Ouse Ser Firme

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STUART OLYOTT

OUSE SER

FIRME o livro de daniel


Ouse ser Firme – O livro de Daniel Traduzido do original em inglês Dare to Stand Alone – por Stuart Olyott Copyright © 1982 by Evangelical Press

Publicado por Evangelical Press, Grange Close - Faverdale North Darlington - DL3 0PH England Copyright©1996 Editora FIEL Primeira Edição em Português 1996 Segunda Edição em Português 2011

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

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Presidente: James Richard Denham III. Presidente emérito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago J. Santos Filho Revisão: Francisco Wellington Ferreira Diagramação: Layout Produção Gráfica Capa: Edvânio Silva ISBN: ISBN: 978-85-99145-88-3


Sumário

Apresentação à Edição em Português................................................ 7 Introdução........................................................................................... 9 1 — Montando o Cenário............................................................... 11 2 — A Caminho da Babilônia.......................................................... 17 3 — O Sonho de Nabucodonosor................................................... 27 4 — A Fornalha Ardente ................................................................ 43 5 — A Vez de Nabucodonosor ....................................................... 59 6 — Como Perder-se .............................................................................75 7 — Na Cova dos Leões ........................................................................89 8 — Um Intervalo ............................................................................... 105 9 — A Visão dos Quatro Animais .................................................... 115 10 — O Chifre Pequeno .................................................................... 127 11 — Uma Grande Oração ............................................................... 141 12 — Um Velho Tem Uma Visão ..................................................... 157 13 — Deus é o Senhor da História ................................................... 171 14 — Antíoco Epifânio ...................................................................... 183 15 — O Fim ......................................................................................... 195


Apresentação à edição em Português

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despeito de não poucos estudiosos apresentarem o Livro do Profeta Daniel como enigmático e, às vezes, pouco apreciado pelos leitores comuns, o Dr. Stuart Olyott tornou sua leitura mais fácil e mais compreensiva. Ele fez isso, graças ao Senhor Deus, usando a sua já conhecida maneira de falar e ou escrever concisa, atraente e profunda. A comprovação de tal façanha pode ser vista numa rápida leitura do capítulo denominado “Montando o Cenário”, onde ficamos maravilhados com o poder de Deus em manter o Seu remanescente fiel. Então, na medida em que lermos as páginas desse livro seremos desafiados a ser firmes nos dias de hoje, sabendo que Daniel e seus companheiros foram homens “fortes e ativos” por causa do seu conhecimento e amor a Deus. Ouso, portanto, desafiar você a voltar-se ao Livro do Profeta Daniel estando certo de que o Senhor é o Deus da História, e que no Seu tempo cumpriu Seu propósito em Cristo Jesus, o mesmo que esteve sempre ao lado de Daniel, o firme e fiel servo de Deus! Rev. Jaime Marcelino de Jesus Pastor da Igreja Presbiteriana Cidade Nova, em Manaus e Organizador do “Encontro da Fé Reformada”.


Introdução Este livro é para aqueles que gostariam não apenas de ler, mas também de apreciar o livro de Daniel. Se você deseja saber a respeito de todas as teorias enfadonhas que os estudiosos inventaram, terá de procurá-las em outro lugar. Se quiser provas de que o livro de Daniel foi escrito no século VI a.C., e não no século II a.C., como muitos escritores atuais afirmam, seu ponto de partida deve ser a obra de E. J. Young, A Commentary on Daniel. Este livro não examina tais assuntos. Seu alvo é muito mais direto. É estimulá-lo a ler Daniel pelo valor do próprio livro e ver que sua mensagem é para o nosso tempo. Daniel é basicamente um livro muito fácil de entender. Seus primeiros seis capítulos são narrativos. Após estes, há seis capítulos repletos de símbolos aparentemente misteriosos, sobre os quais tem havido grande controvérsia, mas que, de fato, não são tão difíceis. O livro inteiro é bastante prático – especialmente para crentes que se encontram solitários, mesmo estando entre colegas de escola, ou de trabalho, ou entre seus familiares e amigos. Que o Deus de Daniel nos abençoe, enquanto perscrutamos sua santa Palavra! Stuart Olyott


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Montando o Cenário

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á muito tempo, Deus escolheu um homem, Abraão, e prometeu que por meio dele e de sua descendência todas as famílias da terra seriam abençoadas. O panorama histórico Abraão, o homem escolhido por Deus, se tornou uma família, e a família, uma nação. Finalmente, a nação desceu ao Egito, onde permaneceu por quatrocentos anos. Depois, saiu. Você já ouviu a respeito das pragas do Egito, da Páscoa e da travessia do Mar Vermelho. Por quarenta anos, a nação, guiada por Moisés, vagou no deserto, onde recebeu a lei de Deus e as instruções acerca do tabernáculo, dos sacrifícios e do sacerdócio. Quando as peregrinações no deserto terminaram, os israelitas entraram na terra prometida, sob a liderança de Josué; e, antes de sua morte, a terra foi conquistada, em grande parte, e dividida entre as doze tribos. Isto foi seguido pela época dos juízes, homens a quem Deus levantou para livrar a nação de sucessivos conquistadores. Veio, então,


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o período dos reis. O primeiro foi Saul, seguido por Davi, Salomão e Roboão. Todos estes governaram sobre um reino unido, formado por doze tribos. Logo após o início do reinado de Roboão, a nação se dividiu em duas. Ao norte ficou o reino de Israel (ou Efraim), e ao sul, o reino de Judá. O reino do norte compunha-se de dez tribos, e sua capital era Samaria. O do sul era constituído por duas tribos; sua capital era Jerusalém. No início, os dois reinos eram inimigos. A isto, seguiu-se um período de amizade, mas tornaram-se inimigos novamente. Houve várias dinastias no norte, porém nenhum monarca temente a Deus se assentou no trono. Finalmente, Deus castigou o reino do norte, tendo antes condenado sua apostasia, várias vezes, por intermédio de seus profetas. Os exércitos da poderosa Assíria vieram do norte e, em 722 a.C., Samaria caiu. As dez tribos de Israel foram levadas em cativeiro e, com o tempo, perderam sua identidade como povo de Deus. O reino do sul permaneceu por mais cem anos. Todos os seus reis pertenceram a uma mesma dinastia; eram descendentes de Davi. A vida da nação foi de crescente apostasia. Todavia, alguns reis foram tementes a Deus, e houve diversos períodos de grande despertamento espiritual. Em 609 a.C., Jeoaquim subiu ao trono. Seu governo nada fez para deter a idolatria e a imoralidade prevalecentes; pelo contrário, aumentou-as. Os profetas advertiram que, se não houvesse arrependimento, haveria julgamento, mas seus avisos não foram atendidos. De além do horizonte, em 605 a.C., veio Nabucodonosor. Durante os vinte e três anos seguintes, em quatro estágios sucessivos, ele transportou quase todo o povo de Judá para a Babilônia. Às margens dos rios da Babilônia, os judeus se assentavam e choravam, quando se lembravam de Sião, e perguntavam como haveriam de entoar o cântico do Senhor em terra estranha (Sl 137.1, 4). O povo não quis ouvir as advertências de Deus e estava agora à mercê de seus inimigos. No entanto, dentro da nação apóstata


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existia um pequeno grupo de pessoas que se mantinham fiéis a Deus, como os profetas haviam predito. Este minúsculo remanescente fiel existiu também durante os 70 anos do cativeiro, amando a Deus e vivendo para agradá-Lo, mesmo na longínqua Babilônia. É verdade que a nação, como um todo, eliminou a idolatria de seu meio. Mas o amoroso relacionamento com Jeová foi uma experiência que poucos desfrutaram. Após o exílio, o remanescente se tornou cada vez menor, havendo ocasião em que consistia apenas de Zacarias e Isabel, Maria e José, Simeão e Ana e alguns pastores. Ninguém mais, na Judéia, estava pronto para receber o Descendente prometido de Abraão. Ninguém mais reconheceu a Luz que viera para iluminar os gentios; ninguém reconheceu a Glória do povo de Deus, Israel. Nos dias do cativeiro, este remanescente era representado por Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.6). Apenas quatro luzes, e mais algumas, brilhavam na escuridão espiritual daqueles dias. Somente algumas pessoas permaneciam fiéis a Deus. Numa época em que ninguém mais se importava, Deus e sua Palavra continuavam a ter importância para este pequeno grupo. Deus não se interessa muito por números, mas insiste em que nunca ficará sem testemunhas. A verdadeira religião continua ininterrupta no mundo, mas raramente seus seguidores são muitos. Na Babilônia, Deus se contentou em ter seu verdadeiro Israel reduzido a um pequeníssimo grupo de pessoas. Os primeiros seis capítulos de Daniel nos contam como este remanescente minúsculo permaneceu fiel a Deus em um ambiente hostil. A principal lição A sentença anterior nos traz à principal lição deste livro. Daniel nos revela como podemos permanecer fiéis a Deus em um ambiente hostil. Mostra-nos como viver para Deus, quando tudo está contra nós. De suas páginas, aprendemos como entoar o hino do Senhor em


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uma terra estranha. Daniel e seus três companheiros conseguiram; nós também podemos. É possível uma pessoa viver para Deus quando as circunstâncias lhe são totalmente contrárias. Noé, Abraão, Moisés e Davi foram homens tementes a Deus, mas a Palavra de Deus registra que cada um deles, em determinada ocasião, cometeu uma falta grave. Cada um deles tem pelo menos uma mácula em seu caráter, e alguns deles mais do que uma. A Bíblia não esconde os erros de seus principais personagens, nem pretende apresentá-los melhores do que realmente foram. Porém, o próprio livro não registra qualquer mancha no caráter de Daniel. Espiritualidade e integridade de caráter não exigem condições ideais para se desenvolverem. Não são plantas que se desenvolvem sob a proteção da estufa, mas crescem melhor quando expostas à neve, ao vento, ao granizo, à seca e ao sol escaldante. Pense nisto! Um garoto de catorze anos (era esta sua idade) foi tirado de sua casa, família e amigos e forçado a marchar até uma terra estranha. Ali, foi submetido a uma forma de instrução poderosa e sutil, sobre a qual receberemos algumas informações. Anos mais tarde, foi cercado por inimigos invejosos, que conspiraram contra sua vida. Em tempo algum, Daniel esteve livre da tentação de buscar a prosperidade material e pessoal às custas de afastar-se de Deus. Esteve rodeado pelo mal, na juventude, na maturidade e na velhice. Quase não há tentação conhecida que ele não tenha enfrentado. Entretanto, as Escrituras não registram uma única mancha em seu caráter! Ele propôs em seu coração que agradaria a Deus e nunca se apartou desse propósito. É possível, sim, vivermos para Deus em um mundo hostil. A verdadeira santidade pode desenvolver-se e florescer diante de condições não-ideais. Pouquíssimos de nós enfrentamos as dificuldades que Daniel enfrentou. Ao pensar em dificuldades, normalmente nos lembramos apenas das nossas. Convencemo-nos de que todos os demais têm vida fácil e que faríamos mais progresso espiritual se estivéssemos em alguma outra situação. O operário pensa


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que a secretária tem maior facilidade para viver a vida cristã; a secretária está convencida de que a vida cristã é mais fácil para a dona de casa. A dona de casa acha que o estudante encontra poucas dificuldades para desenvolver sua vida cristã; o estudante anseia pelo dia em que enfrentará o desafio comparativamente mais fácil do trabalho na fábrica. E o ciclo continua. Cada um de nós imagina que ninguém tem dificuldades tão grandes quanto as nossas. Justificamos nosso padrão de vida cristã medíocre apontando para as circunstâncias em que nos encontramos. O livro de Daniel nos denuncia completamente. Prova que a verdadeira espiritualidade nunca dependeu de circunstâncias fáceis. Qual era o segredo de Daniel? É simples. Antes de interpretar o sonho de Nabucodonosor, o que Daniel fez? Orou (2.17-19). O que ele estava fazendo quando houve a conspiração que resultou em ser lançado na cova dos leões? Estava orando (6.10). Qual o assunto do capítulo 9? Daniel em oração. Era um homem de oração. Uma adequada vida de oração é uma parte do segredo de permanecer fiel a Deus em um mundo hostil. A outra parte do segredo é bem simples. No capítulo 9, encontramos Daniel examinando e entendendo os “livros” (v. 2). Quais livros? Os livros proféticos do Antigo Testamento, os que haviam sido escritos até aquela data. Nos versículos 11 e 13, vemos Daniel se referindo à “lei de Moisés”. Daniel lia e conhecia a Bíblia. É fácil definir seu segredo, mas nem sempre é fácil praticá-lo. Ele permaneceu firme servindo a Deus em um mundo hostil porque lia sua Bíblia e orava! A prática dessas verdades simples precisa ser enfatizada hoje. Pensa-se, muitas vezes, que o segredo da vida cristã está em uma nova e excepcional experiência com Deus. Palavras diferentes são usadas por diversas pessoas, mas a idéia é, em geral, muito semelhante. É ensinado que uma nova experiência com Deus me conduzirá a um nível mais elevado do que aquele em que vivo agora. Se apenas eu tiver essa nova experiência, jamais serei o mesmo. Todas as minhas


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forças devem ser dedicadas à procura dessa vida mais elevada, e não devo descansar até que essa nova experiência seja minha. Daniel teve maravilhosas experiências com o Senhor, mas não as procurou. Ele buscava a Deus pela excelência de Deus, e não pelo que Deus poderia fazer por ele. Daniel gostava de estar com o Senhor, discernindo sua vontade, por meio da Palavra, e de ter comunhão com Ele em oração. Enfatizamos novamente: seu segredo era simples demais para não ser percebido – lia a Bíblia e orava. Este foi também o segredo dos primeiros mártires cristãos, dos perseguidos durante a Reforma, dos zelosos evangelistas e de seus sucessores. Foi o segredo dos grandes missionários pioneiros que viveram no século passado. Estavam convictos de que “o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo” (11.32). Como Daniel, viviam em dois mundos e, freqüentemente, contemplavam aquele mundo que interfere nos afazeres deste. Tornaram-se amigos de Deus e muito amados (10.19) nos céus. Este era seu segredo! Sabendo isto, estudemos agora o livro de Daniel e aprendamos como permanecer firmes.


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A Caminho da Babilônia Leia Daniel 1

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primeiro capítulo de Daniel, assim como o último, é breve. É uma narrativa simples e direta, para nos ensinar inicialmente uma lição que não deveríamos esquecer. O capítulo se divide em quatro partes. A expedição de Nabucodonosor contra Jerusalém Os primeiros dois versículos nos falam sobre a expedição de Nabucodonosor contra Jerusalém. É importante lembrar que não estamos lendo uma fábula. Estamos lidando com a História, com eventos que realmente aconteceram. Em 605 a.C., ano em que Nabucodonosor se tornara rei de Babilônia, ele marcha contra Jerusalém. Ele a sitia. Derrota-a, invade-a e leva para Babilônia as coisas e pessoas que deseja, mas não deporta o rei. Jeoaquim permanece como seu rei-fantoche pelos oito anos seguintes. Depois disto, se rebelará, e o poder lhe será tirado. No entanto, Nabucodonosor traz à Babilônia diversos cativos


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e uma grande parte dos tesouros do templo. Jerusalém fica intacta, mas o templo é saqueado. Isso não foi por acidente. Tal como todos os eventos históricos, esse também foi obra do Senhor. Por muito tempo, os judeus haviam confiado no templo e não no Senhor, que diziam louvar ali. Apesar das advertências dos profetas, haviam crido que a própria existência do templo lhes garantiria imunidade a qualquer ameaça de invasão. “Enquanto tivermos o templo, estaremos seguros”, eles proclamavam. “Você crê que Jeová permitirá que seu templo seja destruído? Claro que não! Quando o templo for ameaçado, Ele certamente virá em nosso socorro.” Crendo nisso, a nação havia continuado em seu pecado. A idolatria, a imoralidade e a injustiça continuaram ininterruptamente. A mentira e o roubo aumentaram sem restrições. Estavam certos de que, não importando como vivessem, o templo os salvaria. Mas não os salvou. O templo estava agora em ruínas. Um rei pagão levara aos seus cofres e à casa de seu deus os tesouros do templo. Por meio desses acontecimentos, Deus demonstrou que não toleraria o pecado, onde quer que fosse encontrado. Teria feito cessar o seu furor, se o povo se tivesse voltado a Ele. Mas confiar no templo não era substituto para o arrependimento. Deus reina, quer seu templo exista, quer não. Deus permanece, aconteça o que acontecer na terra. De fato, as coisas acontecem na terra porque Ele é Deus. “O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá” (v. 2). Deus está controlando perfeitamente a História, sendo capaz de implementar suas ameaças. A cidade conquistada, o templo saqueado, os tesouros transportados e os cativos a chorar, tudo isso foi obra dEle, destinada a cumprir seus propósitos. A experiência de seu povo foi a derrota, a ruína e a destruição. Contudo, Ele permaneceu invencível, operando em e por meio de tudo. Daniel e seus três companheiros são apresentados Com este cenário diante de nós, os versículos 3 a 7 nos apresentam agora os principais personagens do livro. Nabucodonosor


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era brilhante. Era um gênio, sutil demais para cair no mesmo erro de Faraó, que havia oprimido os hebreus no Egito. Você se lembra de que Faraó tratara os hebreus com ampla maldade, tornando-os escravos, afligindo-os e colocando-os sob seu domínio cruel. Há sempre um alto risco de que pessoas tratadas dessa maneira se revoltem. Nabucodonosor queria evitar isso. Babilônia estava conquistando o mundo. Logo, o número de conquistados seria muito maior do que os conquistadores. Seria militarmente impossível para Babilônia sustentar um regime opressivo através do mundo conhecido. Simplesmente havia povos demais para serem oprimidos e poucos soldados para fazê-lo. Outro meio teria de ser achado, para que as nações conquistadas fossem mantidas leais ao império. O método de Nabucodonosor era deportar a nobreza de cada nação conquistada e integrá-la no serviço público de Babilônia. Desse modo, as várias partes de seu império crescente eram governadas pelos cativos. Aqueles que se rebelassem teriam de fazê-lo contra seu próprio povo, talvez contra seus próprios filhos. Nabucodonosor utilizou este método quando conquistou Judá (v. 3). Ele instruiu a Aspenaz, “chefe dos seus eunucos” (isto é, o oficial-chefe do seu serviço público), a tomar os melhores da juventude de Judá e colocá-los em lugares de responsabilidade. Deveriam entrar em seu serviço real e na administração crescente. Deveriam andar pelos corredores do poder. Aspenaz deveria achar os possíveis candidatos entre a realeza e a nobreza da nação judaica. Alguns afirmam que Nabucodonosor fez esses jovens tornarem-se eunucos, mas isso não pode ser verdade, pois o versículo 4 nos mostra que deveriam ser completamente sem defeito. Este versículo também nos diz que deveriam ser de boa aparência, inteligentes, versados em todos os ramos do conhecimento, bem informados e aptos para tomar parte no serviço pessoal do rei. Nabucodonosor deveria ter somente o melhor! Uma vez selecionados, esses jovens deveriam ingressar em um abrangente programa de reeducação, onde importância particular


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fosse dada a um aprendizado completo da língua e da literatura dos babilônios. Nada que os distraísse de seus estudos seria permitido. Além da língua e da literatura, por três anos receberiam lições de matemática, ciência, navegação, política, história e geografia; realmente, todo o conhecimento babilônio seria instilado em suas mentes jovens. Não precisariam se preocupar com sua comida e bebida. Esta lhes seria preparada e servida exatamente como se fossem membros da família real (v. 5). Quantos estudantes, que estão lendo este livro, abandonaram seus estudos porque, morando em quartos alugados, tinham de comprar sua própria comida e preparar suas refeições! Daniel, Hananias, Misael e Azarias não enfrentaram este problema. Tinham de pensar somente em seus estudos. Deveriam até esquecer que eram judeus, a fim de tornarem-se babilônios. Deveriam esquecer que eram servos de Deus e tornarem-se servos de um rei terrestre. Isto explica o versículo 7. Era parte da política babilônica mudar os nomes de todos os selecionados para a reeducação e treinamento especial. Daniel (que significa “Deus é meu juiz”) foi chamado de Beltessazar (“Guarda dos segredos ocultos de Bel”). Hananias (“Jeová é gracioso”) recebeu o nome de Sadraque. Não sabemos o que esse nome significa, mas contém o nome da divindade pagã Marduque. Misael (“Quem é semelhante a Deus?”) passou a ser chamado de Mesaque, um nome que contém uma das antigas formas do nome da deusa Vênus. Azarias (“Jeová auxilia”) tornou-se Abede-Nego (“o servo de Nego”). Quando olhamos os quatro nomes originais, vemos que dois deles terminam em “el”, que indica um dos nomes de Deus, e dois terminam em “ias”, uma versão abreviada de “Jeová”. Esses nomes foram alterados pelos babilônios para outros que se referiam às divindades pagãs de Bel, Marduque, Vênus e Nego. Os quatro rapazes deveriam ter cerca de quatorze anos de idade quando seus nomes foram mudados, pois essa era a idade em que os babilônios introduziam os jovens em seu programa de reeducação. Não teriam


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descanso até que tivessem completo domínio de tudo que se exigia deles. Isso levaria três anos. Afastados de seus lares, instruídos a esquecer seu Deus e reeducados intensivamente numa cultura pagã, o que aconteceria a estes jovens rapazes? Permaneceriam fiéis a seu Deus e ao que sabiam ser correto? Ou sucumbiriam? Teriam eles enfrentado outro tipo de pressão? Será que, ao saírem em marcha, alguns dos judeus se alegraram e disseram: “O cativeiro não será tão mau para eles. O rei fará algo por nossos jovens. Eles serão alguém”? Sim, os jovens seriam alguém, mas correndo o risco de perderem sua identidade como filhos de Deus. Resistiriam eles à pressão? Pode o cristão hoje permanecer firme, quando a mídia e a sociedade em geral bombardeiam sua mente dia e noite, colocando-o sob pressão para mudar sua maneira de pensar? Pode ele lembrar-se de seu status privilegiado de filho de Deus e viver dignamente, quando tudo ao seu redor está forçando-o a pensar em outras coisas? A posição ocupada por eles O que aconteceu depois encontra-se nos versículos 8 a 16. Para entendê-los, devemos recordar por que, afinal, os judeus estavam sendo levados em cativeiro. A nação inteira se encontrava em um baixo nível espiritual e moral. Seu maior pecado era a idolatria. O exílio era um castigo por todos os pecados da nação, mas em particular, por esse pecado. O povo deveria permanecer em Babilônia até que a idolatria fosse abandonada para sempre. Entre os erros cometidos pelos judeus no período pós-exílico não se inclui a idolatria. O exílio os havia curado para sempre. Mas, por ocasião do exílio, a idolatria fazia parte da vida da nação, e o que distinguia o remanescente fiel de todos os outros judeus era sua recusa inflexível de participar de qualquer forma de idolatria. Imagine, então, estes quatro rapazes iniciando sua reeducação. São informados de que, ao invés de prepararem sua própria


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comida, serão alimentados da mesa real. A razão por que recusaram a comida real não foi as leis alimentares judaicas. Poderiam, ao menos, tomar vinho, pois nenhuma lei alimentar judaica o proibia. A razão para sua recusa foi que a comida da mesa real era oferecida a ídolos antes de ser posta à mesa. Cada refeição, no palácio real de Babilônia, se iniciava com um ato de adoração pagã. Quanto a isso, aqueles jovens se mostraram muito mais diligentes do que muitos cristãos hoje quanto a darem graças antes de comer. Nada se comia ou se bebia antes que fosse dedicado a certos deuses pagãos. Considerava-se que aqueles que comiam o alimento haviam participado nos ritos pagãos. Foi precisamente por se recusarem a comprometer-se com a idolatria que os quatro rapazes fizeram parte do remanescente fiel. Se não se envolveram antes com a idolatria, não seria agora que o fariam. “Mas Daniel, você não está sendo um tanto exagerado?” Isto é o que muitos diriam hoje. “Por que criar um caso sobre uma coisa tão pequena como comer alimento oferecido aos ídolos? Você perderia sua cabeça por recusar a comida da mesa real. Por que não colocar os escrúpulos de lado? Pense na influência que você pode exercer, estando no serviço público da Babilônia. Talvez você possa chegar ao auge. Não seria maravilhoso para um dos filhos de Deus estar nessa posição social? Com essa atitude, você está pondo em risco sua própria vida. Mesmo que não perca a cabeça, provavelmente você terminará em uma masmorra. Certamente jamais chegará ao topo, se não obedecer as instruções do rei.” A resposta de Daniel e de cada um de seus três companheiros foi: “Não! Não comerei e me absterei de qualquer aparência do mal. Embora signifique grande perigo pessoal e possa custar-me a vida, é melhor apodrecer em uma masmorra ou morrer executado a associar-me à idolatria. Prefiro a morte do que pecar, ainda que um pouco”. Este é o espírito a que nos referimos quando dizemos: “Ouse ser como Daniel!” É claro que não devemos ter a impressão de que Daniel foi


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mal-educado, ao recusar a comida real. A linguagem do versículo 8 demonstra cautela: “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se”. Foi ao chefe dos eunucos e apresentou-lhe seu caso. Permaneceu firme em seus princípios, mas foi gentil e cortês quando pediu que fosse eximido de sua obrigação de comer o alimento. A absoluta integridade de Daniel lhe conquistara o favor do chefe dos eunucos (v. 9), mas este, como é natural, estava um pouco preocupado com sua própria vida. “Veja, Daniel, se vocês não se tornarem aquilo que o rei deseja, serei responsabilizado por isso.” O caráter de Daniel é visto no fato de não ter desistido. Não voltaria atrás. Nos versículos 11 a 14, vemo-lo dirigir-se ao cozinheiro-chefe, o oficial inferior ao chefe dos eunucos, solicitando: “Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se nos dêem legumes a comer e água a beber”. Legumes não parece ser algo apetitoso! Realmente, era uma mistura de verduras e frutas frescas. Daniel estava sugerindo uma dieta de salada permanente, sem importar-se quão freqüentemente se alimentaria. Qualquer coisa seria melhor do que alimentos que estivessem associados à adoração aos ídolos. “Experimente-nos dez dias; não beberemos vinho, somente água.” Este exemplo é digno de nossa séria consideração. Daniel era sábio, discreto, gentil e sensível. Mas também era firme. Os versículos 15 e 16 nos contam o efeito dessa dieta monótona. Os jovens nada sofreram por absterem-se das finas iguarias da mesa real. Após dez dias, houve uma notável melhora em suas aparências, e mostravam-se mais sadios. Em todos os aspectos estavam melhores que os outros jovens que desfrutaram da dieta prescrita pelo rei. Isto nos ensina que ninguém perde coisa alguma quando se recusa a comprometer sua fé. O chefe dos eunucos sentiu-se completamente tranqüilo e permitiu que os rapazes continuassem na dieta


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que haviam escolhido. Ninguém fora ofendido. No entanto, nem Daniel, nem seus três companheiros haviam-se acomodado. Foram fiéis no pouco, e isso seria o início para serem fiéis no muito. Se Daniel não permanecesse firme nesta ocasião, poderia se mostrar firme depois, quando ameaçado com a morte, na cova dos leões? Se os seus três companheiros tivessem-se comprometido no início de suas vidas, na Babilônia, como reagiriam ao serem confrontados com a fornalha ardente? Por terem honrado a Deus em uma coisa pequena, puderam honrá-Lo também nas questões mais importantes. Pessoas caem em pecados sérios somente porque aprenderam a tolerar pecados menores. O resultado O resultado imediato da ação corajosa e espiritual destes jovens é registrado nos versículos 17 a 21. Eles colocaram Deus acima de todas as outras considerações. Por sua vez, Ele os honrou e despertou em suas vidas dons que nem imaginavam possuir. Isto acontece freqüentemente. Anos atrás, conheci um homem que era totalmente analfabeto. Não podia ler sequer uma palavra. Quando o Senhor o salvou, concluiu que poderia andar melhor com Deus se pudesse ler a sua Palavra. Com considerável perseverança e grande esforço pessoal, aprendeu a ler. Fazendo isso, descobriu (para seu deslumbramento) que tinha uma inteligência bem aguçada. Tornou-se um leitor ávido e conseguiu um emprego como carteiro. Em anos recentes, tornou-se um pastor. Desde sua infância, todos lhe diziam que nada realizaria. Quando colocou a Deus em primeiro lugar e decidiu agradá-Lo, descobriu subitamente que tinha dons que nem ele nem ninguém havia imaginado possuir. Foi exatamente isso que aconteceu com Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Puseram Deus em primeiro lugar e se aplicaram nos estudos. Foram abençoados com sabedoria. Já aconteceu algo semelhante em sua própria experiência?


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Você viu alguma coisa que precisava ser feita e, somente por causa do Senhor, começou a realizá-la. Fazendo isso, descobriu que possuía dons, os quais desconhecia inteiramente. Percebeu, por exemplo, que tinha uma propensão para administrar ou que poderia liderar facilmente os jovens. Os dons vieram à tona em sua vida apenas porque você colocou Deus em primeiro lugar; e, freqüentemente, a descoberta desses dons ajudaram-no a aprimorar-se em seu próprio trabalho. Esta experiência não é, de modo algum, diferente da que é descrita em Daniel l. Daniel tinha outro dom que se destacará neste livro, e a primeira menção dele ocorre no versículo 17. Assim, finalmente, o curso de três anos terminou. Era hora dos exames finais. Como nas universidades britânicas em dias passados, esses exames não eram escritos, e sim orais. Os estudantes apresentaram-se ao rei, que examinou, pessoalmente, cada um e deu seu parecer. Sua avaliação de Daniel, Hananias, Misael e Azarias é preservada para nós nos versículos 19 e 20. Eram melhores que todos os outros estudantes. Porém, isso não é tudo. Mostraram-se mais cultos do que os graduados que já haviam concluído seus estudos e agora ocupavam posições de liderança no império. De fato, dez vezes mais sábios! Como resultado, cada um dos quatro foi colocado em um cargo alto, no qual poderia usar sua influência para Deus. O Senhor poderia confiar-lhes tal posição, pois haviam demonstrado que, diante de qualquer circunstância, mesmo em perigo de vida, Lhe seriam fiéis. Daniel permaneceria nesta posição por 70 anos (v. 21). Muitos crentes anseiam por posições mais altas, onde podem ter mais influência espiritual. Professores querem ser diretores, balconistas querem tornar-se gerentes, sócios de sindicato esperam tornar-se representantes de classe. “Se eu apenas estivesse naquele cargo”, pensam eles, “que influência poderia exercer para o Senhor!” Se não vivermos para Deus agora, nenhum de nós poderá fazer com que uma posição mais elevada se torne valiosa para Ele. Se não estamos dispostos a permanecer firmes e comprometidos com


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Ele em coisas pequenas, como o faremos nas grandes? É possível ser fiel no muito, sem primeiro ter sido fiel no pouco? Se não podemos resistir a tentações comparativamente pequenas, o que faremos quando elas forem intensificadas? O ensino central deste capítulo pode ser resumido em uma frase: “Aos que me honram, honrarei” (1 Sm 2.30).


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o Sonho de Nabucodonosor Leia Daniel 2

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stamos no século VI a.C. Como castigo por seus pecados, especialmente a idolatria, os judeus estão cativos na Babilônia. Deus os advertira repetidamente, e não O ouviram. Mas, em meio à nação apóstata, há ainda alguns que Lhe são fiéis; quatro desses ocupam agora posições importantes e influentes no serviço público da Babilônia. São os principais personagens do livro de Daniel. Neste capítulo, vemos como este remanescente piedoso foi não somente preservado, mas também elevado a uma posição de grande influência na Babilônia pagã. Parecia certo que o verdadeiro Israel de Deus seria eliminado. Parecia certo que o pequeno grupo que se apegava à sua verdade seria destruído. Mas o remanescente de Deus é objeto de seu cuidado especial, e Ele governa a História para proveito deles. Isso é o que veremos agora. O que Nabucodonosor viu? Os primeiros treze versículos do capítulo 2 nos contam três coisas que o rei Nabucodonosor viu. A primeira foi um sonho, que ele


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se recusou a relatar ou descrever. Nabucodonosor havia-se deitado, pensando sobre o futuro. Era ele o cabeça de um império imenso; portanto, era bem natural que, como último pensamento do dia, houvesse conjecturado a respeito do que aconteceria no futuro (v. 29). Isso aconteceu no segundo ano de seu reinado. Como sabemos, muitas vezes as coisas que passam por nossa mente durante o dia, especialmente quando vamos dormir, são aquelas sobre as quais sonhamos. Mas o sonho de Nabucodonosor foi incomum. Foi dado por Deus. Sua vivacidade era particularmente intensa, e o rei ficou apavorado. Freqüentemente, quando alguém tem um pesadelo, acorda de repente, e a impressão do sonho continua. No entanto, logo desaparece. Não aconteceu assim com Nabucodonosor! Agitado em espírito, acordou e não conseguiu esquecer o sonho. O sono se fora, e Nabucodonosor jazia apavorado no leito real. Imediatamente, convocou as pessoas que acreditava poderiam interpretar o sonho e esclarecer seu significado (v. 2). Em sua corte, Nabucodonosor possuía todo tipo de “agregado”: os adivinhadores, os mágicos, os astrólogos, os feiticeiros e um grupo especial de pessoas chamadas de “caldeus”, que não devem ser confundidos com a nação que tinha o mesmo nome. Narrou-lhes sua agitação de espírito e seu desejo de saber o significado do sonho (v. 3). O sonho o perseguia. Não pôde tirá-lo de sua mente. Do versículo 4 até o fim do capítulo 7, o livro de Daniel está escrito em siríaco, mais conhecido como caldeu ou aramaico. O versículo 4 registra a resposta dos homens da corte ao pedido do rei. Respondem com outro pedido. É uma solicitação razoável, se bem que proferida um tanto arrogantemente. “Ó rei”, dizem eles, “dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação”. “Descreva o que viu, e lhe diremos o que significa.” Esta solicitação aparentemente razoável é respondida com uma ameaça horripilante! Tais ameaças eram típicas dos déspotas orientais daquele tempo. Nabucodonosor poderia executar aquilo que falara.


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Ele disse: “Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho”. Isso não significa, como se imagina freqüentemente, que Nabucodonosor havia esquecido o sonho. Se este fosse o caso, como poderia o sonho ainda estar a perturbá-lo? Se o rei não pudesse lembrar o sonho, então, o final do versículo 9 não teria sentido. Visto que o rei se lembrava realmente do sonho, poderia conferir se o haviam relatado corretamente e, portanto, ter confiança de que sua interpretação estava correta. Quando Nabucodonosor declarou “Uma coisa é certa”, ele quis dizer: já está decretado que, “se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo” (v. 5). “Afinal, a função de vocês é interpretar sonhos; são pagos para fazer isso.” As honras extravagantes, prometidas no versículo 6, também eram típicas dos governantes daquela época. O fracasso em contar o sonho e interpretá-lo significaria morte certa. Atender o pedido do rei significaria honra, promoção e recompensa. Além do sonho, Nabucodonosor também viu os astrólogos tentando ganhar tempo (vv. 7-11). A ameaça terrível e a promessa extravagante curaram rapidamente a arrogância deles. No versículo 7, os astrólogos falam ao rei de um modo mais reverente: “Diga o rei o sonho a seus servos, e lhe daremos a interpretação”. A resposta do rei é áspera (vv. 8-9): “Vocês estão apenas tentando ganhar tempo, porque são totalmente incapazes de fazer o que lhes pedi. Esperam que eu mude de idéia sobre destruí-los, se não derem a interpretação. De fato, se nem podem dizer-me o que é o sonho, tampouco poderão dar-me a interpretação correta. Se não podem me contar o sonho, estão demonstrando, com certeza, que nada são, exceto enganadores e charlatães. Pessoas assim são dignas apenas de uma coisa – o decreto de morte, sobre o qual já falei”. “Mas”, gaguejam os astrólogos, “o que tu pedes está acima da capacidade humana. Ninguém, em toda a história, jamais pediu tal coisa. Normalmente, só interpretamos o sonho,


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mas desta vez tu esperas que também contemos o sonho. Isto é difícil demais para meros homens. Os únicos que poderiam fazê-lo são os próprios deuses” (v. 10). Então, Nabucodonosor encolerizou-se! “O rei muito se irou e enfureceu” (v. 12). Deve ter sido uma cena apavorante! O mais poderoso homem do mundo num acesso de raiva! Não manifestou paciência ante a confissão de incapacidade de seus servos. Os astrólogos e magos disseram que não podiam atender o pedido do rei. Haviam feito todo o tipo de afirmações orgulhosas, mas agora Nabucodonosor podia ver o íntimo deles. Declaravam poder revelar segredos, mas nem mesmo podiam contar-lhe o conteúdo de um sonho que ainda o aterrorizava. Se não podiam fazer isso, como poderiam realizar a coisa mais profunda e mais difícil que prometiam, ou seja, interpretar sonhos? “Matem a todos!”, disse o rei da Babilônia. A ordem áspera do rei é uma indicação de quanto o sonho o preocupava. Precisava saber o que significava! Não conseguia retirá-lo de sua mente. O sonho lhe roubava a paz. Estava com ele momento a momento. Perseguia-o e nunca o deixava. Como resultado, o rei estava numa turbulência inexprimível. Precisava saber o que significava e, portanto, não tinha paciência com aqueles que confessaram ser completamente incapazes de ajudá-lo. “Matem todos os sábios.” A ordem era o fim de Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Eles não eram astrólogos, pois haviam recusado envolver-se com qualquer coisa pagã ou idólatra. Mas precisamos lembrar que haviam sido educados pelos sábios de Babilônia e estavam, portanto, no sentido mais amplo, incluídos entre eles. O decreto do rei impaciente, se fosse realizado, significaria o fim do remanescente fiel. Os únicos no mundo que eram leais à verdade de Deus seriam eliminados. O verdadeiro Israel de Deus seria extinto. Venceram a tentação de comprometer sua fé, no capítulo 1, mas como poderiam sobreviver a isto?


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O que Daniel viu? Respondemos esta pergunta ao lermos do versículo 14 ao final do capítulo. Já consideramos três coisas que Nabucodonosor viu e percebeu. Agora, consideraremos três coisas percebidas por Daniel. Primeiramente, ele viu quem é Deus (vv. 14-23). Falou discretamente com o oficial encarregado de executar os sábios e, como resultado, a realização do decreto foi adiada. O próximo passo de Daniel foi dirigir-se ao rei. Conseguiu uma audiência real (v. 16). “Dá-me tempo”, pediu, “e satisfarei o teu pedido e te darei a interpretação”. O rei, evidentemente, acedeu ao pedido de Daniel, pois o terceiro passo de Daniel revela isso (vv. 17, 18). Voltou ao remanescente fiel, e os quatro homens de fé se uniram em oração. Sua preocupação, enquanto oravam, não era que Daniel tivesse uma grande reputação como intérprete de sonhos. Desejavam as misericórdias do Deus dos céus, para que não perecessem com os demais sábios da Babilônia. Quatro homens, em sua própria casa, começaram a orar, sem dúvida usando argumentos, como fazem todos os bons homens de oração: “Senhor, somos o teu remanescente. Foi decretada a execução de todos os sábios de Babilônia, e estamos incluídos entre eles. Se o decreto for cumprido, teu remanescente desaparecerá, e o povo de Deus será extinto da terra. O verdadeiro Israel será aniquilado. Ó Senhor, mostra tua misericórdia para conosco. Dá-nos um relato do sonho e uma compreensão do que significa”. Do que lemos em 1.17, sabemos que Daniel tinha “inteligência de todas as visões e sonhos”. Era um dom especial de Deus para ele. Naquela noite ou em outra logo depois, a oração unânime do povo de Deus foi respondida, e Daniel soube tanto o que o rei sonhara como o que o sonho significava (v. 19). O texto bíblico não nos declara imediatamente o que era. Mas nos conta que a reação imediata de Daniel à revelação foi explodir em louvor a Deus. Daniel recebeu uma compreensão clara do sonho e sua interpretação.


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Porém, adquiriu uma compreensão ainda mais clara sobre a natureza e os atributos de Deus. Veja as suas afirmações sobre Deus no versículo 20: Deus é gracioso, sábio e poderoso. É este Deus que controla a História (v. 21). Não é a natureza. Não são os ídolos. É Deus! Ele exerce seu poder não apenas no céu, mas também aqui na terra. Não podemos dizer que cremos na soberania de Deus, se não crermos nisso. Daniel recebera uma sabedoria superior a de todos os sábios de Babilônia, mas observe o que ele afirma sobre este assunto (v. 21): se um homem tem sabedoria, é porque a recebeu de Deus, que é a fonte de toda a sabedoria. Daniel reconhece que o entendimento que possui agora resulta tão-somente da imerecida bondade de Deus (vv. 22-23). Daniel percebeu quem é Deus. Temos aqui uma revelação de como é o coração de um homem de Deus. Tal homem é disposto a erguer sua voz a Deus e admirá-Lo; está ciente de que tudo o que ele é, em si mesmo, e tudo o que possui não são de valor algum. Não reivindica méritos para si mesmo e insiste em que somente a Deus devemos dirigir nossas palavras e pensamentos de adoração. Os versículos 24 a 45 nos contam o que Daniel viu na visão da noite. Havendo agradecido a Deus pela oração respondida, agora está pronto para se apresentar ao rei. Na corte da Babilônia havia um protocolo muito severo para que os súditos se aproximassem do rei. Sem dúvida, esta formalidade fora observada no versículo 16, mas não é relatada ali. É mencionada no versículo 24. No versículo 25, vemos que Daniel é introduzido à presença do rei por Arioque e que este toma para si todo o mérito por haver descoberto um homem que podia interpretar o sonho do rei. “Podes?”, pergunta o rei. “Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua interpretação?” (v. 26). “Nem encantadores, nem magos, nem astrólogos o podem


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revelar ao rei; mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias”, responde Daniel. Ao ouvirmos a expressão “os últimos dias”, nossos corações ficam alertas. A Bíblia usa consistentemente esta expressão para se referir ao período entre o nascimento de Cristo e o fim do mundo. Não é usada para se referir às últimas horas antes da volta de Cristo, como alguns cristãos às vezes imaginam, mas para todo o período da história do mundo que começou na manjedoura de Belém. O sonho de Nabucodonosor nos dirá algo sobre o período da história em que estamos vivendo! Daniel continua: “Este sonho é a resposta de Deus aos teus pensamentos no leito. Tu foste para a cama inquirindo sobre o futuro. Deus te respondeu por meio de um sonho; e eu posso relatar tanto o sonho como a sua interpretação. Eu não sou especialmente sábio ou exaltado, mas Deus me deu a interpretação apenas para que seja conhecida”. Os versículos 31 a 35 mostram Daniel descrevendo o que o rei sonhou e nos trazem ao clímax do capítulo. O rei, em seu sonho, contemplou uma estátua imensa (v. 31). Sendo quase totalmente metálica, brilhava ao sol. Seu brilho e tamanho a tornavam apavorante e assustadora. Olhando para a imagem, o rei vira que era composta de diferentes materiais, todos metais, menos um. A cabeça era feita do melhor ouro (v. 32). O peito e os dois braços eram de prata. O ventre e os quadris, de bronze. As pernas, dos joelhos para baixo, eram de ferro (v. 33). Os dedos não são mencionados nesta passagem, mas os pés eram, em parte, de ferro e, em parte, de barro. Coisas estranhas acontecem em sonhos, e o que aconteceu depois foi tão estranho como qualquer coisa que alguém jamais viu. Em direção à estátua veio uma pedra insignificante. Talvez fosse como uma das pequenas pedras que achamos na estrada. Não há indicação de onde a pedra veio; pareceu vir do nada. O sonho do rei não


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deu detalhes quanto a sua origem. Apenas notou que ela veio e caiu sobre os pés da imagem (v. 34). Imediatamente, toda a imagem desmoronou e foi reduzida a pó. O vento soprou sobre ela, e logo não havia sinal de que estivera ali. O que era tão apavorante, que parecia tão permanente e formidável, havia desaparecido. Então, a pequena pedra começou a crescer, tornando-se um seixo e, depois, uma rocha. Enquanto o rei, assombrado, olhava, a pedra crescia, tornando-se maior que uma casa, maior que o prédio mais elevado e maior que os montes. De fato, tornou-se uma grande montanha, que enchia toda a terra (v. 35). “Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei” (v. 36). “A cabeça, ó rei Nabucodonosor, és tu! És um poder mundial. És um reino. És um império. Tu és a cabeça de ouro” (v. 37-38). Devemos ter cuidado e notar que Daniel dirigiu suas palavras diretamente ao rei diante dele, não dando de modo algum a impressão de que falava sobre um império babilônio renascido, como alguns pensam. “O peito e os braços são também um império, menos poderoso, que te sucederá” (v. 39). “O ventre e as coxas são outro império mundial que sucederá àquele” (v. 39). “As pernas e os pés são ainda outro império mundial que, por sua vez, sucederá ao terceiro. Este quarto império será particularmente notável pelo seu poder de destruição. Terá a força do ferro e será constituído de uma mistura de ferro com barro. Seus dois elementos finalmente serão incapazes de permanecer ligados e se tornarão um reino dividido. Uma das partes permanecerá forte, mas a outra será frágil e mais facilmente destruída.” “E a pequena pedra? Bem, durante o governo deste quarto poder mundial, ocorrerá um evento de grande significado. Nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais abalado. Este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (v. 44).


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“Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação” (v. 45). Deste modo, Daniel viu quem é Deus e ficou ciente do sonho e de sua interpretação. A terceira coisa que ele viu, foi algo que ninguém em Babilônia jamais esperaria. Lemos sobre isso na narração do versículo 46 até o final do capítulo: Ele viu o rei humilhado, o verdadeiro Deus glorificado e o remanescente temente a Deus promovido. Quem esperaria ver o mais poderoso homem da terra cair sobre o seu rosto, em atitude de homenagem? Mas foi precisamente isso que aconteceu. Ao mesmo tempo, o rei ordenou que fosse queimado incenso em honra a Daniel. Alguns têm pensado que Nabucodonosor estava prestando a Daniel a adoração que é devida somente a Deus. Mas não foi isso que aconteceu. Talvez possamos compreender, se lembrarmos um incidente semelhante na vida de Alexandre, o Grande. Quando chegou a Jerusalém, prostrou-se aos pés do sumo sacerdote e foi severamente repreendido por um de seus auxiliares. “Não faça isso”, ele disse. “Eu não adoro o sumo sacerdote”, replicou Alexandre, “mas o Deus a quem ele honra”. Algo semelhante aconteceu na sala do trono de Nabucodonosor. O rei caiu aos pés de Daniel, não porque estava adorando-o como Deus, mas porque reconheceu Daniel como um porta-voz de Deus. Então, o verdadeiro Deus foi glorificado. Nabucodonosor ainda não compreendia que o Deus de Israel era o único Deus, mas O reconheceu como o supremo Deus. Ninguém poderia pensar, algumas horas antes, que isso aconteceria. Tudo indicava que os dias do remanescente fiel estavam contados. Parecia certo que os piedosos seriam mortos e que desapareceriam para sempre. Mas agora Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam todos recebendo promoção.


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Daniel foi colocado como governador da província de Babilônia e como o chefe supremo de todos os sábios. A arqueologia ainda não conseguiu esclarecer-nos o que esse cargo envolvia, embora o título “o chefe supremo”, cargo ao qual Daniel foi promovido, já tenha sido encontrado entre as inscrições antigas. Os seus três companheiros de oração foram promovidos a sub-chefes, para servir sob a autoridade de Daniel. O remanescente fiel não apenas estaria seguro, mas exerceria influência. Tudo havia estado contra ele, mas não fora aniquilado. Não pereceram no capítulo 1 simplesmente por recusarem-se a fazer algo pecaminoso. Tampouco pereceram no incidente deste capítulo, pois se entregaram unanimemente à oração. É assim que uma testemunha de Deus é preservada no mundo. Faremos bem em guardar essas lições em nosso coração. O que devemos aprender Neste capítulo, notamos o que Nabucodonosor e Daniel viram. O que devemos aprender disso? Além de algumas lições a que já nos referimos, há três coisas principais. Em primeiro lugar, a Palavra de Deus é verdadeira. Daniel falou as palavras que Deus lhe deu, e tudo que ele anunciou que aconteceria realmente aconteceu. O império de Nabucodonosor foi sucedido por três outros. Não precisamos indagar quais os impérios referidos no sonho e na sua interpretação; três deles são identificados no próprio livro de Daniel, e a identidade do quarto é revelada por nosso Senhor Jesus Cristo. Este ponto deve ser enfatizado, especialmente nestes dias em que tantas coisas contraditórias foram escritas sobre a visão do capítulo 2. Não há dúvida possível a respeito de quais poderes mundiais são referidos aqui. No entanto, não foram quatro imagens que Nabucodonosor viu, somente uma. Isso porque, num sentido muito real, todos os


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impérios descritos por Daniel são o mesmo império. O segundo conquistou o primeiro. O terceiro venceu o segundo. E o quarto derrotou o terceiro. O primeiro teve um sucessor, assim como o segundo e o terceiro. O quarto não teve um sucessor, mas, no período deste quarto império, um outro reino se levantou. Pode-se afirmar com certeza que a pequena pedra destruiu os quatro impérios, e não apenas o último. Babilônia desapareceu, como um poder mundial, quando foi conquistada e incorporada pelos medos e persas. A Medo-Pérsia, por sua vez, foi conquistada e absorvida pela Grécia. O poderoso império da Grécia foi, por sua vez, conquistado pelos romanos. Estes não apenas apropriaram-se de todas as terras do império grego, mas também estabeleceram um império ainda mais abrangente e expansivo do que qualquer outro que o havia precedido. Foi nos dias do império romano que um outro reino foi estabelecido, um reino que está sempre crescendo e nunca terminará. Pensemos um pouco mais sobre esta maravilhosa visão profética. De todos os quatro impérios, somente um era totalmente unificado. Este era Babilônia, que é, portanto, retratado como a cabeça de ouro da imagem. A Medo-Pérsia nunca possuiu a mesma glória que Babilônia possuía, e para sua descrição, nada melhor do que a prata. Embora formasse uma unidade, na realidade era constituída de dois braços, exatamente como o sonho da imagem havia profetizado. A Grécia veio em seguida. Sob Alexandre, o Grande, a Grécia foi um império unificado, mas eventualmente se dividiu em duas pernas, a Síria e o Egito. Da mesma forma, o império romano teve duas grandes divisões, do Oriente e do Ocidente (eventualmente se dividiu em dez reinos menores, ou seja, dez dedos – um assunto que está fora do escopo deste capítulo). Foi nos dias do império romano que uma Pedra, sem origem, veio a este mundo. Não teve origem, pois existia mesmo antes de existir o tempo. João Batista proclamou a respeito


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dEle: “O que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim” (Jo 1.15). O eterno Filho de Deus veio a Belém como um menino insignificante, a fim de estabelecer um reino que permanecerá para sempre. Hoje, os reinos que o antecederam estão aniquilados. Mas o reino de Cristo permanece, está crescendo e durará para sempre. Nunca terá sucessor. Tudo aconteceu conforme Daniel profetizou. Quando Deus fala, o que Ele diz é verdadeiro. Um capítulo como este deve renovar nossa confiança na Palavra de Deus. Devemos admirá-la e descansar nela, de um modo que não fizemos antes. O capítulo deve levar-nos a recordar que “os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos” (Sl 19.9). Mas devemos aprender algo mais: a História está nas mãos de Deus. O livro de Daniel foi escrito no século VI a.C. Há muitos que não crêem nisso e insistem em que deve ter sido escrito no século II a.C. Essa teoria pode ser inteiramente descartada; e mais uma vez, recomendo aos leitores interessados a obra de E. J. Young. Ele, Robert Dick Wilson e outros explicam claramente a impossibilidade dessa teoria. Essa visão equivocada tornou-se popular porque muitos homens e mulheres não podem aceitar a idéia da profecia preditiva. Não conseguem acreditar que a Palavra de Deus prevê corretamente os eventos antes que estes ocorram. Se não crêem nisso, nem mesmo a mais bem elaborada argumentação pode convencê-los. Essa é a principal razão por que estudiosos que defendem a data do sexto século antes de Cristo não têm sido amplamente aceitos. Mas os sensatos acharão os argumentos deles convincentes. É importante notar que o Senhor Jesus atribuiu a Daniel a autoria do livro que tem o seu nome (Mt 24.15). Quem ousaria dizer que o perfeito Filho de Deus estava enganado? Podemos, então, confiantemente, afirmar que Daniel registrou a História antes de sua concretização. Como pode acontecer isso, se Deus não controla a História?


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Não é suficiente dizer que Deus meramente previu o que aconteceria. Ele poderia ter feito isso sem ter controle dos eventos que Ele mesmo previu? Poderia tê-los previsto com exatidão, se não os controlasse perfeitamente? Ninguém pode profetizar infalivelmente aquilo que não controla plenamente. Se não fosse assim, alguma coisa poderia acontecer de modo errado. Alguém poderia colocar areia na engrenagem. Alguém poderia tomar uma decisão de modo contrário às profecias feitas. Ninguém pode prever o futuro, se não tem controle sobre ele. É exatamente isso que as Escrituras nos ensinam. Contam-nos que Deus fez “de um só... toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (At 17.26). Daniel já havia dito que é Deus quem estabelece e remove reis (v. 21). Deus controla a História. Este é um pensamento que se mostra maravilhoso para mim, enquanto escrevo estas páginas. Não vivo em um universo descontrolado. Vivo em um mundo onde os propósitos de Deus estão se cumprindo, ainda que muitos eventos sejam horríveis e amedrontadores, como eram nos dias dos impérios mencionados neste capítulo. Todos os acontecimentos estão se realizando de acordo com o que Deus planejou. Deus continua no trono. Isso nos traz à compreensão de uma terceira verdade: não há razão para o cristão ficar desencorajado. Cristo, a Pedra, estabeleceu um reino onde Ele mesmo governa. Não é um reino político, porque Ele asseverou dogmaticamente: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36). Ele nos explicou sobre a qualidade do seu reino: “O reino de Deus está dentro em vós” (Lc 17.21). O reino de Cristo é espiritual. Em todo o mundo, há homens, mulheres, jovens, meninos e meninas em cujo coração Cristo reina. De todas as nações, Ele tem constituído uma nova nação. Dentre as pessoas de todas as raças, Ele tem formado uma nova raça. Pessoas de todas as cidadanias têm adquirido uma nova cidadania. As barreiras entre judeus e gentios,


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escravos e livres, bárbaros e gregos foram destruídas. A extensão do reino de Cristo não é medida por fronteiras visíveis em um mapa. O Filho de Deus governa no coração de todas as pessoas que foram unidas a Ele pelo evangelho. Cristo estabeleceu este reino com a autoridade do Deus do céu (v. 44). Iniciou-se nos dias do império romano, como fora profetizado, e nunca passará. Cristo permanece como seu Rei perpétuo e nunca terá sucessor. Ele mesmo é o Deus todo-poderoso, e, portanto, seu reino jamais será conquistado. Os cidadãos do reino nunca Lhe serão tomados e jamais se revoltarão, pois cada um deles é um súdito voluntário. Este capítulo fala deste reino maravilhoso. Nada pode evitar o crescimento deste reino. Esse fato deve nos proporcionar imenso encorajamento. O reino tem prevalecido e sempre prevalecerá contra toda oposição. Os cristãos podem ser queimados vivos (como Nero o fez), jogados às feras em anfiteatros ou exilados às ilhas. Podem ser encerrados em covas, horrivelmente torturados ou publicamente executados. Porém, nada do que é feito contra eles impede o crescimento do seu número. O sangue dos mártires é a semente da igreja. O reino cresce... cresce... cresce... Finalmente, este reino será semelhante a uma montanha que enche toda a terra. Isso não significa que todos serão salvos, mas que, por fim, haverá pessoas de todas as nações e línguas na proclamação do louvor celestial ao Senhor Jesus Cristo: “Digno é o cordeiro, que foi morto...” (Ap 5.12). O reino de Cristo é eterno. Está chegando o dia em que ele destruirá todas as outras autoridades, governos e poderes (1 Co 15.24). Seu governo, então, será o único a permanecer. O universo inteiro reconhecerá seu senhorio, enquanto seus súditos voluntários ficarão emocionados, ao ouvirem: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). Sem dúvida, o povo do Senhor será sempre um remanescente,


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uma pequena minoria em relação a toda a população do mundo. Porém, o ensino deste capítulo nos assegura que o remanescente existirá sempre e estará continuamente aumentando, até que se estenda aos confins da terra. Não precisamos temer quanto ao futuro da causa de Cristo. A arca de Deus vai muito bem; não precisamos estender nossas mãos para mantê-la firme. O futuro do reino de Cristo está tão seguro quanto as promessas de Daniel 2. Este reino não falhará; em breve será o único a existir. Portanto, vale a pena consagrar tudo que temos e somos à ampliação do reino de Cristo. Todas as nossas posses, talentos e energia devem ser devotadas ao grande trabalho de ganhar outros para Jesus. Não podemos parar. Enquanto semeamos, nem toda a semente germina; nem a maior parte. Mas uma parte dela sempre germina; e os que estão sendo salvos começam a viver outra vida, sob o senhorio de Cristo. Quão maravilhoso é tornar-se um membro deste reino! Quão terrível, pela incredulidade e falta de arrependimento, é estar eternamente fora dele!


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