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www.jornalfalandodedanca.com.br ISSN 2237-468X

ANO 8 - Nº 97 OUTUBRO/2015

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Comportamento

A Dança da Inclusão Muitos anos se passaram desde que registrei pela primeira vez em fotos a apresentação de uma companhia de cadeira de rodas. Foi em 2001, no Marco Antonio Perna* aniversário de Carlinhos de Jesus. Desde então vi inúmeras apresentações e tomei conhecimento de outras companhias sobre rodas e trabalhos de pro-

fissionais de dança de salão com cadeirantes. Com certeza já existiam muito antes da primeira vez que vi. Mas, até hoje, eu nunca vi cadeirantes dançando no salão de baile, apenas em show. Dança de salão com cegos vi pela primeira vez na década de 1990 em um baile de aniversário em um playground. Depois tomei conhecimento do trabalho de inclu-

são de cegos na dança de salão, da professora paulista Solange Gueiros. Já em filme vi pessoas com perna mecânica dançando a dois e imagino que devam existir muitas pelo mundo. Enfim, acredito que a inclusão na dança de salão possa ser feita de diversas maneiras. Dito isso, achei que nada mais me surpreenderia. Mas a vida surpreende. E, no baile do Casal 20, de setembro de 2015, tive uma prova de que o amor de mãe e a dança de salão são capazes de tudo. Foi dançando que vi pela primeira vez João Paulo. Ele dançando, que fique claro. João Paulo tem 16 anos e é portador de paralisia cerebral. Nesse momento me veio a lembrança de uma menina que eu sempre via na rua, também portadora, sempre em cadeira de rodas e sem movimento algum. Qual a diferença entre os dois? Bem, não posso dizer que faltou amor à menina, não a conheci realmente, mas com certeza faltou a ela esclarecimento e perseverança de seus pais em levá-la em todos as instituições possíveis para tratamento, embora não deva ser nada fácil. Vilma Teresinha, mãe de João Paulo nunca parou, aos 8 meses o levou para acompanhamento por equipes multidisciplinares e passaram por várias instituições tais como ABBR, Rede Sarah, Afac (Associação Fluminense de Amparo aos Cegos), Jóquei Clube (ecoterapia) e Instituto Veras, entre outras. Com diversos profissionais envolvidos, tais como fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, musicoterapeutas e terapeutas ocupacionais. João Paulo tem um irmão gêmeo e ambos nasceram normais, apenas prematuros de peso. Após o parto, João Paulo, teve uma parada cardiorrespiratória e com a falta de oxigênio ficou com comprometimento motor nos membros superiores e inferiores, baixa visão e retardo mental. Entre tantas idas e vindas para o tratamento, Vilma se divertia com João Paulo cantando, acompanhando o rádio do carro, pois ele sempre gostou de música. Embora tenha sido uma criança alegre e feliz,

Casa da Vila da Feira convida ALMOÇO DANÇANTE

Aos domingos, a partir das 12h, no salão nobre Cardápio variado | doces portuguesas | música ao vivo R. Haddock Lobo, 195 - Tijuca - reservas: 2293-1542

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João Paulo era muito fechado, tímido, com poucos limites e uma coordenação motora bastante comprometida apesar dos diversos tratamentos. Por volta de 2011, Vilma começou a fazer aulas de dança de salão e o levava junto, depois tomou coragem e começaram a frequentar os bailes no Paratodos da Pavuna. No início foi um pouco complicado, relata Vilma, pois João Paulo puxava a toalha da mesa, amassava, rasgava, derrubava os copos, mas ficava animado e eufórico. Aos poucos esse comportamento foi melhorando, começaram aos poucos a dançar, as pessoas começaram a se aproximar e Vilma começou a trabalhar a parte social. Não podiam entrar no salão sozinhos, tinham que esperar ou dançar em um espaço fora do salão, sem atropelar as pessoas, começaram a trabalhar a parte de fisioterapia com os membros inferiores, ele tinha que conduzi-la, começaram então a trabalhar os membros superiores. A evolução é lenta, mas significativa, aos poucos João Paulo vai melhorando em todos os sentidos. A felicidade estampada em seu rosto e a visível melhora motora em relação a antes

da dança de salão, já é suficiente para essa mãe batalhadora ser feliz. Vilma não quer ser exemplo para ninguém, mas não há como negar a lição de superação que essa mãe nos proporciona. Ainda mais que o grande exemplo de superação de um pai com um filho com paralisia cerebral surgiu em 1977, quando Rick Hoyt, portador de paralisia cerebral, pediu a seu pai Dick para correrem uma prova de longa distância. Dick o colocou em uma cadeira de rodas e desde então se tornaram história, servindo de exemplo para diversos outros na mesma situação, inclusive em corridas com bicicletas adaptadas. Porém, em corrida, o portador de paralisia cerebral fica apenas sentado. No caso de Rick, além da melhoria do preparo físico do pai, a felicidade foi o fator mais importante. Já João Paulo dança, se movimenta e sente a necessidade de sempre melhorar. Não é só felicidade. Essa é a nossa dança de salão e basta ver a foto que tirei deles e que ilustra este artigo. _________________ Marco Antonio Perna é pesquisador, editor de site de dança e autor de livros de dança. Site: www.marcoantonioperna. com.br/ Blog: www.dancadesalao.com/agenda.

9ºencontro mensal

dos associados

e amigos

da APDS/RJ

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro R. José Higino, 115 - Tijuca Estação de Metrô: Uruguai

25/10

Programação gratuita 10h00 - Recepção com café da manhã 10h30 - Cerimônia de entrega de carteirinhas 11h00 - Colóquio diretoria e associados 12h00 - 13h00 - intervalo 13h00 - ATIVIDADE SOCIOCULTURAL:

entrada

franca

Classificação: Livre Confirme sua presença (21) 9-9299-4078

BRINCANDO DE DANÇAR

Didática para público infantojuvenil

Coord.: David Theodor

1:: Contribuição da dança para o desenvolvimento psicomotor 2:: A socialização pela dança 3:: Dinâmica de grupo: didática para ensinar ou simplesmente dançar com crianças

Realização

Divulgação / apoio

domingo

No mês do Dia das Crianças, nossa atividade sociocultural terá como tema a dança de salão para o público infatojuvenil. David Theodor trará convidados especiais para darem dicas e depoimentos sobre o assunto. Traga uma criança para interagir na dinâmica de grupo. Não tem como convidar uma? Venha assim mesmo e ouça e observe as experiências de profissionais e dançarinos de salão. Se você tem familiaridade com o tema, entre em contato conosco, para participar de nosso círculo de debates! Aproveite esta oportunidade única de explorar novos horizontes, trocar ideias e aumentar sua bagagem cultural.

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