Edição 915

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Diário da Cuesta ANO III

Nº 915

QUINTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2023

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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HOMENAGEM A HERNÂNI DONATO

Homenageado em vida... Merecidamente. Hernâni Donato que aniversaria no dia 12 de outubro teve seu Centenário de nascimento comemorado em 2022. No Teatro Municipal, “CAMILO FERNANDES DINUCCI”, em 29/03/2011, foi realizada a SESSÃO MAGNA CONJUNTA DA APL E DA ABL. Sucesso total. Pela primeira vez a Academia Paulista de Letras fazia sua reunião fora da Capital. Certamente, uma vitória do escritor botucatuense, Membro e ex-Presidente Emérito da APL, Francisco Marins. A Sessão Magna durou cerca de 3 horas, sendo dirigida pelo presidente da ABL, prof. José Celso Soares Vieira. Como destaque, tivemos a leitura, pelo acadêmico Hernâni Donato, de uma poesia do príncipe dos poetas brasileiros e membro da APL, Paulo Bomfim, intitulada “EU VOU PRA BOTUCATU”. A entrega do troféu “A Flor Roxa de Taquara-Póca” homenagem do “Convivium – Espaço Cultural Francisco Marins” aos botucatuenses merecedores desse reconhecimento: prof. Pedreti Neto (in memorian) e acadêmico Hernâni Donato. A entrega do troféu e a saudação aos homenageados coube, respectivamente, aos Drs. Adolpho Dinucci Venditto e Armando Moraes Delmanto. Página 4

DIA DA PADROEIRA DO BRASIL Você Sabia?!? Há 60 anos, Nossa Senhora Aparecida foi eleita a Rainha dos Estudantes de Botucatu. Em reportagem de capa do jornal “Tribuna do Estudante”, órgão oficial do Colégio La Salle, o então estudante Bahige Fadel (hoje destacado professor, escritor e acadêmico da ABL) faz o histórico da grande movimentação popular no ano de 1963. É Registro Histórico! Página 3


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CEM ANOS DE NASCIMENTO DE HERNÂNI DONATO Em 12 de outubro de 2022 comemora-se os 100 anos de nascimento do escritor, historiador, cronista, colunista, professor, conferencista, roteirista, publicitário, relações públicas e multicriador Hernâni Donato. Também é de cerca de 100 o número de obras deixadas por Hernâni Donato, incluindo livros, como romances, contos, infanto-juvenis, dicionários, biografias, historiografias, além de traduções comentadas, ensaios, mitologias, coautorias e outros. Três dos seus livros – Chão Bruto, Selva Trágica e O Caçador de Esmeraldas - viraram filmes protagonizados por atores brasileiros famosos, nos quais ele participou na criação de roteiros e diálogos. Natural de Botucatu, com apenas 12 anos de idade, na 2ª série ginasial, escreveu em parceria com Francisco Marins a novela infantil O Tesouro, que foi publicada no suplemento O Guri do jornal O Diário de São Paulo, dos Diários Associados. Dirigiu vários jornais estudantis na cidade. Aos 15 anos já era reconhecido como o historiador da cidade. Por sua dedicação escolar, herdou uma biblioteca de um antigo professor de geografia. Mudou-se pra São Paulo na década de 50, onde viveu e faleceu, aos 90, em 22/11/2012. Cursou Sociologia e Dramaturgia. Trabalhou em Planejamento e Atendimento em grandes agências, como Standard, Almap e Norton. Foi Diretor de Relações Públicas da Editora Abril, Editora Visão, Coopersucar e Editora Melhoramentos. Foi membro da Academia Paulista de Letras, Academia Paulista de História, Academia Botucatuense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foi um dos pioneiros na produção de roteiros para programas de TV. Na TV Paulista (Globo), canal 5, Hernani produziu o programa “Construção de São Paulo”. E na TV Record, canal 7, produziu o programa “Do Zero ao Infinito“, apresentado por Jota Silvestre e Clarice Amaral. Chefiou a Comissão Comemorativa de Propaganda do VI Centenário da Cidade de São Paulo (julho/54), ao lado do poeta Guilherme de Almeida. Representou o Brasil em reuniões internacionais, como a ALALC, Associação Latino- Americana de Livre Comércio, em Montevideo, no setor de livros da Brasil Export, em Bruxelas e na World Association Public Opinion Research, em Punta del Este. Dentre suas obras editadas, destacam-se: Contos: “Contos muito Humanos”; “Grandes Amores da História e da Lenda”; “Babel”; Romances: “Filhos do Destino”; “Chão Bruto”; “Selva Trágica”; “O Rio do Tempo, Romance do Aleijadinho”; Livros Infantis: “Façanha do João Sabido”; “As Novas Travessuras de Pedro Malasartes”; “Contos dos Meninos Índios”, “Os Povos Indígenas no Brasil”, “Por Que o Sol anda Devagar”, “As

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Noivas Da Estrela”, “As Descobertas das Frutas”, “Os Meninos que se tornaram Estrelas”, “A Barca da Tartaruga”, “Quando os Bichos eram Gente”. Juvenis: “A Maravilhosa História dos Presentes de Natal”; “A Maravilhosa História do Presépio de Natal”; “A Palavra Escrita e sua História”; “História do Calendário”; “A longa História dos Transportes”, Vol. II, Coleção Conquistas Humanas. História: Achegas para a História de Botucatu”; “Sumé e Peabiru”; “Provérbios Rurais Paulistas”; “Dicionário das Batalhas Brasileiras”; “A Revolução de 32”; “Páteo do Colégio, Coração de São Paulo”; “Brasil 5 Séculos”; “Dicionário das Mitologias Americanas”: “Grandes Discursos da História (19 oradores e suas peças mais notórias)”; Biografias: “Raposo Tavares, o Vencedor dos Andes”; “Vital Brasil, o Domador de Serpentes”; “José de Alencar”; “Plácido de Castro”; “Casimiro de Abreu”; “Vicente de Carvalho”; “Schliemann, Desenterrador de Cidades”, no livro “Os Descobridores”; “Manzoni, e Cervantes”, no livro “Os Escritores”; “Galileu Galilei”, “Os Guerreiros (as vidas e as batalhas de 12 soldados)”; “Os Cientistas (as vidas e as descobertas de 12 cientistas). Traduções: “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri (integralmente, anotada em prosa moderna); “Delito no Campo de Tênis”, de Moravia, “Histórias do País da Fantasia,(infantil), de Meoni”; “Maravilhas da Novela Italiana”, seleção, tradução e prefácio. Prêmios principais: Prêmio Câmara Municipal de São Paulo (1955), pelos diálogos do filme “Se a cidade contasse”. Prêmio Prefeitura Municipal de São Paulo para o co-roteiro do filme documentário “A batalha do alumínio Prêmio “Afonso Arinos” (1977), Academia Brasileira de Letras para o livro “Babel”. Prêmio “Fernando Chinaglia”, UBE (1979). Personalidade do Ano Internacional da Criança. Prêmio Clio (1983), da Academia Paulistana da História, para o “Dicionário das Batalhas Brasileiras”. Prêmio Clio (1983), Categoria História Política para o livro “A Revolução de 1932”. Láurea Personalidade do Ano em Literatura (1996) do Ateneu Rotário de São Paulo. Prêmio Penn Center de São Paulo pelo “Dicionário das Batalhas Brasileiras”, livro que, em 1987, recebeu também o Prêmio Especial da Associação Paulista de Críticos de Arte; Prêmio Joaquim Nabuco (1988), Academia Brasileira de Letras para o “Dicionário das Batalhas Brasileiras”. Prêmio Saci, do jornal “O Estado de São Paulo”, para o co-roteiro para o filme “Chão Bruto”. Prêmio Governador do Estado pela mesma justificativa.

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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POESIA PARA NOSSA SENHORA APARECIDA – 1963

No ano de 1963 – há 60 Anos! – o culto à Padroeira do Brasil já era uma realidade, antes mesmo da grandiosidade do SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA APARECIDA, o maior santuário do mundo dedicado à Mãe de Jesus. E, nesse ano, em1963, na cidade de Botucatu era eleita a “Rainha dos Estudantes”, numa promoção da LEB – Liga Estudantina Botucatuense, a NOSSA SENHORA APARECIDA! E no jornal estudantil – porta-voz oficial do Colégio La Salle – era publicada a poesia “DESCOBERTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA”, do aluno Vanderley Dias Cordeiro, colega do Curso Científico. A poesia está estampada na contracapa do jornal “TRIBUNA DO ESTUDANTE”:

Tribuna do Estudante, 1963 Na visita emblemática do PAPA FRANCISCO ao Brasil, fizemos este Registro Histórico a mostrar a espontaneidade da poesia de um estudante brasileiro dedicada à Padroeira do Brasil e a participação da indústria nacional na construção do veículo que se tornaria famoso, fabricado pela CAIO.

É REGISTRO HISTÓRICO!!! (AMD)


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HOMENAGEM A HERNÂNI DONATO

Botucatu viveu o seu mais importante momento cultural na Sessão Magna conjunta da APL - Academia Paulista de Letras e da ABL - Academia Botucatuense de Letras, em 2001. Pela primeira vez em sua história a APL realizava uma sessão fora de sua sede, na capital. No Teatro Municipal “Camillo Fernandes Dinucci”, a sessão magna conjunta teve seu ápice com a entrega do Troféu “A Flor Roxa de Taquara-Poca”. Os agraciados foram o saudoso professor José Pedretti Neto (in memorian) e o escritor e historiador Hernâni Donato. Na ocasião, o acadêmico Armando Moraes Delmanto, da ABL, discursou em homenagem a Hernâni Donato e lhe entregou a troféu. Com a presença dos ilustres acadêmicos paulistas, Miguel Reale, Erwin Theodor Rosenthal, Benedito Ferri de Barros, Sólon Borges dos Reis, Anna Maria Martins, Clodoaldo Pavan, Cyro Pimentel, Fábio Lucas, Geraldo Pinto Rodrigues, Hernâni Donato, João de Scantimburgo, Ligia Fagundes Telles, Nilo Scalco, Paulo José da Costa Jr., Francisco Marins e a bibliotecária Maria Luiza. A sessão foi presidida pelo presidente da ABL, José Celso Soares Vieira e secretariada pela acadêmica Carmem Silvia Martin Guimarães. Delmanto foi feliz ao trazer o perfil brilhante de Hernâni Donato: -”Excelentíssimos Senhores Membros Efetivos das Academias Brasileira, Paulista e Botucatuense de Letras, -Autoridades Civis, Militares e Eclesiásticas, -Casal Anfitrião, Dr. Francisco Marins e Dona Elvira, -Familiares do saudoso Prof. Pedreti Neto, -Familiares do Acadêmico Hernâni Donato, -Senhoras e Senhores. No final do ano passado, Hernâni Donato proferiu palestra no prestigioso Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Foi um sucesso. A revista Problemas Brasileiros, de janeiro/fevereiro deste ano trouxe, como encarte, a sua palestra: “No Brasil, o Paraíso - Um mito do descobrimento”. Hernâni teve a gentileza de enviar-me o texto. Pois bem, li de um só fôlego o trabalho. E, ao agradecer por carta, conclui dizendo que o trabalho era fabuloso. E destaquei com letras maiúsculas e exclamações !!! (FABULOSO!!!!!) Pois é com esse espírito e entusiasmo que faço, hoje, a saudação a Hernâni Donato. Caríssimos Presidentes Erwin Theodor Rosenthal e Celso Vieira, SEM EXAGERO, podemos afirmar que o trabalho intelectual de Hernâni Donato é fabuloso. FABULOSO!!!!! Os livros de Hernâni Donato são conhecidos de todos nós. Aliás, Hernâni Donato é uma das raríssimas UNANIMIDADES DE BOTUCATU!!!! Começou jovem, na pré-adolescência. Juntamente com o amigo Francisco Marins teve seu primeiro trabalho publicado no suplemento juvenil do “DIÁRIO DE S.PAULO”, da capital: a novela “O TESOURO”. Na 5ª. Série da ESCOLA NORMAL, juntamente com Francisco Marins e com o Prof. José Sartori, que pertenceu à nossa Academia, recentemente falecido, dirigiu o jornal “O ESTUDANTE”. Aluno da ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO, agregada à USP, interrompeu os estudos para comandar um grupo que se propôs a retraçar o percurso do caminho pré-cabralino do PEABIRU, entre São Vicente e Cuzco, no Peru. O PEABIRU foi a grande paixão intelectual de Hernâni Donato. Em 1997, Hernâni publicou “SUMÉ E PEABIRU: mistérios maiores do século da descoberta”, fruto de “mais de sessenta anos de pesquisa. No campo e nos textos”. É, com certeza, obra única! Na Capital, sempre atuou como homem de propaganda, de criação, de relações públicas. Presidiu a Editora Propaganda, atuou com destaque na Cia Melhoramentos, na Abril Cultural e foi um dos pioneiros da nossa televisão, produzindo um dos primeiros programas a ser campeão de audiência: “DO ZERO AO INFINITO”. Hernâni também foi um dos expoentes do jovem cinema nacional. Recebeu os prêmios SACI e GOVERNADOR DO ESTADO (1959) pela transposição para o cinema do seu romance “CHÃO BRUTO”. Outro romance de Hernâni, “SELVA TRÁGICA”, também cinematografado, foi exibido no Festival de Veneza. Hernâni é botucatuense, filho de Antonio Donato e de Dona Adélia Leão Donato. É casado como Dona Nelly Martha e tem 3 filhos: Maria Cláudia, Maria Flávia e Antonio André. Hoje, é avô coruja de Bruno, Rodrigo, Fernanda e

Natália. Membro Efetivo do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO e da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, Hernâni Donato pertence a inúmeras outras Academias do Brasil e do Exterior sendo, com muita honra, PATRONO da ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS. Como uma unanimidade municipal, por seu trabalho sobre a história de Botucatu, Hernâni tem o seu “ACHEGAS”, como o livro oficial de nossa historiografia. Todos os que estudam e pesquisam a história da cidade dos bons ares e das boas escolas temos, no “ACHEGAS” de Hernâni Donato o nosso norte, o nosso rumo! É o referencial histórico de Botucatu! Mas eu gostaria de, ao homenagear Hernâni Donato por seu trabalho intelectual e, especialmente, por seu trabalho para a historiografia de Botucatu, citar dois fatos: 1) o primeiro, referente à primeira edição do “ACHEGAS” (1954), quando o então vereador Dr. SEBASTIÃO DE ALMEIDA PINTO (médico, escritor e historiador) propôs e prontamente foi atendido pelo Prefeito Municipal de Botucatu, EMÍLIO PEDUTI, dando o necessário numerário para que saísse a 1ª. Edição do livro de Hernâni. Logo após, também graças à sensibilidade desse prefeito, Hernâni Donato recebeu a incumbência para que fizesse o BRASÃO DO CENTENÁRIO! Hernâni fez toda a criação intelectual imortalizada pela competência técnica do Prof. GASTÃO DAL FARRA. No BRASÃO DO CENTENÁRIO está tudo: desde o caminho do PEABIRU, a primeira capela, até os rios Pardo e Tietê. É uma beleza! É o retrato de Botucatu! O nosso 1º Símbolo Municipal até hoje é o preferido da população que espera seja oficializado pela municipalidade como o BRASÃO HISTÓRICO DE BOTUCATU!! 2) o segundo fato é referente à nossa história. Um dos mais importantes fatos da história de Botucatu: a criação da FACULDADE DE MEDICINA! Esse fato, com certeza, mudou o destino de nossa cidade! Raramente não encontraremos a devida citação dos fatos de nossa história no “ACHEGAS”. É Verdade! Sobre a história da conquista da FACULDADE DE MEDICINA, Hernâni começa por afirmar: “...Por que não levar ao governo a sugestão de instalar ali (Rubião Jr) uma faculdade de medicina? A muitos, a ideia pareceu demasiada. Chegou a assustar o núcleo dirigente local. Receavam desencadear campanha que dificilmente chegaria a bom termo. Se fosse Direito... Mas a juventude adotou a ousadia. Na capital constituiu-se comissão de botucatuenses ligados à imprensa e à política para agitar o assunto, independente ou até contra o poder municipal...” Nessa parte eu interrompo a leitura porque o texto de Hernâni, embora citando os pioneiros dessa luta, é por demais modesto... E logo vocês compreenderão o porquê... Busco no “MEMÓRIAS DE BOTUCATU”, também fruto de muitas pesquisas e depoimentos, o final do relato: “...Se havia o receio inicial das autoridade temerosas de uma empreitada impossível, o mesmo não ocorria com a juventude “botucuda”. Nos jovens, o destaque para JOSÉ FARALDO que era jornalista dos então poderosos DIÁRIOS ASSOCIADOS, lotado no Setor de Imprensa do Palácio dos Campos Elísios, e para HERNÂNI DONATO, jornalista e escritor em ascensão que comandaram o Grupo de Ação inicial, “balançando” as estruturas, convocando as autoridades, mobilizando a população e realizando um trabalho de relações públicas (especialidade de Hernâni) junto à imprensa botucatuense e paulista... O que aconteceu depois todos nós já sabemos... O que aconteceu depois faz parte da história de nossa gloriosa FACULDADE DE MEDICINA, hoje pertencente à UNESP. E a história oficial da grande conquista é o exemplo e motivo para atual luta pela conquista da REITORIA da UNESP para Botucatu. ESSE É O CENÁRIO!!! O sempre Mestre, AGOSTINHO MINICUCCI, criou uma expressão de sucesso: CAMINHADA PEABIRUANA, que representa a caminhada de todos os botucatuenses dedicados a estudar a nossa história, valorizando-a, destacando seus principais feitos, divulgando seus heróis municipais, enfim, vivenciando a nossa cidadania. Essa expressão é própria para o trabalho intelectual de Hernâni Donato! A CAMINHADA PEABIRUANA de Hernâni Donato foi e continua sendo um SUCESSO! Um sucesso fabuloso! FABULOSO!!!! Obrigado, Hernâni! Parabéns! Avante!” Hernâni Donato agradeceu em carta ao Armando M. Delmanto, completando esse importante registro histórico da cultura botucatuense: Caro Armando Delmanto: Você mesmo terá provado o quanto é difícil o ser “profeta na sua terra”, qualquer manifestação em contrário a esse afirmar retira do orgulho o selo do pecado. Isto entra no considerar tudo o que me tem sucedido em Botucatu, especialmente no 29.03. Muito mais fico devendo quando a ode é cantada por um solista da sua qualidade. Não mereço tanto. Bem por isso, por favor, aceite o meu agradecimento. Pelo que fez e disse. Só por isso terá valido a festa. Abraço. Grato. HERNÂNI. (01.04.2011)


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VANGUARDA DE BOTUCATU

Por entender que o “Vanguarda de Botucatu” representou o espírito de uma geração que soube assumir o compromisso com seu tempo é que estamos promovendo a divulgação do que foi o Vanguarda, com a reprodução de alguns artigos dos muitos colaboradores que teve. Artigos que foram um marco, ficaram na história da imprensa botucatuense. E mostramos, abaixo, o layout da coluna social (“Acontecências”, idealizada por Olavo Pupo e que teve enorme influência na juventude botucatuense por muitos anos. No início, feita pelo Olavo e a Rita Pedroso, foi comandada também por Claudia Pedroso, Totica Pedroso e Andrea Morato e Fernando Amando de Barros). FOI OBJETO DE FORTE RESISTÊNCIA DE SETORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE BOTUCATUENSE POR SUGERIR UM “MEMBRO GENITAL”...rsrsrs

O “Vanguarda de Botucatu”, já o dissemos, não acabou em 1980. Ele continuou através do “Jornal de Botucatu”, fundado em novembro de 1980. O “Jornal de Botucatu” surgia como um jornal bi-semanário, sem engajamento político, mas com uma linha definida de defesa da comunidade. Foi o primeiro jornal feito no linotipo em Botucatu à partir dos anos 70. Até 1980, os nossos jornais eram feitos no tipo, com exceção do Vanguarda, sempre feito fora de Botucatu por problemas de perseguições políticas dos poderosos de então. Pois bem, em 1980 , trouxemos para Botucatu a gráfica completa do Ariosto Campiteli, de Bauru, que passou a ser sócio do jornal recém criado. Hoje, a Revista Peabiru procura manter a mesma linha de atuação, mobilizando a nossa comunidade, convocando a “intelligentzia botucatuense», enfim, construindo a nossa cidadania. O prefácio de Hernâni Donato e seu artigo comemorando os 10 Anos do “VANGUARADA” e + os promeiros artigos da equipe jovem de colaboradores é um precioso acervo de nosso jornalismo: “Um Voto Esperançoso...Mais Um....” Rapazes: o diretor do jornal não brinca em serviço. Chegou e mandou: Vanguarda quer inovar. Sacuda a nossa moçada. Dê-lhe um plá dosado para os males de Botucatu. Bom, não tenho receituário para uso dos moços que insistem em abrir o seu caminho dinamitando a estradinha aberta pelos mais velhos. Mas concordo em que para Botucatu, o momento, mais do que nunca, é o de balançar a roseira. Mais do que nunca porque ela goza de privilégio único de receber, de golpe, o enriquecimento do sangue novo de milhares de universitários. Gente de sangue quente, às vezes descontrolada exatamente por causa do sistemático “pé na tábua” em que vive, mas de cuja generosidade é possível esperar tudo. Mesmo aquilo que é mais necessário para a cidade: giro de duzentos graus na bússola do comportamento coletivo. Vou lhes dar 3 diagnósticos para um mal que é típico da gente serraçumana. 1º ato: Cornélio Pires, no palco do Casino, fim dos anos 30: «é difícil entender este povo. Gosta das minhas piadas porque ri de estourar.

Mas não move as mãos, não aplaude. É frio!». 2º ato: um humilde botucatuense que nos anos 40 chegou a campeão brasileiro de um certo esporte: «o pessoal, lá na terra, parece que tem vergonha de me cumprimentar. É onde menos sou festejado!». 3º ato: d. Frei Henrique, anos 50, assistindo a um bem organizado desfile cívico-religioso, ali na Cel. Moura: “Aplaudam. Vamos aplaudir, ó povo frio. Não sabem o trabalho que dá?”. Tradução: se a rapaziada que forma com a Vanguarda ou em torno dela - excluída toda e qualquer conotação político-partidária - tem mensagem ou acredita tê-la e quer fazer algo pela cidade, não espere compreensão, nem aproveitar fundamentos existentes. Comece da base, feche os ouvidos, abra os olhos, veja as nossas lições mais práticas da história local e geral. E construa o legado da sua geração. Não espere aplausos. Haverá exceções, busca de diálogo, oferecimento de ajuda que afinal os voluntariosos estão em toda parte. Se a bandeira da Vanguarda é fazer e renovar, não atacar ou destruir, tem um campo largo pela frente. E merece o apoio de quem sente que é preciso mudar a mentalidade para não ter que mudar de cidade. Espero que Vanguarda, liberta de ganchos políticos que a limitem e imobilizem, tenha forças para resistir aqueles que vão tentar destruí-la, pela omissão; negá-la, pela tentativa do ridículo; esfriá-la, pela inércia com que gelaram tantos outros empreendimentos igualmente generosos; desviá-la pelo descrédito organizado e sistemático. E que ajude a repor Botucatu entre as primeiras das nossas cidades. Se ela perdeu - quem negará que ela tenha perdido lastro, infelizmente? - foi só por culpa da sua gente. Gente que brinca com o futuro, com o voto, com as lideranças. Estou exagerando? Voltem a cabeça e vejam as conquistas e realizações dos últimos 10 anos. Individualizem os seus idealizadores. A constatação será melancólica. Por isso - sem que isto signifique pronunciamento político ou grupal, mas apenas mais um voto de esperança, confio em Vanguarda. Como em todo movimento de juventude. Nós já tivemos freios demais. Precisamos de bons aceleradores. Toque aqui, Vanguarda ! Prá frentex, gente.” O posicionamento de Hernâni Donato não deixa de ser uma aula de sociologia “botucuda”. Era o quadro, sem tirar nem por, de nossa sociedade sedimentada mas com falta de perspectivas para o futuro... No 10º aniversário do “Vanguarda de Botucatu”, em 1980, mais uma vez a palavra amiga e incentivadora de Hernâni: “Pelos Primeiros Dez Anos de o “Vanguarda” Segundo as agências de propaganda, um jornal atinge a maioridade ao superar a marca do ano de publicação. Este período está para o jornalismo, assim como o nada saudoso “mal de sete dias” estava para crônica da mortalidade infantil nos velhos tempos. Mas, quando se trata de jornal interiorano, elas, as agências, exigem três anos de publicação. Aí sim, passam as folhas caboclas a gozar do “status” de jornal a merecer conceito, às vezes até uma programação que lhe oxigene os pulmões financeiros. Pois o jornal do Delmanto está quebrando a barreira dos dez anos. Mesmo quantos não subscrevem a linha política que ele imprimiu ou imprime ao “seu” jornal, hão de parabenizá-lo por vir respondendo ao gongo que tiranicamente o convoca para novos assaltos dessa luta sem intervalos que é o fazer imprensa. Principalmente - isto já é um refrão mas nem por isso é menos verdade - principalmente, imprensa interiorana. Quantos amem Botucatu e respeitem o jornalismo - uma das formas de manter dignas as comunidades - hão de fazer coro ao nosso voto: o de que, pelos decênios em fora, o Armando saiba fazer bem o seu jornal. E seja feliz com ele e por ele”.


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LEITURA DINÂMICA


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Celso Muccio o radialista que fez história em Botucatu Edil Gomes

Na década de 90, Jaime Sanches lançou em Botucatu a revista Boca de Cena, um projeto editorial onde sempre polêmico apresentava um contra ponto dos assuntos da Cidade, como descrevia “O exercício da democracia é um desafio permanente para todos nós”, na sua primeira edição, trouxe uma entrevista com o radialista Celso Muccio, pessoa com que convivi e aprendi muito. Ambos já não se encontram no nosso meio, mas deixaram um legado por ande passaram, o Jaime Sanches no Teatro e o Celso principalmente na imprensa. Resgatei parte dessa entrevista como uma análise de como estava Botucatu no final da década de 90, a entrevista foi feita na época pelo jornalista Danilo Vivan e logo no início o editor já classificava a entrevista como “fala com espantosa sinceridade o que pensa das coisas. O polêmico radialista é o nosso convidado de estreia”. Celso Mucio, na época com 40 anos, nascido em São Paulo, capital, sua família havia vindo para morar em Botucatu e Celso ficou em São Paulo com seu pai até o seu falecimento, como estava sozinho, resolveu vir para o interior em 1992, quando da entrevista sua filha tinha 7 anos e morava numa cidade próxima Botucatu e completou “filho sempre é a maior aventura da vida da gente, ela era muito desejada. Não planejada mas muito desejada. Eu posso dizer que foi o grande marco na minha vida”. Em outro ponto a pergunta foi sobre o que Botucatu representava para ele, o qual respondeu: “Eu não sei exatamente a dimensão, essa é a verdade. Eu sou muito andarilho e não tenho vontade de sair daqui. Então é esse o parâmetro que eu posso dizer de Botucatu, o que representa pra mim. Eu sei que, por enquanto, eu não quero ir embora, é uma cidade que me prende. Além da proximidade da minha filha, eu tenho um relacionamento muito bom com a cidade, mas tenho problema de relacionamento com o povo, com a população, porque eu ainda sou, queira ou não, o imigrante em Botucatu”. Em uma das questões levantadas, foi como ele via a cultura em Botucatu, o qual foi incisivo: “Na cultura de Botucatu eu vejo alguns tabus, Botucatu se diz uma cidade muito cultural. Eu digo que é uma cidade que tem expoentes culturais. Porque eu não consigo entender cultura sem estar totalmente ligada à educação. Então, quando a gente fala que nós somos uma cidade de boas escolas, boa educação, boa cultura, eu tenho uma dúvida muito grande, porque quando se fala em cultura, eu entendo como o engrandecimento do homem em todos os aspectos. Nós, como cidade, não crescemos em todos os aspectos. Por exemplo: eu nunca vi uma cidade pra ter tanto escritor como essa, mas não venha me dizer que é uma pessoa de cultura. Temos uma cultura musical, que não é reconhecida por nós mesmos. Mas qual é a nossa cultura literária? Qualidade, dá pra contar no dedo. Então, essa cultura nossa é

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muito daqui pra fora e pouco daqui pra dentro. Falta cultura. Sabe, é aquela estória que já é um problema brasileiro: nós mentimos pra nós mesmos e mentimos para os outros. Tudo aqui é uma mentira. Aqui, você mente que tem dinheiro, mente que o cara é teu amigo, mente pra ficar bem com a pessoa. Nós não temos uma relação de sinceridade como ser humano. E isso, eu não estou colocando Botucatu, estou colocando em geral. O Brasileiro mente muito. Nós adoramos pequenas mentiras que acabam se transformando em grandes. Então, nós temos uma mentira muito grande que somos cultos e não somos, sabe? Nós precisamos muito de escola”. Questionado qual era a alternativa pra cidade crescer, deu alguns esclarecimentos em sua visão de capital para interior: “A nossa vocação é muito clara pra quem quer enxergar. Nós temos duas vocações. Todo mundo fala em turismo, mas é o turismo controlado. É uma das vocações. A grande vocação, na minha opinião é tecnologia de ponta. Nós temos uma universidade que está sucateada. Tá com problema, mas é uma tremenda fábrica de pesquisadores, de pensadores. Eu tenho uma Faculdade de Medicina, tenho um IB, tenho uma Faculdade de Ciências Agronômicas, tenho uma Faculdade de Veterinária, pra ficar só nessas quatro. E eu não tenho uma fábrica de ração, não tenho um laboratório biomédico, não tenho um laboratório químico. Então, onde é que tá o erro? A gente não tá enxergando. Eu tenho os profissionais, tenho os pesquisadores, eu tenho a matéria prima, que é a inteligência, que é a capacidade do homem formado pela universidade pública e não uso isso. Você vai falar que eu sou burro, e é aí que eu falo: o grande defeito nosso, até hoje, foi criar um abismo. E esse abismo é bilateral, universidade X cidade, cidade X universidade. Nós não colocamos em cima desse abismo, pra tampar esse abismo, a tecnologia de ponta, a empresa. A empresa que vai utilizar a capacidade da universidade. Por quê? O povo já pagou uma vez. É o povo que paga a universidade, é ele que paga o seu pessoal. Então, nós pagamos duas vezes. Nós pagamos o profissional e depois, nós temos que pagar o produto. É a vocação principal; eu acho que nós deveríamos ser uma cidade acadêmica. A gente teria que ter uma universidade federal, nós teríamos que ser centro de referência educacional. Então, é o que eu falo: “ah nós somos a cidade das boas escolas”. Tá, mas quais boas escolas? A boa escola é desde lá de baixo até a ponta. Falando sobre o trabalho na imprensa escrita e falada onde trabalhou em diversas empresas na Cidade seja rádio ou jornais impressos, deixou sua posição: “Se fosse possível, numa utopia, nós precisamos ter uma imprensa independente. Ela tem que ter uma linha editorial. E isso não se aprende em faculdade. E isso: alguém que tivesse peito, inteligência de conseguir sobreviver sem o dinheiro público. Porque eu faço uma sociedade toda me financiar e a coisa acaba se tornando “hobbie”: você não faz o papel para aquilo que você foi criado”. Celso Muccio faleceu em 19 de outubro de 2019, quando exercia o cargo de Diretor de Educação no município de Pardinho. Foto: Arquivo Acontece Botucatu


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