As bênçãos de Apocalipse - Nancy Guthrie

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“Alguns cristãos evitam o livro de Apocalipse, pensando tratar-se de um livro apenas para os brilhantes ou os paranoicos. Neste livro claro e envolvente, Nancy Guthrie nos faz caminhar pelo significado desse crucial livro da Bíblia, mostrando-nos como ele fala sobre bênçãos. O último livro do cânon não se encaixaria no bunker subterrâneo de um adepto da teoria da conspiração, mas é necessário àqueles que se perguntam como os temores, as preocupações e os arrependimentos da nossa vida podem ser transformados pelo que Jesus mostrou a João na ilha de Patmos, dois mil anos atrás. Depois de ler As Bênçãos de Apocalipse: Vivendo as Promessas de Deus Hoje, você nunca mais pulará Apocalipse em sua leitura bíblica, mas recorrerá a ele com fascinação e confiança, esperando ver Jesus. Este livro deixará você inspirado, pensativo e, sim, abençoado.” Russell Moore, Diretor do Projeto de Teologia Pública na revista Christianity Today

“Apocalipse é maravilhoso. Não precisamos ter medo desse livro. Deus nos deu Apocalipse para nos abençoar, não para nos assustar. Nancy Guthrie mostra essas bênçãos de forma clara e poderosa. Este livro combina interpretação fiel com muita aplicação sábia. Minha mente foi informada, e meu coração, aquecido. Deus nos deu Apocalipse para nos dar esperança, segurança e perseverança. Em um mundo onde enfrentamos tanta tribulação e perseguição, que doce é ser lembrado das promessas de Deus que temos em Cristo. Que o Senhor use este livro para mostrar a você mais da glória do Cordeiro de Deus e Leão da Tribo de Judá. E, vendo a glória dele, que você seja abençoado. Ele prometeu: ‘Certamente, venho sem demora’ (Ap 22.20). Este livro o ajudará a esperar a volta do seu grande Rei.” Alex Daher, Pastor da Igreja Batista Jardim Minesota (Sumaré, SP)

“O livro de Apocalipse é intimidador e até mesmo desencorajador para alguns crentes, de maneira que temos a tendência de ignorá-lo. Nancy Guthrie escreveu uma interpretação do livro que é maravilhosamente


clara, acessível e fiel. A visão teológica do livro é capturada na exposição que ela faz, mas a obra não para por aí. Guthrie explica de uma forma notável como o livro de Apocalipse se aplica a nós na atualidade. Leigos, alunos e qualquer um que deseje entender o livro de Apocalipse se beneficiarão da leitura e do estudo deste volume.” Thomas R. Schreiner, Professor de Interpretação do Novo Testamento que ocupa a cátedra James Buchanan Harrison no The Southern Baptist Theological Seminary

“O livro do Apocalipse é uma literatura que desperta diversas paixões — tanto naqueles que querem encontrar o exato modus operandi do retorno de Cristo quanto nos que, de tanto medo, se recusam a lê-lo com diligência. Nancy Guthrie nos apresenta um estudo cuidadoso da revelação de Jesus a João, ressaltando a importância desse documento para o nosso aqui, agora e hoje. Apocalipse está interessado em fomentar em nós a bendita esperança no futuro glorioso que é capaz de moldar e transformar o nosso presente. A bênção do amanhã tem o objetivo de que os crentes normais possam viver o sobrenatural dentro da rotina diária. Contemple o Cordeiro no Trono e desfrute agora mesmo das bênçãos que, um dia, serão plenas em Cristo, na sua parusia.” Paulo Won, Pastor da Igreja Presbiteriana Metropolitana (Campinas, SP); Diretor da Escola Didaskalia “A única coisa mais assustadora do que o livro de Apocalipse são os livros cristãos sobre o livro de Apocalipse — o dilúvio de referências cruzadas, as predições complexas sobre o futuro que deixam os olhos cheios de lágrimas, os diversos milenarismos. Isso não é o que ocorre com a presente obra. Nancy acredita que, assim como toda a Escritura, a intenção é que Apocalipse faça sentido para os cristãos comuns. O significado de Apocalipse está bem dentro do alcance de qualquer um que tiver a disposição de ler — debaixo de oração e cuidadosamente dentro do contexto — as palavras contidas em suas páginas. Nancy faz parecer tão simples, vívido,


comovente e prático — e decerto foi isso que Deus planejou quando deu a profecia ao seu servo João como uma bênção para todos os que leem e guardam no coração o que nela está escrito.” Andrew Sach, Pastor da Grace Greenwich Church (Reino Unido); Coautor de Pierced for Our Transgressions e Dig Deeper

“A leitura popular de Apocalipse normalmente causa medo e terror nas pessoas dentro e fora da igreja. Entretanto, esse livro foi escrito para causar bem-aventurança, ou seja, alegria para todos os que leem, ouvem e guardam suas palavras (1.3). Porém, como ter alegria diante dos cenários vividamente descritos em Apocalipse? Cinco das sete igrejas dos capítulos 2 e 3 estão espiritualmente enfermas, enquanto as duas elogiáveis padecem tribulações. Além disso, a igreja como um todo, ao longo da história, terá seus mártires padecendo em guerras, fomes e perseguições. Um dragão incansável e suas duas bestas monstruosas farão de tudo para acabar com a igreja, enquanto ela mesma é tentada com as seduções da grande Babilônia. É aqui que Nancy Guthrie, com seu maravilhoso livro, entra em cena para corrigir essa leitura negativamente enviesada. Ela nos ensina a estarmos alegres com Apocalipse, na medida em que o último livro da Bíblia nos revela o Cristo exaltado reinando soberano sobre todas as coisas. Ele conhece, ama, exorta e protege espiritualmente sua igreja, conduzindo-a à Nova Criação consumada pelo seu iminente retorno. Este livro certamente será uma grande bênção para a igreja lusófona, ajustando nossas lentes à intenção de João em Apocalipse.” Willian Orlandi, Pastor da Igreja Batista Reformada de Indaiatuba (Indaiatuba, SP); Professor de Novo Testamento no Seminário Jonathan Edwards

“Este guia do livro de Apocalipse é exatamente o que é necessário para indivíduos e grupos que querem estudar Apocalipse sem ficar intimidados. Ele é solidamente pesquisado e embasado, embora escrito com um


amplo público de leitores em mente. Ele é envolvente e cativante, com uma atenção às aplicações pessoais. Guthrie junta-se aos leitores de forma louvável ao admitir quando há desafios e dificuldades. Ainda assim, ela encoraja as pessoas a não pararem quando estiverem enfrentando desafios, mas a continuarem aprendendo a partir do que está claro na mensagem de Apocalipse. Conforme o título indica, o livro nos mostra as bênçãos a serem encontradas em Cristo.” Vern S. Poythress, Professor Egrégio de Novo Testamento, Interpretação Bíblica e Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary

“Eu fui tremendamente ajudada por este livro. Nancy nos carrega ao longo de Apocalipse com expectativa e fascinação. Embora alguns leitores não concordem com todas as conclusões de Nancy, todos nós nos posicionaremos junto com ela em admiração pelo grande Deus. Sairemos com um renovado senso de resistência para fugir do mal e nos apegarmos a Cristo, até que alcancemos o fim.” Colleen McFadden, Diretora de Workshops Femininos na Charles Simeon Trust

“O que eu normalmente quero dizer com a palavra abençoado não chega nem perto do que Cristo nos garantiu. Se você quer saber quão melhor é o significado dessa palavra, leia este livro.” Michael Horton, Professor de Apologética e Teologia Sistemática que ocupa a cátedra J. Gresham Machen no Westminster Seminary California

“Nancy nos relembra o que São João escreveu sobre dragões, águias e bestas — não para alimentar a especulação do século XXI sobre referências físicas precisas, mas para motivar a igreja em direção à piedade em meio


a uma cultura pagã. Apocalipse convida a igreja a juntar-se ao redor do trono do santo Deus, do Cordeiro e do Espírito, bem como a adorar em cada aspecto da vida. Precisamos de mais livros como este sobre a coroação da narrativa bíblica, e estou ansioso para ver como Deus usará este volume para a glória dele!” Benjamin L. Gladd, Professor Associado de Novo Testamento no Reformed Theological Seminary


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE Vivendo as promessas de Deus

NANCY GUTHRIE


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Guthrie, Nancy As bênçãos de Apocalipse : vivendo as promessas de Deus / Nancy Guthrie ; [tradução Karina Naves Mendes]. -- São José dos Campos, SP : Editora Fiel, 2023. Título original: Blessed: experiencing the promise of the book of revelation ISBN 978-65-5723-322-1 1. Apocalipse (Teologia) 2. Bíblia - Estudo 3. Escatologia - Doutrina bíblica I. Título.

23-181906

CDD-228.06 Índices para catálogo sistemático:

1. Apocalipse : Interpretação

228.06

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415 AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE: vivendo as promessas de Deus Traduzido do original em inglês Blessed: Experiencing the Promise of the Book of Revelation Copyright © 2022 por Nancy Guthrie. Todos os direitos reservados. Originalmente publicado em inglês por Crossway Wheaton, Illinois.

Copyright © 2023 Editora Fiel Primeira edição em português: 2023 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária.

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica. Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Editor-chefe: Tiago J. Santos Filho Supervisor Editorial: Vinicius Musselman Pimentel Coordenador Gráfico: Gisele Lemes Editor: André Soares Tradutor: Karina Naves Mendes Revisor: Gabriel Lago Diagramador: Rubner Durais Capista: Rubner Durais ISBN brochura: 978-65-5723-322-1 Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br


Em enorme humildade e com profunda admiração, dedico este livro aos meus irmãos e irmãs ao redor do mundo que vivem sob constante ameaça e têm experimentado significativa perda por causa de sua corajosa lealdade a Jesus e de sua recusa em ceder. Vocês estão entre aqueles dos quais o mundo não é digno (Hb 11.38). É improvável que eu os encontre nesta vida. Um dia, porém, me juntarei a vocês ao redor do trono de Deus e do Cordeiro. Cantaremos juntos sobre a dignidade do Cordeiro e louvaremos o Senhor Deus Todo-Poderoso pela forma como ele executou sua justiça. Um dia, estaremos face a face com o nosso Salvador, e confio que ele os olhará nos olhos e dirá: “Vocês venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Até lá, estou orando por vocês. Estou pedindo a Deus que os encha de graça e paz. Estou pedindo a ele que os fortaleça com paciente resistência enquanto aguardamos o retorno do Rei.



Sumário

Introdução

13

Sete declarações de bênção no livro de Apocalipse

29

1.

Abençoados por ouvirem a revelação de Jesus

31

2.

Abençoados por verem o Jesus glorificado

47

3.

Abençoados por serem conhecidos por Jesus

67

4.

Abençoados por adorarem a dignidade de Jesus

91

5.

Abençoados por serem protegidos por Jesus

111

6.

Abençoados por estarem em missão por Jesus

129

7.

Abençoados por viverem e morrerem em Jesus

151

8.

Abençoados por estarem prontos para a volta de Jesus

177

9.

Abençoados por estarem preparados como a noiva de Jesus 195

10. Abençoados por compartilharem da ressurreição de Jesus

213

11. Abençoados por viverem na Nova Criação com Jesus

231

12. Abençoados por guardarem as palavras de Jesus

251

Bibliografia

263



Introdução

E

u provavelmente deveria iniciar com uma confissão. Muitos anos atrás, quando, pela primeira vez, me pediram que ajudasse a guiar um estudo de Apocalipse em minha igreja, comecei a procurar uma forma de pular fora, de arranjar uma boa desculpa para dizer “não”. Eu estava completamente intimidada. Pensava em Apocalipse como uma coleção de estranhas criaturas e estranhos eventos de impossível compreensão, aos quais eu mesma não conseguiria dar sentido — quanto mais ensinar qualquer outra pessoa. Mas, então, pensei: “Eu provavelmente deveria ler o material antes de dizer ‘não’”. Assim, comecei a ler o livro. E, após ler apenas três versículos, deparei com o seguinte: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1.3). Quando li isso, pensei comigo mesma: “Será que, um dia, eu gostaria de dizer que existe uma bênção de Deus que a mim não interessa muito receber?” Continuei lendo até o fim, e lá estava novamente: “Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (Ap 22.7); “Não seles as palavras da profecia deste livro” (22.10). Eugene Peterson parafraseia este último versículo como: “Não as guarde em uma estante” (Ap 22.10, MSG). Quando li isso, pensei: “Isso é essencialmente o que tenho feito. Eu coloquei esse livro em uma estante, supondo que não serei capaz de entendê-lo e que não há necessidade de fazê-lo”. Percebi que precisava retirar Apocalipse da estante e me aplicar em ler, escutar e entender esse livro, bem como em submeter-me a ele e regozijar-me nele. Talvez você sinta a mesma necessidade. Se sim, estou realmente animada em abrir esse livro com você nas páginas a seguir. Porém, antes de começarmos, quero fazer três coisas. Primeiro, quero explorar alguns


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

motivos que temos para ignorarmos ou negligenciarmos o livro de Apocalipse. Em segundo lugar, quero argumentar em favor do motivo pelo qual investir na compreensão desse livro é algo que vale a pena. Em terceiro lugar, quero apresentar alguns pontos básicos para a compreensão da mensagem desse livro, os quais nos ajudarão à medida que trabalharmos nele.

Motivos pelos quais evitamos Apocalipse 1. Tememos não ser capazes de compreendê-lo. Apocalipse está repleto de estranhas criaturas, imagens de outro mundo e cenas que temos dificuldade de imaginar e decifrar. Ele demanda que usemos nossas imaginações, e não estamos muito acostumados a fazer isso quando lemos a Bíblia. Apocalipse é escrito em um gênero de literatura que não estamos acostumados a ler e que, portanto, não sabemos instintivamente como entender. Isso significa que, se pretendemos entender corretamente essa obra, precisamos desenvolver nossas habilidades para lermos o gênero literário da profecia apocalíptica. Ao fazermos isso, esse livro se abrirá para nós. O livro de Apocalipse não foi escrito para acadêmicos. Logo, você não precisa ser um acadêmico para entendê-lo. O livro é uma carta escrita aos crentes comuns do primeiro século com a expectativa de que eles entendessem sua mensagem. Ele foi escrito para desvelar ou revelar realidades escondidas, não para torná-las mais difíceis de ver e compreender. Apocalipse não foi escrito para criar confusão, conflito ou temor naqueles que o leem. Ao contrário, ele foi escrito para que os crentes comuns que ouvirem e abraçarem o que está escrito ali não sejam apenas capazes de entender o livro, mas também abençoados por ele — abençoados de uma forma contracultural, a qual o mundo simplesmente não pode entender e não valoriza.

2. Sabemos que há muita discordância sobre Apocalipse. O fato de haver muita discordância sobre Apocalipse é verdadeiro. Existe uma variedade de abordagens sobre como ler e entender Apocalipse, 14


Introdução

sendo algumas mais válidas do que outras. E existem muitas pessoas que possuem opiniões muito fortes sobre como ler e entender Apocalipse. Infelizmente, as diversas abordagens de interpretação podem ter a tendência de criar uma barreira que o fecha para muitas pessoas. E acho que isso é trágico. Deixe-me dizer-lhe logo de cara: se você começar este livro com a esperança de encontrar um aliado ou um parceiro de debate para suas visões interpretativas ou escatológicas que já estão completamente formadas, você pode se decepcionar. Embora minhas visões sobre alguns pontos de discordância possam estar evidentes em alguns lugares, não é meu objetivo argumentar contra visões opostas. Eu simplesmente não tenho o espaço nem a inclinação para isso. Na maioria dos casos, não apresentarei uma variedade de visões nem comentarei em favor da minha própria visão. Simplesmente declararei o que acho que as Escrituras nos apresentam. Não estou interessada na crítica, na controvérsia ou na especulação; estou interessada em apresentar o que está claro e que não pode ser ignorado.

3. Pensamos que Apocalipse trata, em sua maior parte ou completamente, do futuro, sem ter qualquer uso prático para nós nos dias de hoje. A maioria das pessoas supõe que Apocalipse trata principalmente ou até mesmo exclusivamente do futuro. Porém, pense por um momento. Será que realmente faria sentido que João endereçasse uma carta a sete igrejas do primeiro século, tratando, na maior parte, das coisas que apenas a geração viva no retorno de Cristo precisaria saber e reconhecer? Será que não faz muito mais sentido que João tenha escrito aos crentes de seus dias, bem como aos crentes de cada era entre seus dias e os dias do retorno de Cristo, sobre o que essas pessoas precisam saber, como devem viver e como podem lidar com as duras realidades da vida neste mundo? Apocalipse apresenta uma realidade passada, presente, contínua e futura que os servos de Jesus que vivem entre sua ascensão e seu retorno precisam enxergar. Ele lança luz sobre a história conforme ela se 15


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

desenrolou no passado e está se desenrolando agora. Ele serve como um corretivo para qualquer suposição que possamos ter de que o status quo continuará e de que a resistência ao sistema do mundo é fútil. É claro que existem coisas descritas no livro de Apocalipse que ainda não aconteceram. Há uma culminação futura do conflito em andamento que tem sido uma realidade em nosso mundo desde que Deus colocou inimizade entre a serpente e a mulher no Éden. Haverá uma batalha final. Jesus retornará. E Apocalipse nos ajudará a enxergar essas coisas com mais clareza. Isso, no entanto, não significa que o livro esteja inteiramente ou até mesmo principalmente focado no futuro. Apocalipse, na realidade, fala menos sobre quando Jesus retornará e mais sobre o que devemos fazer, quem devemos ser e o que devemos esperar suportar enquanto esperamos que Jesus volte e estabeleça seu reino. Temos a tendência de ser muito pragmáticos. Queremos sair de um estudo bíblico com uma lista do que fazer, e é possível supormos que a batalha cósmica representada em Apocalipse não seja útil para aplicações práticas. Mas isso simplesmente não é verdade. Apocalipse apresenta um repetido chamado urgente ao qual cada um de nós deve responder agora, hoje. Apocalipse tem tudo a ver com a maneira como investimos o capital de nossas vidas, com o que vale a pena ficar animado ou do que ter medo. Apocalipse refere-se às pequenas e grandes concessões que fazemos ao mundo à nossa volta, a como vemos nossos sistemas políticos e governamentais e às nossas expectativas quanto ao que o dinheiro pode providenciar para nós. Se estivermos preocupados com o que é prático, virá o dia quando olharemos para trás e ficará claro para nós que não havia nada mais prático do que a oração, nada mais prático do que a perseverança e nada mais prático do que louvar o Deus trino, mesmo quando o mal nos pressionava. Descobriremos que a adoração era a “atividade mais subversiva” em um mundo de idolatria e materialismo.1 Perseverar em nossa lealdade ao Rei Jesus mesmo quando isso nos custa, assim como viver como se não 1 Iain Duguid, “Doxological Evangelism in Practice: Preaching Apocalyptic Literature”, Conferência Westminster sobre Pregação e Pregadores, Westminster Theological Seminary, 21 de outubro de 2020.

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Introdução

esperássemos este mundo nos aplaudir, aprovar ou satisfazer, é algo subversivo. Isso é chocante, mas, ao mesmo tempo, é a vida cristã ordinária. Isso é o que se espera de um cidadão do reino dos céus que vive no reino do mundo.

4. Sabemos que há muito sobre a perseguição de crentes em Apocalipse, e isso nos deixa desconfortáveis. Talvez não seja tanto a estranheza ou a controvérsia de Apocalipse que nos afaste do livro. Talvez, para muitos de nós, seja o nosso amor pelo conforto e a nossa falta de habilidade em nos identificarmos com a situação de estarmos sob ataque por sermos crentes. A ameaça de sermos exilados a uma ilha prisional por declararmos lealdade ao rei Jesus está longe demais das vidas confortáveis que muitos de nós levam. Nós simplesmente achamos difícil nos identificarmos com a tensão, a ameaça e as consequências de vida ou morte do livro de Apocalipse. É difícil nos identificarmos com o “Até quando?” quando temos a segurança de uma casa bonita e um bom emprego, um jogo de futebol para assistir em uma grande tela de TV, comida sendo entregue em nossa porta da frente. Se formos honestos, talvez nossas vidas confortáveis e tudo aquilo que procuramos adquirir, alcançar e experimentar nos deixem completamente contentes caso Jesus espere um pouco mais para voltar e interferir nos assuntos deste mundo. Talvez, somente quando ousarmos nos permitir ser movidos pelos relatos de crentes em outras partes do mundo que são torturados ou mortos por sua fé, ou apenas depois de nos sentarmos com uma mulher que tenha sido estuprada e visto seu marido ser morto bem na frente dos seus olhos por extremistas islâmicos, ou só quando considerarmos pessoas reais cujas igrejas foram queimadas e seus pastores, executados, finalmente sentiremos a dor expressa em Apocalipse pelos crentes que perguntam quanto mais demorará até que Cristo venha corrigir as coisas. Apocalipse nos convida a compartilhar da dor da perseguição suportada por nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo e ao longo da história. E ele aborda essa 17


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dor, dizendo-nos que os dias nos quais o mal pode fazer o que quiser neste mundo estão contados.

Motivos pelos quais devemos estudar Apocalipse 1. É possível que não sejamos capazes de entender todas as coisas em Apocalipse, mas podemos entender sua mensagem central. Se nosso objetivo ao estudar Apocalipse é definir com precisão o que cada imagem retrata, o que significa cada símbolo e cada detalhe, é muito provável que ficaremos frustrados. Em vez disso, nosso objetivo deve ser ouvir e levar no coração o que realmente está claro. Para ajudá-lo a compreender a mensagem central de Apocalipse, eu preparei um estudo bíblico pessoal que acompanha este livro e que você pode encontrar em fiel.in/bencao-ap-guia-estudo-biblico. Você obterá muito mais deste livro se passar algum tempo respondendo a algumas perguntas do texto bíblico antes de ler cada capítulo. Nesse site, você também encontrará um guia do líder completo que inclui perguntas de discussão para ajudá-lo caso esteja usando este livro para liderar um grupo de estudo sobre Apocalipse. Vivemos em uma época muito dividida. Todos nós temos nossas opiniões, bem como opiniões sobre quais opiniões de outras pessoas valem a pena levar em consideração. E esse certamente é o caso em relação ao livro de Apocalipse. Alguns de nós podem estar mais confortáveis em focar as questões interpretativas ou em definir com precisão os detalhes do que em abrir a própria vida ao autoexame que o livro de Apocalipse exige de nós. A pergunta mais significativa é se estamos ou não dispostos a abraçá-lo e a viver à luz dele.

2. Precisamos enxergar este mundo e nossa vida neste mundo através da perspectiva do céu. Algumas vezes, supomos tolamente possuir todos os dados de que precisamos para avaliar o que está acontecendo em nosso mundo. Porém, não os possuímos. Nossas perspectivas são limitadas pela nossa humanidade 18


Introdução

e pelo nosso ponto de vista terreno. No livro de Apocalipse, descobrimos que uma cortina foi retirada para João poder ver além do tempo e do espaço desta vida terrena e enxergar o cerne da principal realidade. Ele foi capacitado para enxergar o que está acontecendo neste mundo, não a partir da perspectiva desta terra, mas da perspectiva do céu. À medida que absorvemos o que ele viu, descobrimos que estamos mais bem capacitados para enxergarmos a verdadeira natureza das coisas. Em vez de enxergar as ofertas deste mundo como atrativas, podemos, a partir da perspectiva do céu, enxergar quão feias e insatisfatórias são. Em lugar de enxergarmos a perseguição de um crente fiel como uma derrota trágica, somos capacitados a enxergar isso como uma vitória gloriosa.

3. Queremos a bênção que é prometida àqueles que “ouvem e guardam” esse livro. Muitos de nós têm uma percepção bem leve do que significa ser abençoado. O livro de Apocalipse corrigirá algumas de nossas suposições sobre como é uma vida abençoada para o crente comum como você e eu. E, uma vez que a bênção prometida em Apocalipse é reservada àqueles que “ouvem e guardam” o que está escrito nesse livro, seremos desafiados a pensar no que significará e no que será exigido de nós para que o ouçamos e guardemos. Apocalipse acrescentará um pouco de carne aos ossos do nosso entendimento sobre o que realmente é uma vida abençoada.

4. Precisamos viver a história que Apocalipse conta. Cada um de nós vive a história que acredita ser verdadeira. Alguns de nós vivem a história chamada de “o sonho americano”. Alguns de nós vivem a história que precisa terminar com um “viveram felizes para sempre”. Alguns de nós passaram a pensar que podem criar a sua própria história de vida em direção àquilo que lhes é mais atrativo. Contudo, existe uma história que eu e você deveríamos viver, uma história que deveria mudar a forma como vivemos o hoje e cada dia que está por vir. De acordo com Jesus, o Reino de Deus é a história. O livro de Apocalipse nos ajuda a 19


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

enxergar para onde essa história está caminhando, de forma que possamos vivê-la em alegre antecipação.

O que mais precisamos extrair do estudo de Apocalipse 1. Precisamos estar prontos para usar nossas imaginações visuais. Em muitos lugares da Escritura, os escritores bíblicos nos contam o que eles ouviram o Senhor lhes dizer. Apocalipse, no entanto, é diferente. João escreve sobre o que ele viu em quatro visões diferentes — uma visão de Cristo, uma visão no céu, uma visão no deserto e uma visão numa grande montanha. João desenha figuras magníficas com suas palavras, figuras que têm a intenção de deixar uma impressão e de comunicar uma realidade. Eu e você vivemos em um mundo que é vívido para nós. Somos inundados com imagens ao longo do curso de um dia típico. E essas imagens ameaçam definir a realidade para nós. Porém, elas não são a figura total da realidade. Apocalipse nos apresenta uma figura mais rica da realidade, a qual não podemos enxergar com nossos olhos físicos. Ele nos providencia uma oportunidade de enxergar além do tempo e do espaço deste mundo e de contemplar tudo isso da perspectiva do céu. As figuras que Apocalipse coloca diante de nós podem ser estranhas ou, em alguns casos, absurdas. Mas essas imagens alarmantes, envolventes e até mesmo chocantes têm a intenção de abalar a nossa complacência com relação aos males desta era e às bênçãos inimagináveis da era por vir. À medida que processamos as vívidas ilustrações de Apocalipse, a intenção é que tenhamos a sensação do hálito quente da besta e do cheiro de enxofre do abismo e que vejamos o arco-íris ao redor do trono. Essas imagens têm a intenção de nos chacoalhar da nossa sonolência e apatia bem como da trégua que temos feito com os modos do mundo. Nossa oração deve ser que, à medida que vemos essas coisas, elas deixem uma profunda impressão em nós, mudando a forma como sentimos, o que tememos e o que queremos. Esse é o propósito pretendido para elas. 20


Introdução

2. Precisamos desenvolver nossas habilidades de interpretação de símbolos. Apocalipse usa muito simbolismo. As visões de João incluem descrições de objetos físicos ou de fenômenos que, na verdade, representam outras coisas. É claro que Apocalipse não é o primeiro lugar onde o simbolismo é usado na Bíblia. Por exemplo, em Êxodo 19.4, quando Deus diz a Israel: “Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a mim”, ele não quer dizer que usou águias para tirar seu povo do Egito. O símbolo de uma águia comunica algo sobre a velocidade e a força do resgate de Deus. Jesus usou muitos símbolos para representar aspectos da sua própria pessoa e obra, dizendo que ele era um bom pastor, o pão da vida e a videira. De forma semelhante — e talvez até mais generalizada —, João usa símbolos para comunicar realidades algumas vezes complexas. A Babilônia é um símbolo da idolatria e imoralidade mundanas. O mar é um símbolo para o caos e a ameaça do mal. Cores e números têm significado simbólico. Algumas vezes, o significado dos símbolos de Apocalipse é simples ou até mesmo declarado explicitamente. Por exemplo, é-nos dito que os candeeiros representam as igrejas (1.20), que o linho branco representa os atos de justiça dos santos (19.8) e que a antiga serpente é o diabo (20.2). Entretanto, em alguns casos, é mais desafiador compreender com confiança o que é comunicado. Alguns intérpretes insistem que, se não lermos cada imagem presente em Apocalipse de forma literal, não levamos a Bíblia a sério. Porém, um aspecto importante de levar a Bíblia a sério é reconhecer e interpretar cada parte dela dentro do gênero literário utilizado pelo autor humano, conforme inspirado pelo autor divino. Interpretar símbolos de forma simbólica não é espiritualizar o texto; é interpretá-lo corretamente. Por exemplo, quando lemos sobre o Cordeiro de pé como se tivesse sido morto, nós, instintivamente, sabemos que João usa um simbolismo para comunicar algo sobre o Cristo crucificado. Quando ele fala de Deus e do Cordeiro sentados em um trono, sabemos que ele usa o simbolismo para comunicar 21


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

algo acerca da soberania de Deus sobre o universo e sobre a história. Quando ele fala da besta, comunica algo sobre a natureza e as intenções de Roma nos seus dias e em cada governo que se colocou contra Deus e seu povo desde então. Quando ele descreve um dragão com sete cabeças e dez chifres, comunica algo sobre o terrível poder de Satanás. Ao usar símbolos dessa forma, João revela a verdadeira natureza das coisas. Nosso primeiro e melhor passo para interpretar corretamente diversos símbolos será explorar se e onde um símbolo aparece anteriormente em livros da Bíblia e permitir que isso oriente significativamente o nosso entendimento. Depois precisamos considerar o que o símbolo teria significado para o público desse livro no primeiro século. Muitos dos símbolos em Apocalipse encontram ressonância em um mundo específico social, político, cultural e religioso do primeiro século. Eles não são um sistema de códigos à espera de uma correspondência de significado com povos e eventos dos dias atuais. Em vez disso, eles têm um significado teológico espiritual pertinente aos leitores de Apocalipse do primeiro século, e esse significado deve orientar como nós interpretamos seu significado para nós na atualidade.

3. Precisamos ter nossos olhos e ouvidos abertos para o imaginário do Antigo Testamento e as alusões ao Antigo Testamento. No livro de Apocalipse, João escreveu claramente o que viu e ouviu. Seu livro, contudo, está cheio de alusões ao Antigo Testamento, e há pelo menos dois motivos para isso. O primeiro motivo é que João viu e escreveu sobre a mesma realidade celestial que Isaías, Daniel, Ezequiel e Sofonias viram e sobre a qual escreveram. Não é de admirar que o trono que João viu seja muito parecido com o trono que Isaías viu. Não é de admirar que o reino que esmaga outros reinos seja muito parecido com o reino que Daniel viu. Não é de admirar que a nova Jerusalém que João viu seja muito parecida com a cidade que Ezequiel viu. Eles viram as mesmas coisas! O segundo motivo para Apocalipse ter tantas imagens veterotestamentárias é que João estava repleto das Escrituras hebraicas. Essas imagens estavam implantadas no subconsciente e na imaginação dele. Faz sentido que 22


Introdução

ele recorresse a palavras e imagens com as quais estava familiarizado para expressar as descrições do que tinha visto. Diferentemente de outras partes do Novo Testamento que citam o Antigo Testamento, Apocalipse não chama a atenção para suas citações do Antigo Testamento e alusões a ele. É mais sutil. O livro de Apocalipse supõe que aqueles que o leem e ouvem reconhecerão suas alusões ao Antigo Testamento e farão a conexão. Por isso, em vez de citar constantemente o Antigo Testamento, João simplesmente vê tudo e descreve tudo através das lentes do Antigo Testamento.

4. Precisamos ter uma noção de como o livro é organizado. Existem diversas maneiras de entender como o livro de Apocalipse é organizado.2 Kevin DeYoung apresenta diversas abordagens possíveis, inclusive a de enxergar Apocalipse como se o livro estivesse dividido em duas seções principais: os capítulos 1 a 11 introduzem a história do triunfo de Deus, e os capítulos 12 a 22 explicam a história em grande detalhe. Ou a obra pode ser dividida em quatro seções principais, cada uma das quais se inicia com João escrevendo “as coisas que em breve devem acontecer” ou “as [coisas] que hão de acontecer depois destas” (Ap 1.1, 19; 4.1; 22.6). Outra maneira sugerida por DeYoung de dividir o livro em quatro partes seria organizá-lo nas vezes em que João diz que foi transportado em espírito e recebeu uma visão (1.10; 4.2; 17.3; 21.10).3 Veremos que os números são muito significativos no livro de Apocalipse. Eles expressam a soberania de Deus sobre a história. O número quatro fala de completude em um sentido universal, global e mundial. O número seis refere-se à humanidade. O número sete fala de completude, perfeição e salvação. Ele representa o plano soberano de Deus em sua perfeição e completude. O número dez fala de completude na experiência e dimensão humanas. E o número doze fala de completude com relação à comunidade do povo de Deus, uma unidade na diversidade. 2 Vern Poythress apresenta numerosas maneiras de delinear Apocalipse em “Outlines of Revelation”, Westminster Theological Seminary, acessado em 6 de outubro de 2021, http://campus.wts.edu/~vpoythress/nt311/nt311.html. 3 Kevin DeYoung, “Revelation, Coronavirus, and the Mark of the Beast: How Should Christians Read the Bible’s Most Fascinating Book? (Part 1)”, blog de Kevin DeYoung, The Gospel Coalition, 6 de maio de 2020, https://www. thegospelcoalition.org/.

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AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

O número sete é especialmente importante em Apocalipse (utilizado 53 vezes), de modo que não devemos nos surpreender com o fato de que outra possível forma de organizar o livro é dividi-lo em sete conjuntos de sete: Prólogo (1.1-3) 1. Sete igrejas (1.4–3.22) 2. Sete selos (4.1–8.5) 3. Sete trombetas (8.6–11.19) 4. Sete grandes sinais (12.1–15.4) 5. Sete taças de ira (15.1–16.21) 6. Sete mensagens de juízo final (17.1–18.24) 7. Sete últimas coisas (19.1–22.5) Epílogo (22.6-20) A coisa mais importante que precisamos entender sobre a organização de Apocalipse é que o livro relembra os mesmos eventos de diferentes ângulos, cada um com uma ênfase ou um foco diferente. Como pensadores e leitores modernos, temos a tendência de esperar que os eventos representados em uma peça escrita estejam em ordem cronológica. De fato, muitos intérpretes tentam forçar uma ordem cronológica nos eventos descritos no livro de Apocalipse. Porém, se tentarmos fazer isso, descobriremos que Jesus é descrito vindo novamente diversas vezes e que há diversos juízos “finais”. Se tentássemos impor uma leitura cronológica sobre o livro, veríamos um vaivém em que povos perseguem o povo de Deus, são julgados por essa perseguição e, depois, tornam a perseguir o povo de Deus. E sabemos que isso não faz sentido. Em vez de ler Apocalipse como uma descrição cronológica de eventos, é útil reconhecer que João repetidamente narra os eventos que ocorrem entre a primeira e a segunda vindas de Cristo. Dessa forma, ele nos leva repetidamente ao final da história no livro e, depois, recomeça, mostrando o mesmo período a partir de um ângulo diferente. No início do livro, João concentra-se mais no tempo que culmina na segunda vinda de 24


Introdução

Cristo para promover o juízo e a salvação finais. Posteriormente, o foco está mais nesses eventos finais. Em “cada série de sete (sete selos, sete trombetas e sete taças), assim como dentro do interlúdio de Apocalipse 12 a 14, o leitor é trazido ao ‘fim’”.4 Portanto, à medida que cada uma dessas seções começa, é como se João pegasse a sua câmera e a movesse para outra localização ou outro ângulo e filmasse novamente a mesma cena, cada vez ajustando suas lentes para focar um aspecto diferente dela — e com maior intensidade. Isso significa que Apocalipse é feito de sete seções que são paralelas umas às outras — sete seções que descrevem o mesmo período, a saber, o tempo entre a primeira e a segunda vindas de Jesus — a partir de uma variedade de ângulos.5

5. Precisamos substituir uma fascinação não saudável sobre o futuro por uma determinação de seguir a Cristo no presente. Embora algumas pessoas queiram evitar Apocalipse, outras estão imensamente interessadas por ele. No entanto, algumas vezes esse interesse não é particularmente saudável. Alguns estão fascinados pela possibilidade de fazerem a correspondência do que escutam nos noticiários com os estranhos detalhes ou imagens do livro. Se é isso que você espera do presente livro, posso muito bem dizer-lhe que ficará decepcionado e talvez até irritado. Contudo, mais importante do que isso, se essa é a razão pela qual você quer estudar mais o livro de Apocalipse, você estará demasiadamente 4 Joseph R. Nally Jr., “Recapitulation: Interpreting the Book of Revelation?”, Third Millennium Ministries, acessado em 7 de setembro de 2021, https://thirdmill.org. 5 Para mais informações sobre a recapitulação das seções de Apocalipse que são paralelas umas às outras, veja William Hendricksen, More than Conquerors: An Interpretation of the Book of Revelation (Grand Rapids: Baker, 2015), p. 25-26 [edição em português: Mais que Vencedores, trad. Wadislau Martins Gomes (São Paulo: Cultura Cristã, 2018)], que escreve: “Diferentes seções atribuem a mesma duração ao período descrito. De acordo com o terceiro ciclo (capítulos 8–11), o período principal aqui descrito é de 42 meses (11.2) ou 1.260 dias (11.3). Agora, é um fato notável encontrarmos o mesmo período na próxima seção (capítulos 12–14), a saber, 1.260 dias (12.6) ou um tempo, tempos e metade de um tempo (três anos e meio) (12.14). Um estudo cuidadoso do capítulo 20 revelará que ele descreve um período que é sincrônico ao período do capítulo 12. Logo, por esse método de raciocínio, o paralelismo é justificado. Cada seção nos dá uma descrição de toda a era do Evangelho a partir da primeira até a segunda vinda de Cristo.” Veja também Anthony Hoekema, The Bible and the Future (Grand Rapids: Eerdmans, 1994), p. 223-26 [edição em português: A Bíbia e o Futuro (São Paulo: Cultura Cristã, 2012)], e G. K. Beale com David H. Campbell, Revelation: A Shorter Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2015), p. 22-25 [edição em português: Brado de Vitória: um Breve Comentário do Livro de Apocalipse, trad. Paulo Sérgio Gomes (São Paulo: Cultura Cristã, 2017)].

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preocupado com o futuro para conseguir captar as implicações da obra sobre a sua vida neste presente tão real. O livro de Apocalipse não foi escrito para entreter, ou para estabelecer uma linha do tempo para o futuro, ou ainda para satisfazer nossa curiosidade sobre quando Cristo retornará. Apocalipse foi escrito para fortificar os cristãos de forma que possam viver no mundo, suportando o tratamento duro e a alienação, com uma firme confiança de que este mundo não é tudo o que existe e de que, de fato, o que pode parecer derrota dará vez à vitória. Se, ao terminarmos este estudo, pudermos explicar cada símbolo, identificar cada alusão ao Antigo Testamento e traçar cada conexão, mas ainda estivermos intimidados pela opinião que o mundo tem de nós, enamorados com as riquezas deste século e atraídos pelo conforto e o prazer terrenos, não teremos ouvido e guardado verdadeiramente a mensagem do livro. Não teremos entendido e abraçado o livro de Apocalipse. Meu objetivo é abrir esse texto para você, removendo a intimidação e o fator medo. Desejo focar a sua atenção no Cordeiro que, embora em pé, parece ter estado morto. Quero ajudá-lo a ouvir a voz daquele que é Fiel e Verdadeiro, encorajá-lo a abrir a porta para aquele que bate, desafiá-lo a acolher a autoridade do Rei dos reis, convidá-lo a puxar uma cadeira na ceia das bodas do Cordeiro, direcioná-lo a encontrar seu lar na nova Jerusalém. É meu objetivo eliminar a confusão e ajudá-lo a enxergar a beleza, a esperança e o auxílio que são apresentados de forma única nesse livro. Desejo focar o seu olhar no glorioso Filho do Homem e instilar em você a determinação de vencer o mundo. Quero que você seja trazido para a adoração ao redor do trono. Quero que você sinta o alívio de alguém que foi encontrado digno de abrir o livro. Quero que você sinta a realidade do julgamento que está por vir sobre todo aquele que se recusar a juntar-se a Cristo, bem como o alívio, o descanso e a recompensa que estão por vir àqueles que pertencem a ele. Quero ajudá-lo a enxergar este mundo como a Babilônia que ele é, a fim de que você se sinta motivado a fugir dele para a nova Jerusalém, onde o próprio Deus fará a morada dele com você. Quero que você sinta arrepios por quase ser capaz de sentir tanto o gosto 26


Introdução

da comida que será servida na ceia das bodas quanto a mão que enxugará suas lágrimas. Desejo que você quase seja capaz de ver os olhos do seu Salvador fitando os seus quando você finalmente o vir face a face. Eu entendi algo conforme estudei Apocalipse. Nós começamos um estudo desse livro pensando que nosso maior desafio será entendê-lo. E não é. O maior desafio é abrir-nos para os ajustes em nossas vidas aos quais esse livro nos chama. No entanto, esse desafio maior também é o que promete as maiores bênçãos. Trabalhemos, portanto, no livro de Apocalipse, parando a cada passo do caminho para considerar o que para nós significa ouvir e guardar o que está escrito nele, de forma que estejamos aptos a experimentar desde já suas bênçãos prometidas.

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Sete declarações de bênção no livro de Apocalipse Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. — Apocalipse 1.3 Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. — Apocalipse 14.13 (Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha.) — Apocalipse 16.15 Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus. — Apocalipse 19.9 Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. — Apocalipse 20.6 Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro. — Apocalipse 22.7 Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. — Apocalipse 22.14



Capítulo 1

Abençoados por ouvirem a revelação de Jesus Apocalipse 1.1-8

A

grande revelação. É nisso que consistem os programas televisivos de reforma de casas. Tudo começa com uma propriedade que tem… potencial. Certamente, ela também tem problemas. As pessoas que farão a reforma fazem um plano. Inesperadamente, desafios como contrapisos apodrecidos e fundações que estão afundando aparecem ao longo do caminho. O relógio está andando. O orçamento é esticado. Uma equipe incontável de eletricistas, carpinteiros e decoradores tem trabalhado nos bastidores. Então, finalmente chegamos ao ponto que todos esperávamos: a grande revelação. No programa Do Velho ao Novo, Chip e Joanna Gaines se posicionam nos extremos opostos de dois painéis que mostram uma fotografia em tamanho real de como era a propriedade antes de começarem a trabalhar nela. Depois, os painéis são puxados um para cada lado. O que estava escondido é finalmente revelado. Essa imagem de puxar as cortinas a fim de podermos ver aquilo em que os especialistas em reformas e suas equipes trabalharam para recriar nos ajuda a entender do que trata o livro que estamos prestes a começar a estudar. Deus esteve e está neste momento trabalhando em um reino que não somos capazes de enxergar com os olhos humanos. Porém, para que saibamos o que ele fez, está fazendo e fará para reformar o lar que ele pretende compartilhar conosco, Deus puxou a cortina e convidou João a olhar. João escreveu para nós o que viu. Apocalipse é o registro escrito de João do que ele viu por trás do véu que separa o céu e a terra. Essa é a


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

maior de todas as grandes revelações, especialmente quando consideramos quem nos revela isso. O livro começa: Revelação de Jesus Cristo. (Ap 1.1)

Se estivéssemos lendo esse livro em grego, ele nos diria que esse é o apokalypsis de Jesus Cristo. “Apocalipse” significa desvelamento ou descobrimento de algo que estava previamente escondido. É útil iniciar nossa jornada no livro de Apocalipse nesse ponto, pois muitos de nós chegaram a pensar que esse é um livro misterioso, um livro fechado, um livro difícil de entender — até mesmo um livro sobre o qual as pessoas parecem gostar de discutir mais do que gostam de entender ou de aplicar. Porém, evidentemente, esse livro não foi escrito para nos confundir, assustar ou dividir em campos de opinião. Ao contrário, ele foi escrito para dar aos servos de Jesus Cristo do primeiro século, bem como aos servos de Jesus Cristo que viveram em cada século desde então, a confiança no que Deus está fazendo para cumprir seus propósitos para este mundo. Sem dúvidas, desvelar ou descobrir o que está escondido não é o que a maioria pensa quando ouve a palavra Apocalipse. A maioria pensa em Apocalipse como um evento cataclísmico que marcará o fim da vida na terra como a conhecemos. E, sim, o livro de Apocalipse efetivamente revela algumas coisas sobre a maneira como a vida na terra conforme a conhecemos chegará ao fim e dará lugar a um novo céu e uma nova terra. Entretanto, esse livro não diz respeito meramente — talvez nem principalmente — ao futuro. Ele tem algumas coisas significativas para nos revelar sobre o presente. Para ajudar-nos a entender o que João quis dizer quando falou desse livro como um apocalipse, pode ser útil reconhecer que essa não é a primeira vez que a palavra foi usada no Novo Testamento. Jesus usou a palavra duas vezes quando declarou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste [‘apocalipsaste’] aos pequeninos. […] Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o 32


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quiser revelar [‘apocalipsar’]” (Mt 11.25-27). Mais à frente no Evangelho de Mateus, lemos que, depois de Pedro afirmar que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus disse que não foram carne e sangue que tinham revelado [“apocalipsado”] isso a Pedro, mas “meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.16-17). Quando o apóstolo Paulo buscou descrever como ele veio a entender o Evangelho, escreveu: “eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação [apocalipse] de Jesus Cristo... foi do agrado dele [Deus] revelar [‘apocalipsar’] seu filho a mim, para que eu o anunciasse aos gentios” (Gl 1.12, 15-16; NVT). Embora Paulo tivesse passado toda a sua vida estudando os rolos do Antigo Testamento, ele não foi capaz de ver quem Jesus realmente era até que Deus o revelasse — ou “apocalipsasse” — sobrenaturalmente a ele na estrada para Damasco.1 A João foi dado um apocalipse de Jesus Cristo, e, nas páginas do livro de Apocalipse, ele escreveu o que viu. Aqui, o que esteve escondido será revelado — o Cristo ressurreto e glorificado que estava escondido, as hostes angélicas e demoníacas que estavam escondidas, a hipocrisia dos falsos crentes que estava escondida, a beleza da noiva de Cristo que estava escondida, a feiura do sistema do mundo que estava escondida, o plano para a renovação de todas as coisas que estava escondido. Conforme estudarmos esse livro, descobriremos que um apocalipse pode nos revelar que algumas das coisas que pensávamos ser importantes, belas ou seguras são, na realidade, passageiras, feias e estão destinadas à destruição. Algumas coisas nas quais temos investido nossa vida, com as quais temos contado, as quais temos esperado e das quais temos dependido não são tão significativas nem oferecem tanta certeza como pensávamos. À medida que trabalhamos no livro de Apocalipse, a verdadeira natureza dessas coisas será descoberta para podermos enxergá-las através das lentes da realidade, a partir do ponto de vista do próprio céu. 1 Tim Mackie apresenta esses usos anteriores da palavra grega apokalypsis no Novo Testamento em “Apocalyptic Please—Apocalyptic E1”, The Bible Project (podcast), 27 de abril de 2020, https://bibleproject.com/.

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AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

Ouvindo Apocalipse como uma profecia apocalíptica Então, a palavra apocalipse significa simplesmente “descoberto” ou “revelado”. No entanto, depois que João escreveu o livro de Apocalipse, a palavra apocalíptico também passou a descrever o singular gênero literário que está refletido em Apocalipse, bem como em outros livros proféticos da Bíblia, como Daniel, Ezequiel e o Discurso no Monte das Oliveiras, em Mateus e em Marcos. O gênero apocalíptico bíblico, como um subconjunto da profecia, enfatiza o levantar do véu entre o céu e a terra, a fim de permitir que o profeta veja uma figura completa da forma como Deus tem desenvolvido seus planos para este mundo. Na literatura apocalíptica, lemos, com frequência, os registros de sonhos, experiências de visões ou jornadas ao céu. Os escritores usam um simbolismo vívido para descrever o que viram, bem como a mensagem que lhes foi mediada por um ser celestial ou angélico. O gênero apocalíptico geralmente é algo de outro mundo, de maneira que, quando o lemos, temos a sensação de estarmos “perdidos em uma névoa de imaginário”.2 Talvez a forma mais sucinta de descrever a literatura apocalíptica é dizer que ela descreve eventos terrenos a partir de uma perspectiva celeste. Traços e características comuns na profecia apocalíptica na Bíblia incluem: ~ visões celestiais ~ anjos e demônios ~ criaturas bizarras ~ imagens e números simbólicos ~ o uso abundante de metáfora ~ eventos cataclísmicos ~ cenas de julgamento e destruição3 2 Tim Mackie, “The Jewish Apocalyptic Imagination—Apocalyptic E4”, The Bible Project (podcast), 18 de maio de 2020, https://bibleproject.com/. 3 Essa lista é adaptada de uma lista semelhante feita por David R. Helm em “An Approach to Apocalyptic Literature: A Primer for Preachers”, Charles Simeon Trust, 2009, https://simeontrust.org/.

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É seguro dizer que a maioria dessas coisas estão fora da nossa vida cotidiana. Algumas vezes você e eu precisamos de algo fora do ordinário para realmente chacoalhar nosso pensamento e ajustar a nossa perspectiva. Esse algo deve ser ousado, dramático. E é exatamente isso que nos é dado no livro de Apocalipse e em outras profecias apocalípticas. Apocalipse nos chacoalha da nossa complacência e daquilo que tem se tornado uma maneira profundamente entranhada de olhar o mundo e a nossa vida. Na profecia bíblica apocalíptica, são reveladas as coisas secretas de Deus que são inacessíveis ao conhecimento humano normal sobre a execução do plano dele para a história. A cortina é puxada para que enxerguemos que os poderes deste mundo serão vencidos e substituídos pelo Reino de Deus. Podemos pensar nisso como um novo registro sobre o que está acontecendo na terra, conforme relatado a partir do céu. Anjos e demônios que estão ativos na terra estão em completa exposição. Vemos eventos passados, presentes e futuros em vívidas cores cósmicas, comunicados a nós na forma de imagens e impressões, metáforas e símbolos. Para alguns de nós, a natureza sobrenatural desse tipo de literatura é desagradável. Tão logo começamos a ler sobre dragões e bestas que possuem muitos olhos ou sobre gafanhotos com rostos humanos, alguns de nós pensam: “Esqueça isso. Estudemos algo mais simples. Sejamos consolados pelos Salmos ou desafiados pelos ensinos de Jesus nos Evangelhos. Acompanhemos o argumento de Paulo em Romanos.” Porém, temos muito a ganhar ao nos esforçarmos para interpretar corretamente o que o autor divino e o humano escolheram nos escrever na forma do gênero apocalíptico. O livro de Apocalipse tem sua forma única de nos levar a Cristo, de iluminar sua pessoa e obra e de nutrir em nós o amor por ele. Ele simplesmente não permitirá que descansemos nos louros das épocas passadas em que vivemos pela fé e fomos ousados em nosso testemunho de Jesus Cristo. Ele exige de nós uma obediência e uma ousadia renovadas no presente. Ele não permitirá que nos conformemos com o tipo de fé que reflete a vida de alguém que vai à igreja aos domingos e, depois, vive como qualquer outra pessoa durante a semana. Ele tem a intenção de nos 35


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

chacoalhar da nossa apatia e das nossas concessões. Ele tem a intenção de infundir fascinação à nossa adoração. Embora as criaturas e os eventos sobre os quais João escreveu pareçam fantásticos e talvez até o produto de uma imaginação vívida, João quer deixar claro que ele não está inventando essas coisas. Ele está testificando o que viu. De fato, bem no primeiro versículo, ele nos diz a origem de suas visões e como elas lhe sobrevieram: Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João. (Ap 1.1)

Deus Pai deu essa revelação a Jesus, o qual a fez conhecida a João ao lhe enviar seu anjo. E, ao escrever o que viu e ouviu, João passou-a aos servos de Jesus: Deus Pai → Jesus → o anjo de Jesus → João → os servos de Jesus

E o que estava contido no que foi dado por meio dessa cadeia? “As coisas que em breve devem acontecer.” O que isso significa? Na realidade, falar dessa forma na era entre a ascensão de Jesus e seu retorno corpóreo é consistente com o que foi escrito ao longo do Novo Testamento. Paulo finalizou sua carta aos Romanos dizendo que “o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás” (Rm 16.20). Tiago exortou seus leitores a serem pacientes e a fortalecerem o coração, pois a vinda do Senhor “está próxima” (Tg 5.8) e o Juiz está “às portas” (5.9). Pedro preveniu seus leitores a serem sóbrios e vigilantes em oração, uma vez que “o fim de todas as coisas está próximo” (1Pe 4.7). Quando lemos que esse livro diz respeito às “coisas que em breve devem acontecer” e que “o tempo está próximo”, a intenção é enxergarmos que o que foi escrito nesse livro sobre a vinda do Reino de Deus foi colocado em andamento pela morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Enquanto João escrevia, o Reino de Deus se espalhava pelo mundo à 36


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proporção que o Evangelho também se espalhava. Aqueles que haviam pertencido ao reino das trevas estavam sendo transferidos para o Reino de Jesus (Cl 1.13). A oposição ao Reino de Deus descrita no livro de Apocalipse não era meramente algo que aconteceria no futuro distante. Era uma realidade presente para aqueles que ouviram esse livro sendo lido pela primeira vez. Além disso, é uma realidade presente para nós agora. [ João] atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu. (Ap 1.2)

João viu as realidades celestiais e, depois, à semelhança dos profetas do Antigo Testamento, foi encarregado de escrever tudo o que tinha visto.4 Ele foi convidado a ir (1) à sala do trono celeste, para ver os seres que estavam lá e o que faziam; (2) ao deserto terreno, a fim de ver o sistema do mundo; e (3) a uma alta montanha, de onde ele poderia ver a nova Jerusalém. Apocalipse é um registro escrito de tudo o que João viu nessas visões. Você consegue imaginar como é enxergar as realidades celestiais e, depois, tentar colocá-las em palavras, para que as pessoas que não as viram por si mesmas tivessem a capacidade de entendê-las? Como você teria o vocabulário para isso? Você teria de comparar o que viu às coisas com as quais os seus leitores estavam familiarizados. Você tentaria pintar figuras com palavras — exatamente o que João fez nesse livro.

Ouvindo Apocalipse como uma promessa Essas figuras pintadas por palavras nesse livro têm a intenção de nos afetar profundamente. De fato, há uma promessa nesse livro para aqueles que o abrirem por si mesmos a fim de serem mudados pelo que virem: 4 No livro de Daniel, lemos que Deus enviou o anjo Gabriel para levantar o véu, de forma que Daniel pudesse ver como esse emissário tinha se atrasado por estar batalhando contra uma força demoníaca. Em Ezequiel, lemos que uma voz do céu mandou Ezequiel escrever suas visões da movimentação da glória de Deus. Em Zacarias, o profeta registra oito visões que incluem cavalos, chifres, candeeiros e um rolo que voava.

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AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. (Ap 1.3)

A bênção, de acordo com esse versículo, está destinada primeiro àqueles que lerão esse livro em voz alta. Apocalipse foi originalmente planejado para ser lido em voz alta às sete igrejas às quais foi endereçado. Ele foi escrito de tal forma que, quando aqueles que estivessem na igreja nos dias de João ouvissem a leitura do livro, seriam capazes de entender sua mensagem. Isso significa que o livro foi escrito para passar uma mensagem e instigar a imaginação, em vez de traçar um argumento. Ele foi escrito para evocar adoração, confiança, antecipação e esperança naqueles que o ouvissem sendo lido. Ele foi escrito para que os ouvintes tivessem a sensação do quadro mais amplo, em vez de ficarem obcecados com os detalhes. E isso também se aplica a nós. Para alguns de nós, a ideia de não tentarmos compreender com certeza o significado de cada palavra do texto que estudamos vai contra nossos instintos sobre o que definiríamos como um “estudo bíblico sério”. Queremos sair do nosso estudo com o entendimento claro de cada detalhe do nosso texto. Todavia, estudar Apocalipse requer um conjunto diferente de habilidades. “É mais como estudar uma pintura impressionista; se olharmos muito de perto, podemos perder a visão do quadro mais amplo.”5 Se insistimos em dominar cada detalhe das imagens fantásticas, correremos o risco de perder a mensagem. Imagine que você faz parte de uma daquelas sete igrejas na Ásia que foram as primeiras a receber a carta. Um leitor se levantou no meio da sua congregação para ler uma carta que João, o apóstolo, tinha endereçado à sua igreja. Você está na beirada do assento. Então, ele começa a ler. Muito rapidamente, você percebe que é necessário fazer alguns ajustes na forma como você escuta e processa o que ele escreveu, pois essa carta não é como qualquer das epístolas de Paulo, Pedro, Tiago ou João, as quais já circularam e foram lidas em voz alta na sua igreja anteriormente. A leitura 5 Iain Duguid, “Doxological Evangelism in Practice: Preaching Apocalyptic Literature”, Conferência Westminster sobre Pregação e Pregadores, Westminster Theological Seminary, 21 de outubro de 2020.

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dessa carta é mais como uma apresentação dramática. Todas as pessoas naquele ambiente têm uma experiência semelhante. A percepção delas do que realmente está acontecendo em sua igreja e no mundo é alterada pela experiência de entrar nas visões dramáticas de João. À medida que você anda de volta para casa, passando por toda a arquitetura romana e contemplando toda a evidência do governo romano, você descobrirá que agora está enxergando por meio das lentes das vívidas imagens correspondentes que constam na carta de João. Você viu uma realidade alternativa, que, na verdade, é a verdadeira, e isso mudou a forma como você enxerga todo o resto. A frase de João — “bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia” — provou-se verdadeira. Deus abençoou a leitura em voz alta de sua Palavra, o que se evidencia pela forma como todos que a ouviram em sua igreja estão pensando e sentindo, cantando e sofrendo, adorando e esperando. Você foi abençoado pela leitura, mas não meramente por ouvi-la. Você foi abençoado porque o que ouviu está mudando a forma como pensa, como sente, o que diz e o que crê. Não há nenhuma bênção mágica em simplesmente escutar o que é revelado em Apocalipse. Não há bênção alguma para aqueles que ouvem a mensagem e escolhem ignorá-la, rejeitá-la, rebelar-se contra ela ou simplesmente tratá-la como algo para satisfazer a curiosidade. A bênção se destina àqueles cujas vidas são impactadas e moldadas pelo que está no livro. Apocalipse muda a prioridade das pessoas. Edifica-lhes a coragem. Impacta a forma como gastam o dinheiro. Leva-as a adorar em espírito e em verdade. Coloca-as de joelhos em oração. Encoraja o testemunho delas. Remove o medo da morte. Enche as pessoas de imaginação e fomenta sua expectativa com respeito à direção para a qual a história se encaminha, além de moldar o entendimento de como o sofrimento delas se resolverá no novo céu e na nova terra. Os primeiros servos de Jesus que ouviram o que está escrito em Apocalipse eram crentes na Ásia do primeiro século. Aquilo foi exatamente o que eles precisavam ouvir em seus dias. Contudo, não era simplesmente o que eles precisavam ouvir. João escreveu para cada crente em cada século desde então. Apocalipse sempre tem sido exatamente a verdade que os crentes precisam ouvir, a realidade que os crentes precisam enxergar. Ele nos mostra: 39


AS BÊNÇÃOS DE APOCALIPSE

~ a oposição que podemos esperar aumentar ~ a perseverança que precisamos cultivar ~ o julgamento que celebraremos ~ a vitória da qual participaremos ~ os inimigos de Jesus que serão aniquilados ~ as tristezas que ele aliviará ~ a criação que ele regenerará ~ o casamento que ele consumará ~ e o lar que podemos esperar compartilhar com ele para sempre. Isso é o que eu chamo de bênção.

Ouvindo Apocalipse como uma carta Então, o livro de Apocalipse é uma profecia apocalíptica, a qual consiste em um gênero literário à parte. Ele inclui a promessa de bênçãos para aqueles que o ouvem e guardam. Também é uma carta ou uma epístola. Depois de João explicar a procedência e a promessa do livro, ele se dirige a um grupo específico de destinatários: João, às sete igrejas que se encontram na Ásia. (Ap 1.4a)

Apocalipse não apenas contém cartas às sete igrejas; ele é uma carta que João pretendeu circular entre sete igrejas na Ásia. Ela foi escrita para suprir as necessidades muito reais dos crentes em seus dias. Alguns desses crentes tinham cedido e precisavam ser sacudidos. Alguns suportavam uma perseguição custosa e precisavam ser fortalecidos. Todos eles precisavam entender a batalha cósmica contra o mal que estava sendo travada no céu e na terra e que seria resolvida no estabelecimento do Reino de Deus, na vinda do Rei. Então, por que essas sete igrejas? Certamente havia outras igrejas na Ásia. Descobriremos que o número sete tem um tremendo significado em Apocalipse. Algo é comunicado todas as vezes que nos deparamos com 40


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qualquer conjunto de sete no livro. Sete é um dos números de completude. Assim, ao dirigir-se às sete igrejas, João diz que sua carta é escrita às igrejas como um todo, aos cristãos ao longo dos séculos. Cada uma das sete igrejas às quais a carta se destina representa dificuldades e vitórias que estão presentes na igreja em todas as gerações. Os consolos e os mandamentos presentes na carta não estão reservados apenas aos crentes que viviam na Ásia no final do primeiro século. Após indicar a quem a carta é destinada, obtemos uma ideia do que lhes será transmitido por meio dela: Graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. (Ap 1.4b-5a)

Nós lemos outras cartas no Novo Testamento que começam com uma saudação de graça e paz. Por isso, talvez seja fácil passar logo por essa saudação como se fosse um padrão de polidez. Porém, não acho que devemos proceder assim. João sabe que os crentes que ouvirão a leitura dessa carta precisarão de ajuda sobrenatural para serem capazes de guardar e obedecer ao que está escrito ali. Eles precisarão de graça para perseverar, em vez de fazerem concessões. Precisarão de paz para suportar o conflito constante com o sistema do mundo. Esse tipo de graça e de paz tem apenas uma fonte, e essa fonte é exatamente quem João diz que providenciará a graça e a paz. Cada membro da Trindade está participando para suprir essas coisas. João se esforça por apresentar o Pai, o Espírito e o Filho como a fonte para essa graça e essa paz. Aqui ele se refere ao Pai como “aquele que era, que é e que há de vir”. Estamos prestes a ler sobre algumas realidades muito difíceis. Ao encarar essas realidades, podemos ter certeza do sustento do Deus “que era” — o Deus que sempre tem sido um auxiliador para o seu povo — e do Deus “que é” — aquele que mesmo agora está cuidando do seu povo. Estamos prestes a ler sobre algumas realidades impressionantes do futuro. Podemos estar certos do cuidado soberano do Deus “que há de 41


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vir” sobre essas realidades. Depois, ele fala do Espírito Santo como “sete espíritos que se acham diante do seu trono”. Podemos ter certeza de que o Espírito Santo providenciará essa graça e desenvolverá sua paz nos servos de Jesus. Em seguida, ele nos dá três nomes ou títulos para o Filho, cada um dos quais nos transmite graça e nos traz paz: ~ Jesus é a Fiel Testemunha. Podemos confiar que Jesus nos contará a verdade sobre nós mesmos, sobre o mundo onde vivemos, sobre o futuro, sobre todas as coisas. ~ Jesus é o Primogênito dos mortos. Ele foi o primeiro ser humano a ressuscitar dos mortos e a nunca morrer novamente. Porém, ele não será o último! Ele é a nossa esperança para a vida além desta vida quando a nossa vida for ameaçada. ~ Jesus é o Soberano dos reis da terra. Às vezes, parece-nos que os governos e as organizações, as filosofias e a cultura dominante têm todo o poder neste mundo. Mas eles não têm. Alguém governa sobre eles. Seus dias estão contados. Esses três títulos de Jesus parecem levar João ao louvor. Quase podemos imaginá-lo olhando para cima dos seus escritos, levantando suas mãos em direção ao céu e dizendo: Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap 1.5b-6)

João é movido a adorar esse Deus trino que está revelando muito sobre quem ele é, o que ele está fazendo e o que está para fazer nas “coisas que em breve devem acontecer”. Não é um ser robótico e remoto que revela essas coisas. João recebe essa revelação de alguém “que nos ama”. É sempre mais fácil ouvir coisas difíceis quando elas vêm de alguém que nos ama, não é mesmo? E como sabemos que ele nos ama? João o afirma claramente em uma de suas cartas anteriores que conhecemos como 1 João: 42


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“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). O amor de Jesus por nós não é meramente sentimental; é sacrificial. Ele demonstrou ativamente seu amor por nós ao oferecer a si mesmo como um substituto, de tal forma que o pecado não tem sobre nós o poder que antes tinha. Nós fomos “libertos dos nossos pecados pelo seu sangue” — libertos da pena e do poder do pecado. No próximo versículo, João combina imagens familiares sobre o Messias de Daniel 7.13 e de Zacarias 12.10, a fim de voltar nosso olhar em direção à antecipação do dia em que Jesus retornará a esta terra em poder e glória: Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém! (Ap 1.7)

O mundo inteiro o verá quando ele vier. Sua vinda não será um segredo. Não obstante, também não será um dia de celebração para todos que o virem. Para aqueles que o rejeitaram, ignoraram e recusaram sua oferta de graça e misericórdia, sua vinda será um dia de grande pranto e lamento. Todos aqueles que o crucificaram, rejeitaram, zombaram dele e recusaram-se a crer nele finalmente verão sua glória. E isso os fará cair de joelhos sob o peso da tristeza e do remorso. Finalmente, João nos capacita a ouvir o próprio Deus falar. O que Deus fala sobre si mesmo nos garante que ele é uma fonte confiável para tudo o que estamos prestes a ler nesse livro: Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso. (Ap 1.8)

Por um momento, pense sobre tudo o que alguém que é, que era e que há de vir já pode ter visto. Pense em tudo o que ele sabe, em tudo o que entende a partir da perspectiva que tem. E, em seguida, imagine que ele quer puxar o véu que existe entre o céu e a terra para você ver, conhecer 43


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e entender essas coisas. Imagine que ele quer que você tenha a perspectiva dele sobre o que acontece no mundo, a perspectiva dele sobre o que acontece em sua vida. Esse é o grande propósito do livro de Apocalipse. Deus escolheu “apocalipsar”, isto é, revelar sua perspectiva a nós, para que encaremos a incerteza, a injustiça e o mal da vida neste mundo com fé e esperança. Duas vezes nesses oito versículos de abertura, Deus identificou a si mesmo como aquele “que era, que é e que há de vir”. Nós o ouviremos dizer isso novamente em 4.8 e também mais adiante no livro, só que, dessa vez, será levemente diferente. Mais à frente, nós o ouviremos identificar a si mesmo como aquele “que era e que é” (11.17; 16.5). Ele deixará de fora o “que há de vir”. Por quê? Porque ele terá vindo! Finalmente, Deus identifica-se como “o Todo-Poderoso” (1.8). Deus revela a si mesmo às pessoas que podem ter se perguntado se ele estava ciente do sofrimento pelo qual passavam, se elas realmente deviam colocar a própria vida em risco por causa do Evangelho, se estavam arriscando tudo por algo que não era real ou verdadeiro. Ele, então, as relembra do seu nome — um nome que reflete a realidade de que ele tem o poder e a posição de controlar todas as coisas. Governos opressivos estão sob o controle dele. Falsos mestres estão sob o controle dele. O mal está sob o controle dele. O sofrimento dos seus santos está sob o controle dele. A destruição do mal está sob o controle dele. O tempo está sob o controle dele. A Terra e as estrelas estão sob o controle dele. Todas as coisas estão sob o controle dele, pois ele não é apenas poderoso; ele é o Todo-Poderoso. Imagine o que significaria para nós se nada do que nos foi mostrado nesses oito primeiros versículos fosse verdadeiro. E se Deus não escolhesse revelar ou descobrir essas coisas para nós? E se ele não agisse para nos revelar a direção na qual a história caminha? A tristeza e a perseguição que tantos suportam por ele pareceriam insignificantes e verdadeiramente insuportáveis. Imagine se nós não tivéssemos recurso algum para a graça ou a paz. Sem Jesus como a fiel testemunha, como saberíamos o que é verdadeiro em um mundo de tantas mentiras? Sem Jesus como o primogênito dos mortos, como teríamos qualquer esperança de vida além dos números dos nossos anos nesta terra? Sem Jesus como soberano dos reis da terra, o 44


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que nos impediria de nos desesperarmos com a corrupção, a opressão e a miséria tão difundidas em nosso mundo? Se Jesus não tivesse nos amado ao libertar-nos dos nossos pecados, ainda seríamos governados por eles e, no futuro, estaríamos destinados à destruição por causa deles. Se ele não nos tivesse feito reino e sacerdócio ao seu Deus e Pai, nossa vida não teria nenhuma dignidade ou propósito. Porém, em vez disso, ele é o Alfa e o Ômega, o qual nos revelou o que podemos esperar neste tempo intermediário — entre sua ascensão ao céu e seu retorno a esta terra. Aquele que é, que era e que há de vir, presente conosco hoje por meio do seu Espírito, estará completa e intimamente presente conosco quando retornar. Por ele ser o Todo-Poderoso, podemos descansar, sabendo que ele tem o poder para providenciar a bênção que esse livro promete; para cumprir a eliminação do mal e do sofrimento, conforme esse livro retrata; e para preparar-nos como uma noiva que será apresentada ao Filho, conforme esse livro apresenta.

Ouvindo e guardando Apocalipse 1.1-8 Lemos anteriormente que aqueles que ouvem e guardam o que está escrito no livro de Apocalipse são bem-aventurados. Assim, tanto neste primeiro capítulo quanto em cada capítulo subsequente, queremos fazer uma pergunta muito prática e, assim se espera, penetrante: o que significará para nós “ouvir e guardar”? Como será para nós viver à luz do que foi revelado? Precisamos saber, pois é aí que a bênção está — e queremos cada bênção que Deus tem para nós. Ouvir e guardar Apocalipse 1.1-8 significa que ouvimos essa porção como algo que Deus quer que saibamos. Mais significativamente, nós a ouvimos como algo que simplesmente precisamos saber para sermos capazes de viver como servos de Jesus, esperando que ele venha novamente. Então, ao iniciarmos nosso estudo de Apocalipse, talvez isso nos leve a orar: “Senhor, eu quero ver tudo o que o Senhor quer me mostrar. Meus olhos, meu coração e minha mente estão abertos.” Isso significa que nós nos abrimos para sermos movidos, desafiados e talvez até perturbados por conta da nossa complacência por aquilo que João 45


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viu. Nós nos recusamos a abordar de forma casual ou meramente intelectual o que nos é mostrado. Ao contrário, estamos desesperados o suficiente pelas bênçãos que esse livro promete a ponto de estarmos abertos à possibilidade de estarmos errados, abertos à possibilidade de sermos convencidos do pecado e de responder em arrependimento, abertos a termos nossos modos de interação com o mundo, os quais estão profundamente entranhados em nós, desafiados e mudados. Você está desesperado assim? Ouvir e guardar esses versículos é descansar no controle soberano de Deus sobre o passado, o presente e o futuro de forma a não nos alimentarmos constantemente dos remorsos do passado, das frustrações do presente e dos medos acerca do futuro. Em vez disso, queremos viver à luz da graça que cobriu o nosso passado e nos capacita a vivermos no presente como aqueles que já foram realmente libertos dos próprios pecados pelo sangue de Jesus. Temos paz agora porque realmente cremos que fomos e somos amados da forma como mais precisamos ser amados. E temos paz sobre o futuro, pois sabemos que o Alfa e o Ômega, o Todo-Poderoso, detém o futuro em seu pulso firme. Ele executará tudo o que João viu ocorrer. Talvez ouvir e guardar esses primeiros oito versículos de Apocalipse signifique que nos colocaremos de joelhos e oraremos: “Senhor, preciso que essa revelação de quem o Senhor é faça mais do que simplesmente me informar. Preciso que essa revelação me comova. Preciso que essa revelação da sua eternidade e da sua soberania me encha de coragem para viver à luz dela. Preciso que essa graça e essa paz permeiem — e até mesmo definam — minha vida. Preciso que o Senhor ajuste radicalmente a minha perspectiva sobre o que é real, o que vale a pena e o que tem valor em minha adoração.” Esses primeiros oito versículos são um pouco parecidos com o crescente de uma grande revelação em um programa televisivo de reforma de casas. Somos introduzidos à pessoa que tem trabalhado nos bastidores. Ouvimos sua promessa de bênçãos, a garantia do seu amor e a extensão do seu poder. O próprio Deus está puxando a cortina, e ele nos convidou a ver a realidade que mais precisamos enxergar. E, assim, nos encontramos na ponta dos pés, antecipando tudo o que ele tem para nos mostrar — para nos “apocalipsar” — sobre a vinda do seu reino. 46



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