Edição 951

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Diário da Cuesta ANO III

Nº 951

QUINTA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2023

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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Centenário de

Francisco Marins! 23/11/1922 – 10/04/2016

O próximo dia 23 de novembro marca a comemoração do Centenário de nascimento do escritor botucatuense Francisco Marins e a ABL – Academia Botucatuense de Letras realizará amanhã, dia 19 de novembro/16 horas, um Sarau Comemorativo dos 100 Anos do consagrado escritor. A homenagem será realizada na sede da ABL no Centro Cultural de Botucatu.

UM SONHO DE AMOR...

O HOSPITAL DO CÂNCER DE BOTUCATU, COMO O DE BARRETOS, DEVERÁ SER CHAMADO DE HOSPITAL DO AMOR... COMO UM SONHO DE AMOR DO CONSAGRADO ESCRITOR FRANCISCO MARINS, TEM SUA HISTÓRIA NO ARTIGO E NAS PÁGINAS 3 e 4

Programa “Frente a Frente”, da Rede Vida, apresentado por Dom Antonio Maria Mucciolo sobre o Hospital do Câncer de Botucatu, entrevistando Armando Delmanto e Francisco Marins


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CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO ESCRITOR FRANCISCO MARINS Olavo Pinheiro Godoy

O próximo dia 23 de novembro, marca a comemoração do centenário de nascimento do escritor botucatuense Francisco Ferrari Marins. Homem do interior, oriundo de Vila da Prata, na época, munícipio de Botucatu, o escritor Francisco Marins cresceu em permanente contato com a sua terra. Hauriu, desde a infância, os eflúvios sadios das matas e das plantações de café. Impregnou-se de força telúrica. Escutou, atento, as “estórias” daqueles lugares, transmitidas pela tradição oral. Antes de tudo, acima de tudo, Francisco Marins foi um panteísta. A sua trilogia “Clarão na Serra”, “Grotão do Café Amarelo” e “E a Porteira Bateu. . .” é a odisseia dos atrevidos pioneiros que se internaram no sertão bruto, à cata de riquezas e aventuras. Mas também esta história plena de movimento, de ação, de lutas, constitui uma rapsódia, a rapsódia das energias jovens, da mocidade que se levanta para a conquista da vida e do amor. A terra, na concepção de Francisco Marins, não é uma entidade meramente simbólica, mas sim uma criatura viva, palpitante e pura. Quem lê as obras de Francisco Marins, sente que o autor amou os costumes rústicos, as plantações ondulantes de cafezais, a natureza livre, viçosa, em estado selvagem. Já no tempo em que era redator da “Folha de Botucatu”, Francisco Marins começou a escrever, neste jornal, uma série de “Contos Sertanejos”, narrativas ainda um pouco ingênuas e algo romanescas, que revelavam, entretanto, um prosador espontâneo, correto e agradável. Aos seus primeiros estudos críticos, publicados no mesmo órgão, ele forneceu o título de “Pitangas e Gabirobas”, que bem reflete a feição nacionalista de sua alma brasileira. Francisco Marins apanhou diretamente da realidade as figuras que andam pelos seus livros. Seguiu o processo de Dickens, inspirando-se em sua infância para escrever “David Copperfield”. Aliás, são inúmeros os ficcionistas que insuflaram, desta maneira, sangue e nervos aos seus personagens. Os tipos criados pelo escritor, foram colhidos da própria vida. O autor confessou-nos que ouviu, da boca do seu pai, muitas histórias que decorrem entre os rios Tietê

e Paranapanema, na região que começa pelas vertentes da Serra de Botucatu. Isto, acrescenta-lhe maior valor, pois misturando a ficção com a realidade é possível criar obras impressionantes, duradouras, como fez Dostoievski com as suas “Recordações da Casa dos Mortos”, Raul Pompéia com o “Ateneu” e Lima Barreto com as “Recordações do Escrivão Isaias Caminha”. A obra desse valoroso escritor patrício, no fundo, é uma obra épica, um largo painel onde se retrata toda a pujança de um povo másculo, tenaz, idealista, corajoso, que sempre achou que as dificuldades nasceram para serem vencidas e não para nos vencerem.

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

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O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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Francisco Marins: grande perda para Botucatu! Preocupado com a incidência do câncer que ceifava tantas vítimas, trazendo o luto para as famílias, idealizou o HOSPITAL PREVENTIVO DO CÂNCER DE BOTUCATU, ocasião em que trouxe o Diretor do Hospital do Câncer de Barretos, Henrique Prata para que explanasse sua experiência na implantação do hospital do câncer de Barretos. Foi o início. Ao depois, fomos a Barretos à convite de Henrique Prata e pudemos conhecer a grandiosidade que goza, hoje, de fama mundial, graças à alta tecnologia e à competência com que trata seus pacientes.

Faleceu, nesta madrugada, na Misericórdia Botucatuense, o escritor botucatuense FRANCISCO MARINS. Casado com Dona Elvira Bandeira de Mello Marins, deixa filho, netos e bisnetos. Nascido em Botucatu (Distrito de Pratânia), Francisco Marins formou-se em nossa Escola Normal. Na capital, estudou e se formou pela Faculdade de Direito da USP. Fez carreira na conceituada editora MELHORAMENTOS, onde se projetou como livreiro experiente e inovador. Sempre ligado à literatura desde os bancos escolares, Marins tem obra dedicada à juventude e à saga do café.

(revista PEABIRU nº 31, de março/abril de 2011)

(revista PEABIRU nº 28, de novembro/dezembro de 2009)

Duas vezes presidente da Academia Paulista de Letras, era atualmente seu Presidente Emérito. Na ABL, com Hernâni Donato e Alceu Maynard de Araújo formou o trio de Patronos vivos. Botucatu prestou e reverenciou, sempre, seus escritores. Na posse de Marins, como presidente da APL e de Hernâni como secretário, o “VANGUARDA DE BOTUCATU” registrou o grande acontecimento:

Na parte cultural, Francisco Marins promoveu, juntamente com Hernâni Donato, a realização da 1ª Reunião Ordinária da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, fora da capital, juntamente com a ABL – ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS.

A revista PEABIRU presta suas homenagens ao Dr. Francisco Marins e estende, à toda a sua família, os sentimentos de pesar, na certeza de representar o sentimento de toda a cidade de Botucatu.

FRANCISCO MARINS, saudades! (AMD) Blog do Delmanto, 10/04/2016


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Revista PEABIRU, nº 31 – março/abril de 2011 – Visita de Henrique Prata, do “Hospital do Amor” de Barretos a Botucatu.


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A “SAGA DO CAFÉ”

Eliane Aparecida Biasetto Vida e obras de Francisco Marins Francisco Marins nasceu em 1922 na cidade de Botucatu, Distrito de Pratania, no Estado de São Paulo. Viveu toda a sua juventude em uma propriedade rural, de onde sairia a sua inspiração para relatar nos seus romances as histórias do interior paulista. A sua vasta produção literária também percorre o campo da literatura infanto-juvenil, que igualmente aos romances, busca apresentar a paisagem física e social do interior do Brasil na época do seu desbravamento. Francisco Marins inicia a publicação da “Saga do Café” em meados dos anos 60, com o lançamento do primeiro romance, Clarão da Serra; em seguida vieram Grotão do café amarelo,... E a porteira bateu! e Atalhos sem fim, este último publicado nos anos 1980. Já relacionando memória, história e literatura, pergunta-se o que levou Marins a produzir a sua última narrativa sobre o “ciclo do café” paulista somente vinte anos após o primeiro volume da série. Ao analisarmos essa coleção de romances, percebemos que o autor segue uma ordem cronológica em relação aos elementos históricos que moldaram o processo de transformação da paisagem do oeste paulista. No primeiro livro, de 1963, Marins mostra ao leitor, através das brigas por terra entre os personagens protagonistas, José Gomes e Espiridão Correia, como se iniciou o desenvolvimento da cultura cafeeira no oeste paulista e como se deu a ocupação desse espaço. Em meio a esses fenômenos históricos, o autor também faz menção à abolição da escravatura, em 1888, que vai acarretar na vinda de imigrantes para o país e as consequências políticas, econômicas e sociais do período regencial do Brasil. O trabalho de Lucia Luppi Oliveira (2001) “O Brasil dos imigrantes”, nos ajuda a ter uma visão histórica da situação do Brasil após a abolição. Quando relacionado o estudo dela com a de Francisco Marins, percebemos o quanto o nosso literário buscou fazer do seu romance uma fonte

histórica. Em vários momentos, as obras se complementam, reforçando a relação entre história, literatura e ensino. No caso brasileiro, durante o século XIX, a entrada de imigrantes aconteceu voltada para dois focos: a pequena propriedade agrícola principalmente nos estados do Sul, e as fazendas de café no Oeste paulista, onde eram empregados como mão-de-obra. No segundo livro, de 1964, o autor mostra as primeiras consequências que a produção do café na região estava proporcionando à fictícia vila de Santana e ao país. Santana começa a urbanizar-se lentamente, com a construção de mais casas e comércios, pois a vila tinha que apresentar estrutura para poder comercializar o produto que se tornara a base da economia brasileira. As principais discussões nesse período permeavam o fim da escravidão no país, a consolidação da República, o auge da economia cafeeira e a ampliação da rede ferroviária. Marins procura inserir os seus personagens nas discussões políticas, sociais e econômicas do período, como também expressa em números à produção do café da época. É dessa forma que nos deparamos com políticos, jornalistas, revolucionários e outros que se preocupavam com o futuro da nação. No terceiro livro da coleção, de 1968, temos uma alusão maior da construção da rede ferroviária no interior de São Paulo, percebemos que sua constituição estava atrelada à expansão cafeeira, assim como à definição de suas rotas. A linha ferroviária apresentou grandes dificuldades para a permanência dos índios nas suas regiões de origem, pois muitas matas foram devastadas para que as redes ferroviárias fossem construídas. Isso provocou constantes conflitos entre as tribos indígenas e os operários que trabalhavam na construção. Marins nos mostra o quanto que a população do interior paulista aumentou significativamente após a instalação do transporte fer-

roviário, trazendo modificações expressivas na paisagem de Santana. A historiografia reafirma o que o romance expressa. A última obra da coleção, de 2004, aborda o impacto da decadência do café no Brasil e o aparecimento de outros recursos econômicos. O autor vai esboçando as alterações que as crises políticas e sociais acarretaram no país, dando origem à Revolução de 1924. Neste livro, o escritor também faz menção ao papel político e social do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), onde podemos perceber que o autor indiretamente fala da sua própria produção. Antonio Celso Ferreira, na sua obra “A epopéia bandeirante”, nos ajuda a entender o contexto literário em que Francisco Marins escreve. Ferreira, ao contar a história da formação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e em seguida a formação do IHGSP, nos proporciona um olhar sobre quem eram os letrados paulistas e suas produções. Percebemos que as produções literárias do IHGBSP tinham como objetivo retratar as histórias do interior paulista, seu regionalismo, os tropeiros, os bandeirantes. É clara a busca desses letrados por uma identidade regional e nacional. As obras de Francisco Marins possibilitam que o leitor navegue tanto nas águas da literatura quanto nas águas da história. O seu objetivo é transformar o espaço e o tempo das personagens em elementos verdadeiros, por isso o uso de fontes históricas que permitem que o leitor tenha conhecimento da vida e dos costumes daqueles que colonizaram o oeste paulista. Este contato com a realidade da história muitas vezes proporciona ao leitor se reconhecer no tempo, no espaço ou até mesmo na personalidade de alguns personagens, pois o processo de colonização que o autor aborda é semelhante daquele que aconteceu em várias partes do Brasil.


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Primórdios da filatelia em Botucatu Ângelo Albertini do Amaral

No rememoro do manuseio de alguns antigos jornais, vem me à lembrança umas crônicas escritas por João Nogueira Jaguaribe, advogado que residia em São Manoel, e que escreveu sobre juízes de direito e promotores públicos que passaram pelo Fórum de Botucatu. Lembramo-nos de vários, mas vamos destacar uma que fazia referência ao Dr. Luiz Ayres, um dos juízes biografados. Foi ele pai de Paulo Ayres, que veio a ser médico em São Paulo e que perfila-se entre os maiores nomes da filatelia brasileira. Autor de um catálogo de carimbos do império do Brasil, base para a coleção dessa difícil especialização, seu nome se impõe como luminar entre os maiores imperiais carimbologistas. Nasceu em Botucatu, nos parece, em 31 de agosto de 1889. E foram os jornais desde o fim do século passado até 1930, mais ou menos, destacando-se razoável quantia de exemplares de “O Botucatuense”, jornal de tendência política cardosista, editado por Avelino Carneiro, que foi tipógrafo, comerciante e politiqueiro. Como tipógrafo e jornalista, editava o jornal, como politiqueiro, foi um dos líderes do partido cardosista, como comerciante foi dono de um bazar de miudezas. E como dono desse bazar de miudezas, foi representante filatélico do comerciante desse ramo do Rio de Janeiro, Alfh Bluck, que se sabe publicava um dos primeiros catálogos de selos brasileiros. Vimos de rever um desses exemplares, que na época realmente nos chamou a atenção, por causa de dois pequenos anúncios. Malbaratados os demais, deu muita sorte rever esse, que folheamos e que vamos citar, com alguns detalhes. “O Botucatuense”, “Organ Independente”, proprietário Cap. (Capitão) Avelino Carneiro, fundado em 1893 (foi o terceiro jornal da cidade), colaboradores diversos. “Botucatu, sábado, 15 de junho e 1912, nº 1025”. Contendo como dissemos dois anúncios, de nosso interesse: “Sellos. Próprio para colleção. Vende-se um stock, nacionais e extrangeiros, antigos, perto de 15 mil. Preços baratíssimos.

Diversos selos do Império do Brasil

Catálogo de carimbos do império de Paulo Ayres Para informações com Benedito Carneiro. Botucatu.” “Moedas. De prata e de cobre. Compram-se moedas de prata e de cobre, muito antigas, portuguesas e brasileiras. Tratar no Hotel Rabello.” Ficava o estabelecimento de Avelino Carneiro, na rua Riachuelo, nº 39, (hoje rua Amando de barros), bem em frente da Casa Comercial do chefe político antagonista dos cardosistas. E entre os amandistas enfileirava-se o Dr. Luíz Ayres. Rudes tempos de políticos duros que resolviam suas pendências à golpes de rabos de tatu. O futuro filatelista terá começado em nossa cidade a sua grande vocação e até quando bebeu da água do chafariz? E Benedito Carneiro ficou sendo uma incógnita. Filho de Avelino? Foi filatelia, ou vendia “o stock”, que existia no bazar da família? Adulto? Qual seria sua idade na época que propunha a transação? Será que ambos foram filatelistas e como colegas trocavam seus selinhos repetidos algures? Ou foram amandistas e cardositas? Por essas relembranças e indagações podemos remontar para o fim do século passado e começo do presente a história da filatelia em nossa cidade. Mas na verdade é com a criação em 1945 do Departamento Filatélico do Centro Cultural de Botucatu, que realmente começou a essa história contada e comprovada. Deixa de ser crônica. Deixa de ser lorota. Vira documento. Do livro Miscelânia Filatélica e Numismática, quase um livro, de Ângelo Albertini do Amaral. Segundo autor, “dessa quase edição foram feitos 20 exemplares xerocados em fevereiro de 1996”.


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