Anais ciis 2013 vol 3

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Anais do 1º Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia como Vetores da Sustentabilidade

Organização Vivian Aparecida Blaso S.S. Cesar Sasquia Hizuru Obata

São Paulo Vespa Comunicações 2013


C4902

Anais Anais do 1° Congresso Internancional de Inovação e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia como Vertores da Sustentabilidade / Originou-se no Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade, 1; Iniciativa da Agência de Comunicação Conversa Sustentável; Revista Sustentabilidade; apoio da FATEC Tatuapé Victor Civita. – São Paulo: Vespa Comunicação, 2013. – 344 p.: il, grafs e tabs.

978-85-67085-02-9 Referências bibliográficas.

1. Ciência. 2. Tecnologia. 3. Sustentabilidade. 4. Congresso Internacional de Sustentabilidade, 1. I.Título. II. Agência de Comunicação Conversa Sustentável. II. Revista Sustentabilidade. III. FATEC Tatuapé Victor Civita. CDD 600 CDU 6





SUMÁRIO VOLUME III Capítulo 8: Práticas e processos organizacionais A importância da participação nas autarquias locais - José Fidalgo Gonçalves e José Elias Ferreira Ramalho Benefícios percebidos pela adoção dos sistemas de colaboração - Marcos Alexandre dos Reis Cardillo, Márcia A. Vieira Silva e Luiz Daniel Matsumato Gestaõ Socioambiental - avaliaçaõ das praticas ́ para a sustentabilidade na industria ́ - Henrique Martins Galvão Subjetivação e Novos Indicadores de Performance: Contribuições para uma nova Ferramenta de Monitoramento em Sistema Integrado de Gestão (2Q’s) - Karla Rocha Carvalho Gresik e Milton Ferreira da Silva Júnior Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt Capítulo 9: RSE e sustentabilidade: desafio Local, desafio Global Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da Responsabilidade Social Globalizada - José Quintal e José Ramalho Inclusão Social Corporativa - Henry Julio Kupty e Marta Hiromi Mendes O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros uma análise dos prejuízos ambientais e sociais desta atividade - Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata Rodrigues Teixeira e Renata Giovanoni Di Mauro Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental: um estudo de caso da COEPAD - Adriana Regina Espíndola, Rosane Cristina Jacques e Susany Perardt Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O Desenvolvimento Regional – O Caso Da EDIA, S.A. - Maria Luísa Silva e Doutora Fátima Jorge Capítulo 10: Saúde, meio ambiente e desenvolvimento urbano A integracao ̧ ̃ dos setores para transformar o lixo numa solucão ̧ socioambiental - Letícia Vilela de Aquino Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de microfiltração - Julyanna Damasceno Pessoa, Cristiane Macedo Rodrigues, Kepler Borges França e Taline Sonaly Sales dos Santos Avaliacao_da ̧ ̃ vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira na cidade de João Pessoa (PB) - Mônica Maria Souto Maior e Gesinaldo Ataíde Cândido Impact of the new national solid waste strategy on waste management in Palmas, Brazil - Olívia Marques e Gareth Swift Responsabilidade Social Empresarial - estudo de caso do processo de reciclagem do Pão de Acúcar ̧ Camila Leite e Julia Affonso


CapĂ­tulo 8: PrĂĄticas e Processos Organizacionais


A importância da participação nas autarquias locais.1 José Fidalgo Gonçalves josefidalgo54@gmail.com CEIA – Centro de Estudos e Investigação Aplicada ISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências – Lisboa, Portugal)

José Elias Ferreira Ramalho Site: http://www.joseramalho.eu/ Email: ramalho1@gmail.com consultor@joseramalho.eu Twitter: @joseRamalho.PT Instituto de Desenvolvimento e Inovação Social (I.D.I.S MAIS) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Portugal.

“A evolução recente tem mostrado que, mais do que uma discussão em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, neste momento, é a questão prática de fazer acontecer a transição para a sustentabilidade que está na ordem do dia” (Costa 2012a:5).

A questão da participação e envolvimento das pessoas na definição e implementação de processos de transição para a sustentabilidade tem vindo a tornar-se um tema de grande relevância, tanto para a investigação académica como para as instituições nacionais e internacionais (e.g. Nações Unidas, União Europeia). Devido à sua relação de proximidade com as pessoas e ao facto de, pela sua legitimidade, se constituir como um agente fundamental na adoção de novos paradigmas de desenvolvimento, o papel da administração local ganha renovada relevância, particularmente e na mobilização das comunidades para as mudanças a efetuar. A própria Constituição da República Portuguesa, nos seus Princípios fundamentais, concretamente no Artigo 2.º - Estado de direito democrático -, visa “…a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa...” nomeadamente através do poder local, Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, que são os órgãos do Estado que estão mais próximos das populações. Mas o que mostram os dados empíricos é que as práticas participativas na administração local são muito ineficientes, conforme atestam os resultados do questionário que exploraremos neste trabalho e que foi aplicado às Freguesias do Distrito de Lisboa. Na realidade, os mecanismos de participação que existem na administração local são, por várias razões, ineficazes e obsoletos e não atingem os alvos que deveriam atingir, afastando as pessoas dos processos participativos. Neste trabalho, pretende-se dar um contributo para a identificação de aspetos positivos e negativos sobre a implementação de “boas práticas” de sustentabilidade numa autarquia local, numa perspetiva assente em cinco dimensões – Governança, Economia, Cidadania, Social e Ambiente – inspiradas na ENDS (Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável), com enfoque nas vantagens da interligação e participação dos atores institucionais e individuais das esferas social, económica, cultural e política. Palavras-chave: Gestão, Autarquia, Desenvolvimento Sustentável, Participação. 1

Este trabalho é parte integrante da tese de mestrado em Gestão Autárquica defendida pelo primeiro autor, em Janeiro deste ano, no ISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências).


Introdução: A promoção e a implementação de processos participativos têm colocado vários desafios às instituições da administração pública, nomeadamente no que respeita à necessidade de construir novas formas de interatividade que promovam e facilitem a participação das pessoas e que resultem na institucionalização de procedimentos sistematizados de apoio à decisão e à formulação de políticas públicas. A responsabilidade de conseguir uma forma de vida sustentável é universal, envolve cada cidadão e requer que toda a sociedade aceite e intervenha nesse esforço de mudança (Castells 2004). A defesa dos interesses comuns, presentes na riqueza natural e social de uma comunidade, deve ser o mote para a partilha das responsabilidades e a razão para a implementação de medidas operacionais de transição para a sustentabilidade (Costa 2012), ou seja, para uma melhor qualidade de vida dos atuais e futuros cidadãos. Na perspetiva do aperfeiçoamento económico local, ao valorizar o papel das cidades como motores fundamentais de desenvolvimento e internacionalização, tornando-as mais atrativas e sustentáveis, de modo a reforçar o papel do sistema urbano nacional como dinamizador do conjunto do território (Lopes 2011). Países, concelhos e cidades passam por períodos prolongados de debilidade económica: desequilíbrio comercial, dívidas cada vez maiores, inflação elevada e desemprego. As fraquezas económicas geralmente medidas pela perda de população, pelo alto índice de desemprego, pela queda de receitas e dos investimentos, estão ligados à sorte das indústrias, dos recursos e produtos do local. Por razões diversas, de que se destacam crises sucessivas, económicas e de poder, o direito de participação e o dever de cidadania têm sido arredados do consciente de cada um, embora exista um sentimento comum para a procura de um novo modo de governação, uma pretensão muito discutida e ensaiada em vários pontos do mundo. Este desejo está exemplarmente expresso na Declaração do Milénio das Nações Unidas e do Consenso de Monterrey, onde se destaca a importância da governança para o desenvolvimento sustentável. Neste contexto entendemos que qualquer medida de sustentabilidade, para ser implementada, terá de acontecer sempre num qualquer local e, por isso, as intervenções que envolvam um conjunto significativo de parceiros públicos e privados, numa lógica de mobilização de atores diversos em torno de um projeto de


cidade, são propostas em que a questão do Governo Local ganha uma importância acrescida. Vários desafios se têm vindo a colocar às instituições públicas, nomeadamente quanto à necessidade de definir novos modelos de interatividade com o cidadão que permitam aprofundar e compreender uma relação, por vezes complexa (Mozzicafreddo 2007). A implementação da sistematização regulada de procedimentos numa organização assume-se como um projeto de validação dos atos administrativos praticados pelos órgãos autárquicos, o que se verifica ser insuficiente. As organizações não podem ficar apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia para o cidadão, sob pena de se perder o fio condutor da compreensão de um relacionamento complexo. Perceciona-se a necessidade de encontrar respostas para as necessidades dos cidadãos e das organizações da sociedade civil e das instituições públicas do aparelho do Estado. Torna-se imperativo pensar em cultura de qualidade como vetor chave da modernização administrativa e como forma de maximizar a probabilidade de sucesso dos compromissos assumidos, para que a organização se habilite a aprender e a adaptar-se ao meio ambiente com ética e transparência. (Azevedo 2007). Nesta nova era em que a administração local ganha renovada relevância, ouvir e interpretar as pretensões dos cidadãos e criar mecanismos de cidadania participativa, formais e informais, numa administração pública mais transparente, facilitadora do acesso dos cidadãos e do tecido económico aos serviços públicos é uma via indispensável ao cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento sustentável definidos, de-cima-para-baixo, nomeadamente pela União Europeia e pelos seus estados membros. (Abreu 2002, Costa 2012). Assim, poderemos concluir que, de facto, são necessários novos modelos de sustentabilidade territorial. É, igualmente, relevante, quando se pensa em novos modelos de desenvolvimento local sustentável, lembrar que a Democracia é, no seu fundamento, a relação entre cidadãos e a efetiva relação de comunicação com o seu representante eleito.


O trabalho empírico: Com o objetivo de analisar as políticas e modelos de gestão das autarquias no Distrito de Lisboa, deu-se especial atenção à forma de interação com a população. Foram enviados 226 questionários para as caixas de correio eletrónico oficiais das Freguesias constantes na listagem da Delegação Distrital de Lisboa da ANAFRE.

Metodologia: A EDS (Estratégia para o Desenvolvimentos Sustentável) institui, por um lado, o funcionamento em rede e, por outro, sugere uma linguagem de comunicação adequada à promoção e envolvimento de cidadãos e de agentes de desenvolvimento local, numa lógica de economia solidária e de democracia global, considerados comummente como essenciais para a satisfação das necessidades públicas e de promoção da liberdade de escolha dos cidadãos. De forma a tornar percetível uma leitura do global para o local e, ao mesmo tempo, permitir uma leitura sobre o estado de ‘Sustentabilidade’ do território políticoadministrativo, no conspecto de uma autarquia local, sugere-se a interpretação a seguir descrita (quadro 1), como forma de relacionar as medidas propostas na ENDS com a sua aplicação na instituição que rege a sua ação, com base na satisfação dos interesses da comunidade que representa. Quadro 1 – as cinco dimensões inspiradas na ENDS Governança Economia Social

Monitorizar a consistência entre políticas e o desempenho da autarquia. Monitorizar a Execução Orçamental. Monitorizar as dinâmicas de concretização para a coesão social.

Ambiente

Monitorizar a pegada ecológica da comunidade

Cidadania

Monitorizar a dinâmica organizada dos cidadãos (Gonçalves 2013)

Para desenhar uma ferramenta que ajudasse a avaliar a sustentabilidade das organizações autárquicas, foi feita uma pesquisa ao existente e, em Portugal, não conseguimos detetar nenhuma ferramenta adequada aos objetivos propostos para este trabalho. Assim, de acordo com as premissas acima, elaborou-se um inquérito com o objetivo de auscultar a opinião dos autarcas de freguesia do distrito de Lisboa. Optou-se pela construção de uma ferramenta com o formato de inquérito, procurando compreender,


qual a importância da participação no desenvolvimento sustentável das comunidades, partindo dos seguintes objetivos: Objetivo 1 - Caracterizar os objetivos de gestão, com enfoque principal nos mecanismos de interatividade com a população; qual o número de presenças de cidadãos nas sessões públicas organizadas pela freguesia; que mecanismos de controlo, sobre a gestão e sobre medidas orientadas para a sustentabilidade, estão implementados nas freguesias do Distrito de Lisboa. Objetivo 2 – Caracterizar necessidades, sentidas pelos autarcas, de mecanismos geradores de envolvimento do cidadão. Para tal, deixou-se uma questão, de espaço aberto, para sugestão de propostas de criação de estruturas (formais e informais) de interatividade com a população. Partiu-se, também, do pressuposto de que sustentabilidade corresponde a medir e revelar a responsabilidade perante as partes interessadas, internas e externas (cidadãos e organizações da sociedade civil, fornecedores e colaboradores), “bem como da análise intra e intergerações das diversas componentes que integram o projecto de desenvolvimento participado” (Bilhim 2004). Esta definição está refletida no “Relatório Brundtland” que apresenta duas componentes essenciais: (1) satisfação das necessidades sociais, económicas e ambientais da geração atual; (2) garantir que a qualidade de vida da atual geração não pode comprometer o bem-estar das gerações futuras.

Resultados: De seguida apresentam-se os resultados relativos a cada uma das componentes referenciadas na metodologia. Objetivo 1 – Para análise dos objetivos de gestão, considerou-se necessário perceber quais os sistemas informatizados existentes, para controlo do desempenho da organização. Desenhou-se uma bateria de possíveis: POCAL - Contas de gerência; Tratamento de reclamações; Gestão Documental; e Gestão de obras. Por outro lado, deixou-se espaço em aberto, para outros eventuais em uso nas freguesias. Colocou-se, ainda, a questão da existência de mecanismos de participação para os funcionários


apresentarem sugestões de trabalho. No gráfico 1, a seguir, são explanados os resultados obtidos. Gráfico 1: Recursos informáticos existentes para controlo do desempenho da autarquia

(Gonçalves 2013)

O controlo é informatizado (Gráfico 1), basicamente realizado de acordo com as diretrizes determinadas pelo POCAL (Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias Locais), embora um número significativo de autarquias já tenha implementado outros sistemas, nomeadamente de gestão documental e tratamento de reclamações. Apenas 7% dos inquiridos disseram ter ferramentas de gestão de obras. Quanto à pergunta sobre se existem mecanismos de participação para os funcionários poderem apresentar sugestões de trabalho, apenas quatro dos inquiridos respondeu afirmativamente. (1) Na questão seguinte pretendia-se saber qual o número de presenças de pessoas em sessões públicas de Junta e de Assembleia de Freguesia, sabendo que anualmente são obrigatórias doze sessões públicas de Junta de Freguesia (conforme nº 1 do art.º 30º do Decreto-Lei nº 169/99, de 18 de setembro, Alterado) e quatro sessões ordinárias para as de Assembleia de Freguesia (conforme o nº 1, do art.º 13º da mesma Lei nº 169/99). A partir dos dados constantes nos inquéritos recebidos, recolhemos informação referente aos três últimos anos (2009 a 2011), para perceber qual a média de presenças de cidadãos (Gráfico 2) em sessões públicas de Reuniões de Junta e de Assembleia de Freguesia.

Gráfico 2- Média anual, de presenças de pessoas, em sessões formais da autarquia (2009-2011)


(Gonçalves 2013)

Do seu resumo concluiu-se que participam em média anual 17 pessoas. De onde se pode extrair que, tendo em conta as dezasseis Sessões públicas anuais obrigatórias, apenas está presente, em média, uma pessoa por sessão. Não foi validado o ano de 2008, embora constasse no questionário, porque o número de respostas referentes a este ano foi de apenas cinco, do total de 29 inquiridos. (2) Pretendia-se, na questão seguinte, saber se as autarquias realizavam outro tipo de sessões não formais (e.g. fóruns) que envolvessem a participação de cidadãos e, caso afirmativo, quais e qual o número de presenças por sessão/ano. Neste propósito, as freguesias inquiridas indicaram as ações de comunicação diretas, através de reuniões presenciais com cidadãos, balizadas em quatro tipologias de encontros: (a) Projetos de execução no espaço público; (b) Movimento associativo; (c) Fóruns de esclarecimento; (d) Plenários da Rede Social Local. A maioria das freguesias não sabe ou não responde, apenas 28% das inquiridas respondeu e, ao mesmo tempo, registou o número de presenças de cidadãos em cada dos três últimos anos (2009-2011). No Gráfico a seguir regista-se a média anual, de presenças correspondentes às freguesias respondentes (28%). Gráfico 3 - Média anual, de presenças de pessoas, em sessões públicas informais

(Gonçalves 2013)


Conforme Gráfico 3, acima, a média anual, de presença de pessoas em sessões informais é de 108 pessoas por ano. Apesar do número reduzido de respondentes face ao universo, entendeu-se explanar os dados recolhidos, pelo significativo número de presenças de cidadãos registados nestas iniciativas. Embora não permita chegar a conclusões seguras, mostram a linha de tendência favorável para a presença de pessoas em sessões informais. Trabalho que, no futuro, poderá merecer um estudo mais aprofundado. (3) Pretendia-se

saber

se

informa

regularmente

o

público

sobre

ações/decisões/intervenções na freguesia e se sim, quais os meios utilizados e os seus custos associados. As autarquias informam a população das suas atividades e decisões, sobretudo, através de Editais e comunicados, expostos em lugar do costume (painéis informativos). Para além deste procedimento comum, têm outros meios para comunicar com a população que, de acordo com o mencionado nas respostas, se dividem em três grupos principais, conforme gráfico a seguir: Boletins informativos ou jornais institucionais; Página internet oficial; e Página facebook. Gráfico 4 – Meios de comunicação, mais regulares, com o público

(Gonçalves 2013)

A maioria das freguesias (83%) tem página internet própria, 62% edita boletins ou jornais informativos e 21% das freguesias inquiridas utilizam a rede social facebook para comunicar com a população. Sobre os custos associados, responderam 34% dos inquiridos, registando um valor médio anual de despesas é de €10.997,20/ano, para informar o público das ações/atividades/intervenções nas freguesias.


(1) Outra questão fundamental, para o desenvolvimento deste trabalho, era perceber se existia alguma bateria de indicadores para avaliação/monitorização de políticas de desenvolvimento sustentável. Em caso afirmativo solicitava-se que indicassem se correspondiam às cinco dimensões apresentadas; Ambiente; Social; economia; Cidadania; e Governança. Nenhum dos inquiridos respondeu a esta questão. Nenhuma das autarquias definiu indicadores e não realiza qualquer controlo sobre medidas de transição para a sustentabilidade de implementação no terreno. (2) Perante esta possibilidade achou-se pertinente perguntar, se não existindo mecanismos de controlo, tinham implementado no terreno, medidas orientadas para a sustentabilidade e quais. Esta questão foi respondida e está registada conforme o gráfico 4, a seguir, demonstra. Gráfico 4: Medidas, implementadas no terreno, orientadas para a sustentabilidade

(Gonçalves 2013)

A recolha seletiva (69%) e consumos de água (52%) são indicados, como merecendo a maior atenção por parte das autarquias. Na generalidade, as freguesias, têm implementado medidas de transição para a sustentabilidade, sobretudo em ações direcionadas para a poupança de água, eficiência energética e recolha seletiva de resíduos. Do resultado, salienta-se, ainda, os 10% das freguesias inquiridas que já implementaram o ‘Orçamento Participativo’ (Gráfico 4).

Objetivo 2 - Com esta questão pretendia-se desafiar o autarca a opinar sobre a necessidade ou não de estruturas de interatividade com a população, e, em caso afirmativo, que modelo de mecanismos, formais ou informais, sugeriam para gerar


maior envolvimento dos cidadãos na vida das freguesias. Esta questão deixada em campo aberto, permitiu recolher uma diversidade de contributos, que se resume a seguir: Para além dos encontros formais, a manter ou incrementar regras diferentes que proporcionassem uma maior participação nas reuniões de Junta e Assembleias dos cidadãos, de acordo com as opiniões inscritas nos questionários respondidos pelas freguesias do distrito de Lisboa, deveria, também, existir outro tipo de encontros não formais, envolvendo a sociedade civil local. Consideram estes encontros informais, como positivos e essenciais para a gestão autárquica “Promover sessões/discussões e outro tipo de ações fora das instalações da Junta, ou seja, tentar o contacto direto com a população na rua ou nas instituições e coletividades” (Gonçalves, 2013) e, por isso, procuram responder de forma positiva, tendo sempre em linha de conta as reclamações ou sugestões que lhes são dirigidas. Um maior envolvimento da população nos assuntos da autarquia produzirá o “melhoramento da imagem das autarquias e respetivos órgãos” (Gonçalves, 2013). Sentem a mesma necessidade da promoção de encontros entre freguesias contíguas, para debater, partilhar experiências e encontrar soluções e sinergias, entre autarquias de características similares e vizinhas. Discussão, conclusões e futuras linhas de investigação É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição das necessidades verdadeiramente importantes para as comunidades da eficiente implementação das suas próprias decisões. Neste sentido, o aproveitamento desses contributos permite às autarquias trabalhar de forma mais eficiente e objetiva, poupando recursos ao estado. Constata-se, porém, que a pouca participação das pessoas na gestão da ‘coisa pública’ se transforma numa limitação com custos elevados para todos pois, ao não participarem, as pessoas permitem que a ‘máquina do estado’ seja adulterada em favor de certos grupos de interesse. Com efeito, o que se verifica é que a participação mais comum por parte dos cidadãos é centrada no indivíduo e nos seus próprios problemas e não nos problemas comuns a toda a comunidade, o que se traduz na transformação da participação orientada para o bem comum numa prática de reclamação, o vulgo ‘queixa’. Este tipo de comportamentos é resultante não só das


pessoas, mas também da forma como as instituições funcionam ou suportam esses mesmos comportamentos no dia-a-dia. Os grandes desafios do século XXI pedem novas estruturas de participação que sejam mais ‘user friendly’, mais diversas e cosmopolitas que facilitem o envolvimento de todos os segmentos da sociedade (Gonçalves e Costa, 2013). A criação de condições de facilitação dos processos participativos é da maior importância pois só com a participação dos próprios destinatários das políticas públicas é possível ter um estado mais capaz de responder aos desafios da transição para a sustentabilidade. A preocupação com a sustentabilidade e qualidade de vida dos cidadãos tem vindo a assumir importância, tanto no contexto mundial como no europeu. Esta ideia está sustentada no primeiro princípio da “Declaração do Rio”, aprovada na Conferência realizada no Rio de Janeiro (Brasil) em 1992: “os seres humanos estão no centro das preocupações do desenvolvimento sustentável. Eles têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza”, (http://www.un.org/). O relatório da “Visão 20502” (em português), datado de Fevereiro de 2010, publicado pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), “É um apelo à continuação do diálogo e um apelo à acção. Vai ser precisa colaboração, convicção e coragem, para visualizar e implementar as mudanças radicais necessárias”. Este apelo é dirigido aos governos e sociedade civil de todo o mundo, para que se envolvam com uma, ainda, maior proximidade, em direção à sustentabilidade. Em Portugal, inspirado nos princípios subjacentes à Agenda 21 Local, o Projeto ECOXXI, procura reconhecer as boas práticas de sustentabilidade desenvolvidas ao nível de autarquia, valorizando um conjunto de aspetos considerados fundamentais à construção do Desenvolvimento Sustentável, alicerçados em dois pilares: A educação no sentido da sustentabilidade e a qualidade ambiental. Desta forma, a ECOXXI, procura motivar as autarquias, para a importância do seu papel enquanto parceiros e agentes do processo para promoção do desenvolvimento sustentável. Na última edição do ECOXXI 20123, participaram 29 dos 308 municípios existentes em Portugal. Relativamente aos municípios envolvidos e tendo por base de aferição os indicadores constantes do Projeto que compõem um índice global de sustentabilidade, 2

http://www.wbcsd.org/pages/adm/download.aspx?id=5895&objecttypeid=7 (acedido em 23.07.2012)

3

http://www.abae.pt/ECOXXI/index.php?p=municipios&s=participantes&u=2012. Acedido em 05.maio.2013.


decidiu a Comissão Nacional atribuir 28 bandeiras verdes (a todos os municípios com pontuação superior a 50%). Destacaram-se como os municípios mais pontuados em 2012: Loulé, Vila Nova de Gaia e Águeda. É neste contexto que a administração local ganha renovada relevância, particularmente devido à sua relação de proximidade com as pessoas. Por outro lado, a necessidade de mudança e de cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento sustentável desenhadas a nível nacional e regional, nomeadamente pela União Europeia e pelos seus estados membros, torna indispensável ouvir e interpretar as pretensões dos cidadãos e criar mecanismos de participação, formais e informais, mais transparentes e facilitadores do acesso das pessoas e do tecido económico e social aos serviços públicos e vice-versa, destes às pessoas e ao tecido económico e social nacional e internacional (Abreu 2002, Costa 2012). Francisco Costa objetiva que “mais do que uma discussão em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, neste momento, é a questão prática de fazer acontecer a transição para a sustentabilidade que está na ordem do dia” (Costa 2012:5). Ao caracterizar as autarquias do distrito de Lisboa, percebe-se que o trabalho de uma autarquia é, sobretudo, gerir processos e mediar conflitos entre cidadãos e entre organizações locais; percebe-se que na sua maioria, as autarquias estão estruturadas para a “solução” imediata do problema e não para a análise de causas que lhe estão associadas. A gestão é realizada numa ótica da prestação de serviços e o sistema de controlo informatizado é, basicamente, realizado de acordo com as diretrizes determinadas pelo POCAL. O mecanismo mais usual é o portal internet, onde são disponibilizados serviços online. O recurso de interatividade mais comum é o correio eletrónico, normalmente direcionado para o responsável de área, onde o cidadão pode apresentar reclamações, sugestões e solicitar serviços da autarquia. Presumindo-se daqui, mais uma vez, que as autarquias estão estruturadas para a solução imediata do problema e não para a análise de causas que lhe estão associados. As autarquias registam uma fraca afluência de população, quer em sessões públicas de executivo, quer de Assembleias deliberativas (média de 17 pessoas por ano). Na sua maioria, não existe qualquer outro tipo, mesmo informal, de encontros/reuniões coletivas com os cidadãos, com exceção de sessões de esclarecimento sobre projetos de intervenção no espaço público, na rua ou bairro onde pretendam realizar obras de


beneficiação/interesse para a população ali residente. Perceciona-se que mesmo quando há recetividade e investimento ao nível institucional, torna-se difícil promover a participação das pessoas. Razão para sugerir um estudo aprofundado sobre as motivações das pessoas, modelos de gestão em funcionamento nas autarquias, quer para os equipamentos coletivos, quer para as praças públicas, de forma a perceber a relação entre os esforços e alocação de recursos das autarquias e a utilização dos mesmos. Na ótica das autarquias, a falta de informação e o facto de não contribuírem para a elaboração dos planos de ação nacionais e internacionais, é apontada como a causa para a não existência de medidas de sustentabilidade implementadas no terreno. Depreendese uma necessidade do planeamento concertado à escala local, importante para os cidadãos e atores das comunidades, por razões de reforço da apropriação e aumento da resiliência, num planeamento direcionado para a empregabilidade, economia social/solidária, espaço público, eficiência energética, poupança de água e preservação dos recursos naturais, ou seja, na promoção do desenvolvimento local sustentável. Esta análise conduz à convicção de que as estratégias de desenvolvimento nas autarquias, terão de evoluir no sentido de aproveitar e explorar os aspetos favoráveis que os processos de globalização, económica, cultural e política, vão introduzindo, procurando criar condições para que essa globalização considere as prerrogativas do desenvolvimento local sustentável e possa ser uma resposta inovadora e capaz de contribuir, por um lado, para criação de novos modelos de desenvolvimento local sustentável e, por outro lado e concomitantemente, para dar resposta aos desafios da globalização contribuindo para o aumento da sustentabilidade e qualidade de vida local. Na mesma linha de raciocínio, pode-se concluir que as organizações não podem ficar apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia para o cidadão. A avaliação dos compromissos assumidos será a forma de aferir a estabilidade e desempenho da autarquia, não apenas com recurso a mecanismos de participação virtuais, mas incluindo outras dinâmicas formais e informais de comunicação (e.g. fóruns de deliberação para a construção de consensos), num exercício prático de democracia participativa. Da própria experiência autárquica retém-se que nas freguesias prevalece a necessidade de inovar, de encontrar novos princípios orientadores para a gestão pública. Estes


poderiam classificar-se em dois desafios distintos: a relação do custo/benefício da decisão política, que teria de passar por um controle ativo entre o investimento e o retorno; deveria ser seguido um modelo de gestão de cariz mais holístico, em que houvesse corresponsabilização entre todos os intervenientes e em que a ética e a criação de valor estivessem presentes. Desafio que se deixa para consolidar no futuro. Há questões que decorrem da produção legislativa e da falta de coordenação operacional sobre o território e que obrigam a uma ponderada reflexão. As razões assentam, sobretudo, na desconfiança do Estado sobre as pessoas e destas sobre o Estado. Nesta problemática está uma das ‘chaves’ para resolver, ou pelo menos minimizar, a controversa estrutura administrativa portuguesa; a outra, é a forma como cada um ‘olha’ (Governo, Autarcas e cidadãos), para as questões do ‘interesse comum’ e dos ‘bens comuns’. É sobre este conjunto de reflexões, que merecerá desenvolver um estudo aprofundado, se se quiser maximizar o relacionamento entre eleito e eleitor. É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição das necessidades sentidas e das prioridades a implementar. O aproveitamento desses contributos permitiria à autarquia trabalhar de forma mais objetiva e em consonância com o espírito e missão de uma autarquia local. O desenvolvimento sustentável revela-se como um modelo de desenvolvimento com possibilidades de garantir não só a qualidade de vida presente, como igualmente, permitir às gerações futuras a possibilidade de também elas, poderem organizar o seu próprio futuro. Contudo, este tipo de desenvolvimento implica mudanças profundas de carácter político, económico, social e cultural, sendo previsível que estas mudanças só sejam viáveis quando se conjugarem as ações individuais e coletivas incorporando as escalas local, regional, nacional e mundial. Assim, é importante desenvolver um sistema estruturado de comunicação que permita um diálogo continuado e interativo com o cidadão e agentes de desenvolvimento local. Não apenas com recurso a mecanismos de participação virtuais mas incluindo, também, outras dinâmicas formais e informais de comunicação. Um dos mais elevados valores destas estruturas da administração local é a proximidade ao cidadão! Então, por que razão é desprezado este potencial? Por que não instituir e promover novos mecanismos de participação na administração local que verdadeiramente envolvam as pessoas?


A categorização de uma tipologia de mecanismos de participação que sirva de orientação para a formulação de políticas públicas adequadas, sobretudo pela dificuldade de identificar, com rigor, fontes fidedignas que permitam aferir que práticas de participação estão a ser desenvolvidas nas diversas autarquias, seria de todo o interesse desenvolver em novos estudos que mostrassem (1) quais são atualmente as práticas participativas desenvolvidas pelas autarquias; (2) os seus custos associados (de participação e não-participação); (3) os seus resultados em termos de participação efetiva na gestão da ‘coisa pública’ e; (4) definir formas de instituir novos mecanismos de participação que sejam verdadeiramente inclusivos e que respondam eficazmente aos desafios da sustentabilidade.

Bibliografia de referência: Abreu, P. (2002), "New Information Technologies in Public Participation: A Challenge to Old Decision-making Institutional Frameworks".Submitted to the Department of Urban Studies and Planning in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of Doctor of Philosophy in Urban and Regional Planning, Massachusetts Institute of Technology (MIT) : Available: http://dspace.mit.edu/handle/1721.1/8521, acedido em 26.09.2011. Azevedo, A. (2007). Administração Pública. Modernização Administrativa. Gestão e Melhoria dos Processos Administrativos. CAF CIADAP. Grupo Editorial Vida Económica. Porto. Bilhim, J. (2004). A Governação nas Autarquias Locais. Coleção Inovação e Governação nas Autarquias. Sociedade Portuguesa de Inovação. Porto. Castells, M. (2004). A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa (Trabalho original em inglês publicado em 2001). Costa, F. (2012). Challenging states: Participation and Local Institutional Capabilities for Sustainable Development. Working Paper. CesNova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa. Gonçalves, J. (2013). O Desenvolvimento Sustentável e a Gestão da Qualidade numa Autarquia Local - Estudo de caso da Freguesia de Vila Franca de Xira. Tese de mestrado em Gestão Autárquica. ISEC – Instituto Superior de Educação e Ciências. Lisboa. Gonçalves, J. e Costa, F. (2013), ‘Mecanismos de participação para a sustentabilidade: o caso da autarquia de Vila Franca de Xira’. Gestão em Educação. Tenório, Robinson e Araujo, Maria. Universidade Federal da Bahia, Brasil (forthcoming) Lopes, E. e Esteves, J. (2011). Cidades e Desenvolvimento: Um domínio de potencial estratégico para a economia portuguesa. GET – Gabinete de Estudos da CGD. SAER. Mozzicafreddo, J. et al (2007). Interesse público, Estado e Administração. Celta Editora. Lisboa. PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano: Liberdade Cultural num Mundo Diversificado. Washington, D.C.. 2004. Acedido em 29.agosto.2011, em URL: http://hdr.undp.org/en/media/hdr04_po_complete.pdf Relatório “Visão 2050” publicado pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Acedido em data 30.junho.2012, em URL: http://www.wbcsd.org. (fevereiro 2010).


Testemunhos sobre ECOXXI. Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). http://www.abae.pt/ECOXXI/index.php?p=programaecoxxi&s=testemunhos. Acedido em 05.maio.2013.

Curriculum Vitae: −

José Fidalgo Gonçalves, Mestre em Gestão Autárquica pelo ISEC – Instituto Superior de Educação e Ciências, Lisboa, presidiu à Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira de 2000 até 2011, foi Coordenador da Delegação Distrital da ANAFRE de 2005 até 2011 e presidiu à Associação das Vilas Francas da Europa de 2004 até 2011. Atualmente é docente no ISEC, onde leciona a cadeira de Sistemas de Informação Municipal.

José Elias Ferreira Ramalho, mestrando em Gestão ISG (Instituto Superior de Gestão), pósgraduado em Gestão Pública pelo ISG e é licenciado em Gestão pela Universidade Internacional. Quadro superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão técnica 164: Responsabilidade Social e na Comissão Técnica 165: Ética. Membro da Comissão Nacional do Projeto ECOXXI. Certificado em Neuro Marketing com Neuro Map pela Sales Brain. Consultor nas temáticas da Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Comunicação, Redes Sociais, Administração Publica e Qualidade. Enquanto eleito, com o pelouro da Responsabilidade Social, integra o Executivo da Junta de Freguesia de Bobadela. Presidente da Associação Agentes Activos da Mudança.


Benefícios Percebidos Pela Adoção Dos Sistemas De Colaboração Marcos Alexandre dos Reis Cardillo, Márcia A. Vieira Silva , Luiz Daniel Matsumato

RESUMO Este estudo procurou identificar os resultados decorrentes da adoção de sistemas colaborativos, tais como: o VMI, ECR e CPFR na cadeia de suprimentos e entender o quanto estas ferramentas têm utilidade estratégica para a obtenção de vantagens competitivas. O artigo faz um resgate dos conceitos sobre colaboração, tecnologia de informação, sistemas de colaboração, estratégia e vantagem competitiva. A pesquisa realizada teve cunho qualitativo exploratório, envolvendo entrevistas em profundidade com gestores de empresas de grande porte e segmentos distintos no setor de tecnologia, varejo e, por fim, indústria que adotaram o modelo colaborativo eletrônico. Para a análise dos dados coletados nessas entrevistas, foi aplicada a análise de conteúdo, seguindo os procedimentos recomendados por Bardin (2007). Dentre outros, a investigação da pesquisa indicou que estes sistemas de colaboração promovem melhorias em processos, no gerenciamento de estoque, diminuição de custos e melhor acesso e compartilhamento de informações. Palavras-chave: Colaboração, estratégia, tecnologia de informação e vantagem competitiva.

ABSTRACT This study sought to identify the results from the adoption of collaborative systems such as VMI, ECR and CPFR in the supply chain and understand how these tools are useful to obtain strategic advantages. The article makes a rescue of the concepts of collaboration, information technology, collaboration systems, strategy and competitive advantage. The research was exploratory qualitative, involving interviews with managers of companies large and distinct segments in the technology sector, retail, and finally industry that have adopted electronic collaborative model. For the analysis of data collected in these interviews, we applied the content analysis, following the procedures recommended by Bardin (2007). Among others, research has indicated that the collaboration systems provide process improvements, inventory management improvement, it reduces costs and provides better access and sharing information. Keywords: Collaboration, strategy, information technology and competitive advantage


1 INTRODUÇÃO A ininterrupta busca pela competitividade faz com que toda organização trace estratégias para sobreviver e se desenvolver no mercado em que atua. Para ser pioneiro no mercado, segundo Porter (1997), faz-se necessária a adoção de estratégias das quais a empresa consiga diferenciar-se da concorrência e possa ser identificada como única, de modo que possibilite a conquista de vantagens competitivas em relação aos concorrentes. O valor que uma empresa consegue gerar para seus clientes pode ser obtido por atividades exercidas pela própria empresa, desde o desenvolvimento de um novo produto ou serviço, como um novo processo tecnológico em produção, ou até a entrega do mesmo ao consumidor. Porter (2004) propõe ainda mais duas estratégias que podem gerar vantagem competitiva: (a) diferenciação de produto e (b) liderança em custo, ressaltando que o enfoque e a decisão de quais estratégias a serem adotadas cabem a cada empresa. Por outro lado, a abordagem RBV (resource-based-view), defendida por Barney (1991), considera que a vantagem competitiva é assegurada pelos recursos da organização, ou o conjunto deles, e que tais recursos precisam ser valiosos, raros, insubstituíveis e difíceis de imitar. De acordo com Barney (1991), Squire et al (2009) complementam esta definição com a extensão da RBV e argumentam que recursos internos e externos são importantes para o desempenho organizacional. A colaboração é ressaltada pelos autores como um importante recurso externo para o aumento do desempenho no departamento de compras da empresa, onde a troca de dados por meio de um sistema colaborativo facilitam o gerenciamento do estoque, previsão de compras e redução de custos. As iniciativas de colaboração têm seu foco no planejamento tático/operacional na cadeia de suprimentos, tendo como objetivo os benefícios sobre um trabalho em conjunto entre os elos da cadeia, que não seriam possíveis individualmente. Observa-se no Brasil que todos os atores envolvidos diretamente em informações que possam propiciar valor para os consumidores finais, tratam a sua logística de forma individualizada. Outro aspecto a ser considerado é observado por Gonçalves (2009), que defende uma nova conceituação de logística, com base em inovações estratégicas mais colaborativas, que pode ser pressuposta com base na avaliação do arquétipo de quatro níveis hierarquizados, os quais ajudam a entender a complexidade e interdependência estrutural na construção de diferenciais competitivos. Estes níveis compreendem (1) recursos de infraestrutura, (2) fluxos de informação e decisão, (3) organizações e mecanismos de regulação, contratos, acordos e regras operacionais de arbitragem de conflitos de interesse, além de (4) princípios e modelos de negócios universalmente aceitos (GONÇALVES, 2009). Com base no segundo nível proposto no arquétipo apresentado por Gonçalves (2011), os sistemas colaborativos como o EDI, ECR e o CPFR podem orientar a decisão ao organizar prioridades no fluxo de informação correspondente aos sistemas de indústrias, comércio e serviços. Segundo Gonçalves (2009), as informações norteiam decisões que dão a lógica as ações operacionais, por meio de informações viáveis que


são elementos logísticos fundamentais nos processos que envolvem uma maior complexidade de forma integrada às operações internacionais. Sendo assim, saber como implementar ferramentas de colaboração eletrônica para que gerem resultados positivos é de suma importância, porém pode não ser suficiente. Cada empresa tem a sua forma de agir e quando os parceiros não investem em tecnologia a dificuldade pode ser ainda pior. O mercado estimula as empresas investirem em TI e otimizar os processos de troca, mesmo que os ganhos a princípio, não sejam almejáveis. Nesse contexto, a questão de pesquisa explorada neste trabalho é: Quais são os resultados obtidos pela adoção dos sistemas de colaboração? Este estudo tem por objetivo analisar os resultados decorrentes do processo de colaboração entre empresas do setor industrial, varejista e de tecnologia. Com base no referencial teórico, foram investigados dois principais aspectos: relatar como o sistema adotado afeta seus vários usuários na cadeia de suprimentos e Identificar possíveis mudanças de processos após a adoção do sistema. De forma complementar, propõe-se descobrir novos parâmetros e inovações tecnológicas por softwares mais utilizados no Brasil, que são recursos importantes como elos de integração rápida de informações, na relação entre produtores e fornecedores. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Aspectos da colaboração na cadeia de suprimentos Quando o termo colaboração entre empresas é utilizado, uma vasta opção de significados pode ser atribuída dependendo de autores e contextos diferentes. Para se diferenciar estes termos, nesta etapa da pesquisa, foi feita a revisão de vários textos sobre o assunto, com foco nos principais termos referentes à colaboração, como alianças estratégicas e cooperação de acordo com Moran, Souza, Boaventura, Marinho e Fischman (2010). Segundo Das e Teng (1998), Alianças Estratégicas são acordos de cooperação com o intuito de atingir objetivos estratégicos dos parceiros. Estas alianças, essencialmente, envolvem 2 ou mais parceiros para buscar objetivos compartilhados, sendo a cooperação vital para o sucesso da aliança. Das e Teng (1998) consideram a incerteza e a cooperação como os principais fatores que distinguem a aliança estratégica de outro tipo de estratégia individual. Nesta visão, a cooperação aparece como uma parte do que é chamado de aliança estratégica. Assim, Das e Teng (1998) definem, especificamente, a cooperação de parceria como a vontade de uma empresa parceira em buscar interesses mutuamente compatíveis em uma aliança, ao invés de agir de forma oportunista. Sendo o oportunismo exemplificado como trapacear, distorcer informações, esquivar-se de atividades, enganar parceiros, suprir com produtos/serviços abaixo do padrão, e apropriar-se de recursos críticos do parceiro. Já a cooperação de parceria é caracterizada por negociações honestas, comprometimento, fair play, e agir de acordo com os contratos.


Os autores citados também destacam a característica paradoxal da cooperação, pois através desta espera-se que as empresas busquem seus próprios interesses, mas simultaneamente elas precisam restringir esta busca natural, de modo que a aliança funcione. Assim, é proposto que sucesso da aliança seja encontrado através de equilíbrio entre competição e cooperação. Diferente da cooperação, a colaboração é definida pelos autores Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) como o processo de tomada de decisão entre organizações independentes envolvendo posse conjunta das decisões e responsabilidades pelos resultados. Este processo é baseado na criação relações de longo-prazo, desenvolvimento de capacidades complementares, engajamento em planejamento conjunto e compartilhamento de informações. Desta colaboração são destacados os benefícios de acessar novos mercados, novas tecnologias e habilidades, para a redução de tempo e custos operacionais para o mercado, e otimizar a performance geral da cadeia de suprimentos. Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) reforçam que o sucesso da colaboração depende da habilidade e desejo dos gestores para construir relacionamentos reais, criar confiança, e desistir de seu individualismo em favor de uma parceria mais colaborativa. Em resumo, a colaboração é potencialmente benéfica, mas é um relacionamento interorganizacional complexo. Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) seguem a mesma linha de Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) e apontam o grande crescimento da colaboração, pois companhias, em uma ampla variedade de indústrias, estão executando quase todas as etapas do processo de produção, da descoberta à distribuição, através de alguma forma de colaboração. Estes autores também se referem à colaboração como um tipo de aliança e que pode aparecer de diversas formas, variando de parcerias em P & D a Joint Ventures, a manufatura colaborativa, a complexos planos de comarketing. Este mesmo ponto de vista é compartilhado por Austin 2001. Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) ainda ressaltam que as razões para o crescimento na colaboração envolvem um pouco da combinação de compartilhamento de riscos, obtenção de acesso a novos mercados e tecnologias, velocidade de produtos para o mercado, e agrupamento de habilidades complementares. Como barreiras à efetiva colaboração são citados a falta de confiança entre as partes, dificuldade de compartilhar o controle, a complexidade de um projeto conjunto e diferentes habilidades para aprender novas técnicas. Reforçando o ponto de vista de Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003), Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) afirmam que motivos como adquirir recursos e habilidades, que individualmente não são atingíveis, são motivos para recorrer a colaboração. Como Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003), e Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) destacaram a complexidade e as barreiras à colaboração, respectivamente, assim como outros autores também o fazem. Corsten e Kumar (2005) afirmam que, apesar de relações colaborativas através de esforço conjunto dos parceiros criar valor único que nenhum deles sozinhos pode criar, existe


uma tensão entre maximizar tal valor e distribuí-lo entre os parceiros. Isso torna os relacionamentos colaborativos desafiadores para serem implementados na prática, principalmente se envolverem participantes poderosos. Hamel (1991) também demonstra as dificuldades da colaboração. Através de entrevistas, faz uma comparação entre a colaboração e uma corrida pelo aprendizado, pois ambas as empresas que trabalham em colaboração querem pegar o máximo de conhecimento que seu parceiro tem a oferecer, e quem consegue pegar o máximo mais rápido torna o outro parceiro desnecessário, pois este não é mais atrativo para trocar conhecimento. Uma sugestão de entendimento, proposto por Hamel (1991), de que parceiros em uma aliança competitiva podem, às vezes, tenderem a enxergar a colaboração como uma corrida/competição para inovarem primeiro, ao invés de um verdadeiro esforço de cooperação para realizarem juntos. Novamente, isso mostra evidencias de uma mistura não óbvia entre objetivos competitivos e colaboração. Corbett, Blackburn e Van Wassenhove (1999) destacam como dificuldade o histórico do relacionamento, pois eles citam o caso das empresas que, depois de anos explorando os fornecedores, através da criação de competição entre eles, encontram muita dificuldade para estabelecer parcerias. Deste modo, este artigo utiliza a definição de colaboração segundo Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) onde a colaboração é um processo de decisão conjunta e de compartilhamento de resultados entre os parceiros e leva em consideração possíveis dificuldades de implementação destacadas pelos outros autores. 2.2 A busca pela vantagem competitiva Existem algumas correntes explicativas sobre vantagem competitiva na literatura, como Barney (1997), que defende a teoria dos recursos, onde a fonte de vantagem competitiva se encontra, primariamente, nos recursos e nas competências desenvolvidas e controladas pelas empresas e, secundariamente, na estrutura das indústrias nas quais elas se posicionam. Para Barney (1997), as explorações desses recursos e capacidades precisam ser valiosos, raros, de difícil substituição e custosos de imitar. Esta teoria possui a estratégia orientada para o desenvolvimento e exploração dos recursos existentes. Em 1984, Wernerfelt publicou um artigo seminal sobre a teoria baseada em recursos. E o autor propôs que as empresas são feixes de recursos, que podem ser empregados para influenciar o desempenho. Enquanto Hamel e Prahalad (2002) defendem que a vantagem competitiva é obtida por meio de capacidades dinâmicas, onde rotinas e processos organizacionais são capazes de regenerar a base de recursos da empresa. Ainda segundo os autores, a concepção é extraída sobre o conjunto evolutivo dos recursos, competências e capacidades. A estratégia está direcionada para o processo e a interação entre competências e oportunidades de mercado. E de acordo com Lynch et al (2000), os autores concluíram que muitos estudos de recursos têm-se centrado na área de fabricação, mas a logística pode ser um novo


frontier. Os autores citam o Wal-Mart como um excelente exemplo de uma empresa com várias capacidades distintas que não podem ser facilmente copiadas e, para eles, tais capacidades reduzem significativamente os custos, por meio de altos níveis de eficiência. Para Lynch et al (2000), a redução de custos beneficia uma empresa financeiramente. Além disso, por que o sistema do Wal-Mart é difícil, se não impossível, de imitar? Os autores ressaltam que a empresa mantém, assim, uma vantagem competitiva no mercado. Não obstante, o Wal-Mart se esforça para ser um líder de custo como parte de sua estratégia de negócios, e sua vantagem competitiva é reforçada por meio da sua capacidade de logística distintiva. A vantagem competitiva em Porter (1997) é ressaltada pela busca do posicionamento ideal da organização na estrutura industrial, tendo como resultado a capacidade da empresa em atuar de forma eficiente em diversas atividades. O conjunto dessas atividades propicia uma base para a diferenciação, que pode surgir por meio de aquisição de matérias-primas a um custo mais baixo que o dos concorrentes, ou de relacionar essas atividades de uma forma singular, capaz de gerar um valor diferenciado aos compradores. Seguindo com Porter (2004), a vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores em comparação com seus concorrentes. O valor se dá por meio de estratégias de baixo custo ou diferenciação do produto, e é aquilo que os compradores estão dispostos a pagar. O valor superior provém da oferta de preços mais baixos que os da concorrência, por benefícios equivalentes, ou do fornecimento de benefícios singulares que mais do que compensam um preço mais alto. Porter (2004), tendo como objetivo o desempenho acima da média, destaca três tipos básicos de estratégias genéricas: (a) liderança em custo: vantagem por liderança no custo, ocorre quando uma empresa parte para ser o produtor de baixo custo de sua indústria, atuando em um escopo amplo, onde as fontes de vantagem de custo variam e dependem da indústria, a qual trabalha com preços equivalentes ou mais baixos do que seus rivais e mantém a posição de baixo custo, traduzindo-se em retornos mais altos. (b) diferenciação: no caso da diferenciação, uma empresa procura ser única em seu mercado, ao longo de algumas dimensões amplamente valorizadas pelos compradores. Ela seleciona um ou mais atributos que muitos compradores na indústria que consideram importantes, posicionando-se singularmente para satisfazer essas necessidades. (c) enfoque: já no enfoque, esta estratégia é bem diferente das outras, porque está baseada na escolha de um ambiente competitivo estreito dentro de uma indústria. O elemento em foco seleciona um segmento, ou um grupo de segmentos, na indústria e adapta sua estratégia para atendê-los, excluindo os outros. Assim, procura obter vantagem competitiva em seus segmentos-alvo, embora não possua uma vantagem competitiva geral. Entretanto, além de obter vantagem competitiva, também se faz necessário sustentá-la. Isso, sem dúvida, acrescenta novas complicações aos cenários dos negócios.


Por isso, verifica-se a força da relação entre estratégia e vantagem competitiva sustentável, pois, segundo Varadarajan e Jayachandran (1999), estratégia abrange as decisões que permitem a um negócio atingir e sustentar uma vantagem competitiva e manter ou melhorar sua performance. 2.3 A adoção da estratégia Com a finalidade de entender os pensamentos estratégicos, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), dividem os pensamentos sobre a formulação de estratégias em dez escolas, onde cada qual apresenta modelos básicos de planejamento estratégico, com base no pensamento estratégico de cada. O intuito desta avaliação é revelar, sobre o ponto de vista estratégico, a complexidade organizacional para implementar o conceito de colaboração, onde geralmente os modelos mais eficazes em gestão competitiva são aqueles onde as estratégias devem emergir, à medida que a organização se adapte ou aprenda com a situação atual. Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o estudo do pensamento estratégico deu origem às principais escolas do planejamento estratégico, as quais se apresentam divididas em três grupos, como seguem nas tabelas abaixo: ESCOLAS PRESCRITIVAS Escola Escola do design Escola do planejamento Escola do posicionamento

Descrição Formulação de estratégia processo de concepção Formulação de estratégia processo formal Formulação de estratégia processo analítico

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Tabela 1: Escolas Prescritivas Fonte: Elaborado pelos autores

ESCOLAS INTEGRATIVAS Escola Escola de configuração Tabela 2: Escolas Integrativas Fonte: Elaborado pelos autores

Descrição Formulação de estratégia processo de transformação


ESCOLAS DESCRITIVAS Escola Escola empreendedora Escola cognitiva Escola de aprendizado Escola do poder Escola cultural Escola ambiental

Descrição Formulação de estratégia processo de visionário Formulação de estratégia processo mental Formulação de estratégia processo emergente Formulação de estratégia processo de negociação Formulação de estratégia processo coletivo Formulação de estratégia processo reativo

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Tabela 3: Escolas Descritivas Fonte: Elaborado pelos autores

Com estas ressalvas, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) inferiram que o planejamento estratégico pode ser subdividido em três escolas de planejamento estratégico. As escolas prescritivas são mais preocupadas com a descrição do processo de formulação das estratégias, portanto, consideram os aspectos específicos do processo. As escolas descritivas entendem a formulação das estratégias pela ótica de um processo emergente de aprendizado. Portanto é notório que a formulação da estratégia poderá variar com base na interface conceitual dos objetivos estratégicos por tipo de repartição, corporação ou setor. À medida que se processam de forma contínua informações em cadeias, os diversos atores demonstram objetivos ou pensamentos estratégicos integrados por ferramentas de Tecnologia de Informação. Os estudos de Balakrishnan et al., (2008)sobre The Continuum Engagement Strategies inferem que há diversos tipos de engajamento que merecem mais atenção perante os stakeholders. Transacional

Transicional

Transformacional

Figura 01: As Estratégias de Engajamentos Contínuos. Bowen et al., (2008) Fonte: Adaptado pelos autores

Para análise da estratégia, é necessário esclarecer os tipos de engajamentos com stakeholders ao negócio:


Figura 02: Análise Estratégica Fonte: Adaptado pelos autores

A estratégia de envolvimento das partes interessadas pode ser definida como atividades interativas iniciadas por uma organização e seus stakeholders. A organização, tipicamente, tem muitas partes interessadas, e é a própria organização em si "um ator dentro da comunidade" (ISO 26000). Portanto, existem numerosas oportunidades para realizar envolvimento das partes interessadas, e muitas formas de iniciar um diálogo. Para elaborar uma estratégia de envolvimento com seus colaboradores, uma organização deve ponderar cuidadosamente sobre as relações que precisa construir e identificar todas as partes interessadas que possam ser afetadas por novos projetos ou negócios, os quais serão expostos de forma mais integrada ao conceito de sistemas de colaboração. Por exemplo, uma organização alinhando os objetivos estratégicos por meio do envolvimento das partes interessadas, pode agregar valor ao serviço, com base em recursos compartilhados além de criar suporte para suas ações estratégicas na cadeia. Ou seja, interagir por informações significa dizer que uma organização pode identificar e solucionar suas preocupações de forma proativa entre as partes interessadas. Neste entendimento, desde que ocorra colaboração, haverá maior acurácia dos riscos envolvidos com ou sem recursos tecnológicos, bem como os riscos resultantes de puro mal-entendidos, que são oriundos de ações não tecnológicas. 2.4 A Adoção da colaboração em tecnologia da informação Segundo Gonçalves (2009), a utilização de softwares para dar suporte às atividades logísticas teve grande aceitação nas mais diferenciadas áreas e atividades. Algumas destas áreas destacaram-se por ter de 90% a 100% das atividades controladas por estas ferramentas de TI, sendo as de maior destaque: (1) processamento de pedido, (2) sistema de administração fornecedor, (3) programação de compras, e (4) previsão de vendas. A grande colaboração de Tecnologia de Informação, doravante denominada como TI, inicia-se a partir da necessidade de atender o mercado varejista por meio de integração de informações diretas obtidas do mercado-alvo. A informação estratégica é o insumo da qualidade do conceito do processo colaborativo para incrementar melhorias por meio de aferição operacional dos resultados comparativos decorrente da comunicação direta com o campo, permitindo, a exemplo do mercado varejista, ações mais rápidas a partir do check-out da loja. Novas ferramentas de TI, quando integradas, corroboram com este conceito, o controle por meio do RFID – Radio Frequency Indicator Digital possibilitou, por meio do código de barras, o controle concorrente por meio do registro automático de transações em diversos setores, tornando a produção mais sustentável à medida que é possível produzir sabendo o que o consumidor está levando no momento da compra.


Entretanto, existem forças e resiliências às inovações em TI, o que impede maior colaboração. Para evitar tais barreiras, é necessário identificar a estratégia de participação dos stakeholders, antes de iniciar um processo de engajamento no CPFR. Isto pode significar maior transparência das metas por meio dos gestores, que devem considerar o tipo de relacionamento das partes interessadas, bem como o nível de envolvimento dos stakeholders nos resultados do negócio. O valor Baseado em Recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de gestão colaborativa RESILIÊNCIAS INOVAÇÕES Evitar transparência de KPIs na cadeia de Maximizar a rentabilidade suprimentos Minimizar o compromisso com Aumentar o giro e reduzir os excessos de planejamento conjunto estoque Os relacionamentos sao frequentemente Propor algoritmos de reposição contraditorios inteligentes Evitar baixos niveis de serviço/Redução Aumentar a visibilidade dos seus produtos de Estoques no ponto de venda Tabela 5: O valor baseado em recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de gestão colaborativa Fonte: Elaborado pelos autores

O entendimento de processos de inovações é extremamente importante ao negócio conforme o tipo de estratégia e mercado-alvo. Em práticas de atendimento varejista, possibilita controlar o inventário por meio dos sistemas de colaboração ao conciliar a informação da gôndola para o armazém, o que agrega valor com a redução de rupturas, ou evita-se de perdas de estoques nas lojas.

2.5 O histórico dos sistemas de colaboração Segundo Chen e Paulraj (2004) o termo Supply Chain Management (SCM) tem sido utilizado para explicar o planejamento e controle de materiais e o fluxo de informações, bem como as atividades logísticas, não somente internas a empresa, mas também externas. O SCM descreve assuntos estratégicos, interorganizacionais e também é utilizado para discutir alternativas para integração vertical, identificar e descrever relacionamentos desenvolvidos por uma empresa com seus fornecedores e lidar com a perspectiva de suprimentos e compras. Relacionadas ao SCM, existem diversas estratégias sobre o relacionamento entre uma empresa e seus fornecedores, que estão relacionadas à colaboração. A seguir, serão revisadas algumas das principais como QR - Quick Response, ECR – Eficient Consumer Response, VMI – Vendor Management Invetory e CPFR- Collaborative Planing Forecasting and Replenishment.


Segundo Harris, Swatman e Kurnia (1999), em meados de 1980 o conceito de manufatura JIT – Just in Time foi aplicado para a indústria têxtil e de equipamentos nos Estados Unidos, como uma forma de proteção a indústrias estrangeiras. O conceito Just in time (JIT) simplesmente envolvia entregar a matéria-prima na quantidade exata e no momento exato em que este fosse demandado. O JIT na indústria têxtil recebeu o nome de QR, e este conceito também inclui o compartilhamento de informações dos pontos de venda para as manufaturas, com o objetivo de melhorarem o fluxo de produção. O varejo percebeu o sucesso da abordagem do QR para gerenciar as informações da cadeia de suprimentos e propôs um sistema de reabastecimento de estoque semelhante, chamado ECR. Este tem origem em 1992, quando os supermercados começaram a estudar formas para conseguir sobreviver a novas concorrências. Como resultado, em 1993 foi criado o ECR, sendo introduzido no "US Food Marketing Institute Conference” em Janeiro de 1993. Esta estratégia considera transformar a cadeia de suprimentos do varejo de empurrada para puxada. Nela os parceiros formam novas alianças de relacionamento e o reabastecimento das lojas é baseado nas informações dos pontos de venda ou POS - Point of Sale (Harris; Swatman; Kurnia, 1999). O ECR requer um fluxo de informações em tempo adequado, acurado e sem papel, baseando-se fortemente na troca eletrônica de informações Eletronic Data Interchange EDI e alianças entre os membros da cadeia. O objetivo do ECR é retirar da cadeia os custos que não adicionam valor ao consumidor, para isso busca a eficiência nas 4 principais área de negócios: (1) Loja Eficiente, (2) Reabastecimento Eficiente, (3) Promoções Eficientes, e (4) Eficiente Introdução de Produtos. Dentre destas, a principal é o (2) Reabastecimento Eficiente, que representa mais da metade das economias projetadas para uma implementação de ECR. Para estas implementações é considerado necessário uma abordagem com CRP – Continuos Replenish Program (Harris; Swatman; Kurnia, 1999). Diferente do proposto por Harris, Swatman e Kurnia (1999), Corsten e Kumar (2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento e (3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto. Estes autores definem ECR como uma estratégia colaborativa de criação de valor, onde varejista e manufatura implementam práticas de negócio colaborativas com o último propósito de atender em conjunto, melhor, mais rápido e com menos custos, os desejos dos clientes. Corsten e Kumar (2005) ainda ressaltam dificuldades, pois apesar do entusiasmo inicial, uma década depois da origem do ECR um sinal de ceticismo começou a aparecer. Os fornecedores acreditam que os varejistas têm sido os principais beneficiados com o ECR. Assim, foi espalhado um sentimento de que o ECR é conveniente para os grandes e poderosos varejistas acharem formas de transferirem os custos de volta para os fornecedores. Outra estratégia sobre relacionamento comprador-fornecedor é o VMI este é definido por Disney e Towill (2003) como uma estratégia de cadeia de suprimentos onde o vendedor/fornecedor recebe a responsabilidade de gerenciar o estoque do cliente. Diferente de outros autores, estes consideram que todas as outras estratégias são


variantes do VMI, por exemplo, QR, SCR – Synchronized Consumer Response, CR – Continuos Replenishment, ECR, RR – Rapid Replenishment, CPFR e CIM – Centralised Inventory Management. Com relação aos objetivos do VMI, Marques, Thierry, Lamothe e Gourc (2010) acrescentam que, para o cliente, o objetivo é de assegurar alto nível de serviço ao consumidor com baixos custos de inventário. Já para o fornecedor, o objetivo é a redução nos custos de produção, estoques e transportes. É possível observar objetivos compartilhados, o que permite a criação de uma melhor colaboração entre parceiros e desta forma, conquistar os principais objetivos, fortalecendo os principais fluxos, agilizando a cadeia de suprimentos e reduzindo o efeito chicote. Estes autores afirmam que existe um consenso entre todos os autores sobre a essência do VMI, a qual é a transferência da responsabilidade do gerenciamento do estoque do cliente para o fornecedor. QR, ECR, JIT e CPFR são referenciados por Fiorito, Gable e Conseur (2010) como estratégias de gerenciamento do reabastecimento do inventário. Estes autores destacam o aspecto semelhante entre estas estratégias, em que eles afirmam que todas elas requerem integração adequada e colaboração entre compradores e vendedores com o objetivo de assegurar o sucesso da estratégia. O CPFR como outra importante estratégia é definida por Fiorito, Gable e Conseur (2010) com o objetivo de melhorar a precisão na previsão e atendimento das necessidades dos clientes, bem como uma tentativa, baseada na web, de coordenar varias atividades incluindo produção, planejamento de compras, previsão da demanda e reabastecimento do inventário entre parceiros comerciais na cadeia de suprimentos. 3 O ÂMBITO DE ESTUDO - EMPRESAS DO SETOR INDUSTRIAL, VAREJISTA E DE TECNOLOGIA. A indústria brasileira, segundo o Portal Brasil 2012, desde o início de suas atividades foi muito importante para a economia brasileira. Com relação às fases deste setor no Brasil, houve um processo de forte industrialização iniciado na década de 1950. Outro período de crescimento do setor foi entre, 1967 e 1973, chamado de “milagre econômico”, quando a produção industrial cresceu 13% e o PIB 12%. Posteriormente, a indústria passou por crise na década de 1980 devido à instabilidade da moeda nacional, entre outros fatores, como outros setores da economia. Na década de 1990, existe uma recuperação do setor industrial e o País dá continuidade ao processo de abertura comercial com redução de tarifas de importação e reformulação dos incentivos às exportações. A partir de 2000, o comércio exterior aumentou em um ritmo mais forte. O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos básicos, a diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade de produtos básicos são os fatores que favoreceram a indústria nesta década. Por exemplo, em 2007, segundo indica dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial subiu 6%, o melhor resultado desde 2004, quando a produção atingiu 8,3%. De forma semelhante, o setor de varejo também passou por diversas fases nas últimas décadas. Conforme Freitas (2011), o setor do mercado de varejo, sobretudo na última década, vem assumindo uma importância crescente no panorama empresarial do


Brasil e do mundo. Os varejistas têm ampliado sua participação no mercado brasileiro através de novas técnicas de gestão, assim, a competição tem se acirrado e estão sendo selecionados aqueles que conseguirão se permanecer no mercado. O setor passou por diversas fases da sociedade brasileira, como inflação, mudança de impostos, desenvolvimento da indústria de alimentos, urbanização e planos de estabilização. Assim, este é um setor que vem se modernizando e atualmente vem passando por um acelerado ritmo de consolidações. (FREITAS, 2011) O setor de softwares é mais jovem e, segundo Saccol e Antonini (2011), no Brasil este setor é considerado estratégico para o desenvolvimento nacional, pois em uma economia baseada no conhecimento, a importância da indústria de software é significativa, pois ela viabiliza a incorporação do conhecimento em produtos, serviços e sistemas, sendo importante também para a difusão de tecnologias de informação e telecomunicação entre organizações, instituições e a população. Assim, os setores de software e serviços cresceram quase 24% no Brasil em 2010 e o Brasil alcançou a 11ª posição no ranking mundial, tendo movimentado 19,04 bilhões de dólares, equivalente a 1,0% do PIB brasileiro. A amostra para realização deste trabalho constituiu-se de três empresas segmentadas no setor varejista, industrial e de tecnologia, nas quais duas são multinacionais e uma é nacional. O quadro a seguir apresenta as empresas pesquisadas e aspectos da pesquisa. Em todas as organizações, objetivou-se coletar dados referentes aos resultados no compartilhamento de informações por meio de utilização de sistemas, à luz do processo de colaboração. Empresa

Empresa 1

País / Nome dos Estado Entrevistados deOrigem (Iniciais) Brasil-SP RD

Empresa 2

Brasil-SP

AV

Empresa 3

Brasil-SP

BC

Função na instituição Diretor de compras Diretor Comercial Head delivery

Ramo de atividade

Data da entrevista

Varejo

07/06/2012

Indústria

13/06/2012

TI

09/06/2012

Quadro 1: Composição da Amostra Qualitativa Fonte: Elaborado pelos autores

A primeira empresa é uma companhia global com faturamento anual superior a R$ 23,4 bilhões de reais. Atua no mercado brasileiro há 17 (dezessete) anos, tendo como clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com aproximadamente 81,5 mil colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas operações em práticas do mercado varejista. A segunda é uma subsidiária brasileira de uma empresa global com foco de atuação na América Latina. A empresa possui faturamento superior a R$ 4,6 bilhões de reais ao ano, atuando no Brasil por 19 (dezenove) anos. Atende desde clientes de pequeno porte até grandes corporações varejistas. O seu quadro de funcionários conta com cerca de 9.000 pessoas, e a sua principal atividade é a fabricação de produtos alimentícios.


A última empresa pesquisada é uma companhia global com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão de reais. Atua no mercado brasileiro há 22 (vinte e dois) anos, tendo como clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com aproximadamente 7.300 colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas operações em consultoria, gestão de serviços de tecnologia e outsorcing. 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Método Qualitativo O método de pesquisa qualitativo pode ser definido como uma técnica que não utiliza meios estatísticos como base do processo de análise do problema estudado. Na pesquisa qualitativa, a preocupação não está em numerar ou medir variáveis, mas sim, em identificar tais variáveis (RICHARDSON, 1999). A pesquisa qualitativa procura avaliar a representatividade de um conjunto de atores que participará da pesquisa e geralmente não se preocupa com a quantificação e aleatoriedade da amostra estudada, sendo de real importância a obtenção de contatos com os potenciais participantes (TRIVIÑOS, 1987). Richardson (1999) considera que a opção pela pesquisa qualitativa se justifica quando se pretende entender um fenômeno social, descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar o processo. 4.2 Qualificação da Pesquisa Em Gil (2002), os estudos exploratórios têm como finalidade a formulação de um problema para realização de uma pesquisa mais precisa ou para a elaboração de hipóteses, que além destes aspectos, também possam possibilitar ao pesquisador a realização de um levantamento provisório do fenômeno que deseja estudar de forma mais detalhada e estruturada posteriormente (OLIVEIRA, 1999). Para Kochë (1997), a pesquisa descritiva estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um fenômeno sem manipulá-las. Pelo exposto anteriormente, verifica-se que os estudos descritivos procuram medir relações entre variáveis com precisão, enquanto os estudos exploratórios fundamentalmente são aplicados para a identiticação e descoberta de variáveis.

4.3 Processo Analítico Para o desenvolvimento deste estudo, efetuaram-se entrevistas em profundidade, utilizando-se um roteiro previamente definido. Para o tratamento e análise dos dados qualitativos obtidos durante as entrevistas e a realização dos objetivos da pesquisa, empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2007). 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO O desenvolvimento da análise de conteúdo foi dividido em cinco etapas, que estão descritas a seguir.


5.1 Etapa da Análise de Conteúdo – Identificação de Pontos-chave A identificação dos pontos-chave foi realizada após a leitura criteriosa do material resultante das transcrições das entrevistas. As transcrições foram os únicos documentos analisados, como parte da pré-análise. Nesta primeira etapa, efetuou-se a contagem das palavras e expressões mais utilizadas nas entrevistas, conforme quadro 2: Palavra/Expressão Diminuição de Custos Otimização de tempo e resultados

Empr1 4 6

Empr2 6 5

Empr3 4 6

Total 19 20

Aumento de produtividade Minimização de riscos Mudança de cultura organizacional

3 5 3

5 6 4

7 8 6

17 23 18

Acesso a novas tecnologias Fluidez e agilidade na comunicação Maior interação com fornecedores Fácil manuseio do sistema

2

3

1

07

5

6

8

23

3

4

6

18

2

3

1

07

Quadro 2: Palavras e expressões mais citadas nas entrevistas Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Os dados apontados no quadro 2 indicam as principais mensagens e pontos abordados pelos entrevistados, uma vez, que lhes foram direcionadas perguntas abertas, de modo que pudessem responder a elas abertamente. Observa-se que os respondentes enfatizaram a questão da redução no tempo de execução no processo, alto desempenho, redução de custos, acesso a novas tecnologias, gerenciamento do estoque, entre outros. Na sequência, elaborou-se uma matriz de pontos-chave versus perguntas. Essa matriz pode ser entendida como uma matriz de elementos básicos de análise. Para a sua elaboração, procurou-se observar as regras de exaustividade ou não seletividade do material lido (transcrições das entrevistas), conforme recomendado por Bardin (2007). 5.2 Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Unidades de Significado Identificaram-se, nesta etapa, os elementos intermediários de análise, denominados unidades de significado, a partir da matriz de pontos-chave. Para a criação dessa matriz foram agrupadas nela as principais ideias transmitidas pelos entrevistados. Efetuou-se o agrupamento, primeiramente por ordem de pergunta, depois por similaridade das respostas dadas em vários pontos da entrevista. Nomearam-se, então, as unidades de significado em função da similaridade das abordagens efetuadas pelos entrevistados. A codificação dessa matriz também teve como base a presença ou ausência de certos elementos e a frequência com que eles foram identificados (RICHARDSON,


1999). No total, foram obtidas 10 (dez) unidades de significados localizadas na matriz de unidades de significado, conforme indicado no quadro 3. Unidade de Significado

Nome

US1 US2 US3 US4 US5 US6 US7 US8 US9 US10

Aumento de desempenho Diminuição de custos com transporte Aumento no controle do estoque Acesso rápido às informações Controle efetivo dos processos de abastecimento Maior produtividade Reposição automática do estoque Satisfação nos resultados Redução de tempo Demonstração de resultados

Quadro 3: Unidades de Significado Identificadas nas entrevistas Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

5.3. Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Categorias Nesta etapa, agruparam-se as unidades de significados, com o objetivo de se criar uma matriz de Categorias. Essa etapa é conhecida, na literatura, como categorização. As categorias são rubricas, ou classes, que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) sob um título genérico, em função das características comuns desses elementos (BARDIN, 2007). Para a definição das categorias, procurouse fazer o agrupamento utilizando-se critérios semânticos, sintáticos, léxicos e expressivos recomendados por (RICHARDSON, 1999). Obteve-se, então, um total de 4 (quatro) categorias, conforme o quadro 4: Categoria

Unidade de Significado

C1 – Melhorias em Processos US1 – Aumento de desempenho (Melhorias decorrentes da adoção de US5 – Controle efetivo dos processos sistemas de colaboração) US6 – Maior produtividade C2- Gerenciamento do estoque (Maior visibilidade do estoque)

US3- aumento no controle do estoque US7- Reposição automática do estoque US11- Maior controle sobre excesso/falta de produtos

C3 – Diminuição em custos (Redução de tempo e de custos)

US8 – Satisfação nos resultados US10 – Demonstrações de resultados US9 – Redução de tempo US2 – Diminuição de custos com transporte


C4 – Acesso e compartilhamento de US4 – Acesso rápido às informações Informações (Acesso à informação) Quadro4: Categorias Identificadas nas entrevistas Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

5.4 Etapa da Análise de Conteúdo - Análise dos resultados Nesta etapa, a análise deu-se pelo confronto entre os elementos formados pelas categorias apresentadas no quadro 4(quatro) e a presença ou ausência dos elementos identificados no referencial teórico estudado. Segue-se, então, a apresentação e análise das 4 (quatro) categorias formadas na 3ª etapa da análise de conteúdo. A categoria C1 – Melhorias em Processos foi formada a partir do agrupamento das seguintes unidades de significado: • US1 – Aumento de desempenho • US5 – Controle efetivo dos processos • US6 – Maior produtividade Essa categoria sintetiza a melhoria em processos, como os principais resultados obtidos por uma organização, em função da adoção de um sistema de colaboração, o que está em linha com o fato relatado por Coughlan et al (2003). Os entrevistados apontaram os resultados obtidos pelo processo de colaboração em suas instituições, nas seguintes observações: Empresa 1: Com os sistemas de colaboração é possível integrar os estoques dos centros de distribuição com os nossos fornecedores, mesclando competências distintas por meio de parcerias, evitando falta de produtos nas lojas. Empresa 2: A gestão colaborativa promove fusão tecnológica com os nossos clientes e fornecedores, trazendo flexibilidade, agilidade e benefícios para o consumidor final. Empresa 3: Com a implementação do sistema ECR, conseguimos reduzir tempo e custos. A categoria C2 – Gerenciamento do estoque foi definida a partir do agrupamento das seguintes unidades de significado: • • •

US3- aumento no controle do estoque US7- Reposição automática do estoque US11- Maior controle sobre excesso/falta de produtos


Essa categoria identifica as características ou atributos percebidos de uso de um sistema de colaboração que mais contribuem para a sua adoção. Os autores Corsten e Kumar (2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento, e (3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto. A percepção do uso ficou evidenciada em: Empresa 1: Os detalhes de negociação são planejados em reuniões pontuais e por meio do software interligado com os fornecedores e as lojas, a reposição dos estoques dos centros de distribuição é feita automaticamente. Empresa 2: O processo antes do sistema era todo físico, como por exemplo, o vendedor tinha visitas semanais nos clientes e tirava pedidos, o que consumia muito tempo com deslocamento e reuniões... Com a implantação, o vendedor passou a ser um consultor de negócios, gerenciando a conta para que não falte produtos no estoque de nossos clientes... Atualmente, a satisfação dos clientes aumentou consideravelmente. Empresa 3: Com a utilização do software é possível integrar o departamento comercial com o de produção numa empresa, e ainda interligar com o de compras dos clientes que ela possui, com isso as empresas conseguem manter uma projeção de vendas de forma mais efetiva, através do gerenciamento dos estoques de seus clientes. Os resultados são muito positivos, pois conseguem compartilhar benefícios. A categoria C3 – Diminuição em Custos está relacionada à estratégia da empresa em obter vantagem competitiva por liderança em custo, conforme enfatizado por Porter (2004). • • • •

US8 – Satisfação nos resultados US10 – Demonstrações de resultados US9 – Redução de tempo US2 – Diminuição de custos com transporte

Empresa 1: A estratégia de negócios da empresa é manter preço baixo dos produtos todos os dias. Empresa 2: Com a utilização de um software criado para auxiliar na demanda dos produtos, conseguimos agir de uma forma rápida, flexível e com menos custos de transporte nas entregas. Empresa 3: A demonstração dos resultados é percebida na diminuição de custos e despesas na produção, transporte e deslocamento de vendedores, possibilitando melhores margens nas negociações entre os parceiros. A categoria C4 – US4 – Acesso rápido e compartilhamento de informações estão relacionados à necessidade de suporte às atividades de logística estratégica, que precisam fornecer informação certa para um planejamento estratégico, conforme enfatizado por Gonçalves (2011).


Empresa 1: O controle do processo é todo automatizado, aumentando a credibilidade das informações na hora de tomar decisões. Empresa 2: Acompanhar de perto a necessidade dos nossos clientes, além do acréscimo na produtividade faz com que aumente também o relacionamento com os nossos fornecedores, com demandas programadas. Empresa 3: O maior benefício dos softwares de colaboração é o acesso rápido e o compartilhamento das Informações via sistema. 5.5. Etapa da Análise de Conteúdo - Interpretação dos resultados Na etapa final da análise de conteúdo, com base na interpretação dos resultados, optou-se pela proposição de uma sistematização de categorias que fosse capaz de sintetizar os principais resultados obtidos. A sistematização apresenta as categorias identificadas, que impactam a demonstração dos benefícios percebidos pelo processo de colaboração e que podem ser utilizados em pesquisas posteriores, como visualizadas na Figura 3. Observa-se que, além das características percebidas no uso dos sistemas colaborativos, estas categorias também dão suporte para obtenção de vantagem competitiva por meio da estratégia de liderança em custos. Figura 03: Sistematização de categorias decorrente da pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

6 Conclusão Esta pesquisa teve como propósito responder ao seguinte problema: Quais os benefícios percebidos pela a adoção de sistemas de colaboração? Após a realização das entrevistas e a posterior análise feita a partir das transcrições destas, constatou-se o ênfase dado às percepções de uso dos sistemas de colaboração, bem como a melhoria em processos, gerenciamento de estoques e diminuição de custos. Tais constatações evidenciam que os respondentes identificam que alguns aspectos relacionados à própria colaboração devem ser considerados em sua adoção, conforme sugerido por Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) e Coughlan et al. (2003). Com resultado da pesquisa ressaltam-se melhorias obtidas no processo. Deste modo, é fato que as novas tecnologias e processos propiciem as empresas estruturaremse de modo a compartilhar informações para além de seus ambientes organizacionais, obtendo vantagens em custos, flexibilidade, acesso a novas tecnologias e redução de tempo para realizarem inovações. Observou-se também, na pesquisa aliada à redução de tempo e custos, que é importante para as empresas adotantes do processo de colaboração também sentirem


confiança no acompanhamento e gerenciamento do processo. A questão da confiança é muito relevante em ambientes que integram tecnologias e estratégias advindas de alianças e/ou parcerias. O conceito é aplicado estrategicamente em gestão de negócios para obter vantagem competitiva por meio da colaboração de stakeholders para um determinado processo em rede em desenvolvimento de uma logística empresarial. A implementação estratégica das ferramentas colaborativas depende de como as organizações podem pensar, aprender e agir nos processos por meio de stakeholders em rede de colaboração, considera-se assim o que muitos pesquisadores acreditam, ou seja, que cada empresa integrada ao negócio tem vontade própria. Desta forma, entende-se que a distinção do pensamento estratégico setorial é importante na análise da implantação de um sistema colaborativo. Se por um lado, no mercado varejista busca-se o foco no aumento do giro e redução das rupturas nas gôndolas dos mercados. Em indústrias as atividades em sistemas de colaboração são essenciais para descobrir até que ponto estes sistemas tem utilidade estratégica para analisar desempenhos em processos de produção, com ou sem utilização otimizada de recursos. O risco deste processo analítico envolve dar legitimidade de poder ao fornecedor de forma estratégica por pró-atividade, na qual pode ser controlada com base em novas ações e responsabilidade que vão desde o compartilhamento de recursos tecnológicos para transações comerciais on-line até o problema físico, como, por exemplo, o abastecimento direto para balanceamento dos estoques a cada ponto de venda em cadeia no mercado varejista. Esta pesquisa foi realizada com apenas três instituições de segmentos diferentes; por conseguinte, a mesma representa a realidade destas instituições, não permitindo generalizações. Fica, então, a recomendação para futuras pesquisas, com um número maior de instituições; com instituições localizadas em outras regiões do país, bem como pesquisas de natureza quantitativa, que permitam maiores possibilidades de generalizações, ou validação da sistematização de categorias apresentado na Figura 3.

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Gestão Socioambiental: avaliação das práticas para a sustentabilidade na indústria Henrique Martins Galvão1 Resumo A regulação pode ser um caminho para as empresas adequarem suas práticas de gestão. No entanto, empresas com processos mais maduros tendem a adotar uma postura proativa e preferir antecipar as regulamentações. Tais medidas podem ocorrer por meio das práticas de gestão socioambientais que contribuam para obtenção de desempenho superior em seus processos, produtos e na melhoria dos relacionamentos com seus stakeholders direcionados para a sustentabilidade nos negócios. Sob este enfoque, o presente estudo buscou no referencial teórico as bases conceituais para a elaboração de modelo aplicado em três indústrias. Os resultados indicaram que as empresas estão compromissadas com as práticas de responsabilidade social, mas ainda demandam esforços para avançar em direção a sustentabilidade empresarial. Palavras-chaves: Responsabilidade Social Empresarial; Gestão Socioambiental; Estratégia; Triple Bottom Line; Aprendizagem. Abstract The setting can be a way for companies adapt their management practices. However, companies with more mature processes tend to adopt a proactive stance and prefer to anticipate the regulations. Such measures may occur through environmental management practices that contribute to superior performance in its products, processes and improving relationships with its stakeholders targeted to business sustainability. Under this approach, the present study aimed at the theoretical bases for the elaboration of conceptual model applied in three industries. The results indicated that companies are committed to the practice of social responsibility but still require efforts to move toward sustainability. Keywords: Corporate Social Responsibility, Environmental Management, Strategy, Triple Bottom Line; Learning. 1. INTRODUÇÃO Para enfrentar as ameaças e restrições ambientais, as empresas procuram adequar suas práticas de gestão com objetivos socioambientais em sintonia com os interesses dos stakeholders. Muitas empresas vão além do cumprimento das regulamentações ambientais, atuando na prevenção dos impactos ambientias, incorporam projetos sociais e aderem voluntáriamente aos programas, normas e principios socioambientais. Logo, as questões socioambientais (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008) demandarão medidas e ignorar o comportamento dos clientes e consumidores, as pressões das relações comerciais, as políticas

1hengal@ig.com.br / hmgalvao@usp.br Bacharel em Administração e Mestre em Administração (PUC-SP), doutorando em Administração pela FEA-USP, professor e coordenador de Administração da FATEA – Salesianas.


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ambientais e a fiscalização dos órgãos governamentais podem ocasionar pesado ônus sobre as organizações. Nota-se que a pressão ocorre nos dois lados, de um lado tem a pressão social e de outro o processo de regulamentação ambiental do governo. Apesar disso, as empresas não são responsáveis por todos os problemas (PORTER e KRAMER, 2006) e nem têm todos os recursos necessários para resolvê-los. Porém, qualquer empresa pode identificar algum problema social e ambiental para melhor se preparar e propor solução, para o qual pode ser uma oportunidade para obter vantagem competitiva. Moura (2008) sugere que a empresa deve, antes de tudo, analisar como atender seus clientes e assegurar que a melhoria do seu desempenho, principalmente, ambiental manterá seu negócio no longo prazo. A questão é saber como uma organização pode criar diferenciais socioambientais competitivos por meio das práticas de gestão para a sustentabilidade? Diante disso, este estudo aborda as bases de diferenciação competitiva, considerando relevantes as práticas de gestão para a sustentabilidade que contribuam para as empresas alcançarem resultados econômicos, sociais e ambientais. Como limitação de estudo, destacase que não existem soluções fáceis, o ambiente organizacional é complexo, dinâmico e as mudanças são rápidas, os quais implicam em práticas de gestão não menos complexa com inúmeras interfaces internas e externas. 2.REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Responsabilidade Socioambiental como Estratégica Competitiva O desenvolvimento sustentável manifesta-se como alternativa consistente e que atende as necessidades presentes sem comprometer que as gerações futuras possam satisfazer as suas e evoluir normalmente (BARBIERI, 1997). Deste modo, a sustentabilidade empresarial remete ao equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social. De acordo com Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (apud LOUETTE, 2007), o conceito de sustentabilidade representa uma nova concepção de se fazer negócios, visando sustentar a viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, além de retornar para a empresa reconhecimento dos stakeholders e melhoria da imagem. Na definição do Instituto Ethos (2007), a sustentabilidade empresarial consiste em garantir o sucesso do negócio no longo prazo, e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, sem se esquecer do aspecto ambiental. O conceito do Triple Bottom Line é útil para a empresa criar uma agenda que considere não


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somente o valor econômico, bem como esteja centrada no valor ambiental e social. Conforme Elkington (2004), as empresas necessitam de uma agenda que conduza a sustentabilidade como, por exemplo, análises das condições do mercado e os fatores de instabilidade e o gerenciamento do ciclo de vida dos produtos e tecnologias, interligando sua cadeia de suprimentos e distribuição. O fato é que as estratégias de responsabilidade social não devem ser vista separadas da organização e da sua cadeia de valor. Os resultados afetam toda a cadeia e os objetivos econômicos, sociais e ambientais devem ser partilhados conjuntamente, visando maximizar os resultados para as organizações e a sociedade (ETHOS, 2007). A ligação da responsabilidade social com a cadeia de valor permite que as organizações obtenham vantagem competitiva e o engajamento dos parceiros para práticas socioambientais possibilitam melhoria do desempenho financeiro. Entretanto, isso não ocorre somente por boas práticas, conduta ética ou porque reduz os custos de transação. Husted e Allen (2001) adotam abordagem integrada partindo de uma estratégia de negócio para uma estratégia social, considerando os relacionamentos com estrutura da indústria, com os recursos internos da organização, com os seus valores e ideologias e com os stakeholders. Nesta direção, a relação entre a Responsabilidade Social Empresarial com a estratégia e vantagem competitiva é apresentada por Porter e Kramer (2006). A partir do modelo tradicional da cadeia de valor e do diamante, os autores desenvolveram o “mapeamento do impacto social da cadeia de valor” e a “influencia social sobre a competitividade”. A abordagem de Porter e Kramer (2006) consiste, principalmente, em contribuir com o avanço da responsabilidade social empresarial visando entender amplamente a inter-relação entre a organização e a sociedade e simultaneamente atrair estratégias e atividades das empresas, ou seja, as influências que ocorrem de “dentro para fora” e de “fora para dentro”. Além disso, os autores destacam a importância do engajamento dos gerentes, elo entre o nível estratégico e o operacional. A liderança exercida pelos gerentes é crucial para criar sinergia entre as atividades da cadeia de valor, bem como conectando com as das outras organizações. Mirvis e Googins (2006), afirmam que a liderança (CEO) da organização é um fator crucial para o desenvolvimento de uma empresa cidadã, os líderes estão cada vez mais envolvidos. Os executivos do topo se tornam visionário e de transformação do processo de tornar as organizações modelos de práticas sustentáveis. Além disso, os executivos dos departamentos de assuntos ligados à comunidade, de gestão ambiental e de comunicação


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empresarial se uniram para conectar a gerência sênior e os comitês funcionais cruzados, além das chefias que estabeleceram conexões com a comunidade. Conforme Barbieri et al (2010), a sustentabilidade econômica pode ser alcançada pela inovação em produtos, processos e modificações no modelo de negócio, que proporcionem maior produtividade. O alcance da sustentabilidade social pode resultar dos programas que proporcionem melhorias da qualidade de vida dos funcionários, da comunidade do entorno da empresa. Em relação a sustentabilidade ambiental, as inovações estão relacionadas, por exemplo, com a redução ou eliminação dos gases de efeitos estufa e uso dos combustíveis fósseis. Embora, a promoção da sustentabilidade nos negócios seja desafiante, a intersecção entre negócios e ambiente é cada vez mais crítica. Aspectos da estratégia empresarial, os planos de ação e políticas que valorizem os princípios da sustentabilidade são necessários para nortear as ações em todos os níveis organizacionais. Entretanto, a organização deve ser dotada de competências e capacidades que propiciem práticas de gestão socioambientais eficientes. 2.2 – Desempenhos das Práticas Socioambientais A sustentabilidade empresarial pode ser viabilizada mediante as certificações de padrões de qualidade ou socioambientais. As certificações ou normas são ferramentas muito utilizadas para avaliação do desempenho das práticas ambientais inovadoras. De modo geral, as empresas estão mais suscetíveis às normas certificadoras da Série ISO 9000 e ISO 14000. As certificações sociais, por exemplo, a OHSAS 18001 e a SA 8000, podem estimular as empresas a adotarem práticas socialmente responsáveis, bem como a ISO 26000, que foca temas centrais da responsabilidade social empresarial (ALIGLERI, ALIGLERI e KRUGLIANSKAS, 2009). Existem várias metodologias para uso de indicadores com o objetivo de medir e relatar as práticas de sustentabilidade empresarial social, ambiental e econômica, tais como, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Empresarial e o Global Reporting Initiative – GRI (LOUETTE, 2007). Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial foram desenvolvidos pelo Instituto Ethos, organização não governamental, e servem como ferramenta de uso essencialmente interno e permite auto-avaliação da gestão quanto às práticas de responsabilidade social. Os indicadores de desempenho abrangem sete temas ou dimensões: 1) Valores, Transparência e Governança; 2) Público Interno; 3) Meio Ambiente; 4) Fornecedores; 5) Consumidores e Clientes; 6) Comunidade; e 7) Governo e Sociedade. O


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relatório permite que a empresa assinale um dos quatros estágios: (1) básico, (2) intermediário, (3) avançado e (4) proativa. A Global Reporting Initiative – GRI é uma organização internacional com sede em Amsterdã, na Holanda, criada em 1997, como iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA e da Coalizão por Economias Ambientalmente Responsáveis CERES. O GRI tem como objetivo estabelecer um padrão mundial de relatório econômico, social e ambiental. O relatório da GRI compõe os seguintes princípios: materialidade, inclusão dos stakeholders, contexto da sustentabilidade, abrangência, equilíbrio, comparabilidade, exatidão, periodicidade, clareza e confiabilidade (DIAS, 2012). As várias metodologias e critérios adotados são decorrentes da finalidade da mensuração da sustentabilidade, do campo de estudo e da organização ou instituição, cada qual utiliza a mais conveniente ou faz adaptação de algo existente para os moldes necessários a cada situação. É provável que as variedades de metodologias encontradas sejam decorrentes do conceito de sustentabilidade não ser único e ter abordagens diversas em diferentes setores produtivos e em diferentes países. Encontramos na literatura várias tipologias empregadas para avaliação das práticas para a sustentabilidade. Os modelos visam avaliar o grau de maturidade em que as empresas se encontram em diferentes estágios da prática da responsabilidade socioambiental. Alguns modelos são instrumentos de medição do desempenho econômico social e ambiental. Sendo assim, os modelos são iniciativas que possibilitam quantificar, medir e comparar resultados para a tomada de decisões. O modelo do nível de maturidade da sustentabilidade proposto por Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2009) associam as práticas empresariais com inovações para a sustentabilidade. A competitividade das empresas está, portanto, relacionada com as competências organizacionais capazes de promover inovações sustentáveis. O modelo propõe cinco estágios de maturidade. • estágio 1: observa-se o compromisso da empresa com as questões socioambientais, adesão dos códigos de conduta voluntários e normas de conformidade socioambientais; • estágio 2: a empresa adota práticas que incluem as atividades da cadeia de valor, envolvendo os colaboradores internos e parceiros da cadeia de suprimentos, para assegurar compromisso para tornar operações sustentáveis; • estágio 3: as práticas são orientadas para o redesenho de produtos e serviços ambientalmente amigáveis, explorando e priorizando o uso de competências e ferramentas para inovações nos produtos em conjunto com os parceiros da cadeia;


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• estágio 4: a empresa tende a explorar novas alternativas no modo como os negócios são realizados através do desenvolvimento de um novo modelo de negócio que proporcionem a entrega de valor superior com critérios de sustentabilidade; • estágio 5: neste estágio, as práticas para a sustentabilidade expandem de um novo produto ou processos, seja na forma de novos métodos de fabricação ou de distribuição para capturar as oportunidades do mercado por meio da integração de soluções inovadoras.

Figura 1: Visão dos Níveis de Maturidade da Sustentabilidade (adaptado pelo autor) Fonte: NIDUMOLU, Ram; PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. (2009)

Conforme Mirvis e Googins (2006) não há um modelo de avaliação da responsabilidade social que melhor se encaixe a todas as empresas, cada empresa deve identificar os valores e práticas que asseguram a estratégia e o gerenciamento apropriado de acordo seu histórico e especificidades dinâmicas do setor e dos stakeholders. No modelo proposto pelos autores o engajamento da empresa nas práticas de responsailidade social pode variar para cada uma das sete dimensões entre cinco estágios, os quais irão determinar o grau de engajamento em termos de: elementar, engajada, inovativa, integrada e transformadora. As dimensões das práticas de responsabilidade social são classificadas em: conceito de cidadania, intenção estratégica, liderança, estrutura, gerenciamento de resultados, relacionamento com stakeholders e transparência. O modelo contribuir para medir o desempenho ambiental e social das empresas, bem como ajudá-las a melhorar e comunicar seus esforços de atuação responsável.

Figura 2: Modelo de Avaliação da Responsabilidade Social Empresarial (adaptado pelo autor) Fonte: MIRVIS, Philip e GOOGINS, Bradley K. (2006)

Os modelos e instrumentos ilustram o elevado interesse que envolve a questão da sustentabilidade, abrangendo não somente o nível organizacional como também todos os stakeholders que se relacionam com a empresa. O uso dos instrumentos de avaliação de maturidade e dos indicadores proporciona benchmarking poderoso e permite que as empresas


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avaliem seu desempenho econômico, social e ambiental, além de contribuir para identificar as novas maneiras e práticas gerenciais que estimulem as empresas na melhoria e inovação dos seus processos, operações e produtos, bem como estabelecer estratégias para o posicionamento futuro. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA Para atender os objetivos deste estudo de natureza descritiva e qualitativa, utilizou-se o método de estudo de caso. Conforme Yin (2001: 20) o estudo de caso como sendo um modo inigualável que possibilita a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais e gerenciais, sociais e políticos. O estudo de caso é uma estratégia utilizada quando se focaliza acontecimentos contemporâneos, os quais podem ser normalmente encontrados na psicologia, na sociologia, na ciência política, na administração, no trabalho social, no planejamento e na economia. Em relação à economia, o estudo de caso pode abranger determinada indústria, cidade ou região. Nesse contexto, esse estudo busca encontrar resposta às questões do tipo “como”, por exemplo, como as organizações adotam práticas de gestão para a sustentabilidade? Face à relevância do tema de estudo, os dados primários foram coletados mediante a identificação de três empresas do setor industrial. Para a coleta dos dados primários, foi utilizado um questionário estruturado com perguntas fechadas embasadas no modelo conceitual proposto, visando a obtenção dos resultados para atender os objetivos do estudo. O questionário foi encaminhado por e-mail para os diretores e gerentes das áreas administrativas e de operações, todos com mais de cinco anos de atuação nas empresas. 3.1 Modelo Conceitual da Pesquisa O modelo conceitual utilizado neste estudo tem como base o referencial teórico para avaliar como as práticas de gestão para a sustentabilidade contribuem para o desempenho superior nas dimensões econômicas, sociais e ambientais. O processo parte da formulação da estratégia, cuja implementação também depende dos recursos e capacidades organizacionais para promover mudanças e construção de relacionamentos internos e externos. Nesta perspectiva, o modelo considera a capacidade de aprendizagem organizacional e sua influência para realizar inovações e melhorias socioambientais em seus processos e produtos de acordo com as expectativas dos stakeholders e em atendimento às leis e regulamentações governamentais. Segue abaixo a representação gráfica do modelo:


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Figura 3: Concepção do Modelo de Avaliação das Práticas de Gestão para a Sustentabilidade

Fonte: elaborado pelo autor

O modelo permite analisar as práticas realizadas na organização e inferir sobre as práticas de gestão para a sustentabilidade. O modelo está subdividido em oito dimensões: estratégia, ambiental, social, fornecedores, processos e produtos, mercado, organização e aprendizagem, conforme descrito a seguir: Tabela 1: Dimensões das Práticas de Gestão

Fonte: Elaborado pelo autor


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Para cada dimensão foram selecionadas seis afirmações relacionadas às práticas realizadas na organização, para quais permitam atribuir respostas do tipo: “Concordo Plenamente”; “Concordo Parcialmente”; “Não Concordo Nem Discordo”; “Discordo Parcialmente” e “Discordo Plenamente” e correspondendo, respectivamente, a escala de pontos entre 1 (um) e 5 (cinco). 4. Análise dos Resultados As empresas foram classificação em “A”, “B” e “C”, sendo duas (“A” e “B”) de médio porte, das quais uma tem estrutura de capital 100% nacional. A empresa “C” é de grande porte e de capital estrangeiro. Todas as empresas declararam possuir em sua estrutura organizacional um departamento de Meio Ambiente, Saúde e Segurança no Trabalho MASST. Além disso, os resultados permitiram verificar que as empresas “A” e “B” têm em sua estrutura organizacional um departamento de P&D ou Laboratório de Pesquisa. Em relação à adoção das normas de certificação, as empresas “A” e “B” declararam ter implantado as Normas ISO 9001 e ISO 14001 e somente a empresa “B” possui a norma SA 8000 e nenhuma possui certificação OHSAS 18001. Segue abaixo quadro demonstrativo: Tabela 2: Características das Empresas Empresa

Porte

Setor

Capital

MASST

P&D/L.P.

“A” “B”

Médio

Químico

Nacional

Sim

Sim

Médio

Metalúrgico

Multi

Sim

Sim

Certificações ISO 9001 e ISO 14001 ISO 9001, ISO 14001 e SA 8000

Grande

Metalúrgico

Multi

Sim

Não

ISO 9001

“C”

Fonte: Dados da Pesquisa

A seguir é apresentado os resultados das pontuações recebidas pelas empresas em cada dimensão. A síntese das pontuações foi obtida, por meio dos pontos atribuídos em cada uma das oito dimensões, conforme representadas Tabela 1. Os resultados permitiram inferir sobre as práticas empresariais de gestão para a inovação da sustentabilidade. Além disso, foi possível analisar a relação da aprendizagem organizacional e sua influencia para a adoção de melhorias e inovação em processos e produtos.


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Tabela 3: Resultados das Práticas de Gestão para Inovação Dimensões

A

B

C

Estratégia

4,8

4,7

4,7

Fornecedores

2,2

2,5

3,3

Ambiental

4,7

4

4,5

Social

3

4,5

4

Mercado

4,3

3

4

Processos

4,3

4

3,3

Organização

4,2

4,2

4,2

Aprendizagem

4,5

4,7

3,7

Fonte: Dados da Pesquisa

O gráfico a seguir demonstra de modo ilustrativo o desempenho das práticas organizacionais em cada uma das oito dimensões analisadas. Quanto mais próximo de 5 (cinco), mais as práticas empresarias estarão alinhadas com a sustentabilidade:

Gráfico 1: Desempenho Inovador das Empresas Fonte: Dados da Pesquisa

Empresa A: Setor Químico Verificou-se que na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza normas e planos relacionando-os à estratégia e práticas para a sustentabilidade. A visão, missão, princípios e


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códigos de conduta são declarados e considerados relevantes para o desempenho econômico, social e ambiental. Entretanto, existe espaço para avançar na comunicação da estratégia com stakeholders, bem como em estimular ações socioambientais externas nos diferentes níveis organizacionais. A empresa estabelece metas de desempenho e avalia constantemente os riscos e os impactos das suas atividades. Na dimensão “ambiental”, a empresa adota políticas e programas de redução do uso de recursos naturais e dos danos ambientais pela geração de resíduos. Por se tratar de empresa do setor químico, as suas práticas ambientais estão alinhadas com as regulamentações e legislações ambientais. Observou-se, contudo, que a substituição ou redução dos recursos não renováveis dependem de avanços nas inovações tecnológicas assim como, nas práticas de monitoramento da geração dos gases de efeito estufa. Na dimensão “social”, verificou a existência de espaços significativos para a empresa avançar nas práticas de comunicação e relacionamentos socialmente responsáveis compartilhadas com públicos internos e parceiros da cadeia de suprimentos. De forma semelhante, a dimensão “fornecedores” exige empenho para o desenvolvimento de práticas socioambientais integradas com parceiros. No entanto, a empresa adota política de compra que privilegia fornecedores com certificação socioambiental. No tocante a dimensão “processos e produtos”, a empresa declara que seus processos são apropriados e existe flexibilidade organizacional para o desenvolvimento de projetos de melhoria e inovação do desempenho ambiental. Também faz uso dos indicadores ambientais. A empresa apresenta fragilidade em estabelecer relações de cooperação com universidades e centros de pesquisa. Apesar disso, a empresa investe em P&D e através do laboratório de pesquisa interno. Na dimensão “mercado”, constatou-se que a empresa compreende bem seu papel, buscando soluções para os problemas dos clientes e adota práticas que asseguram o uso e manuseio dos produtos, além de investigar as ocorrências que causam danos ambientais. Mas, merecem ações de melhoria no que se refere ao uso dos indicadores socioambientais dos parceiros, que podem ser úteis como forma de benchmarking para adoção de práticas inovadoras. Quanto a dimensão “organização”, a empresa adota práticas de treinamento e de desenvolvimento dos seus colaboradores e, em sua estrutura a comunicação flui e atende razoavelmente os objetivos e metas ambientais estabelecidas. As competências e capacidades da organização são estimuladas parcialmente para a busca de soluções socioambientais nos diferentes níveis, bem como clima de apoio para novas ideias, visando a melhoria e inovações


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em processos e produtos. Esses aspectos corroboram om os resultados da dimensão “aprendizagem”, constatando que existe razoável comprometimento da organização para promover a aprendizagem organizacional. Empresa B: Metalúrgico Na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza estratégias em termos de programas, normas e planos de curto e médio prazo visando práticas para a sustentabilidade. Nos seus objetivos e metas, a empresa declara incluir todos os stakeholders. Além disso, tem como prática avaliar implicações econômicas e financeiras devido aos impactos ambientais das suas atividades. Contudo, a visão, a missão, códigos de conduta e princípios internos para o desempenho sustentável foram declaramos como parcialmente relevantes e as estratégias para inovação não são expressas de maneira clara. Em relação à dimensão “ambiental”, a empresa adota postura proativa, declarando a existência de programas estruturados para redução do consumo de recursos naturais não renováveis em todas as suas atividades, bem como tem por prática monitorar a geração de resíduos sólidos e líquidos. A empresa não possui certificação ISO 14001 e não afirmou a prática do monitoramento da geração dos gases de efeito estufa. No entanto, foi declarado que atendem plenamente a legislação e regulamentação ambiental, buscando prevenção e redução dos impactos ambientais. Os dados permitiram analisar que na dimensão “social”, as práticas são declaradas como parcialmente realizadas tais como, projeto sociais com a comunidade, ações em conjunto com governos e terceiro setor, limitando a formação de parcerias e outros tipos de apoio. Apesar disso, adota práticas de prevenção da segurança e saúde dos colaboradores. Na dimensão “fornecedores”, o aspecto mais relevante está relacionado com o trabalho em conjunto com fornecedores, visando o desenvolvimento de materiais que causem menor impacto ambiental. A empresa apresenta limitações quanto às práticas de acompanhamento dos indicadores socioambientais e ações conjuntas de mitigação. Mas, tem por prática políticas de compras que priorizam certificações socioambientais dos seus parceiros. Em relação a dimensão “processos e produtos”, foi declarado que o envolvimento das áreas internas para o desenvolvimento de novos produtos e processos são parcialmente assegurados, bem como o uso dos indicadores para avaliação do desempenho econômico, social e ambiental. Tais aspectos estão relacionados a não confirmação da existência de processos apropriados para o gerenciamento de um novo produto quanto aos quesitos


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ambientais assim como, pesquisa e desenvolvimento, denotando fraca flexibilidade inovadora para a sustentabilidade. Na dimensão “mercado” foi verificado boas práticas para a solução das demandas dos clientes. Também foi declarada que a empresa tem como meta a análise do ciclo de vida dos seus produtos visando reduzir os impactos ambientais. Entretanto, a empresa tem limitações quanto às práticas de engajamento dos stakeholders para a promoção de comunicação e avaliação orientadas para a redução dos impactos ambientais. No tocante a dimensão “organização”, foi constatada que a comunicação organizacional é parcialmente eficaz. Este aspecto corrobora para a não confirmação do clima de apoio para novas ideias. No entanto, a empresa busca manter uma política transparente e atuar em ações que procuram estimular as pessoas para práticas socioambientais entre os diferentes níveis. Desta forma, o processo de aprendizagem é influenciado parcialmente pelas oportunidades de melhoria e pelos programas de treinamento e desenvolvimento, exigindo ações mais concretas para elevar a flexibilidade organizacional para a inovação. Empresa C: Metalúrgico Em relação à dimensão “estratégia”, foi constatado que a empresa adota estratégias que expressam a visão, missão, valores e princípios, bem como prioriza objetivos e metas para a sustentabilidade.

Na dimensão “ambiental”, a empresa tem por prática a adoção de

programas que visam reduzir o consumo de recursos naturais não renováveis em todas as atividades, incluindo o monitoramento da geração de resíduos sólidos e líquidos, visando sua redução. A empresa também atua em sintonia com a legislação e regulamentação ambientais, mas não vai além das determinações legais. Para a dimensão “social”, foi verificado desempenho significativo da empresa no tocante à conduta ética. Quanto às formas de comunicação, relacionamentos e práticas socioambiental responsáveis com os stakeholders a empresa demonstra desempenho parcial. Na dimensão “fornecedor”, foi verificado que a empresa não tem como prática acompanhar indicadores socioambientais dos seus parceiros, bem como baixo incentivo em compartilhar riscos dos impactos socioambientais compartilhados. Também foi constatando baixa integração com fornecedores das práticas de cooperação objetivando melhorias e/ou inovações que atendam os quesitos para a sustentabilidade. Em relação a dimensão “processos e produtos”, constatou que a empresa tem processos apropriados para gerenciar o desenvolvimento de um novo produto que atendam quesitos ambientais. No entanto, foi declarado práticas parciais nos investimentos continuados


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para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos de visam a melhoria dos aspectos socioambientais. Na dimensão “mercado”, a análise dos dados evidenciou baixo desempenho em relação às práticas de comunicação, relacionamento e engajamento dos clientes. Na dimensão “organização”, os dados demonstraram que a empresa adota práticas de apoio para novas ideias. Também foi verificado práticas parciais relacionadas às formas de comunicação através da organização e práticas de estimulo dos colaboradores internos para as ações compartilhadas entre os diferentes níveis da organização. Constatou-se exigência parcial que privilegia parceiros da cadeia de suprimentos certificados pelas normas socioambientais. Em relação a aprendizagem, constatou-se forte atuação no que se refere às políticas e às práticas de estímulo à aprendizagem organizacional orientada para a busca de soluções sustentáveis. Verificou-se que a empresa tem flexibilidade para atuar em conjunto universidade e centros de pesquisa para ajudar a desenvolver e inovar produtos ecoeficientes e socialmente corretos. Outro aspecto relevante está relacionado às práticas de promoção de treinamentos e desenvolvimentos dos colaboradores 4.1. Estágios da Gestão das Práticas para a Sustentabilidade

Gráfico 2: Estágios das Empresas na Gestão das Práticas para a Sustentabilidade Fonte: Dados da Pesquisa


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Estratégia: Com base nos resultados, verifica-se que as três empresas alcançaram excelente desempenho, fixam estratégias direcionadas para a sustentabilidade, estabelecendo direcionamento para princípios e objetivos socioambientais. Fornecedores: As práticas inovadoras a partir da relação com os stakeholders se mostrou limitada nas três empresas analisadas. Ambiental: A pressão das políticas regulatórias contribui para que as empresas inovem nas tecnologias de tratamento dos resíduos industriais, bem como pelos fatores de pressão da demanda. Exceto para as empresas “A” e “B”, constatou que a empresa “C” tem limitações na gestão ambiental restringe práticas ambientais. Sociais: As práticas empresariais relacionadas com os aspectos sociais foram mais percebidas na empresa “B” e menos da empresa “C”. A empresa “A” declarou possuir a certificação SA 8000, evidenciando o relacionamento que a empresa mantém com a comunidade no seu entorno. Mercado: Na relação com o mercado, ficou evidenciado práticas empresariais direcionadas para o atendimento das reclamações dos clientes e menos com o engajamento para as questões socioambientais. Processos: O uso das tecnologias ambientais de “fim-de-tubo” são evidenciadas, corroborando para o cumprimento da legislação. Na empresa “A” existe maior preocupação para a adoção das tecnologias ambientais de prevenção, denotando que a empresa reduz uso das emissões diretamente na fonte, bem como adota prática de melhorias ou inovações significativas nos processos e produtos. Organização: Constatou-se que o bom desempenho das empresas na dimensão “organizacional” reflete a flexibilidade da comunicação entre os departamentos, com potencial para estimular e engajar os colaboradores a compartilhar ações de melhorias e inovação para a sustentabilidade. Aprendizagem Organizacional: Na análise da aprendizagem organizacional, constatou-se, exceto a empresa “C”, que as empresas “A” e “B” desenvolvem práticas que podem assegurar mudanças e adequar a empresa efetivamente às inovações para a sustentabilidade. Considerações Finais Este estudo procurou analisar as práticas de gestão no contexto da sustentabilidade empresarial. O modelo proposto de análise evidenciou a abordagem integradora das práticas organizacionais para a análise das práticas de gestão.


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A partir dos resultados, é possível considerar que as empresas enfrentam grande desafio para promover práticas de gestão de forma integradora. As ações de cumprimento das legislações ambientais são mais percebidas por meio da adoção das tecnologias controle e menos pela adoção das inovações tecnológicas ambientais de prevenção. Constatou-se que a visão integradora das práticas de gestão para a sustentabilidade ainda são fragmentadas, que também dificultam explorar o potencial de aprendizado com os stakeholders, principalmente com os parceiros da cadeia de suprimentos e centros de pesquisa. Cabe destacar, conforme visto no referencial bibliográfico, que as empresas precisam compor a agenda das práticas organizacionais. Nesse sentido, as estratégias e os objetivos almejados fortalecem a aquisição de conhecimento e tornar o aprendizado organizacional constante para promover práticas de gestão que proporcionem desempenho socioambiental superior. Assim, considerando as limitações do estudo, face à dificuldade de acesso às informações e restrita ao número de empresas, o modelo permite considerar que sua utilização ou de outras ferramentas de análise auxiliam na identificação do desempenho das empresas para a participação efetiva na questão da sustentabilidade, com vistas a identificar o perfil das empresas. O estudo também permitiu identificar as oportunidades de melhoria necessária, bem como possibilita priorizar implementação das atividades com foco nas práticas socioambientais. Diante do exposto, espera-se o presente estudo possa contribuir para reflexão e visando a melhoria do desempenho socioambiental das empresas, bem como contribuir para outros e aplicações práticas de estudo. Referências: ALIGLERI, L.; ALIGLERI, L. A.; KRUGLIANSKAS, I. Gestão Socioambiental: responsabilidade e sustentabilidade do negócio. São Paulo: Atlas, 2009. BARBIERI, J.C. et alii. Inovação e sustentabilidade: novos modelos e proposições. Rev. adm. empresa. vol.50 no.2 São Paulo Abr./Jun 2010. Acesso em: 09/02/12. Disponível em: http://www.scielo.br BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudanças da agenda 21. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. DIAS, Reinaldo. Responsabilidade Social: fundamentos e gestão. São Paulo: Atlas, 2012. ELKINGTON, J. Enter the Triple Bottom Line. 2004. Acesso em: 22 de maio de 2011. Disponível em: http://www.johnelkington.com/TBL-elkington-chapter.pdf


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ETHOS, Instituto. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial 2007. [Coordenação: Ana Lucia de Melo Custódio e Renato Moya]. São Paulo: Instituto Ethos, 2007. HUSTED, Bryan W. e ALLEN, David B. Toward a model of corporate social strateg formulation.

2001.

Acesso

em:

15/06/2011.

Disponível

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http://egade.sistema.itesm.mx/investigacion/documentos/documentos/18egade_husted.pdf LOUETTE, A. (org.). Gestão do Conhecimento: compêndio para a sustentabilidade: ferramenta de gestão de responsabilidade socioambiental. 2ª. ed. São Paulo: Antakarana Cultura Arte e Ciência, 2007. MIRVIS, P.; GOOGINS, B. K. Stages of Corporate Citizenship: a development framework. The Center for Corporate Citizenship at Boston College. 2006. Acesso em: 31 de maio de 2011. Disponível em: http://www.bc.edu/corporatecitizenship. MOURA, Luiz A. A.de. Qualidade e Gestão Ambiental: sustentabilidade e implantação da ISO 14001. 5ª. ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2008. NIDUMOLU, R. PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. Why Sustainability Is Now the Key Driver of Innovation. Harvard Business Review, September 2009, pp 57-64). PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. Strategy and Society: the link between competitive advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review, dec. 2006. TACHIZAWA, T.; ANDRADE, R. O. B. de. Gestão Socioambiental: estratégias na nova era da sustentabilidade. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.


Subjetivação e Novos Indicadores de Perfonmance: Contibuições para uma nova Ferramenta de Monitoramento em Sistema Integrado de Gestão (2Q’s) Karla Rocha Carvalho Gresik1 Milton Ferreira da Silva Júnior2

RESUMO Para minimizar ou eliminar os riscos aceitáveis ao meio ambiente e ao trabalhador, muitas organizações desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde ocupacional e ambiental. A tecnologia da informação tem sido vista como uma importante ferramenta no controle e monitoramento destes riscos. No entanto, a grande maioria dessas ferramentas além de não considerar o monitoramento das ações de forma integrada, não considera as subjetividades dos funcionários como agentes de transformação e controle. Este estudo se propõe a discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da informação, a que mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de performance qualitativos. Para isso, traz uma discussão teórica e metodológica como instrumentos facilitadores para a formatação desses novos indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação. Palavras-Chaves: Sistemas Integrados de Gestão, Tecnologia da Informação, Subjetivação.

1. Introdução

A contribuição tecnológica e o neoliberalismo configurado pela globalização econômica vêm sendo fatores de preocupação aos trabalhadores, que pelo medo do desemprego acabam aceitando condições insalubres e desrespeitosas de trabalho, desconsiderando os seus direitos à vida e à saúde. Além disso, Araujo (2006) nos adverte que perdas, injúrias, danos à propriedade eventualmente causados pelas atividades, produtos e serviços de uma organização, 1 Universidade Estadual de Santa Cruz. CARVALHO, K. R., Fiamengue, Elis Cristina. Representações Sociais de Marisqueiras acerca da Problemática Ambiental: Uma Questão de Política Pública. Cadernos CERU (USP). Vol. 22.1, 2011. CARVALHO, K. R., LAGO, E. S., MEIRA, E. C. A influência da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia no viver e envelhecer dos estudantes/integrantes. Textos sobre Envelhecimento (UERJ). Vol. 06, 2003. E-mail: karlagresik@hotmail.com 2 Universidade Estadual de Santa Cruz. SILVA JUNIOR, M. F. ; MENDES, S. A. F . Percepção de Risco no Uso de Agrotóxicos na Produção de Tomate do Distrito de Nova Matrona, Salinas, Minas Gerais. Caminhos de Geografia (Ufu), Vol. 12, 2011. COSTA, Silvia Kimo ; SILVA JUNIOR, M. F. ; RANGEL, M. C . O processo de intervenção em espaços públicos urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, 2010. SILVA, A. J. ; SILVA JUNIOR, M. F. . Representações Sociais e Agricultura Familiar: Indícios de Práticas Agrícolas Sustentáveis no Vale do Bananal - Salinas, Minas Gerais. Sociedade & Natureza (UFU), v. 22, 2010. E-mail: notlimf@gmail.com


constituem problemas muitas vezes não previstos e que podem acarretar prejuízos através de várias formas, tais como processos de responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço oferecer riscos ao meio ambiente e aos trabalhadores, com altos índices de absenteísmo e afastamento de trabalho devido a acidentes. Mediante esses fatores, as empresas devem ser capazes de prever o máximo possível os riscos aceitáveis de danos ao meio ambiente e aos seus funcionários, bem como garantir o bem estar físico, mental, e social dos trabalhadores e partes interessadas. Para minimizar ou eliminar tais prejuízos, muitas organizações desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde ocupacional e ambiental – EHS (Environmental, Health and Safety) a partir de sistemas de informação que possam realizar um monitoramento contínuo de suas ações no intuito de direcionar as tomadas de decisão. No entanto admite-se a idéia de que não adianta as organizações implantarem práticas de gestão em EHS sem, contudo, levar em consideração as subjetividades dos funcionários para com a colaboração no gerenciamento de riscos. Baseado nestas discussões supracitadas o estudo apresenta como principal questão norteadora a ser discutida: De que forma novos indicadores de performance no monitoramento das práticas gestionárias em meio ambiente, saúde e segurança no trabalho podem ser subsidiados e integrados numa nova ferramenta de monitoramento do SIG? Este estudo pretende discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da informação, a que mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de performance qualitativos. Além disso, se propõe a trazer uma discussão teórico e metodológica como instrumentos facilitadores para a formatação desses novos indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação. 2. Organização do trabalho e a empresa que aprende

É sabido que o desenvolvimento da atividade produtiva trouxe e traz grandes benefícios para o homem, como aumento da oferta de produtos e oportunidades empregatícias. Por outro lado, a exigência por melhores desempenhos produtivos gera no meio ambientes e nos próprios trabalhadores da empresa problemas ambientais, sociais e humanos que impactam significativamente a qualidade de todos que estão diretamente e indiretamente envolvidos com o processo produtivo.


Desde os primórdios e, sobretudo, após a Revolução industrial as condições de trabalho comprometeram o meio ambiente, a vida e a saúde de inúmeros trabalhadores. O desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que oportunizou novas oportunidades empregatícias e uma nova forma de viver em sociedade foi responsável por inúmeras epidemias nas cidades, devido ao consumo exacerbado e a falta de manejo adequado do lixo. Nesse momento, o progresso econômico que ora preconizava o acúmulo de riquezas desconsiderava totalmente o trabalhador e o meio ambiente por acreditarem que os recursos naturais e fontes de energia/matéria-prima eram inesgotáveis. Atualmente, esses dois fatores passaram a ser a maior preocupação das organizações ao entenderem que não pode haver produção sem o trabalhador e o meio ambiente saudável. Assim, a preocupação com o ser humano e com o meio ambiente passou a influenciar diretamente a imagem da empresa como uma organização socialmente responsável, o que de certa forma, acaba agregando valor também aos seus produtos. Além disso, consumidores valorizam empresas responsáveis com seus funcionários e que respeitam a natureza. Dessa forma, os valores, objetivos e metas organizacionais, bem como seus modos de produção, devem estar alinhados nesse sentido. Como as teorias administrativas vêm evoluindo com o tempo à medida que novas preocupações vão surgindo, novos enfrentamentos também vêm reorientando as tomadas de decisões. Ou seja, quando o problema da produção estava voltado à eficiência econômica, a ênfase estava sobre as tarefas. Em seguida o problema voltou-se para a questão das lideranças, logo a ênfase caiu sobre a estrutura das organizações e sua hierarquia. À medida que problemas de ordem social começaram a existir devido à falta de condições de trabalho aos funcionários, surge a democratização das organizações com a ênfase sobre o ser humano. Em seguida, aparece a problemática ambiental, e as organizações para se manterem no mercado não podem deixar de levar em consideração o ambiente externo. Atualmente, a inovação tecnológica e de conhecimento, além de serem ferramentas cruciais na área científica, atuam como fonte de vantagem competitiva nas organizações e a administração das empresas deve acompanhar tal tendência (CHIAVENATO, 1987). Assim como a Gestão da Qualidade Total – TQM (Total Quality Management), que na década de 80, trouxe uma filosofia de administração motivada pela constante satisfação do cliente mediante o aprimoramento contínuo de todos os seus processos


organizacionais, a reengenharia trouxe na década de 90 novos modos de pensar ao reconsiderar como o trabalho seria desenvolvido e como a organização teria se estruturado caso estivessem recomeçando. Atualmente, mais especificamente no século XX, a Organização que Aprende (Learning Organization) faz com que os gerentes procurem novas maneiras para responder com sucesso a um mundo de interdependência e mudanças (ROBBINS, 2000). Assim, o conhecimento inovador como ferramenta necessária ao processo de aprendizagem necessita de um conjunto de condições capacitadoras, de intenção e integração com a organização para que o processo de aprendizagem de natureza construtivista seja capaz de gerar aprendizado e soluções novas (MIGUEL e TEIXEIRA, 2009). Para Miguel e Teixeira (2009: 20), ao estimular a gestão participativa, a empresa garante o compromisso do empregado com as metas produtivas e aos processos de conversão do conhecimento, refletindo também na co-gestão dos riscos que, porventura, possam estar expostos dentro do processo de trabalho. as empresas percebidas pelos empregados respondentes como aquelas que oferecem estímulos para enfrentarem desafios e participarem de processos decisórios são também as que oferecem possibilidade de agir com independência, valorizando competência, qualidade de vida no trabalho e relacionamento com a comunidade.

Essas são características essenciais que revelam uma mudança na cultura organizacional.

3. Indicadores de performance em EHS e ferramentas de monitoramento

A complexidade que envolve os novos modos de produção exige das organizações novas técnicas, novos sistemas, novas tecnologias de produção e novas responsabilidades frente às interações entre indivíduos, máquinas, ambientes e produtos. A implementação do sistema de gestão integrado tem auxiliado as organizações a melhorarem seus desempenhos em EHS e qualidade de seus produtos/processos através da identificação e avaliação preliminar de riscos, e implantação de controles mais eficazes nas suas operações. Segundo Araújo (2002) o princípio básico de um sistema de gestão integrado baseado em aspectos normativos, envolve a necessidade de


determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os aspectos operacionais, mas também a política, o gerenciamento e o comprometimento da alta direção com o processo de mudança e melhoria contínua das condições de segurança, saúde dos trabalhadores e das condições do meio ambiente. Como todo sistema de gestão integrado funciona baseado em aspectos normativos, desde 1946 vinte e cinco países uniram forças em Londres para criar uma nova organização com o objetivo de fornecer uma estrutura de referência entre fornecedores e consumidores, facilitando o comércio e a transferência de tecnologia. Dessa forma, a Organização Internacional para Normalização (International Organization for Standardization - ISO) facilitou o processo de globalização, fornecendo para os governos uma base técnica para a elaboração da legislação de segurança, saúde e meio ambiente. Alguns indicadores são passíveis de serem monitorados a fim de garantir a qualidade e a segurança dos processos de produção, evitando assim, situações de risco ao trabalhador e ao meio ambiente, além de desperdícios de produtos, os quais configuram custos à organização, caso não sejam previstos em seus planejamentos. Neste sentido, em 1996, a British Standard, publicou a norma BS 8800 (Occupational health and safety management systems Guide) sobre Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST), sendo adotada nos mais diversos setores industriais em razão da possibilidade de minimizar os riscos para os trabalhadores e para outras partes afetadas. Porém, a BS 8800 é composta por um conjunto de orientações e recomendações, não estabelecendo requisitos objetivamente auditáveis, ou seja, não permite que as empresas obtenham a certificação de seus Sistemas de Gestão de SST. Por essa razão, em 1999, foi formado um grupo coordenado pela British Standards Institution (BSI) que desenvolveu e aprovou a norma BSI - OHSAS 18001 Occupational Health and Safety Assessment Serie (Série de Avaliação da Segurança e Saúde Ocupacional), substituindo as demais normas e guias desenvolvidos previamente pelas entidades participantes e passando a ser utilizada em nível mundial. “A organização deve estabelecer e manter procedimentos para a identificação contínua dos perigos, a avaliação de riscos e a implementação das medidas de controle necessárias” OSHAS 18001 (1999:13). Para isso é necessário que a organização defina dentro do escopo de sua política de saúde e segurança no trabalho: classificação de riscos e a identificação daqueles que devem ser controlados ou eliminados; estabelecimento dos responsáveis técnicos e o momento certo para agir assegurando


atitudes proativas; fornecimento de subsídios para a determinação de requisitos de instalação, necessidades de treinamento e controles operacionais, além de assegurar o monitoramento das ações requeridas. Para tanto, alguns indicadores podem ser utilizados para tal tarefa: •

Medições qualitativas e quantitativas quanto às necessidades dos funcionários da organização: índice de satisfação, motivação, stress; treinamentos; auditorias; alimentação/ Lazer.

Medidas proativas de desempenho quanto à conformidade com os requisitos da gestão em SST, critérios operacionais e legislação e regulamentos aplicáveis: assistência médica; exames periódicos; comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, equipamentos de Proteção Individual - EPI’s.

Medidas reativas de desempenho para monitorar: acidentes, doenças ocupacionais, incidentes (quase acidentes): freqüência; gravidade, custo, afastamentos.

Ações corretivas e preventivas: ergonomia; ginástica laboral, estímulo a atividade física. Já em relação à segurança do meio ambiente, de modo a garantir um Sistema de

Gestão Ambiental eficaz a ISO 14001 (2004), tem por objetivo prover as organizações de elementos que possam integrá-los a outros requisitos de gestão e auxiliá-los a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. A norma dispõe de requisitos específicos para que um SGA capacite uma organização a desenvolver e implementar políticas e objetivos que levem em consideração os aspectos ambientais, sobretudo, o equilíbrio entre a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades socioeconômicas. Os aspectos ambientais quando interagem com o meio ambiente podem gerar impactos ambientais a partir das atividades, produtos ou serviços. Estes também podem ser monitorados a partir de indicadores referentes ao controle operacional: •

Controle das Emissões atmosféricas (Identificação de fontes -

caracterização das emissões; Dimensionamento das quantidades - concentração de poluentes; Equipamentos - manutenção, calibragens; •

Efluentes líquidos: Caracterização dos elementos constituintes -

parâmentros da entrada e saída da Estação de Tratamento de Efluentes – ETE;


Dimensionamento - Concentrações, vazões e periodicidade; Sistemas de drenagem - adequação de redes; Impactos associados •

Resíduos:

Classificação/

tratamento;

Coleta/manuseio;

Estocagem

provisória/ transporte; Destinação final; Reutilização/ reciclagem •

Consumo de água e energia: Estabelecimento de metas; Campanhas de

conscientização; Oportunidades e otimização do consumo •

Gerenciamento de aspectos significativos: Ruído/ vibração; Temperatura;

Odor/ radiação A responsabilidade social deve ser um compromisso voluntário das empresas. E como subsídio ao monitoramento de indicadores qualitativos, o compromisso da empresa em contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus funcionários, a partir do estímulo à produção de subjetividades, contribui para o fortalecimento da identidade da classe trabalhadora, e, portanto, mediadora da qualidade de vida, do desenvolvimento da sociedade e da preservação do meio ambiente. Assim, o desenvolvimento do capital intelectual da empresa é observado desde sua composição social, hierárquica, porém integrada, a um comportamento responsável para com o meio ambiente e os grupos sociais aos quais se integram. Neste contexto, Borba (2007) sugere que avaliar o nível de satisfação dos funcionários a partir de indicadores sociais: nº de empregados, razão de pagamento, taxa de pagamento, tempo de afastamento, nº de projetos comunitários, nº de projetos/parcerias com universidades, investimentos em desenvolvimento sustentável, investimentos em proteção ambiental, reclamações específicas de consumidores e comunidade no entorno, nº de contratos perdidos, investimento em capacitação de funcionários, melhorias sugeridas pelos funcionários, fatores desmotivantes à co-gestão, etc., pode representar indicadores mais complexos, reflexos dos efeitos sociais e impactos no ciclo da vida produtiva. O Scorecard trata-se de uma ferramenta de gestão estratégica e avaliação de desempenho. Seu conceito foi ampliado metodologicamente, sendo útil em diferentes contextos. A partir de vários estudos, foi adaptado numa matriz de resultados de desempenho nos domínios da saúde e segurança do trabalho nas organizações. Porém, chegaram à conclusão que devido à complexidade subjacente à SST as medidas associadas à sinistralidade por si não eram suficientes para atender às especificidades do


SGSST (GALLAGHER, 2001; MEARNS et al, 2003; MARSDEN et al, 2004 apud VELOSO NETO, 2007). Neste sentido, a combinação de diversos domínios de desempenho, os quais envolvem indicadores ativos, reativos e proativos, quantitativos e qualitativos, de sinistralidade e custos/investimentos, reflete no interesse das diferentes partes e na operacionalização das ações em EHS. Assim, a abordagem proposta por Kaplan e Norton (VELOSO NETO, 2007) parte da lacuna e dos pilares críticos de sucesso apontados: 1.

Perspectiva de negócio organizacional e financeiro: Redução de queixas,

incidentes, gravidade e custos; 2.

Perspectiva das partes interessadas: necessidades dos trabalhadores,

motivação, cumprimento dos requisitos legais, auditorias, vigilância e promoção da saúde; 3.

Perspectiva interna do processo de negócio: avaliação e controle dos

riscos ocupacionais, integração do sistema integrado no sistema geral da gestão, avaliação do envolvimento dos trabalhadores no gerenciamento de riscos, 4.

Perspectiva de aprendizagem e crescimento: treinamento e comunicação

interna, atendimento às especificações do SIG e à melhoria contínua. Outro modelo de medição e monitoramento de desempenho é o Health and Safety Performance Index criado em 2004 seguindo recomendações da Health & Safety Executive (HSE). Este modelo segue a estruturação tradicional do Balanced Scorcard, contudo, sem perder o enfoque da performance (MARSDEN et al, 2004, apud VELOSO NETO, 2007). Também voltado exclusivamente para o monitoramento das ações em SST, opera segundo indicadores quantitativos. Porém, a novidade deste modelo incide sobre a introdução de variáveis qualitativas e do foco numa análise mais crítica e ampla dos domínios operacionais da SST. Assim, os indicadores qualitativos surgem sob o formato (SIM/NÃO) a partir das declarações acerca do compromisso da organização sobre o controle dos riscos operacionais; declarações referentes ao cumprimento dos requisitos legais ao SGSST e declarações relativas à investigação em curso ou atualizações de organismos reguladores. Já os indicadores quantitativos recebem uma nota de zero a dez relativa ao elemento chave, onde a soma ponderada determinará um coeficiente de importância e


permitirá a atribuição de um índice global de desempenho (op cit, 2007). Dentre os elementos chaves passíveis de avaliação quantitativa são: 1. Gestão da Saúde e Segurança; 2. Taxa de Lesões; 3. Gestão de riscos para saúde ocupacional; 4. Ausências por doenças; 5. Riscos de grandes incidentes.

Embora este não seja o modelo ideal a ser seguido pelas organizações, devido a falta de clareza aos aspectos metodológicos e opções técnicas, o mesmo representa uma alternativa de perspectivar a construção e utilização de matrizes de desempenho a partir do Balanced Scorecard. Por fim, a última metodologia conhecida até então: o Benchmarking. Esta procura vantagem competitiva a partir de boas práticas ou pontos de referência passíveis de serem adotados ou adaptados, acrescentando-lhes valor – prática à estratégica organizacional. Segundo Camp (1995) apud Coloauto, Beuren & Sant’ana (2005:23) o Benchmarking é Uma metodologia de pesquisa contínua e sistemática para realizar comparações de processos e práticas de uma empresa com outras portadoras das melhores práticas administrativas e para avaliar bens, serviços e métodos de trabalho no sentido do aprimoramento organizacional e da superioridade competitiva.

A metodologia gera um conjunto de informações que permitem às organizações identificar problemas semelhantes e aperfeiçoar os seus processos de trabalho com o objetivo de melhoria contínua. Essa visão estratégica foi desenvolvida em 1979 pela Xerox Corporation, e foi evoluindo com o tempo e aperfeiçoada até ser estruturada. Segundo Veloso Neto (2007) após várias gerações, a última versão parte da avaliação contínua das alternativas e de estratégias recolhidas com parceiros de aliança empresarial com foco na satisfação das partes interessadas, na necessidade de se gerar conhecimento e inovação, e delimitar moldes de desempenho que se enquadram na era da globalização, da sociedade e do conhecimento. E como tal, ao fixar novos padrões de desempenho de acordo com as melhores práticas de gestão em EHS, alcança vantagens competitivas. Porém, em uma análise mais metodológica, configura: uma abordagem, na medida em que se visa melhoria


contínua organizacional a partir do nível de produtos e processos; um processo de pesquisa contínua e sistemática, fortemente alicerçada em mecanismos de apropriação, adaptação, otimização e desenvolvimento e uma técnica de coleta de dados e geração de informações e conhecimento (op cit, 2007). Esse modelo é o que mais se adapta à ferramenta digital proposta pelo estudo por permitir enquanto abordagem a identificação das práticas gestionárias em EHS (o que se pretende melhorar), enquanto processo a investigação das oportunidades de melhoria e enquanto técnica de coleta de dados o monitoramento dos processos de aprendizagem, mediante a adaptação das melhores práticas e inovação dos produtos ou automação laboral, através da criação e implementação de novos ideais (cultura organizacional) e mecanismos de atuação (aprendizagem organizacional). No entanto, cabe ao presente estudo utilizar-se desse importante conceito teórico e estratégias metodológicas de captação dessas subjetividades para consubstanciar essa nova ferramenta, que aqui a nomeamos preliminarmente por 2Q’s, por contar com indicadores quantitativos (a partir dos sistemas normativos) e indicadores qualitativos (a partir dos processos subjetivos) que possam dimensionar os resultados das práticas de gestão em EHS, além de dimensionar o grau de participação do funcionário para com a co-gestão no gerenciamento de risco. Essas informações juntas oportunizarão maior visibilidade à gestão quanto ao funcionamento do SIG, delineando os processos decisórios, a partir do monitoramento de suas práticas usuais em EHS. E para se formatar os indicadores qualitativos, o estudo propõe utilizar-se do método cartográfico, partindo da compreensão de que o campo psicossocial não pode ser explicado apenas por suas influências, contradições, interesses ou pressões, mas emerge como um efeito heterogêneo de agenciamentos entre o homem e o meio ambiente em que interage. No entanto, para fazermos uso dessa metodologia é necessário apropriar-se da tradução, ou seja, singularizar o que cada ator faz da rede e na rede (ROSA, s/d). Dessa forma, a multiplicidade das traduções pode demonstrar controvérsias que possam traduzir em falhas no gerenciamento de risco. Assim, essas traduções podem contribuir tanto na caracterização das situações de perigo ao trabalhador e ao meio ambiente, como nas próprias sugestões de controle de modo a facilitar o processo de aprendizagem organizacional, através da resolução de problemas. A modificação do meio social é outro fator que possibilita novas produções subjetivas, pois à medida que mudanças se processam no meio ambiente, também são


processadas nos próprios sujeitos que compõem a rede - novas produções de si. Por isso, a cartografia produz ao mesmo tempo análise e intervenção (PASSOS et al, 2010). O método cartográfico MERHY (2011), não tem a intenção de produzir um passo a passo definido, ao contrário, vai fotografando os acontecimento, acompanhando os movimentos, as retrações, os processos de invenção e de captura que se expandem e se desdobram desterritorializando-se e reterritorializando-se à medida que o mapa é projetado. Esse mapa representa as linhas de força que vão se delineando a partir dos processos relacionais da rede e a partir das relações de poder que ali se estabelecem, dentro de um sistema hierárquico, porém integrado e socializado. Para Ferreira (2008) ao produzir esse mapa, estaríamos no plano da invenção e não mais da representação, ou seja, é sempre algo novo. Assim, cartografar é estar atento às maneiras que o desejo/opinião/ação encontram afetuar-se no campo social à medida que surgem novos agenciamentos. Ou seja, diante desses novos agenciamentos, ou novas situações, os colaboradores promovem ações proativas, reativas ou corretivas? E o quanto seus corpos conseguem suportar cada situação. Portanto, o método da cartografia permite delinear entre as controvérsias novas formas de cognição, de interação, de ação social, de ativismo político, de geração e difusão de conhecimento que se pretende perscrutar para a formatação de novos indicadores de performance. Sendo que essas novas formas de subjetivação são importantes para o desenvolvimento de uma organização que se encontra em constante aprendizado e devem compor o sistema de monitoramento das ações em EHS. Nesse sentido, para compreender as subjetividades de cada ator, em relação aos seus desejos e indagações e em relação ao comportamento seguro no gerenciamento de riscos, é necessário mapear os processos de construção do conhecimento à medida que suas motivações/ desmotivações se mesclam com os movimentos constituintes da própria rede, sendo algo dinâmico e não estático. Por esse motivo, os indicadores qualitativos são possíveis de serem formatados, a partir da metodologia da cartografia, e necessários o seu monitoramento. Portanto, a formatação de indicadores quanti-qualitativos socioambientais para o monitoramento das ações do SIG seria de grande valor para a vigilância ambiental e à saúde. A construção destes indicadores a partir dos sistemas normativos e dos processos de subjetivação dos funcionários, irá aperfeiçoar o Sistema de Informação da empresa que aprende a partir da utilização dessa nova ferramenta digital de monitoramento 2Q’s. Além disso,a mesma subsidiará a identificação em tempo hábil e, consequentemente,


um maior controle das fontes poluentes e dos fatores de riscos ao meio ambiente e ao trabalhador sob a ótica de quem vivencia na prática tais exposições. Esta nova ferramenta deverá estar norteada por algumas características tais como: corresponder à realidade local, ter sustentabilidade científica, ser de fácil aplicação e, principalmente, compor uma matriz global no sistema de informação.

5.

Considerações finais:

A contribuição científica do estudo parte do reconhecimento de que a produção, a socialização e o uso de conhecimentos e informações, assim como a transformação destes em inovações tecnológicas constituem processos socioculturais passíveis de serem aprendidos e que tais práticas e relações contribuem para o comportamento seguro e o gerenciamento de risco nas organizações. Para tanto, a ferramenta 2Q’s aqui proposta se constitui um pilar para que esses processos venham ser desenvolvidos, monitorados e rentabilizados na forma de vantagem competitiva. Ou seja, a confluência do conhecimento técnico e normativo junto ao conhecimento tácito dos colaboradores sublinha fonte de inovação e competitividade e interações na produção e na difusão desses conhecimentos. Destarte, o conhecimento tácito dos funcionários (capital intelectual de uma organização) implica em um instrumento importante no processo produtivo desde que suas subjetivações não passem desapercebidas. Trata-se de acompanhá-lo em seu dinamismo, nas suas múltiplas faces, em sua atuação como instrumentos de subjetivação e ferramentas de poder. Assim, as empresas que ainda buscam se auto-sustentar no mercado estão cada dia percebendo que ao investir em seus funcionários, ou seja, em seu capital intelectual, oferecendo-lhes benefícios, treinamento e acima de tudo a oportunidade de serem ouvidas, colherá resultados positivos frutos dessa gestão participativa, principalmente ao estimular nos seus funcionários o que a psicanálise de Foucault descreve como estética da existência. A ética do cuidado de si concerne à maneira pela qual cada indivíduo constitui a si mesmo como sujeito de sua própria conduta, estando


intimamente relacionada com os seus atos e suas ações para consigo e para com os outros (VENTURA, 2008: 2).

Dessa forma, quando o funcionário se auto-referencia como colaborador das práticas gestionárias em EHS, demonstra uma ética do cuidado de si, que se afetua em atos e ações para consigo, para com os outros e para o meio ambiente, visualizadas diretamente pelas novas formas de subjetivação. Assim, ao dialogar com Foucault sobre a ética da existência e técnicas de si nos faz pensar nas atuais condições de trabalho impostas ao operário industrial como possibilidade para auto-afirmação de se fazer sujeito responsável pelos modos/estilo de vida saudáveis. Portanto, ao admitir as subjetividades como processos em movimento e em constante transformação, fortalece a identidade social da classe trabalhadora não só como colaboradores no processo produtivo, mas também, como co-responsáveis no gerenciamento de riscos e, consequentemente, na efetivação do SIG.

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Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas Andrea Goldschmidt*1

Resumo Muitas empresas vêm desenvolvendo programas de voluntariado empresarial, como forma de estimular seus funcionários a participar da solução de problemas socioambientais existentes nas comunidades onde vivem e trabalham. O que a maioria delas ainda não está conseguindo fazer é avaliar adequadamente a contribuição de tais programas para o desenvolvimento de importantes competências humanas para as pessoas que participam destas ações. Desta forma, as empresas perdem uma grande oportunidade de casar duas necessidades internas: de desenvolvimento humano e de participação social. O objetivo deste artigo é mostrar que o programa de voluntariado pode ser uma interessante ferramenta de desenvolvimento de competências, além, é claro, de ser uma excelente ferramenta de engajamento e criação de senso de cidadania. Para que o programa de fato traga estes benefícios, no entanto, ele precisa ser estruturado de maneira estratégica, com a criação de oportunidades de atuação em consonância com as áreas de conhecimento da empresa e das pessoas envolvidas, ao mesmo tempo que enderece uma necessidade real da comunidade. Neste sentido, faz-se necessária a avaliação completa da estratégia do programa, com um olhar sobre questões como seu foco, sua relação com outras atividades de investimento social da empresa, a estrutura oferecida pela empresa para sua gestão, as formas de mobilização e motivação de pessoas para participação, bem como as estratégias para envolvimento das lideranças internas da empresa. O olhar para o voluntariado empresarial como uma ferramenta de capacitação pessoal e profissional ainda é muito novo no Brasil, mas já está mais evoluído em outros países. Acreditando que as empresas brasileiras podem aumentar o retorno deste tipo de ação tanto para os negócios quanto para as pessoas envolvidas (sejam elas os próprios funcionários/voluntários ou os beneficiários nas comunidades escolhidas para desenvolvimento das ações), o presente artigo visa mostrar que este mesmo objetivo pode ser alcançado de diferentes maneira e, por meio de dois exemplos atuais, ilustra opções de estrutura de programas de voluntariado que se adaptam a 2 realidades diferentes, mas levam ao mesmo tipo de resultado esperado, que é o desenvolvimento de competências humanas desejadas pela empresa nos funcionários participantes do programa de voluntariado empresarial. O artigo visa ressaltar a importância da etapa de planejamento do programa, quando serão definidas a forma de atuação dos voluntários e as maneiras como a empresa poderá evidenciar o desenvolvimento das competências humanas entre os participantes e os ganhos socioambientais para a sociedade.

1 Andrea Goldschmidt – Administradora de empresas, com especialização em Marketing, ambos pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Professora de Responsabilidade Socioambiental nos cursos de graduação e pós graduação da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing e de Branding e Marketing na Economia Sustentável no MBA da FGV – Fundação Getúlio Vargas. Organizadora e co-autora do livro “Gestão dos Stakeholders – como gerenciar o relacionamento e a comunicação entre a empresa e seus públicos de interesse” publicado pela Editora Saraiva. Tem 20 anos de experiência em gestão de Marketing, Responsabilidade Social e Sustentabilidade, atuando desde 2003 como Consultora da APOENA Sustentável na implantação de programas para empresas de diversas áreas e portes – andrea@apoenasustentavel.com.br Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Corporate volunteering as a tool for developing human skills

Abstract

Many companies have been developing volunteering programs as a means to encourage their employees to participate in the solution of socio-environmental problems in the communities where they live and work. What most of them have been unable to do yet is evaluate adequately the contribution of these volunteering programs to the development of human skills for the participants. So companies are missing on the opportunity to match two internal needs: corporate citizenship and human development. The objective of this article is to show that a company’s volunteering program can be an interesting tool for developing employee skills in addition to being an excellent tool for creating engagement and a sense of citizenship. In order for the program to effectively produce these benefits, however, it needs to be structured in a strategic manner that creates opportunities for actions that are aligned to the areas of knowledge of the company and the people involved while, at the same time, addressing a real need of the community. Accordingly, it is necessary to make a thorough evaluation of the program strategy, with an eye to issues such as its focus, its relation to other social investment activities of the company, the structure provided by the company for the program management, ways to mobilize and motivate employee participation, as well as strategies for involvement of company leaders. Viewing corporate volunteerism as a tool for human skills development is still very new in Brasil, but it is more evolved in other countries. Believing that brazilian companies can increase the return on this type of action for both the business and the people involved (whether their own employees / volunteers or beneficiaries in the communities chosen for the development of the actions), this article aims to show that this same goal can be achieved in different ways and through two recent examples, illustrates options for the volunteer programs structure that adapt to two different realities, but lead to the same kind of expected result, which is the development of human skills desired by the company from its employees participating in the corporate volunteer program. The article aims to highlight the importance of the planning of the program, when the actions of the volunteers will be defined and when the company will determine how she will demonstrate the development of human skills among participants and the environmental gains to society.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


1. Voluntariado

Segundo o Conselho da Comunidade Solidária, o voluntário é o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário. A pesquisa Projeto Voluntariado Brasil 2011, realizada pela Rede Brasil Voluntário e pelo Ibope Inteligência, concluiu que 25% da população brasileira fazem ou já fizeram algum tipo de serviço voluntário. Há, neste grupo, uma leve predominância de mulheres (53% do total dos voluntários versus 47% de homens), de pessoas que trabalham (67% dos voluntários trabalham fora de casa, sendo 51% em período integral e 16% em período parcial) e que têm filhos (62%, sendo a média de 2,5 filhos). Em média, estas pessoas dedicam pouco mais de 4 horas mensais a trabalhos voluntários, realizados principalmente em instituições religiosas (49%) e organizações de assistência social (25%). “Ser solidário e ajudar” é a motivação mais comumente mencionada pelas pessoas que atuam como voluntárias (67% dos respondentes), seguida de “fazer a diferença e melhorar o mundo” (resposta dada por 32% dos voluntários). Apesar de que os voluntários possuem habilidades e competências que agregam valor ao serviço voluntário (38% têm ensino médio completo / superior incompleto e 20% têm nível superior completo), as motivações de “Adquirir experiência / praticar o que aprendeu” e “desenvolver novas habilidades” aparecem com índice pequeno de respostas (6% e 3% respectivamente). Seguindo a linha de raciocínio de que os brasileiros veem o voluntariado como ações de filantropia e assistência social e não como uma oportunidade de colocar seu talento e conhecimento em prol de uma causa, talvez as empresas também não estejam ainda enxergando o voluntariado como uma oportunidade de desenvolver competências em seus colaboradores.

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2. Voluntariado empresarial

Algumas empresas, movidas pelo desejo de aumentar o engajamento e ampliar o senso de cidadania2 entre seus funcionários, começaram a organizar ações que ficaram conhecidas como voluntariado empresarial. Pode-se conceituar voluntariado empresarial como “um conjunto de ações realizadas por empresas para incentivar e apoiar o envolvimento dos seus funcionários em atividades voluntárias na comunidade” (GOLDBERG, 2001, p.22). Ao fomentar a participação de seus funcionários em atividades voluntárias, as empresas estimulam os indivíduos a conhecer e, sempre que possível, intervir nos negócios públicos, seja por meio de sua participação ativa em ações geridas diretamente por órgãos do Estado, seja por meio de sua participação em ONGs que contribuem com o Estado para a realização de suas funções sociais. Além disso, as ações de voluntariado ajudam a trazer foco para “o outro lado do Direito” dos cidadãos, que são os seus “Deveres”, mostrando que é possível contribuir para a garantia dos direitos de uma coletividade a partir do cumprimento dos seus deveres individuais como cidadão. As ações voluntárias podem ser realizadas com voluntários ligados direta ou indiretamente a uma empresa (funcionários efetivos, terceirizados, familiares, exfuncionários e aposentados). Como as empresas são locais com grande concentração de pessoas e já dedicam parte de sua receita a ações de investimento social privado (ISP), foi natural que passassem a buscar maneiras de envolver os funcionários em atividades similares, de forma que eles também pudessem contribuir para o desenvolvimento social local, de forma isolada ou complementar às atividades de ISP da empresa. Segundo a pesquisa “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil III”. (CBVE (2012) - Rio de Janeiro: CBVE), “as empresas privadas são as maiores promotoras de voluntariado no Brasil”. As empresas de grande porte (acima de 500 funcionários) representam pouco mais de 50% dos programas existentes, seguidas das empresas de pequeno porte (cerca de 2 Cidadania (do latim, civitas, "cidade") - segundo a Wikipedia é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. O conceito de cidadania sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (indireto), seja ao concorrer a um cargo público (direto). No entanto, dentro de uma democracia, a própria definição de Direito, pressupõe a contrapartida de deveres, uma vez que em uma coletividade os direitos de um indivíduo são garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos demais componentes da sociedade Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


40% dos programas). A maior concentração de programas (82,7%) estão na região sudeste e na região sul (17,3%) e 69,6% deles existem há mais de 5 anos. A pesquisa concluiu que “as ações voluntárias empresariais ainda têm um longo caminho a percorrer até que se tornem de fato relevantes para as empresas que as praticam”. No entanto, os investimentos (de dinheiro e tempo) realizados pelas empresas são bastante significativos - 21,8% das empresas pesquisadas têm orçamento superior a R$ 200.000 anuais para o programa, sendo 17,4% superior a R$ 500.000 e com uma tendência de ascensão. Além disso, “71% dos entrevistados disseram que têm permissão para encaixar as ações de voluntariado dentro do horário de trabalho” (apesar de que a maioria dos funcionários não utilizem essas horas!). O significativo investimento de dinheiro e tempo realizado certamente começa (ou começará) a gerar uma pressão nas empresas para demonstrar o resultado concreto destes programas para os negócios. Neste sentido, é interessante destacar o crescimento do objetivo de “ampliar competências e habilidades dos colaboradores” quando as empresas são perguntadas sobre as razões pela quais estruturam programas de voluntariado e incentivam os colaboradores a realizar ações voluntárias. Comparando os dados coletados pela pesquisa em edições anteriores, nota-se que “de 2007 para 2012, o aumento (neste item) foi de quase 21 pontos percentuais, atingindo 28,99% das respostas” o que, apesar de bastante significativo, ainda demonstra um grande potencial de crescimento. A ideia de que a relação entre voluntariado e desenvolvimento de competências pode ter uma correlação positiva não é nova: em 1995, a empresa de Correios do Reino Unido,acreditando que as competências de seus quase 200.000 empregados poderiam ser mais bem aproveitadas, resolveu conduzir um estudo com 2 objetivos principais: 1) coletar informações sobre a relação entre o envolvimento comunitário e a contribuição das pessoas para os resultados do negócio e 2) recomendar ferramentas práticas que pudessem ser usadas para monitorar e avaliar o desenvolvimento profissional e a motivação dos funcionários por meio do envolvimento comunitário, a fim de otimizar sua contribuição para os objetivos estratégicos da área de recursos humanos da empresa. Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Em 2009, uma pesquisa realizada pelo Carroll School of Management do Boston College, com a participação de 203 das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, listadas pela Revista Fortune, mostrou que 19% das empresas incentivavam diretamente a participação dos funcionários em atividades voluntárias em função de planos e metas de RH. Infelizmente a pesquisa brasileira citada acima, “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil III”. (CBVE (2012) - Rio de Janeiro: CBVE), não pergunta às empresas se existe algum tipo de articulação entre os programas de voluntariado empresarial e as políticas de desenvolvimento de competências humanas e, como apenas 10,9% dos programas são conduzidos pela área de recursos humanos, é de se imaginar que esta articulação ainda não seja feita formalmente na maioria dos casos. Outro dado que chama a atenção na pesquisa do CBVE é que apenas 32% das empresas valorizam a experiência voluntária dos candidatos em processos de seleção e, em 2010, 59% disseram não levar em consideração esta experiência para promoções e aumentos salariais. Conclui-se, com isso, que a área de Recursos Humanos das companhias, em geral, pode não estar percebendo os benefícios potenciais das ações de voluntariado para as pessoas e para os negócios e, pode até ser que os programa atuais, com ações mais assistencialistas do que transformadoras, de fato não gerem grande contribuição para o desenvolvimento de competências. Mesmo neste caso, a área de Recursos Humanos poderia ter participação importante na reformulação dos programas, de forma que se tornem capazes de gerar este benefício para os negócios e para as pessoas envolvidas.

3. Desenvolvimento de competências humanas

A economia do conhecimento desenvolve-se num contexto em que a base de conhecimento das organizações é intensamente mobilizada e ampliada para a formação de novas capacitações e competências (ZANGISKI, 2009 APUD SANCHEZ, 1997; SAVAGE, 1996).

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Para ZANGISKI (2009) APUD FERNANDES (1998), “há um conjunto de premissas que precisam ser consideradas para a compreensão da aprendizagem organizacional, que inclui: •

A aprendizagem geralmente tem consequências positivas (mesmo quando os resultados das ações são negativos, pois o produto deste processo está na compreensão das relações de causa-efeito

Mesmo que o aprendizado centre-se no indivíduo, as empresas também podem aprender, pois pode-se estabelecer uma apresentação social ao processo de aprendizagem organizacional

A aprendizagem ocorre através de todas as atividades da empresa, em diferentes processos e em diferentes níveis”

Pela definição do senso comum, competência é a qualificação para realizar algo, mas no mundo dos negócios este conceito é bem mais abrangente e profundo e aborda características pessoais, como conhecimento, habilidades e atitudes (CHA) e também a capacidade de ter um bom desempenho associado às atividades realizadas. Entre os profissionais de RH, a definição mais comumente utilizada é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que afetam a maior parte do trabalho e que se relacionam com o desempenho no trabalho; a competência pode ser mensurada, quando comparada com padrões estabelecidos e desenvolvida por meio de treinamentos (FLEURY; FLEURY, 2001). Segundo Fleury e Fleury (2004), no contexto organizacional, a competência é vista da perspectiva individual como uma característica pessoal que possibilita desempenho superior na realização das tarefas, ou frente a situações adversas. Mas, ao mesmo tempo, a somatória das competências individuais, formam as competências organizacionais que são percebidas pelos seus públicos de interesse.

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Figura 1: Comportamentos ligados a competências Fonte: FLEURY, FLEURY, 2004 p. 30 Segundo HERRERA (2007), em seu artigo Desenvolvimento de Competências, “Por desenvolvimento de competências entende-se a estruturação do conjunto de saberes necessários a qualquer indivíduo ou grupamento humano que promovam-no a um degrau superior no desempenho de suas funções. Este conjunto de saberes é estruturado no conhecimento, nas habilidades e atitudes exigidas na execução das atividades que se espere um desempenho maior em qualquer campo do conhecimento humano. Por agrupamento humano entende-se indivíduos com vínculos culturais peculiares (idioma, religião, condição social, geográfica ou política, etc.), cuja dimensão vai desde um continente até uma simples comunidade” Se as competências humanas são o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, sendo o conhecimento o “saber”, a habilidade o “saber fazer” e a atitude o “querer fazer”, logo, elas podem ser desenvolvidas nas pessoas, por meio de vivências e treinamentos. O desenvolvimento de competências pode acontecer por meio de diferentes trilhas de aprendizagem, sendo que as pessoas podem chegar à mesma competência desejada por meio de diferentes atividades, conforme mostra a figura 2 abaixo:

Figura 2: Trilhas de aprendizagem Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Fonte: QUEIROZ (2008)

O que o presente artigo visa mostrar, é que o voluntariado empresarial pode ser uma destas possíveis trilhas a serem seguidas e que tem potencial para gerar resultados bastante significativos em diversas situações. Segundo QUEIROZ (2008), as principais competências humanas são: comunicação escrita, comunicação falada, criatividade/inovação, empreendedorismo, gestão da informação, gestão da mudança, liderança, negociação, orientação ao cliente, orientação ao resultado, relacionamento interpessoal, relacionamento intrapessoal, tomada de decisão, trabalho em equipe, visão estratégica e visão sistêmica. Muitas destas competências demonstram forte relação com atividades de voluntariado, como por exemplo, liderança, negociação, trabalho em equipe, comunicação, etc. E, conforme o tipo de ação que se propuser aos voluntários, estas competências poderão ser desenvolvidas em maior ou menor grau. Segundo pesquisa realizada pelo CANADIAN CENTER OF PHILANTROPY (2004), as competências mais desenvolvidas pelos voluntários são habilidades interpessoais, habilidades intrapessoais (a compreensão melhor das pessoas), liderança (motivar os outros), e gestão da mudança (lidar com situações difíceis), sendo que 79% dos voluntários disseram que suas atividades como voluntários ajudaram-nos com estas competências. 68% dos voluntários disseram que o voluntariado ajudou a desenvolver melhores habilidades de comunicação. A porcentagem de voluntários que relataram ganhos de habilidades específicas como resultado das ações de voluntariado aumentou de forma constante com o número de horas que eles contribuíram. Por exemplo, mais de três quartos (78%) dos voluntários que contribuíram com 188 ou mais horas (no ano 2000) relataram ganhos nas habilidades de comunicação, em comparação com pouco mais de metade (52%) daqueles que contribuíram 19 horas ou menos. Semelhante, mas menos pronunciado, este padrão é visto em outras competências avaliadas. Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Da mesma maneira, a pequisa demonstra ganhos diferentes de competências em grupos de diferentes faixas etárias. Por exemplo, os voluntários com idades entre 15 e 24 anos eram mais propensos do que os voluntários mais velhos a relatar ganhos nas competências de comunicação (82%) e relacionamento interpessoais (77%) decorrentes das suas atividades de voluntariado. Se estas são importantes competências a serem desenvolvidas em um grupo de funcionários, é natural que a empresa procure criar oportunidades que de fato ajudem a trazer intencionalidade para esta prática, ou seja, que criem oportunidades de trabalho voluntário que sejam de fato uma opção de desenvolvimento de competências específicas para seus funcionários. Segundo Kenn Allen, “há alguns anos, a lógica clássica de que o voluntariado corporativo ‘é bom para a comunidade, é bom para os funcionários e bom para a empresa’ mostrava-se como uma vantagem não intencional, mas hoje, estes benefícios não são mais colaterais, mas sim buscados ativamente pelas empresas”. Mas, conforme alerta Kenn Allen, “As empresas devem tomar um cuidado especial com os possíveis conflitos entre os benfícios de desenvolver competências e habilidades que a própria empresa e seus funcionários procuram e a realidade das ONGs parceiras. Por exemplo, as empresas não podem esperar que as ONGs desviem outros recursos para realizar suas expectativas”, ao contrário, devem ter em mente que é um trabalho dos gestores do programa construir parcerias que sejam realmente vantajosas para as ONGs parceiras e, neste sentido, o desafio está em conseguir propor a realização de ações que ajudem a desenvolver competências, a partir da premissa de que o objetivo principal deve ser ajudar a resolver problemas reais que as organizações parceiras e as comunidades beneficiadas têm. Segundo o artigo The Promise Employee Skill-Based Volunteering Holds for Employee Skills and Nonprofit Partner Effectiveness: A Review of Current Knowledge produzido pela POINTS OF LIGHT FOUNDATION, em 2007, as empresas americanas estão abraçando o chamado voluntariado baseado em competências de forma acelerada. Elas acreditam que este tipo de voluntariado é uma forma mais efetiva do que outras existentes, justamente porque contribui com causas sociais ao mesmo tempo que ajuda a desenvolver pessoas para o mercado de trabalho. Esta situação ganha-ganha torna este tipo de ação de voluntariado Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


especialmente interessante para as empresas e, ainda mais, para aquelas que têm ações de investimento social privado e sofrem pressões para torná-los mais efetivos interna e externamente. Desta forma, o voluntariado poderia ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e, ao mesmo tempo, contribuir para a solução de problemas reais. Ao tornar o programa de voluntariado algo mais estratégico dentro da empresa, ele poderá deixar de ser uma ação dirigida apenas às pessoas que têm mais tempo livre ou que têm maior desejo de participar de atividades comunitárias, para ser uma oportunidade para que as pessoas que compõem a força de trabalho desenvolvam competências.

4. Casos reais

A metodologia sugerida pelos Correios do Reino Unido (1995) recomenda que a área de Recursos Humanos da empresa identifique quais são as principais competências que se deseja desenvolver nos funcionários e, a partir delas, identifique opções de atividades que tenham o poder de desenvolvê-las ou, ao contrário, que se listem as atividades disponíveis e as competências desejáveis para verificar as sinergias entre elas, conforme demonstra a figura 3 abaixo:

Oportunidades

Mentoria

Tutoria

Participação em Conselho

Atividades Desafio Voluntariado individuais Voluntário genérico direcionadas

Competências Empreendedorismo

x

x

Habilidade de inovar

x

x

x

x

x

Habilidade de negociação

x

x

x

Trabalho em equipe

x

x

x

x

x

Tomada de decisões

x

x

Orientação para a ação

x

Habilidade de análise

x

Resolução de problemas

Relacionamento interpessoal

x

x

x

x

x x

x

x

x

x

x

x

Figura 3: Matriz de desenvolvimento Fonte: Adaptado pela autora a partir de quadro apresentados em Employees and the community (1995)

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A partir desta premissa, dois casos brasileiros vêm sendo conduzidos pela Apoena Sustentável (consultoria especializada em voluntariado). Como os projetos ainda não foram finalizados, optou-se por manter em sigilo os nomes das empresas que os estão conduzindo. Ambas são empresas de grande porte, com atuação em todo o território nacional e com programas de voluntariado já estruturados há alguns anos. Em ambos os casos, o processo iniciou-se com uma reavaliação completa da estratégia do programa, com um olhar sobre questões como seu foco e sua relação com outras atividades de investimento social da empresa. O objetivo era garantir que o programa não seria descaracterizado ao buscar fazer a relação das ações com o desenvolvimento de competências humanas desejado. No primeiro caso, a empresa tem uma série de opções de ações estruturadas. Os funcionários que desejam ser voluntários são treinados para a reprodução das metodologias propostas e, em seguida, encaminhados para organizações sociais para a aplicação prática dos conteúdos aprendidos. No final de 2012, alguns voluntários foram solicitados a preencher um formulário de avaliação do programa, por meio do qual se perguntou quais das competências estratégicas para a empresa cada um deles acreditava ter desenvolvido mais durante a realização das atividades voluntárias - a auto avaliação é, segundo a metodologia dos Correios do Reino Unido, o formato de mais fácil implantação. O resultado foi bastante interessante, porque ficou claro que os funcionários são capazes de estabelecer esta relação (o que é bastante importante, considerando-se que estas competências desejadas são a base para as avaliações anuais de desempenho de todos os funcionários desta empresa). Ainda assim, ficou evidente que os resultados poderiam ser ainda melhores se eles tivessem sido estimulados desde o princípio a intencionalmente buscar atuar de maneira a ampliar a relação entre as ações voluntárias e as competências a serem desenvolvidas. Sendo assim, no início do ano seguinte, as características de cada uma das opções de ações voluntárias disponibilizadas foram avaliadas e estas informações foram cruzadas com as competências desejadas pela área de Recursos Humanos para verificar sua compatibilidade com o formato atual do programa. Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Ao realizar este cruzamento, ficou claro que as competências desejadas estavam mais relacionadas à forma de conduzir as atividades do que às atividades realizadas (foram identificadas fortes sinergias com 5 das 10 competências desejáveis) e, por este motivo, sugeriu-se manter as opções de atividades voluntárias disponíveis para os funcionários, mas modificar a maneira como estas ações são avaliadas ao final de um ano de programa. O objetivo, portanto, será modificar os critérios para reconhecimento das ações, de forma que se possa dar mais destaque (nas ações de reconhecimento, por exemplo) às pessoas que tiverem, notadamente, desenvolvido as ações voluntárias utilizando as competências que o RH deseja desenvolver. Foram criados então novos formulários de avaliação das ações, em que os voluntários são solicitados a dar informações sobre a maneira como as atividades foram desenvolvidas e, por meio da análise destas respostas, será possível verificar quais das competências listadas foram mais trabalhadas pelo conjunto dos voluntários. Com isso, será possível mapear mais detalhadamente que contribuições o programa de fato traz para os objetivos da área de Recursos Humanos e Educação Corporativa. O próximo desafio será ampliar esta avaliação para gestores e colegas de trabalho (dentro do conceito de avaliação 360º), de maneira que se possa começar a evidenciar de forma mais abrangente os benefícios existentes. Atualmente, por meio da auto avaliação, já é possível fazer com que o funcionário-voluntário compreenda seus aprendizados, mas o desafio mais interessante será, no futuro, conseguir mostrar para os gestores a existência desta correlação, já que isso provavelmente os motivará a incentivar a participação de outros funcionários no programa. Da mesma maneira, este tipo de avaliação poderá ajudar os gestores a, no futuro, orientar os funcionários da sua equipe na identificação de ações de voluntariado de que possam participar com o objetivo de vivenciar situações em que determinadas competências possam ser desenvolvidas. Assim, a empresa contribui para o desenvolvimento profissional do voluntário, ao mesmo tempo em que se estimula a participação cidadã e o engajamento dos funcionários com questões importantes para o desenvolvimento da comunidade onde a empresa atua. Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


O que ficou evidente neste caso, é que é possível estimular o desenvolvimento das competências desejadas, mantendo as ações de voluntariado atuais e dando breves orientações sobre maneiras ligeiramente diferentes de conduzi-las (em relação ao que foi feito anteriormente pelos funcionários). Consegue-se, com isso, manter a identidade e o alinhamento do programa com o investimento social e adicionar um componente de avaliação que pode trazer uma relevância estratégica bastante importante para o programa internamente.

No segundo caso estudado, a estrutura do programa é bastante aberta, com algumas diretrizes gerais de atuação, que ajudam os voluntários a definir o que fazer e onde atuar, mas dando a eles liberdade de analisar a situação de cada organização social escolhida para ser parceira na ação voluntária a ser desenvolvida. Quando o programa foi criado, o objetivo principal era incentivar a participação cidadã e, como a equipe gestora do programa é enxuta e os funcionários estão espalhados por muitos municípios brasileiros, optou-se por ter um formato estruturado, mas que, ao mesmo tempo, desse ao voluntário autonomia para atuar individualmente ou em grupos da forma que eles julgassem mais conveniente. Os voluntários mostraram-se sempre muito envolvidos e grandes parceiros das organizações escolhidas, realizando, anualmente, uma grande quantidade de ações voluntárias. Entretanto, a maioria das ações realizadas tinha cunho assistencialista e pouco transformador e, com o passar do tempo, surgiu o desafio de qualificar as ações dos voluntários e aproximá-las das estratégias de atuação social da empresa. A opção aqui foi por estimular os voluntários a realizar um número menor de atividades, mas, ao mesmo tempo, concentrar-se em atividades que gerem retornos de mais longo prazo para os beneficiados. Ao mesmo tempo, começou-se a olhar para os aprendizados do próprio voluntário, já que realizar ações assistencialistas requer muito poder de mobilização, mas ajuda pouco no desenvolvimento de outras competências relevantes.

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Neste segundo caso, a partir da lista de 12 competências de treinamento identificadas pela empresa, foram selecionadas as 6 que foram consideradas mais pertinentes para a criação de oportunidades de ações para os voluntários. Historicamente, ao iniciar o programa, os funcionários da empresa recebem um manual orientador, por meio do qual são sugeridas algumas atividades a serem realizadas por eles. A partir da ideia de enfatizar o desenvolvimento de competências, optou-se por concentrara as atividades dos voluntários em ações mais transformadoras e consideradas mais relevantes para o desenvolvimento das competências desejadas e para a sociedade. O manual, então, passa a ser complementado por algumas sugestões de ações transformadoras, detalhadas com uma sugestão de passo a passo para implantação, destacando a sua relação com o desenvolvimento da competência a que se refere. Cada grupo de voluntários deverá escolher uma única ação para implantação ao longo do ano. As ações implantadas serão avaliadas comparando-as com aquelas que pretendem desenvolver a mesma competência, formando, portanto, 6 categorias diferentes para as atividades de reconhecimento. No final do ano, desta maneira, serão selecionadas para divulgação e reconhecimento as ações mais interessantes e que tiverem demonstrado maior desenvolvimento comunitário e de competências dos integrantes do grupo de voluntários. Neste caso, portanto, cada grupo de voluntários será estimulado a desenvolver, de forma mais profunda, uma única competência, escolhida por ele ou por identificação com o tema, ou por reconhecer a sua importância.

Os dois casos apresentados acima ilustram claramente que há diferentes maneiras de conduzir um processo de inserção do objetivo de desenvolvimento de competências em um programa de voluntariado empresarial, de forma que se mantenham características anteriormente existentes e a identidade do programa. A figura 4, abaixo, é um quadro resumo da comparação destas duas situações. Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


Quesitos comparados

Formato do programa

Tipos de ações possíveis Competências desenvolvidas

caso 1

Ações não estruturadas Voluntários atuam em grupos ou individualmente Escolha de uma ação dentro de uma Escolha de uma ação entre 9 alternativas lista de sugestões dadas ou a partir de possíveis suas próprias ideias e motivações Novas ações, propostas aos voluntários As mesmas que já existiam dentro de uma lista de possibilidades anteriormente, propostas aos voluntários alinhadas às competências estratégicas dentro de uma lista de possibilidades para a empresa Até 5 competências em cada ação Uma única competência para cada ação realizada realizada

Definição da competência a Conforme a maneira como a ação for ser desenvolvida implantada pelos voluntários Desenvolvimento da competência

Formas de avaliação (por meio de relatórios)

Contribuições do programa para os objetivos de RH

caso 2

Ações estruturadas Voluntários atuam em grupos ou individualmente

No processo de implantação da ação (relacionado à forma de realização de qualquer atividade escolhida) Auto avaliação do voluntário Avaliação (pela área gestora do programa) do processo de implantação das ações, com base nas evidências de desenvolvimento das 5 competências desejadas Mapeamento de evidências de desenvolvimento das competências pelo conjunto das ações realizadas pelos voluntários

Conforme a ação escolhida pelos voluntários No processo de planejamento e implantação da ação (relacionada aos resultados obtidos por meio da ação escolhida) Avaliação (pela área gestora do programa) dos resultados alcançados para cada ação / competência Mapeamento de evidências de desenvolvimento da competência associada a cada uma das ações propostas

Figura 4: Quadro comparativo de atributos dos dois casos apresentados Fonte: Desenvolvido pela autora

Em ambos os casos, ao definir que o desenvolvimento destas competências passa a ser um objetivo da empresa, a estrutura para gestão do programa, as formas de mobilização e motivação de pessoas para participar, bem como as estratégias para envolvimento das lideranças internas da empresa precisam ser revisadas. Ao assumir as competências como premissa do programa, a fase de planejamento deve levar isso em consideração. Isto é especialmente relevante nos casos de programas já existentes e que, muitas vezes, precisam sofrer modificações significativas na estrutura de gestão para garantir uma organização de informações que permita a adequada avaliação dos resultados alcançados.

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5. Conclusões

A demonstração de que o voluntariado é bom para o desenvolvimento pessoal e profissional do voluntário pode ser um forte impulso para o aumento de adesão aos programas já existentes. Isto pode acontecer tanto por meio de um desejo de maior participação dos voluntários atuais (aumento da frequencia das ações), como pelo aumento do número de pessoas participando (seja por iniciativa própria ou por um maior estímulo de seus gestores diretos). Além disso, a maior vinculação das ações de voluntariado empresarial propostas aos funcionários de uma empresa à sua estratégia de negócios, ou à sua estratégia de desenvolvimento de recursos humanos, ou ainda, à sua estratégia de investimento social (ou às 3, se possível), ajuda a garantir uma motivação de longo prazo para a empresa e, consequentemente, xxxx Realmente, há temores justificáveis de que agregar recompensas a ações altruistas poderá minar a motivação e distorcer os valores que movem os voluntários. Falar de "consequências" nos encoraja a pensar no voluntariado como a causa de algum resultado posterior esperado. Indubitavelmente, estas recompensas poderiam ter sido obtidas a partir de um vasto leque de atividades que não impliquem ajudar os outros, mas, justamente aí reside o grande diferencial proposto: conseguir dois objetivos com uma única ação também pode ser um fator motivador da participação dos funcionários. Como as empresas têm investido valores consideráveis no desenvolvimento de programas de voluntariado corporativo e como, muitas vezes, contribuem ainda com a cessão de horas de trabalho de seus funcionários, é natural (e desejável) que busquem, com isso, benefícios que extrapolam a boa cidadania corporativa. Ao mesmo tempo, ainda há muito trabalho a ser feito na pesquisa da relação entre o trabalho voluntário e o desenvolvimento de habilidades e competências humanas e, em especial, como estas experiências podem trazer benefícios para a empresa e para o voluntário. As experiências citadas acima ainda são muito recentes e, certamente, passarão Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


por modificações e melhorias à medida que as empresas que as aplicam forem evoluindo nesta prática. Sua contribuição, neste momento, reside na reflexão da importancia de planejar adequadamente como esta vinculação será proposta aos voluntários e como os resultados alcançados serão mensurados antes que o programa de fato se inicie.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania - acessado em 08 de julho de 2013

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013


CapĂ­tulo 9: RSE e Sustentabilidade: Desafio Local, Desafio Global


Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da Responsabilidade Social Globalizada José Quintal e José Ramalho1

1. Introdução

No mundo actual assistimos à emergência de uma sociedade global cujas fronteiras se esbatem cada vez mais, devido à facilidade com que os seres humanos comunicam entre si, sobretudo por via das tecnologias de informação e comunicação. Por outro lado, também a assistimos a uma crise generalizada e sem precedentes no domínio da economia internacional e de inúmeras economias locais – esta crise conduz a assimetrias cada vez maiores que se multiplicam numa espiral recessiva e que impedem um desenvolvimento verdadeiramente sustentável em termos económicos, sociais e ambientais. No nosso entendimento, as teorias e paradigmas dominantes em torno da Responsabilidade Social e da Sustentabilidade colocam, normalmente, o enfoque nas organizações, relegando o indivíduo para a periferia de uma abordagem que se pretende eminentemente sociológica. Neste trabalho, propomo-nos reflectir sobre as dinâmicas de causalidade que relacionam o actor social enquanto entidade individual e diferenciada com os 1José António Pontes Quintal Mestre em Sociologia Económica e das Organizações Instituto Superior de Economia e Gestão - Publicações – Dissertação em Sociologia Económica e das Organizações Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social no Sector dos Transportes Públicos Proposta de Intervenção: Grupo Transtejo Membro da primeira comissão para elaboração do Relatório de Sustentabilidade do Grupo Transtejo. Quadro Superior do Grupo Transtejo – Responsável pelo Núcleod e Apoio Social do Grupo Transtejo. jpquintal@transtejo.pt José Elias Ferreira Ramalho Mestrando em Gestão – Instituto Superior de Gestão Pós-graduado em Gestão Pública pelo ISG - Licenciado em Gestão pela Universidade Internacional. Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na ComissãoTtécnica 164: Responsabilidade Social Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão Técnica 165: Ética; Instituto de Desenvolvimento e Inovação Social (I.D.I.S MAIS) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias; Assessor de Vereação da Câmara Municipal de Loures. Integra o Órgão Executivo da Junta de Freguesia de Bobadela com o pelouro da Responsabilidade Social. Quadro Superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Certificado em Neuro Marketing pela Sails Braind Membro da Comissão Nacional do Projecto ECOXXI. Presidente da Associação Agentes Activos da Mudança. Associado Individual da Associação Portuguesa de Ética Empresarial. ramalho1@gmail.com


mecanismos socialmente agregadores que conformam as comunidades e integram os indivíduos enquanto elementos interactivos e produtores de coesão. Sugerimos que essas dinâmicas potenciam e enriquecem o exercício de actividades de utilidade colectiva realizadas em rede. Propomos como hipótese de trabalho que as organizações empresariais de pequena dimensão2 (muito mais do que os gigantes organizacionais que se têm apoderado da economia global e até da soberania dos Estados cuja estrutura económica e politica se afigura mais frágil), são o rosto das economias locais e garantem a liberdade de expressão, a liberdade de escolha e a plena realização individual e colectiva. Acrescentamos, no âmbito desta hipótese de trabalho, que as organizações de pequena dimensão3, uma vez ligadas entre si através de uma rede consistente que aqui nos propomos designar como Malha de Coesão Cooperativa (MCC), obtêm a robustez necessária para prosperar nos circuitos onde se movimentam e se digladiam entre si os gigantes empresariais e organizacionais. De modo a ancorar a MCC em termos conceptuais, propomos, desde logo, um conjunto de dimensões elencadas de acordo com uma primeira sensibilidade, relacionando os conceitos de Responsabilidade Social e de Cooperação: •

Realização individual em torno de um projecto colectivo

Percepção de liberdade

Percepção satisfação pessoal

Motivação para colaborar em prol do bem comum.

Interiorização/incorporação do conceito de responsabilidade individual.

Interiorização/ incorporação do conceito de parte interessada (Stakeholder).

Consciencialização

individual

e

utilização

colectiva

dos

mecanismos

democráticos numa dinâmica participativa. A ultima destas dimensões foi inspirada na própria Constituição da República Portuguesa, designadamente no que respeita ao artigo nº 2 - A República Portuguesa é 2 De acordo com recomendação 2003/361/CE da Comissão, de 6 de Maio de 2003, relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas [Jornal Oficial L 124 de 20.05.2003]. 3 A Estratégia Europeia de Responsabilidade Social prevê para as pequenas e médias empresas a adopção políticas de contenção fiscal considerando, precisamente, a fragilidade inerente às grandes assimetrias que se verificam entre estas organizações empresariais e a grandes empresas. - A Estratégia Europeia de Responsabilidade Social E United Nations Global - http://docs.apee.pt/docs/ce-estrategia-rs/ce-rsestrategia.pdf


um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa4. 2. O indivíduo no centro da MCC e no âmbito da análise estratégica

Para uma melhor compreensão do conceito de Malha de Coesão Cooperativa consideramos indispensável incorporar o conceito de responsabilidade individual no âmbito conceptual da Responsabilidade Social e no contexto alargado, complexo e contingente das organizações. Não se trata de uma abordagem interpretativa de índole ética ou moral mas, antes, de um mecanismo de compreensão indutivo, que nos permitiria interpretar os fenómenos organizacionais a partir da sua composição atómica, sendo que a partícula supostamente indivisível dessa composição seria, deste modo, o próprio indivíduo. Numa primeira análise, sustentamos que a análise estratégica proposta por Michel Crozier fornece um modelo que permite, em certa medida, compreender as motivações e estratégias do indivíduo face à inevitável inclusão num projecto com as vicissitudes das dinâmicas grupais. O conceito geral de estratégia está associado aos conceitos de incerteza, exercício do poder e racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em processos de mudança estrutural, (Crozier e Friedberg, 1977). Segundo este conceito, o actor social não incorpora, de uma forma geral, no seu quotidiano, objectivos claros e projectos verdadeiramente coerentes tendendo a organizar a respectiva agenda com múltiplos objectivos, por vezes ambíguos e contraditórios, independentemente dos capitais social, cultural e económico que detém. Por outro lado, o comportamento do actor social é invariavelmente activo apesar de se encontrar mais ou menos constrangido, sendo que esse constrangimento, mesmo que conduza à passividade representa, em última análise, uma opção. Com efeito, o comportamento do actor social é sempre racional e, ainda que possa 4 http://www.parlamento.pt/Legislacao/Paginas/ConstituicaoRepublicaPortuguesa.aspx


não o ser em relação aos objectivos, é seguramente racional em relação às oportunidades e, através das oportunidades, racionaliza o contexto em que se insere. No âmbito desta racionalidade há a considerar os comportamento ofensivos e defensivos adoptados pelo actor social através dos quais este tende a manter, respectivamente, a margem de liberdade e a iludir o constrangimento que lhe é imposto. Nesta óptica, propõe-se três princípios fundamentais, o princípio da simplicidade, o princípio da autonomia e o princípio do governo pela cultura, (Crozier, 1994:38). O princípio da simplicidade, propõe que a simplicidade da estrutura organizacional deve ser inversamente proporcional à complexidade do meio. Trata-se de uma abordagem complexa, racional, inteligente e integradora no seio de uma organização simplificada em que os procedimentos complexos e rígidos, bem como a falta de autonomia, dão lugar à “liberdade e responsabilidade de agir (Crozier, 1994: 38). Ora a responsabilidade e liberdade de acção exige que a organização assuma o princípio da autonomia de modo a assegurar uma maior eficácia em contextos mais complexos promotores de um ambiente económico, social e ambiental potencialmente instável. Finalmente as organizações simples que integram actores autónomos incorporam cada vez menos procedimentos padronizados, com estruturas hierárquicas pouco expressivas, e valorizam a cultura dos actores sociais na disciplina gestionária e comportamental, adoptando, desta forma, uma atitude socialmente responsável.

3. Cooperação e descentralização

Para a constituição formal e funcional de uma malha robusta e coesa de cooperação ou, se preferirmos, Malha de Coesão Cooperativa entre indivíduos e pequenas organizações, será preciso incorporar ainda, a par da responsabilidade individual e social, conceitos tangíveis de descentralização, de paz e de prosperidade. Um dos significados contidos na perspectiva kyusai consiste na ideia de cooperação e de descentralização da organização empresarial expressa no terceiro estádio proposto por Ryuzaburo Kaku, onde se preconiza a cooperação com entidades exteriores à empresa, tendo em vista o progresso da paz e da prosperidade, incorporando a lógica do cluster e esbatendo-se a lógica do lucro como objectivo primordial e quase exclusivo.


Com efeito, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro (Kang,1995), vai mais longe, remetendo para a ideia de que as empresas devem sentirse obrigadas a cumprir suas responsabilidades sociais antes mesmo de tentarem maximizar seus lucros, constituindo esta obrigação um meio eficiente e efectivo de controle social e uma base para a confiança nas relações humanas e organizacionais. O estudo de Kang (1995) sugere o conceito de desempenho social do stakeholder, (stakeholder social performance – SSP), cruzando este conceito com o de desempenho social da empresa (corporate social performance – CSP), como duas de entre várias categorias de desempenho que contribuem para operacionalizar a visão sistémica de redes de stakeholders, (Kang, 1995). O autor propõe que os benefícios e responsabilidades devem ser distribuídos com justiça entre os stakeholders. Assim, a discussão em torno da empresa perde sentido a favor de uma visão mais centrada na ideia de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang, 1995). É nesta perspectiva que se impõe a adopção dos conceitos de consumo ético e de comércio ético, cuja responsabilidade está a cargo, respectivamente, de consumidores e demais stakeholders (Zadek, 1998). 4. Modelos de integração

Estes modelos baseiam-se na ideia de que as empresas só existem porque estão inseridas numa sociedade que as reconhece como necessárias e legítimas. Assim, as empresas devem integrar nas respectivas orientações estratégicas e considerar, nos fluxos de decisão ao nível do topo organizacional, os diferentes apelos e solicitações no âmbito social que chegam, com mais ou menos frequência, das comunidades em que se inserem. É de referir que a norma ISO 26000 oferece orientação sobre o comportamento socialmente responsável e acções possíveis de integrar no âmbito da actividade correspondente, no entanto não contém requisitos e, portanto, em contraste com os padrões de sistema de gestão ISO, não é certificável. Integra, no entanto, várias recomendações em matéria de Responsabilidade Social destinado às pequenas empresas, precisamente nos aspectos inerentes ao domínio da integração e dos impactes produzidos.


Por outro lado, Portugal dando seguimento às recomendações da ISO 26000 editou a NP 4469-1 relativa a “Sistemas de gestão da responsabilidade social. Parte 1: Requisitos e linhas de orientação para a sua utilização”, elaborada pela Comissão Técnica 164 “Responsabilidade Social” e coordenada pelo ONS (organismo de Normalização Sectorial) APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial. Na sequência desta publicação veio a editar a parte dois5 que se constitui como um guia para aplicação da Norma. Tal como nas teorias políticas e instrumentais, existem diferentes abordagens no que respeita às teorias integrativas que envolvem, neste caso, quatro ideias centrais; a gestão dos assuntos sociais e a responsabilidade pública e, ainda, a gestão dos stakeholders e o desempenho social das empresas. Podemos considerar, em primeiro lugar, a gestão dos assuntos sociais que consiste, resumidamente, na ideia de que a empresa deve considerar as expectativas das comunidades envolventes, analisar essas expectativas e procurar responder em conformidade. O ponto de partida desta abordagem consiste, portanto, em reconhecer a diferença entre o desempenho efectivo da empresa e o desempenho expectável (do ponto de vista da sociedade), sendo que a aplicação da Norma Portuguesa nº 4469 procura minimizar o desfasamento dado que orienta e recomenda um conjunto de princípios a aplicar no âmbito da Responsabilidade Social. Depois de conhecidos os aspectos relevantes que caracterizam essa diferença, a empresa deve procurar isolar e resolver as questões problemáticas que interfiram directa ou indirectamente com as políticas da empresa, adoptando “uma atenção gestionária” em relação a essas questões, (Mahaon e Waddock : 1992). Ainda no âmbito das teorias integrativas, há a considerar a abordagem que se designa por Desempenho Social da Empresa e que se caracteriza por reconhecer que uma empresa é socialmente responsável quando cumpre responsabilidades económicas, legais, éticas e filantrópicas (Carroll, 1991). Com efeito, na base da pirâmide proposta por Carroll, estão as responsabilidades económicas, sem a assunção das quais a organização não tem condições para realizar a respectiva actividade empresarial. Depois, seguem-se as responsabilidades legais que podem condicionar o desenvolvimento da actividade económica da empresa mas que 5 NP4469-2: 2010: Sistema de gestão de responsabilidade social Parte 2: guia de orientação para a implementação.Disponíveis no site do Instituto Português da Qualidade


são indispensáveis ao desenvolvimento pacífico e fluente da dinâmica empresarial, constituindo, por isso, um requisito incontornável para que uma empresa se enquadre no universo da cidadania empresarial. No entanto, para merecer o rótulo de empresa socialmente responsável, espera-se que o topo estratégico da organização empresarial sustente preocupações de carácter ético que vão além das responsabilidades requeridas no domínio estritamente legal, considerando que essas preocupações influenciam as condutas de todos os intervenientes, tanto os que estão vinculados à organização como os que apenas interagem sem vínculo formal, (stakeholders internos e externos). Finalmente, segundo este autor, seria desejável que as organizações, na senda da cidadania empresarial, assumissem, voluntariamente, responsabilidades filantrópicas de carácter discricionário. Segundo Porter e Kramer (2002), a maioria das acções que encerram, supostamente, a ideia de filantropia estratégica6, na maioria dos casos não são efectivamente estratégicas. Na realidade, a filantropia é cada vez mais utilizada ao serviço das relações públicas ou do marketing, sendo que a maioria das acções filantrópicas tem muito mais o objectivo de aumentar a visibilidade da empresa do que produzir impacto social. Por outro lado, as doações só são realmente estratégicas se forem concretizadas na senda de objectivos simultaneamente sociais e económicos. Para isso é necessário que a empresa opte por fazer doações em contexto competitivo, considerando que detém activos e competências únicos que podem servir ambos os interesses. De facto, não se espera que todas as despesas da empresa produzam benefícios sociais nem se espera, tampouco, que o incremento de todos os benefícios sociais seja susceptível de aumentar a competitividade. Apostar na filantropia só tem interesse quando as despesas correspondentes produzem ganhos sociais e económicos, considerando sempre os interesses dos respectivos stakeholders.

6 É interessante observar, a este propósito da filantropia estratégica, a informação que a Delta Cafés, em Portugal, destina aos visitantes do respectivo site: A Delta Cafés ambiciona fomentar a capacitação dos trabalhadores locais, incentivar práticas ambientalmente responsáveis, nomeadamente, a conservação dos solos, a gestão sustentada da plantação, a poupança de água e o recurso às energias renováveis, de modo a não condicionar o futuro das gerações vindouras. Para tal, tem desenvolvido várias acções junto das comunidades produtoras - http://www.delta-cafes.pt/#/pt/sustentabilidade/cadeia-de-valor/origens


É no contexto competitivo que a estratégia empresarial se realiza, considerandose, nesta lógica, um conjunto variáveis contextuais que influenciam a capacidade competitiva das empresas: 

Trabalhadores dotados e motivados

Infra-estruturas locais eficientes, incluindo estradas e telecomunicações;

Dimensão e sofisticação do mercado local;

Regulamentos governamentais adequados ao contexto empresarial, Segundo Porter e Kramer (2002), a capacidade competitiva da empresa é

condicionada por quatro factores que potenciam ou inibem a respectiva produtividade: 

Condições dos factores, ou recursos disponíveis para a produção;

Condições da procura;

O contexto estratégico e de rivalidade empresariais;

Indústrias relacionadas e de suporte. Quaisquer fragilidades que se observem nestes quatro domínios podem

comprometer a competitividade de uma nação, de uma região, de uma empresa ou, simplesmente, de um negócio. Porter e Kramer (2002) consideram que os investimentos filantrópicos realizados pelos membros de um cluster, podem potenciar fortemente a competitividade e o desempenho de todas as empresas que o constituem. Nesta perspectiva, a filantropia pode ser a forma mais eficiente de alavancar a capacidade produtiva e a eficiência empresarial, sendo necessário analisar, para este efeito, as diferentes variáveis que integram o contexto competitivo. Dessa forma, é possível identificar as áreas de investimento que proporcionam, por um lado, mais valor social e económico e que melhoram, por outro lado, a competitividade da empresa na área de negócio em que está inserida. Seja como for concluímos que os modelos ou teorias integrativas dominantes, remetem para as organizações a responsabilidade de conduzir os processos de desenvolvimento, subvalorizando o indivíduo enquanto elemento fundamental e estratégico no processo de coesão e de cooperação organizacional. 5. Abordagem Ética

Sem prejuízo de uma perspective organizacional e sociológica que devolva o indivíduo ao centro da análise, é indispensável que nos coloquemos as seguintes


questões: (1) Que princípios éticos as empresas devem seguir? (2) O que é correcto que façam para o bem da sociedade? Tal como as restantes teorias, também as teorias éticas encerram abordagens diferentes que passaremos a discutir pela seguinte ordem: teoria normativa dos stakeholders, direitos universais, desenvolvimento sustentável e, finalmente, o bem comum. No âmbito da teoria normativa dos stakeholders, parte-se do princípio que todas as partes interessadas na dinâmica empresarial sustentam interesses legítimos aos quais a empresa deve dar resposta na medida do possível, mesmo que essa resposta não implique ou não concorra para melhorar a dimensão económica da organização e não favoreça, por conseguinte, os respectivos proprietários ou accionistas

(Evan &

Freeman, 1993). Para esse efeito, é necessário que se observem alguns princípios a estabelecer na forma como o topo estratégico se relaciona com os stakeholders, designadamente nos domínios da justiça, cooperação, benefício mútuo e sacrifício (Philips, 1997). Considerando a segunda abordagem das teorias éticas designada por Direitos Universais, a Declaração Universal dos Direitos do Homem adoptada pelas Nações Unidas em 1948, bem como outras declarações internacionais nos domínios dos recursos humanos, direitos laborais e protecção ambiental, devem constituir-se como guias a seguir pela empresa que pretende ser socialmente responsável. A norma SA 8000 (Responsabilidade Social) é o resultado mais visível e exemplar desta abordagem e surgiu em 1997 por intermédio da Social Accountability International (SAI), em colaboração com outras organizações internacionais. Esta norma baseia-se em 12 convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção das Nações Unidas dos Direitos das Crianças. A correspondente certificação remete para o cumprimento da legislação laboral em vigor, através do cumprimento de requisitos a observar em vários domínios. O princípio do desenvolvimento sustentável neste domínio das teorias éticas, reflecte a preocupação com a escassez de recursos que remete para a ideia de que as gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas necessidades sem comprometer os recursos das gerações futuras (World Commission on Environment and Development, 1987).


Embora se observe alguma ambiguidade na definição deste conceito (Fergus & Rowney, 2005), parece evidente que a satisfação das gerações actuais é, fundamentalmente, da responsabilidade dos diferentes agentes económicos que operam, actualmente, nas múltiplas áreas de negócio em desenvolvimento. O relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como "Relatório Brundtland", já referido neste trabalho, veio sublinhar a necessidade de um novo tipo de desenvolvimento capaz de manter o progresso a nível mundial e a longo prazo. Este novo conceito de desenvolvimento destina-se aos países em desenvolvimento e aos desenvolvidos. Foi nos termos do World Business Council Sustainable Development, (WHCSD, 2000:2) que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a integrar considerações sociais, ambientais e culturais (Rego, 2007: 169,170). Nesta perspectiva, a pobreza está, por um lado, na origem dos problemas ambientais mas também potencia, por outro lado, esses mesmos problemas. Assim, critica-se o modelo de desenvolvimento adoptado pelos países desenvolvidos, não só por ser insustentável, dado que tende a esgotar rapidamente os recursos naturais, mas, também, por não estar ao alcance dos países em desenvolvimento. A perspectiva de que as gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas necessidades sem comprometer os recursos das gerações futuras passa a introduzir, desta forma, duas noções: (1) a noção de necessidade que encerra os conceitos de equidade e de carências fundamentais no universo da pobreza e a (2) noção de limitação associada aos condicionalismos que o desenvolvimento tecnológico e a dinâmica social impõem ao meio ambiente. Considerando esta segunda noção, as necessidades humanas são determinadas social e culturalmente (Fergus & Rowney, 2005), pelo que é necessária a promoção de novos valores para que o consumo humano não ultrapasse os limites de regeneração que a natureza suporta em termos ecológicos. Resumindo, o desenvolvimento sustentável exige equilíbrio entre o crescimento económico, as estruturas sociais e a qualidade ambiental. No entanto, permanece a polémica em torno da responsabilidade que cabe aos diferentes intervenientes neste processo. Com efeito existe alguma controvérsia que opõe o sector público ao sector privado,

quanto

à

assunção

da

responsabilidade

desenvolvimento sustentável. (Rego, 2007: 170)..

social

indispensável

ao


Não obstante a ideia de Responsabilidade Social Empresarial, associada ao conceito de Desenvolvimento Sustentável, há quem defenda a perspectiva de que a responsabilidade pelos desequilíbrios gerados pelo mercado é dos governos, a quem compete a correcção dos desvios que comprometem o equilíbrio ambiental, social e económico (The Economist, 2005:15). 6. O Bem Comum

Neste modelo de análise em que nos propomos valorizar a dinâmica individual, devemos sublinhar que o Bem Comum persiste como conceito indissociável. De facto, a empresa empenhada em assumir-se como socialmente responsável deve reconhecer-se, de modo inequívoco como membro da sociedade em que está inserida, investindo, não só nos objectivos que conduzem ao lucro mas também no bem comum e na melhoria da componente social, (Kok et al. 2001: 287). Com efeito, a ideia consiste na criação de riqueza de modo justo e eficiente, no respeito pelos direitos e dignidade dos cidadãos em prol de quem as empresas devem promover o bem-estar e garantir, em última análise, a harmonia social, (Argandoña, 1997). Podemos observar alguma analogia entre esta perspectiva e a as abordagens propostas no âmbito da teoria normativa dos stakeholders e do Desenvolvimento Sustentável. Mas, segundo Arménio Rego, esta abordagem do Bem Comum tem a vantagem de não enveredar pelo relativismo moral/cultural característico da abordagem dos stakeholders e do desenvolvimento sustentável, não obstante algumas similitudes que ligam estas diferentes linhas de pensamento.(Rego, 2007: 174). Por outro lado, integra também a perspectiva japonesa Kyosei (Goodpaster, 1999) que consiste, justamente, em actuar estrategicamente, vivendo e trabalhando em conjunto com vista ao bem comum. Trata-se de uma perspectiva que esteve na origem de The Caux Roundtable Principles for Business e que foi adoptada por um grupo de líderes, constituído por executivos dos EUA, do Japão e da Europa, preocupados com as ameaças que já se faziam sentir no anos 80 à paz e à estabilidade do mundo em geral . (Rego, 2007: 174). Este grupo reuniu-se pela primeira vez em 1986 na Suíça, em Caux, e desenvolveu um conjunto de iniciativas cujos esforços culminaram em 1994 com a promulgação dos


princípios de Caux (“Comportamento empresarial para um mundo melhor”) .(Rego, 2007: 175).7 Os princípios de Caux, (Caux Round Table, 2009) integram sete conceitos centrais que consistem, muito resumidamente, na (1) responsabilidade e no (2) impacto económico e social das empresas, na (3) transparência, no (4) respeito pelas regras, no (5) apoio ao Comércio Multilateral, no (6) respeito pelo meio ambiente e na (7) condenação de operações Ilícitas. Tal como se referiu na introdução a esta abordagem do bem comum, uma das perspectivas em que se baseiam os sete princípios de Caux, consiste na lógica Kyosei que em japonês significa “espírito de cooperação” e que, resumidamente, sugere a necessidade das empresas se assumirem em prol do bem comum. A outra perspectiva basilar remete para o conceito de dignidade humana. De acordo com este conceito, o ser humano não é simplesmente um meio para que alguns atinjam determinados fins nem sequer, considerando os direitos humanos básicos, por preceito maioritário. A pessoa humana deve ser respeitada e dignificada, quaisquer que sejam os objectivos empresariais e a dimensão das organizações em causa. Quanto ao conceito Kyosei, é de referir que foi introduzido pela primeira vez no mundo empresarial em 1987, pelo então presidente da Canon, Ryuzaburo Kaku, que identificou três grandes questões que impunham a necessidade de adoptar uma nova atitude empresarial.(Rego, 2007: 176). Em primeiro lugar, o grande desequilíbrio nas relações comerciais entre países – oposição de enormes deficits comerciais dos países mais pobres ao superavit dos mais ricos. Em segundo lugar o grande desnível de rendimentos entre os países mais ricos e os mais pobres o que explica as migrações ilegais, as guerras civis e étnicas, os fluxos de refugiados políticos e económicos; sendo que todos estes cenários têm como pano de fundo a pobreza extrema. Finalmente, o consumo excessivo e alarmante de recursos naturais que comprometerá os recursos disponíveis de forma dramática, num futuro muito próximo, 7 Há cinco ideias centrais em que se baseiam os sete princípios que constituem este documento; (1) o facto dos negócios serem progressivamente mais globais devido à mobilidade do emprego, do capital, dos produtos e da tecnologia, (2) a falta de regulação que discipline a lei e as forças de mercado, (3) a necessidade de responsabilizar as políticas e acções das empresas, (4) a necessidade de partilhar valores e prosperidade e, finalmente, (5) o facto das empresas encerrarem em si mesmas um potencial de mudança social positiva.


sendo altamente provável que, a este ritmo, as próximas gerações herdem o planeta em estado de “ruína ambiental”. (Kaku, 1997). Partindo deste princípio, Ryuzaburo Kaku defende cinco ideias centrais; (1) As grandes multinacionais e transnacionais têm poder para resolver parte substantiva dos problemas relacionados com a pobreza e com o ambiente; (2) Se não o fizerem não têm futuro; (3) O conceito-chave para o desenvolvimento destas acções de melhoria consiste na prática Kyosei; (4) O Kyosei significa “espírito de cooperação” com vista ao bem comum e implica a promoção de harmonia entre a empresa, as partes interessadas, os governos e o ambiente. (5) Se a prática Kyosei for adoptada por um conjunto alargado de empresas, o potencial de resolução dos problemas identificados nos domínios social, político e económico é enorme. Face a estes pressupostos, e embora este conceito possa ser considerado impraticável em termos ideais, a verdade é que, a Canon procurou percorrer os cinco estádios propostos por Ryazaburo Kaku para incorporar a dinâmica Kyosei, (Rego, 2007: 178)

7. Nota conclusiva

Tal como referimos na introdução, assistimos a um paradoxo, em termos globais. Com efeito, (no mesmo espaço e no mesmo tempo) coexistem dois mundos muito diferentes – Um deles cada vez mais ligado e mais pequeno, fundamentalmente por intermédio das tecnologias de informação e comunicação, e o outro cada vez mais fragmentado e assimétrico. A preocupação em torno dos recursos ambientais é, deste ponto de vista e no nosso entendimento, precisamente a grande oportunidade do ser humano na senda de uma sociedade com menos assimetrias e ancorada nos parâmetros que definem, de forma consensual, o conceito de desenvolvimento sustentável. O indispensável desenvolvimento das economias locais exige que nos centremos nas pequenas unidades de produção com elevados níveis de exigência em termos de autonomia e de compromisso ambiental. No entanto não é possível ignorar as grandes organizações empresariais, designadamente as mais poderosas com estrutura transnacional, sendo esse o motivo pelo qual é indispensável o estabelecimento de uma rede apertada e coesa de


cooperação que envolva os indivíduos responsáveis pelos pequenos empreendimentos (MCC). Essa ligação deverá desenvolver-se a partir de uma estratégia local e inter-regional, que pode ser estabelecida com maior facilidade porque existe, nas várias áreas de produção, um conhecimento profundo e multidisciplinar que pode ser partilhado e divulgado através das novas tecnologias de informação e de comunicação. No centro dessa estratégia estaria a sobrevivência e autonomia dos indivíduos e das populações em detrimento do lucro enquanto objectivo central. Este trabalho constitui, portanto, uma ponte de reflexão que pretende situar o exercício da Responsabilidade Social e do Desenvolvimento Sustentável ao nível do ser humano, individualmente considerado. Sugere-se que o actor social pode recuperar a sua individualidade e aspirar à sua realização pessoal sem comprometer a coesão das organizações. Propomos, aliás, que é a partir da realização individual que o actor social reúne condições necessárias e suficientes para que os projectos colectivos, organizacionais e institucionais que integra se realizem de forma consequente. O enfoque no indivíduo e na economia local exige, no nosso entendimento, uma análise prévia estratégica que permita compreender as motivações e as dinâmicas que animam os diferentes intervenientes não só em termos colectivos mas sobretudo numa óptica individual. O Conceito Geral de Estratégia, sublinha, precisamente, a importância da incerteza, do exercício do poder e da racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em processos de mudança estrutural. O princípio da simplicidade, o princípio da autonomia e o princípio do governo pela cultura, (Ibid, 1994:38), são três princípios que integram o conceito

de

gestão

responsabilidades

socialmente

individuais,

responsável,

condição

que

sem

dispensar

considerámos

as

múltiplas

necessária

ao

desenvolvimento de um projecto empresarial apostado no Desenvolvimento Sustentável. Retomando o conceito de Responsabilidade Social interessa reflectir numa perspectiva integrativa e ética, sendo que há a considerar a Gestão dos Assuntos Sociais que encerra, como vimos, duas vertentes; por um lado o objectivo do lucro que embora permaneça, passa a coexistir com a consciência de que existe um contrato social indissociável da missão da organização reconhecendo, portanto, a importância


intrínseca da sociedade envolvente. Por outro lado, a inclusão de uma componente de princípios éticos que vai além dos normativos legais Há a considerar, a este propósito, a ideia de cooperação e de descentralização da organização empresarial que remete para a cooperação com os stakolders (Kaku, 1997), almejando a paz e a prosperidade em detrimento da lógica do lucro como objectivo central da organização. De facto, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro (Kang,1995), incorpora a ideia de que o cumprimento da Responsabilidade Social é indispensável à formação de lucro valorizando-se, sobretudo, a confiança nas relações humanas e organizacionais, de tal forma que o enfoque

na empresa se esbate

valorizando-se o conceito de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang, 1995). Propomos, assim, como hipótese de trabalho a desenvolver oportunamente, que as organizações empresariais de pequena dimensão são o verdadeiro rosto das economias locais e o garante efectivo da liberdade de expressão, da liberdade de escolha e da plena realização individual e colectiva. Uma vez ligadas entre si através da Malha de Coesão Cooperativa (MCC), as organizações de pequena e média dimensão obtêm a robustez necessária para prosperar localmente, embora com uma visão global. A MCC relaciona causalmente os conceitos de Responsabilidade Social e de Cooperação através de um conjunto de percepções que sugerimos no âmbito do conceito de sustentabilidade em matéria de economia local, designadamente a realização individual em torno de projectos comuns, a percepção de liberdade e de satisfação pessoal, interiorização dos conceitos de Responsabilidade Social e de Parte Interessada e, não menos importante, a Consciencialização individual e utilização colectiva dos mecanismos democráticos numa dinâmica participativa incluindo. Com esta última percepção, no contexto da Responsabilidade Social destinada à Economia Local em rede, além das dimensões económica, social e ambiental, também há a considerar a dimensão política através do aprofundamento da democracia participativa, conceito este consagrado na Constituição da República Portuguesa, tal como referimos na introdução deste trabalho.


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INCLUSÃO SOCIAL CORPORATIVA Henry Julio Kupty, Marta Hiromi Mendes1

RESUMO O presente artigo tem por finalidade desenvolver uma análise sobre as condições de trabalho dos portadores de necessidades especiais e a consequente adaptação e adequação dos processos organizacionais, devido à implantação da Lei de Cotas. São abordados temas relacionados à deficiência e ao mercado de trabalho no contexto da Responsabilidade Social. A partir da análise do conjunto desses fatores, pode-se inferir que não somente as empresas devem promover vagas para os portadores de necessidades especiais por causa da Lei, mas também gerar a inclusão social dentro do ambiente organizacional, melhorando o ambiente de trabalho, minimizando o preconceito e incentivando o senso de responsabilidade social para esse público. Também, o presente trabalho levanta a reflexão se as empresas adotam as medidas legais, ou seja, o cumprimento da Lei de Cotas, apenas como forma de evitar a punição legal através de aplicação de multas, ou se os gestores podem ser sensíveis às causas sociais e aceitam colaborar para um mundo mais igualitário, e se a inclusão social é praticada apenas em empresas onde os gestores e os tomadores de decisão das empresas vivenciam situações similares em seu âmbito familiar ou se de fato sensibilizam-se às causas sociais. Palavras-chave: Inclusão Social, Portadores de Necessidades Especiais, Processos Organizacionais.

ABSTRACT This article aims to develop an analysis of the working conditions of people with special needs and the consequent adaptation and adjustment of organizational processes, due to the implementation of the Lei de Cotas. For the theoretical background will be discussed topics related to disability and the labor market, as well as social inclusion in the context of the Social Responsibility. It can be inferred that companies should not only promote spaces 1

Henry Julio Kupty – Mestre – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP – henry@fiap.com.br

2)

Marta Hiromi Mendes – Especialista – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP – martahiromi@gmail.com.br


2 for the people with special needs only because of the law, but also generate social inclusion within the organizational environment, improving the working environment, minimizing prejudice and fostering a sense of social responsibility to this public. In addition, this study causes the reflection if companies adopt legal measures, in other words, the Law enforcement, just as a way to avoid legal punishment through fines, or if managers can be sensitive to social causes to accept and cooperate for a more equitable world, and social inclusion is practiced only in companies where managers and decision makers of companies experiencing similar situations in their family context or if indeed sensitize themselves to social causes. Keywords: Social Inclusion, People with special needs, organizational processes


LISTA DE SIGLAS AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AIPPD – Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência ASSIDEF – Associação de Integração de Deficientes AVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência CID – Classificação Internacional de Doença CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICEP – Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do Brasil MPT – Ministério Público do Trabalho MTE – Ministério do Trabalho e Emprego OIT – Organização Internacional de Trabalho OMS – Organização Mundial da Saúde ONGS – Organizações não governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PGE – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo PNE – Portador de Necessidades Especiais PPDs – Pessoas Portadoras de Deficiências SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação SERTE-SP – Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo SINE – Sistema Nacional de Emprego SIT – Secretaria de Inspeção do Trabalho SRT – Superintendência Regional do Trabalho UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization


4

Importância, Contexto e Finalidade do Estudo

O ambiente empresarial está passando por mudanças significativas no comportamento social. É pelo contato com as pessoas, pelas situações, exigências e experiências que percebemos do que somos capazes e como podemos evoluir. Este ambiente reflete a maneira como nos comportamos perante a sociedade e como lidamos com as dificuldades superando limites. Um exemplo de situação que está mudando o cenário empresarial é a implantação da Lei de Cotas nº 8.213/91 para pessoas com deficiência, criada em 1991 com o objetivo de fazer com que as empresas tivessem em seu quadro de funcionários um número mínimo de PNE (Portador de Necessidades Especiais – termo utilizado atualmente). Tendo em vista a contratação dessas pessoas, é necessário preparar e adequar o ambiente e, ao mesmo tempo, qualificá-las para os postos de trabalho, assim como qualquer outra pessoa. Além de assegurar o direito ao emprego a essas pessoas, a lei também defende a Inclusão Social Corporativa, tema atual e recorrente como responsabilidade social e objeto de pesquisa deste estudo. O processo de contratação de PNE dentro das empresas não proporciona as mesmas facilidades apresentadas normalmente. Para contratar pessoas com necessidades especiais, as empresas precisam recorrer a outras que prestam esse serviço, juntamente com ONGs e associações, pois o contato com essas pessoas é diferenciado no mercado de trabalho.

Objetivos Este estudo procura identificar soluções para que as empresas consigam adequar seus processos organizacionais de forma ética, tranquila e satisfatória a fim de receber os portadores de necessidades especiais. Analisar o ambiente empresarial como um todo e propor modelos de adaptação às empresas que necessitam adequar seu ambiente para receber os portadores de necessidades especiais; verificar o processo de contratação dos PNE, a fim de buscar melhorias; e a consequência do alcance dos objetivos citados acima é a promoção da Inclusão Social e a percepção natural de Responsabilidade Empresarial.


5

Justificativa e Contribuições “Não se trata apenas de integrar essas pessoas à sociedade, requer-se da sociedade uma adaptação para incluir minorias, entre elas, as pessoas com deficiência.” Romeu Kazumi Sassaki, 2003.

Algumas leis e artigos na Constituição Brasileira tratam do tema da inclusão de pessoas com deficiência. Os principais são: Lei nº. 7.853 de 1989; Artigo 93 da Lei nº. 8.213 de 1991; Decreto nº. 3.298 de 1999 e Decreto nº. 5.296 de 2004. A Lei 8.213/91 prevê que as empresas contratem pessoas portadoras de deficiências físicas, mentais, auditivas e visuais, como também profissionais reabilitados. A Lei implantada em 1991 estabelece cotas de profissionais deficientes para a empresa conforme o número de funcionários em seu quadro. As empresas que não cumprirem a Lei deverão pagar a multa correspondente. O Artigo 93 define que as empresas com cem ou mais empregados estão obrigadas a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I – de 100 a 200 empregados – 2% II – de 201 a 500 – 3% III – de 501 a 1.000 – 4% IV – de 1.001 em diante – 5% O quadro abaixo define qual o regime de contratação do PNE, quais órgãos fiscalizam o cumprimento da citada lei e caso as empresas não possuam a cota mínima de PNE definida, o valor estimado das multas. Regime de Contratação

Quem Fiscaliza

Valor das Multas

CLT Ministério Público do Trabalho – MPT (prazos negociados) Superintendência Regional do Trabalho – SRT concede um prazo para orientar a empresa para o inicio da fiscalização. O prazo é de 2 meses podendo ser prorrogado para mais 2 meses. Mínimo: R$ 1.195,72 Máximo: R$ 119.573,00

Quadro 1 – Fiscalização Fonte: Adaptado de Plura Consultoria, [200..]; Administradores, 2008


6 Para integrar a lei é preciso de um Laudo Médico. Esse laudo pode ser emitido pelo médico da empresa a qual o PNE pertencer, ou por outro médico que possua os exames comprobatórios em mãos. Outro meio de conseguir a comprovação é por meio do laudo emitido pelo INSS, que certifica a reabilitação profissional.

O médico

responsável pelo laudo deve atestar que a pessoa se enquadre em algumas das condições supracitadas para integrar a cota, como definida pela Convenção nº. 159 da OIT, Parte I, art.1; Decreto nº. 5.296/04. O Laudo deve especificar a espécie, o grau ou nível da deficiência e para ter validade deve ser autorizada a sua utilização na empresa por parte do empregado, o que torna sua condição pública. O MTE tem fiscalizado as empresas para verificar se o cumprimento da lei está sendo aplicado corretamente. As empresas que não cumprirem as determinações legais estão sujeitas a multas que variam de R$ 1.254,89 a R$ 125.487,95. A penalidade está prevista no artigo 133 da citada Lei 8.213/91. O Decreto 3.258/99 também definiu em 5% a reserva legal de cargos e empregos públicos. De acordo com dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho em 2004, quatro estados obtiveram resultado zero em relação à inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em 2006 apenas um estado não obteve resultado positivo. Em 2007 todos os estados alcançaram resultados positivos. E finalmente, de 2005 até hoje 61,9 mil pessoas com deficiência foram incluídas no mercado de trabalho sob a ação fiscal do MTE.

Portadores de Necessidades Especiais O entendimento do que é pessoa com deficiência vem evoluindo e sendo acompanhado principalmente desde a década de 60, quando se formulou pela primeira vez o conceito de deficiência, que reflete: “a estreita relação existente entre as limitações que experimentam as pessoas portadoras de deficiências, a concepção e a estrutura do meio ambiente e a atitude da população em geral com relação à questão” (Portal da Saúde Governo de São Paulo apud Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde – do Ministério da Justiça, 1996, p.12).

Após anos de luta por igualdade, esse conceito tem sido discutido e incorporado em diversos segmentos e sua utilização correta ainda é passível de discussões. No decorrer deste artigo será utilizada a sigla PNE, mais atualizada, para indicar os Portadores de Necessidades Especiais. Poderão aparecer siglas como PPD (pessoa


7 portadora de deficiência) ou PCD (pessoa com deficiência), que estavam presentes em textos mais antigos utilizados nas pesquisas. Gugel (2006) define deficiência como: “Toda perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica de incapacidade ou capacidade parcial (aqui entendida como a impossibilidade ou possibilidade parcial) para desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano, levando-se em conta que a incapacidade é restrita a determinada atividade (andar, ver, ouvir, falar, desempenho intelectual), que não significa incapacidade genérica.”

A OMS, por meio da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), define deficiência como “problema nas funções ou nas estruturas do corpo, como um desvio significativo ou uma perda” (p. 21, 2003). A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), incorporada à Constituição Brasileira (2008), é composta por cinquenta artigos. Nela encontram-se normas sobre os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais das pessoas com deficiência, definidas em seu artigo 1º como: “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

Ainda segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) e de acordo com a Lei n° 2.542/75: “termo pessoa portadora de deficiências, identifica aquele indivíduo que, devido a seus “déficits” físicos ou mentais, não está em pleno gozo da capacidade de satisfazer, por si mesmo, de forma total ou parcial, suas necessidades vitais sociais, como faria um ser humano normal”.

O Censo do IBGE (2010) mostra que 45,6 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de deficiência, ou seja, essa parcela representa quase 24% da população brasileira2. O Censo apontava que a proporção de pessoas portadoras de deficiência aumenta com a idade, passando de 4,3% nas crianças de até 14 anos para 54% das pessoas com mais de 65 anos. Os homens predominavam nas deficiências mental, física e auditiva, enquanto as mulheres tinham predominância nas deficiências motoras (como subir escadas) e visuais (mulheres acima de 60 anos). Das 45,6 milhões de pessoas que

2 O último Censo realizado com os dados referentes aos portadores de necessidades especiais foi no ano de 2000, que mostrava um total de 24,6 milhões de brasileiros com alguma deficiência – 14,5% da população. O Censo 2010 obteve esses dados por amostragem.


8 se declararam deficientes no Censo de 2010, 38,4 milhões estavam nas zonas urbanas, enquanto 7,1 milhões estavam nas zonas rurais (IBGE, 20103). No Brasil a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência define por meio do Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamentando a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; sendo permanente aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e é considerada incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida”.

São considerados PPDs (Pessoa Portadora de Deficiência) não somente aqueles que nascem com deficiência, mas também aqueles que a adquirem ao longo da vida. No Brasil cerca de 500 pessoas tornam-se deficientes todos os dias, devido a inúmeras causas como a violência urbana, acidentes ou outros riscos que estamos expostos (ONU, 2006). O termo pessoas portadoras de deficiência foi usado de 1988 até 1993. Líderes organizacionais passaram a contestar seu uso, pois achavam que indicava que a pessoa inteira era deficiente, o que não era verdade. Para solucionar o impasse, nos anos 90 criou-se o termo portador de necessidades especiais, que substitui o termo deficiência. (SACI, 2003). A inclusão de PNE se efetivou a partir da Declaração de Salamanca (1994) 4, que está respaldada pela Convenção dos Direitos das Crianças (1988) 5 e da Declaração sobre Educação a todos (1990)6. No dia 11 de outubro é comemorado o Dia do Deficiente Físico. Esta data é de suma importância para milhões de cidadãos brasileiros e seus familiares. Muitas organizações, como a AACD promovem eventos para conscientização e prevenção de acidentes, enfatizando a importância da inclusão social. 3 Censo 2010: Resultados Gerais da Amostra, divulgados no site do IBGE. 4 Declaração de Salamanca: elaborada em 1994 defende os princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf 5 Convenção dos Direitos das Crianças: elaborada em 1988 com a finalidade de consagrar o princípio do reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos inalienáveis, de igualdade e liberdade, proclamados na Carta das Nações Unidas (1945). Em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/direitos/tratado11.htm 6 Declaração sobre Educação a todos: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf

elaborada

em

1990.

Em:


9

Tipos de deficiência Existem diversos tipos de deficiências definidas por diferentes autores e também terminologias

utilizadas

convencionalmente.

Serão

utilizadas

algumas

delas:

Deficiência Física, Deficiência Auditiva, Deficiência Visual, Deficiência Mental e Deficiência Múltipla, sendo que cada uma dessas deficiências possui uma série de características e níveis (Oliveira, 2006; DEFICIENTE ONLINE, 2004). De acordo com pesquisas realizadas, é possível perceber que o número de pessoas portadoras de necessidades especiais residentes nos principais polos e em idade de trabalhar é uma parcela significativa da população. Depois de anos o mercado de trabalho está dando valor a esse profissional, que vem buscando seu espaço. Alguns dos problemas enfrentados pelas empresas no momento de preencher essas vagas são a falta de qualificação dos profissionais ou o desconhecimento do que é ser deficiente. Para amenizar essa situação, Ministério do Trabalho propõe ações nas quais a empresa tem uma ajuda de custo que varia de R$1.101,75 a R$110.174,67. (PFDC, 2006). Segundo o Mauro Ribeiro, do INSTITUTO MVC [199..], existem quatro razões para que as empresas brasileiras optem por recrutar pessoas PNE: 1. Legal: respaldada pela Lei 8.213 /91 que determina que as empresas reservem cota de vagas para pessoas portadoras de deficiência conforme o Art. 93. É nítido que poucas empresas estão cumprindo a legislação e muitas explicam que não aderiram à lei por falta de profissionais qualificados e também por perceberem que não houve muita adesão por parte de outras empresas. 2. Funcional: precisará apenas adaptar-se fisicamente às necessidades de locomoção dos PNE como rampas de acesso, banheiros, estacionamento, e outras. 3. Responsabilidade Social: as empresas estão cada vez mais assentindo a esse termo do momento, pois perceberam que consequentemente há uma melhora em sua imagem, além de ser uma ferramenta de marketing. Também há o sentimento de exercer a cidadania junto à sociedade.


10 4. Emocional: empresas analisaram que quando se tem como colega de trabalho um PNE ocorre uma melhora no clima interno, pois as pessoas começam a valorizar mais o ser humano, ocasionando o aumento da solidariedade entre os colegas, além dos profissionais se sentirem satisfeitos em trabalhar na empresa. O SINE7 disponibiliza em sua página na Internet uma cartilha e dados sobre a Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho. As informações são também para as empresas, além de tirar dúvidas sobre a Lei de Cotas e Deficiência, aborda tema como a Contratação de Pessoa com Deficiência. Além da cartilha, o site também coloca a disposição estudos e indicadores sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Nos resultados de 2011, foi possível observar que em todos os meses há a elevação no número de pessoas com deficiência contratadas. A região Sudeste apresentou o maior número de contratações, sendo o estado de São Paulo o local com maior movimentação entre pessoas admitidas e desligadas. Entre as pessoas contratadas, mais da metade são homens, entretanto comparando-se o saldo de contratações, o de mulheres foi bem superior no ano de 2011. Conforme dados do SINE, em 2007 foram disponibilizadas no Brasil 36.837 vagas, sendo que somente 7.206 (20%) foram preenchidas. No estado de São Paulo apenas 2.122 (11%) das 19.104 vagas foram preenchidas. Dados divulgados pelo SERTE – SP mostram que em 2009 100 mil PNE trabalharam em São Paulo, representando 2 % dos deficientes empregados. Um dos desafios para o ICEP em 2010 foi o de aumentar as contratações de cadeirantes, segundo o seu presidente, Sueide Miranda: “O cadeirante ainda sofre certa dificuldade para entrar no mercado de trabalho por conta da falta de cadeiras de rodas com qualidade, acessibilidade e de uma maior conscientização do potencial desses trabalhadores por parte dos empresários”.

A reserva de cotas para deficiente está presente na maioria dos países. Na França as empresas com mais de 20 empregados reservam 6% de suas vagas e nos EUA e Reino Unido o judiciário pode fixar cotas quando a empresa não tem mão de obra disponível (DEFICIENTE EFICIENTE, [200..]).

7 Os dados são disponibilizados pelo Observatório do Mercado de Trabalho Nacional, que é um órgão de assessoramento do MTE (Ministério do trabalho e Emprego).


11

Inclusão Social "Ratificar a inclusão das pessoas com deficiência numa sociedade com menos pobreza e com mais igualdade na diversidade, onde os instrumentos de coesão sejam também ferramentas para a conquista da cidadania, da autonomia e da inserção social”. Naziberto Lopes e Lilian Treff, 2008.

Nossa cultura ainda nos mostra uma história muito recente com relação à Inclusão Social. Pessoas ainda criticam a igualdade de direitos e não é sempre que se encontram pessoas e empresas dispostas a cooperar com aqueles considerados fora dos padrões de normalidade estabelecidos por um grupo considerado como maioria. Entretanto, quando essas pessoas são aceitas, essas diferenças raramente se destacam ou as impedem de realizar alguma tarefa (dentro de cada possibilidade), e podem acrescentar muito nos valores morais, éticos e de respeito ao próximo, como todos recebendo os mesmos direitos e oportunidades. (Adaptado de: BARROS, Jussara. BRASILESCOLA, 2012.). Em 1981 a ONU decretou “O Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência (AIPPD)”. Nessa época percebeu-se que os PNE mereciam os mesmos direitos que qualquer pessoa. Começam a ser vistas as necessidades de adaptação, criando-se rampas para promover a “liberdade” de locomoção. O mundo foi se adaptando para dar as pessoas PNE oportunidades (BRASILESCOLA, 2002). Conforme pesquisas realizadas em diversas empresas do ramo como o Portal da Empresa, Instituto do Emprego e Formação Profissional, ONGs e Associações e principalmente no MTE, que disponibiliza uma cartilha para sanar as dúvidas com relação à contratação de profissionais PNE. A ASSIDEF (1998), em contrapartida do que muitas pessoas pensam em relação a um profissional portador de necessidades especiais, defende que este pode ser alocado em diversos setores de uma empresa. Experiências comprovam que em alguns casos, o profissional PNE é capaz de produzir mais do que um profissional sem deficiência. Isso ocorre pela necessidade que eles têm de superação, tornando-os assíduos, pontuais e fazendo-os vestir a camisa. Anualmente ocorre em São Paulo uma feira de tecnologia voltada ao público portador de necessidades especiais. Nessa feira, chamada REATECH, vários expositores demonstram as novidades no mercado em relação a produtos e serviços que atendem


12 especificamente esse público alvo. É possível encontrar serviços como o de empresas que armazenam em seu banco de dados os currículos das pessoas interessadas em entrar no mercado de trabalho.

Mapeamento do Ambiente de Trabalho Pessoas com mobilidades reduzidas geralmente se locomovem com ajuda de alguns equipamentos, como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas, ajuda de cães treinados, no caso de pessoas com deficiência visual. Para incluir essas pessoas no ambiente de trabalho, é necessário levar em consideração o espaço de circulação, juntamente com os equipamentos que os acompanham, conforme orientações elaboradas pela CPA, órgão ligado à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de São Paulo e normas da ABNT NBR (2004) referentes à acessibilidade. Para que um ambiente seja adaptado corretamente, não basta apenas colocar à disposição os equipamentos necessários ou no caso dos cadeirantes, de deixar apenas o espaço necessário de passagem. Existem padrões e normas a serem seguidas, estabelecidas por órgãos competentes e que devem ser consultados pela empresa para a adaptação do ambiente.

Mercado Aproximadamente 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Segundo uma pesquisa da AACD, dessa população, 81,9% dos lesados medulares (paraplégicos e tetraplégicos) foram vítimas de algum tipo de acidente (trauma) enquanto que os demais correspondem a lesões não traumáticas, provocadas por algum tipo de doença. Dentre o universo pesquisado, 62,7% vivem na cidade de São Paulo e Região Metropolitana, 31,6% no interior paulista e os demais em outros estados. Com a Lei de Cotas cada vez mais fiscalizada e implementada nas empresas gradualmente, o aumento da demanda de mão de obra qualificada para atender esse mercado é cada vez mais


13 evidente, assim como a necessidade das empresas de se adaptarem para receber adequadamente essas pessoas.

Histórico e dimensionamento do mercado Somente na década de 80 houve uma grande movimentação para a inclusão social. Os anos 80 foram conhecidos mundialmente com a Década Internacional das Pessoas Deficientes e durante os quais muitos direitos foram conquistados, como o direito de ingresso ao mercado de trabalho conforme as definições da Convenção 159 da OIT em 19838 (CHIACCHIO et al., 2007). O Brasil foi um dos países que ratificaram a Convenção 159 e se comprometeram a promover ações para admissão e manutenção dos empregos para pessoas com necessidades especiais. Em comparação com outros tipos de mercado, este é um segmento do qual não se têm muitos dados e as estatísticas são recentes. Apenas em 2000 o Ministério de Trabalho e Emprego passou a fiscalizar a Lei 8.231/91 e efetivar sua aplicação (Virada Paulista, 2009). No mês de janeiro de 2010 houve um aumento considerável nas contratações. Das 153 vagas disponibilizadas no ICEP (Instituto de Capacitação Ensino Profissionalizante), 83 pessoas foram contratadas. As empresas que se enquadraram receberam redução da carga tributária incidente sobre os encargos trabalhistas referentes aos portadores de deficiência física. Em estudos realizados no Estado de São Paulo em 2010, foi constatado que mais de 40% das empresas não cumprem a lei de cota para deficientes. 6.682 empresas foram fiscalizadas em todo o estado de São Paulo nos últimos cinco anos. O número total de empresas que deveriam cumprir a cota determinada em lei no Estado é de 11.951. Nessas empresas a previsão de vagas que deveriam ser destinadas a deficientes é de 221.068 e somente 107.324 estão empregados (DEFICIENTEONLINE, 2004 apud Folha Online, 2010). Em agosto de 2012, percebe-se ainda que muitas empresas, sem conseguir cumprir a Lei, estão encontrando alternativas para poupar-se da multa. Em Minas 8 Convenção 159 da OIT em 1983: contém artigos referentes à necessidade de assegurar a igualdade de oportunidade e tratamento a todas as categorias de pessoas deficientes no que se refere a emprego e integração na comunidade. Em: www.vereadoramaragabrilli.com.br/files/leis/convencao_oit.pdf


14 Gerais, uma empresa de manutenção de equipamentos, após negociar com o MPT, encontrou uma maneira inusitada para cumprir a lei. A companhia atua com manutenção e montagens de máquinas de mineradoras, e por conta dos perigos da sua atividade, não tinha como contratar os 25 deficientes estipulados pela norma. A solução encontrada foi deixar de terceirizar a produção de uniformes e criar uma confecção própria, que desde janeiro emprega 16 deficientes. (Valor Econômico, 2012). Podemos observar que existem muitas oportunidades no mercado de Recrutamento & Seleção para pessoas com deficiência e poucas empresas especializadas em trabalhar as vagas existentes. O grande desafio que enfrentamos atualmente é mudar a percepção dos empresários para que a contratação de pessoas deficientes não seja por obrigação da lei, consolo moral ou filantropia.

Conclusão O desenvolvimento deste artigo envolveu um trabalho de pesquisa e conhecimento acerca das condições dos portadores de necessidades especiais e das condições atuais do mercado de trabalho, já que o tema de Inclusão Social nunca esteve tão em voga como nos dias de hoje. A motivação para este texto está vinculada à percepção da necessidade de adaptação das empresas à Lei de Cotas, tendo assim, conformidade com as leis e a sociedade, sua integridade, e também oportunidades de crescimento, ganho de imagem, o desenvolvimento da responsabilidade social, além de dar aos PNE condições de competitividade e acesso ao mercado de trabalho, não apresentando idéias assistencialistas. Foi possível observar, depois de realizar pesquisas em diferentes fontes, que o processo de inclusão social dos PNE se inicia na maioria das vezes com a obrigação do cumprimento da lei, devido ao pagamento de multas por parte das empresas. Assim como muitas medidas adotadas em nosso país, os resultados só aparecem quando há o envolvimento da parte financeira. Nesse processo, foram detectadas diversas dificuldades enfrentadas pelos PNE, como a má qualificação devido à falta de cursos e recursos; falta de acessibilidade das empresas (são necessários investimentos em infraestrutura para proporcionar ganho de mobilidade e autonomia), além da falta de preparo dos funcionários já empregados, os quais precisam receber treinamento para que a inserção dos PNE não seja traumática para nenhuma das partes. A competitividade


15 existente no mundo corporativo atual e as dificuldades citadas acima fazem com que a maioria das vagas disponíveis seja para os cargos mais baixos e com menores salários. Outro fator importante a ser ressaltado é que as empresas precisam observar se as pessoas contratadas estão exercendo atividades compatíveis com sua qualificação e que a deficiência não as impeça de realizar suas funções. Como foi constatado, hoje já existem no mercado soluções de adaptação na infraestrutura e tecnologia suficiente para que a empresa possa modernizar suas instalações, tendo assim maior custo benefício. Foram identificados como oportunidade no mercado para empresas que desejam atuar na área de consultoria nesse segmento, alguns fatores como: a falta de preparo das empresas no recebimento e adequação às novas situações, e também a falta de preparo dos candidatos, a falta de qualificação e a inexistência de cursos de aperfeiçoamento, a escassez de vagas para PNE e os custos que as empresas têm para realizar tais adaptações. O desafio está em adequar a Responsabilidade Social aos princípios que regem a organização, sem deixar de cumprir a Lei e realizando a Inclusão Social daqueles que também estão à procura de oportunidades. Também, para superar as dificuldades e desenvolver o sentido de inclusão é necessário o envolvimento da sociedade, pois existem barreiras a serem quebradas, tanto nas empresas como entre os próprios portadores de necessidades especiais e seus familiares. É necessário que haja uma sociedade justa e uma educação de qualidade na qual as pessoas, independente de suas limitações ou diferenças, possam ter as mesmas oportunidades de estudo, educação e trabalho.

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O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros: uma análise dos prejuízos ambientais e sociais desta atividade Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata Rodrigues Teixeira, Renata Giovanoni Di Mauro1

Resumo. O presente artigo trata do tráfico internacional de animais silvestres e suas respectivas rotas e prejuízos. Analisa a legislação vigente ao direito da fauna e o proceder dos órgãos responsáveis pela fiscalização, controle das fronteiras e proteção da fauna brasileira. Por meio deste estudo pretende-se revelar esta atividade, uma vez que existem pouco estudos publicados pertinentes ao assunto, afim de criar uma consciência social das questões éticas, morais, sustentáveis e ambientais envolvidas.

Palavras-chaves: tráfico internacional de animais, rotas e prejuízos ambientais. Abstract. This article deals with international traffic of wild animals and their respective routes and losses. It analyzes the current legislation related to fauna rights and the procedures of the organizations responsible for surveillance, control of the border and protection of the Brazilian fauna. This article aims at showing such an activity, whereas there are just a few published studies related to this subject, to create social awareness of ethical, moral, sustainable and environmental issues involved.

Keys-words: international traffic, routes and environmental damage. 1 Introdução Este artigo tem como objetivo evidenciar o tráfico internacional de animais silvestres brasileiros bem como seus respectivos prejuízos ambientais a fim de fornecer essas informações para conhecimento e conscientização da sociedade. Esta pesquisa foi elaborada com base em levantamento bibliográfico, pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, com o uso de questionário com perguntas fechadas ao órgão competente pela proteção da fauna brasileira e entrevistas com perguntas abertas, roteiro baseado no questionário anterior, com IBAMA. O tráfico internacional de animais silvestres é a terceira maior atividade ilícita no mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e armas, respectivamente. No Brasil, ele é responsável por abastecer de 10 % à 15% deste mercado (PAE, 2012), em que 60% dos animais

1 Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira- Discente de Tecnologia em

Comércio Exterior/ FATEC lucivania.pto@gmail.com; Priscila Mara Ribeiro - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC pricilaribeiromaia@gmail.com; Renata Rodrigues Teixeira - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC renata.rodrteixei@gmail.com; Renata Giovanoni Di Mauro - Prof. Dra. / Orientadora- FATEC giovanoniadv@ig.com.br.

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comercializados são destinado ao mercado doméstico e 40% ao mercado internacional ( DUARTE, 2010) , tendo como principais destinos a Europa, Ásia e a América do Norte. Em sua maioria, é utilizado o transporte terrestre, mas também podendo acontecer por meio de transporte aéreo para cruzar as fronteiras brasileiras. Sendo que, de cada dez animais traficados apenas um sobrevive. Existem leis que dispõem sobre a proteção à fauna e prevê as punições para esta atividade. No entanto, as penas aplicadas não são rigorosas, atingindo, no máximo, dois anos de prisão ao traficante. Esta atividade resulta em prejuízos ambientais que abrangem desde a crueldade aos animais (na captura e manejo), biodiversidade, perda com patentes (biopirataria), bem como os prejuízos financeiros.

2 O Brasil e o Tráfico de animais Mundialmente o Brasil assume uma posição de destaque quando o assunto é o tráfico internacional de animais silvestres, que consiste na retirada destes animais, de seu habitat natural para serem comercializados para diferentes fins. Esta atividade representa a terceira maior atividade ilícita no mundo, perde somente para o tráfico de drogas e de armas respectivamente. Isso ocorre, pois, o Brasil é o país com a maior biodiversidade biológica do mundo (LAVACA, 2000). Todavia, devido a este fato, o país também é um dos primeiros em relação ao número de espécies em extinção. De acordo com dados da ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais (RENCTAS), pelo menos 38 milhões de animais são retirados de seu habitat natural anualmente (RENCTAS, 2001). Esta situação causa um desfalque à fauna brasileira e consequentemente, prejuízos ao país, que por muitas vezes são irreversíveis. O tráfico internacional de animais silvestres brasileiros é uma atividade ilícita que vem crescendo em grande proporção e sem nenhum tipo de controle, não é possível obter um valor exato dos lucros provindos desta prática, porém com base em informações da ONU, estima-se que são movimentados cerca de 15 bilhões de dólares por ano, com participação do Brasil de 5 a 15% deste valor aproximadamente, mesmo que 60% do tráfico seja voltados para abastecimento do mercado interno do próprio país. Devido à grande biodiversidade de animais que o país oferece e lucros tão altos com esta atividade ilegal, traficantes de outras áreas têm migrado para o tráfico de animais por ser a terceira atividade ilegal mais lucrativa de todo o mundo. Segundo informações da ONG Renctas, existem no Brasil aproximadamente 500 quadrilhas 2


voltadas para o tráfico de animais silvestres e as chamadas “mulas” que fazem o transporte de drogas, agora estão migrando para esta área, pois o lucro obtido é o mesmo e os riscos apresentados são menores ( FOLHA DE SÃO PAULO, 2005). Além do lucro obtido pelo tráfico, outro fator que contribui com o crescimento desta atividade, é a facilidade com que estas operações ilegais ocorrem, muitas vezes por falha na fiscalização, falta de punição rigorosa ou até mesmo por traficantes que estão infiltrados nos próprios órgãos públicos com a intenção de aliciar as autoridades responsáveis. Os traficantes utilizam de subornos, fraudes, falsificam documentos e a prática de sonegação fiscal, todos estes fatores contribuem com a dificuldade que as autoridades tem em administrar e punir tais redes criminosas (IBAMA, 2012) Outros fatores que contribuem com o tráfico, são os avanços nos meios de transporte que permitem com que áreas antes inacessíveis, agora sejam alcançadas rapidamente e também a facilidade de comunicação promovida pela tecnologia, através de celulares e via internet, os traficantes podem realizar cotação, compras, vendas e obter informações referentes as rotas mais seguras, bem como saber quais são os animais mais procurados (RENCTAS, 2001). De acordo com Calheiros (2011) um plano estratégico poderia reforçar o trabalho do reduzido quadro de fiscais e policiais que são especializados nesta área de combate ao tráfico que se intensifica cada vez mais e esta afirmação é ratificada pelo próprio presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha ( ECO REPORTAGENS, 2011), quando diz que “falta inteligência policial na repressão ao tráfico de animais”, pois ele alega que a fiscalização e a polícia, poderiam levar em conta as épocas e locais onde a captura dos animais ocorre com maior intensidade e frequência, para que desta maneira realizem plantões nestas aéreas evitando assim, a chegada dos traficantes até as conhecidas “feiras do rolo” onde os animais são comercializados. Segundo o 1º Relatório da RENCTAS (2001), a existência das feiras livres ou “feira do rolo”, é outro fator que encoraja os traficantes a continuarem a praticar o comércio ilegal, pois elas permanecem mesmo que as autoridades tenham conhecimento de sua existência, desta maneira, sem intervenção, os traficantes gozam de impunidade. 3 Legislação Aplicável A primeira lei que dispõe sobre a proteção de animais silvestres no Brasil é a 3


LEI Nº 5.197/67 que em seu Art. 1º estabelece que os animais que vivem na natureza , quaisquer que seja a sua espécie , pertence ao Estado, e proibe a caça, distribuição e apanha destas espécies, devido aos maus tratos e prejuízos ambientais causados (ROCHA, 1995). Posteriormente alguns artigos desta Lei sofreram alteração pela LEI Nº 7.653, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1988. A LEI 9.605/98 prevê sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente nos artigos 25 ao 69 e os crimes deixaram de ser inafiançáveis, onde as penas podem até serem substituídas por prestações de serviço a comunidade (GARCIA, 2008). 4 Finalidade do Tráfico de Animais Silvestres Há quatro finalidades que alimentam o tráfico de animais silvestres: colecionadores e zoológicos, fins cientificos (biopirataria), pet shops e animais comercializados para produtos e subprodutos (DESTRO, 2012). Os colecionadores dão preferência para animais que estão ameaçados à extinção, já que são mais valiosos, como as araras azuis, mico-leão-dourado, flamingo, jaguatirica. Eles são destinados aos países da America do Norte, Europa e Ásia (RENCTAS, 2001). As espécies que produzem substâncias químicas, que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de remédios, fazem parte desta atividade ilícita, pois há grande interesse por parte de pesquisadores em buscar novos animais para remover substâncias valiozas, que podem valer até US$ 5 mil, como é o caso da surucucu-pico-de-jaca viva, sendo que o valor de uma grama da substância deste animal extraída, vale por volta de US$ 3,200 mil ( MAGALHÃES, 2002; RENCTAS, 2001). Os animais destinados aos pets shops são os mais procurados no território nacional, mas também são enviados para os pets shops no exterior, como os sagui-dacara-branca, meiro, araçari, arara-vermelha, tartaruga, jibóia. O preço destes animais pode variar entre US$ 500 à US$ 5 mil no mercado internacional (RENCTAS, 2001). Os produtos retirados dos animais: como peles, dentes, couros, penas, entre outros, são utilizados na produção de sapatos, bolsas, joias, artesanatos para turistas 4


(RENCTAS, 2001).

5 Prejuízos Ambientais A prática ilegal de comercializar animais silvestres existe desde a época da colonização do Brasil. No entanto, os animais que eram pegos na natureza pertenciam a quem os pegou. No ano de 1934 com a publicação do

DECRETO Nº 24.645 ,

entraram em vigor algumas medidas de proteção aos animais, onde não era mais permitida a negociação e transporte dos mesmos (ROCHA, 1995). Dentre os prejuízos ambientais, encontra-se o ecológico, no qual esta atividade faz com que diversas espécies sejam tiradas da natureza todos os anos, o que pode ocasionar a extinção, e quando acontece o fato, há uma perda relevante de toda a sua história e a sua genética, e também, pode ocasionar o desequilíbrio do ecossistema , pois a fauna e a flora são dependents. Podemos exemplificar, utilizando o caso dos pássaros que muitos dispersam sementes , que por sua vez são importantes para a germinação de muitas espécies de plantas; e também, os animais que são interdependentes para manter o equilíbrio da fauna e não ocorrer a superpopulação de uma única espécie. (FIORILLO, 2010; Renctas, 2001). Outro prejuízo que é causado por esta atividade é o econômico, pois ele movimenta uma quantia ilícita em dinheiro muito alta, o que não gera tributos para os governos arrecadarem, ocasinando prejuízos para os cofres públicos. A fauna também é importante para o turismo ecológico do país, devido a sua biodiversidade que é responsável por atrair turistas do mundo inteiro, o que gera receita para o Estado (RENCTAS, 2001). Há também o prejuízo patrimonial no qual subprodutos desses animais são comercializados, principalmete no exterior, para laboratórios (NASCIMENTO, 2010). Uma vez que um produto é utilizado numa pesquisa e sofre uma pequena alteração genética, é considerado uma inovação. Assim, faz com que a biodiversidade brasileira aumente a cobiça, principalmente, de pesquisadores de países desenvolvidos, alimentando

o tráfico de animais, por meio da biopirataria onde retiram do país

substâncias ricas e as patenteiam. (NASCIMENTO, 2010). 5


Outro prejuízo que a atividade pode causar são as doenças. Em muitos casos, as pessoas que compram ilegalmente estes animais, não sabem sobre a sua saúde ou até mesmo sobre as doenças que a espécie pode transmitir. Isto pode ocasionar problemas sanitários graves ao país. Como por exemplo, os primatas que podem transmitir raiva, febre amarela, hepatite A, toxoplasmose; os quelônios: salmonelose e doença enterobacteriana e os psitácideos : toxoplasmose e psitacose. São conhecidas mais de 180 doenças que são transmitidas dos animais aos seres humanos , muitas delas podem causar o óbito se não forem tradadas da maneira devida (RENCTAS, 2001).

6 A Rota do Tráfico Internacional de Animais Silvestres

Traçar com exatidão a rota do tráfico internacional de animais silvestres brasileiros, assim como os números gerados nesta atividade é uma tarefa praticamente impossível por conta da ilegalidade e a escassez de documentos e registros sobre o assunto. Sendo que, quase que a totalidade dos trabalhos publicados referentes ao assunto tratam das situações nacionais, pois esta representa maior parte desta atividade. Estima-se que 60% dos animais silvestres brasileiros traficados sejam comercializados no mercado doméstico e 40% tenha como destino o comércio internacional (PEA, 2013). O Brasil não é o único país responsável por abastecer este mercado, esta é uma realidade comum à países subdesenvolvidos. Segundo RENCTAS ( 2001 apud Henley e Fuller, 1994) são responsáveis por abastecer este mercado países como: Peru, Argentina, Guiana, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Colômbia, África do Sul, Zaire, Tanzânia, Kenya, Senegal, Camarões, Madagascar, Índia, Vietnã, Malásia, Indonésia, China e Rússia os quais são responsáveis por abastecer países desenvolvidos, tais como: EUA, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça, Grécia, Bulgária, Arábia Saudita e Japão (RENCTAS, 2001). No que corresponde ao cenário nacional, o início da rota do tráfico de animais silvestres brasileiros acontece em sua maioria nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, com a captura dos animais em seus habitats naturais e que ali serão comercializados ou então, em sua maioria transportados para a comercialização na região sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro) que é considerado o grande mercado consumidor do país pois, é 6


nesta região que os animais serão vendidos em feiras livres ou exportados para os países consumidores, podendo esses países serem ou não signatários da Convenção sobre o Comércio Internacional da Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção – CITES. Os métodos de transporte clandestino destes animais visam despistar os agentes de fiscalização aduaneira, negligenciando assim as condições as quais os animais são movimentados e transportados durante o trajeto e que sempre serão situações precárias e cruéis sem qualquer cuidado com a segurança, bem como a questões sanitárias envolvidas, resultando na morte de mais de 80% destes animais (DIALOGO, 2010). Perdas absurdas pois, mais da metade dos animais traficado morem antes de chegar ao destino, e ainda, durante o percurso os animais são expostos a altíssimo grau de estresse. Para driblarem a angústia e agitação dos animais são praticados todo tipo de tortura e crueldade, como mutilação, cegueira e administração de calmantes e bebidas alcoólicas (PEA, 2010). Embora os números de morte dos animais sejam absurdamente alto tal prática é compensada pelo lucro obtido e falta de aplicabilidade da lei e penalizações resultantes da mesma, desta forma, evidencia-se o desrespeito claro a vida e dignidade dos animais assegurados pela Declaração Universal do Direitos dos Animais de 1978 (da qual o Brasil é país signatário) e que dispõe sobre os princípios a serem estabelecidos em relação ao direitos dos animais, a vida e o proceder dos homens e, visa criar parâmetros jurídicos para os países membros da Organização das Nações Unidas. O escoamento dos animais acontece quase que em totalidade através do modal rodoviário (carros e caminhões), correspondendo a cerca de 90% , 5% aéreo e 5% embarcações ( RENCTAS, 2001) . Esta prática está estruturada em uma cadeia social que corresponde a três etapas: fornecimento primário, intermediário e consumidores. O fornecimento primário consiste na captura do animal na natureza nas regiões de maior incidência por parte de populações carente e de baixa renda, como por exemplo, populações ribeirinhas e índios (que são impulsionados pela falta de opções econômicas, desconhecimento da esgotabilidade destes recursos faunísticos bem como o desejo de lucro rápido). Já o fornecimento intermediário consiste na venda dos animais por parte de traficante intermediário para a população local que tenha interesse em adquirir um destes animais, além do transporte e movimentação em território nacional para a venda dos animais 7


nos grandes centros comerciais da região Sudeste, bem como negociação e fornecimento para os grandes traficantes que serão responsáveis por abastecer o mercado internacional (RENCTAS, 2001). Por fim, os consumidores, que poderão ser classificados como domésticos ou internacionais, estes por sua vez localizados nos mais diferentes países.

7 A sociedade e o Tráfico de Animais Antigamente a sociedade se esforçava para ter um relacionamento harmônico com o meio ambiente, porém devido ao crescimento da sociedade, do avanço tecnológico e desenvolvimento industrial, esta relação harmônica aos poucos começou a desaparecer e perder espaço para a poluição, desmatamento, morte dos rios e animais (DIBLASI FILHO, 2007). Estes grandes avanços alcançados pela sociedade poderiam ser utilizados a favor do meio ambiente e na realidade hoje em dia estes meios são utilizados, pois levam informações com o intuito de conscientizar a população sobre a importância da proteção ao meio ambiente, porém ocorre que a própria sociedade em sua maioria, não dá a devida atenção a um assunto que por muitas vezes ouvimos falar, a sustentabilidade; e utilizam destes meios como facilitadores para as operações do tráfico. O tráfico de animais silvestres pode ser considerado como uma questão social, pois está diretamente ligado

a questões de pobreza e miséria, desinformação e

ignorância da população de onde estes animais são retirados, e também, o desejo de satisfação pessoal dos consumidores ao se adquirir um animal silvestre como animal de estimação, pois estas características alimentam este mercado (RENCTAS, 2001). Apesar das dificuldades em levar informações com intuito de conscientizar tanto a população de regiões fornecedoras como consumidoras, ainda existem

muitas

informações vinculadas à internet e demais meios de comunicação, bem como o esforço de alguns grupos que lutam pela proteção ao meio ambiente e em alguns casos mais específicos, pela proteção dos animais, a sociedade ainda persiste em querer ter um domínio sobre a natureza, agindo com cobiça, ganância ou até por necessidade, e desta forma tornam-se “predadores” de animais através da caça com a intenção de lucrar à custa da natureza, como se ela a eles pertencesse (DIBLASI FILHO, 2007).

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8 Conclusão Diante do exposto é possível notar que os animais silvestres capturados são provindos das Regiões Norte e Nordeste do país devido à grande diversidade de espécies existentes. Estas características são responsáveis por atrair o interesse de pessoas residentes em vários países para diversos fins, eles são transportados para a Região Sudeste, onde há a maior concentração de feiras clandestinas para a venda local e internacional (RENCTAS, 2001). Conclui-se que as rotas utilizadas possuem ou não fiscalização rigorosa, ou em alguns casos há o aliciamento de agentes responsáveis por este controle, facilitando e impulsionando a prática desta atividade que acarreta uma série de prejuízos ambientais (IBAMA, 2012). Desta forma, uma fiscalização mais rigorosa nas rotas e até mesmo fiscalização rigorosa dos agentes responsáveis, teria como consequência a inibição do tráfico. Outra forma de inibir o tráfico é a aplicação de políticas públicas e o investimento para mudar o pensamento e a cultura da sociedade, pois se não houvesse a caça de animais e o desejo de se apropriar destes para criação própria ou para outros fins, não haveria o tráfico de animais e o risco de extinção de muitas espécies (DIBLASI FILHO, 2007). Nota-se que enquanto os cidadãos comuns, não se conscientizarem e voltarem à atenção na busca de um mundo sustentável, o tráfico de animais persistirá. Não basta somente a intervenção das autoridades e fiscalização, é necessário um esforço coletivo para acabar com a prática destas atividades ilegais e este estudo se encontra entre um dos poucos existentes e pertinentes ao assunto a fim de criar uma consciência social das questões éticas, morais e ambientais envolvidas.

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Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental: um estudo de caso da COEPAD.

Adriana Regina Espíndola1 Rosane Cristina Jacques2 Susany Perardt3 RESUMO Neste trabalho relata-se o processo de criação e funcionamento da Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na cidade de Florianópolis em Santa Catarina. Trata-se de uma organização originada pela iniciativa de um grupo de pais, ao se deparar com a necessidade de dar continuidade à educação e formação de seus filhos com deficiência intelectual. Ao processo de criação e funcionamento da entidade, atribuem-se características inerentes às práticas de responsabilidade social corporativa, responsabilidade socioambiental e inclusão social. À luz da literatura, a fundamentação teórica destes conceitos foi elucidada. A análise desses conceitos versus a caracterização do processo de criação e funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca, especialmente, da responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental, por meio do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho. As ações práticas desenvolvidas pela COEPAD demonstram o quão importante é a iniciativa e a atitude de cidadãos frente aos desafios que se apresentam, sem aguardar ou reclamar por ações do governo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira. Os dados de referência para a realização deste estudo foram coletados por meio da entrevista semi-estruturada e da pesquisa documental. O método utilizado foi o estudo de caso, de caráter qualitativo e orientação descritiva. Como resultado deste trabalho verificouse que as atividades desenvolvidas pela Cooperativa contribuem de forma direta para a consolidação da responsabilidade socioambiental, através do seu papel estratégico e construtivo para a sociedade brasileira. Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa. Responsabilidade Socioambiental. Inclusão Social.

ABSTRACT In this work reports the process of the creation and operation of Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiências (COEPAD) established in Florianópolis/ SC. It treats about an organization, originated by a group of parents, It started when they realized about the need of giving a 1

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU)/ Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações/UFSC. Graduada em Engenharia Sanitária Ambiental/UFSC. E-mail: centroanandi@gmail.com. 2

Mestranda em Mestrado Profissional Administração Universitária – PPGAU/Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Especialista em Gestão de Projetos Financeiros – MBA – CESUSC. Publicação no XXII ENBRA/ VIII Congresso Mundial de Administração. E-mail: rosanejacques@gmail.com 3

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Controle da Gestão Pública Municipal (UFSC). Graduada em Administração pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Publicação no XXII ENBRA/ VIII Congresso Mundial de Administração. E-mail: susany.perardt@ufsc.br

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continue education and formation of their children with intellectual disabilities. The process of establishing and operating the entity, attribute to the inherent characteristics of the practices of corporate social responsibility, environmental responsibility and social inclusion. In light of the literature, the theoretical foundation of these concepts has been elucidated. The analysis of these concepts versus the characterization of the process of creation and functioning of the Cooperative refers to conclusions about, especially the social responsibility as daily practice in environmental sustainability actions, through the work of recycling paper for making their products, and inclusion of people with intellectual disabilities in the labor market. Practical actions undertaken by COEPAD demonstrate how important is the attitude of citizens initiative and the challenges that present themselves, without waiting or claim by government actions, contributing to the sustainable development of Brazilian society. The reference data for this study were collected through semistructured interviews and documentary research. The method used was the case study, qualitative and descriptive orientation. As a result of this work it was found that the activities of the Cooperative directly contribute to the consolidation of environmental responsibility through its strategic role and constructive for Brazilian society. Keywords: Corporate Social Responsibility. Environmental Responsibility. Social Inclusion.

1 INTRODUÇÃO A vida em sociedade tem exigido mudanças de valores que interfiram positivamente no pensamento e nas relações humanas na direção de um comportamento mais equilibrado e igualitário diante das discrepâncias que envolvem o ser humano e norteiam organizações. A valorização do indivíduo e a sua identificação como parceiro das organizações fundamentam temas como a responsabilidade social, que têm sido alvo de discussões e debates que apontam na direção de inovar nas formas de se organizar. Nessa temática encontra-se o movimento de grupos organizados dentre outros formatos, em associações, em cooperativas, que demonstram claramente a prática de projetos que vem apresentando resultados efetivos nessas áreas nos últimos anos. É o caso da Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na cidade de Florianópolis em Santa Catarina. A COEPAD ao ser criada para propiciar um caminho, e quiçá solução, para as dificuldades enfrentadas na vida cotidiana de famílias com deficientes intelectuais, se coloca num patamar de inovação, oferecendo uma nova visão nas formas de organização e utilização da técnica, a que se refere Santos (2006), e sobretudo aventando a possibilidade de pessoas desenvolverem suas potencialidades ou capacidades substantivas (SEN,1999), qualquer seja sua condição intelectual. Sua atuação na área de reciclagem de papel contribui diretamente para a tônica da sustentabilidade de recursos naturais, que, ao longo das últimas décadas tem sido alvo de discussões em nível mundial. 2


Dessa forma, o objetivo do presente estudo consiste na análise da atuação da COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no âmbito do cooperativismo. A análise desses conceitos versus a caracterização do processo de criação e funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca, especialmente, da responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental, por meio do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA A prática da responsabilidade social corporativa está ainda em desenvolvimento no Brasil e com grande quantidade de significados em conceitos como de responsabilidade social, sustentabilidade, voluntariado, ética nos negócios e questões ambientais (MORETTI; CAMPANÁRIO, 2009). Aliado ao fato de existir diferentes termos que remetem a ideia de responsabilidade social, ela ainda não possui uma definição unanimemente aceita, porém, de acordo com Spers e Siqueira (2010, p. 17), baseados no Business Social Responsability Resource Center, de forma ampla, “[...] a expressão se refere a decisões de negócios tomadas com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente”. A responsabilidade social corporativa é a obrigação que uma organização assume perante a sociedade na qual está inserida, maximizando os seus efeitos positivos e minimizando os seus efeitos negativos. (BATEMAN; SNELL, 2010). Para Estender e Siqueira (2007, p.17) as organizações que incorporam os princípios da responsabilidade social e pratica-os “de forma ética e responsável, perceberão resultados positivos, como a valorização da sua imagem institucional e de sua marca, fidelização do cliente, maior capacidade de recrutar e manter talentos e sustentabilidade e longevidade”. Os principais vetores da responsabilidade social na visão de Ponchirolli (2010) são: o apoio ao desenvolvimento sustentável da comunidade e região local; a preservação do meio ambiente; o investimento no bem-estar dos funcionários; as comunicações transparentes; o 3


retorno aos acionistas; a sinergia com os parceiros e a satisfação dos clientes e/ou consumidores. A responsabilidade social tem sido disseminada nos últimos anos também devido a sua ligação com a questão ambiental. Segundo Maximiano (2009, p. 305), “desde os últimos 25 anos do século XX, tem havido um crescente interesse no meio ambiente. Em todo o mundo existe a consciência de que o ambiente é uma questão sistêmica, que envolve todas as nações e o comportamento de cada pessoa”. Nesse contexto, organizações das mais diversas naturezas devem considerar em seu âmbito administrativo a questão ambiental, o que nos remete à responsabilidade socioambiental. 2.2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Sobre a problemática ambiental, econômica e social, Dowbor (1999) alerta para a dimensão da capacidade destruidora do sistema capitalista, que atua como péssimo distribuidor e precário empregador. De acordo com o autor, poderosas tecnologias de exploração dos recursos naturais têm levado a um impasse planetário. No contexto da sustentabilidade dos recursos naturais, os resíduos sólidos gerados diariamente pelas mais diversas atuações do homem em sociedade, têm provocado grandes estragos, desde a sua geração, devido ao estímulo a um consumo exacerbado de bens e serviços, passando por seu precário manuseio e destino final em vazadouros a céu aberto ou lixões. De acordo com a Pesquisa Nacional em Saneamento Básico realizada pelo IBGE em 2008, 50,8% dos municípios brasileiros ainda encaminham resíduos sólidos para lixões a céu aberto. Trata-se de uma situação que configura um cenário de destinação reconhecidamente inadequado (IBGE, 2013). Há de se destacar, porém, que ações concretas vêm sendo implementadas nos últimos anos. No Brasil, em 1989, foram registrados 58 programas de reciclagem, e em 2008, este número subiu para 994 (IBGE, 2013). Em Florianópolis são coletados, enfardados e comercializados uma média de 50 toneladas/mês de resíduos recicláveis (SMHSA, 2013). A implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010) demonstra e reconhece a importância da gestão de resíduos nesse contexto de degradação ambiental, ao coresponsabilizar a sociedade civil pelo tratamento adequado desde a sua geração, manuseio até destinação final.

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Nesse contexto de mudanças de comportamento, com o objetivo de se implementar uma nova visão de mundo para um desenvolvimento sustentável, o meio ambiente e outros temas que o cercam em sido alvo de discussão (GIESTA, 2012). Para a autora, com essa preocupação, também no contexto organizacional, há trabalhos implementando ações inovadoras, como: reestruturação de processos, práticas de responsabilidade social, direcionamento de esforços na educação de funcionários e consumidores, quando se dedicam a trabalhar com a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável. (GIESTA, 2012, p. 768).

A ação como processo, dotado de propósito, no qual um agente mudando alguma coisa, muda a si mesmo (MORGENSTERN, 1960, p. 34, apud SANTOS, 2006), fica evidenciada no processo de criação e implementação de ações de organizações voltadas para questões socioambientais. Preocupando-se com o meio ambiente em seus processos produtivos, aplicando conceitos e pressupostos de desenvolvimento sustentável, as organizações podem inovar (GIESTA, 2012). A responsabilidade socioambiental vem se consolidando, oportunizando mudanças para a sociedade contemporânea. Há de considerar, contudo, as dificuldades inerentes às mudanças de hábitos e comportamentos individuais e sociais. Para Joerges (2006 apud SANTOS, 2006), as anomalias organizacionais, reverse salients, resultam da elaboração ou evolução desigual de um conjunto de tal maneira que quando uma parcela progride outra se atrasa. E nesse sentido, Santos (2006) refere-se ao termo rugosidade para assinalar a “inércia dinâmica”, o que nos parece ser uma aceitação passiva de heranças de formas históricas de organização. Novas alternativas, portando, para diferenciar o processo histórico da humanidade, como sujeito e não como objeto (Santos, 1998), onde o todo possa evoluir e participar, de acordo com suas potencialidades, devem ser evidenciadas. Para Santos (1998, p. 78) “é fundamental, [...], ultrapassar a reconstrução solitária do individuo e transformá-la em ação social solidária”. É nesse sentido que a responsabilidade socioambiental dever ser considerada, implementando-se ações que tragam sentido e significado a indivíduos e grupos. Sen (2000), ao abordar o desenvolvimento como liberdade, aborda com clareza a cerca da liberdade substantiva, o que significa assegurar ao indivíduo seu direito de desenvolver suas capacidades. Para Santos (1998) numa “sociedade verdadeiramente humana [...] as individualidades florescem plenamente” (SANTOS, 1998, p.78). Para este autor não há

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liberdade solitária, ou seja, o estar em grupo é fundamental para o desenvolvimento de qualidades e potencialidades. Dessa forma, ao se construir um novo olhar para o desenvolvimento sustentável devese considerar propriamente o desenvolvimento do ser humano. Neste sentido é mister o pensar e a prática de formas de inclusão de indivíduos à margem da sociedade. 2.3 A INCLUSÃO SOCIAL POR MEIO DO COOPERATIVISMO A inclusão social de acordo com Amaral Jr. e Burity (2006) é uma questão de abertura e de gestão. A abertura entende-se como a sensibilidade para identificar e coletar manifestações de insatisfação e dissenso sociais para distinguir a diversidade social e cultural. Pela gestão percebe-se como crença no caráter quantificável, operacionalizável, de tais demandas e indagações administráveis através de técnicas gerenciais e da alocação de recursos em projetos e programas (políticas públicas). A construção da inclusão social implica diversas formas, de um lado tornou-se parte do que se propôs alcançar por meio de reformas políticas e econômicas ou com oposição a tais reformas. De outro lado, os aspectos culturais e identitários tornam-se emblemáticos da multi-dimensionalidade da dinâmica social, que deriva da importância e da crise dos padrões tradicionais da ação estatal, ação coletiva anti-status quo, de classificação das relações sociais, de regulação da economia e de análise sócio-política desses diversos processos (AMARAL JR.; BURITY, 2006). Segundo Amaral Jr. e Burity (2006) no caso do Brasil a preleção da inclusão social quer ser uma expressão de mudança de paradigma – na direção do reconhecimento da pluralidade das diferenças como elemento das circunstâncias de eliminação vigentes e das soluções para elas – mas aspira a inscrever tal alteração na conjuntura da generosidade da cultura brasileira com o outro indivíduo, fazendo acreditar que o problema é essencialmente econômico e seu enfrentamento será apenas facilitado pelo recrutamento político da cultura. No contexto da inclusão social cabe salientar as disposições sociais oriundas do terceiro setor que vem crescendo no Brasil. Esses organismos em sua concepção organizam e representam a sociedade e substituem o Estado em diversas funções, ao desempenhar inúmeras atividades, oferecem amplitude à participação social e capacitam os indivíduos para estarem inclusos como agentes ativos desse processo (DELLA GIUSTINA, 2008).

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Na medida em que as organizações do terceiro setor não estiverem permeadas pela lógica instrumental e baseadas em modelos gerenciais, parece possível trabalhar a partir de outro olhar e com um novo modo de pensar, no qual estas organizações são concebidas e orientadas na perspectiva social. Outro modelo de organização que também pode atuar nesse sentido são as cooperativas, que nos remete a apologia da inclusão social em casos como o da COEPAD. Segundo Benato (1994, p. 21) “o cooperativismo é uma economia que se baseia na cooperação e que opera como um sistema reformista da sociedade que quer obter o justo preço através do trabalho a da ajuda mútua”. É definido pela Lei 5.764/1971, Política Nacional do Cooperativismo. É uma sociedade de pessoas, com formato e natureza jurídica própria, e de direito privado. Como tal, devem obedecer a procedimentos legais, normas e legislação específica (BENATO, 1994). Cabe ressaltar que entre os ramos que compõem o cooperativismo, destaca-se o ramo especial fundamentado por meio da Lei 9.867/99. Tal ramo é constituído de cooperativas formadas por indivíduos menos favorecidos na sociedade, contribuindo para sua inserção no mercado de trabalho, geração de renda e a conquista da sua cidadania (OCB, 2013). Dessa forma, o cooperativismo funciona como um instrumento de inclusão social e de busca de melhorias na vida das pessoas, além de ter a capacidade impar de integrá-las ao mercado de trabalho e à própria sociedade, operado através de processo de deliberação coletiva. 3 METODOLOGIA Para consecução do objetivo deste artigo, o qual consiste na análise da atuação da COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no âmbito do cooperativismo, foi necessário percorrer um caminho metodológico que viabilizasse este estudo. Neste caso, utilizou-se a taxionomia apresentada por Vergara (2007) que classifica os tipos de pesquisa quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, esta pesquisa caracterizou-se como descritiva, porque expõe as características de determinado fenômeno, neste caso as ações desempenhadas pela COEPAD que contribuem para o crescimento eficiente e socialmente responsável e de modo sustentável perante a sociedade na qual está inserida. 7


Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, documental e estudo de caso. Bibliográfica, uma vez que a fundamentação teórica e metodológica foram delineadas e exemplificadas com base na literatura existente, e documental porque foram consultados documentos institucionais e internos à Cooperativa estudada, como por exemplo o Estatuto Social, site, documentos, entre outros. Caracterizou-se também como um estudo de caso, pois se concentrou no exame profundo de uma unidade de pesquisa, no caso específico, a COEPAD. Os dados obtidos para atingir o objetivo desta pesquisa foram classificados em primários e secundários. Os dados secundários são aqueles que já foram coletados, ordenados e tabulados e, neste caso foram obtidos em documentos institucionais e internos da própria Cooperativa. Os dados primários são aqueles coletados com o propósito de atender as necessidades desta pesquisa, e segundo Mattar (1999, p. 188), o método da comunicação “consiste no questionamento verbal ou escrito, dos respondentes, para obtenção dos dados desejados”. Assim, o instrumento utilizado para viabilizar a coleta dos dados primários foi à entrevista semi-estruturada, de caráter não disfarçado e com questões abertas, aplicada junto aos responsáveis pela gestão e produção de materiais em março de 2013, além da observação em campo das pesquisadoras na visita à organização durante o expediente de trabalho da cooperativa. A análise dos dados primários e secundários levantados na pesquisa serviu de base para a compreensão deste estudo e para o alcance do objetivo geral proposto pelo artigo. Para Richardson (1999, p. 79), a abordagem qualitativa é uma “[...] forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social”. Assim quanto à abordagem, esta pesquisa é qualitativa, na medida em que os dados coletados foram interpretados e compreendidos pelas pesquisadoras. 4 RESULTADOS DA PESQUISA 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA COEPAD A Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD) é uma entidade social que foi fundada oficialmente no ano de 1999, e conforme seu Estatuto Social enquadra-se na categoria de cooperativa Especial, sendo pioneira no Brasil no modelo “Cooperativa Social”, criada pela Lei n° 9.867/99. Além de ser regida particularmente por 8


esta lei, a COEPAD também rege-se pela lei n° 5.764/71 que dispõe sobre a criação e funcionamento das cooperativas sociais (COEPAD, 2012b). A ideia de criação da Cooperativa surgiu no final do ano de 1998 com o término de um projeto do Colégio Coração de Jesus (CCJ) que abrigava um grupo de jovens com deficiência nas salas de educação especial. Ao se deparar com esta situação, um grupo de pais e amigos de portadores de deficiência intelectual reuniu-se com o intuito de buscar soluções para proporcionar ocupação aos jovens que frequentavam aquelas salas. Após algumas reuniões na qual foram discutidas algumas alternativas, decidiu-se então pela cooperativa devido à facilidade de se iniciar um trabalho com poucos recursos e mantido pelos pais (COEPAD, 2012c). As atividades se iniciaram com a instalação de duas oficinas: a de papel artesanal que reciclava papel recebido em doação da comunidade, e a de fralda descartável, sendo esta última desativada devido ao seu alto custo (COEPAD, 2012c). Na sequência, devido ao crescimento, passou a utilizar o papel artesanal para confecção de outros produtos como blocos, caixas, cartões, envelopes, entre outros produtos (COEPAD, 2012a). Além da oficina de papel artesanal foram criadas outras oficinas: a da cartonagem, de acabamento gráfico, de serigrafia e a de corte e costura (COEPAD, 2012c). Atualmente, a COEPAD possui 43 cooperados (não incluindo pais, amigos e voluntários), está sediada em um novo espaço, localizado no bairro Estreito em Florianópolis/SC e possui uma nova identidade visual. O trabalho da Cooperativa continua no “atendimento a novos cooperados e familiares, no aumento de sua produção e na conquista de sua sustentabilidade como organização”. (COEPAD, 2012a). O alvo principal da COEPAD são as pessoas com deficiência intelectual, sendo que os seus cooperados são classificados em três grupos de associados (COEPAD, 2012c).Para ser um cooperado da categoria de deficientes, é necessário que a pessoa tenha uma deficiência intelectual, tenha mais de 18 anos, ou seja, a idade mínima para pertencer à entidade, quanto à idade máxima não se trata de um critério exigido. O candidato a ser um cooperado primeiramente é entrevistado junto com seus pais pelos profissionais da COEPAD, mediante o aceite do mesmo, este deve passar por um período de adaptação, em torno de três meses, onde é avaliado as reais condições de executar as tarefas solicitadas. Também e por parte da família desse deficiente, a indicação de uma pessoa para trabalhar como voluntária. O tempo de permanência no quadro de cooperados não é limitado, isto é designado pela adequação e motivação dos mesmos. 9


O objetivo maior da COEPAD consiste no direito de ser e estar feliz, aprender, trabalhar e fazer parte da sociedade. É um espaço para proporcionar capacitação e trabalho às pessoas com deficiência intelectual, resgatando a sua autoestima, o exercício da cidadania e a conscientização da sustentabilidade. (COEPAD, 2012c). 4.2 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS A COEPAD é uma entidade social que não visa o lucro. Os recursos provenientes da venda dos seus produtos são revertidos para a manutenção da Cooperativa, aquisição de matérias-primas e para o pagamento de um salário simbólico aos cooperados pertencentes à primeira categoria, ou seja, os deficientes intelectuais. Cabe destacar que esta entidade recebe anualmente encomendas de aproximadamente trinta empresas em sua maioria catarinense, entre elas: Attitude Promo Eventos, Badesc, Bela Calha, Colégio Catarinense, Escola do Legislativo, Fecomércio, Floripamanha, Guga Kuerten Participações, Hippo Supermercados, ICOM – Instituto Comunitário da Grande Florianópolis, IGK – Instituto Guga Kuerten, Natubrás, OCESC – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina, Grupo ORCALI, PROSUL – Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda., entre outras. De acordo com os entrevistados, a COEPAD utiliza resíduos sólidos em duas frentes de trabalho. A primeira é definida como a linha de produção do papel artesanal (Oficina do Papel Artesanal), recebe papel A4, listas telefônicas, revistas, rolinhos de papel higiênico e de papel-toalha da comunidade em geral e de empresas como, por exemplo, Prosul, Previsc, Instituto Guga Kuerten. A reciclagem de papel é realizada na Cooperativa é um processo contínuo na medida em que a Oficina de Papel Artesanal produz o papel diariamente, são produzidos em média 100 folhas de papel reciclado por dia. Os resíduos são selecionados na Oficina de Papel Artesanal (são retirados clips, grampos, plásticos, entre outros) e levados para o depósito. O processo de reciclagem nesta Oficina inclui a trituração do material, a obtenção da massa, a tintura, até chegar à tela e à secagem do papel reciclado artesanalmente. Após esse processo o material é enviado a Oficina de Cartonagem que produz produtos como blocos, cadernos, agendas, portarascunhos, cardápios, pastas de eventos, embalagens, etc. Quanto segunda a linha é a de produção de sacolas ecológicas (Oficina de Corte e Costura), recebe retalhos e lonas de propaganda, doados pela Dudalina, Imobiliária Brognolli e Busch & Cia., dentre outros, e também os tecidos e demais assessórios são comprados pela 10


COEPAD com os recursos oriundos das vendas de seus produtos. Nessa oficina são produzidas sacolas, bolsas e embalagens ecológicas por meio de materiais: tecido não tecido (TNT) ou em lona de algodão, desenvolvem produtos personalizados e sob encomenda. A personalização desses produtos é finalizada na Oficina de Serigrafia. Convém enfatizar que os resíduos sólidos são doados à Cooperativa pelas famílias e amigos dos cooperados, por algumas empresas, por pessoas que tomam conhecimento da COEPAD e procuram contribuir e pela comunidade em geral. O recebimento deste material é praticamente de modo diário. A instituição ainda não possui condições físicas e humanas para a coleta dos resíduos sólidos, então, eles são levados diretamente pelas pessoas. Mediante a explanação do modo de produção da COEPAD, relata-se que tal Cooperativa possui um portfólio diverso de produtos, além dos já citados, também confecciona canudos de formatura para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição que apóia e divulga o trabalho da COEPAD, haja vista, o principal ponto de venda é uma loja no Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Além disso, os produtos da COEPAD podem ser adquiridos na sua própria sede, em feiras e exposições, o qual a Cooperativa participa, como por exemplo, a Feira da Esperança, evento anual em Florianópolis. De acordo com a entrevista, as práticas de sustentabilidade são inerentes no processo de reciclagem de papel, principal ação da COEPAD, pois tem influenciado, de acordo com os entrevistados, outras efetivas ações para a preservação de recursos naturais. As ações de conscientização e educação realizadas pela diretoria aos cooperados no uso racional de água e energia elétrica são diárias e, além disso, conforme relatou os entrevistados, estas ações influenciam na adoção de novos hábitos no ambiente familiar dos cooperados e consequentemente é disseminado para outras pessoas. Cabe destacar que a conscientização sobre práticas de reciclagem levam a minimização da poluição do meio ambiente e a diminuição da quantidade de lixo que é encaminhada aos aterros sanitários, ocasionando a prática da sustentabilidade. Inserido nesse compromisso de conscientização do meio ambiente, têm-se o resultado de ações que visam à conservação ambiental, como é o caso da confecção do papel-semente. Durante a fabricação do papel são colocadas sementes, como por exemplo, de rúcula, salsa, cravo e da flor boca-de-leão. O papel-semente é inserido em artigos de papelaria e o adquirente do produto pode destacar esta folha e plantar as sementes. A reciclagem do papel tem chamado atenção, não apenas pela racionalização desse recurso, mas pela criatividade e otimização dos produtos que são ofertados a uma crescente clientela que preza pela qualidade, e reconhece o trabalho social realizado. 11


Em sua forma de operacionalizar o fluxo de atividades produtivas e comercialização de seus produtos, a COEPAD demonstra a real possibilidade de manter o foco em indicadores qualitativos e quantitativos, sustentando, portanto, não somente o aspecto estratégico, mas acima de tudo o aspecto social e ambiental de modo sustentável. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pessoas que possuem deficiência intelectual são em geral discriminadas, permanecendo às margens da sociedade. Para suas famílias, são comuns as dificuldades, tanto no âmbito emocional, como no trato da vida cotidiana. Neste contexto, considera-se como originalidade neste artigo a fundação no Brasil da COEPAD como primeira cooperativa social do ramo especial voltada para a inclusão de deficientes intelectuais. Tal o caráter social da COEPAD reside justamente no fato de acolher pessoas com este tipo de deficiência num ambiente de trabalho, fazendo-as sentirem-se parte constitutiva do processo produtivo, inerente à vida em sociedade, e propiciando aos familiares, amparo e sentido de vida em comunidade, onde um aporte é encontrado. Aliado a essa temática, a COEPAD ao alicerçar o seu processo produtivo na reciclagem de papel, contribui para a racionalização de recursos naturais e, tão importante, quanto, para a conscientização na direção de ações que visam à sustentabilidade. Esta contribuição é constatada na mudança de hábitos de seus cooperados, da comunidade e de organizações ao tomarem conhecimento da sua prática social e ambiental. O trabalho desenvolvido pelos cooperados deficientes lhes resgata a autoestima, e contribui para um nível de autonomia e independência. À pessoa com deficiência é oferecido um espaço para o autodesenvolvimento e ampliação de suas potencialidades, permitindo-lhes o contato com outras pessoas, inclusive sem deficiência, o que gera nos cooperados um sentimento de equidade com as demais pessoas. Deste modo é inerente a conclusão de que o processo de implementação e funcionamento da COEPAD contribui diretamente para a sustentabilidade ambiental. Seu trabalho na área de gestão de resíduos sólidos consolida uma atuação co-responsável. Além do acolhimento de deficientes intelectuais ao colocar a reciclagem de papel como processo produtivo, sua contribuição vai mais além de mudanças individuais, abrangendo de modo substantivo e instrumental a sociedade civil onde está inserida. A contribuição substantiva

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leva a mudanças de comportamento e valores, e a instrumental, corrobora para sustentabilidade de recursos naturais. De forma mais ampla, é disseminada a conscientização e a transformação de hábitos, como a separação de resíduos, a racionalização da água e de energia elétrica nas residências de familiares dos integrantes da cooperativa, e no próprio ambiente interno de trabalho. A partir de comportamentos diferenciados a sensibilização pode ocorrer em rede, beneficiando amplamente a sociedade. A COEPAD é um exemplo vivo da união de pessoas “diferentes” para o alcance de um objetivo em comum, que sozinhas certamente não alcançariam. Práticas como esta evidenciam a importância da participação efetiva dos diversos atores sociais e apresentam como resultado a emancipação do deficiente intelectual, integrando-o à sociedade. Como conclusão final, constata-se que a iniciativa do grupo de pais, ao implementar a COEPAD se apresenta como uma prática da consolidação dos conceitos de responsabilidade social, sustentabilidade e inclusão social. Demonstra o desenrolar de um processo criativo de busca de soluções inerente ao potencial humano. REFERÊNCIAS AMARAL JR., Aécio; BURITY, Joanildo de (Org.) (2006). Inclusão social, identidade e diferença: perspectivas pós-estruturalistas de análise social. São Paulo: Annablume. BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A (2010). Administração: novo cenário competitivo. São Paulo: Atlas. BENATO, João Vitorino Azolin (1994). O ABC do cooperativismo. São Paulo: Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 1994. COEPAD. “Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência”. 2013a. http://papelcoepad.blogspot.com.br/. (Consultado em 10/04/2013). _______. “Estatuto Social”. 2013b. http://www.coepad.com.br/Estatuto.pdf. (Consultado em 12 /04/ 2013). _______. Cooperativismo. Florianópolis, 2012. Material utilizado para apresentação. 28 slides. DELLA GIUSTINA, Osvaldo Della (2008). Participação e solidariedade: a revolução do terceiro milênio II. Tubarão: Unisul. DOWBOR, Ladislau (1999). Tendências da gestão social. In: Saúde e Sociedade 8(1):3-16. 13


ESTENDER Antonio Carlos; SIQUEIRA, Nilza Aparecida (2007). A responsabilidade social em atuação. In: Revista Terceiro Setor, 14-21 http://revistas.ung.br/index.php/3setor/article/viewFile/73/198 (Consultado em 08/01/ 2013) GIESTA, Lilian Caporlingua (2012). Desenvolvimento sustentável,responsabilidade social corporativa e educação ambiental em contexto de inovação organizacional:conceitos revisitados. In: Rev. Adm. UFSM. Santa Maria, v. 5, Edição Especial, p. 767-784. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – 2008. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pd f (Consultado em 23/05/ 2013) MATTAR, Fauze Najib (1999). Pesquisa de Marketing: metodologia, planejamento. 5.ed. São Paulo: Atlas. MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru (2009). Teoria geral da administração. São Paulo: Atlas. MORETTI, Sérgio Luiz do Amaral; CAMPANARIO, Milton de Abreu. (2009). A Produção Intelectual Brasileira em Responsabilidade Social Empresarial – RSE sob a ótica da Bibliometria. In: RAC, Curitiba,v. 13. OCB. Organização das Cooperativas Brasileiras. “Cooperativismo”. Disponível em: http://www.brasilcooperativo.coop.br/site/cooperativismo/index.asp (Consultado em 10 abr. 2013). PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos. PONCHIROLLI, Osmar (2010). Ética e responsabilidade social empresarial. Curitiba: Juruá. RICHARDSON, Roberto Jarry (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas. SANTOS, Milton (2006). A Natureza do Espaço:Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4. ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. ________________(1998). O Espaço do cidadão. São Paulo: Nobel. SEN, Amartya Kumar (2000). Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras. SPERS, Valéria Rueda Elias; SIQUEIRA, Elisabete Stradiotto (2010). Responsabilidade social: conceitos, experiências e pesquisas. São Paulo: Ottoni. SINGER, Paul (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo.

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SMHSA- Secretaria Municipal de Habitação Saneamento Ambiental. Plano municipal integrado de saneamento básico. http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/19_07_2010_18.20.18.20e5a287c0cef6669f 612d8d622c0397.pdf (Consultado em 04/042013) VERGARA, Sylvia Constant (2007). Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas.

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Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O Desenvolvimento Regional – O Caso Da Edia, S.A. Mestre Maria Luísa Silva e Prof.ª Doutora Fátima Jorge 1 RESUMO A partir da análise teórica dos conceitos de desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e sustentabilidade empresarial, é destacada a relação entre desenvolvimento regional e estratégias de sustentabilidade empresarial que integrem práticas de responsabilidade social. Abordadas à luz da estratégia de desenvolvimento regional Alentejo 2015 reflectimos sobre as práticas de responsabilidade social adoptadas pela EDIA, S.A., uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. Procurámos identificar o tipo de estratégia de Responsabilidade Social desta organização e concluímos que, alinhada com a estratégia, a Responsabilidade Social pode constituir um forte motor de crescimento que conduz à sustentabilidade empresarial e desenvolvimento sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentabilidade Empresarial.

Sustentável,

Responsabilidade

Social,

CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY AND SUSTAINABILITY FOR REGIONAL DEVELOPMENT - THE CASE OF EDIA, SA ABSTRACT From the theoretical analysis of the concepts of sustainable development, social responsibility and corporate sustainability is highlighted the relationship between regional development and sustainability strategies that integrate corporate social responsibility practices. Addressed in the light of regional development strategy in 2015 Alentejo reflect on the practices of social responsibility adopted by edia, SA, a limited company wholly publicly owned. We sought to identify the type of Social Responsibility strategy and conclude that this organization, aligned with the strategy, social responsibility can be a strong driver of growth that leads to corporate sustainability and sustainable development. KEYWORDS: Sustainable Development, Social Responsibility, Corporate Sustainability.

1. Introdução O processo de globalização que tem vindo a exigir por parte das organizações elevados níveis de competitividade, em muito tem potenciado a implementação de actividades que nem sempre são compatíveis com as necessidades das comunidades locais e regionais e com o próprio ambiente, assistindo-se por vezes à secundarização de 1

Mestre Maria Luísa Silva (mlfcsilva@gmail.com) e Prof.ª Doutora Fátima Jorge (mfj@uevora.pt) – Universidade de Évora; Artigo escrito tendo como base a Dissertação intitulada “Do Desenvolvimento Sustentável à Sustentabilidade Empresarial: Um estudo regional multi-casos” para obtenção do grau de Mestre em Gestão – Recursos Humanos, da autoria de Maria Luísa F. de C. e Silva, em Fevereiro de 2012.


interesses sociais e ambientais em prol de interesses exclusivamente económicos. Quando isto acontece é porque algo não está contemplado, isto é, há pelo menos um princípio que não é verdadeiramente considerado. Numa altura em que a pobreza e a exclusão social teimam em persistir, embora as empresas se sintam incapazes de resolver por si só tais problemas, têm, no entanto, mais consciência de que o seu empenho pode revelar-se muito positivo no quadro de influências que também podem exercer, se falarmos na criação de emprego, e da elevação do nível de bem-estar, satisfação social e conhecimento, pela educação e formação. Parece, pois, óbvio, que uma empresa assuma o compromisso do desenvolvimento sustentável, numa abordagem que considere todas as partes interessadas, desviando-se, assim, do objectivo único da obtenção do lucro. Com o intuito de analisar práticas de responsabilidade social em organizações do Alentejo, ao verificar de que forma é que estas podem constituir ferramentas de desenvolvimento sustentável, impõe-se também a sua abordagem, ainda que muito breve, à luz da estratégia Alentejo 2015, já que se acredita ser essencial uma atitude de cooperação interinstitucional entre Estado, empresas e organizações da sociedade civil, para uma efectiva promoção da responsabilidade social empresarial.

2. Do Desenvolvimento Sustentável à Sustentabilidade Empresarial No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão incorporar novos conceitos e valores, que passam pelo respeito pelo ser humano, ambiente e interligação com a comunidade envolvente em que se integram, potenciando assim não só a sua sustentabilidade mas concorrendo também para um desenvolvimento local e regionais sustentáveis. 2.1 O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A sustentabilidade, tema tão actual em pleno século XXI, já há muito que é uma preocupação, mas é no século XX que os temas associados ao ambiente começam a integrar a teoria económica. Se em 1980 a World Conservation Strategy refere que “para o desenvolvimento ser sustentável tem que ter em consideração os factores sociais e ecológicos, bem como os económicos, os recursos vivos e não vivos bem como as vantagens de longo e curto prazo de uma acção alternativa”, o Relatório Brundtland (1987), refere-se ao desenvolvimento sustentável como aquele que “garante a satisfação


das necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias necessidades”. É também em Brundtland que se faz referência à importância que a tecnologia e o comportamento humano exercem na alteração do padrão de crescimento, através da mudança dos hábitos de consumo, defendendo que os agentes económicos “que são mais influentes deveriam adoptar estilos de vida adequados aos limites ecológicos do planeta”. Só em 2002, na Cimeira Mundial para o desenvolvimento sustentável, em Joanesburgo (Nações Unidas, 2002), que pretendia promover a contenção da degradação ambiental e o combate à pobreza, foi declarada a necessidade de reforçar os pilares

do

desenvolvimento

sustentável

desenvolvimento

económico,

desenvolvimento social e protecção ambiental, aos diferentes níveis: local, nacional, regional e global. Em 2001, a Comissão Europeia elabora o documento “Uma Europa sustentável para um mundo melhor: uma estratégia da União Europeia para o desenvolvimento sustentável”, que veio a ser aprovado no Conselho Europeu de Gotemburgo, traduzindo a estratégia europeia para o desenvolvimento sustentável. Nessa estratégia podem ler-se propostas, os principais objectivos, medidas específicas e de monitorização (Comissão das Comunidades Europeias, 2001). 2.2 O Contexto da Responsabilidade Social das Empresas O

conceito

de

responsabilidade

social

das

empresas

refere-se

à

responsabilidade que estas deverão assumir na gestão das suas organizações, olhando muito para além do lucro imediato e dos tradicionais rácios económicos. Ao longo do século XX e já neste século, a responsabilidade social das organizações tem sido objecto de inúmeras investigações académicas e com elas têm surgido várias definições. Mesmo na década de 50, a responsabilidade social, associada ao tema da ética, já integrava a gestão no contexto empresarial das empresas americanas, como Carroll veio sintetizar através da sua pirâmide com quatro níveis, em que destaca a Responsabilidade Económica como base que sustenta as outras e que surgem sequencialmente. Pressupõe assim que, para se tornar socialmente responsável, a empresa tem que passar por várias etapas, tendo-se, de baixo para cima, o seguinte (1979,

1999

apud

Almeida,

2010,

p.

63):

Responsabilidades

económicas;

Responsabilidades legais; Responsabilidades éticas; Responsabilidades filantrópicas.


É a Freeman (1984) que se atribui a origem da teoria dos stakeholders, quando este autor publica o primeiro livro sobre a função que o envolvimento com os stakeholders deverá ter na estratégia empresarial. O âmago da questão reside no facto de a direcção das empresas não se dever cingir apenas aos interesses dos accionistas/ proprietários – mas também aos interesses de outros stakeholders (partes interessadas), nomeadamente os empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os fornecedores. Elaborado pela Comissão Europeia, com o objectivo de debater o conceito de responsabilidade social da empresa, incentivar o desenvolvimento de práticas inovadoras e promover parcerias para a sua concretização, o “Livro Verde: Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas”, veio, em 2001, reforçar a estratégia europeia para a responsabilidade empresarial. Nele se descreve a responsabilidade social das empresas como “um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.” Em Julho de 2002, a Comissão Europeia apresenta um outro documento de referência – a comunicação “Responsabilidade social das Empresas: um contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável”, definindo aí que “cabe às organizações a adopção de uma atitude de responsabilidade social, no quadro de uma dinâmica de integração entre todos os agentes envolvidos nas suas actividades” (Comissão Europeia, 2002, p. 347). Seguindo Santos et al. (2005, p. 31), a dimensão social integra as acções orientadas para a gestão do elemento humano que compõe a sua matriz social (componente interna) e as acções orientadas para a comunidade envolvente (componente externa). A dimensão social interna inclui acções relativas ao local de trabalho e é essencial para os bons resultados da empresa, dado que a produtividade, a inovação e a qualidade dependem dos níveis de motivação e satisfação dos trabalhadores

da

empresa.

Nesta

dimensão

podem

incluir-se

práticas

de

responsabilidade social ligadas a: Gestão de Recursos Humanos; Informação e Comunicação; Serviços Sociais; Gestão da Mudança Organizacional; Empregabilidade; e Saúde, Segurança e Higiene do Trabalho. Na dimensão social externa integram-se práticas destinadas aos agentes externos da empresa, incluindo a comunidade local. Na dimensão económica as empresas relacionam-se com três tipos de parceiros: clientes, fornecedores e investidores ou accionistas. “A responsabilidade ambiental das empresas passa pela integração das questões ambientais na gestão estratégica, atribuindo-lhes a


devida importância, a par das questões de carácter económico e social” (Santos et al., 2005, p. 51). “A componente interna da responsabilidade ambiental das empresas refere-se, de uma forma geral, à adopção das políticas e procedimentos internos que conduzem a uma melhoria contínua do desempenho ambiental e à sua introdução no quotidiano da actividade das empresas” (Santos et al., 2005, p. 52). Por sua vez, a componente externa está ligada “à interacção das empresas com os seus parceiros externos, nomeadamente fornecedores, clientes, comunidade em geral, organizações não governamentais de ambiente, entre outros” (Santos et al., 2005, p. 53). 2.3 A Sustentabilidade Empresarial Organizações governamentais e não governamentais, empresas públicas e privadas e, de um modo geral, toda a sociedade, têm vindo a assumir o conceito de desenvolvimento sustentável. As empresas têm vindo, continuamente, e de um modo crescente, a movimentarem-se no sentido da sustentabilidade empresarial, muito devido aos novos requisitos legais que implicam custos financeiros, mas também à consciência de que a integração de variáveis ambientais e sociais pode potenciar a criação de oportunidades de negócio, com consequências positivas na criação de valor económico. Sustentabilidade empresarial significa a capacidade de gestão de uma actividade empresarial e a criação de valor de longo prazo, simultaneamente à criação de benefícios sociais e ambientais para os seus stakeholders. Parafraseando, Porter e Kramer (2002, p. 68), “não há nenhuma contradição entre melhorar o contexto competitivo e denotar um sério empenho no melhoramento da sociedade.” Ao integrarem a gestão de riscos e oportunidades dos domínios ambiente e social, as empresas terão capacidade de antecipar estes factores, com resultados no seu desempenho económico. Através da gestão integrada da responsabilidade social será possível a criação de valor. Por outro lado, é possível transformar riscos em oportunidades, quando a existência de falhas de mercado associados ao surgimento de problemas ambientais e sociais tem impacto no sector privado. A sustentabilidade empresarial traduzir-se-á na transformação desses problemas em novas oportunidades de negócio, a que se associam benefícios económicos, capacidade produtiva, criação de emprego qualificado e boas condições de trabalho. É agora evidente a importância de as empresas conseguirem antecipar riscos, mas também as necessidades de todos quantos com ela se relacionam. Para isso será necessário o diálogo com todos os stakeholders, inquirindo-os sobre as suas


expectativas e necessidades, para que, em conjunto, consigam analisar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. De um modo mais sustentável, as empresas terão maior possibilidade de acrescentar valor aos negócios se, para além do diálogo com os stakeholders, conseguirem envolver todos os departamentos que a compõem, integrando a sustentabilidade num modelo de gestão em que seja permitido inovar para ir ao encontro das necessidades dos seus clientes e, em simultâneo, apresentar produtos e serviços ambiental e socialmente responsáveis. A orientação para a sustentabilidade de uma unidade empresarial, bem como a implementação e manutenção de determinados princípios, dão hoje indicações claras relativamente à sua capacidade de gestão, onde se incluem valores intangíveis, tais como, a liderança, a execução estratégica, as marcas, o capital humano e o desempenho operacional. “Os intangíveis tais como a investigação e desenvolvimento, propriedade intelectual, competências dos recursos humanos, redes de fornecedores e valor de marca são actualmente catalisadores da eficácia organizacional, enquanto os activos físicos e financeiros são cada vez mais considerados como simples mercadorias” (Eustace, 2000, p.6). Figura 1 – Exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre

o valor para o accionista Inovação de produto e processo

Aumento da rendibilidade Melhor utilização do capital

Redução do desperdício e de emissões Utilização eficiente dos recursos Segurança e saúde ocupacional Envolvimento dos vários interessados (stakeholders)

Satisfação dos colaboradores Qualidade de vida para a comunidade envolvente

Satisfação dos clientes Capital intelectual Licenças de actividade Reputação e imagem de marca Redução do risco

Valor para o accionista

Protecção no meio ambiente

Fonte: GEMI (2004), “Clear advantahge: building shareholder value”, em Global Management Initiative, Washington, p. 5. apud Santos et al., 2005, p. 63. Qualidade O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade empresarial são hoje uma oportunidade importante, sendo do interesse de todos os stakeholders, para que as


empresas aumentem as suas capacidades, através da identificação e melhoria de determinantes da criação de valor no que concerne a estes aspectos. Observe-se a figura 1 com exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre o valor para o accionista. Na evolução da sustentabilidade desde os anos 70 até à actualidade, verifica-se uma clara passagem do papel exclusivo do Estado na resolução de determinadas questões, para progressivamente se considerar o papel crucial do sector privado. A nível Europeu, a própria Comunidade tem tido uma posição firme para uma acção conjunta e a várias dimensões para impulsionar a implementação de critérios de sustentabilidade nas economias dos vários países membros. 3. Estratégia de desenvolvimento regional – Alentejo 2015 A definição da estratégia de desenvolvimento económico e social para a região Alentejo – Alentejo 2015, integra orientações comunitárias e nacionais relativas a 20072013, pois coincidiu genericamente com o ciclo de programação dos fundos comunitários para este período. Assim, o Programa Operacional 2007-2013 poderá funcionar como uma alavanca para a concretização dos objectivos estratégicos do Alentejo 2015. As ideias estruturantes desta estratégia podem retirar-se da própria visão definida: “Alcançar um Alentejo que possa ser reconhecido, interna e externamente, como uma região capaz de gerar pela sua dinâmica empresarial, riqueza e emprego; uma região aberta ao exterior, com qualidade de vida global e exemplar no plano ambiental” (CCDRA, 2007, p. 57). São três os eixos estratégicos que orientam o caminho que poderá levar à concretização dos objectivos inerentes a tal estratégia, conforme podem ler-se no Quadro 1: Quadro 1 – Eixos estratégicos de intervenção – Alentejo 2015 1. Desenvolvimento empresarial, criação de riqueza e emprego • Renovar as actividades económicas tradicionais, através da dinamização e ampliação das cadeias de valor associadas aos recursos naturais e endógenos (utilização da ciência e tecnologia, organização e conhecimento, capital humano, marketing,...); • Diversificar o perfil de especialização produtiva da região, potenciando actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou maior intensidade tecnológica (ambiente, aeronáutica, TIC, indústrias criativas, ...) e contribuindo para a criação de empregos qualificados;


Consolidar os investimentos associados ao triângulo Sines/Beja/Alqueva (porto e plataforma industrial/logística de Sines, aeroporto de Beja, Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva), pelo seu papel dinamizador de um portfolio de actividades económicas (agro-indústrias, logística, energias renováveis, turismo, ...); • Dinamizar o sistema regional de inovação, onde se envolvam os “centros de conhecimento” (ensino superior, centros tecnológicos, ...) e o tecido empresarial, com o propósito de estimular a inovação na região, facilitar a transferência de competências e cooperação entre diferentes actores; • Melhorar a eficiência da governação, mediante uma maior eficácia da Administração Pública com vista à redução dos “custos públicos de contexto” e a uma melhor relação com o cidadão; • Implementar um modelo de desenvolvimento sustentável da actividade turística fortemente ancorado nos recursos naturais, paisagísticos e culturais (património tangível e intangível), os quais deverão ser valorizados criativamente, em favor da criação de riqueza e de uma fruição pública dos elementos identitários e característicos da região. 2. Abertura da economia, sociedade e território ao exterior • Captar actividades económicas associadas às vantagens logísticas da região, resultantes quer da posição geográfica no eixo Lisboa/Madrid, da proximidade à A.M. Lisboa, do porto de Sines, da futura ligação ferroviária Sines/Elvas, do TGV, do aeroporto de Beja, das plataformas logísticas; • Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias; • Promover a integração da região em espaços e redes mais alargadas, através do aprofundamento da cooperação territorial, da internacionalização da economia, e das novas tecnologias ligadas à “sociedade do conhecimento”; • Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias; 3. Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental • Reforçar a competitividade e atractividade das cidades como “motores” económicos do território, associando-as de forma inovadora e eficaz à região envolvente (complementaridade “urbano” + “rural”), como garante da coesão social e territorial; • Promover a obtenção de padrões de excelência ambiental, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua sustentabilidade, bem como uma abordagem pró-activa na minimização dos efeitos das alterações climáticas (seca, desertificação...) antecipando e minimizando os seus efeitos. Fonte: CCDRA (2010) 4. Metodologia A metodologia utilizada para a elaboração da dissertação que deu lugar a este artigo assentou na pesquisa bibliográfica como ponto de partida, pretendendo-se identificar os principais autores sobre o tema em análise. Depois veio a pesquisa descritiva, assumindo-se uma abordagem exploratória, a que se seguiu o estudo de casos


múltiplos, privilegiando-se a natureza qualitativa dos dados referentes às quatro organizações empresariais seleccionadas. Para obtenção de dados referentes àquelas entidades procurou-se aplicar um questionário e complementar os dados assim conseguidos com a realização de uma entrevista semi-estruturada. Refira-se ainda que foi utilizado o modelo conceptual desenhado para o estudo Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006). Como fonte de dados privilegiada teve-se o próprio campo de análise, o mesmo é dizer, a própria empresa. Inicialmente procurou-se aplicar um questionário com um conjunto de questões maioritariamente fechadas, dicotómicas, de opção múltipla ou com resposta através de uma escala. As respostas de cada indivíduo foram analisadas com vista a análises posteriores mais aprofundadas. Para complementar os dados obtidos através do questionário, previu-se a realização de uma entrevista semi-estruturada com questões abertas ao dirigente indicado pela empresa. Para além do questionário e da entrevista semi-estruturada, a documentação sobre a empresa, recolhida antes da entrevista, bem como aquela que foi fornecida aquando da visita para a realização da mesma, possibilitou uma análise mais rigorosa das informações das empresas, viabilizando, com maior rigor, trabalhar para os objectivos do trabalho. Utilizou-se o modelo conceptual desenhado pelos autores do estudo Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006). “A necessidade de se compreender os factores que influenciam as práticas de responsabilidade social em PME esteve na origem deste modelo (Quadro 2)” (Santos et al., 2006, p. 57), que entendemos poder alargar o seu âmbito de aplicação a outro tipo de organizações, como a que aqui é estudada. Quadro 2 – Modelo de análise dos tipos de estratégias de Responsabilidade Social VOLUNTÁRIA Estratégia: Inovação

PREVENÇÃO Estratégia: Diferenciação

Stakeholders: Associações, Universidades Stakeholders: Sindicatos e Comunidade e Empresas Atitude perante a RS

Atitude perante a RS a) Motivações: Ético-sociais

a) Motivações: Criação de Valor

b) Benefícios: Comunicação

b) Benefícios: Organizacionais

c) Obstáculos: Informativos e de


c) Obstáculos: Cooperação (capital

Conhecimentos

social)

d) Tipos de Apoio: Técnicos

d) Tipos de Apoio: Conhecimento

e) Periodicidade das práticas:

e) Periodicidade das práticas:

Ocasional, integrada na estratégia

Regular, integrada na estratégia. Estratégia: Custo

Estratégia: Focalização

Stakeholders: Sócios e Entidades

Stakeholders: Trabalhadores, clientes e

Públicas

fornecedores

Atitude perante a RS

Atitude perante a RS

a) Motivações: Lucro

a) Motivações: Pressões de grupos

b) Benefícios: Económico -

b) Benefícios: Comerciais

financeiros

c) Obstáculos: Temporais

c) Obstáculos: Financeiros

d) Tipos de Apoio: Informação

d) Tipos de Apoio: Financeiros

e) Periodicidade das práticas:

e) Periodicidade das práticas:

Regular, não integrada na

Ocasional, não integrada na

estratégia

estratégia OBRIGAÇÃO Fonte: Santos et al., 2006, p. 61.

REACÇÃO

As estratégias de negócios (Quadro 3), a relação com os stakeholders (Quadro 4) e a atitude perante a responsabilidade social (Quadro 5) são considerados os principais factores que influenciam este tipo de práticas nas empresas. “Os tipos de estratégias de responsabilidade social das PME resultam da análise dos três vectores considerados anteriormente” (Santos et al., 2006, p.63), que se materializam num quadro de referência para classificar as estratégias desenvolvidas pelas empresas (Quadro 6). Quadro 3 – Estratégia de negócios Conceito Estratégia de Negócio

Dimensões Custo Focalização Diferenciação

Sub-Dimensões Actividades de Baixo Custo Actividades centradas em produtos/ serviços Desenvolvimento de


produtos/ serviços de valor

Inovação

acrescentado Introdução de novos produtos/ serviços

Fonte: Santos et al., 2006, p. 59. Quadro 4 – Relação com stakeholders Conceito

Dimensões

Stakeholders

Influência

Sub-Dimensões Intensidade da relação Tipologia das actividades

Fonte: Santos et al., 2006, p. 59. Quadro 5 – Atitude perante a responsabilidade social Conceito

Dimensões

Atitude perante a

Factores críticos

responsabilidade social

Sub-Dimensões Motivações Benefícios Obstáculos Tipos de Apoios Periodicidade das práticas

Fonte: Santos et al., 2006, p. 60. Quadro 6 – Tipos de Estratégias de Responsabilidade Social Estratégias Variáveis Estratégia de Negócio Relação com Stakeholders Atitude perant e a RS

Motivações Benefícios

Obstáculos Tipos de Apoio Periodicidade das Práticas

Obrigação

Reacção

Prevenção

Voluntária

Custo Sócios

Focalização Trabalhadores

Diferenciação

Inovação Universidades

Entidades

Clientes

Públicas

Fornecedores Pressões de

Lucro Económico -financeiros Financeiros

grupos Comerciais

Temporais

Sindicatos Comunidade Ético-sociais

Associações Empresas Criação de Valor

Comunicação

Organizacional

Informativos

Cooperação

e de

(Capital

Conhecimento

Social)

Financeiros

Informação

Técnicos

Conhecimento

Ocasionais,

Regulares,

Ocasionais,

Regulares,

não

não

integradas na

integradas na


integrados de RS

na

estratégia Fonte: Santos et a.l, 2006, p. 64.

integradas na estratégia

estratégia

estratégia

A partir da sistematização de variáveis e práticas de responsabilidade social (Santos et al., 2006, p. 66), foi construído o inquérito às práticas de responsabilidade social (Santos et al., 2006, p. 250), que serviu de instrumento de tratamento da informação, facilitando o seu tratamento e análise. O inquérito permitiu identificar: práticas de responsabilidade social das empresas no âmbito das três dimensões em análise (económica, social e ambiental); Estratégias adoptadas; Factores, motivações, benefícios e obstáculos que condicionam a adopção de práticas de responsabilidade social. 5. Apresentação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A. 5.1.1 Breve caracterização2 Data de 1995 a criação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A. (EDIA) para conceber, executar, construir e explorar o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), contribuindo para a promoção do desenvolvimento económico e social da sua área de intervenção, a que correspondem total ou parcialmente 19 concelhos do Alto e Baixo Alentejo. Esta sociedade anónima de capitais públicos, sediada em Beja, viu o seu campo de acção aumentado em 2001 para operar nos sectores hídrico público e industrial. 6. Discussão de resultados As actividades de responsabilidade social da EDIA são descritas pela própria empresa como regulares, mas não ligadas à sua estratégia de negócios. Esta empresa apresenta preocupações ao nível das três dimensões: económica, social e ambiental, reconhecendo-as muito importantes em matéria de sustentabilidade empresarial ou de desenvolvimento sustentável. Para a EDIA a “articulação da comunidade onde a empresa se insere” é a área da responsabilidade social considerada mais importante. Como pode observar-se, as 2

Fonte: Adaptado de http://www.edia.pt/portal/page?_pageid=53,1&_dad=portal&_schema=PORTAL.


práticas de responsabilidade social desta organização vai muito além do seu carácter interno. Numa boa parte das vezes vai ao encontro da comunidade, com quem se articula, mas também de clientes, fornecedores, parceiros comerciais e produtos e serviços e da enorme valorização do ambiente, excedendo o cumprimento da legislação. A EDIA desenvolve ações em todas as áreas da Responsabilidade Social, sendo em grande número as práticas relacionadas com a dimensão social externa e com a ambiental. Atendendo à tipologia de estratégia de responsabilidade social apresentada na metodologia, constata-se a não aplicação do modelo no seu estado puro. Na EDIA prevalece uma estratégia de reacção em termos de responsabilidade social, excepto ao nível da estratégia de negócio (inovação), motivações (criação de valor) e benefícios (organizacionais) em que se verifica uma estratégia voluntária. A estratégia de reacção da EDIA caracteriza-se pelos obstáculos temporais, a informação nos tipos de apoio, a periodicidade das práticas (regulares, não integradas na estratégia) e pela preponderância da relação com os stakeholders trabalhadores e fornecedores. Pretendendo contribuir para a promoção do desenvolvimento económico e social da sua área de intervenção, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A. vem alavancar não só os sectores tradicionais mas também os sectores emergentes na região Alentejo, a partir do Alqueva: permitindo aumentar a área de regadio, sendo a partir daí esperadas alterações nas explorações agrícolas que trarão com elas novas tecnologias e produtos; potenciando um acréscimo de produtos turísticos na região (p. e. Turismo de Lagos); aumentando a produção de energia a partir de fontes renováveis. Em síntese, e a partir da experiência desta organização, podemos relacionar a sua estratégia de sustentabilidade empresarial com o desenvolvimento regional sustentável. Também ao nível da dimensão social interna, ao nível da gestão de recursos humanos, informação e comunicação, serviços sociais, gestão da mudança organizacional, empregabilidade, bem como saúde, segurança e higiene no trabalho podem identificar-se práticas que promovem melhorias ao nível da organização, elevando o conhecimento e potenciando o desenvolvimento do capital humano. Para “Diversificar o perfil de especialização produtiva da região, potenciando actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou


maior intensidade tecnológica” (conforme Estratégia Alentejo 2015), muito contribuem as acções da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A., se pensarmos nas possibilidades de explorar a partir da área de regadio do EFMA a produção de bio-combustíveis, ou na transformação de um produto como o café, perseguindo sempre as necessidades dos clientes. Na EDIA observam-se práticas de sustentabilidade empresarial enquadradas nas variáveis sistema ambiental, poluição e resíduos da dimensão ambiente, que promovem a obtenção de padrões de excelência ambiental, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua sustentabilidade. O próprio território, bastante descongestionado, com baixa densidade populacional, associado à história e aos seus recursos endógenos, de que se salientam as áreas classificadas, o património histórico e natural, os recursos agro-florestais e agroalimentares, os modelos de povoamento, o sistema de montado, a água, os mármores e a faixa litoral, comprometem a região Alentejo, que acaba por ser o resultado da conjugação de todos esses factores. Conhecemos hoje uma região caracterizada pelos sectores tradicionais (agricultura e recursos agro-alimentares, rochas ornamentais, turismo, vitivinicultura, cortiça e economia do mar) e pelos sectores emergentes (TIC/ indústrias criativas, cluster automóvel, cluster aeronáutico, energias renováveis e logística), conforme podemos sintetizar na visão estratégica, por regiões (Alto Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral), na qual assentam os três eixos de intervenção da Estratégia Alentejo 2015: Desenvolvimento empresarial, criação de riqueza e emprego (Eixo 1); Abertura da economia, sociedade e território ao exterior (Eixo 2); e Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental (Eixo 3). No caso da EDIA, SA refira-se o aproveitamento das potencialidades da água como recurso estratégico e elemento turístico, havendo aqui lugar à integração das actividades da empresa não só nos sectores tradicionais mas também nos sectores emergentes. A estratégia de sustentabilidade empresarial que enquadram acções de responsabilidade social, cruzam-se grandemente com a estratégia definida para a região, integrando principalmente os sectores tradicionais, explorando recursos endógenos disponíveis, (naturais, ambientais, patrimoniais, e culturais). Também por isto poderemos concluir que a empresa tem um papel essencial quando falamos de desenvolvimento regional sustentável. Assim, não será de admirar que as empresas sejam consideradas actores do desenvolvimento. São elas que geram emprego, criam riqueza, promovem a


inovação tecnológica e cumprem obrigações fiscais. Mas, quando nos referimos a actividades e estratégias das empresas que as posicionem como actores de desenvolvimento, referimo-nos àquelas que são coerentes com acções de responsabilidade social e que trazem benefícios a terceiros, indo muito além dos ligados somente às operações das empresas. Convém também lembrar que uma das razões que levou à agenda da Responsabilidade Social foi o considerável protagonismo das empresas, no que concerne não só à sua actividade económica, mas também às repercussões ambientais e sociais, fundamentalmente através do emprego e da geração de riqueza nos territórios em que actuam. Do exposto conclui-se que a promoção do desenvolvimento regional deve resultar da mobilização efectiva dos diferentes actores relevantes, através de processos que deverão ser orientados pelos ou para os referidos actores, chamando-os a intervir, no diagnóstico de problemas, em processos de decisão, no lançamento, na participação, na integração e coordenação de iniciativas e na sua implicação, também ao nível da avaliação de resultados e mensuração de impactos sobre o ambiente e o bem-estar social. 7. Considerações finais Poder-se-á afirmar que, de acordo com o modelo utilizado, predomina a estratégia de responsabilidade social de reação na EDIA. Pela dinâmica da sua actividade, a organização empresarial analisada é criadora de riqueza e emprego. Abordar as suas práticas de responsabilidade social, à luz da estratégia de desenvolvimento regional – Alentejo 2015, consistiu em compreender o seu enquadramento nos eixos estratégicos de intervenção desenhados para este período temporal. Identificamos práticas de responsabilidade social que vão ao encontro das ideias estruturantes enquadradas no Eixo 1 - Desenvolvimento empresarial, criação de riqueza e emprego e Eixo 3 - Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental. Será então compreensível como as práticas de sustentabilidade empresarial desta organização, vai ao encontro da visão estratégica desenhada para o Alentejo, concorrendo para o desenvolvimento sustentável de uma região. Conclui-se que a sustentabilidade empresarial é um desafio para esta unidade empresarial, uma vez que esta depende da sua competitividade, da relação com o meio ambiente, bem como de acções, ao nível interno e externo, enquadráveis socialmente. A


sustentabilidade empresarial ĂŠ tambĂŠm entendida e operada como um compromisso para o desenvolvimento sustentĂĄvel.


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CapĂ­tulo 10: SaĂşde Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano


A Integração Dos Setores Para Transformar O Lixo Numa Solução Socioambiental

Letícia Vilela de Aquino1

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas organizações sociais focadas na redução do desperdício de alimentos e na transformação dos resíduos orgânicos e secos. Gerando economia para os cofres públicos, aumento da renda familiar para as pessoas que trabalham com este reaproveitamento, combate à fome e geração de empregos em vários setores da economia, o que desperta a sociedade para uma transformação socioambiental em rede onde a iniciativa privada ligada as ONG’s e órgãos governamentais podem usar uma estratégia brilhante de união de forças e integração dos três setores para juntos alcançarem os melhores resultados para o país. Porém para uma integração perfeita entre os setores existem vários obstáculos, como a falta de informação da população, falta interesse público em vários municípios, poucas empresas tem tecnologia para utilização de matéria prima retornável e ainda o desafio da erradicação da incineração dos resíduos que além de poluir a atmosfera destroem milhares de toneladas de resíduos que poderiam ser reaproveitados. Assim o desafio é mobilizar o maior número de pessoas possível para fortalecer os movimentos já existentes e criar novos movimentos socioambientais publico-privados reduzindo assim a pobreza e melhorando a qualidade de vida das pessoas no planeta. Palavras-chave: Reaproveitamento de Resíduos. Integração dos Setores. Sustentabilidade Socioambiental. Redução da Fome. Redução da Pobreza. Geração de Renda. Qualidade de Vida. Tecnologias. Transformação de Resíduos. Governo. Iniciativa Privada. Reciclagem.

11Letícia Vilela de Aquino, Administradora com Habilitação em Marketing, Mediadora do PEI – Programa de Enriquecimento Instrumental, Palestrante e Consultora de Empresas. Leticiaaquino10@yahoo.com.br


1 Introdução Este texto aborda a integração dos setores para transformar o lixo numa solução socioambiental, onde o recolhimento e reaproveitamento de resíduos feitos de uma forma mais inteligente podem gerar maiores resultados para toda economia, além de resolver muitos problemas ambientais que preocupam toda população. 2 Desenvolvimento Quando falamos de sustentabilidade envolvemos uma infinidade de temas que podem ser vistos como uma forma de solidariedade com as pessoas ou apenas como uma ferramenta de Marketing, para conquistar mais e mais clientes. Segundo SACHS, Ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade, com as pessoas este tempo-espaço e com aquelas que ainda não vieram, mas que dentro em breve aqui estarão exigindo seus direitos. (SACHS, 2000, p. 50-51).

Mas ainda existem várias organizações que pensam apenas nos seus próprios interesses, ignorando o fato de que com um mínimo de esforço poderiam trazer melhor qualidade de vida para a população de hoje e para a que ainda está por vir. Campanhas no mundo todo têm despertado a atenção da população para os problemas que o lixo acarreta para toda cadeia socioambiental e cada vez mais os municípios vêm encontrando dificuldades para conseguir locais onde possam instalar aterros sanitários, que por sua vez também não é a solução ideal para os resíduos, pois, como é sabido, o lixo que vai para os aterros sanitários é depositado na terra em camadas (uma camada de lixo, uma de terra) até completar o aterramento e no fundo deste aterro é feita uma selação com manta de PVC e argila impermeabilizando o solo e impedindo que o chorume entre em contato com o lençol freático, evitando, assim, que polua milhões de litros de água. Apesar de reduzir de forma significativa os impactos ambientais, não resolve o problema de forma sistêmica, visto que os resíduos ficam depositados no solo, sem serventia alguma para a sociedade, com alto custo de manutenção, enquanto a indústria continua utilizando matéria prima virgem para produzir os mesmos produtos que poderiam ser fabricados com a reutilização de materiais oriundos o lixo. Observe na figura 1 o funcionamento de um aterro sanitário.


Figura 1

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a maior parte do lixo produzido no país tem destinos inadequados, conforme se verifica na figura 2. Ou seja, além dos resíduos não serem reciclados ainda atraem insetos como o mosquito transmissor da dengue, possibilita a formação de criadouros de animais peçonhentos, o chorume polui o lençol freático e mais uma série de consequências nocivas à comunidade local e ao meio ambiente.

Figura 2


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um ser humano no Brasil é capaz de produzir em média cinco quilos de lixo semanalmente e em cidades acima de 200mil habitantes os números são ainda mais assustadores chegando a 1,5 quilos diariamente e em todo território produzir-se em média de 240 mil toneladas de lixo por dia das quais 76% são descartadas sem nenhum controle e 60% destes resíduos é representado por lixo orgânico, a quantidade de lixo orgânico produzida é muito elevada devido ao grande desperdício de alimentos que acontece no Brasil. Muitos alimentos são desperdiçados em restaurantes, onde as porções são servidas com quantidade superior a necessária para alimentação. Residências de pessoas com maior poder aquisitivo dificilmente reaproveitam alimentos ou cozinham apenas o necessário para alimentação da família. Mercados municipais descartam uma quantidade significativa de alimentos diariamente. Transporte inadequado de alimentos causa avarias nas cargas. Supermercados que não promovem ações para venda rápida de produtos perecíveis. Com essas e outras formas de desperdícios soma-se um terço dos alimentos do país que é jogado no lixo, e, em contra partida, 870 milhões de pessoas passam fome no mundo.


Na figura 3 podemos observar o desperdício de alimentos e a mistura de resíduos orgânicos com resíduo seco. Figura 3

Figura

3

disponível

em:

http://catracalivre.com.br/wp-

content/uploads/2013/04/47.jpg, acesso em 05/05/13.

Iniciativas como a do projeto Satisfeito, ajuda e muito na redução de resíduos orgânicos e o problema da fome, onde o projeto mobiliza vários restaurantes e pessoas para redução do desperdício de alimentos, onde nos restaurantes participantes você tem o direito de pedir o prato dentro do projeto satisfeito e a porção vêm dois terços do tamanho normal e o que o restaurante economizar nessa redução de alimentos o dinheiro é repassado para o projeto, que posteriormente será repassado para organizações que trabalham pela segurança alimentar de crianças, combatendo assim a fome e a desnutrição infantil, a meta deste projeto é estar em todos continentes até 2015, ajudando o maior número de pessoas possível.


Este exemplo mostra claramente que a mobilização de pessoas e o desenvolvimento de projetos no formato “rede” podem trazer milhares de benefícios socioambientais, gerando sustentabilidade e uma cadeia “viral” de força tarefa para o combate a pobreza, fome, desmatamento e poluição, onde a própria população passa assumir maiores responsabilidades a favor de causas nobres. A partir do momento que um grupo de pessoas se mobiliza, outras pessoas vão aderindo à ideia, o que leva o crescimento natural e espontâneo de projetos neste formato. Mas diante de um cenário onde já existem pessoas se mobilizando para resolver as questões socioambientais, por que não unir um número ainda maior de pessoas para outras iniciativas onde a própria população tenha oportunidade de assumir uma maior responsabilidade pelo planeta através de causas justas? E da mesma forma que visualizamos a iniciativa do projeto “Satisfeito” podemos voltar os olhos para reciclagem, sendo esta uma das melhores soluções para destinar os resíduos orgânicos e secos, dos quais além de alimentar toda uma cadeia produtiva empregando milhares de pessoas, possui um papel socioeconômico muito relevante.

2.1 Reaproveitamento de resíduos

Porém, a maioria da população ainda não foi treinada para separar e tratar corretamente o lixo, como, por exemplo, fazer a tríplice lavagem antes do descarte, e as pessoas que têm este conhecimento não o praticam porque sabem que será um trabalho inútil, visto que não há a coleta seletiva em todos os lugares. Esbarramos ainda na falta de conhecimento de boa parte da população adulta sobre a reutilização dos materiais, em prefeituras com pouco interesse de trazer soluções sustentáveis para o lixo, ONG’s com lideranças pouco capacitadas para desenvolver pessoas e projetos, catadores isolados e sem acesso às noticias sobre o setor, o receio de lideranças públicas em aumentar o custo com o recolhimento dos resíduos, poucas empresas especializadas no reaproveitamento de materiais. Nas escolas, muito se fala sobre coleta seletiva e os alunos são orientados a separarem o lixo em suas residências e são passados conceitos como os de reduzir, reutilizar e reciclar,


desenvolvendo assim a consciência nas crianças e jovens. Algumas regiões brasileiras já praticam conscientemente a reciclagem. Estima-se que de cada 1000 brasileiros um é catador de lixo 30% desses gostariam de continuar a cadeia produtiva da reciclagem, mesmo se tivessem alternativa de trabalho. O trabalho dos catadores reduz em parte o impacto socioambiental, haja vista este meio paliativo permite que milhares de pessoas tirem seu sustento dos recicláveis, as companhias de limpeza urbana deixam de pagar pela coleta e ainda reduz a utilização de matéria prima virgem. Se olhar todo movimento de catadores no Brasil, depara-se com várias categorias, sendo: Trecheiros: aqueles que andam de uma cidade à outra, catando lata para comprar comida e suprir outras necessidades básicas. Catadores do lixão: catam, diurnamente, fazendo horários “fixos” de trabalho e muitos alimentam toda sua família com o que arrecadam dessa prática. Catadores individuais: preferem trabalhar de forma independente, puxam carrinhos pelas ruas coletando a vários resíduos encontrados durante sua trajetória. Catadores organizados: São grupos onde todos são donos do empreendimento, legalizados ou em fase de legalização como cooperativas e associações, ONGs, ou OSCPs. Dentre os catadores organizados existem vários subgrupo dentre os quais podem descartar: Grupos em organização: eles têm pouca ou nenhuma infraestrutura e necessitam de apoio, muitas das vezes financeiro e de voluntários que lhes ensinem como trabalhar em grupo. Catadores organizados auto - gerenciáveis: estes funcionam como cooperativas. As vendas e os resultados são de todos, não havendo uma liderança única, todos os cooperados representam o negócio como dono. Redes de cooperativas auto - gestionários: a ideia é voltada para o desenvolvimento em rede, onde os grupos se fortalecem buscando excelência na negociação e frequência no fornecimento. Os grupos em rede podem vender os materiais pelo melhor preço e conseguem maior infraestrutura para prensar e transportar os materiais coletados.


“Coopergatos”: são grupos não auto gestionários, que funciona como uma empresa privada, onde todos coletam para um empresário, porém os trabalhadores não têm carteira assinada. Cooperativas de Sucateiros: funciona como empresa privada, mas utiliza a fachada de cooperativismo, onde os “proprietários” recebem vantagens junto ao governo, porém a relação entre eles com os catadores é a de empregado e patrão. E mesmo com este serviço prestado à sociedade, muitos catadores são tratados como se fossem consequência do lixo, não como uma solução, o que atrapalha e muito a otimização e o desenvolvimento tecnológico do setor. No Brasil existem muitas pessoas que estão interessadas em promover uma destinação adequada, mas esses encontram muitas dificuldades para a realização do trabalho, tais como a exposição do corpo à doenças transmitidas por animais peçonhentos que são atraídos pela decomposição do lixo, mau cheiro, descarte irregulares do lixo hospitalar, resíduos perfuro cortantes, resíduos químicos com alta periculosidade dentre outros riscos a integridade física dos catadores. Analisando-se com cuidado a maioria dos problemas, observa-se que são consequências da não separação do lixo orgânico com o lixo seco que além de trazer riscos à saúde dos trabalhadores, aumentam o custo para o processamento e limpeza do lixo, tornando, na maioria das vezes, mais viável a utilização de matéria- prima virgem. Como exemplo de lixo orgânico pode-se citar: restos de alimentos, vegetais, frutas, carnes, ossos, sementes, que durante o processo de decomposição, é uma fonte poderosa de gás metano e também atrai animais peçonhentos, favorece o aparecimento de fungos e bactérias, o chorume (liquido escuro produzido principalmente por carnes em processo de putrefação) contamina as águas, produz mau cheiro e, quando misturado ao lixo seco, atrapalha o aproveitamento dos materiais e o trabalho dos catadores. Uma alternativa para a utilização dos resíduos orgânicos que se faz presente no mundo todo, porem em baixa escala, é a compostagem. Essa técnica além de tecnologicamente viável, ainda pode ajudar outros projetos sociais com a utilização do adubo orgânico. Entre 2007 e 2010 mais de meio milhão de toneladas de resíduos orgânicos industriais foram enviados para usinas de compostagem, onde os processos biológicos aeróbicos naturais em condições controladas são utilizados para transforma-lo em fertilizante, conforme ilustrado na figura 4. Figura 4.


Fonte da figura: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagempara-uma-industria-sustentavel/ Acesso 10/04/2013

Após o final do processo o adubo orgânico normalmente é destinado para utilização em ecossistemas produtivos florestais, recuperação de áreas degradadas, adubação de áreas de reflorestamento e para produção de alimentos. A tecnologia da compostagem possibilita a redução do volume de resíduos, economia dos recursos naturais, redução da dependência de adubos químicos, qualidade da nutrição, além de possibilitar uma produção mais limpa de alimentos. Observe a figura 4 que mostra claramente o ciclo correto dos resíduos para um processo de compostagem, onde a própria natureza é encarregada do resultado final.

Figura 5:


Atualmente muitas residências já fazem a compostagem caseira e utilizam o adubo orgânico para nutrição de plantas e jardins, o que evita que a matéria orgânica seja misturada ao lixo seco, gerando ainda economia domestica por não haver a necessidade da compra de fertilizantes químicos e dos próprios alimentos. Na figura 5 podemos observar um tomateiro plantado no quintal de uma residência do qual utilizou o processo de compostagem para a posterior adubação orgânica da planta, o que resultou em uma planta saudável e bem nutrida, sem uma gota de defensivos e fertilizantes químicos. Figura 6


Figura 6 Tomateiro orgânico, foto tirada 04/2013 por Aquino, Letícia Vilela de O uso do adubo orgânico facilita o desenvolvimento de uma agricultura orgânica, na qual só é possível quando cultivada sem a utilização de produtos químicos sintéticos, tais como fertilizantes e pesticidas. Os alimentos orgânicos além de serem mais saudáveis, devido o nível de pureza, não agridem o meio ambiente e podem ser cultivados tanto no quintal das residências quanto em grande escala, o que gera uma ótima alternativa para a agricultura familiar que já é habituada a utilizar esterco de gado ou de aves para fertilização do solo. Pode-se ser estendida até mesmo para as lavouras não orgânicas, nas quais a adubação orgânica também é de grande importância, por ter maior capacidade de retenção de água chegando a reter de 4 a 6 vezes mais água do que seu próprio peso, reduzindo o risco de erosão, além de minimizar a plasticidade e coesão, reduzindo os efeitos da pegajosidade dos solos argilosos molhados. O adubo orgânico favorece ainda o aparecimento de minhocas, fungos e bactérias benéficas à agricultura, melhorando a vida macro biológica do solo e favorecendo a absorção de nutrientes provenientes de outras fontes. Como já vimos, o lixo orgânico só tem serventia para a sociedade se for separado corretamente, tendo destinos distintos, o lixo seco vai para o tratamento em recicladores e o


lixo orgânico para usinas de compostagem. Observe na Figura 6 a simplicidade do processo de separação domiciliar ou industrial dos resíduos. Figura 7

Fonte da imagem: http://www.garibaldi.rs.gov.br/informacoes/coleta-de-lixo/

3 Considerações finais

São bilhões de reais perdidos diariamente em forma de lixo seco e orgânico, bilhões gastos com a coleta do lixo e milhões de catadores passando dificuldades para sobreviver com o que a sociedade descarta, muita falta de organização, muitos projetos sem visão sistêmica são aprovados, gerando investimentos altíssimos, para resolver um problema que poderia ser visto como parte da solução ambiental que se busca mundialmente. Sendo assim é hora da sociedade olhar de forma mais sistêmica para o lixo, integrando um pouco mais o 1º, 2º e 3º setores e trazendo soluções em rede para o lixo. Com esse olhar poderíamos evitar se que o governo investisse anualmente na pseudo-gestão do lixo, ajudaria as cooperativas que têm muita mão de obra disposta a trabalhar com o lixo, empresas privadas que já utilizam estes resíduos como matéria prima em seus produtos, tratar os solos que se


desertificaram e a ampliação de uma agricultura orgânica que utiliza o adubo oriundo da compostagem como nutriente para as plantas. Essas soluções podem ser vistas facilmente quando se fala de divisão de responsabilidades, através de uma proposta de terceirização com quem sabe o que fazer para destinar corretamente o lixo. Um exemplo disso seria as prefeituras apoiarem as cooperativas e ONGS a se organizarem para que elas mesmas façam a coleta e separação do lixo, retirando atravessadores ou processos desnecessários muitas vezes existentes no ciclo da reciclagem. Um exemplo de processo desnecessário é o lixo ir para os lixões e lá serem recolhidos pelos trabalhadores, onde muitos resíduos estão em contato direto com materiais em estado de putrefação o que dificulta o trabalho, sendo que estes resíduos poderiam ser separados pelas residências, coletados pelos cooperados e ONG,s e terem posteriormente o seu destino correto, o que aumenta o percentual de reciclagem, agrega valor aos materiais, pois já sairão lavados das residências e podem ser triturados antes de serem vendidos para as empresas compradoras de materiais recicláveis. Dessa forma os três setores teriam responsabilidade no processo. O segundo setor (governo) apoiando as cooperativas, associações e ONG’s com processos de aprendizagem, organização e infraestrutura de armazenagem e logística reversa, além de montarem as estruturas de compostagem e aproveitamento do biogás. O terceiro setor (ONG’s) responsabilizando pela preparação da população para efetuarem a separação dos resíduos e coleta do lixo, de forma que todos os trabalhadores tenham um trabalho bem organizado, com todos os equipamentos de segurança necessários, treinamentos, orientações sobre o trabalho, segurança social e previdenciária, gerando renda para milhares de pessoas e sendo os gestores do destino final dos resíduos. O primeiro setor, comprando os materiais e executando todos os processos de beneficiamento, tonando o lixo em produtos novamente, que por sua vez voltaram em médio prazo para o consumidor que o transformará novamente em lixo. Talvez a solução esteja realmente na integração dos setores exemplificada acima, onde o governo reduziria seus gastos em milhões e parte do dinheiro gasto seria devolvido aos cofres públicos com a utilização do biogás, as redes sociais formadas pelas pessoas através das


cooperativas, associações e ONG’s aumentariam suas rendas e melhorariam a qualidade de vida e sua respeitabilidade social e surgiria uma infinidade de empresas privadas interessadas no aproveitamento dos resíduos recicláveis, gerando riquezas e mais empregos a polução crescente começaria entrar em declínio e o aproveitamento do adubo orgânico ampliaria a agricultura orgânica e redução da pobreza.

INTEGRATION OF SECTORS TO TURN TRASH IN ENVIRONMENTAL SOLUTION Abstract: This paper aims to present some social organizations focused on reducing food waste and processing of organic waste and dry. Generating savings to the public purse, increased family income for people who work with this reuse, combating hunger and creating jobs in various sectors of the economy, which awakens the society to social and environmental transformation in the private network where the connected NGOs and government agencies can use a brilliant strategy of joining forces and integration of the three sectors together to achieve the best results for the country. But for a seamless integration between the sectors there are several obstacles, such as lack of information of the population, lack public interest in various munícios, few companies have the technology to raw material use returnable and still the challenge of eradicating waste incineration that besides pollute the atmosphere destroy thousands of tons of waste that could be reused. So the challenge is to mobilize as many people as possible to strengthen existing movements and environmental movements create new public-private reducing poverty and improving the quality of life on the planet. Key words: Reuse of Waste. Integration of Sectors. Social and Environmental Sustainability. Cut Hunger. Poverty Reduction. Income Generation. Quality of Life. Technology. Transforming Waste. Government. Private Initiative. Recycling.

REFERENCIAS


Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/lixo_coletado/lixo_c oletado110.shtm , acesso em 18/03/2013. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/27032002pnsb.shtm, acesso em 18/03/2013. Disponível em: http://www.mncr.org.br, acesso em 18/03/2013. Disponível em: http://www.rotadareciclagem.com.br/index.html, acesso em 18/03/2013. Disponível em: http://www.lixo.com.br, acesso em 18/03/3013. Disponível em: http://www.brasilescola.com/biologia/chorume.htm, acesso em 26/03/2013. Disponível em: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagem-para-umaindustria-sustentavel/, acesso em 10/04/2013. Disponível em: http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/movimento-quer-reduzirdesperdicio-de-alimentos-e-combater-a-fome/, acesso em 05/05/2013. Disponível em: http://www.satisfeito.com/#, acesso em 05/05/2013. Disponível em: (2011, 11). A Importância Da Adubação Orgânica Para o Solo. TrabalhosFeitos.com, acesso em 05/05/2013. SACHS, Ignacy: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. In: STROH, Paula Yone (Org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2000. 96 p.


Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de microfiltração *Julyanna Damasceno Pessoa1, Cristiane Macedo Rodrigues1, Kepler Borges França1, Taline Sonaly Sales dos Santos1 1

Universidade Federal de Campina Grande - Unidade Acadêmica de Engenharia Química - Campus Campina Grande - Av. Aprígio Veloso, 882; Bodocongó, Campina Grande – PB.

*julyanna_pessoa18@yahoo.com.br

RESUMO – A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos ecossistemas. Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos específicos, a utilização do processo de separação por membrana passa a ser a opção de tratamento para a produção de água potável. A unidade de filtração compreende de um reator piloto com capacidade de 10 litros e uma membrana de material cerâmico, monotubular com 1 canal e diâmetro de poro de 0,20μm. Este trabalho teve por objetivo estender a tecnologia de filtração com membranas para águas de qualidade inferior, avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água antes e após um tratamento de filtração com membranas cerâmicas de microfiltração recheadas por resinas trocadoras iônicas. Foram testadas quatro pressões, de 1 a 3 bar. O sistema será avaliado em função do fluxo de permeado, turbidez, extração de bactérias, cor (real e aparente), coliformes totais, sólidos suspensos totais e sólidos dissolvidos totais sendo que. Os resultados alcançados mostraram que a microfiltração tangencial, apresenta-se como uma alternativa eficaz para o tratamento final de esgotos sanitários. A qualidade do efluente final torna possível a reutilização desse tipo de efluente, seja no meio agrícola, seja no meio industrial. Palavras-Chave: membrana cerâmica, tratamento de água, resina trocadora iônica ABSTRACT - Water is a form of energy essential to life and the maintenance of ecosystems. Due to the growing concern with specific microorganisms, the use of membrane separation process becomes the treatment of choice for the production of drinking water. The filtration unit comprises a pilot reactor with a capacity of 10 liters and a ceramic membrane, and monotubular 1 channel pore diameter of 0.20 micrometers. This study aimed to extend the technology filtration membranes for water of inferior quality, evaluating the main parameters of drinking water before and after treatment filtration with ceramic membrane microfiltration stuffed by ion exchange resins. We tested four pressures from 1 to 3 bar. The system will be evaluated as a function of permeate flow, turbidity, bacteria extract, color (actual and apparent), total coliform, total suspended solids and total dissolved solids of which. The results obtained showed that the crossflow microfiltration, presents itself as an effective alternative for the final treatment of sewage. The quality of the final effluent makes it possible to reuse this type of wastewater, be it in the agricultural, industrial or in the middle. Keywords: ceramic membrane, water treatment, ion exchange resin

* Estudo da dissolução in vitro de fenóis totais a partir de grânulos do extrato de quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.) recobertos em leito de jorro; Estudo do efeito do recobrimento de grânulos do extrato de quebra-pedra em leito de jorro sobre a eficiência da dissolução in vitro de flavonóides; Estudo da dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Estudos de recobrimento em leito de jorro e dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Análise estatística dos efeitos das condições de granulação do extrato fitoterápico de quebra-pedra (Phyllanthus niruni) sobre sua resistência mecânica em leito de jorro; Estudo da granulação por via úmida do extrato fitoterápico de quebra-pedra (phyllanthus niruni); Evaluating the quality of treated wastewater for reuse by ceramic membrane microfiltration with tangential flow.


1 Introdução Microfiltração com membranas é um processo de relevância que vem atualmente se destacando no vasto mercado da engenharia de processos. O processo requer o uso de módulos filtrantes compostos por material cerâmico ou polimérico. Classifica-se como Microfiltração a separação de partículas entre 0,01 – 0,2μm, que incluem contaminantes microbiológicos como bactérias (VIDAL, 2001). Na indústria química o principal processo de microfiltração é a purificação da água. Zemam & Zydney (1996) também ressaltam o uso da Microfiltração com membranas para retenção microbiana nas áreas de ciências biológicas, da saúde e alimentícias, pois há uma relação direta entre o processo de Microfiltração com o objeto de estudos destas áreas, conhecidos por filtros de líquidos esterilizados. Um filtro esterilizado é definido como um não libertador de fibra que produzirá um efluente estéril quando contaminado com um microrganismo específico em concentração mínima de 107 org/cm2 de área superficial da membrana. A partir da filtração por membranas os regulamentos para a qualidade de água a partir de aspectos químicos, físicos e biológico são mais bem alcançados. Possui elevada estabilidade química, térmica e estrutural, maior resistência a produtos químicos corrosivos e deterioração microbiana. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência da tecnologia de filtração com membranas cerâmicas de Microfiltração para águas de qualidade inferior, avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água de um efluente bem como os parâmetros físico-químicos, antes e após o tratamento com membrana, para fins de reúso. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Água A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos ecossistemas. Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos específicos, a utilização do processo de separação por membrana passa a ser a opção de tratamento para a produção de água potável. A água torna-se um risco em potencial para a saúde da população quando nela estiverem presentes agentes nocivos. Isto é, mesmo que visualmente ela não apresente


indicações de contaminação, não se pode assegurar sua qualidade física, química e microbiológica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde e Organização Panamericana da Saúde (OMS/OPAS, 2001), cerca de um quarto dos 4,8 bilhões de pessoas dos países em desenvolvimento continua sem acesso a fontes de água adequadas, enquanto metade deste total não esta servida por serviços apropriados de saneamento. A produção de água que atenda ao Padrão de Potabilidade requer, na maioria dos casos, a filtração, pois somente nesta etapa e que são removidos, quase que em sua totalidade, as partículas coloidais, suspensas e microrganismos em geral, de forma que a desinfecção final seja efetiva (SPINELLI, 2001). O processo de filtração por membrana cerâmica de microfiltração é uma técnica que vem ganhando importância no campo do tratamento de esgotos, pois com o aumentando dos riscos de doenças de transmissão hídrica com o transporte de microrganismos patogênicos pelas águas o processo se mostra eficiente na remoção destes microrganismos. Os sistemas de tratamento de esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível de redução de carga orgânica. No entanto, somente tratamentos avançados levam a uma significativa redução bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins mais nobres (STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000). 2.2 Membrana Cerâmica de Microfiltração O processo de microfiltração é uma técnica que vem ganhando uma maior importância no campo do tratamento de esgotos. As membranas cerâmicas encontram larga aplicação, principalmente em processos cujas temperaturas de trabalho são superiores a 250 ºC, como também na separação de soluções em que o pH é extremamente ácido, ou mesmo quando há solventes orgânicos no sistema. Em contrapartida, as membranas cerâmicas apresentam a desvantagem de apresentar um alto custo de fabricação, principalmente em relação às matérias-primas que são geralmente sintéticas (zirconia, alumina, titânia e sílica). Atualmente, o principal foco de preocupação no desenvolvimento destas membranas é otimizar os custos de produção, encontrando matérias-primas naturais a preços mais competitivos, além de processos de produção mais eficientes, como a extrusão. A produção de membranas por extrusão permite sua utilização em processos de fluxo tangencial, possibilitando a sua aplicação em microfiltração.


O reúso planejado de águas residuárias não é um conceito novo e já é praticado há muitos anos (SCHNEIDER et al., 2001). Este comportamento deve ser cada vez mais considerado, pois a recuperação da água reduz a demanda sobre os mananciais de água bruta. Entre as alternativas existentes para viabilizar o reúso, o desenvolvimento das técnicas de separação dos materiais por membranas ganha grande destaque. As técnicas de separação por membranas apresentam as vantagens de serem operadas sem aditivos e possibilitar separação seletiva de materiais (LAPOLLI, 1998; STEPHEENSON, 2000). Um dos objetivos principais de utilizar a técnica de membranas é a separação de substâncias de diferentes propriedades (tamanho, forma, difusibilidade, dentre outros). Processo com membranas utiliza-se águas superficiais de boa qualidade, atualmente o objetivo é estender para águas de qualidade inferior para a remoção de cor, sabor, matéria orgânica dissolvida e produtos de desinfecção (GUIGUI et al., 2002). Segundo Lemanski (2004), na filtração tangencial a solução de alimentação flui paralelamente à membrana e ao fluxo de permeado, o que permite o escoamento de grandes volumes de fluidos, pois esse tipo de escoamento, a altas velocidades, tem o efeito de arrastar os sólidos que tendem a e acumular sobre a superfície da membrana. Um mercado muito importante para membranas filtrantes em indústrias é a produção de água de reúso a partir de esgoto bruto ou tratado. O esgotamento progressivo das reservas de água potável e/ou os altos custos de mobilização de novos mananciais, localizados a grandes distâncias dos centros consumidores, estão levando muitas empresas de saneamento básico a considerar tecnologias de membranas filtrantes para reciclar águas residuárias. 2.3 Esgotos Sanitários Os esgotos domésticos e industriais contêm grande número de substâncias contaminantes e que podem ser separadas em três categorias principais (ROQUES, 1980):  As matérias dissolvidas, orgânicas ou minerais, biodegradáveis, ou não;  As matérias coloidais e/ou emulsões (graxas, óleos solúveis, etc);  As matérias em suspensão, orgânicas ou minerais. Os teores desses diferentes tipos de contaminantes são extremamente variáveis no tempo e dependem da origem dos esgotos. A determinação da natureza e da quantidade de cada uma das substâncias presentes pode ser realizada, mas, na maioria


dos casos, aliada à longas e custosas análises. Desta forma, procura-se caracterizar os esgotos através de testes tais como: DQO, DBO5, pH, temperatura, sólidos em suspensão, entre outros. As águas residuais contêm basicamente matéria orgânica e mineral em solução e em suspensão, assim como alta quantidade de bactérias e outros organismos patogênicos e não patogênicos. O tratamento dos esgotos domésticos tem como objetivo, principalmente: remover o material sólido; reduzir a demanda bioquímica de oxigênio; exterminar micro-organismos patogênicos; reduzir as substâncias químicas indesejáveis. Os sistemas de tratamento de esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível de redução de carga orgânica. Tratamentos avançados levam a uma significativa redução bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins mais nobres (STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000). A classificação da membrana de Microfiltração utilizada na área do saneamento básico possui porosidade variando entre 0,1 μm – 0,2 μm e retém Protozoários, bactérias, vírus (maioria), partículas. 2.4 Materiais das Membranas Em função da aplicação a que se destina a membrana, estas podem apresentar diversas texturas como: a) textura física: densas ou porosas. Uma membrana densa se caracteriza pela ausência de porosidade. Ela é fabricada a base de polímero de alta densidade e se apresenta sob a forma de camadas finas de material cerâmico ou metálico. A transferência de moléculas através da membrana se desenvolve segundo mecanismo de solução-difusão. Uma membrana porosa deve possuir boa resistência mecânica, porem espessura fina que permita vazão de permeação elevada (LAPOLLI, 1998). b) textura de origem: natural ou artificial. As membranas sintéticas são produzidas a partir de duas classes distintas de material: os polímeros orgânicos e as membranas de material

inorgânico.

(RESEAU

NOVELECT-INNOVATION

ÉNERGÉTIQUE

ÉLECTRICITÉ, 1993). A membrana Inorgânica tem como classe tradicional o material cerâmico. Representam uma opção que permite aumentar limites de operação a temperaturas elevadas (acima de 150ºC) e em meios quimicamente agressivos. São representantes clássicos desta categoria a alumina, sílica, óxido de silício ou de alumínio, zircônio e


titânio. Sua importância maior reside no fato que permitem a fabricação de estruturas microporosas bem variadas com um bom controle de distribuição de tamanho de poros, caracterizadas por resistências térmicas e químicas elevadas e baixa plasticidade. As membranas inorgânicas apresentam maior vida útil e permitem limpezas mais eficientes em relação às orgânicas. A Tabela 1 mostra uma comparação das propriedades das membranas inorgânicas e orgânicas. Tabela 1. Comparação das propriedades das membranas inorgânicas e orgânicas. Propriedade

Membrana inorgânica

Aplicação

MF,UF

Resistência térmica

Faixa de pH

Cerâmicas < 250°C Carvão/grafite < 180°C Aço < 400°C

0 - 14

Membrana orgânica

MF, UF, NF, RO Acetato de Celulose < 40°C Polisulfona < 90°C Aramida < 45°C Poliacrolinitrila < 60°C Polipropileno < 70°C Maioria dos polímeros: 212 Acetato de celulose: 4,5 < pH < 6,5

Resistência mecânica

Tolerância a materiais oxidantes

Boa

Boa

Média a ruim, necessitam de suporte Depende do polímero, tempo de contato e concentração do oxidante (a maioria dos polímeros não resiste a ação de oxidantes)

Fonte: CARDOT, 1999 As membranas de primeira geração eram membranas isotrópicas ou simétricas com poros regulares, quase cilíndricos, que atravessavam toda a espessura da membrana. Este tipo de membrana possuía varias limitações devido à pressão. São pouco utilizadas em aplicações industriais, pois as perdas de carga são consideráveis. Essas membranas são sensíveis aos ataques de microrganismos. Dos principais inconvenientes são um fraco fluxo do permeado ligado às fortes


perdas de carga devido a grande espessura e de uma duração de vida relativamente curta, devido a sua sensibilidade à hidrólise e aos ataques bacterianos (LACOSTE, 1992). As membranas assimétricas ou anisotrópicas da segunda geração são caracterizadas por um gradiente de porosidade interno onde uma fina película fica situada sobre uma superfície mais grossa. Estas membranas são constituídas geralmente de um único tipo de polímero. Apresentam boas propriedades mecânicas e proporcionam um melhor fluxo de permeado, resistem bem aos ataques químicos e bacterianos, não suportando, porém, altas temperaturas e valores extremos de pH. A Figura 1 apresenta as morfologias mais comuns observadas em membranas.

Figura 1. Representação esquemática da morfologia das membranas (HABERT et al., 1997). Segundo Malack et al. (1996), a eficiência da filtração tangencial varia em função dos parâmetros operacionais do sistema como são: i. Velocidade tangencial; ii. Pressão transmembrana; iii. Temperatura; iv. Tamanho do poro da membrana e v. Características do liquido permeado. 2.5 Filtração Tangencial Na filtração tangencial, também conhecida como "crossflow filtration", o fluxo do permeado circula em sentido perpendicular enquanto o fluxo de circulação do sistema permanece em sentido paralelo conforme mostra a Figura 2.


Figura 2. Esquema ilustrativo da filtração convencional e filtração tangencial (HABERT et al., 1997). Este fenômeno é possível devido ao um sistema de pressão que é aplicado ao sistema, dividindo assim o fluxo no permeado e no recirculado. 2.6 Colmatação O declínio no fluxo do permeado, o qual acontece devido à perda de permeabilidade da membrana, tem sido foco de vários estudos. O declino do fluxo do permeado é a maior limitação da microfiltração tangencial nos sistemas de tratamento de águas residuais. Este fenômeno é atribuído à colmatação, que é o fenômeno de deposição de solutos nos poros da membrana que causam uma obstrução progressiva que reduz sua capacidade de filtração. Isto ocorre também na filtração tangencial, porém, a uma menor escala do que na filtração convencional. A intensidade da colmatação depende de diversos fatores como as características do liquido filtrado, assim como das propriedades da membrana utilizada. 2.7 Permeabilidade O material que atravessa a membrana pode ser medido pela sua permeabilidade. O mecanismo de transporte é o do fluxo capilar convectivo, em que cada poro é assimilado a um capilar e a soma de todos os escoamentos fornece o fluxo total (DUCLERT, 1989). A permeabilidade à água permite avaliar a porosidade superficial e da subestrutura da membrana, fornecendo informações sobre as propriedades hidrofílicashidrofóbicas, portanto, sendo fundamental para sua caracterização.


Não se encontra membranas com diâmetros de poros único, e sim, com uma certa distribuição em torno de um diâmetro médio. O material que atravessa a membrana é quantificado pela sua permeabilidade. O mecanismo de transporte é o do fluxo capilar convectivo, em que cada poro é assimilado a um capilar e a soma de todos os escoamentos fornece o fluxo total (DUCLERT, 1989). Para o caso de soluções que apresentam diferentes tipos de macromoléculas e de massas moleculares variadas e partículas em suspensão, devem-se levar em consideração as diversas resistências ao fluxo do permeado. Dessa forma, tem-se: J = P - / .(Rm+Rp+Rg+Rc)

(1)

Em que: J = fluxo do permeado (L/m2.s) P = pressão aplicada (Pa)  = pressão osmótica (Pa)  = viscosidade da solução (Pa.s) Rm = resistência da membrana (m-1) Rp = resistência da zona de polarização (m-1) Rg = resistência da camada de gel (m-1) Rc = resistência devido à colmatação (m-1) O fluxo do permeado, normalmente, no início da operação diminui rapidamente até um valor determinado, ocasionado pela formação da camada crítica nas proximidades da parede da membrana. Observa-se, ainda, mesmo com a circulação tangencial, uma continuidade na redução do fluxo do permeado. Sua intensidade depende das características da suspensão à filtrar, e também, das propriedades físicas (tamanho dos poros, distribuição do tamanho dos poros, etc), e químicas (natureza) da membrana porosa utilizada. Diferentes hipóteses foram estabelecidas para justificar o fenômeno da colmatação em membranas, cuja origem, de acordo com VISVANATHAN et al in WISNIEWSKI (1996) é devido : a) acumulação de partículas sobre a membrana formando uma camada de polarização por concentração e/ou uma camada de gel, cujas propriedades podem evoluir ao longo da operação ; b) uma colmatagem por bloqueamento dos poros ou adsorção de partículas na superfície externa ou no interior dos poros da membrana, dificultando a passagem do permeado.


2.8 Vazão do Filtrado A vazão no filtrado é calculada como mostrado a seguir: Q( L )  Vol ( L) / t (h) h

(2)

QF (L / m2 .h)  Q(L / h) / AF

(3)

Onde: QF = Vazão de Filtrado (L/m2.h) 2.9 Condições de Operação (Petrus, 1997) As condições de operação de uma membrana são muito importantes, tanto pelo aspecto de amenizar os efeitos da colmatação, quanto pelo aspecto econômico. O consumo de energia aumenta à medida que aumenta a pressão, a velocidade de circulação e a temperatura. De acordo com Persson, Gekas & Trägardh (1995), para altas pressões a membrana e a camada de gel, normalmente, são compactadas e, também, ocorre uma alteração na seletividade do sistema, de tal modo que a colmatação pode ser intensificada. Petrus (1997), concluiu que além de um certo limite, que é específico para cada processo, o aumento da pressão pode não mais corresponder a um aumento de fluxo e, até mesmo reduzi-lo, com conseqüências adversas para a integridade da membrana. Normalmente, para os processos de microfiltração são utilizadas pressões entre 0,5 a 3,0 kgf/cm2. 3 Material e Método O sistema compreende um reator com capacidade de 10 litros e uma membrana cerâmica monotubular que deve ser preenchida, posteriormente ao tratamento da água com Escherichia coli, com resina trocadora iônica, diâmetro de poro de 0,20μm, bomba de alta pressão de 1/2hp com um suporte de PVC que mantém a membrana cerâmica no seu interior, válvulas e manômetros na entrada e saída do concentrado e permeado, onde será analisado a porcentagem de água do Boqueirão - PB que o sistema híbrido consegue recuperar, avaliando o desempenho da membrana. Serão realizadas diferentes bateladas à temperatura ambiente sob circulação tipo looping por duas horas para diferentes gradientes de pressão (1,0kgf/cm2 ≤ ΔΡ ≤ 3,0kgf/cm2). Foram coletadas


amostras de águas do permeado e concentrado em intervalos de 5 minutos visando obter as vazões em função do peso das amostras. Com os valores das vazões do concentrado e do permeado calculou-se a recuperação do sistema. A membrana utilizada foi a do tipo cerâmica composta de Argila Plástica e Alumina (α-Al2O3) de forma tubular, monocanal com área filtrante de 0,005 m2 e de porosidade média 0,2 µm. A representação esquemática do sistema para medida de fluxo tangencial de membrana tubular pode ser representada na Figura 3.

Figura 3. Representação esquemática Caracterização das Membranas As membranas cerâmicas foram caracterizadas por ensaios de microscopia eletrônica de varredura, porosimetria pelo método de intrusão de mercúrio e permeabilidade por meio de fluxo tangencial. Foram realizados ensaios de caracterização da membrana, sob pressão de 1, 2 e 3 bar. O tanque de alimentação foi alimentado com água deionizada para este processo de filtração, coletando-se o permeado em Becker com seus respectivos intervalos em tempos pré-determinados. A temperatura do tanque de alimentação foi controlada e mantida a (27 ± 1) °C. As amostras de permeado foram coletadas de cinco em cinco minutos em um intervalo de tempo de duas horas para uma boa determinação da curva de fluxo de permeado em função do tempo. Entre cada processo de filtração a membrana foi trocada. Para a análise bacteriológica será utilizada água contaminada com Escherichia coli e não receberá nenhum tratamento prévio. O mesmo procedimento feito na caracterização com água deionizada será feito no ensaio de filtração da água bruta.


Serão feitas análises bacteriológicas e físico-químicas, realizadas segundo procedimento recomendado pelo Standard Methods (APHA, 1995). 4 Resultados e Discussão Análises iniciais foram realizadas com água deionizada nas pressões de 1 a 3 bar sob a temperatura de (27 ± 1) °C, sendo a densidade da água a essa temperatura, ρH2O 27ºC

= 0,99654 kg/L e área do filtrante de 0,006 m2. As bateladas foram realizadas em um intervalo de tempo de 2 horas e as coletas

realizadas a cada 5 minutos. Na Tabela 2 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado em pontos alternados de 25 em 25 minutos para uma pressão de entrada de 1 bar. Tabela 2. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 1 bar. t (minutos) 5 30 55 80 105 120 Média

Q (L/h) 6,9 6,2 5,3 5,1 4,4 4,0 5,4

Fluxo (L/h.m²) 1194,9 1074,5 914,3 886,5 766,3 701,9 939,5

A Figuras 4 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 1 bar.

Figura 4. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a 1 bar.


A média da vazão mássica transmembrana, à 1 bar, ficou acima daquelas encontradas nas pressões de 2 e 3 bar. As Tabelas de 2 a 4 apresentam os resultados das vazões transmembrana em função do tempo para 120 minutos de processo. A Figura 4 mostra valores de fluxo transmembrana mais estáveis, o que indica a estabilização da camada de polarização, enquanto que na Figura 6, na maior pressão transmembrana (3 bar), a vazão transmembrana sofre uma redução significativa a partir do início do processo, estabilizando decorrido aproximadamente 80 minutos. Na Tabela 3 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma pressão de entrada de 2 bar. Tabela 3. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 2 bar. t (minutos) 5 30 55 80 105 120 Média

Q (L/h) 8,6 2,9 1,3 0,9 0,7 0,6 2,0

Fluxo (L/h.m²) 1461,7 497,1 213,5 151,4 115,6 107,4 344,9

A Figuras 5 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 2 bar.

Figura 5. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a 2 bar.


Nas Figuras 4 e 5, nas pressões de 1 e 2 bar, observa que o comportamento do fluxo transmembrana manteve-se decrescente desde o início do experimento e com valores de fluxo transmembrana médio variando entre 300 e 900 L/h.m2. Na Tabela 4 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma pressão de entrada de 3 bar. Tabela 4. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 3 bar. t (minutos) 5 30 55 80 105 120 Média

Q (L/h) 12,7 9,7 7,2 5,3 3,6 3,1 2,6

Fluxo (L/h.m²) 2169,6 1656,6 1218,7 910,2 616,6 519,5 437,1

A Figuras 6 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 3 bar.

Figura 6. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a 3 bar. Observa-se na Figura 6 que à maior pressão transmembrana (3 bar), a vazão sofre uma redução significativa a partir do início do processo, e na maioria dos casos mantendo os valores de Fluxo acima dos processos a 1 e 2 bar. As variações de Fluxo ao longo do processo são atribuídas a não estabilização da camada de polarização.


O fluxo transmembrana à 3 bar reduziu significativamente até aproximadamente 60 minutos. Depois apresenta valores de fluxo transmembrana estáveis, o que significa estabilização da camada de polarização. 5 Conclusões Até o presente momento, baseado nos resultados obtidos, as bateladas iniciais feitas com água deionizada em todos os ensaios de filtração realizados, para as pressões de 1 a 3 bar, pode-se observar que a melhor vazão e fluxo de permeado é para a menor pressão, 1 bar, obtendo um menor efeito da colmatação confirmando que esse fenômeno ocorre em maior escala quanto maior a pressão. O tratamento mostrou-se de maneira satisfatória, sendo de interesse econômico e qualitativo. O procedimento seguinte será a caracterização da água residuária para avaliar sua qualidade após a filtração por membrana cerâmica de microfiltração com o objetivo de obter água própria para o consumo humano livre de todos os microrganismos e impurezas. 6 Referências ABDEL MALAK C.A., ABOU El-ADAB I.F.G., VUKASHINOVIC V., ZALUNIN I.A., TIMOKHINA E.A., AVRENOVA G.I. & STEPANOV V.M.. (1996). “Buffalo (Bosbuffali L) chymosin purification and properties”. In: ABDEL MALAK, Comparative Biochemistry and Physiology B Biochemistry and Molecular Biology 57– 62 APHA- AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (1995), Standard Methods for the Examination for Water and Wastewater. 19th ed., Washington. CARDOT, C. (1999). “Lês Traitements de L´eau”. Ellipse Édition Marketing. DUCLERT, F. (1989). “Étude de divers phenoménes de colmatage limitant l´ecoulement de l´eau à travers une membrane minerale microporeuse”. Trad. Montpellier. 170 p. Thése (Doctorat). Academie de Montpellier – USTL – France. GUIGUI, C., ROUCH, J.C., DURAND-BOURLIER, L., BONNELYE, V., APTEL, P., (2002), “Impact of Coagulation Conditions on the in-line Coagulation/UF Process for Drinking Water Production”. Els. Sc. – Desalination, 147: 95-100. HABERT, A.C.; BORGES, C.P.; NOBREGA, R. (1997). “Processos de Separação com Membranas”. COPPE – UFRJ, 200 p. LACOSTE, B. (1992). “Étude d´un procédé de traitement des eaux usées sur membranes mineráles par couplage microfiltration ou ultrafiltration tangentielles et systèmes biologiques en aérobiose”. Montpellier. 227p. Thése (Doctorat). Université de Montpellier II – France.


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Avaliação da vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira na cidade de João Pessoa-PB Mônica Maria Souto Maior1 Gesinaldo Ataíde Cândido** Resumo

Este artigo trata de um estudo sobre a vulnerabilidade familiar, buscando estabelecer o índice de risco que as famílias estão expostas em decorrência de sua situação socioeconômica, adaptando o modelo IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar - que foi utilizado por Frei (2007) no município de Assis no Estado de São Paulo, para o bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa. Para seu desenvolvimento foi utilizada uma pesquisa bibliográfica sobre vulnerabilidade social e familiar, seguido de um levantamento de dados para compor os indicadores no censo do IBGE (2010), nos estudos feitos por Sposati (2010) - Topografia social da cidade de João Pessoa -, no Fórum do Bairro de Mangabeira e dados originados da Secretaria de Desenvolvimento Humano de João Pessoa. Obtendo como resultado que o bairro de mangabeira apresenta um índice baixo de vulnerabilidade familiar (0,23), mas estar numa situação considerada crítica nas dimensões de desenvolvimento infantil, educação e risco familiar, porque apresenta alguns indicadores com uma percentagem acima de 25% e outros mais preocupantes acima de 50%, indicando a possibilidade de um alto risco de desagregação familiar. Palavras chave: Índice, indicadores, vulnerabilidade familiar. Abstract This article deals with a study on household vulnerability, seeking to establish the risk index that families are exposed due to their socioeconomic status, adapting the model IVF - Vulnerability Index Family - which was used by Frei (2007) in the municipality of Assis in São Paulo, for the mangabeira neighborhood in the city of João Pessoa. For development we used a literature search on social vulnerability and family, followed by a survey of data for the indicators composing the IBGE census (2010), in studies by Sposati (2010) - social topography of the city of João Pessoa - Forum Neighborhood Mangabeira and data originating from the Department of Human Development João Pessoa. The result being that the mangabeira neighborhood has a low rate of household vulnerability (0.23), but being in a situation deemed critical dimensions of child development, education and family risk, because it presents some indicators with a percentage above 25% and more concern over 50%, indicating the possibility of a high risk of breakdown family. Keywords: Index, indicators, household vulnerability

1 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (1989), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba (2002), atualmente está fazendo doutorado no Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande. Em 1995 ingressou no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba, onde permanece até o momento. Na área acadêmica tem lecionado e desenvolvido pesquisas em Arquitetura e urbanismo, Engenharia de Produção e Recursos Naturais. Possui diversos artigos publicados em eventos nacionais e internacionais. E-mail: mmsmaior@hotmail.com * Professor Titular em Administração Geral da UFCG, Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), Mestrado em Administração pela Universidade Federal da Paraíba (1995. Professor permanente junto ao Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da UFCG e professor permanente junto ao programa de pós-graduação em Engenharia de Produção da UFPB. Líder do GEGIT (Grupo de Estudos em Gestão, Inovação e Tecnologia), cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq. É autor de vários artigos publicados em periódicos e apresentados em eventos. E-mail: gacandido@uol.com.br


1. INTRODUÇÃO A exclusão social urbana estabelece uma relação de causa e efeito na estruturação das famílias devido à instabilidade gerada pela negação dos direitos básicos que fornecem a qualidade de vida humana, tais como: renda, educação, saúde, alimentação, água e moradia. A estruturação familiar está associada a estes fatores porque, a negação desses direitos muitas vezes gera em seu seio uma dinâmica de conflito que pode levar a desagregação familiar. Assim observa-se que como todo organismo dinâmico, a família, sofre, ao longo do tempo, influências dos fatores ambientais, socioeconômicos e culturais na qual se insere, acarretando algumas vezes alterações no seu padrão tradicional de organização – pai, mãe e filhos – modificando as ligações consangüíneas, cedendo lugar a novas articulações, tornando a família uma construção mutável, permanecendo apenas aquilo, que segundo Amaral (2001), se chama “sentimento familiar”. Segundo Petrini (2003) A família encontra novas formas de estruturação que, de alguma maneira, as reconstituem, sendo reconhecida como estrutura básica permanente da experiência humana. No entanto, a articulação familiar, seja ela qual for, se caracteriza como grupo básico da sociedade e tem como finalidade a proteção e a propagação da cultura, propiciando aportes afetivos e materiais, necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus integrantes. A família se caracteriza pela convivência entre seus membros implicando compartilhamento do modo de vida no meio físico chamado de casa ou lar, no entanto, para a família pobre, segundo Gomes (2005), marcada pela privação, a casa representa um espaço de instabilidade, de esgarçamento de laços afetivos e da solidariedade, gerando conflitos que podem ter como conseqüências sua desestruturação. A perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e leva o individuo a descrença de si mesmo, tornando-o frágil e com baixa auto-estima. A família pobre brasileira, de um modo geral, está segregada em bairros periféricos, longe dos centros urbanos, ou em favelas e invasões próximas a esses centros, no entanto, em ambos os casos, sem um mínimo de condições mínimas de vida digna, pois além da falta da estrutura urbana – escolas, trabalho, hospitais, transporte e lazer- ainda lhes faltam renda básica para sua manutenção diária. Apesar do desenvolvimento econômico brasileiro, as desigualdades na distribuição de renda e de direitos fundamentais ainda são gritantes, excluindo parte significativa da população ao acesso as condições mínimas de vida, propiciando a uma vulnerabilidade familiar. Segundo Masten & Garmezy (1985), a vulnerabilidade refere-se a uma predisposição a


apresentar resultados negativos ao desenvolvimento. Desta forma, o estudo de vulnerabilidade familiar vem sendo desenvolvido ao longo destas duas últimas décadas para aprofundar as consequências dos riscos para as famílias e para a sociedade. As metodologias criadas partiram de estudos do desenvolvimento humano e social – IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ICV (Índice de Condições de Vida) e IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) – estes estudos geraram necessidades de aprimoramento, fazendo surgir outros métodos de cunho mais significativos, concebidos não só como mecanismo de conhecimento da vida, mas como ferramenta de transformação social, baseado nos direitos constitucionais brasileiros. Podendo ser citados os seguintes autores: Barros et all (2003)desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) -, Frei (2007) – que adaptou o Índice de Vulnerabilidade Familiar (IVF) a partir do IDF, e Martins et all (2010) - que desenvolveu o Sistema de Indicadores de Vulnerabilidade Familiar (SIVF). As metodologias que estudam a vulnerabilidade familiar precisam estar atreladas a outros tipos de vulnerabilidades que de uma forma indireta afeta a estrutura harmônica da família, tais como: a econômica e a ambiental. Porque na contextualização familiar, a falta de percepção aos riscos envolve uma incapacidade de se precaver aos danos. Assim a busca por indicadores devem vir de fontes seguras e confiáveis, para que se possa construir um índice da vulnerabilidade familiar correlacionado com essas outras dimensões. A pesquisa de campo muitas vezes não consegue resultados satisfatórios, devido à limitação temporal e espacial a qual está submetida, não conseguindo abarcar uma amostra populacional representativa. Assim deve-se recorrer a dados secundários provindos de órgãos conceituados e confiáveis. A mensuração da vulnerabilidade familiar é de grande importância para a construção de políticas públicas, porque trabalha com variáveis sociais que espelham a associação das condições de vida com as doenças sociais, ocasionadas pelas inadequações de vida digna familiar. As metodologias estão em fase de desenvolvimento e teste devido a sua recente criação, e precisam ainda de muitas adaptações para ter um resultado representativo da vulnerabilidade familiar brasileira, até agora os estudos desenvolvidos abarcam pontualmente alguns focos, que devem ser expandidos para se ter um quadro mais abrangente de indicadores. Outro ponto critico, é que as variáveis são de difícil tratamento, porque envolvem mensurações diferentes que não se encontram padronizadas numa mesma medida, porém o estudo da vulnerabilidade familiar é de grande importância e deve considerar as especificidades do local estudado, incluindo não só os fatores


sociais, mas outras dimensões, que para o contexto estudado, tem influência na desagregação das famílias. Apresentar um índice de vulnerabilidade é de grande importância, porque identifica e localiza as pessoas com maiores necessidades a fim de criar programas para incluí-las novamente na sociedade. Decorrendo desta visão, o bairro de mangabeira foi escolhido por apresentar alguns fatores que o diferencia dos outros bairros pobres da cidade de João Pessoa. Este bairro apesar de ser considerado o maior bairro do município, com proporções de cidades – tanto em população quanto em dimensão – apresenta especificidades de bairro periférico que ainda atrapalham o desenvolvimento das famílias – grande concentração de pobreza, violência elevada e falta de equipamentos urbanos que atendam a totalidade da população residente. Alguns serviços urbanos oferecidos ao bairro não considera o volume populacional que o utiliza. No entanto, sinaliza para melhoria das condições sociais, numa perspectiva de geração de emprego, devido ao afloramento e expansão do comércio, para atender não só a sua população, mas também as dos bairros vizinhos, inclusive condomínios horizontais fechados voltados para a classe social média alta. Assim este estudo busca responder quais os fatores que mais influenciam a vulnerabilidade familiar em nível de microlocalização urbana, buscando identificar o risco de desagregação familiar do bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa-PB, partindo do índice de vulnerabilidade familiar, através de indicadores da exclusão socioambientais estudados por Sposati (2010), IBGE (2010) e Instituições públicas estabelecendo correlações entre a exclusão social e vulnerabilidade familiar, a partir das quantificações de violência contra a mulher, gravidez de jovens, homicídios de jovens e divórcios litigiosos. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Vulnerabilidade social X Vulnerabilidade familiar Kaztman (1999) define vulnerabilidade social como a incapacidade de uma pessoa ou lugar, para aproveitar as oportunidades disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar sua situação de bem estar ou impedir sua deterioração. Os índices de pobreza quantificam o grau da exclusão que fatores socioeconômicos impõem em um determinado lugar a alguns grupos. Uma das formas de mensuração dessa exclusão é baseada na satisfação das necessidades básicas que geram bem estar e que estão associadas aos ativos pessoais e do amparo Institucional dos cidadãos pelo Estado. Segundo estudos do Ministério


do Trabalho e Emprego, (Brasil, 1997) o termo exclusão social que teve sua origem na França durante as duas últimas décadas do século XX, deve abarcar situações mais extensas do que os problemas gerados no mercado de trabalho. A estrutura de oportunidades não é linear para os diferentes grupos sociais, a segregação de gênero, raça e condições financeiras aumentam a discrepância de oportunidade para uma vida mais digna. Pode-se constatar que os processos de exclusão social nas cidades têm gerado um aumento constante e infindável de violência urbana e de degradação social. A família como célula base da sociedade se torna expostas ao risco, porque as perspectivas de melhorias socioeconômicas se tornam, a cada dia, mais intangíveis. Assim pode-se relacionar a vulnerabilidade familiar aos planos econômicos capitalistas, que deixam os pobres ainda mais pobres, e os ricos cada vez mais ricos. Neste contexto vulnerabilidade e risco social são sinônimos de pobreza, porém, um é conseqüência do outro, uma vez que a vulnerabilidade é que coloca as pessoas em um risco social. Segundo Moser (1998), vulnerabilidade é uma situação que precisa de pelo menos três componentes: 1) exposição ao risco; 2) incapacidade de reação e 3) dificuldade de adaptação diante da materialização do risco. Diante do exposto existe dentro deste grupo social ligado a pobreza, um subgrupo que está mais vulnerável, ligado a questão de gênero, que é a mulher, onde as relações desiguais de poder e de prestigio são facilmente identificáveis. Com a transformação da família ocorreu nos últimos tempos um crescimento da participação da mulher como pessoa de referência da família, e muitas vezes como única provedora na base do domicílio, a qual vem acumulando as funções de cuidado com os filhos, casa e trabalho, gerando um risco de sobrecarga psicológica. No caso da mulher como única provedora, existe uma forte tendência para a inserção de crianças em atividades remuneráveis, afastando-os das escolas, para suprir a ausência da renda masculina e a desigualdade de remuneração existente entre gêneros no mercado de trabalho brasileiro. Outro aspecto a ser considerado é a mudança no comportamento reprodutivo das mulheres que, cada vez mais, estão se tornando mães mais cedo. A gravidez precoce é muitas vezes indesejada, seja por inexperiência, falta de informação, negligência da família ou por violência sexual, obrigando a evasão escolar e a inserção precoce no mercado de trabalho, principalmente em subempregos. Nas diversas faces da pobreza, a fome se apresenta como um aspecto perverso, apesar da alta produtividade de alimentos no país. O que se conclui que existe uma desigualdade de acesso


aos alimentos ou a seus meios de produção, e que não se pode ter harmonia e paz familiar quando se tem fome ou quando se vê filhos chorando com fome sem ter os meios de suprir tais necessidades. Na estrutura social encontrada hoje é esperado que as pessoas convivam com uma grande variedade de riscos diferentes e contraditórios, pois instituições como a família não tem condições de fornecer apoio contra tais ameaças, (BECK, 1997). Mesmo considerando os riscos como sendo individuais – desemprego, trabalho precário e a própria dissolução conjugal - eles tem uma conseqüência coletiva afetando todo o grupo familiar. Autores como Moser (1998), Vignoli (2000), Camarano e Gahouri (1999), discutem a possibilidade de uma ciência multidisciplinar da vulnerabilidade que possa abarcar diferentes formas de risco que a sociedade está exposta, onde as conexões entre elas formam uma malha de causa e efeito uma sobre a outra, defendendo que não se pode mais analisar a vulnerabilidade sobre um aspecto somente. Segundo Dechamps (2009, p 11): Em nível de famílias, a vulnerabilidade está vinculada à capacidade de resposta e ajustes frente às condições adversas do meio, ou seja, a capacidade que as famílias têm de mobilizar ativos, escassos ou não, para enfrentar as adversidades. As famílias ou pessoas com pouco capital humano, com ativos produtivos escassos, pouco acesso à informação e às habilidades sociais básicas, com falta de relações pessoais e com pouca capacidade para manejar seus recursos, estão em condições de vulnerabilidade diante de qualquer mudança ocorrida em seu entorno imediato. Considerando o aspecto da vulnerabilidade familiar Therborn (2006) endossa a teoria de Weber – da racionalidade em relação a valores - de que os interesses não econômicos como sentimentos e afetos são de fundamental importância na definição de objetivos e na condução da ação de enfrentar determinado risco e resolvê-lo, porque cria laços de união e objetivos comuns na família. Por outro lado, a supervalorização de sentimentos em relação a racionalidade pode gerar novos riscos, citando como exemplo, o evasão do trabalho feminino para cuidar dos filhos pequenos, que gera dependência feminina ao marido provedor, diminuição da renda familiar e consequentemente, a entrada tardia dos filhos em ambientes educacionais. O encadeamento de ações e reações, no seio familiar, é complexo constatando-se que alguns


membros terão mais direitos e outras mais obrigações e nesta distribuição está contida a determinação do poder de uns sobre os outros, gerando relações contraditórias de interdependência com uma imensa carga conflitiva, nas quais, ao mesmo tempo em que oferecem proteção e cuidados, são potencialmente violentas. (THERBORN, 2006). Pondo em risco a unidade familiar. 2.2 Índice de Vulnerabilidade Familiar - IVF A elaboração de índice que possam retratar as condições socioeconômicas começou a ter importância no Brasil nas décadas de 1990 a 2000 se destacando o Índice de Qualidade de Vida Urbana (Nahas, 1995), Índice de Exclusão ̸ Inclusão Social (Sposati, 1996), Índice de Desenvolvimento Familiar (Barros et all, 2003) e Índice de Vulnerabilidade Familiar (Frei 2007). O IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar – foi desenvolvido por Frei (2007), que adaptou o IDF (Índice de Desenvolvimento Familiar) de Barros (2003), modificando-o e ampliando o rol de indicadores. O Estudo de Barros (2003) busca aprimorar o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – calculando no nível local, ao invés de global, o desenvolvimento de cada família, incluindo a segregação por grupo demográfico tais como negro e mulheres chefe de família. Ele é composto por seis dimensões: 1) ausência de vulnerabilidade; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho; 4) disponibilidade de recursos; 5) desenvolvimento infantil; 6) condições habitacionais. Cada dimensão representa os meios necessários para a satisfação das necessidades efetivas. Utiliza vinte e seis componentes, e quarenta e oito indicadores que são trabalhados através de perguntas, e respondidos em forma de “sim ou não”, cada “sim” é computado como algo positivo e aumenta a posição da família em direção a um maior nível de desenvolvimento humano. No caso do IVF, Frei (2003) trabalhou adaptando as informações aos dados que poderiam ser obtidos através de pesquisa de campo, adaptando as dimensões e os indicadores de modo a analisar a vulnerabilidade ao invés do desenvolvimento. Assim trabalhou com sete dimensões: 1) risco familiar; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho; 4) desenvolvimento infantil; 5) carência habitacional; 6) condições de saúde; 7) recursos; e vinte e cinco indicadores, ao invés de quarenta e oito, representativos das carências familiares abrangentes, que vão afetar de forma indireta as condições das famílias da localidade estudada. O Índice de Vulnerabilidade Familiar buscou estudar o reflexo da violência através das desvantagens socioeconômicas e sua consequência na estrutura familiar, vista como um dos sistemas sociais que estabelece padrões morais e de conduta. Um ponto positivo apresentado neste


método é o seu poder discriminatório, onde é possível identificar quais as dimensões que são mais afetadas, o que permite aos gestores públicos uma atenção mais eficaz. O IVF é um método simples e flexível que permite alterações, na inserção ou exclusão de indicadores de forma que se adaptem melhor ao foco da pesquisa, no entanto, exige um escopo técnico grande para aplicação da metodologia em campo, no caso de Frei (2007), foi de 60 monitores para aplicação dos questionários em 3 semanas. Segundo Frei (2007, p. 124): A metodologia necessita de ser revista em alguns pontos, entre eles se destaca a ponderação para determinadas dimensões ou indicadores. A criação de pesos pode ser efetuada através de metodologias estatísticas ou de forma mais subjetiva, mas não menos importante, por consenso entre especialista e sociedade. Fica evidente que a sensibilidade do IVF pode ser ampliada levando-se em consideração o número de eventos em cada indicador. As limitações detectadas pelo autor não diminui a importância e a seriedade da metodologia proposta, como o estudo da vulnerabilidade familiar está em fase de desenvolvimento, necessita de várias aplicações para obter um feed-back, e assim, se conseguir aperfeiçoar não só este método, mas vários outros empregados para esse tipo de estudo. 3. METODOLOGIA 3.1 Bairro de Mangabeira Mangabeira localiza-se na região sul da cidade de João Pessoa (Coordenadas: 07° 10' S, 34° 50' O), foi fundado com o nome de conjunto habitacional Tarcísio de Miranda Burity em 23 de abril de 1983 e foi construído para barrar conflitos sociais ligados aos movimentos populares pela moradia. LAVIERI (1999). É o bairro mais populoso da cidade, com cerca de 70 mil habitantes, tendo uma população equivalente a um município. (IBGE 2010). O nome Mangabeira nasceu da fazenda que existia no local, onde havia uma plantação da fruta. O bairro é subdividido em oito partes, numeradas do I (um) ao VIII (oito). Ocupa uma área


de 1.079 hectares e os números conferem ao bairro grande importância política e econômica. É um bairro vocacionalmente comercial para as classes médias B e C, ficando atrás apenas do centro da cidade em quantidade de comércio e serviços. Possui distribuído em seus limites: duas creches, sete escolas, um hospital e vinte e sete Postos de Saúde Familiar – PSF. 3.2 Levantamento e coleta de dados Os indicadores selecionados foram coletados no levantamento estatístico do IBGE (2010), Sposati (2010), órgãos da Prefeitura de João Pessoa – Secretaria do Desenvolvimento Social e Secretaria da Mulher –, e Fórum Civil do Bairro de Mangabeira. 3.3 Indicadores Selecionados O modelo adotado nesta pesquisa foi baseado no estudo desenvolvido por Frei (2007), que utilizou para a cidade de Assis – SP, sete grandes áreas temáticas e 25 indicadores. Para este estudo foram feitas algumas inclusões e ̸ ou exclusões de áreas temáticas, como também de indicadores – havendo a exclusão da área temática da saúde, usada por Frei (2007) e incluindo a área temática da degradação familiar - e 28 indicadores para uma melhor adaptação aos dados encontrados, tanto do ponto de vista temporal, quanto territorial. Os indicadores trabalhados representam carências familiares abrangentes, igual ao trabalho de referência. Grande Área de Risco Familiar - Esta área indica a necessidade de recursos adicionais para famílias vulneráveis em relação a uma família padrão, porque as quantidades de gestantes, crianças, idosos e adolescentes aumentam o volume de recursos necessários para a satisfação de suas necessidades básicas. 1. Indicadores de Risco Familiar a. Presença de crianças (idade de 0 – 4 anos) b. Presença de adolescente (idade de 5 – 14 anos) c. Presença de adolescentes (idade de 15 – 19 anos) d. Presença de idosos (60 anos ou mais) e. Presença de mulher chefe de família f.

Presença de adolescente grávida

g. Presença de portadores de deficiência física

Grande Área de Acesso ao Conhecimento – Indica a baixa ou nenhuma escolaridade a qual


os componentes adultos responsáveis pela renda familiar estão vulneráveis por não terem um nível de escolaridade que lhes dê oportunidade de trabalho, nas relações comunitárias e compreensão de seus direitos. 2. Indicadores de Acesso ao Conhecimento a. Chefe de família analfabeto b. Presença de adulto analfabeto c. Presença de adulto com 1° grau incompleto

Grande Área de Acesso a Trabalho – Indica a capacidade produtiva familiar e de suprimento das necessidades básicas de vida, como renda e salário remunerado. 3. Indicadores de Acesso ao Trabalho a. Presença de desempregados b. Presença de ocupados no setor informal c. Presença de famílias com renda per capita inferior a 14 ̸ SM d. Presença de famílias com renda per capita inferior a 12 ̸ SM

Grande Área de Desenvolvimento Infantil – Indica o desenvolvimento infantil. O acesso a educação como caminho de evitar o ingresso de Jovens a drogas, violência e reprodução em idade infantil. 4. Indicadores de Desenvolvimento Infantil a. Presença de crianças de 0 a 4 anos fora da creche b. Presença de pessoas de 4 a 14 anos fora da escola c. Presença de pessoa de 14 a 17 anos fora da escola

Grande Área de Carência Habitacional – Indica a carência na dimensão de condições de vida em família, pouco espaço, falta de abastecimento de água tratada, falta de saneamento básico e coleta de lixo, fatores que podem trazer precariedade da saúde dos moradores.


5. Indicadores de Carência Habitacional a. Densidade domiciliar média b. Domicílios não próprios c. Domicílios não conectados com a rede de água d. Domicílios com esgoto inadequado e. Domicílios sem banheiro f.

Domicílios sem coleta de lixo

Grande Área de Degradação Familiar – Indica a vulnerabilidade familiar associada às condições de violência gerada pela conjuntura sócio-econômica educacional. 6. Indicadores de Degradação Familiar a. Porcentagem de usuárias dos Centros de Proteção à Mulher b. Porcentagem de Homicídios de jovens c. Porcentagem Separações e divórcios

Grande Área de Necessidades de Recursos – indica o nível de dependência econômica relacionado a programas de governo, os quais dependem de políticas públicas e de interesses de governantes, aparentando uma contribuição paliativa de renda. 7. Indicadores de Recursos a. Porcentagem de Beneficiários do Programa Bolsa-Família b. Porcentagem de Família que recebe Auxílio PETI - Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil c. Porcentagem de Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada

3.4 Ponderação A ponderação do IVF se deu seguindo os estudos feitos por Frei (2007), o qual trabalhou de forma inversa para cada grande área, desta forma, quanto menor o número de indicadores, maior foi o peso desta mesma área. Neste estudo a ponderação segue que para todas as grandes áreas os pesos são ponderados em relação ao total de indicadores, assim, nas áreas onde há menor número de indicadores, maior é o peso desta mesma área .


3.5 Análise Estatística A análise dos indicadores foi feita utilizando técnicas estatísticas descritivas utilizando o intervalo de confiança de 95% com margem de erro de 3%.

4. RESULTADOS 4.1 Construção do índice Na metodologia de Frei (2007), a construção do índice de vulnerabilidade familiar é feito da seguinte forma: atribuindo o mesmo peso para todos os indicadores de cada componente de uma mesma dimensão; a todos os componentes de uma mesma dimensão e a cada uma das sete áreas temáticas que compõem o índice. Neste estudo foi utilizada a equação abaixo, para definir a vulnerabilidade a partir dos indicadores

[ (∑ ) ] m

V

f=

1 K

escolhidos:

1 ∑n k=1 k

n

Bik

i=1

Onde k denota o número de áreas temáticas (k = 1,2,...,m sendo m=7). Onde nk denota o número de indicadores em cada área temática K. B ik denota o i-nésimo indicador da k área temática.

Quadro 1 – Caracterização e Quantificação dos Indicadores DIMENSÕES

1.Risco Familiar

INDICADORES

VALORES

Porcentagem de crianças (idade de 0 – 4 anos) Porcentagem de crianças (idade de 5 – 14 anos) Porcentagem de jovens (idade de 15 – 19 anos) Porcentagem de idosos (idade acima de 65 anos) Porcentagem de mulher chefe de família

0,07

TOTAL

0,185 0,155

[ (∑ )] m

0,060 0,375

V

f=

1 7

1 ∑7 k =1

V rf =0,022

n

Bik

i=1


Porcentagem de adolescente grávida (* * ) Porcentagem de portadores de deficiência física Porcentagem de mulheres chefes de famílias analfabetas 2. Acesso ao Porcentagem de adultos Conhecimento responsável pelo domicilio com até 3 anos de estudo Porcentagem de adultos chefes de família com 1° grau incompleto Porcentagem de mulheres sem rendimento Porcentagem de responsáveis pelo domicilio 3. Acesso ao sem rendimento Porcentagem de Trabalho responsáveis pelo domicilio com renda inferior a 1 SM Porcentagem de responsáveis pelo domicilio com renda entre 1 SM e 2 SM Porcentagem de crianças de 0 a 4 anos fora da creche 4.Desenvolvimento Porcentagem de criança de 5 a 14 anos fora da escola Infantil

0,150

Porcentagem da densidade domiciliar média Porcentagem de domicílios não próprios Porcentagem de domicílios não conectados com a rede de água Porcentagem de domicílios com esgoto inadequado Porcentagem de domicílios sem banheiro Porcentagem de domicílios sem coleta de lixo Porcentagem de usuárias dos Centros de Proteção à Mulher Porcentagem de

0,039

5. Carência Habitacional

6. Degradação

0,104 0,275

[ (∑ )] m

0,123

V

f=

1 7

1 ∑3 k =1

n

Bik

i=1

V ac =0,032

0,275 0,060 0,055

[ (∑ )] m

V

f=

1 7

0,170

1 ∑4 k =1

n

Bik

i=1

V at=0,0194

0,260

0,800

[ (∑ )] m

V

0,440

f=

1 7

1 ∑2 k =1

n

Bik

i=1

V di=0.094

0,750 0,001 0,250 0,0003 0,012 0,056 0,180

[ (∑ )] m

V

f=

1 7

1 ∑6 k =1

n

Bik

i=1

V ch=0,0254


Familiar

Homicídios de jovens (* * ) Porcentagem Divórcios Litigiosos (* * * )

[ (∑ )] m

0,270

V

f=

1 7

1 ∑3 k =1

n

Bik

i=1

V df =0,024

7. Recursos

Índice

da

Porcentagem de Beneficiários do Programa Bolsa-Família Porcentagem de Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada Porcentagem de Família que recebe Auxílio PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil vulnerabilidade

0,156

[ (∑ )] m

0,085

V

1 7

n

Bik

i=1

V r=0,014

0,005

familiar

f=

1 ∑3 k =1

de

Mangabeira:

m

V f =∑ W k Bk =0,23 k=1

Onde: k denota o número de áreas temáticas (k=1, 2, 3.......7) e onde W k foi considerado igual a 1, porque se considerou que quaisquer uns dos indicadores trabalhados têm a mesma importância no processo de vulnerabilidade das famílias estudadas. Fonte: Sposatti (2010),* * Secretaria do Desenvolvimento Humano (2010) e * * * Fórum Civil do bairro de Mangabeira (2010). O IVF para o bairro de mangabeira é de 0,23. O que pode ser considerado baixo, no entanto, pode-se verificar que as dimensões acesso ao conhecimento e desenvolvimento infantil são as que apresentam valores mais altos, necessitando de maior atenção nas políticas públicas. Sobre outro prisma, mostram que existe um relaxamento da atuação do governo nessas dimensões. Ver gráfico 1. Gráfico 1 – Gráfico dos resultados das dimensões estudadas . Fonte: Elaboração própria


Considerando os conceitos apresentados neste estudo pode-se afirmar que todas as famílias que possuem uma ou mais vulnerabilidade está em risco de degradação familiar, significando que elas necessitam de atenção dos planos de gestão para amenizar ou minimizar seus problemas. A violência urbana e domiciliar é um assunto corrente no bairro, apontando a desestruturação harmônica no seio familiar e social. Essas famílias além de ter problemas econômicos decorrentes das crises do capitalismo se deparam com os problemas de ordem social conseqüentes da exclusão gerada pela sua condição de pobreza e periferização urbana, tais como serviços de saúde, educação e segurança. Apesar de o bairro ter uma boa estrutura comercial e de perspectiva de emprego – já que abriga um setor comercial avançado para a classe média B e C – os equipamentos de saúde, que apesar de estarem presentes no bairro não conseguem atender a demanda da superpopulação, porque também prestam serviços a outros usuários de bairros periféricos próximos que não possuem este tipo de equipamento, devendo ser ponto de observação dos gestores no planejamento urbano municipal. Outro aspecto que reflete na condição de perpetuação da pobreza é a defasagem de equipamentos educacionais para suprir a demanda populacional de crianças e jovens que ficam sem escola ou precisam se deslocar para outros bairros para ter acesso à educação. Esse fator acarreta ainda uma evasão escolar alta, devido ao transtorno com gastos e tempo para o deslocamento, por isso nos indicadores apresentados a porcentagem de crianças e jovens fora da escola se apresentou tão altos. A situação de vulnerabilidade familiar está diretamente associada aos índices de pobreza e da privação gerada pela falta de políticas públicas que busquem solucionar tais problemas de forma mais permanente e menos paliativa, que vislumbre a melhoria da qualidade de vida de forma mais igualitária e mais humana. Desta maneira os riscos sociais geram a vulnerabilidade familiar sendo muitas vezes a causa das separações e divórcios, que por sua vez agravam o risco a pobreza, ocasionando um ciclo vicioso de causa e efeito. Em mangabeira, o indicador de divorcio litigioso apresentou um valor elevado 27,5%, indicando uma grande desagregação familiar conflituosa. Outro aspecto de agravamento da pobreza é o alto grau de membros dependentes economicamente dentro do domicilio. O que faz do alto índice de reprodução um fator preocupante. Pois se observa que, as políticas públicas contribuem para esse agravamento quando estabelece apoio financeiro para famílias que tem crianças em idade escolar, fazendo da procriação um bom


negócio. Por outro lado, a bolsa família não consegue suprir as necessidades de manutenção que as crianças necessitam de vida digna e alimentação e o aumento demográfico traz para a sociedade outros males sociais. Como solução ao problema da vulnerabilidade familiar, este estudo recomenda maior atenção no planejamento estratégico municipal de forma a construir mais creches e escolas no bairro para não criar um ciclo vicioso nas famílias com condições mínimas de oportunidades, pela falta do nível de instrução, e também, permitindo que as mulheres chefes de família possam deixar seus filhos seguros e alimentados quando forem trabalhar. Outra necessidade urgente é a criação de políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo, porque o bairro já apresenta uma forte vocação ao comércio e serviço, o que permitiria uma criação de mais oportunidade de emprego para jovens e adultos. 5. CONCLUSÕES Esta pesquisa não encerra um diagnóstico preciso da vulnerabilidade familiar do bairro de mangabeira, porque as informações trabalhadas enfocam apenas um lado objetivo de análise. Sugere-se que a pesquisa possa continuar para a obtenção de dados que possam abarcar o lado subjetivo da vulnerabilidade familiar como sentimentos e comportamentos dos grupos, ou seja, o lado individual de análise dos membros constituintes da família na situação de risco social para avaliar a resiliência familiar No caso do bairro de Mangabeira, pode ser observado que os grupos familiares que apresentam risco social são aqueles que estão mais vulneráveis a desestruturação. Para complementação e maior segurança no diagnóstico carece uma pesquisa sobre os comportamentos repetitivos dentro da família, que muitas vezes, remete a uma situação de vulnerabilidade, como uso da bebida por algum membro, drogas, que são dados que só podem ser conseguidos na abordagem direta, de casa em casa, e mesmo assim são escondidos, porque sua admissão resulta em vergonha. Numa estrutura familiar onde o risco econômico é mínimo, observa-se que os conflitos estão mais ligados aos fatores de incompatibilidade de sentimentos entre seus membros – marido e mulher, filhos e padrastos ou madrastas, entre irmãos, dentre outros -, esse lado psicológico deve ser levantado para se obter um diagnóstico mais preciso considerando as relações humanas no seio familiar, que é tão importante quanto às relações econômicas, porque traz a harmonização e a busca por objetivos comuns dentro da estrutura familiar. Segundo Vicente (1994), o fato de a família ser um espaço privilegiado de convivência não significa que não haja conflitos nesta esfera. No entanto,


a forma como estes conflitos são trabalhados por seus componentes é que são determinantes para a estruturação da família. Apesar da não abordagem da subjetividade das famílias, o modelo usado nesta pesquisa o IVF, trouxe um diagnóstico urbano-familiar do bairro indicando os aspectos onde a atuação das políticas públicas se faz urgente. Assim este estudo cumpre com seu objetivo, apesar da limitação de espaço e tempo para sua execução. REFERÊNCIAS AMARAL C.C. G. Família às avessas: gênero nas relações familiares de adolescentes. Ed. UFC, Fortaleza. 2001. BARROS, Ricardo Paes de; CARVALHO, Mirela de e FRANCO, Samuel. O Índice de desenvolvimento da família (IDF). TEXTO PARA DISCUSSÃO N° 986. Rio de Janeiro: IPEA. 2003. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Aspectos Conceituais da Vulnerabilidade Social. Brasilia: MTE 2007. Disponível em < http://www.mte.gov.br/observatorio/sumario_2009_TEXTOV1.pdf > acessado em 29 de janeiro de 2012. BECK, U. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In LASH, S. (Ed.). Modernização Reflexiva. São Paulo: Editora Unesp,1997. p. 11-72. CAMARANO, A. A. ; EL GAHOURI, S. Idosos brasileiros: que dependência é essa? In: CAMARANO, A. A.(Ed). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, 1999. p. 281-343. DECHAMPS, M. V. Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metropolitanas Brasileiras. Observatório das metrópoles IPPRU – FASE. Relatório Final enviado ao CNPq. 2009. Disponível em < http://www.observatoriodasmetropoles.ufrj.br/relatorio004_2009.pdf> acessado em 15 de janeiro de 2012. FREI, F. Índice de vulnerabilidade familiar – IVF: mensuração de fatores de risco para a violência. 2007. Disponível em< http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/view/.../679> acessado em 15 de janeiro de 2012; GOMES M. A . Filhos de ninguém? Um estudo das representações sociais sobre família de adolescentes em situação de rua. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. 2005 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br> acessado em 30 de janeiro de 2012.


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Impact of the new national solid waste strategy on waste management in Palmas, Brazil Olivia Marques and Gareth Swift 1 Resumo Neste artigo os autores apresentam um estudo de caso sobre a gestão de resíduos em Palmas – TO, uma cidade de médio porte localizada na região Norte do Brasil. Características do município e da atual logística de gestão de resíduos foram analisados e levados em consideração para proposição de um modelo de gestão baseado na nova politica nacional de resíduos sólidos. Os autores enfatizam a falta de profissionais qualificados que possam operar sistemas complexos de tratamentos, o que levou à proposição de um modelo de gestão a partir de tecnologias baseadas na mão de obra intensiva, já que a ausência de profissionais especializados representa uma barreira para a aplicação de tecnologias mais eficientes e complexas. Como conclusão do trabalho, os autores apresentam um modelo de tratamento baseado em sistemas mecânicos e biológicos com inclusão social de catadores de recicláveis, que é compatível com a recém aprovada Politica Nacional de Resíduos Sólidos. Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos Reciclagem Compostagem Abstract This paper presents a case study of a medium sized city located in northern Brazil, Palmas, which is representative of the current Brazilian demographic trend. Through this case study, factors influencing the successful implementation of the new national solid waste strategy are considered and analysed. The authors emphasise the importance of an abundant, non-skilled labour force that led to the proposal of management model based on labour intensive waste treatment technologies, since the lack of a highly skilled workforce represents a significant barrier to the development of more efficient, but significantly more complex treatment options. At a conclusion it is presented a model of MBT with social inclusion that is compatible with the new National Solid Wastes Policy – NSWP. Keywords: Solid Waste Management, Recycling, Composting

1 Olivia Marque is Senior Consultant at CTE – Centro de Tecnologia em Edificação, e-mail: omarques@cte.com.br; Gareth Swift - Civil Engineering Research Centre, University of Salford, Greater Manchester, United Kingdom


1.0 Introduction This paper considers the current waste management strategy in a medium sized city, Palmas, in the state of Tocantins in Northern Brazil, and how this strategy will be impacted by the new national policy on waste management. The Brazilian Senate recently approved the National Solid Wastes Policy framework (Law No. 12,305/2010) that sets out new rules and regulations regarding solid waste management and the control of open dumps. It provides guidelines on joint and environmentally appropriate management of solid waste, and regulates issues such as joint management, proper allocation and disposal, and shared responsibilities. The main components of the NSWP are: social inclusion, reverse logistics and full treatment of the wastes generated. This case study location is considered a typical urban site of the new Brazilian demographical trend: the migration from coastal areas to the inner agricultural areas (MAD, 2011). According to IBGE (2010), Palmas represents most medium size cities of the Northern frontier of development, such as high population growth rates due to migration from Southern regions, great distances from S達o Paulo, the polarized centre of Brazilian economy, and strong dependence of inter-regional trade flows between North and South regions together with a low share in the Brazilian trade (Magalh達es e Domingues, 2009). This particular situation brings to light some of the issues and barriers that need to be addressed in order to ensure effective implementation of the new national solid residues strategy at local levels. We will describe the geographical setting and current waste management system in order to propose a model for compliance with the new regulation in the field of waste management. 2.0 CASE STUDY: Palmas as a model for medium size cities in Northern Brazil 2.1 Geographical setting Palmas is a planned city created in 1989 as the capital of the newest state of the Brazilian Federation, Tocantins. The city comprises four divisions of the urban centre and five expansions to the southern area. Because of geographic obstacles, the city growth occurs to the southern and northern directions only. This creates a problem to the administration of Palmas, since the extensive north-south dimension of circa 36km makes it expensive to provide sanitation infrastructure such as waste and water collection and treatment (Bazolli, 2007). Despite the fact that the central region


is completely urbanized it has a low population density, which for Carvalho & Braga (2001), raises the per capita cost of infrastructure. The population in 2007 was 178,386 with a density of 80.99 inhab/km2 distributed in urban areas (around 97.69%) and 2.31% in rural areas (IBGE, 2007; IBGE 2000). Data from SEPLAN (Secretariat of Planning) shows that the city had the highest growth rate among Brazilian municipalities with a growth rate of 28.7% between 1991 and 1996 (Finco et al., 2006) and around 5.81%, between 2000/2007, which is higher than the state population growth rate of 1.5% and the national growth rate of 2.1%, but lower than in the previous decade (Rodrigues, 2008). The Gross Domestic Product (GDP) per capita was US$22.10 in 2010. The capital has low industrial development and most of its GDP arises from the government sector of services which differs from Tocantins GDP in which industry, agriculture and livestock have a similar share (IBGE, 2010). Since, the public services are the main economic drivers of Palmas economy. A proposal for management of the town services based on public-private partnerships such as recyclables collectors associations and the municipality could introduce new sources of income and through this diversify and strengthen the economy of Palmas. 2.2 Current waste management system The waste management system is provided by the Secretaria Municipal de Infra-Estrutura e Serviços Públicos through the operation of the MSW facilities and managerial and technical support, and a private company has a contract for the collection of MSW in the urban area. The urban MSW is landfilled without any pretreatment. The amount of waste collected is reported as 136t/day in 2009 an equivalent of 0.784kg/inhabitant/day (ABRELPE, 2009). The generation of residues in Palmas is similar to other capital cities of the North Brazil such as Porto Velho and Rio Branco with an average of 1.051kg/head/day of waste collected per inhabitant, typical of the North Region. The composition of the household waste is shown in Figure 2. The residues presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids which indicates a high level of compostable/digestible material. Pereira (2001) presented a similar result of composition of waste.


Figure 2: Palmas waste composition according to Naval and Gondim (2001). The household waste of Palmas shows a high quantity of glass, plastic and metal when compared to Brazilian waste. According to Santana (2008) this is due to low recovery of materials that could be recycled. The low presence of paper and cardboard results from the presence of recyclables collectors associations that are specialized in this type of material (Santana, 2008). The organic fraction in Palmas is similar to the standard Brazilian composition. According to Naval and Godim (2001), the residues presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids which indicates a high level of compostable/digestible material. The Palmas landfill is located in a rural area around 2km from the surrounding communities (Figure 3). The distance between the landfill and the city centre is around 26km. The landfill started operations in 2001 and receives roughly 130t/day of unsorted MSW (Santana, 2008). All of the volume of waste produced and collected in Palmas goes to this landfill. The residues do not pass through any pre-treatment or selection processes prior to disposal (Finco et al., 2006).


Figure 3: Location of the landfill in the municipality of Palmas-TO (not to scale) According to the Municipality of Palmas, the landfill is a sanitary landfill. This type of landfill uses engineering principles to store the waste with the minimum


volume as possible and covering it with soil at the end of each activity or within shorter periods if necessary as defined by a regulation from Brazilian Standardization Bureau (NBR 8.849 and NBR 8.419). Although the Palmas landfill is limited by fences and it has an administrative building, control of waste at arrival since 2007, engineered lining system, soil coverage, drainage and treatment of leachate on-site and gas drainage, there is no gas recovery, no rainwater drainage system and no recirculation of leachate, which are necessary conditions for a landfill operation according to the regulation above. The residues are covered with topsoil weekly although the regulation requires it to be done at shorter periods, at least daily. Finco et al. (2006) observes that the landfill cannot be considered a sanitary landfill but a controlled landfill where the residues are only covered with topsoil weekly, the operations are hampered by a lack of resources and poorly maintained plant, and workers are at risk of direct contact with hazardous health facilities residues. Finco et al. (2006) state that the landfill could generate around 65.582 tons of CO2 equivalent in ten years (period of 2005 to 2015), corresponding to 65.582 carbon credits in the CDM - Clean Developed Mechanism of the Kyoto Protocol, by reducing 33.606 GgCH4 atmospheric emissions during ten years, and hence, reducing global warming (Finco et al., 2006). The calculation was done following the methane emission IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) methodology revised by Vieira & Silva (2002). In Brazil, this approach of using the CDM in landfills to generate credits of carbon while decreasing the greenhouse gases emitted to the atmosphere is not new. The Bandeirantes landfill that receives half of the waste produced by S達o Paulo, the major Brazilian metropolis, collects the methane produced and generated 20 MWh of electricity since 2003. The project was approved by the Brazilian government in 2005, registered in the IPCC and in 2007 it sold the first part of the credits of carbon (808.450 tons of carbon) to the Fortis Bank of Holland that paid US$21.70 per ton of carbon. The revenue generated was around US$17.5 million shared between the private company responsible for the project and the municipality (Pereira & Gutierrez, 2009). According to data from the National Information System of Sanitation (2007), there are no scavengers in the landfill, but associations for the collection of recyclables in the town have close relationships to the municipality. Currently there are two groups that receive the municipality support for recycling activities, including the location of sites to process the recyclables, training and trolleys: Cooperativa


Mista de Trabalho e Produção de Recicláveis Ltda. (COOPERAN) in the southern region with 250 associates and the Associação de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Região Norte de Palmas (ASCAMPA) with almost 60 associates, according to the Municipal Environmental Secretariat in 2010. The COOPERAN shreds and compresses around 600kg of paper/day, but it does not operate at full capacity due to a lack of materials. The collection system is designed according to the city areas and the routes are determined for groups of blocks (set of residential and commercial areas). The collection service covers 100% of the population. The cost of collection of wastes in Palmas was 87.93 US$/tonne in 2005 (National Information Sanitation System, 2007). Other municipalities such as Rio Branco, capital of Rondonia, that has a similar index of waste collected per inhabitant as Palmas presents a cost of collection of residual waste of US$/tonne 43.64 in 2005 (CEMPRE, 2008). This shows that the cost of collection in Palmas is higher than the cost of other municipalities with similar waste production and population size and this may be due to the urban layout with an extended distance in the north/south direction, because of geographic obstacles. The private company responsible for the residues collection has a five-year concession since 2008. It should be emphasized that a period of 5 years for a company to invest in public education and logistics in the waste collection is not sufficient for a payback period. This may lead to a poor investment in these important areas of the waste management, and consequently to difficulties in introducing new strategies at household level. There is no guidance provided by the company for households regarding separation or storage of wastes, and there are no recycling or recovery facilities; waste is simply collected for disposal to landfill (Finco et al. 2006). 3.0 Proposed strategy for Palmas city The waste management strategy proposed for Palmas emphasizes the segregation between dry and wet residues that must occur at household level with constant public education. There are two integrated different strategies: an MRF model for the recyclables collectors associations to manage the dry residues and an MBT model for the wet residues (Figure 4). It is important to emphasize that it includes the main components of the new NSWP, which are: a)

the priority of recyclables collectors association to work in the reverse logistics,


b)

the inclusion of procedures to compost the organic fraction and

c)

the influence of the reverse logistics in the market of the recyclables.

a)

b)

c)

Figure 4: Flow chart of the household solid residues management proposed for Palmas-TO. This proposal would most probably occur as two separate services: the dry fraction or the recyclables would be managed by recyclables collectors associations with the support of the public sector; and the composting or treatment of the wet fraction would be done via the owner of the public cleaning and waste management services. Since Palmas is organized in small geographical areas, or neighbourhoods – squares with about 500 to 1000 households - this could facilitate the action of


recyclables collectors associations, by organizing and dividing the collection areas among these associations and hence preventing conflicts. In Brazil, in general, recyclables collectors associations are responsible for diverting 560 tons of residues, the majority being paper and cardboard, followed by metals from landfills. This amount is minimum regarding the amount of domestic and public residues: in 2007, around 163.473 tons of residues were landfilled, comprising 67.067 tons of construction and demolition waste, 57.971 tons of domestic and public residues, 36,960 tons of green waste and 1.475 tons of hospital waste (National Information System of Sanitation, 2007). In Palmas, around 5.797 tons could be potentially recycled since Naval and Gondim (2001) accounts 10% of the residues as paper as shown above. The proposed recyclables collection would start with the selection of the materials separated in door-to-door or dropped-in recycling points and further compression for storage. The co-operation of the public is highly important since in this process the willingness of the public is necessary to correctly separate the residues or to move and drop it in the collection points. The materials collected are glass, metal, plastic, some electronic products and predominantly paper. The products are then sold to companies in industrialized regions such as Goiania-GO (around 900km away) and SĂŁo Paulo-SP (around 1,800km away). These long distances have a high influence on the cost of the recyclables and consequently in their attraction as a tradable commodity (PR-TO, 2008). Among the main obstacles, we would point that the recycling market in Palmas is incipient for a range of reasons such as the population habits to deal with its own waste, transport difficulties and cost-benefit of the recyclables. Monteiro et al. (2001) states that the support of the municipal manager for the extraction of the residues by the associations is important because of the public information which is essential in a recycling programme. Door-to-door collection demands a degree of waste segregation at household level which in turn demands environmental education campaigns such as that in which, in the US, Captain Planet, an animated television series, introduced kids to the phrase, “Reduce, reuse and recycleâ€?. As we said above the private company that runs the waste collection probably would not invest in such campaigns because they are less profitable than the current collection based on waste weight.


For Monteiro et al. (2001), the municipality should also provide administrative and financial support which is connected with the ability of elaborating and coordinating recycling programmes by the associations. The Palmas Secretariat of the Environment declared its intention to support a recycling programme implemented by the associations, although it has no intention to elaborate and co-ordinate such a programme. This would provide an additional difficulty because there are few associations in the municipality, but it could be circumvented by cooperation with universities and research centres. Of all these problems, the cost benefit of the recyclable product is offset by the cost of transportation (Parry & Bento, 2001, Knemeyer et al., 2002) of the product that in Brazil is mostly done by road. The storage of the recyclables helps to decrease the cost of transportation although the diversification of transport would be beneficial. The National Transport Logistics Plan aims to increase to up to 29% the share of waterways which is the lowest cost of transportation in Brazil. The National Plan also includes the North-South Railway and the Tocantins-Araguaia waterway as part of the Central-Northern Multi-modal Transport Corridor that will benefit the city of Palmas lowering the cost of transport of goods to other Brazilian regions. On the other hand, the NSRP brings new rules to the waste management such as the inclusion of the private sector initiating reverse logistics, and the prioritization of the formalized recyclables collectors association to work in the loop cycle of the waste management chain. Through this prioritization of recyclables collectors association and the obligation of composting by the municipality or the owner of the service, the NSRP clearly states its preference being a mechanical and biological treatment without energy recovery. Since, Palmas would be in advantage when applying for financial support for the investments needed. The dry and wet segregation at household level represents the ideal share of responsibilities among the various stakeholders according to Gage (1998) and Monteiro et al. (2001), since it is better for the municipal manager to support a recyclables collection programme instead of be responsible for its actions. Currently, the recyclables collection is performed by scavengers or recyclables associations with or without support of the public sector. The dry residues would be collected and go to units similar to an MRF to be processed, the whole process being the responsibility of the recyclables associations. The wet residues would be composted by the municipal manager or the owner of the service in an MBT plant. Although the ‘mechanical


treatment’ is expected to have some mechanical equipment, most of the segregation is likely to be done manually. A dry and wet collection would encourage an aerobic composting that would provide better quality compost product to be used in the agricultural industry within the region. The viability of a composting practice in Palmas was pointed by Silva et al. (2012) that showed that the composting process is faster than in other regions because of the weather which is a point in favour to the aerobic process, according to Silva et al. (2012). The climate in the Tocantins state comprises two definite seasons: the wet season from October to April when almost 90% of the precipitation occurs and the dry season from May to September with rare rain and low air humidity (ANA, 2006). The annual climate regime influences the composition of the waste management both in humidity and total carbon content. The humidity of wastes is slightly higher in the wet season and the total carbon doubles in the dry season according to data from Naval and Gondim (2001). Generally, the higher the humidity the faster is the digestion of compostable materials and generation of leachate. The carbon content indicates the digestible part of the residue and potential for composting or biogas production. As the distribution of rain is unpredictable, and possibly it is influenced by global warming due to greenhouse effects, the management of composting or biogas plants would be increasingly variable during the year. The temperature varies from 24˚C to 35.4˚C, (SEAGRO, 2005 in Marques, 2006). The standard evaporation is around 1,100mm to 1,700mm. The high environmental temperatures increase the velocity of biological reactions and the digestion of compostable materials. It is worth commenting that the NSWP is not the only driver to push the municipal manager to supervise directly or indirectly the solid residues management. In fact, some municipalities have directed efforts for the correct management of wastes before the NSWP was placed, and this should be a spontaneous action of a government that aims towards the sustainability of its city, but this is not a rule in Brazilian administration. For example, the Resolution CONAMA 307 from 2002, regarding the management of construction residues, establishes that all construction and demolition activities should prepare an Integrated Management Plan of Construction Residues monitored by the Municipal Environmental Secretariat which is required since 2004. These activities must follow the guidance of the municipal integrated management plan which should had been done since 2004 and does not


exist in 2013 according to the Municipal Secretariat of the Environment and the Municipal Secretariat of Infra-Structure of Palmas. Similarly, the National Solid Residues Policy requires the elaboration of a municipal management plan of solid residues which raises a question on the capability of the municipal managers to produce this document since the Municipality was not able to follow the prescription of Resolution CONAMA 307. Now there is high expectation regarding the new municipal, state and national plans which can be the next step for an integrated waste management of solid residues to be implemented in most of municipalities including Palmas. These plans, together with other actions required by the NSWP will support the strategy proposed for Palmas that is similar to strategies already in place in other Brazilian municipalities. Nevertheless, while many Brazilians appreciate the environmental benefits of recycling, this is not a major driver in Brazil. Instead, the economics is the main driver of the policies and actions of governments and organizations (Barlaz & Loughlin, 2003). 4.0 CONCLUSIONS For the reasons stated above, especially the lack of skilled work for complex treatment options, the lack of funds for expensive options and the abundance of lowskilled workers, mechanical and biological treatment is recommended in Palmas, utilising the human resources as collectors of the dry waste – in associations to strengthen the social gains and to reduce poverty, and providing composting techniques for the wet residue through public-private partnerships. The Brazilian NSRP encourages composting and recycling by recyclables collectors association and this is consonant with the concept of mechanical and biological treatment. It is possible, therefore, to conclude that MBT is compatible with the new National Solid Residues Policy – NSWP. However the procedures would have to be considerably different to those treatment technologies applied in Europe. Changes should be made throughout the waste management chain regarding environmental education and the introduction of social and environmental responsibility in the production sector, among others. The market, public willingness and costs are disadvantageous in Palmas, even though they were managed by other municipalities with recycling schemes in Brazil and hence this cannot be used as an excuse.


ACKNOWLEDGEMENTS The authors acknowledge the assistance and suggestions offered by Dr Paula B. Morais. 5.0 REFERENCES ABRELPE - Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2009) Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo: ABRELPE. ANA – Agência Nacional de Águas. (2006) “A região hidrográfica dos rios Tocantins e Araguaia.” http://www.ana.gov.br/GestaoRecHidricos/PlanejHidrologico/pbhta/PlanoEstrategico deRecursosHidricos/CaracterizacaodaRegiaoHidrograficaTocantins-Araguaia.pdf (Accessed in 22/10/2008) Barlaz, M. and Loughlin, D. (2003) Strengthening Markets for Recyclables: a Worldwide Perspective Brazil. Alexandria VA: Environmental Research and Education Foundation. Bazolli, J. A. (2007) Os Efeitos dos vazios urbanos no custo de urbanização da Cidade de Palmas – TO. Dissertação de Mestrado. Palmas: Universidade Federal do Tocantins - UFT, Pós-Graduação em Ciência do Ambiente. Carvalho, P. F. de; Braga, R. (2001) Perspectivas de Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio Claro: LPM-UNESP. Finco, M. V. A., Valadares, M. De B., Silva, M. A. Da. (2008) “Gestão de resíduos sólidos na cidade de Palmas/TO: contribuições ao mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL)”. Revista Carbono Social. Vol. 2, No. 1. Gage, Ian. 1998. “The effect of the method of household containment on solid waste management.” In: Elizabeth Thomas-Hope (org.) Solid waste management: critical issues for developing countries. Kingston: Canoe Press. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). “IBGE cidades.” http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1(Accessed in 5/08/2010) IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) “Resultados do Censo 2010”. http://www.censo2010.ibge.gov.br/resultados_do_censo2010.php(Accessed in 21/08/2010). IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007) “Contagem da População 2007”. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/ (Accessed in 5/08/2010).


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Responsabilidade Social Empresarial: estudo de caso do processo de reciclagem do Pão de Açúcar Camila Leite* Julia Affonso** Orientador: Marcos Bernardino de Carvalho

RESUMO Com o advento da noção de Responsabilidade Social Empresarial frente as questões ambientais, verifica-se que diversos segmentos empresariais se apropriam do termo como forma estratégica para se promover e elevar-se no mercado, aumentando sua competitividade e atraindo stakeholders. Dessa forma o presente trabalho busca averiguar o real comprometimento da rede de supermercados Pão de Açúcar com a sociedade através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem, assim como averiguar a política de transparência e de Responsabilidade da mesma.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Marketing, Transparência. INTRODUÇÃO A gravidade das questões ambientais mostra a necessidade de estudos que vise ao estabelecimento de verdades a respeito do tema. A problemática relacionada à produção de lixo é unânime no mundo e a existência de uma solução prática também. Entretanto, especificamente no Brasil, é notável a falta de uma política pública eficaz para a reciclagem de resíduos. Ao mesmo tempo observa-se um crescente movimento de empresas privadas autodenominadas responsáveis que se apropriam dessa abstenção do Estado alegando resolver o problema. Uma das empresas que atuam nesse sentido é o Grupo Pão de Açúcar (GPA), importante rede varejista que se coloca como empresa responsável social e ambientalmente. Tendo a gestão ambiental como um dos pilares mais divulgado e conhecido, o GPA integrou a sustentabilidade à gestão de negócio como eixo estratégico. Dentre suas diversas ações está a coleta seletiva de lixo em algumas unidades das redes de supermercados. Porém, poucas informações são disponibilizadas ao consumidor, que confia na empresa e deposita ali seus resíduos acreditando ter solucionado o problema. Mas até que ponto este problema tem sido de fato solucionado?

*Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo camila.leite@usp.br ** Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo julia.affonso@usp.br


Em um período em que se procura associar o modelo capitalista de desenvolvimento a ações socioambientais que promovam e maximizem a imagem do empreendedor, é relevante uma visão crítica e a verificação da efetivação de suas ações. Nesse contexto, a rede de supermercados Pão de Açúcar é um exemplo de corporação que procura elevar-se no mercado a partir da autodenominação como empresa sustentável e responsável sócio-ambientalmente. Desse modo fez-se necessário averiguar o comprometimento desta com a sociedade através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem. Frente a isso, estudantes de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP) se juntaram para investigar a questão através de um estudo de caso. Utilizando o método PBL (Problem Based Learning - Aprendizado Baseado em Problemas) partiu-se da seguinte questão: “Qual a efetividade do processo de reciclagem realizado pela rede Pão de Açúcar de supermercados?”. Para tal, realizou-se levantamento bibliográfico, entrevistas e pesquisas de campo investigativas. Em primeiro lugar procurou-se o Grupo Pão de Açúcar para obtenção de dados e informações sobre o processo de reciclagem e em seguida realizou-se as pesquisas de campo investigativas, eixo central norteador da pesquisa, onde se seguiu três caminhões de coleta aleatoriamente. Esse método serviu como base de referência para o estabelecimento da veracidade das informações disponibilizadas pela empresa.

DESENVOLVIMENTO Responsabilidade Empresarial Frente o quadro de intensa degradação ambiental deu início ao surgimento de um conjunto coordenado de atividades e responsabilidades pelo governo, indústria e consumidores, amplamente pressionados por setores da sociedade, no sentido de reduzir os impactos gerados pelas atividades humanas. Com o passar do tempo, a questão ambiental foi sendo cada vez mais inserida na gestão empresarial, como demonstra a evolução da postura empresarial sobre a questão ambiental na Figura 1.


Fig.1: Evolução da postura empresarial sobre a questão ambiental. Nagan et al (2009).

O termo Responsabilidade Social Empresarial (RSE) surgiu no final da década de 90 com o advento da noção de desenvolvimento sustentável e consiste na “forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais” (Instituto Ethos, 2009). Nesse sentindo, RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios, e muitas empresas passaram a adotar a filosofia e práticas TBL (triple bottom line), que engloba as questões sociais, econômicas e ambientais, já citadas dentro de RSE. No entanto, muitas vezes a preocupação com a dimensão ambiental e com a sustentabilidade surge apenas em prol da questão financeira e econômica. De acordo com HART & MILSTEIN (2003), existem inúmeros fatores motivadores da sustentabilidade empresarial. O principal deles é a crescente industrialização que tem impactos em grande escala. Em seguida, se tem a proliferação e interligação dos stakeholders, em que as empresas são pressionadas a atuar de forma transparente e responsável pelo gerenciamento de produto pela integração da perspectiva dos stakeholders nos negócios. Por fim, o intenso aumento populacional e a expansão da pobreza e das desigualdades sociais tornam necessária a alteração do atual modelo de produção e consumo, de modo que todas as necessidades sejam atendidas e a evitar um colapso do sistema natural.


No entanto, frente a tudo isso, as empresas aderem aos valores de sustentabilidade por outros motivos, associados a objetivos internos, na medida em que se busca maximizar os lucros e minimizar os riscos, e externos à empresa, ligado ao marketing empresarial. As empresas também possuem fatores motivadores ligados a objetivos no curto e no longo prazo. No curto prazo, busca–se adquirir reputação e legitimidade pelos clientes, assim como a redução de custos e riscos. Já no longo prazo, busca-se o caminho para o crescimento, inovação e reposicionamento no mercado. De acordo com o Instituto Ethos (2009), OSCIP com foco na gestão de negócios socialmente responsáveis, a competitividade das empresas não está mais somente nos preços e na qualidade dos seus produtos e serviços. No atual cenário as empresas devem investir e arcar com as responsabilidades e relações com seus fornecedores, acionistas, funcionários, clientes e comunidade na qual estão inseridas. Vender e/ou fabricar produtos e serviços que não degradem o meio ambiente, promover projetos e ações sociais e incentivar o desenvolvimento da comunidade onde está inserida são pontos essenciais na conquista de clientes e consumidores. Há uma melhora no reconhecimento da empresa, maior competitividade no mercado, além de contribuição com o desenvolvimento da sociedade. Dessa forma o fluxo rumo à Responsabilidade Empresarial vem crescendo cada vez mais no Brasil (INSTITUTO ETHOS, 2003). Para que uma empresa exerça a RSE faz-se necessário apropriar-se de alguns critérios essenciais que são classificados em sete grandes áreas: direitos humanos, direitos das relações de trabalho, proteção das relações de consumo, meio ambiente, ética e transparência, diálogo e planejamento com stakeholders e governança corporativa. Ao assumir uma postura comprometida com a RSE as empresas se tornam grandes influenciadoras de uma mudança ou estagnação cultural, uma vez que contribuem para a construção da sociedade de consumo atual. Segundo pesquisa “Ação Social das Empresas” do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), aproximadamente 465 mil empresas no país agem de acordo com a RSE. Dentre as empresas brasileiras que adotam tal postura e que também são associadas ao Instituto Ethos estão algumas que contribuem com 20% do PIB brasileiro, como Abril S/A, Petrobrás S/A e o Grupo Pão de Açúcar (TREVISAN, 2002). O Grupo Pão de Açúcar (GPA), importante rede varejista, que “vem se destacando cada vez mais no sentido de seguir as diretrizes da RSE, tendo a gestão ambiental como um dos pilares mais divulgado e conhecido. A sustentabilidade foi integrada à gestão de negócio do GPA como eixo estratégico, de modo a inserí-la em todas as definições de políticas e


linhas de ação através da compreensão dos impactos econômicos, sociais e ambientais sobre seus stakeholders, além da adoção de programas, projetos, práticas e ações que permitam garantir o equilíbrio desses três aspectos no presente e no futuro” (GRUPO PÃO DE AÇÚCAR, 2010).

Markentig social e verde Estratégia utilizada nas vendas, comunicação e desenvolvimento do negócio, o marketing social e verde são duas ferramentas que contribuem para a divulgação e promoção das empresas que atuam com a responsabilidade social e ambiental. Enquanto o marketing social visa as ações no âmbito social, indo do desenvolvimento local a questões de destaque global, o marketing verde tem como foco a sustentabilidade pela adoção de práticas sustentáveis, como gestão de resíduos e inclusão de produtos de baixo impacto ambiental no empreendimento, demonstrando para os clientes atuação consciente e responsável por parte da empresa. Sendo assim as empresas utilizam estas ferramentas para se diferenciarem no mercado competitivo, estimulando suas vendas. Simultaneamente a imagem institucional também é valorizada e a empresa obtêm maior reconhecimento. Agregar valores e conceitos aos produtos e serviços tem sido a estratégia adotada pelo setor empresarial para aumentar a competitividade e sua participação no mercado, com busca a atrair os steakholders inseridos em uma sociedade que exige cada vez mais ações sustentáveis e responsáveis. Frente a isso torna-se indispensável verificar a precisão e a fidedignidade na adoção e uso de tais ferramentas e averiguar o real comprometimento e responsabilidade das empresas no que tange as questões socioambientais. Muitas empresas se utilizam do marketing social e verde com o intuito de obter um diferencial competitivo e promover-se, podendo não existir uma real preocupação e efetivação das ações, programas e projetos divulgados. Grandes empresas têm um papel importante na sociedade, uma vez que direta ou indiretamente suas decisões e ações possuem potencial impactante. É importante que estas empresas tenham um aspecto ético envolvido em suas escolhas, levando em conta o que será refletido na sociedade. Para orientar as ações empresariais utiliza-se o Código de Ética como instrumento. Esse é o caso do Grupo Pão de Açúcar, cujo Código de Ética possui um item especifico para meio ambiente, onde é explicitada a responsabilidade com a questão.


Transparência A transparência empresarial surgida há meio século é um fenômeno social que ganhou força nessa última década e se tornou essencial às organizações, “uma espécie de virtude inevitável, por decorrência dos costumes democráticos e das facilidades de acesso à informação” (CHAPARRO, 2000). Uma organização transparente é aquela aberta ao diálogo e com bom relacionamento com a sociedade, associados, acionistas, clientes, fornecedores e funcionários, que estabelece canais de comunicação com estes, buscando se adaptar às novas demandas, rever ações e estratégias inadequadas aos seus públicos e incorporar sugestões dos mesmos. “A organização transparente prioriza o atendimento, favorece o contato e, sob nenhuma hipótese, manipula dados ou informações, com o objetivo de conseguir vantagens. Ela pratica como diz o mercado, o jogo limpo” (BUENO, s/ ano). As organizações que não estabelecem essa transparência e não se comunicam com os grupos de interesse ligados a ela, “ou tem pouco pra contar ou tem muito pra esconder. Em qualquer um dos casos, ela estará em desvantagem no mercado” (BUENO, s/ ano). Por outro lado, ao adotarem a transparência, “devem ter cuidados redobrados com a coerência. Coerência entre o dizer e o agir, entre o que anunciam e o que vendem, entre o que fazem hoje e o que fizeram ontem, entre os compromissos públicos e as ações particulares” (CHAPARRO, 2000) Nesse sentido, considerando o Grupo Pão de Açúcar, foco da presente pesquisa, o qual afirma prezar pela transparência em todas as suas formas de negócio em respeito à sociedade (GRUPO PÃO DE AÇUCAR 2010, p. 75), pecou em sua política de transparência quando solicitadas informações sobre o processo de reciclagem realizado nos supermercados da rede Pão de Açúcar. Quando solicitada autorização ao Grupo Pão de Açúcar para a obtenção de dados e informações pela BR+10, empresa terceirizada responsável pela gestão do lixo dos supermercados da rede Pão de Açúcar, esta foi concedida, porém com certa resistência e restrições a alguns itens. Os itens solicitados foram: 1. Nomes, contatos e localizações das cooperativas parceiras 2. As lojas em que cada cooperativa atua 3. A quantidade de lixo recolhido diariamente ou mensalmente pelo Pão de Açúcar em São Paulo e no Brasil 4. O tipo de material mais coletado pelo Pão de Açúcar em São Paulo e no Brasil


5. As lojas do município de São Paulo que recebem mais lixo, suas respectivas quantidades e tipo de material predominante 6. O destino dado ao material após a reciclagem As restrições não foram especificadas, no entanto, dentre as perguntas feitas, algumas não foram respondidas, completa ou parcialmente. Em resposta ao item 3, foi enviada uma tabela com os dados presente no anexo 1. O item 4 foi respondido com o seguinte gráfico:

Fig.2: Gráfico com a classificação do tipo de material recebido pelas lojas Pão de Açúcar. Fonte: BR+10 O item 6 não foi respondido enquanto o item 1 foi parcialmente respondido, apenas com informações referentes aos nomes das cooperativas e seus respectivos responsáveis. Quanto ao item 2 a resposta dada não acorda com o verificado posteriormente na pesquisa de campo investigativa. De acordo com a BR+10 seria feito um rodízio contínuo de cooperativas e lojas para evitar roubos e vícios de coleta, mas isso não ocorre nas lojas Cerro Corá e Panamericana, onde a coleta é feita sempre e apenas pela Cooperativa Viva Bem. Esta por sua vez só coleta lixo dessas duas lojas e de mais nenhuma. Portanto não foi verificado rodízio em duas das três lojas estudadas, sendo que na terceira não foi identificada a cooperativa atuante. Diante a discussão anterior fica evidente a falta de coerência do Grupo naquilo que dizem e fazem. Ao restringir o acesso à informação o Grupo falhou em sua política de transparência, o que nos leva a supor que possui coisas a esconder, as quais provavelmente não condizem com sua auto-imagem de empresa sustentável, responsável social e ambientalmente.

Perseguições e reflexão No dia 4 de novembro chegou-se na loja Cerro Corá do Supermercado Pão de Açúcar, na Rua Bairi, 435, Zona Oeste de São Paulo, por volta das 15 horas. No local havia três funcionários da Cooperativa Viva Bem, identificáveis pelo uniforme, e dois deles terminavam


de fazer o carregamento em um caminhão do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura de São Paulo (Limpurb). Conversando com um dos funcionários descobriu-se que o lixo seguiria direto para a cooperativa localizada na Marginal Tietê, onde todo o lixo seria de fato reciclado, fato justificado pela grande quantidade de trabalhadores dedicados a essa função no local. Terminado o carregamento, o caminhão seguiu caminho à Marginal Tietê e durante o percurso perdeu-se o caminhão de vista. Isso ocorreu na Rua Botocudos localizada a 2 km da cooperativa na Rua Embaixador Macedo Soares (Marginal Tietê) de acordo com o Google Maps, o que leva a crer que o material estava tendo destinação correta. No dia 5 de novembro foi-se ao Supermercado Brigadeiro Luis Antônio, localizado em rua de mesmo nome e número 3172, também na Zona Oeste de São Paulo, às 11 horas, horário em que o caminhão da Limburb deixava a loja, junto com dois funcionários também da Limpurb identificados pelo uniforme. O caminhão seguiu para o Pão de Açúcar da Av. Conselheiro Rodrigo Alvez onde permaneceu por uma hora fazendo o carregamento. Saindo de lá, o caminhão seguiu para Avenida do Estado, 300 onde entrou em um grande estabelecimento. Não se sabia o que era, mas viam-se diversos caminhões de lixo, tanto da Limpurb quanto da Loga em fila para entrar e uma montanha de lixo no lado de dentro. Dois funcionários na entrada do local forneceram a informação de que o local consistia em um aterro e que o material reciclado passava por lá apenas para ser pesado e seguia para a cooperativa. Mais tarde pesquisando na internet descobriu-se que o local tratava-se de uma Estação de Transbordo chamada Ponte Pequena, “pontos de destinação intermediária dos resíduos coletados na cidade, criados em função da considerável distância entre a área de coleta e o aterro sanitário”, de acordo com site da Prefeitura de São Paulo. No domingo dia 13 de novembro de 2011 chegou-se no Supermercado Pão de Açúcar na Avenida Professor Alfonso Bovero, 1425 – Perdizes, Zona Oeste de São Paulo às 12h30 aproximadamente. Ao aproximar-se do ponto de coleta seletiva instalado no estacionamento deste, havia um caminhão da empresa Limpurb sendo abastecido com os resíduos por três funcionários, sendo um deles do próprio Pão de Açúcar e os outros dois da Limpurb, identificáveis também através de seus uniformes. Em conversa com estes três funcionários foi possível saber que realizavam este serviço de terça e sábado e que este domingo era uma exceção e, antes desta parada neste mesmo dia pela manhã haviam feito o mesmo trabalho (recolhimento de resíduos para reciclagem) no Supermercado Pão de Açúcar da Praça Panamericana, 217 – Alto de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo e ainda que levariam todo o resíduo recolhido para a Avenida do Estado.


Por volta das 13h00 já haviam carregado tudo para dentro do caminhão e os dois funcionários da Limpurb seguiram com o seu caminho até a Avenida do Estado, como dito. Em 40 minutos chegaram ao Transbordo Ponte Pequena. Diante disso, ligou-se no Transbordo Ponte Pequena, cujo telefone é disponibilizado no site da Prefeitura, para averiguar os fatos. Em primeira ligação perguntou-se somente se todo o lixo que chegava ali ia para o aterro e a pessoa que atendeu o telefonema afirmou que sim. Já em outra ligação buscou-se informações sobre o lixo reciclado que chegava ao local e a pessoa disse que esse tipo de material só era pesado no local e seguia para as cooperativas que faziam o trabalho de reciclagem. Cabe aqui ressaltar que dentro do Transbordo Ponte Pequena também atua uma Cooperativa chamada Coopere. No entanto de acordo com dados fornecidos tanto pela empresa BR+10 (Anexo 2) quanto pela Cooperativa Coopere, essa empresa não recolhe lixo das lojas da rede Pão de Açúcar. Analisando as informações fornecidas pela BR+10 a respeito do processo de reciclagem, o lixo deixa o ponto de coleta voluntária das lojas e, via logística de coleta, segue para um ponto de triagem e, em seguida, para as indústrias recicladoras que correspondem ao destino final (Figura 3).

Fig. 3: Ciclo do programa de reciclagem segundo a empresa BR+10 responsável por essa gestão dentro dos Supermercados Pão de Açúcar


No entanto, segundo informações fornecidas por funcionário da BR+10, a coleta do material é feita pelas próprias cooperativas, que levam o lixo para os centros de triagem localizados dentro de suas cooperativas. Veem-se então algumas informações contraditórias, pois obtive-se pessoalmente a informação de que em três supermercados (Av. Alfonso Bovero, Pça. Panamericana e Av. Brigadeiro Luis Antônio) quem estava fazendo a coleta do material era a Limpurb e não a cooperativa. Além disso, esses resíduos foram encaminhados ao transbordo, ponto anterior do encaminhamento para aterros, e não para as cooperativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos fatos ficam evidentes contradições e divergências entre as informações fornecidas e aquilo que se observou. A trajetória do trabalho foi marcada por grandes inconsistências que não podem ser ignoradas, uma vez que a empresa Pão de Açúcar é um supermercado de grande atuação em todo o Brasil e, portanto contribui e é influenciador do comportamento e do consumo da sociedade atual. Nesse contexto cabe um questionamento e reflexão sobre a atuação do Grupo Pão de Açúcar (GPA) quanto à sua política de transparência e de responsabilidade sócio ambiental, visto que a empresa busca se elevar no mercado a partir dessa autodenominação de empresa responsável, o que traz aspectos positivos para sua imagem e na captação de clientes. É de extrema importância que o GPA detenha todas as informações sobre o processo de coleta seletiva mesmo que o serviço seja transferido às empresas terceirizadas (BR+10 e cooperativas), afinal isso faz parte da responsabilidade do grupo para com seus clientes e a sociedade na medida em que ele se apropria do processo, tendo como obrigação acompanhálo até o fim. É preciso se apropriar do processo de forma efetiva e buscar pela concretização deste, indo de encontro com o prometido e esperado pelos envolvidos. Ressalta-se também a importância dos clientes e da sociedade envolvidos nesse processo. Estes não devem simplesmente depositar lá os seus resíduos acreditando terem solucionado o problema, e sim buscar informações sobre o caminho percorrido para efetivação da reciclagem, acompanhando o processo até o fim, de forma a exercer verdadeiramente sua postura de consumidor consciente.


REFERÊNCIAS BUENO, Wilson da Costa. “A Transparência na Comunicação Empresarial”. http://www.comunicacaoempresarial.com.br/comunicacaoempresarial/artigos/comunicacao_c orporativa/artigo7.php (consultado em 07/11/11) CHAPARRO, Manuel Carlos (2000). “Idéias sobre Comunicação Empresarial”. In: Revista Comunicação Empresarial n. 16. GRUPO PÃO DE AÇÚCAR (2010). Relatório Anual e de Sustentabilidade. HART, S. L., MILSTEIN, M. B. (2003). “Creating sustainable value”. In: Academy of Management Executive, Vol.17, No 2. INSTITUTO ETHOS. Manual de incorporação dos critérios essenciais de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo, 2009. INSTITUTO ETHOS. Responsabilidade Social Empresarial para Empresas – Passo a Passo. São Paulo, 2003. NAGAN, M.S., MERLO, E.M., JUNIOR, S.S.B (2009). “Um estudo comparativo das práticas de logística reversa no varejo de médio porte”. Revista da Micro e Pequena Empresa, v.3, n.1. TREVISAN, F. A (2002). “Balanço Social Como Instrumento De Marketing”. RAEeletrônica, Volume 1, Número 2.


Anexo 1: Volume médio mensal coletado por loja, cuja analise proporciona conhecimento das lojas com maior e menor volume de materiais doados pelos clientes Nº

LOJA

REGIONAL

MÉDIA

1

PA

1218

304 / 305 Sul

Brasília

1.568,1

2

PA

0310

516 Sul

Brasília

2.991,9

3

PA

2384

Abílio Soares

Norte Paulista

4.420,5

4

PA

2372

Águas Claras

Brasília

2.327,3

5

PA

0006

Alfonso Bovero

Oeste

9.734,3

6

PA

1222

Alphaville

Jardins Morumbi

1.555,4

7

PA

2381

Alphaville Residencial

Jardins Morumbi

1.796,0

8

PA

1017

Ana Rosa

Norte Paulista

5.389,6

9

PA

122

Araçatuba

Interior

2.799,2

10

PA

2450

Araujo Leite

Interior

1.966,5

11

PA

2383

Baby Bassitt

Interior

2.209,9

12

PA

2465

Barão de Itapura

Campinas / Vale

4.461,2

13

PA

1293

Barão Geraldo

Campinas / Vale

3.561,5

14

PA

1295

Barra da Tijuca

Rio de Janeiro

1.830,5

15

PA

1758

Bartolomeu de Gusmão

ABC - Litoral

2.080,5

16

PA

2370

Batel

Paraná

1.741,1

17

PA

1284

Bessa

Pe E Pb

18

PA

1201

Borba Gato

Sul

15.362,4

19

PA

2481

Botucatu

Interior

17.701,0

20

PA

0061

Brooklin

Sul

9.101,5

21

PA

2374

Buena Vista

Ceará

1.639,2

22

PA

0037

Cambuí

Campinas / Vale

6.659,7

23

PA

1273

Campos do Jordão

Campinas / Vale

3.349,1

24

PA

0150

Cardoso de Almeida

Oeste

10.290,3

25

PA

2461

Carneiro da Cunha (Saúde)

ABC - Litoral

4.994,5

26

PA

2318

Casa Verde

Norte Paulista

9.950,7

27

PA

0026

Castelo

Campinas / Vale

3.304,0

28

PA

2352

Cerro Corá

Oeste

18.059,6

29

PA

2369

Champagnat

Paraná

1.723,5

30

PA

1704

Clodomiro Amazonas

Jardins Morumbi

16.848,1

31

PA

1253

Cocó

Ceará

1.944,9

32

PA

2382

Dom Severino

Teresina

1.838,5

33

PA

2464

Dr. César

Norte Paulista

10.693,2

34

PA

143

Dr. Sattamini

Rio de Janeiro

1.644,0

35

PA

1743

Epitácio Pessoa

ABC - Litoral

6.482,5

36

PA

0255

Fatima

Ceará

1.845,0

37

PA

2468

Figueiras

ABC - Litoral

2.082,6

38

PA

1724

Fiúsa

Interior

2.861,6

39

PA

1290

Granja Viana

Jardins Morumbi

48.742,1

40

PA

1602

Guará I

Brasília

2.887,9

41

PA

1768

Guatas

Norte Paulista

10.919,4

42

PA

1205

Ibirapuera

Sul

3.670,0

43

PA

1640

Ingá

Rio de Janeiro

44

PA

1002

Itú

Interior

3.776,9

45

PA

2336

Jabaquara

ABC - Litoral

6.100,9

603,2

769,6


46

PA

2449

Jardim Estoril

Interior

3.224,6

47

PA

0001

Jardim Paulista

Jardins Morumbi

12.545,6

48

PA

0009

Jardim Paulistano

Jardins Morumbi

15.491,7

49

PA

1269

Jardim Social

Paraná

1.665,3

50

PA

1204

Joaquim Floriano

Jardins Morumbi

13.669,1

51

PA

1252

Júlio Ventura

Ceará

1.741,0

52

PA

1230

Lago Norte

Brasília

3.203,3

53

PA

0304

Lago Sul

Brasília

7.754,2

54

PA

2457

Lavandisca

Sul

5.023,2

55

PA

2385

Loja Verde Indaiatuba

Interior

8.336,0

56

PA

2435

Maracatins

Sul

6.871,9

57

PA

0185

Maranhão

Oeste

9.126,1

58

PA

2380

Maria Amália

Norte Paulista

11.952,1

59

PA

2474

Marilia

Interior

4.949,8

60

PA

1283

Miramar

Pe E Pb

61

PA

1221

Moema

Sul

62

PA

2333

Mons. Silva Barros

Campinas / Vale

3.120,1

63

PA

1292

Morumbi

Jardins Morumbi

38.074,2

64

PA

1257

Mucuripe

Ceará

1.165,4

65

PA

1004

Náutico

Ceará

1.496,4

66

PA

1291

Nova Cantareira

Norte Paulista

18.591,9

67

PA

2332

Nova Santos

ABC - Litoral

4.392,0

68

PA

2484

Ourinhos

Interior

2.183,2

69

PA

0039

Pacaembu

Oeste

7.530,3

70

PA

1770

Padre Antonio

Sul

6.361,1

71

PA

1722

Panamby

72

PA

2377

Parnamirin

Pe E Pb

73

PA

0146

Paróquia

Rio De Janeiro

836,4

74

PA

1231

Pedroso

Norte Paulista

4.690,3

75

PA

2329

Piracicaba

Interior

3.835,9

76

PA

1216

Portal

Jardins Morumbi

20.133,9

77

PA

1207

Praça Panamericana

Oeste

23.304,3

78

PA

0189

Proença

Campinas / Vale

4.027,7

79

PA

1299

Real Parque

Jardins Morumbi

20.474,2

80

CB

0183

Rebouças

Oeste

3.558,9

81

CB

1297

Rep. Argentina

Paraná

2.049,1

732,5 12.514,9

3.138,8 2.068,7

82

PA

1021

83

PA

1717

Ribeirão Preto / Independência Ricardo Jafet

ABC - Litoral

81.470,3

84

PA

1294

Rosa E Silva

Pe E Pb

2.324,2

85

PA

1026

Rubem Berta

Norte Paulista

5.786,4

86

PA

2462

Santa Filomena

ABC - Litoral

7.016,9

87

PA

0116

Santana

Norte Paulista

8.413,0

88

PA

0170

Santo Amaro

Sul

13.711,8

89

PA

0018

Santos

ABC - Litoral

4.062,0

90

PA

2469

São Caetano do Sul

ABC - Litoral

8.258,2

91

PA

0225

São Cristovão

Teresina

1.520,4

92

PA

2375

São Gerardo

Ceará

1.014,5

93

PA

1220

São João

Ceará

3.920,1

94

PA

2402

São Jose do Rio Preto

Interior

2.364,8

95

PA

1774

São Sebastião

ABC - Litoral

Interior

6.406,2

496,0


96

PA

205

São Vicente

ABC - Litoral

1.406,8

97

PA

1214

Sócrates

Sul

14.649,4

98

PA

1296

Sudoeste

Brasília

5.903,3

99

PA

0062

Sumaré

Oeste

6.270,8

100

PA

2378

T63 Pão de Açucar

Brasília

1.282,8

101

PA

2379

Tamandaré

Brasília

1.359,6

102

PA

1289

Tatuapé

Norte Paulista

17.843,7

103

PA

0186

Taubaté Independência

Campinas / Vale

3.572,5

104

PA

2354

Tejereba

ABC - Litoral

3.315,0

105

PA

2349

Teodoro

Oeste

19.488,3

106

PA

2053

Vila Clementino

Sul

7.108,9

107

PA

2068

Vila Romana

Oeste

4.468,3

108

PA

1298

Virgílio Távora

Ceará

2.255,1

109

PA

1233

W3 Norte

Brasília

3.204,6

110

PA

2409

Washington Luis

Sul

36.649,6

111

PA

1668

Jd. Oceânico

Rio de Janeiro

112

PA

1878

Souza

Campinas

3.245,2

113

PA

Augusto Tolli

São Paulo

1.443,4

370,9

Anexo 2: Cooperativas beneficiadas com a gestão do lixo dos Supermercados Pão de Açúcar

NOME FANTASIA

CONTATO

CIDADE

U.F.

ACREPON ASCAJAN AVEMARE COMAREI COOPAGRES COOPAMARE COOPCICLA COOPERAÇÃO COOPERBEN COOPERCAPS COOPERCIAL COOPERLAGOS

Silvia / Helena Liana Isabel/Claudilene Dárcio Maria José Célia Altanir Neilton Marcelo Sandra Verônica/Vânia João

Araçatuba Fortaleza Santana de Parnaíba Itú Recife São Paulo ABC São Paulo ABC - Litoral São Paulo São Vicente São José do Rio Preto

SP CE SP SP PE SP SP SP SP SP SP SP

COOPERLIMPA

José Lacerda

Diadema

SP

COOPERMYRE COOPERNOES COOPERSUSS COOTRACIL COTRAMAT DOE SEU LIXO EMAÚS GRANJA JULIETA MÃO A MÃO MÃOS DADAS NOVA CONQUISTA ONG CLARA NUNES RECICLA OURINHOS RECICLO RE-SI-CLANDO

Alberto Alex Sandra Ana Caceília Julio Antônio Mara Evanir Eliane Rose/Arami Regina Matilde Jaqueline Solange

São Paulo Brasília São Sebastião Marília Bauru Rio de aneiro Teresina São Paulo Botucatu Ribeirão Preto São Paulo Osasco Ourinhos Brasília Taubaté

SP DF SP SP SP RJ PI SP SP SP SP SP SP DF SP

SEM FRONTEIRAS

Flavio

Sã Paulo

SP

UNIÃO ITAQUERA VIVA BEM

Roberto/Pedro Telma/Tereza

São Paulo São Paulo

SP SP




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