Revista Milha Náutica - Ano 03 - Nº 02

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ENTREVISTA COM O VELEJADOR MARÇAL CECCON

LION FISH: O TERROR CARIBENHO, O TERROR DO ATLÂNTICO

O CENTRO DE REFERÊNCIA EM PESCA E NAVEGAÇÃO MARÍTIMA E O SETOR NÁUTICO

milhanáutica A

R e v i s t a

d o

VOLVO OCEAN RACE

Nº02 • Ano 03 • Junho 2014

Confira os flashes de 2011/2012 e tenha uma prévia da edição 2014/2015, que passará novamente por Itajaí / SC.

LIGHT HOUSE

P r o g r a m a

S a g r e s


ENTREVISTA

04 Marçal Ceccon

DIVERSOS

08 Watercraft

PROGRAMA SAGRES

10 História das Cartografias Náuticas: Medieval e Portuguesa 14 Evolução das Embarcações desde o século XV ao XIX - do Remo a Vela

MUNDO AQUÁTICO

16 Lion Fish - O Terror Caribenho, O Terror do Atlântico

CAPA

18 Flashes da Edição 2011/2012 da Volvo Ocean Race

BLOG VELEIRO HOJE!

38 Perrengue no Porto

CRPNM / IFPB 40 O CRPNM e o Setor Náutico

SEXTANTE

42 Cálculos com o uso do sextante no Paranoá

LUGARES E ORIGENS

44 Ilha da Restinga

SUP MINAS

46 Stand Up Paddle - Quebra de Paradigmas

OVERFISHING

48 Comunidade íctica das margens de Áreas de Preservação Permanente

CULTURA MARÍTIMA

50 Filmes & Livros: Mestre dos Mares & Mar Sem Fim

NAUTILUS 52 Fotografia - Fotos de Rico Floriani

SABORES DO MAR

54 Bacalhau com batatas a Guarapari e Bacalhau de Coco

RUMO MAGNÉTICO

55 Últimas novidades, notícias e números do site

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EDITORIAL A publicação de cada um dos números da Revista Digital Milha Náutica tem sido um grande e grato desafio. Quantos navegantes, no meio de uma tempestade, não se fizeram as seguintes perguntas: O que eu estou fazendo aqui? Por que eu não estou em casa assistindo a um belo filme, deitado no meu sofa, seguro, seco e aquecido? Acho que todos, por mais vitoriosos que tenham sido, já se fizeram essas perguntas. As vezes me sinto assim quando estou no meio da diagramação e edição de cada número. Mas, quando chego ao meu destino, quando vejo a revista concluída, eu paro e agradeço a Deus por ter me mantido firme até o final. Essa é a navegação da vida, imprecisa. Às vezes conseguimos chegar no destino sem desvios e atrasos, mas muitas vezes, temos que tomar um caminho mais longo e acabamos por encontrar tempestades, altas ondas, arrecifes e águas rasas. A navegação tem dessas coisas, nos ensina que nem toda “derrota” na vida, é a perda de algo, mas o cumprimento de uma meta. A quarta edição da Revista Milha Náutica traz uma Seção Especial do Nautilus, com fotos da maior regata de volta ao mundo, a Volvo Ocean Race. Agradeço ao “De Vito Fotos”, pelas imagens gentilmente cedidas. Temos também uma entrevista com o Velejador Marçal Ceccon, realizada pelo também velejador, Rico Floriani e publicada no Blog Veleiro Hoje!. As novidades da edição estão na criação de duas novas seções, a “SUP Minas”, da instrutora de Stand Up Paddle Rosana Moraes e a Seção Rumo Magnético, que traz as maiores novidades do site. Enfim, aqui estamos, a bordo da quarta edição da Revista Digital Milha Náutica. Boa Leitura e longas aventuras! ___________________________________________________________________ Prof. M.Sc. Ticiano Alves Coordenador do Programa Programa Sagres / CRPNM / IFPB Editor-Chefe da Revista Milha Náutica

Editora Digital Light House, Programa Sagres / CRPNM / IFPB Editor Chefe / Diagramação Ticiano Alves, ticianosalves@gmail.com Revisora Textual - Externo Raphaella Belmont, raphabelmont@gmail.com Colaboraram nesta Edição Rico Floriani, Elson Fernandes, Rosana Moraes, Adeilsa Alves, Margareth Rocha, Mayra Miranda, Iolanda Carlli, Marçal Ceccon. Fotografias desta Edição De Vito Fotos, Ticiano Alves, Rosana Moraes, Rico Floriani, Elson Fernandes.

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ENTREVISTA VELEJADOR

MARÇAL CECCON Muito querido e respeitado no meio náutico, o velejador Marçal Ceccon circunavegou o globo em família a bordo do Rapunzel, um veleiro de aço de 43 pés, construído especialmente para essa empreitada. Aos 43 anos largou uma sólida carreira como engenheiro mecânico na indústria automobilística e, em família, desengavetou e realizou o sonho de viajar e conhecer o mundo. MILHA NÁUTICA - Marçal, quais foram

sensação de que nosso espírito já estava

mudanças e evitar problemas. A razão

as motivações que você teve quando

viajando muito antes de zarparmos, e que

de termos tido tão poucos problemas na

decidiu com a família circunavegar o

fisicamente ainda

ali em

viagem foi nossa capacidade de entender

planeta?

casa somente para finalizar esses com-

como os sistemas de tempo funcionavam

MARÇAL CECCON - No inicio dos anos 80

promissos para então alcançar o espírito!

em cada região.

já velejávamos no mar e eu estava plane-

A realização de um sonho é um momento

MILHA NÁUTICA - De modo geral, é mais

jando cruzar o Atlântico em nosso veleiro

mágico que em um segundo apaga todo

difícil fazer uma viagem de circunavega-

de 23 pés com um amigo. No meio desse

o sacrifício da preparação.

ção hoje, ou os desafios são os mesmos?

estávamos

MARÇAL CECCON - No fundo acho que

planejamento meu amigo “desembarcou” da aventura e fiquei frustrado. Foi então

MILHA NÁUTICA - Qual o requisito pri-

o mar será sempre o grande desafio

que a grande ideia surgiu, porque não

mordial para largar as “amarras do siste-

embora, pelos relatos que vejo dos cir-

fazer isso com a família, minha tripulação

ma”?

cunavegadores atualmente, pareça que

tradicional? Aí os planos ficaram mais

MARÇAL CECCON - Total cumplicidade

mesmo o mar está mais complicado.

ousados, ao invés de cruzar o atlântico,

da família. Embora em geral o sonho de

Em toda viagem mais recente alguém

porque não morar a bordo e dar a volta

viajar pelos sete mares seja sempre uma

pega um “rabo de furacão”, um tsunami,

ao mundo? Afinal, esse era o sonho de

iniciativa do homem, somente a partici-

ou pelo menos dias e dias de ondas de

todo velejador!

pação e concordância irrestrita da mulher

5a7

metros. Nós, em 21 anos de vela

e eventualmente filhos vai viabilizar o

no Rapunzel, jamais enfrentamos uma

MILHA NÁUTICA - A preparação da família

projeto, pois ele requer algumas trocas

onda maior do que 4 ou exagerando, no

Ceccon para soltar as amarras definitiva-

que podem ser sacrifícios individuais. É

máximo 5 metros durante uma noite...

mente demorou 8 anos (1983-1991), o

necessário, às vezes, adiar os próprios

O interessante é que deveria ser o con-

que vocês fizeram nesse tempo além de

sonhos para ajudar o outro a realizar o

trário, hoje com as previsões de tempo

cuidar da construção do barco?

seu!

sofisticadas e disponíveis em tempo real,

MARÇAL CECCON - Em 83 começamos a

poderia se evitar mais facilmente esses

construção do Rapunzel 1 um veleiro de

MILHA NÁUTICA - Marçal, você possui

contratempos! Já a burocracia e custo

38 pés. Esse barco se revelou pequeno

larga experiência como capitão e per-

de viagem, isso sim acho que se com-

quando estávamos na fase de enverni-

cebi, através dos seus escritos, que nunca

plicaram muito. O mundo atual com sua

zar o interior. Acabamos

vendendo

pegaram uma forte tempestade nes-

avidez

começando novamente do zero o

sas andanças pelo mundo a bordo do

condenando aquela ideia de sair por aí

Rapunzel 2, com 43 pés, com o qual

Rapunzel. O conhecimento e interesse

“sem lenço nem documento” a um sonho

viajamos! Enquanto construímos esses

em meteorologia é coisa primordial ao

utópico.

dois barcos montamos

navegador?

ele

nosso roteiro,

em controle e vigilância esta

estudamos a meteorologia das regiões

MARÇAL CECCON - Sim, é fundamental

MILHA NÁUTICA - É dispensável per-

ao longo do caminho, aprendemos a

ter uma boa noção e prática na inter-

guntar que essa experiência marcou e,

língua francesa, fomos nos desligando

pretação de informações meteorológicas

provavelmente, mudou a forma como

de compromissos, despesas, e necessi-

(cartas sinóticas, avisos de mau tempo,

vocês enxergam o mundo. Que reflexos

dades que teriam que ser deixadas para

imagens de satélite, etc.) e ter bom senso

psicológicos essa grande vivência des-

trás. Equipamos o barco, preparamos a

para antecipar as mudanças, ou seja fazer

pertou?

família, lemos muito sobre os lugares

uma previsão de tempo momentânea.

MARÇAL CECCON - Sem dúvida foi uma

que iriamos visitar. No final tínhamos a

Isso vai possibilitar se preparar para as

experiência que mudou completamente

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nossos valores, nossas

expectativas

e nossa maneira de viver. Ser o único responsável pelo resultado de todas as suas ações torna as pessoas mais modestas , cuidadosas, menos egoístas e mais conscientes de seu lugar no mundo. Viver com a família 24 horas por dia em um espaço tão restrito como um barco nos ensina a compreensão, respeito e tolerância de forma muito profunda. E para os filhos, participar de tudo na vida a bordo trás responsabilidade, autoconfiança e determinação como escola alguma seria capaz de ensinar. Imagine o que muda em um garoto de 13 anos, cuja única responsabilidade era ir para a escola e fazer as lições de casa, de repente estar no cockpit de um veleiro de 12 metros, no meio da

A Família Ceccon

noite, em pleno oceano, fazendo seu turno

acompanham com entusiasmo. E quando

de vigília responsável pelo resto da famí-

nos veem concretizando nosso sonho

lia que dorme tranquila lá em baixo... É

provavelmente irão pensar ...“eles não

uma lição de confiança!

desistiram...eu também não vou desistir...” e isso é importante, alimentar o espírito

MILHA NÁUTICA - Vocês recomendariam

humano, que nunca se rende. Sim, acho

a experiência de uma circunavegação à

que todo aquele que sente esse apelo, ou

outras pessoas?

de qualquer outro sonho, deve segui-lo.

MARÇAL CECCON - Dar a volta ao mundo não tem um significado concreto em si, é

MILHA NÁUTICA - Viajar pode, em certa

como escalar o Everest, ou cruzar o Canal

medida, nos amadurecer espiritualmente,

da Mancha a nado, é no fundo um ato a

você acredita nisso?

mais na vida de seus protagonistas. Mas

MARÇAL CECCON - Quando se passa por

ao fazermos isso nos tornamos impor-

qualquer experiência fora dos padrões

tantes para um mundo de gente, igual-

estabelecidos com certeza mudamos

mente sonhadoras. Elas nos incentivam e

internamente. Ninguém exprimiu com

tanta ênfase esse sentimento como Deborah Kinley, sobrevivente de um naufrágio: “Aquele que conheceu as alturas e os abismos nunca mais conhecera a paz. Não como o calmo coração a conhece. Um muro coberto de era, o jardim ao lado ou o velho encanto de uma rosa, e, embora volte a trilhar os caminhos humildes do homem, jamais falará a linguagem comum.” MILHA NÁUTICA - A sua abordagem como

escritor é muito amistosa, informal e honesta, isso nos prende à leitura. Quais destinos lembram com saudades e desejariam revisitar? MARÇAL CECCON - Creio que é unanimidade familiar, nossos lugares inesquecíveis foram San Blás no Panamá, atol de Ahe na Polinésia Francesa, Tonga na Melanésia, Chagos no Índico e África do Sul. São nossas mais caras lembranças, locais onde ficamos mais tempo obviamente. MILHA NÁUTICA - Vocês têm acumula-

das 80.000 milhas náuticas, fariam tudo novamente? MARÇAL CECCON - Com certeza faríamos tudo novamente, se tivéssemos novamente 43 anos de idade. Não há dúvida que é uma vida magnífica, mas há que se estar muito bem em todos os aspectos, saúde, finanças, filhos na idade certa, etc. Fizemos uma viagem pelo Atlântico (vide milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 5


ENTREVISTA a motor. Um veleiro para impressionar precisa ser um mega iate, enquanto uma lanchinha de 33 pés com 900 cavalos de potência e pintura metálica impressiona tanto quanto! Essa situação se manteve por muito tempo e me parece que estamos chegando a um momento, em que os veleiros estão ficando sofisticados, simples de manobrar, e bonitos graças a inclusão de tecnologias, equipamentos e recursos que poderiam mudar um pouco o interesse do brasileiro médio. Infelizmente esses barcos “vistosos” e práticos acabam sendo caros, e novamente isso exclui muita gente do meio. Na verdade o efeito dessa nova geração de veleiros é mais exclusiva que qualquer

Companhia-alegre - Travessia Mindelo a Salvador (Novembro/dezembro de 2005 livro Um Giro Pelo Atlântico) com quase

sem compromissos esportivos floresceu

60 anos, sem as crianças, e foi muito dife-

e entusiasmou muita gente. Mas mesmo

rente em tudo. É outro momento da vida,

assim, as habilidades e conhecimentos

não se compara com a primeira viagem,

requeridos para se manobrar um veleiro,

embora tenha sido muito boa também!

bem mais complicadas do que num barco a motor, continuaram a ser um fator

MILHA NÁUTICA - Do que trata, especifi-

desencorajante para a grande maioria.

camente, a palestra que vocês ministram

E novamente os barcos a motor, agora

“A Volta ao Mundo em Músicas”?

também mais acessíveis, ganharam a

MARÇAL CECCON - Isso foi uma tenta-

preferência do brasileiro mais comodista.

tiva de falar dos lugares sem mostrar

Paralelamente, o barco foi se tornando

imagens e sim músicas típicas. Foi meio

um item de representação (exibicionis-

esquisito, não sei se foi interessante o

mo), tanto como um carro, o que nova-

suficiente. Fizemos só uma vez!

mente canaliza a atenção para os barcos

MILHA NÁUTICA - Você saberia explicar

o interesse insípido dos brasileiros pela Vela? MARÇAL

CECCON

-

Estamos nesse

meio desde 1976. Houve, na minha opinião, alguns momentos notáveis nessa história. No passado o “Iatismo” era efetivamente o esporte dos ricos e era representado pelos barcos a motor e veleiros luxuosos demais para serem populares. Com a chegada dos estaleiros fabricando barcos de fibra, veleiros menores e mais baratos se tornaram viáveis. E na década de 80 o mercado de veleiros prosperou, apareceram grandes estaleiros e as grandes flotilhas, mais gente se incluiu no “iatismo” e mesmo a vela de cruzeiro,

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outra coisa, e a vela nesses novos moldes voltou a ser coisa de rico! Ninguém mais se contenta em comprar um Brasília 32 para começar, todos querem começar por um Delta 36 zero km... E acabam ficando sem barco até conseguirem comprar um barco zero dos seus sonhos. Enquanto grande parte dos brasileiros potencialmente interessados em navegar tratar da escolha de um barco com os critérios da compra de um automóvel, veleiros não terão a preferência popular. MILHA NÁUTICA - Numa situação hipoté-

tica, você teria poder pra mudar a situação do Turismo Náutico no Brasil. Quais

Mar crescendo pela popa - Travessia St Martin Açores (Maio/junho de 2005)


seriam sua ações, por onde começaria?

estaremos sendo aos poucos empurra-

e dê início à execução, nem que seja

MARÇAL CECCON - Nos anos 60 a minha

dos para um turismo institucionalizado,

simbólico. No nosso caso minha primeira

geração queria mudar o mundo, mas

onde só se desfrutaria do mar apoiado

despesa, dez anos antes de embarcarmos

parece que não deu muito certo! Agora

em empresas de turismo em barcos de

no Rapunzel, foi comprar um sextante

tenho essa segunda chance, um desafio

passeio com monitor a bordo, e nunca

de verdade! Não sabíamos ainda nem

sem dúvida. Pena que sou conservador e

em sua própria embarcação, como já

que barco teríamos para viajar, mas o

radical demais para achar que teria idei-

é em Fernando de Noronha, um tédio!

sextante estava comprado, estávamos

as “salvadoras” nesse campo. Arriscaria

Precisamos incluir o velejador na lista

progredindo no projeto!

alguns comentários. Na minha opinião

das espécies em extinção, e olhar um

há fatores culturais, legais e comerciais

pouco na direção dos mil e um poços de

MILHA NÁUTICA - Marçal, soube que

difíceis de serem influenciados atual-

petróleo ao longo dessa APA de oito mil

vendeu o barco e mora com a Eneida, sua

mente. Começando pela maneira como

quilômetros...

esposa, numa chácara para ficar perto

a Marinha do Brasil vê o “amador” no

Não sou bom mesmo em dar ideias para

dos filhos e netos. Além dessa mudança,

cenário nacional. Em muitos países o

mudar o mundo sem criticar os ambien-

há alguma novidade?

navegador amador é visto e respeitado

talistas de gabinete ou voltar ao século

MARÇAL CECCON - Nosso novo projeto

como uma força da “reserva”, pessoal

dezenove!

em terra firme é a restauração de uma viatura militar 4X4 da guerra da Coreia

habilitado e com conhecimento do mar, de embarcações, situações de risco etc.,

MILHA NÁUTICA - Poderia dar dicas para

para sair do mundo offshore e entrar

que pode em pouquíssimo tempo ser

os iniciantes da vela de cruzeiro? O que

para o mundo offroad com o pé direito.

treinado e mobilizado para agir em situ-

considera mais importante?

No final do ano, acho, estaremos na trilha,

ações de calamidades, emergências, fis-

MARÇAL CECCON - Acho que o principal

a restauração está bem adiantada.

calização ou ate conflitos. Infelizmente

conselho é não deixar seus sonhos enga-

a atitude que se sente aqui é um claro

vetados para depois, pode ser que nem a

preconceito contra “civis” querendo brin-

gaveta seja encontrada! Faça um plano

n

Entrevista realizada pelo Velejador Rico Floriani, tripulante do Rumo Magnético e Comandante do Blog Veleiro Hoje!

car de marinheiro. O iatista se sente um intruso no meio marítimo. A navegação amadora existe, e vai existir sempre, pre-

Boa Vizinhança - Açores (Agosto de 2005)

cisa ser apoiada pelas instituições. Do ponto de vista econômico, atualmente, com exceção do estado da Bahia, não se reconhece o iatismo como fonte de renda. As estatísticas de alguns anos atrás revelavam que cada barco de cruzeiro deixa em seus portos de escala em media U$ 3.000,00 por mês! É dinheiro na mão do comércio local, ao contrário daquele gasto por turistas que chegam de avião, que pagaram as passagens e o pacote todo à empresas de seu país de origem, ou seja, o dinheiro não vem para cá! Para estimular o turismo náutico só investindo em infraestrutura, marinas e serviços com preços internacionais, regras de importação mais ágeis, alternativas legais de imigração, etc. Nessa discussão de turismo náutico não podemos ignorar o impacto das atuais políticas ambientais, compreensíveis até certo ponto, mas bastante restritivas. Com a transformação do nosso litoral em uma APA gigantesca de oito mil quilômetros, como parece a tendência,

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WAT E R C R A F T DIVERSOS

Foto: www.garminblog.it

CONHEÇA O PRIMEIRO RELÓGIO DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA COM GPS

A Garmin foi responsável por lançar o primeiro relógio de navegação marítima com GPS, chamado de quatix (o nome é com todas as letras minúsculas mesmo). Essa é a prova de que estamos cada vez mais na era da tecnologia portátil. Os tablets vieram para substituir, até certo ponto, os notebooks, fazendo funções nunca antes pensadas neste tipo de computador portátil. E agora, temos em um único relógio: GPS, barômetro, altímetro, bússola eletrônica e muito mais. Leia mais sobre esse belíssimo advento da tecnologia. “Este fantástico relógio inclui funcionalidades nunca antes reunidas num único relógio. Concebido para navegadores ávidos de todos os tipos, desde competidores de regatas a entusiastas de caiaques, passando por timoneiros e aficionados de barcos a motor, o quatix é um relógio de navegação marítima com GPS de alta sensibilidade. Dispõe de um altímetro de ajuste automático, barómetro e bússola eletrónica de 3 eixos. É à prova de água até 50 m. Também mostra as horas e fica muito bem no seu pulso. É “The Power of Simple”… repleto de comodidade.” Resumo das principais funcionalidades Relógio marítimo de alta sensibilidade com GPS, altímetro, barômetro e bússola de três eixos; transferência de dados¹ NMEA 2000 Recursos especiais para corridas de veleiro; recursos de controle remoto com o piloto automático marítimo da Garmin; detecção automática de homem ao mar.

FONTE: sites.garmin.com/quatix

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Foto: noticiaslogisticaytransporte.com

ROLLS-ROYCE QUER CONSTRUIR NAVIOS DE CARGAS NÃO TRIPULADOS - DRONES Muita gente achou que esse dia não chegaria, mas um grupo

Há vários benefícios potenciais para ter um navio não tripulado,

na União Europeia que inclui engenheiros da Rolls Royce, quer

como uma redução dos custos operacionais e menos acidentes

substituir as tripulações dos navios para permitir que os mesmos

causados ​​por erro humano. A tecnologia para tornar isso possível

naveguem por comandos a distância. Enfim, trata-se de navios de

ainda está em desenvolvimento, mas os outros obstáculos que o

cargas não tripulados, os famosos drones.

Projeto Munin poderá enfrentar está no âmbito legal. Os Estados Unidos não ratificaram a Convenção das Nações Unidas sobre o

Esse grupo está trabalhando em um projeto chamado de “Maritime

Direito do Mar, que a maioria do resto do mundo opera, por isso

Unmanned Navigation through Intelligence Networks”, ou MUNIN,

há complicações em relação a águas internacionais e territoriais,

que está tentando chegar a uma forma de desenvolver navios

quando não há ninguém fisicamente a bordo. Leis marítimas são

marítimos autônomos controlados remotamente.

complicadas e fazer uma grande mudança no modo de funcionamento também exige uma mudança nas leis.

Agitando o debate, representantes da Rolls Royce, uma corporação gigante aeroespacial e naval, já teria chamado para um “debate

Texto adaptado por Ticiano Alves

público sobre a mudança de navios de carga para navios tripula-

Fonte: www.vesselfinder.com

dos autônomos como parte de um esforço mais amplo por parte

.

da indústria a utilizar a tecnologia de automação avançada”.

DRONES SUBAQUÁTICOS ENCONTRAM NAVIO PORTUGUÊS FLOR DO MAR NAUFRAGADO EM 1511 Drones subaquáticos terão encontrado o

drones subaquáticos, duas empresas de

navio português Flor do Mar, que nau-

salvamento submarino garantem ter avis-

fragou em 1511 no estreito de Malaca,

tado o galeão no mar de Java, perto da

contendo o tesouro roubado destinado a

cidade de Seramang, na Indonésia, referiu

D. Manuel I de Portugal, noticiou o jornal

hoje a publicação.

malaio The Star Online. Na altura, o navio mercante que trans-

Seri Idris Haron, disse não ter recebido

portava D. Afonso de Albuquerque (ima-

nenhuma confirmação oficial da desco-

gem ao lado), após este ter conquistado

berta daquele que é considerado o navio

Malaca, à época o maior centro comercial

mais valioso que está no fundo do mar,

do Oriente, naufragou com tesouro rou-

“mas apenas relatórios infundados, ale-

bado, incluindo 60 toneladas de ouro

gando que o naufrágio foi localizado”. n

do sultanato, e tornou-se num dos mais

Imagem: www.publico.pt

Mas, o ministro-chefe de Malaca, Datuk

FONTE: www.ionline.pt

míticos e cobiçados tesouros perdidos da História. Baseando-se em imagens captadas por milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 9


HISTORIA DAS CARTOGRAFIAS NÁUTICAS: MEDIEVAL E PORTUGUESA PROGRAMA SAGRES

A

História sobre a origem da cartografia é infinita, a

cidades registradas no mapa possuem nomes em dialetos ita-

produção de mapas antecede o advento da escrita. Os

lianos, mas isso não quer dizer que a procedência dessas cartas

antigos eram curiosos para compreender a si mesmos

seja genovesa.

e os outros que os cercavam, tinha a necessidade de se

visualizar de alguma forma as características físicas do “mundo”

A palavra cartografia teve sua origem e emprego pela pri-

e utilizavam mapas desde a mais remota antiguidade para

meira vez através do português Visconde de Santarém. Segundo

representar o seu mundo conhecido e os lugares que o cercam.

Armando (1960),

Segundo Oswald Dreyer-Eimbcke (1992), é possível que “todas as civilizações do mundo possuíssem, desde as épocas mais

“numa carta, em 8 de dezembro de 1839, escrita de Paris ao

remotas, algum tipo de representação simbólica ou geográfica

célebre historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagem

de seu mundo habitado e conhecido”.

(São João de Ipanema, 1816 – Viena, 1878), na qual diz: ‘invento esta palavra já que aí se tem inventado tantas.”

De acordo com Gurgela (2012, p. 55) O trecho acima trata-se da impressão do Atlas de Varnhagem

A segunda forma pela qual a cartografia apresentou-se na

com uma coleção de mapas anteriores aos descobrimentos por-

Europa Medieval foi por intermédio das Cartas Portulanas.

tugueses. Sendo assim, só a partir do século XIX que a palavra

Campbell, responsável pelo setor de mapas medievais da

cartografia passa a ser usada.

British Library, explica que para o historiador da cartografia medieval europeia, as cartas portulanas seriam documentos

Antigamente as cartas tinham o objetivo de facilitar a navega-

fundamentais, de grande importância, entretanto, “misterio-

ção marítima, nelas não existia praticamente nenhuma infor-

sas” na sua origem, contudo, “precoces em sua precisão”.

mação sobre a parte terrestre. Apenas encontramos registado o nome dos diferentes locais costeiros, não existindo qualquer

Existem grandes controvérsias a respeito da origem das cartas

gênero de informações sobre o interior.

Portulanas. Alguns autores e estudiosos do assunto chegam a afirmar que Estrabão, Agathemerus e Plínio foram citados como

Segundo Isa ADONIAS e Bruno FURRER (1993, apud’ Mendonça,

fontes, e que essas cartas já eram usadas desde os tempos anti-

Ana Teresa Pollo; 2007), O período da Idade Média, a cartografia

gos. Há autores que detectaram traços do trabalho de Marino

terrestre foi influenciada pelo sentimento místico: a represen-

de Tiro e até de Eratóstenes (autor no terceiro século antes de

tação do mundo afastou-se da realidade para se concentrar

Cristo).

numa expressão simbólica e artística na qual predominaram os elementos fantásticos, bíblicos e religiosos.

A quem diga que a carta portulana mais antiga é a Carta Pisane datada aproximadamente do final do século XIII (cerca de 1290).

São exemplo dessas influencias os mapas T-O, nos quais se rep-

Possui esse nome porque foi comprada de uma família de Pisa.

resentava o mundo conhecido como um círculo, “O”, com um “T”

Acredita-se que o desenho seja originário de Gênova, pois as

no seu interior. Era uma concepção que os antigos tinham, eles

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Imagem: www.publico.pt

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dividiam o mundo em três partes: na Ásia, África e Europa, que

ram grandes limitações que só posteriormente foram resolvidas.

eram cercadas pelo Mar Oceano, da Grécia Antiga.

Dois dos principais problemas foi à falta de uma escala de longitude, já que naquele tempo a determinação desta coordenada

No século XV e XVI, foram descobertas por alguns navegadores,

não era possível; e a outra foi à falta da representação de uma

representações cartográficas que serviram como base para via-

superfície esférica num suporte plano.

n

gens regulares para os mesmos locais. A cartografia foi, entre diversos outros fatores, um dos elementos fundamentais para o

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sucesso dos descobrimentos portugueses.

Autora: Técnica em Pesca Mayra Miranda Formanda do Programa Sagres / CRPNM / IFPB

Herdeira das escolas cartográficas do Mediterrâneo, centro a partir do qual se desenvolveu a cartografia na Idade Média, a cartografia portuguesa teria recebido essa influência a partir

Referências

da vinda de Mestre Jaime de Maiorca, a pedido do Infante D. Henrique, durante o primeiro quartel do século XV. No entanto,

Canas, António Costa. Instituto de Camões, disponíveis

deste século são conhecidos poucos exemplares cartográficos

em http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a38.html.

de origem portuguesa, embora existam diversas referências nos

Acesso em 04 de março de 2013.

textos da época que nos permitem deduzir que as cartas eram uma das ferramentas ao dispor dos homens do mar de então

para garantirem uma navegação mais segura (Canas, 2002). Entretanto, no século seguinte foi bem diferente. Foram reco-

Cf. Armando CORTESÃO; Avelino Teixeira da MOTA. Portugalia Monumenta Cartográfica. Lisboa: s.e., 1960.

Dreyer Eimbcke, Oswald. O Descobrimento da Terra. /

nhecidas centenas de cartas reunidas por Avelino Teixeira da

Oswaldo Dreyer Eimbcke; tradução Alfred Josef Keller. –

Mota e Armando Cortesão na obra Portugaliae Monumenta

São Paulo: melhoramentos;Editora da Universidade de

Cartographica. Apesar de a maioria ter os autores identificados,

São Paulo, 1992.

ainda existia algumas que não foi possível descobrir a identidade do cartógrafo.

Gurgela, Abilio Castro. Historiada Cartografia, disponíveis em http://www.historiadacartografia.com.br/cartas.html.

Uma avaliação feita na cartografia portuguesa permite-nos

Acesso em 18 de fevereiro de 2014, as 20:13.

conhecer alguns elementos utilizados para dá certeza nas informações contidas nas cartas. Uma das características mais típicas

Mendonça, Ana Teresa Pollo - Por mares nunca dantes

da base de construção era a das cartas portulano caracterizadas

cartografados: a permanência do imaginário antigo e

por terem uma “rede” de direções, irradiando a partir de determi-

medieval na cartografia moderna dos descobrimentos

nados pontos da carta para que os seus utilizadores pudessem

marítimos ibéricos em África, Ásia e América através dos

facilmente conhecer a direção que unia quaisquer dois locais

oceanos Atlântico e Índico nos séculos XV e XVI / Ana

representados na carta. Este método é conhecido entre os histo-

Teresa Pollo Mendonça; orientador: Antonio Edmilson

riadores da náutica como de rumo e estima.

Martins Rodrigues. – 2007.

Com o avanço das navegações portuguesas, os erros associados à determinação da direção e da distância percorrida foram aumentando. Assim, as posições obtidas recorrendo apenas ao rumo e estima eram afetadas. Ainda durante o século XV os portugueses resolveram esse problema, adaptaram as técnicas astronômicas para uso a bordo dos navios, permitindo um conhecimento maior da latitude do navio. Com isso as cartas passaram a conter uma escala apropriada para determinação da latitude dos diversos lugares nelas registados. A cartografia portuguesa da época das grandes descobertas servia perfeitamente para as exigências das técnicas de navegar daquele tempo. No entanto, com o passar do tempo apresenta-

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Imagem: dioguinhokosta.blogspot.com

CARTA NÁUTICA DE PEDRO REINEL O PRIMEIRO MAPA FEITO CORRETAMENTE À ESCALA


EVOLUÇÃO DAS EMBARCAÇÕES DESDE O SÉCULO XV AO XIX - DO REMO A VELA PROGRAMA SAGRES

U

m dilema que por muito tempo se fez presente entre

que o das galés, tendo sido desenvolvido na Idade Média e uti-

a humanidade foi como seria possível transitar no

lizado em boa parte do século XV. (NEWARK, 2009)

ambiente aquático. No início as pessoas se agarravam

Com o passar dos anos e a chegada da Baixa Idade Média os

a objetos que flutuavam, depois começaram a utilizar

aprimoramentos nas embarcações utilizadas na idade média

esses objetos na construção de estruturas que viabilizassem

começam a acelerar. Embarcações que antes não tinham tanta

uma sustentação melhor sob a água. No decorrer dos séculos

autonomia no mar, agora precisavam de adaptações para que

foram-se aperfeiçoando as técnicas de navegação, surge então

suportassem longos períodos flutuando até seu destino final.

aproximadamente 5000 anos a.C. os primeiros navios no real

No século XIII já se podia sentir algumas mudanças nos veleiros,

sentido da palavra (BAPTISTA, 2006).

ainda se tinha um mastro central, porém, já se percebiam pequenas elevações na proa e na popa. Essas estruturas foram

Durante a alta idade média o comércio mercantil marítimo foi

montadas estrategicamente e a intenção era que estas fossem

durante muito tempo obstruído por vários fatores, dentre eles

utilizadas por arqueiros e homens que estivessem portando

estão o desconhecimento, ideias fictícias e mitológicas com

armas. Já por volta do século XIV foram inseridos nos navios os

relação ao mar, entre outros. Esses fatores acarretaram no adia-

lemes de popa. Vale ressaltar que muitas das embarcações de

mento dos avanços tecnológicos das embarcações mercantis.

guerra dessa época, foram utilizadas em tempos de paz como

Contudo, a construção naval existia. A utilização de navios para

embarcações mercantis. Mas as constantes batalhas navais com

fins como transporte de pessoas, expedições e batalhas, era

presença de artilharia em grande escala causou a diferencia-

comum. Os tipos de embarcações utilizadas neste período foram

ção entre a embarcação à vela de guerra e o navio mercante

os chamados galés e navios de propulsão a vela. Os galés eram

(HOLMES, 2010).

embarcações que se locomoviam utilizando-se do remo e da vela. Apesar de terem sido utilizadas neste período, os primeiros

No século XV uma nação Europeia se destaca no desenvolvi-

registros de navios como estes datam de aproximadamente

mento da construção naval. Portugal anseia chegar às índias

2000 a.C.. Alguns empregavam apenas o remo na sua propulsão

contornando a África e passando do oceano Atlântico para o

e outros alternavam entre o remo e a vela. Fabricados todos em

Índico. Para isso seria necessário um novo tipo de embarcação,

madeira, tinham dimensões variadas, as quais distavam entre

mais resistente e apropriada. Desta maneira, aprimoraram-se

pequenas embarcações a navios com mais de cinquenta metros

técnicas já usadas em veleiros na Península Ibérica e se cria um

de comprimento total. Este veículo marítimo continuou a ser

novo tipo de navio, ao qual nomearam Caravela. Esta nave pos-

utilizado até, aproximadamente, o século XVIII (HOLMES, 2010;

sibilitou aos portugueses explorarem o litoral africano durante o

PISSARA, 2003).

século XV, e além disso descobrir terras da América do Sul. Sobre as Caravelas o Instituto Camões (2002-2005), relata:

No norte da Europa as embarcações utilizadas não eram os galés, mas navios chamados cogas. Este possuía velas quadradas

Tratar-se-ia da caravela com dois mastros de pano latino,

e três mastros, o casco desta embarcação era mais redondo do

uma coberta e um pequeno castelo de popa, com um só

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piso, com cerca de 50 tonéis de arqueação. Navio ideal para

O galeão tinha uma popa mais quadrada, o castelo de proa era

singrar em mares desconhecidos, pela facilidade com que

mais baixo deixando em evidência a popa, o que atribuía mais

bolinava (isto é, progredia em ziguezague contra o sentido

velocidade e estabilidade para estes. O armamento constituía-se

dominante do vento), a caravela podia navegar junto à costa

geralmente de dois ou três deques de canhões. (NEWARK, 2009).

e entrar em embocaduras de rios: um navio adequado para a exploração marítima, portanto. Mas é também o maior

O uso de dois navios para a mesma viagem, tornou-se economi-

navio até então empregue nas viagens de descobrimento,

camente inviável, o que fez deslanchar um novo tipo de embar-

representando por isso a vantagem e necessidade de pro-

cação, que se baseava nas características estruturais das naus e

gredir para Sul com uma embarcação capaz de levar os

dos galeões. Estes navios foram chamados de navios de linha. A

tripulantes até mais longe, combinando uma autonomia

construção desses iniciou-se por volta do século XVII e foi até

adequada com as qualidades marinheiras que essas viagens

meados do século XIX. Embarcações deste tipo possuíam dois,

exigiam.

três e até mesmo quatro deques de canhões. Foi com o surgimento desses navios que criou-se a tática de batalha conhecida

As caravelas tinham como características comuns entre si, uma

como linha de batalha, tal era a obsessão na obediência desta

grande estrutura de popa de dois ou três mastros. Com passar

tática que as embarcações começaram a perder gradativamente

do tempo surge um novo tipo de caravela; esta embarcação,

os castelos presentes acima do convés na proa e na popa, o

diferentemente das comumente construídas possuíam castelos

que fez com que os navios ficassem mais estáveis. A estrutura

de proa e popa, o que aproxima estes navios das características

de mastros dessa embarcação era formada por quatro seções

das naus e galeões. (INSTITUTO CAMÕES, 2002-2005; HOLMES,

chamadas de: mastro principal, mastaréu, mastaréu de joanete e

2010).

mastro real (NEWARK, 2009; SCHWEIZER s/a).

n

Após alcançar o objetivo de encontrar uma passagem contor-

__________________________________________________________________

nando a África entre os oceanos Atlântico e Índico, Portugal

Autora: Técnica em Pesca Iolanda Carlli

finalmente consegue chegar às índias. Porém, para fazer o

Formanda do Programa Sagres / CRPNM / IFPB

transporte das mercadorias seria necessário outro tipo de embarcação, com mais espaço em seu porão para carga. É neste momento que se faz necessária a utilização das naus. Uma nau

Referências

tinha características específicas com relação a sua função mercantil. Este tipo de embarcação possuía grande capacidade de

BAPTISTA, 2006 disponível em – http://www.transport-

acomodação, sua popa e proa eram arredondadas com bordos

es-xxi.net/tmaritimo/investigacao/classificacaodenavios

altos, para proporcionar um espaço mais amplo na acomodação

(acessado em março de 2014).

das mercadorias. Este tipo de navio também contava em sua

estrutura com um castelo de proa e outro de popa e três mastros

DOMINGUES, 2002 disponível em – http://cvc.institutocamoes.pt/navegaport/c15.html (acessado em março de

(DOMINGUES, 2002).

2014). •

HOLMES, G. C. V.. Ancient and Modern Ships - Part 1.

As naus eram navios para o transporte de mercadorias, isto fazia

Wooden Sailing Ships. MAJESTY’S STATIONERY OFFICE.

com que a mesma não tivesse espaço para acomodação de muito

Londres. 1906.

armamento. Visto isso, este tipo de navio começou a ser vítima

de embarcações piratas e de embarcações de outros países que

cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/c06.html (acessado

queriam acabar com o monopólio português no comércio de especiarias pelo Cabo da Boa Esperança. Pensando na solução

em março de 2014) •

desses problemas seria necessário o desenvolvimento de uma embarcação especificamente para fins bélicos, surgindo assim, os galeões. (SCHWEIZER, s/a).

INSTITUTO CAMÕES, 2002-2205 disponível em – http://

NEWARK, 2009 – disponível no livro História Ilustrada da Guerra.

SCHWEIZER, s/a disponível em - http://www.spmodelismo.com.br/howto/vl/evolucao1.php (acessado em março de 2014).

Os galeões eram navios grandes que tinham algumas características das naus, porém, tinham peculiaridades. Estas foram embarcações bélicas desenvolvidas entre os séculos XVI e XVIII. Ingleses, holandeses e espanhóis utilizaram navios deste tipo.

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LIONFISH

O TERROR CARIBENHO, O TERROR DO ATLÂNTICO MUNDO AQUÁTICO

P

resenciei o trabalho de captura de Lionsfish durante os mergulhos que recentemente fiz no Jardines De La Reina-Cuba, Cozumel-México e Bonaire. Neste mês vi a reportagem sobre a captura de um Lionfish em Arraial do Cabo-RJ pela equipe do Laboratório de Ecologia e

Conservação em Ambientes Recifais da Universidade Fluminense. Preocupante? Sim! Por que preocupante? O Indo-Pacífico Lionfish Pterois volitans (Linnaeus, 1758) é um predador e um peixe venenoso que tem sido apresentado como uma espécie invasora na Bacia do Atlântico. O exótico peixe é conhecido por sua cor marrom avermelhado e padrões de bandas brancas que correm verticalmente ao longo de seu corpo e os 13 espinhos venenosos que correm ao longo do comprimento do peixe. Este carnívoro pode reduzir significativamente a biodiversidade de um habitat local e pode levar espécies de peixes importantes para a extinção, afetando negativamente os ecossistemas de recifes de coral. O peixe também representa um risco para a saúde de pescadores e mergulhadores pois uma picada pode ser dolorosa e resultar em sérias complicações de saúde. Em 2010, o Florida Keys National Marine começou a dar licenças aos mergulhadores para matar o peixe-leão dentro do santuário. Várias organizações comunitárias caribenhas estão se formando e organizando expedições de caça ao Lionfish. Recentemente na Flórida aconteceu o terceiro “Lionfish Derby”, quando foi oferecido mais de US$3.000 em prêmios em dinheiro para as equipes de mergulho que conseguissem pegar o maior lionfish. Outros grupos de interesse estão propondo a criação de eventos e campanhas que incentivem a matar e comer os peixes. A pergunta que fica, já estamos preparados para receber este exótico peixe no litoral brasileiro?

n

____________________________________________________________________________________ Autora: Rosana Moraes Economista, Mergulhadora Avançada (PADI) e Tripulante do Rumo Magnético

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FOTO: www.geoglance.com


FLASHES VOLVO OCEAN RACE 2011-2012

NAUTILUS ESPECIAL

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A cidade de Itajaí, no litoral de Santa Catarina, foi selecionada para ser uma das dez paradas da Volvo Ocean Race, maior regata de volta ao mundo.

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Fotografias De Vito Fotos (21) 996520834

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+

Volvo Ocean Race

“No início dos anos 70, alguns velejadores da Royal Navy Sailing Association começaram a discutir a possibilidade de competirem numa volta ao mundo à vela. Das palavras passaram aos atos e organizaram uma prova mítica: a Whitbread, hoje conhecida por Volvo Ocean Race. O lema ‘Life at the Extreme’ é adequado a uma competição que passa por cinco oceanos e quatro continentes, em condições de extrema dureza, muitas vezes no limite da resistência física e psicológica. Mas as dificuldades criadas pela natureza não desmotivam a elite da vela mundial de marcar presença – pelo contrário, constituem o melhor desafio para os melhores barcos e as melhores tripulações. São tantas as estrelas da vela, que seria quase impossível enumerá-las." (Montepio) Em 2011-2012, Itajaí/SC foi sede da chegada da quinta etapa da prova, que partiu de Auckland (Nova Zelândia), e bateu recorde de público na edição. Mais de 200 mil pessoas visitaram a Vila da Regata durante parada brasileira. A cidade também se destacou pelas ações em prol do meio ambiente e de engajamento da sociedade, o que lhe rendeu o troféu de melhor programa de sustentabilidade da regada, o “Certificado Volvo de Conscientização Ambiental”. Itajaí volta a ser sede da Volvo Ocean Race na edição de 2014/2015, que terá início no dia 04 de outubro de 2014 em Alicante / Espanha. De acordo com o site oficial do evento, a sexta etapa da prova ocorrerá na cidade catarinense no dia 18 de Abril de 2015. Quando chegarem em Gotemburgo / Suécia, no dia 27 de Junho de 2015, os competidores terão percorrido 38.739 mn. n Fontes: www.montepio.pt. www.volvooceanrace.com esportes.terra.com.br revistaportuaria.com.br milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 37


BLOG VELEIRO HOJE! VELA

PERRENGUE NO PORTO!

S

ábado, parecia mais um dia pacato aqui em São

o barco no Museu era necessário cuidar quando o terral soprasse

Francisco do Sul. Como havíamos levado a Letícia

com força, geralmente no inverno, pois nessa situação não há

ao hospital na quinta ainda estávamos cansados da

abrigo, o vento vem direto e o resultado é o que estávamos

bateria de consultas, exames e prognósticos, no final

vivenciando. Quando colocamos o caíque nágua o Hoje! já tinha

a médica garantiu que ela não tinha nada além de sintomas de

chegado ao porto, a única coisa que evitou o choque dele com

estresse. Na sexta, como mandava a previsão, e ela estava certa,

a base de concreto de um galpão foi um baixio. Bendito baixio

mais um dia, a exemplo da quinta, inteirinho de chuva.

esse que permitiu o Hoje! encalhar, na verdade nem sei se o que

No sábado a coisa seria bem diferente, e foi. Um dia lindo, sem

aconteceu foi um encalhe, muito provavelmente ele encostou no

nuvens desde os primeiros raios solares. Ventos do quadrante

baixio e ali permaneceu devido ao seu calado de 1,40 m (acima da

oeste, o famoso terral sopravam, as vezes, até demais nas rajadas.

média para um veleiro de 23 pés). Percebi, lá do trapiche, que ele

Nosso veleirinho já estava amarrado à estaca em frente ao Museu

não sairia dali, só que enquanto não tirasse ele não poderia me

Nacional do Mar. Recebi um telefonema do nosso amigo Saraiva

ver sossegado, pois a maré logo começaria a baixar e aí a situação

avisando que a Marina, moça que trabalha no Museu e é vele-

ficaria complicada, com um encalhe sem possibilidade de retirada.

jadora, tinha visto nosso barco garrar de seu lugar e já estava

A Marina que estava ao lado do porto e de frente para o barco

entre outros dois atrás dele e derivava em direção ao Porto, que

ligou de seu celular para o nosso aqui no trapiche dando a ideia

fica ao lado do Museu. O clima foi de apreensão total. A Letícia

de levar até lá o caíque que seria um caminho mais curto, embora

se ofereceu pra ajudar e ir comigo, a Luciane ficaria com o Victor

contra o vento. Sem muita alternativa, não titubeei e pedi a ajuda

em casa. Essa situação, que até então, eu só havia “experienciado”

à ela pois a Letícia estava debilitada. Depois de algum esforço

em leituras agora era um fato que eu teria de encarnar como

conseguimos chegar numa espécie de prainha ao lado do porto e

personagem principal.

ali colocamos o caíque em cima de algumas pedras, pois a maré

Ao chegar ao Museu vejo realmente o Hoje! entre os outros dois

estava tão alta que não era possível nem enxergar a areia. Com

barcos que ficam, normalmente, atrás do nosso. Naquela dança

o caíque todo desajeitado em cima das pedras não vi outra alter-

dos barcos nágua são os ventos que mandam pra onde eles vão

nativa se não embarcar naquele “trocinho”, coloquei todo o meu

dançar e nessa dança notamos um balançar perigoso da popa

peso na proa e fui empurrando até me livrar das pedras, pronto!

do Hoje! quase encostar na proa de um outro barco. O inevitável

estava nágua com o remo em punho e agora era só chegar no

estava prestes a acontecer. Assistindo esse balançar dos barcos eu

veleiro. Aquelas marolas eram grandes e incomodavam, a força

e a Marina traçávamos uma estratégia de resgate do Hoje! que

do vento era tamanha que eu penava para avançar. Uma remada

derivava em direção ao porto. O bote de apoio para os veleiros

de cada bordo e eu ia corrigindo o rumo até chegar a plataforma

que ficam em frente ao Museu é o que sobrou de um optimist.

de popa do Hoje! Depois de muito sofrimento e uma tentativa

Tinha trazido o remo e teria que colocar o caíque nágua com

frustrada, na segunda consegui. Amarrei o caíque como pude no

a ajuda da Letícia, o que conseguimos fazer. Agora outra coisa

suporte da plataforma de popa e aí escalei-a. Quando embarquei

me preocupava, o vento era forte e por causa dele o mar estava

no Hoje! parecia o Elvis Presley no início da carreira, minhas per-

encrespado com marolas de meio metro, o que é uma coisa

nas cambaleavam, senti minha boca seca dada a adrenalina, havia

atípica numa baía como a nossa. Já haviam me contado que com

tempo não sentia aquilo. Uma vez embarcado me preocupava

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aquela imagem que eu via de dentro do barco, aquela base maciça de concreto. Parei um pouco pra respirar e raciocinar. O barco estava encalhado, logo não chegaria até aquela base de concreto. Então tirei a tampa do motor e iniciei os procedimentos de partida. Depois de várias tentativas o motor pegou. Para minha alegria engatei avante e ele saiu com relativa facilidade. Na vinda do barco do Capri até o Museu descobrimos que o motor estava com problemas no rotor e não refrigerava, ou seja, agora teria que usar o motor pra chegar com o barco até o trapiche, antes que ele aquecesse. O que eu descobriria depois é que o barco estava carregando a estaca e o motor penava por conta disso, havia ainda outro agravante, o cabo da estaca poderia enroscar na hélice, o que, por sorte não estava incluso no pacote. Quando eu estava na metade do caminho pra chegar no trapiche enxergo fumaça saindo de dentro do barco, era o motor demonstrando que dali em diante não aguentaria mais, sob risco de fundir caso eu insistisse. Nesse caso a única coisa a se fazer era desligá-lo, o que fiz prontamente. O barco estava novamente à deriva e eu teria que correr até a proa para jogar o ferro e fazer o fundeio evitando um novo encalhe, dessa vez ainda mais perto do porto. Para minha sorte ouço uma buzina, olho ao lado e a lancha dos práticos estava lá. Quando percebo que receberia ajuda o caíque desprende da popa do Hoje! e vejo o pessoal da lancha indo atrás dele. Engraçado eles atrás do caíquezinho com um remo e eu no Hoje! ali sem poder fazer nada! Resgatado o caíque, era a minha vez. O marinheiro jogou o cabo e pediu que eu amarrasse na popa. Daí em diante a coisa foi mais tranquila pois a ajuda era efetiva. A lancha rebocou o Hoje! até o trapiche e o amarramos, então pedi a Marina que embarcasse e me ajudasse com a amarração do barco numa âncora que foi deixada lá por que ninguém conseguiu tirá-la. A Marina, muito solícita, fez o nó necessário a devida amarração, coisa que eu ainda não tenho segurança pra fazer. Nesse trabalho ela se sujou inteira pois os cabos já estavam submersos há algum tempo. Finalmente o barco estava amarrado. A lancha nos resgatou e entregou sãos e salvos no trapiche. Perguntei aos marinheiros como ou com quem eu deveria agradecer e eles numa atitude típica de pessoas que estão fazendo o bem, sorriso nas orelhas e um pouco sem jeito disseram: “Não precisa agradecer ninguém, é com a gente mesmo”. Agradeci de uma forma como poucas vezes havia agradecido e então eles despediram-se de nós com aquela expressão de dever cumprido. Fiquei sem saber o que dizer à Marina também, pois ela tinha sido imprescindível. Caso ela não tivesse lá no Museu os outros funcionários avisariam tarde demais. Ela estava toda suja e dizia que não tinha problema. Todos nós rimos aliviados pois tudo estava sob controle. O destino resolveu nos testar, mas, sinto muito, não foi dessa vez. Até a próxima! Abraço grave, ótimos ventos e velejadas! n ________________________________________ Autor: Rico Floriani Velejador e Tripulante do Rumo Magnético

FOTO: Luciane Ville

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O CRPNM E O SETOR NÁUTICO CRPNM / IFPB

O

município de Cabedelo possui uma população esti-

evento náutico já organizado no estado, nasceu das reuniões do

mada em 63.035 habitantes, de um total de 1.223.287

Comitê Náutico da Paraíba, e teve como objetivo promover o de-

da região metropolitana (IBGE/2013), constituída por

senvolvimento do setor náutico do Estado por meio da apresen-

doze municípios (Lei Complementar Estadual nº 90, de

tação de suas potencialidades em um evento que reuniu ativi-

2009). As principais atividades econômicas são indústria, comér-

dades esportivas, acadêmicas e culturais. Para o ano de 2014,

cio e prestação de serviços, além de um significativo número de

o CRPNM tem um representante como Vice-Coordenador Geral

pescadores que sobrevivem da pesca artesanal. Quanto a edu-

da Comissão Organizadora da II Semana Náutica da Paraíba,

cação, houve para o ano de 2012, 6.870 matrículas no Ensino

que para este ano irá promover, além de atividades esportivas,

Fundamental e 1.063 matrículas para o Ensino Médio. Cabedelo

acadêmicas e culturais, negócios do setor através de uma feira

possui um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Munici-

com empresas locais e de todo o Brasil.

pal) de 0,748, valor este considerado de Alto Desenvolvimento Humano (IBGE/2013). A cidade conta com o único porto do es-

Há dois anos o CRPNM criou o Programa Sagres, cujo objetivo é

tado. Segundo a administração do porto, 2013 movimentou cerca

promover o desenvolvimento da prática e do ensino da navega-

de 2 milhões de toneladas no local. O aumento também refletiu

ção marítima através da inovação tecnológica, das cooperações

no faturamento do Porto, que cresceu 25% no ano, enquanto a

interinstitucionais e internacionais, da produção e difusão de

quantidade de navios atracados teve aumento de 21%. Devido

material didático e da educação profissional. O Programa é com-

sua privilegiada posição geográfica Cabedelo detém a maior

posto por linhas de trabalhos, chamadas de micro-programas.

parte das atividades náuticas da região metropolitana (SILVA,

Cada linha ou micro-programa contêm projetos que visem o

2013; GOVERNO DA PARAÍBA, 2014).

cumprimento do objetivo principal do Programa Sagres, sendo eles: Inovação Náutica - compreende projetos de pesquisa que

Atualmente, o CRPNM faz parte do Comitê Náutico da Paraíba,

visem o desenvolvimento dos métodos de navegação; Bússola -

criado pelo Decreto Nº 34.594 de 03 de dezembro de 2013 -

promove a participação de alunos de cursos técnicos e de gradu-

Governo do Estado da Paraíba, que por sua vez tem como obje-

ação em pesca ou áreas afins nos projetos de pesquisas, através

tivo coordenar e fomentar as ações voltadas para implementar

da orientação de TCCs; Arqueologia Náutica e Subaquática - com-

o desenvolvimento, infraestrutura, promoção, indústria e turismo

preende projetos de pesquisas que visem promover estudos de

do setor náutico no Estado da Paraíba. Em adição, o CRPNM tem

naufrágios e sondagem de novos naufrágios na costa da Paraíba,

representatividade no Grupo de Trabalho de Turismo Náutico

promovendo a reconstrução da história do estado através destes

/ Ministério do Turismo, formalmente instituído pela Portaria

registros históricos; Light House - desenvolve publicações técni-

MTur n° 54, de 26 de março de 2009, que se define como um

co-científicas e materiais didáticos que visem a melhor difusão

grupo consultivo-propositivo, que tem por finalidade identificar

do ensino e da prática da navegação marítima e de outras ciên-

e discutir questões estratégicas relativas ao turismo náutico,

cias náuticas; Rumo Magnético - criação de um ambiente virtual

de maneira a subsidiar a elaboração de políticas públicas ou o

que objetiva promover o desenvolvimento do ensino e da prática

desencadeamento de ações necessárias para o desenvolvimento

da navegação marítima através da disponibilização de cursos

desse segmento turístico no Brasil.

virtuais (Conexão Sagres), da coleção de artigos e bibliografias e da interação entre professores, pesquisadores e profissionais

Em 2013, o CRPNM participou na organização da I Semana Náu-

do mar, do Brasil e de outros países; Conexão Sagres - organiza

tica da Paraíba – I SNPB, lançada no dia 21 de novembro e real-

e planeja cursos ligados às ciências náuticas (on-line e presen-

izada entre os dias 08 e 15 de dezembro, sendo este, considera-

ciais). Durante esse período, o Programa Sagres, concluiu com

do um marco para o Setor Náutico Paraibano. A I SNPB, o maior

êxito seis projetos através do Bússola, que envolveram: a criação

40 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm


de cartas náuticas de instrução a partir de um continente fictício

em menos de um ano a marca de 553 alunos. Já os cursos pre-

– essas cartas serão usadas para a ministração de aulas do En-

senciais, contribuíram para a qualificação de aproximadamente

sino Profissional Marítimo, facilitando ao aluno a sua aquisição

40 profissionais da Marinha Mercante, que em sua maioria tra-

por se tratar de um documento no tamanho A4; a confecção de

balham nos rebocadores da empresa Wilson, Sons. Em 2014.2, o

um conversor de rumos – facilitará a absorção do conteúdo por

CRPNM, através do Programa Sagres e em parceria com a Asso-

parte do aluno nas aulas de navegação marítima, reduzindo o

ciação Náutica da Paraíba, organizou o primeiro curso de Forma-

tempo e tendo um melhor aproveitamento em outros conteú-

ção de Marinheiro de Marina, que irá qualificar os trabalhadores

dos de igual ou maior importância; a análise do uso dos tab-

desse ambiente tão importante para o desenvolvimento do setor

lets como instrumento auxiliar a navegação marítima – foi o

náutico. Os resultados obtidos através do programa são maiores

primeiro projeto de inovação tecnológica, que acrescentará num

quando se introduz a Revista Milha Náutica, publicação digital

futuro próximo esse recurso tecnológico na navegação amadora

oficial do Sagres, que tem como proposta, não a criação de uma

e naquela realizada pelos pescadores artesanais; a catalogação

revista científica, mas de uma publicação que leve informações

de um naufrágio francês na costa da Paraíba – o primeiro es-

diversas do setor à comunidade acadêmica, náutica, mercante

tudo realizado nesse naufrágio, que levou a conclusões prelimi-

(marinha) e em geral.

nares de que se tratava de uma embarcação mercante francesa do início do século XIX; o panorama da construção naval arte-

O Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) é

sanal em Cabedelo – trouxe números importantes que poderão

uma das 17 instituições de ensino e pesquisa do país que in-

ser utilizados pelas autoridades para traçar projetos que visem

tegram o Centro Internacional de Referência em Portos e Sus-

desenvolvimento deste setor na região; as condições de tra-

tentabilidade (CIRPS), criado no dia 5 de dezembro, no Palácio

balho a bordo de embarcações de pesca artesanal em Cabedelo

Itamaraty, em Brasília, durante o Seminário Portos e Sustentabi-

– permitiu conhecer um pouco da realidade vivida a bordo pe-

lidade. A participação do IFPB se deu através das ações do Cen-

los pescadores da região; a confecção de apetrechos de pesca

tro de Referência em Pesca e Navegação Marítima (CRPNM), no

miniaturizados – serão utilizados como materiais didáticos nas

Porto de Cabedelo, durante os anos de 2012 e 2013. A proposta

aulas de artes de pesca além de participarem em diversas ex-

do CIRPS é produzir e disseminar conhecimentos científicos e

posições. Em adição a estes resultados, o site Rumo Magnético

tecnológicos sobre programas, projetos e pesquisas, próprias

(www.rumomagnetico.com), cuja equipe é composta por um pro-

ou em cooperação com outras entidades interessadas, dentro

fessores do CRPNM, um Capitão-de-Mar-e-Guerra, um velejador,

da temática portuária, desenvolvendo alianças estratégicas de

um Capitão-amador especializado em navegação astronômica,

âmbito nacional e global, além contribuir de para a formação

um contramestre da Marinha Mercante, uma instrutora de stand-

de recursos humanos para a comunidade portuária e para a so-

up-paddle, uma professora licenciada em língua portuguesa e

ciedade. n

uma analista em gestão cultural, tem se tornado cada vez mais

_______________________________________________________

uma referência para aqueles que desejam adentrar ao mundo

Autor: Professor M.Sc. Ticiano Alves

náutico ou aprofundar os seus conhecimentos sobre o mesmo. O

Coordenador do Programa Sagres/CRPNM/IFPB

site tem tido mais de 1.500 acessos semanais. Anexado ao site, os cursos on-line do Conexão Sagres (Curso de Preparação de

Professora D.Sc. Margareth Rocha

Arrais-Amador e Curso Especial de Conversão de Rumos), atingiu

Diretora do CRPNM / IFPB

milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 41


SEXTANTE

NAVEGANDO PELAS ESTRELAS NAVEGAÇÃO ASTRONÔMICA

CÁLCULOS COM USO DO SEXTANTE NO PARANOÁ

F

iquei devendo essa para meu amigo Luiz do Naval.

Acrescentando o erro instrumental de +15’ obtive a altura obser-

Pois é, imagino que as pessoas devem ficar pensando:

vada = 51º11,6’ .

“ o que esse maluco está fazendo com essa luneta no paranoá, olhando pro Sol?”. Tenho praticado bastante

Como estava a 3 metros de altitude (altura do olho em relação

o uso do sextante para cálculos das coordenadas através da

à superfície do lago), o valor da depressão encontrado no alma-

passagem meridiana do Sol. Então, vou lá pro meu barquinho

naque é de 3,0’.

munido de sextante e Almanaque Náutico e, o relógio. Apesar de estarmos a 1.000m de altitude tenho conseguido bons resulta-

Subtraindo a depressão, obtive a altura aparente de 51º08,6’.

dos. Primeiro, faço todos os cálculos e depois confiro com o GPS. O momento da visada do Sol é aproximado, já que não tenho

Obtive no almanaque náutico a correção para o mês de junho

usado um cronômetro. Vamos aos resultados:

em função do limbo inferior do Sol = +15,2’.

Estimei minha posição para os cálculos com latitude est. =

Somando à altura aparente obtive a altura verdadeira do Sol =

15º30’ S longitude est. = 047º30’ W. Erro instrumental do sex-

51º23,8’.

tante = +15’. Depressão = 3 m => 3,0’ Calculei a distância zenital (90º - altura verdadeira) = 38º46,2’. Primeiro calculei a hora legal da passagem meridiana do Sol, tendo por base que para a data de hoje, consta no almanaque

Obtive no almanaque a declinação do Sol = 23º04,1’ norte.

náutico a HML da pmd (hora média local da passagem meridiana) às 11:59. Para calcular a hora legal da passagem meridiana,

Tendo que minha latitude estimada é 15º30’ Sul e a declinação

faço a conversão de minha longitude estimada de arco em

do Sol é norte, a distância zenital será Sul. Daí, se tenho distân-

tempo (usando a página de conversão de arco em tempo do

cia zenital sul e declinação norte, subtraindo uma pela outra e

almanaque temos 47º30’ = 3 horas e 10 minutos).

atribuo o nome da maior (sul ou norte) para a latitude meridiana. Então minha latitude meridiana calculada foi 38º46,2’

Como estou a oeste de Greenwich, somo essas 3h10m à HML

sul - 23º04,1’ norte, resultando 15º42,1’S. Muito bem, obtive

da pmd, resultando uma HMG = 15h09m (essa é a hora média

latitude 15º42,1’S. No GPS constava 15º50,6’S. O resultado foi

de Greenwich da passagem meridiana para essa longitude esti-

satisfatório pelas condições do momento. Para longitude, nessa

mada). Então, para encontrar a hora legal, subtraio a HMG pelo

situação da passagem meridiana, o cálculo aproximado é feito

Fuso equivalente à longitude estimada ( nesse caso, o fuso = 3).

usando O AHG, obtido no almanaque para a HMG da observação.

E, finalmente, HMG - FUSO = HORA LEGAL PMD = 12h09m. Parece

O resultadao para HMG 15h10m foi de 047º45,6’W. No GPS mar-

complicado, mas é só seguir os passos com atenção.

cava 047º51,7’W. Cansativo? Imagine quando não existiam nem as tábuas de navegação! Daí podemos afirmar que com certeza

Sabendo que às 12h09m era a hora legal para fazer as visadas

‘’NAVEGAR É PRECISO!’’

n

do Sol, empunhei o sextante e tirei várias alturas. Consegui uma boa visada às 12h10m, e obtive altura instrumental = 50º56,6’. Daí fui para os cálculos.

________________________________________________ Autor: Capitão Mucuripe (Elson Fernandes) Velejador e Tripulante do Rumo Magnético

42 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm


FOTOGRAFIAS: Capitão Mucuripe

milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 43


ILHA DA

RESTINGA LUGARES E SUAS ORIGENS

A

Ilha da Restinga é uma ilha fluviomarinha localizada

nado. Daí em diante, a ilha teve uma série de proprietários até

junto à desembocadura do Rio Paraíba, no município

1.969, quando foi adquirida pelo atual proprietário (ATLAS OF

de Cabedelo. A mesma possui uma área de apro-

DUTCH BRAZIL, 2008). n

ximadamente seis quilômetros quadrados. Na ilha

predomina a vegetação de mangue, encontrada na região de

______________________________________________________

inundação, e a mata atlântica, localizada na região de topografia

Autor: Professor M.Sc. Ticiano Alves

mais elevada (GOVERNO DA PARAÍBA, 2006). Os primeiros registros de exploração da Ilha da Restinga

Coordenador do Programa Sagres/CRPNM/IFPB Referências:

possuem mais de quatro séculos (Figura 3). A sua exploração começou no ano de 1.579 por conta de sua posição estratégica,

abrigando uma das primeiras fortificações construídas pelos portugueses para a conquista definitiva da Paraíba, um pequeno forte (Fortim).

ATLASOFDUTCHBRAZIL. Forte Restinga. <http://www. atlasofdutchbrazil.org/fortification/5/pt#>. 2008.

GOVERNO DA PARAÍBA. <http://www.paraiba.pb.gov.br/ index.php?option=com_content&task=view&id=7421&Ite mid=2>. 2006

Em 1.591, após sucessivos ataques de índios potiguares (apoiados por comerciantes franceses), o pequeno forte de madeira foi completamente destruído. No ano de 1.631, após o primeiro ataque dos holandeses à região, os portugueses decidem reconstruir o forte utilizando-se de pedras e cal. Nesta mesma época, a ilha começou a ser habitada por frades da ordem religiosa de São Bento. Pouco tempo depois, o forte não resistiu ao segundo ataque holandês. Entre os anos de 1.636-1.645 os holandeses constroem um forte mais resistente militarmente na ilha, por sugestão do Governador Johan Mauritius van Nassau, após reconhecer a importância estratégica da ilha. Neste período, o território da Paraíba pertencia à Capitania de Pernambuco. O forte construído na ilha, juntamente com outros dois (Forte Santa Catarina a leste e Forte Velho a oeste), fazia parte de um sistema triangular de defesa na entrada do estuário. Duzentos anos depois, foi construído na ilha um lazareto, onde habitavam pessoas com lepra (hanseníase). O abrigo funcionou até 1.874, quando foi abando-

44 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm

MAPA GERAL CONTEXTUALIZANDO AS DUAS MARGENS ESTUDADAS. FONTE: GOOGLE MAPS (2011).


FOTO: Ticiano Alves

MAPA DA CAPITANIA DA PARAÍBA EM 1634 - IMPORTANTE MAPA, PUBLICADO EM 1635, APRESENTA A REGIÃO DE CABEDELO E O RIO PARAÍBA, SEGUNDO O TRAÇO CLAES JANSZOON VISSCHER. FOTO TIRADA NO MUSEU RICARDO BRENNAND.

milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 45


Stand Up Paddle Quebra de paradigma SUP MINAS

O

Brasil participa das Olimpíadas de Inverno, há um

Pranchas de Sup apropriadas para o Race Stock (pranchas de

campeonato Mineiro de Surf em algumas praias

velocidade, comumente usadas em regatas), híbridas (primeira

brasileiras e Minas Gerais é o Estado com o maior

prancha de quem inicia no esporte), wave (prancha desenvolvida

número de mergulhadores autônomos certifica-

especificamente para surfar ondas) e downwind (pranchas de

dos... algumas destas coisas te estranhou? Agora imagine uma

velocidade projetadas para regatas de longa distância, normal-

mineira de 50 anos, residente longe do mar, mergulhadora e que

mente disputadas em mar aberto) podem ser carregadas pelos

quer difundir e multiplicar o SUP nas Minas Gerais. Tudo isto só

supistas ostentando marcas famosas, sem falar nas marcas

acontece porque quebraram-se paradigmas.

dos remos, quilhas e roupas apropriadas para o

o esporte.

Patrocinadores, marcas famosas atraem videomakers, oporHoje o SUP é um esporte praticado em todo o mundo, uma

tunidade ótima para divulgar o stand up paddle no Brasil e no

atividade emocionante, bom para o corpo e mente, com vários

mundo.

níveis de graduação, praticado por mulheres, homens, crianças, esportistas e não esportistas.

Com este pensamento, quan-

ALOHA. n

Quantos municípios estão voltados, incentivam o esporte e

_______________________________________________________________

olham para a atividade como oportunidade de negócio, geração

Autora: Rosana Moraes

de empregos? Quantos adolescentes podem abraçar o esporte

Economista, Mergulhadora Avançada (PADI) e

em cada município e gritar ALOHA depois de várias horas

Comandante da Seção SUP Minas do Rumo Magnético

remando? Campeonatos nas escolas? Nos municípios? Nos esta-

FOTO: Rosana Moraes

dos? - Quebra de paradigma!

FOTO: newenglandboating.com

tas escolas de SUP existem espalhadas no litoral brasileiro?

46 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm


FOTO: dbw.parks.ca.gov FOTO: Rosana Moraes

milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 47


COMUNIDADE ÍCTICA DAS MARGENS DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE OVERFISHING

N

a última década, diversos trabalhos científicos

Diversos estudos apontam os fatores abióticos como respon-

foram realizados visando qualificar, quantificar e

sáveis pela estruturação das comunidades de peixes fluviais em

dimensionar os efeitos da degradação de áreas

regiões temperadas e tropicais (TEJERINA-GARRO et al., 2005),

de preservação permanente às margens de cur-

como: altitude (SUÁREZ & PETRERE JÚNIOR, 2007), oxigênio

sos d’água (mata ciliar e manguezal). Fontes (2002) associou a

dissolvido e pH (JACKSON et al., 2001; SILVA et al., 2007),

erosão das margens a impactos ambientais a jusante de grandes

temperatura da água (CETRA & PETRERE, 2006), velocidade do

barragens; Micheli e Kirchner (2002) avaliaram os efeitos da

fluxo (WILLIS et. al. 2005), vazão (BARRETTO & UIEDA, 1998),

vegetação ciliar na erosão das margens de córregos; Mckergon

condutividade elétrica (ARAÚJO et al., 2009), disponibilidade

et. al. (2003) compararam o transporte de sedimentos e nutri-

de habitat (MELO, 2000) e heterogeneidade (TOWSEND, 1996;

entes de uma microbacia agrícola antes e depois do manejo

WILLIS et. al., 2005).

da mata ciliar; Holanda et. al. (2005) estudaram os efeitos da erosão na margem do baixo São Francisco sobre a vegetação

Porém, diversos outros autores apontam para fatores de cunho

ciliar; Oliveira et. al. (2010) analisaram a capacidade de retenção

biótico. De acordo com Casatti et al. (2003), Melo et al. (2004) e

de sedimentos pela vegetação ripária, através da caracterização

Santos et al. (2004), a estruturação das comunidades de peixes

morfológica e físico-química do solo. Assim como estes, tantos

está intrinsecamente ligada à vegetação ciliar, uma vez que esta

outros trabalhos têm tratado de diversos temas relativos aos

fornece alimentos (frutos, insetos, folhas e outros) e abrigos

impactos da deterioração da mata ciliar e do manguezal, porém,

(galhos caídos, raízes de mangue e outros) aos mesmos. Uieda &

poucos estudaram as perturbações diretas causadas às comuni-

Uieda (2001) apontam as folhas incorporadas ao substrato dos

dades aquáticas, mais especificamente, de peixes.

cursos d’água como uma particularidade responsável pela diversificação da fauna, aumentando a disponibilidade de alimentos

Segundo Winemiller et al. (2000), a obtenção de um conheci-

desses animais. n

mento funcional que justifique as respostas das populações e comunidades de peixes aos distúrbios ambientais trata-se de

______________________________________________________

um desafio a ser vencido.

Autor: Professor M.Sc. Ticiano Alves Coordenador do Programa Sagres/CRPNM/IFPB

Referências: • • • • • • • • •

ARAÚJO, F. G.; PINTO, B. C. T. & TEIXEIRA, T. P. Longitudinal patterns of fish assemblages in a large tropical river in southeastern Brazil: evaluating environmental influences and some concepts in river ecology. Hydrobiologia, 618(1): 89-107. 2009. CASATTI, L.; M. F. MENDES & K. M. FERREIRA. Aquatic macrophytes as feeding site for small fishes in the Rosana reservoir, Paranapanema River, Southeastern Brazil. Brazilian Journal of Biology, 63(2): 213-222. 2003. CETRA, M. & M. PETRERE JR. Fish-assemblage structure of the Corumbataí River basin, São Paulo State, Brazil: characterization and anthropogenic disturbances. Brazilian Journal of Biology, 66: 431-439. 2006. FONTES, L. C. Erosão marginal associada a impactos ambientais a jusante de grandes barragens: O caso do baixo curso do Rio São Francisco. 2002. 321 f. Tese (Mestrado em desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2002. HOLANDA, F. S. R.; SANTOS, L. G. C.; SANTOS, C. M.; CASADO, A. P. B.; RIBEIRO, G. T. Riparian vegetation affected by bank erosion in the lower São Francisco River, Northeastern Brazil. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.29, n.2, p.327-336, 2005. JACKSON, D. A.; PERES-NETO, P. R. & OLDEN, J. D. What controls who is where in freshwater fish communities - the roles of biotic, abiotic, and spatial factors. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 58: 157-170. 2001. MCKERGON, L. A.; WEAVER, D. M.; PROSSER, I. P.; GRAYSON, R. B.; REED, A. E. G. Before and after riparian management: Sediment and nutrient exports from a small agricultural catchment, Western Australia. Journal of Hydrology, v.270, n.1, p.253–272, 2003. MELO, C. E.; MACHADO, F. A. & PINTO-SILVA, V. Feeding habitats of fish from a stream in the savanna of Central Brazil, Araguaia Basin. Neotropical Ichthyology, 2(1): 37-44. 2004. MICHELI, E. R.; KIRCHNER, J. W. Effects of wet meadow riparian vegetation on stream bank erosion. 1. Remote sensing measurement of stream bank migration and erodibility. Earth Surface Process and Landform., v.27, n.2, p.627-639, 2002.

48 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm

• • • •

• • • •

OLIVEIRA, C. A.; KLIEMANN, H. J.; CORRECHEL, V.; SANTOS, F. C. V. Avaliação da retenção de sedimentos pela vegetação ripária pela caracterização morfológica e físico-química do solo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v.14, n.12, p.1281-1287, 2010. SANTOS, G. M.; MÉRONA, B.; JURAS, A. A. & JÉGU, M. Peixes do baixo Rio Tocantins: 20 anos depois da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Brasília, Eletronorte, 216p. 2004. SÚAREZ, Y. R. & M. PETRERE JÚNIOR. Environmental factors predicting fish community structure in two neotropical rivers in Brazil. Neotropical Ichthyology, 5: 61-68. 2007. TEJERINA-GARRO, F. L.; MALDONADO, M.; IBÁÑEZ, C.; PONT, D.; ROSET, N. & OBERDORFF, T. Effects of natural and anthropogenic environmental changes on riverine fish assemblages: a framework for ecological assessment of rivers. Brazilian Archives of Biology and Technology, 48(1): 91-108. 2005. TOWNSEND, C. R. Concepts in river ecology: pattern and process in the catchment hierarchy. Archiv für Hydrobiologie, 113(10): 1-21. 1996. UIEDA, V. S. & W. UIEDA. Species composition and spatial distribution of a stream fish assemblage in the east coast of Brazil: comparison of two field study methodologies. Brazilian Journal of Biology, 61(3): 377-388. 2001. WILLIS, S. C., K. O. WINEMILLER & H. LOPEZ-FERNANDEZ. Habitat structural complexity and morphological diversity of fish assemblages in a Neotropical floodplain river. Oecologia, 142: 284-295. 2005. WINEMILLER, K. O.; TARIM, S.; SHORMANN, D. & COTNER, J. B. Fish assemblage structure in relation to environmental variation among Brazos River oxbow lakes. Transactions of the American Fisheries Society, 129: 451-468. 2000.


FOTO: Ariel Scheffer

FOTO: gallery.usgs.gov

OS MANGUEZAIS SÃO “BERÇÁRIOS” PARA DIVERSAS ESPÉCIES DE ORGANISMOS, QUE ENCONTRAM ALIMENTO E ABRIGO NO SEU COMPLEXO SISTEMA DE RAÍZES.

milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 49


50 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm


FILMES & LIVROS

CULTURA MARÍTIMA

MESTRE DOS MARES O LADO MAIS DISTANTE DO MUNDO Título Original: Master and Commander: The Far Side of the World ANO: 2003

ralista do almirantado, o dr. Stephen Maturin. Seu navio, o HMS

GÊNERO: Aventura

Surprise, é atacado de surpresa por um inimigo mais poderoso

DURAÇÃO: 138 minutos

em franca vantagem, a fragata francesa Acheron. Com o Surprise

DIREÇÃO: Peter Weir

seriamente avariado e grande parte de sua tripulação ferida,

ROTEIRO: Patrick O’Brian, Peter Weir, John Collee

Aubrey fica dividido entre o dever e a amizade, enquanto se lança

ATORES: Russell Crowe, Paul Bettany, James D’Arcy.

numa perseguição altamente arriscada por dois oceanos, a fim

PRÊMIOS: 03 indicações ao Globo de Ouro 2014 e 10 indicações

de interceptar e capturar seu inimigo. Trata-se de uma missão

ao Oscars 2004. Vencedor de 02 Oscars (Melhor Fotografia e

que pode consolidar sua reputação - ou arruinar o sortudo

Melhor Edição de Som).

capitão “Lucky Jack” e dizimar sua tripulação.

SOBRE O FILME:

No curso da jornada épica dos personagens, o filme singra por

Mestre dos Mares é baseado em uma série de livros escritos por

meio mundo - começa no Oceano Atlântico, na costa do Brasil,

Patrick O’Brian, que narram as aventuras do capitão Jack Aubrey.

passando pelas águas tormentosas do Cabo Horn, através de

O roteiro do filme foi baseado no 10º livro, “The Far Side of the

gelo e neve, até o lado mais distante do mundo e as praias remo-

World”.

tas das Ilhas Galápagos, no Pacífico (trata-se do primeiro filme

Passado durante as guerras napoleônicas, Crowe vive o capitão

em toda a história a ser rodado naquelas paragens).

“Lucky” Jack Aubrey, um renomado comandante de guerra da armada britânica, e Paul Bettany é o médico de bordo e natu-

Fonte: www.webcine.com.br

MAR SEM FIM

AUTOR: AMYR KLINK

Editora: Companhia das Letras Edição: 2000

Fonte: www.submarino.com.br

“A viagem relatada em Mar sem fim começa

gelo, vento forte, e o tempo todo submetido a

numa data curiosa: 31 de outubro de 1998, Dia

uma rotina que não permitia mais do que cinco

das Bruxas. Foi nesse dia que Amyr Klink deixou

horas de sono não contínuo por dia. Dezoito mil

a mulher, Marina, e as filhas em Paraty, decidido

milhas navegadas, 12.240 das quais sem pisar

a realizar o grande projeto de sua vida: sua

em terra, e com muitos sustos, como quando por

primeira volta ao mundo, realizada nas águas

pouco não ocorre uma colisão entre o Paratii

da Convergência Antártica - notável e precisa

e um gigantesco iceberg. O réveillon de Amyr,

fronteira entre as águas frias do Norte e as

em meio a uma tempestade aparentemente

águas geladas da Antártica. Ali estão os mares

eterna, tem um sabor de pesadelo. E, ao mesmo

mais perigosos do planeta. Um percurso consi-

tempo, o deslumbramento: miragens de ilhas, a

derado um desafio, mesmo com os equipamen-

visão de um cachalote e da rica fauna marinha.

tos sofisticados da navegação moderna. Amyr

Essa é a viagem que o leitor acompanha neste

foi o primeiro a realizá-lo, navegando sozinho

livro, que contém três cadernos especiais com

no veleiro Paratii. Foram 141 dias no mar. Um

53 ilustrações da fauna da região, fotos, mapas

verão inteiro viajando em latitudes onde o sol

da Antártica feitos especialmente para esta

nunca se esconde, enfrentando um mar tem-

edição pelo artista plástico Sírio Cansado, e

peramental, às vezes extremamente violento,

ainda desenhos do Paratii. Mar sem fim teve o

com períodos de nenhuma visibilidade, muito

patrocínio da PETROBRAS.” milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 51


NAUTILUS FOTOGRAFIA

Rico Floriani Fotografias

52 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm

de


milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm • 53


SABORES DO MAR RECEITAS

BACALHAU COM BATATAS A GUARAPARI

BACALHAU DE COCO

INGREDIENTES

INGREDIENTES

1 quilo de bacalhau

500g de bacalhau

Azeite de oliva

1 vidro de leite de coco grande

Cebolas picadinhas

Alho

Alho

Colorau (ou molho de tomate)

Salsa (muita) ou coentro

2 tomates

Cebolinha

1 cebola

Batatas

½ pimentão

Azeitonas pretas temperadas picadas

Coentro (pode acrescentar também cebolinha)

Azeitonas verdes picadas 1 vidro de palmito (picar) 1 copo de requeijão cremoso

Modo de Preparo

1 caixa de creme de leite

Tirar o sal do bacalhau, limpar e desfiar em pedaços grandes.

Modo de Preparo

Reservar. Picar os tomates, a cebola, o pimentão, o coentro e reservar. Colocar o leite de coco (pode acrescentar um pouco

Colocar o bacalhau de molho em água gelada e trocar a

de água) numa panela com o alho amassado e o colorau,

água várias vezes para retirar o sal. No dia seguinte, dar uma

e levar ao fogo. Mexer até começar a ferver. Acrescentar o

fervida rápida no bacalhau numa nova água. Escorrer a água

bacalhau desfiado e os tomates, a cebola, o pimentão e o

e desfiar o bacalhau. Colocar numa panela o azeite, o alho

coentro picadinhos e deixar ferver até cozinhar. Verificar se

amassado e a cebola picadinha e levar ao fogo para refogar.

precisa colocar sal. Quando ficar pronto pode acrescentar

Acrescentar o bacalhau e deixar refogar mais um pouco.

mais um pouco de coentro picado. n

Acrescentar depois a salsa picadinha. Mexer bem e reservar. ______________________________________________________ Cozinhar as batatas descascadas em lascas (ao comprido)

Autora: Adeilsa Alves

com um pouco de sal ou no vapor. Escorrer as batatas e

Arquiteta e Urbanista

colocar numa travessa. Sobre as batatas colocar o bacalhau e misturar de leve. Acrescentar as azeitonas pretas, as azeitonas verdes e o palmito. Misturar mais um pouco, com cuidado, para não quebrar as batatas. Acrescentar o requeijão cremoso, já na temperatura ambiente e misturar. Jogar o creme de leite por cima. Levar ao forno para gratinar rápido (mais ou menos 20 minutos). Servir com arroz branco, salada de verduras variadas e frutas.

54 • milha náutica • www.ifpb.edu.br/crpnm


RUMO MAGNÉTICO O SITE

O Capitão Mucuripe (Elson Fernandes) e o Professor Ticiano Alves, no dia 02 de abril de 2014 em Brasília, em frente ao Lago Paranoá Esse foi um momento especial da nossa tripulação, pois é a primeira vez que dois tripulantes do site se encontram para bater um papo náutico. A maioria dos tripulantes do Rumo Magnético mora em estados diferentes. Estão representados na nossa tripulação: Brasília / DF; Paraíba; Minas Gerais; Rio de Janeiro; e Santa Catarina.

Novas Seções do site

II Desafio Universitário de Nautimodelismo DUNA 2014

De janeiro até junho de 2014 foram criadas três novas seções especiais, sendo elas:

O Rumo Magnético em apoio ao II DESAFIO UNIVERSITÁRIO DE NAUTIMODELISMO - DUNA, organizado pelo Campus Joinville / UFSC,

Stand Up Paddle - SUP MINAS: comandada pela ins-

criou uma página especial com informações completas sobre o evento.

trutora de Stand Up Paddle Rosana Moraes, a seção traz até o público do site Rumo Magnético os conhe-

O DUNA é um projeto criado pela Universidade Federal de Santa

cimentos desse esporte de tem ganhado cada vez

Catarina - UFSC, Campus Joinville, que consiste numa competição uni-

mais adeptos e vem sendo práticado do litoral aos

versitária inédita no Brasil e de abrangência nacional. O projeto DUNA,

lagos e lagoas do interior do Brasil.

mediante a proposta de uma competição onde os universitários são estimulados a desenvolver e construir um modelo funcional, em escala

Arqueologia Subaquática - comandada pelo Professor

reduzida, de uma embarcação, tem por objetivo fomentar a geração de

Ticiano Alves, a seção traz artigos, vídeos, imagens,

inovações na área de Engenharia Naval e estimular a interação entre

links e resultados de pesquisas realizadas no Brasil

alunos de engenharia, sobretudo, da área naval. Os modelos concebi-

e em outros países visando promover a conscien-

dos pelas equipes são então submetidos a uma série de provas, que

tização da importância da proteção do patrimônio

ocorrem em vários dias, a fim de avaliar a qualidade do seu projeto e

histórico subaquático.

construção.

Tablets na navegação - já pensou utilizar um tablet

As inscrições vão até o dia 12 de Junho de 2014. Participe!!!

como instrumento auxiliar à navegação? Pois bem, o site Rumo Magnético criou essa seção para apresentar as principais informações sobre as possibilidades de uso desse pequeno notável a bordo.

Números do Site (até 28 Maio de 2014) 02 anos e 08 meses | 15 Seções Especiais | 14 temas On-line | 02 Cursos On-line | 570 alunos on-line | 1.383 seguidores FanPage | 09 Comandantes na Tripulação Principal | 114 Artigos | 28 Bibliografias Técnicas | 14 Bibliografias de literatura do mar | 21 Bibliografias sobre Segurança no Mar | 24.287 Visualizações do site (01/01 a 28/05) | 6.636 Usuários (01/01 a 28/05).

n

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CONHEÇA-NOS VENHA SER UM PROFISSIONAL DO MAR

Qualificar homens e mulheres para o trabalho no mar, através da aplicação do conhecimento teórico e do aperfeiçoamento dos saberes, é um desafio constante do CRPNM. Para isso oferecemos cursos nas mais diversas áreas. E ao trabalhar nossas ações de forma dinâmica e inovadora, o CRPNM dá às famílias que do mar tiram o seu sustento a oportunidade de se inserirem no mundo do trabalho.

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FOTO: Ticiano Alves

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