donc-setembro2011

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s antigos costumavam dizer que “o papel aceita qualquer coisa”, quando queriam dizer que não se devia confiar demais no que diziam ou mesmo no que estava escrito. Quando o governo do estado anuncia, com toda a pompa, que vai oferecer empréstimo a “juro zero”, parece querer dizer que o dinheiro vai e volta sem qualquer remuneração pelo empréstimo. Ora, isso é só uma meia verdade. O que, em se tratando de dinheiro público, vale como meia mentira. O Badesc vai cobrar juros sobre o empréstimo. Juros de 3,07%ao mês. O que não é pouca coisa (dá uns 36% ao ano). O que ocorre, nesse programa nascido de uma experiência que Raimundo fez em Lages e que parece que deu eleitoralmente certo, é que o governo do estado paga os juros. Com dinheiro público. Portanto, com nosso dinheiro. Vamos fazer um intervalo para abrir aqui enorme parênteses: fornecer dinheiro barato para microempresários individuais, pequenos empreendedores que em geral lutam com dificuldade, é coisa boa. Ainda mais no país dos juros mais altos do mundo. Iniciativa elogiável. Ajuda a oxigenar a economia, melhora o nível de vida de uma porção de gente. Não é nisso, portanto, que reside a minha crítica. Fecha parênteses. Para continuar com ditados antigos, vamos aproveitar mais um: gato escaldado tem medo de água fria. O governo vai usar os dividendos pagos pelo Badesc (uma espécie de retorno do dinheiro público investido naquela agência de fomento), para pagar os juros de quem se beneficiar com o programa. De tal forma que quem recebe o dinheiro tenha a impressão de que não paga juros. E a nossa experiência histórica demonstra que corremos o risco do uso eleitoral desse benefício. Há o perigo desse programa servir, para políticos governistas, como uma forma de gratificar ca-

Solenidade de lançamento do “Juro Zero”. Foto do A.C.Mafalda/SECOM. Mas no “Storify do Raimundo” aparece como “Photo by Raimundo Colombo”. Por que? “Ora, porque a foto está no flickr do Raimundo e aí sai com o nome dele no Storify”. Entenderam? Governador 2.0 é isso aí! Abaixo, a capa do site “www.raimundocolombo.com.br”

bos eleitorais, eleitores, amigos, eleitores em potencial e gente da “base eleitoral”. Tipo assim: “Vai lá, fala com o fulano, diz que fui eu quem mandou, que ele te consegue um empréstimo a juro zero”. RAIMUNDO INTERNÉTICO Ninguém dá muita bola pra isso, mas eu sou um sujeito antiquado e me preocupo: Raimundo Colombo (e seu pessoal de internet) gosta que se enrosca de um culto à personalidade. A impessoalidade dos atos de governo foi pras cucuias. Informações e comentários sobre atos administrativos (como esse lançamento do programa juro zero) aparecem antes nos sites “pessoais” do governador, do que no site oficial de notícias do governo do estado. E o pior: o material dos sites “pessoais” é produ-

JURAS QUE O JURO É ZERO? OU ALGUÉM PAGA PARA ZERAR O JURO?

zido por servidores da Secretaria de Comunicação. O site www.raimundocolombo. com.br, não raro, “fura” (jargão jornalístico usado quando um veículo publica uma informação antes do outro) o site www.sc.gov. br que é o local onde deveriam ser publicadas as informações sobre os atos de governo. E QUEM SE IMPORTA? Então por que não fecham de uma vez a Secretaria de Estado da Comunicação e lotam todo o pessoal no diretório do PSD que estiver produzindo os sites do Raimundo e onde são atualizados seus inúmeros perfis nas tais “redes sociais”? Os fotógrafos do governo (pagos por nós) têm suas fotos divulgadas no “flickr do Raimundo Colombo”, depois no “storify do Raimundo Colombo”, no “facebook do Raimundo Colombo”, no “twitter do Raimundo Colombo” e, naturalmente, no www.raimundocolombo.com.br. Não tem sentido manter por manter uma estrutura oficial do estado, se o governador quer mesmo é uma estrutura pessoal, que dê, ao seu nome, todo o destaque. A Constituição, ao que parece, não permite essa exposição exagerada, propagandística, do nome do governante. Mas quem ainda se importa com o que a lei diz ou deixa de dizer?


A Pátria, a Independência e eu com isso

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m dos conceitos que levei mais tempo para compreender foi o de Pátria. Porque sempre que a coisa começava a ficar clara, entrava um complicador: o governo. E por aqui a gente mistura muito e atribui ao governo o poder de fazer coisas que só os habitantes do País podem, se quiserem, fazer. Ao mesmo tempo, o governo se mete demais onde não é chamado. Cobra impostos demais. Promete o que não está ao seu alcance. Cria expectativas vãs. Por isso, a data que comemora a independência do nosso País é tão cercada de contradições. No fundo, eu gostaria de comprar fogos, vestir-me de verde e amarelo (ou azul e branco, se fosse avaiano) hastear, na frente da casa, uma bandeira nacional. Mas algum vizinho há de pensar que faço isso porque apoio Dilma, ou Colombo, ou porque trabalho no governo, ou porque alguma companhia de telecomunicações está me patrocinando. E o jogo da seleção foi ontem e nem justificaria comemorações prolongadas. Vivemos num belo País, fazemos parte de uma gente admirada no mundo todo. Temos muita coisa boa que o resto do mundo não tem. Do clima, ao idioma único. E, sabe-se lá por que, só vemos, acima e além de tudo, os problemas. E curvamo-nos impotentes diante de todos eles. Como se fossem fatalidades. Esperamos, como crianças ingênuas e ton-

tas, que governantes resolvam os problemas que só serão resolvidos quando todos levantarmos a cabeça e colocarmos mãos à obra. Temos, enfim, uma Pátria que podemos chamar de nossa. Que, mal ou bem, nos abriga. E se examinarmos um a um os quase 200 países que existem por aí, é um dos poucos onde nos sentimos em casa. Às vezes temos vontade de mudar. Ir embora. Eu sinto isso sempre que somo tudo o que pago, como pessoa física e como microempresa, para o governo, todo ano, o ano todo. Ganho pouco e mesmo assim, a cada queda de renda, baixa também o limite de isenção. Continuo pagando mesmo tendo a renda toda

rasgada, farrapos que mal e mal cobrem-me as vergonhas. E o dinheiro recolhido de todos nós não volta, quase não aparece. A gente não vê. Ainda assim e com tudo isso, aprendi a gostar deste lugar e da maioria das pessoas que o habita. Do jeitão, da forma de tocar a vida. E sinto mesmo, cá dentro, uma vontade de comemorar a data em que passamos a ter identidade nacional. É o meu País. O nosso velho e querido Brasil. Na quinta-feira a gente volta a pensar nos problemas e procurar saídas para as dificuldades, mas agora acho que a gente merece um feriado de tranqüila comemoração. Parabéns.

D. PEDRO I, ESSE DESCONHECIDO E stamos em plena “Semana da Pátria” e amanhã muitos de nós irão passear, graças ao feriado do dia da Independência. Claro que, passado o período escolar onde, dependendo da escola, fala-se alguma coisa sobre essas datas, nunca mais a gente para pra pensar sobre isso. Basta-nos o feriado. Ignorar a História, contudo, é defeito grave. Foi no passado que todas as qualidades e defeitos que hoje encontramos em nós mesmos e no País começaram a ser formados. Saber, estudar, conhecer, discutir, debater e aprofundar-se nas nossas origens é fundamental para quem quer que pretenda ser cidadão de primeira classe. E a separação do Brasil de Portugal é um dos eventos mais importantes, está entre aqueles que deveríamos saber de cor. Talvez muitos de nós até saibam que, a 7 de setembro, às margens de um riacho, perto de São Paulo, o português D. Pedro, filho do rei de Portugal, disse as fa-

mosas palavras: “Independência ou Morte!” E não surpreendeu ninguém, porque desde aquela sua outra declaração (“diga ao povo que fico!”), no começo do ano, quando desistiu de voltar para Portugal, onde seria D. Pedro V, a turma já achava que ele estava mesmo querendo reinar num império tropical. Há quem diga que a data que deveria ser comemorada como verdadeiro dia da Independência é a de 12 de outubro. Não só porque foi o dia em que o príncipe foi aclamado como Pedro I, Imperador do Brasil, mas também porque é só a partir daí que se pode dizer que as amarras foram efetivamente rompidas. Polêmicas à parte, desde que me conheço por gente, nesta época do ano vozes se levantam dizendo que “não há nada o que comemorar, não somos ainda um país independente”. Os países ou forças que nos “es-

D. Pedro I e a bandeira do Império do Brasil

cravizam” vão mudando, conforme passa o tempo, mas o discurso continua o mesmo. Quando era pequeno, não entendia por que, em vez de ficar reclamando, os incomodados não iam à luta, à guerra, não se rebelavam em busca da independência definitiva. Depois aprendi que não dá para levar o discurso político ao pé da letra. Às vezes ele não significa muita coisa. Ou não diz nada.

[Nota do autor: Os dois textos patrióticos que ocupam esta página já foram publicados aqui, em 2008. Repito-os, com pequenas modificações, porque continuo querendo dizer, nesta data, essas mesmas coisas. Então, que me desculpem os leitores assíduos e de boa memória, mas aí estão eles, novamente.]


$ A PRINCIPAL QUALIDADE DE UM POLÍTICO $ Nossa jovem e frágil democracia já definiu com clareza qual é a principal qualidade que um político ou candidato a político pode (e, de preferência deve) ter: o dinheiro, a fortuna, a bufunfa, a grana. Quanto mais rico o sujeito, mais chances de ser bajulado pelos partidos políticos, convidado para fazer parte de chapas eleitorais e, principalmente, de ser eleito. Nisso o eleitor (comumente chamado de “povo”) se aproxima romanticamente dos cartolas dos partidos: todos adoram um candidato rico. Muito rico. Quanto mais rico, melhor. Isso ocorre em qualquer município, em todos os estados, no país todo: o sujeito mais rico da cidade é o sonho de consumo de todos os partidos. Não importa, em muitos casos, a origem da fortuna. Importa a disposição generosa de participar da “luta” do partido para eleger uma bancada que consiga negociar um volume expressivo de cargos públicos. E, naturalmente, cargos com possibilidade

de gerenciar verbas vultosas, apetitosas, que farão a alegria de todos os amigos do esquema.

PERSONA NON GRATA? O prefeito de Florianópolis, Dário Berger, e seu irmão, prefeito de São José, Djalma Berger (na foto), são muito ricos. Tão ricos que o Djalma está processando o colunista Paulo Alceu porque ele comentou o aumento do patrimônio do então deputado, detectado nas declarações enviadas ao TRE-SC. Ora, só os muito ricos se incomodam com esse tipo de coisa. Pois bem, o Dário sempre entrou nos partidos que quis quando quis. Está agora no PMDB, mas todos sabem que assim que achar que não tem “espaço”, muda pra outro. Ou cria mais um. Por isso, todo mundo estranhou quando o PMDB de São José recusou a entrada do Djalma Berger (que está caindo fora do PSB, onde perdeu “espaço”). Naturalmente, como ele é rico (ou peixe grande,

como preferirem) e amigo do Lula, a ida para o PMDB estava sendo articulada “por cima”, na diretoria. E a turma do diretório municipal se rebelou. Não quer o Djalma de candidato a prefeito pelo PMDB. Um sujeito muito rico, num diretório municipal, arrebenta com as chances de candidatura de todos os que, ao longo dos anos, vinham tentando ganhar “espaço”. Em Florianópolis o veterano Edison Andrino, ex-prefeito, era candidatíssimo do PMDB em 2004. Aí o riquíssimo Dário Berger, que tinha sido eleito duas vezes prefeito de São José pelo PFL, resolveu, sob o patrocínio do LHS, mudar-se para a capital e para o PMDB, para continuar sua “carreira” de prefeito. Andrino se ferrou. O PMDB de São José não quer passar por situação semelhante com a chegada, às vésperas da eleição, de um milionário. Mas é claro que um humilde diretório municipal, que luta para tentar eleger um prefeito (e de tempos em tempos é sabotado pelo diretório estadual), tem tudo para ser novamente colocado de escanteio. O tempo dirá.

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festação pública de um servidor público. E às vezes os servidores públicos dizem coisas sem importância e às vezes falam sem pensar. Gosto de provocá-los. Como nesse diálogo que transcrevo a seguir e que ocorreu antes do feriado. Começou quando eu publiquei a seguinte tuitada, a propósito da determinação da Gered da capital, de “repor” aulas no feriado: Aluno da rede estadual só se ferra. Para punir os professores, governo Raimundo manda dar aulas no feriado de 7 de setembro. Sobra pra quem? A diretora de imprensa da Secretaria de Comunicação, Cláudia de Conto, resolveu entrar na conversa, com o que ela certamente pretendia que fosse uma defesa do governo Raimundo contra esse Valente boquirroto e suas insinuações: @cvalente ah tá, então não é p repor aula? É p deixar perder o conteúdo?

O twitter tem esse problema sério: não dá para argumentar, pra falar muito. É tudo na base do pá-pum. Aí resolvi explicar o que achei que já estava explicado: @claudiadeconto não, não é pra deixar perder o conteúdo. Mas, se possível, conduzir o processo com um mínimo de habilidade. Nos feriados, pelo menos na Grande Florianópolis, os horários dos ônibus são reduzidos e as empresas não aceitam passe escolar. Pais e professores estavam indignados porque teriam todos grandes dificuldades para ir à escola. Professores que têm filhos pequenos teriam problema adicional: as creches e escolas municipais não funcionam nos feriados. E todas essas decisões são anunciadas com uma falta completa de sensibilidade e um enorme desprezo pelas situações particulares de quem não dispõe de recursos abundantes. Sobra sempre pra quem? Sem falar no fato de que muitas escolas estaduais estão caindo aos pedaços e, com a chuva de ontem, as aulas no feriado podem ter sido um desastre completo.

E por falar em feriado... twitter, vocês sabem, é uma ferramenta de publicação na internet, dentro daquela ampla área que muitos gostam de chamar de “redes sociais”. A gente lê o que as pessoas a quem a gente “segue” publicam. E quem nos “segue” lê o que a gente escreve ali. Eu sigo pouca gente, dentre aqueles que acho que podem dizer alguma coisa interessante. Ou então, porque ocupam cargos públicos e, como vivem do nosso dinheiro, gosto de saber o que andam fazendo e dizendo. Alguns servidores públicos ficam muito incomodados quando o que eles dizem no twitter repercute ou quando a gente republica aqui, por exemplo. Acham que “não tem nada a ver”. Mas tem. Ao publicar uma frase (o twitter só permite textos com no máximo 140 caracteres) num veículo de acesso público, a pessoa está falando para centenas ou milhares de leitores. É, sempre, uma mani-


Uma lição nos espertalhões IMORAIS Uma recomendação simples, mas que pode ajudar-nos a mostrar aos espertalhões que não somos tão tolos quanto eles pensam que somos: anotem com cuidado o nome de todos aqueles comerciantes que “enfiaram a faca”, elevando os preços durante a enchente. Teve gente que mais que dobrou o preço da água, por exemplo, pra tentar ganhar uns trocados com a desgraça alheia. E agora, quando as coisas forem se normalizando, mantenham distância. E avisem para os amigos também passarem longe. O espertinho vai sentir, no bolso, a dor de uma saudade, se um número grande de clientes parar de aparecer para comprar as coisinhas de todo dia ou de toda semana.

tem muito sabichão com soluções definitivas para todos os males. Aquilo nunca mais vai se repetir. Aí o tempo passa, a memória esmaece e nem metade do prometido se realiza. E quando menos se espera (ou mesmo quando se espera), acontece tudo

de novo. Do mesmo jeito. Porque pouca coisa foi feita pra mudar o que é preciso mudar.

Molecagens sobre fotos do Minamar Júnior

LÁ VÊM OS SALVADORES DA PÁTRIA COM SUAS ROUPINHAS DE DOMINGO Toda vez que acontece um desastre que deixa um monte de gente no prejuízo, é a mesma coisa: na hora ou logo depois,

Raimundo na onda do DIARINHO

DESASTRE “NATURAL” NÃO DEVIA SER NATURAL Minha amiga Márcia Estela da Costa, de Balneário, nos idos de janeiro de 2009, me mandou uns comentários sobre enchentes (ela sobrenadou em algumas). E entre algumas outras considerações encharcadas de bom senso e sabedoria, disse ela: “A maioria das pessoas não tem opções. São Pedro e os fenômenos naturais não podem servir de cortina de fumaça (água? barro?) para a omissão generalizada das autoridades em planejamento urbano e ecologia. Depois que tivermos saneamento básico, que a construção civil dos ricos e dos pobres seja bem fiscalizada e ordenada, que existam praças verdes (não moeda verde), etc, aceitarei a parte realmente natural dos fenômenos. Não podemos achar natural ver pessoas morrer em casas desmoronadas. “

 Vocês, que são espertos, me contem: o que que o Raimundo tinha nas costas, que fez a alegria do prefeito Jandir e do Fabrício da SDR?

Cansaço...

MAIS UMA DAQUELAS CRONIQUINHAS ENJOADINHAS DO TIO CESAR

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á difícil engatar a quarta e ganhar alguma velocidade em mais esta semana. Pra todo lado que a gente olhe é tanta mesmice, tanta mediocridade, tanta falta de respeito pelas coisa mais simples, que o desânimo sobe em ondas, como uma enchente de água suja, irrefreável, inescapável, engolindo a mobília que durante tantos anos fomos acumulando na alma, encharcando de lodo fétido toda aquela roupinha cuidadosamente dobrada que estava nas gavetas do camiseiro sentimental, que é o coração. Olho para minhas mãos e vejo ali, como numa miragem de filme B, as cicatrizes dos tantos murros em ponta de faca. Do que adianta tanto desgaste? A que leva tanto berro ecoando no vazio? Pra que tentar falar com surdos que não

entendem nossos gestos e viram a cara, cegos diante das letrinhas que insistimos todos os dias em colocar diante de suas bocas mudas?

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ra que desperdiçar as últimas reservas de fosfato com ironias, sátiras, tiradas de humor (do bom, do mau e do horrível), se cada vez menos há cultura e ilustração nas cabeças coroadas? Eles simplesmente não entendem a língua que falamos. Não alcançam a mordacidade da crítica, não compreendem o que queremos dizer. E não fazem questão de saber, porque lhes falta, como à cucaracha da música folclórica, las dos patitas de atrás. Ou marijuana a que fumar. Vocês escolhem. Ontem mesmo fiquei horas sentado à frente deste teclado, com a luminosidade da tela gritando na

minha retina, sem sucesso. Começava a falar nisso, ia um pouco adiante, desistia. Pérolas aos porcos. Depois tentava comentar aquilo, escrevia um parágrafo, deixava as mãos caírem como folhas mortas e parava. Não adianta, os que entendem não precisam que lhes diga, os que precisam, não entendem. E, finalmente, preocupado porque lá adiante, em alguma ponta desta sinistra rede abstrata e real poderia ter alguma leitora, algum leitor, esperando coisas novas, recomeçava. Mas não tem jeito. O céu azul esplendoroso, o sol brilhante e o vento gentil, que deveriam encher-me de ânimo, alegria e força, têm efeito contrário. E desisto. Desligo a máquina sem conseguir escrever nada do que gostaria. Talvez na quinta-feira.


TÃO COMEMORANDO O QUE MESMO?

GREVE NA CAIXA POSTAL Mais uma greve no serviço público. Desta vez a paralisação é nos Correios. As coisas por lá já andavam meio lentas e parece que agora pararam de vez. Vejam só: sou de um tempo em que não dava pra confiar nos Correios. As cartas, quando chegavam, levavam meses. E também sou de um tempo em que se passou a confiar nos Correios. Era rápido, eficiente, seguro. Mas, ao que parece, tanto um tempo quanto outro já passou. Quando vimos a cena do diretor dos Correios embolsando R$ 3 mil, no espetáculo que deu origem à divulgação pela TV do escândado do mensalão do PT, deveríamos ter desconfiado que a coisa ia desandar. Os servidores públicos têm todo o direito do mundo de espernear quando o sapato aperta ou quando o cobertor está curto. E nós, usuários dos serviços públicos, também temos todo o direito de chiar. Afinal, não somos nós que decidimos sobre os salários deles ou qualquer outra coisa. Mas somos nós que acabamos prejudicados. Sempre. Pelos dois lados. Ou será que estão nos punindo porque colocamos, nos governos, gente que não sabe administrar?

Fotos: James Tavares/SECOM

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UM ELOGIO PRO GOVERNO! A turma do governo me acha “o fim do mundo” porque só vejo defeito e nunca elogio. Como eu “morro de preocupação” com o que os puxassacos acham ou deixam de achar, permito-me elogiar uma ação de governo: os filmetes que a Secretaria da Saúde de SC colocou na TV, com o médico Dráuzio Varela. A linguagem é adequada, a mensagem é precisa e oportuna e o médico que apresenta é um craque da comunicação. Muito bom. A criação e produção é da Fórmula Comunicação, agência que atende a Secretaria. E embora eu tenha visto como novidade, é uma campanha que foi criada em 2008, para ajudar o pessoal do Vale do Itajaí, depois daquela grande enchente. Como a veiculação, da primeira vez, foi concentrada na região atingida, eu, distraído morador de Florianópolis, ainda não tinha visto. Desta vez a divulgação foi maior porque foram atingidos mais municípios. Na época, como agora, o Dráuzio não cobrou nada, porque entendeu a importância daquelas mensagens. Que, espero, tenham cumprido seu objetivo, de fazer com que os atingidos pela enchente tomem alguns cuidados básicos e simples.

ssas fotos aí foram tiradas na terça-feira, no Palácio da Agronômica, em Florianópolis, durante a solenidade em que o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (o da esquerda) entregou ao governador Raimundo Colombo, os cartões recheados de dinheiro, que devem ser usados para pagar despesas da Defesa Civil nos municípios que ficaram debaixo dágua na semana da Independência de 2011. Tudo muito certo, muito justo, o governo federal tem mesmo que coçar o bolso. E se o cartão agiliza a liberação e facilita o controle, parabéns para todos. O que não pega bem, contudo, porém, todavia, é comemorar a entrega dos cartões com grande alegria. Como se fosse uma conquista esportiva importante. Será que esqueceram por que esses cartões vieram para SC? Esses cartões estão sendo entregues porque houve uma calamidade. Uns 99 municípios tiveram prejuízos, umas 981 mil pessoas sofreram com a desgraça, alguns milhares perderam tudo, ou quase tudo. Por isso que eu, do fundo da minha ranzinzice, pergunto lá em cima em letras bem grandes e repito aqui: qual é o motivo de toda essa alegria?

OPOSIÇÃO? NEM PENSAR! Ontontem os deputados e a prefeitada do PP (partido dos Amin, que fazia oposição ao governo LHS, lembram?) abraçaram-se com o governo Raimundo e dançaran de rostinho colado durante jantar no Palácio da Agronômica. Dos 55 prefeitos, 48 estavam lá e o presidente Joares Ponticelli saiu da festinha derramando-se em elogios ao seu mais novo amigo de infância. Aposto que vocês não estão entendendo como é que o PP deixou de ser oposição se o governo, aparentemente, continua nas mãos dos mesmos, né? Pois então, eu também não sei direito o que aconteceu, pra turma mudar de idéia tão rápido.

TÁ CHOVENDO MINISTRO! O ministério da Dilma parece um pé de fruta madura sacudido pela molecada: cai um monte. No caso dos ministros, há quem diga que estão caindo não de maduros, mas de podres mesmo. O fato é que, em poucos meses, o chão da esplanada dos ministérios ficou coalhado de ministro caído. E os maledicentes de plantão nem apostam mais se o ministro vai cair. A única dúvida é quando. Se será cedo ou... tarde demais.


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ão tem jeito. O sistema penal brasileiro é uma verdadeira “casa de passagem”. Claro que a rapidez com que o sujeito passa depende bastante da grana que tem para pagar escritórios competentes de advocacia. Mas mesmo quem não tem lá muito recurso acaba ficando pouco tempo preso. Não importa o tamanho ou a atrocidade do crime. A corrupção é um dos crimes mais graves que se pode cometer. Porque envolve dinheiro público. Empobrece o Estado, ao encarecer as obras públicas e dificultar o bom uso dos impostos. Só facínoras da pior espécie metem a mão no suado dinheirinho que a gente paga pro governo. Pois mesmo esses acabam tendo vida mansa, deitados no berço esplêndido da nossa mania de não punir os criminosos. SARNEY, O TODO-PODEROSO O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acaba de mandar um recado claro para todos os criminosos ricos e poderosos: “fiquem tranquilos, a gente sempre acha uma brecha para livrar a cara de vocês”. Pelo menos foi assim que entendi a decisão de anular completamente todas as provas obtidas pela Polícia Federal contra o filho negociante do coronel imortal José Sarney. Tá certo que é preciso obedecer alguns ritos processuais e assegurar o direito que todos temos, a uma in-

vestigação dentro da lei. Mas se essas escutas e outras provas mostram indícios de crime, que se mande apurar direito, antes de dar um tapa na cara de cada um dos cidadãos honestos deste país, ao inocentar por decreto o imperador Sarney e seu clã. PORTAS ABERTAS Mesmo na área da chinelagem, basta dar uma olhada no noticiário para ver que, quando a polícia consegue prender algum bandidinho, lá vem a ficha corrida: “ele tem várias passagens pela polícia”. E por que está na rua assaltando e matando em vez de estar preso? Aí depende: tanto pode ser porque “progrediu” para o regime aberto, ou porque aproveitou uma saída para “visitar a família”, ou porque a cadeia estava superlotada e não tinham como mantê-lo preso, ou porque aproveitou a política de “portas abertas” do governo catarinense, e fugiu. Sim, porque os poucos que são presos, ainda desfrutam, em SC, de uma enorme facilidade adicional: é sempre possível fugir, a qualquer momento, sem grandes dificuldades e até com alguma ajuda da falta de pessoal, de interesse ou de competência das “autoridades”. Sem falar na questão do Estatuto do Menor, uma boa idéia que acabou sendo implantada pela metade

e aos poucos vem se transformando, aos olhos da parcela mal informada da sociedade, numa aberração, causa maior de todos os males. Não se deve tratar jovens infratores como criminosos comuns. Mas adolescentes criminosos reincidentes deveriam ser tratados como o que de fato são. Não se trata mais de um jovem infrator. Trata-se, em muitos casos, de um idiota deformado que foi criado e treinado por adultos criminosos, para fazer o serviço sujo, valendo-se da imunidade etária.

CAUSA PRÓPRIA A cada crime bárbaro noticiado, assanham-se as “autoridades” e os “parlamentares”, querendo fazer novas leis. Mas ninguém quer, de fato, ter muito trabalho: reformar (melhor seria revolucionar) os códigos de processo, eliminar os recursos infinitos, rever as progressões generosas e cegas, construir penitenciárias adequadas, dá trabalho. E ainda correm o risco, os políticos (que andam cada vez mais delinquindo), de serem condenados sem possibilidade de ficar recorrendo durante 200 anos. Ou irem para a cadeia e ter que ficar lá. Melhor deixar quieto. Portanto, cada vez mais, a melhor expressão para definir nosso sistema penal, é mesmo a “passagem”. Preso hoje, na rua amanhã.

MÁQUINA DO TEMPO Imagino que todos vocês conheçam essas fantásticas ferramentas de descobrir o nosso mundo e de viajar de graça, que são o Google Maps (maps.google.com) e o Google Earth (earth.google.com). O primeiro está disponível em qualquer “browser”, o programa com que vocês acessam a internet (Explorer, Firefox, Chrome, Safari, etc). O segundo, precisa “baixar” e instalar no computador, para só então poder “navegar”. Pois bem, o Google Earth, entre outras novidades, agora nos dá a possibilidade de ver a mesma região em fotos mais antigas. Nas vistas de Itajaí, por exemplo, tem-se duas opções: a “atual”, que é de 2009, e a anterior, que é de 2004. Em outras cidades e regiões, há mais opções e fotos até mais antigas. Dá pra ver se o “progresso” está fazendo bem ou mal.

Itajaí em 2004

Itajaí em 2009


PICADINHO DE QUINTA CASAN, A PRIVADA Não consigo entender por que tanto “auê” com a manobrinha básica do governo Raimundo, para vender umas ações da Casan. Muitas empresas públicas têm sócios privados. E muitas empresas que eram públicas, passaram para o controle privado.Tanto no governo FHC, que os petistas adoram chamar de “privatista”, quanto no governo Lula, que os petistas adoram. Claro que essa história que a administração privada é sempre mais competente, ágil e honesta que a pública, é lenda. Às vezes é o contrário. Mas as lendas têm lá sua força e deve ter muita gente achando que é automático: se privatiza, melhora.

A LEI ATRAPALHA? É SÓ MUDAR! Achei muito “criativo” o governo, nesse caso. Alguns parágrafos das leis em vigor estavam no caminho da negociação da Casan. Aí, o que o governo fez? Mudou a lei. Não é genial? Simples e direto. Achar que a lei foi feita para ser cumprida é coisa de gente pobre. De gente sem uma Augusta Alesc nas mãos. De gente sem imaginação. Não é a primeira vez que isso ocorre e nem será a última. E podem ter certeza que toda vez que um governo estiver com alguma dificuldade legal, tentará remove-la. Não à dificuldade, mas à lei que estiver no caminho. Afinal, como diz o ditado, “o poder corrompe”.

DÁRIO SAFOU-SE DE OUTRA Esse título aí é daqueles que nunca perde a atualidade. O prefeito perpétuo e itinerante de São José, Florianópolis e no futuro, quem sabe, de Palhoça, Biguaçu e Bom Retiro, está sempre se livrando de alguma. Não encontraram provas de crime eleitoral no carro oficial usado por ele, que foi apreendido com propaganda eleitoral e dinheiro. Nem vamos discutir o mérito da coisa. O fato é que, para quem gosta ou precisa “safar-se” de suspeitas de vez em quando, este é o país dos sonhos. Além da justiça ser lenta e protelatória, o eleitor tem memória minúscula e coração generoso. É só partir para a re-re-reeleição.

VIAJE DE GRAÇA SEM SAIR DO LUGAR Uma das coisas mais divertidas de uma viagem é o planejamento dessa viagem. OK, provavelmente sou a única pessoa no mundo que pensa assim. Mas o fato é que os dias que antecedem uma viagem (percurso grande, claro, que me leve a lugares ainda não visitados) são tão cheios de emoção quanto a viagem propriamente dita. Antigamente era legal, mas não tão divertido. Há 20 anos, o que a gente tinha para planejar uma viagem? Mapas, enciclopédias, livros de viagem. E uma internet discada com meia dúzia de sites toscos. Daquelas enciclopédias grandes, que às vezes alguém conseguia vender para os pais da gente, o volume mais manuseado e cobiçado, pelo menos lá em casa, era o Atlas. Com suas centenas de possibilidades de “viagem”. Mas hoje a coisa é outra. É tudo muito diferente. Dá pra ler o que centenas de pessoas que estiveram naquele hotel dizem a respeito. Dá pra saber os preços e se tem vaga. Dá pra ver a fachada do hotel e como é a rua onde ele está. Em uma tarde é possível planejar um roteiro completo, num país onde nunca estivemos, sabendo até o preço dos pedágios que serão pagos. A distância e a quilometragem entre cada ponto. A situação das estradas e o trajeto mais curto. E, dentro das cidades, quanto tempo se leva indo a pé. O horário dos ônibus urbanos, a frequencia e onde são os pontos. Bom, essa parte dos horários de ônibus, bondes e trens online não tem em todos os países. No Brasil não tem em todas as cidades. Mas a gente quer ir pra longe, pra lugares desconhecidos.

Praça San Marco, em Veneza, com a vista 45º do Google Maps Pois bem. Em vários locais do mundo, como Roma e Veneza, por exemplo, o Google Maps tem um recurso fantástico: fotos aéreas em 45º. Pra acionar é só ir até a cidade e aproximar (aumentar o zoom, saca?). Dá pra passear pela cidade como se estivesse num helicóptero a pouca altura. E onde quiser, é só usar aquele bonequinho amarelo e ver a vista do nível da rua (“street view”). Exatamente como se estivesse passando, a pé ou de carro, naquela rua. Nos sites das empresas aéreas e no amadeus.net, dá pra ver os horários de todos os aviões, os preços e até a distribuição dos assentos nas aeronaves, para escolher o melhor lugar. No fim, a gente acaba viajando sem sair de casa e sem gastar um tostão. Tira as dúvidas sobre as principais atrações, descobre como são as cidades e locais onde foram filmadas as cenas dos nos-

sos filmes favoritos. E, se tiver um pouco de paciência, pode dar a volta ao mundo, de aeroporto em aeroporto. Com tudo isso, viajar ficou muito mais interessante. Ninguém precisa sair de casa sem saber nada sobre o lugar que vai visitar. Descobre a história, as peculiaridades, o que tem de bom pra ver. E tudo o mais que ajuda a tornar a viagem um passeio realmente inesquecível. E nem precisa ficar com medo de que toda essa investigação preliminar estrague a surpresa ou o mistério de chegar a um local onde não estivemos antes: ir pessoalmente a um lugar, por mais que a gente tenha estudado a respeito, é sempre uma experiência incomparável. Insuperável. E é muito enriquecedora, por mais que o preço das passagens nos faça supor que sairemos mais pobres da aventura.


A.C. MAFALDA/SECOM

Seus problemas serão todos resolvidos com essa ponte de “apenas” R$ 1 bilhão

Na extrema esquerda o Berger de São José, na extrema direita o Berger de Florianópolis. De pé, o grande ídolo de todos eles: o governador de 1 bilhão de reais. O governador Raimundo entrou com tudo na grande e confusa maçaroca da (i)mobilidade urbana de Florianópolis. Como vocês sabem, a capital e seus municípios vizinhos não têm um projeto claro de integração viária e de transporte coletivo. Em Florianópolis, cuja mudança do Plano Diretor parece ter caído em algum buraco negro, as soluções para os problemas dessa área são definidas sobre a perna, com medidas literalmente “nas coxas”, geralmente baseadas no método científico da tentativa e erro. Agora, com a chegada do gover-

no do estado e toda a sua faminta e sedenta “entourage”, a capital continua sem um plano consistente para resolver seus problemas de (i)mobilidade. Mas ganhou um projeto maravilhoso, de R$ 1 bilhão, que privatizará valiosas áreas a serem, mais uma vez, roubadas ao já escasso mar da baía norte. Fazer a quarta ponte e ligá-la à BR 101, sem que isso faça parte de uma série de outros melhoramentos, provavelmente só transferirá os engarrafamentos de lugar. Mais ou menos a mesma lógica dos viadutos do Dário. Mas quem se importa com isso?

Uma obra gigantesca, que no seu pré-projeto está estimada em R$ 1 bilhão, poderá terminar custando uns R$ 3 bilhões ou mais. E isso é dinheiro para ninguém botar defeito. Dinheiro que dá e sobra para resolver todos os problemas. De todo mundo. Exceto, talvez, de quem precisa de transporte público rápido, eficiente e barato, para movimentar-se em Florianópolis e região. Mas esse pessoal, que já está acostumado a sofrer, não vai achar ruim se depois de tudo a coisa só ficar um pouco melhor pra quem usa carro individual.

jetivos. E basta olhar os jornais, ao longo dos anos, para ver quem estava nos governos, de Sarney pra cá, fazendo bons negócios. Grandes negócios que sempre supõem uma ajudinha desinteressada de quem está no centro do poder. Com a chave do cofre e a caneta na mão. Outro dia alguém que acompanha de perto a faxina que não é faxina, me contou que um dos que fora preso numa das operações da Polícia Federal, tinha movimentado, em direção a seu próprio bolso, algumas centenas de milhões de reais em “comissões”. Mas só está sendo investigado por causa de um um caso pequeno, de poucos milhões. Mesmo se tiver que devolver (e provavelmente não terá), é café pequeno. Não causará o menor abalo.

Por isso, não se incomodou em ser preso, até porque já foi solto, responde em liberdade e, demitido do serviço público, passará a dar consultoria. Expertise não lhe falta. E nem clientes de todos os tamanhos.

SÓ DÁ PEIXE PEQUENO Já notaram que em todos os escândalos envolvendo ministros e outros servidores públicos, nunca se mexe com peixe grande? Nem se vai muito fundo em nada? Caem ministros, é verdade, mas nada acontece com quem realmente tem o controle daquela “vaga”. Como, por exemplo, o presidente do Senado, José Sarney. Vários de seus indicados de confiança já se envolveram em malfeitos. E ele continua indicando ministros, tirando ministros, faz, desfaz, tem a família envolvida em inúmeras suspeitas, mas ninguém toca nele. Imagina se o Jornal Nacional vai dizer alguma coisa comprometedora do eterno presidente? Os esquemas de arrecadação de dinheiro não contabilizado do PT criaram embaraços para muita gente. Mas nada aconteceu com os principais chefes. Lula escapou incólume de todas as suspeitas que enlamearam quase todos os seus principais auxiliares. Da mesma forma, este é um país só de corruptos: ninguém fala nos corruptores. São grandes empreiteiras e empresas de diversos ramos, que atuaram em sucessivos governos, sempre encontrando formas de conseguir mais facilmente seus ob-

SE SERVE DE CONSOLO... Passei, há poucos dias, pelo aeroporto do Galeão, a caminho da Itália. Achei o aeroporto meio abandonado, mal cuidado. Aí, quando cheguei ao Fiumicino, em Roma, levei um susto. Encontrei um troço igual ou pior ao Galeão. E o trem que leva do aeroporto ao centro da cidade, também está bem caidaço. Taí, não dá mais pra achar que tudo que tem no estrangeiro é melhor que o que temos por aqui...


LÁ, COMO CÁ, UMA FAXINA SEMPRE AJUDA

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odo mundo que vai escrever sobre uma viagem ao exterior, procura falar das coisas boas que viu, viveu, comeu e bebeu. É natural que procurem mostrar as coisas diferentes daqui e é até compreensível que se exibam um pouco. Tem também aqueles ranzinzas que vivem fazendo comparações onde o Brasil e os brasileiros sempre levam a pior. Acham que tudo o que encontram no exterior é melhor do que o que encontram por aqui. E isso não é verdade. Tem coisas ruins (e às vezes até bem ruins) em todos os países, em todos os cantos do mundo. E tem coisas boas (e às vezes muito boas) no Brasil, e em especial em Santa Catarina. Como não sou nem de me exibir (hehehe) nem ranzinza (quáquá), farei algo diferente: vou falar mal (só um pouquinho), do estrangeiro. LIXO DESCENTRALIZADO O sul da Itália tem lugares muito bonitos. A península amalfitana (também conhecida como costa amalfitana), por exemplo, é um litoral caprichosamente recortado com montanhas altas, água do mar azul turquesa, vilarejos encarapitados e pequenos portos fotogênicos. Acessível por uma estradinha estreita e cheia de curvas (mas asfaltada e sem buracos), tem hotéis e restaurantes da melhor qualidade. Só que, como é possível ver nessa foto lá do alto, tirada na saída de um dos vários túneis da estrada, o pessoal vai depositando lixo em qualquer lugar. Nesse canto aí tem colchões, um monitor de computador, um pedaço de estante. A coisa chamou minha atenção porque não era um caso isolado. Tinha lixo jogado em muitos locais. Parece que a turma estaciona em qualquer cantinho da estrada e deixa seu lixo. Na outra foto, de um lugar mais adiante, também está lá o lixo. Só que, se a gente olhar para o outro lado, vê as paisagens magníficas da região, como essa vista da cidade de Vietri al Mare, famosa por suas cerâmicas. Tive a impressão, em uns poucos dias circulando por algumas estradas das regiões do sul da Itália (Campania, Basilicata, Calábria e Puglia), que em vez de terem grandes lixões, como no Brasil, onde o lixo de todo mundo é reunido, eles colocam um pouquinho em cada canto. Descentralizando o lixo. Claro que esse nem é um grande problema. Não chega a comprometer a beleza e o charme das demais atrações da região. Mas fiz questão

Fotos: Palhares Press

de trazer pra cá, para que quem não costuma viajar ao exterior fique sabendo que por lá também tem coisas que podem ser melhoradas. E que por aqui, tem muita coisa que já está bem legal. O LADO PAULISTANO DE NAPOLI Napoli é uma espécie de porta de entrada do sul da Itália. Cidade grande, movimentada, tem uma região, perto da estação ferroviária, que lembra São Paulo nos seus piores momentos. Trânsito caótico, sujeira, gente aplicando golpes, ambulantes... lembrei, ao passar por ali, de trechos do centrão paulistano. E senti-me provavelmente como um turista estrangeiro deve se sentir ao ter que enfrentar, no Brasil, aquele mar de gente em ruas com calçadas esburacadas, carros demais, calor demais e uma sensação concreta de insegurança que nos faz andar com a mochila na barriga, em vez de nas costas. Mas, assim como em São Paulo,

Rio e todas as grandes cidades do mundo, Napoli tem bairros “de primeiro mundo” onde, quem tem dinheiro, pode passear, comer e beber muito bem. PÉ NA ESTRADA Desde o último dia 19 estou, com dois velhos amigos, na Itália. Fui acompanhá-los em uma visita ao vilarejo de onde seus antepassados saíram, quando emigraram para o Brasil há mais de um século. Os dois, Lanzetta e Medaglia, são jornalistas. Os dois nasceram no Rio Grande do Sul e se conheceram em Florianópolis, para onde ambos “emigraram” na década de 70. E eu os conheci nessa época. Os avós e bisavós de ambos eram, por coincidência, da mesma pequena cidade: Morano Calabro, no sul da Itália. E agora resolveram fazer a viagem tantas vezes adiada. Vim junto porque não ia perder a oportunidade. Viajar é comigo mesmo. Arrivederci. Até terça.


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