem precisa. Já Salvador, com apenas 21 anos já era um aluno da importante e conceituada Skiulla. No início de sua vida escolar passou por várias dificuldades, principalmente pela falta de experiência. Também conviveu com várias situações polêmicas e imprevistas onde muitas coisas aconteciam do nada. Seus obstáculos sempre foram contornados através da fé divina. Sua mãe, assim como a do adolescente Helidan, também é uma devota da mãe de Deus. 22


A Skiulla possui representações espalhadas por toda a nação que são coordenadas pelos seus dirigentes. A sua turma é respeitada por todos por conta dos seus bons ensinamentos. Principalmente quando alguma escola irregular está tentando distribuir materiais escolares que não estejam de acordo com as normas de ensino. E, logo uma turma é designada para realizar as pesquisas e os estudos necessários, evitando que de alguma forma, este material escolar que está reprovado pela saúde, educação e segurança não venham a contaminar aqueles que possuem uma mente sã.

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LIVRO I

TRAVESSURAS DE UM INGÊNUO GAROTO NOS TEMPOS DA BRILHANTINA

Antigamente quando não existiam os vícios e as malícias da internet, celulares, games, shoppings e as câmeras indiscretas registrando suas famosas pegadinhas a nossa juventude era mais pura, mais saudável e respeitadora com o próximo. Onde As melhores coisas aconteciam naturalmente. A vida tinha mais emoções. Hoje tudo é programado. É só clicar e logo a rapaziada consegue o que quiser. Em pouco tempo seleciona todas as garotas do colégio, da cidade e até de outras nações. Com direito a foto, trocadilhos de mensagens e tudo mais.Monta seu álbum e aí é fácil, é só esperar elas marcarem os encontros. A juventude de Helidan era a dos tempos dourados. E passou por muitas façanhas e confusões, principalmente quando saía em busca de alguma paquera. Quando criança era bem magrinho das pernas bem fininhas e isso facilitava suas escapadas.

1 – Um verdadeiro atleta Todo pai se enche de orgulho quando seu filhinho está aprendendo a andar. E, após alguns dias, já estar corren25


do dentro de casa. Estar pronto para ser um atleta. Agora o contrário é possível? Ou seja, primeiro aprende a correr e depois aprende a andar. Com Helidan foi desse jeito. Desde pequeno, só sabia correr. Corria para todo lugar que ia, até dentro de casa era correndo. Era um verdadeiro atleta. Era bem magrinho isso facilitava a correria. Sua mãe diz que ele nasceu prematuro e cabia na palma da mão. Seu pai colocava uma nota a certa distância e mandava a gurizada ficar na metade do caminho, enquanto o filho ficava bem atrás. Quando dava o sinal da partida, não tinha jeito, ele passava todos e pegava a nota primeiro que toda gurizada, que era devolvida para seu pai de imediato. Ele fazia isso porque tinha certeza que o seu atleta não decepcionaria. Na rua era um perigo, tinha que estar sempre segurando sua mão para não sair em disparada. Certo dia, o pai, preocupado com a correria do filho dentro de casa, que só parava para comer e dormir, até para tomar banho era pulando, nesse tempo, ainda não estudava, resolveu ensiná-lo a andar. Na sala da casa, segurou-o pela mão e disse: – Filho, você vai aprender a andar hoje de qualquer jeito. – Tá certo, pai. – Bote o pé direito aqui, agora coloca o outro pé na frente. E ele fazendo tudo com disciplina como o pai ensinava, até porque ele queria isso. Aí o pai disse: – Agora vou soltar sua mão e você sai andando bem devagar, tá? – Tá, pai, pode me soltar. – disse ele concentrado. Quando o amigo velho largou a mão do filho. Ah, não teve jeito. O seu atleta saiu em disparada. Bom, por conta disso levou uma boa surra. Parece que depois de muitas surras é que veio aprender a andar. 26


2 – Estranho no lavabo Helidan era muito tímido quando pequeno. Certa noite, suas irmãs estavam na sala com algumas colegas conversando lorota. O irmãozinho queria ir ao banheiro, só que tinha que passar no meio da sala e como tinha que ser correndo, pois não sabia andar ainda, tinha vergonha de ser zombado por elas, além de sua timidez. Ficou ali escondidinho junto à parede e de repente “zasp”, já estava lá no banheiro fazendo suas necessidades. Elas nem viram o “The Flash” entrar. Uma das visitas resolveu fazer sua necessidade também, percebendo que o toalete estava ocupado, perguntou: – Quem está aí? Coitado quando escutou a voz da moça, que não era nenhuma de suas manas se tremeu de vergonha e de desespero até porque ainda estava nas suas necessidades. Ficou quietinho, sem dar um pio. Ela insistia perguntando quem era. E como não teve resposta, ficou com medo e foi avisar a turma que tinha um estranho no lavabo. Elas resolveram averiguar quem era o estranho. Uma das irmãs, ainda perguntou se era ele. Ele continuou calado. Aí uma delas alertou: – Estou vendo os pés dele. De imediato, o tímido irmão subiu em cima do bojo. Só que alguém viu e avisou: – Ele subiu em cima do bojo. As irmãs insistindo que era Helidan, mas nada dele falar, a timidez era muito grande. Resolveram olhar pela brecha da janela que ficava do lado do beco. Ele foi esperto ficou bem agachadinho no canto da parede. Pensou ele: “pronto, daqui não vão ver nem meus pés”. Crente que a moçada ia desistir. Ele ficou só escutando os comentários: 27


– Deve ser ladrão! Ai, meu Deus! É melhor a gente pegar a vassoura, as panelas e meter o cacete nele”. Coitado do pequeno Helidan, não parava de tremer. A situação piorou quando resolveram chamar o vizinho. Pobre dele, de cócoras todo encolhido no cantinho do banheiro, tremendo todo. Chegou o vizinho e o alarido aumentou com o valentão: – Saia! Vamos arrombar a porta, seu safado! Vamos te quebrar de pau. Elas estavam bem armadas com cabo de vassoura, panelas, pedaço de pau, tudo que estava disponível naquela casa. A situação piorou quando ameaçaram arrombar a porta. Aí o valentão disse: – Eu arrombo a porta e vocês metem o cacete. E começou o bate-bate na porta. Adrenalina subia para os dois lados. Ele conhecia bem o vizinho e tinha certeza que se a porta fosse arrebentada, levaria uma tremenda surra. Foi quando o inerme e desprotegido Helidan não aguentando aquela pressão, resolveu se entregar, dizendo baixinho e chorando: – Sou eu.

3 – Dando aula ao Prefeito Antigamente os comícios eram superlotados, principalmente no interior. Vinha gente de todos os lugares para ver os candidatos fazer suas promessas em cima dos palanques. Até porque só havia dois partidos na disputa, um da posição e o outro da oposição. Helidan, com apenas seis anos de idade, acompanhava o pai que apoiava o prefeito Promessa que era da posição a ganhar mais um reinado. O prefeito Promessa era proprietário de uma grande loja da região. De repente subiu no 28


palanque um guri aparentando de 10 a 12 anos, estava fantasiado de vaqueiro e segurava uma sanfona. Começou a cantar músicas da terra e por conta disso o candidato enalteceu o pequeno vaqueiro e disse: – Você é um “astista”. Assim mesmo “astista”, para ser político desde a antiguidade, cultura nunca foi exigência. Continuou o prefeito PROMESSA: – Passe na minha loja amanhã para ganhar uma “bicicreta”. Ah, o pequeno Helidan enciumou. Era o seu maior sonho ganhar uma bicicleta. Bom, pelo menos ele sabia dizer o nome. E disse: – Quero ir, pai, lá em cima, pra ganhar a bicicleta também. – Filho, você vai fazer o quê? Tu não sabes nem andar, imagine cantar! É bom lembrar que o tempo todo o pai segurava a mão do filho porque ele ainda não tinha aprendido a andar. – Quero ir, quero ir eu falo qualquer coisa pra ganhar minha bicicleta. – Insistia o agitado garoto. O pai deu um vacilo e seu pequeno atleta fez o que mais sabia fazer, “zasp” saiu em disparada em direção ao palco e seu pai correndo atrás. Pense numa cena, todo mundo querendo saber que correria era aquela. Chegando ao palco, disse: – Quero subir, quero subir. – Não pode, só quem vai fazer alguma coisa. – disse o segurança. – Eu vou, eu vou, quero ganhar minha bicicleta. E o pai todo envergonhado com aquela cena do seu moleque fazendo de tudo para impedi-lo de subir. Até surra prometeu. Ele nessa altura levava a surra, mas queria a sua bike de qualquer jeito. Insistiu tanto que terminou subindo. Como era bem magrinho o segurança pegou pela gola da camisa e puxou ele. 29


O Prefeito Promessa perguntou de quem ele era filho. Ele pegou o microfone ficou olhando aquela multidão, nunca tinha passado por isto e deu uma de orador: – Sou filho de meu pai que está lá embaixo. Ele se chama “amigo veio”. – O que veio fazer aqui no palco? – disse o candidato. – Vim ganhar minha bicicleta. – Só que para ganhar sua “bicicreta” precisa fazer algo pra me agradar. – disse o prefeito Promessa. – Senhor “plefeito Plomessa”, o nome não é “bicicreta” é bici, bici... cleta, disse ele no microfone bem baixinho. Todos escutaram, e tiraram o maior sarro com o prefeito e aplausos para o garoto. – Garoto, eu não sou o “Plefeito Plomessa e sim PREFEITO PROMESSA”. Desse jeito você não vai ganhar sua “bici, bici,.. cleta”. – repreendeu o prefeito e com muito esforço acertou a dizer o nome. E a galera só no: “viva, já ganhou”. – Então, vamos, faça alguma coisa, você é um “astista” ou não é? Mais uma vez o pequeno travesso teve que ensinar o prefeito a falar corretamente. – Plefeito, eu não sou “astista” e sim artista. A plateia entusiasmada, batia palmas para o show do traquino. O Prefeito, com medo de ver seu showmício tomar outras proporções, pediu para ele se apressar e fazer o que tinha que fazer ali. Ele não teve cerimônia e tudo pela bicicleta, olhou novamente para aquela multidão, deu um sorriso e lembrou como os babões falam agradecendo as promessas dos candidatos e disse: 30


– Meu povo de minha gente, eu vim aqui fazer minhas homenagens e “palavlas” ao Doutor “Plefeito Plomessa” desta cidade que ele vai ganhar mais uma vez a eleição da “plefeitura” desta cidade, muito “obligado”. Foi aplaudido por todos e a multidão gritando, “viva já ganhou, bravo”. E no meio daquela gritaria, ele só queria saber de sua bicicleta: – Minha bicicleta, minha bicicleta, eu quero meu “plêmio”. O prefeito Promessa nem aí, nem se manifestava, nenhuma palavra sobre a bike. Só queria saber das palmas e do já ganhou da multidão. Simplesmente, o segurança mandou-lhe descer do palanque. Coitado desceu do palco, triste chorando nos braços do pai, que levou pra casa aos prantos. A partir de então, nunca mais subiu em qualquer palanque, como não acredita em nenhuma promessa de político. Ele só não dizia o nome do “Prefeito Promessa”, porque tinha a língua enrolada e tinha dificuldades em pronunciar a letra “R”, quando estava na mesma sílaba das consoantes e trocava pela letra “L”. Realmente ele era bastante “atlapalhado” e, depois de muito tempo é que corrigiu esse erro. Com certeza o prefeito ficou com raiva e não premiou o garotinho com sua bike por duas contrariedades: – Uma por ele ter ensinado ao prefeito a falar corretamente as palavras “bicicleta e artista” e a outra por ele ter chamado de “plefeito plomessa”. Agora pelo show, pela sua astúcia, não custava nada o prefeito ter dado seu prêmio. Se fosse aos tempos de hoje, no mínimo seria convidado para ser assessor.

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4 – Bicicleta, pipoca e ladeira não combinam

O simplório garoto até hoje nunca ganhou uma bicicleta, mas sempre conseguia uma emprestada dos amigos para dar uma voltinha. Quando tinha cerca de 10 anos estava pedalando uma do tipo “monareta”. Durante o passeio não resistiu a uma pipoca bem quentinha que estava saindo do forno do carrinho do pipoqueiro. Comprou logo dois sacos, colocou bastante sal e manteiga, estava pronto para degustá-las. Podia as ter devorado ali mesmo na calçada da rua e não teria problema nenhum. Mas sua inocência falava mais alto e colocou cada saco nas partes onde ficam os freios, localizados um do lado direito e outro no lado esquerdo do guidão da bicicleta. Bem tranquilo, voltou a pedalar bem devagar. Tudo ia bem, pedalando e comendo as pipocas, ora tirava pipoca do lado direito, ora tirava do lado esquerdo. Que delícia estava aquele passeio. Só faltava aparecer uma paquerinha e, quem sabe, colocar na garupa. 32


Só o que apareceu foi outra coisa. De repente, deparouse com uma grande ladeira, cerca de 1200 metros. Localizada rente ao muro do cemitério do Alecrim. Não tinha como freála por conta dos sacos de pipocas que estavam entre os freios da monareta. A bike pegou velocidade. O pequeno ciclista entrou em desespero porque a velocidade aumentava à medida que descia a ladeira. Ele começou a gritar por socorro. Estava difícil para socorrê-lo, até porque havia carros descendo a ladeira em alta velocidade. Ele tinha medo de soltar uma das mãos por conta que uma só das mãos não conseguiria equilibrar a monareta. Pipocas voavam dos saquinhos para todos os lados. Tentou rasgar os sacos ao meio imprensando nos freios. Mas não conseguia. Foi quando um transeunte gritou: “use os tênis”. Foi a sua salvação. Meteu os tênis do tipo “conga” no asfalto e com muita dificuldade conseguiu frear e equilibrar a bicicleta. Em compensação, os pés ficaram cheios de calos e quentes em virtude da catinga de borracha dos tênis provocada pelo atrito do asfalto. Helidan depois entendeu que pipoca não combinava com bicicleta, principalmente se tiver próximo a uma ladeira.

5 – Se não varrer direito fica preso no quartel Na época do colegial, onde estudava no Miguelinho, uma vez por semana, nosso pequeno personagem tinha aula obrigatória de Educação Física, que começava às 7h da manhã no quartel militar. A turma sempre chegava por volta das 5h para jogar uma bolinha antes. O acesso para o quartel sempre se dava pelo portão dos fundos que estava sempre aberta. O Comandante percebendo que a turma chegava bem antes do toque da alvorada, acordando todos antes do previsto, resolveu colocar ordem no quartel e ordenou ao seu batalhão que 33


fechasse o portão de trás e que o acesso dos alunos só poderia ser feito pelo portão principal. E só abrir, dez minutos antes de começar as atividades físicas. Helidan, como sempre era um dos primeiros a chegar, inclusive trazia a bola que era do tipo “capotão” debaixo do braço. Ao chegar e encontrar o portão fechado, não teve dúvida, foi logo pulando o muro. Assim que pulou, foi pego pelo guarda que estava de serviço. De imediato foi levado ao comandante para resolver qual o castigo que aquele traquino garoto merecia. O bom comandante entregou-lhe uma vassoura e mandou-o varrer a quadra até o portão ser aberto. Quando abriram o portão da frente para o resto da turma entrar, o guarda levou o pula-muro segurando uma vassoura para que todos o vissem. Quando a turma viu o colega dentro do quartel, segurando a vassoura, foi aquela zona. Disseram que ele tinha sido preso e todos cantaram “varra, soldado cabeça de papel, se não varrer direito fica preso no quartel”. Isto ensinou a nunca mais entrar num local sem ser convidado, bem como a não entrar pela porta dos fundos.

6 – A vitamina de manga Antigamente, a garotada acreditava que misturar manga com leite era prejudicial à saúde, podendo levar até a morte. A vila da Inês, onde Helidan morava, era rodeada de mangueiras e por isso era um dos frutos mais saboreados por aquela turma. Um dia, ele e seus amigos, todos na faixa de 13 a 15 anos, resolveram fazer uma vitamina de manga e, mesmo com medo, queriam a todo custo saber se aquela lenda era verdade. Após prepararem a vitamina no liquidificador, levaram a jarra com a vitamina para ser tomada debaixo de uma das mangueiras. Encheram os copos. Agora era só esperar quem dava o primeiro gole. 34


O suspense tomou conta dos três garotos. Ninguém queria ser o pioneiro. Na cabeça deles era tomar e pronto, morria na hora. Um verdadeiro veneno. Como ninguém queria ser o primeiro, o negócio foi disputar na “porrinha”, tipo de jogo de apostas com palitinhos. Não deu outra, Helidan perdeu e pela ordem tinha que tomar o primeiro copo. A sua adrenalina subia sem parar. Ele questionou que se tomasse primeiro, ia morrer sozinho e os outros não iriam tomar. A solução encontrada foi que todos tomassem, exceto o último, que ia ficar para contar a história a seus pais, a causa da morte dos seus filhos. E todos naquela contagem de “um, dois, três e já”, tomaram suas vitaminas. Agora era só esperar o pior. Não havia dúvida que eles adoraram o sabor da vitamina. O outro, depois de pressionado, terminou tomando também. E ficaram ali, esperando quem ia ser o primeiro a cair. Como nada acontecia, surgiram vários comentários. Um dos mais curiosos era que o efeito só daria depois de uma hora, e que dormir era perigoso, pois dificilmente acordaria. Nisso, alguns começaram a reclamar de um “rói, rói” no estômago. Pronto, era o sinal da morte chegando. O desespero tomou conta da turma e começaram a se despedir um do outro. A melhor coisa naquele momento era correr para casa e morrer junto da família. Um lamuriava que não tinha onde morrer, pois seus pais não estavam em casa; outro dizia que talvez não desse tempo de chegar a sua casa, pois morava um pouco longe. Helidan começou a suar frio, seu “rói, rói”, estava aumentando por conta do nervosismo e fez carreira para casa. Os outros também correram. Cada um para o seu destino fatal. Ele entrou em casa e foi direto pro quarto rezar. Como não passava aquele mal-estar, foi para o banheiro, e após seu uso, deu 35


uma aliviada, mas o medo continuava. Foi até a porta da frente e percebeu que nenhum de seus amigos estava mais por lá. Resolveu ligar para casa de um deles. Alguém atendeu, e disse que ele ainda não tinha chegado. Logo pensou que o coitado havia morrido antes de chegar em casa, e tinha ido visitar São Pedro mais cedo. Ligou para outro. A mãe atendeu e disse que o filho estava dormindo. Helidan no mesmo instante pediu para acordá-lo urgentemente, pois ele não podia dormir de jeito nenhum, senão iria morrer. A mãe ficou apavorada e acordou o filho em prantos. Depois de tudo explicado, a mãe tranquilizou os garotos, afirmando que vitamina de manga não faz mal a ninguém.

7 – No escurinho do cinema O jovem Helidan sempre aprontava das suas, e o negócio era chamar atenção. Certa vez, estava no cinema assistindo a um dos maiores clássicos de todos os tempos, “Dio come ti amo”. O cinema estava lotado e pela característica do filme, que era em preto e branco, contava a história de um apaixonado casal, representados por um dos melhores atores da época. A plateia desejava que eles ficassem juntos para sempre. Já acabando o filme foi quando chegou à cena mais esperada de todos. Ela (a mocinha do filme), por forças do destino, teve que partir para sempre deixando seu amor naquela romântica cidade. A cena era muito triste, que fazia a plateia chorar. Até nosso Helidan que assistia ao filme sozinho e, por ser muito emotivo, não aguentou, quando a amada estava subindo a escada do avião e o seu amante chorando pela sua partida, a tristeza tomou conta de todos. E naquele silêncio, no escurinho do cinema, o nosso Helidan soltou a dele, quando ela pisava exatamente o último degrau, ele gritou: 36


– GIGLIOLA. Ela de imediato olhou para trás e deu tchau. O chororô parou de imediato dando vez às gargalhadas. A plateia ria sem parar, passou da tristeza à alegria. Ele transformou aquele ambiente triste e deprimido num ambiente de alegria e festa numa simples palavra de “mágica”. Todos que estavam chorando não aguentaram aquela proeza e caíram em gargalhadas. Diante disso surgiram vários comentários ditos pela plateia – Ele só pode ter assistido ao filme antes. – Acho que ele contou até os degraus. A algazarra foi tanta que logo identificaram o autor daquela façanha. Todos saíram felizes para casa. Muitos vieram cumprimentá-los. Na saída um dos responsáveis pelo cinema chamou ele reservadamente e disse que o filme vinha passando já algum tempo e aquilo nunca tinha acontecido. Helidan disse que era a primeira vez que assistia. O responsável disse também que, em todas as sessões, a plateia saía chorando por conta da partida da amada e ele tinha mudado aquela cena. E convidou-o para assistir de novo o filme e repetir à cena. Só que ele não foi. E mesmo que tivesse ido, ele não iria repetir aquele gesto. Porque o primeiro foi de forma natural.

8 – Velocidade máxima Antigamente não era tão fácil conseguir uma paquera, como hoje, que é só clicar na net ou no celular e cadastrar quantas garotas desejarem e com direito a fotos e tudo mais. Mesmo assim, Helidan não desistia, era difícil, mas um dia ia conseguir. Como não tinha os equipamentos modernos, o negócio era ir à caça. Com 15 anos de idade, estudante promissor, estava na Praia do Forte, como era de costume ir aos finais de 37


semana e sempre descalço. O dinheiro era amarrado no calção. Isso facilitava o banho do mar e o futebol na areia da praia. Após estas atividades, já retornando para casa, estava sozinho e avistou três gatinhas de biquínis, sentadas na areia, no maior bronze. Aproximou-se e começou a bater papo com as garotas. Como estava na Escola Técnica, isso facilitava o bate-papo, todas as garotas admiravam os alunos desta escola. Quem estudava lá, era sinônimo de inteligência. O papo estava legal, uma delas, seria sua paquera, ele não tinha dúvida disso. De repente, chegou um vendedor de picolé e ele, para melhorar o ambiente, ofereceu as donzelas os geladinhos, dizendo que elas se sentiriam bem melhor, pois estava fazendo muito calor. Ele tinha quase certeza que cada picolé custava 0,50 centavos e, no cordão do calção, tinha certeza que havia pelo menos três notas de um cruzeiro, num total de três cruzeiros, que era o dinheiro da época e isso era suficiente para pagar a despesa, bem como pagar a passagem de volta e até mais picolés, caso elas desejassem. Estava bem tranquilo e não tinha nada que ia atrapalhar seu plano e aquela despesa extra com certeza ia valer à pena, mesmo que voltasse a pé. Pediu o seu também. E todo empolgado, tá lá contando vantagem para as garotas. Tudo ia bem, uma delas já estava no papo. Pensou ele. Nada poderia sair errado, faltando apenas poucos detalhes como pegar o telefone, endereço e tal. E aí era só convidá-las para irem à matinê numa tarde de domingo. Quando chegou à hora do sorveteiro cobrar a dívida o negócio complicou geral. O galã todo empolgado e mostrando confiança como se estivesse cheio da “bufunfa”, perguntou bem sorridente: – E aí gente fina, foram quatro picolés quanto ficou o prejuízo? Crente que daria dois e cinquenta 38


E aí gente fina, foram quatro picolés quanto ficou o prejuízo? Crente que daria dois e cinquenta, o vendedor cobrou quatro cruzeiros. Ele nunca iria imaginar que cada picolé custava Cr$ 1,00 (um cruzeiro). A sua feição mudou repentinamente, deu um soluço, quase engolia o palito do picolé, logo fechou a cara, não acreditando na vergonha que ia passar. Depois de preparar todo o terreno, não chegou nem a desatar o nó do calção que prendia a sua merreca. Começou a ficar nervoso, coçava a cabeça, botava a mão na testa. A esta altura, já estava suando frio, pensando no que fazer. Elas logo perceberam seu nervosismo e perguntaram se estava tudo bem. Ele, com um sorriso amarelo, deu sinal de ok. Mas nada de pagar, e o nervosismo aumentando. O picolé já não tinha mais sabor. Nada mais perguntava às meninas. O semblante do rosto já não era de felicidade e sim de preocupação. O sorveteiro já estava desconfiado e já pensando em levar balão, resolveu cobrar mais uma vez. – Vamos meu chapa tenho que vender mais! As meninas já cochichavam entre elas, já presumindo que algo errado tinha acontecido. O desesperado paquerador olhou pra um lado, olhou para outro, olhou para as meninas e pensou “meu Deus, que vergonha!”. Olhou para o horizonte, viu aquele mundão de areia quente, estava descalços, coçou a cabeça e pensou de novo “que faço agora?”. Não teve jeito, lembrou do seu tempo de atleta e fez carreira, saindo em disparada. O vendedor também não ficou por menos, largou o carrinho de picolé e saiu correndo atrás dele, e gritando “pega, pega, pega”. O coitado colocou toda a sua velocidade máxima, que passou direto da parada de ônibus. Até hoje, ele não sabe quem são essas garotas, se elas pagaram ou não a conta ou até mesmo se elas também correram. Depois disso ele disse que nunca mais comprava algo sem saber o preço antes. 39


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