Revista Fé para Hoje Número 39, Ano 2013

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cilmente aceitarão o fato de que, pelo menos diante de Deus, eram pecadores desamparados que precisavam ser resgatados. No contexto contemporâneo, o protestantismo americano, da esquerda ou da direita, está comprometido com o legado de Finney, quer saiba, quer não. Isso pode ser reconhecido no “evangelho social” da esquerda e nas lamentações moralistas da direita; no pragmatismo de “como” do movimento de crescimento de igreja e na vasta literatura e pregação de autoajuda que se tornou a dieta da subcultura cristã; e na obsessão terapêutica por espiritualidade interior e ativismo social que pode ser vista no movimento Igreja Emergente. Mesmo quando o evangelho é formalmente afirmado, ele se torna um instrumento para motivar a vida pessoal e pública (salvação por obras), e não um anúncio de que a ira justa de Deus foi satisfeita e de que seu favor imerecido foi dado gratuitamente em Jesus Cristo. Digo tudo isto com profunda tristeza por ter de dizê-lo, porque é a pior coisa que pode ser dita sobre uma igreja. Paulo falou severamente com os coríntios por causa de sua imoralidade, mas nunca questionou se eles eram realmente uma igreja. Mas, quando a igreja da Galácia estava confundindo o evangelho da justificação gratuita de Deus por meio da fé, Paulo os advertiu de que estavam em risco de serem excluídos – excomungados, “anátemas”. E a preocupação que expressei não se limita a alguns poucos calvinistas e 36 | Revista f é pa r a h o je

luteranos petulantes. De acordo com o bispo William Willimon, da Igreja Metodista Unida, “a autossalvação é o alvo de muito da nossa pregação”.8 Willimon percebe que muito da pregação contemporânea presume que a conversão é algo que nós produzimos por meio de nossas próprias palavras e ordenanças. “Neste respeito, somos herdeiros de Charles G. Finney”, o qual pensávamos que a conversão não é um milagre, e sim um “resultado puramente filosófico [ou seja, científico] do uso correto dos meios constituídos”. Esquecemos que houve um tempo em que os evangelistas eram obrigados a defender suas “novas medidas” de avivamentos, que houve um tempo em que os pregadores tinham de defender sua preocupação com a reação dos ouvintes aos seus detratores calvinistas, os quais pensavam que o evangelho era mais importante do que seus ouvintes. Estou aqui argumentando que avivamentos são miraculosos, que o evangelho é tão estranho, tão contrário às nossas inclinações naturais e às enfatuações de nossa cultura, que nada menos do que um milagre é exigido a fim de que haja um verdadeiro ouvir. Minha posição é, portanto, mais próxima da posição do calvinista Jonathan Edwards do que da posição de Finney.9 8  William H. Willimon, The Intrusive Word: Preaching to the Unbaptized (Eugene, Ore.: Wipf & Stock, 2002), p. 53. 9  Willimon, p. 20.


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