donc-outubro2011

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FICA, BIRA! VAI TER BOLO!

O secretário da Fazenda, Ubiratan Rezende, anunciou que vai mesmo deixar o governo Raimundo. Volta para os Estados Unidos. Não o conheci pessoalmente mas, pelo que tem escrito, parece um sujeito que tem a cabeça no lugar. Talvez por isso (ter e utilizar a massa encefálica) e por não ser um político “de carreira” como vários de seus colegadas de colegiado, tenha se sentido como o estranho no ninho que parecia ser. Vale a pela reler, aí do lado, o que ele publicou no DC no último dia 30, para entender o que eu quis dizer, ao afirmar que ele tem a cabeça no lugar. É uma cacetada.

oligárquicos se revezam à testa do Estado e o usam para amordaçar e espoliar a sociedade. Ser cidadão brasileiro significa ser membro duma sociedade a serviço e prisioneira de grupelhos. O critério que prevalece na administração da coisa pública é o do privilégio. Molha-se a mão do setor político que precisa da legitimidade eleitoral e jurídica. Controla-se os principais postos da burocracia estatal. Oligopoliza-se o mercado. Abusa-se da terceirização. A mudança da relação entre o Estado e a sociedade acabará acontecendo: ou de forma ordenada ou como resultado trágico de uma situação de anomia, que provocará radical insegurança às pessoas. Só com a mudança da atual lógica de fazer política haverá mudança na lógica da gestão pública. Isto exige – como já aconselhava Turgot, o ministro de Finanças do rei Luís XVI, há três séculos – combater os preconceitos que se opõem a qualquer reforma, porque eles são um meio poderoso daqueles interessados em “eternizar a desordem”. Ubiratan Rezende

Fotos: DAURO VERAS

EM TEMPO O substituto do Bira vai ser o homem dos sete instrumentos, Nelson Serpa. O procurador geral, presidente de partido, advogado do partido, acumulador emérito de funções eleitorais e jurídicas e grande amigo do governador. Agora, como secretário da Fazenda, certamente tratará de acalmar os políticos profissionais, que deviam ficar incomodados com a forma de pensar do secretário que está sendo despachado. Elitismo, clientelismo, fisiologismo e patrimonialismo (corram aos dicionários!) respiram aliviados. Pelo que conseguimos ver até agora, o substituto do Bira dificilmente representará qualquer perigo. Saberá conviver muito bem com a cultura política do país, sem ficar desconfortável e sem ter ganas de fazer mudanças incômodas.

“O governo brasileiro confisca em torno de 40% do PIB e devolve para a sociedade menos de 2%. Nos estados, a situação não é diferente. Em Santa Catarina, por exemplo, de tudo que é arrecadado, 25% são repassados aos municípios, 18% aos poderes, 13% pagam a dívida com a União. Sobram 44%, menos da metade. Desses, 34% são absorvidos pela folha de pagamento e 6% no custeio, de modo que sobram 4% para investimento. Essa disparidade entre o que o Estado toma e o que devolve na forma de serviços públicos de baixa qualidade em saúde, educação e segurança não é lá muita novidade. O Brasil, como os demais países da América Latina, foi criado, organizado e dirigido, durante séculos, de fora para dentro e de cima para baixo. A cultura política do país sempre foi marcada pelo elitismo, clientelismo, fisiologismo e patrimonialismo. O Estado, desde os tempos da corte portuguesa, é instrumento de domínio da sociedade pelas oligarquias. O processo político no Brasil é o processo de conquista do Estado. Diferentes grupos

A turma retirou a passarela tábua por tábua, moirão por moirão, e amontoou tudo na “porta” do condomínio debochado OK, a gente entende o simbolismo co digno desse nome e sem estrutuA REAÇÃO CONTRA DEBOCHE e a raiva da vizinhança, mas o proO que vereadores, prefeitos e ou- ra viária adequada. Aí, os moradores do Campeche, blema é que a passarela era a única tras “autoridades” estão permitindo que empreendedores espertos façam uma dessas áreas onde o deboche coisa decente de todo o projeto. Tricom a Ilha de Santa Catarina, onde abunda, resolveram protestar contra lhar sobre a restinga é pior que passe situa Florianópolis é, com certe- um condomínio debochado. Não fo- sar sobre uma passarela de madeira. Tirante a falta de foco do gesto, a za, um deboche. É deboche enfiar ram ao cerne do problema. Não fiblocos e mais blocos de apartamen- zeram nada contra o condomínio. atitude deve ser considerada como tos, com milhares de moradores, mi- Apenas desmancharam uma passa- uma das primeiras manifestações lhares de automóveis, em locais sem rela de madeira, construída para dar concretas dos moradores, contra o infraestrutura, sem transporte públi- acesso à praia, por cima da restinga. deboche com que são tratados.


Um dia, algum idealista colocou, no texto da Constituição Brasileira (chamada por outros, mais idealistas ainda, de “Constituição Cidadã”), um impedimento às reeleições sucessivas. Certamente queria por um freio nas indecentes “carreiras políticas”, que se nutrem de dinheiro público para se perpetuar no poder. A reeleição precisa de controle porque é muito mais fácil, para quem está ocupando algum cargo público, com a máquina e a caneta nas mãos, preparar-se para as eleições sem gastar muito. É, no mínimo, injusto para com os demais concorrentes. Portanto, a lei brasileira diz que alguém só pode ser reeleito uma vez para cargos como o de prefeito, por exemplo. Mais que isso é ilegal. Simples assim. O VELHO JEITINHO Mas, como todo brasileiro razoavelmente vivido sabe, a lei foi feita para os pobres, a oposição e os inimigos de uma maneira geral. Para os ricos, a “base de apoio” e os amigos dos amigos, a história é outra. Por isso, quando o Dário Berger, que tinha esgotado sua cota de

ATÉ O GUGA? Estava eu surfando distraidamente pela internet quando vi um montão de gente comentando uma entrevista que o nosso grande ídolo manezinho, o campeão Guga Kuerten, deu, falando de alguns dos problemas graves que hoje atazanam os florianopolitanos. Insegurança, desorganização viária, falta de planejamento urbano, ausência de uma proposta coerente e moderna para a cidade, para a Ilha, para toda a área metropolitana, são alguns dos problemas. Para mim, que bato nessas teclas desde agosto de 2005, quando estreei esta coluna aqui neste nosso DIARINHO, todos os males da capital giram em torno de uma questão principal: falta de planejamento. Se hoje temos policiais de menos e ações policiais pouco eficazes (ou eficientes, mas esporádicas), é porque, há anos, “esqueceram” de planejar a segurança pública. A mesma coisa com a educação e a saúde. Governam a cidade e o estado apagando incêndios e resolvendo problemas que não conseguem mais empurrar com a barriga. E os problemas chegaram a ser o que são porque não houve... planejamento

SECOM/Divulgação

...E ele acabou rindo por último. DE NÓS!

DÁRIO: ORGULHOSO PREFEITO PROFISSIONAL ITINERANTE. ESCAPOU POR POUCO, MAS ESCAPOU reeleições governando São José, consultou o TRE-SC se poderia ser candidato em Florianópolis (para seu terceiro mandato consecutivo de prefeito), recebeu uma resposta estranhamente positiva. Não era de estranhar. Santa Catarina é um estado pequeno. Politicamente, ainda somos uma província atrasada, onde os três poderes se comunicam em vários níveis e de diversas maneiras. Inclusive de formas esdrúxulas. Não para evitar que acabassem se transformando nesses monstrengos que consomem dinheiro público a rodo e esgotam nossa paciência. TUDO A VER Essas decisões que comento acima (a decisão de afrontar a Constituição, tentando a terceira e a quarta reeleições sucessivas e a decisão de deixar por isso mesmo) têm também relação com nosso estado de ânimo, na capital. O prefeito Dário Berger, pelo que pudemos ver nesses dois mandatos e principalmente pelo que ele não mostrou, é um incompetente confesso. Escondeu-se atrás de uma alegada perseguição política, paralisado (eu diria borrado, mas sou um sujeito cortês) de medo de uma decisão contrária que lhe tirasse os meses que restam de mandato. Seu governo só não é um desastre completo e acabado porque teve a sensatez de colocar, em pastas importantes como educação e saúde, sujeitos experientes que com nome a zelar. Que fazem das tripas, coração, para que a cidade não perceba a grave acefalia que a infelicita. Como tantos outros políticos catarinenses e brasileiros, o único pla-

raro, o poder Executivo se ausenta orquestradamente, para que o poder Judiciário possa ter alguns dias de interinidade no governo. E assim por diante. O CIRCO DA LEGALIDADE A discussão sobre o pode-não-pode burlar a Constituição chegou à suprema corte nacional. Lá, o moribundo arrastou-se por séculos nos escaninhos, até repousar a não mais poder numa gaveta. No undécimo minuto, foi retirado para um espantoso julgamento (com direito a empate e voto de Minerva) cujo resultado era previsível desde o dia em que, sob as bênçãos de LHS e vários outros beneplácitos, Dário resolveu afrontar a lei. Não resta a menor dúvida que ele e seus padrinhos e seus advogados sabiam, desde o primeiro minuto, que haviam fundadas chances da burla ter sucesso. Como, de fato, teve. Riem-se agora, com a esperada sentença absolvitória em mãos, de todos nós. Nós, os tolos, pobres diabos, ingênuos, que ainda achavamos que a Constituição valia para todos. Sabemos agora, mais uma vez, que não vale.

nejamento que interessa ao prefeito Dário Berger, é o da sua “carreira” política perpétua (e da sua família). Para isso, é mais importante fazer brotar viadutos que aparecem bem nas fotos da campanha eleitoral, do que sentar a bunda na cadeira, rodear-se de engenheiros e outros técnicos competentes, e planejar. Isso dá trabalho e muitas vezes resolve problemas a médio e longo prazo. É ótimo para a cidade e seus moradores, mas péssimo para quem trabalha com horizontes eleitorais curtos, de no máximo dois anos. OS INDIGNADOS DO CAMPECHE Na coluna da terça-feira comentei aqui sobre um protesto de moradores do Campeche, que desmancharam uma passarela que um condomínio tinha instalado sobre a restinga, naquela praia. A discussão continua, de forma perigosa: está ocorrendo um confronto entre quem achou a ação coreta e quem a achou uma bobagem. Enquanto brigamos entre nós na planície, o prefeito, os vereadores e empreendedores imobiliários, comemoram, com champanhe, novos “lançamentos”. E a nossa incapacidade de unirmo-nos contra eles.


DOE-SC: O GRANDE ESCÂNDALO

VERGONHA E OBSCURIDADE Claro que o problema maior nem é a demora, é o dinheiro público escorrendo sem parar, para bolsos amigos do alheio. Cada nova tentativa, cada nova arremetida, significa mais uma graninha. E para apimentar o escândalo, já se enfileiram várias irregularidades, licitações suspensas, investigações, indícios de maracutaias, sobrepreço, favorecimentos. E a cereja do bolo do escândalo, que é o fato do estado de Santa Catarina, em outubro de 2011, ainda não contar com uma ferramenta eficiente de divulgação dos atos oficiais. Parece que alguém não quer que a população conheça, rápida e facilmente, o que o governo decide e decreta. E isso é mais do que suspeito.

Morano Calabro, no sul da Itália Comecei a levar mais a sério as viagens ao exterior meio tarde, quando, já formado, estava fazendo uma pós graduação em Brasília. Para participar de congressos e seminários, tinha que ir a lugares que provavelmente não iria por vontade própria. Desde aquela época aprendi que viajar não é luxo. É necessidade cultural. É tão importante quanto ler livros e ter uma boa educação fundamental. Aliás, aproveita melhor as viagens quem tem uma cultura geral razoável. E quem adquiriu o hábito de aprender. Porque se aprende muito nas viagens. Desde, claro, que se queria aprender. Quem mora em pequenas cidades, como Itajaí e Florianópolis, mundinhos provincianos capazes de nos envolver de tal forma que podemos pensar que estamos no centro do mundo, tem necessidade ainda maior de, vez por outra (ou pelo menos uma vez), ir até o mundo exterior. Para poder, ao retornar, ver com outros olhos o seu vilarejo.

Quem nunca saiu de Florianópolis pode achar que só ali existem engarrafamentos nos horários de pico. E que só ali é difícil, em certas horas, ir de um lugar a outro. O trânsito de Florianópolis é uma maravilha perto do caos sobre rodas instalado na região ao redor da praça Garibaldi, em Nápoles (Itália), diante da estação ferroviária. Pra complicar um pouco mais, a praça está em obras, mas o que é espantoso é que nas ruas atulhadas de carros e ônibus (e cruzadas aqui e ali por bondes), nem todos respeitam as sinaleiras. Cada um vai passando do jeito que dá. E o pedestre? Tem que ir atravessando porque, se esperar alguém dar passagem, não conseguirá nunca chegar ao outro lado.

LAR DOCE LAR Tem muita gente que tem medo de sair de casa. De sair da sua cidade. Acha que não vai encontrar nada melhor. Ou, ao contrário, que é capaz de ver coisas tão maravilhosas que perderá o afeto pelo seu cantinho. Tudo isso é bobagem. Conhecer lugares distantes, culturas diferentes, cidades famosas, locais citados em livros, filmes e canções, nos ajuda a colocar, na sua devida dimensão, a terra natal. Fotos: Palhares Press

Falar em “grande escândalo”, no Brasil de hoje, parece piada. O que mais tem é escândalo grandioso. Mas acho que a novela escandalosa do Diário Oficial do Estado de Santa Catarina (DOE-SC) merece um lugar de destaque na vergonhosa sala de troféus da corrupção e da incompetência. Desde o governo Amin que Santa Catarina tenta informatizar seu Diário Oficial. Como vocês já estão cansados de saber, a publicidade dos atos oficiais está entre os pilares que sustentam a democracia. E colocar essas informações na internet, permite que um número maior de eleitores/contribuintes tenha acesso à forma como o governo utiliza o dinheiro público e como administra o estado. O governo grandiloquente do LHS começou garantindo que em pouco tempo SC teria seu diário oficial na internet. O governo chegou a informar à população em 2004, por ocasião dos 70 anos da Imprensa Oficial, que em poucos dias o Diário Oficial estaria “online”. O tempo ajudou a mostrar que era mentira. Passaram-se dois mandatos do LHS sem que a coisa saísse do papel. E o governo Raimundo começou também dizendo que, em pouco tempo resolveria a engronha. Que nada.

Coliseu, em Roma

O QUE RESTOU DA HISTÓRIA Ir a países que preservam seus locais históricos (como ocorre em boa parte da Europa) exige, antes, que a gente conheça um pouco de história. Sem esse conhecimento, aquilo não passa de um monte de pedra. Que graça pode ter o Coliseu, aquele estádio parcialmente destruído, para quem não tem idéia do que foi o império romano? Ou para quem nunca estudou a história dessa cidade fantástica, que um dia foi o centro do mundo, que é Roma? Será apenas uma ruína, um amontoado de pedra velha, cercado de turistas por todos os lados, tirando fotos desesperadamente. Os centros das cidades medievais, preservados, podem lembrar, para quem não tem estudo, favelas das nossas grandes cidades. Vejam só Morano Calabro, na Calábria, sul da Itália: de longe (como na foto acima), pode lembrar a favela da Rocinha. Mas sua rica história vem do século II. E no século XIX, houve uma debandada rumo à América do Sul. Em pouco tempo, cerca de 4 mil dos seus habitantes emigraram. Boa parte deles se instalou em Porto Alegre. Por isso, hoje Morano é uma “cidade irmã” da capital gaúcha.


CORRUPÇÃO? AFINAL, O QUE É MESMO ESSA TAL DE

Se a gente for aos dicionários, vai ver que o vocábulo “corrupção” é um substantivo feminino que vem do latim (corruptione) e está recheado de significados negativos, terríveis: Ação ou efeito de corromper; decomposição, putrefação; depravação, desmoralização, devassidão; sedução; suborno. E, naturalmente, se queremos ir mais fundo nessa investigação, é importante saber o que significa “corromper”, já que “corrupção” é sua resultante: Estragar; infetar; desnaturar; tornar podre; (figurado) alterar o que é são e honesto; depravar; perverter; (fig) levar (alguém) a agir contra os seus princípios; (fig) subornar Aí surge a grande questão: se a corrupção é alguma coisa tão ruim, por que o brasileiro trata os corruptos e a própria corrupção de forma tão tolerante? E por que desdenha da necessidade de combatê-la? Ontem ocorreram novamente, em algumas cidades, manifestações “contra a corrupção”. Posso estar enganado, mas isso lembra aquelas “passeatas” ingênuas e tolas “contra a violência”, promovidas por grupos e escolas. As

crianças fazem cartazes, saem em grupos cantando ou gritando palavras de ordem e pronto. Tudo continua exatamente como está. Por mais que a expressão pública das nossas inconformidades seja importante, é ainda mais urgente e necessário, alterar comportamentos, vícios culturais e hábitos, de tal forma que a corrupção (assim como a violência), deixe de ser hipocritamente tolerada.

“corruptio optimi pessima”

A corrupção dos melhores é o pior Tenho a impressão que somos contra a corrupção apenas da boca pra fora. Na vida real, quando surge a oportunidade de passar no exame sem estudar, de tirar carteira de motorista sem fazer curso e sem testes, de contribuir para uma caixinha de campanha e ganhar um emprego, de terminar a reforma da casa “trabalhando” para eleger alguém, a agarramos com unhas e dentes. Muitos dos que falam contra osproventos milionários dos marajás do serviço público, reclamam

por pura inveja. Não ficam indignados de verdade: gostariam de ter a oportunidade de ganhar um bom salário. Mesmo que, para isso, precisassem mentir ou roubar. As duas frases em latim que uso para ilustrar essa chorumela moralista mostram, em primeiro lugar, que a corrupção é um câncer milenar, que provavelmente nasceu junto com a primeira ameba. E, depois, duas situações que nos são muito familiares: a) O pior dos mundos é quando vemos que mesmo aqueles que estão em cargos importantes, que deveriam ser os melhor preparados, os líderes de seus grupos, topam corromper e aceitam ser corrompidos; b) A abundância de leis não significa Estado honesto, ao contrário. Múltiplas leis, amontoadas, contraditórias, de difícil interpretação, sobrepostas, ajudam a criar o ambiente putrefato onde vivem os corruptos. Sim, porque aprender a sair do cipoal de armadilhas legais custa caro. Mas, se as pessoas certas forem adequadamente remuneradas, tudo se resolve. Afinal, as leis existem apenas para isso: criar dificuldades para que os espertos e os amigos dos amigos possam vender facilidades.

“Corruptisima re publica plurimae leges” O Estado mais corrupto tem mais leis (Terence)

D

epois de 11 de setembro de 2001 o mundo mudou. E uma das atividades humanas mais atingidas pela natural e compreensível paranóia (ou temor real) que se instalou, foi o turismo. Ficou mais chato viajar, principalmente para quem não é louro alto de olhos azuis. As histórias que começaram a correr mundo, de maus tratos nas fronteiras, de vistorias vexatórias nos aeroportos, acabaram desanimando alguns viajantes. Eu perdi, por muito tempo, interesse nos Estados Unidos. Sempre que tinha oportunidade de viajar, escolhia outros destinos.

Até que este ano resolvi quebrar um jejum de mais de uma década. E já estava até com entrevista agendada, no consulado norte-americano, para requerer o visto, quando descobri, num velho passaporte, um velho visto ainda válido. Tinha sido emitido em 2002, ano em que fui ao Canadá (para ter o visto canadense era preciso ter o visto dos Estados Unidos, porque o avião, ora vejam só, sobrevoa o território de tio Sam) e vale até 2012. Livre da chateação (e das despesas) de ter que ir até São Paulo para a entrevista, a viagem já começou a ficar mais interessante. Com

visto válido, mesmo em passaporte antigo, basta viajar levando os dois passaportes: o que está em vigor e o que tem o visto. E, a esta altura, passar pelas inspeções de segurança já virou rotina: tira o cinto, tira o sapato, tira o laptop da mochila, coloca tudo (mochila e casaco incluídos) na esteira e passa pelo detetor de metais. Anteontem, para pegar o vôo doméstico entre Chicago e San Francisco, passei pela primeira vez pelo scanner corporal, aquele que nos mostra sem roupa para um policial. A imagem que ele vê é esquematizada. Não aparecem com nitidez os detalhes anatômicos. Mas aparece tudo o que está nos bolsos. Ou se tem alguma coisa em outros orifícios. Como tudo isso é inevitável o jeito, como bem recomendou a Marta Suplicy, é relaxar.


Marajás

A triste vida dos N

têm os salários que têm porque a lei permite. A lei e seus desvãos, mecanismos abertamente aprovados pelos doutos parlamentares, que vão pendurando berloques nos contracheques. Um centavo aqui, outro ali e em pouco tempo o sujeito está com a vida ganha.

aposentar, dá benefícios, como isenção do IR e, na época, quitação automática de financiamentos do BNH. E os médicos que assinaram a brincadeirinha, o faz-de-conta da invalidez, estão aí, belos e faceiros, também se aposentando com salários integrais. Claro, eles têm as costas quentes. Tinham e continuam tendo o respeito de quem mandou fazer a patacoada.

INJUSTIÇA! Para adicionar mais pimenta ao tempero já bastante salgado da história, um dos aposentados por invalidez suicidou-se. Aparentemente, inconformado por ter seus proventos reduzidos de R$ 32 mil para R$ 22 mil e também por ser obrigado a submeter-se a exames que comprovassem sua invalidez. De fato, é impossível alguém viver com apenas R$ 22 mil. Mas é ainda mais impossível conviver com a vergonha de ter sido beneficiado com um esquema fraudulento que lesou milhares de servidores públicos e desviou milhões de reais do combalido tesouro estadual. Eles, os marajás, talvez não sejam os únicos culpados da pouca vergonha chegar onde chegou. Mas, se tivessem vergonha na cara, teriam caído fora do esquema. Não de forma radical, que o suicídio (que talvez resulte em alguma pensão) não é a saída pra nada. Mas de forma honrada e digna: dizendo não aos corruptores. E ficando com seu salário mirrado de servidor comum, mas com a alma intacta.

É FANTÁSTICO! O auê mais recente envolve a Alesc. No Fantástico da TV Globo, domingo, a ridícula novelinha dos marajás inválidos catarinenses foi exposta à Nação. Que decerto nem se espantou, porque todos os estados têm carnavais semelhantes de pouca vergonha. Mas, aqui, não podemos deixar os demais poderes de fora. Tem histórias divertidas (pra não dizer trágicas) de apropriação de dinheiro público para fazer crescer os proventos, em vários lugares. No Tribunal de Contas, no Tribunal de Justiça, no Executivo, por trás de cada salário acima de R$ 20 mil, tem uma história comovente de engenhosidade legal e financeira. É a grande criatividade brasileira em ação, encontrando formas de dar nó em pingo dágua. Os aposentados por invalidez da Alesc correm maratonas porque foram curados milagrosamente. Os marajás de todos os poderes

Fotos: Palhares Press

ão tenho pena desses servidores públicos que ganham acima de R$ 20 mil e que vivem aos sobressaltos. De tempos em tempos, algum engraçadinho inventa de questionar a legalidade de seus proventos e o caso volta à TV. Todos estão cansados de saber que boa parte dos que ingressam nas funções públicas estão atrás apenas de um bom salário e de uma aposentadoria confortável. E, na medida do possível e da força de seus padrinhos políticos, vão enfiando, no contracheque todo o tipo de penduricalho possível, para aumentar não só o salário, mas principalmente o valor da aposentadoria. Isso é feio diuturna e incansavelmente, ao longo dos dias, com conhecimento de todos. E com a complacência de quem deveria zelar pela integridade do tesouro (aí entendido o dinheiro público, não a riqueza pessoal acumulada). Daí, quando a conjuntura favorece e a situação permite, a turma consegue avançar um pouco mais, abocanhar um pedaço mais suculento dos recursos públicos. Foi o que aconteceu na “epidemia” de aposentadorias por invalidez da Assembléia Legislativa: alguém precisava de umas vagas pros amigos que ainda estavam de fora e resolveu aposentar outros amigos. Pra não deixar ninguém mal, arranjou umas doenças incapacitantes. Isso, além de

do serviço público

Em pelo menos quatro das grandes cidades de dois continentes que visitei recentemente (Roma, Milão, Chicago e San Francisco), o sistema de transporte público utiliza bondes, além de vários outros veículos, como ônibus e metrô. Em Milão e San Francisco, eles restauram bon-

des antigos de diversas épocas e os colocam em funcionamento normal (nada de linhas turísticas especiais). No Brasil, as principais cidades tinham bondes, que foram varridos do mapa, em nome do “progresso”. O bonde da foto acima foi fotografado ontem, em San Francisco,

na Califórnia, fazendo seu trabalho, como se novo fosse. Na foto menor acima, a fachada de uma lavanderia self-service aqui por perto, que tem um nome espetacular para uma... lavanderia: “A meia perdida” (The missing sock). Não é ótimo?


Respeito para quem merece

Hoje fazem exatos 30 dias que comecei a viajar (no bom sentido) e ainda faltam mais de dez para que eu retorne ao Brasil e a Florianópolis. Durante esse tempo fui à Europa, voltei a Florianópolis (para uma passada rápida, de quatro dias) e vim para a costa oeste da América do Norte, de onde retorno no final do mês. Visitei muitas cidades e andei bastante de trem. Mas também dirigi uma porção por vários tipos de estradas. Andei na Itália, no sul e no norte. Fui até à Suíça. Nos Estados Unidos, de São Francisco fui ao vale do Napa (famoso pelas vinícolas) e depois desci até Los Angeles (numa viagem que levou mais de 6h). Ontem, logo depois de escrever estas maltraçadas, fiz o caminho de volta, também por terra, pela “1” (a estrada da costa do Pacífico) e pela 101 deles. E nesse mês todo, não vi nenhum acidente grave nas estradas. Isso é uma coisa rara nas rodovias brasileiras, em especial nas catarinenses. Basta viajar num final de semana que a gente sempre encontra sinais de algum desastre. Caminhões virados, carros amassados, motoqueiros caídos, carga espalhada no acostamento são quase parte da paisagem. A gente se acostuma a isso e quando viaja dias seguidos em outros países

por nove meses em seus ventres e são abandonadas pelas maternidades, e voltam para casa com um caixão pra enterrar, por falta de atendimento/tratamento/leito/UTI. Eu tenho respeito pelos nossos professores, que precisam brigar na justiça para que a lei seja respeitada. Tenho respeito pelos médicos e enfermeiros do SUS que amam sua profissão acima do dinheiro. Tenho respeito pelos nossos professores, que aturam de tudo dentro das salas de aula e também fora delas. Tenho respeito pelos nossos policiais, que enfrentam os malacos para defender a sociedade. Tenho respeito pelos bombeiros que arriscam suas vidas. Não consigo respeitar quem se aposenta irregularmente por invalidez por problemas no coração e depois corre uma maratona”.

a pergunta foi muito pertinente. Exigem que as pessoas respeitem o ex-aposentado inválido, agora morto, e sua família. Ok. E ele nos respeitou durante todos estes anos? Ele entrou na Justiça pra não refazer os exames. Por que? A família sente a perda, com certeza. É filho, pai, marido. Mas não sabiam de nada? Eu tenho respeito por quem trabalha e morre nas filas dos hospitais por falta de leitos, ou porque as ambulâncias estão paradas, ou porque os médicos que deveriam estar atendendo no hospital estão em seus consultórios particulares, ou porque a Justiça nega que o SUS forneça remédios e tratamento aos que, como meros mortais, recebendo um salário mínimo, não conseguem pagar. Eu tenho respeito pelas mães que carregam seus filhos

Autoestrada 405, Los Angeles onde a rotina não é a das mortes nos trânsito, acaba estranhando. Mais estranho ainda é andar na velocidade permitida, numa autoestrada, e não ser ultrapassado por todos os demais veículos. Nem ser agressivamente forçado a “sair da frente”, enquanto se está ultrapassando (no limite da velocidade máxima permitida), veículos mais lentos. No Brasil, em estradas que permitem 100 km/h, só gente crédula ou tola anda a essa velocidade. “Todo mundo” anda a mais de 120 km/h. No mínimo. Claro que tem loucos em todos os lugares. Mas a maioria dos motoristas se mantém nos limites. Quando por mais nada, porque as multas são salgadas e a fiscalização, ora vejam só, existe. Outra coisa que chama a atenção do motorista acostumado ao jeito

Palhares Press

Na coluna da última terça-feira falei aqui sobre a “triste vida” dos marajás do serviço público, alguns dos quais aposentados “por invalidez”, mas que continuam, coitados, exercendo atividades normais, como quem se aposentou por invalidez graças a atestados falsos (ou pouco rigorosos). Tratei do mesmo assunto no meu blog (que tem o mesmo nome desta coluna) e lá uma leitora fez um comentário, falando do suicídio de um dos aposentados e da possibilidade que, agora, sua morte desse origem a uma pensão igualmente polpuda. Claro que teve gente que achou o comentário inoportuno e reclamou. Mas ela deu uma resposta que considerei à altura. Por isso transcrevo-a aqui, na íntegra: “Tomei pedradas ontem, porque perguntei da pensão. O momento da pergunta pode não ter sido o mais adequado. Mas

brasileiro de desrespeitar normas de trânsito e de civilidade: nos Estados Unidos, o sinal de pare (stop) significa que é preciso parar, mesmo que não tenha movimento nenhum. Quem já levou multa por não parar direito, recomenda: “pare, conte até três e, se não vier ninguém nem ninguém for atravessar, continue”. Nos cruzamentos sem sinaleira, apenas com placas de “pare”, segue-se uma ordem de chegada. Todos param e quem chegou primeiro ao cruzamento, passa primeiro. Depois o seguinte. E isso funciona mesmo quando tem caminhões ou ônibus envolvidos. Inacreditável. Sem falar que, mesmo com sinal aberto para os carros, se ao virar à direita ou esquerda, tiver algum pedestre atravessando na faixa, é preciso parar e esperar. Toda essa “cortesia”, é claro, foi aprendida em anos e anos de multas, apreensões de carteiras, aulas de trânsito desde as escolas primárias, exames de motoristas rigorosos, etc. Mas o fato é que a gente se sente mais tranquilo guiando em cidades grandes, de trânsito complicado, como Milão e Los Angeles, do que em Florianópolis. A agressividade gratuita com que a maioria dos motoristas dirige na avenida Beira Mar Norte, por exemplo, além de inexplicável, demonstra o nível de ignorância dos motoristas que enfiam o pé no fundo e saem costurando como se estivessem numa terra sem lei. Bom, vai que estão mesmo.


MARACUTAIAS A TODO GÁS A espetacular estatal SC-Gás, que já serviu para empregar políticos lageanos no desvio, agora está para voltar ao noticiário, como o escândalo mais recente do governo Raimundo. Uma manobra engenhosa fez com que o estado de Santa Catarina perdesse o controle da empresa e manobras cabulosas criaram uma dívida astronômica (coisa de cerca de R$ 600 milhões), que deve ser paga em dinheiro público, aos acionistas minoritários. O resumo da ópera está no Blog do Canga (cangarubim.blogspot.com). IMBROGLIOS ELÉTRICOS Quando vi essa história da SC-Gás, lembrei que a outra estatal catarinense, a Celesc, também anda às voltas com rolos milionários. “Desapareceram” com uns R$ 50 milhões numa operação pra lá de cabeluda que, imagino, jamais será explica-

Opine você também! Qual o melhor nome para a nova estatal do governo Raimundo? SCANDALOS ou ESCANDALOSC? da adequadamente. Fora isso, abundam historinhas sobre feitos e desfeitos da gestão do Dr. Moreira na Celesc, esse mesmo que agora é o governador nº 2. AQUELA ÁGUA A Casan, que remunera muito bem seus diretores, mas não consegue resolver se quer ser estatal ou privada, também é fonte inesgotável de de-

núncias. Que ora nascem de servidores temerosos de perder espaço, ora nascem de interesses políticos contrariados, ora nascem de alguma falha mesmo. E essas redes de esgoto que estão sendo instaladas, com tubos mais finos do que recomenda o bom senso, são bombas de m... que, mais dia, menos dia, podem acabar estourando como hoje estouram as adutoras de água potável. TRANSPARÊNCIA OPACA E como cereja do bolo da falta de vergonha na cara está aí, para constrangimento de todos os eleitores/ contribuintes honestos, a novela pornográfica da digitalização do Diário Oficial de Santa Catarina. Dar publicidade aos atos oficiais é fundamental para a democracia. E o governo Raimundo não só não consegue fazer isso, como dá prosseguimento à comédia de erros (crimes?) de seus antecessores. É mole?

Templos do consumo

Lojinha da Fry’s em San Jose (www.frys.com) FOTOS: Palhares Press

Vocês certamente já ouviram essa expressão “templos do consumo”. É uma imagem (que de tão gasta já virou “clichê”) que se usa para reforçar o caráter comercial (consumista, pois não?) de algum local. Pois ontem fui revisar algumas fotos que tirei nos últimos dias e encontrei pelo menos três comprovações de que os tais “templos” existem mesmo. No final de semana fomos visitar o Vale do Silício, que fica perto de San Francisco, na Califórnia. E como ninguém é de ferro, demos uma paradinha em Santa Clara para comer alguma coisa e, nas redondezas, fomos a duas lojas de eletrônicos, para ver as novidades. Pois o pessoal da Fry’s, que é uma grande rede de lojas, levou a coisa ao pé da letra: a filial de San Jose lembra um templo asteca, maia, inca, ou a mistura deles todos. Nem vamos discutir bom gosto ou beleza, mas o fato é que a fachada é imponente e os carrinhos de compra são retirados de uma enorme boca aberta na “pedra”. A fachada da loja da rede Best Buy é mais “clean”, mas não é menos imponente, com seu azulão discreto. Dentro, as duas competem em exageros: gondolas a perder de vista, literalmente milhões de artigos. E a “Cheesecake Factory”, uma rede de restaurantes (que não serve só cheesecake) que ficou famosa no Brasil porque é citada na série “The Big Bang Theory”, aqui é famosa também pelo exagero. A decoração é uma coisa que mistura art deco com toques egípcios. A comida, excelente, é servida em quantidades industriais: praticamente todo mundo leva as sobras, que garantem o jantar, ou o almoço do dia seguinte.

Cheesecake Factory em Santa Clara (www.thecheesecakefactory.com)

Best Buy em Milpitas (www.bestbuy.com)


ALESC CRIA O MINISTÉRIO PARLAMENTAR DAS RELAÇÕES EXTERIORES ESTRANHAS

SC agora tem um Itamaraty Estadual

>>> Qual será o primeiro “negócio da China” que a deputadaiada vai armar? <<< Todo mundo sabe que, no Brasil, as relações diplomáticas e comerciais com outros países passam pelo Ministério das... Relações Exteriores, que é também conhecido pelo nome do palácio que ocupou quando o Rio era capital: o Itamaraty. Para isso, o Brasil mantém, com o dinheiro dos nossos impostos, representações na maioria dos países com que mantemos relações. Em alguns deles, como a Itália, a Argentina e a França, nossas embaixadas ocupam palácios caríssimos, em locais nobres. Para mostrar ao mundo que o governo brasileiro dá importância à sua presenca internacional. Pois desde terça-feira desta semana, a Assembléia Legislativa de Santa Catarina também tem seu ministério das relações exteriores. Criou, com o devido cabideiro de

cargos comissionados, uma “Secretaria Executiva de Relações Institucionais” cuja função é relacionar-se com empresas, parlamentos e governos de outros países. Pelo que se depreende das palavras do presidente da Alesc ao justificar a criação do cabideiro trilíngue, os deputados estão de olho nas negociações, que normalmente o Executivo conduz, com empresas que querem se instalar em SC. Segundo Merísio, alguns incentivos oferecidos precisam passar pelo Legislativo. E eu, que sou maldoso, já começo a pensar bobagem: os deputados quererão participar de algo mais, nessa história de dar “incentivos”, para chegar “a bom termo” em negócios trilaterais? A necessidade de criar tão vistoso cabide poliglota também se assenta nas frequentes viagens de parla-

mentares à China. Alguém está armando alguma história com os chineses e precisa do “envolvimento” dessa vetusta casa de Leis. Só que negócios com a China, para um estado industrializado como Santa Catarina, são quase sempre ruinosos: a importação a preço baixo de itens que outrora produziamos em nossas indústrias, ajuda a empregar chineses malpagos e a desempregar catarinenses. A desindustrialização é praga que os deputados deveriam combater. E não estimular. Claro que nem todos os catarinenses sofrerão com a invasão chinesa: os ocupantes dos bem remunerados cargos recém criados e o(s) deputado(s) que fazem as vezes de cônsules honorários de Bejing, devem estar se sentindo na própria Praça da Paz Celestial.

Mais um shopping embargado A Fatma, que é a fiscalizadora bem boazinha do meio ambiente estadual, deixou construir um enorme shopping na esquina da SC 407 com a BR 101, em São José, na Grande Florianópolis. Pra Fatma a existência de algumas nascentes de água, de uns riachos, de uns banhadinhos e outros “acidentes” não tinha importância. Liberou geral. Agora que o tal Park Shopping já está quase pronto (a previsão de entrega é abril de 2012), vem o Ibama dizer que as nascentes de água caraterizam a área como de preservação permanente. E cita os códigos que mandam respeitar uma certa distância dos olhos dágua. O embargo da obra, se ainda não foi concretizado, é uma questão de horas. O caso corre no Ibama com prioridade e tem a participação direta do presidente do órgão. O mais curioso, no processo com que o Ibama tenta comprovar que existiam riozinhos por debaixo do concreto autorizado pela Fatma, é que o órgão federal valeu-se do Google Earth. E até comete a mancada de chama-lo de “software livre”. Uma ingenuidade, no mínimo: o fato do programa ser gratuito não significa que seja

FOTOS SURRUPIADAS DO GOOGLE

de uso livre. Para usar as fotos aéreas que compõem o acervo tanto do Google Earth quanto do Google Maps, é preciso autorização e, em alguns casos, pagamento. Bom, mas isso é o de menos. O fato é que, mais uma vez, na Grande Florianópolis, deixam levantar as

paredes e a obra ficar quase pronta, para só então darem-se conta que o troço tem irregularidades graves. Autorizaram destruir o que tinha e agora vão embargar. Pra quê? Pra mandar desmanchar e reconstituir os olhos d’água soterrados? Será? Duvi-d-o-dó.


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