Riopharma 126

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ISSN nº 2447-8660

126 MAI > JUN 2016

RIO

Pharma

Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro

De olho no lance e nos medicam entos No clima da Rio 2016, farmacêuticos que trabalham com atletas e no controle de doping revelam suas rotinas


agenda XX Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia

Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro Rua Afonso Pena, 115 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20270-244 Telefone: (21) 3872-9200 - Fax: (21) 2254-0331

8 a 11 de junho - Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza (CE) www.cbgg2016.com.br

Dúvidas e sugestões: diretoria@crf-rj.org.br

1º Congresso Brasileiro em Ciências da Saúde (Conbracis)

Denúncias: fiscalizacao@crf-rj.org.br

15 a 17 de junho - Campina Grande (PB) www.conbracis.com.br

Ouvidoria: ouvidoria@crf-rj.org.br Periodicidade: Bimestral

43º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas

Tiragem: 17.000 exemplares

26 a 29 de junho - São Paulo (SP) www.sbac.org.br/cbac

Diretoria Dr. Marcus Vinicius Romano Athila - Presidente Dr. Robson Roney Bernardo - Vice-presidente Dra. Talita Barbosa Gomes - Tesoureira Dr. José Roberto Lannes Abib - Secretário-Geral

1ª Prova de Especialista em RadioFarmácia Até 2 de julho www.abrf.com.br

Conselheiros Efetivos Dra. Denise Costa Ribeiro, Dra. Fabiana Sousa Pugliese, Dr. José Roberto Lannes Abib, Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto, Dra. Maely Peçanha Fávero Retto, Dr. Marcus Vinicius Romano Athila, Dra. Maria Eline Matheus, Dra. Melissa Manna Marques, Dr. Robson Roney Bernardo, Dra. Silvania Maria Carlos França, Dra. Tania Maria Lemos Mouço e Dra. Talita Barbosa Gomes

21° Congresso Brasileiro Multidisciplinar em Diabetes e 21° Exposição nacional de Produtos e Alimentos Diet

29 a 31 de julho de 2016 - São Paulo (SP) www.anad.org.br/eventos/congresso

Conselheiros Suplentes Dra. Niára Sales Nazareno, Dra. Nilza Bachinski Pinhal e Dra. Rejane Maria F. de Oliveira Carvalho

I Workshop Internacional de Farmácia Inclusiva

Conselheiro Federal Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense

12 de agosto - São Paulo www.fcfar.unesp.br/eventos/ winfin2016/

Conselheiro Federal Suplente Dra. Nylza Maria Tavares Gonçalves

76th FIP World Congress of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences 2016

Editor-chefe e Jornalista Responsável Rafael Machado (MTB – 24421-RJ)

28 de agosto a 1º de setembro Buenos Aires, Argentina www.fip.org/buenosaires2016

Estagiária de Jornalismo Ariane Oliveira Gonçalves Projeto Gráfico e Diagramação Ideorama Comunicação – EIRELI

Expo Farma 2016

21 de 22 de setembro de 2016 - Hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro (RJ) www.expopharma.com.br

Comissão Editorial Dr. Marcus Vinicius Romano Athila Dr. Robson Roney Bernardo Dra. Talita Barbosa Gomes Dr. José Roberto Lannes Abib Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense Dra. Aline Coppola Napp Dra. Elizabeth Zagni Schmied Gonzaga Dr. Fábio Lima Reis Dr. José Liporage Teixeira Dr. Marcos Antonio dos Santos Alves Dra. Fernanda Lacerda da Silva Miranda (convidada, do CRIM UFRJ/Macaé) Comissão Científica: Robson Roney Bernardo Maria Eline Matheus Andreia Bartachini Carlos Augusto Freitas Peregrino Carmelinda Monteiro da Costa Afonso Cleverton Kleiton Freitas de Lima Lúcio Mendes Cabral

XII Congresso Mundial de Farmacêuticos de Língua Portuguesa 8 a 10 de Novembro - Gramado (RS) www.congressomundial.org.br

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Para conferir mais informações sobre estes e outros eventos, acesse:

http://crf-rj.org.br/eventos.html


nesta edição 05

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Em defesa da atuação clínica do farmacêutico

A diferença entre medicamentos similares, genéricos e de referência

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Alta performance: a rotina de farmacêuticos que atuam com doping e orientando atletas

Seminário debate a improbidade administrativa nos conselhos

Editorial

Âmbito profissional

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Capacitação Qualipharma tem novos cursos

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Plantão fiscal A vez das distribuidoras: fiscalização retoma inspeções programadas

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Orientação

Transparência

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Estágio: saiba quais são os deveres do farmacêutico

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Agora é diferente Novos fiscais farão inspeções à noite e nos feriados

Destaque

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Farmacêutica conta como é atuar em áreas de conflito pelo mundo

Cromatografia e sua evolução

Artigo

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Indústria

Acadêmicos

O que mudou no pós-registro de medicamentos?

Revista já recebe trabalhos científicos para publicação



editorial Firmes na defesa da atuação clínica do farmacêutico Mesmo dois anos após terem sido regulamentadas e já consolidadas na sociedade, a atuação clínica e a prescrição farmacêutica seguem enfrentando resistências. Em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nota questionando as Resoluções 585/2013 e 586/2013 do Conselho Federal de Farmácia (CFF). A reação não poderia ter sido mais contundente, o CFF e os CRFs se uniram em defesa da profissão e do direito de toda sociedade brasileira a ter acesso aos nossos serviços. Sem recuar, seguiremos firmes nesta luta, defendendo a atuação clínica e a prescrição farmacêutica. Cabe lembrar que tais resoluções regulamentam a atuação do farmacêutico seguindo as competências legais atribuídas aos Conselhos de Farmácia, como determina a Lei 3.820/60. Também, que tais resoluções já foram questionadas na Justiça três vezes pelo CFM, com as liminares sendo negadas, o que só reforça que essas normas estão amparadas pela lei. Na mesma época da nota do CFM, outro direito dos farmacêuticos também foi ameaçado, desta vez, em alguns estados, profissionais que atuavam em farmácias comunitárias não puderam se vacinar contra a gripe. É preciso lembrar que ser imunizado é uma garantia da classe, que está entre as mais expostas ao risco de contrair a doença. Precisamos nos manter firmes e defender nossos direitos, indo à Justiça, caso necessário.

Marcus Athila Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro

O período, no entanto, não foi só de batalhas. Em março, o CRF-RJ retomou o programa Qualipharma, com novos cursos, escolhidos após uma pesquisa com alunos, profissionais, Câmaras Técnicas e Comissões. Entre as novidades, um curso voltado para a área de estética, setor que a cada ano atrai mais farmacêuticos e que recebeu um suporte ainda maior após o Conselho Federal de Farmácia aprovar a Resolução 616/15, que regulamentou a atuação do farmacêutico na saúde estética, permitindo a realização de procedimentos invasivos não-cirúrgicos, como a toxina botulínica, preenchimentos, carboxiterapia, criolipólise, entre outros. Também foram incluídos no Qualipharma dois novos cursos de farmácia clínica, tendo em vista que diversas farmácias de rede e independentes estão incluindo os serviços clínicos farmacêuticos em seus estabelecimentos. Nesta edição, além de matérias sobre este tema, e já no clima das Olimpíadas, você vai ver uma reportagem sobre a atuação do farmacêutico no controle e na prevenção do doping, bem como uma matéria com uma farmacêutica do Estado do Rio que atua em cenários de conflitos civis pelo mundo. Boa leitura!


âmbito profissional

Alta performance Como é o dia a dia dos farmacêuticos que atuam com esportistas e no controle de doping Desenvolver suplementos e medicamentos para atletas, fazer o acompanhamento individual de esportistas e identificar a presença de substâncias proibidas em competições através de exames. Estas são atividades que fazem parte da rotina de farmacêuticos que atuam na área de doping, seja acompanhando e orientando atletas ou controlando o uso de substâncias proibidas. Com a proximidade das Olimpíadas, a Revista RIOPHARMA conversou com alguns profissionais que atuam ou atuaram na área para saber como é o dia a dia neste ramo da Farmácia.

Responsável por um projeto de suplementação para atletas de alta performance, o doutor Rodrigo Abdala começou há seis anos a trabalhar com dez lutadores de MMA, ligados ao Team Nogueira, incluindo os irmãos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. Posteriormente, as gêmeas Bia e Branca Feres, do nado sincronizado, e a remadora Fabiana Beltrame, campeã mundial, também aderiram ao programa. Ao lado de médicos e nutricionistas, ele atua desenvolvendo suplementos e medicamentos com a máxima segurança e sem risco para os atletas.

O farmacêutico Rodrigo Abdala com o lutador de MMA Junior Cigano: acompanhamento segue necessidades individuais dos atletas

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“Verificamos, em conversa com alguns atletas, a necessidade de um acompanhamento mais individualizado do atleta, onde parâmetros laboratoriais fossem avaliados, e os esquemas de suplementação fossem feitos baseados nas suas necessidades individuais, e sempre relacionados ao tipo de modalidade desempenhada, observando sempre as vias metabólicas mais utilizadas”, afirma o farmacêutico. Diretor-técnico da Analítica Farmácia de Manipulação, Rodrigo sempre trabalhou no setor magistral. Ele destaca a necessidade de estar sempre atento à lista de substâncias proibidas pela World Anti-Doping Agency (Wada) e da interação com outros profissionais e com o próprio atleta. “Os procedimentos para evitar contaminação cruzada devem ser rigorosamente seguidos, e as boas práticas de manipulação de medicamentos devem ser adotadas em todas as etapas do processo. Deve haver também uma cumplicidade entre os prescritores (médicos/ nutricionistas), o farmacêutico e os atletas, onde tudo que for prescrito e administrado ao atleta deve ser de conhecimento do farmacêutico, para que o mesmo possa avaliar se há a presença de substâncias que possam apresentar resultado positivo no exame antidoping”, diz Rodrigo.

A farmacêutica Mônica Padilha, do Ladetec: expectativa de longas jornadas durante a Rio 2016

Professora adjunta do Departamento de Química Analítica da UFRJ e responsável pela análise de agentes anabólicos no laboratório de controle de dopagem do Instituto de Química da universidade, a farmacêutica é responsável pela análise de esteróides anabolizantes, beta-2-antagonistas, narcóticos e substâncias relacionadas. “Estas análises consistem na preparação das amostras de urina de atletas através da extração líquido-líquído seguida de derivatização (reação de transformação molecular que torna o extrato final volátil) com posterior análise por

Já a farmacêutica Mônica Costa Padilha começou na área fazendo iniciação científica no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (Ladetec). Dali, seguiu para a pós-graduação, unindo a cromatografia com o estudo de metabolismo dos fármacos, num doutorado orientado pelos professores Francisco Radler de Aquino Neto e Carlos Alberto Manssour Fraga. “O início do meu trabalho no laboratório de controle de dopagem no esporte foi vinculado a minha tese de doutorado, uma vez que o projeto era o estudo do metabolismo de alguns esteróides em urina humana. Me apaixonei pelo estudo do metabolismo dos esteróides atrelado à busca de melhores alvos analíticos, metabólitos de mais longa excreção, para controle de dopagem”, diz Mônica.

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cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas. No dia a dia, é preciso fazer a avaliação de lotes analíticos, o que inclui uma série de controles de qualidade e as amostras propriamente ditas. Devemos liberar resultados analíticos e adversos em 10 dias corridos, o que no caso dos adversos implicam em testes adicionais de confirmação que algumas vezes incluem a quantificação através de curva de calibração”, conta a doutora. Como o laboratório é o único creditado à Wada, Mônica espera muito trabalho durante os Jogos Olímpicos do Rio, em agosto. “Certamente trabalharemos por aproximadamente dois meses em longas jornadas, onde teremos que lidar com a liberação de resultados negativos e adversos em 24 horas, onde estaremos sendo supervisionados pela Agência Mundial Anti-doping e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), inclusive através de controles externos. Tenho a certeza que ao fim de todo o processo teremos cumprido nossa missão com sucesso, porque o LBCD/IQ/UFRJ trabalha no estado da arte do controle de dopagem no esporte”, diz ela.

Para quem pretende atuar na área, a doutora dá algumas dicas: “É preciso aprofundar os conhecimentos nas áreas de metabolismo de fármacos, química analítica instrumental com ênfase na cromatografia e na espectrometria de massas e na área de técnicas de preparação de amostra”. Presidente da Comissão Nacional de Controle de Dopagem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) entre 1996 a 2012, o consultor e professor universitário aposentado Tanus Jorge Nagem começou a trabalhar no setor em 1988, a convite da CBF.

O professor Tanus Jorge Nagem diz que é preciso estar atento à legislação

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“Fui chamado para desenvolver um sistema de coleta de amostras para o controle de dopagem que pudesse ser feito com a matéria-prima nacional e que possuísse uma segurança e uma inviolabilidade de nível internacional. Durante a Copa América de 1989, realizada no Brasil, o sistema foi implantado. Foi quando, também, comecei a participar do treinamento para realizar as coletas de amostras dentro das normas estabelecidas na área”, destaca. Farmacêutico formado pela UFMG e com pósdoutorado na Rice University, em Houston, nos EUA, ele deu aulas nas universidades Federais de Minas Gerais, Viçosa e Ouro Preto.

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Tanus orienta quem pretende entrar na área a estar atento à legislação relativa ao setor, como a Resolução 307/97 do Conselho Federal de Farmácia, que dá amparo legal para o farmacêutico atuar na área. “Como em toda área profissional o farmacêutico deve saber que ele tem toda a credibilidade legal para trabalhar nessa área, seja na parte laboratorial envolvendo o uso de conhecimentos específicos de sua formação profissional em técnicas cromatográficas especiais de análise como cromatografia líquida de alta eficiência, cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas e várias outras que fazem parte da formação curricular do farmacêutico. Também o farmacêutico está “legalmente habilitado” no processo de coleta de amostras, seja urina ou sangue de acordo com as várias Resoluções do Conselho Federal de Farmácia existentes para tal fim”, informa o doutor Tanus. Ele lembra ainda que o exame antidoping também é utilizado em outras situações, como nos transportes, e sugere uma ampliação do seu uso para outras áreas. “Hoje, existe uma preocupação muito grande na área dos transportes pelo uso indiscriminado de “anfetaminas”, os chamados “rebites”, bem como também com o uso de maconha e cocaína, e as empresas querem controlar o uso de anfetaminas e drogas sociais em seus empregados. Também em situações familiares e médicas onde se deseja saber se um paciente faz ou não uso de anabólicos, anfetaminas ou drogas sociais. Esse cuidado poderia ser estendido também para as escolas no sentido de se avaliar a disseminação de uso de drogas sociais na sociedade”, diz o professor.

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Confira cartilha do CBDA sobre o uso de medicamentos no Esporte

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capacitação

Mais cursos no Qualipharma Programa é retomado com aulas ligadas à farmácia estética, toxicologia dos metais, entre outros Depois de mais de 3.600 certificados emitidos em dois anos, o Qualipharma está de volta e traz novos cursos voltados para áreas recentemente regulamentadas para a atuação do farmacêutico. Após uma pesquisa com alunos e indicações das Comissões do CRF-RJ, a nova grade inclui temas como Farmácia Estética, Farmacologia Clínica, Exames Laboratoriais Aplicados à Prática Clínica Farmacêutica, Toxicologia dos Metais, entre outros. “São cursos que levam em conta as novas resoluções do Conselho Federal de Farmácia (CFF). Atualmente, o farmacêutico pode atuar em outras áreas, que não são privativas, como estética e injetáveis, por exemplo. E nós temos expertise acadêmica para isso. É preciso sair um pouco da farmácia e do hospital também. É uma questão de mercado”, avalia o vice-presidente do CRF-RJ, o doutor Robson Roney Bernardo.

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As aulas recomeçaram em abril e a expectativa do Conselho é que o número de alunos seja maior do que o do ano passado. Até o momento, estão previstos 16 cursos, mas a lista ainda pode aumentar. “Fizemos uma análise da área acadêmica e percebemos algumas lacunas, como em relação à toxicologia dos metais, por exemplo”, informa o vice-presidente. Outra novidade este ano são os cursos in company, voltados para farmacêuticos de uma mesma empresa. Uma grande rede já solicitou as aulas. “O objetivo é habilitar farmacêuticos também dentro das empresas. Capacitação interessa ao Conselho e também às empresas”, completa Bernardo.

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Doutora em Química Analítica pela UFF, a professora Débora de Souza Lima ministra o curso de Toxicologia dos Metais. A primeira aula aconteceu em Campo Grande, no dia 9 de abril. “É um assunto bem específico da área de toxicologia, notório nas áreas ambiental e ocupacional. O tema Toxicologia dos Metais enriquece aqueles farmacêuticos que pouco viram esse tema na graduação, ou simplesmente auxiliam aqueles profissionais que estão em período preparatório para concursos. O material oferecido é bastante voltado para o modo de desintoxicação geral e para a toxicocinética e a dinâmica de cada metal, e de forma bem detalhada, foi discutida a interação geral dos metais no organismo”, diz ela. Débora ressalta que o tema é bastante atual e envolve tanto profissionais ligados à área de saúde do trabalhador, como os da área ambiental.

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“Os desastres e intoxicações podem ocorrer a qualquer instante, e profissionais da saúde que somos, temos que estar sempre preparados, como no caso da contaminação provocada pela mineradora Samarco. Devido a esses imprevistos temos sempre que estar atualizados sobre diversos assuntos, para procurar a melhor forma de corrigi-los e discuti-los”, diz ela. Já o professor e farmacêutico Alan Izolani, do curso “Introdução a Farmácia Estética e prescrição Cosmecêutica” diz que o interesse dos farmacêuticos pela área de estética aumentou bastante desde o ano passado, após a aprovação pelo CFF da Resolução 616/15. Para ele, o curso vem atender a esta necessidade. “O curso também abre a visão dos farmacêuticos para a atuação clínica. É uma iniciativa pioneira no Brasil, levando a todas seccionais do estado o conhecimento sobre mais uma área de atuação do profissional farmacêutico. No curso, os alunos perguntam bastante, se mostram muito interessados em todas as técnicas abordadas e também em como ingressar para atuar na área de estética”, informa Izolani.

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Alguns dos novos cursos oferecidos Exames Laboratoriais Aplicados à Prática Clínica Farmacêutica - Procura capacitar farmacêuticos quanto a utilização dos exames laboratoriais como ferramenta clínica fundamental no monitoramento farmacoterapêutico das principais patologias, a partir de correlações clínicas, diagnósticas e terapêuticas. Farmacologia e Toxicologia de Drogas Vegetais e Medicamentos Fitoterápicos Visa atualizar o profissional farmacêutico na legislação sobre drogas vegetais e medicamentos fitoterápicos; apresentar ao farmacêutico a farmacologia e toxicologia de algumas drogas vegetais e medicamentos fitoterápicos; e auxiliar o farmacêutico na prescrição e atenção farmacêutica de drogas vegetais e medicamentos fitoterápicos. Farmacologia da Obesidade - Aborda os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na obesidade e correlaciona-os com a Farmacoterapia; as principais classes terapêuticas utilizadas no tratamento da obesidade; as principais complicações da obesidade e suas implicações na Farmacoterapia; além de apresentar e discutir as novas abordagens terapêuticas para o tratamento da obesidade; e capacitar o profissional farmacêutico para o exercício adequado da atenção farmacêutica.

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Introdução a Farmácia Estética e prescrição Cosmecêutica - Busca demonstrar um novo campo de atuação para o farmacêutico clínico, a atuação na saúde estética, as principais técnicas utilizadas, bem como a prescrição de cosméticos e a legislação vigente. Princípios de Farmacologia Clínica Aborda os principais conceitos básicos de farmacologia, relacionando com os princípios da atenção farmacêutica e os princípios básicos da farmacocinética e da farmacodinâmica, correlacionando com suas implicações clínicas; atualiza o profissional farmacêutico para o exercício adequado da farmácia clínica; possibilita ao profissional a avaliação e o acompanhamento da farmacoterapia; e proporciona qualificação em um dos requisitos para o exercício da prescrição farmacêutica. Toxicologia dos Metais - Busca conceituar e introduzir informações sobre os metais considerados não essenciais ao organismo, aborda o tratamento farmacológico adequado; a predominância, uso e toxicologia (toxicocinética e toxicodinâmica) de cada metal individualmente: cádmio, chumbo, arsênio, mercúrio, estanho, níquel, cromo e alumínio. Sistema de Documentação Técnica - Oferece aos participantes uma visão abrangente sobre os cuidados críticos da elaboração, revisão, arquivo, segurança, controle e gerenciamento de documentos através da ótica da qualidade e das Boas Práticas de Fabricação.

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plantão fiscal

A vez das distribuidoras Serviço de Fiscalização retoma programa de inspeções programadas O Serviço de Fiscalização do CRF-RJ iniciará, em breve, um programa de inspeção em distribuidoras de medicamentos. A ação tem como objetivo verificar a qualidade do trabalho desenvolvido pelos farmacêuticos nas unidades e a meta é visitar todas as unidades em funcionamento. Representantes, importadoras e exportadoras de medicamentos também serão fiscalizadas. A expectativa é de que sejam realizadas 380 vistorias, sendo que 60% destas unidades estão localizadas na Região Metropolitana do Rio.

“Esta inspeção não é de rotina, mas programada. Por isso que vamos informar antes qual a documentação será necessária. Como é preciso preencher uma ficha, é necessária a presença do farmacêutico. Se ele não estiver no momento, a ficha não será aplicada”, informa Alves.

As inspeções seguirão as resoluções 600/14 e 365/01 do CFF e a Portaria 802/98 do Ministério da Saúde, que institui o sistema de controle e fiscalização na cadeia de produtos farmacêuticos. De acordo com o chefe da Fiscalização, doutor Marcos Alves, as empresas e os farmacêuticos que trabalham nestas unidades receberão uma correspondência prévia, com informações sobre o período em que serão feitas as inspeções e a documentação que deverá ser apresentada.

“Estamos seguindo a cadeia dos medicamentos. No ano passado, o programa teve como foco a indústria. Agora, é a vez da distribuição e, na sequência, vamos nos concentrar nas transportadoras. O foco é verificar as condições do exercício ético-profissional nestes estabelecimentos e repassar as informações para a Diretoria”, informa Alves.

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Ele adianta que a inspeção terá como foco o profissional e pede que os farmacêuticos e as empresas mantenham o cadastro atualizado no CRF-RJ, para poderem receber o comunicado sobre o prazo das vistorias.

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Como será a inspeção: Durante as vistorias nas distribuidoras, os farmacêuticos fiscais aplicaração a Ficha de Verificação do Exercício Profissional (FVEP), baseada na Resolução 600/2014 do CFF e adaptada pelo Serviço de Fiscalização do CRF. Os fiscais, também, vão:

Verificar se há estoque no local e, caso não possua, se realiza venda casada (representante) ou terceiriza o estoque;

Verificar se a escrituração dos medicamentos sujeitos a controle especial (Portaria SVS/MS 344/98) é feita de forma manual ou informatizada e se é atualizada semanalmente;

Solicitar a seguinte documentação: • Certidão de Regularidade, • Licença de Funcionamento Sanitário, • Autorização de Funcionamento/Anvisa e Autorização Especial/Anvisa, se couber; • Listagem das transportados com a qual a empresa trabalha com razão social e endereço; • Listagem das empresas de armazenagem de estoque com razão social e endereço, caso terceirize este serviço.

Caso distribua medicamentos sujeitos a controle especial (Portaria SVS/ MS 344/98), se estão guardados sob chave ou outro dispositivo que ofereça segurança, em local exclusivo para este fim, sob a responsabilidade do farmacêutico;

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Solicitar ao farmacêutico o Manual de Boas Práticas de Distribuição e Armazenagem de produtos e Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) do estabelecimento;

Verificar alguns POPs para confirmar se contemplam as atividades desenvolvidas;

Solicitar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos em Saúde (PGRSS), que deve apontar e descrever as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas as suas características, no âmbito dos estabelecimentos, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta interna, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final, não estando restrito ao contrato com a empresa coletora;

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Verificar se o armazenamento dos produtos está de acordo com as Boas Práticas de Armazenagem, se estão afastados das paredes, teto e solo e se o empilhamento obedece sistema que garanta a livre circulação de ar entre as embalagens;

Verificar se possui registro diário de controle de temperatura e umidade ambiente e de geladeira, se houver termolábeis, e se há procedimentos para controle;

Verificar se há rotina escrita para controle de validade dos produtos;

Verificar se mantém registro atualizado de seus fornecedores (indústrias), com documentos comprobatórios e os itens contemplados.

Solicitar especialmente o laudo de análise do controle de qualidade da indústria produtora;

E verificar se mantém registros das firmas compradoras e documentação das mesmas, como Certidão de Regularidade, Licença Sanitária e Autorização de Funcionamento (AFE). Verificar se há rotina de cobrança da documentação, com periodicidade no mínimo anual.

Solicitar registro de treinamentos dos funcionários quanto às Boas Práticas de Distribuição e Armazenagem;

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Formulário padrão para ficha de verificação do exercício ético profissional na distribuidora Termo de Inspeção Nº: _____________________ I – FARMACÊUTICOS RESPONSÁVEIS 01. Diretor Técnico:___________________________________________CRF/XX:_________________ 02. Assistente Técnico: _______________________________________CRF/XX:_________________ 03. Substituto:______________________________________________CRF/XX:_________________ Obs.: Os dados coletados nesta ficha refletem o momento da inspeção. Data: ___ / ___ / _____ Hora: __:__ II – ESTABELECIMENTO 01.NomeFantasia:___________________________________________________________________ 02.RazãoSocial:_____________________________________________________________________ 03. Município:_______________________________________________________________________ 04. Distribuidora de: ( ) Medicamentos

( ) Cosméticos

( ) Correlatos

( ) Odontológicos

( ) Outros: III – VERIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS IMPRESCINDÍVEIS

IV – VERIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Certidão de Regularidade Técnica (CRT) atualizada? (Res. 494/08 CFF)

Realiza distribuição de medicamentos da Portaria 344/08 do Ministério da Saúde?

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

Alvará de Licença da Vigilância Sanitária Estadual/Municipal atualizada?

Os medicamentos controlados estão armazenados conforme a Portaria 344/08 MS?

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

Apresentou a publicação da Autorização de Funcionamento (AF) da ANVISA?

Apresentou Manual de Boas Práticas para Distribuição e Armazenagem?

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

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Apresentou “POPs” aprovados e assinados pelo farmacêutico? ( ) Sim ( ) Não Apresentou protocolo do “Plano de Gerenciamento de Resíduos”? ( ) Sim ( ) Não As condições de armazenagem dos medicamentos e/ou outros produtos são adequadas?

O farmacêutico RT supervisiona as condições de recebimento dos medicamentos e/ou outros produtos? ( ) Sim ( ) Não O estabelecimento recebe produtos somente de empresas devidamente licenciadas e autorizadas pelos órgãos sanitários e que sejam titulares dos registros dos mesmos? ( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

Existe algum procedimento adotado pela empresa para qualificar seus compradores?

As condições de temperatura e umidade são monitoradas?

( ) sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

Possui documentação comprobatória deste procedimento?

Armazena produtos termo sensíveis? ( ) Sim ( ) Não Existem registros de controle de temperatura? ( ) Sim ( ) Não Existe controle sistematizado da validade dos produtos?

( ) sim ( )não Os documentos comprobatórios da qualificação dos compradores são atualizados no cadastro do distribuidor com frequência adequada? ( ) sim ( )não

( ) Sim ( ) Não

Possui Livro de Registro específico para escrituração de produtos sujeitos ao controle especial?

O farmacêutico executa treinamento com a equipe de trabalho?

( ) sim ( ) não

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Os Livros a que se refere o item 22 se encontram atualizados conforme determina a legislação sanitária vigente?

O farmacêutico atualiza os manuais operacionais?

Possui serviço de transporte próprio ?

( ) Sim ( ) Não

( ) sim ( )não

Existem registros?

( )sim ( ) não

V – ASSINATURAS/CARIMBOS 01. Farmacêutico (a):________________________________________________________________ 02. Farmacêutico (a) Fiscal: ___________________________________________________________

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destaque

Entre a tragédia e a esperança

A farmacêutica no dia em que chegou no Iêmen

Farmacêutica conta como é atuar em áreas de conflito pelo mundo “O sorriso de uma criança que entrou numa das unidades de saúde desnutrida, quase morta, desidratada, e 15 dias depois tem aquela bochechinha redondinha moldando seu rosto jamais vai ter preço”. Em meio a bombardeios contra unidades de saúde no Iêmen e no Afeganistão, à dura batalha contra a Aids na Suazilândia e ao acompanhamento do primeiro ano de existência do Sudão do Sul, a farmacêutica Amanda Amorim Tomaz, de 37, tira sua satisfação dos pequenos gestos do dia a dia, como na recuperação de uma criança em meio aos conflitos. Desde 2010 atuando como farmacêutica no Médico Sem Fronteiras (MSF), ela vem rodando o mundo prestando assistência. Atualmen-

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te em Marseille, na França, e se preparando para uma temporada na Guiné Bissau, a farmacêutica ficou até o início deste ano no Iêmen. Antes, em 2014, passou um tempo no Afeganistão. Nos dois países viu unidades de saúde serem bombardeadas e a morte de pacientes e profissionais de saúde. “Em janeiro deste ano, estava na província de Sa’ada, no Iêmen, e o hospital em que eu trabalhava teve que receber as vítimas de um bombardeio que atingiu uma clínica local que dávamos suporte. Foi um momento terrível para todos. Já havia perdido um amigo e farmacêutico no bombardeio norte-americano contra um hospital do MSF em Kunduz, no Afeganistão, em outubro de 2015, e presenciar

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essa crueldade não é das coisas mais fáceis. Há riscos em alguns lugares aonde vamos, e neles o MSF toma todos os cuidados de segurança para proteger seus profissionais. E as regras dos conflitos, reconhecidas internacionalmente, afirmam que um hospital não é nem nunca poderá ser um alvo, de nenhuma força em conflito, sejam países ou grupos. Então esses ataques foram uma violação de tudo isso. Afinal, até as guerras têm regras!”, diz ela.

Colegas de Amanda prestam atendimento de emergência após um ataque aéreo em Sa’ada, no norte do Iêmen

Nos dois países também teve que se adaptar à cultura local e à religião muçulmana, se vestindo e se comportando em público segundo os costumes locais. “Ser capaz de despir-se de seus costumes e vestir os deles vai além da simples vontade de fazer o melhor por aquelas pessoas. E este é o momento em que você descobre que é capaz de superar qualquer limite - da criação que teve, da sociedade em que vive, das necessidades que julga importante neste mundo capitalista, autossuficiente e no auge da sua arrogância e prepotência, vazio.

”Deixei meu coração dizer que queria ajudar as pessoas que necessitavam do meu conhecimento na África” RioPharma 126

Em Sa’ada, fazendo o inventário na farmácia

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Foram ambos contextos de guerra, mas foram os mais marcantes. Se uma viagem é descrita pelo poder de fazer pensar e enxergar outros horizontes, uma viagem para um mundo no qual a maioria das pessoas tem medo de ir (ou impedimentos óbvios), onde se pratica uma outra religião sobre a qual a maioria das pessoas tem opinião sem conhecer e onde até os ventos têm sua versão da história que ali se passou, estas estadias não poderiam ser menos do que transformadoras”, diz ela.

Anteriormente, Amanda já havia passado por países africanos e contextos bem diferentes. Entre 2010 e 2011, esteve durante 13 meses na Suazilândia, onde um a cada quatro moradores são soropositivos e há uma batalha contra a tuberculose multirresistente. Na sequência, ainda em 2011, foi para o Sudão do Sul. O país havia sido criado naquele ano e contava com bastantes refugiados por causa dos conflitos que levaram à independência do país, antes integrado ao Sudão. Em 2012, seu destino foi Uganda, numa cidade perto da fronteira com a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, região com muitos casos de soropositivos e tuberculose, além de alguns surtos de Ebola e febre de Marburg. No dia a dia nestes países, Amanda intercalava entre o gerenciamento de estoque nas unidades de saúde até ações diplomáticas ligadas aos ministérios da Saúde e os farmacêuticos.

Amanda com a roupa usada no Iêmen, chamada de abaya, e o colete do Médico Sem Fronteiras

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“Somos muitos farmacêuticos pelo mundo. Em geral, gerenciamos o estoque e tudo que isso envolve, incluindo compras em alguns projetos, remanejamentos para locais em dificuldade com o recebimento, a abertura do serviço de farmácia, como nosso colega Eduardo Barbosa fez no Nepal ano passado, depois do terremoto, ou o Guilherme Simão fez depois do tufão nas Filipinas em 2013. Mas também podemos ter posições mais diplomáticas, como na minha primeira missão, quando eu tinha que passar uma boa parte do tempo em reuniões com o Ministério da Saúde e seus farmacêuticos.

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Como ingressar no projeto Farmacêuticos interessados em ingressar no Médico Sem Fronteiras devem acessar o site www.msf.org.br/trabalhe-conosco-exterior. Lá, estão as instruções para os interessados. Entre os requisitos, estão motivação para realizar trabalho humanitário em contextos precários, ser formado e possuir experiência profissional na área de atuação de pelo menos dois anos; disponibilidade para atuar por 12 meses, que podem ser divididos em projetos menores, dependendo do perfil profissional; ótimos conhecimentos de inglês e/ou francês, de preferência de ambas as línguas (no caso de profissionais de fora da área de saúde, o francês é imprescindível); capacidade para trabalhar e viver em condições, por vezes, básicas; entre outros.

E-mail foi pontapé inicial O interesse de Amanda por projetos sociais começou quando ela estudou com um casal que participou do Projeto Rondon. O programa, na Amazônia e voltado para universitários, realiza ações participativas e busca integrar o estudante ao desenvolvimento nacional. Na época, ela não conseguiu se inscrever e o projeto foi encerrado. Anos depois, Amanda recebeu um CD do Médico Sem Fronteiras que tinha como objetivo arrecadar fundos para os refugiados da Guerra do Kosovo. A partir daí, começou a pesquisar e, anos depois, em dezembro de 2009, mandou um e-mail para a instituição. Passados quatro meses, foi chamada para uma entrevista. “Tive que lembrar todo o inglês que estudei e tinha ficado guardado por muitos anos… O mais interessante naquele dia foi que eu precisava fazer uma carta de intenção. Nunca tinha feito uma e nem sabia por onde começar. Pensando em meus anos de experiência com HIV e tuberculose no Rio, deixei meu coração dizer que queria levar este conhecimento e ajudar as pessoas que necessitavam dele na África”, lembra a farmacêutica.

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indústria

Novas regras no pós-registro

Anvisa altera RDC 48/2009 para reduzir burocracia e tornar empresas corresponsáveis pelas alterações nos medicamentos Reduzir a burocracia, incorporar a análise de risco e tornar o setor de produção de medicamentos corresponsável na implementação das alterações e controle das informações de seus produtos. Esses são alguns reflexos da revisão da RDC 48/2009, da Anvisa, relativa ao pós-registro de medicamentos, aprovada em março pela diretoria colegiada da entidade. Segundo a agência, a RDC está de acordo com as exigências de pós-registro de órgãos reguladores da Europa, Estados Unidos e Canadá e foi aprovada após consulta pública, debates em reuniões da Diretoria Colegiada e conversas com representantes do setor regulado. Presidente-executivo da Associação da Industria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Antônio Britto lembra que as mudanças eram esperadas há anos pela indústria farmacêutica. “Ao longo dos últimos anos, essas operações de pós-registro passaram a ocupar a maior

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parte da atividade burocrática da agência, sem que necessariamente envolvessem risco sanitário ou questões relevantes. Por exemplo, a simples alteração do nome do farmacêutico responsável ou do formato da embalagem, exigia a formação de um processo e requerimentos à agência. Tudo isso ocupa a indústria, ocupa técnicos e provoca enormes filas na Anvisa”, diz o presidente da Interfarma. Britto avalia que a agência vai poder se libertar de até 70% do trabalho burocrático no setor de pós-registro, destinando mais recursos para questões relativas ao risco sanitário. “A filosofia da nova regulamentação foi de claramente separar o que envolve risco sanitário do que não envolve. O que não envolve esse tipo de risco, a nova regulamentação coloca sobre a responsabilidade do produtor de medicamentos. Nem por isso, eles vão deixar de ser fiscalizados. Voltando ao exemplo, agora a indústria apenas notifica que trocou o farmacêutico responsável, e não vai deixar de ser fiscalizada quanto a isso; multada ou punida, se cometer alguma irregularidade. E questões que envolvam diretamente o risco sanitário, como alterações nas fórmulas e nos equipamentos, essas continuarão dependendo de uma autorização prévia da agência”, completa ele. Entre as mudanças estabelecidas pela norma, estão processos diferenciados, segundo a complexidade e o risco sanitário dos produtos. “Uma mudança pós-registro pode afetar a qualidade, segurança e eficácia do medicamento, impondo um impacto maior ou menor,

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no que diz respeito ao risco sanitário, a depender das características do produto e do grau de complexidade da mudança. Com as novas regras, a Anvisa utiliza conceitos modernos de análise de risco e permite que se garanta a qualidade e segurança dos medicamentos com menos burocracia”, afirmou o diretor -presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, após a aprovação da revisão. Antes, as modificações do registro exigiam uma solicitação pela empresa e autorização da Anvisa, o que levava a 421 petições por mês. Até dezembro de 2015, havia um acúmulo de 5.052 petições. Em março, 5.015 petições dependiam de análise. “É uma mudança de paradigma: a Anvisa e o setor regulado vão compartilhar responsabilidades no campo do pós-registro de medicamentos de pouco risco potencial. Haverá maior celeridade nos processos, sem abrir mão da segurança e da eficácia dos medicamentos”, informou o diretor de Controle e Monitoramento Sanitário da Anvisa, José Carlos Magalhães Moutinho, no site da Anvisa, em março.

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orientação

Similares, genéricos e de referência Saiba quais são as principais diferenças entre estas categorias de medicamentos Medicamentos similares e genéricos já fazem parte do dia a dia do farmacêutico. Foram criados como uma alternativa aos medicamentos de referência, ou de marca, que estão há bastante tempo no mercado, são inovadores e, geralmente, foram os primeiros que surgiram para curar determinadas doenças. Confira abaixo as principais diferenças entre similares, genéricos e de referência.

De referência

Similares

Genéricos

É um produto inovador, registrado na Anvisa e com segurança e qualidade comprovadas cientificamente junto ao órgão federal. Em geral, está há bastante tempo no mercado e tem uma marca comercial conhecida.

Contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos, apresenta mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica.

Contém o mesmo princípio ativo, na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência.

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De referência

Similares

Genéricos

A lista de medicamentos de referência é periodicamente atualizada pela Comissão de Medicamentos de Referência. A Nota Técnica nº 46/ GGMED/Anvisa trata dos procedimentos adotados na realização dos critérios de indicação, inclusão e exclusão de medicamentos na Lista de Medicamentos de Referência.

É equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículo. A Anvisa disponibiliza uma lista com os similares intercambiáveis, que é atualizada mensalmente.

Apresenta eficácia e segurança equivalentes à do medicamento de referência podendo, com este, ser intercambiável. A intercambialidade só pode ser realizada pelo farmacêutico responsável.

Tem marca registrada e a patente pode durar de 10 a 20 anos.

Deve sempre ser identificado por nome comercial ou marca.

Tem denominação genérica do princípio ativo, não possuindo nome comercial.

É parâmetro de eficácia terapêutica, segurança e qualidade para o registro de outros medicamentos.

A apresentação dos estudos de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica é obrigatória desde 2003.

A apresentação dos estudos de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica é obrigatória desde 1999.

Confira a lista de genéricos no site da Anvisa

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Veja a lista de similares intercambiáveis

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transparência

O presidente do CRF-RJ, doutor Marcus Athila, na abertura do seminário

Improbidade em debate Seminário reúne conselheiros e advogados para discutir sobre aplicação da Lei 8.429/92 nos conselhos profissionais

Conselheiros e representantes dos departamentos jurídicos de diversos Conselhos Profissionais estiveram reunidos no Rio de Janeiro, no dia 8 de abril, para o evento “Improbidade administrativa no âmbito dos Conselhos Profissionais”. O encontro, organizado pelo CRF-RJ, teve como objetivo integrar os Conselhos Profissionais, além de debater questões administrativas e a Lei 8.429/92. A abertura contou com a presença da presidente do CRF-DF, doutora Gilcilene El Chaer, do diretor tesoureiro do CRF-SP, doutor Marcos Machado Ferreira, e da presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia da 1ª Região, doutora Lúcia Provenzano. “Este assunto é de extrema importância. Quando se assume um conselho, o conceito é garantir que a sociedade tenha assistência de profissionais capacitados. E junto disso vem a gestão, que é uma responsabilidade muito grande”, disse a doutora Lúcia. Presidente do CRF-RJ, o doutor Marcus Athila comandou a mesa de abertura, e destacou a importância a atualidade do tema.

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“A improbidade administrativa é um dos maiores males envolvendo a máquina administrativa de nosso país e um dos aspectos negativos da administração que mais justificam a implementação do controle social. A Lei de Improbidade Administrativa completa 24 anos de vigência, mas ainda gera muitas discussões”, afirmou o presidente do CRF-RJ, doutor Marcus Athila. Primeiro palestrante, o Ouvidor-Geral da Petrobras, doutor Mário Vinícius Spinelli, abordou os desafios no combate à corrupção e à improbidade administrativa. Auditor da Controladoria Geral da União (CGU), ele está no cargo desde janeiro e destacou a necessidade de criminalizar o enriquecimento ilícito, que é punível apenas no âmbito civil, e de reforçar o controle interno dos órgãos públicos. “Quando se fala em corrupção, a palavra que vem à cabeça é desconfiança. Mas a generalização de que é todo mundo corrupto é tudo o que o corrupto quer, pois ele vai para o mesmo balaio do honesto. Corrupção é um crime racional de custo benefício”, afirmou ele, destacando a ne-

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cessidade de atualizar a Lei 8.666, que regula as licitações na administração pública. Na sequência, o procurador federal em Santa Catarina André Bertuol tratou de questões relativas à gestão dos conselhos. Com exemplos práticos, ele citou casos relativos a eleições, orçamento, cargos comissionados, regime jurídico dos funcionários dos Conselhos, multas e transparência. “Existe um acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego para definir um percentual de comissionados. E é importantíssimo que o presidente tenha cargos de confiança. É aceitável que o assessor possa ser cargo em comissão, mas o procurador jurídico deve ser concursado em processo adequado. Já houve condenação por improbidade relativa a isso. Sobre a transparência, existe hoje uma série de diplomas que determinam isso, além de diversos programas sobre o controle interno que não são para atrapalhar o gestor. Muito pelo contrário, são para ajudar”, finalizou Bertuol. Delegado da Polícia Federal, o doutor Marcelo Daemon tratou das investigações sobre improbidade e da proximidade com a corrupção. Segundo ele, praticamente todo ato de improbidade configura, simultaneamente, crime contra a administração pública. “Muitas ações de improbidade são instauradas a partir de inquéritos policiais”, informou, lembrando que nos casos de improbidade, o próprio ente pode solicitar à Polícia Federal o inquérito para entrar com a Ação Civil Pública contra quem causou o prejuízo à administração.

Já o procurador federal Leandro Mitidieri fez uma apresentação sobre a colaboração premiada nos processos de improbidade. Ele salientou que atualmente já se admite o uso de provas colhidas no Processo Penal para fundamentar ações de improbidade, desde que respeitado o devido processo legal. Também, que a colaboração premiada é uma das formas mais eficientes de identificar um ilícito. Por fim, o Secretário de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (TCU) no Rio de Janeiro, doutor Márcio Emmanuel Pacheco, abordou a fiscalização do tribunal nos Conselhos Profissionais. Ele destacou que a função do TCU não é multar, mas se antecipar às falhas e informou que é preciso prestar contas. “A Constituição prevê que se entrou recurso público, tem que prestar conta. Há uma inversão do ônus da prova e o gestor tem que mostrar o bom uso do recurso. A atuação do gestor não pode ser nem para mais, nem para menos. Ele está sempre no fio da navalha”, completou. Entre os participantes do evento estavam representantes de diversos Conselhos Regionais de Farmácia, como os do Distrito Federal, de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Também, integrantes do Conselho Federal de Farmácia, Conselho Federal de Educação Física, Conselho Federal de Odontologia, além dos Conselhos Regionais de Nutricionistas da 4ª Região, de Museologia da 2ª Região, de Psicologia da 5ª Região, de Fonoaudiologia da 1ª Região, de Química da 3ª Região, de Engenharia e Agronomia do Rio, de Enfermagem do Rio, de Biologia da 2ª Região, de Fisioterapia, de Arquitetura e Urbanismo do Rio, da Secretaria de Estado de Saúde e da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária. “Hoje a preocupação dos Conselhos é a mesma dos órgãos de controle. Os CRFs são auditados pelo TCU. É importantíssima uma iniciativa como esta, prestando um serviço com esta relevância”, disse a farmacêutica Rossana Spiguel, conselheira federal pelo Acre.

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O ouvidor da Petrobras, Mário Vinícius Spinelli, diz que é preciso criminalizar o enriquecimento ilícito

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ensino

Estágio: os deveres do profissional Saiba quais são as tarefas que o supervisor do estudante deve realizar

A instituição onde você trabalha acaba de contratar um estagiário e seu chefe informa que você será o farmacêutico supervisor dele. Mas, quais são as atribuições de um supervisor de estágio? Além de orientar e acompanhar as atividades do estudante, existem outros deveres relacionados à função. De acordo com a Lei 11788/08, a Lei do Estágio, a instituição deverá elaborar e enviar à universidade um relatório, com periodicidade mínima de seis meses, com as atividades desenvolvidas pelo estagiário. “O supervisor deve ter formação ou experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente. Segundo a Cartilha de Estágio do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o supervisor tem a competência para orientar, acompanhar, gerenciar e avaliar as atividades práticas do estagiário, descritas no plano de atividades. Também, o supervisor deverá zelar pelo rigor ético e

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científico do estagiário, informando ao professor orientador em caso de ações inadequadas do mesmo. De acordo com a Cartilha de Estágio do CFF, a avaliação do estágio é necessária durante todo o desenvolvimento do processo de ensino/ aprendizagem, de forma a identificar se os objetivos propostos estão sendo alcançados”, afirma Luciana Ramires Ésper, professora da UFF e vice -presidente da Comissão de Ensino do CRF-RJ. O estudante de farmácia necessita realizar estágios nas áreas de atuação profissional do Farmacêutico, destacando-se as áreas de Medicamentos, Alimentos, Farmácia Social e Análises Clínicas. Contudo, ele não tem autonomia para desempenhar qualquer atividade, por isso o farmacêutico ou supervisor auxiliará e avaliará o estudante. “Eles devem observar e estimular o desempenho, interesse e disposição do aluno em aprender”, completa Sueli Fernandes, gerente de seleção e recrutamento da Fundação MUDES.

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Toda e qualquer atividade desenvolvida pelo aluno – manipular ou dispensar medicamentos, coletar materiais para análise, etc - deverá ser descrita no Plano de Atividades, para balizar as tarefas do estagiário. “O plano de atividades deverá ser feito em acordo pelas três partes envolvidas no processo do estágio curricular supervisionado, ou seja, pelo aluno, pela instituição de ensino e pela instituição concedente do estágio. O estágio curricular supervisionado é um ato educativo, desenvolvi-

do no ambiente de trabalho, que visa a preparação do estudante para o trabalho produtivo, uma vez que proporciona a aplicabilidade de conhecimentos teóricos-práticos através da vivência em situações reais da futura profissão, corroborando para a consolidação de competências trabalhadas ao longo da formação do estudante”, esclarece Andreia Bartachini, coordenadora do curso de Farmácia da Unigranrio e presidente da Comissão de Ensino do CRF-RJ.

Atribuições do farmacêutico Os farmacêuticos que vão atuar como supervisores de estágio devem ficar atentos à Lei 11.788/08. O estágio deve ser encarado como uma atividade de aprendizagem profissional, social e pessoal, que proporciona ganhos tanto para o estudante quanto para o profissional. Confira alguns pontos que o farmacêutico deve ficar atento ao contratar um estagiário.

Elaborar o perfil do estagiário e o plano de estágio

O plano de atividades do estagiário vai ser incorporado ao termo de compromisso e será complementado, à medida que o estudante for realizando as atividades e de acordo com o seu desempenho

Preparar a ambientação no local de trabalho

O ambiente de trabalho deve permitir a aprendizagem dos estudantes

Orientar o estagiário, estimulando seu desenvolvimento e participação

O estágio é um ato educativo escolar, com foco em situações práticas. O supervisor deve atuar de forma a permitir a aplicação prática da teoria aprendida na universidade.

Avaliar o desempenho

Além da avaliação semestral determinada pela lei, o farmacêutico também deve dar retorno constante sobre a atuação do estagiário, orientando, instruindo e contribuindo para a melhora da sua formação.

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agora é diferente

Reforço na Fiscalização Entrada de novos fiscais permitirá mais vistorias nos fins de semana, feriados e no turno da noite A equipe de Fiscalização do CRF-RJ ganhou um reforço no início do mês de abril. Aprovados no processo seletivo de 2015, três novos fiscais começaram a trabalhar no setor. A medida fez subir de sete para dez o total de profissionais em atividades externas. De acordo com o chefe de Fiscalização, doutor Marcos Alves, o reforço vai permitir que as inspeções à noite e nos fins de semana e feriados sejam mais frequentes.

menos mais dois serão convocados até o término do prazo de validade do processo seletivo, que é de dois anos, podendo ser prorrogado por mais dois.

“Com a convocação, vamos poder realizar inspeções em horários não tradicionais, além de aumentar o número de vistorias, principalmente na Região Metropolitana, que concentra 60% dos estabelecimentos do Estado do Rio. As ações de fiscalização são uma forma de garantir mercado de trabalho para o farmacêutico, pois devemos constatar a contratação obrigatória de farmacêuticos nos estabelecimentos de saúde”, afirma Alves.

Desde 2005 o CRF-RJ não realizava seleção para fiscal farmacêutico, função que só pode ser exercicida por concursados, pois se trata do exercício do poder de polícia. Neste período, cinco profissionais deixaram o cargo e, até este ano, não havia tido reposição, com o CRF-RJ com um número abaixo do necessário.

Antes de entrar em ação, os três fiscais passaram por um período de treinamento. Pelo

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“A ideia é contribuir com o farmacêutico, orientando e zelando pela ética da profissão”, diz Sarah Lopes, que foi convocada ao lado de Mayara Santos e Wagner Lucena.

No processo seletivo de 2015, 1.230 candidatos disputaram as cinco vagas para fiscais oferecidas, sendo que 181 na cota para Pessoas Negras ou Pardas (PNPs) e 11 na cota para Pessoas com Deficiência (PCD).

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informação técnica

Um espaço para tirar dúvidas CRIM UFRJ-Macaé inaugura nova seção na revista, produzida pelos Centros de Informação sobre Medicamentos do estado Manter-se atualizado é uma preocupação constante de todo profissional. Entretanto, diante da quantidade de informação disponível, é um desafio encontrar respostas para as questões que surgem diariamente. Para termos uma dimensão deste problema, destaca-se que somente a base PubMed engloba mais de 26 milhões de artigos da área biomédica (1). Já em 2010, eram publicados cerca de 75 estudos e 11 revisões sistemáticas por dia (2). Parece contraditório, mas apesar da quantidade de informações disponível, a falta desta ainda representa uma barreira aos cuidados de saúde nos países em desenvolvimento (3). Por isso, a partir desta edição, a revista Riopharma passa a publicar uma seção para divulgar informações produzidas pelos Centros de Informação sobre Medicamentos. Muitos dos problemas associados ao uso de medicamentos decorrem de falhas de conhecimento, tanto do profissional de saúde como da população. Com base na relevância do tema, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu como parte das intervenções para promoção do uso racional de medicamentos, a provisão de informação independente sobre medicamentos (4).

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Entretanto, o acesso à informação é comumente limitado pela habilidade do profissional em buscar dados em bases científicas, incluindo a escolha, uso das fontes e até mesmo a própria limitação da língua, uma vez que a maioria das publicações é escrita em inglês (5). A falta de cuidado ao observar detalhes como método empregado e a interpretação dos resultados de um estudo, pode fazer com que o profissional considere verdade tudo que está publicado. Portanto, é primordial olhar criticamente as conclusões de tudo que se lê. O quadro é ainda mais grave quando se considera que a maioria das informações sobre medicamentos recebidas pelos profissionais de saúde é produzida pela indústria, ou seja, tem como enfoque principal promover a venda do produto (4). Vindo de encontro a este problema, surgiu, já no ano de 1962, o primeiro Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) na Universidade de Kentucky (5). Estes locais têm como missão reunir, analisar, avaliar e fornecer informações atualizadas sobre medicamentos, de forma rápida, clara, objetiva e imparcial. O diferencial destes serviços é identificar e interpretar a informação científica de forma a adaptá-la a uma situação prática específica (6).

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No Brasil, por iniciativa do Conselho Federal de Farmácia e com apoio da Organização Pan-americana da Saúde, foi criado em 1992 o Centro Brasileiro de Informações sobre Medicamentos (CEBRIM). Em 2013 foi instituída a Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos (REBRACIM)(7). A REBRACIM coordena uma rede de centros colaboradores com a missão de produzir e divulgar informações sobre medicamentos visando garantir o seu uso racional no âmbito do Sistema Único de Saúde. Atualmente, a rede conta com 28 Centros distribuídos pelo país (8). Em termos práticos, as atividades dos Centros de Informação podem ser divididas em dois grupos: a informação passiva ou reativa, que é aquela fornecida pelo centro em resposta à pergunta do solicitante, e a informação ativa ou proativa, que corresponde a divulgação de informação do centro para seus usuários em potencial, através da produção de cartilhas, boletins e outros informativos. Portanto, pela abrangência de suas ações, os Centros são importantes apoiadores dos profissionais em suas práticas, respondendo

dúvidas específicas sobre situações reais e proporcionando atualização constante sobre temas de relevância através dos boletins e outros informativos produzidos. Certamente, o farmacêutico bem informado pode orientar melhor seu paciente e este, consequentemente, terá mais condições de lidar com seu tratamento, reconhecendo sua importância e riscos. Alguns estudos sugerem que a compreensão sobre a terapia farmacológica é, inclusive, um fator que influencia positivamente a adesão ao tratamento (9). Portanto, a busca de informações confiáveis deve ser prioridade para o profissional. Além dos Centros de Informação sobre Medicamentos, os profissionais também contam com o apoio dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATS). Estas unidades fornecem orientações específicas sobre procedimentos que devem ser adotados em casos de intoxicação (http://sinitox.icict.fiocruz.br/centros-de -informacao). Veja abaixo os contatos dos CIATS e CIMS do estados do Rio de Janeiro.

Referências 1.

US National Library of Medicine, National Institute of Health. PubMed [Internet]. PubMed. [citado 26 de abril de 2016]. Recuperado de: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed

2.

Bastian H, Glasziou P, Chalmers I. Seventy-Five Trials and Eleven Systematic Reviews a Day: How Will We Ever Keep Up? PLoS Medicine. 2010;7(9):e1000326.

3.

Organização Pan-americana da Saúde, organizador. Uso Racional de Medicamentos: Fundamentação em Condutas Terapêuticas e nos Macroprocessos da Assistência Farmacêutica [Internet]. 2015. Recuperado de: http://www.paho.org/bra/images/stories/GCC/urm_apresentacao.pdf?ua=1

4.

World Health Organization, organizador. Promoting Rational Use of Medicines: Core Components [Internet]. 2002 [citado 26 de abril de 2016]. Recuperado de: http://apps.who.int/medicinedocs/en/d/Jh3011e/5.8.html

5.

Vidotti CCF, Silva EV, Hoefler R. Centro de Informação sobre Medicamentos e Sua Importância para o Uso Racional dos Medicamentos. In: Gomes MJV de M, Reis AMM, organizadores. Ciências Farmacêuticas Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar. 2009.

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Centros de Informação sobre Medicamentos do estado do Rio CRIM UFRJ Macaé Envio de dúvidas e informativos nos seguintes canais: Site: http://crimufrjmacae.wix.com/crim-ufrjmacae Blog: http://crimufrjmacae.blogspot.com.br CRIM UFRJ Tel: (21) 3938-6619 Site: http://www.farmacia.ufrj.br/crim.html CRIM UFRRJ E-mail: crimufruralrj@gmail.com Site: https://sites.google.com/site/crimufrrj/

CEATRIM Tel: (21) 2629- 9572 E-mail: cim.uff@vm.uff.br Centros de Informação e Assistência Toxicológica Centro de Controle de Intoxicações – CCIn de Niterói Tel: 0800 722 6001 (emergência)/ (21) 26299253 / (21) 2629-9251 E-mail: ccin@huap.uff.br Atendimento 24 horas

6.

Amundstuen Reppe L, Spigset O, Schjøtt J. Drug Information Services Today: Current Role and Future Perspectives in Rational Drug Therapy. Clinical Therapeutics. 2016;38(2):414–21.

7.

Brasil, Ministério da Saúde. Portaria no. 2647 de 4 de novembro de 2013 - Institui a Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos.

8.

REBRACIM. Membros da REBRACIM [Internet]. Rede Brasileira de Centros e Serviços de Informação sobre Medicamentos. [citado 20 de fevereiro de 2016]. Recuperado de: http://portalsaude.saude.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=12738&Itemid=729

9.

Tae CH, Jung S-A, Moon HS, Seo J-A, Song HK, Moon CM, et al. Importance of Patients’ Knowledge of Their Prescribed Medication in Improving Treatment Adherence in Inflammatory Bowel Disease: Journal of Clinical Gastroenterology. fevereiro de 2016;50(2):157–62.

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Cromatografia e sua evolução

artigo

Robson Roney Bernardo Vice-presidente do CRF-RJ Uma das áreas de maior crescimento, tanto científico, em número de trabalhos publicados, como no mercado, com inúmeros aparelhos e técnicas, é a cromatografia. A cromatografia, hoje, tanto para uma indústria farmacêutica como para um laboratório acadêmico para determinada área, é fundamental para o crescimento e conformação de resultados, bem como sua qualidade desta. Diria que a cromatografia tem um crescimento exponencial se compararmos a descoberta inicial feita por Michael Tsweet por volta de 1903. Talvez ele não tenha ideia de sua descoberta e suas consequências, bem como seu legado para os nossos dias atuais. A cromatografia, na qual realiza seu processo de separação dos analitos dentro de uma matriz, utiliza os conceitos básicos como a fase móvel, podendo ser um gás ou solvente, e uma fase estacionária, que ocorreu uma grande evolução e revolução tanto nos tipos quanto no tamanho e forma física. Inicialmente, em sua descoberta, os problemas eram de caráter mais simples, como a detecção dos vários pigmentos da clorofila e suas cores e, hoje em dia, aparecem problemas mais complexos, como a detecção de analitos em um fio de cabelo, análise de uma urina de atleta que pode estar usando alguma substância proibida e alterando sua performance em campo ou, ainda, a bioequivalência de um medicamento, utilizando a dosagem de um plasma em um ensaio clínico. Nos dias atuais, os problemas modernos têm influenciado a cromatografia assim como sua complexidade, tanto na matriz como em sua quantidade a ser detectada. A matriz pode ter vários níveis de complexidade, que muitas vezes são os desafios do analista no que tange à recuperação e ao clean up da amostra, ou seja, a limpeza desta sem perder de maneira quantitativa o analito em questão. Outro desafio seria a quantidade de analito a ser detectada. Cada vez menor, em matrizes mais complexas, seja em sistemas aquáticos, fluidos sanguíneos e tecidos. Para isto, vários investimentos em nível de detectores foram feitos, como o DAD (Diode Array Detector), sendo utilizado em uma varre-

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dura de comprimento de onda, ou ainda a utilização do detector de massas em um aparelho mais complexo e poderoso LC-MS (cromatografia líquida acoplada com espectrometria de massas). As amostras ficaram mais complexas como os aparelhos também, assim como os custos na operação, treinamento e os suprimentos de cromatografia, como coluna, solventes, gás, cartuchos de fase sólida. Nos dias atuais, a cromatografia move uma legião de requisitos que não só envolve os aparelhos e sua manutenção e sim os consumíveis deste. Talvez um grande desafio esteja relacionado à química verde (green chemistry), principalmente quando falamos em cromatografia líquida de alta performance (CLAE). O que faremos com o solvente consumido pelos aparelhos? Como descartamos? Qual o custo disto? Podemos pensar em uma grande indústria farmacêutica que pode possuir vinte aparelhos que trabalham diariamente, em um fluxo, por exemplo, de 1 ml/minuto que pode consumir 60 ml de algum solvente ou mistura deste em 8 horas de trabalho 480 ml para uma aparelho e em vinte máquinas 9600 ml por dia sendo um custo de consumo, armazenamento e descarte. Uma descoberta visando diminuir a quantidade de solvente e uma melhor análise foi o advento do UPLC (Ultra Performance Liquid Chromatography), que utiliza uma pressão maior e uma partícula da coluna bem menor, fazendo uma melhor resolução, mais rápida e um menor consumo de solvente. Nos dias atuais de complexidade analítica, há uma grande necessidade não só de investimentos nos equipamentos, nos consumíveis destes, mas também nos treinamentos de pessoas e sua capacitação, onde a tecnologia não é somente da técnica e sim das pessoas e analistas envolvidas. A cromatografia é mais que uma ferramenta que separa os analitos e quantifica, é uma ciência que cada vez mais evolui conforme as nossas necessidades. 1.Collins,C.H. Michael Tswett e o nascimento da Cromatografia. Scientia Chromatographia 1 (2009) 7-29.

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acadêmicos

Envie seu artigo científico A Revista RIOPHARMA já está recebendo artigos científicos para publicação nas próximas edições. Desde março, a revista conta com o International Standard Serial Number (ISSN), um número de série reconhecido internacionalmente que identifica publicações e é usado como parâmetro de qualidade para revistas científicas. As regras para publicação estão disponíveis no link www.crf-rj.org.br/artigos/normas. Serão considerados trabalhos que cubram as áreas tradicionais da Farmácia bem como artigos sobre Ensino de Farmácia, História da Farmácia, Política Científica, etc, além de artigos de áreas afins, desde que tenham acentuado conteúdo farmacêutico. Os trabalhos deverão se enquadrar numa das seguintes modalidades: artigos originais, artigos sobre educação, assuntos gerais, artigos de revisão ou publicação de ensaios clínicos. Além disso, será possível submeter artigos em três idiomas: Português, Inglês e Espanhol. Os trabalhos serão analisados pela Comissão Científica da Revista, composta pelo vice-presidente do CRF-RJ, doutor Robson Roney Bernardo, pela conselheira Maria Eline Matheus e pelos doutores Andreia Bartachini, Carlos Augusto Freitas Peregrino, Carmelinda Monteiro da Costa Afonso, Cleverton Kleiton Freitas de Lima e Lúcio Mendes Cabral.

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