Ciências: Fácil ou Difícil?

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que a metodologia de ensino era vista como mero “fazer” pedagógico. Na verdade, a opção entre a perspectiva ideológica e a dos saberes escolares constitui uma falsa dicotomia. Sem eles, a escola deixa de ter a legitimidade que a sustenta como instituição social. Este livro pretende proporcionar uma discussão do saber e do fazer, numa perspectiva transformadora, que seja, na medida do possível, profunda, mesmo se despretensiosa e descomplicada, ao lado de uma abordagem explícita de conteúdos escolares propriamente ditos, não apenas discutindo o conteúdo, mas também metodologias de ensino adequadas. Trata-se de uma tentativa inovadora, que pretende enfrentar uma realidade que nos é velha conhecida, em especial na área de ensino de ciências.

A Ciência na Escola

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A Ciência passa a ter espaço no currículo das escolas brasileiras, para crianças, há relativamente pouco tempo. Foi apenas em 1961 que ela efetivamente foi instituída de maneira compulsória, na forma de “Introdução à Ciência” no que seria hoje o ensino fundamental. Mas a realidade da então escola secundária (que corresponderia aos anos finais do ensino fundamental) já trazia elementos que nos soariam muito familiares. O cientista e professor Oswaldo Frota-Pessoa escreveu, àquela época, um livro1 discutindo as dificuldades do ensino de ciências nas escolas brasileiras no qual é possível perceber, desde as primeiras linhas, um quadro semelhante ao que encontramos hoje em dia. Essas dificuldades configuram até mesmo uma verdadeira “cultura” do fracasso escolar na área de Ciências. É comum que diante da falta de compreensão de certa definição, por exemplo, tanto o professor quanto os alunos passem a acreditar que estejam diante de uma verdade absoluta e se sintam incapazes, intelectualmente, de entender algo que parece ser óbvio para os cientistas. No entanto, como veremos adiante neste livro, muitas vezes, professor e aluno não entendem afirmações, mesmo algumas que aparecem impressas em seus livros didáticos, pela simples razão de que elas são uma síntese de várias explicações e conceitos e que não podem mesmo fazer sentido sozinhas, como afirmações isoladas. Algumas vezes, para tentar simplificá-las, os materiais didáticos 1

Frota-Pessoa, O. Biologia na Escola Secundária. Ed. Nacional, SP, (1961).


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