REVISTA BANDIERAS POSITHIIVAS 1

Page 39

)

CIDADE DE SÃO PAULO

a resposta paulistana

à epidemia de aids

ASSIM, NO INÍCIO DE 1990 SURGE O 1º. SERVIÇO ESPECIALIZADO EM AIDS DA CIDADE DE SÃO PAULO, O SAE-BETINHO, EM SAPOPEMBA

Profissionais da saúde lutam para implantar o primeiro serviço de atendimento especializado em aids Em 1988, o município cria 1º Centro de Orientação e Aconselhamento, COAS Henfil, localizado no centro de São Paulo. De acordo com o infectologista Robinson Camargo, gerente do SAE- Betinho, 1º Serviço de Atendimento Especializado em Aids da cidade, na época, a política municipal para o combate a doença era centrada apenas no diagnóstico. A assistência deveria ficar a cargo do Estado ou das unidades básicas de saúde municipais. AIDS NA PERIFERIA No final de 89 e início de 90, começam a aparecer os primeiros casos de aids na unidade básica de saúde do Jardim Elba (sudeste da capital), onde Robinson trabalhava. “Nessa época, a maioria dos casos era de usuários de drogas injetáveis. A região de Sapopemba foi porta de entrada de cocaína na cidade”, afirma o infectologista. Se os portadores do HIV que moravam no centro não tinham dificuldade de acesso ao Hospital Emílio Ribas ou ao Centro de Referência e Treinamento em AIDS (CRT-A), o mesmo não se podia dizer dos afetados pela doença na periferia. “Os pacientes com aids de Sapopemba, com um quadro de saúde grave, tinham que percorrer 30 km, maioria das vezes de ônibus, para

Bandeiras PositHIVas - Uma publicação do CRT DST/Aids-SP

E

nfrentar a epidemia de aids na Cidade de São Paulo é um desafio. A cidade concentra metade dos casos da doença do Estado, e de 1980 até 2007, foram notificados 67.684 casos. Segundo José Cláudio Domingues, infectologista e ex-coordenador do Programa Municipal de Aids entre 1990 e 2000, a resposta paulistana à nova doença começou em 1987, na gestão de Jânio Quadros. “A questão da aids teve seu destaque com o surgimento de servidores municipais doentes, com a criação do serviço de atenção no Hospital do Servidor Público Municipal, e pela pressão do serviço funerário, uma vez que a prefeitura da cidade é responsável pela notificação do sepultamento de todos os mortos da capital” relata. A estruturação do Programa Municipal de Aids da cidade só começou de fato em 1989, na gestão da prefeita Luiza Erundina, com a nomeação do ativista Paulo César Bonfim, um dos fundadores do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA), para coordenar o programa. Bonfim, ocupou o cargo por um ano. Em 1990, Domingues assumiu a função e, em 2000, o programa passou a ser coordenado pelo sanitarista Fábio Mesquita. A psicóloga Maria Cristina Abbate, atual coordenadora, assumiu o cargo em 2003.

77

chegar aos serviços especializados”, relembra o médico. “Era um absurdo não atender esses pacientes com dignidade, na periferia”, critica. Para convencer a Secretaria Municipal sobre a epidemia na periferia, Robinson e psicóloga Cristina Abbate fizeram um levantamento nos prontuários dos pacientes do CRT-A para ver quantos moravam na região de Sapopemba. “Quando a conta chegou a 400 casos, achamos que o número já justificava a existência do serviço na região”, conta Robinson. A urgência era grande. A epidemia, apesar de recente, crescia exponencialmente. Então os dois profissionais resolveram sensibilizar a coordenadora do Distrito de Saúde de Sapopemba, Sonia Maria Trassi. “Nós levamos a Soninha ao CRT-Aids, a Casa Brenda Lee e ao Centro Corsini, de Campinas. Ao sair da casa de Brenda, Sônia disse: “Como é que pode, uma pessoa que não tem a mínima obrigação de tratar de doentes faz um trabalho desse e, nós, que ganhamos e estudamos para isso, não fazemos nada! Vocês têm carta branca para abrir esse ambulatório amanhã, com a secretaria

apoiando ou não”, recorda o coordenador do SAE Betinho. Assim, no início de 1990, foi criado 1º Serviço Especializado em Aids da Cidade de São Paulo, o SAE-Betinho, em Sapopemba. Em 1995, com a implantação do Plano de Atendimento à Saúde (PAS), uma tentativa de privatizar a saúde pública levada a cabo por Paulo Maluf, os serviços de aids ficaram de fora devido ao alto-custo das unidades. Os profissionais do município que não aderiram ao PAS passaram a atuar no Programa de Aids. Entre 1996 e 1997, foram criados na capital cerca de 15 serviços de DST/Aids entre SAE, CTA e Ambulatório de Especialidade. Em 2008, o Programa Municipal de DST/Aids conta com 24 serviços especializados: 9 CTAs, 10 SAEs, 3 CR DST/ Aids e 2 ambulatórios de especialidades. Cerca de 52 mil pessoas estão matriculadas na rede municipal especializada em DST/Aids. Destes, 14.767 já se encontram em tratamento anti-retroviral. Até agosto de 2008, o PM DST/Aids distribuiu 28 milhões de camisinhas masculinas e 232 mil femininas.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.