Anais ciis 2013 vol 1

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Anais do 1º Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia como Vetores da Sustentabilidade

Organização Vivian Aparecida Blaso S.S. Cesar Sasquia Hizuru Obata

São Paulo Vespa Comunicações 2013


C4902

Anais Anais do 1° Congresso Internancional de Inovação e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia como Vertores da Sustentabilidade / Originou-se no Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade, 1; Iniciativa da Agência de Comunicação Conversa Sustentável; Revista Sustentabilidade; apoio da FATEC Tatuapé Victor Civita. – São Paulo: Vespa Comunicação, 2013. – 344 p.: il, grafs e tabs.

978-85-67085-02-9 Referências bibliográficas.

1. Ciência. 2. Tecnologia. 3. Sustentabilidade. 4. Congresso Internacional de Sustentabilidade, 1. I.Título. II. Agência de Comunicação Conversa Sustentável. II. Revista Sustentabilidade. III. FATEC Tatuapé Victor Civita. CDD 600 CDU 6





SUMÁRIO VOLUME I Capítulo 1: Certificações e avaliações Abrangências e limitações de processos de certificações em sustentabilidade - José Geraldo Falcão Britto A percepção dos gestores dos meios de hospedagem certificados em sustentabilidade –caso da certificação NBR 15401 no Brasil - Cláudio Alexandre de Souza e Rafaela Caroline Simão Álvares Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais de referência usando as certificações LEED e – PROCEL-EDIFICA - Luana Eid Piva Bertoletti, Alberto Hernandez Neto Indicadores de sustentabilidade para avaliar iniciativas de educação ambiental - Catarina Jahnel de Oliveira Monitoramento de aves em áreas florestais certificadas - Manoelle Fuzaro Gullo Programa de qualificação de fornecedores (PQF) e ISO 9001:2008: um estudo de caso em uma pequena rede independente de hotéis - Antônio Oscar Santos Góes, Talles Vianna Brugni e Maria Josefina Vervloet Fontes Capítulo 2: Comunicação, Cultura e Sustentabilidade Aplicacoes ̧ ̃ do bambu em construções sustentáveis - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima e Ruth Marlene Campomanes Santana Arquiteturas interativas inteligentes: como as redes digitais podem fazer parte das estratégias e ações de sustentabilidade das organizações - Julliana Cutolo Torres e Fernanda Cristina Moreira A sustentabilidade social, cultural e econômica de comunidades tradicionais e empreendimentos econômicos solidários - Seila Cibele Sitta Preto e Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante Design consciente para um futuro sustentável - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima e Ruth Marlene Campomanes Santana Educacao, ̧ ̃ ciência e o planeta - Igor Oliveira Rocha O desafio da comunicacao ̧ ̃ sob o foco da Sustentabilidade - Rachel Machado de Sousa, Sarah Aparecida da Cruz, Alex Donizeti do Rosário O papel da comunicacao ̧ ̃ nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades - Érica Maruzi do Monte Pereira Sistema automático para beneficiamento de pólen apícola com estrutura em alumínio reciclado para a cadeia produtiva da apicultura sustentável - Otávio Campos Pereira, Ederaldo Godoy Júnior, Daniela Helena Pelegrine Guimarães, Lídia Maria Ruv Carelli Barreto, Gustavo Frederico Ribeiro Peão, Paula Vasconcellos Sustentabilidade comeca̧ na Educacao ̧ ̃ – Desafios para a acao ̧ ̃ - Janaína Dourado, Maria Teresa Stefani, Cássia Maria Paula Lima


Capítulo 3: Construção Sustentável, Cidades Sustentáveis A gestão de resíduos sólidos no Brasil - Dirlei Andrade Bonfim, Juliana Oliveira Santos2, Rubens Jesus Sampaio3, Milton Ferreira da Silva Junior Análise de ventilação natural em habitação popular - Mario Roberto Nantes Junior, Gabriel Borelli Martins, Paulo José Saiz Jabardo, Gilder Nader Aplicação do resíduo sólido da indústria de reciclagem de alumínio como material pozolânico Inara Guglielmetti Braz, Mirian Chieko Shinzato, Tarcísio José Montanheiro, Vinícius Ribeiro A Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de tecnologia social para a sustentabilidade: caso Cooperlírios - Jakeline Pertile Mendes Bambu uma alternativa sustentável - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima e Ruth Marlene Campomanes Santana Gestão sustentável de condomínios em prol de cidades sustentáveis: case do condomínio Edifício Residencial Porto di Nucci - Alcino Vilela Habitações populares: Como os moradores convivem com a ausência de conceitos sustentáveis Suelem Maurício Fontes Macena, Sasquia Hizuru Obata, Daniel de Andrade Moura, Gilder Nader Política urbana e sustentabilidade: subsídios ao processo de revisão do plano diretor de Franca Mauro Ferreira Túnel de Vento: uma importante ferramenta a serviço de tecnologias sustentáveis - Gabriel Borelli Martins, Alessandro Alberto de Lima, Paulo José Saiz Jabardo, Gilder Nader Viabilidade para implantacao ̧ ̃ de edifícios de balanco̧ energetico ́ zero no Brasil - Roberto Oranje


Capítulo 1: Certificações e avaliações


Abrangências e limitações de processos de certificações em sustentabilidade.

Os benefícios das certificações, premiações e suas limitações Onde e como inovar?

Autor: José Geraldo Falcão Britto Auditor, consultor, professor convidado da Fundação Getúlio Vargas INTRODUÇÃO DE RESUMO: O presente artigo, faz uma análise e reflexão da abrangência das certificações empresariais existentes, comentando a contribuição das normas ISO9001, ISO14001, OHSAS18001, ISO26001 e NBR16001, os limites dos processos de certificações existentes. O artigo apresenta uma análise sobre as deficiências dos processos de premiações, certificações frente as exigências conceituais de Sustentabilidade empresarial. O artigo não pretende ser definitivo, e sim somente uma reflexão sobre os caminhos até aqui percorridos em busca da sustentabilidade.

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos ao CIIS por esta importante iniciativa de fomentar a sociedade técnica e científica do conhecimento em sustentabilidade, promovendo a análise crítica sobre a evolução do tema no Brasil.


ÍNDICE Introdução, Justificativa sobre o tema

Pág. 6

Bloco 1 – Desenvolvimento conceitual histórico

Pág. 7

1.1 – A formação de um conceito através de programas

Pág. 7

Governamentais, supra partidários e oficiais 1.2 – Um pouco de história

Pág 9.

1.2.1. – Estados Unidos e Canadá

1.3

Pág 9.

1.2.2. – Europa

Pág. 10

1.2.3 - Coordenação integrada sobre o assunto pelo mundo

Pág 12

1.2.4 – América Latina

Pág 15

1.2.5 – Movimento Ambiental Brasileiro

Pág 16

1.2.6- Movimento Social Brasileiro

Pág 18

Movimentos

dos

Instrumentos

de

Gestão

da

Pág 20

1.3.1. – Instrumentos de Gestão e uso de indicadores setoriais

Pág 21

Sustentabilidade Setoriais

para as empresas – América Latina, Caribe e América Central. 1.3.2 – Análise crítica sobre os instrumentos de gestão para as empresas

Pag 23

1.3.3 – Pontos de melhoria dos instrumentos de gestão empresariais avaliados

Pag 24

BLOCO 2 – Movimento de normalização no Brasil e no mundo

Pag 26

2.1.1 – Pontos de melhoria em normas existentes

Pag 27

2.1.2. – Pontos fortes em normas existentes

Pag 27

BLOCO 3 – CONCLUSÕES

Pag. 28

3.1 – Expectativa em relação aos processos de certificações

Pag 28

3.2 – Credibilidade e certificações

Pag 31

3.3- Inovações em certificações e instrumentos de gestão

Pag 32


INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVAS E PERGUNTA-CHAVE O ambiente de negócios vem sendo transformado radicalmente nas últimas décadas, onde o lucro passa a não ser somente o objetivo final das organizações. O equilíbrio entre o lucro retirado dos locais onde atuam, e a análise dos benefícios deixados pelas organizações a uma sociedade, é o tema em andamento no mundo. Nesta necessidade de equilibrar o papel econômico das organizações, com as responsabilidades Sociais e ambientais, é onde mora o desafio da GESTÃO SUSTENTÁVEL EMPRESARIAL. Por isso mesmo, o complexo tema da sustentabilidade e o movimento da Responsabilidade Social Empresarial (o caminho para chegarmos lá) têm merecido especial atenção. Uma infinidade de instrumentos e ferramentas foi desenvolvida, nos últimos anos, para dar consistência e realidade ao que se propunha como gestão socialmente responsável, integrando-se os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Muitos desses instrumentos estão em desenvolvimento, mas já começam a demonstrar sua eficácia para os negócios. A finalidade deste artigo é o de apresentar as diversas experiências e ferramentas existentes e analisar os benefícios dos programas existentes. E mais do que isso, as ferramentas de premiação e certificação da gestão da sustentabilidade, são inquestionáveis, sob o ponto de vista da Administração Profissional, e portanto, as próprias organizações públicas e privadas, estão aderindo ao movimento por questão de sobrevivência. Até mesmo órgãos públicos e sem fins lucrativos, ao aderirem os métodos consagrados

de

prêmios

e

certificações

existentes,

assumem

para

si,

a

responsabilidade de justificar tais certificações, com seus resultados demonstrados à população em geral. Em meio este movimento de EXPECTATIVAS sobre o comportamento, gestão e resultados das organizações ,empresas públicas e governos, restanos debater

qual o papel das normas, certificações, prêmios, organismos

que concedem tais certificações,

e quais as contribuições dos prêmios

concedidos para a construção de um mundo verdadeiramente sustentável, além dos métodos conceituais oferecidos.


BLOCO 1 - DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL HISTÓRICO 1.1

A

formação

de

um

conceito

através

de

programas

Governamentais, supra partidários e oficiais Dos anos 90 até hoje, um grande número de ferramentas, como certificações socioambientais, movimentos e campanhas foram criados em várias partes do mundo com o objetivo de consolidar conceitos como responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, tentando incentivar e transformar conceitos em prática de gestão.

Figura 1 – MACRO PROCESSO DOS NÍVEIS DE CONTRIBUIÇÃO SOBRE O MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE


Paralelamente, as organizações (não só empresariais, mas também governamentais

e

do

terceiro

setor),

pressionadas

pelo

contexto

da

concorrência, da sobrevivência, de crises econômicas , por visão de futuro e por movimentos sociais e ambientalistas, começaram a concentrar seu papel relevante para a sustentação da vida no planeta, o que se expressa em boa parte hoje em projetos de responsabilidade social. Na década atual, já é possível perceber uma evolução nas práticas e conceitos de responsabilidade social empresarial, que ganha consistência como atividade

profissional.

Hoje,

as

ações

de

responsabilidade

social

são

compreendidas não apenas como investimentos que resultaram do sucesso econômico das empresas, mas são discutidas sob uma visão mais ampla, que permita identificar as condições sociais e ambientais que levaram à realização dos lucros. Esses elementos Social, econômico e Ambiental, tornam-se então, fatores importantes de sobrevivência e de avaliação dos impactos econômicos dessas organizações. Portanto, não estamos mais falando de conceito somente. Estamos falando de práticas que já demonstraram serem vitais para a sobrevivência das corporações. Estamos falando que atualmente os três pilares da sustentabilidade, estão em franca construção e desenvolvimento. E veremos no artigo a seguir, quais os benefícios e deficiências dos processos existentes.

1.2 – UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE O TEMA – O INÍCIO 1.2.1- NOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ


Podemos citar como um dos primeiro movimentos ambientalistas, as palavras do 25º. Presidente Americano Theodore Roosevelt, e vencedor de prêmio Nobel da Paz em 1906, que afirmava que o orgulho americano advinha do progresso conquistado. Porém ressaltava enfaticamente que os Estados Unidos chegaram a um momento de refletir o que aconteceria quando as florestas desaparecessem, quando o carvão, o ferro e o petróleo se esgotarem e quando o solo e a água, estiverem mais empobrecidos, e dificultando a navegação. Nas palavras de Roosevelt, já demonstrava a inquietude da comunidade local sobre o tema de meio ambiente, antes mesmo das convenções internacionais européias. Os primeiros escritos em assuntos ambientais, encontra-se o livro de Roderick Nasch Frazier (1939-2011), nascido em Manhattan, formado em Harvard e com mestrado e doutorado em historia natural, que ganhou notoriedade em 1964, quando sua tese de Mestrado, falava sobre Selvagem Mente Americana , livro listado como os 10 livros que mudaram o mundo. Mais tarde, na década de 60, mais precisamente em 1962, a escritora Americana Raquel Carson (zoóloga e bióloga), publicou o livro Primavera Silenciosa, escrevendo sobre o funcionamento da Biosfera. Em um de seus livros aponta-se aquele escrito na década de 70, Proteger nossas crianças em épocas de crise ambiental, considerado um Best-seller no tema e muito utilizado em bibliografias de teses e estudos. Outra grande obra da mesma autora, Raquel Carson, despertava para o futuro das crianças em épocas de crise. O Livro Proteger crianças em épocas de crises ambientais, recebeu outro grande destaque por incomodar a geração da época. A partir dessas iniciativas, o movimento de ONG´s e ambientalistas foram fortalecidos nos Estados Unidos, e as iniciativas de Raquel Carson tinham como preocupação os agrotóxicos, pesticidas da agricultura, conservação da natureza e poluição industrial. Outro escritor americano reconhecido foi Paul Ehrlich, com seu livro “A Bomba populacional”, atribuindo os problemas ambientais ao crescimento demográfico. Em 1973-1975, entra em vigor a Convenção Internacional das espécies da fauna e da flora silvestre ameaçadas de extinção ou Convenção de


Washington , em 1973 estabelecendo as regras e punições para o tráfico de espécies raras. Em Junho de 1974, os cientistas Mario Molina e Frank Sherwood Rownlad (Prêmios Nobel de Química), provam que os gases CFC´s (Clorofluorcarbonos) danificam a camada de ozônio da terra. Em 1976, em Vancouver no Canadá, foi realizada a HABITAT I, uma convenção pioneira a relacionar Meio ambiente e assentamentos humanos. Uma visão revolucionária para a época. Além da organização político e coordenada, promovido pelas convenções internacionais, podem-se destacar personalidades da história como Donald Worster, que em 1985 produziu livros destacados e premiados como : Nature economy ( Cambridge), Dust Bowl (Oxford University) , contando a história do desastre americano ambiental ocorrido em 1930, Rivers of Empire (Oxford University) e Changes in the Land , Indians , Colonist na the ecology of the New England (New York 1983). 1.2.2. - NA EUROPA Entre as décadas de 1960 e 1980, cientistas, movimentos sociais, ambientalistas e um punhado de políticos e funcionários públicos denunciaram os problemas ecológicos e sociais das economias herdeiras da Revolução Industrial. Em resposta à crescente preocupação pública com os efeitos negativos do modelo industrial, a Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou um ciclo de conferências, consultas e estudos para alinhar as nações em torno de princípios e compromissos por um desenvolvimento mais inclusivo e harmônico com a natureza. Os primeiros registros de legislações européias sobre meio ambiente, foram datados de 1956, com a criação da Lei do Ar Puro, pela Inglaterra, após inúmeros casos de contaminação do Ar, através do Enxofre, provocando a Chuva ácida e outros transtornos ambientais, dando origem as primeiras legislações.

O conceito de Desenvolvimento Sustentável foi debatido no Painel de Founex, em 1971, estabelecendo as primeiras noções de desenvolvimento de um país. O Clube de Roma , no ano de 1972 publicou seu primeiro documento intitulado Limites de crescimento (1972), onde amparado nos estudos do MIT, o relatório já alertava para as questões sociais, ambientais e econômicas. O Tema da sustentabilidade do planeta, ganhou notoriedade, a partir de estudos científicos e livro publicado, Os Limites do crescimento, pelo MIT


( Massachusetts Institute of Technology – MIT), encomendado pelo clube de Roma para identificar quais os reflexos ambientais o mundo sofreria, a partir do ritmo de crescimento previsto pela Europa e Estados Unidos. No ano de 1976, Jan Tinbergen publicou seu livro Reformando a ordem internacional, que publicado no clube de Roma. É nesta nova publicação que temas como bem estar das pessoas, passa a ser tratado oficialmente. Tema amplamente debatido entre mais de 20 países e cientistas, assuntos como alimentação, moradia, desenvolvimento social, distribuição de renda entre outros temas foram adicionados ao debate ambiental. Em

meio

aos

intensos

debates

sobre

temas

que

cercavam

a

Responsabilidade Social e ambiental das organizações, a Organização para cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE - 1976) , editou suas primeiras

publicações

denominadas,

Diretrizes

OCDE

para

empresas

multinacionais e Diretrizes OCDE de governança para empresas estatais, com a finalidade de uniformizar as práticas das empresas em seus países de atuação. Nesta época, os primeiro processos de Licenciamento Ambiental foram criados na Europa, em sistemas de pontuações de empreendimentos , denominados SLPA, avaliando os benefícios sobre os aspectos Econômicos, Ambientais e Sociais locais / municípios. Na década de 1990, mais precisamente em 1998, realizada a convenção de Roterdã sobre

o consentimento prévio informado sobre agrotóxicos

entrando em vigor no Brasil em maio de 2004, através do decreto 197 Em 2001, criado o a convenção de Estocolmo sobre os poluentes orgânicos e persistentes, que possui agenda periódica para criação e manutenção periódica dos seus procedimentos operacionais de controle sobre Agrotóxicos, produtos químicos industriais e seus sub produtos/derivados. Em 2006, fora publicado o Relatório pelo Cientista Nicholas Stern, economista, que publicou os primeiros relatórios sobre os reflexos sobre a economia dos impactos ambientais previstos. 1.2.3 - COORDENAÇÃO INTEGRADA DOS ASSUNTOS PELO MUNDO Historicamente os escritos, estudos e compromissos mais antigos, são da organização Internacional do trabalho (OIT), de 1919 como parte do Tratado de Versalhes, que encerrou a primeira guerra mundial, onde iniciou a desenhar os direitos básicos dos trabalhadores declarando 199 convenções internacionais


de proteção ao trabalho e amparados na carta de Declaração dos Direitos humanos (1948) da ONU. Em 1944, a OIT anexou as suas convenções a Declaração de Filadélfia, logo ao fim da segunda guerra mundial, servindo como base para a Declaração dos Direitos Humanos(1948). Posteriormente, em meio aos movimentos científicos e da sociedade civil organizada, sobre o tema ambiental, a UNESCO criou sua primeira conferência internacional, denominada conferência sobre a Biosfera (1968) com focos no aprofundamento as pesquisas cientificas para o conhecimento das causas da degradação ambiental e a criação de ferramentas de planejamento e de reservas da natureza. Esse foi o início oficial e reconhecido por todos os países, que motivou a formalização da Declaração de Estocolmo (1972). Tal declaração procurou integrar as questões dos Direitos Humanos publicadas na mesma época. Em 1977, a OIT em sua 279ª. Reunião de Genebra, publicou convenções internacionais sobre empresas multinacionais, estabelecendo as regras de atuação. Em 1980, foi lançado o IUCN (parceria entre a PNUMA e WWF), a União internacional para a conservação da Natureza, com o objetivo de elaborar projetos de conservação da natureza pelo mundo. Em 1987 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Brundtland, revendo as questões críticas ambientais, propor novas formas de cooperação , limitar o crescimento populacional, garantir a alimentação a longo prazo, preservar a biodiversidade dos ecossistemas, diminuir o consumo de energia , aumentar a produção industrial nos países não industrializados, controlar a urbanização selvagem, produzindo como resultado o Relatório de Brundtland, Nosso Futuro Comum. Foi atribuído a Brundtland , o conceito de Desenvolvimento Sustentável, como sendo atender as necessidades do presente em comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. O Relatório Brundtland foi debatido e atualizado no encontro da RIO+92, que veremos a no capítulo Brasil. Na Mesma época, o Protocolo de Montreal (1987), foi criado por mais de 170 países pelo mundo, (dentro da divisão de controle de Ozônio da ONU),


ratificando assuntos importantes como a lista de substâncias controladas, e os limites de impactos na camada de ozônio, incluindo as fontes geradoras e códigos aduaneiros para controle de importação. Um dos pontos citados no Protocolo de Montreal , foi que em países em desenvolvimento, e portanto com baixas taxas de industrialização, esses países se comprometiam a implantar tecnologias alternativas, às substâncias controladas citadas no anexo da convenção, por exigências Bilaterais e multilaterais, no comércio entre os países. Em 1988, dá-se início ao IPCC ( Intergovernamental Panel on Climate Change) criado pela ONU e Organização Meteorológica Mundial, com a finalidade de promover estudos paralelos e científicos sobre mudanças climáticas, reflexos de mudanças, e submetem os relatórios para as convenções entre países. Seus primeiros relatórios datam de 1990 de forma temática, e posteriormente passando a serem regulares sobre a situação do clima pelos continentes. Na década de 90, os compromissos declarados pela ONU denominados Pactos GLOBAIS (Global Compact), deram início a universalização do tema entre os países membros da ONU, contemplando temas com Direitos Humanos, Direitos do trabalho, Proteção Ambiental, Luta contra a corrupção, com adesão de mais de 4.000 empresas de 90 países, sendo no Brasil mais de 200 empresas signatárias. Ainda criado pela ONU, dado o profundo destaque internacional e a necessidade de atuar de forma temática, foi criada o PNUMA (programa das Nações Unidas para o Meio ambiente – 1990), presente hoje em mais de 177 países, criador de indicadores como IDH (índice de desenvolvimento humano) e do relatório de desenvolvimento humano (RDH) e as Metas do Milênio, que prevê objetivos até 2015 aos países signatários (agenda 21). A ONU ainda, em 1996 cria a Cúpula Mundial da Alimentação, com a presença de mais de 170 países, com objetivo de debater os reflexos ambientais e a atividade econômica na produção de alimentos. O Protocolo de Kyoto , criado no Japão em 1997 , assinado em 1998 e ratificado em 1999, Entrando em vigor em 2005 , depois da entrada da Rússia em 2004.


O Objetivo do Protocolo foi estabelecer um calendário global de redução de emissões atmosféricas de CO2(Dioxido de carbono), N2O(Oxido nitroso), CH4

(

Metano),

HFC

(HIdrofluorcarboneto),

PFC(Perfluocarboneto),

SF6

(Hexofluorsulfuroso), no período de 2008 a 2012. Foram na época estabelecidas ferramentas como o Comércio de Emissões , o mecanismo e desenvolvimento limpo (MDL) e a implementação conjunta (IC). De todos estes mecanismos, somente o MDL se aplica ao Brasil, devido a suas baixas taxas de emissões, e por ser um país ainda em desenvolvimento. Como acompanhamos em 2012, mais precisamente em Dezembro, as metas do protocolo foram renovadas pelos países, porém por um novo período (2013-2020), na rodada de negociações de DOHA. Na mesma época da década de 90, em que foram criados dois indicadores de sustentabilidade, IDH - índice de Desenvolvimento Humano e Pegada ecológica, pela ONU-PNUD, para mensurar o impacto da atividade humana nos recursos naturais, e avaliar o progresso das Nações, em torno da melhoria da qualidade de vida da população, além do PIB tradicionalmente calculado. Em 2002, fora realizada pelo PNUMA e os países signatários, a Convenção de Basiléia, que completou 20 anos, com a publicação de regras para a União Européia de controle de movimentos fronteiriços e indenizações sobre danos ambientais por dejetos perigosos. No Quênia, Wangari Maathai (Prêmio Nobel da Paz, 2004) , funda o movimento Cinturão Verde, que prioriza evitar a desertificação por meio do plantio de árvores por mulheres. Pela primeira vez uma ambientalista é premiada com o Nobel. Em 2006, foram publicados os primeiros relatórios pelo Painel IPCC intergovernamental, criado pelas Nações Unidas, sobre mudanças climáticas, alertando e publicando a relação das taxas de aquecimento global x as taxas de crescimento dos países e os reflexos ao meio ambiente, além de estudos científicos financiados pela própria ONU. EM 2012, com o advento da RIO+20, no Rio de Janeiro outro indicador foi apresentado pela ONU: o IRI – Índice de riqueza inclusiva - que mede os seguintes temas: qualidade do capital humano, produção, recursos naturais, e capital social (longevidade).


Todos estes eventos, ora simultâneo ou não, são considerados os “marcos históricos” de início da integração dos temas sociais , ambientais e econômicos globais e fortalecem a atuação em todos os países a cultura para a sustentabilidade.

1.2.4 - AMÉRICA LATINA Na América Latina, acompanhando o movimento americano e europeu sobre Responsabilidade Social Empresarial, deu-se inicio a vários programas, a saber: Rede Fórum Empresa de Responsabilidade Social com a presença de mais de 100 empresas de 18 países da América Latina. Conselho Internacional de Empresas para o Desenvolvimento sustentável (WBCSD), com foco na prática de negócios, desenvolvimento regional, energia/ clima, e ecossistemas, formado por empresas de todos os países da América Latina. Estudos publicados sobre os países são periodicamente publicados pelo órgão, com a visão da WBCSD para o ano de 2050. Em 2000, criado o protocolo de Cartagena , foi um acordo complementar sobre a diversidade biológica , estabelece regras de controle de modificações genéticas de alimentos, devido ao aumento das tecnologias de modificação genética. A sociedade civil organizada, também decidiu participar através de comunidades de estudos científicos e de participação social, como a RED PUENTES internacional. A iniciativa do setor financeiro (bancos) procurou envolver pequenos e médios empresários, com linhas de financiamento e apoio, com programas denominados FUMIN (Fundo Multilateral de investimentos), com foco em projetos de micro seguros, resíduos e lixo, distribuição de renda, energia, educação, entre outros temas.

1.2.5 - Movimento Ambiental Brasileiro :


No Brasil, em um breve resumo, iremos contemplar a onda de movimentos ocorridos com a temática ambiental e social ocorrida desde a década de 70, 80 e 90. Posteriormente, resumiremos os diversos programas, ferramentas e indicadores de gestão criados no país. O movimento ambiental brasileiro, deu-se início em meados da década de 50, com o ativista ambiental José Lutzemberger , engenheiro químico e empregado da empresa BASF. Pediu demissão da empresa por não concordar com as práticas da empresa e tornou-se consultor e empresário. Foi secretário do meio ambiente no Governo Collor em 1990, e fundou uma empresa serviços de consultoria ambiental. Historiadores como Sérgio Buarque de Holanda em seu livro (Monções – 1990) , Extremo Oeste (1986) , já tratavam o tema ambiental como flora, fauna, topografia, solos, navegabilidade, meios de transporte, alimentos, etc. O Sociólogo Gilberto Freire em publicou seu livro Nordeste (1985) onde seus capítulos são abordados os temas ambientais do país. O Geógrafo Aziz Ab´Saber em seus livros a História Geral da Civilização Brasileira (1985 e 1989) já apontava a história dos escravos africanos, colonos europeus e a crise da água. Estes, e tantos outros, foram fontes inspiradoras do movimento ambientalista brasileiro. A partir da RIO+92, o movimento ambiental organizado ganhou expressiva força com a atuação de entidades como União Protetora do Ambiente Natural (UPAN), com entidades como WWF Brasil, Greenpeace Brasil, SOS Mata Atlântica e muitos outros. Na década de 70, mais precisamente em 1973, fora criado a Secretaria do especial do Meio Ambiente (governo Emílio Médici), com a finalidade de acompanhar o assunto no mundo , porém com pouca ou nenhuma atuação no País. A presença destes institutos no país, auxiliou em muito a construção da Conferência das Nações Unidas, marcada para 1992. (RIO+92). Marcada para Junho de 1992, a Rio+92 , como foi conhecida, tinha a finalidade de debater as conclusões do Relatório de Brundtland (1987) , e comemorar os 20 anos da Convenção de Estocolmo, com a participação de 178 países, resultando na maior conferência global já realizada no mundo.


Ainda na RIO+92, O Brasil apresentou seu legado ao meio ambiente onde foi elaborada a CARTA DA TERRA BRASILEIRA, com a coordenação de Leonardo Boff (*) que passou pelo debate por mais de 46 países, 100 mil pessoas, passando por favelas a universidades, até que em março de 2000, ela foi aprovada.

Contemplando

financiamento

justo,

temas

pobreza,

como

Meio

igualdade

ambiente, de

direitos,

democracia, Educação,

sustentabilidade, Direitos Humanos e paz, o documento foi festejado por ser muito completo. Durante o evento da RIO+92, foi então formalizado e apresentado o compromisso Agenda 21 Brasileira,

contemplando documentos importantes

como a Carta da Terra, Declaração do Rio sobre Meio Ambiente, Declaração de princípios sobre uso das Florestas, Convenção sobre a diversidade Biológica e convenção de mudanças climáticas. Mesmo que com atraso de mais 20 anos, desde 1972, quando da declaração de Estocolmo, o evento da RIO+92, resultou em um documento completo, integral, e aprovado por mais de 170 países. Temas contidos na Agenda 21 Brasileira eram Meio Ambiente na tomada de decisões, florestas e montanhas, uso do solo, atmosfera, secas e desertificação, agricultura sustentável, diversidade biológica, proteção aos oceanos, proteção da água, químicos e agrotóxicos, politicas para resíduos, resíduos radioativos, biotecnologia, proteção da água, padrão de consumo sustentável, cooperação internacional, autoridades locais para aplicação da Agenda 21, comunidade científica, agricultura e fazendeiros, legislação, combate a miséria e pobreza, saúde humana, habitação, direitos humanos , equilíbrios de gêneros, sexo e raça, Fortalecimento da proteção a crianças e jovens, fortalecimento de sindicatos e trabalhadores, preservação e proteção de povos indígenas e apoio a formação de ONG´s e grupos sociais. A Segunda edição da Agenda 21, após consulta pública , revisou sua visão temática de sustentabilidade incluindo 06 temas principais : Gestão de recursos naturais, Agricultura sustentável, Cidades sustentáveis, Infra-estrutura e integração regional, Redução de desigualdades sociais e Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento sustentável. Foram mais de 26 debates e mais de 5.800 sugestões de revisão.


Ficou então o Marco oficial Brasileiro, para o tema meio ambiente com a agenda do século 21. Toda a estrutura de Leis Brasileira, passou a ser desenhada e escrita a partir deste capítulo importante na História do Brasil. O Brasil passou então a possuir um plano de ação, um compromisso formal perante as metas do milênio, divulgar seus resultados e a ser monitorado internacionalmente. O Brasil estava inserido no panorama global para a Sustentabilidade. O

Marco

de 1992,

deu

início

ao

movimento

do

Terceiro

Setor

formalmente, e a toda base ambiental criada no país. 1.2.6 - MOVIMENTO SOCIAL: O movimento social brasileiro deu-se inicio de forma organizada e estruturada, em 1995, com a criação do GIFE (Grupo de Fundações , Instituições e Empresas) com presença de mais de 25 organizações decididas a realizarem investimentos sociais privados, e diminuir a desigualdade social Brasileira e assim contribuir com a pauta da agenda 21 Brasileira. Entidades

sem fins

lucrativos

como

Fundação IOCHPE,

Fundação

Bradesco, Fundação Carlos Chagas, Fundação Ayrton Senna, Fundação Abrinq, Fundação Vitor Civita, Instituto C&A, TV Globo, Microsoft, e muitos outros apoiam e participam do GIFE. Basicamente, o foco dos projetos sociais Brasileiros, e ainda continuam com este foco nos dias de hoje, são no combate a miséria extrema, alimentação, educação e acesso a saúde básica e redução de mortalidade infantil. Na época , este movimento deu-se o nome de “Terceiro Setor”, com a finalidade de auxiliar o Governo Brasileiro na implementação de programas Sociais, com foco em alimentação, educação, moradia, saúde, esporte e cidadania, assim como aconteceu nos Estados Unidos. O Brasil ainda luta pelo combate a fome nos dias de hoje. Em recente livro publicado, Destruição em Massa – Geopolítica da fome, o Sociólogo Jean Ziegler , ex-relator da ONU, critica duramente os programas sociais de combate a fome, por considerar que os programas existentes não são suficientes e os resultados são duvidosos.


Mais um tema da sustentabilidade Brasileira em fase ainda de concretização. Hoje no Terceiro Setor estima-se mais de 500 mil entidades, em mais de 10 modalidades e temas, que atuam em projetos sociais privados e em parceria com entidades publicas. Falar do Terceiro Setor, levaria mais um artigo completo somente sobre esse assunto. 1.3

-

MOVIMENTOS

DOS

INSTRUMENTOS

DE

GESTÃO

DA

SUSTENTABILIDADE SETORIAIS Muitos são os programas e instrumentos setoriais existentes no mundo, América Latina e Brasil. Cada setor de atividade ao assinar e apoiar os tratados internacionais de reconhecimento, passaram a criar suas ferramentas de referência, adesão e monitoramento. E a cada dia novos instrumentos são criados e buscam o reconhecimento público e de instituições com a finalidade de monitorar a atividade empresarial e governamental no país. Abaixo, um quadro resumo dos diversos instrumentos e ferramentas existentes na América Latina, para apoio e difusão da Responsabilidade Social e sustentabilidade. Princípios do Equador

Manual

de

princípios

signatários

de

do

contemplando

países

Mercosul, temas

da

sustentabilidade IBGC – Instituto Brasileiro de Código Governança corporativa

Brasileiro

das

melhores

práticas de governança corporativa

CVM – Conselho e valores Cartilha

de

mobiliários

governança

FDC – Fundação Dom CAbral

Instrumentos

boas

para

praticas

de

avaliação

da

sustentabilidade e governança Carvão

cidadão

(Direito O

privado) criada em 2004

instituto

tem

a

finalidade

de

monitorar a atuação da indústria do carvão fornecedora das siderúrgicas

Algodão

Cidadão

(direito Instituto (MT) com a finalidade de


privado) criado em 2005

promover ações na cadeia produtiva do algodão

ABIOVE

brasileira

da

Associação Promover estudos e ações na cadeia indústria

de de fornecimento da indústria de óleos

óleos vegetais WBCSD Council

vegetais

World for

Business Promover

ações

e

projetos

em

empresas

de

Sustainable negócios sustentáveis

Development ICMM – Internacional Council of Conselhos mining & Metals

das

mineração com projetos em meio ambiente e segurança

ETI – Ethical Trading Initiative

Conselho de empresas do setor têxtil com projetos de renda , trabalho e meio ambiente

Fair Labol

Conselho de empresas do Setor Têxtil com projetos em trabalho, renda e meio ambiente

Kimberley iniciative

Conselho de países e empresas, com foco no roubo e comércio ilegal de diamantes – processo de certificação

Processo de certificação MSC

Entidade que certifica empresas de pesca e restaurantes

AA1000

Forum

de

sustentabilidade

de

empresas afiliadas GTI

Initiative

Global

Transparency Iniciativa

de

monitoramento

abertura de

e

instituições

Financeiras Índice de sustentabilidade DOWN Iniciativa da Bolsa de Valores Jones

Down Jones , formação de ações, fundos

e

rentabilidade,

com

regras de conduta empresarial FTSE4Good – Indices Britânicos Inciativa Britânica de bolsa de


da Bolsa de valores

valores com regras de conduta empresarial

Índices de Johanesburgo

Iniciativa de Bolsa de Valores da África do Sul

Índice Bovespa de ações

Iniciativa Bolsa de Valores com regras de conduta empresarial

ABRAPP – Associação Brasileira Entidade das

Entidades

previdência

fechadas

Complementar

Instituto Ethos

de formada

sem pelas

fins

lucrativos,

empresas

com

e foco na atuação sustentável , meio ambiente, Governança, e projetos sociais.

1.3.1. – INSTRUMENTOS DE GESTÃO E USO DE INDICADORES SETORIAIS PARA AS EMPRESAS – AMÉRICA LATINA, CARIBE E AMÉRICA CENTRAL Em pesquisa sobre instrumentos e indicadores orientativos de gestão, localiza-se mais de 15 entidades que oferecem tais métodos, sendo considerado um exemplo de motivação para o tema no mundo. Este número cresce a cada ano, à medida que novos institutos e órgãos são criados. Alguns relacionados: Instituto

País

IARSE

Argentina

COBORSE

Bolívia

IBASE

Brasil

AKATU

Brasil

INDICADORES ETHOS

Brasil

INDICADORES GIFE

Brasil


INDICADORES FIDES

Brasil

INDICADORES FUNDAÇÃO DOM Brasil CABRAL INDICADORES ACCION

Chile

INDICADORES PROHUMANA

Chile

INDICADORES RI

Chile

INDICADORES CCRE

Colômbia

INDICADORES DERES

Equador

INDICADORES PERU 2012

Peru

INDICADORES AED

Costa Rica

INDICADORES FUNDEMAS

El Salvador

INDICADORES CENTRARSE

Guatemala

INDICADORES CEDIS

Panamá

1.3.1. – INSTRUMENTOS DE GESTÃO E USO DE INDICADORES SETORIAIS PARA AS EMPRESAS – EUROPA, ESTADOS UNIDOS Merece

destaque

os

programas

dos

Estados

Unidos

e

Europa,

destacando-se também pela quantidade de Métodos e indicadores, oferecendo sistemas de avaliações empresariais. Todos os instrumentos criados acompanharam as evoluções de legislações, assim como no Brasil, porém com grau de envolvimento legal direto com institutos oficiais do governo Americano e Europeu. Alguns destacados: MS do ECO 4WARD

Áustria

Albatroz B&SB

Bélgica

TUUN ASKELEITA FB&S

Finlândia


Guide CSR Europe Alliance

França

Guide de La Perfomance Global França CJD CR Index BITC

Reino Unido

Bilan Societal CJDES

França

Sigma

Project

BSI,

FFF,

e Grã Bretanha

Accountability GRI GR3 Small

Holanda &

Better

Business Reino Unido

Journey SBC RCI Acountability

Reino Unido

The Natural Step WHH

Suécia

CSR Toolkit for SME COSORE

Itália , Bélgica, Portugal

1.3.2 – ANÁLISE CRÍTICA SOBRE OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO PARA AS EMPRESAS ANALISADOS Analisando criticamente tais instrumentos de gestão, percebe-se que todos sem exceção, com algumas diferenças em terminologia, ou em algum método, estão alinhados frente aos conceitos de Responsabilidade Social e Sustentabilidade definidos e acordados pelos movimentos internacionais ocorridos nos últimos anos. Podemos resumir as características de tais instrumentos em: Instrumentos

Alinhamento

Detalhamento

conceitual

dos prometidos

IARSE

Sim

sim

COBORSE

Sim

sim

IBASE

Sim

sim

AKATU

Sim

sim

INDICADORES

Sim

sim

itens


ETHOS INDICADORES GIFE

Sim

sim

INDICADORES FIDES

Sim

sim

INDICADORES

Sim

sim

Sim

sim

Sim

sim

INDICADORES RI

sim

sim

INDICADORES CCRE

sim

sim

INDICADORES

sim

sim

INDICADORES PERU sim

sim

FUNDAÇÃO

DOM

CABRAL INDICADORES ACCION INDICADORES PROHUMANA

DERES

2012 INDICADORES AED

sim

sim

INDICADORES

sim

sim

sim

sim

sim

sim

FUNDEMAS INDICADORES CENTRARSE INDICADORES CEDIS

Pelo quadro acima, percebemos que os Institutos procuraram alinhar conceitualmente seus instrumentos com um programa unificado de temas, e com a finalidade de não promover distorções conceituais. O alinhamento com os temas globais estabelecidos pela ONU, PNUMA e demais acordos internacionais e tratados assinados. A diferença entre um ou outro instrumento é o uso de indicadores quantitativos, ou forma de estabelecer planos de ação e monitoramento. Outra diferença, é que evidentemente cada Instituto trata especialmente um tema de seu escopo de atuação, interesse ou deficiência local. São temas comuns nos instrumentos de gestão analisados:


Valores, Visão, Missão

Ética, Transparência Governança e responsabilidade

Tratamento de publico Meio interno(emprego, renda,

e

prestação de contas

ambiente, Fornecedores

recursos naturais e gestão

segurança, impactos

da

e cadeia

produtiva

Direitos humanos) Consumidores

e Comunidade

clientes e consumo

projetos

, Governo, sociedade e

sociais

e Direitos Humanos

ações sociais Concorrência

leal, Engajamento

Responsabilidade

com Ciência,

stakeholders

tecnologia,

inovação

Tributária,

,

cooperação

e

Educação O que se pode concluir que o objetivo primário, da coluna dos atores compostos

da

sociedade

civil

organizada,

e

associações

empresariais,

cumprem seu papel de divulgar e conceituar os pilares da Sustentabilidade empresarial e dos acordos internacionais estabelecidos e assinados. 1.3.3 – PONTOS DE MELHORIA DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO EMPRESARIAIS AVALIADOS Por serem voluntários, os instrumentos de gestão analisados, possuem graus

muito

distintos

de

adesão,

muitas

vezes

muito

baixos

e

por

consequência de comprometimento da Indústria na qual representa. Alguns instrumentos são diferentes em termos de abrangência e a profundidade com que tratam a questão. Todos os instrumentos se utilizam do uso de questionários de auto avaliação, confronto métrico através de sistema de notas, pontuação final e produção de um relatório de adequação ou de conformidade final. Tal relatório serve para determinar e orientar as ações internas. Alguns instrumentos, utilizam-se de visitas ao local, para somente verificar distorções do relatório, ou do plano de ação elaborado, em relação ao método.


Alguns institutos e órgãos, oferecem o serviço de auditoria independente para avaliação do andamento de planos de ação elaborados. A grande maioria não oferece serviços nas instalações das empresas, para não confundir suas atividades com atividades de auditorias de terceira parte ou independentes. Poderíamos resumir os pontos de melhoria dos instrumentos da seguinte forma. As situações podem variar de um instrumento para o outro. São voluntários Abordam legislação de forma tímida ou adequada ao país em que atuam São “auto declarados” pelos avaliados Não possuem formas de verificação ou comprovação do declarado Não possuem acesso interno das organizações Não realizam monitoramentos ou acompanhamento de evolução Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com necessidades e resultados de mercado Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das empresas no mercado, em seu sistema de avaliações São restritos ao escopo declarado pelo avaliado Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização (fechados à alimentação externa) de desempenho das empresas no mercado. BLOCO 2 - MOVIMENTO DE NORMATIZAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO Outro movimento muito importante no processo de consolidação da prática da Sustentabilidade empresarial no mundo, são as Normalizações internacionais de Práticas. Os processos de certificações no Brasil e no mundo, existentes são: ISO Suíça

ISO26000/ISO9000/ISO1 4000


ISO

Suécia

Responsabilidade

e ISO14064/5

verificação de gases do efeito estufa FSC – Alemanha

Values

Management

FSC IC System

ZfW VMSZfw

Alemanha Austrália - Australian Standards Corporate AS8003 Social Responsibility Israel Standard Israel

SI 10000

Brasil ABNT

ISO9001/ISO16001/ISO1 4001

Comissão Européia

Emas CE

Dinamarca

Set Social Index DSI

Espanha

SGE 21 Foretica

EUA

OHSAS18001

EUA

SA8000

Sustainable Development França

SD 21000

Itália Qres

Qres Cele

Japão Ethics Compliance

ECS2000 JBES

Reino Unido Accountability

AA1000

Reino Unido British Standards

BS8555/8800/8900

Reino Unido Good Corporation Ltd

Good corporation

Reino Unido Community Mark

BITC

Reino Unido

Investor in people UK

2.1.1 – PONTOS DE MELHORIA EM NORMAS EXISTENTES As normas assim como os instrumentos de gestão citados no capítulo acima, em sua grande maioria são voluntários, e organizados por entidades não governamentais. E ainda, são oferecidas pelas próprias empresas que a criaram, que fazem parte do negócio de certificações, e portanto fazendo parte de entidades de associações das próprias empresas muitas vezes (exemplo: ISO ).


Em resumo podemos apresentar algumas características das normas pesquisadas: São voluntários Abordam legislação de forma indireta ou em algumas vezes afirmam que “atender a norma, não significa atender a lei” Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com necessidades e resultados de mercado Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das empresas no mercado, em seu sistema de avaliações, como canais oficiais divulgados São restritos ao escopo declarado pelo avaliado ou pelo CNPJ da empresa Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização (fechados a alimentação externa) de desempenho das empresas no mercado. 2.1.2. – PONTOS FORTES EM NORMAS EXISTENTES Não podemos deixar de destacar os pontos fortes do uso de normas internacionais: São avaliadas por processos de auditorias independentes (órgãos criadores das normas) Possuem acesso interno às organizações, e portanto possuem larga vantagem de informações Realizam monitoramentos constantes São importante referencial teórico e de processos São importantes referenciais para determinar padrões esperados de operação


BLOCO 3 – CONCLUSÕES 3.1 - EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AOS PROCESSOS DE CERTIFICAÇÕES Vemos pela própria introdução deste artigo, que a reivindicação em torno dos temas de sustentabilidade, tomou proporções fora do ambiente da academia, dos institutos de pesquisa, ou dos órgãos públicos. Conduziram a discussão de forma ampla, abrangente e democrática, com a participação popular. Buscaram o consenso da sociedade civil, de grupos técnicos de trabalho, da academia, das associações de classe, e mais recentemente de partidos políticos. Exemplo disso são as amplas conferências globais realizadas com chefes de estado e sociedade civil organizada sobre os temas da sustentabilidade. Existiria algum outro motivo pelo qual um órgão levaria tal debate a tal exposição, sem que os riscos e problemas não fossem reais? Então os atores envolvidos com o fornecimento de temas e teorias, devem se comprometer com a diminuição do espaço existente entre uma necessidade real, e promessa de solução. É justamente pelo fato dos riscos e problemas serem reais, que devemos analisar criticamente as contribuições dos instrumentos de gestão existentes e processos de certificações. Para não falarmos dos prêmios isoladamente concedidos. A expectativa foi criada e foi estabelecida na sociedade. A expectativa está sendo reforçada em universidades e na academia. Formando profissionais com graus de tolerância cada vez menores, para o mal desempenho de uma organização. A expectativa está sendo formada através de crianças e jovens, que se tornarão sociedades menos tolerantes a desvios de conduta. A expectativa é divulgada com força pelos meios de comunicação e imprensa , conquistando até os menos envolvidos com o tema. A expectativa em torno de uma marca, ou do comportamento de uma empresa, detentora de uma marca, vem se fortalecendo e se tornando real a mais de uma década. Em virtude disto, que empresas detentoras de certificados, deveriam na mesma ordem de importância de seu pioneirismo, serem exemplos no


tratamento

das

questões

contempladas

em

suas

normas.

Portanto

a

expectativa em torno dos assuntos da sustentabilidade está em formação, e resultará em uma sociedade diferenciada no futuro. 3.2 - CREDIBILIDADE E CERTIFICAÇÕES Seria interessante que uma pesquisa ampla e sem restrições pudessem avaliar as opiniões de públicos técnicos e não técnicos, em torno dos resultados percebidos por empresas certificadas.. E ainda cruzar o desempenho real das empresas certificadas através dos órgãos oficiais envolvidas com os temas da sustentabilidade. Objeto de estudo já por entidades como o PNUMA/ONU, COPPEAD, GRI, e Instituto Ethos, o relatório “rumo a credibilidade”, em seu último ciclo do ano de 2010, avaliou os seguintes critérios: a) Identificação e priorização das questões b) Valores, princípios e políticas para o desenvolvimento sustentável c) Responsabilidade e estrutura para governança d) Procedimentos gerenciais e) Engajamento de Stakeholders f) Medição de desempenho de desenvolvimento sustentável g) Estabelecimento de metas h) Verificação Externa i) Padrões dos relatórios apresentados

Foram objetos de estudos, as organizações brasileiras que atendessem a requisitos como: a) Listagem do índice de bolsa de valores de São Paulo b) Grande porte por receita bruta c) Presença no Índice de sustentabilidade Empresarial Bovespa d) Presença no banco de dados da corporate register 2007/2008 e) Presença no banco de dados da GRI em 2008 f) Relatório de sustentabilidade que tenha sido premiado g) Balanço Social com Selo IBASE 2007 h) Notório conhecimento por gestão voltada para a sustentabilidade


i) Multinacional

cuja

subsidiária

pública

possui

relatório

de

sustentabilidade Em relação ao restante do mundo o Brasil possui 3,5% de participação em relação ao total de relatórios publicados , de um total de 131 relatórios. Dos 131 relatórios, a análise do FBDE (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável), conclui que o resultado e qualidade dos relatórios ainda é mediano. A metodologia de estudo avaliou 4 dimensões da Gestão : Governança e Estratégia, Gestão, Apresentação de desempenho e acessibilidade e verificação. E classificados em categorias como: a) Sem informação b) Informação Superficial c) Sistemático d) Abrangente e) Integrado

A pontuação média recebida foi de 48%, com a melhor nota 65% da empresa Natura e menor nota Even e Light com nota de 48%. Todas as empresas que participam em bolsa de valores, reforçam seus capítulos de gestão, com a apresentação das certificações ISO9001, ISO14001, OHSAS18001. Porém quando do advento da RIO+20, somente 21% das empresas listadas em bolsa de valores, elaboraram e apresentaram seus relatórios de sustentabilidade. Pesquisa realizada pela própria bolsa de valores (2012), com as empresas ausentes, concluiu que todas ainda se colocaram como “em fase de estruturação”. Outra conclusão da pesquisa, é que aquelas empresas que de alguma

se

envolveram

em

escândalos

de

corrupção,

denúncias,

acidentes ambientais, acidentes de consumo, autuações de fiscalização, não apresentaram seus relatórios de sustentabilidade.


De qualquer forma, são interessantes as conclusões do Estudo FBDS, PNUMA sobre os relatórios elaborados. Os pontos de deficiência são: a) Os relatórios não apresentaram visão de futuro desafiadora e

inovações/ambições; b) Os

relatórios

deveriam

melhor

demonstrar

como

a

sustentabilidade gera valor para os acionistas; c) Não contemplavam toda a cadeia de valor, dos fornecedores ao

consumidor final; d) Os relatórios de sustentabilidade não estavam integrados aos

relatórios financeiros; e) Os

relatórios

não

estabeleciam

metas

desafiadoras

e

comparativas de resultados, de forma que dificultou a analise de resultados concretos; f) Os

relatórios

mensuráveis,

não para

demonstravam soluções

de

ações

concretas

problemas

do

e

clima,

biodiversidade, água, e outras questões da sustentabilidade. O relatório FBDES/PNUMA, finaliza solicitando que as empresas “saiam de suas zonas de conforto”. Por

estes

pontos

elencados,

vemos

que

mesmo

empresas

certificadas por normas internacionais, os resultados concretos são deficientes, incluindo as práticas de gestão, tão preconizadas por tais normas. Vale lembrar que todas as normas, sem exceção possuem em seus requisitos, exigências como objetivos, metas, políticas e melhoria contínua sistematicamente, o que se corretamente aplicados, proporcionariam excelentes resultados. Adicionalmente aos resultados dos estudos, temos os diversos resultados divulgados em veículos de comunicação, sobre a atuação das empresas no mercado que muitas vezes não são acompanhadas. Então podemos concluir que o processo de fortalecimento da credibilidade dos processos de certificações no Brasil, ainda está em processo?


Não podemos concluir que empresas certificadas, necessariamente contribuem de forma significativa com resultados concretos, para os temas da sustentabilidade, ou para elas mesmas (beneficiadas diretas ). Ou pelo menos afirmar com toda segurança que a adoção das normas pelas empresas, não proporcionou a elas a oportunidade de mostrar seus resultados obtidos (pelo menos nas oportunidade que tiveram). Resta-nos saber se em próximos ciclos, se as organizações voltarão a utilizar o argumento do uso das normas como ferramentas de gestão de forma decididamente importante para conquista de resultados. Pois até o momento, as normas não auxiliaram as organizações a demonstrar tais resultados.

3.3- INOVAÇÕES EM CERTIFICAÇÕES E INSTRUMENTOS DE GESTÃO Devemos recordar os pontos de deficiência dos processos de certificação citados neste artigo : São voluntários Abordam legislação de forma indireta ou em algumas vezes afirmam que “atender a norma, não significa atender a lei” Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com necessidades e resultados de mercado Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das empresas no mercado, em seu sistema de avaliações, como canal oficial divulgado São restritos ao escopo declarado pelo avaliado ou pelo CNPJ da empresa Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização (fechados a alimentação externa) de desempenho das empresas no mercado. Reconhecer e diagnosticar um problema, muitas vezes é fácil. O maior desafio é o de sugerir melhorias ou caminhos.


Iremos debater um pouco os caminhos que poderia contribuir dentro deste processo de fortalecimento/resgate da credibilidade do mercado de certificações em sustentabilidade, beneficiando as próprias organizações que as adotam. Após a análise histórica do processo de conscientização global sobre a sustentabilidade, proposto neste artigo. Após

a

análise

metodológica,

dos

instrumentos

e

normas

existentes. Após conhecermos a expectativa em torno do tema. Poderíamos sugerir um plano de inovação para reforço da credibilidade das certificações, que contemplasse 06 pilares de visões : VISÕES DA INOVAÇÃO a) Rever o papel institucional dos organismos de certificação b) Aprimorar o relacionamento externo do mercado de normas com

a sociedade c) Aumentar a abrangência e profundidade de adesões às normas d) Monitorar o desempenho das organizações de forma mais

aprofundada e) Tornar transparente e pública os resultados das organizações

certificadas f) Formar

um

banco

integrado

de

avaliações

públicas

contemplando todas as avaliações realizadas nas empresas (públicas e privadas) 3.3.1 – Rever o papel institucional dos organismos de certificação Rever o papel dos organismos de certificação em sistemas de gestão, significa trazê-los a um grau de importância oficial, social e de real contribuição à estabilidade das organizações. Este assunto nos remete ao início dos processos de certificação realizados no Brasil, nos anos de 1994, 1995 e 1996, onde as auditorias eram realizadas pelo Inmetro diretamente.


Fazer com que os processos de certificação recebessem mais visibilidade e mais importância dentro de órgãos federais e oficiais, como por exemplo ANATEL, ANEEL, Inmetro e outros. Poderíamos citar como exemplo, atribuir a responsabilidade por validar

os

indicadores

de

qualidade

de

empresas

de

telefonia,

oficialmente. 3.3.2 - Aprimorando o relacionamento externo Fazer com que os processos de certificação pudessem ser melhor entendidos pela sociedade, órgãos de fiscalização, e até a população, criaria um positivo canal de comunicação com a sociedade. Proporcionaria uma aproximação da sociedade com os organismos de certificação, e traria maior visibilidade e importância ao processo de concessão de certificados. Poderíamos citar como exemplo, um organismo de certificação participar de audiências públicas, com a finalidade de coletar expectativas de stakeholders em um processo de concessão de licenciamento ambiental. OU ainda, possuir canais de pesquisa com consumidores ou até ouvidorias para aprimorar o relacionamento com a sociedade. 3.3.3 – Aumentar a abrangência e adesão as normas Aumentar a adesão das normas, significa torná-las compulsórias. Devemos recordar que o Brasil é um país continental com mais 5 milhões de empresas, e que a penetração das adesões em certificações em sistemas de gestão ainda é mínima. Dados aproximados de certificados emitidos no Brasil , são: ISO9001 – aproximadamente 50 mil certificados emitidos ISO14001 – aproximadamente 1.500 certificados emitidos OHSAS18001 – aproximadamente 1000 certificados emitidos SA8000 – aproximadamente 100 certificados emitidos NBR16001/ISO26001 – não superior a 5 certificados emitidos. Seria salutar que a adoção de normas de sistemas de gestão, como forma de estruturar as empresas minimamente, aumentaria suas chances de sobrevivência e sucesso. Além de reforçar a cultura pela sustentabilidade.


3.3.4 – Aprimorar o monitoramento das empresas certificadas É fundamental que o processo de monitoramento durante a manutenção de uma certificação seja aprimorado. Aplicando as duas primeiras visões, de forma simultânea, facilitaria em muito o processo de monitoramento de uma empresa certificada. Seria sugerir um processo de monitoramento que incluísse (exemplos): a) Ouvir órgãos de fiscalização e instituições governamentais

(ministérios, banco central, tribunais de contas, etc) b) Ouvir a sociedade e órgãos de representação (ex.: procons) c) Ouvir e interagir com agências reguladoras e controladoras de

atividades

industriais

(ex.:

sindicatos,

ANVISA,

Vigilância

Sanitária, delegacias do trabalho, Banco Central, Inmetro, etc) d)

Monitorar denúncias , acidentes de consumo, acidentes ambientais e outros incidentes na sociedade

e) Monitorar denúncias de ministério público

3.3.5 – Tornar públicas e transparentes os resultados das empresas certificadas Fazer com que os resultados que são temas da sustentabilidade sejam públicas é um grande desafio e uma melhoria significativa na forma de construir a reputação de uma marca e organização. Além de formar a imagem das marcas através de mídia de massa e campanhas de marketing, se faz necessário que existe uma forma oficial de demonstrar os resultados de seu desempenho organizacional, que envolvam os temas da sustentabilidade. Seria um oportunidade única para que as empresa séria brasileira, e que são muitas, poderem reforçar suas imagens institucionais e criar um vinculo de confiança cada vez maior com seu público consumidor. 3.3.6 – Formar um Banco integrado de informações sobre as avaliações realizadas em empresas certificadas


O desafio desta inovação será fazer com que os diversos institutos e órgãos envolvidos no processo de concessão de licenças, outorgas, autorizações, certificações e prêmios, possam interagir seus relatórios de avaliações. Tornar coerente o processo de concessão de uma certificação, mediante a aprovação de órgãos envolvidos com os assuntos da sustentabilidade. Como por exemplo, imaginar que fosse possível um órgão como a Vigilância sanitária, conceder uma licença de funcionamento, mediante a uma visita ao local, e a consulta a relatórios de certificação dos processos das empresas. Ou ainda, a concessão de uma certificação ISO9001 ou ISO14001, mediante a consulta oficial à órgãos públicos envolvidos com o tema . Seria definitivamente a aplicação do conceito de Engajamento dos stakeholders dentro do mercado de certificações. Aplicar o conceito dentro do próprio processo normativo. Assim como realizado em países da Europa.

Comentários Finais Uma vez aplicada às linhas de visão da inovação em processos de certificações, premiações e até elaboração de relatórios de sustentabilidade, conseguiríamos tornar os processos mais próximos da realidade, incentivando as organizações a promoverem modificações profundas em suas práticas de gestão, e aproximaríamos estes processos da sociedade. Melhorando sua credibilidade. Ou então continuaremos da forma que está. Submetida às interpretações subjetivas e circunstanciais, construídas por campanhas mercadológicas. Sem possível existir a oportunidade de demonstrar e provar a coerência das campanhas realizadas.


Entraríamos transparência

e

então

em

integração

uma

fase

completa

de

coerência,

entre

os

vário

objetividade processos

, de

reconhecimento. Deixemos então duas perguntas para reflexão: 1) Em

que

ponto

está

a

credibilidade

de

normas

internacionais/instrumentos de gestão e prêmios, perante as expectativas e necessidades da sociedade? 2) Em qual medida as normas contribuem de fato para a melhoria

da qualidade de vida da sociedade, tal qual a forma com que está implantada hoje? Se a resposta for, “não sabemos ao certo”, essa então deveria ser a hora de pesquisar e inovar. Ou como qualquer outro produto, por falta de inovação, eles poderão morrer pela descrença da credibilidade e pela imensa distância entre a teoria e a realidade/prática. E

então

correremos

o

risco

de

perder

estas

importantes

ferramentas que nos ensinam os caminhos da sustentabilidade. Sob a justificativa subjetiva de que a “teoria é diferente na prática”.

BIBLIOGRAFIA, BIOGRAFIAS, PÁGINAS OFICIAIS E DOCUMENTOS PESQUISADOS 1) Roosevelt, Theodore An Autobiography, 1913, The MacMillan Company, "On October 27, 1858, I was born at No. 28 East Twentieth Street, New York City..."

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6) 1906, Fundação Theodore Roosevelt: http://www.theodoreroosevelt.org/ - visitado em 17.03.2013

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8) 1974, Vídeo entrevista Sherwood Rownland: http://www.vega.org.uk/video/programme/119 - visitado em 17.03.2013

9) Prêmio Nobel em Quimica , Sherwood Rownland: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1995/index.html - visitado em 17.03.2013

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11) 1973; Convenção Internacional das espécies da fauna e da flora silvestre ameaçadas de extinção (CITIES): http://www.cites.org/eng/disc/text.php - visitado em 17.03.2013

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23) UNESCO, Texto conferência sobre a biosfera: http://www.unesco.org/new/en/naturalsciences/environment/ecological-sciences/related-info/publications/mab-officialdocuments/ - visitado em 17.04.2013

24) Publicações oficiais UNESCO: http://www.unesco.org/new/en/naturalsciences/environment/ecological-sciences/related-info/publications/- visitado em 17.04.2013

25) Relatório Nicholas Stern, Relatório sobre mudanças climáticas (UK – 2001): http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/+/http://www.hmtreasury.gov.uk/stern_review_report.htm - visitado em 15.04.2013

26) Declarações de Direitos Humanos (ONU) : http://www.pnuma.org/docamb/mh1972.php visitado em 17.04.2013

27) Declaração de Estocolmo(1972): http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=243 28) SLAP – Sistema de Licenciamento União Européia: http://www.misp-serbia.rs/?page_id=28 – visitado em 15.04.2013

29) Convenção de Roterdã sobre o procedimento de consentimento prévio e livre agrotóxicos: http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/convencao-de-roterda - visitado em 15.04.2013

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31) Convenção de Basiléia – controle fronteiriço - http://www.basel.int/Portals/4/Basel %20Convention/docs/text/BaselConventionText-s.pdf - visitado em 15.04.2013

32) Site oficial Convenção de Roterdã: http://www.pic.int/ - visitado em 15.04.2013 33) União Européia – comissão de estudos da comunidade (2002): http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/site/en/com/2002/com2002_0347en01.pdf

34) América Latina, Rede de empresas e Responsabilidade Social: http://www.empresa.org/ 35) IPCC – Intergovernmental Panel on climate change – relatórios publicados: http://bch.cbd.int/protocol/background/ - visitado em 15.04.2013 IPCC – relatorio 1990 http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_first_assessment_1990_wg1.shtml# .UYEkHrVwqS


A percepção dos gestores dos meios de hospedagem certificados em sustentabilidade –caso da certificação NBR 15401 no Brasil. Claudio Alexandre de Souza1* Rafaela Caroline Simão Álvares2* Resumo A certificação em sustentabilidade vem sendo objeto de estudo de gestores não somente na hotelaria, mas em diferentes áreas de conhecimento visto que ela é uma forma de contribuição para a melhoria na relação das empresas com a sociedade. O objetivo do presente estudo é analisar a certificação nos meios de hospedagens certificados na NBR 15401:2006 – sustentabilidade para os meios de hospedagem. A metodologia deste estudo é resultado de pesquisa documental, bibliográfica relativa à certificação em sustentabilidade. Para esse estudo foi realizada pesquisa de campo com entrevista semiestruturada e amostra censitária junto aos meios de hospedagem certificados pela NBR 15401:2006. Os resultados apresentados podem contribuir para a compreensão da certificação em sustentabilidade nos meios de hospedagem do Brasil, visto ser pioneiro no país, com uma norma tida como referência em nível internacional. Uma vez que a necessidade de elaboração de formas de controle adequado para elaboração de dados relativos aos processos operacionais e administrativos que afetam as dimensões da sustentabilidade a fim de compreender efetivamente quais são os resultados internos e externos que o processo de certificação em sustentabilidade promove.

Palavras-chave: 15401:2006.

Certificação;

Sustentabilidade;

Meio

de

Hospedagem;

NBR

Abstract: The certification in sustainability has been studied by managers not only in hotels, but in different areas of knowledge since it is a form of contribution to the improvement in the ratio of companies with society. The aim of this study is to analyze the means of lodging certification certified in NBR 15401:2006 - Sustainability for lodging facilities. The methodology of this study is the result of desk research, literature on the certification of sustainability. For this study was conducted field research with semi-structured interview and sample census along with lodging facilities certified by NBR 15401:2006. These results can contribute to the understanding of sustainability certification in the lodging facilities in Brazil, as a pioneer in the country, with a standard reference regarded as internationally. Once the need for developing ways to control suitable for preparation of data for operational and administrative processes that affect the dimensions of sustainability in order to effectively understand what are the internal and external results that sustainability certification process promotes. Keywords: Certification, Sustainability, Environment Hosting; NBR 15401:2006.

Introdução No início do século XXI os processos de certificação se consolidaram como uma forma adequada para orientação das empresas quanto à forma correta de atuação para 1

Doutorando em Geografia – UFPR; Mestre em Hospitalidade – UAM; Bacharel em Turismo em Hotelaria – UNIVALI. Professor do Curso de Bacharelado em Hotelaria – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu. E-mail: cas_tur@yahoo.com.br. 2 Bacharel em Hotelaria - – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu. E-mail: rafaella_alvares@hotmail.com. **Curso de Bacharelado em Hotelaria – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu. Avenida Tarquínio Joslin dos Santos, 1300 – Polo Universitário – CEP 85.870-650. Caixa postal, 961 – Foz do Iguaçu – PR.

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melhorar os processos internos de operação a fim de atender a demanda de melhoria da qualidade. Contudo é fundamental entender o que acontece com as empresas nas quais foram implementados esses programas de certificação, uma vez que apenas esses programas não são fatores que implicam diretamente no surgimento de melhorias internas e externas para as empresas. O objetivo do presente estudo é analisar a percepção dos gestores dos meios de hospedagens certificados na NBR 15401:2006 – sustentabilidade para os meios de hospedagem sobre o processo e a certificação que obtiveram para os seus respectivos meios de hospedagem. Pesquisas como as realizadas por Chung e Parker (2010), Alvares (2011) e Arenhart (2011) identificam uma necessidade de mais estudos sobre RSE, sustentabilidade e certificação em meio de hospedagem, visando compreender o que se dá nesse processo tomando como base o contexto nacional. Os estudos realizados para esta pesquisa possibilitaram compreender a complexidade que é o processo de certificação, sobretudo, quando relacionado à temática de sustentabilidade. Essa complexidade se dá principalmente pelo fato das empresas pesquisadas não terem para muitas ações um histórico de registro dos processos operacionais e administrativos. Essa ausência de informação dificulta a compreensão das ações realizadas em função das exigências necessárias para o processo de certificação. Este trabalho está dividido em quatro partes. São elas: a introdução, o embasamento teórico, a metodologia que culmina com a análise dos dados e as considerações finais. Embasamento Teórico Os meios de hospedagem têm, efetivamente, um potencial poluidor pela capacidade de geração de resíduos de diferentes fontes (LAURINO, 2008), (BEATO, 2010), (GROSBOIS, 2011), (ARENHART, 2011), (LEAL, 2011). E o setor de turismo é identificado como o setor que mais impactos ambientais causam (FONT; MIHALIC, 2002) e por esta razão da necessidade de ações práticas efetivas no quanto a gestão ambiental (BOHDANOWICZ, 2005). Um processo de certificação como a NBR 15401:2006 vem de encontro a este cenário como uma forma sistemática de reduzir e dependendo de como foi implementada eliminar este potencial poluidor. 2


Discute-se ainda que este tipo de prática de certificação ambiental em meio de hospedagem contribui local e globalmente para a melhoria das condições ambientais do planeta no tocante a um uso racional dos recursos naturais por parte das empresas privadas (BOHDANOWICZ, 2007). E que atuar realizando ações de sustentáveis ou ter uma certificação que ateste isto, demonstra uma iniciativa por parte do meio de hospedagem em buscar diferencial como uma organização com uma gestão comprometidas com estas questões (HOLCOMB; UPCHURCH; OKUMUS, 2007). Estudos realizados sistematicamente em diferentes regiões do planeta identificaram o altruísmo como efetivamente uma motivação concreta para que gestores implementassem, nas suas respectivas empresas, ações de gestão ambiental (GARAY; FONT, 2011). Em alguns casos, principalmente em função de pressões externas dos stakeholders (EL DIEF; FONT, 2010a). Pesquisas como em Font e Garay (2012) possibilitaram identificar inclusive que 40% de firmas que implementam ações desta natureza são por razões baseadas nos recursos das organizações e por altruísmo, ou seja, pela satisfação pessoal da performance sócio ambientalmente responsável que este tipo de prática proporciona ao negócio. Um programa de certificação para as empresas é visto há vários anos como uma forma de ações para além das melhorias possíveis, mas também uma direta redução dos custos (BOHDANOWICZ, 2007). Algumas pesquisas identificam a redução de custos operacionais aliadas diretamente com a redução de consumo interno na organização (DENG, 2003). Contudo, para atingir esse resultado faz-se necessário que o programa de gestão ambiental esteja efetivamente instalado o que é uma exigência também de uma norma técnica para implementação de um programa de certificação (BOHDANOWICZ; SIMANIC; MARTINAC, 2005a). Esta prática exige um padrão de treinamento sobre a certificação que o seu uso estratégico possibilita vantagem competitiva para uma organização em longo prazo, em relação aos seus respectivos stakeholders (GARAY; FONT, 2011). Identificou-se também o fato de que uma certificação representa além de benefícios financeiros, operacionais e ambientais, a possibilidade desta ser usada também como uma ferramenta de marketing para divulgação da certificação ambiental como um diferencial competitivo que uma empresa possui no setor de turismo em nível mundial (HONEY; STWART, 2002). Esta pratica faz-se necessário ate pela necessidade dos gestores de proporcionarem aos meios de hospedagem uma visibilidade que contribua para o aumento da demanda da empresa. 3


Os processos internos dos meios de hospedagens passam por melhorias inerentes às ações necessárias para a implementação de certificação. Fatores como a compreensão das ações operacionais em relação às questões relacionadas à sustentabilidade que eram desenvolvidas na organização (PIRES et al, 2010), (BEATO, 2010), (ARENHART, 2011). O processo de certificação necessita para a sua efetiva implementação de um programa estruturado de gestão que envolva treinamentos em todos os níveis e que resultem em impactos qualitativos para toda a organização (BOHDANOWICZ; SIMANIC; MARTINAC, 2005a), (EL DIEF; FONT, 2010a). Uma adequada implementação possibilita de forma efetiva que os meios de hospedagens possam mensurar os aspectos operacionais e a compreensão dos processos (BONILLA PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008). Estudos sobre certificação em nível internacional identificam que os custos de um programa de gestão são um impedimento para a disseminação deste tipo de ação para micro e pequenas empresas (HONEY; STWART, 2002), isto que o processo é similar para toda a organização e quanto maior a empresa, melhor diluído na organização será o custo da implementação de um processo de certificação. Por acreditar em um possível potencial para alavancar vendas e aumentar as taxas de ocupação empresas têm buscado certificações (HONEY; STWART, 2002), (AYUSO, 2006). Contudo, Font e Mihalic (2002) identificam que a demanda potencial de meios de hospedagens não valorizam questões socioambientais ou culturais pontuais do meio de hospedagem, mas da destinação como um tudo. Fato este corroborado por Bohdanowicz (2005) quando identifica que há poucos clientes que demanda meios de hospedagem com programas ambientais e da necessidade de haver demanda para este foco para que haja pressão para aumentar a busca dos meios de hospedagem pelo processo de certificação visto que os meios de hospedagem que estão se certificando não tem identificado aumento da demanda (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011). Metodologia A pesquisa foi realizada em julho de 2011, in loco, na cidade de Lençóis no Estado da Bahia com os hotéis Canto das Águas e de Lençóis e na cidade de Búzios no Estado do Rio de Janeiro com o hotel Ville La Plage. Esses hotéis representam os primeiros meios de hospedagem certificados na norma NBR 15401:2006 – Sustentabilidade para Meios de Hospedagem, no período de 2008 a 2010 e eram até a 4


data de realização da pesquisa os únicos meios de hospedagem certificados nesta norma (ALVARES, 2011). Este estudo é resultado de pesquisa de bibliográfica e documental (DENCKER, 1998), junto à temática de certificação em sustentabilidade e certificação em meios de hospedagem em nível mundial, bem como sobre a norma brasileira de sustentabilidade em meios de hospedagem, como a NBR 15401:2006. A pesquisa teve inicialmente o levantamento junto aos órgãos oficiais e especializados em certificação no Brasil uma busca pelos meios de hospedagem classificados na norma NBR 15401:2006, com o objetivo de compreender o universo das mesmas em função do objetivo de realizar uma pesquisa censitária. Após a identificação do Hotel Canto das Águas e do Hotel Ville La Plage como meios de hospedagem certificados foi realizado pesquisa documental nas páginas eletrônicas das respectivas empresas com objetivo de conhecer as ações relacionadas à certificação. Posteriormente, procedeu-se a solicitação de autorização para a realização da pesquisa in loco. Na sequencia foi realizado entrevista semiestruturada in loco com os gestores dos meios de hospedagem pesquisados, foi realizada visita ao meio de hospedagem como forma de validação visto que a pesquisa tinha o objetivo de buscar evidência dos dados coletados na entrevista. Uma vez que as empresas pesquisadas eram meios de hospedagens certificados há existência de evidências pode ser identificada como requisito necessário, pela estrutura de um processo de certificação vindo ao encontro da argumentação de estudos que identificam que empresas com uma quantidade de ações sobre a temática sustentabilidade efetivamente tem mais documentações sobre as ações (FONT et al, 2012a). Os meios de hospedagem contatados que demonstraram interesse em participar deste estudo, desde o primeiro momento, se colocaram à disposição para receber in loco os pesquisadores e em apresentar evidências relacionadas aos dados questionados durante o processo de coleta de dados, conforme previsto inclusive na norma NBR15401:2006, em relação a manter-se aberta a comunicar aos stakeholders seu comprometimento com a sustentabilidade (ASSOCIAÇÃO, 2006). O estudo buscou realizar entrevista semiestruturada com os gestores dos meios de hospedagem certificados, tendo em vista o fato de serem responsáveis legais pelas empresas e pelo domínio que estes têm em relação às ações que são desenvolvidas em

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suas respectivas empresas, conforme realizado em pesquisas desta natureza (AYUSO, 2006; 2007). Apesar de se identificar que em pesquisas realizadas em meios de hospedagem do Brasil sobre a sustentabilidade, verificou-se a falta de domínio dos mesmos sobre questões de ordem conceitual, mesmo quando à empresa tinha efetivamente ações realizadas nesta área (PIRES, 2008); (BEATO, 2010). Contudo eles são o foco da pesquisa pela forte dependência de MPE, para com os seus respectivos gestores e pelo poder de tomada de decisão que o mesmo tem na empresa (BOHDANOWICZ, 2006). Os dados que foram coletados serão analisados no formato denominado de emparelhamento (LAVILLE; DIONNE, 1999). Tal proposta vem em função do fato do embasamento teórico se reportar a outros estudos já realizados sobre certificação em sustentabilidade no setor de turismo e mais especifico em meio de hospedagem, sendo muitos casos de estudos realizados no exterior. As análises críticas realizadas neste estudo têm o objetivo de compreender as ações realizadas no meio de hospedagem e contribuir não só para análise científica dos dados bem como com as análises que objetivam orientar as ações de meios de hospedagens que buscam a certificação da NBR 15401:2006 (FONT, 2008). Caso dos Hotéis certificados na NBR 15401:2006 – Gestão de sustentabilidade em Meios de Hospedagem Os meios de hospedagem pesquisados possuem uma quantidade similar de UH’s. Além disso, todos possuem a sua certificação em função das ações do Programa Bem Receber que tinha como foco a orientação para implementação dos processos previstos na NBR 15401:2006 com a possibilidade da certificação de meios de hospedagem com número de UH’s – Unidades Habitacionais, igual ou inferiores a 50 UH’s (LAURINO, 2008), (LAVOR 2009). As empresas pesquisadas, podem ser classificadas pela quantidade de UH’s, como sendo de pequeno porte (DUARTE, 1998), e todas buscaram a implementação com foco na certificação como resultado do Programa Bem Receber implementado no Brasil pelo Governo Federal que visava subsidiar tal ação com apoio financeiro e operacional para a concretização do processo de certificação (LAURINO; SOUZA, 2010), (ALVARES, 2011). Esse fato vem ao encontro do identificado por pesquisas internacionais que verificaram que para empresas de pequeno porte buscar o processo de certificação como 6


forma de promover melhorias organizacionais, apesar de ser o objetivo de várias é algo inviável pelo custo para adequação de micros e pequenas empresas para implementação de um processo de certificação ser considerado elevado para os padrões de empresas de médio e pequeno porte (HONEY; STWART, 2002). Apresentação e Análise dos Dados Os meios de hospedagem Canto das Águas e o Ville La Plage foram identificados via sites de busca com o nome da norma e as palavras hotel, entretanto, o meio de hospedagem Hotel de Lençóis só foi identificado quando da estada dos pesquisadores in loco. Como discutido em pesquisas realizadas sobre a temática citada (HONEY; STWART, 2002); (ARENHART, 2011) há necessidade de ampla e clara divulgação da norma e das empresas certificadas, não somente por questões mercadológicas, mas inclusive para maior clareza dos clientes e dos stakeholders que tenham interesse em obter maiores informações sobre as mesmas para as suas respectivas relações para com o meio de hospedagem. O meio de hospedagem Hotel Canto das Águas, o primeiro a ser certificado em 2008, já praticava ações de boas práticas (AYUSO, 2006; 2007), como resultado da participação deste no PCTS – Programa de Ceritificação do Turismo Sustentável em 2007 e no Programa Bem Receber de 2008 em diante (LAURINO, 2008). Esse fato possibilitou ainda que fosse para este mais rápido a adequação das ações de boas práticas já realizadas aos requisitos da norma vindo ao encontro de estudos que apontam que quanto mais ações e de forma correta mais fácil e para agilizar a documentação necessária (FONT et al, 2012a). O Hotel de Lençóis, bem como os demais hotéis aqui pesquisados, mas neste caso foi o fator motivador para a certificação, participaram do Programa Bem Receber (LAURINO, 2008). Este programa tinha efetivamente como meta a promoção da certificação dos participantes o que ocorreu no ano de 2009. A participação neste programa deu base para que o meio de hospedagem pudesse se adequar aos requisitos da norma (FONT et al, 2012a). Quando do início de estudos sobre gestão ambiental foi identificado o potencial poluidor do Hotel Ville la Plage (GROSBOIS, 2011), (ARENHART, 2011). Isto posto, esse hotel buscou uma certificação que atestasse o interesse pela consolidação de um sistema de gestão ambiental para o meio de hospedagem (BOHDANOWICZ, 2005). Este foi interesse da gestora/proprietária que de fato buscava um diferencial para o 7


empreendimento (HOLCOMB; UPCHURCH; OKUMUS, 2007), obtendo a certificação em 2010. Quando questionados sobre a implementação e a manutenção da NBR 15401:2006, eles identificam a contribuição que a certificação possibilitou para a sensibilização em relação aspectos ligados a sustentabilidade de todos os envolvidos interna e externamente ao hotel. Visto que durante o processo de implementação o que a NBR possibilitou através da orientação e treinamento que ocorreram suprir esta lacuna que era a falta de compreensão sobre as questão ambientais de forma sistemática (PIRES, 2008), (LEAL, 2011). Mesmo eles já tendo desenvolvidos em suas estruturas atividades ambientais. Aliadas aos programas que os gestores participaram para dar base para a implementação da NBR 15401:2006, foi identificado que já eram realizadas voluntariamente ações de boas práticas ambientais de forma altruísticas

(FONT;

GARAY, 2012). No caso do Hotel Canto das Águas e no Hotel Ville La Plage, as gestoras argumentaram que foi em função da observação da possibilidade de realizar ações, consideradas simples, mas com resultados concretos para o entorno dos hotéis. Pelas características do Programa Bem Receber (LAURINO, 2008) no que se refere à forma de controle e gestão dos recursos hídricos e elétricos, os meios de hospedagem identificaram o potencial efetivo para redução de custos (HONEY; STWART, 2002), (BOHDANOWICZ, 2007). Principalmente em função da redução do consumo, apesar da ainda reduzida quantidade de dados estatísticos sobre as diversas ações realizadas na organização (DENG, 2003). Tais elementos podem ser potencializados com treinamentos (EL DIEF; FONT, 2010a). O que geraria ou reforçaria estrategicamente o diferencial competitivo para os hotéis em suas relações com os stakeholders (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011). O Programa Bem Receber previa em sua concepção original a divulgação dos diversos meios de hospedagem certificados na NBR 15401, como forma de dar suporte as empresas que se engajaram no processo (LAURINO, 2008). Contudo como pode ser observado na dificuldade em se obter dados relativos às empresas certificadas nesta norma tal fato não se observou na prática. O que nos faz questionar o fato das empresas não estarem sabendo obter a promoção e competitividade que tal certificação poderia lhe proporcionar (HONEY; STWART, 2002). Contudo cabe a ressalva que o Hotel Canto das Águas vem explorando uma divulgação espontânea por ter sido o primeiro do país a ser certificado, tendo por um 8


tempo usado o título de “O hotel mais sustentável do Brasil” e após 2009 de “O primeiro hotel sustentável do Brasil” (ALVARES, 2011). O hotel Ville la Plage por sua vez tem uma divulgação acadêmica e mercadológica em função das participações em prêmios nacionais e da atuação da gestora/proprietária como palestrante em eventos em todo o Brasil (Idem). Não se observou nenhuma ação comercial vinculando o nome do Hotel de Lençóis à certificação NBR 15401:2006. Porém, apesar de se ter identificado projetos de eco-inovação que agregam valor aos serviços prestados com potencial para geração de melhorias competitivas, foi identificada a ausência de dados ambientais, sociais e econômicos referentes às mudanças que estas ações de eco-inovação promoveram na e para a empresa e para e com os stakeholders envolvidos (DENG, 2003), para que a partir destes dados possam ser efetivamente avaliadas de forma mais críticas quanto a todas as mudanças que estes novos processos operacionais promoveram nas relações e o quanto influenciam na competitividade da empresa. Entretanto, como citado anteriormente, há necessidade de ações efetivas quanto a uma sistematização para controle e gestão efetiva de todos os processos que já ocorrem em um meio de hospedagem bem como as ações de eco-inovação foram implementadas em função da implementação de uma certificação NBR 15401:2006 (BOHDANOWICZ; SIMANIC; MARTINAC, 2005a), (EL DIEF; FONT, 2010a). É necessário que todos os processos sejam controlados e geridos, para que possam ser compreendidos, controlados, mensurados e implementados de forma a promover melhorias para a sociedade e as partes que a compõem, os meios de hospedagens e os seus stakeholders (BONILLA PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008). Quanto aos obstáculos para implementar o processo de certificação nos hotéis identificou-se mudanças quanto ao aumento do numero de funcionários ao Hotel Ville La Plage e falta de compreensão em todos os hotéis pesquisados sobre os conceitos discutidos nas normas em função da complexidade da norma (SOUZA; ABDALLA, 2010), (GANDARA; SOUZA; ABDALLA, 2011a, 2011b). Bem como a necessidade da elaboração dos parâmetros para mensurar os parâmetros necessários para a implementação da norma. Contudo cabe lembrar que em todos os meios de hospedagem houve suporte para do Programa Bem Receber (SOUZA; LAURINO, 2009), (LAURINO, 2008), mas mesmo assim identificam-se os obstáculos citados no processo de implantação da norma, mas não para mantê-la visto que depois de implementada houve consenso para a manutenção da certificação. 9


Os meios de hospedagem pesquisados não indicaram como foco de suas ações a busca imediata pelo aumento da demanda o fator motivacional para implementação da certificação como se verifica na literatura (HONEY; STWART, 2002), (AYUSO, 2006). Contudo os mesmos mensuram a demanda e não identificaram um aumento da demanda em função da certificação e/ou no período pós-certificação como indicado nos estudos realizados (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011). Considerações Finais Conforme observado nos resultados da pesquisa de campo similar ao do discutido em pesquisas realizadas sobre certificação e sustentabilidade em meio de hospedagem como (BONILLA PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008), recomenda-se que sejam realizadas mais pesquisas junto aos meios de hospedagem certificados e as relações destes com os seus respectivos stakeholders. Inclusive como forma de contribuir para a melhoria dos processos de certificação nos meios de hospedagem. Bem como formas de coleta de dados mensuráveis relativos aos processos antes e após os processos de certificação ser consolidado nas organizações de forma a se identificar formas de se compreender as alterações surgidas pelos processos de certificações. Observou-se que os gestores dos meios de hospedagem pesquisados necessitam de mais informações sobre certificação em meio de hospedagem de forma geral. Bem como também sobre certificação em sustentabilidade em meios de hospedagem, uma vez que os mesmos estão mantendo uma certificação sobre sustentabilidade, mas sem uma fonte direta para busca de conhecimento sobre esta área que eles estão vivendo. A busca pela certificação como forma de se obter retorno financeiro pelo aumento da demanda em meios de hospedagem tem sido o foco da justificativa de empresa que buscam as certificações (HILLMAN; KEIM, 2001). Contudo não se verificou tal fato nesta pesquisa o que chama atenção para como estruturar uma certificação para que contribua para este fim caso isto seja possível, como é o discutido em nível acadêmico da área de gestão (PORTER; KRAMER, 2006). A busca por gerir um sistema de certificação sobre sustentabilidade nos meios de hospedagem certificados apresenta que a principal motivação resulta no Programa Bem Receber implementado pelo Governo Federal com apoio do Sebrae (SOUZA, LAURINO, 2009). Contudo a busca pelo resultado financeiro é contínua, mas não se faz presente, apesar dos gestores buscarem-no constantemente. 10


Verifica-se que a complexidade técnica da norma relativa às questões da sustentabilidade a torna uma referência em nível internacional (ASSOCIAÇÃO, 2006), (LAVOR, 2009). Contudo esse fato por sua vez faz com que a mesma tenha uma difícil compreensão da parte dos gestores e funcionários dos meios de hospedagem pesquisados (ALVARES, 2011). Esse fato deve ser considerado para a elaboração de projetos para processos de implementação desta certificação em meios de hospedagem do país. Os estudos identificaram a ausência de sistemas aplicados de coletados nos meios de hospedagem (DENG, 2003). Este ponto impossibilita análises mais precisas em relação aos processos de gestão da certificação implementados nos meios de hospedagem pesquisados de forma que tal fato impossibilita compreender efetivamente os resultados das ações na gestão das organizações estudadas. Outro ponto que cabe ser analisado, em função de ser uma norma com poucas empresas certificadas, desenvolver uma forma sistemática de acompanhar a evolução das mesmas de forma a serem usadas sistemáticas como ferramentas de benchmarking, tanto em nível acadêmico quanto mercadológico para os atuais e futuros meios de hospedagem interessados nesta norma. Referências Bibliográficas ALVARES, R. C. S., Certificação em NBR: 15401 nos meios de hospedagem. Foz do Iguaçu, 2011. Monografia (Bacharelado). Curso de Graduação em Hotelaria da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. ALVAREZ GILA; M. J., BURGOS JIMENEZ, J. E CESPEDES LORENTEC, J. J. An analysis of environmental management,organizational context and performance of Spanish hotels. In: Omega, v. 29, [S.I], p. 457 – 471, 2001. ARENHART, Andrielly. Certificação Ambiental Aplicável aos Meios de Hospedagem no Brasil. Medianeira, 2011. Monografia (Tecnólogo). Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15401: meios de hospedagem: sistema de gestão da sustentabilidade: requisitos. Rio de Janeiro, 2006. AYUSO, S., Adoption of voluntary environmental tools for sustainable tourism: analysing the experience of Spanish hotels. In.: Corporate Social Responsibility and Environmental Management, [S.I.], [S.I.], p. 1-14, 2006.

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Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais de referência usando as certificações LEED e - PROCEL-EDIFICA Autores: Luana Eid Piva Bertoletti*, Alberto Hernandez Neto** *Engenheira Mecânica, Graduada na Escola Politécnica da USP, Instituição: Sustentech Desenvolvimento Sustentável - luanaepb@gmail.com **Professor Livre Docente pela Escola Politécnica – USP, Instituição : Escola Politécnica da USP – ahneto@usp.br RESUMO O mercado imobiliário brasileiro, seguindo a tendência mundial de adoção de práticas sustentáveis no setor da construção civil, tem passado por transformações frente à demanda crescente por edifícios ambientalmente adequados e energeticamente eficientes. Os empreendimentos sustentáveis já são uma realidade no país e as certificações são cada vez mais procuradas pelos empreendedores. Do ponto de vista energético, a avaliação do desempenho de edifícios que almejam uma certificação pode ser feita via cumprimento de medidas prescritivas e/ou via realização de simulação computacional. Este último método prevê a comparação do desempenho dos modelos do edifício real (proposto) e do edifício de referência, o qual representa um patamar superior de desempenho para edifícios com características similares às do edifício real (tipo de utilização, zona climática, etc.). Logo, ao escolher a metodologia para tal fim, é importante que ela seja adequada à realidade climática, energética e legislativa do país em questão. Neste sentido, diante dos questionamentos relacionados à aplicabilidade dos diferentes sistemas de certificação no contexto brasileiro, o objetivo do trabalho é comparar, segundo dois destes sistemas, quais níveis de desempenho caracteriza do ponto de vista energético, um edifício comercial de referência, em três cidades brasileiras. Para a realização da análise comparativa, foram escolhidos os sistemas de certificação LEED e PROCEL-Edifica, difundidos no mercado brasileiro e aplicáveis a edifícios comerciais. Os resultados das simulações mostram que, em termos de consumo energético, o edifício de referência do PROCEL-Edifica é mais exigente que o edifício de referência do LEED, situação verificada para as três cidades analisadas. ABSTRACT The Brazilian real estate market, following the global trend of adopting sustainable practices in the construction industry, has been going through changes due to the growing demand for environmentally friendly and energy efficient buildings. The sustainable buildings are already a reality in the country and certifications are increasingly sought after by entrepreneurs. From the energetic point of view, performance assessment of buildings which aim for a certification can be carried out by compliance with prescriptive measures and / or by conducting computer simulation. This latter method provides the performance comparison of the actual building (proposed) and the baseline building, which represents a higher level of performance for buildings with similar characteristics to the actual building (type of use, climate zone, etc.). Thus, when choosing the methodology for this purpose, it is important that it is suited to the climatic, energy, and legislative


reality of the concerned country. In this sense, considering the inquiries related to the applicability of different certification systems in the Brazilian context, the aim of this study is to compare, according to two of these systems, which performance levels characterize, in terms of energy, a commercial baseline building, in three Brazilian cities. In order to perform the comparative analysis, the certification systems which were chosen are LEED and PROCEL-Edifica, widespread in the Brazilian market and applicable to commercial buildings. Simulation results show that, in terms of energy consumption, PROCEL-Edifica baseline building is more stringent than LEED’s one. This situation was verified for the three cities. 1. Introdução A construção civil é uma das atividades econômicas que mais emprega recursos naturais, seja na fase de construção, operação ou manutenção ao longo de sua extensa vida útil. Contudo, somente a partir da década de 80, diante da crise do petróleo de 1973, intensificou-se a preocupação com o desempenho energético e ambiental durante o processo de concepção do projeto de edifícios. No Brasil, a preocupação com a conservação e uso racional de energia ocorreu posteriormente, visto que na época em que se deu a crise, o país já possuía um parque gerador predominantemente hidroelétrico (Mendes, 2005). Somente em 2002, diante da crise de abastecimento ocorrida no ano anterior, em decorrência dos poucos investimentos na ampliação do parque gerador e da escassez de chuvas, o Ministério de Minas e Energia publicou o Plano de Trabalho de Implementação da Lei de Eficiência Energética (Lei n° 10.295 de 17 de outubro de 2001). Este plano destaca a necessidade de desenvolvimento de mecanismos que promovam a eficiência energética dos edifícios construídos no país (Hagel, 2005). Neste contexto, o mercado imobiliário brasileiro, seguindo a tendência mundial de adoção de práticas sustentáveis no setor da construção civil, tem passado por transformações frente à demanda crescente por edifícios ambientalmente adequados e energeticamente eficientes. No Brasil, a regulamentação de desempenho energético e ambiental em edifícios ainda é insipiente (Shalders, 2003). No entanto, os empreendimentos sustentáveis já são uma realidade no país e as certificações são cada vez mais procuradas pelos empreendedores, visto que os benefícios deste processo atingem, positivamente, o meio ambiente, o empreendedor e as pessoas que irão usufruir da estrutura construída. Atualmente, os selos mais solicitados são o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e o PROCEL-Edifica.

2. Objetivo Atualmente, existe uma grande diversidade de metodologias utilizadas para avaliação do desempenho energético e ambiental de edifícios, assim como milhares de metros quadrados já


certificados em mais de uma centena de países. Do ponto de vista energético, a avaliação do desempenho de edifícios que almejam uma certificação pode ser feita via cumprimento de medidas prescritivas e/ou via realização de simulação computacional. Este último método prevê a comparação do desempenho dos modelos do edifício real (proposto) e do edifício de referência, o qual representa um patamar superior de desempenho para edifícios com características similares às do edifício real (tipo de utilização, zona climática, etc.). Logo, ao escolher a metodologia para tal fim, é importante que ela seja adequada à realidade climática, energética e legislativa do país em questão. Neste sentido, diante dos questionamentos relacionados à aplicabilidade dos diferentes sistemas de certificação no contexto brasileiro, o objetivo do trabalho é comparar, segundo dois destes sistemas, quais níveis de desempenho caracterizam do ponto de vista energético, um edifício comercial de referência (Hagel, 2005). Este estudo comparativo será realizado para três cidades brasileiras, cujo critério de escolha será apresentado nas seções que seguem, com base em estudo realizado por Betoletti (2011).

3. Sistemas de certificação de edifícios e o contexto brasileiro Nesta seção, é feita uma breve descrição dos sistemas de certificação escolhidos para a realização da análise comparativa: LEED e PROCEL-Edifica. A seguir, são apresentados seus aspectos gerais e a contextualização dos mesmos no mercado imobiliário brasileiro. A justificativa da escolha destes sistemas é apresentada na seção 4.

3.1.LEED O sistema de certificação LEED, de origem norte-americana e de caráter voluntário, foi desenvolvido pela organização não-governamental U.S.Green Building Council (USGBC). Atualmente, é a metodologia de maior reconhecimento no mercado imobiliário internacional para padrões de sustentabilidade em edifícios, sejam eles novos ou existentes, de caráter comercial, institucional ou residencial. A última versão do sistema de classificação para Novas Construções ou Grandes Renovações (USGBC, 2008), inicialmente desenvolvida para a avaliação de edifícios comerciais, é composta pelas seguintes categorias: “Sítios sustentáveis”, “Eficiência da água”, “Energia e atmosfera”, “Materiais e recursos”, “Qualidade do ar interno”, “Inovação em projeto” e “Prioridade Regional”. Cada uma das categorias é composta por créditos e para que os pontos sejam atribuídos aos mesmos, com base em uma lista de objetivos pré-definida, os pré-requisitos específicos à categoria


devem ser cumpridos. Assim, o método de avaliação possui uma estrutura simples do tipo checklist. De acordo com a pontuação total obtida, o edifício pode ser certificado segundo quatro níveis: Certificado, Prata, Ouro, Platina. O sistema é baseado em 100 pontos, porém os créditos de “Inovação de Projeto” ou de “Prioridade Regional” tornam possível a obtenção de até 10 pontos de bonificação. No Brasil, o Green Building Council Brasil (GBC-Brasil) vem disseminando no mercado o sistema de certificação LEED, o qual tem sido amplamente utilizado para avaliar e certificar edifícios em grandes cidades brasileiras: de acordo com dados do GBC, o Brasil é o 4º país no ranking mundial de construções sustentáveis certificadas pelo LEED, com 37 empreendimentos, atrás apenas dos Estados Unidos, Emirados Árabes e China (PROCEL-INFO, 2011). O GBC-Brasil trabalha na interpretação e adaptação desta metodologia ao mercado nacional, embora essa adaptação ainda não tenha sido concluída.

3.1.1. Avaliação do desempenho energético No Referencial LEED (USGBC, 2008), os aspectos energéticos são abordados na categoria “Energia e atmosfera”. Nesta categoria, é definido o desempenho energético mínimo que o edifício proposto deve apresentar para cumprir com o pré-requisito 2 da categoria. Para a comprovação do desempenho, o Referencial propõe duas opções: via cumprimento de medidas prescritas de guias de projeto da ASHRAE ou via simulação energética computacional. Ao utilizar este último método, o atendimento ao pré-requisito prevê a redução do consumo do edifício proposto em 10%, em termos de custo, com relação ao consumo do edifício de referência. As características deste último são definidas e apresentadas no Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a).

3.2.PROCEL-Edifica A Etiqueta de Eficiência Energética em Edificações, PROCEL Edifica, criada em 2003 pela parceria entre a Eletrobrás e o INMETRO, é um sistema de avaliação de desempenho energético de edifícios que faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Sua metodologia foi desenvolvida pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) e contou com a participação de diversas instituições, como o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). A avaliação do desempenho energético de edifícios comerciais, de serviços e públicos é feita utilizando-se o Regulamento Técnico de Qualidade (RTQ) (INMETRO, 2010), que até a presente


data é de caráter voluntário. Para que um edifício seja elegível à etiquetagem, todos os pré-requisitos gerais presentes no RTQ (INMETRO, 2010), referentes ao edifício como um todo, devem ser cumpridos, obrigatoriamente. Uma vez elegível, determina-se o nível de desempenho do edifício, que varia de “A” (mais eficiente) a “E” (menos eficiente), após a avaliação do desempenho de três sistemas que o compõem: envoltória, iluminação e condicionamento de ar. Após a obtenção da classificação do edifício, é concedida a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), a qual pode ser concedida em três fases: para o projeto do edifício, para o edifício pronto (após a obtenção do alvará de conclusão de obra) e para o edifício existente, após reforma. Também existe a possibilidade de se obter apenas a classificação de um (uns) sistema(s), no caso em que seja almejada a etiqueta parcial do edifício. O PROCEL-Edifica, sistema de avaliação que já emitiu etiquetas para cerca de 30 edifícios (PROCEL-INFO, 2011), diferentemente da certificação LEED, que aborda diversos aspectos ambientais e de conforto dos ocupantes do edifício, avalia apenas o desempenho energético do mesmo.

3.2.1. Avaliação do desempenho energético A classificação do nível de desempenho energético do edifício pode ser obtida via método prescritivo ou via simulação computacional. Ao utilizar este último método, o edifício proposto é certificado ao apresentar consumo energético inferior ao apresentado pelo edifício de referência correspondente à etiqueta pretendida. Cabe ressaltar que, ao realizar a simulação para a comprovação do desempenho, o método prescritivo não é dispensado, visto que é necessário para se determinar certos parâmetros utilizados por esta ferramenta.

4. Metodologia 4.1. Escolha dos sistemas de certificação A escolha dos sistemas de certificação foi baseada na análise da abordagem do desempenho energético segundo três sistemas estudados: LEED, AQUA e PROCEL-Edifica. O critério crucial de decisão foi o fato da metodologia AQUA não definir claramente quais parâmetros devem ser adotados com relação aos sistemas energéticos do edifício (iluminação, condicionamento de ar) para a definição de seu edifício comercial de referência.


De acordo com profissionais da área de certificação de empreendimentos, nos primeiros processos de certificação AQUA, foram adotados parâmetros que constam no PROCEL-Edifica a fim de caracterizar o edifício de referência. Diante disso, optou-se então, por comparar, via simulação computacional, o desempenho dos edifícios comerciais de referência do LEED e do PROCEL-Edifica.

4.2.Escolha das cidades A primeira etapa para a escolha das cidades foi a consulta ao apêndice normativo B da ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007), a fim de extrair a classificação das cidades brasileiras segundo as zonas bioclimáticas (ZB) apresentadas por esta norma. Posteriormente, recorreu-se à NBR 15220 – 3 (ABNT, 2005) para verificar qual a classificação das mesmas cidades segundo a norma brasileira de zoneamento bioclimático. Desta análise, conclui-se que qualquer cidade classificada segundo a ASHRAE como ZB1 corresponde à ZB 8 da NBR 15220-3 (ABNT,2005). Já as cidades classificadas como ZB2, segundo a ASHRAE, correspondem à ZB3 ou ZB4 da norma brasileira. Assim, a fim de representar a ZB1 da ASHRAE e a ZB8 da NBR, foi escolhida, arbitrariamente, a cidade de Belém. Já para a ZB2 da ASHRAE foram escolhidas Brasília e São Paulo, visto que apresentam classificações distintas segundo a norma brasileira (ZB4 e ZB3 respectivamente).

4.3. Características do edifício comercial tipo Visto que alguns aspectos que definem os edifícios de referência estão relacionados aos edifícios reais (edifícios propostos), serão estabelecidas algumas características em comum a ambos os edifícios de referência, as quais corresponderiam a um edifício comercial típico.

4.3.1. Geometria A geometria dos edifícios de referência foi baseada em um modelo de edifício comercial simples, constituído de 20 pavimentos de forma retangular, cuja fachada de maior dimensão está voltada para o Norte geográfico. Cada pavimento, cujas dimensões adotadas são de 1200,00 m2 de área de piso (30,00 m x 40,00 m) e 3,00 m de pé direito livre, é dividido em duas zonas térmicas, a saber: área de escritório do tipo planta livre, climatizada, e área central de circulação (7,0 m x 7,0 m), não climatizada.


4.3.2. Ganhos internos 4.3.2.1.Densidade de ocupação e de cargas internas A densidade de ocupação foi definida a partir da ASHRAE Fundamentals 2009 (ASHRAE, 2009). De acordo com a norma, para uma estação de trabalho individual dotada de computador, monitor, impressora e fax, a densidade de ocupação correspondente é de 11,6 m2/pessoa. A norma define ainda a taxa metabólica dos ocupantes, que no caso de atividade moderada de escritório é definida em 130 W/pessoa. Já a densidade de carga de equipamentos elétricos da área de escritório, correspondente à densidade de ocupação acima especificada é de 10,8 W/m2. A densidade de ocupação e de cargas internas e a taxa metabólica correspondente à área de circulação não foram estabelecidas, pois esta foi considerada como uma área de ocupação não permanente (corredor).

4.3.2.2.Perfis de ocupação e de operação de sistemas e equipamentos Os perfis de ocupação e de operação dos sistemas e equipamentos da área de escritório foram retirados do manual da ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a). Para a área de circulação, foi considerado que o sistema de iluminação funciona segundo o mesmo perfil do sistema correspondente da área de escritório.

4.3.3. Renovação de ar A fim de garantir a qualidade do ar interior e a manutenção de níveis aceitáveis de poluentes nos ambientes condicionados, foi estabelecida, com base na norma NBR 16401-3 (ABNT, 2008), a taxa mínima de renovação de ar exterior. Para as áreas de escritório, foi considerado nível intermediário de vazão de ar externo para ventilação (nível 2), cujas parcelas que compõem a vazão efetiva são estabelecidas em 3,1 l/s.pessoa e 0,4 l/s.m2.

4.4.Características específicas dos edifícios de referência A seguir, serão apresentadas as características específicas que definem os edifícios de referência segundo os dois sistemas de avaliação. A caracterização destes modelos remete ao Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a), no caso do LEED, e ao RTQ


(INMETRO, 2010), no caso do PROCEL-Edifica. Cabe destacar que o edifício de referência adotado a fim de representar o PROCEL-Edifica apresenta características correspondentes ao melhor nível de desempenho definido pelo RTQ (INMETRO, 2010), o qual corresponde à etiqueta “A”.

4.4.1. Orientação No caso do LEED, o Apêndice G (ASHRAE, 2007) especifica que o desempenho do edifício de referência seja obtido através da simulação à orientação do edifício proposto e posteriormente a 90°, 180° e 270° desta. Então é feita a média dos resultados. Já para o PROCEL-Edifica, o RTQ (INMETRO, 2010) estabelece que a orientação do edifício de referência seja a mesma do edifício proposto. No caso do presente estudo, o desempenho dos edifícios de referência será avaliado apenas à orientação do edifício tipo, estabelecida na seção 4.3.1.

4.4.2. Envoltória

4.4.2.1.Materiais As propriedades das superfícies opacas e translúcidas especificadas para os edifícios de referência são apresentadas na Tabela 1. No caso dos edifícios do PROCEL-Edifica, algumas hipóteses foram adotadas em caso de falta de especificações: para o coeficiente de transmitância térmica do piso foi adotado o mesmo coeficiente especificado pelo Apêndice G (ASHRAE, 2007a) e para a janela, foi definido o coeficiente com base nas propriedades térmicas de um vidro de 3 mm de espessura e de seu caixilho. Tabela 1: Propriedades das superfícies opacas e translúcidas dos edifícios de referência Belém

0,71

PROCELEdifica 3,70

1,00

0,36

0,25

Ujanela [W/m . K]

São Paulo

0,71

PROCELEdifica 3,70

1,00

0,27

1,00

0,27

0,25

0,25

0,25

0,25

0,25

6,91

6,81

6,91

4,26

6,91

4,26

SHGC

0,87

0,25

0,87

0,25

0,87

0,25

Absortância parede

0,50

0,70

0,50

0,70

0,50

0,70

Absortância cobertura

0,50

0,70

0,50

0,70

0,50

0,70

Uparext [W/m2. K] 2

Ucob [W/m . K] 2

Upiso [W/m . K] 2

PROCELEdifica 2,50

Brasília LEED

LEED

LEED 0,71


4.4.2.2.Percentual de abertura na fachada O percentual de abertura na fachada (PAF) estabelecido para os edifícios de referência são apresentados na Tabela 2. No caso do LEED, os edifícios foram modelados com 40% de abertura na fachada, correspondente ao valor máximo que este parâmetro pode apresentar em um edifício de referência. Já no caso do PROCEL-Edifica, o PAF dos edifícios foi calculado utilizando-se fórmulas de cálculo do índice de consumo (IC) específicas à zona bioclimática e à área de projeção do edifício. Este método de cálculo encontra-se detalhado no RTQ (INMETRO, 2010). Tabela 2: Percentual de abertura na fachada dos edifícios de referência Belém PAF

Brasília

São Paulo

PROCEL-Edifica

LEED

PROCEL-Edifica

LEED

PROCEL-Edifica

LEED

18,1%

40,0%

14,7%

40,0%

18,1%

40,0%

4.4.3. Sistema de iluminação As densidades de potência de iluminação (DPI) foram estabelecidas de acordo com o método das atividades do edifício, visto que, para os edifícios em questão, foram definidas duas zonas relacionadas a atividades distintas. Embora o método seja comum às duas certificações, os valores limites de DPI diferem entre si, conforme mostra a Tabela 3. Tabela 3: Densidade de potência de iluminação (DPI) dos sistemas de referência Atividade Escritório (planta livre) Circulação

DPI [W/m2] - LEED 12,0 5,0

DPI [W/m2] - PROCEL-Edifica 10,5 7,1

4.4.4. Sistema AVAC No caso da certificação LEED, o Apêndice G da norma 90.1 (ASHRAE, 2007a) estabelece que o sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) de referência seja determinado de acordo com o tipo de uso do edifício, número de pavimentos, área condicionada e fonte energética do sistema. No caso do edifício comercial tipo, definido na seção 4.3, de uso não-residencial e de mais de 5 pavimentos, o sistema de referência é central do tipo volume de ar variável (VAV) dotado de fancoils e reaquecimento terminal. O efeito de resfriamento do ar é proporcionado por água gelada e


o de aquecimento por resistência elétrica. Para a produção de água gelada são previstos chillers elétricos de condensação à água. O número de equipamentos e o tipo de compressor foram definidos de acordo com a carga de pico do edifício, obtida por meio das simulações de dimensionamento. Definidas as características dos equipamentos, adotaram-se os níveis de eficiência estabelecidos na seção 6 da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a), com os quais os chillers foram modelados. As demais características específicas do sistema de referência, adotadas no presente estudo, encontram-se detalhadas no Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a). Para o certificado emitido no programa PROCEL-Edifica, o RTQ (INMETRO, 2007) o sistema de climatização de referência, no caso em que se pretende obter a etiqueta total do edifício, a ser adotado para a realização da simulação deve ser o mesmo que o do edifício proposto, com valores de eficiência de seus equipamentos estabelecidos de acordo com o método prescritivo. Visto que, no presente estudo, a definição do edifício de referência não está baseada em um edifício existente, foi adotada a hipótese de que o sistema de referência corresponde ao sistema adotado no caso em que se pretende obter as etiquetas parciais, de envoltória e de iluminação, por exemplo. Nesta condição, o sistema de AVAC deve ser simulado conforme o tipo, características e níveis de eficiência especificados no RTQ (INMETRO, 2007). No caso do edifício comercial tipo, que apresenta área condicionada superior a 4.000 m2, o sistema modelado seria do tipo água gelada com caixas VAV e condensação a água, assim como para o sistema de referência definido pelo Apêndice G da norma 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a). Da análise das demais características especificadas, conclui-se que as mesmas foram definidas com base na norma acima citada, até mesmo numericamente. Do exposto, será adotado que o sistema de referência do PROCEL-Edifica é o mesmo que o estabelecido pelo Apêndice G (ASHRAE, 2007a), diferenciando-se do mesmo apenas pelas especificações quanto aos níveis de eficiência de alguns dos equipamentos.

4.4.5. Simulação O software utilizado para a realização das simulações foi o IES Virtual Environment (IESVE), utilizado por projetistas e consultores que atuam na área da construção civil, em sua maioria envolvida no projeto, avaliação e certificação de edifícios verdes. A simulação dos edifícios de referência foi feita considerando-se o período de um ano (8760 horas) e utilizando dados climáticos extraídos dos arquivos elaborados pelo International Weather for Energy Calculation (IWEC).


Para as três cidades estudadas, o setpoint do sistema de condicionamento de ar foi definido em 24°C e umidade relativa de 60%. A fim de garantir esta condição, o ar, em vazão adequada, é insuflado a 12,8°C e 90% de umidade relativa. Vale ressaltar que no presente estudo, o sistema de condicionamento de ar foi considerado operante apenas para cargas de resfriamento.

5. Resultados e análises

5.1.Simulações de dimensionamento Após a realização das simulações de dimensionamento, foi possível definir todas as características dos chillers, equipamentos responsáveis pela produção de água gelada do sistema de condicionamento de ar. Então, os níveis mínimos de eficiência com os quais os chillers foram modelados foram extraídos do Apêndice G da norma 90.1 (LEED) (ASHRAE, 2007a) e do RTQ (INMETRO, 2010) (PROCEL-Edifica). A Tabela 4 apresenta as características dos chillers dos edifícios de referência. Tabela 4: Características dos chillers dos edifícios de referência PROCEL-Edifica

LEED

Carga pico [kW]

N° chillers

Tipo

COP

Carga pico [kW]

N° chillers

Tipo

COP

Belém

2388

2

Centrífugo

6,1

2318

2

Centrífugo

6,1

Brasília

1468

2

Parafuso

5,2

1350

2

Parafuso

4,9

São Paulo

1877

2

Parafuso

5,2

1649

2

Parafuso

4,9

5.2.Cargas térmicas Das simulações anuais realizadas para as três cidades, obtiveram-se os resultados apresentados na Figura 1.


3300,000

2800,000

Carga térmica anual [MWh]

2300,000

1800,000

1300,000

Ganhos infiltração Ganhos externos

800,000

Ganhos solares (radiação) Ganhos internos

300,000

-200,000

-700,000

Figura 1: Carga térmica anual dos edifícios de referência

5.2.1. Ganhos internos Da análise da Figura 1, conclui-se que, para as três cidades e para todos os edifícios, os ganhos internos (pessoas, sistema de iluminação e equipamentos) representam a maior parcela de contribuição à carga térmica dos ambientes condicionados. Além disso, nota-se que estes ganhos são maiores para os edifícios LEED. Sabendo que os edifícios de ambas as certificações foram definidos considerando-se mesma densidade de ocupação e de carga interna e mesmos perfis de ocupação e operação de sistemas e equipamentos, a diferença dos ganhos internos é explicada pela densidade de potência de iluminação (DPI) da área de escritório, definida em 12 W/m2 para o LEED (ASHRAE, 2007b) e em 10,5 W/m2 para o PROCEL-Edifica.

5.2.2. Ganhos solares No que diz respeito aos ganhos solares, devidos apenas à radiação, os edifícios PROCELEdifica apresentam maiores ganhos que os edifícios LEED, para as três cidades, ainda que os


percentuais de abertura na fachada dos primeiros sejam menores que os dos últimos. Assim, concluise que a diferença dos ganhos se deve ao fator solar dos vidros, definidos em 0,87 para o PROCELEdifica e em 0,25 para o LEED.

5.2.3. Ganhos externos Com relação aos ganhos externos, nota-se que, no caso de Belém, estes ganhos apresentam valores positivos para ambos os edifícios. Isto é, como na maior parte do ano a temperatura externa é superior à temperatura de setpoint dos ambientes condicionados, a condução de calor se dá no sentido do ambiente externo para o ambiente interno. Desta forma, visto que o edifício PROCELEdifica apresenta elementos construtivos com maiores coeficientes de transmitância térmica, recebe maior carga por condução que o edifício LEED. Já no caso das cidades de Brasília e São Paulo, os ganhos externos apresentam valores negativos, visto que em grande parte do ano a temperatura externa é inferior à temperatura de setpoint dos ambientes condicionados. Assim, a condução de calor se dá no sentido do ambiente interno para o ambiente externo. Desta forma, visto que o edifício PROCEL-Edifica apresenta elementos construtivos com maiores coeficientes de transmitância térmica, perde mais calor por condução que o edifício LEED.

5.2.4. Ganhos devidos à infiltração de ar Finalmente, os ganhos devidos à infiltração de ar não apresentam grandes discrepâncias entre os edifícios PROCEL-Edifica e LEED, para as três cidades. Estes ganhos representam as parcelas menos significativas com relação à carga térmica.

5.2.5. Ganhos totais Analisando os ganhos em sua totalidade, observam-se as seguintes situações para as três cidades:

Belém: Ainda que os ganhos solares e externos do edifício PROCEL-Edifica sejam, respectivamente, 22,8% e 28,8% superiores aos mesmos ganhos do edifício LEED, os ganhos internos do último são 5,6% superiores aos do PROCEL-Edifica. Visto que, em termos absolutos os ganhos internos são mais representativos, as cargas térmicas de ambos os


edifícios se aproximam, sendo a carga do edifício PROCEL-Edifica 5,8% superior à do LEED. •

Brasília e São Paulo: Ainda que os ganhos solares dos edifícios PROCEL-Edifica sejam 26,7% (Brasília) e 50,9% (São Paulo) superiores aos mesmos ganhos dos edifícios LEED, os ganhos internos destes são 5,6% superiores aos do PROCEL-Edifica, para ambas as cidades. Além disso, conforme discutido anteriormente, os edifícios LEED trocam menos calor com o meio externo e têm, ao longo do ano, perda por condução 23,8% (Brasília) e 28,6% (São Paulo) menores que os edifícios PROCEL-Edifica. No entanto, analogamente ao observado para Belém, em termos absolutos as cargas térmicas se aproximam. No caso de Brasília, a carga do edifício LEED é 1,0% superior à do PROCEL-Edifica e no caso de São Paulo, a carga do edifício PROCEL-Edifica é 0,6 % superior à do LEED.

5.3.Consumo energético No gráfico da Figura 2, são apresentados os resultados obtidos para o consumo energético dos edifícios de referência.

3500,000

Consumo energético anual [MWh]

3000,000

2500,000

2000,000

Equipamentos Sistema iluminação

1500,000

Bombas Torre de resfriamento

1000,000

500,000

,000

Ventiladores Chillers


Figura 2: Consumo energético anual dos edifícios de referência.

5.3.1. Sistemas AVAC A conclusão direta que pode se extrair da Figura 2 é que o sistema de AVAC, constituído pelos resfriadores, ventiladores, torres de resfriamento e bombas, representa o uso final que mais consome energia nos edifícios, seguido do sistema iluminação e dos equipamentos. Esta situação se verifica nas três cidades. Ao comparar os perfis entre as cidades, nota-se que os edifícios que apresentam maior consumo energético para o sistema de AVAC, em termos absolutos, localizam-se na cidade de Belém. Este resultado já era esperado, pois ainda que os chillers de seus sistemas sejam mais eficientes que os das outras cidades, diferentemente das cidades de Brasília e de São Paulo, as condições climáticas de Belém refletem em ganhos externos positivos ao longo do ano e são estes ganhos de carga térmica que, justamente, contribuem a um consumo energético anual mais elevado. No caso da cidade de Belém, o consumo dos chillers é 2,4% maior no caso do edifício PROCEL-Edifica. Este resultado é condizente, visto que este edifício possui carga térmica 5,8% superior ao edifício LEED e sabendo que os níveis de eficiência dos chillers de ambos os edifícios apresentam os mesmos valores. Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, o consumo do PROCEL-Edifica é 3,07% superior ao do LEED. Já para a cidade de Brasília, os chillers do edifício LEED consomem 5,3% a mais de energia que os do PROCEL-Edifica, apesar da carga térmica do primeiro ser apenas 1% superior à do último. Isto pode ser explicado devido ao fato dos níveis de eficiência dos chillers destes edifícios apresentarem valores diferentes entre si (4,90 para o LEED e 5,12 para o PROCEL-Edifica). Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, o consumo do LEED é 4,5% superior ao do PROCEL-Edifica. Finalmente, no caso da cidade de São Paulo, os chillers do edifício LEED consomem 2,6% a mais de energia que os do PROCEL-Edifica, ainda que a carga térmica do último seja ligeiramente superior à do primeiro (0,6%). Analogamente à cidade de Brasília, esta diferença se deve ao fato dos chillers destes edifícios apresentarem valores diferentes entre si (4,90 para o LEED e 5,12 para o PROCEL-Edifica). Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, pode-se dizer que os edifícios apresentam níveis de consumo equivalente.


5.3.2. Sistemas de iluminação Conforme apresentado na seção 4.4.3, os valores de densidade de potência de iluminação (DPI) estabelecidos pelos sistemas de certificação diferem, tanto para as áreas de escritório, quanto para as áreas de circulação. Apesar de o LEED especificar menor DPI para a zona de circulação (5,0 W/m2 contra 7,1 W/m2 para o PROCEL-Edifica), o valor especificado para a zona de escritório, cuja área é muito mais representativa, é maior (12,0 W/m2 contra 10,5 W/m2 para o PROCEL-Edifica). Assim, o consumo do sistema de iluminação do edifício LEED é 13,1% superior ao do PROCELEdifica, para as três cidades.

5.3.3. Equipamentos De acordo com a seção 4.3.2, os edifícios de referência de ambas as certificações apresentam mesma densidade de carga interna (DCI) de equipamentos, assim como mesmo perfil de operação dos mesmos. Assim, todos os edifícios, para as três cidades, apresentam níveis de consumo equivalentes.

5.3.4. Distribuição do consumo por uso final Conforme apresentado nas seções 5.3.1 a 5.3.3, a diferença mais relevante em termos de consumo final entre os edifícios LEED e PROCEL-Edifica diz respeito ao sistema de iluminação, calculado em 13,1% superior para os edifícios LEED das três cidades. No entanto, ao observar a diferença percentual do consumo total dos edifícios, esta diferença se reduz consideravelmente. Isto ocorre, pois o sistema mais representativo em termos de consumo energético é o de AVAC e a diferença percentual deste consumo final entre os edifícios LEED e PROCEL-Edifica não ultrapassa 5%. Já o consumo de equipamentos é equivalente para todos os edifícios de todas as cidades. Em termos absolutos, os edifícios LEED apresentam maior consumo energético anual. Já ao analisar a distribuição de uso final de energia, nota-se que, em termos percentuais, os perfis dos edifícios de uma mesma cidade são semelhantes. A Figura 3 ilustra o caso da cidade de Brasília, porém a mesma situação pode ser observada nas cidades de Belém e de São Paulo.


Figura 3: Distribuição do consumo energético por uso final – Brasília.

5.4.Custo energético A Tabela 5 apresenta o custo anual energético dos edifícios de referência, considerando-se a tarifação de energia elétrica estabelecida pela Resolução Nº 1.025, de 29/06/10 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). No caso do presente estudo, adotou-se a tarifa azul estabelecida para o subgrupo A4 (alta e média tensão).

Tabela 5: Custo energético anual dos edifícios de referência. Belém Tarifa azul (R$/ano)

PROCELEdifica 394.543

Brasília

São Paulo

LEED

PROCEL-Edifica

LEED

PROCEL-Edifica

LEED

396.655

611.882

643.132

414.519

429.572

Da análise dos resultados, conclui-se que a diferença percentual do custo energético entre os edifícios LEED e PROCEL-Edifica apresenta mesma ordem de grandeza que a diferença percentual apresentada em termos de consumo energético. Este resultado era esperado, visto que os edifícios apresentam distribuição do consumo equivalente ao longo do ano e do dia.

6. Conclusões A fim de comparar o desempenho energético dos edifícios comerciais de referência definidos por dois sistemas de certificação difundidos no mercado imobiliário brasileiro, recorreu-se ao método da simulação computacional, realizada no software IES-VE. Para isto, a caracterização dos


modelos foi feita com base nas informações disponíveis no Apêndice G da norma ASHARE 90.12007 (ASHRAE, 2007a), no caso do LEED, e no RTQ (INMETRO, 2010), no caso do PROCELEdifica. Das análises realizadas na seção 5.3, conclui-se que, em termos de consumo energético, o edifício de referência do PROCEL-Edifica é mais exigente que o do LEED, situação verificada para as três cidades. Ao analisar os resultados obtidos, constata-se que o sistema de iluminação é o grande responsável pelo maior consumo energético dos edifícios de referência do LEED, visto que o impacto da maior densidade de potência de iluminação se apresenta de duas formas: aumento do consumo direto de energia e aumento dos ganhos internos do edifício (carga térmica) e consequentemente, do consumo energético do sistema de AVAC. Diante do fato de as diferenças percentuais entre o consumo energético dos edifícios definidos segundo os dois sistemas de certificação não ultrapassarem 6%, as quais podem estar dentro da faixa de incerteza do software de simulação, pode-se dizer que a utilização do edifício de referência do LEED é adequada para a avaliação do desempenho energético de edifícios no contexto brasileiro.

7. Referências ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações - Parte 3: Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares de Interesse Social , Rio de Janeiro, 2005. 28 p. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16401-3: Instalações de arcondicionado - Sistemas centrais e unitários. Parte 3: Qualidade do Ar Interior, Rio de Janeiro, 2008. 26 p. ASHRAE

-

AMERICAN

SOCIETY

OF

HEATING,

REFRIGERATING

AND

AIR-

CONDITIONING ENGINEERS. Standard 90.1: Energy Standard for Buildings Except Low-Rise Residential Buildings, Atlanta, n. SI Edition, 2007a.184 p. ASHRAE

-

AMERICAN

SOCIETY

OF

HEATING,

REFRIGERATING

AND

AIR-

AND

AIR-

CONDITIONING ENGINEERS. Handbook of Fundamentals. Atlanta, 2009. ASHRAE

-

AMERICAN

SOCIETY

OF

HEATING,

REFRIGERATING

CONDITIONING ENGINEERS. 90.1 User's Manual ANSI/ASHRAE/IESNA Standard 90.1-2007, Atlanta, 2007b. 358 p.


Bertoletti, L. E. P. Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais usando as certificações LEED e PROCEL-EDIFICA. Trabalho de Graduação, Departamento de Engenharia Mecânica, Escola Politécnica, 61 pags. HAGEL, A. de p. L. A. Análise computacional da demanda energética de climatização de edifício. 2005. Tese (Trabalho de graduação) – Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília. 89 p. INMETRO. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL. Requisitos técnicos da qualidade para o nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos. Brasil, 2010. 87 p. MENDES, N. et al. Uso de instrumentos computacionais para análise do desempenho térmico e energético de edificações no Brasil. Ambiente Construído, Porto Alegre, n.4, p. 47-68, Out/Dez. 2005. SHALDERS NETO, A. Regulamentação de desempenho térmico e energético de edificações. 2003. 89 p. Tese (Trabalho de Pós-Graduação) – Instituto de Eletrotécnica e Energia - USP, São Paulo. USGBC - US GREEN BUILDING COUNCIL. LEED (Leadership and Energy & Environmental Design): Green building rating system – version 3. 2008. 83 p. PROCEL INFO. Disponível em < http://www.procelinfo.com.br/main.asp> Último acesso em 25/09/2011.


Indicadores de sustentabilidade para avaliar iniciativas de educação ambiental Catarina Jahnel de Oliveira∗

Resumo: Este artigo estabelece a proposição conceitual de um conjunto de indicadores de sustentabilidade para verificar o desempenho de diferentes práticas de educação ambiental. Dentro de uma visão complexa do conceito de sustentabilidade, o propósito da metodologia aqui apresentada é analisar, avaliar e mensurar, dentre os aspectos sociais, econômicos, ambientais e institucionais, o grau de sustentabilidade que uma iniciativa de educação ambiental está gerando em uma determinada região. Palavras-chave: Sustentabilidade, Indicadores, Educação Ambiental. Abstract: This article establishes the proposition of a conceptual set of sustainability indicators to check the performance of different practices of environmental education. Within a complex view of the concept of sustainability, the purpose of the methodology here presented is to analyze, evaluate and measure, among the social, economic, environmental and institutional aspects, the level of sustainability that an initiative of environmental education is generating in a particular region. Keywords: Sustainability, Indicators, Environmental Education.

Introdução Nos últimos anos, ganharam relevância mundial tanto na esfera pública quanto na sociedade civil questões ligadas à sustentabilidade, aumentando o número de políticas e projetos desenvolvidos em comprometimento com este tema. Visando orientar as decisões dos públicos envolvidos nestas atividades, diferentes metodologias e ferramentas de verificação de seu desempenho vêm sendo elaboradas, permitindo às instituições organizadoras assumirem uma postura ética e responsável ao melhorarem seu desempenho e alcançarem resultados mais expressivos, em qualquer dimensão avaliada. 

 Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais (UFSC) e Mestre em Educação Ambiental (USAL/UFPE), atualmente é doutoranda em Meio Ambiente pela Universidad de Salamanca (Espanha). Possui publicações na área de Ética Ecológica na Revista de Direito (2010), sobre Desenvolvimento Sustentável nos anais do I Congreso de Estudiosos de Brasil en Europa (2008), além de um artigo de Sociologia Rural em um livro sobre Profissões Rurais, da UFSC (2004). Contato: cajahnel@yahoo.com.br.


Caminhando neste sentido, pretendemos contribuir neste debate apresentando uma metodologia para análise, acompanhamento e avaliação de diferentes projetos de educação ambiental através do uso de indicadores de sustentabilidade. Os indicadores aqui propostos visam verificar, principalmente, quais impactos uma ação de educação ambiental (seja ela formal ou não) está provocando na vida cotidiana da comunidade onde esta atividade está sendo praticada. Ou seja, se ela realmente está cumprindo com seu objetivo de educar ambientalmente e, portanto, está levando ao estabelecimento da sustentabilidade na região. No entanto, ressaltamos que esta é uma tarefa extremamente delicada já que, mesmo existindo uma série de ferramentas ou sistemas que procuram avaliar o grau de sustentabilidade em diferentes âmbitos de nossa sociedade, se conhecem muito poucas ferramentas específicas para a avaliação da sustentabilidade dentro da prática da educação ambiental. Sendo assim, a formulação desta metodologia adotou como principais referenciais teóricos os pressupostos da Agenda 21 da Rio-92 (Unesco, 2004), o Regimento do World Bussiness Council for Sustainable Development (World Bank, 2006), além dos indicadores utilizados pelo Dow Jones Sustainability Index (Petrobras, 2010). Quanto à metodologia aqui proposta, ela apresenta uma orientação prática e baseia-se em um enfoque complexo do conceito de sustentabilidade. Por considerar que a pedagogia por si só não é capaz de analisar um tema tão complexo como este, a presente pesquisa buscou ir mais além de um olhar pedagógico propriamente dito e, por isso, está localizada no campo interdisciplinar das ciências humanas e sociais (Carvalho, 2004). A opção por esta metodologia científica se justifica por considerarmos que para a elaboração de um saber teórico-prático no amplo campo da educação ambiental dificilmente podemos falar de um método particular e único. Neste sentido, optamos por uma pesquisa na qual nos esforçamos em utilizar a interação entre algumas disciplinas, tentando ir mais além da comunicação das ideias para buscar uma integração de conceitos, terminologias, metodologia e organização do estudo. Propomos, portanto, um conjunto de indicadores primários, denominados em seu conjunto “indicadores de sustentabilidade para a educação ambiental”, como ponto de referência para avaliar se os recursos e meios que estão sendo investidos são os mais eficientes em relação aos objetivos perseguidos pelo projeto em questão. A formulação desta metodologia seguiu a lógica do Quadriple Bottom Line, organizando os indicadores segundo os quatro pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental, social e político-institucional


(Bellen, 2005). Antes porém, desenvolvemos um primeiro grupo de indicadores correspondentes a um conjunto de informações gerais sobre o projeto analisado, seguido de alguns indicadores que avaliam a relação entre o custo e a efetividade do projeto em questão. Apenas posteriormente detalhamos nossa proposta de indicadores específicos para se avaliar projetos de educação ambiental, estabelecendo uma metodologia com critérios e ferramentas que podem ser utilizados por qualquer grupo que organize uma atividade dessa natureza.

Indicadores gerais e de custo - efetividade

Antes de apresentarmos os indicadores específicos para se avaliar a sustentabilidade em projetos de educação ambiental, propomos inicialmente a utilização de um conjunto de questões gerais, desenvolvidas para identificar aspectos mais genéricos destas atividades. O objetivo dessa primeira parte da ferramenta aqui proposta é fornecer um panorama mais amplo do projeto em questão. Em seguida, como ações de educação ambiental produzem resultados não necessariamente quantificáveis monetariamente, o que invalida a utilização de um simples indicador econômico, formulamos um conjunto de indicadores de custo X efetividade (medido em $ / unidade) que permitem uma comparação entre a relação custoefeito do projeto. Ao realizarmos uma aferição dos resultados promovidos, torna-se possível relacioná-los com o volume de recursos necessários, de forma a direcionar os investimentos às ações que maximizem o benefício socioambiental. Cabe ressaltar que nem sempre um projeto irá responder a todos os indicadores deste grupo, uma vez que muitas vezes esses dados podem não se aplicar a determinado projeto.

Informações gerais sobre o projeto:

1. Qual a população total da área de abrangência do projeto (município, estado, região). 2. Quantas pessoas estiveram envolvidas em ações de educação ambiental do projeto (meta do projeto X atingido ao final do projeto).


3. Quais foram as evidências da participação dessas pessoas: certificados, lista de presença, registro fotográfico, outros (anexar arquivos que comprovem). 4. Quantas pessoas das que foram envolvidas nas ações de educação ambiental são consideradas multiplicadores/disseminadores de informação ou de conhecimento: professores, gestores ambientais, lideranças comunitárias, crianças/jovens, jornalistas, outros [meta do projeto X atingido ao final do projeto]. 5. Quantos cursos / palestras / oficinas foram ministrados outros [meta do projeto X atingido ao final do projeto X não se aplica]. 6. Qual foi a carga horária total desses cursos. 7. Relato qualitativo das atividades (espaço reservado para descrever as possíveis dificuldades encontradas na execução das ações de educação ambiental, os resultados qualitativos, as justificativas para os casos em que o previsto não tenha sido plenamente executado etc.).

Indicadores custo X efetividade:

1. Valor social: Muitas vezes, os benefícios decorrentes de um projeto não são quantificáveis monetariamente, o que invalida a utilização do indicador econômico. Um critério alternativo para análise da produção desses benefícios, caso haja uma produção de bens materiais, é o indicador de valor social. No caso de um investimento de custo (C), benefícios econômicos (Be), benefícios ambientais quantificáveis monetariamente (Ba) e uma produção de bens (Q) de valor unitário (P), o valor social (Vs) desse projeto será dado por1: Vs = Be + Ba + P.Q – C2 1 O custo do investimento (C) equivale ao valor empregado para a realização do projeto como um tudo. Já os benefícios econômicos (Be) dizem respeito ao lucro gerado pela venda dos bens materiais produzidos ao longo dessa atividade de educação ambiental. Os benefícios ambientais quantificáveis monetariamente (Ba) podem corresponder tanto a um gasto que se deixou de ter devido às novas práticas ambientalmente corretas, como a um lucro que se passou a ter também devido à essas novas atitudes. 2 Exemplo: um projeto de educação ambiental junto a catadores de lixo com um custo (C) de R$1.000,00, fez com que 10kg de lixo fossem vendidos para a reciclagem, gerando um benefício


2. Valor ambiental: Buscando uma extensão da análise do valor social de um projeto e tentando valorar externalidades decorrentes de sua implantação (sejam custos ou benefícios), podemos verificar se ele contribui ou não para o meio ambiente. No caso de um investimento de custo (C), benefícios ambientais (Ba), porém com um custo ambiental

quantificável

monetariamente (Ca), o valor ambiental (Va) do projeto será dado por3: Va = C + Ba - Ca4 É importante ressaltar que, para considerar adequadamente os princípios de sustentabilidade, a formulação completa do indicador custo X efetividade envolve a valoração de benefícios econômicos, sociais e ambientais. Esta valoração, entretanto, pode apresentar dificuldades de realização de imediato. Assim sendo, recomendamos que o cálculo do indicador custo X efetividade desconsidere, no curto prazo, esses benefícios. Estes deverão ser incorporados aos projetos, através de um processo de melhoria contínua, tão logo as metodologias de valoração de benefícios econômicos e ambientais estejam disponíveis para aplicação. No caso de um projeto com múltiplos efeitos ambientais, para medição dos bens não materiais, recomenda-se a construção de um índice que pondere os diferentes benefícios, segundo prioridades estabelecidas por seus gestores. Estes conceitos podem ser utilizados ambiental (Ba) de R$ 400,00. Além disso, os catadores construíram uma quantidade (Q) de 50 brinquedos com garrafas pet recicladas, sendo que cada um foi vendido a R$5,00 (P). Por fim, com o lucro dessa nova atividade, os catadores tiveram uma renda líquida de R$800,00 (Be). O que faz com que esse projeto tenha um valor social direto de R$ 450,00. Colocando na fórmula, temos a seguinte equação: Vs (R$450,00) = 800 (Be) + 400 (Ba) + 5 (P) x 50 (Q) – 1.000 (C). 3 Novamente, o custo do investimento (C) equivale ao valor empregado para a realização do projeto como um tudo, assim como os benefícios ambientais (Ba) podem corresponder tanto a um gasto que se deixou de ter devido às novas práticas ambientalmente corretas, como a um lucro que se passou a ter também devido à essas novas atitudes. Porém, neste caso há um custo ambiental quantificável monetariamente (Ca) que pode corresponder tanto ao gasto em ações para redução dos impactos ambientais provocados pelo projeto, como também pode corresponder ao custo incorrido em ações de acompanhamento e avaliação de algum impacto ambiental. 4 Exemplo: um projeto de educação ambiental para o uso sustentável da água, junto aos alunos de uma escola, teve um custo (C) de R$1.500,00. Ao longo do período de duração do projeto, as famílias desses alunos reduziram seus gastos com água encanada e os alunos passaram a controlar, junto à prefeitura, a eficácia do sistema municipal de tratamento de água. Somando a economia de todas as famílias envolvidas em suas contas de água, chegou-se ao valor de R$1.000,00, considerado aqui como um benefício ambiental (Ba). No entanto, os custos de medição periódica do teor de pureza na água do reservatório foi de R$500,00 (Ca). O que faz com que esse projeto tenha um valor ambiental de R$2.000,00. Colocando na fórmula, temos a seguinte equação: Va (R$2.000,00) = 2.000 (C) + 1.000 (Ba) – 500 (Ca).


tanto para projetos isoladamente, quanto para um conjunto de projeto, tanto na fase de acompanhamento como na fase de avaliação dos resultados.

Indicadores de sustentabilidade para a educação ambiental Este item tem por objetivo apresentar uma metodologia para análise, acompanhamento e avaliação de projetos de educação ambiental. Estes indicadores, conforme dito anteriormente, estão organizados segundo os quatro pilares de sustentabilidade, os quais são: econômico, social, ambiental (ecológico) e político-institucional. A ideia principal dessa seleção de indicadores é possibilitar uma avaliação comparativa da qualidade de vida e do meio ambiente na região onde a prática da educação ambiental é realizada. Isso porque, através de uma metodologia específica e de ferramentas padronizadas, é possível reduzir a subjetividade relativa desses dados, formatando-os de modo a viabilizar comparabilidade entre diferentes alternativas, além de se apontar tendências e destacar seus pontos fracos. Desta forma, os indicadores podem desempenhar um significativo papel na identificação de problema e tendências, contribuindo tanto para o planejamento de políticas em longo prazo, quanto para a tomada de decisões imediatas no processo de estabelecimento de uma sustentabilidade na área em questão. No entanto, por serem indicadores dinâmicos, serão necessários ajustes e reavaliações a cada revisão de determinado projeto de educação ambiental.

Indicadores Econômicos: 1. Uso racional de energia elétrica: Este indicador visa avaliar se os indivíduos envolvidos nas ações de educação ambiental do projeto tem adotado medidas de racionalização e/ou uso eficiente de energia elétrica, seja por meio da otimização de processos ou até programas educativos junto à população. Este indicador mede a evolução do consumo de energia elétrica ao longo da


execução do projeto e deve ser avaliado em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou energia total consumida pelo município X n° de habitantes). 2. Uso de energia renovável e não renovável: Este indicador é usado para avaliar a evolução do consumo de outras fontes de energia diferentes da energia elétrica, sejam elas: renováveis, como por exemplo, energia eólica, solar ou com origem em combustíveis biológicos; ou energia não-renovável, como por exemplo, oriunda de derivados de petróleo. Mede o consumo de energia renovável e não renovável por parte daqueles que participam das atividades de educação ambiental, demonstrando se o consumo de energia renovável é maior do que de energia não-renovável. Deve ser avaliado em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou total de energia renovável consumida pelo município X n° de habitantes). 3. Uso racional de água: Este indicador visa avaliar se os envolvidos com o projeto tem adotado medidas de racionalização e/ou uso eficiente de água. Esta avaliação deve ser aplicada a diferentes tipos de fonte de água que a população venha a utilizar: desde água de poço, água fornecida por empresa abastecedora, água de chuva, entre outras. Este indicador pode ser medido em volume (litros/indivíduo) ou em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou volume total de água consumida pelo município X n° de habitantes) 4. Uso racional do material utilizado: O objetivo deste indicador é mostrar se o projeto adota medidas de otimização ou redução do consumo de materiais naturais ou manufaturados (por exemplo: papel, borracha, plástico, madeira, metal, etc.). Este indicador é medido através de uma comparação entre o volume ou peso do material usado pelo projeto por participante. 5. Incentivo ao consumo de produtos locais: Este é o primeiro indicador de um conjunto de três indicadores que têm como objetivo avaliar se o projeto está incentivando a prática do consumo responsável. Neste indicador específico, a ideia é avaliar se as atividades desenvolvidas pelo projeto, através do próprio exemplo, estão incentivando seus participantes a priorizarem produtos produzidos em seu entorno, frente àqueles vindos de regiões mais distantes do país ou mesmo exportados. Este indicador será medido através da porcentagem dos produtos constituintes da merenda,


produtos de higiene e limpeza e materiais didáticos, oferecidos pelo projeto que são da cultura local e cuja produção é municipal. 6. Nível de consumo de produtos não-industrializados: O segundo indicador sobre o consumo responsável tem como objetivo avaliar se os atores do projeto diminuíram o consumo de produtos industrializados 5, passando a consumir mais alimentos naturais. Este indicador será medido através da resposta dos próprios indivíduos envolvidos à questão: Passou a consumir mais produtos não-industrializados após o início das atividades? 7. Nível de consumo de produtos orgânicos: O terceiro indicador de consumo responsável avalia se o projeto incentiva o consumo de produtos orgânicos, frente àqueles produzidos com o uso de agrotóxicos. Este indicador será medido através da resposta dos próprios indivíduos envolvidos à questão: Passou a consumir mais produtos orgânicos após o início das atividades? 8. Inclusão de produtos sustentáveis na economia local: Este indicador é usado para avaliar a inclusão de produtos sustentáveis 6 na economia local, através da venda de bens de consumo fabricados durante as ações de educação ambiental ou através da venda de produtos cujo processo de fabricação foi alterado graças a um novo conhecimento ensinado pelo projeto. Mede a produção de bens sustentáveis vendidos no comércio local, demonstrando se o projeto incentiva a produção desse tipo de bem de consumo. Este indicador será medido através da porcentagem dos produtos sustentáveis produzidos no próprio município que estão à venda em estabelecimentos comerciais locais. 9. Incentivo ao turismo sustentável: Este indicador avalia se o projeto incentiva um turismo sustentável na região onde é executado. Deve ser averiguado se existe ou não alguma estratégia desse tipo de turismo fomentada pela equipe. 5 Chamamos aqui de produto industrializado aquele que é obtido pelo processamento de um ou mais tipos de alimentos, tendo tido adicionado ou não outras substâncias permitidas, por meio de processos tecnológicos adequados. 6 Produtos sustentáveis são aqueles fabricados com matérias-primas recicladas, recicláveis ou de fonte renovável, ou são aqueles produtos que são recicláveis ou biodegradáveis.


Indicadores Ambientais: 1. Uso de fonte alternativa de energia renovável: Este indicador informa se além da fonte de energia principal, a população envolvida com a atividade de educação ambiental utiliza algum tipo de fonte alternativa de energia renovável. Por exemplo, se a fonte principal de energia do município é a hidroelétrica, existe uma outra fonte alternativa, como energia eólica, solar ou com origem em biocombustíveis. Deve ser avaliado em kWh/indivíduo ou litros/indivíduo, ou em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo). 2. Redução da emissão de gases poluentes: O objetivo deste indicador é mostrar se o projeto adota medidas visando uma otimização ou redução da emissão de gases causadores do efeito estufa através de iniciativas para fomentar produtos e serviços com baixa ou nenhuma emissão. Deve ser averiguado se existem ou não iniciativas para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa e, em caso positivo, as reduções obtidas. 3. Tratamento e reuso de água: Este indicador é empregado para verificar qual é porcentagem de água que é tratada, reutilizada ou mesmo enviada a aterro sanitário, mostrando a eficiência dos processos de educação ambiental no município envolvido em termos de tratamento e reuso de água. Para avalia-lo medimos o porcentual e o volume total de água que é tratada, reusada ou descartada através de dados disponibilizados pelo governo. 4. Abastecimento de água: Este indicador avalia se o projeto incentiva melhoras no sistema de abastecimento de água na região onde suas atividades são desenvolvidas. Averiguando se o município já oferece esse tipo de serviço à população, é analisado se o projeto ajudou a implementar esse tipo de serviço, a expandir sua área de cobertura ou se fomentou melhoras no abastecimento alternativo de água. As informações serão coletadas através de dados fornecidos pelos próprios gestores do projeto.


5. Presença de esgoto domiciliar: Este indicador avalia se o projeto incentiva melhoras no sistema de tratamento de esgoto na região onde suas atividades são desenvolvidas. Averiguando se o município já oferece esse tipo de serviço à população, é analisado se o projeto ajudou a implementar esse tipo de serviço, a expandir sua área de cobertura ou se fomentou alternativas junto à população. As informações serão coletadas através de dados fornecidos pelos próprios gestores do projeto. 6. Gestão ecológica dos resíduos sólidos: O objetivo deste indicador é analisar se o desenvolvimento do projeto alterou a gestão dos resíduos sólidos (não recicláveis) do município onde se encontra. Para tanto, verifica-se se o percentual dos resíduos coletados pelo município e que são incinerados ou depositados em lixões a céu aberto diminuiu após o início das atividades de educação ambiental. Os dados serão coletados junto a prefeitura. 7. Coleta seletiva: Este indicador avalia se a presença das atividades de educação ambiental reduziram, dentre o total de resíduos gerados na localidade, a quantidade percentual que é recolhida através de uma coleta seletiva, indo para um destino adequado de resíduos para reciclagem/reutilização. Neste caso, há duas formas de se medir: através da relação volume (m3) ou peso (Kg) de resíduos encaminhados para coleta seletiva X volume total ou peso total de resíduos gerados; ou analisando se houve alguma alteração na frequência da prestação de serviço na coleta seletiva de resíduos após o início do projeto. 8. Otimização do uso de materiais: Este indicador visa avaliar se o projeto realiza iniciativas para mitigar os impactos ambientais dos produtos utilizados, bem como a redução desses impactos. Ele é medido através do percentual de materiais usados no projeto provenientes de reciclagem em relação ao total de materiais utilizados. 9. Suporte ao transporte coletivo: Este indicador analisa se o projeto fomenta o uso de meios de transporte público, averiguando se seu grupo gestor fornecer transporte público para os participantes. Em caso


positivo, mede-se o percentual de indivíduos que desfrutam desse benefício sobre o total de indivíduos envolvidos com o projeto. 10. Fomento ao uso de técnicas agroecológicas: Este indicador avalia se o projeto incentiva o uso de técnicas agroecológicas entre os produtores locais. Averiguando se no município já existe algum tipo de incentivo a essa prática, é analisado se o projeto contribuiu com o seu fomento. Este indicador será medido através da resposta dos próprios produtores de alimentos orgânicos à questão: O projeto influenciou na sua produção de alimentos orgânicos? 11. Salvaguarda da biodiversidade ambiental: Este indicador é empregado para verificar o quanto o projeto de educação ambiental está contribuindo para a salvaguarda da biodiversidade ambiental no entorno de onde é desenvolvido. É analisado se ele tem estratégias, medidas em vigor e/ou planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade. Deve ser averiguado se existem ou não iniciativas para reduzir impactos significativos na biodiversidade e, em caso positivo, se a área de proteção já existente aumentou ou se foi criada alguma nova. 12. Salvaguarda da biodiversidade animal: O objetivo desse indicador é analisar o quanto o projeto de educação ambiental está contribuindo para a salvaguarda da biodiversidade animal no entorno de onde é desenvolvido, portanto, verifica-se se ele tem estratégias, medidas em vigor e/ou planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade animal. Deve ser averiguado se existem ou não iniciativas para reduzir impactos significativos na biodiversidade animal e, em caso positivo, se diminuiu o número de espécies na lista vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) ou em listas nacionais de conservação, discriminadas por nível de risco e extinção.

Indicadores Sociais: 1. Impacto direto na comunidade local: O objetivo desse indicador é analisar o quanto o projeto está sendo impactante para a população do município no qual é realizado, verificando a porcentagem da população atingida


diretamente. Ele é medido através do percentual de participantes do projeto em relação ao total habitantes do município. 2. Minorias étnicas e socioculturais: Este indicador mostra se o projeto de educação ambiental em questão incentiva a participação das minorias étnicas e socioculturais existentes em sua região em suas atividades (tais como povos indígenas, negros e portadores de algum tipo de deficiência física). É encontrado pela relação entre o número total de envolvidos com o projeto (colaboradores e participantes) e quantidade de indivíduos desse total dentro do perfil de minoria étnica e/ou sociocultural. Diversidade 3. Recrutamento de colaboradores da comunidade local: Este indicador tem como objetivo avaliar o impacto do projeto na comunidade local em termos de oferta de emprego e melhoria de qualidade de vida. Mede o percentual do número total de colaboradores nascidos na comunidade local em relação ao número total de colaboradores do projeto. 4. Comércio justo: Este indicador procura saber o quanto o projeto está fomentando um comércio socialmente justo na comunidade onde é praticado. Para tanto, mede-se o percentual dos fornecedores dos recursos e materiais utilizados pelo projeto que são grupos organizados da comunidade (tais como cooperativas de pequenos produtores, iniciativas solidárias ou organizações com projetos de geração de renda para grupos usualmente excluídos) em relação ao total de fornecedores. 5. Cumprimento à legislação: Este indicador informa se o projeto está isento de multas por desobediência às leis (trabalhistas, tributárias, ambiental, fiscal, entre outras), dando-se ênfase a existência ou não de trabalho infantil. Para tanto, verifica-se a certidão negativa referente a processos trabalhistas ou relação dos processos de desobediência à Legislação Trabalhista durante a execução do projeto. 6. Suporte a outros projetos socioambientais:


Este indicador avalia se o projeto em questão incentiva a realização de outras atividades de promoção e disseminação de práticas sustentáveis. Mede-se através de dois indicadores: (1) o número de projetos socioambientais desenvolvidos no município anteriores ao início do projeto com relação ao número de projetos socioambientais desenvolvidos no município após o início do projeto; (2) o número de participantes/colaboradores envolvidos unicamente com o projeto; o número de participantes/colaboradores envolvidos também em outros projetos. 7. Integração entre o projeto e a comunidade: Este indicador mostra se o projeto de educação ambiental realiza ações de integração entre seus participantes e o restante da comunidade local, tais como eventos temáticos (por exemplo, coleta coletiva do lixo), eventos de divulgação das atividades do projeto, além de suporte a outras atividades da comunidade (pro exemplo, cedendo instalações a festividades tradicionais). Medem-se: o número de iniciativas/ações de integração realizadas pelo projeto, além de uma relação entre o número de participantes do projeto envolvidos e o número de pessoas da comunidade envolvidas em programas desta natureza. 8. Salvaguarda da história e cultura da região: Este indicador visa avaliar as iniciativas e ações realizadas para preservar a história, a cultura, os princípios e os valores tradicionais na região, com o objetivo de resguardar e aumentar a valorização do patrimônio histórico-cultural e/ou arquitetônico da comunidade. Mede-se pelo número de iniciativas/ações de salvaguarda cultural realizadas pelo projeto. 9. Transparência do projeto: Este indicador avalia as iniciativas de comunicação clara e aberta dos resultados/impactos sociais gerados pelo projeto junto aos seus públicos de interesse (por exemplo, financiadores, colaboradores, participantes e fornecedores). Medem-se o número de informes/relatórios elaborados e divulgados em mídia impressa e/ou eletrônica (por exemplo, site, newsletters, e-mails) e porcentagem de colaboradores, participantes e financiadores destinatários desta divulgação. 10. Incentivo à educação formal de seus participantes: Este indicador informa se são mantidos programas para incentivar os participantes do projeto a completarem sua escolaridade formal, dando suporte aos alunos já matriculados e


desenvolvimento programas de incentivos àqueles que abandonaram o ensino a escola. Medese pelo número de iniciativas/ações de incentivo à educação formal realizadas pelo projeto. 11. Incentivo à formação dos colaboradores do projeto: Este indicador informa se o projeto investe na educação de seus colaboradores, oferecendo treinamentos para desenvolver e manter competências relevantes a sua função ou cargo ou patrocinando parcialmente, integralmente, ou na forma de empréstimo bolsas de estudos para diferentes níveis de escolaridade. Mede-se a relação entre o total de investimento (R$) em educação dos colaboradores e o número total de colaboradores.

Indicadores Institucionais: 1. Agenda 21: Este indicador mostra se o município onde o projeto realiza suas atividades possui programas de implementação da Agenda 21 Brasileira, conforme definido pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS), em 2002. E, em caso positivo, se essas iniciativas aumentaram após o início do programa de educação ambiental. É medido pelo número de iniciativas/ações de implementação da Agenda 21 realizadas no município antes e depois do projeto. 2. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano: Este indicador tem como objetivo avaliar se o projeto de educação ambiental incentiva seus participantes a colaborarem com a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de seu município, que pode ser definido como um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. É medido pela porcentagem de participantes das reuniões do Plano que também estão envolvidos com o projeto. 3. Gasto público com educação ambiental: Este indicador informa se o poder público passou a investir mais em ações, leis, projetos e programas de educação ambiental após o início do programa de educação ambiental. Mede-se a relação entre o total de investimento (R$) em educação ambiental antes do projeto e após o projeto.


4. Gestão participativa: Este indicador avalia se o projeto incentiva os indivíduos envolvidos nele a colaborarem com sua prefeitura municipal através da gestão participativa, onde o governo disponibiliza espaços para a participação dos habitantes no processo de tomada de decisões práticas. Mede-se pelo número de iniciativas/ações de incentivo à gestão participativa realizadas pelo projeto. 5. Educação ambiental no ensino formal: Este indicador tem como objetivo analisar se o projeto incentivou a incorporação da educação ambiental e da sustentabilidade, de forma transversal, nos parâmetros curriculares do município. Mede-se pelo número de iniciativas/ações de incorporação da educação ambiental e/ou da sustentabilidade no ensino formal do município realizadas antes e depois do projeto. 6. Educação ambiental não formal: Este indicador tem como objetivo mensurar se após as atividades do projeto aumentaram o número de programas institucionais de sensibilização, formação e atuação sobre questões de educação ambiental e sustentabilidade em espaços educativos não-formais e demais espaços públicos. É medido pelo número de espaços educativos não-formais e equipamentos públicos participantes em projetos de educação ambiental e sustentabilidade antes e depois do projeto. 7. Espaços de cultura no município: Este indicador informa se o poder público passou a investir mais em centros culturais, casas e espaços de cultura no município após o início do programa de educação ambiental. Mede-se a relação entre o total de espaços de cultura antes do projeto e após o projeto.

Conclusão


A construção de indicadores de sustentabilidade para avaliarem iniciativas de educação ambiental segue o discurso e as diretrizes dos principais órgãos e instituições nacionais e internacionais que tratam desta questão (como UNESCO, PNUD, MMA e REBEA). Em concreto, a formulação desses indicadores está embasada no capítulo 36 da Agenda 21 que incentiva, tanto instituições públicas como privadas, a aplicarem este tipo de ferramenta em diferentes iniciativas de estabelecimento da sustentabilidade (Unesco, 2004). O forte incentivo ao desenvolvimento destes instrumentos vem especialmente do fato que eles não apenas facilitam o monitoramento e a avaliação desse tipo de atividade, como também norteiam futuras decisões políticas a serem tomadas visando a sustentabilidade. A título de conclusão, ressaltamos que o embasamento conceitual na construção de um conjunto de indicadores é crucial, pois é preciso ter clareza de onde se quer chegar e a pertinência de cada item mensurado, pois as possibilidades são inúmeras. No que diz respeito à formulação dessas ferramentas especificamente para a avaliação da sustentabilidade, por este ser um conceito amplo e complexo, que envolve diferentes aspectos da nossa vida, tornase um trabalho que exige uma visão interdisciplinar do assunto. Além disso, esta é uma tarefa especialmente complicada pois, como bem afirmou Riechmann (1995), este é um conceito que todavia não tem um consenso em sua formulação, portanto, ainda dá espaço para diferentes interpretações, algumas, inclusive, incompatíveis entre si. Cabe explicitar também que esses indicadores descrevem um processo específico e são portanto particulares a esse processo, por isso não há um conjunto de indicadores globais adaptáveis a qualquer realidade. Neste sentido, percebemos que ao se formular uma proposta de avaliação de educação ambiental, não devemos ignorar algum indicador por falta de dados, mas sim ter em mente um conjunto ideal de indicadores. Cabendo assim, ao momento de sua aplicação em determinado projeto, eliminar aqueles que se mostrarem impossíveis de levantar naquela situação específica. A partir da contribuição das inúmeras leituras sobre o tema que realizamos, ressaltamos que os indicadores aqui formulados não só ajudam a compreender melhor os avanços de uma iniciativa específica de educação ambiental, mas que também permitem estabelecer comparações entre diferentes projetos, relacionando âmbitos muito distintos em níveis educativos, territoriais, segundo a tipologia dos destinatários ou características das instituições e organizações implicadas, conforme diferencia Veiga (2009). Para possibilitar essa comparação futura entre diferentes iniciativas avaliadas foi necessário uniformizar certos procedimentos de análise, possibilitando um monitoramento conjunto dentro de um sistema


de avaliação estruturado e padronizado. A partir desta padronização torna-se possível comparar não apenas as regiões atingidas e o total de indivíduos alcançados pelos projetos de educação ambiental, mas também os resultados destas práticas, evidenciando assim as contribuições estimadas através de métricas, além de possibilitar uma avaliação destas iniciativas segundo critérios pré-definidos. Sendo assim, os indicadores de sustentabilidade aqui propostos, além de servirem de parâmetro de comparação entre diferentes projetos de educação ambiental, podem ser aplicados a escalas maiores: como municípios, estados e países, mesmo que para cada situação sejam necessários ajustes e adaptações. Assim, evidenciamos que esta é uma ferramenta eficaz para a mensuração do direcionamento da sustentabilidade, especialmente devido a sua capacidade de agregar informações e de monitorar as mudanças ocorridas nos diferentes aspectos avaliados ao longo de um período.

Bibliografia

BELLEN, H. (2005). Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: Editora FGV. CARVALHO, I. (2004). “Educação ambiental crítica”. In: LAYRARGUES, P. (org.) Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: MMA. PETROBRAS (2010). Sistemática para investimentos em projetos de patrocínios/convênios ambientais. Estratégia & Desenvolvimento Institucional. Rio de Janeiro: Comunicação Interna. RIECHMANN, J. (1995). “Desarrollo Sostenible: la lucha por la interpretación”. In: RIECHMANN, J., NAREDO, J.M., et al. (orgs.) De la economía a la ecología. Madrid: Trotta. UNESCO (2004). United Nations decade of education for sustainable development: draft international implementation scheme. Paris: Editora da UNESCO.


VEIGA, J. E. (2009). “Indicadores socioambientais: evolução e perspectivas”. In: Revista de Economia Política. São Paulo, v.29, n.4 (116), p.421-35, out./dez. WORLD BANK (2006). Where is the Wealth of Nations? Measuring Capital in the 21 st Century. Washington DC: The World Bank.

Lista de Abreviaturas e Siglas

MMA – Ministério do Meio Ambiente PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A. REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


Monitoramento de aves em áreas florestais certificadas Manoelle Fuzaro Gullo* *Engenheira Florestal, Pós-graduada em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental/ Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP –BOTUCATU/ manoelle_ef@hotmail.com

RESUMO Devido às exigências de mercado, as certificações florestais têm crescido muito no Brasil, destacandose o FSC e o Cerflor. Essas certificações visam uma produção sustentável de produtos de origem florestal, sejam eles madeireiros ou não madeireiros, e as exigências incluem indicadores econômicos, sociais e ambientais. Para os aspectos ambientais são considerados estudos de fauna e flora, mas, geralmente, os estudos que são apresentados limitam-se a levantamentos qualitativos que são repetidos de tempos em tempos, mas que podem não ser suficientes para trazer informações sobre os impactos ambientais causados pela exploração. Sendo a fauna exímia indicadora de qualidade de meio ambiente, informações quantitativas e o monitoramento podem ser grandes aliados para identificação, não apenas do reconhecimento do valor de conservação da área, mas também para indicar possíveis impactos causados pelo processo produtivo, como por exemplo, o uso de agrotóxicos, poluição de corpos d’água e uso exaustivo dos recursos naturais. As aves são muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas e, por serem muito sensíveis a alterações no ambiente, são consideradas um dos melhores bioindicadores para a avaliação de impactos ambientais. Através de consultas bibliográficas, o presente estudo tem como objetivo ressaltar a importância de monitorar a avifauna de áreas certificadas visando assegurar a perpetuação das espécies, auxiliar a identificação e a mitigação de possíveis impactos, garantindo assim a sustentabilidade do processo e a qualidade do meio ambiente.

Palavras-chave: certificação florestal; avifauna; bioindicador

ABSTRACT Due to market demands, forest certification has grown considerably in Brazil, especially the FSC and Cerflor. These certifications aimed at sustainable production of forest products, whether timber or non-timber products, and the requirements include economic, social and environmental indicators. For environmental aspects are considered studies of fauna and flora, but generally the studies that are presented are limited to qualitative surveys that are repeated from time to time but that may not be sufficient to bring about the environmental impacts caused by the operation. Being the fauna excels indicator of environmental quality, quantitative information and monitoring can be great allies to identify not only the recognition of the conservation value of the area, but also to indicate possible impacts caused by the production process, for example, the use of pesticides, pollution of water bodies and exhaustive use of natural resources. The birds are very important for the balance of ecosystems and, because they are very sensitive to changes in the environment, are considered one of the best biomarkers for the assessment of environmental impacts. Through bibliographical consultations, this study aims to highlight the importance of monitoring the avifauna of certified areas to ensure the perpetuation of the species, help identify and mitigate potential impacts, thereby ensuring the sustainability of the process and the quality of the environment.

Keywords: forest certification; avifauna; bioindicator 1


INTRODUÇÃO As ações antrópicas no ambiente, fragmentando ou simplificando ecossistemas, têm provocado alterações sensíveis nas comunidades bióticas, causando reduções populacionais, mudanças nas razões dos sexos e isolamentos de metapopulações (populações confinadas e fragmentos) (ALMEIDA, 1996). Florestas estão entre os ambientes mais suprimidos ou substituídos pelo homem nas suas atividades de subsistência. A reconstituição de florestas perdidas ou degradadas é hoje uma necessidade inquestionável e que se baseia em abordagens multidisciplinares, sendo uma delas o importante papel da fauna como ferramenta e manejo (SILVA et al., 2010). A Convenção sobre Biodiversidade proposta na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, conhecida como Rio 92, inseriu o tema “Proteção da Biodiversidade dos Ecossistemas Florestais” nas agendas oficiais dos países. Entretanto, as medidas adotadas pelas autoridades florestais não conseguiram parar a destruição das florestas, necessitando de medidas inovadoras para auxiliar a proteção dos recursos florestais no mundo (REZENDE, 2006). A certificação florestal voluntária foi desenvolvida como mais uma ferramenta para fortalecer o manejo florestal sustentado e controlar a origem da matéria-prima dos produtos florestais (SAVCOR INDUFOR OY, 2005). Esta ferramenta foi a forma com a qual a sociedade estabeleceu critérios econômicos, ambientais e sociais para caracterizar produtos sustentáveis (FARIA, 2009). A certificação florestal é um mecanismo baseado na existência de um nicho de mercado, que substitui ou complementa outras ferramentas e políticas que buscam promover o manejo sustentável de florestas. Além desta, existem também os requisitos dos planos de manejo, ou estudos de impacto ambiental que estão incluídos em quase todas as legislações dos países (VAN DAM, C., 2003). A certificação florestal é um processo que implica na avaliação por um certificador independente, que assegura que a floresta está sendo manejada de acordo com critérios ecológicos, sociais e econômicos. Esse processo dá o direito de uso de um rótulo com informações ao consumidor garantindo que a madeira ou outro produto florestal adquirido, é oriundo de uma floresta certificada (VON KRUEDENER, 2000 apud VAN DAM, C., 2003) e manejada de forma sustentável. Dentre as vantagens decorrentes da certificação florestal pode-se destacar: o acesso a mercados altamente competitivos de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros; melhoria da imagem da organização junto aos compradores, funcionários, comunidades 2


locais, organizações não-governamentais, governos, etc.; acesso a fontes de financiamento; agregação de valor ao produto proporcionando preços diferenciados; melhoria da prática do bom manejo florestal; uso potencial na definição de políticas públicas; incentivo ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias florestais; dentre outras. Como principal desvantagem, se não utilizada corretamente, a certificação florestal pode se tornar uma barreira comercial para produtos florestais, principalmente de produtos oriundos de florestas tropicais, de países em desenvolvimento (REZENDE, 2006). No Brasil existem dois sistemas de certificação florestal em operação: o Cerflor (Programa Brasileiro de Certificação Florestal), que faz parte do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade – SBAC, gerenciado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro; e o sistema de certificação florestal conduzido pelo Forest Stewardship Council. No Brasil, a fundação do “FSC Working Group” aconteceu em 1997 com a tarefa de estabelecer critérios e indicadores adequados para o país, mas com base nos princípios do FSC internacional (SPATHELF, 2004). O Cerflor, por sua vez, foi lançado em 2002 e seus padrões são prescritos nas normas elaboradas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade e ao Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) (FARIA, 2009). Apesar de terem alguns critérios e princípios distintos entre o FSC e o Cerflor, ambos possuem o objetivo de promover a sustentabilidade na produção. Para Burger (2005) existem alguns requisitos básicos que caracterizam o desenvolvimento sustentável, dentre eles a consideração em relação a todos os recursos materiais e imateriais necessários para a vida humana, ou seja, recursos sociais, econômicos e naturais, incluindo neste último a biosfera, paisagens e biótopos que contem os elementos ar, água, solo, minerais, vegetação e fauna. Em ambas as certificações, para os aspectos ambientais são considerados estudos de fauna e flora, mas, geralmente, os estudos que são apresentados limitam-se a levantamentos qualitativos que são repetidos de tempos em tempos e que são de suma importância para o reconhecimento das espécies existentes nas áreas. Porém, sendo a fauna exímia indicadora de qualidade de meio ambiente, informações quantitativas e o monitoramento podem ser grandes aliados para identificação, não apenas do reconhecimento do valor de conservação da área, mas também para indicar possíveis impactos causados pelo processo produtivo, como por exemplo, o uso de agrotóxicos, poluição de corpos d’água e uso exaustivo dos recursos naturais. 3


Neste aspecto, os estudos de fauna podem ser grandes aliados para avaliações ambientais. As aves são muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas e, por serem muito sensíveis a alterações no ambiente, são consideradas um dos melhores bioindicadores para a avaliação de impactos ambientais. Além disso, atualmente, são muitas as técnicas conhecidas para os estudos de avifauna e os próprios hábitos comportamentais deste grupo facilitam a busca e a coleta de informações. Considerando que aves e mamíferos são bons indicadores do estado de conservação em que um sistema biológico se encontra, monitoramentos contínuos das populações destas espécies tornam-se necessários para avaliar a diversidade e fornecer informações para um adequado manejo além de indicar as possíveis consequências que as interferências possam vir a ocasionar (GOMES, 2002). Contudo, deve-se mencionar a escassez de conhecimento científico quanto a dinâmica de formação das florestas naturais, principalmente após intervenção, e a escassez de conhecimento para alterar uma exploração predatória para uma sustentável (SCHNEIDER; FINGER, 2000). Durante pesquisa descritiva feita com algumas empresas atuantes no mercado de papel e celulose, Borges et al. (2009) constataram que, na maioria das instituições analisadas, as políticas ambientais estão amplamente declaradas, mas que as informações apresentam apenas caráter descritivo. Medeiros et al. (2009), também pesquisando empresas florestais, diagnosticaram que estudos qualitativos da fauna silvestre são mais comuns quando comparados com os quantitativos e que, de modo geral, há uma notória carência de infraestrutura específica no manejo de fauna silvestre nas empresas pesquisadas. Para Spathelf et al. (2004), um manejo florestal sustentável , que compreende a preservação da estrutura dos povoamentos e da diversidade biológica de espécies ainda não foi comprovado na prática.

OBJETIVOS Considerando que as certificações florestais têm como um dos princípios avaliar impactos ambientais e garantir as partes interessadas a sustentabilidade do manejo florestal, o trabalho tem como objetivo ressaltar a importância de monitorar a avifauna de áreas certificadas visando assegurar a perpetuação das espécies, auxiliar a identificação e a mitigação de possíveis impactos, garantindo assim a sustentabilidade do processo e a qualidade do meio ambiente.

METODOLOGIA

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Para obtenção de informações que auxiliassem no desenvolvimento da tese, além de conhecimento próprio, foram feitas pesquisas de natureza bibliográfica em livros, publicações, teses, artigos e buscas na internet.

DISCUSSÃO De acordo com o Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), o processo de certificação florestal é voluntário e baseia-se nos três pilares da sustentabilidade: ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável. Hoje, no Brasil, predominam duas certificações. Uma delas, o FSC (Forest Stewardship Council), é muito difundida mundialmente. A outra, o CERFLOR (Programa Brasileiro de Certificação Florestal), é reconhecido internacionalmente pelo PEFC (Program for the Endorsement of Forest Certification Schemes). Mesmo sendo comprovadas as melhorias sociais, econômicas e ambientais que as certificações florestais trazem, até que ponto os critérios e indicadores utilizados durante o processo de certificação garantem a sustentabilidade de ambientes impactados/alterados por atividades antropogênicas? Atualmente, apesar da expansão da consciência ambiental por parte dos consumidores e do marketing verde que gira em torno das empresas, grande parte da população e dos governantes não tem consciência do valor ecológico que as espécies da fauna desempenham na estruturação e manutenção dos ecossistemas, e que depende delas o equilíbrio biológico essencial para todas as formas de vida. Este quadro é ainda mais agravado pelo desconhecimento técnico sobre muitos aspectos bio-ecológicos da maioria dos animais da fauna nativa. São inúmeros os fatores que ocasionam prejuízos a fauna silvestre, sendo muitos deles de caráter irreversível. A busca de desenvolvimento econômico, por meio industrial, agrícola ou florestal está entre os principais fatores de pressão sobre as áreas naturais, e consequentemente sobre as espécies da fauna (VIDOLIN et al., 2004). Para preservar a funcionalidade total da floresta para o ambiente, a economia e para a sociedade, sua capacidade de regeneração, uso e regeneração devem ser correspondentes em quantidade, qualidade e ritmo (BURGER, 2005). Em adição, o autor ainda diz que, para que essa regeneração seja garantida, o manejo florestal deve procurar manter o equilíbrio mais próximo possível da natureza em termos de diversidade, distribuição, perfil, idade e ritmo de crescimento e rejuvenescimento não só de árvores, mas também de outras plantas e da fauna.

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O solo, a fauna e a flora evoluíram numa dependência mútua, sendo que cada um é fator de formação do outro e a ausência de um destes componentes pode inviabilizar a existência dos demais. Existe uma interação muito grande entre a vegetação e a fauna, sendo que a maioria das espécies arbóreas tropicais é polinizada por insetos e aves e suas sementes dispersas por uma diversidade grande de animais e intervenções na vegetação produzem efeitos diretos na fauna, pela redução, aumento ou alteração de dois atributos chaves, que são alimento e abrigo (PACCAGNELLA et al., 2003). A conservação da fauna silvestre em áreas florestadas é reconhecida como de vital importância na estabilidade biológica, na manutenção da biodiversidade, no controle biológico de pragas, na manutenção dos valores estéticos da natureza e nos processo de renovação da vegetação nas reservas naturais. A simples presença de uma espécie rara ou ameaçada de extinção, ou então a ocorrência de um elevado índice de diversidade de espécies, não indicam necessariamente que uma determinada reserva florestal seja de ótima qualidade e que tenha condições de conservar suas populações animais (ALMEIDA, 1998). Sabendo que a conservação da fauna silvestre é de vital importância para a estabilidade biológica, manutenção da biodiversidade e nos processos de renovação da vegetação (ALMEIDA; ALMEIDA, 1998), ambas as certificações (FSC e Cerflor) exigem compromissos com a biodiversidade e a fauna local. Para o FSC, padrão 20-007 (2009), documentos que podem ser usados para avaliar a conformidade com os indicadores do próprio FSC incluem registros de avaliações da vida selvagem e registros de monitoramento dos impactos ambientais. Estes registros podem fornecer informações da qualidade do ambiente através do reconhecimento de espécies bioindicadoras. Espécies bioindicadoras são aquelas que permitem identificar distúrbios no ambiente sendo necessária a utilização de grupos de espécies que respondam rapidamente às mudanças ambientais, sendo estas respostas claramente distintas daquelas geradas por flutuações naturais (PIRATELLI et al., 2008). Indicadores ecológicos devem ser sensíveis o suficiente para reagirem de forma detectável quando um sistema é afetado por ações antropogênicas e também devem permanecer razoavelmente previsíveis em ecossistemas imperturbáveis (NIEMY; MCDONALD, 2004). Neste contexto, segundo Piratelli et al. (2008), citando Terborgh (1977); Bierregaard (1990); Furness e Greenwood (1993); Turner (1996); e Bierregaard and Stouffer (1997), o uso de aves como bioindicadores tem sido justificado devido a características específicas que esse grupo faunístico apresenta, tais como: um amplo conhecimento quanto à taxonomia e 6


sistemática das espécies, o elevado nível na cadeia alimentar ocupado por várias espécies, e pela sensibilidade das aves quanto a perdas e fragmentação de habitat. A presença ou não de determinadas espécies fornecem informações importantes, visto que algumas desaparecem ao menor sinal de perturbação (DÁRIO et al., 2002). Muitos estudos de impacto ambiental utilizam aves como bioindicadores e muitos são os projetos que visam proteger áreas com base na comunidade de aves (MATTSSON; COOPER, 2006). A identificação de espécies de aves altamente prioritárias e que possam indicar alterações no ambiente natural é o primeiro passo para o desenvolvimento de planos de sobrevivência de espécies individuas e conservação de ecossistemas naturais (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Na maioria das empresas certificadas, para cumprir os requisitos exigidos para obtenção do selo verde, muitas vezes, as empresas acabam fazendo, sazonalmente, apenas o levantamento e a caracterização descritiva das espécies da avifauna que ocorrem no local. Além de estabelecer uma lista da diversidade avifaunística, tal estudo auxilia a identificar, por exemplo, se na área ocorrem espécies sensíveis ou/e ameaçadas que devem ser preservadas e o surgimento e/ou desaparecimento de espécies. O conhecimento dos recursos biológicos que uma área contém, bem como sua relação com os fatores abióticos são de extrema importância e, por isso, levantamentos são imprescindíveis para a elaboração do plano de manejo de uma área e instrumento básico para a conservação dos recursos naturais (LYRA JORGE, 1999 apud PEIXOTO et al., 2007). Contudo, considerando até mesmo a missão e visão do FSC de que o “manejo florestal ambientalmente adequado garante que a exploração de produtos madeireiros e não madeireiros mantém a biodiversidade, a produtividade e os processos ecológicos da floresta”, limitar-se apenas a fazer uma caracterização descritiva pode não trazer todas as informações necessárias para garantir a real qualidade do ambiente e os impactos que o manejo aplicado causa a avifauna local. Os monitoramentos, mais do que os levantamentos, permitem observar as tendências populacionais (ACCORDI, 2010) e a acompanhar as características da avifauna de forma quali-quantitativa em confronto com intervenções observadas ou previstas (STRAUBE et al., 2010). Ainda, segundo Straube et al. (2010), a maior diferença entre levantamento e monitoramento está no fato de que, o levantamento resultará na compilação de uma lista de avifauna enquanto o monitoramento identificará alterações na composição e abundância da comunidade de aves ao longo de uma ação repetida ou em evolução ao longo de um período 7


definido. Para Olmos (2005), todos os projetos de conservação e manejo sustentável devem incluir dados das variações nas populações de espécies animais como indicadores de desempenho. Sabe-se que, para a análise de sustentabilidade ecológica na escala de paisagem, a longo prazo, o monitoramento de indicadores biológicos torna-se o mais adequado (PIRES et al., 2000). O monitoramento de espécies animais se justifica pois pode dar uma resposta mais rápida que o monitoramento da vegetação, além de possibilitar um maior entendimento das interações ecológicas existentes no ecossistema florestal (TERBORGH, 1992). A variação da densidade/abundância dos bioindicadores e mudanças no uso que eles fazem do habitat após a perturbação ambiental são os principais instrumentos de avaliação no monitoramento de fauna (JOHNS, 1997). Amostragens que desejam se aproximar do real devem abranger um espaço de tempo mais longo, de forma a amostrar as diferentes estações do ano e permitir a realização de uma avaliação migratória possibilitando assim o entendimento de fatores intrínsecos envolvidos na dinâmica das populações. Levantamentos e monitoramentos de espécies de um habitat são frequentemente solicitados com o propósito de embasar políticas de conservação ou manejo, ou mesmo para estudos comparativos de comunidades entre diferentes localidades, faltando, na maioria dos casos, a devida continuidade dos estudos com o propósito de entender o nível de impacto ambiental sobre a fauna (SILVA JR. et al., 2007). Para Young et al. (2003), levantamentos rápidos, por serem de curta duração, produzem uma lista incompleta de espécies, pois qualquer lista de fauna requer anos de amostragem e uma grande variedade de técnicas. Visando a manutenção da fauna e dos seus habitats, as reservas naturais, a fauna silvestre deve ser monitorada através de estudos populacionais que possam gerar dados que trarão resultados relativos bastante confiáveis e seguros (ALMEIDA, 1996). É muito útil e ecologicamente importante que a empresa florestal faça monitoramentos que relacionem a superfície das áreas de produção (talhões florestais) com a superfície das áreas de proteção (núcleos), sendo esta relação não apenas importante para acompanhar passivamente a evolução dos ecossistemas, mas principalmente pra utilizá-los na analise ambiental e nos programas de manejo (POGGIANI, 1998). Para Fernández et al. (2003), uma das primeiras condições para que se possa manejar uma população é conhecer o número de indivíduos que a compõe e como e por que ela varia no tempo. Informações como essas possibilitam que os levantamentos realizados sejam de fato ferramentas que auxiliem 8


nas análises de impactos ambientais causados pela atividade florestal e para que a sustentabilidade do plano de manejo seja assegurada,. A proteção da fauna silvestre é vital para a existência das florestas nativas e, de forma análoga, a contínua presença da fauna, nos ecossistemas florestais, é imprescindível para possibilitar o efetivo alcance da sustentabilidade do manejo florestal. Por essa razão, Ahrens (2004) recomenda que ocorra a incorporação de inventário contínuo e de monitoramento da fauna silvestre aos diplomas legais que dispõem sobre o manejo de florestas nativas aprimorando assim as práticas de manejo florestal na medida em que efetivo cumprimento de sua sustentabilidade deva ser tecnicamente perseguido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Danos ambientais costumam ser de difícil reparação, sendo por vezes impossível, como no caso da extinção de uma espécie da fauna e, mesmo quando a restauração de um ambiente degradado é viável, dificilmente o mesmo voltara a existir nos exatos termos em que existia na natureza. No Brasil, o princípio de proteção da biodiversidade assume fundamental importância já que o país possui a maior biodiversidade do planeta e uma grande quantidade de terras agriculturáveis, sendo necessário e premente o uso racional dessas terras, integrando o agronegócio à proteção dos ecossistemas e da biodiversidade, não só por seu valor ecológico, mas também por ser essencial à sadia qualidade de vida e à própria sobrevivência da espécie humana no planeta (VALERI; SENÔ, 2004). Em 2004, Ahrens inferiu que o manejo sustentável de um ecossistema florestal deve considerar todas as suas partes componentes, o que obrigatoriamente inclui, não apenas a flora, mas também a fauna silvestre que lhe seja peculiar e que, na medida em que na ausência da fauna silvestre florestas nativas simplesmente não existiriam, recomendou o aprimoramento das normas legais que tratam da elaboração de Planos de Manejo Florestal, por meio da incorporação de medidas para o inventário e o monitoramento da fauna. O conhecimento da abundância relativa de determinada espécie serve como ferramenta para, ao menos, futuramente saber se houve ou não declínio desta espécie na área estudada (STRAUBE et al., 2010). Anjos (2010) diz que, informações sobre o tamanho populacional de espécies de aves pode ser buscada através de métodos de levantamento qualitativo variados que devem estar estreitamente relacionados com os objetivos da pesquisa, podendo ser estes os métodos de: mapeamento (contagem de números de territórios, gerando dados precisos sobre a população real da espécie em uma determinada área); captura em redes 9


de neblina (contagem de número de capturas de uma espécie, gerando dados sobre a estimativa populacional a partir de taxas de captura/recaptura de indivíduos), sendo esta uma metodologia que exige licença do IBAMA; transecção (contagem do número de indivíduos de uma espécie enquanto se percorre uma trilha padrão em um determinado tempo); e pontos (contagem do número de indivíduos de uma espécie em determinados pontos durante um tempo padrão). Porém, Straube et al. (2010), salienta que a aplicação desses índices ou de análises estatísticas não faz sentido caso a comunidade de aves não tenha sido satisfatoriamente conhecida e, infelizmente, a maioria dos estudos que apresentam tais aplicações de índices de diversidade e outras análises estatísticas é representada por listagens incompletas da comunidade de aves. As certificações florestais tem como objetivo garantir a sustentabilidade do processo produtivo e dentre seus princípios consta o monitoramento e a avaliação da biodiversidade. Com base nas informações levantadas, o monitoramento de avifauna pode ser considerado como uma ferramenta essencial para garantir o cumprimento de critérios ambientais exigidos pelas certificações florestais. Ao contrario dos levantamentos geralmente apresentados, que indicam apenas o surgimento e/ou desaparecimento de espécies, o monitoramento permite avaliar flutuações nas populações, mobilidade e facilita a identificação da presença de espécies migratórias, pois são estudos mais longos e que apresentam uma periodicidade. Para Accordi (2010), como programas de monitoramento tem como objetivo analisar as tendências populacionais, quanto mais longo e contínuo for o programa, mais precisas serão as estimativas de tendência. Ainda, por serem estudos mais longos e que geram informações mais detalhadas a respeito das populações, permitem que, a qualquer percepção de alteração, sejam analisados quais ações do plano de manejo podem ter causado modificações nas populações, sejam estas alterações positivas ou negativas, permitindo assim a criação de medidas que visem a perpetuação das espécies existentes e garantindo a sustentabilidade do plano de manejo. Sendo assim, de acordo com as informações citadas e com as considerações já levantadas por alguns autores, questiona-se a viabilidade da criação de um padrão ou de exigências mais específicas para que os levantamentos e dados relacionados aos estudos de fauna apresentados por empresas certificadas assegurem de fato a qualidade do ambiente explorado e deixem de ser apenas parte de um protocolo a ser seguido.

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Programa de qualificação de fornecedores (PQF) e ISO 9001:2008: um estudo de caso em uma pequena rede independente de hotéis Antônio Oscar Santos Góes1 * Talles Vianna Brugni Maria Josefina Vervloet Fontes RESUMO Este paper descreve dois processos de certificações de uma pequena rede independente de hotéis Hotel Tarik Fontes - na cidade de Itabuna Bahia, Brasil. Os procedimentos desenvolvidos na organização investigada foram estruturados pelas normas do Sistema de Gestão da Qualidade baseado na NBR ISO 9001:2008 e pelo Programa de Qualificação de Fornecedores – PQF- Bahia (Parceria Público-Privado - PPP). As auditorias foram realizadas pela entidade BSI (British Standard Institution). Os objetivos dessas preparações/certificações direcionaram para dois aspectos: a) cumprir as normas técnicas especificadas pela ISO 9001 e b) qualificar potenciais empresas locais (Itabuna) para tornarem-se supridoras de organizações do porte da BAHIA MINERAÇÃO - BAMIN. O referencial teórico aborda os fundamentos da teoria francesa das convenções, os procedimentos de certificações e os princípios da Gestão da Qualidade Total ("Total Quality Management" ou simplesmente "TQM"). A metodologia do estudo de caso caracterizou esta investigação. Utilizaram-se observações, análise documental das atas de reuniões, projeto de implantação do programa de qualidade e relatórios das auditorias. Os resultados apontam que o hotel implantou uma gestão baseada em normas e em especificações exigidas pela entidade certificadora. Nos momentos de avaliações/auditorias, a empresa investigada apresentou os requisitos necessários para a obtenção dos certificados. Considera-se, pois, que o Hotel Tarik Fontes atua em conformidade com as práticas de qualidade e os princípios norteadores da ISO 9001. Por outro lado, muitos desafios são postos, como: ser fornecedora de uma grande empresa (BAMIN), manter a certificação obtida e promover, sempre, a filosofia japonesa da melhoria continua (kaizen), na oferta de serviços hoteleiros. Palavras-chave: certificação, ISO 9001, gestão, programa de qualidade. ABSTRACT This paper describes two types of certification processes for an independent small chain of hotels – Hotel Tarik Fontes -, situated in Itabuna Bahia, Brazil. The procedures developed in the investigated organization were structured by rules of Quality Management System based on NBR ISO 9001:2008 and on Supplier Qualification Program – SQP - Bahia (Public-Private Partnership – PPP). The auditing was performed by the company BSI (British Standard Institution). The objectives of these preparations/certifications directed to two aspects: a) comply with the technical standards specified by ISO 9001 and b) qualify potential local companies (Itabuna) to become suppliers of organizations as BAHIA MINERAÇÃO – BAMIN. The theoretical reference covers the fundamentals of French theory of conventions, certifications procedures and the principles of Total Quality Management (TQM). The methodology of the case study was used in this investigation. It used observation, document analysis of meeting reports, implementation project of quality program and audit reports. The results show that the hotel has implemented a management based on standards and specifications required by the certifying company. In moments of assessments / audits, the investigated organization presented the requirements for obtaining the certificates. It is considered, therefore, that the Hotel Tarik Fontes acts in accordance with the quality practices and guiding principles of ISO 9001. On the other hand, many challenges are laid, as: being the supplier of a large company (BAMIN), the Hotel maintains the certification obtained and it promotes, always, the Japanese philosophy of continuous improvement (kaizen), in the supply of hotel services. Key words: certification, ISO 9001, management, quality program.

1. INTRODUÇÃO: “GERENCIAR EM TEMPOS TURBULENTOS” 1

* Gestor, Doutor em Sociologia Econômica das Organizações pela Universidade Técnica de Lisboa, pesquisador na área de administração e autor de diversos artigos em periódicos e eventos nacionais e internacionais. Email: oscargoes11@hotmail.com


O início do século XXI exige que os empreendimentos sejam mais bem geridos, pois a competitividade é um imperativo. A gestão pela qualidade pode ser uma ferramenta benéfica para os negócios, como a redução de custos e o aumento da produtividade são hoje objetivos comuns dos empresários. A sobrevivência e a permanência das organizações são uma constante no tecido empresarial, afirma Santos (2008). Para além disso, uma empresa certificada por organismos como a IOS (International Organization for Standardization), através da ISO 9001:2008, representa uma vantagem competitiva e melhora a imagem institucional. Os programas de Gestão pela Qualidade Total, em princípio, organizam, estruturam e sistematizam adequadamente as atividades negociais. Diante do exposto, alguns questionamentos são abordados: como a Gestão pela Qualidade Total - GQT pode estruturar melhor as organizações? Como racionalizar os meios de produção escassos e produzir lucro satisfatório? Empresas certificadas pela ISO 9001 demonstram ser mais profissionalizadas? Como se manter no mercado altamente concorrencial? Para responder essas inquietações, qualquer tipo de estabelecimento competitivo tem que recorrer a uma boa gestão. O improviso verificado no trabalho gerencial, a falta de procedimentos sistemáticos, a gestão ineficiente, a inconsistência nos controles e resultados, baixa qualidade de produtos e serviços, ausência das formalizações necessárias aos monitoramentos das tarefas administrativas, desconhecimento do mercado, mau acompanhamento da administração financeira, capital inicial baixo e demais fatores são verificados nas práticas administrativas das micro, das pequenas e das médias empresas. O “mercado” não aceita mais o amadorismo, e uma alternativa de modificar essas condutas indesejáveis seria a utilização de conceitos e ferramentas oriundos das Teorias de Gestão de Qualidade, como foco na obtenção de Certificações ISO 9001 e procedimentos estruturados da Teoria Francesa das Convenções. Sob essa perspectiva, a presente pesquisa analisa o processo de certificação ISO 9001:2008 de uma pequena rede independente de hotéis - Hotel Tarik Fontes-, como também, os procedimentos para obtenção do SELO DIAMANTE. Para operacionalizar estes objetivos maiores, desencadearam-se três prioridades: a) expor as práticas desenvolvidas pelo hotel através dos princípios da GQT, b) demonstrar que a GQT pode ser uma ferramenta estratégica para a competitividade organizacional e, por fim, c) identificar os desafios enfrentados na certificação da ISO 9001:2008 e do “SELO DIAMANTE”. O referencial teórico aborda algumas proposições da Gestão pela Qualidade Total, a Teoria Francesa das Convenções e as especificidades dos normativos ISO 9001. O estudo de caso foi a metodologia identificada neste trabalho. Aplicaram-se questionários ao proprietário


do estabelecimento hoteleiro investigado. Utilizaram-se observações, análises documentais do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF – BAHIA). Para início do caminho a ser percorrido nesta investigação, algumas perguntas e inquietações suscitaram. Como gerenciar uma pequena rede independente de hoteleira através dos pressupostos da GQT? Quais os procedimentos necessários para uma empresa ser certificada? O que é o Programa de Qualificação de Fornecedores – PQF-BAHIA? Como se pode ver, os desafios são muitos a serem ultrapassados. Exigir-se-ão esforços dos atores na Gestão pela Qualidade Total e na obtenção de Certificações. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Gestão pela Qualidade Total: uma breve consideração Um bom gerenciamento, segundo Peter Drucker (1975, pp. 94), deve fazer parte do cotidiano organizacional. Uma administração profissional utiliza-se de estratégias para a continuidade dos negócios. As tarefas das empresas devem ser organizadas e estruturadas. O proprietário de hotel tem a responsabilidade funcional de conduzir a empresa de maneira que não haja desperdício de recursos, uma vez que eles são limitados. O controle gerencial deve ser monitorado para que não aconteçam perdas de material. Questiona-se: como conseguir uma gestão pelos procedimentos da Qualidade Total? Como uma empresa obtém uma certificação? Para responder essas indagações, as organizações devem utilizar as funções administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar); estas, quando bem aplicadas, mesmo com princípios elementares, servem para aumentar a produtividade e contribuem para a competitividade empresarial. Na verdade, observa-se que a maioria das empresas de médios portes não utiliza esses procedimentos (Góes et. al., 2012). Há pouca utilização dos instrumentos básicos de gestão. Qualidade Total para esse tipo de organização ainda é incipiente. Apenas os empresários inovadores ousam utilizar a GQT, e, também, buscam a obtenção de “certificações”. Segundo Toledo (1997), a qualidade do produto e ou serviço não se apresenta de forma identificável e nem é observável diretamente, sendo percebida por meio de suas características interpretativas, o que introduz uma dimensão subjetiva na sua análise. Neste sentido, a percepção da qualidade no contexto da hotelaria se faz ainda mais necessária, por tratar-se de uma indústria prestadora de serviços onde o elemento humano, centro de todo o negócio, norteará a percepção do cliente para excelência do serviço.


A gestão da qualidade compreende a abordagem adotada e o conjunto de práticas utilizadas para obter-se, de forma eficiente e eficaz, a qualidade pretendida para o produto. A gestão da qualidade de uma empresa envolve seus processos e se estende aos fornecedores e clientes, segundo Toledo (op. Cit.1997). No decorrer do século XX, a gestão da qualidade evoluiu saindo da era de pura inspeção e controle estatístico da qualidade, para alcançar a garantia da qualidade e avançar para uma gestão estratégica da qualidade. A tabela 1, a seguir, identifica alguns autores da literatura especializada na Gestão da Qualidade Total. Este recorte é exposto para assegurar as ideias centrais dos pensadores e as definições/atributos da “Qualidade”. Autores Tuchman (1980) Abbott (1955) Edwards (1968) Juran (1974) Crosby (1979) Broh (1982) Feigenbaun (1961)

Tabela 1. Cinco abordagens principais para a definição de qualidade. Abordagem Definições Transcendente (...) uma condição de excelência que implica ótima qualidade, distinta de má qualidade... Qualidade é atingir ou buscar o padrão mais alto em vez de se contentar com o malfeito ou fraudulento. Baseada no Diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade produto de algum ingrediente ou atributo desejado. Baseada no Qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos. usuário Baseada no Qualidade é adequação ao uso. usuário Baseada na Qualidade [quer dizer] conformidade com as exigências produção Baseada no Qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável e o controle valor da variabilidade a um custo aceitável. Baseada no Qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. valor Essas condições são: a) o verdadeiro uso; e b) o preço de venda do produto.

Fonte: Adaptado de Marshall Junior et al., 2003, p.28-29.

Após uma breve exposição das definições de “qualidade”, considera-se que qualidade é um conjunto de atributos que revelam a excelência, o valor, as especificações, as conformidades, as regularidades e adequação ao uso quando da oferta e demanda de produtos (bens e serviços). No caso de serviços, há uma agravante: a atividade processa-se no momento do consumo, cliente e fornecedor conjuntamente, bem diferente de bens que são produtos em locais distante do consumidor. Em sendo assim, os aspectos da qualidade dos serviços, geralmente, são mais sensíveis a avaliações por parte dos demandantes. Para além do referencial teórico da GQT, essas organizações precisam incorporar nas suas atividades os propósitos da Teoria Francesa das Convenções. 2.2 Teoria Francesa das Convenções: um olhar da Sociologia Econômica A sociologia econômica que surgiu como uma resposta à expulsão da vida social da análise econômica, tanto na visão neoclássica quanto nas formulações da nova economia institucional, bem como ao esforço de estender essas abordagens ao conjunto das ciências


sociais, apresentou-se como o melhor caminho conceitual e teórico para o entendimento da construção e desenvolvimento de um programa de gestão de qualidade, no âmbito de uma certificação para a efetividade de uma pequena rede independente de hotéis. A contextualização deste enfoque teórico no entendimento da dinâmica de pequenos hotéis independentes propiciou a geração de conhecimento para responder as demandas da pesquisa, nas formas específicas de desenvolvimento do setor hoteleiro independente e suas implicações de melhoria dos serviços e produtos comercializados. As novas demandas mundiais por hospitalidade da era do pós-fordismo, criou ambiente acadêmico favorável à formulação de inúmeras abordagens que levam a complementaridades e também divergências entre as diversas teorias: desde as novas leituras Schumpeterianas, ao contexto da Nova Sociologia Econômica, na expressão de Granovetter, também a teoria francesa das convenções contribui decisivamente para a compreensão do universo de mercados diferenciados, como é o caso de pequenos hotéis independentes, que se constituem objeto deste estudo. No trabalho de L. Boltanski e L. Thévenot (1991), “De La Justification”, ícone da teoria Francesa das Convenções, tem-se o reconhecimento de que não apenas o trabalho, mas qualquer mercadoria (entendendo mercadoria como produtos e ou serviços), é afetada por deficiências de "contratos incompletos", precisando, por isso, de regras, normas e convenções para sua produção e sua troca. Enquanto o "fordismo" se baseava na "qualificação" do trabalho para a maior quantificação da produção, a atual dinâmica econômica baseia-se precisamente na qualificação do produto e/ou serviços, capturada pela atual obsessão com a "qualidade" (Wilkinson, 1999). Para os autores, toda ação, inclusive a ação supostamente atomística do mercado competitivo, justifica-se por referência a princípios comuns ou "bens comuns" de nível mais elevado, representados, por exemplo, no último caso, por uma aceitação comum da equivalência de preço dos bens negociados. No contexto da sociologia econômica a atividade econômica é socialmente construída e mantida, e historicamente determinada por ação coletiva e individual expressa através de organizações e instituições. A análise da ação econômica torna-se, por isso, um esforço coletivo da Economia, da Sociologia, da Historia, ́ da Teoria Organizacional e da Filosofia Politica. ́ A escola das convenções tem um compromisso mais radical com a interdisciplinaridade baseada em abordagens complementares de problemas comuns. Segundo Wilkinson (1999) o foco de interesse inicial da teoria das convençoes ̃ era explorar as características aparentemente sui generis do trabalho. A atenção aos processos através dos quais o trabalho era "qualificado" levou a uma elaboração das regras, normas e


convenções que dirigem a dinâmica de mercado das relações de trabalho. Essa visão foi então generalizada para um exame do modo como toda a circulação de mercadorias pressupõe processos prévios de qualificação. Com isso, regras, normas e convenções, ou organizações e instituições, determinam o conteúdo e a forma da produção e da circulação de mercadorias. Portanto, a contribuição da teoria das convenções reside em sua elaboração original da noção de regras e das bases de coordenação dos atores, onde as regras não são anteriores à ação e tampouco são elaboradas de fora da ação, surgindo no interior do processo de coordenação dos atores. Mais especificamente, representam uma resposta a problemas que aparecem no interior de tal coordenação e deveriam ser entendidas como mecanismos de clarificação que também estão, eles mesmos, abertos a desafios futuros. São, por isso, representações dinâmicas da negociação e, como tais, dependem da existência de pontos em comum entre os atores envolvidos. Esse "conhecimento comum", ou essa "identificação intersubjetiva das regras", não existe em abstrato, nem pode ser conhecido por um exercício de mera racionalidade (Wilkinson, 1999). Em vez disso, tem que ser recorrentemente interpretado em situações específicas, através do modo como os atores se relacionam com um conjunto comum de objetos que são mobilizados por sua ação. A qualificação de objetos é por isso, simultaneamente, a qualificação dos atores envolvidos. O alcance de tal ação coletiva é dinamicamente determinado por um processo de justificação e testagem permanente (THEVENOT, ́ 1995). Assevara, pois, que os procedimentos de certificações (ISO 9001:2008 e SELO DIAMANTE), através da teoria francesa das convenções, são instrumentos de valorização e clarificação dos contratos. 2.3. Normas ISO A expressão ISO 9000 é um conjunto de normas técnicas que estabelecem especificações de gestão da qualidade. A ISO é o nome derivado da palavra grega isos, que significa igual. Em decorrência disso, as empresas que incorporam as padronizações estabelecidas pelas ISO, em princípio, são norteadas por boas práticas de administração de qualidade (Maximiano, 2002: 197). A sigla "ISO" refere-se à denominação de igualdade, pois o sistema ISO prevê similaridades de diversos procedimentos das entidades que a adotam. A IOS, International Organization for Standartization, é uma entidade não governamental internacional que se propõe a promover o desenvolvimento da padronização e de atividades correlacionadas, através de normatizações. Assim, Marshall Junior afirma: “a normatização é uma atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva, com vistas á


obtenção do grau ótimo de ordem em um determinado contexto (Marshall Junior, 2003: 56)”.

Para efeito didático e de curiosidade, far-se-á a diferença entre as siglas ISO e IOS. A primeira significa igualdade. As normas ISO representam, então, estandardizações, padronizações utilizadas no ambiente organizacional. Já a IOS é a entidade que estabelece “padrões” de qualidade para as atividades desenvolvidas pelas organizações (produção, troca, distribuição, consumo e gerenciamento). Nesse momento, a tabela 2 expõe os principais pontos do significado da ISO e seus procedimentos complementares. IS0 ABNT PNQ Certificação

Família ISO 9000 Auditoria da qualidade Ferramentas da qualidade PQF- Bahia

BSI (British Standard Institution). SELO DIAMANTE Norma ABNT NBR ISO 9001:2008 – informações básicas.

Tabela 2 – ISO e os desdobramentos complementares. International Organization for Standardization. É uma organização não governamental internacional, que reúne mais de uma centena de organismos nacionais de normatizações. Associação Brasileira de Normas Técnicas – entidade privada, sem fins lucrativos, considerada o único fórum de normalização do Brasil Prêmio Nacional da Qualidade É um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente, sem relação comercial, com o objetivo de atestar publicamente, por escrito, que determinado produto ou processo está em conformidade com os requisitos especificados. Normas que representam uma espécie de consenso internacional a respeito das boas práticas de administração da qualidade. Serve para decidir se um fornecedor tem ou não condições de continuar como tal e também para escolher novos fornecedores. PDCA (plan, do, check, action), brainstorming, cartas de controle, diagrama de causa e efeito, diagrama de dispersão, estratificação, fluxograma, folha de verificação, gráfico de pareto, histograma, matriz GUT, 5W2H (what, Who, when, where, why, how, how much). Programa de Qualificação de Fornecedores é uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), executada pelo Instituto Euvaldo Lodi da Bahia (IEL/BA), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) Entidade que certifica sistemas de gestão, que certifica e testa produtos, que oferece treinamento e que fornece soluções de software de gestão. É um certificado recebido por empresas que implantação procedimentos da qualidade e foram avaliadas pela BSI, através do PQF-BAHIA. A ISO 9001 é uma norma que define requisitos no âmbito da gestão empresarial. O grande objetivo da norma é fazer com que as organizações atendam os requisitos do cliente. Os oito princípios da ISO 9001 - 1 - Foco no Cliente; 2 - Liderança entre objetivos comuns; 3 - Envolvimento de todos; 4 - Abordagem de processos; 5 - Considerar o impacto de decisões em outros processos; 6 - Melhoria Contínua; 7 - Decisão baseada em dados; 8 Benefícios mútuos entre clientes e fornecedores. Para a obtenção da certificação, as empresas precisam cumprir todos os procedimentos exigidos pela ISO 9001:2008.

Fonte: Adaptado de Maximiano (2002, p. 175-226); Hamel (2007); Marshall Junior et al. (2003). (site: http://www.totalqualidade.com.br/2009/12/norma-abnt-nbr-iso-90012008-saiba-mais.html).

Por fim, o objetivo principal das certificações visa profissionalizar os procedimentos gerenciais das organizações, ao valorizar os requisitos exigidos pelos clientes, nos produtos e


serviços. Em síntese, a figura a seguir, mostra o ciclo que deve ser seguido pelas empresas para o alcance da Gestão pela Qualidade Total, instrumentalizado por um certificado de qualidade. Figura 1 - Modelo ISO 9001:2008

Fonte: Adapatado de Maximiano (2002)

3. BREVE NOTA METODOLÓGICA Este paper aborda a Gestão pela Qualidade Total, a Teoria Francesa das Convenções e Normas ISO. A pequena rede independente de hotéis denominada - HOTEL TARIK FONTES –, estabelecida em Itabuna-Bahia-Brasil, foi o objeto de investigação. A pesquisa descritiva de caráter qualitativo recorreu às ferramentas de trabalho como: estudo de caso, inquirição exploratória informal, pesquisa bibliográfica. Quanto ao trabalho de campo utilizou-se uma entrevista estruturada com o proprietário do estabelecimento hoteleiro. As observações apoiaram-se num roteiro pré-estabelecido. A pesquisa documental ateve-se ao projeto de implantação do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF-BAHIA) e os relatórios de auditoria emitidos pela entidade BSI (British Standard Institution). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES: UM LUGAL AO SOL - CERTIFICAÇÃO O Tarik Fontes Plaza Hotel, uma pequena rede independente de hotéis, caracteriza-se como um empreendimento hoteleiro com uma estrutura física no padrão de hotel urbano, vertical, com capacidade ocupacional de 80 apartamentos, com 12 andares, 70 vagas de estacionamento, centro de convenções para 200 pessoas, destinado a atender principalmente ao público executivo. Para o encantamento de seus clientes, a missão do hotel é assim desenvolvida: “Acolher nossos clientes com conforto, modernidade, serviços personalizados e de


qualidade”. Já a visão é “Ser uma rede hoteleira reconhecida no mercado por sua originalidade e excelência no atendimento, agregando os valores regionais aos padrões internacionais”. E o objetivo empresarial, desenvolvido a partir de discussões com o principal gestor, foi assim definido: “Atender sempre as expectativas dos clientes oferecendo serviços e produtos de qualidade superior visando alcançar resultados que possibilitem a manutenção e expansão do Tarik Hotel, com os princípios da Gestão da Qualidade Total” (Tarik Fontes Plaza Hotel, 2013). Esses registros revelam a intenção dos responsáveis para proceder com os imperativos da “qualidade”. Para além dessas informações, sua política de qualidade, aprovada pela diretoria e disseminada a todos os colaboradores, também, traz o foco no cliente e nos procedimentos da GQT. O seu lema é: “Satisfazer as necessidades dos nossos clientes, colaboradores e da sociedade através da melhoria contínua dos processos com a gestão de excelência e sustentabilidade”. (Tarik Fontes Plaza Hotel, 2013; dados da entrevista, 2013). Diante do exposto, considera-se, pois, que a entidade investigada, nas suas diretrizes organizacionais, estabelece procedimentos gerenciais com postura profissional e com preocupações com a gestão pela qualidade total. A missão, a visão e os valores organizacionais estão atrelados aos procedimentos da GQT. Os relatórios gerenciais da qualidade, as observações in locus, as respostas das entrevistas comprovam que o hotel estabelece os princípios da “qualidade”. Aprofundou-se na questão do gerenciamento. Procurou-se identificar como o hotel é administrado. Perguntou-se: Será que as funções gerenciais são aplicadas? Sendo um hotel de três estrelas, os instrumentos prescritos nos princípios da administração da qualidade são utilizados? A seguir, algumas reflexões. Algumas avaliações são requeridas no processo de qualidade, dentre elas: com o cliente, com os funcionários e com ações corretivas. O hotel em análise desenvolve controle rigoroso das suas atividades. Para confirmar essas situações, abaixo, três procedimentos da qualidade vivenciados pela empresa estudada. Um dos objetivos da qualidade para a empresa investigada é obter o índice de 95% na satisfação do cliente. Este índice é avaliado mensalmente através da tabulação dos opinários. Os clientes respondem a pesquisa durante o check-out, e a recepção faz a coleta diária encaminhando para o setor da qualidade que se encarrega da extração dos dados. No ano de 2012, foi observado que a empresa alcançou um índice médio de 95,1% de satisfação do cliente. Vale ressaltar que, nos meses: de janeiro, fevereiro, março, abril, mai e outubro, a meta foi ultrapassada em uma média de 1,4%.


Outro objetivo é alcançar 90% de satisfação do colaborador. A pesquisa é realizada semestralmente com o uso de um questionário disponibilizado para todos os colaboradores e tabulado também pelo setor da qualidade. O resultado da pesquisa revela que 92% dos empregados sentem-se satisfação. O resultado de ambas as pesquisas são divulgadas, respectivamente, nas reuniões de gestão e na reunião geral. Na busca pela melhoria contínua dos processos, propôs-se uma meta de 100% de ações corretivas para os problemas, ou seja, resultado indesejável de processos. Nesse caso, “erros” ou “disfunções” das tarefas. Estas ações trabalham para a correção de desvios nos procedimentos operacionais padrão, processos e normas da ISO 9001. Esses desvios são denominados Não Conformidades (ÑC).

Em 2012, foram abertas 45 ÑC para tratar

problemas identificados, nos setores da: governança, compras, almoxarifado, A&B (alimentos & bebidas), eventos e recepção. A empresa implementou 100% das ações corretivas propostas. Como se pode ver, em três situações envolvendo clientes, funcionários e processos, o Hotel Tarik Fontes pratica as orientações da GQT. A empresa pesquisa já utiliza o Procedimento Operacional Padrão (POP), ferramenta da Qualidade Total, para o funcionamento das atividades “produtivas”, no caso, prestação de serviços. Investigou-se em profundidade, através de observações e da entrevista, e descreverse-ão, a seguir, alguns processos sistematizados das ações diárias dessa organização, nas áreas de governança e de recepção. Tabela 3 - Procedimentos Operacional Padrão (POP) – alguns exemplos Governança Arrumação dos Apartamentos – a governanta imprime do sistema Desbravador a lista de ocupação dos apartamentos/dia para efetuar a divisão das arrumações e check-outs/andar entre as camareiras. A camareira antes de ir para os apartamentos confere carrinho e no caso de falha, comunica a governança para devida correção. Em seguida, a camareira limpa todo o corredor do andar que foi designada para trabalhar, e inicia a limpeza dos apartamentos pelos que foram check-outs. Ao termino da limpeza, ela deve informa a recepção. O enxoval retirado dos aptos deverá ser contado e encaminhado para o térreo. Então dará início a arrumação dos aptos ocupados. Recepção Fechamento de maquinetas – o auditor imprime o relatório de vendas nas maquinetas e do desbravador. Em seguida, compara os valores para observar as conformidades. Entretanto, se encontrar erros, insere uma observação no relatório de vendas do desbravador e anexa os relatórios das maquinetas. Fonte: Adaptado dos relatórios do Hotel Tarik Fontes (2013) – exemplos de procedimentos

Esses procedimentos expostos asseveram que o hotel usa o gerenciamento pela qualidade. Estas são algumas práticas estruturadas no manual da qualidade, e são documentadas para auditorias. É visível o ciclo PDCA, o plano de ação 5W2H. Além, da valorização da criatividade dos envolvidos, através do benchmarking. Vários são os exemplos de procedimentos de qualidade encontrados na pesquisa de campo. Para continuar com as


reflexões, passa-se para a confirmação inegável que o hotel atua em conformidade com a qualidade total, e preza a eficiência dos serviços. Para isso, a figura 2, mostra duas certificações. A primeira, a obtenção do SELO DIAMANTE, este documento credencia a empresa investigada uma “autorização” para ser fornecedora de serviços para outras organizações de grande porte, por exemplo, BAMIN – BAHIA MINERAÇÃO. Com isso, o Tarik Fontes é certificado pelo Programa de Qualificação de Fornecedores – PQF- Bahia. A outra conquista está relacionada com o recebimento do certificado ISO 9001:2008. O Tarik Fontes tem a certificação de número FS 595941, no escopo de Serviços de Hotelaria, Restaurante e Aluguel de Espaços para Eventos, emitido pela BSI, com data de emissão 22/03/2013, com validade até 21/03/2016. Figura 2 – Certificações

Fonte: imagens efetuadas dos certificados originais (2013)

Por outro lado, as certificações deveram-se ao fruto de um trabalho árduo, profissional e persistência, apesar das adversidades e dos custos operacionais elevados, conforme registro nos relatórios gerenciais. É ingenuidade pensar que uma certificação não necessita de determinação, compromisso dos envolvidos e capacidade gerencial. As atividades administrativas devem ser profissionalizadas. Além do mais, os imperativos do mercado, a concorrência acirrada do setor hoteleiro, as exigências dos clientes e prestação dos serviços com qualidade são fatores que forçam as empresas a repensarem a forma de gerenciamento. Em sendo assim, descreve-se como o hotel investigado obteve os certificados (SELO


DIAMANTE e ISO 9001:2008). A gestão pela qualidade total é vivenciada na empresa investigada. O relato do proprietário pode ser evidenciado na tabela 2. Tabela 4 – O processo de certificação “Entendendo que para o alcance das metas estabelecidas propostas pelo planejamento estratégico, fundamentada no crescimento da organização, a empresa optou pelo modelo de gestão baseado nos princípios da excelência da qualidade, com os normativos da ISO 9001:2008. Essa construção representou mais de três anos de trabalho, bem como utilização de recursos financeiros importantes, para viabilizar a construção dos árduos processos da qualidade, controles estratégicos e aperfeiçoamento do elemento humano, este tão necessário para o alcance das metas pretendidas.” Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Diante das exposições encontradas nos procedimentos desta investigação, através das observações, da leitura documental e das respostas das entrevistas, infere-se que o hotel investigado tem nas suas diretrizes e nas suas práticas os procedimentos sistematizados da Total Quality Management. Assim, a continuidade desse modelo de gestão implantada, notadamente, contribuirá para que o empreendimento hoteleiro pesquisado mantenha-se competitivo, inclusive atestando procedimentos no contexto de um de serviço de excelência, imposto por consumidores cada vez mais exigentes, e, para o enfrentamento da chegada de grandes redes internacionais de hotéis que a cada dia vem aportando de maneira agressiva no mercado nacional. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo abordou as questões ligadas ao gerenciamento pela qualidade total de uma pequena rede de hotel independente, nomeadamente um estabelecimento hoteleiro na cidade de Itabuna, Bahia – Brasil. Em forma de síntese, responder-se-ão as perguntas elencadas no início da investigação. As questões foram: a) expor as práticas desenvolvidas pelo hotel através dos princípios da GQT, b) demonstrar que a GQT pode ser uma ferramenta estratégica para a competitividade organizacional e, por fim, c) identificar os desafios enfrentados na certificação da ISO 9001:2008 e do “SELO DIAMANTE”. O sistema de gestão da qualidade já faz parte dos propósitos da empresa, pelo fato de estar integrado às operações do dia a dia, confirmado nas práticas dos procedimentos padronizados, tanto operacionais, quanto gerenciais. A segunda pergunta referiu-se à GQT como ferramenta de competitividade; assevera, pois, que uma gestão comprometida com as especificidades da qualidade total promove a profissionalização empresarial. Em sendo assim, o Hotel Tarik Fontes ganhou a certificação com SELO DIAMANTE e a ISO 9001:2008. Por último, os desafios são inúmeros, mas a empresa pesquisada, pelas análises verificadas, está


preparada para os obstáculos a serem ultrapassados, como: concorrência, ampliação da rede, fortalecimento da gestão etc. Por último, as perspectivas do Tarik Hotel são muitas. Esse achado na investigação serve para que essa empresa seja um modelo guia para outros estabelecimentos. Espera-se que o sistema de gestão da qualidade seja assimilado como um diferencial competitivo para as empresas. A Gestão da Qualidade Total – GQT - possa fazer parte das diretrizes das organizações, em especial, as do setor hoteleiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Boltanski, O., Thévenot, L. (1991). De Ia justification: les economies de Ia grandeur. Paris : Gailimard. Drucker, Peter F. (1975), Administração: tarefas, responsabilidades, práticas. São Paulo: Pioneira. Drucker, Peter (1992), Administrando para o futuro: os anos 90 e a virada do século. 2 ed. São Paulo: Pioneira Editora. Góes, A. O. S.; Guimarães, Carla R. F. R.; Brugni, Talles V.; Fontes, Maria J. V.; SILVA, Rogério R. (2012), “NEW BUSINESS OPPORTUNITIES IN SOCIAL INTREPRENEURSHIP: A CASE OF PORTUGAL”. International Review of Business and Social Sciences, v. 1, p. 33-49. Hamel, Gary. (2007). O FUTURO DA ADMINISTRÇAO. Rio de Janeiro, Campus. 251 p. Hisrich, Robert D. e Peters, Michael P. (2004), Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman. Marshall Junior, Isnart et al. Gestão da Qualidade. Rio de janeiro, EDITORA FGV, 2003. 160 p. Maculan, Anne M. (2005), “Analisando o empreendedorismo”. Anais do EGEPE – ENCONTRO DE ESTUDOS SOBRE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO DE PEQUENAS EMPRESAS. 4. Curitiba, 497-507 (em CDROM). Maximiano. Antonio C.A. (2002). TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO – Da Revolução Urbana à Revolução Digital. São Paulo: Atlas, 521 p. Quivy, Raymond e Campenhoudt, Luc Van (2008), MANUAL DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS. Lisboa: Gradiva. Santos, António (2008), “Estratégia; Estratégia e táctica: evolução conceptual e instrumentos”, in idem (org.), Gestão Estratégia. Lisboa: Escolar Editora, 111-119; 256-341. Silvia, Edna Lúcia da e Menezes, Estera Muszkat (2001), Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC.


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Capítulo 2: Comunicação, Cultura e Sustentabilidade


Aplicações do bambu em construções sustentáveis *Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima Doutoranda em Engenharia de Materiais Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: pilolima@hotmail.com Ruth Marlene Campomanes Santana Professor do Departamento de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: ruth.santana@ufrgs.br Resumo

A conservação do meio ambiente é uma preocupação de interesse global, por tanto a busca de uma maior sustentabilidade tem fomentado o crescente desenvolvimento de novos produtos e a utilização de materiais naturais e processos com tendência ecológica e sustentável em diferentes setores industriais. Um desses materiais de fonte natural é o bambu, que se apresenta como uma excelente opção na indústria da construção civil, considerando as suas propriedades; oferece multiplicidade de utilizações, para além das tradicionais. Pode ser utilizado como material estrutural na fabricação de pontes, edificações, com aplicações em coberturas, paredes, pavimentos entre outras.

Abstract Conservation of the environment is a concern global interest; therefore, the research for grater sustainability has fostered the increasing development for new products and the use of natural materials and process with a ecological and sustainable tendency. One of these materials is the bamboo, that presents itself as excellent choice in the civil construction industry, distinguished as well for its properties, offers multiplicity of bamboo´s applications, beyond the traditional ones. It cam be used like structural material in the manufacture of bridges, buildings, with applications to coverage, walls, floors and others


1. Introdução O bambu é um dos materiais utilizados pelo homem no campo da construção, desde tempos remotos, tem formado parte do conjunto de elementos construtivos que foram eixo do desenvolvimento cultural na Ásia e em América; o homem do trópico tem utilizado diferentes espécies de bambu como matéria prima para a construção das suas vivendas, embarcações, pontes, e outras infraestruturas, além de ser um material amigo do meio ambiente, renovável, é perene, leve, flexível, muito resistente, consegue substituir o aço e madeiras em varias construções. O bambu se apresenta como uma alternativa de materiais a ser aplicado na construção civil e na arquitetura, na produção de ambientes sustentáveis. Entre as vantagens que oferece o bambu como material para à construção civil, estão: seu crescimento é extremamente rápido, o que faz dele um produto natural econômico de fácil aquisição; fixador de dióxido de carbono (CO2) inclusive nas obras onde é utilizado; possui uma baixa energia de produção, se comparada com o aço, concreto ou madeiras; é um material leve, forma estruturas de baixo peso e alta flexibilidade comparadas com as da madeira, estas estruturas são importantes para soluções sismo resistentes; a capa externa da casca oferece uma altíssima resistência à tração, igualável ao aço; não possui corteza que deva ser cortada. Por ser um produto natural, suas caraterísticas e comportamento estrutural dependem muito da espécie de bambu, do local onde é cultivado, idade, conteúdo de humidade e a parte do colmo a utilizar. Para a construção civil, se recomenda usar bambu maduro e seco, normalmente entre 4 e 6 anos de idade, não devem ser usados bambus com rachaduras que vão de um nó ao outro nó, os colmos devem ser retos ou discretamente curvados, não é recomendado usar talos que apresentem ataques por insetos ou fungos, devem ser limpados antes do uso, para colunas deve ser usado o primeiro tercio do talo, onde os nós são mais próximos e a casca é mais grossa, os talos não devem ter uma conicidade superior ao 1%, se houver fissuras, estas devem estar localizadas na fibra externa superior ou na fibra externa inferior; para evitar ataques de fungos, o conteúdo de humidade relativa não deve ser superior ao 20%; precisa ser protegido da intempérie; deve ser tratado para evitar o ataque de fungos e insetos. 2. Construção em consideração com o meio ambiente É uma técnica de design que complementa as técnicas de design sistemáticos de produtos e processos já utilizados. Seu objetivo é melhorar a ecoeficiência e a qualidade da construção diminuindo o impacto ambiental através do seu ciclo de vida. A qualidade de um produto deve satisfazer uma série de especificações e requerimentos, que são definidos pelo mercado, a produção, os operários, a tecnologia, a ecologia e todos os fatores que interferem no entorno do produto ao longo da seu ciclo de vida.

Na construção civil, pode ser reduzida a intensidade de utilização de uso de energia utilizando materiais sustentáveis, como é o caso do bambu , e diminuindo uso de matérias como o cimento e o aço. 2.1 O bambu na construção civil Desde a antiguidade, o bambu tem sido um material de construção aplicado desde habitações primigénias até edificações. Devido as suas características mecânicas, flexibilidade, rápido crescimento, baixo peso e baixo custo, o bambu é um material de construção com muitas aplicações. Se calcula que 1000 milhões de pessoas moram em casas construídas com bambu (Liese e Duking, 2009). Em regiões sísmicas, são preferidas este tipo de construções devido a sua leveza e flexibilidade. Em regiões do trópico húmido se utiliza o bambu por ser um material económico e de fácil manejo, além disto nestas zonas há necessidade de muros sem massa térmica. (Minke,2010). Um uso comum típico do bambu é na construção de andaimes; na Asia se encontram estes com alturas superiores a vinte andares (Vitra Design Museum 2000). Este material oferece múltiplas funções na estrutura de uma vivenda, pois é empregada nos cimentos quando utilizada como substituta do ferro, colunas com alta capacidade, vigas, tetos, paredes, pisos entre outros.


Entre as vantagens da utilização do bambu na construção se encontram: -

O crescimento do bambu é extremamente rápido e é utilizável como material de construção a partir dos 4-6 anos. O bambu acumula CO2 possui uma baixa energia de produção, se comparada com o aço, concreto ou madeiras, isso significa que a pegada ecológica e baixa. O Bambu como material de construção é leve, forma estruturas de baixo peso e alta flexibilidade comparadas com as da madeira. Estas estruturas são importantes para soluções sismo resistentes. A capa externa da casca oferece uma altíssima resistência à tração, igualável ao aço. Segundo a norma ISO 22156-2, o bambu é 3,3 vezes mais rentável que a madeira. O gasto de corte e transporte e relativamente baixo O Bambu não possui corteza que deva ser cortada.

O bambu é um material natural, heterogéneo, pois não existem talos de bambu exatamente iguais, nem mesmo pedaços do mesmo bambu, isto gera algumas desvantagens como: -

O comportamento estrutural depende muito da espécie de bambu, do local onde é cultivado, da idade, o conteúdo de humidade e da parte do colmo a utilizar. O bambu precisa ser protegido da intempérie. Deve ser tratado para evitar o ataque de fungos e insetos. As vezes o talo não é completamente reto, pode ter uma certa curvatura Em muitos países não existe uma norma oficial para construções com bambu, por tanto as licenças para este tipo de construções são um tanto dispendiosas para se obter. (Minke, 2010)

2.1.1 Resistência a sismos: pela alta resistência deste material contra forças em relação ao seu peso, a capacidade de absorver energia e sua flexibilidade, o bambu é ideal para construções sismo resistentes. Estúdios nas regiões dos andes, apresentam que em edificações com um primeiro andar com muros sólidos de “tapial”1 e um segundo andar em bambu, resistiram a terramotos de alta magnitude. Em Quepos, Costa Rica, em novembro de 2004 aconteceu um tremor de terra de magnitude 6,9 na escala Richter ,localizado na zona epicentral, o projeto turístico de Timarai, com 2.500 m2 construídos em bambu, respondeu sem danos na estrutura. Em abril de 1991 todas as vinte casas de bambu construídas com a consultoria de Jules Janssen em Costa Rica, suportaram o terramoto de magnitude 7,5 da escala Richter sem falhas. (Minke, 2010). O design arquitetônico de casas sismo resistentes de bambu, cumprem em geral com as condições de casas construídas em outros materiais. Entre estes: • A estrutura deve ficar rigidamente ancorada à cimentação • O tecto deve ficar ancorado a os muros • A coberta não deve ser muito pesada com relação ao resto da estrutura • Construções de mais de um volumem devem ter um comportamento diferente entre elas. • A planta não deve ser muito alongada, o ideal é circular. • As partes do muro entre os vãos devem ser suficientemente amplas. (Minke, 2010)

1

O tapial é uma técnica consistente em construir muros com terra compactada “tierra apisionada”


2.1.2 Espécies de bambu utilizadas na construção Os géneros de bambu mais utilizados para este propósito são: Bambusa, Chusquea, Dendrocalamus, Gigantochloa, e Guadua; dentro destes a conhecida cientificamente como Guadua angustifolia, encontrasse selecionada como uma das espécies prioritárias de bambu (Cruz, 2009) e devido a sua resistência físico-mecânica tem se convertido em um dos bambus mais importantes a nível mundial e continua a ser o mais importante de América para a utilização na construção. Esta espécie é nativa da Colômbia, Venezuela, Equador; o bambu nativo existente na Colômbia é o que oferece melhores características e o preferido para a construção (Cruz, 2009). As seguintes são as espécies de bambu mais utilizadas na construção, aqui são mencionadas algumas das suas caraterísticas, mais estes dados podem variar dependendo das condições e localização do cultivo.2 •

Bambusa

Balcoa Disimulator Edilis Polymorpha Stenostachya Vulgaris Bambosa Nepalensis Oldhami Munro (Bambu verde) Vulgaris, Schrader ex Wendalnd Bambusa vulgaris, Schrader ex Wendland, var striata

Altura / Diâmetro 12-20 m 8-15 cm 12 m 6 cm 20 m 16 cm 27 m 15 cm 22 m 15 cm 18 m 10 cm 30 m 15-18 cm 20 m 10 cm 6 - 12 m 3-12 cm 6 -15 m 5 -10 cm

Origem

Características

Índia

Casca grossa até de 3 cm

Sul da China

Casca fina e dura

China China, Bengala, Burma China Asia, América Sudeste da Asia

Alto conteúdo de amido

Taiwan

Cor verde forte

Casca grossa

Sul da China Sudeste da Asia

Mutação do Bambusa vulgaris cor amarelo ouro e listras verdes

Quadro 1 Caraterísticas da espécie Bambusa

Fonte: Minke, 2010

2

Informação mais detalhada sobre as espécies, pode ser conferida em Farrelly, (1938); Young e Haun, (1961) e McClure, (1996)


Chusquea

Culeou Culeou Desvaux

Altura/ Diâmetro 6m 4 cm 4 -6 m 2-4 cm

Quila Kunth

Características

Chile

Cresce nas zonas mais austrais do planeta, casca forte Talo sólido, cor amarelo

América Central América do Sul Chile

Fonte: Minke, 2010

Origem

Talo sólido

Quadro 2 Caraterísticas da espécie Chusquea

Dendrocalamus É um grupo de Bambu com muitas variedades, alcançam grandes alturas e são de grande importância na construção.

Balcoa “Bambusa Balcoa” Giganteus “Bambu gigante” Asper (“Bambu balde” no Brasil) Latiflorus

Altura/ Diâmetro

Origem

20 m 20 cm 20-30 m 30 cm ou mais

Sudeste Asiático, Índia Índia, Burma, Sri Lanca, Tailândia

25 m 20 cm 20 m 20 cm

Brasil Taiwan, Sul da China

Características

É um dos mais grandes, usado para grandes construções Casca dura e resistente Casca grossa de 2”, entrenós até de 70 cm

Quadro 3 Caraterísticas da espécie Dendrocalamus

Fonte: Minke, 2010

Gigantochloa Altura/ Diâmetro 16 m 10 cm 13 m 8 cm 16 m 10-15 cm

Apus Atroviolacea Levis

Origem

Características

Malásia, Indonésia Malásia, Indonésia

Cor negro

Filipinas

Quadro 4 Caraterísticas da espécie Gigantochloa

Fonte: Minke, 2010

Phyllostachys Os Bambus deste grupo crescem em zonas temperadas e se caraterizam por formar nós em zig zag ou outras formas irregulares


Altura/ Diâmetro 5m 2 cm 22 m 14 cm 21 m 12 cm 21 m 12 cm

Aurea Bambusoides Nigra, var. Henonis Vivax

Origem China e Japão Japão China China

Quadro 5 Caraterísticas da espécie Phyllostachys

Guadua É um género endémico de América do Sul. Se destaca Guadua Angustifolia kunth (Colômbia) como uma das mais importantes para a construção.

Angustifolia Kunth Aculeata Chacoensis

Paniculata Munro Superba Huber

Altura/ Diâmetro 18-24 m 9-12 cm

Origem

Características

Colômbia

Devido a sua resistência físico-mecânica tem se convertido em o Bambu mais importante de América e um dos mais importantes a nível mundial

25 m 12 cm 20 m 8-12 cm

Desde México até Panamá Norte de Argentina e trópico Boliviano Trópico Boliviano Trópico Boliviano

10 m 3 cm 20 m 9-12 cm

Parte superior sólida, parte inferior com pequenos vazios Pode sofrer rachaduras

Quadro 6 Caraterísticas da espécie Guadua

Fonte: Minke, 2010 2.2 Seleção do bambu para a construção: o bambu a ser utilizado deve ser de boa qualidade, se faz as seguintes recomendações: • Usar Bambu maduro e seco, normalmente entre 4 e 6 anos de idade. • Não devem ser usados Bambus com rachaduras que vão de um nó ao outro nó. • Os colmos devem ser retos ou discretamente curvados, mais jamais com curvas internas. Se usar como colunas que transferem grandes forças, a excentricidade da força axial não deve der maior ao 0,33% de longitude do elemento (NSR-10). • Não é recomendado usar talos que apresentem ataques por insetos ou fungos. • Talos atacados por fungos e líquenes, devem ser limpados antes do uso. • Para colunas deve ser usado o primeiro tercio do talo, onde os nós são mais próximos e a casca é mais grossa. • Os talos não devem ter uma conicidade superior ao 1%. • Os talos usados como vigas não devem ter fissuras longitudinais ao longo do eixo neutro do elemento, se houver fissuras, estas devem estar localizadas na fibra externa superior ou na fibra externa inferior.


Para evitar ataques de fungos, o conteúdo de humidade relativa não deve ser superior ao 20% (NSR-10).

2.3 Desenvolvimento das construções com bambu Antecedentes históricos demostram que a construção mista esteve presente no desenvolvimento das civilizações, o homem aprendeu a construir a sua morada com terra e elementos vegetais que encontrava no seu entorno como estrutura, isto foi o inicio de interessantes formas de vivenda que demostram uma cultura construtiva inteligente. Com o incremento da agricultura se desenvolve uma arquitetura de vivenda com poste e viga assim como a concepção de um sistema de paredes. Este conjunto pode ser chamada de casa arcaica ou trivial. (Stamm, 2007)

Fig. 2 Casa trivial e detalhes de amarre Fonte: Dunkelberg

O “bahareque” de bambu: foi desenvolvido na região centro ocidental da Colômbia, aproximadamente na metade do século XIX, esta técnica construtiva utilizava como elemento principal o bambu, que integra colunas e vigas em este material, formando uma espécie de “tecido estrutural”, constituída por paredes, tecto e piso, e recoberto interna e externamente por lâminas de “estérilla” (lâminas formadas por bambu rachado). Fonte: (Cruz, 2009). Se difundiu rapidamente nas outras regiões de América, devido à suas características sismo resistentes e à facilidade de adaptasse a topografias irregulares. O “bahareque” é uma técnica de construção pela qual se conseguem muros finos e resistentes , consiste em elementos verticais e horizontais que formam uma tela que cria um espaço interior, posteriormente é preenchida com terra (barro). Os elementos verticais normalmente são de madeira roliça e os horizontais de bambu. Este sistema é flexível, por tanto resistente a os impactos de sismos. Fonte: (Cruz, 2009).

Fig. 3 Tecnica do “Bahareque” Fonte: Ecobambú

Construções tradicionais caraterizada pela utilização de materiais económicos como o bambu, com telha de barro ou zinco, por tanto é um design mais quadrado ou retangular. Se aplica o principio de proteção por design, significa que este tipo de construções possuem uma boa base de tijolo ou cimento


que isola o bambu do contato direto com solo para impedir desta maneira a humidade por capilarização e também uma boa coberta que também protege da intempérie.

Fig. 4 Quiosque – Construção tradicional Fonte: A própria autora

Com este tipo de construções se garantem as tradições na construção, mais com um certo nível de conhecimento em conceitos básicos e também na elaboração confiável das uniões parafusadas e reforçadas com cimento. É indispensável utilizar bambu seco, pois com talos frescos se corre risco nas uniões3. As casas tradicionais consomem muito material, mais com tolerância contra sismos.

Fig. 5 Construção de casas em bambu- Projeto Arq. Simon Vélez Fonte: Jorg Stamm

Construções modernas Este tipo de construções conciliam uniões tradicionais com uniões de engenharia

a

b

Fig. 6a Pavilhão Projeto Arq. Simon Vélez Fig. 6b Catedral Projeto Arq. Simon Vélez Fonte: Roger Martínez

3

Há limitações na utilização da união “boca de peixe” com talos frescos. Em obras onde se utilizaram varias uniões deste tipo com bambu fresco, se observou deformações causadas pela diminuição do diâmetro durante a secagem (até 15 %) Fonte: depoimento arq. Roger Martínez


O arquiteto colombiano Simon Vélez desenvolveu um tipo de união e de sistema construtivo, com o que consegue alturas de até vinte metros para cobertas em morteiro de cimento e telha de barro espanhola, bastante pesadas. Com grandes estruturas para cobertas das mesmas características, ele, descobriu que para as uniões dos grandes esforços de tração que apareceram, era necessário encher os canudos (colmos) com cimento, onde aconteciam estas uniões, assim estes suportaram os esforços das platinas e parafusos e os transferiam a todas as fibras do bambu, evitando assim que se rasgara. (Villegas, 2001) As fibras do bambu, surpreendentemente resistentes à tração, são semelhantes a um aço vegetal. Nestas estruturas se deve prestar atenção à resistência dos parafusos e não à do bambu . Com um sistema de construção de estruturas de bambu em que se consegue resolver as uniões para as forças de tração e compressão, este material entra a competir e em muitos casos a substituir a materiais como a madeira serrada, o ferro ou o concreto. “A relação pesoresistência do bambu, só pode ser comparada com as obtidas pelas alheações de metais da era espacial” (Villegas, 2001: 44) Um exemplo deste tipo de estruturas com engenharia tem sido aplicados na fabricação de pontes, onde é importante utilizar uniões de alta resistência, fazer cálculos estruturais, plano, pré-fabricação e levantamento da estrutura com guincho. Este sistema construtivo, onde se cruzam bambus em diferentes níveis, parafusados entre si, são a base para a elaboração de estruturas complexas de vários andares, ou para pontes. Outra vantagem deste sistema é a possibilidade de pré-fabricar as estruturas com grande precisão para depois posicionar e fixar, uma vez finalizada a montagem as uniões são preenchidas com morteiro de cimento.

Fig. 7 Ponte Santa Fe (Colômbia) – Projeto Jorge Stamm Fonte: Ecobambu

Fig. 8 Bar restaurante (Vietnã) – Projeto Arq. Vo Trong Nghia Fonte: Hiroyuki Oky

Construções contemporâneas em quanto as estruturas tradicionais e as estruturas de engenharia são fundamentadas em sistemas construtivos bidimensionais, as estruturas “contemporâneas” apresentam estruturas tridimensionais, que inclui membranas anticlásticas, conchas em dupla curvatura, e estruturas espaciais . Nestas estruturas há novas exigências nas uniões, também aqui se procura a economia, a estandardização e possível industrialização desta classe de uniões.


Se propõe compatibilidade do bambu com outros materiais da construção como o aço, o vidro, a fibra e compósitos e outros.

Fig. 9 Quiosque (Colômbia) – Projeto Ecobambú Fonte: A própria autora

As estruturas tridimensionais respondem muito bem a esforços com diferentes direções como sismos e ventos. Os talos compridos e leves do bambu, resistem muito bem as forças de flexão, se flexiona mais não se fragmenta, esta elasticidade é ainda maior quando o bambu esta seco, e quase impossível de curvar com a força humana. (Stamm, 2007)

Fig. Ponte em Cucuta (Colômbia) – Projeto Jorge Stamm Fonte: Ecobambú

3. Conclusões O bambu, é um material presente ao longo da história e do desenvolvimento sociocultural; no hemisfério oriental, tem sido utilizado nas artes construtivas não simplesmente com fins funcionais, mais simbólicos que refletem determinados valores ou necessidades sociais; e no hemisfério ocidental, onde a flexibilidade deste material tem proporcionado diversos usos desde os tempos aborígenes, como utensílios de cozinha, pontes, armas, embarcações etc., especificamente na Colômbia, este material tem estado relacionado a os processos evolutivos da construção e da arquitetura. Em geral na América Latina, o bambu é bastante utilizado, porem em menor intensidade que no Oriente; na Colômbia, tem sido bastante aproveitado no ramo do design, arquitetura e da construção, tem se investido muito em pesquisas e estudos que são referencia para o resto de países, o Equador também tem apresentado projetos de grande importância e interesse ao respeito, Costa Rica, México também tem apresentado interesse pelo uso deste material; o Brasil, que alberga a maior diversidade de géneros de bambu em América e possui o maior grau de endemismo no continente, tem a oportunidade de fazer desta espécie uma alternativa no desenvolvimento económico e do ecossistema, pois existem áreas dentro do pais (estado do Acre) ainda sem ser exploradas , por tanto existe aqui um grande potencial a ser aproveitado no campo da construção.


4. Bibliografia CRUZ, H. Bambu Guadua Guadua angustifolia kunth. Gráficas OLIMPICA S.A, Pereira, Colombia, 2009 DUNKELBERG, K. et al. Bamboo as a building material. Institute for Lightweight structures (IL) Karl Kromer Verlag Stuttgart. ISBN 3-7828-2031 NR. 31. Stuttgart: University of Stuttgart, 1996 FARRELY, D. The book of bamboo. EAU, San Francisco: Sierra Club Books, 1984. 340 p. GIRALDO, E., y SABOGAL, A. Una alternativa sostenible: la Guadua . Corporación Autónoma Regional del Quindío. 2ª edición, Colombia, 2005 HIDALGO, O. Bambu: cultivo y aplicaciones en: fabricacion de papel,construcción, arquitectura, ingenieria, artesania. 318 pp. Illus. Estudios Tecnicos Colombianos (ETC), Apartado Aereo 50085, Bogota, Colombia. 1974. HIDALGO, O. Nuevas técnicas de construcción con bambú. Estudios técnicos colombianos, Bogotá, 1978, 137 p. HIDALGO, O. Bamboo: the gift of the gods. Colombia, Bogotá: D´vinni Ltda. 2003 HSIUNG,W. Prospects for bamboo development in the world. In: IBC,88, 1988, Prafance. JANSSEN, J.J. Designing and buildng with bamboo. INTERNATIONAL NETWORK OF BAMBOO AND RATTAN – INBAR. Beijing China. Technical report nº 20, 207 p. 2000 JARAMILLO, A. La Guadua: historia antropolígica- Manizales: Universidad de Caldas, Facultad de Agronomía, 1983. LIESE, W e DUNKING, R. Bambus als CO2-Speichr. Em: Naturwissenschaftl. Rundschau 62/7, 2000 MINKE, G. Manual de construcción con bambú. Merlin 1ª edición, Cali, Colombia, 2010, 154 p. Stamm, J. La evolución de los métodos constructivos en bambú. In: Congreso Mexicano del Bambú, 2. 2007. Puebla, México, 2007. VILLEGAS, M. Bambusa guadua. Villegas editores, 3ª edición, Bogotá, 2001

Sites: www.archdaily.com.br (acessado em 19 de maio de 2012) www.skyspercity.com/showthread.php?t=251666 Acesso em 15 de outubro de 2011 www.ecivilnet.com/artigos/cimento_portland.htm Acesso em 26 de março de 2012 www.pyroenergen.com Acesso em 07 de setembro 2011 www.versteegde.nl Acesso em 06 de dezembro de 2011


Arquiteturas interativas inteligentes: como as redes digitais podem fazer parte das estratégias e ações de sustentabilidade das organizações *Julliana Cutolo Torres1 *Fernanda Cristina Moreira2 Resumo Este artigo pretende identificar como o apoio de empresas a comunidades – tradicionais e científicas – na criação de redes territoriais e de pesquisa pela sustentabilidade, pode inserir as organizações em processos inteligentes de geração de valores e cultura sustentáveis. Para isso, o artigo se apóia em dois casos exemplares: o “Mapa Cultural Suruí/Google Earth Solidário” e o “Redes de Inovação/Natura Campus”, visando identificar, assim, a formação de "arquiteturas interativas inteligentes" resultantes das interações entre indivíduos/comunidades, organizações, tecnologias comunicativas digitais e territórios. Abstract This article intends to identify in which sense companies’ support to traditional and scientific communities interested on the development of territorial and research networks for sustainability may insert those organizations into intelligent processes to create sustainable values and culture. The article relies on two exemplary cases: the “Cultural Map Suruí / Google Earth Outreach” and “Innovational Networks/ Natura Campus”, targeting to identify the formation of "intelligent interactive architectures" that result from the interactions between individuals/communities, organizations, digital communicative technologies and territories.

Introdução Nos últimos anos, no cenário mundial, com o advento da banda larga e com o avanço das tecnologias interativas digitais, permitindo a todos os indivíduos conectados a produção, a armazenagem, a modificação (uso de filtros, edição, remixagem) e o compartilhamento de vídeos, áudio, imagens e textos através de softwares aplicativos e aparelhos portáteis, pudemos observar um aumento não somente da quantidade de informações veiculadas sobre as questões 1

Doutoranda em Ciências da Comunicação ECA-USP (bolsista CNPq e bolsista doutorado-sanduiche Capes), é pesquisadora do Centro de Pesquisa Atopos (ECA-USP), foi professora da FAPCOM (Faculdade Paulina de Comunicação) e atualmente é professora do curso de especialização Redes Digitais, Terceiro Setor e Sustentabilidade (USP). É coautora do livro Redes Digitais e Sustentabilidade (Di Felice, Torres, Yanaze Annablume, 2012). 2 Mestranda em Ciências da Comunicação ECA-USP (bolsista Capes), é pesquisadora do Centro de Pesquisa Atopos (ECA-USP), na linha de pesquisa Ecosofia, onde realiza pesquisa sobre a atuação de coletivos indígenas em pós-territorialidades informativas. Foi Analista de Comunicação na Siemens (2010-2012).


ecológicas, mas também a multiplicação das formas de protestos e de participação em prol da preservação do meio ambiente. Mais especificamente, assistimos ao desenvolvimento de novas práticas de atuação de redes digitais, também auspiciadas sob a bandeira da sustentabilidade, que visam, em grande parte, à criação, à implantação e/ou ao mapeamento de projetos e ações sustentáveis. Tais iniciativas associam à sua forma de organização reticular e não-hierárquica uma nova lógica colaborativa de atuação, em que são considerados os impactos sobre o meio ambiente e são criadas e disseminadas práticas inovadoras por meio das dinâmicas colaborativas das arquiteturas interativas digitais3. A convergência dessas duas grandes tendências da atualidade – redes digitais e sustentabilidade – inaugura discussões inéditas sobre a possibilidade de atuação conjugada dos diversos setores interdependentes da sociedade – empresas, sociedade civil, universidades e instituições públicas. As novas tecnologias comunicativas, mais do que promoverem a digitalização e disseminação de informações sobre o meio ambiente, fornecem substrato ao desenvolvimento de uma nova consciência reticular que altera nossa própria percepção de habitar o mundo. A esse respeito, parece-nos fundamental não somente analisar as novas práticas de interações em redes, propiciadas pela difusão das novas tecnologias e inseridas na chamada “cultura das redes”4, mas, sobretudo, considerar os novos significados da digitalização do social e do ambiente, enfatizando a constituição de um território inteligente reticular, que é a conexão, em um mesmo fluxo informativo digital, entre meio ambiente, indivíduos, organizações, instituições e tecnologias. As tecnologias digitais e as novas formas de interação em rede Partindo do pensamento original de Marshall McLuhan (2000), e considerando que os efeitos da introdução das tecnologias digitais de comunicação em nossa sociedade não ocorrem somente nos níveis das opiniões e dos conceitos, mas incluem mudanças nas relações entre essas 3

Entendemos por “arquiteturas interativas digitais” o resultado da interação entre indivíduos, territórios e tecnologias comunicativas digitais. 4 A cultura das redes é aquela derivada do advento das novas tecnologias interativas digitais e sua convergência com as tecnologias informativas precedentes, principalmente a partir da década de 70, e da interação dessas novas tecnologias com a sociedade, resultando em um conjunto cada vez mais difundido de práticas sociais e comunicativas baseadas na manipulação, remixagem e edição de informações – vídeos, imagens, áudios, textos – pelos indivíduos conectados em redes, que passam a ser co-produtores de conteúdo e não apenas público.


tecnologias, os sujeitos e o espaço que se manifestam nas próprias estruturas da percepção do território5, podemos referenciar sinteticamente duas grandes épocas midiáticas distintas e concomitantes, que caracterizam a nossa contemporaneidade, e sua relação com a abordagem do território: a primeira, representada pelo advento dos meios analógicos de comunicação (escrita, fotografia, cinema, televisão etc.), caracterizada pelas relações hierárquicas de produção e distribuição das informações e pela distinção clara entre emissores e receptores da mensagem, definindo um período onde a relação entre homem e território mostra-se midiática, frontal e externa; e a segunda, assinalada pela interatividade das tecnologias digitais de informação e comunicação, pela digitalização das informações, do território e da sociedade, e pela produção colaborativa de conteúdo e sua difusão compartilhada em rede, assinalando territórios constituídos por fluxos informativos digitalizados trocados continuamente nas interações entre todos os elementos – humanos e não-humanos – de redes interligadas e interdependentes. Assim, as novas tecnologias comunicativas digitalizam o território, transformando-o em informações acessíveis em toda parte e modificáveis colaborativamente, possibilitando novas formas de elaboração conjunta das questões sociais, políticas e ambientais em constante interação e debate com as instituições e organizações, considerando os interesses de todos os diversos coletivos6, independentemente das geografias nacionais, e reformulando, assim, essas mesmas instituições e organizações, as culturas e as sociedades, re-organizando-as em territórios inteligentes reticulares e implicando em um re-pensamento de seus processos e atuações. Temos, assim, a constituição de arquiteturas interativas inteligentes que, como verdadeiros ecossistemas informativos, fomentam a ideação conjunta de novos projetos, possibilitam a sua implantação e manutenção (sustento), e tendem a conduzir à reflexão, não somente sobre o escopo desses mesmos projetos, mas também sobre os conceitos a eles associados, as ações necessárias para realizá-los e os demais elementos a eles relacionados.

5 O vocábulo “território” neste artigo pode assumir três significados possíveis: 1. o sentido de “espaço”, compreendido lato sensu em termos geográficos, arquitetônicos e ambientais; 2. pode ser associado à identidade histórica e social de um lugar; 3. ou remeter a uma forma de interação entre o espaço, tecnologias comunicativas e indivíduos, tendo, portanto, um caráter “psicotecnofísico”, variável segundo o tipo de tecnologia considerado. 6 Referimo-nos aqui ao conceito de “coletivo” elaborado pelo filósofo francês Bruno Latour. Segundo o Glossário de Políticas da Natureza, coletivo distingue-se em primeiro lugar de sociedade, termo que nos remete a uma má distribuição de poderes; acumula em seguida os antigos poderes da natureza e da sociedade num só lugar antes de se diferenciar novamente em poderes vários. Embora empregado no singular, o termo não nos remete a uma unidade já feita, mas a um procedimento para coligar as associações de humanos e não-humanos. (Latour, 2004: 372, 373). Em suma, o coletivo aponta para “conexões temporárias de atores heterogêneos que devem ser reagregados”. (Latour, 2012: 113).


Território, redes e sustentabilidade: os Suruí e o Google Solidário O Google Earth Solidário pode ser considerado expressão de uma nova cultura ecológica ligada à conectividade na medida em que permite, a partir da digitalização de territórios e comunidades locais, monitorar os impactos sociais e ambientais gerados por práticas cotidianas e pelo modelo de desenvolvimento econômico predominante na contemporaneidade. O programa oferece tecnologias de georreferenciamento/mapeamento como Google Earth Engine e Google Maps Engine, as quais permitem expandir iniciativas políticas, econômicas e culturais desenvolvidas localmente, possibilitando a constituição de novas alianças e parcerias com atores globalmente dispersos. A fim de analisar os processos de constituição e expansão de arquiteturas interativas inteligentes, selecionamos o projeto brasileiro do povo indígena Suruí contemplado pelo programa Google Earth Solidário, cujas ações estão focadas na proteção do território demarcado contra invasões e explorações ilegais e na gestão sustentável dos recursos ambientais da região, aspectos que se mostram fundamentais para a sobrevivência física e cultural dos coletivos indígenas no Brasil. A área de 248 mil hectares da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada em Rondônia, próxima ao município de Cacoal, onde vive o povo Paiter Suruí, é palco de conflitos, invasões, exploração ilegal de madeira, de pesca e de terras desde a década de 60, quando o governo começa a intensificar as políticas de atração populacional para Rondônia. Com o objetivo de consolidar resistências e recuperar o protagonismo da gestão de suas terras demarcadas, os Suruí desenvolveram, sob a liderança de Almir Suruí, o Plano Suruí 50 Anos. Os projetos e ações que, segundo o documento, serão desenvolvidos ao longo de 50 anos para garantir a sobrevivência do povo Suruí e a preservação de suas terras e, com isso, contribuir para o desenvolvimento econômico, ambiental e social do país. Entre as ações, destacam-se práticas de reflorestamento, comercialização de créditos de carbono, ecoturismo e a criação de uma universidade indígena na Terra Sete de Setembro. Como parte da estratégia prevista no Plano, Almir Suruí, por intermédio da ONG ACT (Equipe de Conservação Amazônica), visitou a sede do Google nos Estados Unidos, em 2007, para propor uma parceria que conjugasse o conhecimento indígena sobre a floresta e as tecnologias de mapeamento na busca por soluções que ajudassem a garantir a sustentabilidade da cultura indígena Suruí e da floresta amazônica. O projeto apresenta, nesse sentido, contribui para


reativar o pensamento indígena como fundamental para as discussões que perpassam a nova cultura ecológica difundida na contemporaneidade, especialmente com o advento das redes digitais7. Os saberes indígenas devem ser entendidos, entretanto, de forma mais ampla do que a redução a “conhecimentos práticos sobre biodiversidade”, remetendo-nos aos fundamentos de um pensamento diverso ao ocidental que ignora a categoria “Natureza”, como transcendente e exterior ao homem. A ideia de combinar o que os Suruí chamam de “conhecimento sobre a floresta” com as tecnologias, emerge, portanto, de uma epistemologia que considera o social como constituído não apenas de relações entre humanos, mas entre elementos de diversas naturezas. Conforme descreve Viveiros de Castro (2002), nesse “social” não-ocidental estão imersos deuses, espíritos, mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, fenômenos meteorológicos, vegetais, animais, às vezes mesmo objetos e artefatos, que recombinam e ressignificam as categorias ocidentais cultura e natureza em uma lógica não-dialética de contextos relacionais e perspectivas móveis. Essa ontologia amazônica se mostra extremamente transformacional, descrevendo a infinita metamorfose do mundo em que “espíritos assumem formas animais, bichos viram outros bichos” e superando a lógica cartesiana que separou humanos e nãohumanos, princípio fundamental para a percepção reticular a que começamos a nos inclinar. Tais possibilidades de interconectividade realizadas pelos mundos indígenas passam a circular no cenário global a partir de projetos como o dos Suruí que, com o apoio do Google, colocam na rede (digital) o que sempre operou em redes (locais). Nesse sentido, o projeto Suruí/Google Earth Solidário foi idealizado para funcionar de forma colaborativa, respeitando os princípios de organização social e política tradicionais, com o envolvimento de indígenas Suruí em duas frentes principais: as denúncias de ilegalidades que ameaçam o território Suruí e a construção de um mapa digital que contempla informações históricas, culturais e ambientais da região8. 7

Segundo Di Felice, Torres e Yanaze (2012: 12), “há uma relação estreita entre a cultura comunicativa que se difundiu após o advento das redes digitais e a difusão contemporânea de uma nova sensibilidade ecológica generalizada, visível nos conjuntos de práticas e presente nas preocupações nas políticas de governos e empresas, conhecidas como sustentabilidade.” Essa nova cultura ecológica remeteria, portanto, à “percepção de uma sinergia reticular que não contrapõe mais o indivíduo ao território e ao meio ambiente, mas que parece substituir essa oposição pelas dimensões interativas de relações interdependentes e comunicantes”. 8 O Google teve um importante papel não apenas no fornecimento das tecnologias, mas em todo o processo de “inclusão digital” do povo Suruí. A empresa realizou treinamentos diversos ao longo do primeiro ano do projeto que possibilitaram aos indígenas realizarem suas próprias produções em vídeos, fotos, textos e gravação de áudio,


Entre as tecnologias integradas ao projeto, destacam-se o Open Data Kit e o Google Earth. Open Data Kit, software que foi utilizado em smartphones com Android doados pela Motorola aos Suruí, permite a coleta e o gerenciamento de dados por meio de formulários eletrônicos que congregam textos, dados numéricos, fotos, vídeos, códigos de barra e áudio em um servidor online que adiciona a essas informações sua localização geográfica. Os dados relativos à biodiversidade, topografia, hidrografia, quantidade de CO2 capturado, que são captados e armazenadas pelos próprios indígenas através deste software são, em seguida, disponibilizadas para visualização e edição no Google Earth9. Os Suruí realizaram o etnomapeamento da região, ou seja, indicaram os locais culturais e espirituais – onde caçam, pescam, os locais onde viviam antes do contato e inseriram essas informações no Google Earth. O deslocamento pelo mapa Suruí digital oferece a qualquer usuário, entre outras funcionalidades, a oportunidades de interação com narrativas audiovisuais e textuais históricas e cosmológicas10 – sobre Guerras entre povos indígenas da região, o contato com os Brancos, origem dos seres e do Universo – e com paisagens reproduzidas em terceira dimensão, a visualização de problemáticas ambientais geograficamente contextualizadas e de fotos e vídeos de rituais, fauna e flora da região. As informações indexadas ao mapa digital são atualizadas em tempo real, pelos diversos pontos dispersos da rede, fomentando dinâmicas imprevisíveis de atuação, ligadas a ideia de um território informativo que assume novos planos e dimensões manipuláveis e provisórios. A ação social indígena resultante do projeto Suruí, portanto, assume uma forma híbrida, nem somente tecnológica e nem somente ligada ao seu território. Essa arquitetura interativa digital da qual fazem parte o Open Data Kit, Google Earth, comunidade, profissionais do Google, árvores e animais e suas cosmologias, torna disponível ao mundo, em tempo real, informações sobre as transformações do território Suruí. As imagens de satélite já ajudaram a identificar lugares onde há madeireiros e garimpeiros atuando ilegalmente e permitem com que a rede de indígenas conectados revele ao mundo a devastação de suas terras e a concepção de uma outra natureza, visível nos fluxos informativos desses territórios digitalizados. editarem e distribuírem os dados na web. 9 O programa Google Earth está disponível a qualquer usuário de internet para download e instalação em computadores e dispositivos móveis. 10 Referindo-nos à orientação teórica e prática do pensamento social do povo Suruí: suas mitologias, concepção de pessoa, relação entre os seres do cosmos – animais, humanos, espíritos, fenômenos meteorológicos, os idiomas simbólicos organizados em torno das substâncias que comunicam o corpo e o mundo. (Viveiros de Castro, 1992: 7).


Nesse sentido, a possibilidade de compartilhamento de conteúdos através de tecnologias interativas digitais contribuiu para a participação ativa da sociedade em questões de interesse coletivo e para a tomada de decisões colaborativas em direção à transformação do território, que se torna agora habitável e manipulável digitalmente, configurando, assim, formas atópicas do habitar11. Assim sendo, o Projeto Suruí, em nossa perspectiva, expressa a emergência de uma cultura digital nativa que reúne a tecnologia, o conhecimento indígena, a expertise empresarial do Google e o território em um continuum incindível, indicando a formação de uma rede sustentável de inovação em práticas socioambientais. Pode-se inferir que o Google Earth Solidário inverte a lógica empresarial hierárquica de “responsabilidade social” definida como “uma obrigação da parte da empresa para com a sociedade” (Scanlan, Apud Kunsch, 2003: 135), já que a empresa deixa de se pensar como um ator privilegiado que deve cumprir determinadas obrigações com a “periferia” – como serviços comunitários, doações ou controle ambiental (id, ibidem), percepção relacionada a um social analógico e funcionalista, “resultado de interações entre estruturas e entidades identitariamente distinguíveis e separadas por interesses e papeis” (Di Felice, In: Kunsch & Kunsch, 2007: 42) e passa a entender-se como parte de uma rede maior, em que a inteligência social e ambiental é construída a partir da interconexão de sujeitos, território e tecnologias. O Google se coloca, assim, como uma espécie de mediador (Latour, 2012), ao conectar pessoas e causas sociais e ambientais mundialmente dispersas, transformando-as mutuamente. Seu programa Solidário reconhece o poder do usuário em “mudar o mundo” e coloca sua tecnologia e seus conhecimentos empresariais como um ator-rede12 que participa do processo de mudança. Nada mais condizente com uma empresa que emerge e se sustenta a partir da inteligência ecossistêmica das redes. Conhecimento, redes e sustentabilidade: o campus, a empresa e a inovação em rede 11 Segundo Massimo Di Felice, o “habitar atópico”, característico das arquiteturas interativas digitais, “(...) se configura como a hibridação, transitória e fluida, de corpos, tecnologias e paisagens, e como o advento de uma nova tipologia de ecossistema, nem orgânico, nem inorgânico, nem estático, nem delimitável, mas informativo e imaterial.” (Di Felice, 2009: 291) 12 A figura do ator-rede surge a partir do pensamento de Bruno Latour (2012) que, em linhas gerais, defende a composição do social como uma vasta série de “atores”, dentre os quais os seres humanos não detêm nenhuma espécie de privilégio. Com tal definição, Latour abre a possibilidade de pensar uma multiplicidade de elementos, de naturezas distintas, que continuamente agem e recebem interferências, ao compor a rede em que circulam fluxos e interconexões.


Analisando o papel da Universidade hoje, ocorre-nos considerar que, à vista das transformações da produção e disseminação do conhecimento e das numerosas rupturas paradigmáticas atravessadas (Thomas Khun), um campo científico não pode mais ser um território informativo à parte do restante do mundo, em que os centros de pesquisa localizam-se em cátedras distintas e divorciadas dos demais coletivos. Hoje, mais do que nunca, parece afirmar-se a necessidade de discussão da manutenção da distinção entre pesquisador e objeto e da centralidade do humano face à concepção das arquiteturas interativas digitais. As implicações de tal raciocínio remontam, primeiramente, a uma crise epistemológica, relacionada à crise do paradigma do método científico, responsável por uma visão mecanicista e determinista do mundo e uma frontalidade na abordagem do objeto pelo sujeito-pesquisador que praticamente definiu toda a metodologia de pesquisa e de referência de resultados científicos desde o século XIX até pouco mais da metade do século XX, ou até o desenvolvimento de teorias matemáticas e científicas que denotassem o primado da indeterminação e do relativismo 13 e trouxessem profundas discussões em torno da teoria do conhecimento. A abordagem expressa por tal paradigma endossava a linearidade e a externalidade da análise, ou melhor, uma forma do pensamento não-complexa e a projeção de um ponto de vista único e distanciado sobre um objeto de estudo e, mais precisamente, uma perspectiva essencialmente humanista – o contrário do que preconizarão, anos depois, já no final do século XX, Bruno Latour e tantos outros pensadores do cabedal de Gregory Bateson, Martin Heidegger, Michel Serres e Gilles Deleuze, por exemplo – implicando também em uma crise filosófica que levaria às argumentações contestatórias da centralidade do homem no mundo e às inquietações quanto ao destino do Planeta. Num segundo momento, tais implicações dizem respeito a uma crise comunicativa – aquela que se revelou quando do advento das tecnologias digitais, deslocando o eixo das indagações do fluxo comunicativo unidirecionado emissor-receptor para as dinâmicas reticulares, de modo que o caráter interativo dessas novas tecnologias implica a impossibilidade de delimitação e de observação externa, e coloca pesquisador e seus membros como partes ativas e intervenientes de um mesmo ecossistema informativo, constituído por redes de redes interconectadas, impondo ao processo de investigação científica um salto qualitativo, principalmente nos modos de organização e produção do conhecimento. 13

Lembremos aqui das teorias de Nicolai Lobacevski, de Werner Heisenberg e de Albert Einstein, por exemplo, todos pensadores daquele período.


A digitalização do campo científico, portanto, possibilita a expansão de suas fronteiras permeáveis em todos os lugares e propõe-nos uma construção colaborativa de novos significados para palavras novas, e novas indicações para problemas persistentes, antes enfrentados com instrumentais teóricos e conceituais fragmentadores e redutores da complexidade (Morin, 2008), permitindo que os elementos informantes dessas redes de saberes sejam os coletivos habitantes das arquiteturas interativas inteligentes. As Redes de Inovação do programa Natura Campus, lançado em 2006, apontam para uma singularidade associada aos novos processos contemporâneos de incubação do saber científico, frequentemente alocados nos centros de pesquisa e laboratórios universitários: observa-se o avançar de um novo modo, reticular e interativo, de organização e elaboração do conhecimento e, em alguns casos, a tecnologia assume papel não apenas de atestadora dos fatos científicos, mas de co-participante dos próprios processos investigativos que assumem gradualmente um caráter transdisciplinar e coletivo, constituindo, assim, verdadeiros grupos de trabalho capazes de conectar saberes de diversas fontes.. Assim, no que diz respeito à associação da organização empresarial à comunidade científica, a proposta elaborada pelo programa Natura Campus, fundamentada nas parcerias colaborativas confirma, de acordo com a sua proposta expressa no site, “o aprendizado e a construção do relacionamento valoroso entre uma empresa e as instituições de ciência e tecnologia onde ambas têm em comum a prática científica" de forma que não se fecham portas, nem na universidade, nem no ambiente empresarial, à elaboração conjunta e à aplicação desse dinamismo inovador. O programa Natura Campus surge, assim, como resposta a um cenário onde imperam as incertezas e instabilidades do mercado, substituindo a lógica do planejamento estratégico – com seus objetivos bem definidos e resultados esperados – por projetos que remontam à perspectiva de uma nova economia baseada em redes, que enfatiza como valor essencial a capacidade de se conectar para produzir inovações (Jeremy Rifkin), apoiados na noção de “cocriação interativa ou em rede”, de Augusto de Franco, que contribuiu para fundamentar o programa. Segundo Franco (2012), seria necessária a ressignificação do conceito de cocriação no contexto das redes, já que o termo foi continuamente empregado para designar processos de colaboração participativa administrada por estruturas centralizadas – tudo giraria ainda em torno do negócio e das vantagens competitivas dessa colaboração (Franco, 2012: 14). Por sua vez, a cocriação (idem,


ibidem) interativa apontaria para uma prática social baseada no desejo de interação, mais do que para uma prática mercadológica, excederia o compartilhamento de experiências individuais ao propor a projeção interativa de trabalhos comuns, partindo da contaminação (Maffesoli) ou do que chama de polinização mútua distribuída entre os criadores, ou seja, não centralizada. Desse modo, ter-se-ia uma lógica diversa do crowdsoursing de participação, em que empresas fechadas propõem um problema e selecionam as melhores sugestões pelos grupos coordenados (o que se assemelha a um processo de terceirização de soluções). A “wikinomics”, ou economia de colaboração em massa, desenvolvida por Tapscott e Williams (2008), já apontava para a superação do modelo de negócio industrial, baseado na propriedade e na materialidade, e a emergência de uma nova economia em rede, fundamentada na colaboração, que torna indistinguíveis produtores e consumidores, afetando todas as esferas da sociedade e inaugurando uma era da colaboração generalizada. Um dos fenômenos analisados pelos autores como expressão dessas novas formas de colaboração diz respeito justamente à temática da sustentabilidade, quando do advento da web 2.0: “A mudança climática está se tornando rapidamente um assunto apartidário, e todos os cidadãos obviamente tem uma participação no resultado. Então pela primeira vez nós temos um sistema de comunicação de todos-para-todos, global, multimídia, acessível, e um assunto em que está aumentando o consenso. No mundo todo existem cem, provavelmente mil formas de colaboração acontecendo em que cada um, de cientistas a crianças de escola primária, estão se mobilizando para fazer alguma coisa sobre emissões de carbono. A aplicação fatal da colaboração em massa parece estar se direcionando ao salvamento do planeta, literalmente.” (idem, 2008: X, tradução nossa) Nesse sentido, é possível entender o projeto Natura Campus como o resultado desse imperativo contemporâneo: a combinação entre a colaboração em redes e a atuação relacionada à sustentabilidade. A empresa reconhece que tanto suas práticas e políticas empresariais quanto seus produtos passam a ser reconfigurados pela lógica colaborativa ecossistêmica da rede e abrese à interação com uma comunidade científica disposta a romper as barreiras institucionais para produzir inovação para a sustentabilidade, resultando em novos produtos, em geração de valor de marca e em oportunidades de negócios. Nesse caso, o conhecimento inovador torna-se resultado


do envolvimento de institutos de pesquisa, parceiros empresariais, processos colaborativos, valores e temáticas socialmente compartilhados e divulgados através de várias redes sociais. Mas é justamente aí que se faz necessário apontar algumas limitações do conceito proposto por Franco que se refletem também no Portal do Natura Campus. As redes a que ambos se referem parecem compreender nos seus propósitos apenas os atores humanos envolvidos no processo de inovação – leiam-se pesquisadores externos e equipe de inovação da empresa – sendo a tecnologia digital considerada apenas como um suporte para promover a divulgação e o repasse de informações entre ambos. Seria interessante, por exemplo, que o Portal do projeto contasse com a existência de ambientes virtuais colaborativos em que uma rede ampla, composta por pesquisadores envolvidos, pela sociedade e por colaboradores e fornecedores da empresa, pudesse interagir, dando maior visibilidade às pesquisas em comum e gerando, de fato, um ambiente cocriativo, ao invés de ser apenas um ambiente de repasse e atualização de informações. Nesse território inteligente digitalizado, as tecnologias seriam tomadas como actantes que impactam o próprio processo de criação de inovação, o território e os indivíduos, e o conceito de inteligência coletiva, que ainda remete a uma concepção centrada no humano, se definiria enquanto uma inteligência reticular, conectando todos os coletivos (Latour). Conclusões Na atualidade, assistimos o desenvolvimento de uma cultura e um pensamento reticular e identificamos, nos diversos coletivos, atores de uma rede complexa de inteligências, territórios e tecnologias. Nesse sentido, ao nos referirmos a conhecimento, comunicação, sustentabilidade e responsabilidade social, parece-nos não ser mais possível pensar as instituições e organizações como centros difusores de informações sobre sustentabilidade e responsáveis pela concepção de práticas socioambientais a serem adotadas pela sociedade em geral e por comunidades locais, nem suficiente apenas realizar ações de promoção e divulgação massiva dos selos e projetos menos danosos ao meio ambiente e de interferência educativa e cultural nas comunidades do entorno. Pelo contrário: faz-se imprescindível construir uma cultura ecossistêmica do conhecimento que permita que comunidades, universidades e empresas, além do próprio ambiente, participem ativamente de redes de inovação que conjuguem saberes e práticas diversas para a sustentabilidade por meio das tecnologias digitais.


O resultado da consciência de habitar esses novos territórios reticulares e interagir em arquiteturas interativas altera profundamente o papel das universidades e das empresas na sociedade, ampliando sua atuação e expandindo seus projetos e negócios, como nos demonstram os casos analisados. Entendemos que, mais do que uma ação de responsabilidade social idealizada por uma empresa, cada projeto atende a demandas sociais de comunidades como a Suruí e contribui efetivamente para transformar os processos de criação do conhecimento e disseminação de informações e problemáticas de interesse público e ambiental, como no caso do Natura Campus. No caso do Google, uma empresa que nasceu nas e das redes digitais, a cultura colaborativa é intrínseca aos seus processos “produtivos” ou informativos – especialmente no que diz respeito a desenvolvimento de softwares, criação de arquiteturas informativas geográficas como o Google Earth e alimentação de informações na rede. Por esta razão, sua atuação pela sustentabilidade relaciona-se diretamente com as potencialidades de colaboração entre saberes e interação com o território oferecidas pelas tecnologias comunicativas digitais. Já na Natura, o posicionamento estratégico da empresa, desde o início, caracterizou-se por um modelo de negócio que investe em pesquisa e estratégias de inovação sustentáveis, envolvendo desde a extração de insumos até o desenvolvimento dos produtos e das embalagens, a fim de enfrentar os desafios sociais e ambientais que constantemente se impõem e se renovam, pensando a sustentabilidade como oportunidade para seu crescimento econômico e como valor empresarial e social. Os casos analisados apontam, portanto, para a emergência de uma cultura da interdependência e conectividade no interior das organizações que passam a enxergar a sustentabilidade não apenas como questões ambientais, sociais e econômicas relacionadas ao negócio ou ao território, mas como resultado de um novo social reticular, que, em nossa concepção, não é mais somente humano, mas também tecnológico e ambiental. As arquiteturas interativas inteligentes, como parte fundamental desse processo, fomentam transformações que não se circunscrevem às ações planejadas pelas empresas, mas estendem-se por todo o território de suas conexões, seus setores e colaboradores, afirmando relações interdependentes, propondo práticas inteligentes em rede, pressupostos para o desenvolvimento de uma “sustentabilidade conectiva”, onde todas as práticas e intenções contemplam o interesse de todos os coletivos, superando, portanto, o modo de inteligência


dissociada atual, que vem caracterizando as relações entre homem, tecnologia e território, e dá-se a conhecer pelos seus efeitos. Referências Bibliográficas BENJAMIN, Walter (2004). “A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica”. In: LIMA, L. C. (org.). Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Saga. DESCOLA, Philipe e PÁLSSON, Gísli. (Orgs.) (2001). Naturaleza e Sociedad. Perspectivas Antropológicas. México: Siglo Veintiuno Editores. DI FELICE, Massimo (2009). Paisagens pós-urbanas: a crise da cidade e as formas comunicativas do habitar. São Paulo, Difusão Editora. DI FELICE, Massimo, TORRES, Julliana C. e YANAZE, Leandro K. H. (2012). Redes digitais de sustentabilidade: As interações com o meio ambiente na era da informação. São Paulo: Annablume. DI FELICE, Massimo (2007). “As formas digitais do social e os novos dinamismos da sociabilidade contemporânea”. In: KUNSCH, M & KUNSCH, L. (orgs.). Relações Públicas comunitárias: A comunicação em uma perspectiva dialógica e transformadora. São Paulo: Sumus. FRANCO, Augusto (2012). Cocriação: reinventando o conceito São Paulo: 2ª Edição revista e aumentada. 86 p. A4 – (Escola de Redes; 17). http://api.ning.com/files/Ylo9D6B94GTQ1E0RCL*1YTcZclCBP6gMEzk4cq3UJkROAiYVFvS eAPha7F8EgR5FNzJFXBwXttlBgIYbZ8KJ5jZfeLDwZnps/FRANCOAugusto2012CocriaoRein ventandooconceito.pdf (consultado em 20 de março de 2013). LATOUR, Bruno (1994). Jamais fomos modernos: ensaio de uma antropologia simétrica. Trad. De Carlos Irineu da Costa São Paulo: Editora 34. __________(2004). Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Trad. de Carlos Aurélio Mota de Souza, São Paulo: EDUSC. __________(2012). Reagregando o Social: uma introdução à teoria do Ator-Rede. Trad. De Gilson César Cardoso de Souza, Salvador: Edufba. McLUHAN, Marshall (2000). Os meios de comunicação como extensões do homem. Trad. de Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix.


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A sustentabilidade social, cultural e econômica de comunidades tradicionais e empreendimentos econômicos solidários. The social, cultural and economic sustainability of the traditional communities and solidary economic ventures.

Seila Cibele Sitta Preto; Mestre; Universidade Estadual de Londrina; cibelesittap@gmail.com Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante; Doutoranda Universidade Federal de Santa Catarina; Universidade Estadual de Londrina; anaboavista@uel.br

RESUMO O conhecimento desenvolvido, ao longo das gerações, por comunidades tradicionais incluídas em programas municipais de economia solidária é relevante fator de produção em empreendimentos econômicos solidários que buscam inserção socioeconômica em um sistema globalizante. Este artigo visa apresentar a importância da consciência das dimensões social e cultural da sustentabilidade em relação às dimensões econômica e ambiental, tanto para tais empreendimentos, como para profissionais que os acompanham. Para tanto, foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas e de campo, utilizando a entrevistas semiestruturadas. O estudo apontou que os empreendimentos acompanhados tiveram como fragilidades a identificação, a divulgação, a autogestão do empreendimento e dos produtos por eles desenvolvidos, assim como o entendimento e disseminação do que é a economia solidária na sociedade. Para tanto, foi desenvolvido um quadro diagnóstico que demonstra qualitativamente tais fragilidades. Palavras-chave: Sustentabilidade social; Sustentabilidade cultural; Sustentabilidade econômica; Comunidades Tradicionais; empreendimentos econômicos solidários.

ABSTRACT The knowledge developed over generations by traditional communities included in municipal programs for Solidarity Economy is important factor of production in


solidary economic ventures seeking socioeconomic status in a globalizing system. This paper aims to present the importance of awareness of the social and cultural dimensions of sustainability in relation to economic and environmental dimensions, both for ventures these like for professionals who assist them. To this end, were developed bibliographical researches and field researches, utilizing the semi-structured interviews. This study pointed out that the ventures have had accompanied by weaknesses as the identification, the disclosure, the self-management of the venture and related products that developed by them, as well as the understanding and dissemination of what is the solidary economy in the society. Therefore, we developed a diagnostic framework that demonstrates qualitatively such weaknesses. Keywords: Social sustainability, cultural sustainability, economic sustainability, Traditional Communities; Ventures economic solidarity.

1. Introdução A respeito do tema sustentabilidade, verifica-se que no imaginário das pessoas ocorre a dimensão ambiental em sua totalidade. Tal dimensão possui grande conhecimento e disseminação, embora necessite ainda de ações concretas nas sociedades. A sua importância no contexto do desenvolvimento sustentável deve ser tão relevante quanto às dimensões social e econômica, pois em conjunto resultam no “tripé” da sustentabilidade. Em alguns casos, para atingir a sustentabilidade nestas três dimensões, é necessário identificar em qual cenário estamos atuando. O cenário presente é das comunidades tradicionais e dos empreendimentos econômicos solidários. Estes fazem parte de um programa social governamental de um município do norte do Paraná, os quais são oportunizados para gerar trabalho e renda, além de serem acompanhados por assessoras técnicas para o seu desenvolvimento e atuação em atividades e inserção mercadológica. As comunidades tradicionais possuem produção local e aplicam nos artefatos os conhecimentos tradicionais que são da cultura herdada de geração a geração. Muitas não possuem conhecimentos suficientes que contribuirão para a inserção mercadológica e valorização de seus produtos. Já os empreendimentos econômicos solidários são formados por pessoas que estão excluídas do mercado de trabalho ou em


vulnerabilidade social. Muitos fatores influenciam no comprometimento e desempenho destes empreendimentos, dentre eles a baixa autoestima, problemas socioeconômicos, doenças entre outros. Estas comunidades e os empreendimentos econômicos solidários estão inseridos em culturas distintas, entretanto com situações da realidade bem aproximadas, como: a falta de autoestima em relação ao sua origem e cultura, a perda de identidade, além da perda do saber tradicional, passado de geração a geração. Tais comunidades dependem do desenvolvimento do produto artesanal para sua subsistência. A sustentabilidade na dimensão econômica é fator crucial para a sobrevivência, entretanto os aspectos culturais e sociais precisam ser valorizados pelos próprios membros. O trabalho artesanal em comunidades tradicionais desempenha um papel importante de identidade cultural e tem como finalidade a produção de renda, além da disseminação do conhecimento da identidade territorial com a aplicação de suas origens e tradições em produtos. Estes carregam o conhecimento local e tradicional que deve ser interpretado por meio da estética, funcionalidade e pela sua essência. Diante desse contexto, este artigo visa apresentar a importância da consciência das dimensões social e cultural da sustentabilidade em relação à dimensão econômica, tanto para as comunidades e empreendimentos, como para os profissionais que acompanham tais empreendimentos. O intuito é a sobrevivência e a inserção desses empreendimentos de forma digna no mercado de trabalho. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, este estudo se fundamenta nas dimensões da sustentabilidade e utiliza como técnica de pesquisa a entrevista semiestruturada que é aplicada em empreendimentos econômicos solidários da região do norte do Paraná. Neste sentido, para que as comunidades e os empreendimentos sejam inseridos no mercado, além de terem consciência de seu valor para o crescimento sustentável do próprio grupo, devem ter visão da importância do crescimento local e regional e do programa de economia solidária que os envolvem.

2. Comunidades tradicionais e os empreendimentos econômicos solidários (EES) O conhecimento tradicional é um conjunto de práticas compartilhadas e transmitidas entre indivíduos de uma comunidade que passam saberes autóctones ao


longo das gerações, utilizando elementos do próprio território. Também pode ser definido como um conjunto cumulativo de experiências, práticas, entendimentos e interpretações sobre pessoas, plantas, animais e o meio ambiente transmitido de geração em geração. Tem sido desenvolvido e mantido por povos com histórias extensas de interação com o meio ambiente natural, formando um complexo cultural de linguagem, nomenclatura e sistemas de classificação, práticas de utilização dos recursos, espiritualidade e visão do mundo. Esta rica fonte de conhecimento serve como base de informação para a sociedade, facilitando a comunicação e a tomada de decisão (ICSU 2002, FLAVIER et al. 1995).

A comunidade tradicional é aquela que, culturalmente, é reconhecida por sua herança de tradição. Exemplificam-se os indígenas, quilombolas, caiçaras, açorianos etc. Estes ocupam e usam seus territórios e recursos naturais para reprodução cultural, utilizando-se de conhecimentos gerados e transmitidos pela tradição, segundo o Decreto Brasileiro nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007, Art. 30. Há outras denominações tais como os termos “conhecimento local”, “conhecimento indígena”, “conhecimento tradicional” ou mesmo “etnociência” que têm surgido com frequência na última década. Estes termos têm com objetivo chamar a atenção para a pluralidade de sistemas de produção de saber e para a sua importância nos processos de desenvolvimento. Considera-se uma nova situação, pois, “até recentemente, os cientistas sociais não reconheciam as formas locais de conhecimento como centrais ao processo de desenvolvimento. (AGRAWAL, 1995; WARREN et al, 1995 apud SANTOS, 2005, p. 32)”. Para o ordenamento jurídico nacional a conceituação de “Povos e Comunidades Tradicionais” as considera como: I […] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (OCARETE, 2011).


Para o reconhecimento dos seus direitos, promovido pelo Decreto nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007, Art. 30, os seus territórios como sendo: II […] os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição de 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações. Ao adotar as formulações acima a pesquisa tem como preocupação respeitar a diversidade sócio-cultural e étnica que se manifestam entre os diferentes povos e comunidades. (OCARETE, 2011).

Algumas das comunidades tradicionais estão incluídas em programas de economia solidária. Este é o caso de alguns empreendimentos econômicos solidários estudados neste trabalho em que a economia solidária se apresenta como outro tipo de economia, que está a favor da inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda. Para o MTE, a economia solidária é uma alternativa um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem (MTE, 2013).

A economia solidária possui uma diversidade de práticas econômicas e sociais. Estas são organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário (MTE, 2013).

Esta economia se torna solidária, devido a sua concepção. Possui princípios que regem e a diferencia de outras economias, sendo estes: a cooperação, a autogestão, a atividade e/ou dimensão econômica e a solidariedade. - Cooperação: os participantes possuem “interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária” (MTE, 2013).


- Autogestão em que os participantes devem exercer práticas de “autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses” (MTE, 2013). - Dimensão Econômica: Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais (MTE, 2013). - Solidariedade em que é alcançada e expressada de acordo com a justa distribuição dos resultados obtidos, pelo desenvolvimento das capacidades e condições saudáveis de vida dos participantes, pelas relações com a comunidade local, com o desenvolvimento sustentável, sendo este territorial, regional e nacional, entre outros (MTE, 2013). De acordo com as características descritas sobre a concepção da economia solidária, esta deveria ser uma economia protegida, contudo seus empreendimentos econômicos solidários são inseridos mercadologicamente em uma economia capitalista, deixando-os inseguros em relação a competitividade deste sistema e estrutura das organizações do mesmo segmento, que dominam o mercado, não deixando os empreendimentos econômicos solidários (EES) ganharem seu espaço e mostrarem o seu trabalho, disseminando a economia solidária. Para avaliação de produtos de comunidades tradicionais e locais, no escopo do desenvolvimento sustentável, existem seis dimensões de valor, defendidas por Krucken (2009, p. 27-28): 1. Valor funcional ou utilitário – mensurado por atributos objetivos – caracteriza-se pela “adequação ao uso”. [...] sua composição, origem e propriedade de segurança de consumo [...]; 2. Valor emocional – de caráter subjetivo – incorpora motivações ligadas as percepções sensoriais [...] e ainda a dimensão “memorial” relativa a lembranças positivas e negativas de acontecimentos passados; 3. Valor ambiental – referente à prestação de serviços ambientais por meio do uso sustentável dos recursos naturais; 4. Valor simbólico e cultural – relaciona-se com a importância do produto nos sistemas de produção e de consumo, das tradições e dos rituais, [...] significados espirituais e origem histórica [...] e a condição de interpretação do produto em um referencial estético;


5. Valor social – relaciona-se com os aspectos sociais que permeiam os processos de produção, comercialização e consumo dos produtos [...] valores morais dos cidadãos e atuação e a reputação das organizações na sociedade [...]; 6. Valor econômico – de caráter objetivo – baseia-se na relação custo/benefício em termos monetários.

De acordo, com as dimensões de valor apresentadas verificou-se a necessidade de levantar as fragilidades dos EES e sua relação com as dimensões social, cultural e econômica da sustentabilidade.

3. Sustentabilidade social, cultural e econômica A sustentabilidade está transformando o modo de gestão e o relacionamento das organizações com meio ambiente, e com as pessoas de dentro e fora da organização, corrobora Savitz (2007). a antiga visão de negócios, segundo a qual o desempenho financeiro era considerado o único critério de avaliação das empresas, esta sendo considerada, a curto prazo, inadequada para atender as demandas de um mundo interdependente e, a longo prazo, fator determinante do insucesso (SAVITZ, 2007, p.229).

O autor ainda diz que a sustentabilidade significa “operar a empresa, sem causar danos aos seres vivos e sem destruir o meio ambiente, mas, ao contrário, restaurando-o e enriquecendo-o”. Logo, a visão da sustentabilidade está relacionada aos resultados das dimensões ambiental, social e econômica que são fatores decisivos em uma organização, perante as atitudes e seus impactos operacionais, de acordo com Savitz (2007, p.3). O crescimento econômico e o sucesso financeiro geram benefícios para as pessoas e para a sociedade, no entanto valores humanos como o crescimento intelectual, o desenvolvimento moral, entre outros são importantes. Nesse sentido, a sustentabilidade pode ser definida como “a arte de fazer negócios num mundo independente” promovendo o crescimento, gerando lucro para as empresas e pessoas envolvidas ou não com as mesmas (SAVITZ, 2007, p.2).


A sustentabilidade, conforme Manzini (2008, p.19), requer uma descontinuidade sistêmica em que a sociedade precisa se desenvolver a partir da redução de níveis de produção e consumo material simultaneamente com a melhoria da qualidade do ambiente social e físico. É necessário, para tanto, um processo de aprendizagem social difuso de modo a atingir as dimensões sociotécnicas, a saber: “a física (fluxos materiais e energéticos); a econômica e a institucional (a relação entre os atores sociais); e a ética, estética e cultural (os valores e juízos de qualidade que lhe darão legitimidade social)” (MANZINI, 2008, p.19; MANZINI e VEZZOLI, 2005, p.31). A dimensão sociotécnica física tem relação com a dimensão ambiental que, de acordo com Manzini e Vezzoli (2005, p. 27-31), refere-se às condições sistêmicas em que as atividades humanas não devem interferir na resiliência dos ciclos naturais e nem empobrecer o capital natural transmitido às gerações futuras. Isto coloca em discussão o atual modelo de desenvolvimento em que o bem-estar e a economia passem para uma dinâmica de redução de produção de produtos materiais. Sobre a dimensão cultural da sustentabilidade, ressalta-se o conceito de cultura de Werthein (2003, pp. 13-14), que cita um dos resultados da Conferência do México e conceitua “cultura como o conjunto de características espirituais e materiais, intelectuais e emocionais que definem um grupo social. (...) engloba modos de vida, os direitos fundamentais da pessoa, sistemas de valores, tradições e crenças”. A sustentabilidade cultural não está somente relacionada à origem do produto, tradições de saberes, mas ao caráter de sustentabilidade de cultura organizacional de um empreendimento. Para Neville e Drumond (2010, p.43), “cultura é o padrão de desenvolvimento da organização que se reflete nos sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores éticos, normas e rituais cotidianos”. A sustentabilidade econômica para os empreendimentos econômicos solidários quanto para as comunidades tradicionais demonstra sua importância frente à situação de vulnerabilidade social presente que impede o desempenho do grupo como todo, não valorizando seu trabalho e produção em aspectos, tais como: o social e o cultural. Nesse sentido, a dimensão social e cultural da sustentabilidade está diretamente relacionada à melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e às injustiças sociais e à inclusão social, corrobora Cavalcanti et al (2009, p.71).

4. Procedimentos Metodológicos


Para a fundamentação teórica do presente artigo foi utilizada como estratégia a pesquisa bibliográfica e no levantamento de campo realizada a técnica de pesquisa denominada entrevista semiestruturada, com os integrantes dos empreendimentos econômicos solidários. Foram abordados temas sobre a sustentabilidade dos empreendimentos relacionada com as dimensões da sustentabilidade social, cultural e econômica. Durante a entrevista foram identificadas as fragilidades dos EES, para posteriormente,

construir

um

quadro

diagnóstico

que

demonstra

este

interrelacionamento.

5. Resultados Diante deste cenário, o presente estudo identificou fragilidades nos empreendimentos econômicos solidários participantes da pesquisa de campo nas dimensões social, cultural e econômica da sustentabilidade, sendo estas: a identificação, a divulgação, a autogestão do empreendimento e dos produtos por eles desenvolvidos, assim como o entendimento e disseminação do que é a economia solidária na sociedade. Desta forma, foi desenvolvido o quadro diagnóstico abaixo que demonstra qualitativamente tais fragilidades, relacionando-as com as dimensões social, cultural e econômica da sustentabilidade. Quadro 01 - Categorização das fragilidades dos EES nas dimensões da sustentabilidade.

Fonte: própria (2013).


6. Considerações Finais A sustentabilidade no dia a dia está relacionada com a estratégia, a gestão e o lucro dos EES e das comunidades tradicionais. Os produtos desenvolvidos pelos empreendimentos representam sua cultura, tanto em aspecto material, como imaterial, como o saber fazer, a organização e gestão do que se produz. Nesse sentido, este artigo apresenta por meio da pesquisa bibliográfica as dimensões da sustentabilidade social, cultural e econômica pesquisadas nos EES e comunidades tradicionais. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas com os integrantes dos empreendimentos solidários e desenvolvido um quadro diagnóstico com a categorização e interrelacionando com as dimensões da sustentabilidade. Diante desse cenário, percebe-se, de acordo com Savitz (2007), que é preciso desenvolver uma cultura de sustentabilidade nos empreendimentos econômicos solidários e comunidades tradicionais, com atitudes sutis ou aprofundadas, para que os mesmos possam evoluir a um novo modo de agir e pensar as dimensões da sustentabilidade. O aspecto comunicação agrega valor ao saber fazer artesanal e origem do produto. No entanto, se as dimensões sociais e culturais não forem trabalhadas nos EES e comunidades tradicionais, sua inserção mercadológica será afetada por não terem condições de apresentar seu próprio produto para venda e, consequentemente, a sustentabilidade econômica não ocorrerá de modo eficaz, dificultando a inclusão social, cultural e mercadológica dos EES no mercado.

REFERÊNCIAS CAVALCANTI, V.; ANDRADE, A.M.; SILVA, G.D.A. Design, Sustentabilidade e Artesanato: reflexões e práticas metodológicas. In: Design e Sustentabilidade. (Org.) Dijon de Moraes e Lia Krucken. (Cadernos de Estudos Avançados em Design). Barcelona, MG: EdUEMG, 2009. FLAVIER, J.M. et al. "The regional program for the promotion of indigenous knowledge in Asia", pp. 479-487. In Warren, D.M., L.J. Slikkerveer and D. Brokensha


(eds) The cultural dimension of development: Indigenous knowledge systems. London: Intermediate Technology Publications. 1995. KRUCKEN, L. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/ecosolidaria/o-que-e-economia-solidaria.htm>. Acesso em 05/05/2013. MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. Trad. Astrid de Carvalho. São Paulo: Ed. USP, 2002. MANZINI, E. Design para a inovação social e sustentabilidade – comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. NEVILLE, M.; DRUMOND, Regina, C. Liderança e Sustentabilidade: dilemas, desafios e propósitos - guia prático e conceitual. Salvador: Casa da Qualidade, 2010. OCARETE. Disponível em:<http://www.ocarete.org.br/povostradicionais/apresentacao/>. Acesso em: 8 maio 2013. SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. (Reinventar a emancipação social: para novos manifestos; v.4), Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. SAVITZ, Andrew W. A empresa sustentável: o verdadeiro sucesso é o lucro com responsabilidade social e ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. WERTHEIN, J. Introdução. In: UNESCO. Políticas Culturais para o desenvolvimento: uma base de dados para a cultura. Brasília: UNESCO, 2003.


Design consciente, para um futuro sustentável *Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima Doutoranda em Engenharia de Materiais Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: pilolima@hotmail.com Ruth Marlene Campomanes Santana Professor do Departamento de Materiais Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: ruth.santana@ufrgs.br Resumo Escolher o tipo de material para a execução de um determinado design muitas vezes não é uma tarefa fácil, devido à variedade de opções que podem ser encontradas: naturais, metais, polímeros ou mesmo a combinação deles. Embora a maior parte dos materiais disponíveis esteja no mercado há varias décadas, não incluindo modificações substanciais em sua formulação básica ou sem manuseio, as vezes nota-se que muitos não possuem um conhecimento completo e adequado ao uso de cada material. Neste caso específico o planeamento é a execução de um "Estúdio de gravação". De conformidade com as características e exigências específicas existem alguns materiais para sua utilização. As opções de escolha são a cortiça (aglomerado de cortiça) e a lã de vidro.

Abstract Choose the type of material for the execution of a particular design is often not an easy task due to the variety of options that can be found: natural, metals, polymers or even a combination of them. Although most of the materials are available in the market for decades, not including substantial changes in its basic formulation or without handle, sometimes it is noted that many trade professionals do not have a complete knowledge and appropriate use of each material. In this particular case the project is executing a "Recording studio". In accordance with the characteristics and requirements there are some materials for your use. The options are choosing cork (cork agglomerate) and glass wool.


Introdução O século XXI, tem sido considerado o século do meio ambiente, pois hoje, é de conhecimento universal que os problemas ecológicos condicionam a cada vez em maior proporção os processos industriais e o desenvolvimento, sendo assim, a preocupação ambiental tornou-se uma constante global, o recurso a materiais ecológicos, recicláveis, renováveis e biodegradáveis e a necessidade de aplicar processos sustentáveis tem se transformado numa prioridade. O designer tem a propriedade de criar algo novo, melhorar algo existente, mais de qualquer maneira deve projetar com sabedoria prevendo as consequências ambientais, ecológicas a partir dos seus produtos e processos utilizados. É de vital importância que os profissionais se questionem a cerca de qual é o impacto do seu projeto sobre o ambiente e se conscientizem que todos temos uma responsabilidade ecológica, pois a nossa sobrevivência depende do cuidado imediato ao meio ambiente. O propósito do design é desenvolver produtos, ferramentas, utensílios, artefatos, maquinarias, entre outros, por tanto esta atividade desempenha uma influência direta sobre o meio ambiente; assim esta tarefa deve funcionar como uma ponte entre as necessidades humanas atuais e a conservação do meio ambiente para um futuro mais seguro. Sendo assim o design sustentável é definido como um conjunto de ferramentas, conceitos e estratégias com o propósito de desenvolver soluções para a geração de uma sociedade voltada para a sustentabilidade. Não pode existir sustentabilidade numa sociedade quando se destrui os bens da natureza ou quando a riqueza de um sector se logram sacrificando outro. Existem fases neste processo que devem ser tidos em conta para chegar a um design sustentável, entre eles: A escolha dos materiais é decisiva, pois, existem muitas opções com diferentes consequências ecológicas e ambientais, aqueles chamados amigos do meio ambiente são sempre a melhor alternativa. Os processos de fabricação, evitar processos que possam produzir fumos tóxicos ou materiais radiativos, eliminar ou minimizar poluentes atmosféricos que provoquem a chuva acida, evitar que os resíduos líquidos se infiltrem no solo ou penetrem no sistema de abastecimento de água. Embalagem a escolha deve ser feita considerando os materiais e métodos criando uma embalagem adequada para o transporte, comercialização e distribuição desde o ponto de vista ecológico. Produto final, um mesmo objeto pode ter muitas versões, esta profusão pode causar uma ameaça ambiental, pois na maior parte do processo de fabrico de produtos industriais se consumem matérias primas insubstituíveis. Avaliação do ciclo de vida, a utilização, recolha do produto após o uso e finalmente sua possível reutilização ou reciclagem e o destino final deste produto, devem fazer parte do processo de concepção de design.

1. Ecodesign Uma nova cultura ambiental tenta chegar a os diferentes sectores, de forma lenta mais imparável. Profissionais como designers, engenheiros, ambientalistas, precisam tomar decisões que incorporem critérios de sustentabilidade ambiental em seus produtos, processos e serviços; com a mesma intensidade com que incorporam critérios funcionais, estéticos, económicos, ergonómicos. Assim o ecodesign, como metodologia de aplicação de melhoras ambientais ao longo do ciclo de vida de um produto, desde a conceição, seleção de materiais, processo de fabricação, embalagem, transporte, uso e tratamento final; surge adoptando um papel estratégico, transformando-se em motor de inovação clave no caminho à sustentabilidade e o consumo responsável.

1.1 Conceito: Tratasse de projetar produtos que utilizem materiais com menos impacto ambiental, utilizando produções mais limpas, que incorporem melhoras ambientais na distribuição e que minimizem impactos durante o uso e descarte. Há uma preocupação global em implantar este tipo de conceitos, surgem assim normas e padrões, entre elas - norma


internacional de ecodesign - ISO 14006 “ Gestão ambiental do processo de design e desenvolvimento. Ecodesign”. European Quality Assurance (2011); Esta norma surge para estimular o reconhecimento das empresas que incorporem critérios ambientais no design e desenvolvimento de produtos e serviços Objetivos da norma • • •

• •

Minimizar impactos ambientais gerados por produtos ou serviços desde seu design, promovendo um enfoque preventivo Sensibilizar ao mercado sobre a importância do impacto ambiental gerado por produtos e serviços, estimulando a informação ativa por parte de empresas produtoras Incentivar uma mudança de perspectiva, passando do enfoque fundamentado nos aspectos ambientais associados à fabricação do produto, à uma identificação mais abrangente na que se incorporam os gerados em outras etapas do ciclo de vida. Instituir uma sistemática que assegure a melhora ambiental continua no design de produtos e serviços. Facilitar um distintivo às empresas, com certificações, que acrescente vantagem competitiva no mercado. Fonte: European Quality Assurance (2011); Rohrssen (2012)

Incluir o ecodesign nos produtos e processos garante: Melhora continua dos aspectos ambientais relacionados com seus produtos Consideração de todos os aspectos ambientais ao longo do ciclo de vida: seleção de materiais, produção, distribuição, uso, manutenção e fim de vida Uma gestão de design que obtém produtos que contribuem no desenvolvimento sustentável de forma eficaz Dispor de informação direcionada a os usuários, recicladores com a finalidade de reduzir o impacto durante etapas como uso e disposição final dos produtos Segundo Markus Lhni, (1999), Ecoeficiência em uma empresa é quando esta oferece produtos e serviços a um preço competitivo, satisfaz as necessidades humanas, incrementando sua qualidade de vida, e reduzindo progressivamente o impacto ao meio ambiente e a intensidade de recursos ao longo do seu ciclo de vida, ao menos, até o nível da capacidade de carga do planeta. Capacidade de carga do planeta é a possibilidade que tem o planeta de fornecer recursos e de assimilar e processar contaminantes. O ciclo de vida deve ter como objetivos: Reduzir a intensidade de utilização de matérias primas Reduzir a intensidade de uso de energia Oferecer qualidade de vida Reciclar – reutilizar os materiais Aumentar a intensidade de serviço dos seus produtos e serviços Reduzir o impacto ambiental e à saúde Na seguinte tabela, se apresentam as diferentes etapas involucradas no desenvolvimento de produtos:


Tabela 1. Etapas do desenvolvimento de produtos Fonte: Adaptado de Abele et al. (2008) Na etapa de projeção se define entre 70 e 85% do custo total de uma produto, e também se determina aproximadamente 70% do impacto ambiental ao longo do ciclo de vida. Rebitzer et al (2004)

2. Estudo de caso: Escolha do material aplicado a um "Estudo de gravação" Lã de vidro vs Cortiça 2.1 Aplicação: Estúdio de gravação •

Conceito: Eco-design

Tendência crescente não só na área do design, mas também nas áreas da arquitetura e da engenharia, que projeta e desenvolve novos espaços, produtos, serviços e metodologias que sejam sustentáveis e minimizem assim o impacto ambiental. 2.1.1 Estúdio de gravação: é um ambiente físico destinado à gravação de som.

Idealmente, o espaço é projetado com propriedades acústicas especiais entre outras: difusão sonora- baixo nível de reflexões – reverberação adequada Um estúdio de gravação típico consiste de: • uma sala o "estúdio": onde os instrumentistas e vocalistas fazem suas execuções.


sala de controle: onde estão os equipamentos de gravação e manipulação do som.

• salas menores chamadas "cabines de isolamento", que se prestam à acomodação de instrumentos altos como uma bateria ou amplificadores de guitarra, de modo a isolados da captação dos microfones que capturam o som dos outros instrumentos ou vocalistas. 2.1.2 Características da aplicação: •

Isolamento acústico: Isolamento acústico refere-se ao conjunto de materiais, técnicas e tecnologias desenvolvidas para isolar ou diminuir o nível sonoro de um determinado ambiente. O isolante acústico permite proporcionar uma proteção contra a penetração do ruído ou seja evita que o sound saia ao exterior.

Absorção acústica: se refere à absorção de som para ele não ser refletido; num estúdio de gravação esta absorção deve ser controlada para ter um bom conforto acústico e melhora da própria acústica do local, controlando o tempo de reverberação (eco), isto é condicionamento acústico.

2. 2 materiais para a execução do estúdio de gravação: 2.2.1 lã de vidro

Figura 1. Lã de vidro Fonte: Tecnit, 2011 Material mineral fibroso, provem de uma substancia liquida inorgânica obtida através de um composto básico de vários elementos: SiO2 (areia de sílica)- Na2CO3 (Carbonato de sódio) Na2SO4 (Sulfato de Sódio) – K (Potássio) - CaCO3 (Carbonato de Cálcio) – Mg (Magnésio). Estes elementos lhe conferem as suas características próprias, que em alto forno são elevados uma temperatura de aproximadamente 1500⁰C, formam uma massa em estado plástico de altíssima viscosidade, que aumenta a medida que arrefece, mantendo-se em estado de sobre fusão sem cristalizar. Fonte: Ladevidro, 2011 A lã de vidro pode ser apresentada na forma de mantas que, ao serem instaladas,adquirem a forma da superfície a isolar.


Características técnicas

Coeficiente de condutividade térmica (k) a 24°C: Densidade 12 Kg/m3: k= 0,045 W/m°C; (k baixo) Densidade 16 Kg/ m3: k= 0,042 W/m°C; (k baixo) Densidade 20 Kg/ m3: k= 0,038 W/m°C; (k baixo) •

Propriedades acústicas:

Para considerar se um material é bom isolante acústico, se considera a rigidez e resistividade ao fluxo de ar. A lã de vidro mineral alcança valores de rigidez muito baixas devido a sua alta elasticidade. Produtos rígidos não são eficazes. O recurso intrínseco do produto que avalia esta propriedade é a rigidez dinâmica (s´=Edyn/d) expressada em MN/m3. A outra propriedade acústica a ter em conta e sua resistividade ao fluxo do ar. Para este valor ser óptimo deve estar entre 5 – 10 KPas/m2 , abaixo de 5 KPa s/m2 o material (isolante) não proporciona amortecimento acústico suficiente, e por cima de 10 KPas/m2 A transmissão de ruído seria preponderante mente por via solida por tratar-se de um material demasiado compacto, por tanto a lã de vidro cumpre com todas estas propriedades. •

Performance:

Por ser um material fibroso, a lã de vidro é um dos melhores materiais para o tratamento acústico, podendo ser usada na isolação acústica, que é a construção de barreiras para evitar a transferência de uma onda sonora (ruído) de um ambiente para o outro ou na absorção acústica, que é um tratamento aplicado para melhorar a qualidade acústica dos ambientes. Quando uma onda sonora entra em contato com a lã de vidro, ela é facilmente absorvida, devido à porosidade da lã. Além disso, ocorre uma fricção entre a onda e a superfície das fibras. Essa fricção converte parte da energia sonora em calor, ou seja, a lã de vidro faz com que a energia sonora perca intensidade, o que resulta em um aumento de absorção ou da isolação sonora. Tal fenômeno de absorção e fricção em conjunto não ocorre com outros materiais não-fibrosos. •

Vantagens:

É leve, fácil de manusear e de cortar; São incombustíveis, evitando a propagação das chamas e o risco de incêndio Reduz o consumo de energia do sistema de ar condicionado Isolante acústico- térmico Proporcionam soluções com variedade de acabamentos-cores- estética ao ambiente Não atacam as superfícies com as quais estão em contato Não favorecem a proliferação de fungos ou bactérias Não deteriora, nem apodrece Não é atacada nem destruída pela ação de roedores Não tem o desempenho comprometido quando exposto à maresia Sua capacidade isolante não diminui com o passar do tempo

Desvantagens:

A sua produção esta associada a geração de partículas para a atmosfera e a emissão de gases tipo NOx, SO2 e CO2.

Implica gastos significativos de energia e água


Quando da aplicação se recomenda a utilização de vestuário adequado, este material é nocivo para a pele e olhos. Fonte: Mekol, 2011

2.2.2 Material: Aglomerado de cortiça

Figura 2 – Aglomerado puro de cortiça expandida Fonte: Amorim, 2009

É um material celular de origem vegetal, polimérico. Produzido pelo Sobreiro (Quercus Suber I), constitui o revestimento exterior do seu tronco e ramos. •

Suberina (45%) - principal componente das paredes das células, responsável pela elasticidade da cortiça;

Lenhina (27%) - composto isolante;

Polissacáridos (12%) - componentes das paredes das células que ajudam a definir a textura da cortiça;

Taninos (6%) - compostos polifenólicos responsáveis pela cor;

Ceróides (5%) - compostos hidrofóbicos que asseguram a impermeabilidade da cortiça.

O aglomerado puro expandido, conhecido como “aglomerado negro”, (devido à sua coloração final) é formado essencialmente (70 a 80%) por Falca, proveniente dos processos de poda e limpeza dos sobreiros. Esta matéria-prima é reduzida a grânulos por trituração e posteriormente, colocados em autoclaves por efeito de vapor de água, alta temperatura (350ºC) e apenas com a sua própria resina (suberina), acontece a aglutinação sem qualquer tipo de aditivos, originando os aglomerados puros expandidos, que inicialmente são blocos que passam por um processo de estabilização e retificação, e são cortados em placas de diferentes espessuras. Resultando um produto 100% ecológico e reciclável. não há desperdícios, pois até o pó é utilizado como biomassa na produção de vapor ou energia elétrica. O aglomerado puro expandido é um material com capacidade e características de isolante térmico para qualquer ambiente ou clima, pois reduz perdas de energia e condensação de humidade na superfície de tetos e paredes; como isolante acústico, reduz o tempo de reverberação e diminui a transmissão de som por impacto, assim aplicado em paredes e tetos, absorve grande parte do som incidente e diminui o som refletido; utilizado também como isolamento antivibrático.


As aplicações do aglomerado puro expandido dentro da construção civil são: • Isolamento térmico de telhados e sótãos, de pisos térreos, coberturas planas • Isolamento térmico e acústico de paredes interiores e exteriores; • Isolamento acústico e antivibrático de lajes e 75% de paredes e superfícies • Isolamento térmico de tubos de transporte de líquidos com elevadas temperaturas positivas e negativas Características: • Matéria prima 100% natural, não utiliza aditivos no seu processamento, renovável, reciclável, reutilizável (conceito dos 3R), • Bom comportamento ao fogo, não emite gases tóxicos no caso de combustão • Excelentes propriedades mecânicas e estabilidade dimensional • Excelentes propriedades como isolante térmico e acústico • Imputrescível • Altíssima durabilidade sem perda das suas caraterísticas Segundo publicação da GreenSpeece da Evironmental Bulding News1, o aglomerado puro de cortiça expandida esta entre os 10 produtos mais ecológicos e sustentáveis Características técnicas: Densidade standard > 110/120 Kg/m3 Cond. Térmica de 0,036 a 0,040 W/mk Excelente resistência mecânica Estabilidade dimensional Tabela 2- Caraterísticas médias do aglomerado de cortiça expandido (acústico) Massa volumétrica Coeficiente de absorção acústica (500-1500c/s) Coeficiente de condutividade térmica Tensão de rotura a flexão Permeabilidade ao vapor de água Tensão de rotura à tração longitudinal Variação dimensional 32-66ºC, 90-0%HR (Fonte –Amorim)

100 kg/m3 0,33-0,8 0,037-0,042 W/m.ºC 1,4 - 1,6 N/cm2 0,004-0,010g/m.h.mmHg 0,3 N/cm2 0,4

Performance: A cortiça é um excelente material com aplicações ao isolamento acústico, é utilizado como absorvente acústico, destinado a corrigir a acústica dos locais, ou a fim de reduzir o seu nível acústico, pela absorção de parte da energia sonora incidente na superfície do aglomerado ou pela diminuição do tempo de reverberação (tempo que decorre entre o momento em que cessa uma fonte sonora até a eliminação dos ecos múltiplos. Além disto a cortiça funciona também como amortecedor de vibrações.

1

O “BuldingGreen Top- 10 Product for 2013”, da Bulding Green, o maior diretório norte americano de produtos para a construção sustentável (EBN)


Em termos de isolamento, as possibilidades de emprego do aglomerado de cortiça são inúmeras e aplicam-se sobretudo na construção civil, em diferentes áreas de trabalho e segundo os seguintes objetivos: • • • • •

Açoteias e Terraços – isolamentos térmicos, de vibrações, de condensação de humidade e impermeabilização. Muros e Telhados – isolamento acústico, térmico e prevenção de condensações. Tabiques e Portas – isolamento térmico e acústico. Paredes e Tetos – correção acústica, isolamento térmico, conforto ambiental e decoração. Solos – isolamento vibrátil e térmico.

Vantagens Isolamento Acústico Isolamento Térmico Isolamento antivibrático Isolamento Natural e Ecológico Não reage com agentes químicos Bom comportamento ao fogo/não liberta gases tóxicos Durabilidade Ilimitada sem perda de características Não atacado por roedores Reciclável 100% Produto 100 % natural Produto 100% reaproveitável Versatilidade muito própria, pode ser preparado em medidas e densidades standard.

3. Conclusões O aglomerado de cortiça oferece um excelente material com propriedades de isolamento acústico e uma acondicionamento acústico aplicados a um estúdio de gravação. Um isolamento natural e ecológico, porém, é muito vulnerável à situação económica internacional e depende muito da concorrência dos outros materiais, nomeadamente sintéticos que são substancialmente mais baratos. Porém o fato de ser um produto ecológico e com propriedades exemplares poderá abrir algumas perspectivas de futuro. A lã de vidro tem excelentes características de isolamento para a execução de um estúdio de gravação, mais sua produção esta associada a geração de partículas para a atmosfera e a emissão de gases tipo NOx, SO2 e CO2. Implica gastos significativos de agua, isto é, não tem características de ser um material ecológico. Também fato de tornasse um material nocivo à saúde do homem quando não utilizado o equipamento adequado para sua manipulação, faz com que fique em grande desvantagem. Por tanto, pese à alguma desvantagem relacionada ao aspecto económico, o material escolhido é a Cortiça (aglomerado de cortiça), graças a suas propriedades acústicas e de sustentabilidade.


4. Bibliografia AMORIM, Isolamentos. Grupo Amorim. Boletim informativo, 2009 ASBY, M. Materials and Environment, Elsevier, 2009 Carvalho, J.S., «A química da cortiça», Boletim da junta Nacional da Cortiça, 357, 3-11, 1968 FUAD-LUKE, Alastair, «Manual de Diseño ecológico», versão em Espanhol. Ed. Cartago, 2002 GIL, L. Cortiça: produção, tecnologia e aplicação. Lisboa: Ineti, 1998. GIL, L. Manual técnico: cortiça como material de construção. Santa Maria de Lamas: Ineti, 2007. MAXIT. Tecnologias de construção e renovação, isolamento térmico e de fachadas pelo exterior. Porto, dez. 2002 MARQUES,A., «Isolamento e caracterização estructural da lenhina da cortiça de Quercus Suber.L», pp 125. Tese de doutorado. Lisboa: Instituto sup. de Agronomia, 1998. NEWS AMORIM. Aglomerado de cortiça expandida natureza e tecnologia, a solução ideal. Mozelos: Grupo Amorim, nº 4, out/dez, 2012. 16 p OLIVEIRA, M.; OLIVEIRA, L. The cork. Rio de Mouro: Corticeira Amorim, 2000 PESTANA, M; TINOCO, I. A indústria e o comercio da cortiça em Portugal durante o século XX. Instituto de investigação agraria/INRB, IP, 2009 PORTUGAL GLOBAL. Cortiça global. Lisboa: aicep Portugal global, out. 2008. 52 p ROHRSSEN, P. Norma inernacional de ecodiseño ISO 14006. Disponível em: http://diseñoysostenibilidad.com acessado em 18 de março de 2013 Sites: www.ladevidro.org acessado em 28 de abril de 2013 www.eqa.es acessado em 28 de abril de 2013 www.wilkipedia.pt Acessado em 19 de março de 2012 www.isover.com.br/isover/faq.htm www.mekol.com.br/FISPQManta2011.pdf acessado em 19 de março 2012 www.apcor.pt Acessado em 10 de outubro de 2011 www.rotadacortica.pt Acessado em 10 de outubro de 2011 www.tecnit.com.br Acessado em 30 de março de 2013


Educação, ciência e o planeta Igor Oliveira Rocha1 Departamento de Química UFPR

RESUMO Nas últimas décadas, tem se tornado evidente algumas mudanças no planeta. Transformações tanto nas esferas físico-químicas e biológicas como também no que diz respeito à organização humana. Mesmo com o conhecimento científico se desenvolvendo rapidamente, ele tem se mostrado insuficiente para resolver as dificuldades que ele mesmo criou, o que mostra a necessidade de outra forma de pensamento que englobe todas as relações existentes no planeta. As ciências naturais têm um papel fundamental na busca pela solução dos problemas e transformação desse modo de pensar, uma vez que procuram compreender a estrutura da matéria e os caminhos para transformá-la. Ao analisar os grandes danos causados pela interferência humana nos diferentes ecossistemas, percebe-se o papel das ciências naturais como devastadoras e poluidoras. Contudo, para que todas essas questões sejam solucionadas, elas se tornam protagonistas como transformadoras e mediadoras entre as diferentes formas de conhecimento. A partir de uma visão integrante vê-se que a educação é uma das poucas maneiras de realizar essa abordagem relacional. Deste modo, a solução dos problemas planetários pela mudança de visão de mundo pode ser alcançada tanto a partir de um professor em uma sala de aula com a discussão multidisciplinar de um determinado assunto, quanto pela abordagem das relações que envolvem uma problemática em qualquer conversa informal, já que todos somos multiplicadores de conhecimento e, portanto educadores. ABSTRACT In recent decades, some changes on the planet have become evident. Transformations as in physicochemical and biological spheres but also with regard to human organization. Even with the scientific knowledge rapidly developing, it has proved to be insufficient to solve the problems it has itself created, showing the necessity for another form of thinking that encompasses all relationships on the planet. Natural sciences have a key role in the search for the solution of problems and changing this way of thinking, since they seek to understand the 1 Igor Oliveira Rocha possui graduação em Bacharelado e Licenciatura em Química pela Universidade Federal de Santa Catarina, tendo realizado intercâmbio acadêmico por um semestre na Technische Universiteit Eindhoven nos Países Baixos com bolsa financiada pela Comissão Europeia pelo programa Erasmus Mundus de janeiro a julho de 2010. Participou de residência artístico-científica na Finlândia e Estônia desenvolvendo o projeto Mar Memorial Dinâmico em junho de 2011. Atualmente faz parte do programa de mestrado do Departamento de Química na Universidade Federal do Paraná. igurocha@uol.com.br


structure of matter and the ways to transform it. By analyzing the major damage caused by human interference in different ecosystems, we perceive the role of the natural sciences as devastating and polluting. However, for these issues to be solved resolved, they become protagonists as transformative and mediator between different forms of knowledge. From an integral vision it is possible to see that education is one of the few ways to accomplish this relational approach. Thus, the solution of global problems by changing worldview can be achieved both from a teacher in a classroom with a multidisciplinary discussion of a particular subject, as with the approach to relations involving an issue in any casual conversation since we are all knowledge multipliers and therefore educators.


Os homens tentam entender e explicar os fenômenos que ocorrem na Terra desde a Antiguidade, inicialmente de forma mítica, depois pela filosofia e então com a ciência. Existem ainda outras formas de pensamento como a religião que também podem ser racionalizadas e todos esses saberes não são excludentes. Entretanto, geralmente não se concebe a conexão entre esses diversos saberes, o que leva a análises pontuais e fragmentárias que são suficientes para explicar determinados fenômenos, mas insuficientes para entender a complexidade do planeta. Nas últimas décadas, tem se tornado evidente algumas mudanças no funcionamento da Terra. Muitos acreditam que elas são devido à ação humana inadequada, enquanto outros acreditam que as modificações naturais podem ser as causas desses novos eventos. Tendo em vista que as transformações têm ocorrido não só nas esferas físico-químicas e biológicas do planeta, mas também no que diz respeito à organização humana, torna-se plausível a constatação de que o ser humano ocupa papel de destaque nos problemas planetários. Segundo René Dubos, “exemplos em diversas e diferentes partes do mundo mostram que este processo de modificação está resultando na progressiva humanização do planeta.”(Dubos, R., 1981) O adjetivo “ambiental” é usado de forma recorrente para se referir a tudo que tenha relação com o meio ambiente e aos seus vários problemas; porém o que é meio ambiente? Em alguns casos, a resposta tem relação com os componentes vivos e/ou não vivos dos diferentes ecossistemas, e nessa abordagem, cuidar do meio ambiente seria cuidar da natureza. Em outras ocorrências, meio ambiente incluiria os seres humanos e todas as realizações que derivam dessa inclusão. Ocorre que esse conceito é confuso e que falar das questões ambientais sem ter claro o ambiente de estudo acaba gerando equívocos. Já que a questão ambiental é difícil de ser conceituada e que ela envolve os diferentes componentes da Terra, é oportuna a troca do adjetivo ambiental pelo adjetivo planetário e, portanto a discussão da temática planetária em detrimento da temática ambiental. Geralmente quando se pensa em problemas ambientais, vem à mente a ideia de desmatamento, queimadas, poluição, efeito estufa e alterações climáticas. No entanto, quando se fala em problemas do planeta são incluídos fatores como guerras, fome, miséria, violência urbana, sendo que existe uma grande interdependência entre


essas diferentes questões, as quais fazem parte de uma problemática maior, decorrente de como os seres humanos veem o mundo. O conhecimento científico nunca se desenvolveu tão rapidamente em toda a história, porém esse desenvolvimento tem se mostrado insuficiente para resolver as dificuldades que ele mesmo criou, o que mostra a necessidade de outra forma de pensamento que englobe todas as relações existentes no planeta. Para tentar entender de fato o seu funcionamento, é necessário compreender todas as relações entre seus componentes e para isso torna-se imperativa uma mudança na visão de mundo fragmentária característica da sociedade humana atual, pois não é possível resolver um problema com a mesma ótica que o gerou. As visões de mundo fragmentárias e simplificadoras têm causado ações reducionistas, separatistas e incompatíveis com a autossustentação da Terra. Então a solução dos problemas “ambientais” pede uma mudança na base dos mesmos e isso só será possível através do ensino. (Jickling, B., 1994) Ao invés do modo de pensar cartesiano, por que não uma educação norteada por discussões multidisciplinares? Não uma multidisciplinaridade procurada apenas em tópicos específicos, mas aquela como condição sine qua nom para que qualquer assunto possa ser apreendido. Para se entender as relações que envolvem os fenômenos é necessário estudá-los de modo holístico e dependente, já que nenhum ser é isolado. Essa abordagem relacional pode ser incluída em todas as formas de educação e nortear todo o conhecimento humano. (Moraes, E. C., 2004) Primeiramente é indispensável uma mudança na noção de pertencimento dos seres, pois todos os seres deste planeta pertencem a esse planeta e devem se sentir como pertencentes a este planeta. Além disso, existe a necessidade de conhecer a complexidade dos fenômenos, porém eles só serão realmente entendidos a partir da consciência das relações que os envolvem. (Morin, E., 2006) As ciências naturais têm um papel fundamental na busca pela solução dos problemas e transformação desse modo de pensar, uma vez que procuram compreender a estrutura da matéria e os caminhos para transformá-la. Ao analisar todos os grandes danos causados pela interferência humana nos diferentes ecossistemas, percebe-se o


papel das ciências naturais como devastadoras e poluidoras. Contudo, para que todas essas questões sejam solucionadas, elas se tornam protagonistas como transformadoras e mediadoras entre as diferentes formas de conhecimento. A partir de uma visão integrante vê-se que a educação é uma das poucas maneiras de realizar essa abordagem relacional. Deste modo, a solução dos problemas planetários pela mudança de visão de mundo pode ser alcançada tanto a partir de um professor em uma sala de aula, com a discussão multidisciplinar de um determinado assunto, quanto pela abordagem das relações que envolvem uma problemática em qualquer conversa informal, já que todos somos multiplicadores de conhecimento e, portanto educadores.

Referências: 1. Dubos, R. Namorando a Terra, Ed. Melhoramentos/EDUSP, São Paulo, 1981 2. Jickling, B. Why I Don't Want my Children to be Educated for Sustainable Development: Sustainable Belief, Trumpeter, Yukon College, 1994 3. Moraes, E. C. Abordagem Relacional: Uma estratégia pedagógica para a educação científica na construção de um conhecimento integrado. Org. Marco Antonio Moreira (Porto Alegre: s/n), 2004 4. Morin, E. Organization and Complexity, Paris, 2006


O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE O desafio da comunicação sob o foco da Sustentabilidade Rachel Machado de Sousa1 Sarah Aparecida da Cruz Alex Donizeti do Rosário

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas formas de comunicação sob o foco de gestão ambiental, este,

um dos

grandes desafio da

sustentabilidade. Na vida existem muitos objetivos dentre eles desenvolver ao máximo as potencialidades, a capacidade de poder viver cada vez mais e melhor, não para si próprio, mas para contribuir, por menor que seja para deixar este mundo um pouco melhor do que foi encontrado. Essa talvez seja a maior tarefa. O papel das pessoas perante a natureza. Mas não basta ficar só na atitude de sonhar com um mundo melhor e se omitir. Mudanças comportamentais do ser humano auxiliadas por meio dos veículos de comunicação, tais como publicidade e propaganda, assessoria de imprensa, relações públicas, promoção e merchandising podem proporcionar à sociedade, maior conhecimento, esclarecimentos em relação às questões socioambientais conforme pesquisas realizadas.

Palavras-chave:

Objetivos.

Potencialidades.

Sociedade.

Gestão

Ambiental.

Sustentabilidade. Marketing Ambiental. Comunicação.

1 Introdução Este texto aborda o desafio da comunicação sob o foco da sustentabilidade, apresentando no contexto a idéia de desenvolvimento sustentável através da comunicação. Analisa e discute suas dimensões, demonstrado através do conceito da triologia da sustentabilidade “ambiental, econômica e social” com ênfase na comunicação. ______________________ 1

Rachel Machado de Sousa, Engenheira Química com Habilitação em Alimentos, Pós Graduada em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas e com MBA em Gestão Executivo Empresarial, Pós Graduada em Gestão Ambiental pelo Centro Universitário do Sul de Minas, Cursando Direito na Faculdade Cenecista de Varginha - FACECA. rachelsmachado@uol.com.br 2 Sara Aparecida Cruz - Orientadora do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS 3 Alex Donizeti do Rosário Bacharel em Administração de Empresas, Licenciado em Letras, Especialista em Ensino da Língua Inglesa. Coorientador.


Trata-se

dos valores da pirâmide de Maslow que dão referências para os

profissionais de Marketing entender a mente do consumidor, pensar e agir de forma sustentável conforme pesquisas realizadas em sitio. É importante salientar que os meios de comunicação, tais como propaganda e publicidade podem proporcionar à sociedade maior esclarecimentos em relação às questões ambientais, sendo este, um dos objetivos pretendidos. Conclui-se que o assunto em questão, tem o propósito, demonstrar através de uma análise os valores da pirâmide de Maslow. A inversão destes valores da pirâmide, onde a auto- realização torna-se a base da pirâmide, se têm o nível de satisfação. O indivíduo sente a necessidade de desenvolver suas potencialidades. Ele procura estudar, organizar, filosofar e também se auto-conhecer e auto-desenvolver. (MASLOW, 1943). Este objetivo poderá ser atingido através da comunicação que tem um papel forte perante a sociedade para uma melhor compreensão onde as questões ambientais têm se tornado presente no cotidiano da sociedade e setor Empresarial; é necessário ter consciência e tratar com racionalidade os recursos naturais, uma vez que eles podem se esgotar. O que é sustentabilidade? É a qualidade de sustentável e a ligação entre desenvolvimento econômico, responsabilidade social e preservação ambiental conduz a uma estratégia oficial de desenvolvimento e à formação do conceito de desenvolvimento sustentável. (DOWBOR, 1995). O conceito e ações de desenvolvimento sustentável estão sendo abordados com maior freqüência no cenário mundial, no qual a contínua preocupação com a condição ambiental do planeta está sempre em evidência, tanto nos meios de comunicação, mídia em geral, quanto nos sistemas de ensino que de alguma forma vêm proporcionando mudanças de postura em diversos ramos da sociedade, empresas e outros órgãos. (DOWBOR, 1995). Um dos grandes desafios da sustentabilidade é enfrentar a complexidade, as incertezas e as contradições que de forma conjunta, demandam uma participação mais ativa das empresas e sociedade em geral no debate de seus destinos, como uma forma de estabelecer um conjunto de informações acerca dos problemas, objetivos e soluções. (SAVITZ, 2006). Vale ressaltar, que o aumento da produtividade das economias, acarreta também um maior desgaste dos recursos naturais, por tanto, cada investimento em produção, carece de cuidados especiais com o meio ambiente. (SAVITZ, 2006).


Se de um lado o contexto no qual se configuram os problemas da nossa civilização é marcado pelo conflito de interesses e uma polarização entre visões de mundo, por outro as respostas precisam conter cada vez mais um componente de cooperação e de definição de uma agenda que acelere prioridades para a sustentabilidade como um novo paradigma de desenvolvimento, sem esquecer as determinações estruturais decorrentes de um sistema globalizado, de um padrão de consumo que não promova o desperdício naquelas sociedades e segmentos que dele fazem parte e da dualidade entre os que “têm”os que “não têm”. (SACHS, 2000, p. 5051). O desafio que está colocado é o de não só reconhecer, mas estimular práticas que reforcem a autonomia e a legitimidade entre organização e sociedade para que possam atuar numa perspectiva de cooperação em um ambiente sustentável.

2 Desenvolvimento

Falar do desafio da sustentabilidade permite, à sociedade avaliar as decisões, balancear os interesses individuais e coletivos dentro de um determinado espaço, de maneira que as funções ecológico-econômicas dos recursos ambientais permaneçam ao longo do tempo. (SACHS, 2000, p. 50-51). Ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade, com as pessoas deste tempo-espaço e com aquelas que ainda não vieram, mas que dentro em breve aqui estarão exigindo seus direitos. (SACHS, 2000, p. 50-51). E o grande paradigma do desenvolvimento sustentável requer esforço permanente, que favoreça uma política comprometida em reverter processos de degradação ambiental existentes, por meio de medidas regeneradoras como, despoluição e recuperação de áreas degradadas, desmatamento, preservação de animais, combate a fome e violência,

agindo de maneira preventiva, para evitar danos e prejuízos

ambientais, perdas sociais e econômicas. Como exemplo do que está sendo dito, o vídeo sociedade, meio ambiente e sustentabilidade disponível no sitio, demonstra as agressões que o meio ambiente vem enfrentando devido ao desequilíbrio ecológico. Entendendo as características do meio físico, biológico e antrópico, compreender a capacidade de suporte do meio ambiente considerando o aperfeiçoamento dos processos produtivos já se começa a falar das transformações do conceito do


desenvolvimento sustentável: prudência ecologia, equidade social e viabilidade econômica, conforme definido no texto abaixo, esse e o nosso grande desafio. (SACHS, 2000, p. 50-51). 2.1 Sustentabilidade Definir e aplicar um conceito de sustentabilidade, não é tarefa fácil, visto que a sustentabilidade e suas implicações têm evoluído ao longo do tempo. Desde a conferência das Nações Unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento realizada em 1992, no Rio de Janeiro o termo sustentabilidade tem ganhado força. (DOWBOR, 1995). Em se tratando da definição de sustentabilidade proposta pela Organização das Nações Unidas - ONU, esta se conecta diretamente aos padrões de consumo, sugerindo ações que promovam a mudança de consumo e a produção mais sustentável de produtos e serviços. Para a Consumers International, em 1998, uma possível definição funcional para o consumo sustentável poderia ser: “O consumo sustentável significa o fornecimento de serviços e produtos correlatos, que preencham as necessidades básicas e dêem uma melhor qualidade de vida ao mesmo tempo em que se diminuem o uso de recursos naturais e de substâncias tóxicas, assim como as emissões de resíduos e de poluentes durante o ciclo de vida do serviço ou do produto, com a idéia de não se ameaçar as necessidades das gerações futuras.” (DIAS, 2008, p.38)

O conceito de sustentabilidade evoluiu. A Organização das Nações Unidas – ONU, no documento Directrices de las Naciones Unidas para la protección del consumidor, de 2003 define consumo sustentável, em uma tradução livre que “ consumo sustentável significa que as necessidades de bens e de serviços das gerações presentes e futuras se satisfazem de modo tal que possam sustentar-se desde o ponto de vista, econômico, social e ambiental”. (DOWBOR, 1995). Sem estes três pilares a sustentabilidade não se sustenta. Ainda são discutidos novos pilares, como a questão cultural, tecnológica, para complementar a sustentação da questão como um todo. (SAVITZ, 2006). É importante verificar que esses conceitos podem ser aplicados tanto de maneira macro, para um país ou próprio planeta, como micro, sua casa ou uma pequena vila agrária. Em termos de Responsabilidade Social, pode-se dizer que ela trata-se do capital humano de um empreendimento, comunidade, sociedade como um todo. Além


de salários justos e estar adequado à legislação trabalhista, é preciso pensar em outros aspectos tais como: o bem estar dos funcionários, proporcionando, por exemplo, um ambiente de trabalho agradável, pensando na saúde do trabalhador e da sua família. Além disso, é imprescindível ver como a atividade econômica afeta a comunidade ao redor,

como Meio

educação,

Ambiente,

violência

e

até

o

lazer.

(SAVITZ,

2006).

refere-se ao capital natural de um empreendimento ou

sociedade. (SAVITZ, 2006). Assim uma empresa que usa determinada matéria-prima deve planejar formas de repor os recursos ou, se não é possível, diminuir o máximo o uso desse material, assim como medir a pegada de carbono do seu processo produtivo, que, em outras palavras, quer dizer a quantidade de CO2 emitido pelas suas ações. Além disso, obviamente, deve ser levado em conta a adequação à legislação ambiental e a vários princípios discutidos atualmente como o Protocolo de Kyoto. Para uma determinada região geográfica, o conceito é o mesmo e pode ser adequado, por exemplo, com um sério zoneamento econômico da região. (Relatório.... 2007). A Sustentabilidade Econômica, pode ser definida como organização de uma casa, financeira e materialmente. Com o passar dos anos, séculos, a palavra economia foi direcionada apenas à vertente dos negócios ou no sentido da poupança, economizar. Este pilar traz o retorno do significado de cuidar da casa, afincado pelos gregos na Antiguidade. (Relatório.... 2007). Analisando os temas ligados à produção, distribuição e consumo de bens e serviços, deve-se levar em conta os outros dois aspectos, ou seja, não adianta lucrar devastando. (Relatório.... 2007).


É possível concluir que a partir dessa visão a sustentabilidade envolve todos os processos da empresa, desde a busca por matérias primas produzida de forma sustentável até o consumo consciente de produtos e serviços prevendo seu descarte. Assim como na natureza a sustentabilidade precisa ser cíclica. Ou seja, os resíduos de um sistema é alimento de outro ou matéria prima para outro sistema. Não há desperdício de energia ou recursos naturais. Essa visão é coerente, mas precisa ser ampliada. (SAVITZ, 2006). A gestão ambiental tem visado o uso destas práticas e métodos administrativos para reduzir ao máximo o impacto ambiental das atividades econômicas nos recursos da natureza conforme demonstrado no texto abaixo. (Relatório..., 2007). 2.2 Gestão ambiental As questões ambientais envolvendo as atividades das empresas e corporações têm chamado para si as principais atenções. Visto que o mundo todo está em estado de alerta diante do aquecimento global, a discussão potencializa o foco sobre as questões ambientais o que faz com que as pessoas passem a olhar as atividades de produção e distribuição de produtos de uma forma mais crítica. (SAVITZ, 2006). As pessoas tornaram mais conscientes e interessadas quanto às questões ambientais, e passaram a enxergar mais claramente que a atividade humana, sobretudo das empresas tinha relação direta com a degradação ambiental. (SAVITZ, 2006). Essa mudança recente, impulsionada também pela mídia não é sem fundamento. Desde a Revolução Industrial o homem tem lançado na atmosfera grande quantidade de poluentes, muitos deles com pouco ou nenhum controle. Apesar da ação dos governos criando leis e definido parâmetros, a emissão de poluentes comprovadamente aumentou. (Relatório..., 2007). Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de mudanças climáticas) desde que começou a revolução industrial, a partir de 1750, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 31%, metano 151%, óxido de nitrogênio 17% e ozônio troposférico 36%. As ações governamentais passaram a ser mais rígidas e a relação entre atividade humana e catástrofes naturais passou a ser considerada como possível pela população, conforme dados constados no sitio da Ecolatina. (Relatório..., 2007). [...]como parte de uma sociedade ecologicamente em transformação, cabe às empresas grande parcela de responsabilidade para que se alcance o desenvolvimento sustentável. Slack et al. (2002) asseveram que a magnitude


do impacto ambiental está diretamente relacionada à quantidade da população consumidora e ao impacto ambiental do processo produtivo ou do produto consumido por essa população. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 2)

O poder público, empresas e a população precisam se ver como um todo. É normal que cada uma dessas instâncias se vejam separadamente e se atribuam responsabilidades diferentes. Na verdade todas elas são faces de um mesmo elemento: atividade humana sobre a terra. (Relatório...., 2007). Segundo Motta e Rossi (2003), tal processo de gênese e expansão da preocupação ambiental faz com que o ser humano sinta de fato uma terrível ameaça, que o compele a perceber que é parte da natureza, está fortemente ligado a ela, e que, portanto, destruir o meio ambiente é destruir a si próprio e a seus congêneres vindouros. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 2)

As empresas buscam então definir padrões para identificar como a sua atividade pode impactar o meio ambiente. (NICOLELLA, 2004). A preocupação ambiental foi primeiramente abordada pelo Clube de Roma, um órgão colegiado liderado por empresários que, por meio da publicação intitulada “Limites do Crescimento”, de 1972, contemplou em termos trágicos o futuro mundial, caso a sociedade mantivesse os padrões de produção e consumo vigentes à época. Em 1972, em Estocolmo, Suécia, foi realizada a primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 435)

Para definir como a gestão ambiental se incorpora as atividades da empresa, é preciso antes de tudo definir o que seria gestão ambiental. Segundo o autor abaixo, a gestão ambiental diz respeito ao conjunto de políticas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente por meio da eliminação ou mitigação de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida do produto. Dessa forma, pode-se dizer que a gestão ambiental envolve as atividades de planejamento e organização do tratamento da variável ambiental pela empresa, objetivando-se alcançar metas ecológicas específicas. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 435)

Medir, controlar e alterar parâmetros de atividades que envolvem o uso de recursos naturais e em qualquer medida altere o meio ambiente não é tarefa fácil. Envolve um grande número de conhecimento técnico e uma equipe multidisciplinar. (NICOLLELA, 2004). As ações de empresas em termos de preservação, conservação ambiental e competitividade estratégica produtos, serviços, imagem institucional e de responsabilidade social - passaram a consubstanciar-se na implantação de


sistemas de gestão ambiental para obter reconhecimento da qualidade ambiental de seus processos, produtos e condutas obtidas por meio de certificação voluntária, com base em normas internacionalmente reconhecidas. (NICOLELLA, 2004, p.8)

Devido à amplitude dos processos, as empresas adotaram a gestão ambiental através da NBR ABNT ISO 14001 como ferramenta que auxilia na administração das etapas dos processos de produção. Tem-se um consenso entre os autores que a adoção da gestão ambiental acarreta na transformação da empresa. É possível distinguir pelo menos três fases da gestão ambiental dentro de uma empresa. A primeira se refere ao cumprimento da legislação ambiental; nessa fase a empresa procura formas de reduzir a emissão de poluentes. Em suma não modifica seu processo de produção. (NICOLLELA, 2004). E é muito comum enxergar essa fase como um custo a mais para suas atividades. A segunda fase tem o foco na prevenção. A empresa passa a modificar seu processo de produção procurando alternativas menos poluentes, evitando o desperdício de matéria prima e a otimização do uso dos recursos naturais. Nessa etapa a empresa passa a colher benefícios da sua postura ambientalmente correta. (NBR ABNT ISO, 14001). A terceira fase corresponde ao aprofundamento e evolução das demais. A empresa incorpora em sua estratégia as questões ambientais, fazendo com que o tema permeie suas atividades inclusive em sua missão, visão e valores. (NBR ABNT ISO, 14001). Com o desenvolvimento no sistema de gestão os parâmetros ambientais também evoluíram. A gestão ganhou um padrão profissional e certificações internacionais. Tudo para atender a demanda crescente das corporações ao redor do mundo. (NICOLELLA, 2004). Segundo a NBR Série ISO 14001 (2004), “a norma de gestão ambiental têm por objetivo prover às organizações os elementos de um sistema ambiental eficaz, passível de integração com outros elementos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar os seus objetivos ambientais e econômicos”. Os princípios de um Sistema de Gestão Ambiental baseados na NBR Série ISO 14001, através dos quais se verifica os avanços de uma empresa em termos de sua relação com o meio ambiente, são: Política ambiental; planejamento; implementação e operação; Verificação e ação corretiva; análise crítica.


2.3 Marketing ambiental Segundo Kotler e Armstrong (2003, p. 3) afirmam que Marketing é "um processo administrativo e social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam, por meio da criação, oferta e troca de produtos e valor com os outros. Philip Kotler (2000) diz que o “conceito de marketing afirma que a chave para atingir os objetivos da organização consiste em determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e satisfazê-lo mais eficaz e eficientemente do que os concorrentes. Peter Drucker (1998) afirma que “marketing é primeiramente uma dimensão central do negócio inteiro. É o negócio como um todo visto do ponto de vista do cliente. A American Marketing Association (AMA) define marketing como “o processo de planejamento e execução de concepção, precificação, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”.

Podemos assim dizer que “marketing é a orientação para a satisfação das necessidades do consumidor/cliente, através do esforço integrado de métodos e meios de que dispõe uma organização, para a consecução dos seus objetivos, ou seja, alcançar os objetivos pretendidos”. (CAETANO 2008, p.26). “De acordo Prakash [apud DIAS, 2007 p. 75], o marketing ambiental é um conceito no qual a redução dos impactos sobre o meio ambiente tem um papel relevante durante a satisfação das necessidades dos consumidores e na realização dos objetivos da empresa.”

O marketing ambiental engloba nas suas atividades questões direcionadas ao meio ambiente: qualidade de vida, preservação do meio ambiente, bem- estar, produção sustentável, dentre outros na sua função é a mesma do marketing, administrar e gerar informações sobre as necessidades e desejos do público alvo, para desenvolver produtos e serviços alinhados com as necessidades do mercado. Considerando as questões ambientais ele é capaz de incentivar o consumidor a buscar produtos que têm valor ambiental agregado. (POLONSKY, 1995). “Para Polonsky [apud DIAS, 2007 p.74] , o marketing verde ou ambiental consiste de todas as atividades designadas para gerar e facilitar qualquer troca com o objetivo de satisfazer os desejos ou necessidades humanas, desde que a satisfação dessas necessidades e desejos ocorra, com um mínimo de impacto prejudicial sobre o meio ambiente”.


Para que o consumidor possa tomar consciência da importância de preferir produtos “ambientalmente corretos” e que em seu processo de produção utilizem também matérias- primas alinhadas com a preservação ambiental, é necessário primeiro que as empresas estejam engajadas na preservação ambiental. Isso se dá das mais diversas formas, incluindo o desenvolvimento de um sistema de gestão ambiental. É uma maneira de administrar de fora para dentro com o objetivo de integrar benefícios e valores aos produtos e serviços. (COSTA, 2010; p. 15) Philip Kotler (2000) diz que o “conceito de marketing afirma que a chave para atingir os objetivos da organização consiste em determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e satisfazê-lo mais eficaz e eficientemente do que os concorrentes. Peter Drucker (1998) afirma que “marketing é primeiramente uma dimensão central do negócio inteiro. É o negócio como um todo visto do ponto de vista do cliente. A American Marketing Association (AMA) define marketing como “o processo de planejamento e execução de concepção, precificação, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”.

É importante compreender que as demandas ambientais dos consumidores podem ser incorporadas em suas necessidades, daí a mudança de comportamento. Ao se avaliar a questão ambiental sob o foco das abordagens de Maslow pode se verificar que: O ato de compra não surge do nada. Seu ponto de partida é a motivação, que vai conduzir a uma necessidade, a qual, por sua vez, despertará um desejo. Com base em tal desejo surgem as preferências por determinadas formas específicas de atender à motivação inicial e essas preferências estarão diretamente relacionadas ao autoconceito: o consumidor tenderá a escolher um produto que corresponda ao conceito que ele tem ou que gostaria de ter de si mesmo. ( SAMARA, 2005, p.102)

Para Maslow (apud Kotler e Armstrong, 1993) as necessidades humanas podem ser ordenadas segundo uma hierarquia, levando em consideração as necessidades mais pertinentes para o individuo. Segundo Maslow as pessoas procuram satisfazer em primeiro lugar as necessidades mais importantes. A partir do momento em que essas necessidades são satisfeitas elas deixam de ser os principais motivadores de consumo dando lugar a próxima necessidade da hierarquia. Cada uma destas escalas ou níveis da Pirâmide de Maslow representa um conjunto de fatores que dão referências para os profissionais de Marketing entender a mente do consumidor.


Maslow dividiu as necessidades humanas e classificou-as de forma que pudessem ser organizadas de forma hierárquica, conforme demonstrado na figura 2. Figura: 2 – Pirâmide de Maslow

Necessidades Fisiológicas: são básicas para a sobrevivência como fome, sede, sono e etc., constituem a base de nossos desejos. (MASLOW, 1943). Necessidades de Segurança: trata-se de segurança física. Quem não tem onde morar e com que se agasalhar terá todo o seu comportamento e pensamento voltados para essas necessidades e como fazer para satisfazê-las. Encontra-se também nesse nível a necessidade de segurança psíquica, que faz temer o desconhecido. (MASLOW, 1943). Necessidade de Afeto: relacionado aos sentimentos afetivos e emocionais de amor e de pertinência às pessoas com as quais nos relacionamos intimamente. (MASLOW, 1943). Necessidade de Status e estima: o indivíduo alimentado e seguro se sentem querido, surge o desejo de prestígio, de status, de estima dos outros e de auto-estima de si próprio. (MASLOW, 1943). Necessidade de Realização: com todos os níveis satisfeitos, o indivíduo sente a necessidade de desenvolver suas potencialidades. Ele procura estudar, organizar, filosofar e também se auto-conhecer e auto-desenvolver. Agora não lida mais com as necessidades de sobrevivência ou de afeto e prestígio, mas com o próprio crescimento. (MASLOW, 1943). Da mesma forma que as necessidades se traduzem em desejos as mudanças sociais também são hierarquizadas, nessa pirâmide, pautando como os públicos vão perceber e lidar com novos temas. (MASLOW, 1943).


As preocupações ambientais, atualmente podem ser inseridas no topo da pirâmide. Essa abordagem da preocupação ambiental, que surge do conceito do desenvolvimento sustentável, tem uma expectativa de mudança dos valores predominantes em relação ao ambiente natural, tanto numa perspectiva macro (preocupações em relação aos problemas globais) como do ponto de vista pessoal como a qualidade de vida, a saúde, o estilo de vida, preocupações com a vida natural no seu entorno imediato, a destinação do lixo gerado cotidianamente etc. (DIAS, 2008, p.28)

A ação de marketing ambiental só terá sucesso se for feita em conjunto empresaconsumidor. Não adianta a empresa “cobrar” uma atitude correta sem oferecer produtos que falem a mesa linguagem da qual se quer obter dos consumidores. (CAETANO, 2008). “Se formos analisar a relação entre os recursos naturais e as necessidades humanas, percebemos que, de um lado, temos os recursos naturais que são limitados e que têm de ser preservados e, do outro, as necessidades humanas, que são ilimitadas”. (CAETANO, 2008, p.78).

De acordo com (POLONSKY, 1995), na literatura são encontradas cinco possíveis razões para as empresas estarem adotando o marketing verde: 1. As organizações percebem que o marketing ambiental pode ser uma oportunidade que pode ser usada para realizar seus objetivos. 2. As organizações acreditam que tem uma obrigação moral de serem mais responsáveis socialmente. 3. As organizações governamentais estão forçando as empresas a serem mais socialmente responsáveis. 4. As atividades ambientais dos competidores pressionam as empresas a modificar suas atividades de marketing ambiental. 5. Fatores de custo associados com a disposição de resíduos ou reduções no material utilizado forçam as empresas a modificar seu comportamento. Além dessas cinco razões apontadas é possível enxergar mais dois argumentos para as empresas adotarem o marketing ambiental. (POLONSKY, 1995). A mudança de comportamento dos consumidores, passando a enxergar a necessidade da conscientização ambiental. O alinhamento das empresas com fornecedores e clientes corporativos.


O grande desafio é perpetuar o objetivo de satisfazer necessidades e desejos, de forma sustentável de modo que a variável ambiental também possa ser incorporada ao produto sob a forma de valor percebido pelo cliente. (POLONSKY, 1995). 2.4 Desafio da comunicação sustentável Toda empresa precisa se relacionar com seu público de interesse, seja ele formado por fornecedores, colaboradores, poder público ou consumidores finais. A comunicação, vista sob uma perspectiva ampla, tem um papel importante a desempenhar no processo de conscientização e de mobilização para a sustentabilidade. De imediato, podemos reconhecer que ela pode cumprir três funções básicas, todas elas articuladas e complementares. (POLONSKY, 1995). A comunicação competente pode contribuir para a consolidação do conceito de sustentabilidade, buscando eliminar equívocos como os que a associam a ações meramente pontuais ou que a reduzem à simples dimensão ambiental. (POLONSKY, 1995). É fundamental que a empresa como um todo esteja suficientemente esclarecida sobre o conceito autêntico de sustentabilidade,

e que os colaboradores

estejam

comprometidos com a qualidade da informação e que percebam os vínculos de determinadas fontes com interesses políticos, comerciais ou mesmo pessoais. (POLONSKY, 1995). Nesse relacionamento a comunicação desempenha um papel muito importante. Permite a troca de informações entre as partes envolvidas. O público alvo tem acesso a conteúdos relevantes a cerca das atividades da empresa e ao mesmo tempo pode abrir um canal e colocar diretamente para a administração suas observações sobre o produto, serviços e práticas da empresa. (BUENO, 2002). A abertura de canais de comunicação garante à empresa uma percepção mais positiva dos públicos que atribui a essa postura valores como transparência. (BUENO, 2002). A empresa ou entidade deve refletir, em sua comunicação, aquilo que ela realmente é, fugindo da tentação equivocada de se posicionar como aquilo que gostaria de ser. Simular, por exemplo, ser protetora do meio ambiente, quando o agride sem dó; alardear sua função social, quando, na prática remunera mal os seus funcionários, atende, precariamente, os seus clientes e discrimina as minorias no momento de recrutar novos colaboradores. A transparência é a arma das organizações modernas. (BUENO, 2002, p.12)


Atualmente a comunicação está inserida em um contexto maior, faz parte do relacionamento entre a empresa e a comunidade. É a ponte entre os públicos de interesse e informações relevantes sobre as atividades da empresa. (BUENO, 2002). “... À medida que as empresas tomam consciência de sua responsabilidade diante da comunidade, balizando suas ações sociais em princípios os valores éticos, ganha força o conceito de que a empresa deveria adotar a mesma postura em relação a todos os públicos com os quais a empresa se relaciona e em todas as suas práticas e políticas (...). O conceito de responsabilidade social está passando da fase de abordar apenas a ação social com a comunicação para abranger todas as relações da empresa e balizar suas práticas e políticas”. (BUENO, 2002, p.43)

Quando se insere o fator socioambiental no contexto da comunicação ela assume novos papéis. Antes vista como uma ferramenta para auxiliar na construção da imagem da empresa e conseqüente aumento de vendas, a comunicação quando envolve meio ambiente promove a educação e a mudança cultural dos públicos envolvidos. (BUENO, 2002). É comum o homem e corporações se enxergarem a parte do meio ambiente. Considerar-se uma entidade externa aos recursos naturais ou um observador sem conexão com o planeta, é uma forma errônea de se enxergar no mundo. (Relatório...., 2007). A comunicação tem os requisitos necessários para mudar essa postura. Para educar e conscientizar esse novo consumidor. (DIAS, 2008). O objetivo da comunicação deverá ser informar sobre os atributos do produto, principalmente os aspectos positivos em relação ao meio ambiente, e transmitir a imagem da organização relacionada com a defesa e preservação de valores ambientais corretos. A variável comunicação deve ser capaz de projetar e sustentar a imagem da empresa destacando seu diferencial ecológico junto a sociedade. […] Algumas atividades de comunicação envolvem: trabalho de conscientização ecológica; informação sobre os produtos e o processo de fabricação ambientalmente corretos; realização de ações de relações públicas em torno de questões ecológicas. (DIAS, 2008, p.157)

Todas as ferramentas de comunicação têm a capacidade de utilizar informações ambientais podendo ser direcionadas para produtos, ações ou ter meramente um caráter informativo por parte de empresas e outras organizações, desta forma, segundo (CAETANO, 2008, p.90), a comunicação ambiental deve ser desenvolvida em três eixos de intenção: Realizar objetivos estratégicos e financeiros da empresa; Ganhar a fidelidade e respeito do consumidor; e


Ajudar o meio ambiente. (CAETANO, 2008, p.90). E os meios de divulgação desta comunicação podem ser através da publicidade e propaganda, assessoria de imprensa, relações públicas, promoção e merchandising. Cada uma das ferramentas desdobra-se em uma série de ações. (DIAS, 2008). Dessas ferramentas a publicidade e propaganda têm se destacado nas atividades comunicacionais na maioria das empresas, isso porque dá visibilidade imediata as ações. Entretanto deve se tornar prática comum da empresa criar planos de comunicação específicos para as demandas ambientais. (DIAS, 2008). A publicidade é uma excelente ferramenta para ajudar a transmitir essa imagem, mas provavelmente tão importante como a publicidade, reafirmamos, é a existência de um plano de comunicação que transmita essa imagem aos diferentes mercados com credibilidade. (DIAS, 2008,p.159).

3 Considerações finais As questões voltadas à sustentabilidade, ao meio ambiente estão em evidência tanto na mídia quanto na mente do consumidor. Nos últimos anos elas têm sido discutidas freqüentemente pelos órgãos ambientais, setores empresariais, e na sociedade civil. Deixou de ser isolada e passou a abranger todos os níveis da sociedade. Este é o momento de comunicar. A prática da autêntica comunicação para a sustentabilidade exige posturas corajosas dos gestores da comunicação, estejam eles em empresas privadas de pequeno, médio ou grande porte, nas redações ou na administração pública porque ela não tolera a omissão diante das injustiças, expressa a indignação com os desvios éticos, a corrupção, o aprofundamento das desigualdades e proclama a tolerância. A comunicação para a sustentabilidade não é apenas mais uma utopia, mas uma necessidade imperiosa para indivíduos, organizações e governos. A sua práxis garante a nossa condição de seres humanos, providos de inteligência e cordialidade, e com certeza instaura idealmente a qualidade de vida para todos os que habitam o nosso planeta. As empresas que possuírem estruturas suficientes para definirem seu papel diante da preservação ambiental com foco na sustentabilidade devem fazê-lo agora. Vale ressaltar que a percepção das demandas ambientais na pirâmide de Maslow, atualmente está presente no topo da pirâmide. Ou seja, o consumidor coloca as questões relacionadas ao meio ambiente e sua preservação como metas de auto-realização, e como forma de se posicionar dentro da sociedade.


Mas a tendência mercadológica nos mostra que essa visão deve ser passageira. Do ponto de vista prático, as mudanças climáticas, o aquecimento global, a emissão de carbono e o desmatamento fazem com que o consumidor perceba que o problema é muito mais abrangente e as preocupações apontadas são relevantes para conseguirmos ter uma vida saudável no planeta. Com o tempo é provável que questões relacionadas ao meio ambiente desçam os níveis da pirâmide, possivelmente chegando ao ponto mais básico, no qual a auto – estima (Maslow), que é atingida via necessidades de relacionamento, diz respeito ao desejo que as pessoas têm de se relacionar com as outras de tal modo que seus relacionamentos se caracterizem por um compartilhamento mútuo de idéias e sentimentos ofertados através da troca de valores culturais, conforme demonstrado na figura 3. Figura: 3 – Pirâmide de Maslow

Avaliando esses fatores conclui-se que os valores invertidos da pirâmide com base na auto realização e mudanças comportamentais pode alterar o destino do nosso planeta, deixando-o melhor do que encontramos. Afinal sem o meio ambiente não há vida. O grande desafio está colocado, refletir e agir na comunicação sob o foco da Sustentabilidade.


THE SUSTAINABILITY CHALLENGE Communications challenge focused on the sustainability

Abstract: The objective of this paper is to present some forms communication focused on the environmental management, the hardest challenge of the sustainability. In the human existence there are many targets, among them are to optimize, at most, the personal capacities and improve the conditions that can result in better and long life, for everybody including the coming generations. This seems to be the most important task: people´s role towards the nature. However, more than words it is important to act. It doesn’t make sense to dream of a pleasant world and do nothing to make it better. In this sense,

changing in the human attitudes and thoughts supported by

communication means such as advertising, press, public relations, merchandising and promotions can bring to the society more knowledge and get clear social-environmental matters. Key words: Objective Personal Capacities. Potentialities. Society. Environmental Management. Sustainability. Environmental Marketing. Communication. REFERÊNCIAS JABBOUR, Charbel José Chiappetta; SANTOS, Fernando César Almada. Evolução da Gestão Ambiental na Empresa: UMA TAXONOMIA INTEGRADA À GESTÃO DA PRODUÇÃO E DE RECURSOS HUMANOS. Gestão & Produção, São Carlos, v. 13, n. 3, p.435-448, out. 2006. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: Teoria e pesquisa. São Paulo: Manole, 2002. 382 p. TRENNEPOHL, Curt; TRENNEPOHL, Terence. Licenciamento ambiental. Niterói: Impetus, 2007. 288 p. CAPRA, Fritjot. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. 255 p. DIAS, Reinaldo. Marketing ambiental: ética, responsabilidade competitividade nos negócios. 1. São Paulo: Atlas, 2008. 200 p.

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Ténicas. ABNT NBR ISO 14001:2004 – Sistema de gestão ambiental – requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.


O papel da comunicação nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades Érica Maruzi do Monte Pereira1 RESUMO O presente artigo propõe-se a discutir, a partir das diretrizes de responsabilidade social definidas pela ISO 26000 e pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, o lugar da comunicação nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades. No mundo contemporâneo, as empresas, cada vez mais, são compreendidas como parte da sociedade, e como tal, tem o dever de se relacionar e interagir com os demais atores sociais. ABSTRACT This article proposes to discuss, from the social responsibility guidelines defined by ISO 26000 and the Ethos Institute for Social Responsibility, the place of communication processes in relationships between companies and communities. In today's world, companies increasingly are understood as part of society, and as such has the duty to relate to and interact with other social actors.

1. INTRODUÇÃO a. TEMA E JUSTIFICATIVA O papel da comunicação nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades A sociedade contemporânea vem passando por transformações ao longo do tempo devido, principalmente, ao advento das tecnologias. Os aparatos tecnológicos estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, permeando as relações sociais e o modo produtivo do indivíduo. Nesse contexto, surge o que alguns autores definem de sociedade informacional, estruturada em rede e fundamentada na tecnologia e na informação.

1*Jornalista especialista em gestão estratégica em sustentabilidade e responsabilidade social. e-mail: ericamaruzi@yahoo.com.br


Na sociedade informacional, a tecnologia também assume papel de destaque no mundo do trabalho, promovendo novas técnicas organizacionais baseadas na geração de conhecimentos, de processamento de informação e de comunicação de símbolos. Neste novo contexto do ambiente organizacional a comunicação assume papel estratégico, gerenciando os fluxos de informações de acordo com a demanda e a expectativa de cada público de interesse da organização. Outros eventos como a globalização, as Conferências da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento, além do novo perfil dos consumidores, também influenciaram a forma de atuação das empresas. Estes eventos trouxeram à tona discussões sobre o papel social das organizações, que por resposta a pressões sociais ou mercadológicas, começam a atuar de forma mais estratégica, observando os pilares da sustentabilidade. A evolução do pensamento sustentável, que partiu da esfera pública, cabendo a cada país promover o desenvolvimento sustentável em seu território, chegou à iniciativa privada e os clientes passaram a ser mais exigentes, demandando uma posição mais responsável por parte das empresas. Neste contexto, conforme Araújo et al (2006), surge o conceito de sustentabilidade empresarial, composto por ações realizadas pelas organizações visando à redução de impactos ambientais, a promoção de programas sociais e a manutenção no mercado sendo economicamente viável. Analisando a sustentabilidade a partir do pilar social, ressalta-se a importância do relacionamento entre empresas e as partes interessadas2. Entre os públicos de relacionamento das instituições destaca-se, neste estudo, a comunidade da esfera de influência das organizações que, por ser heterogênea, necessita de soluções de comunicação próprias, adequadas ao contexto sociocultural que estão inseridas. b. PROBLEMATIZAÇÃO Um dos grandes desafios das organizações contemporâneas é agir de maneira ética, dialogando e respeitando os interesses dos públicos de relacionamento. A partir de um recorte mais profundo, trazendo a comunidade da área de influência (AI) para o centro da discussão, observa-se que os desafios ganham dimensões diferenciadas, as quais as estratégias empresariais devem considerar no processo de tomada de decisão. Para que se estabeleça, de fato, um relacionamento entre empresas e comunidades, estruturado a partir das diretrizes de responsabilidade social, é necessário, entre

2 “Indivíduo ou grupo que tem interesse em quaisquer decisões ou atividades de uma organização” (ABNTISO 26000, 2010, p.27).


outras ações, que a comunicação atue de maneira estratégica, estabelecendo pontes de diálogos entre as partes. Nesse sentido, chega-se ao seguinte problema:

2. Referencial Teórico – A sociedade informacional e os paradigmas do mundo corporativo A sociedade contemporânea é marcada por novas formas de interação entre os sujeitos, que pode ser atrelada, entre outros fatores, ao advento das tecnologias. Atualmente, os aparelhos eletrônicos têm se configurado como importantes mediadores das relações sociais. Através de smartphones, Ipads e computadores cada vez mais pessoas se conectam a partir de redes sociais como facebook, twitter, Instagram, entre outras. Além de permear as relações sociais, o ambiente de rede rompe com as fronteiras que nos separam de outros indivíduos e realidades sociais possibilitando a troca de informações e a articulação de atores sociais em prol de causas específicas que afetam, de maneira positiva ou negativa, a imagem das instituições. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a reclamação de um cliente insatisfeito pode afetar não só a imagem da empresa, mas também o desempenho financeiro e o valor de mercado da organização. Dados da pesquisa realizada com empresas do setor de telefonia apontam que quando as reclamações na Anatel superam o índice de 0,4 queixas por mil linhas ativas, o resultado de uma operadora poderá ser comprometido. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, Fábio Fragoso, um dos autores da pesquisa, afirmou que: "Existe um nível de insatisfação de clientes com o qual a empresa pode conviver. Acima disso, as reclamações podem afetar o valor da companhia"3. A tecnologia e os processos relacionais estruturados em rede também têm mudado o modo de produção e criação no mundo trabalho. O ambiente corporativo vem passando por transformações, devido às mudanças nas relações de trabalho e, também, às transformações no mercado econômico. Elementos como a globalização e a tecnologia colaboraram para a criação de um novo cenário empresarial marcado, principalmente, pela tecnologia baseada na informação. A chamada Revolução da Informação4 reconfigurou os espaços econômicos, políticos e sociais. Um novo contexto empresarial começou a se desenhar. Os desafios enfrentados pelas empresas nos períodos anteriores apresentam-se com nova intensidade: a concorrência e competição entre as organizações se acirraram; a busca de diferenciais

3 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,boca-a-boca-negativo-tambem-doi-no-bolso,1026662,0.htm (consultado em: 30/04/2013)


competitivos não pode mais se basear unicamente em fatores como qualidade e preço etc. (BICALHO, SIMEONE, et. al, 2003: pág. 3)

Visando entre outras coisas, à busca por diferenciais competitivos, as organizações começam a desenvolver suas atividades observando os pilares da sustentabilidade, baseadas num tripé que envolve aspectos ambientais, sociais e econômicos. Em resposta, o consumidor e a sociedade de maneira geral começam a demandar uma postura sustentável das empresas. Segundo Keeble et al (2002), os principais questionamentos às atividades empresariais são: •

Investidores estão procurando evidências de boa governança empresarial, considerando particularmente a estratégia do negócio e a efetividade de sua gestão de risco;

Clientes estão argüindo sobre a origem do produto, isto é, quem o fez e o que ele contém;

Empregados estão interessados em trabalhar em empresas que visivelmente considerem sua responsabilidade para com o empregado, a sociedade e o ambiente;

Governos e sociedade civil estão aumentando a pressão para que empresas divulguem seu desempenho social e ambiental.

Diante desses questionamentos Cantarino et al (2003) define uma nova visão de sustentabilidade empresarial: “A nova visão de sustentabilidade empresarial é a da integração do desempenho econômico, social, ambiental, de segurança e de saúde do trabalhador, que são indissociáveis, na nova visão de negócios” (Cantarino et al, 2003).

Nesse contexto surge um novo modelo de organização do mundo do trabalho, baseado no conceito de rede, que envolve as partes interessadas da organização. Conforme defende Lucia Santa Cruz: “De um sistema fordista, no qual as organizações baseavam-se na produção em massa, na economia de escala e numa grande estrutura vertical, as organizações se vêem em meio a um período de fortes mudanças, que apontam para uma estrutura de redes, dinâmica, flexível e fortemente calcada no conhecimento e na inovação”. (Cruz, 2009: p. 3)

Neste modelo de gestão do mundo corporativo, a estrutura do conhecimento é estabelecida em rede que, por sua vez, está amparada por diversos aparatos tecnológicos. Dentro da rede, o conhecimento gerado numa organização tanto pode ser visto como produto quanto recurso, sendo, os stakeholders, os principais geradores e consumidores de conteúdo desta rede. Segundo Cruz, “a estrutura em rede é relacional, ou seja, se forma e se estabelece a partir e nos relacionamentos entre os diversos atores 4 Segundo os autores, a Revolução da Informação, intensificada a partir da década de 70, é marcada pela “rapidez na implementação do aparato tecnológico, alta informatização dos processos produtivos e uma realimentação contínua do processo de criação de novas tecnologias.” (BICALHO, SIMEONE, ET AL, 2003. p. 3)


envolvidos. O fluxo de interação, de troca, precisa estar constantemente ativado para que a produção aconteça” (Cruz, 2009. p. 3). A presença maciça da tecnologia e sua utilização nos processos de trocas sociais denominam o que alguns autores chamam de sociedade informacional (Castells, 2003). Segundo o autor, as novas condições tecnológicas permitem o surgimento de novas técnicas organizacionais, nas quais, a produtividade está estruturada na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento de informação e de comunicação de símbolos. A tecnologia é a mola propulsora da sociedade informacional, na qual, a inovação é um elemento fundamental. Cruz defende que: “Estamos na economia da inovação, mas que não está circunscrita aos departamentos de pesquisa e desenvolvimento das empresas. A inovação é acelerada, constante, contínua e depende fortemente do trabalho em rede, interdependente, circulante, para acontecer. A inovação se estabelece pelos fluxos comunicacionais que formam a própria estrutura da rede”. (Cruz, 2009: p. 4)

Neste novo modelo de gestão, a comunicação organizacional deve ser vista como uma ferramenta estratégica, assumindo a centralidade da rede como elemento organizador dos fluxos de informação. É papel da comunicação mapear os diversos públicos da instituição e, a partir daí, definir estratégias, ações e ferramentas de comunicação efetivas para cada um deles. A fim de esclarecer o conceito, Scroferneker diz que: “a comunicação organizacional abrange todas as formas de comunicação utilizadas pela organização para relacionar-se e interagir com seus públicos” (Scroferneker, 2003 apud Cruz, 2009: p. 5). Historicamente, as organizações valem-se da comunicação como ferramenta, para administrar o relacionamento com os seus públicos, sendo, geralmente, divida em três nichos de atuação: comunicação interna, mercadológica e institucional (Cruz, 2009). Alguns autores, como Rego (1986) Bicalho, Simeone, Teodoro, Silva, Souza e Pinho (2003) defendem uma atuação mais estratégica da comunicação, na qual ela opera como um elo entre o “micro sistema interno e o macro sistema social” (Cruz, 2009. p. 5). Para os autores “a comunicação integrada é um conceito estratégico que busca unir todas as funções da comunicação empresarial clássica, antes segmentadas em três conjuntos de esforços” (Bicalho, Simeone, ET AL, 2003: p. 18). Sendo assim, a comunicação integrada possui uma abrangência mais ampla e estratégica, assumindo papel de destaque nos processos de tomada de decisão das organizações. NASSAR afirma que “à medida que a Comunicação se torna peça-chave, especialmente no ambiente dos relacionamentos


públicos das empresas e instituições, cada vez mais seus gestores têm como desafio administrar a dimensão simbólica dos negócios, o imaginário de suas ações” (Nassar, 2004: p. 38). A comunicação integrada deve atuar no ambiente de redes gerenciando os fluxos de informação entre as organizações e suas partes interessadas. Mas quem seriam elas? A partir da ISO 26000 5, entende-se que parte interessada envolva clientes, governo, fornecedores, colaboradores, investidores, comunidade vizinha à organização e a sociedade como um todo. Cada um desses públicos de relacionamento possui demandas de informação e expectativas diferenciadas, que podem ou não terem pontos de interseção. Como reposta a novas demandas dos diversos atores sociais, as empresas começam a investir, de maneira mais clara e precisa, no relacionamento com as partes interessadas. Nesse contexto, a comunicação integrada deve ser alinhada com as diretrizes institucionais e realizada de maneira intencional.

“A comunicação empresarial estratégica implica o conhecimento das partes interessadas e suas demandas de informação e do alinhamento com as diretrizes institucionais – fundamentalmente as que dizem respeito ao conceito da marca – para promover ações de comunicação integrada, num processo marcado pela intencionalidade”. (Camargos, 2011: pág. 1)

Nesse cenário a comunicação organizacional desempenha um papel de destaque, já que ela é capaz de dialogar e estabelecer pontes e interesses em comum entre as empresas e os seus diversos públicos (Cruz, 2009).

a. Em pauta: Gestão do relacionamento entre empresas e comunidades É importante ressaltar que gestão de relacionamento é, antes de qualquer outra ação, um processo de observação das estruturas e relações sociais e de escuta. Essas são as maneiras de se conhecer as demandas de informação, para, de forma alinhada com a estratégia global, serem definidas as ações de relacionamento e as formas de conciliação de interesses e necessidades.

5 A ISO 2600 foi elaborada pelo Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social da ISO (ISO/TMB WG), e a versão ABNT NBR ISO 26000 foi aprovada em dezembro de 2010.


O mapeamento de stakeholders é fundamental para garantir que haja a identificação das partes interessadas e que haja um bom fluxo de informações, o que reduz a quantidade de ruídos na comunicação e favorece um relacionamento institucional e comunitário alinhado com a estratégia global e pautado pela responsabilidade social. Em suma, a análise dos stakeholders pode ajudar a compreender o ambiente e assim viabilizar uma visão panorâmica de onde a instituição está inserida. Ainda é possível criar cenários a partir dos stakeholders e identificar as variáveis chaves e tendências de futuro, a fim de criar subsídios para a decisão estratégica. O mapeamento de stakeholders é uma ação transversal que deve estar integrada com as demais áreas temáticas, especialmente a socioeconomia. Compreender as estruturas socioeconômicas é o primeiro passo para identificar tendências e padrões de relações. A avaliação de dados políticos, históricos e de ações relacionadas ao meio ambiente também contribuem para essa percepção. A partir dessa percepção geral, conhecer as partes interessadas é um detalhamento importante para a compreensão e projeção do cenário. Embora façam parte de um mesmo cenário, cada stakeholder tem uma diferente posição social e demanda de informação, e, ainda, cada um tem diferentes características de legitimidade e interesses. Saber dessa variedade de interlocutores e demandas é fundamental para definir os pilares principais. O relacionamento comunitário deve estar totalmente alinhado com as diretrizes de responsabilidade social, tendo como objetivo a construção compartilhada de sentido. Neste contexto mais contemporâneo, a ISO 26000 define responsabilidade social como: “Responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que:

Contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e o bem estar da sociedade;

Leve em consideração as expectativas das partes interessadas;

Esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais de comportamento; Esteja integrada em toda organização e seja aplicada em suas relações” (ISO 26000, 2010, p. 4).


Já o Instituto ETHOS6 de Responsabilidade Social traz a seguinte definição: “Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. Também se caracteriza por estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”.

Conforme as definições acima, a responsabilidade social prevê uma relação ética e transparente entre empresas e suas partes interessadas. Desse modo, a comunicação é fundamental para a construção e manutenção desses relacionamentos, pois além de otimizar a construção dos mesmos ela surge como um elo, estabelecendo o diálogo entre as partes interessadas. Grunig (citado por Bicalho, Simeone, et al, 2003), defende um modelo de comunicação “simétrico de mão dupla”, no qual os interesses da organização e das partes interessadas sejam equilibrados. Neste modelo, a empresa busca ouvir os públicos envolvidos antes de tomar uma decisão, analisando e negociando os impactos das suas ações. Nesta concepção, a comunicação está intrínseca desde o início do processo, cumprindo as diretrizes de responsabilidade social, e não somente atuando na divulgação de informações ou em momentos de crise. Pensando em um público mais específico: a comunidade inserida no entorno das organizações, deve-se pensar em estratégias ainda mais particulares de comunicação, observando aspectos da identidade e cultura local. Sabe-se que o relacionamento comunitário é um processo longo e contínuo, que deve ser planejado concomitante ao projeto de implantação de um empreendimento. Quanto mais cedo a empresa estabelecer o relacionamento com a comunidade, apresentando seus valores, projetos e buscando decisões conjuntas, mais chance de êxito ela terá de se legitimar junto àquela comunidade e, consequentemente, uma probabilidade menor de conflitos. Para maior efetividade e assertividade nesses processos é fundamental que a comunicação se estabeleça de forma objetiva e transparente, respeitando os interesses de todas as partes e o contexto local na qual dada comunidade está inserida. Para isso, retoma-se o conceito de rede, na qual a comunidade deve ser introduzida como um dos públicos estratégicos da rede. Baseada em Colonomos (1995) e em um conceito mais humanístico, Acioli afirma que: 6 Disponível em www.ethos.org.br (acesso em: 29/11/2011)


“Em Ciências Sociais, rede seria o conjunto de relações sociais entre um conjunto de atores e também entre os próprios atores. Designa ainda os movimentos pouco institucionalizados, reunindo indivíduos ou grupos numa associação cujos limites são variáveis e sujeitos a reinterpretações.” (Acioli, 2007: p. 2)

O papel da comunicação na gestão social é justamente articular e alimentar a rede entre a empresa e a comunidade, através de ferramentas específicas. Primeiramente, faz-se necessário conhecer a comunidade a qual se pretende estabelecer o relacionamento. Conforme dito acima, através da análise in loco e do levantamento de dados secundários deve-se conhecer o modo de vida, características culturais, potencialidades e fragilidades da região, entre outros aspectos socioeconômicos. Após o diagnóstico socioeconômico faz-se necessário identificar os interlocutores e as pessoas-chave da comunidade, quem são, grau de influência, nível de interesse e expectativas em relação à organização são algumas das perguntas que devem ser respondidas. Analisar os processos relacionais e tendências de relacionamento também é fundamental para compreensão de cenários. Somente a partir daí torna-se viável traçar as estratégias de relacionamento, alinhando a comunicação com as diretrizes institucionais, definindo o tom do discurso e as ferramentas de comunicação que serão utilizadas. Após a implementação dos programas e ações entra-se numa etapa peculiar: o monitoramento. É nesta fase que as ações serão alinhadas com a realidade e a expectativa do público de interesse. É a partir do monitoramento que poderá analisar e medir a eficácia das ações. Camargos defende que a comunicação deve ser pautada pelas diretrizes da ISO 26000 e atender a três eixos de atuação. “É tarefa dos profissionais da Comunicação Organizacional criar um modelo de ação que seja coerente com a norma. Uma possibilidade prática é apresentar uma série de ações sistematizadas que atendam a três eixos: 1. 2. 3.

Identificação das partes interessadas; Escuta e divulgação de informações; Alinhamento e Monitoramento” (Camargos, 2011: p. 6).

É necessário que a comunicação assuma a centralidade da rede, no sentido de organizar os fluxos e as demandas de informação, para atender as expectativas de todos os envolvidos. Sobre a complexidade do gerenciamento da rede Santa Cruz afirma que “uma gestão que não é mais unidirecional, mas multidirecional, fragmentada, complementar, em constante mutação e movimento” (Cruz, 2009: p. 3). Para se estabelecer o relacionamento comunitário é preciso conhecer a realidade local e entender os contextos socioculturais nos quais a comunidade está inserida. Segundo Camargos é necessário esse processo a fim de identificar interesses e expectativas.


“Por ser plural, a comunidade requer soluções de comunicação próprias, adequadas especificamente ao público estudado. Os dados secundários e os discursos apurados são as formas de conhecer e, assim, agir intencionalmente com um grupo tão peculiar” (Camargos, 2011: p.8).

Nesse sentido, as estratégias de relacionamento comunitário e, mais especificamente, as de comunicação devem ser traçadas a partir da análise das particularidades locais e, acima de tudo, devem ser capazes de construir diálogos para compreender representações sociais e, a partir daí, identificar pontos fortes e fragilidades para trabalhar uma construção conjunta de ações visando o desenvolvimento sustentável da comunidade. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade contemporânea vem passando por transformações devido, entre outros fatores, ao advento das tecnologias. Elementos como a globalização e a alta rotatividade de produtos tecnológicos têm re-configurado as relações sociais e, também, o mundo corporativo. Na sociedade informacional o ambiente das redes é cada vez mais evidente nas relações pessoais, no ambiente de trabalho e também nas relações entre empresas e seus diversos stakeholders. Nesse contexto, a comunicação assume um papel estratégico dentro e fora das organizações, pois é ela a responsável por criar conexões entre o ambiente interno e externo das empresas, evolvendo a organização e seus stakeholders em uma mesma rede, onde cada um desempenha um importante papel. É função da comunicação articular essa rede e organizar os fluxos de informação de acordo com a demanda e a expectativa da cada público. Num recorte mais profundo, pensando num público peculiar e específico – a comunidade -, é fundamental que a comunicação desenvolva estratégias baseadas nas diretrizes da responsabilidade social, considerando o contexto sociocultural que dada comunidade está inserida, e estabelecendo diálogos (o que implica escuta) visando o desenvolvimento local de forma sustentável. O relacionamento comunitário é um processo longo e contínuo que se dá através de escutas sistematizadas, compartilhamento de informações e decisões conjuntas. As organizações precisam compreender que são parte da sociedade e, como tal, têm o papel de colaborar, através de ações conjuntas, para a construção de uma sociedade melhor. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ACIOLI, Sonia. “Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos dos conceitos”. In: Info Londrina v.12 n. esp 2007. AMARAL, Erenilda Custódio dos Santos. “Inteligência competitiva”. Universidade Federal da Bahia – Instituto de Ciência da Informação, 2000. ARAÚJO, Geraldino C. de. et al. “Sustentabilidade Empresarial: Conceitos e Indicadores”. In: Anais do III Congresso Virtual Brasileiro de Administração – CONVIBRA. Disponível em: http://www.convibra.com.br/2006/artigos/61_pdf.pdf. Acesso: 12 ago. 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 26000: Diretrizes em Responsabilidade Social. [Rio de Janeiro], 2010. Disponível: em: http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/iso26000.asp

BICALHO, Aline G. D. SIMEONE, Augusto, TEODORO, Daniela de Souza, SILVA, Luciana Oliveira, SOUZA, Magda Maria de, PINHO, Olga Ferreira de. “Responsabilidade Social das Empresas e Comunicação”. In: Responsabilidade social das empresas. São Paulo: Peirópolis, 2003. BOAVENTURA,João M.G. “Desenvolvimento de um Método para Gerar as VariáveisChave de Cenários: um Ensaio no Setor Automação Comercial no Brasil”. In: Anais do XXIX. Brasília: 2005.

CAMARGOS, Isadora Braga. “ISO 26000, comunicação comunitária e construção compartilhada de sentido - Estratégias de comunicação fundamentadas pelo interacionismo e pela análise do discurso”. Apresentado em congresso - Confibercom 2011. Cantarino, A. A., Barata, M. M., & La Rovere, E. L. (2003). “Indicadores de sustentabilidade empresarial e gestão estratégica”. CASTELLS, Manuel. “A sociedade em rede”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. CRUZ, Lucia S. “O lugar da comunicação na sustentabilidade”. Rio de Janeiro: Desafio Sustentável, Vol.1, n. 1. ESTADO, de São Paulo “Boca a boca negativo também dói no bolso” http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,boca-a-boca-negativo-tambem-doi-no-bolso,1026662,0.htm (consultado em: 30/04/2013)

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Sistema automático para beneficiamento de pólen apícola com estrutura em alumínio reciclado para a cadeia produtiva da apicultura sustentável . *Otávio Campos Pereira 1, Ederaldo Godoy Junior 1,2, Daniela Helena Pelegrine Guimarães1, Lidia Maria Ruv Carelli Barreto1, Gustavo Frederico Ribeiro Peão1, Paula Vasconcellos1. 1

Programa de Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade de Taubaté 2 Bolsista de Produtividade e Extensão Inovadora CNPq otavio_tk@yahho.com.br, godoyjr@unitau.br; dhguima@uol.com.br; gustpeao@gmail.com; barretolidia@yahoo.com.br; Rua. Dr. Daniel Danelli, s/n, CEP 12.440-600 Taubaté SP. www.unitau.br,

RESUMO Na apicultura por ser uma atividade sustentável, sua tecnologia para o beneficiamento e melhoria da qualidade dos produtos vem evoluindo francamente, visando sempre a segurança sanitária dos produtos e derivados no foco da exportação de produtos orgânicos. A apicultura

é sustentável, pois é um dos ramos mais favoráveis, porque se consegue obter lucros, manter o homem no campo e o ciclo contínuo das espécies vegetais de interesse, sendo as abelhas o agente polinizador. Porem existe dificuldades ainda encontradas nesse ramo, como por exemplo, o beneficiamento de pólen apícola, exatamente na etapa de retirar as sujidades contidas junto ao mesmo. Dessa forma o objetivo deste trabalho foi à construção e avaliação da eficiência de um equipamento utilizando o principio da eletrostática para a remoção das sujidades, buscando assim, criar um equipamento mais acessível e tão eficiente quanto aos já existentes no mercado permitindo, dessa forma, facilitar o trabalho do produtor e extinção da catação manual, além de garantir custo mais baixo e melhor qualidade ao produto final. Este projeto abrange o tripé da sustentabilidade, o econômico porque gera renda para os agricultores, o social porque é de fácil operação facilitando o trabalho e melhorando a vida do trabalhador rural, e por ser essencialmente ecológico, já que é todo construído com material e alumínio reciclável.

Palavras Chave: pólen, beneficiamento, sustentabilidade, eletrostática.


ABSTRACT

AUTOMATIC SYSTEM FOR PROCESSING OF BEE POLLEN WITH STRUCTURE IN RECYCLED ALUMINUM PRODUCTION CHAIN FOR SUSTAINABLE AGRICULTURE.

In beekeeping to be a sustainable activity, its technology for processing and improving the quality of products has evolved frankly, always seeking the safety of health products and derivatives in the focus of export of organic products. Beekeeping is sustainable because it is one of the areas most favorable, because it can make profits, keep the man in the field and the continuous cycle of the plant species of interest, and the bees pollinating agent. However there is still encountered difficulties in the business, such as the processing of bee pollen, exactly in step of removing impurities contained next to it. Thus the aim of this work was the construction and evaluation of the efficiency of a device using the principle of electrostatic for removal of dirt, thus seeking to create a more accessible and equipment as efficient as those already on the market allowing thus facilitating the work of the producer and extinction of manual scavenging, and ensure lower cost and better quality end product. This project covers the tripod of sustainability, economic because it generates income for farmers, the social because it is easy operation and facilitating the work improving the lives of rural workers, and for being essentially ecological, since it's all built with materials and aluminum recyclable.

Keywords: pollen, processing, sustainability, electrostatic.


INTRODUÇÃO Mel é uma substância doce produzida pelas abelhas melíferas a partir do néctar das flores, guardada nos favos das colmeias para depois ser fornecida como alimento às larvas das abelhas (HORN et al, 1996; SODRÉ et al, 2007). O mel cristalizado ou granulado trata-se daquele mel que por excesso de glicose e sacarose tende a se cristalizar. A contaminação pela presença de cristais precipita o processo de cristalização, que pode ser evitado com a pasteurização. Trata-se de um produto biológico muito complexo, por sua composição variar com a flora e ser influenciado pelas condições climáticas da região onde foi produzido. O pólen apícola é definido como sendo o resultado da aglutinação do pólen das flores, efetuada pelas abelhas operárias, mediante néctar e suas substâncias salivares, o qual é recolhido no ingresso da colmeia. O pólen que aparece no mel constitui importante indicador da sua origem botânica e, principalmente, geográfica, e é coletado involuntariamente pelas abelhas no momento da coleta do néctar (Barth, 1989). Por meio da análise quantitativa dos grãos de pólen, é possível estabelecer a proporção com que cada planta contribui para a constituição do mel. As características físico-químicas e polínicas do mel ainda são pouco conhecidas, principalmente nas regiões tropicais onde existe grande diversidade de flora apícola associada às taxas elevadas de temperatura e umidade SODRÉ et al, (2007). De acordo com o Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Brasil, 2001), os produtores de mel têm enfrentado algumas dificuldades em certas fases do beneficiamento de pólen, como é o caso da “catação”, seja pela escassez de mão de obra como também devido ao alto custo de se adquirir equipamentos. Desta maneira, o objetivo do presente trabalho foi projetar e construir um equipamento para o beneficiamento do pólen, mais acessível ao pequeno e médio produtor, buscando garantir eficiência e qualidade durante o seu processamento, utilizando-se da inovação da eletrostática para a remoção das partículas estranhas que são encontradas no meio do pólen. A eletrostática utilizada no presente trabalho foi gerada pelo gerador de Van de Graf, que é um equipamento capaz de gerar eletricidade estática (ou seja, um gerador eletrostático), transformando energia mecânica em energia elétrica. Tal gerador de eletricidade constitui uma tecnologia diferenciada sendo, ao mesmo tempo, mais econômico com relação aos equipamentos utilizado para o mesmo fim.


OBJETIVO GERAL O presente trabalho tem a finalidade de desenvolver e avaliar o desempenho um equipamento composto por uma tecnologia completamente inovadora para separar as sujidades encontradas junto ao pólen, levando em consideração o menor custo possível para o equipamento, com a finalidade de se obter o maior custo beneficio por quilo de pólen beneficiado.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS •

Criação e desenvolvimento da parte estrutural do equipamento

Dimensionamento e adequações necessárias à capacidade e forças sofridas, bem como cálculos de tração e carga para os motores, estrutura (mesa) e para a correia transportadora (esteira).

Analise de capacidade, rendimento e verificação da eficiência utilizando-se de controle estatístico.

Levantamento do custo beneficio por quilo de pólen beneficiado.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Apicultura e seus aspectos econômicos Na história da humanidade, o mel foi uma das primeiras fontes de açúcar para o homem. Isso é demonstrado pelo uso do mel e pólen das abelhas nativas sem ferrão nos períodos pré-hispânicos e o papel que desempenharam na dieta das comunidades indígenas americanas. No Brasil até o século XIX, o mel e a cera utilizados na alimentação pelos índios e brancos e a confecção de velas pelos jesuítas eram provenientes das abelhas sem ferrão (NOGUEIRA, 1997; BERA & ALMEIDAMURANDIAN, 2007). O mel puro deve apresentar aspecto líquido, denso, viscoso e translúcido, e cor que poderá variar do amarelo ao amarelo-avermelhado, com cheiro próprio, sabor doce e característico (CATALAN, 1981). Segundo, Guimarães,1989. A Apicultura é considerada uma das poucas atividades agropecuárias que preenche todos os requisitos do tripé da sustentabilidade: o econômico porque gera renda para os agricultores, o social porque utiliza a mão-de-obra


familiar no campo, diminuindo o êxodo rural, e por ser essencialmente ecológica, já que é uma atividade conservadora das espécies, através da polinização.

Produção nacional O Brasil tem um grande potencial apícola, devido a sua flora ser bastante diversificado, por sua extensão territorial e pela variabilidade climática existente, possibilitando assim produzir mel o ano todo, o que o diferencia dos demais países que, normalmente, colhem mel uma vez por ano (MARCHINI, 2001). Segundo a Confederação Brasileira de Apicultura (2011), a produção apícola nacional triplicou nos últimos anos e atualmente, com 50.000 toneladas anuais, o Brasil é o 11º produtor no ranking mundial. A cadeia produtiva envolve mais de 350 mil apicultores, além de gerar 450 mil ocupações no campo e 16 mil empregos diretos no setor industrial, sendo os maiores exportadores mundiais a China, Argentina, México, Estados Unidos e Canadá. Juntos, esses países comercializaram durante o ano de 2001 cerca de 240 mil toneladas, movimentando, aproximadamente, US$ 238 milhões. A atividade não necessita de um alto investimento inicial e tem grandes vantagens naturais, a exemplo da extensa flora brasileira com inúmeras plantas nectaríferas e poliníferas (essenciais para as abelhas). Outra característica que ajuda no crescimento é a condição favorável para criação desses insetos encontrada em todas as regiões. Além disso, o apiário (habitat das abelhas) não necessita de cuidados diários, permitindo que os apicultores tenham outra fonte de renda (SEBRAE, 2006). A apicultura não se baseia apenas na produção de mel, existe uma gama de outros produtos obtidos e cada qual tem seu próprio valor agregado, devido suas características tanto físicas como químicas diferenciando-se do próprio mel, como por exemplo geleia real, cera, pólen, entre outros (SEBRAE, 2006). Mel: produzido a partir do néctar que as abelhas armazenam nos favos. É composto de água, glicose, sacarose e alguns minerais. Como alimento tem alto valor nutritivo e energético. Também tem emprego medicinal em doenças respiratórias e como cicatrizante, laxante e digestivo. Néctar: é um liquido doce e rico em açúcar, colhido pelas abelhas para fazer o mel. Foi empregado pelos gregos para preparar a ambrosia, bebida feita a partir da mistura de vinho água e mel. Usado como medicamento e suplemento alimentar. Cera: subproduto do processamento do mel, utilizada em tratamentos cosméticos e na indústria, polimento e impermeabilizações.


Geleia real: produto gerado pelas abelhas para alimentar as crias e a rainha. Contêm hormônios, vitaminas, aminoácidos, enzimas, lipídeos e substancias que agem sobre o processo de regeneração celular. A geleia real é oferecida como alimento para todas as larvas jovens da colmeia, durante três dias, e, para a rainha, durante toda sua vida. È considerado a fonte da juventude. Própolis: produzido a partir de resinas e balsamos coletados das plantas e modificados pelas abelhas operarias por meio de secreções próprias. É usado para fins medicinais, como doenças respiratórias e, ainda, para mau hálito, aftas e gengivites, bem como para fortificar o organismo. Também pode ser usado como cicatrizante em feridas, corte, micoses, espinhas, verrugas e frieiras. Pólen: composto coletado pelas abelhas ao visitar as flores, sendo alguns grãos trazidos para o interior das colmeias e depositados nos alvéolos dos favos. Possui 22 aminoácidos essenciais, além de grande quantidade de proteínas e minerais. Na indústria, é usado como suplemento alimentar e como medicamento (Brasil, 2001). Apitoxina: Conhecida como “veneno da abelha”, a apitoxina é uma substância contida no ferrão das abelhas que tem alto teor comercial no segmento de manipulação de medicamentos. É uma substância química complexa, formada por água, aminoácidos, açúcares, histamina e outros componentes.

A necessidade de pólen pelas abelhas Segundo o Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Brasil, 2001), define-se pólen apícola como o resultado da aglutinação do pólen das flores, efetuada pelas abelhas operárias, mediante néctar e suas substâncias salivares, o qual é recolhido no ingresso da colmeia. Segundo Morretti (2006), o pólen constitui para as abelhas, o próprio objeto da polinização, além de ser o principal alimento sólido. O autor afirma que o pólen contém a maioria dos nutrientes essenciais para a produção de geleia real, com a qual são nutridas as larvas de rainha e as larvas jovens de operárias. O pólen é a principal fonte de proteínas e lipídios para as larvas, provavelmente para todas as espécies e gêneros de Apidae. Sendo assim, entende-se que o pólen é um alimento essencial para o crescimento, desenvolvimento e a melhor forma de obtenção de nutrientes que as abelhas encontram na natureza para suprir as necessidades de toda a colônia, além de garantir a reprodução. As operárias mais velhas usam a proteína diretamente do pólen, já as larvas e os adultos de rainha e as larvas jovens de ambos os sexos recebem geleia real, produzida pelas abelhas nutrizes, enriquecida com pólen.


Composição do Pólen Os grãos de pólen são estruturas microscópicas contidas nas anteras dos estames das angiospermas e gimnospermas que representam o gametófito masculino das plantas. Além de ser alimento, para muitos insetos, e especialmente para as abelhas MELOI et al., (2009).

Figura 1: Pólen apícola Fonte: Lídia Maria Ruv Carelli Barreto. De acordo com Morretti (2006), o pólen contém basicamente 30% de água, 10 a 36% de proteínas, 20 a 40% de glucídios, 1 a 20% de lipídios (gorduras) (mas usualmente não mais que 5%), 1 a 7% de matérias minerais (apresenta cálcio, cloro, cobre, ferro, magnésio, fósforo, potássio, silício, enxofre, alumínio, ferro, manganês, níquel, titânio e zinco), além de resinas, matérias corantes, Vitaminas A, B, C, D, E, Enzimas e coenzimas. Segundo Instrução normativa nº3 (2001), o Pólen Apícola compõem-se basicamente de proteínas, lipídios, açúcares, fibras, sais minerais, aminoácidos e vitaminas. Quanto aos requisitos sensoriais, o pólen apícola deve ter aroma e cor característicos, de acordo com a origem floral; grãos heterogêneos, de forma e tamanhos variados, tendendo a esféricos e sabor característico. Com relação aos requisitos físico-químicos, o pólen apícola deve apresentar teor de umidade de, no máximo, 30%, e no pólen apícola desidratado, 4%.Com relação ao teor de minerais, o valor máximo é o de 4%, em base seca; quanto ao teor de lipídios, proteínas, açúcares totais e redutores e fibra bruta, os valores mínimos, em base seca, são, respectivamente, 1,8%, 8%, 14,5%, 55,0% e 2%. O valor máximo permitido, para a acidez livre, é de 300 mEq/kg.


Para o homem, muitos benefícios são atribuídos ao consumo do pólen, como fortificante extraordinário do organismo, estimulante e gerador de bem estar e vigor físico, além de corrigir a alimentação deficiente, o que resulta em equilíbrio funcional (KROYER & HEGEDUS, 2001).

Processamento do pólen e beneficiamento. De acordo com Peão, Barreto e Dib (2006), o processamento do pólen pode ser representado pelo fluxograma a seguir, onde o pólen coletado pelas abelhas passa apenas por uma desidratação, reduzindo a umidade para 2-8%, evitando assim o crescimento de fungos e outros microrganismos e por um processo de limpeza. Durante todo o tempo de secagem deve-se utilizar um termômetro, para o controle de temperatura, a qual não deverá ultrapassar os 45ºC. Um período excessivamente longo de secagem a temperaturas mais elevadas provocará perda nas qualidades do pólen (alteração de cor e endurecimento). Por ser um produto higroscópico, a secagem do pólen deve ser feita em locais fechados, longe de qualquer fonte de umidade. Terminada a secagem o pólen deve ser acondicionado em frascos de vidro secos e perfeitamente vedado. O pólen, durante a sua coleta pode se contaminar com impurezas como, fragmentos de abelhas, resíduos vegetais, poeiras, etc. Essas impurezas são retiradas manualmente durante a etapa de limpeza, utilizando-se uma pinça. Esta etapa de limpeza deve ser efetuada em local bem iluminado, de maneira metódica, paciente e higiênica. Alguns tipos de separadores de sementes podem, com pequenas adaptações, se prestar muito bem a este serviço, embora já existem nos mercados separadores de impurezas confeccionados especialmente para esse fim. Após a limpeza o pólen está pronto para ser comercializado.

COLHEITA TRANSPORTE DA CONGELAMEN LIMPEZA GROSSEIRA DESIDRATAÇÃ


PENEIRAMENT AERAÇÃO LIMPEZA FINA EMBALAGEM

ROTULAGEM

ENVASE ROTULAGEM ARMAZENAMENTO EXPEDIÇÃO /

Figura 2: Fluxograma para o beneficiamento do pólen Uma das etapas citadas acima que se encontram grandes dificuldades é a “catação”, onde se retira do pólen partículas estranhas e impurezas indesejáveis provenientes da coleta ao consumo humano, as dificuldades estão exatamente no momento de se retirar todas as partículas que não são pólen, ainda que atualmente (em pleno o século 21) encontram-se processos que utilizam da catação manual ou com equipamentos não destinados a esse trabalho, como por exemplo, secadores de cabelo. Existem atualmente equipamentos e tecnologias empregados no processo de limpeza do pólen, porem, inacessíveis ao pequeno e médio produtor por causa do custo elevado e retorno a longo prazo (BARRETO, 2004).

Fundamento da estática. Segundo Silva (2007), os fenômenos eletrostáticos são conhecidos desde o tempo dos gregos. Naquela época já se sabia que o âmbar (pedra amarelada gerada pela fossilização de folhas e seiva de árvores ao longo do tempo), atritado com um pedaço de lã, era capaz de atrair pequenos pedaços de fibra vegetal (palha, linho, etc.). E, durante vários séculos o fenômeno foi considerado apenas como uma curiosidade natural. Mas, em 1600, o médico inglês William Gilbert publicou o primeiro tratado a respeito da eletricidade, no qual fazia referência às cargas elétricas geradas por atrito. Seu trabalho deu origem as primeiras "máquinas eletrostáticas", que produziam eletricidade pelo atrito de um disco de âmbar entre dois pedaços de pele de carneiro. Mais tarde, em


1752, Benjamin Franklin chegava à conclusão de seus trabalhos em eletricidade atmosférica, nos quais provava a existência de cargas elétricas no ar. Estes conceitos básicos sobre a natureza da eletricidade levaram à conclusão de que as máquinas eletrostáticas produziam e armazenavam cargas elétricas, sem contudo poder movimentá-las, devido às propriedades isolantes dos materiais usados em sua construção. Só se conseguiu compreender as propriedades elétricas dos vários materiais isolantes e condutores após o desenvolvimento das teorias a respeito do átomo. Sabe-se, atualmente, que um determinado material é isolante porque os elétrons de seus átomos não gozam de mobilidade, como acontece no caso dos átomos de metais, que são bons condutores. Ao serem produzidas, as cargas permanecem na superfície do material isolante, até que sejam retiradas por um corpo condutor Corradi et al. (2010).

Gerador de Van de Graaf. Segundo HALLIDAY (2008), o Gerador de van de Graf é um equipamento capaz de gerar eletricidade através de uma correia quando sofre atrito com uma superfície metálica, sendo assim, denominado gerador eletrostático, transformando energia mecânica em energia elétrica de alta voltagem, como a figura 3 abaixo;

Figura 3: Esquema do Gerador de Van der Graaf Fonte: http://br.geocities.com/saladefisica No gerador de Van der Graf, um motor movimenta uma correia isolante que passa por duas polias (extremidades), uma delas acionada por um motor elétrico que faz a correia se movimentar. A segunda polia encontra-se dentro de uma esfera metálica oca. Através do atrito entre pontas metálicas e a correia de borracha (não condutora) recebe carga elétrica de um gerador de alta tensão. A correia eletrizada transporta as cargas (positivas) até o interior da esfera metálica, onde elas são coletadas por outro terminal


metálico (tira trançadas de aterramento) e conduzidas para a superfície externa da esfera com o auxilio de um cabo elétrico de cobre. Como as cargas são transportadas continuamente pela correia, elas vão se acumulando na esfera. Por esse processo, a esfera pode atingir um potencial de até 10 milhões de volts, no caso dos grandes geradores utilizados para experiências de física atômica, ou milhares de volts nos pequenos geradores utilizados para demonstrações nos laboratórios de ensino (SALA, 2010).

Por que o pólen não é atraído pelo gerador. De acordo com HALLIDAY (2008), a habilidade das abelhas para transportar pólen de flor para flor depende de dois fatores: (1) As abelhas tornam-se carregadas enquanto voam através do ar. (2) A antera da flor está eletricamente isolada do chão, mas o estigma (da flor) está eletricamente conectado ao chão. Quando a abelha paira próxima a antera, o campo elétrico produzido pela carga na abelha induz a carga no grão de pólen neutro, fazendo o lado mais próximo um pouco mais negativo (ponta) que o lado mais distante. As cargas nos dois lados são iguais mas suas distâncias da abelha não e a força atrativa no lado mais próximo é levemente mais intensa que a força repulsiva no lado mais distante. Como resultado, o grão de pólen é empurrado para abelha, aonde ele se fixa durante o voo da abelha até a próxima flor. Quando a abelha se aproxima do estigma na próxima flor, a carga na abelha é induzida no grão trazendo elétrons de condução para ponta do estigma porque o estigma está eletricamente conectado ao solo. Estes elétrons atraem o lado mais próximo ao grão e repelem o lado mais distante. Se o grão está próximo o bastante do estigma, a força resultante faz com que o grão salte para o estigma, iniciando a fertilização da flor. O grão, como um todo, ainda é eletricamente neutro, mas tem uma distribuição assimétrica de carga (CANTO, 2010).

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Figura 4: Esboço do grão de pólen e suas cargas elétricas.

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Figura utilizada a fim didático.


Segundo Evangelista, Silva e Ribeiro (2009), o fato de objetos com forma geométricas iguais aos grãos de pólen não ser esféricas, como demonstrado na figura 4, às cargas do pólen ficam distribuídas de maneira desuniforme ao longo do grão, e acumulando-se mais intensamente nas partes pontiagudas de acordo com a teoria das pontas, além de criar um campo elétrico maior em relação às partes menos pontiagudas. Sendo assim, pode-se dizer que o pólen é neutro. Como o gerador tem a função de gerar grandes quantidades de cargas elétricas (positivas), que irão se acumulando na esfera oca do gerador, sendo assim, o que fará com que o pólen não seja atraído pelo gerador devido a sua considerável carga neutra e também pela razão da massa das partículas de pólen serem maior a ponto de não ser atraídas pelo gerador, sendo atraídas apenas a partículas de sujeiras e poeiras.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esquema (desenho) e descrição do equipamento. O equipamento a ser construído, para beneficiamento do pólen, trata-se de uma esteira transportadora, por onde o pólen é carregado até o compartimento fechado (figura 5), com a função de remover totalmente as partículas estranhas como o auxilio do gerador de Van de Graf pelo princípio da eletricidade estática.

Figura 5: Desenho (esboço) inicial do desenvolvimento para o separador de partículas.


A esteira do separador foi construída utilizando-se dos seguintes materiais; Roletes diâmetro de 0,05 metros (aço carbono 1020), 04 Rolamentos, 02 Mancais tipo tensor, 01 Eixo (aço carbono 1020), 2 Vigas retangulares de 3 metros comprimento (branco, alumínio 4’ x 2’), 02 Tubos quadrados 6 metros comprimento (branco, alumínio 2’ x 2’), 01 Tubo retangular 6 metros comprimento (branco, alumínio 2’ x 1’), 1 Barra chata (branco, alumínio 1 ½’ x 1/8’), 30 Parafusos e porcas para fixar os pés, 04 Parafusos e porca para o tensor dos roletes, 01 Caixa elétrica para conexões e comandos, 01 Motor de indução elétrico ½ , 01 Correia de tração e 01 Dimer 600 watts (bivolt).

Memoriais de cálculos. Cálculo da carga a ser transportada pela esteira. Para que a carga a ser transportada pela esteira possa ser calculada, o primeiro passo é considerar a massa específica do pólen igual a 650 Kg/m³. Durante o transporte a esteira transportara em uma faixa continua de produto, o seguinte raciocínio é seguido: Área da esteira = 2,65 m x 0,35 m = 0,93 metros² Área do produto = 0,20 m x 0,005 m = 0,001 metros² Volume de produto sob a esteira = 0,001 m x 2,65 m = 0,003 metros³ Peso total sobre a esteira = 650 Kg/m³ x 0,003 m³ = 1,950 Kg Dessa forma, o resultado da carga que a esteira poderá estar transportando durante o processamento é obtido.

Construção do equipamento (passo a passo). Iniciando-se com a montagem da esteira (transportador), 2 barras (viga retangular de alumínio 4’ x 2’ com 3 metros de comprimento) foram utilizadas, de acordo com a figura 6. Essas barras constituem a estrutura principal de todo o equipamento, onde estão fixados os rotores da esteira, tensores da correia transportadora, motor e também a estrutura de apoio do gerador de Van de Graaf. Para as colunas de sustentação, foram cortados quatro tubos quadrados (alumínio 2’ x 2’), com comprimento de 0,70 metros, prevendo que a viga tem aproximadamente 0,10 metros de altura, dessa maneira a esteira estará a uma altura de 0,80 metros. Com


as colunas já cortadas, fixaram-se as com o auxilio de 4 parafusos sextavados as colunas perpendicularmente nas extremidades das vigas (parecendo uma mesa com quatro pernas), como na figura 6 a seguir.

Figura 6: Vista lateral da esteira transportadora. O motor de tração da esteira transportadora foi fixado sob um dos roletes de apoio da própria esteira, utilizando-se as próprias colunas da estrutura para apoiar e fixar a barra de sustentação do motor. Isto permite que o motor tenha uma melhor flexibilidade de acordo com a figura (7), para colocação da correia como também retirada e suavizar as precipitações ocasionadas durante o funcionamento.

Figura 7:Esquema de fixação do motor na estrutura.


Como toda esteira transportadora (cinta) sempre possui uma massa de produto sendo carregada durante o processo, deve-se tenciona-la de modo que fique o mais plana possível impedindo que o produto caísse para fora. Então se criou um sistema de tensores de fácil manipulação e utilização para realização dos ajustes sempre que necessários como na figura (8) abaixo. Se caso haja necessidade de se tencionar a esteira basta virar o manípulo no sentido horário, e na necessidade de afrouxar basta vira-lo no sentido anti-horário, tornando esse sistema mais prático e rápido.

Figura 8: Designer do sistema dos tensores da esteira.


Levou-se em consideração para a instalação do gerador na estrutura de apoio situada sobre a esteira, a questão de facilidade para manipulação e retirada da bandeja de atração das sujidades. Sendo assim, parafusou uma barra redonda de 0,60 metros de comprimento no sentido perpendicular a extensão da esteira, como na figura 9.

2

Figura 9: Inclusão do tubo de apoio do gerador no suporte. O gerador foi fixado em um tubo assim como na figura 10, permitindo o movimento do equipamento para que possam ser executados alguns ajustes ou limpeza na bandeja de atração.

2

Medidas da figura em metros.


3

Figura 10: Esquema do equipamento final com as dimensões.

Montagem do gerador. O gerador fui construído com materiais recicláveis para garantir o baixo custo do equipamento. Como ilustra a figura 11 a seguir, o gerador é composto por um motor (2), que movimenta a correia até a cúpula (5), que foi feita com uma embalagem de cerveja de 5 litros. A estrutura branca (4), é um tubo de PVC com diâmetro de 100 mm onde se fixaram os roletes, um em cada extremidade do tubo onde um deles fica sobre uma mesa de plástico (3) e também é movido pelo motor que por sua vez, gira a correia transportando as cargas elétricas até a cúpula.

3

Medidas da figura em metros


Figura 11: Gerador de Van Der Graaf.

RESULTADOS E DISCUSSÃO. Foram realizados os testes de verificação da velocidade da esteira transportadora em relação à escala do dimer, onde de acordo com a escala do dimer se obtêm a velocidade requerida para a limpeza devido à quantidade de pólen que está sobre a esteira no momento do processo (figura 12). Esse sistema garante um total controle nos ajustes necessários que são imprevistos ao longo do processamento.

Velocidade da Esteira (m/ s)

4

3

2

1

0 0

2

4

6

8 10 Escala (dimer)

12

14

Figura 12: Gráfico da escala de velocidade da esteira transportadora.

16


Normal - 95% CI 99

Mean StDev N AD P-Value

95 90

8 4,472 15 0,176 0,905

Percentual

80 70 60 50 40 30 20 10 5

1

-10

-5

0

5 10 Escala (dimer)

15

20

25

Figura 13. Curva normal de eficiência da velocidade da esteira transportadora.

A figura 13 representa a distribuição dos pontos experimentais nas curvas de tendência, características do processo, indicando 95% de exatidão. Isto significa que o sistema de movimentação da esteira é adequado. A quantidade de pólen que passa pela esteira é a resultante obtida em função da velocidade da esteira transportadora, ou seja, quanto mais rápido a velocidade da esteira maior será a quantidade de pólen que passará pelo gerador. Abaixo segue o gráfico dessa resultante.

Critérios Macroscópicos: Segundo Instrução Normativa nº3 (2001), o produto não deve conter substâncias estranhas, com exceção dos fragmentos, acidentalmente presentes, de: abelhas, madeira, vegetais e outros, inerentes ao processo de obtenção do pólen pelas abelhas. Porém, essa definição se torna vago ao ser for considerado que o consumidor quer e deseja um produto o mais puro possível e sem nenhuma partícula estranha que não seja o próprio produto em si.


Mesmo assim, Barreto (2004), criou através de testes uma escala amostrada em 7 estados e Distrito Federal dos resultados relacionados a sujidades encontradas no pólen apícola, onde se obteve de 0 a 25 % de sujidades em relação ao peso da amostra, e grande parte desse resíduo encontrado foram os elementos demonstrados nas figuras 14.

Abelha morta

Bolota de própolis

Cabeça de abelha

Pernas e asas

Larva de abelha

Coleóptera

Figura 14: Sujidades encontradas junto ao pólen apícola. Fonte: Lídia Maria Ruv Carelli Barreto

A diferença de aspecto entre o produto antes e após o beneficiamento utilizandose da esteira é visível, conforme consta nas figuras 15 a 16, a seguir.


Figura 15: Pólen Apicola antes do processo de remoção de sujidades.

Figura 16: Limpeza manual do pólen apícola (Fonte: Joseth Cláucia de S. Rego)


Figura 17: Pólen Apicola após a remoção mecânica das sujidades.

Nas figuras 15 e 17, observa-se que a diferença no aspecto dos produtos beneficiados (mecanicamente e manualmente) é significativa. Por outro lado, a diferença no rendimento entre os dois diferentes processamentos é marcante: enquanto no método manual se obtêm um rendimento que varia entre 100 a 200 kg por dia (segundo dados da ACAP - Associação Canavieirense de Apicultores), a utilização de meios mecânicos (equipamento eletrostático) proporcionou um rendimento de, aproximadamente, 200 Kg/h, aliado ao fato de, como o equipamento não utiliza ar para remoção das sujidades, não existe o problema de o pólen já desidratado ganhar umidade.

CONCLUSÕES.


A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que: - o beneficiamento do pólen apícola pelo método mecânico resultou em um rendimento muito superior àquele beneficiado manualmente; - o pólen beneficiado mecanicamente apresentou algumas diferenças visuais ao processado manualmente; - como o equipamento não utiliza ar para remoção das sujidades, não existe o problema de o pólen já desidratado ganhar umidade; - o beneficiamento do pólen por meio mecânico reduz o risco de contaminação do produto, uma vez que, durante o processo, não há contato manual com o produto.

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Sustentabilidade começa na Educação – Desafios para a ação “A ideia de liberdade dos bens comuns gera a ruína da sociedade como um todo” Garrett Hardin – Biólogo – 1968

Janaína Dourado* Maria Teresa Stefani** Cássia Maria Paula Lima*** Resumo A proposta deste trabalho é realizar um ensaio teórico que se relacionam aos conceitos de sustentabilidade e como são aplicados e vinculados à educação. Como suporte teórico foram adotados alguns conceitos da teoria institucional, como campo, estrutura e habilidade social, que permitem verificar a ação das pessoas em relação a estruturas sociais legitimadas. Partindo do princípio que a sustentabilidade e a educação são dois campos que possuem suas estruturas e atoressociais, os discursos e sua interseção foram analisados. É feito um breve histórico da formação do campo da sustentabilidade na educação, que se inicia com a educação ambiental e evolui para o desenvolvimento sustentável, levando a conflitos nas estruturas atuais, que não conseguem atender às novas demandas. O empreendedor institucional surge como elemento catalisador desta transformação. Em seguida é apresentado um argumento que reforça a importância de modificar a educação, a tragédia dos comuns, que se baseia no fato de que a ação individual sem levar em conta o coletivo arruína a sociedade como um todo. Por último, foi mostrada a pedagogia defendida por Paulo Freire, baseada na promoção da cidadania, que leva em conta o coletivo e a cooperação, contrapondo o individual e a competição da proposta educacional vigente. Como consideração final, são sugeridos estudos empíricos que demonstrem os benefícios da educação para o desenvolvimento sustentável, que levará a novas estruturas sociais, mais adequadas à perenidade da sociedade. PALAVRA-CHAVE: Educação,Teoria Institucional, Sustentabilidade.

* Mestranda em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Docente na ETEC. Artigos sobre redes sociais. email: janaina.dourado01@etec.sp.gov.br ** Mestre em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Docente na UNIP dos cursos livres sobre sustentabilidade e responsabilidade social. Artigos sobre o desenvolvimento local e redes sociais. email: teresa.stefani@uol.com.br *** Mestranda em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Especialista em gestão de projetos sociais para organizações não governamentais. Artigos sobre redes sociais e empreendedorismo social. email: camapali@hotmail.com


Abstract The purpose of this work is to carry out a theoretical essay that relate concepts of sustainability and how they are applied and linked to education. As theoretical support some concepts of institutional theoryhave been adopted, such as field, structure and social skill, that allow understandinghow peopleact in relation to already legitimizedsocial structures. Considering that sustainability and education are two fields that have their structures and social actors, speeches and their intersection were analyzed. It has been made a brief summary of the formation of the sustainability in educationfield, beginning with environmental education and evolving to sustainable development, generating conflicts in the current structures that fail to meet new demands. Institutionalentrepreneursariseas catalystelementsofthistransformation. It is presented an argument that reinforces the importance of modifying the education, the tragedy of the Commons, which is based on the fact that the individual action without considering the collective ruins the society as a whole. Finally, it is shown Paulo Freire’s pedagogy, based on the promotion of citizenship, which takes into account the collective and cooperation, opposing the individual and competitiveand proposed by current educational system. As final consideration, some empirical studies are suggested in order to demonstrate the benefits of education for sustainable development, which will lead to new social structures, more appropriate to the perpetuation of society. Keywords: Education,Institutional Theory, Sustainability.


Introdução Educação e desenvolvimento sustentável. Dois temas por si só amplos e complexos, mas que precisam andar juntos para apoiar a sociedade na busca de soluções para a problemática socioambiental que estamos enfrentando atualmente. Conceitos da teoria institucional são utilizados para dar luz aos campos da educação e da sustentabilidade, ajudando a endereçar discussões que contribuam na reflexão para avanços no caminho que está sendo percorrida rumo a uma sociedade sustentável. Trata-se de um ensaio teórico, que traz reflexões a partir de opiniões de diversos estudiosos da sustentabilidade para a discussão de um tema tão atual. Adicionar elementos a uma das poucas coisas unânimes neste tema: a certeza de que a solução para o desenvolvimento sustentável passa pela educação, que através dela se poderão encontrar alternativas viáveis para endereçar a problemática socioambiental que a sociedade tem enfrentado.

Teoria Institucional A teoria institucional contribui para a compreensão de questões pertinentes àinserção da sustentabilidade na educação, bem como a identificação de elementos que promovem e outros que limitam a institucionalização de um processo de educação para o desenvolvimento sustentável. Serão abordados neste ensaio teórico conceitos como campo, estrutura ehabilidade social, quevalidam e legitimam o campo pelas regras e valores vigentes dentro de seus limites. GARUD et. al. (2007) descrevem um campo como sendo um espaço onde as estruturas estão definidaspor atores que detêm o poder e a ordem estabelecida confirmasua manutenção. E esforçossão feitos para dar continuidade à situação atual, gerando recompensas aos agentes que garantem a conformidade. Fligstein (2007) afirma há uma microestrutura dentro do campo, que explica a atuação dos atores no campo, ou seja, “é a combinação de recursos, de regras preexistentes e das habilidades sociais dos atores que funciona para produzir campos, estabilizá-los periodicamente e produzir a transformação” (FLIGSTEIN, 2007, p. 69). A


habilidade socialé a capacidade de motivar os outros a tomar parte em uma ação coletiva, podendo partir de uma pessoa ou um grupo.Diferente do que a sociologia clássica teorizava, que as estruturas que promoviam as mudanças sociais ou mantinham sua reprodução, os campostêm estruturas que se mantêm estáveis por algum tempo, até que sejam modificados por situações e pessoas que decidam desafiá-los, podendo vir de fora ou de dentro do campo. A partir da concepção de que os atores sociais têm uma papel independente das estruturas na mudança social, Mendonça et al (2010) defendem que, os controladores do campo lutam para manter a ordem vigente e, para aqueles que não estão satisfeitos, resta a luta pela mudança. Ou seja, As estratégias dos agentes ortodoxos (dominantes) tendem a criar uma série de instituições e mecanismos que asseguram sua dominação (rituais, cerimônias, títulos, certificados etc.). Os agentes heterodoxos (desafiantes) tendem a mostrar que estão descontentes com o status quo, valendo-se de estratégias que subvertem a distribuição de poder dentro do campo (as chamadas heresias), as quais implicam um contínuo confronto com a ortodoxia. (MENDONÇA et al, 2010, p. 4)

Este cenário demonstra que a mudança ocorre, apesar da resistência das estruturas vigentes de poder, quando os desafiantes encontram formas de articular ações empreendedoras, ‘convencendo’ os demais a modificar os valores e criando estruturas que atendam às novas formas de poder alinhadas com os desafiantes, expandindo os limites do campo. Os responsáveis por essas ações empreendedoras são chamados de empreendedores institucionais, que, conforme definição de Garudet al (2007) são indivíduos ou grupos de indivíduos, que atuam com interesses em determinados arranjos institucionais e que conseguemarregimentar recursos para criar novas instituições ou transformar as existentes. As habilidades sociais dos empreendedores institucionais, bem como o poder que eles detêm no campo estabelecido, geram transformações mais ou menos profundas no campo e em suas estruturas. Battilana (2009), por sua vez, afirma que essas transformações são realizadas pelos empreendedores porque eles são capazes de exercer uma visão crítica do ambiente, de criar condições para mudá-lo e de conseguir realizar a mudança necessária para alcançar um novo patamar. “Esses empreendedores são atores estratégicos hábeis que encontram formas de induzir grupos muito diferentes a cooperar, colocando-se na


posição dos outros e criando significados que exercem apelo a um grande número de atores”. (FLISGSTEIN, 2007, p.62). Para este estudo, a educação e a sustentabilidade, foram consideradas campos. A educação é um campo historicamente mais antigo, com estruturas tradicionais e legitimadas. Já o campo da sustentabilidade, iniciou com esta nomenclatura a partir da década de 1970, no exterior. Estes dois campos começaram a se correlacionar através da educação ambiental, sendo considerado um marco mundial a I Conferência Intergovernamental sobre educação ambiental, que ocorreu em Tbilisi, Geórgia em 1977, promovida pela UNESCO, um órgão das Nações Unidas. Em países da União Européia o tema tem sido praticado há mais tempo que no Brasil, cuja I Conferência Nacional sobre o tema ocorreu em 1997, 20 anos depois da realizada no cenário internacional (LIMA, 2003). Mais recentemente, a educação ambiental passou a ser reconhecida como educação para sustentabilidade ou educação para o desenvolvimento sustentável. A seguir, será apresentado um resumo dos discursos mais bem aceitos na educação e na sustentabilidade, para posterior conexão dos mesmos.

Discursos de Educação e Sustentabilidade Como

forma

de

alcançar

a

transformação

da

sociedade

rumo

ao

desenvolvimento sustentável, a educação surge como instrumentopara promover novos valores, mais sensíveis e favoráveis aos aspectos socioambientais. Lima (2009) sugere que Por meio da educação, tratava-se, então, deestimular uma socialização pró-ambiente, capazde explorar suas funções de reprodução culturalnaquilo que a herança cultural valoriza: avida humana, social e natural, e de transformaçãocultural daqueles aspectos da tradição e adas culturas dominantes que produzem processosde degradação da vida social e ambiental.

Porém, como conseguir transformar “aspectos da tradição e da cultura dominantes que produzem processosde degradação da vida social e ambiental”, quando as escolas são parte integrante desta cultura? (LIMA, 2009).


A educação é como já dito anteriormente, um campo institucionalizado, que vem sofrendo questionamentos de diversos outros campos, bem como de atores internos a ele. Os atores com o discurso da sustentabilidade trazem propostas de modificação e até mesmo de ruptura das estruturas tradicionais da educação. Dando voz aos adeptos do discurso da sustentabilidade, Gadotti (2007) afirma que, para incorporá-la, o campo da educação precisa ser transformado. Ele defende ainda que O conceito de sustentabilidade na educação pode terum impacto positivo não só no que se refere aosindivíduos, mas também nas necessárias mudanças dosistema educacional. Assim, podemos falar de umimpacto no nível legal, reformas educacionais,curriculum, conteúdos, e no nível pessoal docompromisso, engajando numa vida maissustentável. (Gadotti, 2007, p. 76-77).

Mudanças no campo da educação, para os adeptos do desenvolvimento sustentável, são o caminho para transformar a sociedade atual em sustentável. A evolução da proposta da educação para a sustentabilidade está alinhada com o próprio avanço do campo do desenvolvimento sustentável, que ainda é objeto de questionamentos, não tendo conseguido chegar a um consenso entre os estudiosos do tema. O campo do desenvolvimento sustentável surgiu, pelo menos de maneira institucional, a partir da década de 1970, com o Clube de Roma, quando um documento foi publicado, onde eram expostos os Limites de Crescimento 1, ou seja, o planeta não teria condições de absorver o crescimento populacional esperado. Diversas ações e eventos se realizaram a partir de então. Porém, destaca-se a Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano das Nações Unidas, ocorrido em 1987, o primeiro a discutir em escala mundial, responsável pela publicação do relatório Brundtland, que define como desenvolvimento sustentável “aquele que responde às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, 1991). Foi o primeiro documento das Nações Unidas que projetou o debate social sobre o tema, partindo de uma concepção multidimensional do desenvolvimento. 1 O relatório Os Limites do Crescimento – gerado por um grupo de personalidades de diversas áreas e países do mundo, que, baseados em modelos matemáticos desenvolvidos por um grupo de pesquisadores do MassachussetsInstituteof Technology (MIT), chegaram à conclusão que a Terra não suportaria o crescimento populacional frente à escassez de recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição, mesmo tendo em conta o avanço tecnológico.


A legitimação do discurso que qualifica o desenvolvimento sustentável se deu em 1992, na conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Ambiente, no Rio de Janeiro (VEIGA, 2010). Desde então, o tema tem sido objeto de muitas discussões, inserindo-se cada vez mais no cenário mundial. Mesmo com todos os avanços alcançados nas últimas décadas, não se pode afirmar que o conceito de desenvolvimento sustentável já tenha sido institucionalizado, ou seja, ainda não estão completamente definidos os limites deste novo campo. O campo da sustentabilidade começou a se delinear na educação através da educação ambiental, e vem sofrendo evolução acelerada. A proposta inicial focou no indivíduo e se inseriu como mais uma disciplina na estrutura tradicional da educação, limitando-se a atividades de reciclagem e propondo uma mudança de atitude pessoal diante do meio ambiente. Dentre as principais críticas sofridas por esta abordagem está a de que traz uma visão reducionista, que trata a crise ambiental como meramente ecológica, que confunde meio ambiente com natureza, como se a cidade não fizesse parte do meio ambiente e despreza dimensões políticas, éticas e culturais. (STERLING, 2001; TILBURY, 1996; SAUVÉ, 1997 apud LIMA, 2003, p. 109). LIMA (2003) afirma ainda que a solução está em abordar de maneira mais holística, com uma visão mais crítica da questão socioambiental, aplicando metodologias interdisciplinares, com criatividade, propondo respostas comportamentais e tecnológicas para solucionar problemas de maior complexidade. Verifica-se uma evolução na educação desde a educação ambiental até o momento, com o discurso da educação para o desenvolvimento sustentável. Porém, é importante salientar que este discurso ficou mais restrito às ideias e discussões, não tendo sido objeto de grandes modificações efetivas na estrutura da educação, atendo-se ainda mais à reciclagem, que, embora essencial, não é suficiente para a criticidade deste desenvolvimento sem levar em conta também os aspectos social, político e cultural. Contata-se que o campo da educação está instável por causa dos questionamentos advindos da sustentabilidade, mas não houve institucionalização de um discurso e ação mais críticos.


O Discurso Atual Uma das críticas que recaem sobre o campo da educação formal atual é que ela propaga e reforça um comportamento predatório e individualista, onde cada aluno se prepara para poder competir melhor num mercado cheio de desafios e rivais (Gadotti, 2007). Portanto, modificar esta estrutura arraigada na educação é um dos desafios para a sustentabilidade, uma vez que um mundo sustentável pressupõe novas formas de abordar a sociedade em sua dimensão coletiva. Para reforçar a importância de modificar a educação, e também a sociedade, para orientá-la para o coletivo, um artigo de GarettHardin (1968), biólogo inglês, tornou-se bastante emblemático, uma vez que chama a atenção para a forma como a sociedade atual lida com seus problemas. O autor ilustra sua ideia através do exemplo de uma pastagem de uso comum a diversos pastores. Cada pastor pode utilizar-se do espaço e adicionar tantos animais quantos sejam interessantes para si. Ao adicionar um animal, o pastor é o único beneficiado com o lucro adicional da venda do animal. Ao mesmo tempo, a pastagem como um todo sofre degradação marginal, proporcional a cada animal inserido nela, sem que o pastor que o adicionou seja onerado por isso. A conclusão é que, o ganho individual e a degradação coletiva levam a uma “tragédia dos comuns”, uma armadilha social que condena o recurso comum à ruína no caso de exploração além de sua capacidade de recuperação. Hardin afirma que há dois tipos de problemas: os que podem ser resolvidos por uma solução técnica e os que não podem. Defende que a superpopulação e a poluição dos recursos naturais são do segundo tipo. A solução proposta, para que não haja colapso dos recursos naturais, é uma mudança de comportamento dos integrantes do todo. Um caminho para realizar a mudança no comportamento da sociedade é trilhado pela educação. É como tratar o indivíduo que é o aluno, de modo que passe a pensar e agir coletivamente. FREIRE (1989) sugere umatransformação na educaçãopara transformar a posição tradicional individualista, numa interação coletiva: Uma educação completamente diferente da educação colonial. Uma educação pelo trabalho, que estimule a colaboração e não a competição. Uma educação que dê valor à ajuda mútua e não ao individualismo, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade e não a passividade. Uma educação que se fundamente na unidade entre a prática e a teoria,


entre o trabalho manual e o trabalho intelectual e que, por isso, incentive os educandos a pensar certo. (FREIRE, 1989, p. 49).

Freire, com sua proposta de orientar a educação para a promoção da cidadania, a partir da vivência do aluno, traz uma discussão importante da forma de pensar o indivíduo frente ao coletivo.

Considerações Finais Os elementos teóricos abordados neste trabalho direcionaram uma reflexão sobre como a disciplina de sustentabilidade é aplicada no campo da educação formal atual. Nota-se uma evolução, saindo da educação ambiental, com uma visão bastante reducionista e simplificada do que seria sustentabilidade, para uma visão de futuro, compartilhada por todos, ainda que de maneira incipiente, pois não se vê realizada na prática. O discurso do desenvolvimento sustentável propõe uma educação crítica, holística e orientada ao coletivo. A interdisciplinaridade da sustentabilidade é um desafio para a educação, uma vez que seu formato atual, por disciplinas estanques, torna sua implementaçãomais complicada. Há, portanto, necessidade de modificar a estrutura educacional vigente, mas ainda não se chegou a um consenso sobre como e o que deve ser feito. De um lado, uma estrutura rígida, apoiada em modelos de atuação hierárquicos e tradicionais, de outro vem o desafiantes propondo uma reformulação dos papeis dos diversos atores, como os professores, os diretores, até mesmo a estrutura física das escolas. Novas formas de organizar o espaço, sem classes definidas por idade, mas por projetos ou por interesse dos alunos pode ser uma solução. O discurso da educação para a sustentabilidade é um elemento desafiante do campo, mas ainda sem legitimação, pois não há resultados efetivos de trabalhos de escolas sustentáveis em número suficiente para fundamentá-lo. O que se verifica hoje são aulas de educação ambiental, mais orientadas à reciclagem do que ao desenvolvimento sustentável de maneira mais ampla. A educação precisa atuar para levar a sociedade a desenvolver novas estruturas sociais, uma vez que as atuais são insustentáveis, pois reforçam o individual e a competição entre os alunos. O princípio do discurso desafiante está nas discussões entre


o coletivo e o individual, que, em outras palavras, passa por mudar as formas de interação e relação entre as pessoas, para que a educação comece a formar pessoas com visão crítica, cientes de seu papel de cidadãs, preocupadas com as questões socioambientais e as gerações futuras. Mudanças nos campos são processos conflituosos e difíceis de ser implementados e precisam de atores com habilidades sociais capazes de induzir a cooperação de muitos para gerar um movimento com força suficiente para transformar egerar uma nova ordem social. E a sustentabilidade é um dos combustíveis que fornece a energia para a transformação do campo da educação. Existem outros combustíveis, como a violência nas escolas, a internet, novos equipamentos tecnológicos que têm desestabilizado esse campo. A mudança necessária é tão complexa que torna a ação de difícil concretização, uma vez que demanda um consenso entre os atores que querem a manutenção da estrutura vigente e os desafiadores que querem sua transformação. Os conflitos são desafiadores e não levam a relações harmoniosas, mas são necessários à evolução da sociedade rumo ao desenvolvimento sustentável. São sugeridos estudos para estruturar o campo da educação, direcionando para a dimensão coletiva, com ênfase nas questões éticas e de cidadania, como forma de contribuir ainda mais para a reflexão do tema educação para a sustentabilidade.


Referências Bibliográficas BATTILANA, Julie; LECA, Bernard; BOXENBAUM, Eva (2009).“How Actors Change Institutions: Towards a Theory of Institutional Entrepreneurship”. In: The Academy of Management Annals, v. 3, n.1, p. 65-107. BRUNDTLAND, Gro Harlem (org.)(1991). “Nosso Futuro Comum: Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. FREIRE, Paulo (1989). A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez. FLIGSTEIN, Neil (2007).“Habilidade Social e a Teoria dos Campos”.In:Revista de Administração de Empresas, v. 47, n.2, pp. 61-80.

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VEIGA, José Eli da (2010).Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor. São Paulo: Editora Senac.


Capítulo 3: Construção e Cidades Sustentáveis


A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: impasses políticos, técnicos, legais e metodológicos Dirlei Andrade Bonfim1 Juliana Oliveira Santos2 Rubens Jesus Sampaio3 Milton Ferreira da Silva Junior4 RESUMO O acelerado processo de urbanização e a transformação de cidades em metrópoles e de metrópoles em megalópoles, juntamente com o atual modelo de produção capitalista têm provocado inúmeros problemas para a destinação do grande volume de resíduos sólidos gerados. As metodologias, as leis e as resoluções propostas não têm conseguido apresentar uma solução que venha resolver, ou mesmo, minimizar tal problema. Este artigo analisa os graves problemas causados pelos resíduos sólidos urbanos e propõe que os padrões metodológicos que, somente levam em consideração aspectos técnicos e econômicos, sejam substituídos por outros que coloquem os limites ambientais, as necessidades e os conflitos humanos em primeiro lugar. Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos. Cidades. Produção Capitalista. ABSTRACT The accelerated process of urbanization and the transformation of cities into metropolises and megalopolises metropolises, along with the current model of capitalist production have caused numerous problems for the allocation of the large volume of solid waste generated. The methodologies, laws and proposed resolutions have failed to present a solution that will solve, or even minimize this problem. This article examines the serious problems caused by the MSW and proposes methodological standards that only take into account technical and economic aspects, to be replaced with others that environmental limits, needs and human conflicts in the first place. Keywords: Municipal Solid Waste. Cities. Capitalist Production. 1 INTRODUÇÃO Com o aumento da população mundial hoje estimada em 7,0 bilhões e o grau de urbanização que representa 75% do total da população vivendo em cidades, torna-se clara a necessidade de uma reavaliação sobre os modelos de produção, consumo e crescimento

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Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Professor da Faculdade Independente do Nordeste, 45.000-000 Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; E-mail: dirleibonfim@gmail.com. 2 Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Enfermeira da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Docente da Faculdade Juvêncio Terra. 45.020-750 Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; E-mail: juli.os@ibest.com.br. 3 Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Professor da UESB 45.000-000 Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, E-mail: rubens.sampaio@oi.net.br. 4 Doutor. Professor do DCAA e PRODEMA da UESC. Email notlimf@gmail.com. 1


econômico adotados pela grande maioria dos países, em decorrência da dificuldade do correto gerenciamento e da disposição final de resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados. A perspectiva na é animadora se tomarmos como base crescimento do número de grandes cidades. Em 1950 havia apenas uma megalópole com mais de 10 milhões de habitantes no mundo, Nova York. Em 2000 esse número já subira para 19, esperando-se para 2015 23 megalópoles, entre as quais algumas como Tóquio, Mumbai, Cidade do México, Lagos e São Paulo com mais de 20 milhões de habitantes. Percebe-se, claramente, que o ritmo acelerado de utilização de matérias primas para a satisfação das necessidades do homem urbano, tem sido um problema na a natureza, pois não tem dado, na maioria dos casos, oportunidade para a recomposição do planeta. Segundo Deleuze (apud WILLIAMS, 2012, p. 98), “um problema é determinado pelas relações seriais de estruturas, ou seja, pelo modo no qual diferentes estruturas se encontram e se chocam”. Há evidências suficientemente comprovados de que a natureza e o modelo capitalista de produção são estruturas que vêm se chocando por trabalharem em velocidade e tempo diferentes. Para Altvater (2010, p.24), a sobrecarga das reduções das emissões causadas pela produção e pelo consumo (gases nocivos ao clima, efluentes e resíduos) na coluna do output do metabolismo com a natureza é ainda mais dramática do que a finitude do input de um modo de produção capitalista de propulsão fóssil.

Salienta ainda que: a base de recursos da acumulação capitalista encolhe, sobretudo as reservas de petróleo começam a esgotar-se. A poluição do planeta avança sem freios e sem reduções. Juntamente com o clima, os gases-estufa transformam as condições de vida na terra de modo talvez catastrófico. O capitalismo perde seus recursos, a reprodutibilidade do planeta Terra está em vias de ser destruída (ALTVATER, 2010). 2 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) determina que a prioridade na gestão dos resíduos não é voluntária e sim obrigatória, prevendo a não geração, a redução, a reutilização, a reciclagem e o tratamento. Prevê ainda a adoção da logística reversa, por meio de ações para coletar os resíduos sólidos e devolvê-los ao setor empresarial. Inicialmente, a logística reversa engloba o recolhimento de resíduos e embalagens de 2


agrotóxicos; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Vale ressaltar que em agosto de 2014 acaba o prazo para o cumprimento da Lei 12305/2010 (PNRS) onde a meta estabelecida é acabar com os lixões em todo o país, além de investir em cooperativas de catadores e em parcerias para aumentar a coleta seletiva e da destinação adequada do lixo não reciclável. A PNRS determina que os aterros devem receber apenas rejeitos, ou seja, aquilo que não é possível reciclar ou reutilizar e serão estruturas que devem ter o preparo do solo para evitar a contaminação de lençol freático e captarão o chorume que resulta da degradação do lixo. Além destas determinações, como, mesmo com a disposição final adequada, os RSU produzem emissões de gases causadores do efeito estufa, os aterros deverão gerar energia com a captação dos gases gerados. Para estimar a composição e o quantitativo do biogás a ser produzido no aterro, pode ser utilizado o modelo matemático do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) (UNITED NATIONS, 2013). Com a implementação das medidas determinadas pela PNRS, um dos objetivos é alcançar um índice de reciclagem de resíduos da ordem de 20% em 2015. A 4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA) marcado para outubro de 2013 representa uma pré-avaliação das possibilidades de cumprimento das determinações da PNRS. No referido evento, as contribuições de representantes da sociedade civil, de governos e do setor privado para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no país serão avaliadas, além disso, esses setores vão apresentar, de maneira conclusiva, as estratégias que já foram incorporadas em suas atividades e as novas medidas que ainda poderão ser adotadas. Os dados indicativos de 2011 não sinalizam de que estamos indo na direção requerida pelo dispositivo legal, a Lei 12305/2010 (BRASIL, 2010). 3 GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL: IMPASSES POLÍTICOS E TÉCNICOS Em 2011 o Brasil gerou 61,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Este número é 1,8% a mais do que no ano de 2010 (ABRELPE 2011). 55,5 milhões de toneladas de RSU foram coletadas, isto significa 90% do total gerado. 10% de tudo o que foi gerado foram depositados em terrenos baldios, ruas, córregos, lagos e praças. 3


Do total de RSU coletado em 2011, 42% acabaram em locais inadequados, isto é, lixões e aterros controlados. Levando em conta o ponto de vista ambiental, os aterros controlados têm o mesmo impacto negativo que os lixões. Na prática, são lixões melhorados por serem áreas que não recicla, reaproveita e reutiliza o RSU coletado e não fazem o tratamento do chorume. Nos dois casos o meio ambiente não é protegido, como seria caso os RSU fossem adequadamente depositados em um aterro sanitário como determina e supõe a lei 12305 (BRASIL, 2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Tomando como base os dados do Panorama Brasil 2011 (ABRELPE, 2011) nota-se que em 2011 a situação piorou. Em 2010 o volume de destinação inadequada foi de 22,9 milhões de toneladas contra 23,2 milhões de toneladas em 2011. Essa deposição inadequada provoca vários danos ao meio ambiente. Em alguns casos os impactos são irreversíveis. No ano de 2010 em comparação com 2009 os dados do IBGE (2010) sobre o tema já não davam uma sinalização animadora. A geração de RSU novamente registrou um crescimento expressivo de 2009 para 2010, conforme indica a Figura 1. A geração de RSU superou a taxa de crescimento populacional urbano que foi de cerca de 1% no período. Figura 1 - Geração de RSU no Brasil

Fonte: IBGE (2010); ABRELPE (2010)

Em 2010 61% dos municípios brasileiros ainda faziam uso de unidades de destinação inadequada de resíduos, encaminhando-os para lixões e aterros controlados. O Panorama Brasil 2011 indica ainda que dos 5.565 municípios brasileiros, 58,6% do total, afirmam ter iniciativas de coleta seletiva, o que significa um aumento de 1% em

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comparação ao ano anterior. Entretanto, apenas 27,7% das cidades dispõem de aterros sanitários, segundo dados do Ministério das Cidades (BRASIL, 2011). De todo o RSU coletado, a região Sudeste responde por 53% e a região Nordeste por 22%. Nessas duas regiões estão concentrados 75% de todo o RSU do território nacional. O Brasil ainda tem 4 mil lixões. Deste total, 1,7 mil estão na Região Nordeste. Em relação à coleta de lixo hospitalar, os municípios coletaram e destinaram 237,6 toneladas de resíduos sólidos de saúde (RSS) das quais 40% têm destino inadequado, indo para lixões, sendo depositados sobre o solo sem tratamento prévio, não só contaminando o meio ambiente, mas trazendo um risco muito grave para as pessoas que catam resíduos nesses lixões. Segundo Hawken, Lovins e Lovins (2004) somente a indústria da construção civil consome um terço da energia total, dois terços da elétrica e um quarto de toda a madeira colhida; no mundo, empregam-se anualmente três bilhões de toneladas de matéria-prima na construção. Estima-se que a construção civil consome algo entre 20 e 50% do total de recursos naturais consumidos pela sociedade (SJOSTROM, 1996). O consumo de agregados, por exemplo, é imenso. Em decorrência da alta utilização de recursos naturais, algumas reservas de matérias-primas, como por exemplo o cobre, tem vida útil estimada de pouco mais de 60 anos (INDUSTRY ENVIROMENT, 1996). Em uma cidade como São Paulo o esgotamento das reservas próximas a capital faz com que a areia natural já seja transportada de distâncias superiores a 100 km, implicando em enormes consumos de energia e são grandes geradores de poluição, dada sua dispersão espacial, transporte a grandes distâncias. Cerca de 80% da energia utilizada na produção do edifício é consumida na produção e transporte de materiais (INDUSTRY ENVIROMENT, 1996). Neste ponto, vale ressaltar que ainda não conhecemos e não temos como avaliar os custos da degradação. Se fizermos cálculos frios, veríamos que algumas medidas de proteção ambiental e de concertos ecológicos são mais dispendiosas do que os próprios danos sofridos pelo meio ambiente. É impossível monetizar as transformações da natureza causadas pelo homem. A natureza não se deixa avaliar em grandezas monetárias, por isso não dispomos de um critério que nos permita medir e comparar com segurança os custos do impedimento e do conserto de danos ambientais nem dos próprios danos ambientais. Mais difíceis ainda são os limites da avaliação monetária da preservação da natureza e dos danos por ela sofridos quando consideramos a evolução. Simplesmente não sabemos nada sobre os efeitos secundários, terciários etc., sobre os danos ambientais, por exemplo, do efeito estufa. Por causa dessa insegurança insuperável, a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 5


realizada em 1992 no Rio de Janeiro, declarou o princípio da prevenção como fio de prumo de toda e qualquer ação política (ALTVATER, 2010, p.224).

O documento final da Rio+20, intitulado “O Futuro que Nós Queremos” continuam apontando na mesma direção, entretanto, o resultado, em última análise, resume-se a uma longa lista de promessas para avançar para uma "economia verde", que freie a degradação do meio ambiente, combata a pobreza e reduza desigualdades. Não são apontadas origens dos recursos para se realizar essa transformação – os meios de implementação –, o que de certa forma, repete um dos problemas da histórica antecessora, a Rio 92. 4 NATUREZA DO CAPITALISMO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: IMPASSES LEGAIS E METODOLÓGICOS Todo o arcabouço legal: Lei 12305 BRASIL 2010 e Resolução 307/2002 CONAMA, bem como, as metodologias propostas para a gestão dos RSU são dispositivos5 eminentemente técnicos que, em um primeiro momento, estão orientados com o objetivo de estabelecer técnicas disciplinares6 e, num segundo momento, voltados para questões econômicas e procedimentos técnicos que tratam o problema dos impactos ambientais dos RSU sem levar em consideração, a priori, as questões humanas. Entende-se que os conceitos de políticas públicas ambientais, propostos pelo aparato legal e metodológico são mecanismos sociais do Estado que tem como objetivo maior a “Governamentalidade7”. De acordo com Foucault (2012) não há na burguesia uma preocupação com o objeto em si (gestão de resíduos sólidos para evitar os impactos ambientais e melhoria da vida dos seres humanos) e sim com os lucros políticos e alguma utilidade econômica. Compreende-se, então, que, dentro da natureza do sistema capitalista, as estratégias e os projetos elaborados

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“[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos” (FOUCAULT, 2012, p. 244). Tratam-se da vigilância hierárquica, pois o “exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”; da sanção normalizadora: as disciplinas “estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um conjunto de comportamentos”; e do exame: “um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir” (FOUCAULT, 2011, p. 165-177). “Conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança” (FOUCAULT, 2012, p. 409). 6


para a correta gestão dos RSU fazem parte de mais uma estratégia que tem com finalidade os benefícios políticos e o retorno financeiro. Williams (2012) concorda com Foucault e complementa, não há nenhum estado prometido e de algum modo livre de todos os males do capitalismo. Altvater (2010, p.323) amplia a compreensão de Williams e Foucault e afirma: no modo de produção capitalista não importa a satisfação de necessidades no âmbito dos limites fixados pela natureza humana, pela comunidade pequena (e pelo metabolismo natural em particular), mas apenas o lucro – daí a acumulação e o crescimento – e, por conseguinte, também a demanda limitada apenas pelo poder aquisitivo monetário. Por essa razão o princípio da suficiência permanecerá ineficaz no âmbito do capitalismo, pois a autorreferencial falta de limites do capitalismo se imporá contra os limites da suficiência.

Desta forma, não há a possibilidade de uma sociedade sustentável sem a implantação de outro sistema diferente do atual. Como este sistema conta com mecanismos de coação inerentes ao próprio mercado que assumem uma forma institucional, vale dizer, política, os enfoques alternativos de uma economia solidária e sustentável são enfrentados por todas as instituições do capitalismo globalizado com medidas de ajustes estruturais, a imposição de condicionalidades na concessão de créditos em combinação com mecanismos de coação inerentes aos mercados liberalizados (ALTVATER, 2010). Indicadores de viabilidade econômica para a implantação de usinas de reciclagem, definições de procedimentos topográficos e de acessibilidade urbana para a instalação de ecopontos e volume necessário de RSU para a instalação de processo de reutilização, reaproveitamento, reciclagem e reintrodução dos resíduos na cadeia produtiva, dentre outros requisitos, comprovam que os aspectos que envolvem o bem estar e a qualidade de vida do homem estão relegados ao segundo plano e são mecanismos de coação do sistema econômico atual. Em nenhum momento as necessidades, os desejos do indivíduo e seus conflitos são pautados. De acordo com Foucault (2012, p.12) “toda teoria é provisória, acidental, dependente de um estado de desenvolvimento da pesquisa, que aceita seus limites, inacabada, parcial, fragmentária, transformável e que, em seguida, são revistos, reformulados, substituídas com base em novo material trabalhado”. Neste aspecto, entende-se que uma metodologia, uma resolução e/ou lei, podem atender temporariamente, sob determinadas circunstâncias, e não surtir o efeito desejado para outras realidades. Pode-se, também, considerar as micro relações de poder na rede social como fator relevante para que tais procedimentos metodológicos e legais tenham o efeito 7


desejado. Em determinadas condições o micropoder ou o macropoder podem ter maior resposta que o emanado do Estado. Os poderes se exercem em níveis variados e em pontos diferentes da rede social, e nesse complexo os micropoderes existem integrados ou não ao Estado, distinção que não foi muito relevante ou decisiva para suas análises na obra Microfísica do Poder, Foucault (2012). A compreensão destes pressupostos e leva-los em conta aperfeiçoa a vida dos homens e potencializa a eficácia das resoluções. Em relação aos processos metodológicos ora utilizados para a gestão dos RSU, vale considerar a assertiva foucaltiana de que: “saber e poder se implicam mutuamente: não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, e, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder” (FOUCAULT, 2012, p.130). Entende-se, então, de acordo com Foucault (2012, p.131) que: “saber é poder e poder é saber”. Deste modo, os postulados metodológicos devem se cercar de cuidados necessários, já que: “vivemos cada vez mais sob o domínio do perito”. É inegável a influência das metodologias adotadas pelo meio acadêmico como eficazes para a gestão dos RSU, nas resoluções e leis emanadas do Estado. Tem-se, ainda, como uma precaução adicional o seguinte fato: Em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que essas relações de poder não podem se dissocias, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação. Uma circulação e um funcionamento do discurso. Não há possibilidade de exercício do poder sem certa economia dos discursos de verdade (FOUCAULT, 2012). Sob esta ótica, a verdade sobre a gestão dos RSU é reafirmada pelo discurso legitimado pelo direito que está a serviço do poder. Um princípio geral no que diz respeito às relações entre direito e poder: parece-me que nas sociedades ocidentais, desde a Idade Média, a elaboração do pensamento jurídico se fez essencialmente em torno do poder real. É a pedido do poder real, em seu proveito e para servir-lhe de instrumento ou justificação que o edifício jurídico das nossas sociedades foi elaborado. No Ocidente, o direito é encomendado pelo rei (FOUCAULT, 2012). Na sociedade moderna a figura do rei é substituída pelo Estado. Foucault (2012) entende que o direito não é simplesmente a lei, mas no conjunto de aparelhos, instituições e regulamentos que aplicam o direito. O objetivo final de instrumentos como órgãos de 8


fiscalização e controle e o aparato burocrático é ser uma das múltiplas formas de dominação que se exerce na sociedade. Legitimando-se pelo arcabouço legal e apropriando-se dos discursos da verdade, o poder funciona e se exerce em rede, ou melhor, em cadeia. Em outros termos, o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles. O indivíduo é um efeito do poder e por isso seu centro de transmissão com seus gestos, discursos e desejos (FOUCAULT, 2012). Cabe, desta forma, ao estudioso do processo de gestão dos RSU “entender a maneira como os fenômenos, as técnicas e os procedimentos de poder atuam nos níveis mais baixos; como esse procedimentos se deslocam, se expandem, se modificam; mas sobretudo como são investidos e anexados por fenômenos mais globais; como poderes mais gerais ou lucros econômicos podem inserir-se no jogo dessas tecnologias de poder que são, ao mesmo tempo, relativamente autônomas e infinitesimais (FOUCAULT, 2012). Cabe, também, entender como esses mecanismos de poder, em dado momento, em uma conjuntura precisa e por meio de um determinado número de transformações começaram a se tornar economicamente vantajosos e politicamente úteis (FOUCAULT, 2012). A burguesia ao vislumbrar o lucro econômico e uma utilidade política passa a colonizar e se sustentar por mecanismos globais do sistema do Estado. Não há uma preocupação com o objeto em si (a gestão dos RSU) e sim com os lucros e alguma utilidade econômica. O mundo globalizado é unificado num campo de valorização, em termos políticos, econômicos e sociais, bem como culturais e linguísticos, com a ajuda das diferentes estratégias de apropriação da produção excedente. Podemos assim inferir que o mundo não se torna apenas uma mercadoria, mas uma mercadoria capitalista, e a transformação do mundo em mercadoria só pode ser desfeita mediante o questionamento do caráter capitalista do mundo (ALTVATER, 2010). Entende-se então, que a implantação de medidas sustentáveis de resíduos virá em decorrência da transformação mundial e isso não acontecerá sem a tomada do poder para a configuração de economia mundial. Foucault (1926 – 1984) concorda com Altvater (2010), e afirma: “nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado, em nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados”. Altvater (2010) entende que a mudança na sociedade proposta por Foucault (2012) consiste em mobilizar a criatividade para neutralizar essas forças, mas também será necessário mobilizar um contra poder, para que as concepções programáticas de solidariedade 9


sustentabilidade possam ser implementadas na realidade. Neste aspecto, não apenas os movimentos sociais desempenham um papel importante, mas também os partidos políticos, os parlamentos e os governos. O capitalismo, baseado nas fontes fósseis de energia, racionalidade industrial de meios e fins produz uma aceleração de todos os processos econômicos e sociais, única na história da humanidade, e, em consequência, um aumento considerável da “riqueza das nações”. Mas a aceleração enseja seleções de caminhos de desenvolvimento que conduzem a becos sem saída na destruição da natureza. Em outras palavras: o capitalismo desenvolve-se mais e mais na direção de um “inimigo da natureza” (KOVEL, 2002). No fim da história, o “melhor de todos os mundos possíveis” destrói os fundamentos da sua própria vida. 5 OS CONFLITOS DE INTERESSES Os próprios dados técnicos divulgados pelos que aplicaram as metodologias propostas para a gestão dos RSU, com o objetivo de atender os ditames legais, comprovam que os objetivos não estão sendo alcançados (ABRELPE, 2011). Os conflitos existentes, desde a implantação de um aterro sanitário em uma cidade, até a relação entre países em torno de medidas sustentáveis previamente acordadas, indicam que os parâmetros adotados com base nas prioridades econômicas do atual sistema e nas metodologias de gestão ambiental não estão atendendo às necessidades e os anseios humanos. Os fatos relatados abaixo são um indicativo das considerações acima estabelecidas: • Rio de Janeiro 17/02/2012 - Moradores do bairro de Chaperó, na divisa de Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio, protestam contra a instalação do novo Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), que estaria emanando odor desagradável e provocando problemas de saúde na população local. O problema principal seriam os reservatórios de chorume a céu aberto, resultado da decomposição das toneladas de lixo trazidas diariamente por caminhões, principalmente da capital. O CTR substituiu o aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, fechado em junho do ano passado (AGENCIA BRASIL, 2013). • Brasília 27/12/2012 – Na tentativa de garantir o financiamento de ações relativas ao desenvolvimento sustentável, a partir de janeiro negociadores de países em desenvolvimento buscarão alternativas. A ideia é fechar até dezembro um documento no qual estarão definidos os detalhes, o calendário e até a estratégia para assegurar os 10


recursos. A iniciativa foi provocada pela ausência de acordo entre os países desenvolvidos em relação aos financiamentos. "Há uma ameaça concreta aos esforços internacionais na medida em que se percebe uma retração muito forte dos países ricos quanto ao financiamento de ações na área de desenvolvimento sustentável", disse à Agência Brasil o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores e coordenador-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. "O caso do Brasil é emblemático. Tivemos as mais baixas taxas de desmatamento desde que o país começou a medir por satélite", destacou o embaixador Machado (2012). Os países em desenvolvimento têm sido responsáveis ao fazer seu dever de casa e, portanto, têm direito de exigir que os países industrializados, que são os responsáveis pelas mudanças do clima, façam sua parte, não só na questão de redução de emissões, mas também no cumprimento de suas obrigações no financiamento das ações nos países em desenvolvimento (MACHADO, 2012).

• Macapá (Amapá) 27/11/2012 – O Brasil é o país que mais reduz o desmatamento e as emissões de carbono no planeta. Ao destacar a posição de liderança do governo brasileiro nas metas previstas em acordos internacionais de mudanças do clima, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira (2012), disse que o país não tem recebido a compensação devida por esses avanços. Acrescentou a ministra, Izabella Teixeira, que participou em Macapá do 3º Congresso Nacional das Populações Extrativistas: O Brasil está fazendo muito sem ter o retorno que poderia ter. O Fundo da Amazônia só tem doação, até hoje, da Noruega, da Alemanha e da Petrobras, uma empresa brasileira que aloca recursos na Amazônia. Cadê os outros doadores? Nós estamos reduzindo o desmatamento. A contribuição brasileira continua (TEIXEIRA, 2012).

Pelos números do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o desmatamento illegal na região caiu de 29 mil quilômetros quadrados (km²) em 2004 – ano em que foi registrada a maior degradação na região - para 6,4 mil km² em 2012. Este mês, o MMA deve divulgar mais uma redução da área degradada. • A expectativa de países em desenvolvimento e nações mais pobres é que o tema volte a ser

debatido durante a 18ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP18), quando as nações menos desenvolvidas esperam avançar na elaboração da segunda etapa do Protocolo de Quioto – que estabelece as metas de redução de emissões de gás de efeito 11


estufa para os países desenvolvidos. A COP18 começa no fim deste mês e vai até o início de dezembro, em Doha, no Catar, com a participação de representantes de 190 países (TEIXEIRA, 2012).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O crescimento da população mundial, a pressão para a expansão territorial das grandes e médias cidades, a ampliação e a aceleração do sistema de produção e consumo industrial para atender as necessidades de excedente do sistema capitalista, têm contribuído para agravar as condições ambientais, principalmente no do cenário urbano. No ambiente urbano, determinados impactos ambientais como a poluição do solo, da água e do ar, ocupação sem o devido ordenamento, a favelização das periferias, edificação de moradias em locais inadequados necessitam ser repensados. Pelos resultados até agora alcançados, percebe-se que em relação à gestão de RSU: todas as metodologias têm seus limites e que as pessoas envolvidas, ainda que sejam não especialistas frequentemente sabem mais do que os especialistas e deveriam, portanto, ser consultadas, já que sofrem as consequências diretas das ações antrópicas. Sendo assim, nenhum novo modelo de gestão dos RSU deve ser implementado sem a discursão, a priori, das causas originadoras de tais impactos e sem a participação da sociedade envolvida. Por outro lado, todo o arcabouço legal emanado do Estado: Resolução 307/2002 do CONAMA; Lei 12305/2010 (PNRS), Lei Federal 10257 (ESTATUTO DA CIDADE), bem como as demais resoluções que tratam da geração de resíduos em porto, aeroportos, rodoviárias, hospitais e postos de saúde, trabalham com uma metodologia que analisa a questão dos resíduos após a sua geração, agindo assim, após o fato consumado e, desta maneira, adota um posicionamento, aparentemente, tácito em relação ao sistema de produção, consumo e econômico em vigor. Não leva em consideração a possibilidade de outro modelo de desenvolvimento em consonância com as necessidades ambientais e humanas. Até mesmo a Constituição Federal ao atribuiu novas responsabilidades aos municípios referentes à promoção de programas e políticas públicas, visando à melhoria da qualidade de vida nas cidades, cometeu equívoco semelhante quando o dispositivo legal determinou que os municípios, juntamente com outras esferas governamentais, passaram a empreender ações visando “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” (BRASIL, 1988, art. 23, inciso VI p.103) e a “controlar a produção, a comercialização e o 12


emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (BRASIL, 1988, art. 225, inciso V p.103). Observa-se, desta maneira que se faz necessária à reestruturação dos setores públicos e privados responsáveis pela legislação, geração e gerenciamento dos RSU, onde deverá, portanto, refletir as mudanças de paradigma, ditadas pelas necessidades ambientais e humanas atuais, formando um novo modelo econômico onde a sobrevivência no planeta e do planeta estejam no ponto mais alto da cadeia de valor. No plano global, o conflito entre os que preservam e os maiores poluidores está posto. Na indecisão entre quem paga e quem recebe, todos perdem. REFERÊNCIAS

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14


Análise de ventilação natural em habitação popular Mario Roberto Nantes Junior*(a,b), Gabriel Borelli Martins(b), Paulo José Saiz Jabardo(b), Gilder Nader(a,b)1

Resumo O processo de urbanização de favelas aliado à necessidade de construção de conjuntos habitacionais sustentáveis e eficientes do ponto de vista energético, tornou primordial um estudo mais detalhado, na fase de projeto, de questões como ventilação e iluminação naturais. Este trabalho trata especificamente de ventilação natural induzida pelo vento. Buscou-se desenvolver uma metodologia de ensaio em túnel de vento para análise da ventilação natural em apartamentos de habitações populares, de forma a otimizar o conforto térmico e a qualidade do ar interior, com o controle adequado de contaminantes. A metodologia utilizada foi composta pela utilização em conjunto das técnicas de visualização de escoamento por fumaça, mapeamento de campo de velocidades com PIV e medição de pressão interna na residência, o que demonstrou grande coerência entre as medições e a possibilidade de melhor entender os fenômenos que influenciam na qualidade da ventilação natural no interior da residência. Neste trabalho foi analisado um apartamento de habitação popular já construído, e não foram considerados os efeitos de vizinhança, os quais podem afetar as características do escoamento de forma positiva ou negativa. Assim, os resultados obtidos devem ser analisados do ponto de vista de um edifício isolado. Foi observado, de modo geral, que quase todos os cômodos apresentaram boas condições de ventilação natural, e somente o banheiro apresentava problema, pois a renovação do ar não ocorreu de forma eficiente. Palavras chave: Ventilação natural, Habitações populares, Túnel de vento de camada limite atmosférica, Conforto Térmico, Qualidade do ar interior

Abstract The upgrading of slums and the need for new energy efficient and sustainable housing makes it important that natural ventilation and lighting be considered accurately. Here, wind induced natural ventilation is studied. One of the objectives is to develop a methodology for wind tunnel testing of natural wind ventilation in apartments of affordable housing so that comfort and air quality is optimized. The flow was visualized using smoke as a tracer and measured inside the apartment using Particle Image Velocimetry. The internal pressure in the rooms of the apartment was measured as well. The results were then used to understand how different aspects of the layout improve or worsen natural ventilation. A single apartment was analyzed and neighborhood effects, that can significantly alter the results, were not considered for now. The results show that, in general, most rooms were well ventilated with the exception of the bathroom where air renewal was not very efficient. Keywords: Natural ventilation, Popular housing, Boundary Layer Wind Tunnel, Thermal comfort, Indoor Air Quality

1(a) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Rua Prof. Almeida Prado, 532 – Butantã – São Paulo – SP, CEP: 05508-901 (b) FATEC Tatuapé – Rua Antonio de Barros, 800 – Tatuapé – São Paulo – SP, CEP: 03401-000


1. Introdução

No processo de urbanização de favelas são produzidas habitações com interesses sociais. Porém, sabe-se, por meio de reclamações de moradores, que esses ambientes possuem pouca ventilação, são escuros e úmidos. Para o problema de desconforto térmico e baixa qualidade do ar interior, pode-se adotar como solução a ventilação mecânica, enquanto para o problema de iluminação pode-se introduzir maior número de luminárias. Contudo, devido ao consumo de energia envolvido, é preferível a adoção de sistemas de ventilação e iluminação mais eficientes e econômicos (Assis, 2007). Nesse sentido, é mais interessante adotar projetos que privilegiem a ventilação e iluminação naturais, visando solucionar os problemas já citados. Modelagens experimentais em túnel de vento, de novos e antigos projetos arquitetônicos, fornecem a arquitetos e engenheiros dados importantes de carregamento estrutural e conforto ambiental, que dão subsídios para o desenvolvimento de projetos de moradias seguros e eficientes do ponto de vista energético. Grande parte dos projetos atuais é desenvolvida pensando-se na ventilação natural por convecção por ser relativamente mais simples se comparada à ventilação natural induzida pelo vento, contudo, a última nem sempre é benéfica e deve, em alguns casos, ser considerada pelos projetistas (Jiang, 2003). No presente trabalho buscou-se desenvolver uma metodologia para ensaio de ambientes internos, além de identificar e tabular os principais problemas de ventilação natural de um apartamento típico de habitação popular, para que projetos futuros possam evitar os mesmos problemas identificados. Para tanto, foi feita uma análise estratégica do escoamento interno em modelo reduzido de um apartamento, no túnel de vento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. Não foi estudado um local de construção específico, portanto a topografia e a vizinhança não foram consideradas. Neste trabalho foram considerados somente a própria arquitetura interna do apartamento e formato de janelas e frestas que afetam a ventilação interna (Zaki, 2012). O modelo reduzido utilizado no ensaio reproduz todas as paredes, janelas, portas e corredores de uma habitação popular específica com dois dormitórios, uma sala, uma cozinha, um banheiro e uma área de serviço. Foi realizada visualização do escoamento


interno, medição do campo de velocidades em duas alturas com PIV (Particle Image Velocimetry) e medição da pressão em pontos específicos das paredes internas e externas do apartamento (para tanto foram utilizadas 113 tomadas de pressão). O objetivo foi verificar qualitativamente e quantitativamente pontos de estagnação do escoamento e corredores de vento. As portas e janelas presentes no apartamento podem estar abertas ou fechadas, produzindo uma quantidade enorme de combinações possíveis. Neste trabalho mantiveram-se todas as portas e janelas abertas para realização dos ensaios, que foram feitos em diversos ângulos entre 0° e 360°. 2. Metodologia

Foi construído, em acrílico, um modelo em escala 1:15 de um apartamento típico de habitação popular. O apartamento possui dois dormitórios, uma sala, uma cozinha, um banheiro e uma área de serviço, como pode ser visto na planta da Figura 1, onde também são mostradas as orientações do modelo em relação à direção de incidência do vento, adotadas nestes ensaios no túnel de vento. Na Figura 2 é mostrada uma foto do modelo construído. O apartamento estudado apresenta cinco janelas externas, uma janela entre o banheiro e a área de serviço, uma porta de entrada e quatro portas internas que possibilitam o deslocamento entre os cômodos, totalizando 11 aberturas. Para esse trabalho, optou-se por estudar o caso em que todas as aberturas permaneceram desobstruídas, pois das informações prévias obtidas por meio da visualização do escoamento, essa se mostrou a condição com melhor ventilação natural. Também deve ser notado que se fossem realizadas todas as combinações possíveis de portas e janelas fechadas e abertas, haveria um total de 2048 combinações, o que inviabilizaria esse trabalho. Ademais, não foram considerados elementos internos como geladeira, fogão e armários. Dependendo da localização de tais elementos, o escoamento pode ser alterado.


Figura 1 – Planta do apartamento estudado e orientação das direções do vento utilizadas nesse trabalho


Figura 2 – Modelo construído para os ensaios. O apartamento foi estudado isoladamente, desta forma não foram modelados o restante do edifício, topografia e vizinhança. A alteração da rugosidade do terreno implicará em mudança da altura da camada limite e, consequentemente, alteração nos coeficientes de pressão e adimensionais de velocidade. A vizinhança, por sua vez, pode provocar efeitos localizados para incidências do vento específicas. Assim, neste trabalho se buscou observar as características de ventilação natural nas melhores condições de incidência do vento no apartamento. Os ensaios foram realizados no túnel de vento do IPT (ver Figura 3), que possui 40 m de comprimento, seção de testes com 28 m de comprimento por 2 m de altura e 3 m de largura. Este túnel possui duas seções de testes com mesas giratórias, uma instalada na entrada do túnel, logo após a contração (ver Figura 4), que é denominada seção aerodinâmica, pois apresenta perfil de velocidades uniforme e intensidade de turbulência menor que 1%; e a segunda seção de testes, denominada turbulenta, está instalada próxima ao ventilador que opera na sucção. Nesta seção turbulenta se modelam os ventos naturais e suas características, como camada limite, perfil de velocidades, comprimento de rugosidade etc. (NBR 6123:1988).


Figura 3. Foto do Túnel de Vento do IPT

Figura 4. Esquema do túnel de vendo do IPT em planta e elevação

2.1.

Visualização

A primeira etapa foi a de visualização do escoamento no interior dos cômodos, visando identificar locais de possíveis problemas de circulação de ar. Para isso, utilizouse o gerador de fumaça SAFEX NS2. O modelo foi posicionado no túnel de vento conforme mostra a Figura 5.


Figura 5 – Montagem do modelo no túnel de vento e gerador de fumaças utilizado para visualização do escoamento no interior do apartamento

2.2.

Medições com PIV

As medições com PIV ocorreram na seção de testes turbulenta, como mostrado na Figura 6. Mediu-se o campo de velocidades no interior dos cômodos no plano horizontal a 90 mm de altura acima do piso do apartamento, na escala do modelo, o que coresponde a 1,35 m na escala do protótipo, para os ângulos de 0° e 180° (para orientação adotada neste trabalho vide Figura 1). Especificamente para o banheiro foram feitas medições adicionais a 45° e 315° (no mesmo plano localizado a 1,35 m do piso) e a 0° e 180° para o plano localizado a 150 mm (2,25 m na escala do protótipo) do plano do piso. Os ensaios de PIV foram realizados à velocidade do vento de 12,7 m/s medida na altura do protótipo (escala real) de 20,55 m. Essa velocidade foi utilizada para adimensionalizar os campos de velocidades.


Figura 6 – Montagem do modelo na seção de testes atmosférica para ensaios com PIV.

2.3.

Medições de pressão nas paredes

Complementar à visualização e aos ensaios com PIV, a distribuição de pressão ao longo das paredes do modelo foi analisada por meio de 113 tomadas de pressão distribuídas estrategicamente. Foram feitas medições de pressões externas e internas no modelo, utilizando o sistema da Pressure Systems, a uma frequência de amostragem de 167 Hz. Todas as pressões estáticas foram medidas simultaneamente. Para este trabalho, não houve preocupação em se simular, no túnel de vento, uma camada limite atmosférica correspondente a um terreno em específico, já que foi modelado somente um apartamento isolado, e a preocupação era analisar as características do escoamento e pressões no interior da residência.


Para o cálculo dos coeficientes de pressão, foi realizada medição de uma pressão de referência na altura de 195 mm na escala do modelo, o que corresponde a 2,92 m na escala do protótipo, ou seja, a altura do teto do modelo em relação ao seu próprio piso. De posse das séries temporais de pressão, foram calculados os coeficientes de pressão médios utilizando a equação abaixo: T

1 1 Ć P= . .∫ [ p ( t )−P 0 ] dt q ref T 0

Sendo T o período de aquisição, t o tempo, p a pressão instantânea,

P0

a pressão

estática de referência (no caso dada pela média da pressão estática da seção de testes). A pressão dinâmica

q ref

é calculada por:

1 2 q ref = . ρ.U ref 2

Onde

U ref

é velocidade correspondente à altura de referência, no caso 195 mm

na escala do modelo. Esses ensaios também foram realizados para a velocidade do vento de 12,7 m/s na altura 20,55 na escala do protótipo, como no caso do ensaio com o PIV. Para análise inicial dos dados de pressão interna foi tirada a média aritmética dos coeficientes de pressão médios por cômodo. Este procedimento foi adotado já que as tomadas de cada cômodo não apresentaram grandes divergências nas pressões médias medidas por ângulo de incidência do vento, como está ilustrado na Figura 7 para as tomadas de pressão internas da sala.


Figura 7 – Coeficiente de pressão médio das tomadas localizadas no interior da sala.

Assim, o coeficiente de pressão médio do cômodo é definido por: n

C P ́,COM =∑ ĆP i i=1

Onde n é o número de tomadas internas do cômodo.

3. Resultados

Nesta seção são mostrados todos os resultados dos mapas de velocidades e dos coeficientes de pressão em cada repartição do apartamento. Verificou-se que no geral há uma condição de renovação do ar nos quartos, sala e cozinha. No entanto, no banheiro verificou-se que a renovação do ar se dava de forma muito lenta, indicando que este é um local mais quente, que há acúmulo de odores e pode haver também uma maior


umidade, pois, além do ambiente ser naturalmente mais úmido, também não ocorre boa circulação de ar. Os resultados obtidos com o PIV e mostrados a seguir, devem seguir a seguinte interpretação: as flechas indicam a direção média do escoamento no interior do cômodo e seu módulo, aliado às cores do mapa de velocidades, indica a magnitude da velocidade adimensional (U/Uref), que foi obtida da seguinte forma: U é a velocidade medida em cada ponto no interior do cômodo pelo PIV. Uref = 12,7 m/s, que é a velocidade de referência obtida a 20,55 m de altura na escala do protótipo. Ou seja, a velocidade adimensional informada nas figuras da seção 3.1 indica a relação entre a velocidade do vento ao longe e a velocidade do escoamento do ar no interior de cada cômodo. As alturas do mapeamento do campo de velocidades com o PIV, e indicados nas figuras da seção 3.1, foram convertidas para a escala do protótipo, ou seja, foram realizadas medições nas alturas correspondentes ao apartamento real em 1,35 m e 2,25 m acima do nível do piso.

3.1.

Análise da circulação do ar no banheiro com o PIV e visualização

Na visualização inicial realizada na seção aerodinâmica do túnel de vento, verificouse que o banheiro, no arranjo físico estudado, pode apresentar problemas de renovação do ar, principalmente quando o ângulo de incidência do vento for igual a 0°. De fato, a presença da janela entre o banheiro e a área de serviço não contribui significativamente para a ventilação natural para incidência de 0°, 45° e 315° (ver Figuras 8 - 13). Os ensaios realizados com PIV deixaram isso bastante claro, como se pode verificar nas Figuras 8, 9, 12 e 13. Vale ressaltar que, pela localização da janela, pode ser interessante para privilegiar a ventilação natural por convecção, uma vez que ela está disposta logo acima do chuveiro.


Figura 8 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura, para incidência do vento: 0°

Figura 9 – Campo de velocidades no banheiro a 2,25 m para incidência do vento: 0°


Figura 10 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m para incidência do vento: 180°

Figura 11 – Campo de velocidades no banheiro a 2,25 m de altura para incidência do vento: 180°


Figura 12 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura para incidência do vento: 45°

Figura 13 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura para incidência do vento: 315°

Comparando as Figuras 8 e 9 com as figuras 10 e 11, nota-se que as velocidades dentro do banheiro para, a incidência do vento a 180°, são maiores, atingindo 20% da velocidade de referência, enquanto para a incidência de 0° atinge-se aproximadamente


10% da velocidade de referência. No campo de velocidades obtido 2,25 m de altura acima do nível do piso do apartamento, a diferença é bastante clara, uma vez que o plano horizontal relativo a esta altura intercepta a janela localizada entre o banheiro e a área de serviço (neste estudo considerou-se esta janela completamente desobstruída). Este resultado confirma a visualização realizada anteriormente em que, para incidência de 0º o ar permaneceu estagnado dentro do banheiro e, para incidência do vento de 180° visualizou-se um jato na região da janela com uma zona de recirculação logo abaixo (ver Figura 14).

Figura 14 – Visualização do escoamento interno para ângulo de incidência do vento de 180° (do topo da foto para baixo). Nota-se inicialmente um acúmulo de fumaça no banheiro e nos dois quartos (abaixo), porém a fumaça logo em seguida se dispersa dos quartos e continua acumulada no banheiro, como indica a foto da direita

3.2.

Análise da circulação do ar nos demais cômodos com o PIV e

visualização Para os demais cômodos o ensaio de PIV foi feito apenas para os ângulos de incidência do vento de 0° e 180° e altura de medição de 1,35 m, conforme seção 2.2. Para estes ângulos, observou-se comportamento semelhante do dormitório 2 e da sala. Quando o vento incide diretamente sobre a fachada de um destes cômodos, há uma região de jato de entrada na janela (no caso da sala são dois jatos; um correspondente à janela e outro à porta de entrada) e jato de saída na porta interna do respectivo cômodo, formando zonas de recirculação, como mostram as Figuras 15 e 16. No dormitório, tal situação pode causar desconforto para o usuário se, por exemplo, a cama estiver posicionada de tal forma que uma parte do corpo da pessoa fique em contato com o jato.


O desconforto local é causado pelo resfriamento ou aquecimento não desejado de uma parte particular do corpo (ISO 7730:2005) Quando o vento incide na fachada oposta, a configuração interna do modelo (todas as portas e janelas abertas e sem móveis e eletrodomésticos) ocasiona padrões de escoamento que podem ser vistos nas Figuras 17 e 18, com velocidades mais altas nas regiões próximas às paredes do cômodo e mais baixas no centro do mesmo.

Figura 15 –Campo de velocidades no dormitório 2 a 1,35 m para incidência do vento: 0°.


Figura 16 – Campo de velocidades na sala a 1,35 m para incidência do vento: 180°.

Figura 17 –Campo de velocidades no dormitório 2 a 1,35 m para incidência do vento:180°


Figura 18 – Campo de velocidades na sala a 1,35 m para incidência do vento: 0°.

Os campos de velocidades da cozinha a 1,35 m para os ângulos de incidência de 0° e 180° são mostrados nas Figuras 19 e 20, respectivamente.

Figura 19 –Campo de velocidades na cozinha e na área de serviço a 1,35 m para incidência do vento: 0°


Figura 20 –Campo de velocidades na e na área de serviço a 1,35 m para incidência do vento: 180°

3.3.

Análise da variação da pressão interna dos cômodos e sua influência

na ventilação natural Conforme descrito no item 2.3, foram medidas as pressões nas paredes internas e externas do modelo. As medições foram feitas para 24 ângulos de incidência, de 0° a 360° com passo de 15°. Nesta seção serão evidenciados os resultados para os ângulos de incidência de 0° e 180°, com o objetivo de comparar tais resultados àqueles obtidos com o PIV e na visualização. Os coeficientes de pressão médios dos cômodos (definido na seção 2.3) para os ângulos de incidência do vento de 0° e 180° foram plotados nos diagramas mostrados nas Figuras 21 e 22. Percebe-se a existência de uma região adicional entre o banheiro e a área de serviço, que corresponde à janela existente entre os dois cômodos. É importante ressaltar que, por questões de construção, o corredor foi instrumentado com apenas uma tomada de pressão no teto, região que, devido à localização e ao arranjo físico do modelo, pode apresentar coeficiente médio de pressão maior, se


comparado, por exemplo, a uma tomada de pressão no piso para ângulo de incidência de 0°. Para este ângulo de incidência haverá um jato entre o dormitório 1 e a cozinha (vide canto direito superior da Figura 18 e canto esquerdo superior da Figura 19) passando pelo corredor, mas na região entre o ponto mais alto de abertura da porta e o teto, a tendência é de haver uma zona de pressão um pouco mais alta, o que não foi comprovado pela insuficiência de tomadas de pressão. O que pode ser verificado na Figura 21 é que os dormitórios, cujas fachadas estão diretamente expostas ao vento incidente, apresentam os maiores coeficientes de pressão médios. Sendo assim, a tendência é do fluxo de ar seguir do dormitório para os demais cômodos, como esperado e verificado tanto na visualização quanto nos ensaios de PIV. É interessante notar, por esse diagrama de coeficiente de pressões, que no banheiro o ar não tende a sair pela janela, mas sim pela porta. Devido à diferença de pressão entre o dormitório 1 e a cozinha, há a passagem de um jato pelo corredor, colaborando para a tendência de fluxo de ar para fora do banheiro pela porta, o que pôde ser verificado, principalmente, na visualização.

Figura 21 – Diagrama de coeficiente de pressão médio nos cômodos para incidência do vento: 0°


Além das paredes internas, também foram medidas as pressões e calculados os coeficientes de pressão nas paredes voltadas para o exterior do modelo. Uma sugestão para melhorar a ventilação no banheiro é instalar uma janela na parede que tem contato com o ambiente externo (demarcado em vermelho na Figura 22). Nota-se, pelo gráfico da Figura 23 que, para a maioria dos ângulos de incidência do vento, existem diferenças de pressão consideráveis entre o interior do banheiro e a fachada externa. A instalação de uma janela só é uma opção caso não exista um apartamento vizinho fazendo fronteira com a parede do banheiro.

Figura 22 – Identificação da parede do banheiro em contato com o ambiente externo (em vermelho).


Figura 23 – Comparativo entre média dos coeficientes de pressão internos no banheiro e média dos coeficientes externos na parede identificada pela Figura 22 para diferentes ângulos de incidência do vento.

Na Figura 24 o ângulo de incidência do vento é de 180°, dessa forma os coeficientes médios de pressão nos quartos, que eram os maiores para 0°, passam a ser os menores. Como verificado pelos ensaios de PIV, a tendência do escoamento interno para tal incidência é de fluxo de ar da sala, cozinha e banheiro para os dormitórios, com uma zona de recirculação próxima à porta do banheiro (ver Figuras 10 e 11). Nesse sentido a Figura 24 condiz com o observado previamente. Deve-se apenas ter cautela na avaliação da pressão no corredor, pelos fatos já citados anteriormente nessa seção.


Figura 24 – Diagrama de coeficiente de pressão médio nos cômodos Incidência do vento: 180°

Todos os valores médios de coeficiente de pressão interno nos cômodos, medidos para os ângulos de 0° a 360° com passo de 15°, podem ser vistos na Figura 25. É interessante notar que todos os cômodos, com exceção dos dois dormitórios, apresentam curvas bastante semelhantes.


Figura 25 – Coeficiente de pressão médio dos cômodos por ângulo de incidência do vento.

4. Conclusões

De modo geral, o apartamento popular analisado apresenta bom projeto arquitetônico voltado às condições de ventilação natural e renovação do ar. Foi observado que somente o banheiro apresentava problema, pois a renovação do ar não ocorreu de forma eficiente. Nos demais cômodos, havia renovação do ar, porém também foi detectado que nos quartos um jato de ar pode provocar desconforto térmico. No entanto, isso é facilmente contornável fechando a janela ou parte dela. Neste trabalho foi dada uma atenção especial ao banheiro, pois neste foram observadas condições ruins de renovação do ar, principalmente para o ângulo de incidência do vento em 0°, de acordo com a orientação do modelo adotada neste trabalho. Uma possível melhoria para o arranjo físico estudado é a inserção de uma janela na região indicada pela Figura 22, uma vez que, para a maioria dos ângulos de incidência do vento (são exceções os ângulos de 60°, 225° e 345°), a diferença de pressão entre a fachada externa e o banheiro pode auxiliar na ventilação natural induzida pelo vento do mesmo.


Também deve ser observado que nesse trabalho não foram realizadas análise com edificações ou relevos vizinhos ao apartamento. Esses fatores podem influenciar de forma positiva (melhorando) ou negativa (piorando) a qualidade da ventilação natural e renovação do ar no interior do apartamento. Na sequência desse trabalho serão realizados estudos para avaliar a influência de vizinhança na qualidade da ventilação natural dos apartamentos. Os experimentos realizados mostraram que a utilização em conjunto das técnicas de visualização de escoamento por fumaça, mapeamento de campo de velocidades com PIV e medição de pressão interna demonstram não só grande coerência entre as medições, como também é possível entender melhor os fenômenos que influenciam na qualidade da ventilação natural no interior da residência.. Essa metodologia pode ser utilizada, por exemplo, na avaliação de conforto térmico dos usuários e otimização de projetos habitacionais que utilizam ventilação natural. Referências

ASSIS, Eleonora Sad de, PEREIRA, Elizabeth Marques Duarte, SOUZA, Roberta Vieira Gonçalvez de, DINIZ, Antônia Sônia Alves Cardoso, “Habitação social e eficiência energética: um protótipo para o clima de Belo Horizonte”, II Congresso Brasileiro de Eficiência Energética - IICBEE. Todos os direitos reservados ABEE. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR6123: Forças devido ao vento em edificações.” Rio de Janeiro: ABNT, 1988. INTERNATIONAL STANDARD “ISO 7730: Ergonomics of the thermal environment – Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria”, 2005. JIANG, Yi; ALEXANDER, Donald; JENKINS, Huw; ARTHUR, Rob; CHEN,Qingyan (2003). “Natural Ventilation in buildings: measurement in a wind tunnel and numerical simulation with large-eddy simulation.” Journal of Wind Engineering Aerodynamics, Volume 91, Pag 331-353. TECLE, Amanuel; BITSUAMLAK, Girma; JIRU, Teshome (2013). “Wind-driven natural ventilation in a low-rise building: A Boundary Layer Wind Tunnel study.” Building and Environment, Volume 59, Pag 275-289. ZAKI, Sheikh; HAGISHIMA, Aya; TANIMOTO, Jun (2012). “Experimental study of wind-induced ventilation in urban building of cube arrays with various layouts.” Journal of Wind Engineering and Industrial Aerodynamics, Volume 103, Pag 31-40.


Mini-currículo dos autores: (*) Mario Roberto Nantes Junior – Autor principal – É estudante de graduação de Tecnologia de Construção de Edifícios na FATEC Tatuapé. Atualmente realiza Iniciação Tecnológica no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT) com bolsa da Fundação de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (FIPT). E-mail: mnantes@ipt.br Gabriel Borelli Martins – É engenheiro mecânico formado pela FEI. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de características de conforto térmico e carregamento do vento, como por exemplo, ensaio do Estádio Castelão, do Estádio Arena Cuiabá, do Estádio do Morumbi, entre outras edificações. E-mail: gborelli@ipt.br Paulo José Saiz Jabardo – É engenheiro mecânico, mestre em ciências e doutor em engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: pjabardo@ipt.br Gilder Nader - É físico e mestre em ciências pelo Instututo de Física da UFF e doutor em engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento e é professor na FATEC Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.br


Aplicação do resíduo sólido da indústria de reciclagem de alumínio como material pozolânico 1*

Inara Guglielmetti Braz, 1Mirian Chieko Shinzato, 2Tarcísio José Montanheiro, 1Vinícius Ribeiro

1

Resumo As indústrias secundárias de alumínio são responsáveis por colocar o Brasil como o maior reciclador de latas de alumínio do mundo. A maior parte delas utiliza fornos rotativos horizontais (devido ao baixo custo) e sal (NaCl) como fundente para essa recuperação. Nesse processo elas geram 30 a 40% de resíduo do total de material reciclado, que em 2011 totalizou 1951 mil toneladas, sendo 511 mil t provenientes de sucatas e 1440 mil t de escória branca produzida pela indústria primária. Consequentemente, houve a geração de cerca de 585 mil t de escória preta e/ou salina. Esse resíduo foi tratado na indústria terciária de reciclagem do alumínio, onde um processo de lixiviação com água permite recuperar 5 a 15% do alumínio metálico contido na escória. Logo, 497 mil t de novos resíduos são gerados e descartados em aterros por esta indústria. O presente trabalho tem como objetivo estudar algumas características físicas, químicas e tecnológicas dos resíduos gerados pela indústria terciária de alumínio, na expectativa de reaproveitá-los como material pozolânico. Pozolanas são materiais silicosos ou silicoaluminosos que, isoladamente, possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando finamente divididos e, na presença de água, reagem com o hidróxido de cálcio à temperatura ambiente, formando compostos com propriedades aglomerantes. Entre as vantagens obtidas pelo uso de resíduos como pozolanas podemos citar, aumento da vida útil das jazidas de matérias-primas do cimento, diminuição da emissão de CO2 e maior durabilidade da resistência do concreto, entre outras. Para verificar se o material pode ser classificado como pozolana - segundo os critérios estabelecidos pela ABNT-NBR 12653/92 foram realizadas caracterizações química (fluorescência de raios X), mineralógica (difração de raios X) e granulométrica (espalhamento de luz de baixo ângulo). Seguiramse os ensaios de atividade pozolânica desse material por meio de testes de Chapelle modificado e por diferença de condutividade elétrica. Resultados analíticos preliminares do resíduo da indústria de reciclagem do alumínio revelaram valores de 62,80% de Al 2O3; 6,13% de SiO2; e 1,66% de Fe2O3. A análise do resíduo após a lavagem para retirada parcial do NaCl, mostrou uma concentração de 0,63% de Na2O% equivalente. A análise granulométrica indicou que o material possui 90% de suas partículas abaixo de 44µm. As análises mineralógicas por difração de raios X identificaram compostos com estruturas de espinélio, coríndom, nordstrandita e óxidos de alumínio hidratado. Os primeiros testes de pozolanicidade pelo método de condutividade elétrica e método Chapelle modificado mostraram resultados que possibilitam pré-qualificar o resíduo como material pozolânico, bem como alguns parâmetros químicos, se comparados com a ABNT-NBR 12653/92.

*

Inara Guglielmetti Braz Aluna de mestrado do programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Sustentabilidade da Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema. Rua São Nicolau, 210. CEP: 09913-030, Diadema, SP.

11 Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema. Rua São Nicolau, 210. CEP: 09913-030, Diadema, SP. Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Avenida Miguel Stéfano, 3900. CEP: 04301-903, São Paulo, SP. 2


Endereço do curriculum lattes http://lattes.cnpq.br/7164394037681827 Abstract The secondary aluminum industries are responsible for putting Brazil as the largest recycler of aluminum cans in the world. Most of them use horizontal rotary furnace (due to low cost) and salt (NaCl) as a flux to recover this metal. In this process they generate 30 to 40% of the total recycled material waste. The amount of recycled material in Brazil in 2011 totalled 1,951,000 tons, 511, 000 tons of scrap and 1,440,000 tons of white slag produced by the primary aluminum industry. Consequently, it was generated about 585,000 tons of black saline slag. This residue was treated in the tertiary aluminum industry where a process of leaching with water can recover about 5 to 15% of the aluminum metal contained in the dross. So, 497,000 tons of waste are generated and disposed in landfills by this industry. The present work aims to study some physical, chemical and technological properties of these residues in the expectation of reuse them as a pozzolanic material. Pozzolans are-silica or siliceous materials which they alone, have little or no activity binder, but when finely divided, and in the presence of water react with calcium hydroxide at ambient temperature to form compounds with binders properties. There are many advantages in using this waste as pozzolanic materials such as the increase the life of the deposits of cement raw materials the redution CO 2 emissions and the increase in the strength of concrete, long age etc. To verify if this material could be classified as pozzolanic material according to criteria established by ABNT-NBR 12653/92 chemical (XRF), mineralogical (XRD) and particle size (light scattering of low angle) characterizations were performed . They were followed by pozzolanic property tests of this material: modified Chapelle test and difference of electrical conductivity test. Preliminary analytical results of the aluminum recycling industry waste show that this residue is composed by 62.80% Al 2O3, 6.13% SiO2, and 1.66% Fe2O3. The analysis of the residue after washing to remove part of NaCl showed a concentration of 0.63% equivalent of Na 2O. The particle size analysis indicated that this material possesses 90% of particles below 44Îźm. The mineralogical analysis by X-ray diffraction identified compounds with structures of spinel, corundum, nordstrandite and hydrated aluminum oxides. The preliminary result of the pozzolanicity by electrical conductivity method and modified Chapelle test pre-qualified the studied waste as pozzolanic material, as well as its chemical parameters when compared to ABNT – NBR 12653/92.


Introdução O aproveitamento de resíduos sólidos industriais como materiais alternativos para produção de cimento tornou-se uma prática mundialmente importante, pois além de poupar as jazidas minerais, devido à substituição de parte da matéria-prima do cimento, também contribui com a diminuição da liberação de gases causadores do efeito estufa (Cordeiro et al., 2009). Somente em 2010 foram produzidos no Brasil 59 milhões de toneladas de cimento e, para cada tonelada produzida, emitiu-se 560kg de CO2 (SNIC, 2011). O volume de adições pozolânicas nesse mesmo ano foi de 17,8 milhões de toneladas, sendo assim, houve um consumo menor de combustível para queima em sua produção e, consequentemente, a redução na emissão de CO 2 para atmosfera. Nesse sentido, um segmento que ultimamente tem merecido destaque é o dos materiais pozolânicos. Pozolanas são materiais silicosos ou silicoaluminosos que possuem pouca ao nenhuma atividade aglomerante, mas quando finamente divididos e na presença de água, reagem com o hidróxido de cálcio à temperatura ambiente para formar compostos com propriedades aglomerantes (ABNT, 1992). As pozolanas podem ser classificadas como naturais e artificiais. As naturais podem ser materiais de origem vulcânica ou sedimentar (exemplos: tufo vulcânico, terra diatomácea e zeólitas) (Mielenz et al., 1951), e as artificiais são aquelas provenientes de tratamento térmico (metacaulinita) ou de sub-produtos industriais (cinza volante). As pozolanas são utilizadas na produção do cimento Portland, em substituição parcial do clínquer. Essa adição tem a vantagem de melhorar a impermeabilização, a resistência à fissuração térmica devido ao baixo calor de hidratação e a durabilidade final do concreto (Mehta & Monteiro, 2008). Alguns tipos de cimento obtidos pela adição de pozolana apresentam nomenclatura e aplicações próprias, assim como normas específicas estabelecidas pela ABNT (1992) (Tabela 1). Tabela 1 – Tipos de cimentos Portland de acordo com ABNT e suas aplicações (modificado de Kihara & Centurione, 2005). Tipo de cimento CP I – S CP II – Z

Norma ABNT 5732 11578

Adição Mat.Pozolânico 5% 6 a 14%

Aplicação Construção em geral Concretagem


CP II – E CP II-F CP III CP IV

11578 11578 5735 5736

6 a 34% 6 a 10% 35 a 70% 15 a 50%

Baixo calor de hidratação Concreto armado Barragens Concreto p/ ambientes agressivos

Estudos recentes mostram que alguns resíduos sólidos industriais possuem características pozolânicas como, por exemplo, as cinzas volantes provenientes da queima de carvão em usinas termoelétricas (Molin, 2005); a cinza do bagaço da cana-de-açúcar (Lima, 2010; Chusilp, 2009; Cordeiro, 2009; Frias, 2007; Hernández, 1998) e a cinza da casca do arroz (Nair, 2008; Feng, 2004). A principal vantagem de se utilizar esses materiais como subprodutos na produção de cimento pozolânico está na área ambiental, uma vez que eles podem ser reaproveitados antes do descarte em aterros. Diante da grande quantidade de material que pode ser usado como pozolana, estudos de caracterização de resíduos industriais são necessários para dar um novo destino a esses materiais e, consequentemente, contribuir na diminuição de emissão de CO2 pela indústria do cimento. Produção de Alumínio no Brasil O relatório de sustentabilidade da Associação Brasileira de Alumínio (ABAL, 2012*) mostra que o Brasil é o maior reciclador de latas de alumínio no mundo, com índice de 98,3% de latas recicladas em 2011. Essa produção gerou uma economia de 3.780 GWh ao país, uma vez que a reciclagem de alumínio consume apenas 5% da energia elétrica gasta na produção do alumínio primário. Apesar das vantagens econômicas, esse tipo de atividade também gera grande quantidade de resíduos sólidos, uma vez que utiliza fornos rotativos horizontais, alimentados com óleo combustível e com baixo rendimento (Tabela 2). Tabela 2- Rendimento do tipo de forno em função da geração de resíduos (ABAL, 2008). Tipo de Forno Reverbero Side – well Rotativo horizontal Rotativo basculante (pêra) Forno indução Forno cadinho

Rendimento % 90-95 90-97 60-75 85-95 92-98 95-97

Resíduos 3-7 2-4 30-40 15-18 2-4 3-5


*Fundada em 15/5/1970 pela Alcan Alumínio do Brasil Ltda, Alcominas (Alcoa Alumínio S.A.) e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), conta com 64 empresas associadas (produtores de alumínio primário e as transformadoras de alumínio). Essa entidade atende a atividade de produção do alumínio, incluindo aspectos da sustentabilidade, como governança, responsabilidade social, gestão de riscos, transparência e eficiência com relação ao uso dos recursos naturais.

No seu circuito produtivo as indústrias de reciclagem agregam às sucatas de alumínio da coleta seletiva, os resíduos provenientes da indústria primária do alumínio, ou seja, as reconhecidas escórias branca (materiais com cerca de 80% de alumínio metálico). Em 2011 cerca de 1440 mil t de escória branca (que possui até 80% de alumínio metálico) foram gerados pela indústria primária. Considerando que as indústrias de reciclagem utilizam sal (NaCl) em seus processos produtivos, estima-se que foram gerados 585 mil t de escória preta/salina (que contém até 10% de alumínio metálico). Esses resíduos, por sua vez, ainda são reaproveitados por outras indústrias de reciclagem, aqui denominadas de indústrias terciárias de alumínio. Nessa etapa, a escória é tratada por lixiviação com água para recuperar a parte metálica do restante do material, que corresponde a um novo resíduo descartado no final do processo. Somente em 2011 foram gerados cerca de 497 mil t desse resíduo por este último setor. Considerando que esses resíduos sólidos não são dispostos corretamente em aterros industriais e, simplesmente são descartados direto no meio ambiente, eles causam sérios problemas, como assoreamento e eutrofização de corpos d’água. Quanto ao seu aproveitamento, Shinzato & Hypolito (2005) estudaram o material em questão, testando-o na mistura de areia e cimento para fabricação de blocos. Os autores notaram que, apesar do resíduo atribuir propriedades favoráveis na confecção desses materiais, como a diminuição do tempo de cura, a resistência à compressão pode ser comprometida devido à presença de sais. Diante do cenário prospectado, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar e avaliar o resíduo da indústria terciária de alumínio como pozolana e compará-lo com uma pozolana natural (zeólita). Materiais e Métodos Os estudos fundamentaram-se em 08 amostras de resíduos sólidos da reciclagem de alumínio (R) e em uma amostra de zeólita natural (Zeo), que será utilizada como referência. Os resíduos sólidos de alumínio foram coletados em uma indústria de reciclagem localizada na cidade Guarulhos (SP), enquanto que a zeólita natural é proveniente da jazida Tasajeras-


Piojiillo de Cuba. Depois de lavar o resíduo de alumínio (R) com água destilada, ambas as amostras foram analisadas para se verificar se os principais parâmetros seguem o estabelecido na norma ABNT-NBR 12653/92, que caracteriza materiais pozolânicos. Previamente procedeuse a sua caracterização química, física e mineralógica. A análise química foi efetuada por meio de espectrometria de fluorescência de raios X (Axios Advanced/PANalytical) no Laboratório de Caracterização Tecnológica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (LCT/Poli/USP). A granulometria foi determinada pela técnica de espalhamento de luz laser de baixo ângulo (Mastersizer 2000/Malvern) no mesmo laboratório. Na identificação mineralógica utilizou-se o método da difração de raios X (D5000/Siemens) no Laboratório de Difração de Raios X do Instituto de Geociências da USP. Determinou-se também a área superficial específica pelo método Brunauer-Emmet-Teller (Gemini III 2375) no Laboratório de Processos Cerâmicos da Poli/USP. Seguiram-se os testes de determinação de atividade pozolânica pelo método de condutividade elétrica proposto por Luxán et al. (1989) e teste de Chapelle modificado (IPT, 1997) realizados no Laboratório de Geologia Ambiental e Ciência do Solo da UNIFESP. O método de condutividade elétrica determina a diferença de condutividade elétrica de uma solução referência de Ca(OH)2 e a mesma solução com a adição de 5g da amostra a ser analisada. O teste de Chapelle modificado determina a quantidade de óxido de cálcio consumido por 1g de pozolana ensaiada, após ser mantido em contato por cerca de16 horas à 90ºC.

Resultados e Discussão O conhecimento da composição química do material pozolânico indica se o mesmo se encontra dentro dos parâmetros exigidos pela NBR 12653/92 (ABNT, 1992). Os resultados da análise química (Tabela 3) revelam que o resíduo da reciclagem de alumínio possui dentre seus principais componentes 62,80% de Al2O3, 13,00% de MgO, 6,13% de SiO 2, 1,66% de Fe2O3 . Portanto, a soma dos três óxidos considerados pela norma NBR 12653/92 (Tabela 4) estão acima do mínimo de 50% exigido, atendendo as especificações. A concentração de equivalente de Na2O% de 0,63% também está de acordo com a norma (menos de 1,50%).


A soma dos óxidos (68,50% de SiO2, 1,52% de Fe2O3 e 11,60 % de Al2O3) encontrados na composição química da zeólita também estão de acordo com o valor estabelecido pela NBR 12653/92, que é de no mímino de 50%. O trióxido de enxofre não apresenta traços na zeólita, o que é bom de acordo com a especificação Tabela 3 – Componentes químicos das amostras representativas de resíduo da indústria terciária de alumínio (R) e de zeólita natural (Zeo). Teor dos principais óxidos em % determinados pelo método de fluorescência de raios X (LOI = perda ao fogo em 1050oC por 1h). R(%) Zeo(%)

Na2O

MgO

Al2O3

SiO2

P2O5

SO3

K2O

0,43 1,34

13,00 0,76

62,80 11,60

6,13 68,50

0,24 <0,1

0,27 <<

0,32 1,19

Ca O 1,29 2,88

TiO2

MnO

Fe2O3

LOI

0,89 0,28

<0,10 0,19

1,66 1,52

11,70 11,30

O teor de álcalis em % de Na2O equivalente é de 2,10%, não atendendo, a princípio, a especificação da norma NBR 12653/92 (valor máximo de 1,50%). No entanto, mesmo com a presença desses íons, vários estudos comprovam que a zeólita é um material pozolânico de boa qualidade (Mehta & Monteiro, 2008; Santos, 1992). Tabela 4 - Dados de exigência química da NBR 12653/92 para as pozolanas naturais (N), cinza volante (C) e materiais diferentes das demais (E) e das amostras R e Zeo. NBR 12653/92 - Especificações químicas | amostras de estudo PROPRIEDADES N C E R Zeo SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 % mín. 70 70 50 70,59 81,62 SO3 % máx. 4 5 5 0,27 << Álcalis disponíveis em Na2O % máx. 1,50 1,50 1,50 0,63 2,10 Perda ao fogo, % máxima 10 6 6 11,7 11,3 Teor de umidade, % máxima 3 3 3 4,71 4,44

No entanto os valores de perda ao fogo e de umidade das amostras R e Zeo acima daqueles estipulados pela norma devido, provavelmente, à sua superfície específica elevada (Tabela 5) que podem levar à maior adsorção de água. Tabela 5 – Valores de área superficial específica das amostras R e Zeo obtidas por adsorção de N2 pelo método BET. Área superfical específica (m2/g) R Zeo 84,5 60,38


O tamanho dos grãos é uma característica importante nas pozolanas, uma vez que aumenta a resistência mecânica e a durabilidade das estruturas do concreto, devido ao efeito atribuído à reação pozolânica que aumenta a sua superfície de contato no momento de hidratação do cimento (Isaia et al., 2003).

Esse comportamento causado pela adição da

pozolana melhora a distribuição dos poros no cimento tornando-a mais homogênea, uma vez que os seus espaços capilares são preenchidos, promovendo o aumento na resistência e na impermeabilização do material cimentício (Mehta & Monteiro, 2008). A análise granulométrica revelou que 90% de R apresenta partículas menores que 44,068μm, enquanto que a zeólita natural já estava previamente moída na fração <365 mesh (44,0μm). Considerando que a NBR 12653/92 estabelece que 66% das partículas sejam menores que 45μm, o resíduo estudado encontra-se dentro da norma. A análise por DRX de R revelou presença de compostos com estuturas de espinélio (MgAl2O4), coríndon (Al2O3) e nordstrandita (β-Al(OH)3). A amostra de zeolita (Zeo) é formada principalmente por clinoptilolita, mordenita e traços de quartzo. Apesar de todas as fases serem cristalinas, a granulometria fina deve favorecer a reação pozolânica onde se forma o silicato de cálcio hidratado e aluminato de cálcio hidratado. Os resultados da atividade pozolânica determinada pelo método de condutividade elétrica (Tabela 5) mostram valores que classificam tanto R e Zeo como boas pozzolanas (>1,2 mS/cm). Os ensaios pelo método Chapelle modificado indicaram consumo acima de 330mg de CaO/g, o que permite pré-classificar ambos materiais como pozolanas (Tabela 6). Tabela 6 – Medidas de atividade pozolânica de R e Zeo obtidas pelos métodos de condutividade elétrica e Chapelle modificado. Atividade pozolânica Condutividade Elétrica (mS/cm) Chapelle modificado (mg CaO/g amostra)

R 2,078 377,84

Zeo 1,417 605,04

Como era esperado, a atividade pozolânica da zeólita, determinada pelo método de Chapelle modificado, ficou bem superior ao do resíduo, uma vez que se trata de uma pozolna natural.


Conclusão O resíduo da reciclagem de alumínio e a zeólita apresentam características químicas e físicas que os pré-qualificam como materiais pozolânicos. Os métodos que determinam a atividade pozolânica (teste de Chapele modificado e o teste de condutividade elétrica) revelaram que o resíduo estudado (R) também possui caracteristicas aglomerantes, como uma pozolana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMÍNIO-ABAL (2012). Relatório de sustentabilidadeReciclagem. ABAL, São Paulo. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMÍNIO-ABAL (2008). Guia técnico do alumínio – Reciclagem. 1 ed., ABAL, São Paulo. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS-ABNT (1992). NBR 12653: Materiais Pozolânicos. Especificação. ABNT, Rio de Janeiro. CHUSILP, Nuntachai; JATURAPITAKKUL, Chai; KIATTIKOMOL, Kiattikomol (2009) “Utilization of bagasse ash as a pozzolanic material in concrete.”Construction and Building Materials, 23. CORDEIRO, Guilherme C.; TOLEDO FILHO, Romildo D.; FAIRBAIRN, Eduardo M.R. (2009). “Caracterização de Cinza do Bagaço de cana-de-açúcar para emprego como pozolana em materiais cimentícios.” Química Nova, 32. FENG, Qingge; YAMAMICHI, H.; SHOYA, M.; SUGITA, S. (2004) “Study on th pozzolanic properties of rice husk asch by hydrochloric acid pretreatment.” Cement and Concrete Research, 34. FRIAS, Moisés; VILLAR-COCIÑA, E.; VALENCIA-MORALES, E.(2007) “Characterisation of sugar cane straw waste as pozzolanic material for construction: calcining temperature and kinetic parameters.”In: Waste Management, 27. HERNÁNDEZ, J.F.Martirena; MIDDENDORF, B.; GEHRKE, M.; BUDELMANN, H. (1998). “Use of wastes of th sugar industry as pozzolana in lime-pozzolana binders: study of the reaction.” Cement and Concrete Research, 28 (11). INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (1997). Atividade Pozolânica: Método de Chapelle Modificado. IPT. São Paulo. ISAIA, Geraldo C.; GASTALDINI, A.L.G.; MORAES, R. (2003). “Phisical pozzolanic action of mineral additions on the mechanical strength of high-performance concrete.” Ciment & Concrete Composites. LIMA, Sophia A.; SALES, Almir; MORETTI, Juliana P.; ALMEIDA, Fernando C. R.; SANTOS, Tiago J. (2010) “Caracterização de concretos confeccionados com a cinza do bagaço da cana-de-açúcar.” In: Anais do Congresso Interamericano de Patologia e Reabilitação de Estruturas. Córdoba (Argentina).


KIHARA, Yushiro; CENTURIONE, Sérgio L. (2005). “O cimento Portland.” In: ISAIA, Geraldo C. Concreto: ensino, pesquisa e realizações. 2 V. IBRACON. São Paulo. MEHTA, P.Kumar; MONTEIRO, Paulo J.M. (2008). Concreto: Microestrutura, propriedades e materiais, IBRACON. São Paulo. MIELENZ, Richard C.; GREENE, K.T.; SCHIELTZ, N.C. (1951). “Natural pozzolans for concrete”. Economic Geology, 46. MOLIN, Denise C. C. D. (2005). “O cimento Portland.” In: ISAIA, Geraldo C. Concreto: ensino, pesquisa e realizações. 2 V. IBRACON. São Paulo. NAIR, Deepa G.; FRAAIJ, Alex; KLAASSEN, Adri A.K.; KENTGENS, Arno B.(2008) “A structural investigation relating to the pozzolanic activity of rice husk ashes.” Cement and Concrete Research, 38. SANTOS, Pérsio S. (1992). Ciência e tecnologia de argilas. Ed. Edgard Blücher, SP. SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO-SNIC (2011). Relatório 2011, SNIC, Rio de Janeiro. SHINZATO, Mirian.C.; HYPOLITO, Raphael (2005). “Solid waste of aluminium recycling process: characterization and reuse of its valuable constituents.” In: Waste Management, 25.


A Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de tecnologia social para a sustentabilidade: caso Cooperlírios Jakeline Pertile Mendes∗ Resumo: Este trabalho tem o intuito de problematizar o debate recente que envolve os temas cooperativismo, sustentabilidade e tecnologia social. Foi realizado um levantamento teórico desses assuntos para amparar o estudo prático do modelo de gestão da cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis - Cooperlírios. Este estudo foi desenvolvido sob o enfoque da tecnologia em gestão organizacional, no sentido de verificar intervenções que podem permitir um fazer tecnológico social, contribuindo dessa maneira, na sustentabilidade social, econômica e ambiental da cooperativa pesquisada e na região que a mesma está inserida. Palavras-chave: Cooperativismo. Tecnologia Social. Sustentabilidade. Abstract: This work aims to raise questions the recent debate about cooperativism, sustainability and social technology. These subjects were used as theoretical basis in order to conduct a practical study of the management model of the Cooperlírios - cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis (cooperative work of collecting and processing of reusable and recyclable materials) company. This study was developed focusing on the field of technology in organizational management, thus aiming to research interventions that can enable social technology practices as well as promote sustainability on the social, economical and enviroment aspects of the cooperative in question and the region in which it is inserted. Keywords: Cooperativism. Social Technology. Sustainability.

O cooperativismo e as questões sociais Este artigo é resultado do trabalho monográfico apresentado sob o título “A Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de tecnologia social para a sustentabilidade: um estudo de caso da Cooperlírios”, e visa relacionar alguns dos princípios teóricos de tecnologia em gestão organizacional, dentre eles o de planejamento estratégico, com o intuito de aperfeiçoar e otimizar o trabalho realizado dentro da cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis - Cooperlírios - localizada na cidade de Americana/SP. Serão abordadas questões teóricas no campo do cooperativismo, que é caracterizado pelo agrupamento de pessoas que buscam a oportunidade de adquirir renda suficiente para a subsistência; bem como no campo da sustentabilidade social, econômica e ambiental, através da inclusão de indivíduos na sociedade, movimentação da economia local e otimização da reciclagem do lixo; e por fim, será discorrido sobre a tecnologia social, dentro das possibilidades desse tipo de inovação ser aprimorada, adaptada e até mesmo recriada, Tecnóloga em gestão empresarial com ênfase em marketing, pela FATEC-AM (Faculdade de Tecnologia de Americana). E-mail para contato: jakelinepertilemendes@yahoo.com.br


através de possíveis intervenções de conhecimentos humanos, nesse caso os conceitos de gestão organizacional, contribuírem para o aperfeiçoamento dessas iniciativas sociais. Esses assuntos foram observados a luz de uma pesquisa empírica e uma breve síntese, vista a extensão do assunto, foi realizada uma análise a complexidade e diversidade desses temas, e utilizadas bibliografias que possibilitaram um embasamento teórico adequado para o assunto. Desde a antiguidade verifica-se várias maneiras nas quais as pessoas se agrupavam com o intuito de melhorar o desempenho de tarefas e trabalhos ou para a defesa de interesses em comum, “e isso ficou evidenciado a partir do momento em que aprendeu a reunir forças, juntou pessoas, ideias e experiências e passou a trabalhar em conjunto” (CHIAVENATO, 2007: p.02). Passados os séculos e aperfeiçoadas as técnicas e os modelos de produção introduzidas pelo industrialismo, crises econômicas atingiram a sociedade europeia pós revolução industrial, colocando em evidência o cooperativismo como um modelo que, por conseguinte criou forças e se tornou uma alternativa para a sobrevivência da população que fora atingida pela crise, diante de um cenário oscilante, de crescente desemprego e desigualdade social. Na opinião de Nascimento (2000, apud LIRA, 2010: p.4.), O cooperativismo é um modelo econômico com grande potencialidade e eficácia para corrigir as disfunções do sistema econômico vigente e, além disso, o autor afirma ser esta a forma correta para que os indivíduos consigam efetivar, em grupo, objetivos econômicos que teriam dificuldades de realizarem sozinhos.

Dessa maneira, é possível afirmar que o cooperativismo contemporâneo é cabível de ter se desenvolvido com o intuito de contrapor a maioria das empresas tradicionais, que pretendem exclusivamente a maximização dos lucros, e se preocupar mais “além, pois é um sistema de colaboração econômica que envolve diversas formas de produção e de trabalho. É o aprimoramento do ser humano em todas as suas extensões: social, econômica e cultural”, como salienta Veiga (2001, apud LIRA, 2010: p.4). Contrariamente ao cenário empresarial de lucros, esses tipos de iniciativas visam

atender as necessidades da sociedade, juntamente com seus associados e são consideradas uma sociedade civil/comercial sem fins lucrativos, que possui como finalidade viabilizar e desenvolver atividades de consumo, produção, crédito, prestação de serviços e comercialização, com a finalidade de atuar no mercado em benefício de seus membros, formando e capacitando-os para o trabalho e para a vida em comunidade


(SEBRAE 2011). Neste contexto, Veiga (2001, apud LIRA, 2010: p.4), afirma que “deve haver a preocupação com a qualidade dos produtos e serviços, a busca pelo preço justo, a fiscalização e a manutenção de seu entorno e do meio ambiente e, finalmente, a busca pela construção de uma sociedade mais equitativa, democrática e sustentável”. Complementando esses conceitos, Pinho (1982, apud LIRA, 2010: p.4), define cooperativa como uma empresa cujo fim imediato é o atendimento das necessidades econômicas de seus associados, os quais criam com seu próprio esforço, o seu capital, e segundo o SEBRAE (2011), pode tornar um meio pelo qual indivíduos se unem a fim de atingir objetivos específicos, através de um acordo voluntário para a cooperação recíproca. Todas estas colocações nos permitem concordar com Souza (1990, p.8) quando afirma que “o cooperativismo é uma alternativa econômica humana, que equilibra custo, despesa e ganho, que não visa lucro, que usa o fator econômico como meio de alcançar fins sociais”. Esses princípios cooperativistas tornaram-se, portanto, uma maneira de amenizar e potencialmente transformar uma sociedade em uma composição mais igualitária e justa. O que implica que, potencialmente, essa pode ser uma nova maneira de intervenção no liberalismo econômico, que não possui como princípio a maximização dos lucros, mas sim, procura promover uma sociedade mais igualitária com preocupações que atingem dimensões ambientais e culturais. Estimular os estudos nessas áreas e levar esses conhecimentos a essas iniciativas sociais é uma maneira de alinhar conhecimento teórico ao prático, a fim de alcançar objetivos comuns, viabilizando assim o crescimento e fortalecimento dos cooperados e da comunidade e região como um todo. A sustentabilidade como o principal fator social/global Após essa breve visita ao extenso campo das possibilidades do cooperativismo, iniciaremos uma sucinta digressão sobre o princípio do conceito de sustentabilidade, que surgiu a partir dos anos 70, com a percepção de que “mudanças climáticas em curso em nosso planeta eram causadas, sobretudo, pela ação humana; que seus efeitos durariam por centenas de anos; e que uma ação conjunta de nível mundial era necessária para lidar com o problema” (CHAUVEL; COHEN, 2009: p.16). Essas observações puseram em evidencia os aspectos negativos que as tecnologias desenvolvidas pelo homem provocavam ao meio ambiente o qual,


nos coloca diante de um imperativo ético radical: ou mudamos nossa maneira de ser e agir no mundo, o que supõe uma reeducação dos hábitos, ou deixamos para as gerações futuras cada vez mais insustentáveis e irreversíveis (CHAUVEL; COHEN, 2009: p.29).

O pensamento sustentável deriva como consequência de uma preocupação que buscava combater as crises econômicas promovendo o crescimento do consumo essa era uma “solução paliativa proposta em quase todos os países alcançados pela recessão” e um dos fatores-chave “foi investir no incentivo ao consumo de suas populações, a fim de manter a engrenagem produtiva em funcionamento” (CHAUVEL; COHEN, 2009: p.15) que levou ao aumento do produto descartável e ao consumo excessivo. Tal fato contribuiu com a expansão da economia incentivando o surgimento das empresas de pequeno porte, com o intuito de gerar emprego e fazer girar a economia. Esse tipo de empresa, por sua vez, não consegue tornar sua produção mais limpa, visto que, ao contrário das empresas de grande porte, não são capazes de adquirir maquinários de custo elevado para a redução do impacto ambiental e ainda inserir-se na economia globalizada, podendo dessa maneira contribuir elevadamente à geração de lixo no planeta. Se essas empresas de cunho mercantil, não forem contempladas de maneira inteligente, podem tornar “o fascínio pela racionalidade técnica e instrumental que, apesar de trazer enormes benefícios para a qualidade de vida pode contribuir, produzindo também lixos e sucatas tecnológicas que não são assimiladas pela natureza em curto espaço de tempo” (CHAUVEL; COHEN, 2009: p. 92). Dessa maneira, podemos constatar que “uma empresa pode atuar como causadora de danos na natureza ou também como redutora de impactos ambientais” (CHAUVEL; COHEN, 2009, p. 23), dependendo do público consumidor, do porte da empresa, do ambiente em que essas estão inseridas e outros fatores. Através disso podese constatar que parcerias com empresas mercantis, principalmente as de pequeno porte e cooperativas são atualmente de cunho fundamental, que pode trazer benefícios mútuos vinculados a busca de um mundo com hábitos de produção e descarte mais adequados e uma população mais consciente, já que podem unir-se em protocooperação e mitigar os efeitos insustentáveis causados pela raça humana. Como uma complementação oriunda desse contexto existe a comunidade sustentável (e suas dificuldades), que pode ser definido “como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras”


(CAPRA in TRIGUEIRO, 2005: p. 19 apud SUSTENTABILIDADE, 2013). Outra derivação é a expressão “desenvolvimento sustentável”, que segundo Boff (2012: p.3637), “é proposto ou como um ideal a ser atingido ou então como um qualificativo de um processo de produção ou de um produto, feito pretensamente dentro de critérios de sustentabilidade, o que, na maioria dos casos, não corresponde à verdade” Tal conceito é utilizado com banalidade, principalmente em documentos e discussões, e na sua maioria permanecem ali, no papel, tornando-se apenas mais um conceito insustentável; e a partir dessas dezenas de discussões rascunhadas, mundialmente variadas iniciativas foram criadas com o intuito de mitigar os efeitos visivelmente degradáveis causados pelas ações humanas, uma vez que todas as nações buscam o progresso e, contudo, uma conciliação com a natureza através de novas tecnologias, experimentalismos e conceitos. Como salienta Boff (2009: p.35) para os analistas ficava cada vez mais claro a contradição existente entre a lógica do desenvolvimento de tipo capitalista que sempre procura maximalizar os lucros às expensas da natureza, criando grandes desigualdades sociais (injustiças) e entre a dinâmica do meio ambiente que se rege pelo equilíbrio, pela interdependência de todos com todos e pela reciclagem de todos os resíduos (a natureza não conhece lixo).

No contexto atual, no entanto, verifica-se uma inversão de valores, e nota-se o impulso para buscar soluções de problemas e alívio para dores e ansiedades nas lojas, e apenas nelas, continue sendo um aspecto do comportamento não apenas destinado, mas encorajado com avidez, a se condensar num hábito ou estratégia em alternativa aparente (BAUMAN, 2008: p.64).

Soluções para essa somatória de condições criadas que envolvem costumes, hábitos e valores passam hoje por discussões e iniciativas ligadas, por exemplo, a logística reversa e reuso da água, dentre outras, além da inserção de tópicos para discussão a partir da educação com o objetivo de, desde cedo, iniciar uma conscientização sobre a importância da preservação da vida no planeta. Vislumbramos que essa pode ser a função de uma prática sustentável que, se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se recupere, refaça e, ainda, por meio da inteligência humana possa ser melhorada para entregarmos às gerações futuras não uma Terra depauperada, mas enriquecida e ainda aberta a coevoluir (BOFF, 2012: p.109).

Assim, quanto mais uma sociedade se funda sobre recursos renováveis e recicláveis, mais sustentável se torna. Isso não significa que não possa usar de recursos não renováveis, mas, ao fazê-lo, deve praticar grande racionalidade,


especialmente por amor à única Terra que temos e em solidariedade para com gerações futuras (BOFF, 2012: p. 128).

A partir dessas observações críticas pode ser verificado uma maior responsabilidade para com as gerações futuras, em um mundo que tende ao caos; onde apenas alguns - que serão a elite - poderão ter acesso aos recursos naturais que a natureza nos oferece; bem como se precaver da extinção da raça humana, pois a natureza se refaz totalmente sem nossa interferência na Terra. A Tecnologia Social e seus conceitos As discussões voltadas ao conceito de tecnologia social (TS) nascem no conjunto de preocupações que cercaram os anos 70 nos Estados Unidos e alguns países europeus. Passado esse momento e avanço das discussões, e na década seguinte com o término da Guerra Fria, a sociedade ainda era considerada desenvolvida pela quantidade de tecnologias que conseguia criar, desenvolver, condição que apesar de permanecerem vem mudando, justamente em decorrência das discussões iniciadas naquela década. Nesse contexto, as reflexões sobre tecnologia social são decorrentes dos impactos causados pelo industrialismo na sociedade e no meio ambiente. Dentro de um quadro geral sobre o trajeto que conduziu a essa tecnologia, DAGNINO (2004; 2009) cita a tecnologia apropriada (TA), como iniciadora de tais discussões podemos dizer que essa tecnologia foi ficando obsoleta, pois nela, prepondera a competitividade e se torna “um projeto de integração subordinada e excludente que agrava nosso particularmente desigual e predatório estilo de desenvolvimento” (DAGNINO, 2004: p.30). É importante sempre recordarmos que da mesma maneira que o uso da tecnologia transformou a sociedade humana oferecendo facilidades e utensílios, e, a longo prazo causou impactos sociais negativos, visto que o homem pode usar essa mesma técnica para prejudicar o ambiente ou modificá-lo no que diz respeito a equiparar uma sociedade. E foi essa constatação que levou a necessidade de permitir “a recuperação da cidadania dos segmentos mais penalizados, a interrupção da trajetória de fragmentação social e de estrangulamento econômico interno do país e a construção de um estilo de desenvolvimento sustentável” (DAGNINO, 2004: p. 16). Sendo assim, a tecnologia social entra nesse contexto com o intuito de tentar mudar essa realidade e trazer novas tecnologias que representem menor impacto ao


“produzir novos sistemas, que também resultam de transformações efetuadas sobre as unidades que desempenharão o papel de concorrentes de novo sistema” (LADRÈRE, 1979: p. 64). Dessa maneira, esse novo fazer voltado para a sociedade é vista como “uma iniciativa mais eficaz para a solução dos problemas sociais relacionados a essa dimensão e como um vetor para a adoção de políticas públicas (...) num sentido mais coerente com nossa realidade e com futuro que a sociedade deseja construir” (DAGNINO, 2004: p. 60). Além disso, o Estado é o grande, se não o maior propulsor, dessa nova forma de fazer tecnologia, como veremos em nosso estudo de caso. De acordo com Dagnino (2004), a tecnologia social pode ser também uma ferramenta para construção de uma sociedade mais justa, igualitária e ambientalmente correta, pois é uma alternativa de gestão que pode ser utilizada para o desenvolvimento social, tecnológico, ambiental e econômico, no sentido da “participação democrática no processo de trabalho, o atendimento a requisitos relativos ao meio ambiente (mediante, por exemplo, o aumento da vida útil das máquinas e equipamentos), à saúde dos trabalhadores e dos consumidores e à sua capacitação” (DAGNINO, 2004, p. 52-53). A tecnologia social pode ser considerada, portanto, um modelo, produto, técnica ou procedimento desenvolvido para solucionar problemas econômicos, sociais e ambientais, e que pode ser facilmente aplicado em qualquer região onde houver a necessidade de inovações sociais. São inúmeros os exemplos de tecnologias sociais bem sucedidas, salvaguardadas as possíveis críticas, entre elas estão: o soro caseiro (utilizado para combater a desidratação), o Banco de Palmas (que oferece microcrédito a população local), as hortas escolares (que proporcionam aprendizado e uma alimentação mais saudável aos estudantes), e as cisternas de placa no Nordeste (que captam água da chuva para consumo humano). Assim, a TS é o uso do conhecimento, unido com a ciência para a criação e produção de tecnologias inovadoras para a análise e solução de problemas sociais, ou ainda, uma inovação social (...) concebido como conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico até a introdução de novos métodos de gestão da força de trabalho, e que tem como objetivo a disponibilização por uma unidade produtiva de um novo bem ou serviço para a sociedade (DAGNINO, 2004, p.34).


Portanto, a tecnologia social é o conjunto de atividades relacionadas a estudos, planejamento, ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento de produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, que representem soluções para o desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população (BRASIL: Ciência e Tecnologia, 2011).

Ela pode trazer mudanças tanto no contexto social e igualmente tecnológico, essa pode ser “a condição tecnológica da mudança social quanto a condição social da mudança tecnológica (...) ao mesmo tempo, explica como o ambiente social influencia o projeto de um artefato e como a tecnologia existente influencia o ambiente social” (DAGNINO, 2004, p.40). Dessa maneira acredita-se que as tecnologias seriam construídas socialmente, ou seja, não seria como se cada grupo trabalhasse individualmente, e sim de maneira que pudéssemos ver todas essas ações em conjunto e assim ter um resultado positivo holístico. “A tecnologia seria uma construção social, e não o fruto de um processo autônomo, endógeno e inexorável como concebe o determinismo” (id. p.39). As tecnologias sociais podem ser desenvolvidas a partir da prática de determinada população ou através de estudos oriundos da comunidade acadêmica, ou seja, pode ser derivada dos conhecimentos de uma população com a ajuda de estudos acadêmicos efetuados na região. Não resta, no entanto, apenas o desenvolvimento desse novo tipo de tecnologia, deve-se ao mesmo tempo fazer com que a sociedade tenha a percepção sobre a importância de seu uso, além de saber as técnicas para o seu manuseio e em igual relevância as mudanças positivas, que podem trazer no comportamento social. Pode-se afirmar que, a partir do exposto, verifica-se que esse tipo de iniciativa move-se em um sentido de permitir a sustentabilidade daquilo que é inovado a partir do uso de tecnologias sociais e dessa maneira podemos inferir que as cooperativas são um fazer tecnológico social, ou seja, essa forma de gestão poderá promover inovações sociais eficazes para as sociedades, que desejam mais a igualdade social e ao mesmo tempo crescimento econômico, como será destacado no capítulo a seguir. O fazer tecnológico organizacional e suas perspectivas dentro da cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis - Cooperlírios


A pesquisa realizada visou observar empiricamente uma iniciativa social, sendo escolhida para esse intento a Cooperlírios, localizada na cidade de Americana. O cenário encontrado desde as primeiras visitas realizadas nessa cooperativa apontavam em direção a necessidade da introdução de um fazer tecnológico que pudesse trazer benefícios técnicos e sociais a essa forma de organização. Por se tratar de uma iniciativa criada no ano 2000, através da parceria da Prefeitura de Americana com apoio de vereadores, juntamente com catadores de materiais recicláveis e munícipes, e que até hoje, só possui como documentação formal o Estatuto da Cooperativa, verificou-se que poderiam ser implementadas mudanças e alterações a partir dos conhecimentos adquiridos no curso de tecnologia em gestão organizacional na Fatec da mesma cidade. Dessa maneira, através de um estudo de caso realizado, formulou-se uma proposta de intervenção, ainda que em caráter de sugestão teórica, nos sistemas de gestão da cooperativa citada, e dessa maneira realizadas interferências, que pela característica social do negócio podem se traduzir em inovação social, ou tecnologia social, aprimorando a sustentabilidade econômica, social e ambiental do empreendimento pesquisado. Como citado anteriormente, dentro dessa cooperativa não existem documentos formais que possam ser consultados que comprovem todo o trabalho realizado pelos membros, que do ponto de vista da gestão, já se configura como uma situação inaceitável, pois é importante para o bom andamento de qualquer negócio existir documentos que formalizem o trabalho legalmente. Sendo assim, a pesquisa foi realizada com base em entrevistas como fontes testemunhais, feitas com alguns membros da cooperativa. Igualmente, seria importante a divulgação das atividades sucedidas pela cooperativa em redes sociais, sites, jornais e etc, para mostrar e até mesmo incentivar e conscientizar a população da importância da separação do lixo orgânico do reciclável e demonstrar que esse tipo de organização pode beneficiar a sociedade como um todo. Inicialmente pode ser apontado que desde a sua inauguração, a Cooperlírios não possui um planejamento estratégico que direcione suas metas e funcionamento a médio e longo prazo, nem planejamento anual, bem como missão, visão e valores. Considerase que a presença de um gestor poderia auxiliar tanto os planejamentos, quanto nas estratégias, fatores fundamentais que devem ser feitos com o intuito de dar uma direção ao negócio, aperfeiçoar os resultados nas tomadas de decisões e como consequência alavancar o trabalho realizado por essa cooperativa.


No campo dos recursos humanos a contratação de cooperados, não é feita de acordo com o grau de conhecimento prático entre os interessados e nem pelo grau de necessidade econômica, prevalecendo a escolha daqueles que possuem um grau de parentesco com algum colaborador. Do ponto de vista da tecnologia da gestão, o ideal seria uma seleção por meio de qualificação técnica, o que não seria justo do ponto de vista cooperativista, pois esse tipo de iniciativa visa atender as necessidades de pessoas que não tiveram oportunidade de qualificação profissional e por isso tem dificuldades em entrar para o mercado de trabalho e passam por problemas econômicos. Dessa maneira a solução optativa é proporcionar cursos de capacitação aos interessados e de acordo com o grau de desempenho de cada um a escolha poderia ser feita, pois mesmo quando esses atores tivessem a possibilidade de ter acesso qualificado à informação, seria escasso o aprendizado decorrente. Eles seriam, na melhor das hipóteses, simples usuários da TS, e não agentes ativos num processo de construção sociotécnica que tivesse como resultado um artefato tecnológico que garantisse o atendimento de suas necessidades e expectativas (DAGNINO, 2004, p.58).

Esse tipo de medida seria igualmente essencial do ponto de vista da segurança do trabalho para que utilizem uniforme específico, como por exemplo, luvas e botas plásticas e igualmente cuidados quanto a higiene do trabalho, medidas possíveis de serem tomadas e que auxiliam na prevenção de acidentes que podem ser causados enquanto são executadas as tarefas. É função do gestor estar atento a esses tipos de detalhes e conscientizar os cooperados quanto ao uso correto de equipamentos de segurança, para evitar doenças que prejudiquem a saúde e até mesmo a ausência no trabalho. Outro fator enfrentado pelos separadores de reciclados e até mesmo os coletores de lixo, que poderia ser solucionado com medidas de conscientização e informação populacional, é a mistura de materiais reciclados com lâmpadas, pilhas, seringas. Muitas vezes os munícipes não têm consciência de que esses materiais são perigosos e se descartados indevidamente, podem causar danos a natureza, bem como ferir ou contaminar os funcionários que lidam com esse tipo de material. O pagamento pelo trabalho realizado é efetuado de acordo com o que é produzido por cada membro no processo de separação do material reciclável. Apesar de terem que cumprir uma jornada de trabalho de oito horas diárias, isso não é muito levado em conta, condição que, na maioria das vezes, desmotiva os colaboradores a carimbar o cartão de ponto corretamente, porque os mesmos são obrigados a comparecer, mesmo que não haja material para o trabalho. Dessa maneira, a presença


de um relógio ponto torna-se um problema de motivação, porque mesmo sem material os cooperados devem ficar cumprindo horário, mesmo que sem remuneração por isso. Fica patente nesse caso a necessidade de uma intervenção nesse sistema, a partir da introdução de um processo de métodos e processos motivacionais e eficientes. A cooperativa enfrenta também um grande problema de falta de material. Como a prefeitura terceiriza a coleta seletiva dos recicláveis, muitas vezes os coletores fazem greve, ou seja, ter apenas “um fornecedor” da matéria-prima necessária para a realização do trabalho é um fator negativo, pois a cooperativa para de trabalhar, pois a empresa que recolhe o lixo torna-se um monopólio. Isso aconteceu durante alguns meses no ano de 2011. Outro fator é a população fazer previamente a separação do lixo doméstico, e por consequência da greve o caminhão terceirizado que recolhe o lixo reciclável não passa, sendo assim, a população acaba descartando o lixo de maneira incorreta para não acumular em casa. Tal fato gera uma população desmotivada pela falta de comprometimento dos órgãos responsáveis pelo recolhimento do lixo, e passam a descartá-lo de maneira indevida juntamente com o lixo orgânico. Essa questão pode ser resolvida sistemicamente com os conhecimentos em marketing, ou solucionada através de uma modificação no sistema de coleta, onde existisse galpões responsáveis pelo armazenamento e descarte desses materiais recicláveis pela população e um investimento na educação, que conscientize a importância da participação individual no descarte correto do reciclável, para que ele não se torne um amontoado de produtos inservíveis. Muitas vezes as colaboradoras não têm com quem deixar seus filhos e acabam levando os mesmos até a cooperativa. Os mesmos ficam brincando entre os materiais recicláveis enquanto suas mães trabalham. Isso potencialmente torna-se um perigo, porque as crianças podem se machucar, contrair alguma doença e atrapalham o andamento do serviço das cooperadas. Esta área pode encontrar soluções no campo de Recursos Humanos e neste na adoção de medidas assistencialistas. Dentro da cooperativa, há alguns cachorros instalados, os quais acostumaram-se com o ambiente pelo fato de obterem cuidados oriundos da cooperativa ou das cooperadas. Porém não é saudável para o ambiente, porque esses podem perturbar as cooperadas e até mesmo machucá-las ou transferir alguma doença. Outro cenário que demonstra uma desorganização na estrutura de funcionamento e a necessidade de uma intervenção tecnológica de gestão.


Falta a cooperativa uma melhor infraestrutura, porque a atual está comprometida devido ataques de vandalismo. E a falta de recursos tecnológicos muitas vezes compromete a eficiência e eficácia dos trabalhos. É preciso destacar que o trabalho de uma cooperativa de reciclagem é de grande relevância para a sociedade em que está inserida, para a cidade e seus cooperados. O que requer algum órgão responsável pelo cômputo geral dos benefícios trazidos por essa alternativa de gestão, e um que fosse encarregado da divulgação por meio de mídias como site, redes sociais, jornais e etc. Isso poderia ser utilizado como demonstração a sociedade sobre a importância da separação do lixo, bem como uma sugestão para o aumento do índice de motivação dos colaboradores, ao mostrar o quanto o trabalho realizado por eles é importante para o meio ambiente, a população e principalmente as futuras gerações. Do cenário exposto, ainda que apenas apontando os “gargalos” do sistema de gestão da cooperativa estudada, verifica-se que existe uma considerável quantidade de necessidades para o correto funcionamento das partes que a compõe. Nesse sentido fica patente que o intercâmbio entre empresas, universidade, órgãos públicos e cidadãos é fundamental para que essa iniciativa social possa receber conhecimentos científicos de gestão, condição que, como afirmado anteriormente, pode alavancar a sustentabilidade econômica, social e ambiental do negócio e região em que está inserida. Dessa maneira pode ser considerado que deve haver clareza quanto aos objetivos e metas que essa iniciativa social deseja alcançar, bem como um planejamento estratégico e anual que deverá ser cumprido, e igualmente a divulgação desses resultados à comunidade. Através de pensadores que transcrevem todos esses temas, constata-se que é possível alcançar melhor êxito em uma cooperativa se essa estiver sendo direcionada por uma pessoa que compreenda e saiba a melhor forma de aplicar os conceitos tecnológicos de gestão organizacional, ressaltasse os dizeres de MACHADO (2006: p.60) quando descreve que “existem diversos tipos de organizações: simples ou complexas, pequenas ou grandes, com um único ou vários sócios, empresas mercantis ou cooperativas. Todas elas têm em comum a necessidade de ter pelo menos um gestor para administrá-las”. Essas iniciativas sociais podem ser consideradas uma forma de fazer tecnologia social, a partir do momento em que modelos teóricos de tecnologia em gestão podem modificar, implementar, criar ou aperfeiçoar sistemas de gestão e produção. Ou seja, quanto à teoria impulsiona o fazer prático no sentido da inovação, nesse caso, no âmbito


social, onde podemos aplicar de maneira sistêmica o conhecimento teórico na prática, para que haja um melhor aproveitamento e otimização do trabalho realizado por essa cooperativa. Considerações finais Mas

qual

a

importância

desses

tipos

de

intervenções

tecnológicas

organizacionais, já que o objetivo principal de uma cooperativa não é lucrar?! As cooperativas de materiais recicláveis podem ajudar na transformação da cultura baseada no consumo, estimulada pelo industrialismo que deságua o consumo desenfreado, o qual promove o acúmulo de resíduos variados contribuindo para a degradação da natureza, e nesse contexto a intervenção dos conhecimentos de gestão contribuindo para aumentar a capacidade de separação dos materiais e tornar esse o modelo de negócio do futuro, devido ao imensurável crescimento populacional e consequentemente o aumento gradual do lixo produzido pela sociedade e indústrias em geral. Essa alternativa de negócio pode, além da geração de renda a seus cooperados, contribuir para uma sociedade mais limpa e consciente quanto a importância da separação de lixo para a reciclagem e ainda amenizar os gastos públicos que uma sociedade tem com o destino dado ao lixo, que se não são eventualmente separados, são todos destinados aos aterros sanitários. Pois, como pode ser verificado que, Nos últimos anos, o volume de lixo urbano reciclado no Brasil aumentou. (...) Mesmo assim, o País perde em torno de R$ 8 bilhões anualmente por deixar de reciclar os resíduos que são encaminhados aos aterros ou lixões, de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (BRASIL: Meio Ambiente, 2013).

Esse novo modelo pode favorecer e beneficiar as comunidades em que estão inseridas. Isso exige uma conscientização dessa iniciativa social e de todos os participantes dos mais diversos grupos sociais envolvidos. O cooperativismo torna-se então uma maneira eficiente e eficaz de prática de um tipo de tecnologia social para a sustentabilidade de uma comunidade. Conjecturamos igualmente que, o cooperativismo pode também ser um tipo de empreendedorismo social, pois ele nasce da visão de um grupo de pessoas que possui objetivos sociais específicos e que a partir de suas ações pode contribuir para o desenvolvimento sustentável, social e econômico de determinada comunidade, e ao


mesmo tempo, pode vir a movimentar a economia local de uma região, preservando como norteador de suas ações, os princípios cooperativistas. Bibliografia BAUMAN, Zygmunt (2008). Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar. BRASIL. “Ciência e Tecnologia”. http://www.brasil.gov.br/sobre/ciencia-etecnologia/tecnologia-social (Consultado em 30/09/2011). BRASIL, Meio Ambiente. “Gestão do Lixo: Reciclagem”. http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/gestao-do-lixo/reciclagem. (Consultado em 22/03/2013). BOFF, Leonardo (2012). Sustentabilidade: O que é – O que não é. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes. CHAUVEL, Marie Agnes; COHEN, Marcos (Org.) (2009). Ética, sustentabilidade e sociedade: Desafios da Nossa Era. Rio de Janeiro: Mauad X. CHIAVENATO, Idalberto (2007). Administração: teoria, processo e prática - 4. Edição. Rio de Janeiro: Elsevier. DAGNINO, Renato Peixoto (Org.) (2009). GAPI Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG/UNICAMP. DAGNINO, Renato; BRANDÃO, Flavio Cruvinel; NOVAES, Henrique Tahan (2004). Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil. DAGNINO, Renato (2004). “A Tecnologia Social e seus desafios”. http://www.ige.unicamp.br/site/publicacoes/138/A%20tecnologia%20social%20e %20seus%20desafios.pdf (consultado em 07/07/2013). LADRÈRE, Jean (1979). Os desafios da racionalidade: O desafio da ciência e da tecnologia às culturas. Petrópolis: Ed. Vozes. LIRA, Rúbia V. M. (2010). Cooperativismo: uma alternativa de gestão pelos pequenos produtores familiares da região de Americana. Monografia apresentada a Faculdade de Tecnologia de Americana. MACHADO, Sandra Mary Cohim Farias: “Gestão de Cooperativa: Um estudo de caso”. http://www.polisystem.com.br/oceb/gestao.pdf. (consultado em: 09/12/2011). SEBRAE MG (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas): “Cooperativismo”. http://www.sebraemg.com.br/culturadacooperacao/cooperativismo/cooperativa%20o %20que%20e.htm. (consultado em 07/06/2011).


SEBRAE MG (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas): “Cooperativismo: principais características”. Disponível em: http://www.sebraemg.com.br/culturadacooperacao/cooperativismo/principais_caracteris ticas.htm. (consultado em 07/06/2011). SOUZA, Alzira Silva de. “Cooperativismo: Uma alternativa econômica”. http://www.cecremef.com.br/docs/cooperativismo_uma_alternativa_economica.pdf? q=prettyphoto&iframe=true&width=100%&height=100%. (consultado em 04/05/2011). SUSTENTABILIDADE. “Conceitos: Sustentabilidade”. http://www.sustentabilidade.org.br/conteudos_sust.asp?codCont=9&categ=s. (consultado em 08/05/2013).


Bambu: Uma Alternativa Sustentável *Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima Doutoranda em Engenharia de Materiais Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: pilolima@hotmail.com Ruth Marlene Campomanes Santana Professor do Departamento de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e-mail: ruth.santana@ufrgs.br

Resumo Há séculos, o bambu tem sido utilizado como uma matéria prima importante em países da Ásia, África, América do Sul. Usado na construção civil, construções rurais, artesanato, alimentação, para a obtenção de papel, celulose e outras aplicações industriais. Além de ser um material economicamente rentável oferece grandes vantagens ambientais, pois tem características, tais como ser uma espécie de rápido crescimento, existem espécies que alcançam suas dimensões máximas em 6 meses, (Bambusa, Dendrocalamus, Guadua), protege o solo da erosão, grande produtor de biomassa, captura CO2, por isto e outros motivos de ordem econômico, o bambu tornasse como uma grande alternativa de material sustentável a ser utilizada em diferentes aplicações. Abstract For centuries, the bamboo has been used as an important raw material in countries of Asia, Africa, South America. Used as food, in the civil and rural construction, handicraft, to produce pulp and paper and another industrials applications. Besides being a cost effective material, it offers environmental advantages, so it has characteristics such as its grows quickly, there species that reach their maximum development in 6 months, (Bambusa, Dendrocalamus, Guadua), protects the soil from erosion, produces biomass, requesters CO2. Therefore, bamboo becomes a sustainable alternative with different applications.


1. Introdução Com o crescente desmatamento e pressão sobre as florestas tropicais, assim como sobre as áreas de reflorestamento, considerasse cada vez mais necessária a busca e utilização de materiais renováveis e soluções alternativas com a capacidade de amenizar este processo. Por tanto, a busca por materiais e fontes energéticas ecologicamente corretas, tornasse prioridade. O bambu, se apresenta uma alternativa entre os matérias sustentáveis; reconhecido e usado por diversos povos desde o inicio da civilização, é uma planta que aporta múltiplos benefícios para o homem e o meio ambiente. Suas propriedades físicas, químicas e mecânicas permitem que seja aproveitado para diversas aplicações, tais como na construção civil, construções rurais, artesanato, implantes ortopédicos, próteses, para a obtenção de papel, celulose, tecidos com fibra de bambu entre outras. O Bambu é um produto natural e amigo do meio ambiente com um enorme potencial de bens e serviços ambientais, esta é a sua maior relevância. Os principais efeitos positivos são: produção de biomassa, redução da erosão no solo, retenção de água, regulação de caudais hídricos, fixação de dióxido de carbono (CO2), energia primaria, hospedeira de fauna e flora. Pode ser utilizado na sua forma natural ou processado industrialmente: Aplicações em estado natural: pode ser utilizado como alimento, em coberturas vegetais, tutoragens de cultivos, construção rural, construção civil, artesanato, paisagismo. Aplicações bambu processado: o processamento do bambu por meios industriais aumenta as aplicações e utilidades e leva a uma multiplicação da sua potencialidade como matéria prima. Existe uma variedade de produtos gerados a partir deste processamento, entre eles: Fabricação de laminados; pisos; tabuas – vigas de bambu; painéis ou “plywood”; aglomerados; Produção de celulose, papel e bio-etanol e Produção de carvão 2. Que é o bambu: É uma planta gramínea, um pasto gigante, que depois de algum tempo se transforma em estrutura dura como a madeira, mais flexível e leve. É um excelente recurso sustentável, autorenovável, de rápido crescimento, versátil, leve, flexível, e resistente. Graças as suas propriedade físicas, químicas e mecânicas pode ser aproveitado em diversas aplicações. As espécies de bambu tem tamanhos variáveis, desde pequenas plantas ornamentais que podem ser mantidas em vasos, até os bambus gigantes que podem chegar a 30 m de altura e mais de 25 cm de diâmetro. Segundo Jaramillo (1992), o bambu se caracteriza pela capacidade para ser renovado, não existe nenhuma outra espécie florestal que possa competir em quanto à velocidade no crescimento. Em quanto uma árvore tarda 60 anos para crescer 30 metros, o bambu alcança esta altura em 6 meses; em 3 ou 4 anos está pronta para o corte, a produção de colmos é rápida sem precisar de replanto. Janssen (2000), afirma que as propriedades estruturais do bambu tomadas pelas relações resistência/massa específica e rigidez/massa específica, superam as madeiras e o concreto, podendo ser inclusive, comparadas ao aço. 3. Generalidades De acordo com Minke (2010), existe bambu tropical e subtropical desde bosques de com uma humidade maior ao 90% como o bambu “Guadua angustifolia” na região de Chocó Colômbia, até as zonas semiáridas na Índia o Bambu “Dendrocalamus strictus”. Existe um total de 90 géneros, 1200 espécies. Dentro do continente Americano a maior diversidade encontrasse no Brasil (Hidalgo, 2003); Brasil, alberga a maior diversidade de géneros em América (48%) e possui o maior grau de endemismo no continente. Castaño e Moreno (2004) 3.1 Origem e história do bambu O bambu é originário de Ásia, América, África e Oceânia. Pode-se adaptar a variados climas (tropicais, subtropicais, temperados) Na Europa existem fósseis mais não há espécies


endémicas. Segundo a história, o bambu já aparece no começo da civilização na Ásia, se considera que o bambu teve a sua origem no cretáceo, um pouco antes do inicio da era terciaria, quando surgiu o homem. Hidalgo (1974) 3.2 Classificação taxionómica O bambu, pertence às Angiospermas ou plantas com flores, gramínea, encontra-se em todas as latitudes e considera-se uma família cosmopolita. Tabela 1- Rangos genealógicos para classificação do Bambu Divisão Subdivisão Classe Subclasse Ordem Família Subfamília Supertribu Tribo Subtribo Fonte: Cruz(2009:43)

Espermatófita Angiosperma Lilopsidas / Monocotiledóneas Commelinidae Cyperales / Gluminoflorae Gramínea ou Poaceae Bambusoidae Bambusodae Bambuseae Guaduinae

3.3 Propriedades Físicas-Mecânicas do Bambu Por ser um elemento natural, o bambu é um material variável, não existem pedaços de bambu exatamente iguais, mesmo sendo do mesmo colmo. Pois existem alguns fatores como: clima, solo, topografia, altitude, corte e tratamento, parte do talo, idade, humidade, que afetam suas caraterísticas. A resistência máxima é alcançada a partir dos três anos de idade, os colmos maduros são mais resistentes que os verdes. (Pereira, 2001). •

Humidade relativa: é o peso da água do talo em relação ao seu peso em estado totalmente seco, expressado em percentagem. Tem sido mostrado (Minke, 2010) que no estado de crescimento o conteúdo de humidade pode ser mais do 70% na primeira parte do talo e depois, entre quatro e seis anos, pode abaixar até 20% .

Contração durante o secado: se produz devido à perda de água. O trabalho de Liese (1985), mostrou que o comprimento do bambu desde seu estado verde até seu estado lignificado tem uma redução entre 4% e 14%; e em seu diâmetro a contração é entre 3 e 12%.

Compressão e Tração: o bambu é de grande resistência à tração, em especial sua capa externa; esta capa suporta até 40 kN/cm2 (= 400 N/mm2 = 400 MPa) alcançando a resistência do aço. (Minke, 2010:18).

Na seguinte tabela se mostra as propriedades mecânicas de diferentes bambus em vários entrenós.


Tabela 2- Propriedades mecânicas de diferentes colmos de bambu.

Fonte: (Hidalgo, 2003) Modulo de elasticidade: Segundo Minke (2010), o modulo de elasticidade (E-modulo), se reduz entre um 5% e 10% com o aumento da tensão. No laboratório de testes de materiais em Stuttgard Alemanha, foram realizados testes para o modulo de elasticidade do Bambu Guadua angustifolia com 12 cm de diâmetro e foram emitidos os seguintes resultados: E- módulo (compressão): 1.840 kN/cm2 E- módulo (flexão): 1.790 kN/cm2 E- módulo (tração): 2.070 kN/cm2 Ensaios realizados na “Universidade del Valle”, Cali - Colômbia em colaboração com CIBAM em Palmira – Colômbia, com 65 testes de Guadua angustifolia, deram como resultado para o Emódulo de compressão entre 1350 até 2770 kN/cm2 (media de 2150 kN/cm2). O módulo de elasticidade do bambu é quase o dobro que a madeira. (NSR 10 cap. G 12.7) Comportamento ao Fogo: por ser oco, o bambu pode queimasse rapidamente. A casca do talo tem uma alta concentração de acido silico; por este motivo o Bambu é designado segundo a norma Alemã DIN 4102 como inflamável que não produzem facilmente chamas Resistência a Sismos: graças a sua flexibilidade, alta resistência contra forças em relação ao seu peso e sua capacidade de absorver energia, o bambu é um material ideal para construções sismo resistentes. 4. Aportes do bambu ao meio ambiente O Bambu é um produto natural e amigo do meio ambiente, esta e a sua maior relevância, pois possui um enorme potencial bens e serviços ambientais. Os principais efeitos positivos são: 4.1 Produção de biomassa: O Bambu é um recurso natural de rápido crescimento que produz mais biomassa seca por hectare/ano que o eucalipto. (Montalvão, et al. 1984).


Segundo o estudo “Aportes de Biomassa Aérea”, realizado pelo “Centro Nacional para el Estudio del Bambú – Guadua” na Colômbia, o rápido crescimento do bambu permite produzir e aportar ao solo entre 2 e 4 ton/ha/ano de biomassa, este volume pode variar de acordo com o grau de intervenção do bambuzal. Segundo Liese e Duking (2009), a produção de biomassa seca aérea do Bambusa bambos do sul da Índia cultivado chega aportar 47/ton/ha/ano. 4.2 Redução da erosão no solo: Os rizomas e as folhas em decomposição fazem no solo a função similar a das esponjas, que evitam a fluidez rápida e continua da água, isto permite regular e proteger o solo da erosão. Isto faz do bambu uma espécie com função protetora, especial para ser usada nos solos em declive das bacias hidrográficas. 4.3 Retenção de água: Graças à capacidade de retenção de água em seus colmos, funciona como uma bomba de armazenagem, pois em épocas de húmidas absorve grande volumes de água que são armazenadas nos colmos e no sistema de rizomas. No verão, esta água armazenada é aportada de forma gradual ao solo.1 4.4 Regulação de caudais hídricos: As folhas do bambu retém e amortecem a queda brusca da água chuva nos solos, favorecendo a dispersão desta água em partículas menores que se distribui na área do bosque de uma forma mais equilibrada, do contrario esta água causaria crescidas súbitas e não se formariam as reservas necessárias no verão, adicionalmente a abóbada ou dossel formada pelo folhagem nas margens de fontes de água impedem as perdas por evaporação súbita, isto ajuda na mencionada regulação dos caudais. (GIRALDO E SABOGAL, 2005) 4.5 Fixação de CO2 As plantas que assimilam dióxido de carbono (CO2) pela fotossínteses e o armazenam na sua biomassa fazem uma importante contribuição ao clima. Graças à rapidez do seu crescimento o bambu capta mais CO2 que uma árvore2. Londoño (2003), afirma, que esta condição representa uma enorme riqueza ambiental, pois o bambu é um importante fixador de CO2, até o ponto que este não libera na atmosfera o gás retido depois de ser transformada em produtos ou na construção, este fixasse nas obras realizadas a partir dele. Esta particularidade é importante para os países industrializados, que segundo o “Protocolo de Kyoto”, devem diminuir a emissão de gases do efeito estufa. O bambu ajudaria a resolver este grande problema global de uma forma mais económica e menos complexa. 4.6 Energia primaria Segundo Janssen (1981), a energia utilizada para a produção de bambu é 300MJ/m3, comparada com 600 MJ/m3 da madeira. 4.7 Hospedeira de fauna e flora

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Segundo estudos realizados na fazenda Nápoles, Montenegro – Colômbia (Sabogal, 1983) e no “Centro para el Estudio del Bambú – Guadua” (Giraldo, 1996) foi concluído que 1ha de bambu da espécie “Guadua Angustifolia” é capaz de armazenar 30.375 litros de água, isto é, aproximadamente água para150 pessoas por dia (200 litros/dia/pessoa)

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O Bambu Guadua Angutifolia Kunth, capta em seus primeiros 6 anos de vida 54 toneladas de CO2 por hectare. Londoño (2003)


As plantações favorecem a existência e sustentabilidade da flora, microflora, entomo-fauna, mamíferos, aves, répteis e anfíbios. 5. Aplicações e usos Com poucos dias os brotos de bambu servem como alimento; do sexto ao primeiro ano produz lâminas e lascas para a elaboração de cestas; esteiras e outros objetos artesanais; a partir do segundo ano produz tiras para chapas; e a partir do terceiro ano pode ser aproveitado em estruturas arquitectónicas, pisos e chapas. (Hidalgo, 1981) O bambu é uma espécie com muitos propósitos e utilidades, há uma espécie de bambu para um objetivo determinado. Porem um determinado bambu não pode servir para tudo. São muitas as aplicações que contemplam o bambu, tanto na sua forma natural como processada industrialmente, isolado ou combinado com outros materiais. 5.1 Aplicações em estado natural: Na sua forma natural pode ser utilizado como alimento (animal-humano), em coberturas vegetais, os tutoragem de cultivos, Construção rural, Construção civil, Artesanato, paisagismo. 5.2 Aplicações bambu processado O processamento do bambu por meios industriais aumenta as aplicações e utilidades e leva a uma multiplicação da sua potencialidade como matéria prima. Existe uma variedade de produtos gerados a partir deste processamento, entre eles: 5.2.1 Fabricação de laminados

Figura 1 – Laminado de bambu Fonte: “Ecobambu” Colômbia O laminado consiste na transformação do bambu em lâminas rectangulares ou quadradas de diferentes dimensões. Os talos do bambu são cortados em secções com diferente largura e comprimento; as chamadas “latas”3 (ripas) de bambu, que ao serem colados de uma maneira especial formam os laminados de bambu. Este pode ser considerado como o processo percussor para a industrialização do bambu, pois a partir dele podem ser elaborados infinidade de artefactos, construções e elementos, muito bem aceitos pelo mercado internacional não só pelo fato de serem produtos que provem de um material renovável, se não também pela estética. 5.2.2 Fabricação de pisos:

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 3!“Lata” é uma seção longitudinal do bambu (a primeira) normalmente com comprimento entre três e seis metros e largura entre cinco e oito centímetros, a espessura depende da parede da seção, se obtém ao corar o colmo longitudinalmente em varias seções, não se utiliza maquinaria para este processo. (Cruz, 2009: 614)


Figura 2 – Pisos de bambu Fonte: “Ecobambu” Colômbia

O processo industrial e similar ao utilizado para obtenção dos laminados, mais com características e parâmetros especiais dentro do mercado mundial. O piso esta formado por varias ripas finamente laminadas ou coladas. China é o maior produtor de pisos laminados de bambu, também são produzidos na Colômbia e no Brasil. 5.2.3 Fabricação de tabuas – vigas de bambu:

Figura 3 – Pisos de bambu Fonte: “Ecobambu” Colômbia

Com o mesmo processo industrial para a produção de laminados podem ser obtidas tábuas de bambu com diferentes dimensões, a união sucessiva destas tabuas originam os blocos de madeira de bambu similares a os obtidos com a madeira serrada. Estes blocos de diferentes espessuras e dimensões são a matéria prima para a fabricação de: vigas torneadas, camas, escritórios, mesas, armários, gabinetes, mobiliário em geral, artefactos de cozinha, portas, tacos de golfe, etc. 5.2.4 Fabricação de painéis ou “plywood”:

Figura 4 – Painéis de bambu Fonte: “Ecobambu” Colômbia


Com o processo similar ao utilizado para a obtenção do laminado se obtém painéis normalmente com dimensões standard, nos Estados Unidos se utilizam painéis de 1.225 m X 2.45 m e espessura de 6 a 50 mm. ECOBAMBU(2009) 5.2.5 Fabricação de aglomerados:

Figura 5 – Aglomerado de bambu Fonte: a própria autora Nos processos industriais para a obtenção de pisos, painéis, elementos artesanais a nível industrial, mobiliário e outros, se produz pó de bambu, serragem e sobram pequenos pedaços de diferentes dimensões que são triturados finamente e misturados com colas especiais e levados a prensas industriais para produzir aglomerados de alta resistência que podem ser utilizados para a produção de diferentes produtos como mobiliário, utensilias para cozinha, elementos de decoração e outros. 5.2.6 Produção de celulose, papel e bio-etanol: Para estas finalidades existem grandes diferencias entre as espécies de bambu, em quanto à quantidade e qualidade de produção de estes produtos, estudos tem demostrado que os melhores bambus para este objetivo são “bambusa vulgaris var vulgaris”4 ou “Dendrocalamus strictus” e “Bambusa tulda”. Brasil é o único pais das Américas a ter uma indústria de papel de bambu, possui uma grande plantação com este propósito no estado do Maranhão. (fonte:bambubrasileiro, 2012) 5.2.7 Produção de carvão: O carvão a partir do bambu, é um recurso bastante explorado na China e com muito sucesso, brinda à população grandes benefícios económicos, ambientais e sociais. Em América, esta opção de aproveitamento do bambu ainda esta a ser explorada nos últimos anos. Esta opção que oferece o bambu como combustível, substitui o uso tradicional de madeiras importantes para o ecossistema. O carvão de bambu é de excelente qualidade, seu rápido crescimento traz equilíbrio na relação entre o gás de carbono emitido e o gás de carbono absorvido.5 6. Conclusões A cadeia produtiva do bambu, tem se transformado em uma oportunidade de grande potencial em primeiro lugar com benefícios ambientais, sociais e de mercado que deve ser aproveitada ao máximo, pois desta maneira o Brasil se tornara competitivo em relação a países industrializados que não dispõem deste bem natural.

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No Brasil existem grandes plantações do bambu da espécie “ Bambusa vulgaris var vulgaris” , que é o mais recomendável como matéria prima para a produção de celulosa, papel e em menor grau bioetanol. (Pereira, 2007) 5 Em experiências realizadas em laboratório observou-se que o bambu é mais denso e tem maiores teores de cinzas em relação ao carvão da madeira. (fonte: www.ipef.br)


Produtos obtidos a partir do processamento industrial do bambu, como o MDF, aglomerados, painéis e tábuas de bambu oferecem a substituição da madeira, por tanto podem ser chamados de madeiras ecológicas aportando assim na conservação das florestas tropicais. O bambu, é um recurso natural com muitas qualidades e características únicas, sendo assim é material com um grande potencial na produção de ambientes sustentáveis. Pois esta é a espécie vegetal considerada como a maior taxa de renovabilidade, possui ainda características de flexibilidade, resistência e durabilidade únicas frente a outras matérias primas deste género. É interessante como um material existente há milhares de anos, e considerado por muito tempo como “madeira dos pobres”, graças à preocupação pelo meio ambiente, atualmente recobra a sua importância e chega a ser considerado como um material moderno e contemporâneo. 7. Referências bibliográficas CASTAÑO, F.; MORENO, R. “Guadua para todos cultivo y aprovechamiento”. Bogotá: panamericana formas e impresos s.a, 2004 CRUZ, H. “Bambu guadua angustifolia kunth”. Pereira: gráficas olimpica s.a, 2009 GHAVAMI, K; MARINHO, A. Propriedades físicas e mecânicas do colmo inteiro do bambu da espécie guadua angustifolia. Revista brasileira de engenharia agrícola e ambiental. V. 9 n. 1 p. 107-114, 2005 GIRALDO, E., y SABOGAL, A. Una alternativa sostenible: la guadua. Armenia: corporación autónoma regional del Quindío. 2ª edição, 2005 HIDALGO, O. Bambú: cultivo y aplicaciones en: fabricación de papel, construcción, arquitectura, ingeniería, artesanía. Bogotá: illus. Estudios tecnicos colombianos (etc), 1974. HIDALGO, O. Bamboo: the gift of the gods. Bogotá: d´vinni ltda. 2003 JANSSEN, J. Designing and building with bamboo. Inbar. Beijing: technical report nº 20, 2000 Jaramillo, A. La guadua: historia antropológica. Manizales: universidad de caldas, facultad de agronomía, 1983. LIESE, W. The structure of bamboo in relation to its properties and utilization. In: international symposium on industrial use of bamboo. Beijing: procedings, 1992. LONDOÑO, X.; CAMAYO, G.; RIAÑO, N., LOPEZ Y. “Caracterización anatómica del culmo de gaudua angustifolia kunth (poaceae: bambusoideae)”. In Bamboo science & culture: the journal of the american bamboo society,2003 Pereira, M. ; Beraldo, A. L. Bambu de corpo e alma. Bauru: canal 6, 2007 Pereira, M. Bambu: Espécies, Caraterísticas e Aplicações. Apostila Bauru: Unesp, 2001 Sites consultados: www.bambubrasileiro.com.br Acesso em 09 de abril de 2012 www.ipef.br Acesso em 14 de fevereiro de 2012 http//www.ebf.bamboo.org Acesso em 03 de novembro de 2011 http//www.sitiodamata.com.br Acesso em 09 de fevereiro de 2012


Gestão sustentável de condomínios em prol de cidades sustentáveis: case do condomínio Edifício Residencial Porto di Nucci Alcino Vilela1 Resumo Para melhorar a situação das cidades brasileiras, o debate e a reflexão em busca de alternativas econômicas, mitigação dos impactos ambientais, engajamento das partes interessadas, embates, manifestações, experimentações e implementações de novas práticas na busca da sustentabilidade é cada vez mais premente. Concomitantemente, a evolução da qualidade e da gestão da qualidade, mostrando os pilares sobre os quais se assenta a gestão sustentável, apontam como esse modelo gerencial pode ser aplicado em condomínios, como o case do Edifício Residencial Porto di Nucci, localizado em Campinas/SP. Ademais, tornar a cidade melhor aos seus habitantes, em seus mais diversos aspectos (ambiental, econômico, administrativo, governança e social), garante um futuro melhor para as atuais e futuras gerações. Nesse contexto, verifica-se a possibilidade da aplicação dos princípios e fundamentos de gestão sustentável em condomínios residenciais e comerciais, mediante um sistema de gestão condominial fundamentado no MEG (Modelo de Excelência da Gestão), a fim de obter resultados qualitativos e quantitativos como forma de construção coletiva da cidade sustentável. Áreas temáticas afim: Construção sustentável, cidades sustentáveis; Consumo sustentável; Empreendedorismo; Inovações e tecnologias sustentáveis; Práticas e processos organizacionais; Responsabilidade social; Saúde e meio ambiente e desenvolvimento urbano.

Substract To improve the situation of Brazilian cities, debate and reflection in search of economic alternatives, mitigation of environmental impacts, stakeholder engagement, clashes, demonstrations, trials and deployments of new practices in the pursuit of sustainability is increasingly pressing. Concurrently, the development of quality and quality management, showing the pillars on which rests the sustainable management, link management model like this can be applied to condominiums, as the case of Porto di Nucci Residential Building, located in Campinas / SP. Also, make the city better to its inhabitants, in its various aspects (environmental, economic, administrative, social and governance), ensures a better future for present and future generations. In this context, there is the possibility of applying the principles and fundamentals of sustainable management in commercial and residential condominiums through a condominium management system based on the MEG (Model Management Excellence), in order to obtain qualitative and quantitative results as a way of collective construction of the sustainable city. Thematic areas: Sustainable construction, sustainable cities, sustainable consumption; Entrepreneurship, Innovation and sustainable technologies, practices and organizational processes, social responsibility, health and environment and urban development.

1Alcino Vilela é bacharel em Sociologia e licenciado em Ciências Sociais pela Unicamp. É pós-graduado em Gestão da Sustentabilidade e Responsabilidade Social pela Faculdade de Economia da Unicamp. Possui especialização em Gestão de Projetos pela Harvard Business School, é auditor de sistema de gestão integrado (ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001) pela Bureau Veritas e auditor ambiental internacional pela Proenco. Já atuou como consultor de sustentabilidade de uma distribuidora de energia elétrica e atualmente é gerente de consultoria e auditoria em sustentabilidade e mudanças climáticas, com experiência profissional em responsabilidade social, meio ambiente, saúde e segurança e comunicação para a sustentabilidade, implementação de processos de diálogo com stakeholders e indicadores de sustentabilidade GRI, Indicadores Ethos, Global Compact, Objetivos do Milênio, inventário GHG Protocol, entre outros. E-mail de contato: alcino.vilela@gmail.com.

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1.Apresentação Uma cidade é composta pelo trabalho coletivo de sua população e concretiza-se pela sua cultura, relações sociais, políticas, econômicas e religiosas e diversidade que a vida nestes locais proporciona. Ao longo do tempo, as cidades se desenvolveram em regiões onde eram favoráveis o clima, a geografia e outros atributos naturais eram mais favoráveis. As cidades prosperaram quando resguardam os recursos naturais, que são os pilares centrais de suas economias e da sua qualidade de vida. Por outro lado, cidades mal administradas contribuem cada vez mais para as severas preocupações ambientais globais. De acordo com VECCHIA (2011), no ano de 2010, o mundo tornou-se urbano, quando mais de 50 % da população mundial passou a viver em cidades. Apesar de possuírem somente 2 % da área do planeta, as cidades abrigam mais de 50 % da população mundial. Esse é mais um fator de pressão contra os já escassos recursos naturais do planeta. Neste contexto mundial, as cidades sustentáveis são entendidas como aquelas que adotam uma série de práticas eficientes voltadas para o desenvolvimento econômico, preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida da população – economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. Este conceito integra, portanto, os aspectos ambiental, social, econômico que já são utilizados pelas empresas sustentáveis. Atualmente, no Brasil e no mundo, já são reconhecidas muitas cidades que adotam práticas sustentáveis: uso eficiente e sem desperdícios de água, energia, uso de materiais renováveis, recicláveis e/ou reutilizáveis, criação de espaços multiuso para evitar desperdícios (colocar tudo num mesmo bairro), incentivo ao transporte alternativo e público de qualidade, visando a mitigar a poluição do planeta e melhorar o ecossistema mundial. Na contramão desta proposta, hoje as metrópoles são geradoras de elevados consumos energéticos, aumento de poluição atmosférica, liberação de gases com efeito de estufa, poluição do ar, do ruído, a substituição do espaço verde e público, dentre outros desequilíbrios que não se esgotam nas consequências ambientais. Isso tudo acaba por gerar graves implicações econômicas, ambientais, sociais e sanitárias. Entretanto, neste mesmo processo de pensar cidades sustentáveis, as organizações corporativas estão pensando nos seus processos internos de gestão desde a década de 80, Gestão da Qualidade Total ou Total Quality Management (TQM), amplamente suportada pelos autores norte-americanos, como Deming, Juran e Feigenbaum. A qualidade em gestão, em todos os níveis, tornou-se uma condição obrigatória para as organizações que buscam competitividade e a garantia de perpetuidade das suas operações. Então, nesta época, o mundo voltava sua atenção

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para o elevado grau de competitividade alcançado pelas principais indústrias japonesas, cujos produtos chegavam com excelente qualidade e preços relativamente baixos nos principais mercados consumidores do mundo ocidental, passando a constituir uma ameaça para as suas economias. Em 1987, a International Standard Organization (ISO) publicou a série de normas ISO 9000, visando a estabelecer um padrão para a aplicação dos conteúdos de gestão da qualidade das empresas. Neste mesmo período, ainda na década de 1980, foi criado nos Estados Unidos o prêmio nacional da qualidade, Malcom Baldridge Award com o objetivo de premiar as empresas que fossem mais bem-sucedidas na implantação de modelos de TQM e a partir daí elaborar um modelo de avaliação que servisse como base para a implementação do programa. Em seguida, vieram o Prêmio Europeu da Qualidade e até o Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ) no Brasil. Com a abertura da economia brasileira, no início da década de 90, os empresários do Brasil identificaram a necessidade de adotar padrões internacionais para orientar, avaliar e reconhecer a gestão, em busca de mais qualidade e competitividade. Foi nesse movimento, que em 1991, um grupo formado por representantes de 39 organizações privadas e públicas instituíram, em São Paulo, a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FNQ 2011). Em São Paulo, estado da federação que concentra a maioria das empresas do Brasil, foi fundado em 2001 o IPEG (Instituto Paulista de Excelência da Gestão), organização de direito privado e sem finalidade de lucro, com o propósito de promover a melhoria da gestão das organizações públicas e privadas do Estado de São Paulo (IPEG 2013). Na mesma linha do Prêmio Nacional da Qualidade, o IPEG instituiu o PPQG – Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão, um reconhecimento anual às organizações paulistas que possuem os melhores sistemas de gestão e resultados, avaliados por uma banca examinadora voluntária e independente, utilizando critérios reconhecidos com o que há de mais avançado em gestão organizacional, alinhados com a Fundação Nacional da Qualidade. 2.Modelo de gestão sustentável aplicado a pequenas organizações O modelo de gestão sustentável que pode ser aplicado a pequenas organizações, como o case deste artigo, o Edifício Residencial Porto di Nucci (PdN), é baseado no MEG (Modelo de Excelência da Gestão) da Fundação Nacional da Qualidade, que é inspirado no modelo e padrão de gestão de organizações no mundo todo, segundo a FNQ (2011).

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O termo condomínio significa "propriedade comum", ou seja, uma coletividade, uma comunidade. Para viver num condomínio, as pessoas estão dispostas a partilhar áreas de domínio comuns e privativas. O direito de uso da área comum e a obrigação de conservação de equipamentos que pertence a todos são condições essenciais para se viver em harmonia num condomínio. Para a compreensão, em termos de propriedade, a cada área privativa corresponderá uma fração ideal da área comum. As despesas são rateadas por todos, na forma prevista na Convenção, que os moradores devem acatá-la, bem como o Regulamento Interno e as decisões das assembleias. Todos os moradores de um condomínio utilizam espaços e equipamentos comuns, tais como "hall" social, salão de festas, elevador, espaço fitness etc. Mesmo nas áreas privativas, a liberdade do morador, embora muito maior, não é total, visto que a liberdade de um morador não pode comprometer a liberdade de outro condômino, pois prevalece a máxima: o direito coletivo se sobrepõe ao individual. O PdN é um condomínio de natureza residencial, localizado em Campinas/SP, instituído sob o regime especial estatuído pelo artigo 1.332 do Código Civil Brasileiro, e residualmente, pela Lei Federal nº 4.591, de 16/dez/1964, regendo-se pelo seu instrumento particular de instituição, especificação e convenção de condomínio, devidamente registrado em 26 de janeiro de 2006 no 1º Cartório de Registro de Imóveis de Campinas sob o nº 316.042. O objetivo desta organização é a gestão da área comum do edifício, um prédio de sete andares com 28 unidades residenciais – apartamentos ou áreas privativas – cujos condôminos contribuem mensalmente com a taxa condominial para a manutenção das despesas e realização de investimentos, além de acatar as diretrizes determinadas na Convenção, Regulamento Interno e decisões da Assembleia. Edifício Residencial Porto di Nucci

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O PdN aplica na sua gestão os 11 fundamentos e oito critérios do MEG. Os fundamentos são definidos como os pilares, a base teórica de uma boa gestão. Esses fundamentos são colocados em prática por meio dos critérios, sendo eles: •

Fundamentos: pensamento sistêmico; aprendizado organizacional; cultura de inovação; liderança e constância de propósitos; orientação por processos e informações; visão de futuro; geração de valor; valorização de pessoas; conhecimento sobre o cliente e o mercado; desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social;

Critérios: liderança; estratégias e planos; clientes; sociedade; informações e conhecimento; pessoas; processos e resultados.

A figura representativa do MEG simboliza a organização, considerada como um sistema orgânico e adaptável ao ambiente externo. O MEG é representado pelo diagrama abaixo, que utiliza o conceito de aprendizado segundo o ciclo de PDCA (Plan, Do, Check, Action).

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De acordo com a FNQ (2011), “o sucesso de uma organização está diretamente relacionado à sua capacidade de atender às necessidades e expectativas de seus clientes. Elas devem ser identificadas, entendidas e utilizadas para que se crie o valor necessário para conquistar e reter esses clientes. Para que haja continuidade em suas operações, a empresa também deve identificar, entender e satisfazer as necessidades e expectativas da sociedade e das comunidades com as quais interage — sempre de forma ética, cumprindo as leis e preservando o ambiente. De posse de todas essas informações, a liderança estabelece os princípios da organização, pratica e vivencia os fundamentos da excelência, impulsionando, com seu exemplo, a cultura da excelência na organização. Os líderes analisam o desempenho e executam, sempre que necessário, as ações requeridas, consolidando o aprendizado organizacional. As estratégias são formuladas pelos líderes para direcionar a organização e o seu desempenho, determinando sua posição competitiva. Elas são desdobradas em todos os níveis da organização, com planos de ação de curto e longo prazos. Recursos adequados são alocados para assegurar sua implementação. A organização avalia permanentemente a implementação das estratégias e monitora os respectivos planos e responde rapidamente às mudanças nos ambientes interno e externo. Considerando os quatro critérios apresentados, tem-se a etapa de planejamento (P) do ciclo PDCA. As pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando em um ambiente propício à consolidação da cultura da excelência. Com isso, é possível executar e gerenciar adequadamente os processos, criando valor para os clientes e aperfeiçoando o relacionamento com os fornecedores. A organização planeja e controla os seus custos e investimentos. Os riscos financeiros são quantificados e monitorados. Conclui-se, neste momento, a etapa referente à execução (D) no PDCA. Para efetivar a etapa do controle (C), são mensurados os resultados em relação a: situação econômico-financeira, clientes e mercado, pessoas, sociedade, processos principais do negócio e processos de apoio e fornecedores. Os efeitos gerados pela implementação sinérgica das práticas de gestão e pela dinâmica externa à organização podem ser comparados às metas estabelecidas para

eventuais

correções

de

rumo

ou

reforços

das

ações

implementadas.

Esses resultados, apresentados sob a forma de informações reconhecimento, retornam a toda a organização, complementando o ciclo PDCA com a etapa referente à ação (A). Essas informações representam a inteligência da organização, viabilizando a análise do desempenho e a execução das ações necessárias em todos os níveis. A gestão das informações e dos ativos intangíveis é um elemento essencial à jornada em busca da excelência”. 6


Assim sendo, as práticas de gestão sustentável aplicadas desde 2008 no condomínio do Edifício Residencial Porto di Nucci estão abaixo apresentadas de forma resumida, segmentadas de acordo com os 8 critérios do MEG descritos anteriormente. Estas práticas estão sistematicamente detalhadas em VILELA (2012). Estas práticas estão alinhadas com os princípios de cidades sustentáveis, como: ações efetivas voltadas para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, visando o combate ao aquecimento global; promoção de justiça social; destino adequado para os resíduos; aplicação de iniciativas educacionais voltados para o desenvolvimento sustentável; planejamento condominial eficiente, principalmente levando em consideração o longo prazo; favorecimento de uma economia local dinâmica e sustentável; adoção de práticas voltadas para o consumo consciente dos moradores; ações que visem o uso consciente da água, energia elétrica e gás; práticas de programas que visem à melhoria da segurança, saúde ocupacional e qualidade de vida dos moradores e colaboradores; valorização de espaços verdes voltados para o lazer, dentre outros. 2.1.LIDERANÇA • Missão, Visão e Valores: os valores e os princípios organizacionais do PdN (figura

abaixo) para a promoção da excelência e criação de valor para as partes interessadas foram proativamente definidos em 2008 pela Direção da organização, de acordo com as expectativas e necessidades das partes interessadas. Anualmente, os valores, as expectativas e necessidades são validadas pelos moradores presentes nas assembleias ordinárias para aprovação da prestação de contas, eleição de síndico, subsíndico e membros do conselho fiscal, conforme determinado na Convenção do PdN; Visão Ser reconhecido pela excelência em gestão condominial até 2015.

Missão Promover a gestão condominial com o engajamento dos moradores e colaboradores, zelando pela portaria, limpeza, manutenção e segurança do edifício, promovendo a sustentabilidade e responsabilidade na aplicação dos recursos financeiros.

Valores _Ética; _Transparência; _Responsabilidade; _Comunicação; _Sustentabilidade.

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• Análise crítica dos processos: é a verificação do cumprimento dos padrões de trabalho

para os processos gerenciais que ocorre mensalmente por meio da análise crítica feita pelo síndico sobre os procedimentos, plano de ação, indicadores e demais controles estabelecidos no Sistema de Gestão Condominial do Edifício Residencial Porto di Nucci (SGC | PdN), que é o principal mecanismo de verificação do cumprimento das práticas de gestão do PdN. A cada mês, quando do fechamento contábil, os principais resultados do SGG | PdN são atualizados e comunicados no quadro “Gestão à vista” para todas as partes interessadas. As ações corretivas são implementadas de acordo com as necessidades identificadas de melhoria no padrão de trabalho; •

Levantamento de Aspectos e Impactos de Sustentabilidade: os riscos empresariais mais significativos que podem afetar a gestão condominial do PdN são identificados, classificados e tratados por meio da ferramenta de “Levantamento de Aspectos e Impactos de Sustentabilidade” (conceito de sustentabilidade aplicado pelo PdN que converge os aspectos e impactos ambientais, sociais e econômicos). De acordo com os 6 processos do PdN, a metodologia consiste na identificação das atividades, aspectos e impactos (ambientais, sociais e econômicos) que são classificados e quantificados de acordo com a frequência / probabilidade, severidade e abrangência, determinando o nível de importância de cada aspecto / impacto de sustentabilidade. Se o nível de importância for superior ou igual a 15, o aspecto / impacto de sustentabilidade é classificado como de risco significativo. Dos 14 aspectos e impactos de sustentabilidade, os principais riscos empresariais identificados para o PdN, correlacionados com os macroprocessos, bem como seus aspectos e impactos de sustentabilidade, e como são tratados estes riscos, estão apresentados abaixo: Processo

Atividade

Aspecto

Impacto

Controle operacional

Dimensão da sustentabilidade: AMBIENTAL. _Seguro predial contra incêndio _Manutenção anual dos equipamentos de segurança (extintores e hidrantes).

Atividades cotidianas dos moradores, colaboradores e visitantes no prédio.

Incêndio.

Alteração da Qualidade do Ar Incômodo à vizinhança Efeito estufa / mudanças climáticas.

GOVERNANÇA CONDOMINIAL (1)

Deslocamento dos colaboradores entre o trabalho e a residência.

Consumo de combustíveis fósseis

Escassez do recurso Efeito estufa / mudanças climáticas.

_Incentivar o uso do transporte público.

GOVERNANÇA CONDOMINIAL (1)

Consumo de gás tipo GLP (gás liquefeito de petróleo) pelos moradores.

Consumo de combustíveis fósseis

Escassez do recurso Efeito estufa / mudanças climáticas.

_Conscientização para o consumo responsável do recurso.

Deslocamento dos moradores

_Seguro predial contra incêndio

SEGURANÇA(5)

Dimensão da sustentabilidade: SOCIAL. SEGURANÇA(5)

Atividades cotidianas dos moradores, colaboradores

Incêndio.

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e visitantes no prédio.

Perda patrimonial para os moradores.

_Manutenção anual dos equipamentos de segurança (extintores e hidrantes).

SEGURANÇA(5)

Alarme (ativação / desativação pelos moradores).

Emissão de ruído.

Incômodo à vizinhança.

_O alarme tem controle de tempo de disparo (15 segundos), até a comunicação com a Central de Alarmes localizado na Serpol.

SEGURANÇA(5)

Atividades cotidianas dos moradores, colaboradores e visitantes no prédio.

Perigos relacionados à saúde ocupacional, segurança e ergonomia.

Ameaça à integridade física ou psicológica dos colaboradores e moradores.

_Mapa de riscos | F14 para inventariar, priorizar e viabilizar o tratamento preventivo dos fatores de risco.

Ameaças socioambientais para a comunidade

_Promoção de ações de responsabilidade socioambiental voltadas para a comunidade, relacionadas no F15.

Contração de dívidas.

_Carta de notificação via Administradora Zelo aos moradores (até 2 meses); _Carta de notificação via Cartório aos moradores (acima de 2 meses); _Abertura de processo judicial.

Incêndio.

Perda patrimonial da área comum do condomínio.

_Seguro predial contra incêndio; _Manutenção anual dos equipamentos de segurança (extintores e hidrantes).

Passivo trabalhista.

Processo judicial Pagamento de multas e juros.

_Controle de pagamento de todos os benefícios / direitos trabalhistas previstos pela legislação vigente.

GOVERNANÇA CONDOMINIAL (1)

Ações e responsabilidade socioambiental.

Questões socioambientais na comunidade.

Dimensão da sustentabilidade: ECONÔMICA.

GESTÃO ECONÔMICAFINANCEIRA(6)

SEGURANÇA(5)

GESTÃO ECONÔMICAFINANCEIRA(6)

Cobrança de taxas condominiais.

Atividades cotidianas dos moradores, colaboradores e visitantes no prédio.

Remuneração de colaboradores.

Inadimplência.

• Assembleias ordinárias, reuniões extraordinárias e votações: as principais decisões

são tomadas por meio de três espaços de deliberação: a) assembleias ordinárias (requisito legal previsto no artigo 1.350 do Novo Código Civil e no capítulo V da Convenção, “Das assembleias gerais”; b) reuniões extraordinárias (requisito legal previsto no artigo 1.355 do Novo Código Civil); c) votações por meio de listas para coleta de assinaturas (inovação implementada em 2009 para obter o maior engajamento dos moradores em determinadas decisões do PdN). Alinhada ao objetivo estratégico do PdN de “promover a governança condominial por meio da GESTÃO PARTICIPATIVA dos moradores com engajamento, comunicação, transparência e ética”, de forma proativa, essas três instâncias de tomada de decisão tem a finalidade de compartilhar informações entre a Direção do PdN e os

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moradores, sobre os desafios e as oportunidades identificadas no dia-a-dia da organização e de deliberar sobre a melhor forma de encaminhar as ações, corretivas e/ou preventivas; • Regulamento Interno / Convenção: tratam-se de dois documentos estabelecidos para

condomínios de acordo com o artigo 1.332 do Código Civil Brasileiro, e residualmente, pela Lei Federal nº 4.591, de 16/dez/1964. Estes documentos estabelecem os direitos, deveres do síndico, conselho fiscal e moradores. 2.2.ESTRATÉGIAS e PLANOS • Mapa de macro processos: os principais macro processos do PdN são:

Governança condominial: assembleias ordinárias, reuniões extraordinárias, comunicação e engajamento dos condôminos na gestão condominial;

votações,

Portaria: controle de entrada/saída de moradores, visitantes e fornecedores, controle de entrega de correspondências, reserva do salão de festas, monitoramento das imagens das câmeras; Limpeza: limpeza e conservação da área comum – hall de entrada, hall dos andares, estacionamentos, salão de festas / brinquedoteca, espaço fitness e elevador; Manutenção: manutenção preventiva e corretiva da estrutura física, elétrica, hidráulica, paisagístico e estética do edifício; Segurança: garantia da segurança dos moradores, colaboradores e do patrimônio; Gestão econômico-financeira: balancetes mensais, taxas condominiais, cobrança inadimplentes, investimentos, pagamento de fornecedores, movimentação bancária.

10

de


• Análise SWOT: a análise de macroambiente foi aplicada a metodologia da análise

SWOT tanto para os ambientes internos quanto externos. SWOT é uma sigla inglesa para forças ou pontos fortes (strengths), fraquezas ou pontos fracos (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats). Essa análise é atualizada anualmente, quando necessária, durante a revisão e validação dos processos do PdN na assembleia ordinária, levando em consideração os riscos empresariais, requisitos das partes interessadas e desenvolvimento sustentável. Segue abaixo a análise SWOT do PdN: AMBIENTE FORÇAS 1.força de trabalho própria sem terceirização dos serviços de portaria, zeladoria e limpeza; 2. prédio com infraestrutura nova e em excelente estado de conservação; 3. quantidade relativamente pequena de apartamentos / moradores que facilita a gestão condominial.

INTERNO

AMBIENTE OPORTUNIDADES 1. edifício está localizado ao lado de uma empresa de segurança terceirizada; 2. disponibilização do espaço do telhado para alugar para empresas de telefonia instalarem antenas de transmissão e recepção.

EXTERNO

FRAQUEZAS 1. quantidade relativamente pequena de moradores que diminui a razão do rateio e, consequentemente, eleva a taxa condominial; 2. a garantia do prédio pela Construtora Barros Pimentel é de 5 anos, com vencimento em setembro de 2010; 3.inadimplência dos moradores.

AMEAÇAS 1.invasão do prédio, assalto e violência com moradores e roubo do patrimônio; 2.dívida externa com governo, fornecedores e outras partes interessadas da gestão anterior (antes de junho de 2007).

• Mapa Estratégico | BSC (Balanced Score Card): o Planejamento Estratégico do PdN é

definido de acordo com a metodologia do BSC (Balanced Score Card). A utilização do BSC é um aprendizado e uma inovação que foi incorporado ao SGC | PdN a partir do conhecimento do uso destas metodologias em grandes empresas reconhecidas com o Prêmio Nacional da Qualidade da FNQ. Além do BSC, a formulação das estratégias leva em consideração os riscos empresariais, requisitos das partes interessadas e desenvolvimento sustentável. Os oito objetivos estratégicos foram definidos de acordo com os seguintes temas estratégicos: PESSOAS, EXCELÊNCIA OPERACIONAL, RELACIONAMENTO com MORADORES e ECONÔMICO-FINANCEIRO e de forma integrada com: a) os macro processos descritos na figura 0.a – 1.Governança condominial, 2.Portaria, 3.Limpeza, 4.Manutenção, 5.Segurança e 6.Gestão econômico-financeira; b) as necessidades e expectativas das partes interessadas; c) o fortalecimento das forças impulsoras e contornando as forças restritivas, provenientes dos processos internos da organização e as externas, originárias do macroambiente, conforme registrado na “Análise SWOT”; d) e, por fim, para realizar a missão do PdN e alcançar a sua visão de futuro. O “Mapa Estratégico | BSC” está apresentado na figura abaixo e demonstra a integração e a correlação entre os 8 objetivos estratégicos. Nela, a sustentabilidade das ações e da organização é demonstrada de forma transversal em todos os temas e objetivos estratégicos, pois, para alcançar os

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resultados financeiros, é necessário ter responsabilidade social e ambiental nas ações voltadas para as partes interessadas do PdN como colaboradores, moradores, proprietários, fornecedores, comunidade do entorno e o meio ambiente. Mapa Estratégico | BSC (Balanced Score Card ) | F01 TEMAS ESTRATÉGICOS

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

Manter a taxa condominial em um VALOR JUSTO e, quando

Não contrair DÍVIDAS e aumentar (6)

o FUNDO de RESERVA .

(6)

possível, reduzi-la . ECONÔMICO-FINANCEIRO

Aumentar a SATISFAÇÃO dos (1)

RELACIONAMENTO com MORADORES

moradores em relação aos serviços prestados e melhorias no prédio com eficiência e responsabilidade socioambiental.

(1)

(3)

Zelar pelo funcionamento e organização da

Zelar pela LIMPEZA

e

(4)

MANUTENÇÃO do espaço de convivência comum.

(2)

EXCELÊNCIA OPERACIONAL

Promover a governança condominial por meio da GESTÃO PARTICIPATIVA dos moradores com engajamento, comunicação, transparência e ética.

PORTARIA .

Garantir a (5)

SEGURANÇA dos moradores, dos colaboradores e do patrimônio.

Aumentar a SATISFAÇÃO dos (1)

colaboradores . PESSOAS

• Plano Plurianual da Ação: após a posse da atual Direção do PdN em 2008, estabelecido

um planejamento para se preparar para o futuro: o “Plano Plurianual de Ação”. Trata-se da implementação das decisões decorrentes da análise do desempenho da organização que é feita por meio do acompanhamento deste plano, que é atualizado de acordo com as novas diretrizes determinadas pelos moradores nas Assembleias para serem realizadas no PdN. Uma inovação implementada em 2010 nesta ferramenta foi a atualização do status dos projetos por meio do “semáforo”: ação finalizada na cor VERDE, ação em andamento na cor AMARELA e ação pendente na cor VERMELHA. 2.3.CLIENTES • Perfil das partes interessadas, identificação de necessidades e expectativas,

requisitos e canais de comunicação e relacionamento: trata-se de uma metodologia e que registra o perfil das partes interessadas, identificação de necessidades e expectativas,

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requisitos e canais de comunicação e relacionamento. As partes interessadas mapeadas e que estão envolvidas nos processos de gestão do condomínio são: moradores (proprietários / locatários), colaboradores / força de trabalho, fornecedores e comunidade do entorno; • Pesquisa de satisfação dos moradores: a satisfação dos moradores é feita anualmente

por meio da “Pesquisa de satisfação dos moradores”. O resultado da pesquisa é registrada e acompanhada por meio do indicador estratégico “Índice de satisfação dos moradores com a gestão do condomínio - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)”. Esta pesquisa de satisfação avalia a imagem, a excelência em gestão, engajamento dos funcionários e moradores, sustentabilidade e gestão financeira; • Livro para registro formal de reclamações e/ou sugestões de moradores: as

solicitações, reclamações formais ou sugestões dos moradores são registradas por escrito no livro de reclamações que fica localizado na portaria. As solicitações, reclamações e/ou sugestões também são formalmente registradas durante as assembleias ordinárias e reuniões extraordinárias. Informalmente, os moradores realizam as reclamações e/ou sugestões diretamente para o síndico por meio de conversas diretas, pelo interfone, telefone ou por email. As reclamações e/ou sugestões podem ser estratificadas em duas formas: a) relativas a desvio de comportamento de outros moradores que infringem a Convenção e/ou Regulamento do PdN; b) relativas a ações de melhoria na infraestrutura do PdN ou mudanças nos processos de portaria, limpeza, manutenção ou segurança. Como aprendizado do processo na gestão de conflitos entre moradores, em relação às primeiras reclamações, como boa prática, o síndico orienta o(s) reclamante(s) a tratar diretamente com o(s) reclamado(s) para resolver o problema e manterem a convivência harmoniosa entre os mesmos. Persistindo o impasse, o síndico atua como mediador para resolver a questão e, em casos extremos, os reclamado(s) são advertidos formalmente por escrito e, de acordo com a gravidade da reclamação, são multados de acordo com os artigos previsto na Convenção do PdN. Já em relação ao segundo tipo, as reclamações e/ou sugestões são inseridas no “Plano Plurianual de Ação” e são classificadas como melhorias sugeridas por “moradores”. Todas as manifestações dos clientes são prontamente e eficazmente resolvidas, como estão registradas nos meios descritos de avaliação dos clientes; • Assembleia kids & teens (ciranças e adolescentes): trata-se de uma assembleia voltada

para as crianças e adolescentes residentes no edifício, com a colaboração de mães e pais e uma pedagoga, para tratar de temas e questões específicas para este público, como por exemplo, estabelecer padrões de organização e uso da brinquedoteca;

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• Implementação de metodologia para avaliação da imagem institucional: inovação

implementada para avaliar a imagem da organização perante o mercado: acompanhar e registrar a quantidade de matérias positivas sobre o PdN publicadas na mídia – televisão, rádio, internet e jornal. O resultado deste clipping é registrado e acompanhado por meio do indicador de resultado “Imagem institucional do PdN na mídia”. 2.4.SOCIEDADE • Inventário de gases de efeito estufa: especificamente sobre o tema Mudanças

Climáticas, proativamente, o PdN quantifica desde 2008 (ano base) as emissões de gases de efeito estufa e publicou em o 1º inventário de gases de efeito estufa (GHG) de acordo com o GHG Protocol. A elaboração do inventário e o acompanhamento das emissões de CO 2 equivalentes por meio de indicador específico no SGC | PdN contribuem para conscientizar os moradores sobre este tema, principalmente no que tange ao papel de cada indivíduo, independente da idade, como agente de mudança em prol de um mundo melhor. Esta é uma inovação implementada para ampliar as ações do PdN em consonância com a agenda global de sustentabilidade. Em 2012, foi implementada outra inovação nessa área: asseguração do inventário de gases de efeito estufa (GHG) por terceira parte e o publica na base de inventários

do

Programa

Brasileiro

GHG

Protocol

(FGV)

www.registropublicodeemissoes.com.br. Alinhada a esta iniciativa, foi implementada em 2012 outra inovação com impacto positivo na sustentabilidade do PdN: substituição do abastecimento de gás tipo GLP (gás liquefeito de petróleo) por GN (gás natural) que propiciou uma redução de 1,250 ton. de CO2 equivalente nas suas emissões, equivalente a 18,2% de todas as emissões do ano passado; • Coleta seletiva - relação de resíduos recicláveis e não recicláveis: a destinação dos

resíduos domésticos gerados pelos moradores é separada entre resíduos não recicláveis saco de lixo PRETO (coletados de segunda a sábado e destinados para a coleta de resíduos da Prefeitura de Campinas) e resíduos recicláveis – saco de lixo AZUL (coletados às terças e sextas-feiras e destinados para a coleta seletiva realizada por organizações locais). Para orientar os moradores nesse processo, atrás de cada porta que dá acesso às escadas de emergência está fixado o painel educativo “Coleta seletiva” para esclarecer aos moradores quais resíduos são recicláveis e os que não são recicláveis; •

Mapa de riscos: em relação à saúde e segurança dos moradores, existe o “Mapa de riscos” em cada pavimento do PdN: hall de entrada, hall social nos andares, portaria, espaço fitness, salão de festas / brinquedoteca, estacionamento no térreo e estacionamento no subsolo. Estes 14


mapas seguem as diretrizes de acordo com a Portaria n° 05 do Ministério do Trabalho em 17/08/92 tratando da obrigatoriedade, por parte de todas as empresas, da "representação gráfica dos riscos existentes nos diversos locais do edifício". O mapa, que é uma inovação que representa graficamente os riscos de acordo com a classificação estabelecida na tabela 4.a: o grau (leve, médio e grave) e tipo de risco (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes). Os riscos são descritos quanto ao tipo (por exemplo, como ruídos, gases, protozoários, esforço físico intenso e/ou inadequado) ou quanto aos agentes causadores (por exemplo, som muito alto, má postura do corpo em relação ao local de trabalho, equipamentos inadequados etc.). Para cada tipo de risco, é estabelecido um ou mais controle(s) para reduzir e/ou mitigar as suas consequências; Graudo risco

Tipo de risco

LEVE

FÍSICOS QUÍMICOS BIOLÓGICOS

MÉDIO

ERGONÔMICOS ACIDENTES

GRAVE

• Planejamento

das ações de responsabilidade socioambiental: as ações de

responsabilidade socioambiental voltadas para o fortalecimento da sociedade, incluindo as comunidades vizinhas ao PdN são voltados para a sensibilização e conscientização dos moradores para campanhas de arrecadação de donativos e/ou outras doações – projetos sociais para o desenvolvimento nacional, regional e/ou local. Dentre as ações destaca-se: campanha do agasalho para a comunidade local e colaboradores do PdN, campanha de arrecadação de donativos para os desabrigados das regiões brasileiras vítimas de desastres ambientais e campanha para doação de sangue para o Banco de sangue da Unicamp etc.

2.5.INFORMAÇÕES e CONHECIMENTO • Porto di Nucci NEWS: publicação que informa as principais realizações do Plano

Plurianual de Ação | F03, convocação de reuniões, ações de responsabilidade socioambiental etc., visando estreitar a comunicação com os moradores; • Quadro “Gestão à vista” para comunicação das informações, indicadores

estratégicos e de resultado: quadro localizado no hall de entrada do condomínio com as

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principais informações do SGC | PdN para o engajamento dos moradores e colaboradores para alcançar a Missão e estratégia do PdN, dentre outras informações; • Sistema de monitoramento e gravação de imagens / alarme: sistema de informática

utilizado para os colaboradores na portaria monitorar 10 locais críticos para a segurança do PdN no controle de acessos de pessoas, incluindo a gravação das imagens e o acompanhamento em tempo real pelos moradores em seus apartamentos. O monitoramento e registro do alarme são efetuados pela empresa de segurança vizinha ao condomínio. 2.6.PESSOAS • Pesquisa de satisfação dos colaboradores: como melhoria no processo de a avaliação de

satisfação dos colaboradores, foi criada “Pesquisa de satisfação dos colaboradores” que é feita anualmente e o resultado da pesquisa é acompanhado pelo síndico no “Painel de Controle”. Esta prática tem como objetivo eliminar falhas nos processos para aumentar a satisfação dos moradores. Dos resultados da pesquisa de satisfação, foi identificado que os colaboradores, apesar de receberem regularmente o pagamento de horas extras, não tinham folga em feriados e aos sábados emendados com os domingos.

Desta forma, como

aprendizado na gestão de colaboradores e na melhoria da sua satisfação, após a aprovação em assembleia ordinária em 2010, a escala de trabalho foi alterada para os colaboradores gozarem os feriados e os sábados de forma intercalada: enquanto um colaborador folga num sábado e/ou feriado prolongado, o outro colaborador trabalha durante horário comercial, das 8h às 17h. Esta inovação no processo, além de melhorar o grau de satisfação dos colaboradores no ambiente de trabalho, também gerou um formulário para registrar e controlar a programação de trabalho: “Escala de trabalho aos sábados e feriados”. Em suma, a partir desta prática, o PdN também avalia o clima organizacional e implanta melhorias nos processos relacionados a pessoas, como descrito acima. E, por fim, esta medida contribui também para melhorar outro objetivo estratégico, o de reduzir a taxa condominial, já que esta ação permitiu reduzir em 50% o pagamento de horas extras aos sábados e feriados; • Descrição de cargo e atividades: a organização do trabalho no PdN é definida de acordo

com esta ferramenta que estabelece as competências necessárias para exercer a função para os cargos de zelador e porteiro: formação, habilidade, experiência profissional anterior, horário de trabalho, horário para refeição, atividades de trabalho durante a semana e as diretrizes de relacionamento com os moradores / síndico. A descrição de cargo e atividades contribui para promover a sinergia de trabalho entre os colaboradores e a produtividade do sistema de trabalho. Além disso, os colaboradores contribuem para a melhoria dos processos 16


e na busca pela inovação por meio de sugestões e/ou críticas que são registradas e acompanhadas por meio da ferramenta “Gestão de não conformidades: registro, tratamento, avaliação e encerramento | F26”. As práticas deste critério estão correlacionadas com o objetivo “Aumentar a SATISFAÇÃO dos colaboradores”; • Frequência na academia / qualidade de vida: visando a promover a qualidade de vida

entre os colaboradores do condomínio, eles possuem flexibilidade no horário de expediente com a destinação de 30 minutos para a prática de exercícios físicos no espaço fitness, além do horário de almoço. Este tempo de 30 minutos diários é doado aos colaboradores para a prática de ginástica; • Plano de Emergência: visa a esclarecer os procedimentos e o uso dos acessórios na

ocorrência de incidentes no PdN, como falta de energia elétrica, pane no elevador, defeito no portão eletrônico etc. Todos os acessórios descritos abaixo estão na “Caixa de Emergência” que está localizada na saída do elevador do subsolo;

2.7.PROCESSOS • Sistema de Gestão Condominial Porto di Nucci | SGC PdN: trata-se de um conjunto

de processos, procedimentos, formulários, documentos e manual de gestão criado pelo síndico para garantir o controle dos processos, a excelência da gestão, o atendimento dos requisitos das partes interessadas e a promoção da melhoria contínua dos procedimentos. O SGC | PdN tem como base tecnológica os programas da Microsoft Office Excel e Word e os documentos eletrônicos são de acesso exclusivo do síndico. A versão impressa dos principais documentos do SGC | PdN estão fixadas no quadro “Gestão à Vista” localizado no andar

17


térreo do edifício (verificar os detalhes no critério 3.c), bem como no “Manual de Gestão” localizado na portaria; • Prospecto informativo com os princípios organizacionais e de segurança: os

fornecedores que atuam no processo de manutenção do PdN, ao cadastrarem-se na portaria, recebem um prospecto informativo com os seus princípios organizacionais e com as diretrizes de saúde e segurança que devem ser seguidas dentro das instalações do edifício durante a execução dos serviços. Para garantir o cumprimento destas diretrizes, que ressalta sobre a obrigatoriedade do uso de EPIs/EPCs, o zelador /ou a porteira, dependendo do turno de execução do serviço, acompanha o fornecedor para verificar a observância das diretrizes de saúde e segurança do PdN; • Avaliação de fornecedores: esta ferramenta avalia os fornecedores de materiais ou

prestação de serviços, de acordo com os seguintes critérios: qualidade na prestação do serviço / do produto; atendimento ao prazo na prestação do serviço / na entrega do produto; preço justo da prestação do serviço / do produto; preocupação com responsabilidade ambiental e segurança na prestação do serviço / elaboração do produto; • Controle de requisitos legais: ferramenta específica para identificar e avaliar os

requisitos legais, normativos e voluntários aplicáveis ao condomínio, como por exemplo: Lei 10.406/02, Lei 8.245/91, Convenção do PdN, Regulamento interno do PdN, ABNT NR 7 – PCMSO, ABNT NR 9 – PPRA, ABNT NBR 10.898, ABNT NBR 12.779, ABNT NBR 12.962, dentre outros. 2.8.RESULTADOS • Painel de controle: os indicadores para a avaliação da implementação das estratégias e

suas respectivas metas são definidos de acordo com os objetivos estratégicos no “Mapa estratégico” e registrados no “Painel de Controle”. Nesta tabela, os indicadores são apresentados para evidenciar a integração entre os temas estratégicos, objetivos estratégicos, macro processos, indicador estratégico e indicador de resultado, referenciais comparativos e os requisitos das partes interessadas identificadas. Neste sistema de medição do desempenho, a Direção do PdN controla 10 indicadores estratégicos e seus respectivos 30 indicadores operacionais, que inclui o acompanhamento dos resultados do mensais dos indicadores no ano corrente em relação à meta do ano, o histórico dos resultados quantitativos dos últimos três anos, análise de tendência e comparação com empresas de referência (benchmark – referencial comparativo). A evolução nos últimos 5 anos dos principais indicadores estão apresentados no capítulo 3 deste artigo. 18


Tema estratégico Objetivos estratégicos

ECONÔMICO-FINANCEIRO Indicadores estratégicos

1.Valor médio da taxa condominial (R$) Manter a taxa condominial em um VALOR JUSTO e, quando possível, reduzila(6).

Não contrair DÍVIDAS e aumentar o FUNDO de RESERVA(6).

Tema estratégico

≤ 250,0

Indicadores operacionais

2.Percentual da redução média da taxa condominial (%)

3.Dívida EXTERNA total – colaboradores, fornecedores, governo (R$)

≤ 0,0

= 0,0

≥ 46 mil

Meta

1.1.Valor total das despesas acumuladas no ano (R$)

≤ 136 mil

1.2.Diferença entre receita e despesa (R$)

≥ 0,0

2.1.Valor total investido em melhorias no prédio – despesas não rateadas (R$)

4.Valor total do fundo de reserva (R$)

Objetivos estratégicos

Meta

2.2.Índice de avaliação sobre a gestão econômico-financeira – percentual de resultados “ótimo” + “bom” (%)

≥ 35 mil

≥ 93,4

3.1.Percentual do acumulado no ano da inadimplência INTERNA da taxa condominial (< 2 meses de débito) em relação ao total de arrecadação (%)

≤ 6,7

3.2.Percentual de inadimplência INTERNA (acima de 2 meses de débito) com ação judicial (%)

= 100

_Investimento em melhorais estruturais no prédio cujas despesas não são rateadas entre os moradores na taxa condominial, que contribui para reduzir o valor mensal da taxa de condomínio. _Pagamento da dívida externa relativa a impostos atrasados (INSS, IPRJ, PIS/COFINS e ISSQN); _Locação do espaço do telhado para empresa de telefonia celular Oi instalar suas antenas de transmissão / recepção;

4.1.Valor total dos recursos extras acumulados no ano (R$)

≥ 37 mil

Indicadores operacionais

Meta

_Formação de fundo de reserva com o investimento em renda fixa; _Controle austero da inadimplência para as taxas condominiais com atraso superior a 2 meses que inclui cobrança em cartório, processo judicial até a penhora do imóvel.

RELACIONAMENTO com MORADORES Indicadores estratégicos

Meta

3

Aumentar a SATISFAÇÃO dos moradores(1) em relação aos serviços prestados e melhorias no prédio com eficiência e responsabilidade socioambiental.

Principais ações | F03 _Redução das despesas operacionais que incluiu a eliminação do 3º turno da portaria, iluminação automática nas garagens com sensor de presença, instalação de lâmpadas econômicas, instalação de gás encanado, revezamento na escala de trabalho reduzindo em 50% o pagamento de horas extras aos sábados e feriados;

5.Índice de satisfação dos moradores com a gestão do condomínio - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

≥ 93,4

5.1.Consumo de água (m ) / morador

≤ 74,00

5.2.Consumo de gás (kg) / morador

≤ 15,00

5.3.Consumo de energia elétrica (kWh) / morador

≤ 211,00

5.4.Emissões de gases de efeito estufa (ton. CO2 equivalente / morador).

≤ 12,372

5.5.Percentual do total de melhorias implementadas no prédio / acumulado no plano de ação (%)

≥ 64,8

Principais ações | F03 _Realização da pesquisa de satisfação entre os moradores sobre todos os macro processos do Porto di Nucci; _Reestruturação e revitalização do hall de entrada, brinquedoteca, espaço fitness e salão de festas; _Instalação de lâmpadas econômicas visando à redução do consumo de energia elétrica; _Sensores de presença na iluminação nas garagens do TÉRREO e SUBSOLO; _Sensibilização para o consumo consciente no Dia da Água; _Ratear de acordo com a quantidade de moradores do apartamento nas despesas condominiais para o consumo de água e gás;

5.6.Quantidade de reclamações relativas ao desvio comportamental dos moradores à Convenção e ao Regulamento Interno (qtde.)

≤4

_Campanhas de conscientização e engajamento em ações de responsabilidade socioambiental e sobre bons hábitos e costumes para a convivência coletiva de acordo com as regras da Convenção e Regulamento Interno; _Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) de acordo com a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol para identificar e reduzir as principais fontes de emissão de CO2; _Substituição de gás tipo GLP por GN para reduzir as emissões de CO2.

19


Promover a governança condominial por meio da GESTÃO PARTICIPATIVA(1) dos moradores com engajamento, comunicação, transparência e ética.

Tema estratégico

6.Participação média dos moradores nas assembleias ordinárias, extraordinárias e/ou outras reuniões (%)

≥ 51,0

6.1.Quantidade de assembleias ordinárias, reuniões extraordinárias e plebiscitos realizadas (qtde.)

≥3

6.2.Quantidade de comunicados do "Porto di Nucci NEWS | F11" disponibilizados no elevador (qtde.)

_Realização proativa de reuniões e votações para a tomada de decisões na gestão condominial, além das assembleias ordinárias previstas no Código Civil;

≥ 30

_Transparência das ações por meio de informativos como o Porto di Nucci NEWS, quadro “Gestão à Vista”, boleto da taxa condominial etc.;

6.3.Percentual de ações implementadas originadas de sugestões de moradores + assembleia / plano plurianual de ação | F03 (%)

≥ 72,6

_Inserção de sugestões dos moradores no “Plano Plurianual de Ação”; _Envio de releases para a imprensa afim de melhorar a imagem institucional do PdN.

6.4.Qtde. de matérias positivas sobre o PdN publicadas na mídia.

≥7

Indicadores operacionais

Meta

EXCELÊNCIA OPERACIONAL

Objetivos estratégicos

Zelar pelo funcionamento e organização da PORTARIA(2).

(3)

Zelar pela LIMPEZA e MANUTENÇÃO(4) do espaço de convivência comum.

Garantir a SEGURANÇA(5) dos moradores, dos colaboradores e do patrimônio.

Indicadores estratégicos

7.Percentual de melhorias implementadas na portaria / acumulado no plano plurianual de ação | F03 (%)

8.Percentual de melhorias implementadas para limpeza e manutenção / acumulado no plano plurianual de ação | F03 (%)

9.Percentual de melhorias implementadas em segurança / acumulado no plano plurianual de ação | F03 (%)

Meta

7.1.Quantidade de reclamações relativas ao funcionamento e organização da portaria (qtde.)

≤1

≥ 70,6

≥ 73,8

≥ 78,1

7.2.Índice de satisfação sobre o funcionamento e organização da portaria - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

≥ 86,7

8.1.Quantidade de reclamações relativas à limpeza / manutenção no espaço de convivência comum (qtde.)

≤1

8.2.Quantidade de conflitos com fornecedores (qtde.)

=0

8.3.Índice de satisfação sobre a limpeza e manutenção do espaço de convivência comum percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

≥ 90,0

8.4.Índice de avaliação dos fornecedores - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

≥ 85,5

9.1.Quantidade de reclamações de portas encontradas abertas / alarme desativado (qtde.)

≤5

9.2.Quantidade de incidentes relativos à segurança (qtde.)

≤1

9.3.Índice de satisfação sobre a segurança - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

20

≥ 79,0

Principais ações | F03

_Ampliação de 3 para 8 câmeras de monitoramento do edifício que facilita o controle do acesso de moradores, visitantes e fornecedores em todos locais de entrada e saída do edifício; _Organização do espaço da portaria.

_ Pintura das grades, portões, grade do depósito de gás, calhas em geral, estacionamento, banheiros, espaços de área comum no andar térreo e subsolo; _Pagamento nos prazos acordados com os fornecedores; _Aquisição e locação de equipamentos, como pressurizador de água e enceradeira, para melhorar a limpeza dos espaços do edifício; _Planejamento periódico de limpezas nas calçadas, escadas e estacionamentos; _ Ecoponto para coleta seletiva nos estacionamentos do térreo e subsolo, com coleta seletiva nos andares em 2 dias da semana; _Avaliação de qualidade dos fornecedores, com a eventual desqualificação daqueles que são mal avaliados. _Instalação do sistema de segurança e alarme, com monitoramento de presença de pessoas pela empresa de segurança Serpol, além da gravação e disponibilização das imagens para todos apartamentos dos moradores pela antena coletiva do edifício; _Fechadura com maçaneta fixa e abertura somente com chave nas portas que dão acesso ao edifício; _Fechamento automático dos portões das garagens; _Seguro do edifício contra explosões, descarga elétrica e danos na infraestrutura; _ Ronda noturna externa / acompanhar entrada de moradores após as 22h.


Tema estratégico Objetivo estratégico

Aumentar a SATISFAÇÃO dos colaboradores(1).

PESSOAS Indicador estratégico

10.Índice de satisfação dos colaboradores no ambiente de trabalho - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)

Meta

= 100,0

Indicadores operacionais

Meta

10.1.Quantidade de dias ausentes (qtde.)

≤ 12

10.2.Quantidade de acidentes de trabalho - lesões leves / graves (qtde.)

=0

10.3.Percentual de melhorias implementadas no local / processo de trabalho / acumulado no plano plurianual de ação | F03 (%)

≥ 77,8

10.4.Quantidade de homem / mulher horas de treinamento (HMHT).

≥ 8,0

Principais ações | F03

_Pagamento em dia de salários e benefícios; _Definição de escala de trabalho aos sábados e feriados, permitindo o revezamento de trabalho e ampliando a folga dos colaboradores; _Flexibilidade no horário de trabalho em casos de urgência; _Mapa de riscos em todos ambientes; _Uniforme para os colaboradores; _Reforma da cozinha dos colaboradores; _Promoção de ações de desenvolvimento e capacitação dos colaboradores.

3.Resultados alcançados Para avaliar a efetividade da intervenção da gestão sustentável nas organizações, são mensurados os resultados em relação à situação econômico-financeira, clientes e mercado, pessoas, sociedade, processos e fornecedores. Os efeitos gerados pela implementação sinérgica das práticas de gestão e pela dinâmica externa à organização podem ser comparados às metas estabelecidas para eventuais correções de rumo ou reforços das ações implementadas. Desta forma, os principais resultados concretos do PdN apresentados abaixo asseguram que o modelo está no rumo certo e tem muitas oportunidades para implementar melhorias na gestão sustentável da organização: • 784,2% de aumento nos investimentos: os investimentos anuais no PdN saltaram de R$ 4

mil em 2008 para mais de R$ 35 mil em 2012. Ao todo, nestes 5 anos foram investidos R$ 118.843,1 em 76 ações / projetos do plano plurianual do PdN. Vale ressaltar, que este valor não foi rateado para os moradores na taxa condominial, ou seja, não foram deduzidos na taxa condominial; • 569,4% de aumento no fundo de reserva: em junho/07 a conta bancária do PdN era

negativa e hoje o fundo de reserva é de R$ 76 mil, incluindo uma fonte fixa e mensal de recurso extra de R$ 2,5 mil além da taxa condominial; • 156,9% de aumento na diferença entre a receita e a despesa: princípio comumente adotado

nos orçamentos domésticos e recentemente pelo poder público, devido à Lei de Responsabilidade Fiscal, este indicador significa não gastar mais do que se arrecada. No PdN, esta diferença entre receita e despesa é positiva: em 2012, a receita foi R$ 28 mil superior às despesas, um aumento de 156,9% em relação a 2008;

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• 100% de inadimplência sob controle: a inadimplência dos moradores do PdN superior a 2

meses de atraso no pagamento da taxa condominial está com ação judicial para cobrança. Este resultado deve-se a uma gestão pautada em ações de controle que inibem a inadimplência dos moradores com taxas condominiais com mais de 2 meses de atraso; • 58,9% de redução na taxa de condomínio: no período histórico dos últimos 5 anos, de

dez/2008 a dez/2012, a taxa condominial reduziu em 30,5%, enquanto que a inflação no mesmo período foi de 28,44%2. Ou seja, incluindo a inflação, é possível afirmar que o valor da taxa condominial reduziu em 58,9%. Além disso, comparado com o condomínio que é considerado referencial comparativo (benchmark) do PdN, a sua taxa condominial (R$ 834,00) é 3,6 vezes superior que a taxa condominial média do PdN em dez/12 (R$ 234,70); • R$ 0,0 de dívida com governo, fornecedores e / ou terceiros: em junho/09 a dívida com os

impostos do PdN, que era superior a R$ 10 mil, foi completamente quitada e hoje em dia o condomínio não possui dívidas com governo, fornecedores e / ou terceiros; • 100% de satisfação entre os colaboradores: a pesquisa anual de satisfação entre os

colaboradores revelou que os colaboradores do condomínio estão 100% satisfeitos em trabalhar no PdN. A pesquisa abrange questões como ambiente de trabalho, relacionamento com os moradores, disponibilidade de equipamentos e materiais para você executar o seu trabalho, relacionamento com o colega de trabalho, saúde e segurança, relacionamento com o síndico, remuneração, pagamento de horas extras e flexibilidade do horário de trabalho; • 0 de absenteísmo e 0 acidentes no trabalho: com certeza, um número invejado por muitas

organizações – em 5 anos, nunca ocorreu um acidente de trabalho no condomínio e nenhum dos colaboradores faltou durante o expediente de trabalho. Isso devido às práticas de preocupação com a saúde e segurança do colaborador e às ações de melhoria do clima organizacional; • 93,3% de satisfação entre os moradores: a pesquisa anual de satisfação dos moradores

revelou que os moradores estão 93,3% satisfeitos com a governança condominial, a gestão econômica financeira, manutenção, limpeza, portaria e segurança; • 53,6% de engajamento dos moradores: em 2012, a média de participação dos moradores

nos mecanismos decisórios do PdN foi de 53,6%. Em contrapartida à média de 10% de participação nas assembleias, de acordo com uma pesquisa do portal Sindiconet 3 - portal especializado voltado para síndicos e condomínios; 2 Fonte: http://www.portalbrasil.net/ipca.htm (acessado em 7 de março de 2013). 3 Fonte: http://www.sindiconet.com.br/8928/Informese/Administraao/Participaao-de-moradores (acessado em 07/03/2013).

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• 52,3% de redução no consumo per capta de água: o consumo de água per capta reduziu em

18,0% devido às ações de conscientização e acompanhamento mensal do consumo; • 43,6% de redução no consumo per capta de energia elétrica: como aprendizado no

processo de controle do uso de recursos naturais, foi implementada uma melhoria no processo para reduzir o consumo de energia elétrica do edifício, com a instalação de lâmpadas tipo LED e sensores fotovoltaicos para a iluminação das garagens nos andares térreo e subsolo; • 17,9% de redução no consumo per capta de gás: o consumo de gás per capta reduziu em

17,9% devido às ações de conscientização e acompanhamento mensal do consumo; • 12,1% de redução nas emissões de gases de efeito estufa (CO 2): o PdN obteve uma

redução de 12,1% em relação ao ano base (2008). Para efeito de inventário de gases de efeito estufa, de acordo com a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol (FGV), adotada pelo PdN para a elaboração do seu inventário, a comparação deve ser feita sempre em relação ao ano base do inventário, que em 2008, contabilizou 8,740 ton. de CO2 equivalente. Esta redução também se deve à substituição do abastecimento de gás tipo GLP por GN no meio do ano, uma diferença de 1,250 ton. de CO2 equivalente (escopo 1), redução equivalente a 18,2% de todas as emissões do PdN em 2012. Uma comparação consistente das emissões de GEE ao longo do tempo requer o estabelecimento de conjunto de dados de desempenho que possam ser medidos e acompanhados. Os dados de desempenho são as emissões que compõem o ano base. De acordo com a metodologia, o ano base pode ser o atual ano de elaboração do relatório ou qualquer ano anterior para o qual estejam disponíveis dados de emissões que possam ser verificados de acordo com as especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol. O PdN escolheu 2008 como ano base do seu inventário GEE devido à consistência das informações consolidadas no Sistema de Gestão Condominial Porto di Nucci | SGC PdN; • Homebook Condomínios: visando a disseminar as práticas de gestão do PdN, trata-se de um

portal desenvolvido especificamente para ser uma rede social voltada para o relacionamento entre síndico, subsíndico, condôminos e a empresa administradora e que oferece soluções de gestão condominial inovadoras e totalmente gratuitas para estes públicos, além de engajá-los no processo de gestão; • Ações de responsabilidade socioambiental: o PdN promove mensalmente diversas ações de

responsabilidade social voltadas para a mobilização dos moradores. As ações incluem campanhas como: dicas de segurança nas estradas e cuidado com o veículo; campanha de incentivo à doação de sangue para o Hemocentro da Unicamp; mudanças climáticas; redução do consumo de recursos naturais; mobilização dos moradores para arrecadação de donativos para os desabrigados; mobilização e dicas para o combate à dengue; dia mundial da água; 23


campanha de arrecadação de agasalhos; dia Mundial de preservação do meio ambiente; dia mundial de prevenção à AIDS, dentre outros. 4.Considerações finais De acordo com o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, estima-se que, até 2030, mais de 6 bilhões de pessoas estejam morando em centros urbanos. Só na América Latina, 81% da população vive em cidades. O tamanho da população e o rápido crescimento impactam em questões como problemas de trânsito, infraestrutura, exclusão social, explosão demográfica, impactos ambientais, dentre outros ETHOS (2012). Por essas e outras, incluir a sustentabilidade nas cidades é algo indispensável e fortalecê-la significa criar ambientes com condições de um desenvolvimento social justo, gerar empregos de qualidade e catalisar o acesso à qualidade de vida. No Brasil, atualmente, de acordo com o IBGE (Instituo Brasileiros de Geografia e Estatística), Hoje, 1 em cada 10 brasileiros mora em prédios IBGE (2013). Entre as explicações, estão o aumento da renda, do emprego e do crédito, além de que , morar em prédios também se transformou em status, símbolo de prosperidade. E a falta de terrenos nas grandes metrópoles levou o mercado imobiliário a novos endereços. Alinhada com esta proposta de cidades sustentáveis, a busca pela excelência da gestão sustentável condominial no Edifício Residencial Porto di Nucci rendeu ao condomínio três reconhecimentos: • Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão no nível I | 250 pontos | categoria pequenas e

médias empresas: conferido em 2011 pelo Ipeg (Instituto Paulista de Excelência Gestão), o PdN foi o primeiro condomínio do Brasil a receber um prêmio pela qualidade da gestão; • Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão no nível II | 500 pontos | categoria pequenas e

médias empresas: conferido em 2012 Ipeg (Instituto Paulista de Excelência Gestão), o PdN foi o primeiro condomínio do Brasil a receber um prêmio pela qualidade da gestão nesta categoria – medalha de PRATA; • GHG PROTOCOL | GHG: publicação do inventário de gases de efeito estufa (GHG) no

site do Programa Brasileiro GHG Protocol (FGV) – Selo PRATA, que é a publicação do inventário completo – escopos 1 (emissões diretas), 2 (provenientes do consumo de energia elétrica) e 3 (emissões indiretas). Também de forma pioneira, é o único condomínio residencial do Brasil a utilizar essa metodologia desenvolvida pela ONU e publicar o seu inventário nesta plataforma com corporações de todo o Brasil. Concomitantemente, como aprendizado desde 2008 da implementação do Sistema de Gestão Condominial do Edifício Residencial Porto di Nucci, em 2012, teve início o desenvolvimento de

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uma inovação, um portal na internet denominado Homebook Condomínios. Este portal é uma rede social voltada para o relacionamento entre síndico, subsíndico, condôminos e a empresa administradora parceira Zelo Imóveis e que oferece soluções de gestão condominial inovadoras e totalmente gratuitas para estes públicos. Com este portal, a organização pretende, além de aperfeiçoar a gestão dos seus processos e engajar as suas partes interessadas por meio do ambiente virtual, disseminar estas e outras melhores práticas de gestão para os síndicos, condôminos, administradoras de condomínios, fornecedores de materiais e prestadores de serviços condominiais de todo o país. E, por fim, desta forma, contribuir para aperfeiçoar a gestão de condomínios das cidades brasileiras para serem mais sustentáveis e, consequentemente, contribuir para construção de cidades mais sustentáveis.

5.Referência bibliográfica ETHOS, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2012). “Cidades Sustentáveis”. http://siteuniethos.org.br /ci2012/?p=1030 (consultado em 25/03/2013). FNQ, Fundação Nacional da Qualidade (2011). Critérios de Excelência. São Paulo: FNQ. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013). “Censo demográfico”. www.ibge.gov.br. (consultado em 25/03/2013). IPEG,

Instituto

Paulista

de

Excelência

da

Gestão

(2013).

“Origem

do

Ipeg”.

http://www.ipeg.org.br. (consultado em 25/03/2013). VECCHIA, Rodnei (2011). “Cidades Sustentáveis”. http://www.administradores.com.br/artigos/ economia-e-financas/cidades-sustentaveis/58046/. (consultado em 25/03/2013). VILELA, Alcino (2012). Relatório de Gestão – nível II para o Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão . Campinas: Ipeg (Instituto Paulista de Excelência da Gestão).

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Habitações populares: como os moradores convivem com a ausência de conceitos sustentáveis Suelem Maurício Fontes Macena(a)*, Sasquia Hizuru Obata(a), Daniel de Andrade Moura(a), Gilder Nader(a,b) (a) FATEC Tatuapé – Rua Antonio de Barros, 800 – Tatuapé – São Paulo – SP, CEP: 03401-000 (b) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – Rua Prof. Almeida Prado, 532 – Butantã – São Paulo – SP – CEP: 05508-901 Resumo Os governos investem em habitações populares para dar condições de moradia digna à população carente. No entanto, no Brasil, é comum que moradores dessas habitações reclamem que o ambiente é escuro durante do dia, que não é ventilado, há mofo etc. Para verificar se essas reclamações procedem, foi realizada uma pesquisa de campo no Conjunto Habitacional Monteiro, localizado no bairro Cidade Tiradentes em São Paulo – SP. Esse conjunto é composto por 12 prédios, totalizando 576 apartamentos. As pesquisas foram realizadas em 4 prédios, e em 6 apartamentos por prédio, totalizando 24 apartamentos entrevistados, sendo 8 apartamentos do primeiro andar, 4 do segundo andar, 4 do terceiro andar e 8 do quarto andar. A escolha dos prédios se deu da seguinte forma: foram escolhidos prédios bem posicionados quanto à iluminação solar (movimento de leste para oeste passando pelo norte) e quanto à direção dos ventos preferenciais em São Paulo (sul e sudeste) e também foram escolhidos prédios mal posicionados quanto a esses dois fatores. No geral foi observado que nos apartamentos dos andares superiores há boas iluminação e ventilação naturais. No entanto, nos apartamentos do primeiro andar verificou-se o oposto, havendo necessidade do uso de ventilação forçada e iluminação artificial durante o dia, o que significa consumo de energia elétrica desnecessário. Dessa forma, embora no projeto dos prédios tenha levado em conta conceitos sustentáveis, a grande maioria dos apartamentos do primeiro andar não usufruem desse benefício.

Abstract

Governments often invest in affordable housing to improve living conditions for poorer citizens. In Brazil however, it is common for people living in these housing projects to complain about poor lighting and ventilation and its hazardous effects such as mold. To confirm and evaluate these conditions, a field survey was conducted in the Monteiro housing project, located in Cidade Tiradentes neighborhood in São Paulo-SP. This housing project is composed of 12 separate buildings with a total of 576 apartments. Six apartments in each of four buildings were surveyed, comprising 8 apartments in the first floor, 4 in the second, 4 in the third and 8 apartments in the fourth floor. The buildings surveyed were chosen to include buildings poorly and well positioned with respect to natural lighting (the sun usually faces north) and preferential wind in São Paulo (south and southeast winds). Apartments in upper floors were considered to be well lit with good natural ventilation. On first floor apartments, on the other hand, the opposite was observed and forced ventilation and artificial lighting are necessary even during the day, which implies unnecessary waste of energy. While the design of the buildings did use sustainability guidelines, the first floor residents do not enjoy its advantages.


1. Introdução

Os governos têm procurado investir em habitações populares para dar melhores condições de vida à população carente. Nesse processo são reurbanizadas favelas ou são construídas moradias a baixo custo para a população. No entanto, verifica-se que muitos moradores reclamam das condições de vida nessas habitações, informando que são escuras, pouco ventiladas, úmidas, que nos dias quentes elas são extremamente quentes e nos dias frios elas são extremamente frias. De acordo com as reclamações dos moradores, têm-se a sensação de que o modelo dessas habitações está pouco inserido no contexto da sustentabilidade. E, de acordo com outros autores, verifica-se que, mesmo que haja um conceito sustentável nessas habitações (Aulicino, 2008 – Medvedovski, 2005), elas são pouco eficientes energeticamente, tanto que Assis et al. (Assis, 2007) sugere um projeto de construção energeticamente sustentável. Esse trabalho teve como meta verificar se as reclamações dos moradores procedem. Para isso, foram entrevistados moradores da COHAB do Conjunto Habitacional Monteiro, do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo – SP, que é um conjunto habitacional verticalizado. Em complemento, foi verificado o uso de iluminação artificial durante o dia e ventilação forçada no apartamento. E em quais andares elas predominavam. Estes apontamentos ressaltam problemas existentes na realidade de populações de baixa renda. A identificação de todas essas peculiaridades tem o intuito de gerar um banco de dados que possa ser utilizado em possíveis melhorias em projetos de habitações populares os quais considerem os aspectos abordados de forma a garantir que se executem construções mais apropriadas para uma habitação saudável, econômica e portanto sustentável.

2. Metodologia

2.1.

Critério de escolha dos apartamentos avaliados


Para a realização do estudo do tema proposto foram escolhidos 4 prédios, de um total de 12 (33%) do Conjunto Habitacional Inácio Monteiro, localizado no bairro Cidade Tiradentes em São Paulo – SP (ver Figura 1).

Figura 1. Orientações Norte (N), Sul (S),Leste (L) e Oeste (O) e prédios 1, 2, 3 e 4 da COHAB onde os moradores foram entrevistados – Bairro Cidade Tirandentes – São Paulo – SP (foto de satélite obtida por meio do Google Earth em 10 de maior de 2013) O local onde esses edifícios foram construídos possui um relevo íngreme com altitude variando de 810 m até 838 m (ver Figura 2). A região é dominada por casas e sobrados, tal que, esse terreno é classificado na categoria III de acordo com a norma NBR 6123:1988. A escolha dos prédios se deu devido ao seu posicionamento em relação ao sol (nasce no leste, fazendo um trajeto pelo norte e se põe no oeste) e à direção do vento predominante (sudeste e sul). Assim, foram elegidos os prédios mostrados na Figura 1 pelos seguintes motivos: •

Prédio 1 – recebe o vento sudeste praticamente sem obstáculos em seu caminho, pois as residências e relevo a montante estão distantes e são baixas e relação à


altura do prédio. Esse prédio tem uma face voltada para o lado nordeste, indicando que essa face recebe a luz do sol desde o seu nascer até aproximadamente às 16 horas;

Figura 2. Altitudes de alguns pontos do terreno onde estão construídos os edifícios com moradores entrevistados. A quina frontal da figura está localizada na face sudeste, por onde o vento preferencial incide (fotos obtidas e tratada por meio do Google Sketchup)

Prédio 2 – é o edifício mais obstruído em relação à incidência do vento sul e sudeste. Assim espera-se que esse tenha uma pior ventilação natural. Esse prédio tem uma face voltada, praticamente, para o lado norte, indicando que essa face recebe a luz do sol desde, aproximadamente, 9 horas até 17 horas;

Prédio 3 – é o edifício mais desobstruído para receber o vento sul e sudeste. Sua também possui uma face voltada para nordeste e devido à elevação do terreno, esse prédio recebe a luz do sol desde o seu nascer até aproximadamente às 16 horas; e

Prédio 4 – também possui uma face desobstruída em relação à incidência dos ventos sul e sudeste. E com relação à incidência do sol, está numa situação similar à do prédio 2. A escolha do prédio 4 foi baseada numa comparação direta


com os resultados do prédio 2, pois a diferença entre eles está relacionada com a questão da ventilação natural. Cada prédio é constituído de quatro andares e seis blocos (ver Figura 3), totalizando 48 apartamentos por prédio. As entrevistas foram realizadas com moradores de 24 apartamentos de acordo com a seguinte distribuição: •

6 apartamentos por prédio, de um total de 48 apartamentos, (13 % dos apartamentos), sendo: o

Dois no 1o andar, um no 2o andar, um no 3o andar e dois no 4o andar.

A escolha foi realizada baseada nos seguintes critérios: os apartamentos do segundo e terceiro andar têm características similares quanto à iluminação e ventilação natural, por isso foi escolhido um de cada andar. Para os do quarto andar a suposição inicial foi de possuírem melhor ventilação natural e para os do primeiro andar a suposição inicial foi de possuírem a pior ventilação e iluminação naturais.


Figura 3. A partir da primeira foto, e girando no sentido horário: prédios do Arroio do Umbu 170, Igarapé da Bela Aurora 359, Cachoeira Maçaranduba 250 e Igarapé da Bela Aurora 395 (fotos obtidas por meio do Google Street View em 10 de maior de 2013)

2.2.

Característica dos entrevistados e dos apartamentos

Essa seção tem caráter puramente ilustrativo quanto às pessoas entrevistadas e definições de comparação de resultados entre apartamentos. Dos moradores dos 24 apartamentos entrevistados, 17 eram mulheres e 7 eram homens. O intervalo de idade desses moradores está ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Intervalo de idade dos moradores entrevistados Todos os apartamentos possuíam a mesma configuração (ver Figura 5) e área útil de 39 m2. Devido ao grande volume de dados das pesquisas realizadas, e da constatação que os apartamentos do primeiro andar de cada prédio estavam em piores condições de ventilação e iluminação naturais, este artigo estará focado na comparação dos resultados dos 24 apartamentos com os obtidos das entrevistas com os moradores do primeiro andar de cada prédio. 2.3.

Dificuldades encontradas

Na efetiva realização da pesquisa de campo houve alguns problemas como a resistência de alguns moradores em passar as informações completas, alguns moradores


não quiseram responder ao questionário, e portanto houve necessidade de entrevistar um vizinho do mesmo andar. De acordo com as informações obtidas através de uma pesquisa de campo, foram gerados os resultados apresentados na seção seguinte.

Figura 5. Planta dos apartamentos avaliados

3. Resultados

O Apêndice A contém um resumo das entrevistas realizadas. Essas entrevistas estão descritas e comentadas de acordo com o prédio e andar. A seguir são apresentados resultados tabulados das questões de ventilação, iluminação e irradiação térmica.


3.1.

uanto à percepção dos moradores em relação à direção do vento e da

iluminação natural Neste artigo são relatadas as questões de ventilação, iluminação, irradiação naturais e sensação térmica no interior do apartamento. O primeiro resultado mostrado é quanto à percepção dos moradores em relação à direção do vento predominante. Verifica-se pela Figura 6 que 40 % dos moradores entrevistados têm a sensação que o vento predominante vem da direção sudeste, o que coincide com a direção predominante da cidade de São Paulo – SP.

Figura 6. Percepção dos moradores quanto à direção do vento predominante Quanto à iluminação natural, na Figura 7 são mostradas as repostas dos moradores. Nota-se que 2 moradores responderam que o apartamento é iluminado durante todos os horários do dia. Esses dois são moradores do Prédio 3 e seus apartamentos estão no segundo e terceiro andar. De acordo com as respostas dos moradores, pode ser interpretado que os apartamentos são muito bem iluminados no horário da manhã, um total de 13 apartamentos de 24 entrevistados, e no horário da tarde, um total de 7 apartamentos. Estranha-se nessa pesquisa que um morador tenha respondido que seu apartamento não recebe iluminação natural, porém ele está localizado no primeiro andar do prédio 3, logo, não há como avaliar perfeitamente se ele deu uma resposta qualquer, ou se realmente esse apartamento é mal iluminado. De qualquer forma, ao ser questionado se utilizava iluminação artificial durante o dia, ele respondeu que sim nos


quartos, cozinha e lavandeira. Ou seja, há realmente uma possibilidade desse apartamento ter uma iluminação natural ruim.

Figura 7. Percepção dos moradores quanto aos horários em que há iluminação natural

De modo geral, de acordo com as respostas dos moradores, conclui-se que os projetos originais, dos prédios e disposição dos apartamentos, levaram em consideração questões da direção do vento e da iluminação natural. Porém, mesmo que esses conceitos tenham sido bem utilizados no projeto das edificações, verificaram-se alguns problemas, principalmente nos primeiros andares. Essa análise mais detalhada está descrita na seção 3.2 desse trabalho.

3.2.

Comparação das respostas dos moradores do primeiro andar com os

resultados totais obtidos

Ventilação Natural


Quando perguntados sobre a ventilação natural do apartamento, no geral, 19 moradores responderam que era boa e 5 responderam que era ruim, como mostrado na Figura 8. Chama a atenção que os 5 moradores que afirmaram ter condições ruins de ventilação natural, moram no primeiro andar. Em um trabalho ventilação natural realizado por Nantes Junior et al. (Nantes Junior, 2013) em um modelo reduzido de habitação popular, cuja configuração do apartamento era muito similar aos dessas pesquisas, também foi verificado que o apartamento possuía boa ventilação natural nos quartos, sala e cozinha. Ou seja, a resposta dos moradores coincide com as medições experimentais realizadas em túnel de vento.

Figura 8. Resultado da sensação dos moradores quanto à ventilação natural no apartamento

Foi então verificado se os moradores faziam uso de ventilação forçada (uso de ventiladores). Nota-se pela Figura 9 que, mesmo afirmando possuírem boa ventilação natural, no geral 16 moradores utilizam ventilação forçada, e destes 6 são moradores do primeiro andar, ou seja, 38% dos entrevistados. E, daqueles que não utilizam ventilação forçada (8 moradores) há 2 do primeiro andar, ou seja, dos moradores desse andar, apenas 25% não utilizam ventiladores. Por essas relações de porcentagens, verifica-se que, apesar dos projetos dos prédios terem levado em conta o melhor aproveitamento da luz do sol e da ventilação natural, os moradores dos primeiros andares estão numa situação desprivilegiada.


Figura 9. Quantidade de moradores que utilizam ou não ventilação forçada

Iluminação Natural e Radiação Térmica do Sol A iluminação natural influencia na qualidade de vida do morador, tanto do ponto de vista da saúde como também do ponto de vista econômico. Pois, uma iluminação natural deficiente, poderá ser favorável ao surgimento de mofo. E, por outro lado, se o apartamento for muito iluminado, principalmente pelos lados das janelas de vidro, poderá haver um aquecimento do ambiente, já que, vidros são transparentes à luz visível e opacas ao calor. Na Figura 10 são mostrados os resultados da sensação de calor por irradiação solar e da umidade no ambiente, registrada por meio de verificação de pontos com mofo nos apartamentos. O resultado da iluminação, também mostrado na Figura 10, foi descrito na seção 3.1 e melhor analisado por meio da Figura 7. Como a situação era mais desconfortável nos apartamentos dos primeiros andares, segue uma análise comparativa dos resultados obtidos. Esses resultados são mostrados na Figura 11. Nota-se que, dos 10 apartamentos em que foram observados casos de mofo (na Figura 11 ver úmido), 6 deles estavam localizados nos primeiros andares, ou seja, 60% dos problemas com mofo e alta umidade estão nos primeiros andares.


Figura 10. Resultados das sensações e constatações de umidade, iluminação e irradiação térmica nos apartamentos

Quanto à irradiação térmica solar, nota-se que, pela resposta dos moradores do primeiro andar, que ela ocorre predominantemente entre as 7 e 11 horas. O que, de certa forma, é favorável à questão de melhor conforto térmico nos apartamentos, pois no final da tarde, por não haver irradiação, o apartamento tente e estar com temperatura mais baixa do que os outros que foram irradiados durante o dia inteiro. No entanto, essa resposta dos moradores parece contraditória quando comparada com a resposta à iluminação, pois os moradores afirmaram que o apartamento é iluminado durante a manhã (das 7 às 11h) e no final do dia (das 16 às 18h). Porém, essa resposta não pode ser descartada por essa comparação com a iluminação, pois, ao verificar os outros pontos, comparando irradiação solar (baixa e somente pela manhã), com umidade (6 de 8 apartamentos possuem mofo) e ausência de ventilação natural (5 de 8 apartamentos reclamaram), percebe-se que as respostas estão correlacionadas (ver Figuras 8 e 11).


Figura 11. Resultados das sensações e constatações de umidade, iluminação e irradiação térmica nos apartamentos dos primeiros andares de cada bloco Sensação térmica O terceiro e último item do questionário, a ser abordado nesse trabalho, é com relação à sensação térmica. É comum moradores de habitações populares reclamarem que a casa, ou apartamento, em dias quentes é muito quente, e em dias frios é muito frio. Por meio dessa pesquisa, foi verificado que nos dias quentes, 7 de 24 apartamentos (29%) possuem clima ameno no interior do apartamento (ver Figura 12), e que nos dias frios, 13 de 24 apartamentos (53%) possuem o clima ameno. Esse resultado mostra que, pelo menos no frio, mais da metade dos moradores não têm sensação de frio extremo, ou seja, para eles a sensação térmica do apartamento é confortável.

Figura 12. Resultado da sensação térmica no dias quentes e frios


Na comparação com os resultados dos apartamentos dos primeiros andares, verificou-se para a condição de sensação térmica, que nos dias frios é muito similar à dos moradores dos demais andares. A Figura 13 indica que 60% dos moradores dos primeiros andares consideram ameno o clima no apartamento em dias frios. No entanto, houve um aumento, em porcentagem, de moradores que consideram ameno o clima no apartamento nos dias quentes (60%).

Figura 13. Resultado da sensação térmica, no primeiro andar, nos dias quentes e frios

4. Conclusões

De acordo com a pesquisa de campo realizada com moradores do Conjunto Habitacional Inácio Monteiro – COHAB – na cidade de São Paulo – SP, a respeito de ventilação

e

iluminação

naturais,

associados

às

condições

de

conforto

e

sustentabilidade, verificou-se que, no projeto dos apartamentos foram pensados conceitos sustentáveis, pois apartamentos dos andares superiores possuem boa ventilação natural e boa iluminação, dispensando-se assim, o uso de ventilação forçada e iluminação artificial durante o dia, pois esses são fatores que consomem energia elétrica desnecessária. Porém, verificou-se também que os apartamentos dos primeiros andares dos 4 prédios onde foram realizadas as pesquisas, não apresentam as mesmas boas condições dos demais apartamentos. Nesses dos primeiros andares, verificou-se que 6 de 8 apartamentos utilizam ventilação forçada e seus moradores informam que o ambiente possui maior irradiação térmica solar no verão, além do apartamento passar boa parte do dia sem receber iluminação natural, o que favorece o aumento da umidade


nos apartamentos dos primeiros andares e o crescimento de mofo. Dessa forma, concluise que, embora tenham projetado os prédios para ficarem bem posicionados quanto à incidência da luz do sol e do vento, os apartamentos dos primeiros andares estão numa condição desfavorável do ponto de vista de conforto e sustentabilidade.

Referências

AULICINO, Patrícia, “Análise de métodos de avaliação de sustentabilidade do ambiente construído: o caso dos conjuntos habitacionais”, dissertação de mestrado, novembro de 2008 - (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-09022009185405/pt-br.php), acessado em 09/05/2013

ASSIS, Eleonora Sad de, PEREIRA, Elizabeth Marques Duarte, SOUZA, Roberta Vieira Gonçalvez de, DINIZ, Antônia Sônia Alves Cardoso, “Habitação social e eficiência energética: um protótipo para o clima de Belo Horizonte”, II Congresso Brasileiro de Eficiência Energética - IICBEE. Todos os direitos reservados ABEE. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR6123: Forças devido ao vento em edificações.” Rio de Janeiro: ABNT, 1988.

MEDVEDOVSKI, Nirce Saffer, CHIARELLI, Ligia Maria de Ávil, TILLMANN, Patrícia, QUANDT, Michelle Muller, “Gestão habitacional para uma arquitetura sustentável”, Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 49-61, jul./set. 2005. (http://seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/article/view/3649/www.ufrgs.br) ), acessado em 09/05/2013 NANTES JUNIOR, Mario Roberto, MARTINS, Gabriel Borelli, JABARDO, Paulo José Saiz, NADER, Gilder, “Análise de ventilação natural em habitação popular”, Artigo submetido ao CiiS - Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade 2013.


Apêndice A Neste apêndice são apresentados resumos das entrevistas realizadas com os moradores dos 24 apartamentos de 4 prédios (ver Figura 1 para identificar o posicionamento dos prédios) Prédio 1 No prédio número 1 o resultado obtido da entrevista aos moradores de dois apartamentos do quarto andar foi semelhante: não costumam utilizar iluminação artificial durante o dia, consideram a cozinha e o apartamento, como um todo, bem ventilados e não foram detectaram pontos de umidade. Em outros aspectos houve algumas divergências, em um apartamento foi informado que a direção predominante de incidência de vento é do nordeste, já o outro do sudeste, em um se utiliza ventilador (mais durante o verão) o outro não, o que utiliza ventilador queixou-se de excesso de calor no verão e muito frio no inverno, o outro considera de modo geral o ambiente confortável nas duas estações. No terceiro andar, a pesquisa foi realizada em apenas um apartamento. O resultado obtido foi o seguinte: a percepção da incidência do vento foi da direção leste, não utiliza iluminação artificial durante o dia, o apartamento é bem ventilado somente na região dos quartos (lado virado para a rua) mas na cozinhas e demais cômodos internos (para o lado do condomínio) não recebem ventilação, na cozinha a ventilação é insatisfatória e há pontos de umidade. No verão considera o ambiente desconfortável, por outro lado, no inverno é confortável. O apartamento recebe iluminação natural no período da manhã. No segundo andar, a pesquisa foi realizada em apenas um apartamento que possui cinco habitantes, o morador percebe uma predominância de ventilação da direção nordeste, utiliza ventilador diariamente durante 3 h. Considera o ambiente muito quente no verão e muito frio no inverno, há pontos de umidade na parede e no teto do banheiro. No primeiro andar, houve mais divergências entre os resultados da entrevista dos dois apartamentos escolhidos do que no resultado das entrevistas do quarto andar. E um dos apartamentos foi dito que a ventilação predominante é do sudeste, no outro do oeste, em um o morador utiliza iluminação artificial durante o dia por 8 horas e o outro não utiliza. Um utiliza ventilador o dia todo, o outro não. Um apartamento foi considerado


muito quente no verão e ameno no inverno, e o outro ameno no verão e muito frio no inverno, em um há pontos de umidade no banheiro (no teto), no outro nem um ponto de umidade excessiva foi detectado, em um foi dito que não há percepção de clima e ventilação anormais, no outro foi dito que provavelmente pelo fato de o apartamento estar no térreo e haver paredes ao redor há o impedimento de ventilação. Prédio 2 No quarto andar, as respostas à entrevista aos moradores dos dois apartamentos escolhidos foram muito semelhantes, ambos consideraram o ambiente bem ventilado de modo geral. Afirmaram que no verão o ambiente fica com temperatura elevada (desconfortável) e que no inverno é ameno, disseram que nos dias frios o sol de inverno faz com que o clima interno fique agradável, porém no verão as telhas não retêm a insolação e faz com que entre muito calor no apartamento. Os moradores divergiram em poucos aspectos, um disse perceber a incidência de vento do leste, o outro do sudeste. No terceiro andar, a percepção do morador quanto à maior incidência de vento foi do norte. Informou que a cozinha e o ambiente como um todo é bem ventilado e que no inverno o clima interno é ameno mas no verão é muito quente. No segundo andar houve percepção de que a maior incidência de vento é do sudeste, foi informado que há a utilização de iluminação artificial durante o dia, principalmente nos quartos e sala. Quanto à ventilação, foi dito que é boa em todos os ambientes e que no inverno o ambiente fica com temperatura amena porém no verão se torna muito quente (desconfortável). No primeiro andar, o resultado das entrevistas aos moradores de dois apartamentos foi contrastante em alguns aspectos, um considerou o ambiente bem ventilado, o outro não. Um considera o clima ameno tanto nos dias frios como nos dias quentes, o outro considera calor excessivo nos dias quentes e frio excessivo nos dias frios. Um informou a ocorrência de umidade elevada nas paredes dos quartos, o outro informou não haver este problema. Um informou que a direção de maior incidência de vento é do leste, já o outro não soube passar esta informação. Uma informação que coincidiu entre os dois moradores é que ambos fazem uso de ventilador em torno de duas horas por dia.


Prédio 3 No quarto andar foram entrevistados moradores de dois apartamentos. Ambos tiveram a percepção de que o vento predominante é do sudeste, classificaram a ventilação como um todo no ambiente como boa, porém um informou que na cozinha não ventila muito, disseram também que a predominância de iluminação natural ocorre no final da tarde. Houve outros aspectos bastante divergentes, pois um utiliza iluminação artificial durante o dia, o outro não. Um informou haver umidade excessiva e mofo no teto dos quartos, o outro não, um considerou o ambiente mais desconfortável no verão, com calor excessivo, já o outro informou que no inverno o clima torna-se muito frio. No terceiro andar, a percepção do morador quanto à maior incidência de vento foi do sudeste. Não utiliza iluminação artificial durante o dia, pois o apartamento recebe iluminação natural durante o dia todo. Classificou a ventilação no ambiente como boa assim como na cozinha. Considerou o clima ameno tanto nos dias quentes como nos dias frios. Afirmou que utiliza ventilador somente nos dias quentes. No segundo andar, foi informado que a direção predominante de incidência de vento é do sudeste. Classifica a ventilação da cozinha e do ambiente como um todo como boa. Utiliza mais de um ventilador e considera ameno o clima no interior do apartamento, tanto nos dias quentes como nos dias frios. De modo geral não houve muitas queixas quanto ao conforto ambiental ou uso demasiado de energia elétrica. No primeiro andar, as respostas dos moradores dos dois apartamentos escolhidos não foram muito uniformes, um teve a percepção de que a direção de maior incidência de vento é do leste, o outro do sudeste. Ambos os moradores consideram a ventilação do ambiente ruim e quanto à cozinha, um informou que não há ventilação e o outro classificou como média. Um utiliza o ventilador durante o dia todo e o outro somente vinte minutos por dia. Ambos afirmaram haver pontos de umidade elevada e formação de mofo e que nos dias quentes o clima interno fica muito quente, já nos dias frios, um considerou o clima ameno e o outro, muito frio, um informou que o apartamento recebe iluminação natural no final da tarde, o outro afirmou não receber iluminação natural em nenhum momento do dia.


Prédio 4 No quarto andar houve bastante semelhança entre as respostas dos moradores dos dois apartamentos escolhidos para as entrevistas. Ambos os moradores afirmaram que a direção do vento predominante é o sudoeste, consideraram a ventilação do ambiente como um todo e inclusive da cozinha como boa, não utilizam ventilador, não utilizam iluminação artificial durante o dia, informaram que os apartamentos recebem iluminação natural no final da tarde, afirmaram não haver pontos de umidade excessiva e nem de mofo no ambiente, consideram que nos dias quentes o clima interno torna-se muito quente, mas nos dias frios um considera o clima muito frio já o outro, ameno. No terceiro andar, o morador informou que a direção do vento predominante é do sudoeste, utiliza lâmpadas incandescentes, considera a ventilação da cozinha e todo o ambiente como boa, utiliza ventilador por volta de três horas por dia, considera o ambiente interno nos dias quentes muito quente e nos dias frios muito frio, afirmou a ocorrência de umidade excessiva e mofo nas paredes dos quartos e afirmou que o apartamento recebe iluminação natural por volta de meio dia. No segundo andar a percepção de maior incidência de vento do morador foi do sudeste, a consideração do mesmo quanto à ventilação da cozinha é média, mas do ambiente como um todo considerou como boa, o morador utiliza ventilador durante a noite, não utiliza iluminação artificial durante o dia, nos dias quentes considera o clima muito quente, nos dias frios classifica como muito frio, afirmou que o apartamento recebe mais iluminação natural por volta de meio dia e, de modo geral, no inverno o clima interno é mais agradável que no verão. No primeiro andar algumas das respostas mais relevantes dos moradores dos dois apartamentos escolhidos foram bastante distintas, um informou que a direção de maior incidência de vento é do sudoeste e afirmou que a cozinha e o ambiente como um todo são bem ventilados, já o outro afirmou não perceber ventilação no apartamento de nenhuma direção. Ambos classificaram o clima interno nos dias frios como ameno, já nos dias quentes, um classificou como muito quente e o outro como ameno, ambos afirmaram ocorrência de pontos de umidade excessiva e mofo nos apartamentos. De modo geral um se mostrou mais desconfortável que o outro morador.


Mini-currículo dos autores: (*)Suelem Maurício Fontes Macena – Autor principal – É estudante de graduação de Tecnologia de Construção de Edifícios na FATEC Tatuapé. Atualmente realiza Estágio no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT). E-mail: suelem.macena@fatec.sp.gov.br Sasquia Hizuru Obata – Possui graduação em Engenharia Civil pela Fundação Armando Álvares Penteado, graduação em nível Superior de Formação de Professores de Disciplinas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Mackenzie. Atualmente é professora da Fundação Armando Álvares Penteado- FAAP, e da Fatec Tatuapé. Atua academicamente na área de Engenharia Civil e Arquitetura, com ênfase em Estruturas de Concreto, Materiais e Tecnologias Construtivas e Sustentabilidades. Coordena o curso de Lato-Sensu em Construções Sustentáveis. Desenvolve e coordena projetos em sustentabilidades das construções, estando na direção de sustentabilidades da RTKSP. E-mail: sasquia.obata@gmail.com Daniel de Andrade Moura – Possui graduação em Física (2006) pelo IFSP, é especialista em Engenharia de Sistemas (2008) e Mestre em Energia (2009) pela Universidade Federal do ABC. Atualmente é professor da FATEC Tatuapé coordenando o grupo de Energia. E-mail: ascencao@hotmail.com Gilder Nader - É físico e mestre em ciências pelo Instituto de Física da UFF e doutor em engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento e é professor na FATEC Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.


Política urbana e sustentabilidade: subsídios ao processo de revisão do plano diretor de Franca Mauro Ferreira*1

Resumo O trabalho discute os resultados do processo de implementação do Plano Diretor de Franca PD, cidade média do interior de SP, aprovado em 2003 já sob a égide do Estatuto da Cidade, a partir das propostas e práticas concretas desenvolvidas pela Prefeitura Municipal no espaço urbano. O trabalho parte de dois eixos principais de pesquisa e análise: a política de desenvolvimento urbano efetivamente realizada pela municipalidade e as propostas previstas na lei para a implantação do Plano Diretor, levando em consideração as críticas presentes na literatura sobre a ineficácia do PD como instrumento de transformação real das cidades brasileiras. Verificou-se que o diagnóstico elaborado, longe de ser irreal, levava em conta as condições urbanas locais, estabelecendo compromissos do governo municipal para a expansão e o controle do espaço urbano e o planejamento democrático da cidade, tendo como pano de fundo a ideia que o PD de Franca poderia ser um contraponto à crítica recorrente de autores como VILLAÇA (1999) e MARICATO (2011) sobre o PD ser um “plano-discurso”, mas pouco utilizado como instrumento real para obtenção de alterações e melhorias urbanas significativas. As pesquisas realizadas, no entanto, apontam o descompromisso do governo local com a continuidade de um processo de planejamento democrático vinculado à sustentabilidade urbana, evidenciado pelo baixo índice de realização de ações concretas visando dar efetividade às propostas do PD capazes de enfrentar os desafios da expansão urbana de baixa densidade característica de Franca e da não aplicação dos principais instrumentos urbanísticos e fiscais presentes na lei do PD.

Abstract Urban policy and sustainability: the grants of master plan review process of Franca The paper discusses the results of the implementation of the Master Plan Franca - PD, mean inner city SP, already approved in 2003 under the auspices of the City Statute, from proposals and practices developed by the Municipality in urban space. The paper presents two main lines of research and analysis: the urban development policy actually adopted by the municipality and the proposals set out in the law for the implementation of the Master Plan, taking into account the criticisms in the literature on the ineffectiveness of PD as a tool for real transformation of Brazilian cities. 1Professor e pesquisador do LabDES – UNESP – Franca, bolsista pós-doc FAPESP. Formado em Arquitetura e Urbanismo, cursou mestrado e doutorado no IAU-SC da USP, foi secretário de Planejamento do Município de Franca (1997-2004), autor dos livros “Franca, itinerário urbano” (1983) e “Arquitetura e Urbanismo Modernos em Franca” (2007). e-mail mauroferreira52@yahoo.com.br


It was found that the diagnosis given, far from being unrealistic, took into account the local urban conditions, establishing commitments municipal government for the expansion and control of urban space and democratic planning of the city, having as background the idea that PD Franca could be a counterpoint to the recurring criticism of authors like Villaça (1999) and Maricato (2011) on the PD be a "plan-speech", but little used as a real instrument for obtaining urban significant changes and improvements. The surveys, however, indicate a lack of commitment from local government to the continuity of a democratic planning process linked to urban sustainability, evidenced by the low rate of implementation of concrete actions aimed at giving effect to the proposed PD able to meet the challenges of expansion urban low density characteristic of Franca and non-application of the main urban instruments and tax law present in the PD.

1. Plano Diretor, rede urbana e sustentabilidade Com uma taxa de urbanização que já atingiu 98,23 % e uma população de 318.369 habitantes, segundo o censo do IBGE realizado em 2010, a cidade de Franca está situada no extremo nordeste paulista e se inclui no universo de cidades de porte médio ou intermediário que não passaram por um processo de metropolização. Seu surgimento está vinculado ao movimento de “torna-viagem” dos mineiros no final do século XVIII, quando fugindo dos impostos da Coroa Portuguesa, foram ocupando o oeste de Minas até a rota do Anhanguera, o chamado “Caminho dos Goyazes”, a velha estrada entre o porto de Santos e as províncias de Goiás e Mato Grosso. Sua economia tem forte presença industrial do ramo coureiro-calçadista. No início do século XX, a possibilidade de escoamento das mercadorias pela ferrovia ensejou o surgimento da indústria calçadista, a partir da base de produção já instalada, decorrente da fabricação de produtos de couros para tropeiros e para as próprias fazendas, como arreios, selas, botinas, e outros objetos úteis confeccionados em couro. A primeira experiência de maquinização, realizada a partir de 1921, pela fábrica de calçados Jaguar, ainda que fracassada (a empresa foi à falência em 1924) propiciou a formação de mão de obra especializada e tornou visíveis as amplas possibilidades de expansão industrial decorrentes da produção seriada. Embora até o final da II Guerra esta atividade ainda fosse pouco expressiva para a economia local, a produção de calçados foi o ponto de partida para a industrialização (Ferreira, 1989). O polo industrial de Franca abriga 449 indústrias e 265 prestadoras de serviços especializados para o segmento calçadista, além de 283 empresas fornecedoras de


insumos e matérias-primas. Em 2010 sua produção foi de 25,9 milhões de pares de calçados pares (cerca de 3,2% da produção nacional), sendo 3,5 milhões destinados à exportação. Os valores de exportação do polo alcançaram US$ 95,74 milhões – 6,43% do faturamento total das exportações brasileiras de calçados no ano em questão. Em 2010 o polo empregou 32.300 trabalhadores, o que equivale a 8% da mão-de-obra empregada neste segmento no país (Sindifranca, 2010). Sua localização geográfica, porém, deixou-a fora de qualquer processo de metropolização, enquadrando-a no universo das cidades pólo de médio porte da rede urbana paulista. A rede urbana brasileira, como afirma Feldman (2002), vem passando por mudanças significativas nas últimas duas décadas, ocorrendo uma redução da tendência à concentração nos grandes centros urbanos e ampliando a expansão das cidades de médio porte, com o desenrolar de um processo de desconcentração industrial e de crescimento da população nas cidades do interior, em detrimento das metrópoles. Segundo Veiga (2005), a forte interiorização do crescimento econômico no interior paulista também foi acompanhada de significativa descentralização do seu crescimento, impactando suas cidades com taxas de crescimento populacional acima da média brasileira. No contexto da urbanização paulista, cidades entre 100 e 500 mil habitantes podem ser incluídas na categoria de cidades de porte médio ou intermediário. O conceito de cidade média ou intermediária é bastante difuso e difícil de precisar numa perspectiva de análise que envolva situações muito diferenciadas, mas no universo circunscrito ao estado de São Paulo e considerando não apenas o porte das cidades, mas também o papel que estas desempenham em seus territórios mais imediatos, a influência ou relação que mantêm com estes, e as relações que geram com o exterior, optamos por sua utilização, ainda que sujeita a revisão. A população do estado de São Paulo é de 44.262.199 habitantes (Censo IBGE 2010) e conta com 645 municípios, dos quais 64 desses possuem de 100 mil a 500 mil moradores, o que significa que cidades deste porte somam 29,05% da população total do estado de São Paulo. Os resultados do Censo do IBGE de 2010 mostram a diminuição cada vez maior no ritmo de crescimento da população de forma generalizada no Brasil. Entre 2000 e 2010


a média anual de crescimento demográfico foi de 1,17%, menor que os 1,64% da década anterior (1991-2000). Nos 11 municípios mais populosos do Brasil, a mesma taxa nesta década foi bem menor: 4,61%. Já nas cidades com número de habitantes entre 100 mil e 500 mil o crescimento populacional, no mesmo período, foi de 2,05% ao ano (Unesp Ciência, 2012:22). Segundo Barbosa (2006:101), há inúmeros exemplos de cidades que se destacaram na nova ordem globalizada por explorar sua vocação econômica como estratégia para seu desenvolvimento, ao reforçar o que sabe fazer melhor e ampliar sua competitividade, o que requere um incremento de estudos sobre a eficiência econômica das cidades que possuem aglomerações industriais e dos arranjos produtivos locais. Para Llop e Bellet (2003) as cidades médias, em quase todo o mundo, são centros de interação social, econômica e cultural, que oferecem variada gama de serviços mais ou menos especializados, para os habitantes do próprio município e de outros próximos, sobre os quais exerce influência, suas redes de infraestrutura se conectam com redes regionais e nacionais, e algumas até globais, e que alojam níveis de administração local e regional, através dos quais se canalizam demandas e necessidades da sua população. Franca pode ser considerada uma cidade média em condições bastante diferenciadas em termos ambientais diante da realidade da América Latina, pois dispõe em toda a malha urbana de redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, bem como serviços de coleta, tratamento e disposição final de resíduos domésticos e industriais em aterros licenciados, além de serviços de coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis em toda zona urbana. No entanto, o território urbano do município, por sua forma de ocupação espacial, resultou num processo de ocupação predatório, extensivo e de baixas densidades, fenômeno conhecido como “sprawling” pelos urbanistas norte-americanos e presente em dezenas de cidades brasileiras e latinoamericanas, como afirmam Polidoro, Lollo e Pereira Neto (2011:4), “No Brasil, é habitual a utilização da expansão das zonas urbanas para direcionar habitações de interesse social e conjuntos habitacionais de média e baixa renda para localidades distantes do centro consolidado. Dessa forma, a infraestrutura já instalada em determinadas regiões servem como subsídio de valorização da terra


enquanto as periferias sofrem com a falta desta ou a má qualidade, além da dificuldade de se locomoverem pelo precário transporte público até as regiões que concentram a empregabilidade. Todas estas características, fundamentadas principalmente na forma de ocupação urbana, caracterizam o que muitos pesquisadores norteamericanos (especialmente os urbanistas) denominam de sprawling urbano, ou pode-se dizer, um espraiamento (entendido como uma diluição física do espaço urbano) urbano, que ocorre de forma descontínua sobre o espaço acirrando a segregação social e gerando inúmeros impactos ao meio ambiente.” Este modelo insustentável de espraiamento urbano foi o modelo urbanístico com que a cidade de Franca se expandiu, notadamente nas décadas de 1960 e 1970. Como parte do processo de transformações em sua economia, ocorreu outro fenômeno sem precedentes, o de urbanização e de abertura de novos espaços para loteamentos: entre 1965 e 1975, surgiram 41 novos loteamentos privados (Chiquito, 2006:153), com uma área loteada de aproximadamente 707 hectares, quase duplicando a área da cidade então existente. A partir da década de 1970, sua urbanização continuou acelerada, inserindo-a no universo das cidades médias do país, cujo processo de urbanização sempre crescente coloca a temática das cidades como uma das prioridades das políticas públicas do país. Ainda segundo Chiquito (2006:87), “considerando não apenas o porte, mas também o papel que as cidades desempenham na rede urbana, as chamadas cidades médias têm características bastante diferenciadas entre si, mesmo se tratando do universo circunscrito ao Estado de São Paulo. A pesquisa “Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil”, coordenada pelo IPEA e desenvolvida pelo IBGE e pelo NESUR – IE/UNICAMP, mostra que as cidades que nos anos 1970 foram denominadas cidades médias passam a ser qualificadas como centros urbanos regionais, sub-regionais ou isolados, dependendo do

nível

de

centralidade,

podendo

integrar

aglomerações

metropolitanas ou não.(...) Das 54 cidades paulistas de porte médio


identificadas em 2000, 23 integram as aglomerações urbanas metropolitanas de Campinas e São Paulo, e 31 municípios se caracterizam como não-metropolitanos”. O município possui área total de 605,68 km2 e a zona urbana legalmente instituída pela Lei do Plano Diretor está em torno de 83 km2 em 2012, conforme levantamento do autor a partir da descrição perimétrica inserida como Anexos I-A e I-B da referida lei (Franca, 2013). Atualmente, esta mesma zona urbana definida pelo Plano Diretor possui, segundo dados preliminares levantados pelo autor, cerca de 1800 hectares de glebas não parceladas, em sua maioria situadas nas franjas oeste e sul da região urbanizada. Além deste estoque de terras ainda não urbanizadas e de uma área de expansão urbana de 2600 hectares, existem 34.293 mil lotes vazios dotados de infraestrutura (água, esgoto, pavimentação, energia elétrica, iluminação e drenagem) resultantes de parcelamentos legalizados dentro da zona urbana e de expansão urbana definida legalmente pelo Plano Diretor, que representam 22,64% dos imóveis cadastrados na Prefeitura (num universo total de 151.502 mil imóveis cadastrados em 2012, segundo o Cadastro Físico da Prefeitura), onerando a infraestrutura urbana e os serviços públicos em geral com sua baixa utilização. Outro aspecto preocupante da atual ocupação urbana é o número de domicílios vagos constatados pelo Censo do IBGE em 2010: do total de domicílios recenseados (112.673

unidades),

havia

14.742

domicílios

particulares

não

ocupados,

correspondentes a 13,08% do universo pesquisado. Neste sentido, dar concretude ao cumprimento da função social da propriedade urbana, nos termos constitucionais, requer alterações importantes na política urbana, que propicie uma ocupação e uso do solo que supere os desafios necessários a um desenvolvimento sustentável. Considerando que a população urbana de Franca, segundo o Censo do IBGE de 2010 é de 313.046 habitantes para uma área urbana de 83 km2, resulta que a densidade demográfica bruta da atual zona urbana é bastante baixa, da ordem de apenas 37,62 habitantes/hectare, enquanto há cidades brasileiras onde as densidades estão entre 250 e 450 habitantes/hectare (Holanda, 2006). O relatório da ONU-Habitat (2012:34) afirma que


“Las ciudades de America Latina y del Caribe son actualmente medianamente densas comparadas a las de otras areas urbanas del mundo. Datos del ano 2000 indicaban que la densidad urbana promedio en la region – calculada sobre una base de 25 aglomeraciones elegidas al azar– era de 70 personas por hectarea. Las ciudades de la region presentaban una densidad similar a la observada en Europa y en Africa; eran mucho mas densas que las principales ciudades norteamericanas (menos de 25 hab/ha) y mucho menos que las grandes ciudades asiáticas (200 a 400 hab/ha).” A concepção de que uma cidade, para ser sustentável, deve ser mais compacta, está cada vez mais presente na literatura. Para Mascaró e Yoshinaga (2005), os custos das redes de infraestrutura serão menores na medida em que for maior a densidade de uma área, pois os custos de pavimentação e drenagem de águas pluviais significam em torno de 55% do custo total das redes de infraestrutura, corroborando a ideia geral de que o espraiamento da cidade gera desperdício e despesas excessivas para a manutenção ou melhoria do atual padrão de qualidade e sustentabilidade da vida urbana. Para Rogers (2001:166), “comunidades compactas de uso misto devem ser agrupadas em torno de núcleos de transporte público, com a comunidade planejada em torno de distâncias capazes de serem vencidas a pé ou de bicicleta”, portanto, no caminho oposto ao contínuo processo de espraiamento que ocorre na cidade de Franca. Com um orçamento previsto para 2013 de R$ 592 milhões, a Prefeitura enfrenta dificuldades para manter e ampliar os serviços públicos essenciais e realizar os investimentos necessários orientados pelo Plano Diretor vigente para ampliar os padrões de qualidade de vida em patamares superiores aos do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, da ordem de 0,820 (IDH-M de 2000), considerado de alto desenvolvimento humano segundo a classificação adotada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Levantamentos preliminares do autor sobre a execução orçamentária do município mostram que a média de investimentos da Prefeitura não ultrapassou a média de 4% do orçamento anual nos últimos dez anos, ou seja, os gastos para manter a máquina pública em funcionamento consomem quase


todos os recursos disponíveis, tornando o município cada vez mais refém de recursos dos governos federal e estadual para realizar novas obras e investimentos em sua infraestrutura urbana. Passados dez anos da aprovação do Plano atual, a previsão legal de revisão do Plano Diretor a cada dez anos no máximo, determinada pelo Estatuto da Cidade, exige do poder público e da sociedade civil em 2013, a adoção das medidas legais e administrativas obrigatoriamente necessárias à discussão e revisão de um novo Plano Diretor, sintonizado com as condições atuais e com as novas necessidades e realidade da vida e estruturas urbanas.

2. A gestão urbana local e o enfrentamento dos problemas urbanísticos A elaboração do Plano Diretor vigente no município de Franca iniciou-se em 1997, cujos trabalhos foram desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Planejamento do Território e Meio Ambiente, com o apoio de consultoria do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (hoje Instituto de Arquitetura e Urbanismo– IAUSC), unidade da Universidade de São Paulo. Este Plano viria substituir o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município - PDDI, elaborado durante o regime militar nos anos 1960, o primeiro que a cidade teve, dentro dos princípios definidos pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – SERFHAU, que estimulou e financiou a elaboração de centenas de planos diretores municipais naquela década. Segundo Quinto Jr. (2008:56), “o questionamento levantado neste período era relativo aos limites dos instrumentais urbanísticos e da legislação urbanística utilizados na elaboração destes planos urbanos. Existe um consenso na teoria relativo a este período de que estes planos diretores acabaram assumindo um caráter burocrático e tecnocrático, pois acabaram funcionando como um relatório técnico de como organizar a cidade de forma ideal sem levar em consideração os problemas urbanos concretos, como especulação imobiliária, problemas habitacionais e de expansão urbana que não foi aplicado na maioria das cidades”.


De fato, a metodologia preconizada pelo SERFHAU privilegiava um diagnóstico dos problemas urbanos e uma pretensa racionalidade na elaboração do Plano, cujos efeitos sobre o espaço urbano foram muito criticados por sua escassa eficácia, apontada por significativo número de trabalhos, tais como de Maricato (2011), Ribeiro e Cardoso (1974), e Villaça (2005). Nestes estudos, realizados sobre as grandes metrópoles brasileiras, verifica-se que as críticas se concentram em aspectos que, em maior ou menor grau, são recorrentes nos autores citados, como a centralização de poder no Executivo; a ausência de participação da sociedade e dos usuários dos serviços públicos na definição dos investimentos e das políticas públicas; a ineficácia de um planejamento urbano considerado tecnocrático, baseado num diagnóstico excessivo, irreal, que se espelhava numa legislação elitista e na burocracia, incapaz de enxergar e diferenciar a cidade real daquela dos mapas. Os autores apontam ainda outros aspectos, como a deterioração das condições de vida urbana e ambientais; a execução de grandes obras que interessavam mais às empreiteiras que às cidades; a priorização do transporte individual em detrimento do coletivo, principalmente através da construção de obras viárias para o automóvel particular. Em função destes elementos, o planejamento urbano do período seria apenas retórico, sem qualquer desdobramento efetivo na cidade real. No entanto, através de investigações específicas no espaço urbano de uma cidade média como Franca, diferentemente do que a literatura apresenta em geral, verificou-se a realização de intervenções físicas e obras cujos efeitos estão claramente presentes no território, intervenções contidas nos estudos e nas propostas do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Franca, tais como a criação do Distrito Industrial; a pedestrianização do centro; a implantação de um extenso e moderno sistema viário; a transformação de voçorocas em áreas verdes, de lazer e parques urbanos (Ferreira, 2007). Somente em 1997 começou-se a desenvolver de fato uma alteração significativa em relação ao modelo de Plano Diretor do município. A nova administração municipal (eleita no ano anterior e que seria reeleita posteriormente para um novo mandato até 2004) tinha como compromisso político assumido durante a campanha eleitoral na área de planejamento urbano a elaboração de um novo Plano Diretor, a partir do diagnóstico


do esgotamento do Plano e da necessidade de sua revisão. A diretriz política colocada pelos novos governantes da cidade à época (identificados à esquerda do espectro político local) era elaborar um novo Plano Diretor que superasse os limites do PDDI e incorporasse propostas comprometidas com a nova ordem democrática e constitucional em vigor a partir de 1988, vinculadas às ideias do movimento pela Reforma Urbana, antes mesmo da aprovação do Estatuto da Cidade, como instrumento para inverter as prioridades de investimentos públicos, democratizar o acesso à cidade e a gestão urbana (Ferreira, 2007). A tarefa de elaborar o Plano ficou a cargo da Secretaria de Planejamento do Território, com a participação dos demais organismos da administração direta e indireta. O diagnóstico dos principais problemas a serem enfrentados pelo novo Plano Diretor abordava os seguintes aspectos: proliferação de voçorocas causadas pela ocupação de áreas sujeitas à erosão; crescimento descontrolado da área urbana, inclusive em áreas de proteção aos mananciais; 35 mil terrenos vazios (num universo de 115 mil imóveis cadastrados) em bairros que dispunham de serviços públicos; gestão compartimentada da administração municipal e frágil articulação com administrações de municípios vizinhos e com outras esferas de governo (Franca, 1998). Ao mesmo tempo em que se discutia o novo Plano Diretor, foi elaborado o primeiro Plano Municipal de Habitação, transformado em lei em 1997 e que articulava a política habitacional à política urbana, a ser desenvolvida pela empresa pública municipal responsável pelo setor, a PROHAB. Observação empírica dos dados atuais disponíveis e da atuação da administração municipal durante os anos de 2003 a 2012 mostram que a situação permanece basicamente a mesma identificada em 1998 em relação à frágil articulação regional (não foi criado nenhum consórcio intermunicipal ou ações integradas pelos municípios da Região Administrativa de Franca nestes anos), ao número de terrenos urbanizados e glebas vazias, bem como ao contínuo crescimento da área urbana e de expansão urbana com baixa densidade. A alteração mais significativa e digna de nota nestes anos é que os riscos ambientais e sociais causados pelas erosões e voçorocas foram reduzidos na área urbana pela realização de obras de recuperação previstas no Plano Diretor e pelo não surgimento de novas voçorocas.


Pode-se afirmar, com base nos estudos realizados por Godoi (2006), que um dos motivos do não surgimento de novas voçorocas e erosões no espaço urbano foi o notável incremento e aplicação das exigências de cumprimento das normas técnicas de preservação ambiental nos projetos de novos empreendimentos, exigidos pela Prefeitura a partir do decreto municipal n. 7439, de 8 de outubro de 1997, que disciplinou a fixação de diretrizes e aprovação prévia de novos loteamentos, fruto dos estudos técnicos iniciais para o Plano Diretor, demonstrando a eficácia dos instrumentos previstos e implementados na prevenção de novas ocorrências erosivas, notadamente nos empreendimentos efetuados após a edição do citado decreto e da aprovação da lei do Plano Diretor. 3. As Propostas do Plano Diretor de Franca de 2003

O novo Plano Diretor de Franca foi elaborado entre 1997 e 1998. Havia, no entanto, forte oposição de grupos do setor imobiliário à proposta (discutida em dezenas de audiências públicas), sob a alegação que o novo Plano iria reduzir investimentos em novos loteamentos, abrindo brechas à formação de favelas na cidade e que alguns dispositivos previstos no projeto de lei não estavam ainda regulamentados pelo Congresso Nacional (o Estatuto da Cidade somente foi promulgado em 2001). Por este motivo, o Plano terminou sendo rechaçado pela Câmara em duas tentativas do Poder Executivo (Ferreira, 2007). A lei do Plano Diretor - PD foi finalmente aprovada pela Câmara Municipal na terceira tentativa, no final de 2002 e promulgada em janeiro de 2003. Segundo o dispositivo criado pelo Plano na Seção II – Da Edificação ou parcelamento e edificação compulsória, artigos 54 a 62, os terrenos vazios situados na Macrozona de Ocupação Preferencial teriam um prazo para serem ocupados. Caso este prazo não fosse cumprido, a proposta previa a aplicação do IPTU progressivo, sendo excluídos os imóveis com área até 300 m2, que sejam única propriedade do titular. Porém, tal instrumento somente poderia ser utilizado se fosse regulamentado por lei específica,


conforme determina o Estatuto da Cidade, o que não ocorreu dez anos após a aprovação do PD, pois o Executivo não tomou qualquer iniciativa neste sentido. Outro aspecto importante do PD era a criação de um sistema de informações para o planejamento urbano local. Tratava-se de construir uma ferramenta de acompanhamento e gestão das políticas públicas de desenvolvimento urbano, e também contribuir na construção de um Sistema de Informações para o Planejamento municipal, em atendimento ao preconizado pela Lei Federal que estabeleceu o Estatuto da Cidade e pela Lei do Plano Diretor do Município que, em seu capítulo IV, seção IV, artigo 47, determina que: “O sistema de informações para o planejamento do Município terá, no mínimo, as seguintes informações básicas: I. geo-ambientais, compreendendo o solo, o subsolo, relevo, hidrografia e cobertura vegetal; II.

cadastros

urbanos,

em

especial

equipamentos

sociais,

equipamentos urbanos públicos, cadastro imobiliário, áreas vazias, sistema viário e rede de transporte público de passageiros, arruamento, infra-estrutura d'água, esgoto, energia elétrica e telefonia, estabelecimentos industriais, de comércio e serviços; III. legislações urbanísticas, em especial uso e ocupação do solo, zoneamento, parcelamento, código de obras, postura e tributação e áreas especiais de atividades econômicas, preservação ambiental, histórica e cultural; IV. sócio-econômicas, em especial demografia, emprego e renda e zoneamento fiscal imobiliário; V. operações de serviços públicos, em especial transporte público de passageiros, saúde, educação, segurança, habitação, cultura, esportes e lazer.” Infelizmente, esse dispositivo não foi implantado pela municipalidade, pois o sistema de informações para o planejamento nunca foi institucionalizado. Os cadastros, dados e informações das atividades do setor público municipal, quando existentes,


permanecem dispersos em diversos organismos e setores da Prefeitura e não estão sistematizados ou disponíveis para consultas. Sintoma da ausência de preocupação da Prefeitura de Franca com a disponibilidade de informação de suas ações aos cidadãos é que, mesmo com a aprovação e entrada em vigor há mais de um ano da Lei Federal de Acesso à Informação, a Prefeitura de Franca ainda a descumpre, como constatado pela reportagem do jornal Folha de São Paulo (Stivali, 2013), dificultando acesso a dados elementares e não sigilosos do serviço público. A única informação relativa ao Plano Diretor no site da Prefeitura é um link para o texto da lei, mas não inclui os mapas que o compõem. Ou seja, o planejamento urbano democrático está ausente da agenda municipal. O PD considerou que a ocupação dos vazios deveria ser prioridade da política de uso e ocupação do solo urbano, fundamentada na forma que o processo de crescimento da cidade foi diagnosticado e na busca do desenvolvimento sustentável: uma ocupação extensiva da área urbana e alta incidência de lotes não edificados em áreas dotadas de infraestrutura e serviços públicos, portanto subutilizados ou não utilizados. No entanto, como verificamos, optou-se pela continuidade da expansão dos limites da área urbana, sem qualquer preocupação com a ocupação racional da cidade já existente e dotada de infraestrutura e serviços públicos. 4. Conclusões

A partir de 2005, o novo governo municipal assumiu com perfil bastante diferente do anterior, decidindo pelo não prosseguimento do conjunto de programas e projetos previstos pelo Plano Diretor. Os planos de gestão integrada previstos pelo PD como instrumentos de ação do poder público, embora previstos no orçamento municipal por força de lei, apenas registravam rubricas, mas as ações efetivadas de acordo com a execução orçamentária não se traduziram coordenadamente nos projetos previstos no Plano Diretor. Um elemento emblemático deste descompromisso com as diretrizes e propostas do Plano Diretor de 2003 é que, embora ele tenha diagnosticado corretamente e expresso


claramente a necessidade de conter o espraiamento da malha urbana por sua insustentabilidade, a Prefeitura encaminhou projeto de lei em 2008, aprovado pela Câmara Municipal em 2009, que ampliou ainda mais os limites da área de expansão urbana em aberta contradição com as diretrizes expressas no capítulo I (Da Política Urbana) da Lei do Plano Diretor, onde ficava claro o objetivo de garantir o direito a uma cidade sustentável e ao planejamento do desenvolvimento, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente. A área urbana definida pela Lei do Plano Diretor em 2003 possuía 8359 hectares e mais 2680 hectares como área de expansão urbana. A alteração aprovada através da lei complementar nº 140, de 09 de abril de 2009, que alterou o Anexo I-B da Lei Complementar nº 050, de 17 de janeiro de 2003 (a lei do Plano Diretor), estabelecendo uma nova descrição perimétrica da área de expansão urbana no Município de Franca, ampliou a área de expansão urbana em mais 1.380 hectares, um incremento de mais de 12% da área que pode ser legalmente parcelada em relação a 2003.

Figura 1: Mapa das áreas urbana e de expansão urbana previstas pelo Plano Diretor de Franca em 2003 e alterações promovidas em 2009. Fonte: Prefeitura de Franca e Mauro Ferreira.


Grosso modo, a considerar levantamento preliminar do autor sobre o aproveitamento médio comercial obtido pelos parcelamentos do solo na cidade, situado em torno de 55% da área total das glebas parceladas (considerando as exigências mínimas da legislação municipal vigente em termos de previsão de percentuais de reserva de áreas públicas obrigatoriamente destinadas a praças, parques, áreas verdes, áreas institucionais e circulação), a área de expansão poderá abrigar mais 86.200 lotes comercializáveis em torno de 250 m2 cada um. Considerando que na área urbana ainda persistem vazios envolvidos pela malha urbanizada e dotada de toda a infraestrutura, que a área de expansão urbana da lei de 2003 ainda não foi totalmente ocupada, que há milhares de edificações inseridas na malha urbana não aproveitadas, o espraiamento da cidade como uma política deliberada do poder público é evidenciado, dificultando a adoção de medidas que tornem a cidade mais sustentável, em função da continuidade da rarefação de sua densidade demográfica. Embora o artigo 79 do PD exigisse a elaboração de uma nova legislação sobre uso, ocupação, parcelamento do solo e edificações em até cento e oitenta dias após a promulgação do PD, isso não ocorreu. A lei de parcelamento do solo elaborada pela administração 1997-2004 foi rejeitada pela Câmara e a nova administração somente reencaminhou o projeto de lei à Câmara, como alterações pontuais, em 2009, após receber cobranças do Ministério Público. O Código de Edificações, embora com a minuta elaborada pela administração 1997-2004, não foi objeto de providências pela nova administração e segue sem ser modernizado desde 1968. A revisão do plano existente e criação do Plano Local de Habitação de Interesse Social – PLHIS, exigência da legislação federal que criou o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS, não foi adiante. Até o momento o PLHIS não foi elaborado, impedindo o município de ter acesso aos recursos federais disponíveis para novos empreendimentos habitacionais financiados pelo FNHIS, desarticulando a política pública de habitação de baixa renda. Ou seja, pode-se inferir, portanto, que a não implementação das diretrizes do PD de Franca é mais um elemento que dá motivos concretos para a crítica concebida por Villaça (2005), que considera os Planos Diretores como “planos-discurso” que não


encontram respaldo nas práticas efetivas de sua implementação no espaço urbano real, fazendo com que a disciplina do planejamento urbano siga desprestigiada e também persista a forte desigualdade social no território e falta de controle de uso e ocupação do solo, piorando as condições gerais, sociais, ambientais e de vida nas cidades, como afirma Maricato (2011).

5. Agradecimentos À FAPESP, pelo apoio.

Referências

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Túnel de Vento: uma importante ferramenta a serviço de tecnologias sustentáveis Gabriel Borelli Martins, Alessandro Alberto de Lima, Paulo José Saiz Jabardo, Gilder Nader (*)

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Rua Prof. Almeida Prado, 532 – Butantã – São Paulo – SP, CEP: 05508-901 Resumo Tecnologias sustentáveis envolvendo questões sociais, energéticas e ambientais, como, edificações verdes, energia eólica, poluição e agricultura podem fazer uso de túnel de vento, que simula as principais características do vento natural em ambientes urbanos e rurais, possibilitando melhorar análise de projetos sustentáveis, tornando-os ainda mais eficientes. Neste artigo são apresentadas algumas das aplicações que do túnel de vento do (IPT), como por exemplo, seu uso para avaliação do potencial eólico de um terreno ou de trechos urbanos, e para determinação da configuração mais otimizada para instalação dos aerogeradores, evitando interferência das esteiras a montante e a jusante destes. Ensaios em túnel de vento também são realizados para otimização de edificações sustentáveis, onde buscam-se condições mais eficientes de ventilação natural para reduzir o uso de ventilação forçada. No túnel de vento são simuladas dispersão de contaminantes urbanos, ou odores, emitidos por instalações industriais ou por emissões veiculares. Nesses estudos de poluição ambiental, são verificadas alterações de rotas de veículos urbanos, ou uso de barreiras naturais ou artificiais, que melhorem a dispersão de contaminantes, e assim sejam evitadas patologias respiratórias, entre outras doenças, nos habitantes. Dispositivos passivos podem mudar a turbulência do vento na agricultura, melhorando a qualidade dos frutos e produtividade. Portanto, como se pode notar, as aplicações de um túnel de vento como elemento de análise de tecnologia sustentável possui inúmeras aplicações, e todas visam trazer um melhor benefício para a sociedade e maior eficiência dos empreendimentos sustentáveis.

Abstract Sustainable technologies involving social and environmental issues such as green buildings, wind energy, pollution and agriculture profit from tools that improve design. The wind tunnel is one such tool that makes it possible to simulate the most significant characteristics of natural wind in urban or rural environments and how these characteristics improve or worsens the performance of sustainable systems. This article presents some applications of the IPT’s wind tunnel who can be used to improve estimates of wind potential of a terrain or even urban areas. It can also be used to study the effect of interference between wind turbines and their wakes so that the number and layout of wind turbines is optimal. Wind tunnel testing is also used to analyze and improve sustainable buildings where natural ventilation is optimized to reduce the need of forced ventilation to a minimum. The dispersion of urban contaminants or odors emitted by industrial plants and vehicles are modeled in the wind tunnel so that better alternative vehicular routes can be proposed and natural or artificial barriers used to improve air quality and avoid respiratory pathologies and other related diseases common in large urban centers. Wind can induce erosion and blow dust and other impurities to urban centers. Wind fences can reduce such problems and its aerodynamic characteristics can be studied in the wind tunnel. Passive aerodynamic devices can changes wind turbulence on agriculture and improve quality and productivity. Wind affects most natural and human processes and its accurate modeling is an important part of any efficient design of sustainable technology. Wind tunnel testing is, still today, the most accurate tool when modeling complex phenomena involving natural wind.


1.

Introdução Desde a década de 70 a interação homem/meio ambiente vem sendo discutida entre

representantes de diversas nações do mundo em conferências como a Rio+20. Percebeuse que o uso indiscriminado dos recursos naturais, embora traga fartura e progresso, é extremamente prejudicial, comprometendo o desenvolvimento de gerações futuras. Desde então, busca-se, em diversas áreas, encontrar soluções que promovam o desenvolvimento necessário para o presente, sem comprometer o futuro. Tal desenvolvimento sustentável é, em parte, alcançado com o progresso científico. Passou-se a estudar mais profundamente questões como conforto ambiental, dispersão de contaminantes em grandes centros urbanos, aperfeiçoamento de processos produtivos, desenvolvimento de tecnologias que aproveitem energias renováveis, otimização de estruturas e redução de consumo de combustível em veículos. Neste contexto, os túneis de vento são ferramentas que despertam grande interesse devido aos resultados apresentados além da facilidade e segurança na implementação de soluções. Este artigo visa explorar os diversos trabalhos realizados nos túneis de vento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – IPT, mostrando seus resultados, e como estes são aliados importantes na busca constante de tecnologias sustentáveis. 2.

Túnel de vento Os túneis de vento são projetados de acordo com sua aplicação, mas, no geral,

podem ser classificados em dois tipos: túneis de vento de circuito aberto e túneis de vento de circuito fechado. Dentre as vantagens de um túnel de vento de circuito aberto, em comparação a um túnel de vento de circuito fechado, pode-se citar o menor custo de construção e a inexistência do problema de purga de fumaça oriunda de ensaios de visualização ou ensaios com motores a combustão, uma vez que as duas extremidades do túnel são ligadas à atmosfera. Já em um túnel de vento de circuito fechado a energia requerida para funcionamento é menor. Ademais, túneis de vento de circuito fechado produzem menos ruído que túneis de vento de circuito aberto (Barlow, 1999). O Laboratório de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento do IPT possui dois túneis de vento, sendo um aerodinâmico (figura 1) e outro de camada limite atmosférica


(figura 2). O túnel aerodinâmico é de circuito aberto e possui seção de testes de 500 mm x 500 mm, podendo atingir velocidade máxima de 45 m/s. Este túnel de vento é bastante utilizado na calibração de sensores de velocidade do ar. O túnel de vento de camada limite atmosférica também é de circuito aberto, com seção de testes de 3 m de largura por 2 m de altura, e demais dimensões apresentadas na planta e elevação da figura 3. A velocidade máxima de projeto é de 25 m/s.

Figura 1 – Túnel aerodinâmico do IPT

Figura 2 – Túnel de vento de camada limite atmosférica do IPT


Figura 3 – Planta e elevação do túnel de vento de camada limite atmosférica do IPT

Este túnel de vento possui duas seções de testes: uma aerodinâmica e outra de modelagem do vento natural. A primeira seção de testes está alocada logo após a contração é aerodinâmica (figura 4), pois apresenta perfil de velocidades uniforme e intensidade de turbulência menor que 1%. Nela podem ser realizados, por exemplo, ensaios de aerogeradores, aeromodelos e modelos reduzidos de automóveis. A segunda é a seção turbulenta onde se simula o vento natural, pois nela são posicionados modelos de construções sujeitas à camada limite atmosférica, como edifícios, instalações industriais, plataformas de petróleo, plantações e pontes. O comprimento de 28 metros entre o início da primeira seção de testes e o final da segunda seção de testes advém da necessidade do desenvolvimento da camada limite até a seção atmosférica, o que, de acordo com vento natural que se deseja simular, é auxiliado pela instalação, no interior do túnel de vento, de uma barreira castelada, geradores de vórtices e elementos rugosos distribuídos ao longo do piso do túnel (ver figura 5).


Figura 4 – Identificação das duas seções do túnel de vento

Figura 5 – Barreira castelada, geradores de vórtices e elementos rugosos 3.

Camada limite atmosférica


O perfil de velocidades da camada limite atmosférica é representado pela lei logarítmica dada por: U 1 z = . ln ⁡ u❑ κ z0

( )

.

(1)

O primeiro termo da equação acima é a razão entre a velocidade U na altura z e a velocidade de atrito

u❑

definida como

√ τ / ρ , onde τ é a tensão de cisalhamento

do vento agindo no piso e ρ é a massa específica do ar. Já no segundo termo, κ é a constante de von Karman e

z 0 é o comprimento de rugosidade, parâmetro que define

cinco categorias de terreno na norma brasileira NBR 6123:1988 e que é utilizado na determinação da altura e disposição dos elementos rugosos no túnel de vento. Na figura 6 é possível identificar o efeito do comprimento de rugosidade no perfil de velocidades. A norma brasileira NBR 6123:1988 prevê cinco categorias de terrenos que vão de superfícies lisas de grandes dimensões, como mar calmo, (categoria I) a terrenos cobertos por obstáculos numerosos, altos, grandes e pouco espaçados, como centros de grandes cidades (categoria V).

Figura 6 – Influência do

z 0 de diferentes categorias de terreno no perfil de velocidades


O perfil de velocidades no túnel de vento é medido utilizando-se um tubo de Pitot. Mede-se também, com auxílio de um anemômetro a fio quente, a intensidade de turbulência em cada altura, definida por:

σ I = ́U U sendo

́ U

,

a velocidade média na altura z de medição e

(2) σU

o desvio padrão da

velocidade para esta altura. A figura 7 mostra um perfil de velocidades e de intensidade de turbulência, para terreno da categoria V, medidos em túnel de vento, com velocidades e alturas adimensionalizadas.

Figura 7 – Terreno de categoria V pela NBR 6123:1988, escala 1:200

4.

Instrumentação A seguir, estão elencados os instrumentos disponíveis para a realização dos diversos

tipos de ensaio realizados no túnel de vento do IPT. •

Stereo PIV (Particle Image Velocimetry) LaVision;

2D LDV (Laser Doppler Velocimetry) DANTEC;

3 células de carga com 6 graus de liberdade (RUAG, Kystler e ATI);


FID (Flame Ionization Detector) Cambustion;

Transdutores de pressão Scanivalve – 48 tomadas de pressão;

Transdutores de pressão Pressure Systems – 512 tomadas de pressão;

Acelerômetros Kystler;

Sensores ópticos de deslocamento Micro Epson ();

Tubo de Pitot de 5 furos com alta resposta em frequência Aeroprobe;

Tubo de Pitot de 12 furos Aeroprobe;

Tubos de Pitot e anemômetros a fio quente CTA 1D, 2D e 3D;

Robô cartesiano utilizado para posicionamento das sondas de medição; e

Torquímetros.

Além dos equipamentos citados acima, o túnel de vento contará, em breve, com uma mesa de testes automatizada que permite variar o ângulo de incidência do vento em edificações; e variar calado, adernamento, trim e aproamento de embarcações. 5.

Capacitação do túnel de vento

Nessa seção serão abordados os trabalhos realizados no Laboratório de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento do IPT.

5.1.

Plataformas de petróleo: forças, turbulência e Contaminantes

Ensaios de plataformas de petróleo off-shore são os mais completos e exemplificam muitos dos problemas e soluções relacionados à ação do vento tanto em características que afetam o meio ambiente como na parte estrutural da embarcação. Nos ensaios de embarcações buscam-se determinar os coeficientes aerodinâmicos de força e momento por meio de uma célula de carga instalada no modelo em escala reduzida da embarcação. Esses ensaios têm como finalidade a realização de projetos eficientes e seguros do ponto de vista da estrutura da embarcação, assim como do arranjo de seu top-side. Pelo fato de plataformas de petróleo off-shore estarem dezenas de quilômetros distantes umas da outras, há a preocupação com o projeto e posicionamento do


heliponto (IPT Notícias, 2010), para que haja segurança no pouso e decolagem de helicópteros (CAA, 2008). Os projetos seguros são obtidos simulando em túnel de vento as características de turbulência do vento e elevação de temperatura de plumas das chaminés das turbinas, na região do heliponto. De acordo com os resultados obtidos, o projeto pode ser aprovado, ou podem ser sugeridas alterações para maior conforto, segurança e eficiência do sistema de pouso e decolagem de helicópteros. A figura 8 mostra o modelo em escala reduzida durante a medição com PIV, bem como alguns resultados de modelos numéricos e de experimentos (De Carvalho, 2010, Jabardo, 2012).

Figura 8 – Ensaio para determinação de velocidade e turbulência em helipontos – modelo de plataforma em escala reduzida 1:200.

Uma plataforma de petróleo é uma planta industrial que gera sua própria energia. Para isso, ela possui turbinas que queimam combustível fóssil e emitem gases quentes para a atmosfera. O estudo da disposição das chaminés das turbinas, cujas plumas atingem temperaturas superiores de 400°C, é fundamental para verificar se esses gases quentes estarão acima da altura segura de pouso e decolagem de helicópteros. Essas medições são realizadas com o FID e os resultados mostrados na figura 9.


Figura 9 – Ensaio de elevação de plumas em modelo de plataforma utilizando FID – escala 1:200.

Qualidade do ar em plataformas off-shore e nas cidades Esses mesmos dispositivos, PIV e FID são utilizados também para verificar condições de qualidade de vida dos trabalhadores, como por exemplo, são avaliadas como os gases das tubulações se dispersariam na planta da plataforma de petróleo caso houvesse um vazamento. Pois, é indesejável que trabalhadores respirem esses gases e estejam sujeitos a patologias respiratórias, outros tipos de doenças e até mesmo fatalidades. Assim, o conhecimento das rotas dos gases e verificação de pontos de acúmulo de contaminantes, faz com que se definam rotas de fuga de certos locais de trabalho da plataforma, para que se evitem maiores complicações ambientais. Essas análises também são realizadas visando evitar contaminação do sistema de ar condicionado dos alojamentos e de locais fechados, pelos gases do ambiente externo da plataforma de petróleo. Esses resultados propiciam melhorias no pré-projeto de uma plataforma de petróleo off-shore. E, como se pode notar, as mesmas tecnologias podem ser utilizadas em cidades ou plantas industriais, para que se proponham soluções para evitar contaminações ambientais pelas emissões veiculares e por indústrias.

5.2.

Calibração de sensores de velocidade de fluidos As calibrações de sensores de velocidades de ar e água são realizadas no túnel de

vento aerodinâmico do IPT, figura 1. Dentre os equipamentos calibrados pode-se citar o


anemômetro de copos da figura 10 e o tubo de Pitot do tipo Cole, ambos empregados em eficiência energética e redução de perdas. Anemômetro de Copos para parques eólicos Anemômetros de copos (figura 11) são utilizados em parques eólicos, visando a determinação da eficiência energética dessa instalação (Nader, 2011). Essas calibrações são realizadas na faixa de 4 até 16 m/s (NBR 61400, 2012), onde se deve obter uma excelente linearidade (coeficiente de correlação superior a 0,99995). Pois, é a medicação da velocidade pelo anemômetros que informa ao governo federal o quanto aquele parque está gerando de energia elétrica.

Figura 10 – Calibração de anemômetro de copos.

Tubos de Pitot do tipo Cole para redução de perda de água tratada As calibrações de tubos de Pitot do tipo Cole também estão relacionadas a uma economia sustentável. Atualmente no Brasil, a de perda de água tratada está na faixa de 37% a 42% (Agência Brasil 2011), porém, alguns anos atrás essa perda chegava a mais de 60%. A SABESP é um exemplo a ser seguido, pois atualmente a perda de água tratada é de 26% e pretende-se atingir 13% em 2019 (UOL Notícias, 2010). Essa menor perda de água tratada da SABESP se dá devido a um grande investimento na tecnologia de monitoração e medição de vazão de água. Um dos instrumentos utilizados nessas medições é o tubo de Pitot do tipo Cole, calibrado no IPT e com incertezas expandidas de calibração na faixa de 1%.


5.3.

Wind fences para controle de dispersão de particulados Wind fences são barreiras empregadas para proteção contra o vento. Empresas que

manipulam, por exemplo, minério de ferro e carvão, utilizam tais barreiras como forma de proteger o meio ambiente contra particulados destes materiais. A figura 11 mostra um porto com pilhas de particulados e a posição onde pode ser construída uma wind fence (faixa branca) para que os particulados não sejam arrastados pelo vento em direção ás residências vizinhas. Nota-se nessa figura 11 que também há um cinturão verde utilizado como barreira eólica. Os cinturões verdes são mais eficientes, não custam caro, e são ecologicamente melhores. Porém, são necessários muitos anos até que as arvores atinjam a altura e configuração prefeita entre elas, para que funcionem como barreira do vento. Dessa forma, a implementação de wind fences se faz necessária até que o cinturão verde esteja na configuração natural correta. Nos ensaios no túnel de vento do IPT, foi modelada camada limite do entorno e foram testados modelos reduzidos de wind fences com 15 m de altura construídos com materiais com 5 permeabilidades diferentes. Foi medido o perfil de velocidades a jusante da barreira e a diversas distâncias da mesma (2,5 m a 60 m) com um anemômetro a fio quente, como mostra a montagem da figura 12. Observa-se pelos resultados mostrados, que a velocidade do vento sobre a pilha de carvão foi atenuada em até 7 vezes.

Barreiras naturais e artificiais na agricultura

Para a agricultura também são estudadas barreiras naturais e artificiais que têm como objetivo alterar a característica do vento atmosférico, como por exemplo, elevando a turbulência e dessa forma melhorando a qualidade do fruto e sua produtividade (Cataldo, 2012).


Figura 11 – Indicação do posicionamento da wind fence. Imagem obtida do Google Earth em agosto de 2012

Figura 12 – Montagem e resultados para testes com wind fences.

5.4.

Construção civil


Ao realizar os projetos da construção civil no Brasil, os engenheiros estruturais se baseiam na norma brasileira NBR 6123:1988 para determinação das cargas de vento. Entretanto, a norma fornece dados para determinação do carregamento em estruturas de geometria simples, que são bastante estudadas, possuindo, assim, um grande banco de dados. A criatividade dos arquitetos, aliada à necessidade de otimização dos projetos para redução dos custos e do desperdício de matéria prima, bem como ao desenvolvimento de novos materiais e técnicas de construção, tornam as construções modernas cada vez mais imponentes, arrojadas e complexas. O uso mais racional da matéria prima, com a otimização das estruturas civis, prevê coeficientes de segurança menores do que aqueles empregados no passado. Nesse sentido, tanto simulações numéricas quanto ensaios em túnel de vento, são ferramentas essenciais para os engenheiros estruturais. 5.4.1. Ensaios estáticos para determinação do carregamento devido ao vento A determinação da carga devida ao vento em uma estrutura é importante para validar os cálculos prévios realizados pelo engenheiro estrutural. Em estruturas muito complexas costuma-se adotar coeficientes de segurança maiores nos cálculos, o que ocasiona em uso elevado de concreto, estruturas metálicas etc., que podem ser interpretados como desperdício de material e energia na sua construção. Dessa forma, os ensaios

em

túnel

de

vento

podem

mostrar

quando

uma

estrutura

está

superdimensionada, indicando que é possível economizar em alguns elementos. Por outro lado, também mostram quando elementos da construção estão aquém dos níveis de segurança pré-estabelecidos. Nos ensaios de carregamento estático do vento, preocupa-se em reproduzir as características geométricas do protótipo em modelo em escala reduzida, o qual deve ser o mais rígido possível, de forma a evitar vibrações. Medem-se a pressão nas superfícies externas e internas do modelo ou instrumenta-se o modelo com células de carga. A figura 13 mostra os resultados obtidos no túnel de vento de camada limite atmosférica do IPT para um edifício com quinas e cantos vivos. Nela é possível verificar as regiões de sobrepressão na fachada a barlavento e de sucção na fachada a sotavento. Resultados como esses, indicam que nas partes mais altas da edificação, há uma maior sobrepressão numa face, enquanto na face oposta há uma maior sucção, ocasionando numa oscilação do edifício. Ensaios em túnel de vento são fundamentais para verificação desse comportamento oscilatório, para verificar se o projeto original poderá sofrer dano estrutural ou causar desconforto dinâmico nos moradores.


Figura 13 – Resultado de ensaio estático obtido em edifício para incidência do vento na direção y.

Projetos importantes de grandes arquitetos do Brasil e do exterior, e estádios de futebol, alguns com conceitos sustentáveis e tecnologia verde, foram testados no túnel de vento do IPT, e outros com objetivo a otimizar a estrutura, como descritos a seguir.

Santiago Calatrava – Museu do Amanhã Para realização dos ensaios do Museu do Amanhã (Téchne, 2011, IPT Notícias, 2011), a ser construído no Rio de Janeiro, foi construído um modelo na escala 1:200 (figura 14). O projeto do edifício tem conceitos sustentáveis e tecnologia verde. Como exemplo, as aletas mostradas em detalhes na figura 15, não são fixas. Nelas serão instalados células fotovoltaicas, e as aletas se moverão de acordo com o posicionamento do sol, com o objetivo de aproveitamento máximo da energia solar.


Figura 14 – Modelo do Museu do Amanhã

Esse projeto também possui um conceito de aproveitamento de ventilação natural, e medições de pressão interna na edificação foram realizadas para analisa-la.


Figura 15 – Detalhe das aletas do Museu do Amanhã

Oscar Niemeyer – Torre da TV digital de Brasília A torre da TV Digital de Brasília, projeto de Oscar Niemeyer, possui 182 m de altura por 10 m de diâmetro em sua base. Essa é uma estrutura muito alta e esbelta. Projetos desse tipo podem necessitar de fundações muito bem estruturadas para evitar a queda da construção devido à ação do vento. Um ensaio em túnel de vento (figura 16) é fundamental para dimensionar corretamente a estrutura e evitar gasto desnecessário de material e energia.

Figura 16 – Modelo em escala de 1:150 da torre de TV digital de Brasília

Dos resultados obtidos no túnel de vento, foi verificado que os esforços causados pelo vento eram cerca de 4 vezes menores que os calculados pelos projetistas, baseado em normas. Porém, nesse caso, a fundação da torre foi construída com os valores


maiores, calculados previamente, pois, segundo Mario Terra, projetista estrutural (Pini Web, artigo211608-1):

"Comparando com os coeficientes de arrasto que eu havia considerado, estávamos com valores acima [do apontado pelo ensaio]. Porém, temos sempre que considerar que o modelo tem um acabamento na superfície que difere do acabamento real, com irregularidades do concreto etc. Então, essa margem de folga foi necessária".

Arena Pantanal – Arena MT A Arena Pantanal, Cuiabá-MT (figura 17), é um projeto premiado e busca certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) [IPT Notícias 2012-2] que faz uso, por exemplo, de ventilação cruzada, para propiciar maior conforto térmico dos espectadores.


Figura 17 – Arena Pantanal – montagem no túnel de vento e mapa de coeficientes de pressão para incidência do vento indicada na figura – escala 1:200

Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi) Parte da modernização do estádio do São Paulo F.C. inclui além da construção da cobertura, uma arena de shows coberta e com fechamento acústico. Detalhes do modelo ensaiado e alguns resultados dos coeficientes de pressão são mostrados na figura 18. Esse estádio foi ensaiado considerando a arena de shows aberta e fechada (IPT Notícias, 2012-3), pois esses resultados são fundamentais para se dimensionar o material acústico a ser utilizado no fechamento da arena.

Figura 18 – Modelo do Estádio do Morumbi e sua vizinhança no túnel de vento – escala 1:200 e Piores casos de ∆ C P para situações de sucção


5.4.2. Ensaios dinâmicos Os edifícios atuais são cada vez mais altos e esbeltos, e a tendência a construir pontes estaiadas, utilizando materiais mais leves em sua construção, exige que sejam realizados ensaios dinâmicos dessas estruturas. A NBR 6123:1988 afirma que edificações cujas frequências naturais estão abaixo de 1 Hz, particularmente aquelas fracamente amortecidas, podem apresentar importante resposta flutuante na direção do vento médio. As técnicas mais utilizadas nesses ensaios são a High Frequency Pressure Integration (HFPI), para a qual é utilizado um modelo estático, e a medição do comportamento dinâmico das estruturas, onde são utilizados modelos aeroelásticos. Na figura 19 é mostrado o ensaio de um modelo seccional da ponte estaiada da Cidade Constantine – Argélia (IPT Notícias, 2010-2), local sujeito a cargas sísmicas da ordem de 35% e que possui um projeto ousado e utilizando materiais modernos.

Figura 19 – Modelo aeroelástico seccional de ponte (com e sem tráfego)

5.4.3. Conforto térmico e dispersão de contaminantes


O túnel de vento pode ser utilizado como ferramenta de apoio na elaboração de políticas pública e do plano diretor de uma cidade. Pois, por meio de ensaios em túnel de vento, determina-se como a verticalização de alguns bairros, ou a rota de carros, ônibus e caminhões influenciam na qualidade de vida da população. Além disso, as medições de velocidade podem auxiliar no estudo do conforto térmico.

Estudo de conforto de pedestres e dispersão de contaminantes O crescimento desordenado das cidades contribui para agravar problemas de circulação de ar nas mesmas, o que, juntamente ao problema de poluição atmosférica, pode agravar problemas de saúde, principalmente de caráter respiratório, em moradores. O túnel de vento pode ser utilizado para prever áreas de baixa circulação de ar e, dessa forma, soluções podem ser pensadas para estas áreas especificamente. Uma das técnicas usuais é a de saltação de areia, que consiste na distribuição de forma discreta de areia sobre a superfície do modelo da cidade, com o ensaio sendo realizado a diversas velocidades. Dessa forma, verifica-se para quais velocidades do vento há erosão da areia sobre o modelo, e são detectadas as condições de conforto do pedestre. Neste trabalho é mostrado o resultado obtido de uma região da cidade de Santos_SP (identificada no mapa da figura 20), onde um paredão de prédios na orla prejudica a circulação do ar a jusante. Nos resultados mostrados na figura 20 (PRATA SHIMOMURA, 2009), observa-se uma região branca, indicando que naquele ponto não há circulação do ar, mesmo para ventos mais fortes (350 rpm equivalem a 3 m/s a 2 m de altura). Isso ocasiona em acúmulo de poluentes e elevação de temperatura local (Globo Mogi, 2010).


Figura 20 – Identificação da região modelada e resultados

Estudo de ventilação natural interna em apartamento típico de habitação popular

Para estudar a ventilação interna de um apartamento típico de habitação popular, foi construído um modelo em escala reduzida na escala 1:15 (figura 21). Foram realizadas visualizações do escoamento, mapeamento de velocidades em cada cômodo (figura 22) e medições de pressões internas. No ensaio deste modelo de apartamento, foi detectada uma boa ventilação natural nos quartos, sala e cozinha. No entanto, notou-se que no banheiro não havia renovação do ar.


Figura 21 – Visualização do escoamento interno em modelo de apartamento

Figura 22 – Medição com PIV em um dos cômodos

Conforto térmico no Castelão O conforto térmico baseia-se no balanço térmico, no fluxo de calor do centro do corpo para a superfície da pele e no fluxo de calor da superfície da pele para a superfície externa da roupa. Por meio da medição da velocidade do vento no modelo reduzido, e utilizando o índice PET, foram obtidos os resultados mostrados nas figuras 23 e 24. Pelo fato de em Fortaleza-CE, a temperatura ser aproximadamente 30 ºC durante o ano inteiro e de acordo com os índices PET encontrados foi verificado que o estádio estará termicamente mais agradável a partir do final da tarde.


Figura 23 – Índice PET para solstício de inverno às 15h

Figura 24 – Índice PET para solstício de inverno entre 17h e 18h

5.5.

Energia eólica

A crescente demanda de energia elétrica levou o homem a desenvolver tecnologias de aproveitamento de energias renováveis. Entre elas está a energia eólica. No túnel de


vento são ensaiadas a aerodinâmica de pás, determinados o potencial eólico de um terreno, a otimização da distribuição de aerogeradores para evitar interferência entre eles e o desempenho de aerogeradores. Além disso, são determinados também os esforços estáticos e dinâmicos nas torres e pás dos aerogeradores, realizando-se medições similares às descritas nas seções 5.4.1 e 5.4.2. Na figura 25 são mostrados dois aerogeradores ensaiados na seção aerodinâmica do túnel de vento do IPT, o primeiro é um aerogerador comercial utilizado em postes e similares e o segundo é um modelo reduzido de um projeto inovador (Balloon, 2010). Ambos aerogeradores estão em uso nos dias atuais apresentando bons desempenhos.

Figura 25 – Aerogeradores montado na seção de testes aerodinâmica

6.

Conclusão Neste artigo foram mostrados vários tipos de ensaios realizados nos túneis de vento

do IPT que estão relacionados com eficiência energética, conforto ambiental, dispersão de contaminantes, melhor qualidade da produção agrícola etc. Os ensaios demonstram que túnel de vento é uma importante tecnologia à disposição de uma economia sustentável.

Agradecimentos


Os autores agradecem à todos que contribuíram com o desenvolvimento desses trabalhos, que foram a equipe técnica anterior e atual do CMF/IPT, CNaval/IPT, CTObras/IPT, alunos e professores da POLI/USP, FAU/USP, UNICAMP, FEI e MAUÁ, IMFIA/Uruguai, LACLYFA/Argentina, aos fomentos de PETROBRAS, FAPESP e CNPq, e às parcerias com equipes técnicas da PETROBRAS e diversos outros engenheiros civis, navais e construtoras.

Referências AGÊNCIA BRASIL, “Índice de perda de água tratada no Brasil é elevado” (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-09-11/indice-de-perda-de-agua-tratada-nobrasil-e-elevado), acessado em 04 de maio de 2013. BALLOON, 2010 (http://www.balloonenergia.com.br/), acessado em 04 de maio de 2013 BARLOW, Jewel, RAE, William; POPE, Alan (1999). Low-Speed Wind Tunnel Testing. USA. Wiley-Interscience CAA - Civil Aviation Authority - London: CAP437 Offshore Helicopter Landing Areas - Guidance on Standards, dezembro, 2008. CATALDO, José, PIENIKA, Rodolfo, PAIS, Pablo, GRAVINA, Alfredo, “Ensayo de árbol cítrico modelo en túnel de viento”, 2º Congreso Latinoamericano de Ingenieria del Viento – CLIV2 – Dezembro de 2012 – La Plata – Argentina DE CARVALHO, Daniel Fonseca, PAGOT, Paulo Roberto, NADER, Gilder, JABARDO, Paulo José Saiz, “CFD simulation and wind tunnel investigation of a FPSO offshore helideck turbulent flow”, Proceedings of the 29th International Conference on Ocean, Offshore and Arctic Engineering OMAE2010 -June 6-11, 2010, Shanghai, China GLOBO MOGI, 2010 (http://www.youtube.com/watch?v=nOmr7X_1z2c&hd=1), acessado em 04 de maio de 2013. JABARDO, Paulo José Saiz, NADER, Gilder, PACIFICO, Antonio Luiz, PEREIRA, Marcos Tadeu, MARTINS, Gabriel Borelli, DE CARVALHO, Daniel Fonseca, PAGOT, Paulo Roberto, “Ensaios de plataformas off-shore em túnel de vento - medições de carregamentos do vento, qualidade do escoamento e elevação de temperatura de plumas no helideck”, 2º Congreso Latinoamericano de Ingenieria del Viento – CLIV2 – Dezembro de 2012 – La Plata – Argentina IPT Notícias 2010, “Efeitos do Vento em Alto Mar”, (http://www.ipt.br/noticia/269.htm), acessado em 04 de maio de 2013. IPT Notícias 2010, “Ponte na Argélia”, (http://www.ipt.br/noticia/214.htm), acessado em 04 de maio de 2013. IPT Notícias 2011, “Ação do Vento”, (http://www.ipt.br/noticia/371.htm), acessado em 04 de maio de 2013. IPT Notícias 2012, “Energia do Vento”, (http://www.ipt.br/noticia/621.htm) , acessado em 04 de maio de 2013. IPT Notícias 2012-2, “Arena MT no Túnel de Vento”, (http://www.ipt.br/noticia/531.htm), acessado em 04 de maio de 2013. IPT Notícias 2012-3, “Morumbi no Túnel de Vento”, (http://www.ipt.br/noticia/575.htm), acessado em 04 de maio de 2013.


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Mini-currículo dos autores: Gabriel Borelli Martins – É engenheiro mecânico formado pela FEI. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de características de conforto térmico e carregamento do vento, como por exemplo, ensaio do Estádio Castelão, do Estádio Arena Cuiabá, do Estádio do Morumbi, entre outras edificações. E-mail: gborelli@ipt.br Alessandro Alberto de Lima - Possui graduação e doutorado em Engenharia Mecatrônica pela Escola Politécnica da USP. É especialista em modelagem numérica computacional do escoamento ao redor de estruturas. Atualmente atua na área de pesquisa e desenvolvimento em engenharia do vento, realizando modelagens numéricas da interação fluido-estrutura e ensaios experimentais em túnel de vento no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). E-mail: aalima@ipt.br Paulo José Saiz Jabardo – É engenheiro mecânico, mestre em ciências e doutor em engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: pjabardo@ipt.br (*) Gilder Nader – Autor principal – É físico e mestre em ciências pelo Instututo de Física da UFF e doutor em engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento e é professor na FATEC Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.br


Viabilidade para implantação de edifícios de balanço energético zero no Brasil Roberto Oranje *

Este trabalho analisa a viabilidade de se implantar edifícios de balanço energético zero no Brasil. São edifícios altamente eficientes do ponto de vista energético, e capazes de produzir, numa base anual, pelo menos a mesma quantidade de energia que consumiram. Combinam estratégias de redução de consumo com aumento de eficiência energética, e geração de energia a partir de fontes renováveis. Analisamos definições, premissas e alguns exemplos de edifícios de balanço zero, para avaliar a viabilidade técnica e econômica deste conceito no Brasil. Este conceito coloca um objetivo claro e puro de eficiência, que pode ser atingido através da integração nos processos de de projeto, obra e operação do edifícios. É importante, no entanto, que sejam computados na análise também a energia incorporada nos materiais, bem como a energia consumida no transporte dos mesmos e dos usuários do edifício, esta majoritariamente de fontes fósseis. This paper analyzes the feasibility to build net zero energy buildings in Brazil. These are highly energy efficient buildings, capable of producing at least as much energy as they use on a yearly basis. They combine strategies to reduce consumption with increase of energy efficiency, and use of renewable energy sources. We analyzed definitions, assumptions and examples of net zero energy buildings to evaluate the technical feasibility and economical viability of this concept in Brazil. This concept puts a clear and pure efficiency goal, which can be achieved through an integrated design, build an operation process. It is important, though, that energy embedded in materials, as well as energy used for transportation of materials and building users, which use mainly fossil fuels, be accounted for.

* Consultor em sustentabilidade e certificação LEED AP. Arquiteto formado pela FAU

- USP, com especialização em Gestão e Tecnologias Ambientais, pelo PECE /POLI - USP. Mais de 25 anos de experiência em projetos e gerenciamento de obras na área corporativa, tanto no Brasil como na Holanda. Gestor do projeto de implantação do primeiro edifício certificado pelo LEED no Brasil, a agência Granja Viana do Banco Real, em Cotia, São Paulo.


Energia é um vetor fundamental para o desenvolvimento humano. Desde a préhistória, com a descoberta do fogo, o homem utiliza energia de outras fontes que sua própria força muscular, para diversas finalidades, permitindo uma evolução ímpar da espécie. O fogo propiciou aquecimento, proteção, luz, e permitiu cozinhar os alimentos. O recurso – madeira – era abundante e, se escasseasse, os povos eram obrigados a migrar, ou desapareciam. Depois, o homem passou a utilizar outras fontes de energia, com a domesticação de animais para uso no transporte e lavoura, além do aproveitamento do vento e das quedas d'água.. Na revolução industrial, o carvão forneceu não só a energia térmica para aquecer as casas, mas também a energia mecânica das máquinas a vapor. De lá para cá, com os avanços tecnológicos vieram ainda a exploração de outros recursos, como o petróleo, gás, e a eletricidade. Chegamos, no entanto, num ponto na nossa história, em que a exploração cada vez maior destes recursos coloca em risco seu suprimento futuro, além de colocar em risco nosso desenvolvimento e das gerações vindouras, devido aos impactos ambientais causados por sua transformação e utilização como energia. Há limites para este modelo de crescimento. Mesmo superando o desafio tecnológico de viabilizar novas fontes de energia renováveis em condições de escala e economia adequadas, não podemos deixar de lado o aspecto da conservação de energia, da redução do seu consumo. Se queremos continuar nos desenvolvendo, temos de utilizar recursos e energia com mais eficiência. Há quem argumente que as leis de mercado são suficientes para incentivar a economia de um recurso quando se torna escasso. Assim, as variações entre procura e oferta se traduzem em alterações de preço, que regularizam o mercado. Uma linha de economistas ambientais acredita que é possível internalizar o valor destes recursos naturais dentro dos cálculos de custo de produção, e que é possível substituir um recurso natural por um produzido. Outra linha, de economistas ecológicos, alerta para a fragilidade deste raciocínio. Entendem que a variação de preços por si só não impedirá que o recurso seja explorado à exaustão. Prova disso é a crise do petróleo, de 1973/74. Houve um desequilíbrio brutal de preços, mas finda a crise continuamos a praticar o mesmo modelo de consumo energético. Se houve ganho em eficiência, também expandiu o consumo de maneira geral, ou seja: um anula o outro. O economista inglês Stanley Jevons, apontou em 1864 que as iniciativas para economizar carvão, através do aumento na eficiência do seu uso, acabaram tornando a energia a vapor mais barata do que a humana ou animal, estimulando um consumo ainda maior de


carvão. Nos tempos atuais o mesmo acontece com diversos itens do nosso dia a dia, como lâmpadas, eletro eletrônicos, geladeiras, automóveis: o aumento da eficiência vem acompanhado do aumento de consumo (Manno, 2002). Ou seja, para atingir um resultado sustentável, é preciso combinar conservação de energia com eficiência energética. Neste artigo abordaremos este tema com foco no projeto, construção e operação de edifícios. Especificamente, avaliando a viabilidade técnica e econômica de implantar edifícios de balanço energético zero no Brasil, ou seja: edifícios que produzem, no mínimo, a mesma quantidade de energia que consomem. Edifícios de Balanço Energético Zero Num sentido amplo, para um edifício atingir um balanço energético zero, ou nulo, é preciso que ele seja projetado, construído ou reformado, e operado para funcionar com uma necessidade reduzida de consumo de energia, suprindo a demanda que ainda houver com energia de fontes renováveis. Ou seja, é um edifício altamente eficiente do ponto de vista energético, e capaz de produzir, numa base anual, pelo menos a mesma quantidade de energia que consumiu. Tanto a eficiência no consumo, como a utilização de fontes renováveis para a geração de energia, perseguem o mesmo objetivo: eliminar ou compensar os impactos ambientais causados pela demanda de energia nos edifícios. Estes impactos ocorrem ao longo de todas as etapas do fluxo energético, englobando desde a extração dos recursos, a geração de energia primária, sua distribuição, até seu uso final, e são comparáveis através da emissão de CO 2 equivalente em cada uma das etapas, de acordo com cada tipo de fonte. Mesmo fontes renováveis geram impactos ambientais: a implantação de uma hidrelétrica ocasiona a emissão de gases da decomposição da biomassa alagada na criação do reservatório, alteração de ecossistemas, deslocamentos populacionais, etc... A combustão do álcool ou biodiesel também gera emissões, além dos impactos associados ao plantio - até positivos, pois a planta captura CO2. A questão é saber se estes recursos serão indefinidamente renováveis. Um estudo sobre segurança energética no Brasil indica que haverá queda na oferta de energia devido ao cenário de mudanças climáticas; a vulnerabilidade será maior exatamente nas energias de fontes renováveis, principalmente a hidreletricidade (Schaeffer, 2008).


A diferença de abordagem, na conceituação de um edifício de balanço zero em relação a outras ações de eficiência energética em edifícios, consiste em: •

Estabelecer uma meta absoluta ao invés de uma meta relativa; em outras

abordagens, a eficiência energética é expressa como uma meta de redução percentual de consumo de energia em relação a padrões habituais, mínimos ou pré-estabelecidos para edifícios existentes. Em outros termos, para ser zero, não basta ser menos ruim, precisa ser bom. •

Estabelecer uma meta agressiva, difícil de atingir e muito mais de superar, o

ótimo em termos de eficiência energética. É uma meta formulada de maneira quase filosófica, ao utilizar o conceito do “zero”. Premissas Para alcançar a meta do balanço zero, é necessário: •

Comprometimento, conhecimento e mudança cultural

Delimitação do escopo

Processo de projeto colaborativo, integrativo e com foco claro

Abordagem escalonada

Monitoração e medição

Por ser uma abordagem nova, é fundamental o comprometimento de todos os envolvidos para atingir os objetivos propostos. Implica em uma mudança cultural, tanto por parte dos profissionais como do proprietário. A equipe responsável pelo projeto terá de ser muito assertiva na comunicação durante todo o processo, para que este objetivo não se perca no meio do caminho. Para tornar o resultado mensurável, é necessário delimitar o escopo a ser atendido. Existe hoje uma diversidade de conceitos sobre o que engloba um edifício de balanço zero. Nesta discussão, busca-se um consenso sobre: •

Como adequar o conceito a climas e tipologias de edifícios diferentes


O que deve ser computado: incluir (ou não) a etapa de construção e demolição, o consumo de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, entre outros itens.

A relação entre consumo, eficiência e geração de energia. No processo de projeto, a integração da equipe é mais crítica para o desenvolvimento

de um edifício de balanço zero do que a aplicação de qualquer nova tecnologia. Na verdade, há oportunidades incríveis de eficiência que podem ser obtidas mesmo com tecnologias atuais. Num projeto integrativo, participam desde a primeira conceituação profissionais como arquitetos, engenheiros elétricos e mecânicos, estruturais, paisagistas, etc... se possível até os responsáveis pela construção e manutenção do edifício, e, claro, especialistas em modelagem energética. Não existe uma sequência linear, em que um passa a informação pronta para o próximo, mas uma participação simultânea de todos, para maior sinergia e resultado. Pontos importantes: •

Abordagem multidisciplinar.

Definição de objetivos no início do projeto.

Colaboração e confiança mútua

Em seu livro “The Architecture of the Well Tempered Environment”, Reyner Banham relata o impacto do desenvolvimento das instalações mecânicas e elétricas na arquitetura moderna. Ele foi um dos primeiros a notar que com o advento de novas tecnologias, como o ar condicionado, a forma e a construção do edifício deixaram de exercer a função de moderadores do clima externo em relação ao ambiente interno. Em muitas situações passaram até a acentuar as características climáticas locais, como edifícios com fachadas de vidro em climas muito quentes ou muito frios. Essa dicotomia entre arte e técnica levou a uma arquitetura extremamente dependente do aporte de energia para seu conforto e habitabilidade, aplicada de forma igual nos 4 cantos do mundo (Banham, 1984). Hoje em dia, com o cenário de mudanças climáticas, esta abordagem entrou em xeque. Cada vez mais projetos voltam a enfocar a forma e a construção do edifício como uma estratégia primordial para o conforto e bem estar dos usuários, e para a eficiência energética do edifício. Isto não implica necessariamente no retorno a técnicas e modos tradicionais de construção, mas sim na reinterpretação deste conhecimento com base em tecnologias atuais.


Como a forma e a construção do edifício têm um grande potencial para reduzir a demanda de energia, sem grandes impactos no custo da obra (muitas vezes nenhum), recomenda-se começar a análise das estratégias de eficiência energética por este aspecto. São os ganhos fáceis, ou “low hanging fruit” em inglês. A partir daí seguir para análise em outros níveis, daí o termo abordagem escalonada. Essa abordagem visa o aproveitamento máximo dos recursos de menor custo (ou menor custo incremental), antes de buscar recursos de custo médio ou alto em relação ao benefício. •

O primeiro nível da abordagem escalonada identifica as oportunidades de

redução de consumo de energia, e concentra-se na arquitetura do edifício; avalia a forma, orientação,

fenestração,

materiais

de

construção,

isolamento,

sombreamento,

cor,

estanqueidade e paisagismo. Decisões erradas neste nível podem acarretar a duplicação da capacidade e consumo dos equipamentos mecânicos. 60% do potencial de redução de consumo de energia está neste nível (Lechner, 2009). •

O segundo nível aborda o uso de energia natural, através de técnicas passivas,

como aproveitamento de luz natural, ventilação de conforto e noturna, acumulação de calor e aquecimento solar passivo. Este nível representa um potencial de mais 20% de redução de consumo. •

O terceiro nível abrange a geração de energia, e a eficiência dos equipamentos

mecânicos instalados, como aquecimento solar ativo, sistemas fotovoltaicos, energia eólica, ar condicionado, iluminação, motores e caldeiras. O potencial de redução aqui é de 8% Apesar de escalonada, esta abordagem não pressupõe linearidade mas sim a reavaliação circular das estratégias em cada nível. Segundo Colin Rohlfing (em palestra na conferência Greenbuilding Brasil 2011), é necessário romper a barreira da curva de custo inicial, ou de implantação do edifício, para obter sucesso nesta estratégia. À medida que aumenta a eficiência em termos de redução percentual no consumo de energia, aumenta também o tempo de retorno do capital investido, em anos. Muitos enxergam num aumento de eficiência de 50% um limite, uma barreira para a viabilidade financeira do empreendimento. Uma redução de 70%, por exemplo, terá um retorno apenas após 14 anos. Mas, a partir de 80% de redução, a possibilidade de suprimir sistemas mecânicos em função do desempenho bioclimático da própria arquitetura, reduz drasticamente o custo de implantação, permitindo trazer o retorno financeiro de volta para 6 anos.


Para algumas certificações ambientais de edifícios, a eficiência energética estimada é suficiente para comprovar o nível de eficiência pretendido pelo sistema de certificação. No caso de edifícios de balanço zero não é suficiente. É necessário monitorar e medir o desempenho real do edifício, que pode variar em relação ao desempenho estimado em projeto por 3 fatores: •

Operação e manutenção dos sistemas e das soluções adotadas na edificação –

principalmente a operação incorreta por falta de conhecimento e treinamento do usuário. •

Eficiência de eletrodomésticos, computadores, e outros equipamentos ligados à

tomada – normalmente apenas estimados por média no projeto, e adquiridos a posteriori. •

Comportamento dos usuários do edifício – muito variável, mas pode ser

influenciado por campanhas motivacionais e conscientização. Em muitos casos, o desempenho medido fica aquém do estimado. O New Building Institute analisou o desempenho de 121 edifícios certificados pelo sistema LEED nos EUA. Mais da metade deles apresentou desvios superiores a 25% na intensidade de energia medida em relação aos valores estimados / modelados em projeto. 30% tiveram um desempenho significativamente superior, mas 25% tiveram um desempenho medido significativamente inferior ao projetado (NBI, 2008). Analisamos 3 exemplos de edifícios de balanço zero. Eles estão localizados em diferentes continentes, buscam objetivos específicos, mas têm uma abordagem e estratégias em comum. Beddington Zero Energy Development, ou BEDZED, é um ecobairro localizado no distrito de Sutton, a sudeste de Londres. Conta com 82 residências, além de espaço para comércio, escritórios, serviços e um centro comunitário, com área total de 16.500m². Foi implantado em 2002 e tem hoje 220 moradores. BEDZED é um empreendimento carbono neutro, que visa demonstrar a viabilidade de reduzir a pegada ecológica atual da Inglaterra de 3 planetas para 1,7 planeta. Para isso, aborda não só construção, como também transporte, estilo de vida, etc... (Bioregional, 2003 e Bioregional, 2009). O Research Support Facility é um edifício de escritórios horizontal, e faz parte do


campus do NREL (National Renewable Energy Laboratory) do Departamento de Energia dos EUA (U.S. DOE), em Golden, Colorado, EUA. O Research Support Facility tem uma ocupação de cerca de 800 usuários, além de contar com um CPD, totalizando uma área de 20.438m². Sua construção foi concluída em 2010. O edifício serve de modelo para viabilizar mudança nos paradigmas de edifícios comerciais nos EUA. É também um laboratório vivo para novas tecnologias, proporcionando dados em tempo real que permitem aos pesquisadores descobrir oportunidades de melhor desempenho (NREL, 2012) O Pearl River Tower é um arranha-céu de 71 andares, com 310m de altura, em Guangzhou, China. É um edifício de escritórios, com um anexo para conferências, e 5 subsolos, com uma área total de 214.100 m². Sua construção iniciou em 2006 e foi concluída em 2012 (Frechette;Gilchrist, 2008). Os objetivos que nortearam este empreendimento são: •

Espelhar o comprometimento ambiental do proprietário, e criar um marco

arquitetônico capaz de atrair locadores de alto nível; •

Não gerar impacto no nível atual de geração de energia da cidade

Ser o arranha céu mais eficiente do ponto de vista energético no mundo.

Os três edifícios têm em comum o comprometimento de seus idealizadores e empreendedores com os objetivos de balanço zero. Têm em comum também uma abordagem escalonada por meio de um processo de projeto integrado. Apesar de situados em regiões de climas diferentes, todos abordaram estratégias de ganho solar passivo, aproveitamento de iluminação natural e ventilação; avaliaram a orientação do edifício e o desempenho dos materiais, visando redução de consumo de energia. Em BEDZED houve uma preocupação maior com o inventário de impactos devido aos materiais, em termos de distâncias percorridas até o canteiro, utilização de conteúdo reciclado, reutilização, etc... No caso do Research Support Facility foi feito um levantamento minucioso dos equipamentos ligados à tomada existentes na ocupação anterior, havendo diminuição da quantidade de impressoras, troca do sistema de telefonia, e substituição de desktops por notebooks quando da mudança para o novo edifício.


No Pearl River Tower, a supressão e substituição de um sistema convencional de ar condicionado por um sistema de teto radiante permitiu, além da eficiência energética, ganho de área locável. Por um lado, a eliminação de dutos no entreforro possibilitou a diminuição do pé direito, com ganho de 5 andares na altura total do edifício. Por outro lado, a eliminação de casas de máquinas possibilitou ganho de área útil nos andares. A incorporação de turbinas eólicas no corpo do edifício permitiu economia na estrutura metálica, uma vez que o edifício passa a aproveitar ao invés de resistir às cargas de ventos. Foi o único exemplo que adotou geração de energia eólica. A geração fotovoltaica está presente nos 3 casos. Viabilidade Técnica e Financeira no Brasil Espera-se que dobre o consumo da eletricidade utilizada em edifícios no Brasil até 2030. É previsto também um crescimento da geração de eletricidade de fontes fósseis, o que torna mais relevante a economia de energia do ponto de vista de emissões de CO2. Por isso, o tema de edifícios de balanço zero é relevante para o contexto brasileiro, contanto que abordado de forma holística, englobando não só a operação do edifício, mas também a energia incorporada nos materias, bem como seu transporte e o perfil de consumo de seus usuários, que é onde a utilização de energia de fontes fósseis é maior. Em relação ao processo de projeto, existe hoje o conhecimento necessário no Brasil para desenvolver projetos de edifícios de balanço zero, bem como profissionais que já trabalham em processos de projeto integrado, como: •

Siegbert Zanettini - CENPES Petrobrás, na Ilha do Fundão

Eduardo de Almeida e Shundi Iwamisu - SAP Labs, em São Leopoldo

Sidônio Porto - sede Petrobrás, em Vitória

Ao coordenar o projeto de implantação da agência Granja Viana, do Banco Real, em 2006, também optamos pela abordagem integrada. Não só os arquitetos e engenheiros, como também o responsável pela manutenção, consultor de materiais, consultor da certificação LEED, entre outros, participaram desde o início do processo, cooperando na busca das soluções para uma demanda inovadora. Foi uma estratégia fundamental para obter a primeira


certificação como green building LEED na América do Sul. Isoladamente, o conhecimento de cada um não produziria o resultado alcançado. A despeito destas iniciativas pioneiras, os novos profissionais ainda não são preparados para uma abordagem integrada na formação atual. Falta também familiaridade com o uso de normas de desempenho quanto à eficiência energética. A mensuração da eficiência do edifício, através da etiquetagem PROCEL Edifica, somente será obrigatória para edifícios públicos em 10 anos, comerciais e serviços em 15 anos e residenciais em 20 anos (MME, 2011: pág.75). Não há níveis mínimos de eficiência energética exigidos em edifícios hoje no Brasil. Outra dificuldade advem da relativa novidade que é o uso de métodos de simulação energética computacional no Brasil. Poucos profissionais atuam hoje neste mercado, voltado para documentar processos de certificação de edifícios. A simulação como ferramenta de projeto, para orientar o partido e estratégias a serem seguidas, não é aproveitada, até pelo alto custo do serviço. Em relação à construção em si, podemos ver nos exemplos analisados que as tecnologias utilizadas num edifício de balanço zero são, via de regra, conhecidas e de uso comum. Neste sentido, são tecnologias disponíveis também no Brasil. Nem todas, no entanto, são produzidas no Brasil, e recorrem, em maior ou menor gráu, à importação de materiais, itens e sistemas. A energia solar fotovoltaica se encaixa neste caso. Apesar do Brasil ter um potencial solar grande, superior ao de países que exploram mais intensamente este recurso, a geração fotovoltaica ainda é muito pequena. Sequer é mencionada no Balanço Energético Nacional. Segundo um estudo sobre a inserção da geração solar na Matriz Energética Brasileira da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil tem hoje uma capacidade instalada de 20 MW, destinada na sua quase totalidade ao atendimento de sistemas isolados e remotos, onde não há rede elétrica (EPE, 2012). Algumas universidades e institutos, como o laboratório solar do LABEEE UFSC, o IEE da USP, entre outros, desenvolvem pesquisa nesta área, e dispõem de instalações experimentais ou projetos de demonstração. Recentemente, a Ekó house, casa experimental autossuficiente energeticamente, recebeu a premiação de terceiro lugar na prova de Sustentabilidade da Solar Decathlon Europe 2012, que se encerrou no dia 30 de setembro, em Madri.


Dois eventos podem ajudar a viabilização do uso da energia fotovoltaica: foi sancionado o artigo da Lei n 12.783 que trata da venda de energia excedente pelos consumidores livres. Isto permitirá dimensionar sistemas fotovoltaicos sem necessidade de um banco de baterias para armazenar energia, reduzindo o custo do sistema como um todo. O outro evento é a copa do mundo, em 2014, no Brasil. Todos os estádios receberão uma cobertura solar fotovoltaica, tornando-se uma vitrine nacional e internacional para este tipo de energia. Em relação à etapa de obra, três aspectos são preocupantes para a viabilidade técnica da execução de um edifício de balanço zero no Brasil: •

Desperdício e resíduos

Regionalismo e transporte

Informalidade e falta de normatização

Não só o material ou produto deve ser levado em conta, mas também o processo em que ele se insere. Por exemplo, a preparação de concreto na obra, a partir de cimento ensacado e agregados a granel, apresenta um desperdício em torno de 50% para todos os materiais. O concreto usinado um despercício de 10% (Souza, 1998). Quer dizer, se foi definido no escopo computar os impactos da fase de construção de um edifício de balanço zero, a compensação deste impacto será 5 vezes maior para um concreto preparado na obra. As características regionais e de transporte deverão ser levadas em conta, através da análise de ciclo de vida dos materiais. A madeira da Amazônia anda 1.700 km em média, de transporte rodoviário, até chegar ao destino (Agopyan; John, 2011: pág. 49). O quão sustentável é esta opção? Ligando um tema ao outro, se especificarmos um pré-moldado de concreto (laje alveolar, por exemplo), consumo menos material para cumprir a mesma função, e não consumo madeira para escoramento, fôrmas, que teria de utilizar numa concretagem in loco (mesmo que o concreto fosse usinado). Apesar do aumento de produtividade e formalidade no setor, mais de 60% da força de trabalho na construção civil ainda é informal. Há informalidade também na fabricação de materiais, principalmente nos básicos, como areia, tijolo, blocos. Ao lado da informalidade, a falta de normatização não permite aferir a qualidade do que estamos utilizando.


Não são obstáculos intransponíveis, mas que exigem uma ênfase maior no planejamento da obra. Analisando a viabilização econômica dos exemplos abordados, temos: no caso do BEDZED, a BioRegional conseguiu um financiamento junto ao WWF para desenvolvimento do conceito inicial. O distrito de Sutton vendeu o terreno abaixo do preço de mercado para incorporação. Tanto o sistema fotovoltaico, como a mini usina de energia e calor receberam subsídios governamentais. As unidades foram vendidas a preço de mercado. Segundo avaliação feita pela corretora Savills, em 2003, os imóveis tem um valor de revenda atual 15% superior à média dos imóveis da região (Bioregional, 2003). No Research Support Facility o custo se manteve dentro da média para edifícios convencionais do mesmo tipo, como uma estratégia para demonstra a viabilidade e incentivar a construção de edifícios de alta eficiência energética nos EUA. O proprietário, que é a área que cuida de eficiência energética e energias renováveis no departamento de energia norteamericano, sentiu-se na obrigação de dar o exemplo. O sistema fotovoltaico,no entanto, não faz parte deste custo. Preocupados com o alto custo inicial de aquisição, e agravado pelo fato do proprietário não poder se beneficiar de incentivos fiscais por ser uma agência ligada ao governo, buscou-se uma outra solução para implantação. Foi feito então um contrato entre o proprietário, uma empresa de desenvolvimento de sistemas fotovoltaicos (Sun Edison), e uma concessionária de energia (Xcel Energy). O proprietário evita o custo inicial e paga pelo serviço, ou o “aluguel” das placas. A empresa instala e mantem as placas, podendo usufruir dos incentivos fiscais correntes nos EUA para este tipo de instalação. A concessionária também se beneficia, pois o arranjo contribui para sua meta legal de atingir 30% de geração de energia a partir de fontes renováveis até 2020. É um arranjo que pode ser interessante também do ponto de vista tecnológico, viabilizando a troca de placas fotovoltaicas por modelos de maior eficiência (hoje está em torno de 15%, o que é baixo). No caso do Pearl River Tower, calculou-se um pay back para o projeto de 4,8 anos, baseado nas seguintes premissas: •

Redução de 58% no consumo de energia para operação do edifício, devido às

medidas de eficiência energética •

Incremento na renda pelo aluguel dos 5 andares adicionais obtidos com a


redução do pé direito •

Incremento na renda pelo aluguel dos andares, devido ao aumento de área útil

obtido com a redução dos espaços técnicos Fica claro aqui que não só a redução na despesa de operação, mas também o incremento na renda obtida com aluguel são imprescindíveis para o retorno financeiro. E no Brasil? Como fica a viabilidade econômica dos projetos de edifícios de balanço zero? Isoladamente, o item de maior impacto é o sistema fotovoltaico. Ainda é uma solução cara, que muitas vezes não se paga. EPE (2012) avaliou tanto a geração distribuída como a geração concentrada de energia fotovoltaica no Brasil. Esta última é tida como inviável, pois o preço da geração solar em R$/kwH é 4 vezes mais cara do que o custo da geração hidráulica. Já na geração distribuída, em que cada usuário tem seu próprio sistema fotovoltaico, podemos comparar o preço da geração solar com o preço que pagamos pela energia da concessionária, que vem acrescida de todos os impostos e taxas. Dependendo da tarifa, torna-se competitivo. Mesmo em outros países, onde o preço das placas fotovoltaicas vem caindo continuamente faz anos, o subsídio em suas diversas formas é o ingrediente que permite este mercado crescer. Na Alemanha, a participação da energia fotovoltaica já atingiu 6% da matriz energética em 2012, e vem crescendo. No Brasil, esta tecnologia não tem valor estratégico, porque nossa matriz já é majoritariamente renovável. Sem este tipo de apoio, fica comprometida a viabilidade financeira de edifícios de balanço zero no Brasil em relação ao uso de energia fotovoltaica. Um item de eficiência energética que vem crescendo rapidamente no Brasil é a iluminação com LED. Apesar de não constar dos exemplos que examinamos, hoje em dia é uma opção que certamente deve ser analisada. No aspecto de consumo de energia, chega a obter economia de 50% em relação a soluções convencionais com lâmpadas fluorescentes. O LED tem ainda uma vida útil 4 vezes mais longa, em média, do que uma lâmpada fluorescente. Além disso, não tem mercúrio, o que elimina o processo complexo e caro de descarte correto no final da vida útil da lâmpada fluorescente. Para se ter uma ideia da logística, só há 8 empresas no Brasil que fazem a retirada e recuperação do mercúrio, localizadas todas no Sul e Sudeste (Polanco, 2007).


Na elaboração de estimativas de custo e orçamentos para edifícios de balanço zero, é preciso uma mudança de enfoque para viabilizar o projeto (Twinn, 2003). Normalmente, a sustentabilidade e a tecnologia são vistas como adendos, ou seja, custo adicional indesejável para a maioria dos investidores e incorporadores. Por exemplo, recuperação de calor adicionada a instalações mecânicas convencionais, que economizam energia mas não custos iniciais. Ou adicionar coletores solares mas ainda precisar do sistema convencional de caldeira como contingência. Apenas a supressão, ou substituição de sistemas trará economia de fato. Por isso, novamente a importância de um processo de projeto integrado, também para a viabilização financeira de edifícios de balanço zero. Conclusões Pensando na viabilidade deste conceito para o Brasil, fazemos as seguintes recomendações, no sentido de contribuir para uma discussão mais ampla deste tema: •

O edifício de balanço zero deve ser urbano. A densidade contribui para hábitos

mais sustentáveis de transporte, e otimiza a infra estrutura das cidades. Neste sentido, os indicadores devem ser expressos per capita, e não mais por área •

O edifício de balanço zero deve levar em conta os impactos devidos à

produção, transporte e aplicação de materiais, uma vez que têm uma proporção maior de energia de fontes fósseis incorporada. •

O edifício de balanço zero deve considerar também os impactos devido a seus

usuários. O uso pode mudar o desempenho do edifício, e deve ser monitorado sempre. •

O edifício de balanço zero deve avaliar ainda outros impactos do edifício,

como toxicidade dos materiais, aspectos sociais, de vizinhança, históricos, etc... Ao colocarmos um objetivo absoluto e não relativo, temos a chance de fazer algo bom, e não simplesmente menos ruim. A eficiência incremental tem sua importância, mas pode ser insuficiente para fazer frente às mudanças climáticas. Um edifício não deveria ser menos ruim do que outro, deveria ser bom: não causar impactos negativos que não possa remediar, mas apresentar impactos positivos, tanto energéticos como ambientais. O objetivo deve ser um horizonte, para não acharmos que só o primeiro passo já é suficiente. Muitas vezes é onde paramos: uma intervenção mais simples, com rápido retorno


do investimento. O zero é um objetivo puro que coloca claramente onde queremos chegar. Ao colocarmos um objetivo absoluto e não relativo, incentivamos a multiplicidade de abordagens para alcançá-lo. Algumas certificações ambientais de edifícios e estratégias de eficiência energética têm foco em itens ou produtos, possibilitando que se faça uma colcha de retalhos, uma coleção de estratégias desconexas. O foco de um edifício de balanço zero está nos processos: •

Processo integrado de projeto, que aborda holisticamente o edifício, a interação

e a interdependência entre os diversos sistemas. •

Processo integrado de obra, que controla os impactos causados por esta

atividade, garante a qualidade, e proporciona um ambiente digno para se trabalhar. •

Processo integrado de operação e manutenção, que garante o desempenho do

edifício conforme planejado, e atua positivamente na conscientização de seus usuários. Concluímos que o tema é relevante para nossa realidade, e que é viável a implantação de edifícios de balanço zero no Brasil. É desejável inclusive: o Brasil tem como meta para a próxima década tornar obrigatória a etiquetagem energética de edifícios, e precisamos definir que níveis de desempenho queremos atingir, com olhos no crescimento da demanda de energia e na vulnerabilidade das fontes de que dispomos. Precisamos ainda desenvolver para isso uma visão holística de custos, que permita que este conceito saia da esfera experimental para uma nova realidade de mercado.


Referências

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BANHAM, R. The Architecture of the Well - tempered Environment, Chicago, The University of Chicago Press, 1984 (2ª edição)

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EPE, Análise da Inserção da Geração Solar na Matriz Elétrica Brasileira, 2012. Disponível em http://www.epe.gov.br/geracao/Documents/Estudos_23/NT_EnergiaSolar_2012.pdf acesso em 17/02/2013

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MANNO, J. Commoditization: Consumption Efficiency and an Economy of Care and Connection, in Princen, T.; Maniates, M.; Conca, K. Confronting Consumption, Cambridge, MIT Press, 2002

MME, Plano Nacional de Eficiência Energética, 2011. Disponível em http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/PlanoNacEfiEnergetica.pdf Acesso em 17/02/2013


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POLANCO, S. A Situação da Destinação pós Consumo de Lâmpadas de Mercúrio no Brasil, São Caetano, tese mestrado apresentada à Escola de Engenharia Mauá, 2007. Disponível em www.maua.br/arquivos/.../h/1dcf0e342efb1608be61ab2cb742b602 acesso em 17/02/2013 SCHAEFFER, R. Mudanças Climáticas e Segurança Energética no Brasil, Coppe RJ, 2008. Disponível em http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/destaques/CLIMA_E_SEGURANC A-EnERGETICA_FINAL.pdf Acesso em 17/02/2013

SOUZA, U.; PALIARI, J.; OLIVEIRA, C.; AGOPYAN, V. Perdas de Materiais nos Canteiros de Obra: A Quebra do Mito. in Qualidade na Construção, São Paulo, v.2, nº 13, p. 10-15. Disponível em http://www.gerenciamento.ufba.br/MBA%20Disciplinas %20Arquivos/Produtividade/Perdas%20Revista%20Qualidade.pdf acesso em 17/02/2013

TWINN, C. BedZED, in the Arup Journal 1/2003. Disponível em http://www.arup.com/_assets/_download/download68.pdf Acesso em 17/02/2013



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